EMPREENDEDORISMO SOCIAL Entrevista com Nina Valentini ...

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EMPREENDEDORISMO SOCIAL Entrevista com Nina Valentini, fundadora do Instituto Arredondar ACELERADORAS Mercado no Brasil e GVentures BICICLETA Ciclovias podem impulsionar negócios REVISTA GV NOVOS NEGÓCIOS - ANO 7 - NÚMERO 7 - 2016 A REVISTA DO CENTRO DE EMPREENDEDORISMO DA FGV ANO 7 | NÚMERO 7 | 2016

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EMPREENDEDORISMO SOCIAL Entrevista com Nina Valentini, fundadora do Instituto Arredondar

ACELERADORAS Mercado no Brasil e GVentures

BICICLETA Ciclovias podem impulsionar negócios

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A REVISTA DO CENTRO DE EMPREENDEDORISMO DA FGV

ANO 7 | NÚMERO 7 | 2016

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uma iniciativa

apresentada por

UMA JORNADAPELA IGUALDADE

DE GÊNERO

O Grupo Boticário acredita

na equidade de gênero.

Para produzir este projeto,

mais de 20 mil pessoas foram

ouvidas em todo o Brasil,

numa pesquisa inédita.

Assista ao documentário

“Precisamos falar com

os homens? Uma jornada pela

igualdade de gênero” no site

www.grupoboticario.com.br.

AfAnDocumentario_34x22cm.indd 1 25/10/16 16:09

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uma iniciativa

apresentada por

UMA JORNADAPELA IGUALDADE

DE GÊNERO

O Grupo Boticário acredita

na equidade de gênero.

Para produzir este projeto,

mais de 20 mil pessoas foram

ouvidas em todo o Brasil,

numa pesquisa inédita.

Assista ao documentário

“Precisamos falar com

os homens? Uma jornada pela

igualdade de gênero” no site

www.grupoboticario.com.br.

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APRESENTAÇÃOSe o ano de 2016 não foi dos mais fáceis para o país, para o FGVcenn foi o ano da realização de um antigo sonho: o início da GVentures, a Aceleradora de negócios da FGV-EAESP. Durante um ano, quatro negócios foram acelerados na escola e chegamos, inclusive, a realizar o primeiro Demo Day. Para 2017, já temos 25 empresas interessadas em integrar a GVentures.

Além da nossa nova empreitada, apresentamos também os resultados de um estudo conduzido pelo prof. Newton Campos sobre as Aceleradoras de negócios que vale a pena ser lido por quem tem interesse no tema.

A reportagem de capa entrevistou Nina Valentini, uma ex-aluna da EAESP que vem tendo muito destaque como empreendedora social no comando do Instituto Arredondar. E já que o empreendedorismo social é o tema do momento, aproveito para apresentar aos leitores o novo coordenador do FGVcenn, o prof. Edgard Barki, uma referência nesta área.

Minhas atividades na diretoria acadêmica da Escola, infelizmente, não mais me permitem continuar à frente do FGVcenn. Foram oito anos de muito trabalho, desafios e projetos, e tenho certeza que o FGVcenn é hoje uma referência nacional e internacional no assunto. Meu muito obrigado a todos que nos acompanharam nesta trajetória!

Prof. Tales AndreassiCoordenador do FGVcenn

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ULG

AÇÃO

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ÍNDICE

7 ACELERADORASDESTARTUPS Por Paulo R. M. Abreu e Newton M. Campos

10 GVENTURES Por Gilberto Sarfati

13 REPORTAGEMDECAPA A cultura de microdoações com a

empreendedora social Nina Valentini, por Raquel Machado Fernandes

20 DEBICICLETA,GERANDONEGÓCIOS Por Rene Jose Rodrigues Fernandes

23 CENNNAMÍDIA

24 FOTOSFGVCENN2016

26 WORKSHOPSFGVCENN

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DIRETORESEAESP–FGVLuiz Artur Ledur BritoTales Andreassi

COORDENADORESFGVcennTales AndreassiMarcelo Marinho Aidar

GESTÃOEXECUTIVAAline de Oliveira NovaesRene Jose Rodrigues Fernandes

PROFESSORESASSOCIADOSAdriana Ventura, Edgar Barki, Gilberto Sarfati, Johanna Vanderstraeten, Marcelo Marinho Aidar, Tales Andreassi e Newton Campos

PESQUISADORESERESPONSÁVEISPORPROJETOSBatista Gigliotti, Fábio Fernandes, Gilberto Sarfati, Laura Cristina Pansarella, Nelson Pretti, Newton Campos, Marcelo Aidar, Marcus Salusse, Rene Jose Rodrigues Fernandes, Tales Andreassi e Vania Nassif

FGVcennAv. 9 de Julho, 2029 – 11º andar, São PauloTel: 11 3799-3439e-mail: [email protected]/FGVcenntwitter: @FGVcenn

REVISTAGVnovosnegóciosISSN: 22374639

EDITORRESPONSÁVELRene Jose Rodrigues Fernandes MTB 0078451/SP

REVISÃORaquel Machado Fernandes

DIREÇÃODEARTELuiza Poli Franco

EMPRESASPARCEIRASGrupo Boticário e Itaú

DOADORESDETEMPOO FGVcenn agradece aos palestrantes, debatedores, moderadores e juízes de competições de planos de negócios que gratuitamente compartilharam sua experiência com a comunidade acadêmica e o público em geral neste último ano.

EXPEDIENTE

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ACELERADORAS

Antes de entendermos exatamente o que são as Aceleradoras de Startups e o que fazem ao certo, voltemos nossa atenção para as Startups. Vejamos as Startups como foguetes, compostas por um ou mais fundadores – os comandantes, e uma equipe - a tripulação, com alguns recursos limitados e um plano de voo – o modelo de negócio. Na grande maioria das vezes, o plano de voo não está bem detalhado, não

por culpa dos comandantes ou da tripu-lação, mas porque o ambiente não per-mite. O destino exato da missão é incerto e, ao longo dela, diversos ajustes serão necessários conforme os acontecimentos. É aí onde entram as Incubadoras e, mais re-centemente, as Aceleradoras. Ambas atuam, basicamente, auxiliando tanto na construção de um bom plano de voo como no desenvolvi-mento do foguete, fornecendo o espaço (e.g. coworking), as ferramentas (e.g. servidores), o conhecimento (e.g. formação) e/ou o com-bustível (capital) para que o projeto tenha mais chances de sucesso.Dentro da curva de maturidade de cada negócio, as Aceleradoras buscam Startups cujos planos de voo estejam mais deline-ados, que possuam um foguete com boas condições de voo, ou que já tenha alçado voos experimentais e, principalmente, compostas por uma excelente tripulação, com condições de realizar toda a viagem, passar por diversas turbulências, ou até mesmo mudanças de rota (i.e. pivotagem), tudo isso dentro de um processo de curta ou curtíssima duração.

ACELERADORAS DE STARTUPS“ O que o lançamento de foguetes tem a ver com as Aceleradoras de Startups?”

por PAULO R. M. ABREU, pesquisador associado do GVcepe, colaborador em organizações nacionais e internacionais e para a iniciativa pública e privada em segmentos como financeiro, fiscal, varejo, aéreo, logístico e de geoprocessamento.

por NEWTON M. CAMPOS, coordenador do GVcepe - Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital e pesquisador associado do GVcenn, membro do conselho de administração da ABStartups e autor do livro “The Myth of The Idea” (2015).

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ESTUDOO estudo “O Panorama das Aceleradoras de Startups no Brasil”, realizado pelos au-tores desta matéria, ambos da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP), é um dos primeiros a coletar, com alguma profundidade, informações sobre as Ace-leradoras de Startups brasileiras. De forma complementar e inédita, o estudo analisou também o papel da ferramenta mais tradicional deste processo – o Plano de Negócio – frente a ferramentas e con-ceitos mais recentes no campo do em-preendedorismo como: Design Thinking, Effectuation, Business Model Canvas ou

As Incubadoras, por sua vez, trabalham com Startups que estão em um plano normal-mente mais conceitual ou ainda no protótipo do foguete, muitas vezes ligadas a centros de pesquisa ou parques tecnológicos, que auxiliam no desenvolvimento do plano de voo e na preparação conceitual do foguete, com uma curva de maturação mais longa.As Aceleradoras e as Incubadoras pos-suem características semelhantes, ou mesmo desempenham atividades em comum. Isto se deve ao fato de ambas

promoverem o desenvolvimento de novos negócios e efetuarem o lançamento dos foguetes – as Startups.Apesar das semelhanças, a diferença mais fundamental está basicamente na duração, bem mais limitada nos programas de acele-ração em comparação à natureza contínua dos programas oferecidos pelas incuba-doras. Esta pequena diferença conduz a outras diferenças apresentadas pela pes-quisadora Susan Cohen, da Universidade de Richmond, na tabela abaixo:

Lean Startup, utilizados nos processos de análise e seleção de novos negócios inovadores com potencial de impacto na sociedade e na economia.O estudo da FGV/EAESP foi uma inicia-tiva do GVcepe (Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital) e do GVcenn (Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios), em parceria com a ABRAII (Associação Brasileira de Empresas Aceleradoras de Inovação e Investimento) e com a ABStartups (As-sociação Brasileira de Startups).Dentre as informações coletadas na pes-quisa, podemos destacar que:

ITEM INCUBADORAS INVESTIDORESANJO ACELERADORAS

DURAÇÃODOPROGRAMA 1 a 5 anos Contínuo 3 meses

PROGRAMAEMGRUPO Não Não Sim

MODELODENEGÓCIO Aluguel, sem fins lucrativos Investimento Investimento (pode também ser sem fins lucrativos)

SELEÇÃO Não competitivo Competitivo, contínuo Competitivo, cíclico

ESTÁGIO Inicial ou Expansão Inicial Inicial

EDUCAÇÃO Ad hoc, recurso humano, Nenhum Seminário legal, etc.

MENTORIA Mínima, tática Se necessário, por investidor Intensa, por si ou outros

LOCAL No local Fora do local No local

Tabela 1 As diferenças entre Incubadoras, Investidores Anjo e Aceleradoras. Fonte: (Cohen, 2013)

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CONCLUSÃOO surgimento das Aceleradoras de Startups traz consigo um novo tipo de organização para a economia. Através da sua busca incansável por criar valor e ganhar escala, as Aceleradoras enriquecem uma eco-nomia antes marcada pela presença das Incubadoras, mais reservadas em suas atividades de apoio.Vale ressaltar que, assim como os demais agentes que promovem o empreende-dorismo, as Aceleradoras desempenham um papel bastante importante no estímu-lo, atuando como verdadeiros centros de empreendedorismo, auxiliando na criação e formação de uma nova geração de em-preendedores no Brasil.

O fenômeno de Aceleração é novo e carrega diversas incertezas sobre seu futuro. Em termos comparativos, a “Y Combinator”, considerada a primeira Aceleradora do mundo, foi criada em 2005 nos Estados Unidos. Em todo o mundo, muitas terão que provar que possuem modelos sustentáveis a longo prazo, mas é possível afirmar que o Brasil passa por um processo de amadurecimento e con-solidação de Aceleradoras.Preparados para novas oportunidades, cada vez mais foguetes – Startups – pro-curam ser aceitos por centros de lança-mento – Aceleradoras – planejando voos cada vez mais altos! Nem o espaço sideral limita o futuro dos empreendedores...

Referência Cohen, S.L. (2013). What do Accelerators do? Insights from Incubators and Angels. Innovations: Technology, Governance, Globalization. 8(3-4), 19-25

• o Brasil possui um mercado estabelecido de Aceleradoras de Startups, abrigando cerca de 40 Aceleradoras em atividade atualmente.

• apesar do mercado brasileiro de Aceleradoras estar concentrado no Estado de São Paulo, é possível constatar que possui uma abrangência nacional, tendo desenvolvido negócios por todo o país e atuando de forma globalizada em outros países.

• até janeiro de 2016, foram aceleradas aproximadamente 1.100 Startups no Brasil. Na média, são aceleradas 7 Startups por ciclo, em 2 ciclos de aceleração por ano.

• o valor do investimento das Aceleradoras varia entre uma média de R$45 mil a R$255 mil por Startup, totalizando, aproximadamente, R$ 51 milhões investidos.

• um dos principais fatores para uma Startup não ser eleita no processo de seleção é estar com uma “Equipe inadequada” para o desenvolvimento do negócio (93,5%), seguida por “Demanda ineficaz” (51,6%) e “Falta de escalabilidade”(51,6%),

• as Aceleradoras tendem a priorizar projetos que já possuam, ao menos, um protótipo funcional.

• algumas Aceleradoras exigem uma participação acionária mínima na média de 8% no controle da Startup. Por outro lado, as Aceleradoras que não aportam investimento, também não exigem uma contrapartida acionária.

• a maioria das Aceleradoras brasileiras de-senvolveu uma metodologia própria de seleção de Startups ou empreendedores.

• o Business Model Canvas encontra-se entre os conceitos ou ferramentas mais utilizados na seleção de Startups, juntamente com o Customer Development e Lean Startup, atingindo 67,7% da amostra. O Plano de Negócio é utilizado em apenas 29% da amostra pesquisada.

• nenhuma Aceleradora brasileira exige o Plano de Negócio durante sua seleção. Por sua vez, cerca de 26% das Aceleradoras brasileiras exigem o Business Model Canvas durante seu processo de seleção.

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GVENTURES

Em 13 de Dezembro de 2016, foi realizada a graduação da primeira turma de acel-erados da GVentures, a única Aceleradora universitária non equity e non fee do Brasil. A criação da Aceleradora, um antigo sonho dos alunos da FGV-EAESP, seguiu a tradição de pioneirismo da escola em relação ao empreendedorismo. Em 1981, a instituição introduziu no país o primeiro curso de novos negócios em um programa de especialização e, em seguida, como eletiva da graduação. Em 1991, inaugurou o primeiro centro de estudos de empreende-dorismo do Brasil e, em 1996, lançou a primeira competição de planos de negócios do país, a versão nacional do Global Moot Corp. Na década seguinte, em 2007, a dis-ciplina Experiência Empreendedora passou a ser obrigatória na graduação de Admi-

GVENTURES:A PRIMEIRA ACELERADORA UNIVERSITÁRIA NONEQUITY E NONFEE DO BRASIL

GVENTURES:A PRIMEIRA ACELERADORA UNIVERSITÁRIA NONEQUITY E NONFEE DO BRASIL

por GILBERTO SARFATI, professor de empreendedorismo, gestor da Aceleradora GVentures e coordenador do Mestrado Profissional Especializado – Programa em Gestão para a Competitividade.

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nistração de Empresas1 e, finalmente, em 2015, foi criada a Aceleradora GVentures.Por que uma Aceleradora de empresas? O Brasil tem mais de 400 Incubadoras de negócios, a maioria delas ligada a uni-versidades, prefeituras e outros órgãos públicos. O modelo dominante no país não é o de investimento como na maior parte dos demais países. Estas Incubadoras fornecem espaço físico, aconselhamento e acesso à rede de parceiros em troca de taxas e, geralmente, estes programas têm duração de 1 a 3 anos. Do outro lado, grande parte das incubadas en-contram, nas agências públicas de fomento, meios para financiar sua permanência nas incubadoras. As Aceleradoras começaram a surgir nos Estados Unidos em meados dos anos 2002, após o estouro da chamada bolha de Internet, em contraposição ao modelo longo de incubação via equity (participação no capital da empresa). A ideia era investir em novos negócios, que precisavam de períodos mais curtos, de até 6 meses, para testar seus modelos. Este modelo de aceleração sofreu um boom global com a publicação dos livros Business Model Generation, em 2009, e, Lean Startup, em 2012 e, a partir daí, a vocação das Aceleradoras passou a ser de um espaço de teste e validação de modelos de negócios através de uma metodologia ágil.Seguindo a tendência global, a FGV-EAESP optou por este modelo de aceleração, mas

dentro de um contexto universitário. Ou seja, o papel fundamental da Aceleradora é fomentar o desenvolvimento do ecos-sistema empreendedor na FGV-EAESP. Dessa forma, entendeu-se que não caberia realizar investimentos nas Startups ou co-brar taxas para a participação no programa (o modelo non equity e non fee).Ao longo do primeiro semestre de 2016, foi desenvolvido um modelo de aceleração pro-prietário baseado nos pilares de mentoria (relação forte com o alumni FGV), track edu-cacional (conhecimento pontual e aplicado

para a evolução do negócio) e parcerias (construção de rede de suporte às Start-ups). Além disso, foi planejado e lançado o primeiro edital para captar 4 empreendi-mentos que validariam o novo modelo.Durante o segundo semestre de 2016, quatro empresas foram aceleradas, pas-sando por um processo intenso de vali-dação que culminou com a formatura de três delas no primeiro batch (graduados): Bossa Box (bossabox.com), um marketplace de app, software, MVP (produto minimam-ente viável), website e UX (experiência de

1Para saber mais sobre o papel pioneiro da FGV-EAESP no fomento ao ecossistema empreendedor do Brasil, leia a matéria “Breve história do ensino de empreendedorismo no Brasil”: bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rgnn/article/view/60813

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usuário); LavamosNós (lavamosnos.co), um O2O (online to off-line) de soluções de lavanderia; e LegalX (legal.com.br), uma lawtech de automatização de petições para pequenas causas e contratos. Essas empresas saíram de MVP até o ponto de começar a gerar receitas.Uma das empresas não se graduou e o fracasso é também ponto fundamental do processo de aceleração, tanto para os em-preendedores como para a GVentures. Com isso, foi possível validar o modelo de acele-ração e compreender que não se acelera empreendedores e sim, negócios. Por isso, com ciclos tão curto de aceleração, 4 meses, não se pode acelerar ideias e sim, empreendimentos que estão começando a testar produtos minimamente viáveis. No primeiro ciclo de aceleração da GVen-tures, foi possível notar que o estágio inicial (seed) de um empreendimento merece sub-divisões entre ideação, super-seed e seed. No estágio da ideação, o empreendedor e seus potenciais sócios avaliam as oportu-nidades de negócios e tomam a decisão, enquanto indivíduos, se aceitam ou não tomar o risco do empreendimento. No estágio super-seed, os empreende-dores já tomaram a decisão de assumir o risco da empreitada e desenvolveram uma primeira versão do produto, mini-mamente viável, e que já sofreu, ou não, alguma “pivotagem” (alteração no mo-delo de negócios). Já no estágio seed, o empreendimento começou a gerar alguma receita e está se preparando para escalar o negócio. Outros “pivots” ainda poderão ocorrer no início da escalada dos negócios, mas a empresa já pode ser alvo de investimento anjo ou Aceleradoras com equity.A vocação da GVentures é atuar no es-tágio super-seed, onde a empresa está

realizando um bootstraping (começando o negócio com os seus próprios recursos) para validar o seu modelo de negócios. A tese super-seed reforça o posicionamento de uma Aceleradora universitária non equity e non fee.Quais os próximos passos? Em 2017, será ampliado o número de empreendimentos acelerados, incluindo um track de duas empresas com perfil de negócios de im-pacto social. A vocação da GVentures será, continuamente, inovar no apoio a em-preendimentos universitários de potencial de alto impacto. É preciso, também, sair de uma estrutura 100% voluntária para o mínimo de profissionalização. Se você acredita no empreendedorismo, na FGV e no Brasil, a GVentures está captando doações de pessoas jurídicas e físicas para sua iniciativa. Entre em contato por e-mail ([email protected]) ou pelo perfil no Facebook https://www.facebook.com/gventureseaesp. Os doadores passarão a fazer parte do Clube dos Parceiros da GV, contando com benefícios exclusivos.

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No início de novembro deste ano, Nina Valentini, 29 anos, foi eleita a empreendedora social mais inovadora do Brasil pelo 8o Prêmio Folha Empreendedor, que contempla jovens de até 35 anos à frente de iniciativas socioambientais com até 3 anos de existência. No comando do Instituto Arredondar, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), Nina é responsável por disseminar a cultura de microdoações entre empresários e consumidores de todo o Brasil.O sistema é simples, na hora de pagar a conta, o cliente de um dos estabelecimentos parceiros do instituto pode escolher “arredondar o valor” e doar os centavos excedentes a uma das organizações beneficiadas pelo programa. Assim, de grão em grão, é possível contribuir com projetos e causas sociais diversos.

ACULTURADEMICRODOAÇÕES COMO FORMA DE EMPREENDER SOCIALMENTE

por RAQUEL MACHADO FERNANDES, redatora publicitária e de conteúdos corporativos e institucionais.

ENTREVISTA NINA VALENTINI

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Ex-aluna do curso de Administração Pública da FGV, Nina conversou conosco sobre sua trajetória até aqui e detalhou sua experiência como empreendedora social.

CONTE UM POUCO SOBRE A SUA EXPERIÊNCIA EM EMPREENDER NO TERCEIRO SETOR. QUAIS FORAM OS DESAFIOS ENFRENTADOS E AS OPORTUNIDADES QUE VOCÊ ENXERGOU?Minha trajetória empreendedora começou na FGV, antes do Arredondar. Eu e um grupo de amigos fundamos uma organização estudantil que, na época, foi amparada pelo programa de incentivo a jovens da Ashoka, a maior organização de apoio a empreendedores sociais do mundo. Depois, em outro momento, empreendi um filme com outros sócios sobre a emergência dos negócios sociais no mundo. A seguir, fui trabalhar na Aliança Empreendedora e tive uma imersão no universo do empreendedorismo com um time incrível, especialmente por contar com participantes de baixa renda. Quando saí da área social para experimentar o universo das consultorias, não gostei. Percebi que queria estar mais próxima às iniciativas de impacto, e que eu realmente gostava dos desafios inerentes à empreender uma organização social. Felizmente, fui convidada a participar do Arredondar e, junto ao Ari Weinfeld e a um Conselho formado por 10 empresários e empreendedores sociais, começamos a difundir o simples conceito de arredondar os centavos de uma compra para realizar uma doação como uma iniciativa capaz de mobilizar o varejo, milhões de doadores, e beneficiar organizações que estão alinhadas a causas urgentes e relevantes. Os desafios foram inúmeros. Nós nos debruçamos sobre as frentes tributárias

e tecnológicas, com inúmeros parceiros, para garantir operações monitoradas e isentas de complicações para os varejistas. Além disso, desenvolvemos nossa metodologia para selecionar organizações sociais - e fizemos isso a partir de uma escuta profunda sobre os desafios que as organizações apresentam. Dessa forma, buscamos trabalhar para aproximar doadores a causas, fortalecer organizações sociais e mobilizar o varejo para gerar transformação através de seu canal, que é visitado por milhares de clientes diariamente.

NO DIA A DIA, NO SEU PONTO DE VISTA, QUAL É A GRANDE DIFERENÇA EM EMPREENDER COM CULTURA DE DOAÇÃO?Estamos aprendendo muito e 2016 foi um ano incrível para a cultura de doação. Existem diversos grupos que estão começando a empreender neste campo, unindo tecnologia e doação, e há uma necessidade muito grande por parte das organizações em contar com doações de pessoas físicas. Neste ano, o Movimento por uma Cultura de Doação - um grupo que reúne iniciativas para doação e pessoas ligadas ao tema - se fortaleceu, e o IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), em parceria com outros atores como o próprio Movimento, desenvolveu uma pesquisa muito relevante, a “Pesquisa Doação Brasil”. É difícil empreender sem ter muitos dados, e foi este o maior desafio que enfrentamos nos últimos anos no Arredondar. Felizmente, também pudemos contar com a parceria da FGV e do GPA e, em janeiro, vamos lançar uma pesquisa inédita sobre o comportamento dos doadores no varejo.A grande diferença em empreender

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com cultura de doação é que temos que quebrar alguns paradigmas. A doação de recursos financeiros é muito importante para as organizações e sua principal demanda, mas ainda não é a forma com a qual os brasileiros estão mais acostumados a realizar suas doações. Um outro paradigma é a credibilidade de todas as instituições - não só das ONGs, mas também empresas e governos. Estamos vivendo uma grande crise institucional e isso tem um impacto na cultura de doação - os brasileiros têm medo de doar, muitas vezes, por não saberem como fazê-lo ou não confiarem nas instituições. Neste aspecto, a transparência é nosso principal pilar, por isso, desde o primeiro dia do Arredondar, todos os nossos números estão disponíveis em nosso site, bem como a prestação de contas dos recursos utilizados pelas organizações. Se a transparência é valorizada em outros segmentos, quando se trata de cultura de doação, ela é fundamental. Temos também que avançar nas frentes tributárias. A legislação de impostos sobre a doação pode melhorar muito, especialmente porque ela foi atrelada à doação de heranças - trata-se do mesmo imposto, ITCMD - e não foi pensada para doações recorrentes, por exemplo. Há um grupo articulado pensando em novas formas para que possamos ter mais e mais iniciativas nesta área, facilitando a gestão tributária das organizações sociais.

ANTES DO INSTITUTO ARREDONDAR, QUAL ERA A SUA EXPERIÊNCIA COM O EMPREENDEDORISMO, E QUAIS CONHECIMENTOS PRECISARAM SER ADAPTADOS NA HORA DE TRABALHAR EM PROL DE PROJETOS SOCIAIS E AMBIENTAIS?Minha experiência com empreende-dorismo sempre esteve ligada à área social e ambiental. No Arredondar, com o apoio de empresários e varejistas, acho que inclusive fui desenvolvendo conhecimentos mais ligados à área de

negócios - e isso tem sido muito bom. Eu tive que aprender muito sobre o funcionamento de redes varejistas, sobre seus sistemas operacionais e de tributação. E cada vez que começamos um projeto com uma rede nova, é um novo mergulho. Como sempre

estudei as áreas pública e social, a grande novidade foi estar imersa no varejo - e me apaixonei pela maneira como o varejo funciona. Encontramos equipes muito envolvidas, operações de alta complexidade e, ao mesmo tempo, que mobilizam milhares de colaboradores. Precisei aprender sobre treinamento e engajamento de time de vendas, por exemplo, e também tive muitas aulas e imersões em tecnologia. Essas fronteiras foram totalmente novas para mim.

DE QUE MANEIRA A SUA FORMAÇÃO NA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS LHE

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AJUDOU EM SUA TRAJETÓRIA ATÉ AQUI?A FGV abriu um universo novo em minha formação - não só pelo curso, mas pelas oportunidades e apoio no desenvolvimento de novas iniciativas. Criei vínculos importantes com professores e fiz grandes amigos. Além disso, acho que me aproximou do universo dos negócios, pela proximidade com o curso de Administração de Empresas (ainda que eu fosse aluna de Administração Pública). Fui muito apoiada pela faculdade e, desde então, continuo sendo. Fizemos, em parceria com os professores Tânia Veludo, Edgard Barki e Felipe Zambaldi, a pesquisa deste ano, e tenho ajudado pontualmente algumas organizações da faculdade. Desde que me formei, tanta coisa aconteceu e a FGV sempre esteve presente. Sinto que a FGV foi uma porta para que eu pudesse me aprofundar e descobrir o que eu realmente queria construir com meu trabalho.

COMO SÃO AS NEGOCIAÇÕES COM AS EMPRESAS PARCEIRAS PARA FIRMAR UM ACORDO COM O INSTITUTO? NORMALMENTE, DE QUEM É A INICIATIVA?A iniciativa pode partir tanto do Arredondar quanto da empresa, temos os dois casos. No início, nós fomos atrás dos varejistas e encontramos com os empresários que toparam pilotar conosco o projeto. Sem eles, nada disso seria possível. Com o tempo, aprendemos, aprimoramos e começamos a crescer em 2014, expandindo para outras redes. Nos últimos 2 anos, temos participado de encontros com varejistas e também temos sido procurados para o desenvolvimento de novos projetos. Atualmente, a maior busca é pelo segmento de supermercados e fast-food. Nestes mercados, além do benefício social, nossa

operação traz um impacto positivo ao reduzir o uso do troco em dinheiro.

ALGUMA DAS EMPRESAS JÁ RECUSOU A PARCERIA? EM CASO AFIRMATIVO, QUAIS OS MOTIVOS ALEGADOS PARA TAL, E QUAL A SUA OPINIÃO QUANTO À MELHOR ABORDAGEM QUANDO OS POSSÍVEIS PARCEIROS SE MOSTRAM RETICENTES?Algumas empresas têm medo de que a doação afete sua operação, aumente o tempo de fila, ou gere algum outro problema técnico. Estes são os principais motivos alegados. Para este tipo de desafio, nós, normalmente, aproximamos o parceiro dos nossos fornecedores de tecnologia e o convidamos para conhecer uma operação que já utilize o nosso sistema. A partir daí, criamos uma solução sem custos para o varejista e que necessite apenas do engajamento de seus colaboradores que, em geral, gostam muito de participar. No último ano, temos sentido cada vez menos reticência do varejo, e maior interesse.

QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA REALIZAR A SELEÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES BENEFICIADAS?Para serem beneficiadas, as organizações passam por várias etapas. Primeiro, é feita uma avaliação de documentos. No segundo momento, as organizações respondem a um questionário sobre sua atuação e partimos para uma visita técnica. Conhecemos de perto a operação de cada organização. Nós não apoiamos institutos empresariais, nem organizações religiosas, e também avaliamos os resultados que a organização alcançou, composição do time, existência de conselhos e outros parceiros. Todas as organizações devem ser idôneas e não

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podem ser vinculadas a partidos políticos.

QUAIS ESTRATÉGIAS VOCÊS UTILIZAM PARA DIVULGAR OS RESULTADOS OBTIDOS COM AS DOAÇÕES RECEBIDAS E DE QUE FORMA ISSO PODE AJUDAR A FIRMAR NOVAS PARCERIAS?Temos algumas estratégias. O nosso site apresenta informações em tempo real, e cada rede possui acesso ao nosso sistema de retaguarda para acompanhar as doações dentro de sua cadeia. Também utilizamos os canais das redes varejistas, quando são abertos, para comunicar

os resultados aos clientes e às equipes de vendas que participam do projeto. As mídias sociais são uma ferramenta importante e já nos trouxeram histórias e depoimentos interessantes dos doadores, assim, também utilizamos este canal para prestar contas. A transparência é o coração do nosso trabalho e mostrar o que está sendo feito, com certeza, traz credibilidade ao Movimento e novas parcerias, mas ainda queremos fazer mais - temos planos audaciosos para melhorar ainda mais nossa transparência em 2017.

À FRENTE DO INSTITUTO ARREDONDAR, VOCÊ JÁ TEVE QUE LIDAR COM ALGUMA DIFICULDADE POR SER MULHER? QUE AÇÕES O PRÓPRIO INSTITUTO

ADOTA PARA PROMOVER UMA MAIOR PARTICIPAÇÃO FEMININA NAS ÁREAS ONDE ATUA?Não me recordo, no momento, de qualquer dificuldade diretamente relacionada ao Arredondar. É difícil saber quando temos uma sociedade tão desigual, e vivemos diariamente tantos desafios. Mas posso dizer que há fortes lideranças femininas no varejo que me inspiram e, nos setores em que atuamos, são muitos os projetos em parceria tocados por mulheres nas redes varejistas. Já na frente de tecnologia, confesso que acho que há muito espaço

para avançarmos. Estamos ampliando o apoio financeiro a organizações de fortalecimento das mulheres, como o Fundo Elas, e também de apoio a mulheres em diferentes momentos da vida, como a Casa Ângela. Há alguns anos, a UNICEF lançou um relatório que me impactou muito: “Mulheres e Crianças, o duplo dividendo da desigualdade”. Naquele momento, com aquelas informações, entendi a complexidade do tema. O que fazemos no Arredondar é trabalhar para gerar mais oportunidades para mulheres, em todos os sentidos. Nós acreditamos profundamente que ainda temos uma jornada no Brasil quando o assunto é igualdade de gênero, e que este tema é transversal a muitos outros,

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especialmente quanto a oportunidades reais de desenvolvimento e autonomia. O que fazemos é apoiar estas organizações, envolver mulheres no nosso time, e nos aprofundar no assunto. Tenho aprendido muito e me interessa o assunto, especialmente porque, muitas vezes, não nos damos conta dos desafios extras que vivemos no dia a dia - e agora que estou grávida (e de uma menina!), esses desafios estão ficando mais claros. Nem todos os ambientes e locais estão preparados, por exemplo, para uma gestante, o que dizer então para uma mãe com seu bebê? Para mim, a forma como tratamos as mulheres e, em especial, as mães e seus bebês diz muito sobre a sociedade que construímos e queremos construir.

COMO VOCÊ AVALIA AS CONQUISTAS DO INSTITUTO ARREDONDAR ATÉ AQUI E QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS OBJETIVOS?Os primeiros anos foram difíceis, construir uma iniciativa como o Arredondar exigiu o engajamento de milhares de pessoas. Nós testamos, adaptamos, testamos de novo, e fizemos isso inúmeras vezes. Erramos muito, e fomos muito persistentes. Os últimos dois anos foram de muita mudança. Começamos a operar em escala, ganhamos o Desafio de Impacto Social do Google, e nossa operação cresceu rapidamente. Demoramos um ano e meio para alcançarmos 1 milhão de doações, seis meses para chegar ao segundo milhão, e 3 meses para alcançar o terceiro milhão. Passamos de R$ 500.000,00 doados, mas queremos apoiar, nos próximos anos, mais de 100 organizações e mobilizar o Brasil todo a doar de uma forma habitual, segura e transparente. Queremos que o Arredondar seja uma

porta de entrada para o engajamento dos doadores com causas urgentes e relevantes, e queremos trabalhar de uma forma muito democrática, alcançando diversos públicos.

NA SUA OPINIÃO, AO FAZER PARTE DO MOVIMENTO ARREDONDAR, QUAL O GRANDE BENEFÍCIO PARA AS EMPRESAS?Os principais benefícios são o engajamento da empresa e de seus colaboradores com causas relevantes e urgentes; a possibilidade de oferecer ao cliente esse engajamento (que muitos querem e não sabem como fazer); e também, no caso dos segmentos que utilizam muito a forma de pagamento em dinheiro, uma melhora operacional quando o assunto é troco, ainda que nossa operação aconteça em todos os meios de pagamento. Outro ponto interessante é que vemos muitos varejistas indicarem o Instituto para outros varejistas, porque entenderam que a lógica do Movimento é essa.

QUE IDEIAS VOCÊ ACHA QUE PODERIAM SER APLICADAS PARA INCENTIVAR A CULTURA DE MICRODOAÇÕES ENTRE AS EMPRESAS E PESSOAS EM GERAL? O QUE VOCÊ APRENDEU ATÉ HOJE SOBRE ESSA CATEGORIA DE DOAÇÃO?Há um universo de possibilidades para ser desenvolvido quando o tema é o incentivo de microdoações. O que tenho percebido é que temos que trabalhar o aspecto da facilidade no momento da doação. Estamos vivendo uma realidade em que as pessoas já têm que lidar com excesso de informações e uma dinâmica de muito trabalho, muito stress. Para fazer parte do cotidiano, a doação precisa ser simples, precisa ser fácil. Além disso, no Brasil,

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não temos o hábito de falar sobre as causas que nos preocupam, e sobre as doações que fazemos. Em outros países, isso é mais forte, e uma das práticas que o Movimento por uma Cultura de Doação - que reúne diversas organizações e indivíduos em prol dessa causa - tem trabalhado é exatamente esta. A de estimular não só novas iniciativas, como estimular as pessoas a compartilharem as suas histórias de doação.Acredito que, a partir de doações pequenas e transparentes, outras portas se abrem. Por exemplo, temos doadores que começaram arredondando suas doações e depois viraram voluntários em ONGs que apoiamos.

Acreditamos que a microdoação tem essa força. De ser uma porta de entrada para o engajamento, e de ser muito democrática, permitindo que todos possam doar quantias pequenas. Neste campo, as ideias que mais têm me chamado atenção envolvem a tecnologia e aproximam as pessoas das causas de um jeito simples - chegar nessa simplicidade é um desafio, principalmente quando se quer alcançar um público menos engajado. Gosto muito do universo de aplicativos e tenho visto novas possibilidades dentro e fora do Brasil, o grande desafio sempre

é trazer o doador. Neste aspecto, por trabalharmos com o varejo como um forte canal, temos um diferencial: alcançamos potenciais doadores que não teriam necessariamente acesso a um aplicativo.

O QUE VOCÊ PODERIA DIZER PARA MOTIVAR OUTRAS PESSOAS A TAMBÉM SE AVENTURAREM NO EMPREENDEDORISMO SOCIAL?O empreendedorismo social tem se profissionalizado muito e há muito espaço para iniciativas que se dediquem a resolver problemas em diversas áreas. Na interface com a tecnologia, o espaço é gigantesco. Investidores sociais são importantes mas, atualmente, há recursos vindos de novas ferramentas que permitem a mais pessoas que se identificaram com uma causa realizarem suas doações - iniciativas de crowdfunding, por exemplo. No nosso projeto piloto, logo após apresentarmos os projetos que apoiamos, a vendedora de uma loja em treinamento disse: “Nossa, vocês trabalham com um Brasil invisível. Um Brasil que está mudando e que a gente não fica sabendo.” Essa é a nossa grande motivação, conectar pessoas a um país que se transforma. E acredito que a sede de mudança e a realização que sentimos quando, de fato, conseguimos consolidar uma transformação é a grande satisfação de empreender nesta área. Ainda assim, o empreendedorismo social é uma aventura que exige paciência, dedicação, e uma escuta profunda do público a que se quer transformar - o tempo das transformações é longo, porque estamos falando essencialmente de desenvolver pessoas, e não vender um produto ou serviço que já tem um mercado claro - portanto, aprendi com o Ari Weinfeld que controlar a ansiedade é fundamental.

Acreditoque,apartirdedoaçõespequenasetransparentes,outrasportasseabrem.

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EMPREENDEDORISMO E BICICLETA

DEBICICLETA,GERANDONEGÓCIOS

por RENE JOSE RODRIGUES FERNANDES, gerente de projetos do FGVcenn, editor da revista Novos Negócios e diretor financeiro voluntário da Ciclocidade.

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vEbXm). Em 2009, a cidade de Nova York construiu as primeiras ciclovias protegidas fisicamente, ou seja, segregadas da via. Inicialmente, este projeto foi recebido com preocupação pelos proprietários de negó-cios potencialmente afetados. No entanto,

um estudo de 2012 realizado pelo New York City Department of Transportation constatou um aumento de 49% nas vendas de varejo local perto das pistas de bicicleta recém-criadas, em comparação com um aumento de apenas 3% em toda a cidade

Há tempos a mobilidade urbana não é um quesito considerado satisfatório na cidade de São Paulo. Entretanto, se antes gerava insatisfação principalmente aos moradores das periferias, hoje é motivo de desgosto para habitantes de todo o município e de diferentes classes sociais devido ao au-mento exponencial dos congestionamentos que se espalham pelas vias da cidade. O descompasso entre a construção da infraestrutura de transportes e as demais infraestruturas urbanas é responsável por gerar este desconforto, já que os postos de trabalho estão localizados nas regiões centrais da cidade, enquanto a maior parte da população mora nas periferias, ocasio-nando grandes deslocamentos diários.Ao longo dos últimos quatro anos, iniciati-vas foram desenvolvidas pelo poder público para mudar este cenário. A Prefeitura Mu-nicipal de São Paulo realizou a implantação de corredores e faixas de ônibus e constru-iu 400 quilômetros de ciclovias. Apesar de toda a controvérsia gerada com a imple-mentação da infraestrutura cicloviária, é importante constatar que esta mudança de paradigma na mobilidade urbana também tem fomentado a criação de novos negó-cios e a geração de emprego e renda, com a ampliação do uso da bicicleta.Dados recentes mostram que, por exem-plo, na Espanha, a bicicleta movimenta 1 bilhão de Euros por ano (http://migre.me/vEbVI). No Reino Unido, a London School of Economics relata que este número está em torno de 3 bilhões de Libras (http://migre.me/vEbWs) para o mercado britânico. Um grupo de pesquisadores da Nova Zelândia, em seus estudos, confirmou que, a cada Dólar investido em ciclovias segre-gadas, a cidade economiza, pelo menos, 24 Dólares, reduzindo os custos com saúde, poluição e trânsito (http://migre.me/

ManualBicicletae Comércio

de aumento nas vendas em comércios próximos a ciclovias emNova York - Estados Unidos

dos comerciantes dizem queas vendas aumentaram após a implantação de ciclovias emSão Francisco - Estados Unidos

realizadas de bicicletaem Bogotá - Colômbia

feitas em bicicletaé o número estimado para São Paulo

mais gente andando de bicicleta nos últimos cinco anos em Buenos Aires - Argentina

49%66%

+ de 600 milviagens/dia

360 mil viagens/dia

8x

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alforjes e vestimentas especiais, espaços de coworking adaptados, dentre outros. O comércio tradicional, contudo, também começou a reconhecer o potencial desse público como consumidor, da mesma maneira como ocorreu em Portland e em Nova York. Alguns estabelecimentos já es-tão na vanguarda ao instalarem paraciclos para que seus clientes possam estacionar a bicicleta e ainda oferecem descontos e vantagens aos ciclistas.A Ciclocidade – Associação dos Ciclistas Urbanos da Cidade São Paulo – iniciou, em 2015, a campanha “Bike faz bem ao comér-cio” (http://migre.me/vEcGV). O projeto visa a conscientização do empreendedor acerca das necessidades dos ciclistas - lo-cal adequado para parar a bicicleta, água disponível na chegada, acesso fácil ao ba-nheiro - mudanças pequenas que conquis-tam cada vez mais o público. Desde o início da campanha, vários estabelecimentos já aderiram e ganharam o adesivo “Comércio Amigo da Bicicleta”.Se as empresas locais incentivarem o poder público a desenvolver maiores e melhores infraestruturas cicloviárias, elas só têm a ganhar. Em 1934, o economista austríaco Joseph Schumpeter chamou o empreendedor de “mola fundamental do desenvolvimento econômico” e o apre-sentou como “aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais”. Assim, incentivar a mobilidade urbana por meios ativos, como caminhada e trans-porte por bicicleta, além de gerar uma cidade melhor, pode romper com o modelo baseado no automóvel e criar um novo e valioso segmento de consumo.

(http://migre.me/vEc2b). Uma pesquisa de 2012, realizada em Portland, também reve-lou que os clientes que pedalam tendem a gastar mais no comércio em relação àque-les que utilizam o automóvel para seus deslocamentos (http://migre.me/vEc67).

São Paulo, assim com outras cidades do Brasil, começa a ver o crescimento do número de negócios relacionados à bicicleta, como bicicletarias especializadas no ciclismo urbano, cafés voltados para o público ciclista, lojas de acessórios, como

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CENN NA MÍDIA

PRINCIPAIS MATÉRIAS DO CENN NA MÍDIA EM 2016

QUANDO DEVO FAZER UM PLANO DE NEGÓCIO PARA MINHA IDEIA?

[http://migre.me/vEahu]

EMPRESÁRIOS QUE FECHARAM CONTAM O QUE APRENDERAM COM OS ERROS

[http://migre.me/vEUu8]

OTIMIZAR PRODUÇÃO E RENEGOCIAR CONTRATO

AJUDAM EMPRESAS A CRESCER

[http://migre.me/vEa4y]

CRISE LANÇA DEMITIDOS NO EMPREENDEDORISMO, MAS FALTA DE

PLANEJAMENTO GERA RISCOS

[http://migre.me/vEalX]

VIRADA DO ANO ESTIMULA SETORES

DE CONTABILIDADE E GUARDA-VOLUMES

[http://migre.me/vEaoI]

MERCADO ‘ECOLOGICAMENTE

CORRETO’ ENFRENTA CUSTO ALTO DE

MATÉRIAS-PRIMAS

[http://migre.me/vEa6l] PLANEJAMENTO, BOA GESTÃO E

PARCERIAS GARANTEM CRESCIMENTO DE

EMPRESAS

[http://migre.me/vEapF]

O QUE É EFFECTUATION

[http://migre.me/vEa7B]

O QUE É SHAREWASHING

[http://migre.me/vEa8W]

O QUE É LEAN PRODUCT

DEVELOPMENT

[http://migre.me/vEaax]

COMO RESGATAR O NEGÓCIO DA UTI

[http://migre.me/vEafj]

VOCÊ SABE QUAL É A PROPOSTA DE VALOR

DO SEU NEGÓCIO?

[http://migre.me/vEbhv]

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FOTOS FGVCENN 2016

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WORKSHOPS E EVENTOS

DATA EVENTO LOCAIS 29/03 Workshop - Modelos de negócios Salão Nobre - FGV 14 e 15/04 Workshop Itaú Orientação Financeira I e II BELO HORIZONTE 16 e 17/04 Virada Empreendedora FGV 31/05 e 07/06 Workshop Itaú Orientação Financeira I e II Salão Nobre - FGV 07/06 Employer branding CoLab - FGV 08/06 Café das Empreendedoras Auditório ITAÚ - FGV 23/06 Holdings no Planejamento Sucessório Salão Nobre - FGV 29/06 Conferência Anjos do Brasil Auditório ITAÚ - FGV 02/08 Empreender ou continuar na Salão Nobre - FGV

carreira corporativa 16 e 17/08 Workshop Itaú Orientação Financeira CURITIBA01/09 Como fazer negócio no LinkedIn Salão Nobre - FGV 14 e 15/09 Workshop Itaú Orientação Financeira I e II RIO DE JANEIRO 11/10 Workshop - Proposta de valor Salão Nobre - FGV 08/11 Investindo no mercado de Startup Auditório de Economia - FGV

Em2016,oFGVcenndesenvolveuváriosWorkshopseeventosfocadosnasnecessidadesdosempreendedores,comostemas:

WORKSHOPS

FIQUE ATENTO AOS WORKSHOPS DE 2017

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SEMANA GLOBAL 2016

DATA PALESTRAS 21/11 Empreendendo desde a graduação 22/11 Educação e trabalho na era da informação 22/11 A Empresa Familiar que dá certo! Desafios e soluções

para o desenvolvimento 23/11 Desafios e Oportunidades de empreendedores sociais 23/11 Explorando seu potencial empreendedor 24/11 Como empreender e inovar com poucos recursos

Confira a programação em www.facebook.com/FGVcenn ou, caso queira sugerir um tema, envie um e-mail para [email protected]

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