Empresários Seniores em Portugal: Conhecer e Valorizar

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Ficha Técnica

Título:Empresários seniores em Portugal: conhecer e valorizarRelatório síntese do Estudo “O envelhecimento ativo e os empresários seniores”

Equipa responsável pelo Estudo:AEP -­ Associação Empresarial de PortugalManuel Biltes, Paula Silvestre e Raquel AraújoQuaternaire Portugal -­ Consultoria para o Desenvolvimento S.A.António Figueiredo, Maria de Lurdes Cunha, Paulo Feliciano e Sónia Trindade

Design e paginação:MSG Pro

1ª. Edição:novembro de 2013

Tiragem:250 exemplares

ÍNDICE

NOTA DE APRESENTAÇÃO..................................................................................................9

SUMÁRIO EXECUTIVO........................................................................................................10

EXECUTIVE SUMMARY........................................................................................................14

INTRODUÇÃO....................................................................................................................18

Conceito de empresário sénior..................................................................................22

ELEMENTOS DE ENQUADRAMENTO.................................................................................23

Portugal no grupo dos países mais envelhecidos da Europa................................23

O envelhecimento da população, ameaças e oportunidades...........................24

A participação dos mais velhos no mundo do trabalho........................................26

REPRESENTATIVIDADE E PERFIS DOS EMPRESÁRIOS SENIORES.......................................29

O aumento da representatividade dos empresários seniores...............................29

Ser empresário pela primeira vez depois dos 50 anos............................................31

PERSPETIVAS QUANTO À LONGEVIDADE DA VIDA ATIVA DOS EMPRESÁRIOS SENIORES............................................................................................................................35

Retirada dos negócios, sucessão e transferência intergeracional.......................35

Perceções face ao envelhecimento e às diferentes gerações de empresários ..........................................................................................................................................38PISTAS PARA A INTERVENÇÃO......................................................................................42

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Perspetiva geral do roteiro analítico do Estudo............................................21

Figura 2. Sistema de formação: teorias do “funil” e da “ampulheta”.......................27

Figura 3. Patrões/empregadores, total e grupo com 50 e + anos (1991, 2001 e 2011)............................................................................................................................................29Figura 4. Patrões/empregadores com 50 e + anos por faixa etária, 2011 (%)..........30

Figura 5. Patrões/empregadores com 50 e + anos por género, 2011 (%).................30

2012 (%)..............................................................................................................................31Figura 7. Empresas dos empresários com 50 e + anos segundo os setores mais representados, 2011 (%)...................................................................................................31Figura 8. Empresas dos empresários com 50 e + anos segundo a dimensão, 2002 e 2012 (%)..............................................................................................................................32

Figura 10. Condições para a retirada da empresa (%)...............................................36

Figura 11. Forma de retirada da empresa (%)..............................................................36

Figura 12. Situação face à sucessão e transmissão da empresa (%)........................37

Figura 13. Transferência de conhecimentos e competências (%).............................38

Figura 14. Formas de transferência dos conhecimentos e competências (%)........38

Figura 15. Atividades associadas à qualidade de vida e bem-­estar (%)..................39

Figura 16. Situações de discriminação enquanto empresário senior (%)..................40

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Fontes de informação....................................................................................21

Quadro 3. Patrões/empregadores, total e grupo com 50 e + anos (1991, 2001 e 2011) ..................................................................................................................................29Quadro 4. Eurobarómetro do Empreendedorismo......................................................33

Quadro 5. Disponibilidade para apoio/aconselhamento a empresários mais jovens ou com menor experiência (%)..........................................................................40

9

NOTA DE APRESENTAÇÃO

A presente publicação reúne o essencial de um estudo sobre “O Envelhecimento

Ativo e os Empresários Seniores”, promovido pela AEP -­ Associação Empresarial

Técnica Fundo Social Europeu e pelo Estado Português e realizado tecnicamente,

em parceria, pela Quaternaire Portugal, Consultoria para o Desenvolvimento S.A..

A promoção de um estudo desta natureza explica-­se, por um lado, pela cons-­

tatação de algumas interrogações sem respostas do terreno: Quantos são? Como

são? Como perspetivam o prolongamento da atividade e a sua relação com o

envelhecimento? Qual a relevância das iniciativas depois dos 50 anos? Que moti-­

vações, que condições, que limitações? Como ajustar as práticas empresariais e

as políticas ao envelhecimento da classe empresarial e à necessidade de fomen-­

tar o crescimento económico?… por outro lado, que referenciais, que ações po-­

demos encetar para promover, para capacitar a atividade empresarial e o em-­

preendedorismo das gerações mais velhas em prol do crescimento e da coesão.

Pelo grande contributo e colaboração, agradecemos a todas as organizações

e personalidades que participaram, quer através das entrevistas quer dos focus

group, realizados ao longo do estudo.

Aos empresários seniores, o nosso agradecimento e reconhecimento especial,

AEP -­ Associação Empresarial de Portugal

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SUMÁRIO EXECUTIVO

O envelhecimento da população é uma das tendências que marca de forma

incisiva a evolução da sociedade e da economia na Europa. Em Portugal esta ten-­

dência é particularmente forte, colocando o país no grupo dos mais envelhecidos.

O aumento das taxas de dependência dos idosos, a inatividade dos grupos

de pessoas mais velhas e os impactos no mercado de trabalho têm atraído a

atenção para os trabalhadores mais velhos e para a necessidade de prolongar

o tempo de presença no mercado de trabalho.

O envelhecimento da mão-­de-­obra e a extensão da vida ativa incidem quer

nos trabalhadores, quer na classe empresarial. Contudo, os efeitos destas altera-­

ções na dinâmica empresarial dos mais velhos e na sua função empresarial estão

ainda pouco estudados, bem como a vertente do empreendedorismo sénior,

uma das linhas de política no âmbito do desígnio do envelhecimento ativo.

É neste enquadramento que a AEP -­ Associação Empresarial de Portugal,

promove o Estudo “O Envelhecimento Ativo e os Empresários Seniores”, com o

objetivo central de contribuir para o aprofundamento do conhecimento da rea-­

lidade dos empresários seniores em Portugal e das vantagens da promoção da

atividade empresarial e do empreendedorismo das gerações mais velhas.

Tratando-­se de um tema pouco estudado optou-­se por uma abordagem que

gevidade na gestão das empresas, perceções face ao envelhecimento e às re-­

lações intergeracionais e ativação dos seniores para a atividade empresarial. A

estratégia metodológica assentou no cruzamento das análises qualitativa e quan-­

titativa e na utilização de fontes diversas – documentos, estatísticas, inquirição,

estudos de caso, entrevistas e painéis de discussão.

O conceito adotado de empresário sénior abrange todos os empresários com

50 e mais anos, independentemente da idade de início da atividade empresarial.

eram 163.503, aproximadamente o dobro do valor em 1991, correspondendo a

36% do total de empresários (apenas empregadores).

Estes empresários são, sobretudo, “idosos jovens” – 66% até aos 59 anos –, mas

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a taxa de empresários com 65 e mais anos não é negligenciável, bem como o seu

masculino, apesar do aumento da presença feminina, e prevalecem as baixas

As empresas detidas pelos empresários seniores não se distanciam das carac-­

terísticas do universo das empresas – a maioria tem 10 ou menos trabalhadores e

o setor mais relevante é o comércio (34%), seguido da indústria transformadora,

da construção e do alojamento e restauração.

Quanto à atividade empresarial iniciada após os 50 anos, as fontes disponíveis

não permitiram contabilizar a sua incidência na dinâmica geral da criação de

dos (Programa de apoio ao empreendedorismo e à criação do próprio emprego)

foi apurado que os empreendedores com 50 e mais anos representam 13% das

Entendido como instrumento para reforçar a atividade económica dos mais

velhos, por opção ou necessidade, o empreendedorismo sénior não se esgota

na criação de empresas ou no auto-­emprego e inclui outras dimensões impor-­

tantes, como o empreendedorismo social e o apoio a outros empresários mais

novos ou menos experientes.

Em qualquer caso, os contactos estabelecidos permitiram concluir da sua fraca

representatividade nas estratégias das organizações, o que leva a questionar se

o potencial dos mais velhos, que querem e estão em condições de assumir uma

atitude mais empreendedora, está a ser efetivamente rentabilizado.

Relativamente à longevidade da atividade empresarial, a informação reco-­

lhida através de inquérito (154 respondentes) revela um forte vínculo ao trabalho

e uma tendência de permanência na empresa para além da idade da reforma.

Para a maioria dos inquiridos, três aspectos principais condicionam a saída da

empresa: atingir um certo patamar etário, entendido de forma variável, assegurar

a estabilidade da empresa e encontrar um sucessor.

A questão da sucessão mantém-­se como um problema difícil de resolver. À

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micas que impedem uma saída digna dos empresários. Neste contexto, a longe-­

bém como uma obrigação por falta de alternativas.

um processo muito individual e a idade, encarada a partir de vivências distintas,

A perceção do seu estatuto de empresário sénior baseia-­se fundamentalmente

nos valores acumulados de experiência e sabedoria, que os distinguem positiva-­

mente dos empresários jovens, mas também são referidas desvantagens, nomea-­

damente a desatualização dos conhecimentos face às mudanças da sociedade,

da economia e do mundo do trabalho.

A apreciação relativa aos empresários jovens é, em geral, muito positiva e ra-­

dica, sobretudo, na formação académica e na facilidade de utilização das TIC,

e com menor incidência no dinamismo e na capacidade física.

O potencial de relação e aprendizagem intergeracional é evidente na po-­

sição da maioria dos empresários inquiridos, quando considera a hipótese de

apoiar e aconselhar outros empresários, disponibilidade que pode ser aproveita-­

da em favor de programas de mentoring/coaching.

Da análise das perspetivas de adesão dos empresários inquiridos às atividades

que ajudam a cumprir a qualidade de vida e o bem-­estar, após a retirada das

empresas, conclui-­se que o exercício físico e a utilização das TIC são as atividades

com maior relevância. Em contraponto, a participação na vida política e asso-­

ciativa e o voluntariado integram-­se no grupo das práticas menos referidas para

esta fase da vida.

Em função dos resultados do Estudo são elencados os seguintes domínios prio-­

ritários de intervenção:

Sensibilização e informação: orientado para alertar para as alterações demo-­

empresarial, sem descurar a necessidade de aprofundamento do estudo sobre o

tema, nomeadamente em termos setoriais.

Serviços de apoio: supõe novas necessidades em termos de apoio aos em-­

presários, nomeadamente a gestão da idade e da saúde, e o reforço da ação no

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apoio à transição e à sucessão dos negócios.

Capitalização das vantagens do envelhecimento ativo dos empresários:

respeita ao contributo dos mais velhos para a dinamização da actividade em-­

presarial, através das funções de apoio e aconselhamento, constituição de equi-­

pas mistas, transferência da sua experiência e conhecimento e aprendizagem

intergeracional.

Fomento do empreendedorismo sénior: integra-­se na necessidade de capita-­

lizar o contributo dos mais velhos (que querem e estão em condições de de con-­

tribuir para a economia e para a sociedade), e aferir se estão a ser impulsionados

para tal e se estão a ser trabalhadas as barreiras que impedem a sua iniciativa.

Desenvolvimento de competências: orientado para a necessidade de inves-­

tir neste grupo, porque num cenário de prolongamento da atividade empresarial

ração das modalidades e metodologias de formação face às características e

particularidades destes grupos etários.

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EXECUTIVE SUMMARY

The population ageing is one of the trends that marks the development of the

European society and economy in an incisive manner. In Portugal, this trend

is particularly strong, placing the country among the group of the most aging

countries.

The increased old-­age dependency ratio, the inactivity of the groups of

elderly people and the impacts on the labour market have been attracting

the attention to the older workers and to the need to extend the time of their

presence in the labour market.

The ageing workforce and the extension of the working life affect not only

the workers, but also the business class. However, the effects of these changes

in the business dynamic of the elderly and in their business activity are yet poorly

explored; similarly, little do we know about senior entrepreneurship, one of the

policy lines within the active ageing purpose.

Under this framework, AEP -­ Portuguese Entrepreneurial Association, promotes

the Study “The Active Ageing and the Senior Business Owners”, with the main

purpose of contributing to a deeper understanding of the reality of senior business

owners in Portugal and of the advantages obtained with the promotion of the

business activity and entrepreneurship of the elder generations.

Given the fact that this topic is understudied, an approach including diverse

analytical axis was chosen: demographic trends and their implications in the

longevity in the enterprises’ management, perceptions regarding ageing and the

intergenerational relationships and motivation of the seniors towards the business

activity. The methodological strategy was based on the intersection of both

the qualitative and the quantitative analyses and in the use of diverse sources –

documents, statistics, inquiry, case studies, interviews and panel discussions.

For the purpose of this study, the concept of senior business owner

encompasses all business owners 50 or more years old, regardless of their age

when the business activity began.

The Study has shown that, in 2011, the business owners 50 or more years old

15

of the total number of business owners (employers only).

– but the ratio of business owners aged 65 and older is not negligible, neither

is predominantly male, despite the increase in the female presence, and the

schooling levels.

The enterprises owned by senior business owners are not distant from the

characteristics of the universe of enterprises – the majority has 10 employees or

building and hotels and restaurants.

Regarding the beginning of the business activity after the age of 50, the

available sources did not allow its incidence to be calculated in the overall

dynamic of business creation. But, as far as the initiatives for unemployed

people are concerned (Entrepreneurship and Creation of Self-­Employment

Support Programme), it was established that entrepreneurs who are 50 or more

from the universe of senior business owners -­ they are younger and have higher

diverse, from a sectorial point of view.

Considered as an instrument to reinforce the economic activity of the elderly,

either by choice or need, senior entrepreneurship goes beyond the creation of

new business or self-­employment, and it includes other important dimensions,

such as social entrepreneurship and the support to younger or less experienced

business owners.

Anyhow, the contacts established made it possible to conclude its weak

representativeness in the strategies of the organisations, which raises the

question of whether one is actually taking full advantage of the potential

of the elderly, who are willing and have the conditions to assume a more

entrepreneurial attitude.

As far as the longevity of the business activity is concerned, the information

gathered through the survey (154 respondents) reveals a strong attachment to

the occupation and a tendency to stay at the enterprise beyond retirement age.

For the majority of the respondents, three main aspects determine the decision

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to leave the enterprise: reaching a certain age level, which is understood

emerge and prevent the business owners from leaving with dignity. In this

context, the professional longevity cannot be simply considered as a source of

personal and professional accomplishment, but, depending on the enterprises’

through old age, it may be an obligation imposed by the lack of alternatives.

individual process and age, which is faced according to distinct experiences,

does not seem to be a discriminating factor for the occupation of business owner.

The perception of their status of senior business owners is based mainly upon

the experience and wisdom, values accumulated over time and that positively

set them apart from young business owners; some disadvantages are also

mentioned, namely the outdated knowledge given the changes in the society,

the economy and the world of work.

Their appreciation of young business owners is, generally, very positive and

relies on, especially, the academic training and the friendly use of ICT, but also

on dynamism and physic capacity.

The position assumed in the survey by most business owners clearly reveals the

potential in the intergenerational relationship and learning, as they consider the

possibility to support and advise other business owners, an availability that may

An analysis to the business owners’ prospects to join activities that contribute

to quality of life and well-­being, after leaving the enterprises, leads to the

conclusion that work out and use of ICT are the most relevant activities. On the

other hand, the participation in the political and associative lives and voluntary

work are within the least referred practices for this life stage.

areas:

Awareness and information: directed to draw attention to the demographic

changes and the impacts that may occur in the enterprises and in the business

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occupation, without neglecting the need to study the topic further, namely from

a sectorial perspective.

Support services: presumes new needs in terms of support to the business

owners, namely age and health management, and the reinforcement of an

active support to the business transition and succession.

Put the active ageing of the business owners to good use: it is related to

the contributions from the elderly to streamline the business activity, through the

support and advice functions, constitute mixed teams, transfer their experience

and knowledge and intergenerational learning.

Promotion of senior entrepreneurship: it is part of the need to make the most

out of the contribution from the elderly who want and have the conditions to

create a new business and check whether these seniors are being encouraged

to do so and whether the barriers that stop their initiative are being worked on.

Development of competencies: directed to the need to invest in this group,

because in a scenario of extension of the business activity there is an increase in

of age brackets.

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INTRODUÇÃO

O envelhecimento da população é uma das tendências que marca de forma

nos recursos públicos, nos sistemas de proteção social, no mercado de trabalho

e na organização da vida em sociedade.

Tratando-­se de uma tendência de âmbito mundial, embora com incidên-­

ratios de

dependência entre jovens e idosos, afetam Portugal de modo particularmente

forte – Portugal está no grupo dos países mais envelhecidos da Europa.

Devido à atualidade do tema e à relevância dos seus impactos, o envelheci-­

mento tem recebido a atenção dos políticos e dos investigadores, focando-­se

em questões como os sistemas de pensões, a saúde, o apoio social e os cuidados

aos idosos. Mas o aumento das taxas de dependência dos idosos, a inatividade

dos grupos de pessoas mais velhas e os impactos no mercado de trabalho, no-­

meadamente a rarefação e o envelhecimento da mão de obra, têm também

atraído a atenção para os trabalhadores mais velhos.

Assumindo-­se como indispensável aumentar o tempo de presença no mer-­

cado de trabalho, a promoção do “envelhecimento ativo”, nomeadamente na

sua componente económica é, assim, uma das orientações da política pública.

complexo.

O envelhecimento da mão de obra é uma das consequências mais evidentes

empresarial.

Em Portugal, em 2011, 36% dos empresários tinham 50 ou mais anos, em 1991

eram 32%1. Além disso, a iniciativa empresarial dos mais velhos é também sinalizada

como uma das saídas para a crise a para a criação de emprego, e este grupo co-­

meça a ser encarado como um público para as políticas do empreendedorismo.

Todavia, apesar da representatividade destes empresários e do aumento previ-­

sível do seu espaço de intervenção na dinamização da economia e na liderança

dos negócios, sabe-­se pouco sobre este grupo e sobre os efeitos das mudanças

1 Refere-­se apenas a empresários/empregadores, não inclui trabalhadores por conta própria sem empregados.

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sarial e na função de empresários:

Quantos são? Como são? Como perspetivam o prolongamento da ativida-­

de e a sua relação com o envelhecimento? Qual a relevância das iniciati-­

vas depois dos 50 anos? Que motivações, que condições, que limitações?

Como ajustar as práticas empresariais e as políticas ao envelhecimento da

classe empresarial e à necessidade de fomentar o crescimento económico?

Os estudos, nacionais e internacionais, e a informação sobre o tema são escas-­

sos, mas os preconceitos em relação ao envelhecimento e as questões urgentes

Na atualidade, são as elevadas taxas de desemprego dos jovens que ganham

centralidade, mas não se pode ignorar o importante papel dos empresários mais

velhos na criação de oportunidades para os jovens, por via do emprego ou atra-­

vés da regeneração da liderança das empresas.

Relativamente à perceção da sociedade em relação aos mais velhos, impor-­

ta considerar que devido à melhoria das condições de vida, cuidados de saúde

de declínio. Os idosos vivem mais tempo e de forma mais saudável e este é tam-­

bém um período de oportunidades e de realizações, apesar dos estereótipos

dominantes:

dos idosos e a saliência do de muitos e, sobretudo, da

comunicação social, constituem forças poderosas conservadoras, bloque-­

ando as mudanças ao nível cultural e político, necessárias para o reforço

duma sociedade coesa, justa e solidária. Recusar os contributos dos muitos

idosos, a todos os níveis, constitui um erro extravagante e de custo social,

europeu muito difícil, senão imprevisível”2.

Se a sociedade ainda não consciencializou, em termos gerais, o novo paradig-­

matriz de pensamento o reforço da intervenção dos mais velhos na atividade

empresarial e no mundo dos negócios.

2 CARNEIRO, R.; CHAU, F.; SOARES, C.; FIALHO, J. & SACADURA, M. (2012) O Envelhecimento da População:

Dependência, Ativação e Qualidade. CES -­ Conselho Económico e Social, p. 18.O

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Atente-­se como em termos da cultura empreendedora, o foco dos estudos e

das intervenções se centra nos empresários jovens, subvalorizando o potencial dos

mais velhos. Aliás, o trabalho de terreno realizado permitiu perceber que mesmo

alguns empresários, sobretudo os mais próximos do escalão dos 50 anos, mani-­

festavam surpresa quando confrontados com o conceito de empresário sénior e

com a ideia de se integrarem nesta categoria.

É neste enquadramento que a AEP -­ Associação Empresarial de Portugal

promoveu o Estudo “O Envelhecimento Ativo e os Empresários Seniores”, cujo

objetivo central é contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre a

realidade dos empresários seniores em Portugal e as vantagens da promoção da

atividade empresarial e do empreendedorismo das gerações mais velhas.

Realizar um diagnóstico da situação dos empresários seniores em Portugal,

tão das empresas, as relações intergeracionais e a componente do empreende-­

dorismo sénior.

Apresentar um referencial de pistas de ação que favoreça a adoção de

iniciativas orientadas para a promoção das vantagens da atividade empresarial

das gerações mais velhas.

Tratando-­se de um tema pouco estudado, nacional e internacionalmente, op-­

tou-­se por uma abordagem extensiva, numa lógica exploratória e de investiga-­

ção de diversos eixos analíticos, considerados relevantes para o enquadramento

e caracterização da realidade dos empresários seniores, nomeadamente:

cações no mundo do trabalho;

Evolução da representatividade face ao universo de empresários;

Tendências quanto à longevidade na gestão das empresas (retirada dos

negócios e sucessão);

Perceções e atitudes face ao envelhecimento e à relação com a atividade

empresarial;

Relações intergeracionais, ao nível das práticas de transferência de compe-­

tências e perceções face às diferentes gerações de empresários;

Ativação dos seniores para a atividade empresarial.

21

A vantagem desta opção reside na estruturação de um quadro amplo de aná-­

lise, que procura não perder de vista a complexidade do tema. A desvantagem

revelou-­se na incapacidade em aprofundar todas as dimensões consideradas,

mas o propósito do Estudo também é lançar pistas para exercícios de aprofunda-­

mento subsequentes, que darão seguimento aos resultados alcançados.

análises qualitativa e quantitativa, através da utilização de fontes diversas, que

incluem documentos, estatísticas, inquérito, estudos de caso, entrevistas e painéis

de discussão.

Quadro 1. Fontes de informação

diferentes componentes analíticas do Estudo

Análise estatística: informação do sistema estatístico nacional de caracterização dos empresários e das empresas

Inquérito aos empresários: aplicado a uma amostra de empresários envolvida em atividades de formação promovidas pela AEP (n=154), através de contacto telefónico e mail (julho, agosto e setembro de 2013)

Estudos de caso a empresários seniores (n=3), através de entrevistas aprofundadas

Entrevistas com peritos e serviços públicos

Focus-­group (n=2) e Workshops (n=2), os primeiros de caráter exploratório, os segundos dedicados à discussão e aprofundamento dos resultados preliminares do Estudo, envolveram cerca de duas dezenas de entidades e personalidades de diversas áreas, incluindo empresários

aos agentes políticos e empresariais, organizações com intervenção na área do

envelhecimento, peritos e aos próprios empresários.

A presente publicação corresponde ao relatório síntese do Relatório Final do

Estudo e inclui, para além deste, os seguintes capítulos:

Um primeiro capítulo de apresentação de elementos de contextualização

mundo do trabalho e ao desígnio do envelhecimento ativo.

Um segundo capítulo dedicado à apresentação das características dos em-­

presários seniores e da sua representatividade no espaço nacional, bem como a

abordagem do segmento dos empresários que iniciam a atividade empresarial

depois dos 50 anos.

Figura 1. Perspetiva geral do roteiro analítico do Estudo

Envelhecimentoda população

Atividadeempresarial

Envelhecimentoativo

Empresáriosseniores

Representatividade e perfil

Perceções face ao envelhecimento eà relação com a atividade empresarial

Tendências quanto à longevidade nagestão das empresas

Relações intergeracionais

Ativação dos seniores para a atividade empresarial

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Conceito de empresário sénior

adotado no Estudo:

Indivíduo com idade igual ou

superior a 50 anos, que gere o

seu próprio negócio, criado de

raiz ou adquirido a outros, por

conta própria ou como em-­

pregador, independentemen-­

te da idade que tinha quando

iniciou o negócio.

Um terceiro capítulo que explora dimensões associadas à longevidade da

da dos negócios e à sucessão, e as perceções relativas ao envelhecimento e às

diferentes gerações de empresários.

Finalmente, o quarto capítulo é dedicado à apresentação das pistas de

ação para o apoio às condições e vantagens da atividade empresarial e do

empreendedorismo das gerações mais velhas.

CONCEITO DE EMPRESÁRIO SÉNIOR

comprovar pela diversidade de designações recenseada em estudos e docu-­

mentos de referência, regra geral, em língua inglesa:

“... grey, senior, third age, eldery, second career entrepreneurs, seniorpre-­

neurs ...” (Empresários “... grisalhos, seniores, da terceira idade, mais velhos,

de segunda carreira…”)

Os conceitos incluem também diferentes aceções deste grupo, podendo inte-­

grar, ou não, os empresários que criaram empresas antes desta fase da sua vida,

mas as designações referidas são aplicadas, sobretudo, aos empresários mais

velhos sem iniciativa empreendedora anterior.

A questão do marco etário também é entendida de forma diversa e não existe

um consenso relativamente à idade a partir da qual se considera que um empre-­

sário se integra na categoria de sénior. Regra geral, o conceito envolve indivíduos

dentro de uma faixa etária ampla – 45 a 65 anos de idade.

Tendo em consideração estas referências e os objetivos do Estudo, o conceito

de empresário sénior adotado elege como marco etário de partida os 50 anos,

mente da idade com que iniciaram a atividade empresarial.

Deste modo, alinha-­se o objeto com os objetivos do Estudo, na medida em

que o que está em causa é compreender a atividade empresarial dos grupos

etários mais velhos, e a idade em que iniciou só é relevante quando é indica-­

dor dessa mesma atividade. Por isso, é que o empreendedorismo sénior constitui

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ELEMENTOS DE ENQUADRAMENTO

PORTUGAL NO GRUPO DOS PAÍSES MAIS ENVELHECIDOS DA EUROPA

O envelhecimento populacional é um dos principais problemas socioeconómicos

em 2060, quase um 1/3 da população europeia terá pelo menos 65 anos e a pro-­

porção entre o número de pessoas em idade ativa e os reformados passará das

atuais quatro para apenas duas pessoas3.

O fenómeno do envelhecimento da população não é uniforme nos diversos

países da União Europeia.

Em alguns países, as projeções apontam para um crescimento do grupo etá-­

rio entre 15 e 64 anos, mas Portugal não se encontra entre esses países. Pelo

diminuição das taxas de mortalidade e, sobretudo, de natalidade, apresenta

como característica dominante um envelhecimento da população mais signi-­

Cooperação e Desenvolvimento Económico.

“Neste continente ‘grisalho’, Portugal ocupa hoje o lugar de um dos países

mais envelhecidos. Trata-­se de um caso peculiar entre as nações europeias,

não por estar a envelhecer (porque todas as populações o estão!), mas

pela rapidez com que este processo aqui se manifestou”4.

Como consequência desta dinâmica, em 2011, o índice de envelhecimento

era de 130 (130 idosos por cada 100 jovens), o que coloca Portugal como o 6º.

das sinalizam a agudização destas tendências, por via do aumento da popula-­

ção com 65 ou mais anos e dos mais de 80 anos – na década de 40, este grupo

deverá ultrapassar o valor de 1 milhão (em 2010, eram cerca de 484.200).

3 União Europeia (2011) The 2012 Ageing Report: Underlying Assumptions and Projection Methodologies.

4 ROSA, M. J. V.; CHITAS, P. (2013) Portugal e a Europa: Os Números. Fundação Francisco Manuel dos Santos, p. 20

24

Quadro 2.

INDICADOR 2011 2030 2050

População (milhões) 10.5 10.8 10.6

Peso dos jovens (0-­14 anos) na população total 14,9% 12,4% 12,2%

Peso da população 25-­54 anos na população total 42,7% 38,9% 34,9%

Peso da população ativa na população total 53,6% 63,4% 56,4%

Peso dos idosos (65 ou + anos) na população total 19,0% 24,2% 31,4%

Fonte: PORDATA e Projeções de População residente em Portugal: 2008-­2060

O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO, AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

O envelhecimento da população e o aumento da longevidade individual são, em

si mesmos, importantes conquistas que resultam do progresso e da melhoria das

condições de bem-­estar, mas os seus impactos são multifacetados e acarretam

último, ganha no atual contexto de crise económica ainda maior centralidade,

devido ao aumento da procura dos serviços e à redução do contributo para os

sistemas.

Numa perspetiva positiva, é recorrente a referência ao potencial de criação de

novos bens e respetiva promoção de emprego, em particular na área de serviços

sociais e pessoais, e ao modo como as empresas ainda não consciencializaram as

possibilidades associadas a este novo mercado.

Simultaneamente, são valorizadas as oportunidades que decorrem de vidas

mais longas, mais saudáveis e autónomas, associadas ao aumento da esperan-­

que permite perspetivar que os idosos podem participar durante mais tempo e

de forma mais ativa nas esferas pessoal, familiar, económica e social.

“O incremento exponencial da população idosa em Portugal (…) represen-­

ta, indiscutivelmente, um problema social. Mas, acima de tudo, o aumento

do peso da população idosa pode ser encarado como uma grande oportu-­

nidade social, cultural e económica”5.

5 CARNEIRO, R.; CHAU, F.; SOARES, C.; FIALHO, J. & SACADURA, M. (2012) O Envelhecimento da População:

Dependência, Ativação e Qualidade. CES -­ Conselho Económico e Social, p. 23.

25

Esta perspetiva ganha expressão com a iniciativa “Ano Europeu para o En-­

velhecimento Ativo e Solidariedade Entre Gerações – 2012” e com a visibilidade

conferida ao conceito “envelhecimento ativo”, referência de ação para comba-­

ter a perceção negativa em relação aos mais velhos e potenciar a sua qualidade

de vida e contributo para a sociedade.

Entendido inicialmente numa lógica de qualidade de vida integral, este concei-­

imperioso aumentar o contributo dos mais velhos para a sociedade e economia,

não deixam de questionar a relevância crescente do paradigma mais economi-­

cista em detrimento de uma perspetiva mais holística do idoso e das suas necessi-­

dades, que estará plasmada nos documentos de política, mas que não encontra

nível de atividade, muito ligado ao marco etário estabelecido pela reforma, é

um conceito em revisão. Embora a idade traga mudanças inevitáveis nas ca-­

pacidades e motivações, o tempo em que ocorrem estas mudanças é variável

tornem “velhos”. Esta perspetiva acentua também a necessidade de rever pres-­

supostos ainda muito presentes na organização atual da sociedade:

“…a idade deve ou não continuar a ser um critério decisivo na avaliação

do valor de alguém no mercado de trabalho? A passagem à reforma numa

idade predeterminada administrativamente deve continuar a ser defendi-­

da? Ou, pelo contrário, as fases da vida de aprendizagem, de atividade e de

lazer devem conviver ao longo da vida e perder o seu determinismo etário?”6

velhecimento Ativo 2012”, uma ferramenta que permite posicionar os países eu-­

ropeus quanto às práticas e condições associadas ao “envelhecimento ativo”,

revela uma posição intermédia – a 13ª. melhor pontuação dos 27 países da União

Europeia7

termos da participação dos mais velhos no mercado de trabalho. Relativamente

aos restantes indicadores (participação na sociedade, vida independente, sau-­6 ROSA, M. J. V.; CHITAS, P. (2013) Portugal e a Europa: Os Números. Fundação Francisco Manuel dos Santos, p. 23.

7 Projeto desenvolvido no âmbito do Ano Europeu para o Envelhecimento Ativo pelo European Centre for Social

Welfare Policy and Research in Vienna (ECV).

26

dável e segura e capacidade e condições ambientais/contexto ambiente), os

resultados são claramente desfavoráveis para a situação dos idosos.

A posição cimeira de Portugal, no contexto europeu, no que concerne à parti-­

cipação dos mais velhos no mundo do trabalho, tem vindo a perder força desde

2007. A redução da idade da reforma e o movimento de reformas antecipadas,

em particular na administração pública e nas grandes empresas, em contraciclo

com a Europa e com o aumento da longevidade e da qualidade de vida dos

idosos, ajudam a explicar esta alteração. Porém, as previsões mais recentes apon-­

tam para o aumento do emprego dos seniores nas próximas décadas, que não

pode ser desligado do aumento da idade da reforma.

A PARTICIPAÇÃO DOS MAIS VELHOS NO MUNDO DO TRABALHO

A redução dos jovens e das pessoas em idade de trabalhar acarreta importantes

implicações no mundo do trabalho, nomeadamente a contração da mão de obra

disponível e o empobrecimento do capital de competências das organizações.

Estas mudanças na dimensão e estrutura da força de trabalho constituem um

De facto, estudos recentes demonstram que algumas das economias euro-­

peias mais bem sucedidas estão a ter problemas em suprir as necessidades de

go (adultos e jovens) e as mudanças no mundo do trabalho8.

Neste enquadramento, promover a participação dos mais velhos no mundo

do trabalho, enquanto estratégia alicerçada no conceito do “envelhecimento

ativo”, constitui um desígnio das políticas europeias que visam a redução da

pobreza, a sustentabilidade dos sistemas de pensões, a diminuição das despesas

de saúde e a participação e bem-­estar dos mais velhos.

Os estudos revelam que a capacidade de trabalho tende a diminuir com o en-­

velhecimento, diminuição que é compensada com a melhoria no desempenho

de outras funções (pensamento estratégico, sagacidade, sabedoria, capacidade

decisória e consideração pelos outros).

8 PESCHNER, J.; FOTAKIS, C. (2013) Growth potential of EU human resources and policy implications for future

economic growth. União Europeia.

27

Estas mudanças estão correlacionadas com o tipo de emprego, o setor de

diferenciada, porque o envelhecimento biológico não se faz sentir da mesma

maneira nos indivíduos e mais importante do que a idade cronológica são as

fases, as motivações e as condições de vida dos mais velhos”9.

te para os mais velhos permanecerem mais tempo no mercado de trabalho,

as práticas de gestão de idade nos locais de trabalho revelam um baixo nível

de consciencialização das questões do envelhecimento, no que respeita, por

exemplo, à saúde no trabalho e à introdução de medidas “amigas” da idade

No que se refere ao desenvolvimento de competências, os sistemas vigentes

não respondem à necessidade de atuar numa fase mais adiantada da vida, por-­

que ainda predomina a educação e formação nas fases iniciais do ciclo de vida

que “a esperança de formação diminui com a idade”10.

Contudo, para responder à intensidade do envelhecimento da mão de obra,

longo da vida, é fundamental que o sistema de formação se torne mais inclusivo

os mais velhos (teoria da “ampulheta”), sem descurar a atenção aos ambientes

e metodologias favoráveis à aprendizagem.

A presença dos mais velhos no mercado de trabalho, não corresponde neces-­

sariamente a perdas de produtividade, se a organização integrar ajustamentos

que permitam contornar as limitações físicas que inevitavelmente ocorrem com

a idade e se as oportunidades de aprendizagem responderem às necessidades

e motivações dos mais velhos.

As orientações das políticas públicas, nomeadamente a nível europeu, acom-­

panham estas ideias e no seu discurso é evidente a valorização dos mais velhos

e a necessidade de agir face ao envelhecimento rápido da sociedade, por via

da facilitação da sua permanência no mundo do trabalho, da partilha de expe-­

9 ILMARINEN, J. (s/d) Promover o envelhecimento ativo no local de trabalho. Agência Europeia para a Segurança

e Saúde no Trabalho.

10 LE BOTERF, G. (2002) La gestion des compétences rattrapée par les âges. Actualité de la Formation

Permanente, nº 181, p. 125.

Figura 2. Sistema de formação: teorias do “funil” e da “ampulheta”

Fonte: CEDEFOP (2011) Working and ageing, guidance and consulling for mature learners.

3 a 16/18

16/18 a 24

24 a 45

45+ até à idadelegal de reforma

Educação pré-­primária,

primária e secundária

Formação pós-­secundária /

Ensino superior

Aprendizagem profissional

Desenvolvimento

profissional

Aprendizagem ao longo da vida

Reformulação da carreira

Reflexão

Auto-­análise

3 a 16/18

16/18 a 24

24 a 45

45+ até à idadelegal de reforma

Educação pré-­primária,

primária e secundária

Formação pós-­secundária /

Ensino superior

Aprendizagem profissional

Desenvolvimento

profissional

?

28

riências e saberes, das relações intergeracionais e da promoção de uma vida

saudável, segura e inclusiva.

Porém, a perceção da sociedade em relação aos mais velhos é ainda desva-­

modo como as organizações encaram e integram esta dimensão do seu capital

mento ativo.

29

REPRESENTATIVIDADE E PERFIS DOS EMPRESÁRIOS SENIORES

O AUMENTO DA REPRESENTATIVIDADE DOS EMPRESÁRIOS SENIORES

Em 2011, os empresários com 50 e mais anos eram 163.503, aproximadamente o

dobro do valor recenseado em 1991, e representavam 36% do total de empresá-­

rios recenseados através dos Censos11.

bem mais envelhecido – no mesmo ano, a população ativa com 50 e mais anos

não ultrapassava os 25%12.

Quadro 3. Patrões/empregadores, total e grupo com 50 e + anos (1991, 2001 e 2011)

ANO % TOTAL DE EMPRESÁRIOS

1991 84.076 31,7% 265.197

2001 149.304 31,2% 478.804

2011 163.503 35,6% 459.123

Fonte: INE | Censos 1991, 2001 e 2011

O crescimento da representatividade dos empresários seniores está associado

à forte dinâmica de criação de empresas nas últimas décadas do século passa-­

período em análise, 1991/2011, o volume total de empresários seniores apresentou

uma taxa de crescimento de 95%, valor superior ao crescimento dos empresários

com menos de 50 anos de idade.

Atendendo aos dados disponíveis espera-­se que, ao longo da próxima déca-­

da, o volume de empresários seniores continue a aumentar, bem como a sua re-­

presentatividade. Dado o crescimento dos patrões/empresários na faixa etária 45

a 49 anos de idade e como o volume deste grupo é superior a qualquer um respei-­

tante às faixas etárias subsequentes, em particular aquela cujos indivíduos terão

maior probabilidade de passar à inatividade (75 ou mais anos), é de esperar que o

volume de empresários seniores continue a crescer ao longo da próxima década.

11 Os Censos são a fonte de informação que melhor retrata o número de empresários. Tem, contudo, a limitação

de usar o conceito de “patrões/empregadores” e não incluir os empresários por conta própria sem empregados.

Por isso, o número efetivo de empresários com 50 e mais anos será certamente superior ao recenseado através

desta fonte de informação.

12 População ativa: conjunto de indivíduos com idade mínima de 15 anos que, no período de referência,

constituíam a mão-­de-­obra disponível para a produção de bens e serviços que entram no circuito económico

(empregados e desempregados).

Figura 3. Patrões/empregadores, total e grupo com 50 e + anos (1991, 2001 e 2011)

Fonte: INE | Censos 1991, 2001 e 2011

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

30

O PERFIL GERAL DOS EMPRESÁRIOS SENIORES

A estrutura etária dos empresários seniores revela que são sobretudo “idosos jo-­

vens” – 66% até aos 59 anos, 86% até aos 64 anos. Mas a taxa de empresários

com idade acima do marco etário da reforma (65 e +) não é negligenciável

(13%), bem como o número de indivíduos incluídos – 21.699.

Esta estrutura etária mantém-­se estável ao longo das últimas três décadas,

revelando que o prolongamento da vida ativa para além da idade da reforma

velhecimento ativo e da dinamização da atividade económica dos mais velhos.

Aliás, é evidente a importância deste grupo no emprego dos mais velhos, na

medida em que os empresários com mais de 65 anos representam 31% do total

da população ativa no grupo etário 65 e mais anos (70.172 indivíduos).

Mas se para alguns esse prolongamento corresponderá a uma forma de rea-­

negócios.

nantemente masculino (70%), mas a presença feminina tem vindo a crescer,

ainda que com menor força na última década e em menor escala comparati-­

vamente ao grupo de empresários jovens.

uma melhoria gradual dos níveis de ensino que acompanha a tendência na-­

cional. Todavia, mantém-­se uma forte incidência do 1.º ciclo do ensino básico

(48%), enquanto que o ensino superior é um traço característico de apenas 15%

dos empresários.

empresas que pertencem maioritariamente ao setor do comércio por grosso e a

retalho (34%). O setor secundário (indústria transformadora e construção), o aloja-­

mento e restauração e a consultoria também apresentam expressão estatística,

embora com menor representatividade. A comparação com os dados referentes

da realidade nacional.

Figura 4. Patrões/empregadores com 50 e + anos por faixa etária, 2011 (%)

Fonte: INE | Censos 1991, 2001 e 2011

Figura 5. Patrões/empregadores com 50 e + anos por género, 2011 (%)

Fonte: INE | Censos 1991, 2001 e 2011

0

10%

20%

30%

40%

0

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

31

A maioria das empresas tem 10 ou menos trabalhadores (82%), mas a represen-­

tatividade desta categoria de pequenas e muito pequenas empresas tem vindo

a diminuir desde 2002. Os dados referentes a todas as faixas etárias demonstram

que a proporção de micro empresas é, no universo geral, ainda mais acentuada.

SER EMPRESÁRIO PELA PRIMEIRA VEZ DEPOIS DOS 50 ANOS

Apesar de o tema do empreendedorismo estar normalmente associado aos jo-­

vens e as políticas e instrumentos servirem essencialmente este grupo, a atividade

empreendedora dos mais velhos tem vindo a ganhar protagonismo e é referida

como um modo de cumprir o desígnio do envelhecimento ativo e do prolonga-­

vos em termos de empreendedorismo tenderão a diminuir nas próximas décadas,

por isso para manter e elevar os níveis da atividade empreendedora é necessário

reforçar a relevância dos mais velhos.

Deste modo, o empreendedorismo sénior está relacionado com dimensões

tão distintas como combater o “buraco negro” da reforma, prolongar a vida

ativa, reforçar o rendimento, manter determinados estilos de vida, combater

a pobreza e encontrar uma alternativa ao desemprego, dimensão particular-­

mente relevante no contexto nacional, tendo em consideração a incidência do

desemprego neste grupo.

lha deliberada por uma carreira tardia (fator oportunidade), ou a única opção

para se manterem ativos economicamente devido à sua exclusão do mercado

de trabalho tradicional (fator necessidade), na modalidade de empregadores

ou do auto-­emprego.

Mas o empreendedorismo sénior integra outras vertentes relevantes, nomea-­

damente o empreendedorismo social e o apoio a outros empresários mais jovens

ou menos experientes, através da função de mentores voluntários, do apoio às

start-­ups e às empresas em transição e da participação em negócios, de equi-­

pas mistas. Deste modo, procura-­se rentabilizar o saber-­fazer, a experiência e os

recursos dos empresários mais velhos e maximizar a transferência de conheci-­

mento e a aprendizagem intergeracional, aspetos enfatizados no que respeita à

Figura 6. Patrões/empregadores com 50 e +

Fonte: INE | Inquérito ao Emprego 2002 a 2012

0

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Figura 7. Empresas dos empresários com 50 e + anos segundo os setores mais representados,

2011 (%)

Fonte: INE | Inquérito ao Emprego 2011

0

10%

20%

30%

40%

32

relação dos idosos com o empreendedorismo no Plano de Ação «Empreendedo-­

rismo 2020» Relançar o espírito empresarial na Europa (Comissão Europeia, 2013).

Às barreiras ao empreendedorismo associadas à idade (declínio da saúde,

cedimentos administrativos, baixos níveis de educação…), contrapõem-­se recur-­

sos valiosos que a idade potencia (redes de relações e contactos, competências

cionais e facilitadores da iniciativa dos mais velhos. Por exemplo, a utilização das

TIC e os negócios a partir de casa.

Apesar destes fatores, a investigação revela que as intenções de criação de

negócios diminuem com a idade.

Não obstante, alguns países apresentam dinâmicas de criação de empresas

América, no período de 1996 a 2007, os americanos entre os 55 e os 64 anos

de idade registaram uma taxa de atividade empreendedora superior ao grupo

com idade entre os 20 e os 34 anos13. No Reino Unido, em 2011, 1/4 dos novos

negócios foram promovidos por empresários com mais de 50 anos e 48% dos ne-­

gócios iniciados por pessoas neste grupo etário ainda estavam ativos passados

cinco anos, enquanto que no grupo dos 18 aos 49 anos esse valor era de 29%14.

Além disso, estudos recentes indicam que nas situações de autoemprego, sem

intenção de contratação de outros, a aversão ao risco é menor e a propensão

para este tipo de iniciativa tende a aumentar com a idade15.

No caso de Portugal, os dados estatísticos disponíveis relativos à criação de

empresas não permitem traçar um quadro claro da iniciativa dos indivíduos com

50 e mais anos, remetendo para a necessidade de aprofundar a investigação

neste domínio.

Contudo, os estudos de caracterização da atividade empreendedora, nomea-­

damente o Eurobarómetro do Empreendedorismo e o GEM Portugal 2012 (Global

13 STANGLE, D.; MARION, E. (2009) The Coming Entrepreneurship Boom. Kansas City: Kauffman Foundation.

14 PRIME (2012) Small Business All Party Group Inquiry into the Role of Entrepreneurs in Driving Economic Growth.

Prince’s Initiative for Mature Enterprise.

15 KAUTONEN, T. (2013) Senior Entrepreneurship. LEED, Local Economic and Employment Development.

Figura 8. Empresas dos empresários com 50 e + anos segundo a dimensão, 2002 e 2012 (%)

Fonte: INE | Inquérito ao Emprego 2002 a 2012

0

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

33

Entrepreneurship Monitor), sinalizam níveis de atividade inferiores aos das gerações

mais jovens e da tendência dos países europeus.

Quadro 4. Eurobarómetro do Empreendedorismo

GRUPO 20-­49 ANOS GRUPO 50-­64 ANOS

Nunca pensou iniciar um negócio 75,9% 92,2%

Está a pensar iniciar um negócio 8,6% 1,7%

Está envolvido em atividades preparatórias para iniciar um negócio

15,5% 6,2%

Fonte: Eurobarómetro “Inquérito ao Empreeendedorismo, 2009”

A dinâmica empresarial dos mais velhos também não pode ser desligada da

crise económica que atravessa o país e das condições de funcionamento das

fação das oportunidades de trabalho, como a única saída para o retorno ao

mundo do trabalho.

Neste âmbito, o PAECPE -­ Programa de Apoio ao Empreendedorismo e à Cria-­

ção do Próprio Emprego, o programa nacional que apoia a criação de negócios

por desempregados, ganha relevo como instrumento de fomento do seu empre-­

endedorismo. Os dados da execução (setembro 2009/maio 2013) revelam que

13% dos utilizadores (201) tinham 50 ou mais anos16.

universo de empresários seniores recenseado através dos Censos. São mais novos

(88% integram-­se no escalão 50/59 anos de idade e apenas 2% tem idade supe-­

rior aos 65 anos), a representatividade feminina é superior (38% são iniciativas lide-­

A apreciação da implementação deste programa por parte do serviço público

empresarial como via para o prolongamento da vida ativa.

Os promotores apresentam, em geral, características facilitadoras do lança-­

Figura 9. idades (%)

Fonte: IEFP, Departamento de Emprego

34

escassos os recursos em matéria de criação e gestão de empresas. Em muitos

casos, estamos perante indivíduos que se podem catalogar de “empreende-­

dores relutantes”, ou seja, a iniciativa é a última oportunidade para voltar ao

mundo do trabalho, noutros casos o programa permite concretizar o sonho de

exercer uma atividade por conta própria.

Apesar de se tratar de uma tendência recente e ainda escassamente estu-­

dada, a iniciativa empresarial e a criação do próprio emprego por parte das ge-­

rações mais velhas colocam novas questões às políticas do empreendedorismo.

Há um novo público para os programas de fomento do empreendedorismo, que

é diferente dos seus clientes habituais, os jovens, e por isso importa questionar se

os programas em vigor respondem às suas características e necessidades e se

estão a funcionar como efetivos impulsionadores da iniciativa dos seniores que

querem e estão em condições de criar um negócio.

35

PERSPETIVAS QUANTO À LONGEVIDADE DA VIDA ATIVA DOS

EMPRESÁRIOS SENIORES

RETIRADA DOS NEGÓCIOS, SUCESSÃO E TRANSFERÊNCIA INTERGERACIONAL

A longevidade da vida ativa dos empresários é, para os que o desejam e estão

em condições de proporcionar valor acrescentado, uma vantagem para as em-­

presas e uma condição para o desenvolvimento económico e social.

A informação recolhida junto dos empresários auscultados revela um forte vín-­

culo ao trabalho e uma tendência de permanência na empresa para além da

idade da reforma17. Para a esmagadora maioria dos inquiridos respondentes ao

inquérito (90%), a saída da empresa num horizonte temporal de 3 a 5 anos não

é opção. O que é surpreendente nesta escolha é que nesse mesmo horizonte

temporal 34% dos inquiridos respondentes terão 65 e mais anos de idade.

“Se as coisas estivessem fáceis já me tinha afastado, mas a situação está

até aos 70 anos.”

Empresário de média empresa do setor industrial, 66 anos

“Ainda tenho projetos e vontade de fazer evoluir a empresa. Quando tinha

50 anos pensava que aos 60/65 fechava este capítulo, mas ainda estou

entusiasmado com o negócio e apesar das preocupações ainda estou cá

com prazer.”

Empresário de pequena empresa do setor do comércio, 65 anos

“Não perspetiva uma saída a curto prazo, nem pensa na reforma a mais

longo prazo, é algo que considera distante e que nem equaciona. Vê-­se

como uma empresária de grande longevidade.”

Empresária de pequena empresa do setor dos serviços, 58 anos

17 Os empresários foram auscultados através de inquérito, estudos de caso e focus group. O inquérito (telefónico

e por e-­mail) abrangeu uma amostra de 154 empresários, com as seguintes características: Grandes grupos etários:

50/ 64 anos: 78%; 65 ou +: 22%. Escolaridade: 9.º ano: 44%; Secundário: 26%; Superior: 30%. Todos os empresários

têm experiência de formação, na medida em que foram escolhidos aleatoriamente a partir de uma base de

36

Figura 11. Forma de retirada da empresa (%)

Fonte: Inquérito, Quaternaire Portugal

Se se concretizarem os planos de permanência na empresa referidos pelos

anos, que praticamente duplicam. O número dos empresários mais idosos (75 e

mais anos) também será muito reforçado.

Mesmo considerando os imponderáveis associados à idade, este tipo de posi-­

empresários e do aumento da representatividade dos mais idosos.

Contudo, importa também perspetivar esta tendência face ao contexto de

ção pessoal ou é uma obrigação por falta de alternativas de rendimento. Esta

será certamente uma hipótese muito credível, atendendo aos efeitos da crise na

Relativamente às condições que podem induzir a saída das empresas, cerca

sunto. Os restantes fazem depender a saída de três condições: atingir um certo

patamar etário, encontrar um sucessor e assegurar a estabilidade da empresa.

Mas a questão da idade como condição para a saída da empresa é assumida

de diversas formas. A maioria faz referência aos 65 anos (idade da reforma), al-­

guns referem idades superiores ou inferiores a este marco etário e outros remetem

para uma perceção mais subjetiva – “quando me sentir incapaz”, “quando não

tiver condições de saúde”, “quando sentir que chegou a hora” –, dando voz à

ideia da individualidade das perceções face à idade e ao envelhecimento.

A atender pelos resultados do inquérito, a longevidade da função empresarial

também pode ser perspetivada a partir de um cenário em que, apesar da retira-­

da, se mantém uma relação de proximidade com o negócio – esta é a perspetiva

da maioria dos empresários respondentes.

liar e em 69% dos casos o empresário foi o fundador e estes fatores marcam uma

Uma percentagem residual de respondentes (9%) assume que a sua retirada

corresponderá ao corte da ligação com a empresa , situação que aparece asso-­

ciada à forma de sucessão:

“Se a empresa não continuar na família, desligar-­me-­ei dela”; “Se alguém

comprar a empresa desligo completamente”.

Figura 10. Condições para a retirada da empresa (%)

Fonte: Inquérito, Quaternaire Portugal

37

Figura 12. Situação face à sucessão e transmissão da empresa (%)

Fonte: Inquérito, Quaternaire Portugal

pensou no assunto e esta opção de resposta incide particularmente nos empre-­

sários dos escalões etários mais baixos, mas cerca de 1/3 dos empresários respon-­

dentes mais velhos demonstra também um afastamento em relação ao tema.

O processo de sucessão é, por natureza, complexo e envolve mais do que

sucessores complica e cria resistências à transição da empresa – “o afastamento

vai ser muito difícil; foi uma vida construída com muito carinho e seria pior se não

tivesse sucessor”.

micas e porque os mais velhos não conseguem sair da empresa e manter um

rendimento que assegure um determinado estilo de vida ou uma saída digna.

Nestes casos, muitas vezes, a opção é carregar o negócio até ao limite da sua

funcionalidade, o que impede a renovação setorial e geracional.

Contudo, os processos de sucessão e transição são uma ótima oportunidade e

pretexto para o emprego dos mais jovens e para o fomento das relações interge-­

racionais e, se é certo que a sucessão familiar continua a ser a preferência, outros

tipos de sucessão são também boas oportunidades para a transição da empresa.

todos os grupos etários, indicando problemas na concretização da passagem

da empresa, que o seguinte testemunho permite elucidar:

“Pensamos no assunto, mas não encontramos solução. Nenhum sócio tem

seguidores capazes, nem capacidade de adquirir quotas.”

Apoiar os empresários a organizar a continuidade empresarial e o prolonga-­

mento do ciclo de vida das empresas familiares é crucial para garantir riqueza e

emprego e contribuir para o desenvolvimento sustentado da economia nacional,

contudo há ainda muito trabalho a realizar no domínio do apoio aos processos

de sucessão e transição das empresas18. E esse apoio ao processo é essencial,

18 NUNES DE ALMEIDA, P. et al (2011) Livro Branco da Sucessão Empresarial. Porto: AEP -­ Associação Empresarial

de Portugal.

38

conselho especializado.

A transferência de saberes dos mais velhos para as gerações mais novas é

uma componente que pode ser potenciada nos processos de sucessão, mas

que sobretudo se assume como um elemento estruturante da vida das empresas.

No caso dos empresários inquiridos, as competências técnicas dos produtos e

serviços das empresas são o foco mais importante dos processos de transferência

de saberes, seguindo se as competências em matéria de gestão e a dimensão

mais comportamental associada à ética e valores nos negócios.

A transmissão de saberes baseia-­se fundamentalmente em modalidades de

caráter informal e tácito. As formas mais estruturadas de transmissão de saberes,

poderes também não é muito expressiva, o que denota estilos de liderança de

caráter mais centralizado.

Ainda assim, atente-­se que a mistura de idades não é estranha a este grupo

de empresários, se consideramos a estrutura societária das empresas. Em 12%

dos casos o empresário é o único sócio, mas quando a sociedade é constituída

por mais sócios, em 27% das empresas os sócios têm todos menos de 50 anos e

na mesma percentagem a sociedade é um misto de empresários com mais e

menos de 50 anos.

Estes valores demonstram a abertura às gerações mais novas e o reconheci-­

mento do seu valor para cada empresa, incluindo na vertente de parcerias de

investimento.

PERCEÇÕES FACE AO ENVELHECIMENTO E ÀS DIFERENTES

GERAÇÕES DE EMPRESÁRIOS

No contacto com os empresários procurou-­se apreender como encaravam o

envelhecimento a partir das experiências pessoais e da realização de atividades,

que se associam ao conceito do envelhecimento ativo.

Não está preocupado com a sua vida depois de se retirar da empresa,

tem hobbies e outras atividades cívicas, “Não tem receio do vazio”, embo-­

Figura 13. Transferência de conhecimentos e competências (%)

Fonte: Inquérito, Quaternaire Portugal

Figura 14. Formas de transferência dos conhecimentos e competências (%)

Fonte: Inquérito, Quaternaire Portugal

39

pensar na evolução da empresa e tem ideia que os empresários seniores

que conhece continuam a investir. Mas os “anos desgastam, não tenho a

mesma vitalidade física e o meu ciclo está acabar”.

Empresário de média empresa do setor industrial, 66 anos

Considera que ainda tem muito para dar e não perspetiva desligar-­se dos

negócios. “Eu quero manter-­me jovem. Às vezes penso que tenho 40 anos.”

Empresário de pequena empresa do setor do comércio, 65 anos

Constata-­se um claro distanciamento da empresária em relação à idade e

ao envelhecimento. A situação é de atividade plena e projetos de desen-­

volvimento da situação atual.

Empresária de pequena empresa do setor dos serviços, 58 anos

Da análise das perspetivas de adesão dos empresários inquiridos, após retira-­

rem-­se da empresa, a atividades que ajudam a cumprir a qualidade de vida e o

bem-­estar, pode concluir-­se o seguinte:

O exercício físico e a utilização das TIC surgem como as atividades com

maior relevância, mas no primeiro caso a retirada da empresa favorece o seu in-­

cremento, enquanto no segundo se trata de dar continuidade às práticas atuais.

No que se refere às TIC, importa realçar que a sua utilização regular não abran-­

respeita às tecnologias, que aliás os inquiridos não deixam de expressar, nomea-­

damente quando em termos de necessidades de apoio lhe dão protagonismo.

A participação na vida política e associativa integra-­se no grupo das práti-­

cas menos representadas como intenções para a sua vida após a retirada das

empresas, bem como o voluntariado e o cuidado de crianças ou de outros adul-­

tos. Neste último caso, uma representatividade inferior ao expectável, que se jus-­

Finalmente, no caso da educação e formação, a retirada das empresas

não parece favorecer o aumento da ação neste domínio.

Relativamente à participação na vida económica, a maioria dos inquiridos res-­

0

20

40

60

80

100

120

Figura 15. Atividades associadas à qualidade de vida e bem-­estar (%)

Fonte: Inquérito, Quaternaire Portugal

40

trabalhar e os restantes não sabem/não pensaram no assunto/não responderam.

Mas as respostas ao inquérito permitem perspetivar outras formas de continui-­

dade na relação com o mundo dos negócios. De facto, quando confrontados

com a hipótese de, após a retirada da vida empresarial, apoiar e aconselhar

Quadro 5. Disponibilidade para apoio/aconselhamento a empresários mais jovens ou com menor experiência (%)

RESPOSTA %

Sim 66%

Não 8%

Não sei/Nunca pensou nisso 18%

Não respondeu 8%

Fonte: Inquérito, Quaternaire Portugal (nº de respostas à questão110)

serva de disponibilidade que pode ser aproveitada em favor de programas de

mentoring/coaching.

ter tido algum apoio quando comecei; no início foi muito difícil, uma coisa

é fazer o produto, outra coisa é gerir uma empresa.”

Empresário de média empresa do setor industrial, 66 anos

como um problema para os empresários auscultados. As respostas dos inquiridos

relativas a eventuais situações de discriminação com base na idade permitem

ter sido discriminados.

A perceção dos empresários relativamente ao seu estatuto de senioridade

baseia-­se fundamentalmente na ideia de uma experiência acumulada, que os

distingue dos empresários jovens e os dota de importantes e distintivos recursos:

“Sabedoria, não praticar o mesmo erro, prever os riscos, capacidade intelec-­

tual de análise e tomada de decisão, bom senso, prudência, maturidade na

decisão, capacidade estratégica e resiliência aos problemas, estabilidade

emocional, rede de contactos, maior conhecimento do mercado.”

Figura 16. Situações de discriminação enquanto empresário senior (%)

Fonte: Inquérito, Quaternaire Portugal

41

Relativamente aos empresários jovens são mais realçados os aspetos diferen-­

ciadores positivos do que os negativos, em particular a formação académica e

a relação com as TIC, mas também o dinamismo e a capacidade física:

“Jovens com mais capacidade e conhecimentos; preparação diferente e

com um nível de escolaridade superior; conseguem aplicar melhor esses co-­

nhecimentos; mais ferramentas; melhor formação de base; maior facilidade

com as tecnologias; apetência para a informática; mais disponibilidade físi-­

ca, mental e vontade de vencer; mais vontade de trabalhar; genericamente

são mais criativos, arrojados; arriscam mais e não pensam num futuro.”

O seguinte testemunho permite ilustrar a relevância que os empresários confe-­

rem aos mais jovens: “qualquer hipótese de criação de novo negócio seria sempre

Mas alguns empresários optam por um discurso que acentua uma perspetiva

“seniores têm valores, ética nos

negócios e valor social das empresas; jovens têm pouca responsabilidade; não

têm experiência e são muito impulsivos”. Em contraponto, outros consideram

síntese:

vantagens e desvantagens diferentes”.

As referências às desvantagens dos empresários seniores relativamente aos

jovens são também abordadas por alguns dos inquiridos, sobretudo no que res-­

peita à desatualização de conhecimentos face às mudanças da sociedade, da

economia e do mundo do trabalho, que o seguinte testemunho permite ilustrar:

“ … um empresário de 50 anos ou mais que não tenha tido o cuidado de

atualizar continuamente os seus conhecimentos, corre o risco de estar

muito desfasado da realidade dos atuais processos de gestão, de comuni-­

cação e de direção de pessoas (…), uma simples licenciatura tirada há 25

ou 30 anos atrás pode valer muito pouco se a pessoa não teve pelo cami-­

nho oportunidades de atualização.”

42

PISTAS PARA A INTERVENÇÃO

DOMÍNIO DE INTERVENÇÃO: SENSIBILIZAÇÃO E INFORMAÇÃO

Tal como noutras dimensões da dinâmica de envelhecimento da população, as

organizações associadas à dinamização e apoio à atividade empresarial ainda

os impactos que se podem perspetivar nas empresas e na função empresarial.

O contexto de crise nacional e o centramento da atualidade nas oportunidades

para os jovens não ajudam a colocar este assunto na agenda, ainda que os em-­

presários mais velhos possam ter um importante papel a desempenhar no empre-­

go dos jovens, incluindo neste âmbito a regeneração da liderança das empresas.

ticas particulares, nomeadamente de âmbito setorial, que é relevante explorar

e concretizar.

Como operacionalizar?

Promoção de discussões sobre o tema, que envolvam investigadores, políti-­

cos, associações empresariais e setoriais e empresários.

Introdução do tema nos contactos institucionais e nas agendas das organi-­

zações, nomeadamente associações empresariais.

Abordagens setoriais que permitam aprofundar o conhecimento da realida-­

de dos empresários seniores, direcionadas para setores representativos, como é o

caso do comércio.

Seguimento dos empresários seniores auscultados no presente Estudo, através

da replicação do inquérito.

Que agentes envolver?

Decisores políticos; serviços públicos de apoio à atividade empresarial; as-­

sociações empresariais, setoriais e regionais; organizações responsáveis pelo fo-­

zações que trabalham na promoção do envelhecimento ativo; investigadores,

universidades e consultoras; empresários seniores.

43

DOMÍNIO DE INTERVENÇÃO: SERVIÇOS DE APOIO

que se refere à gestão da idade e à saúde no trabalho, bem como à introdução

das designadas “medidas amigas da idade”.

Por outro lado, o apoio à transição e à sucessão dos negócios é um domínio

com necessidades particulares, que ganham relevo acrescido num cenário de

prolongamento da função de empresário, nomeadamente em situação de impo-­

sição por falta de alternativas ou má gestão do processo de retirada dos negócios.

Como operacionalizar?

Integração no trabalho de apoio e aconselhamento aos empresários mais

velhos, quadros de referência associados ao envelhecimento ativo, ao bem-­estar

e à saúde.

Reforço dos serviços de apoio empresarial direcionados para as problemáticas

da sucessão e transição dos negócios, em particular para as pequenas empresas.

Que agentes envolver?

Associações empresariais, setoriais e regionais; serviços públicos de apoio à

atividade empresarial.

DOMÍNIO DE INTERVENÇÃO: CAPITALIZAR AS VANTAGENS DO ENVELHECIMENTO

ATIVO DOS EMPRESÁRIOS

O contributo dos empresários seniores para a atividade empresarial e o empreen-­

dedorismo não se restringe apenas à sua função de dinamizadores diretos da ativi-­

dade económica, por via da criação e fomento de negócios ou do autoemprego.

O aumento da esperança média de vida, a melhoria das condições de saúde

cios os empresários podem contribuir para a dinamização do empreendedorismo,

através das funções de apoio e aconselhamento, maximizando a transferência

da sua experiência e conhecimento e a aprendizagem intergeracional.

Como operacionalizar?

Fomento de programas de mentoring e coaching.

44

Consideração da perspetiva intergeracional e da constituição de equipas

mistas.

Que agentes envolver?

Serviços públicos de apoio à atividade empresarial; associações empresa-­

riais, setoriais e regionais; organizações responsáveis pelo fomento do empreen-­

lham na promoção do envelhecimento ativo.

DOMÍNIO DE INTERVENÇÃO: FOMENTO DO EMPREENDEDORISMO SÉNIOR

A iniciativa empreendedora dos mais velhos (empregador ou autoemprego)

não é uma panaceia para o desemprego, o reforço de rendimentos ou a pro-­

importante não perder de vista o realismo dos objetivos nesta matéria.

Mas há certamente um contributo para o empreendedorismo nacional que

importa explorar e potenciar e isso implica saber se os seniores que querem e

estão em condições de criar um negócio estão a ser impulsionados, se estão a

ser trabalhadas as barreiras que impedem a sua iniciativa e se os programas e

medidas são os mais adequados.

Como operacionalizar?

Levantamento das iniciativas, negócios e indivíduos envolvidos no empreen-­

dedorismo sénior, nomeadamente por tipo de motivação e idade.

ram negócios após os 50 anos, designadamente no que respeita ao aconselhamen-­

to e à formação, tendo em conta a diversidade de públicos e suas necessidades.

Benchmarking com projetos e iniciativas internacionais orientadas para o

apoio aos empresários 50 e mais anos; organizações que trabalham na promoção

do envelhecimento ativo.

Que agentes envolver?

Serviços públicos de apoio à atividade empresarial; serviços públicos de

apoio ao (auto)emprego; associações empresariais, setoriais e regionais; orga-­

iniciativas empresariais.

45

DOMÍNIO DE INTERVENÇÃO: DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS

colares reforçam e que os próprios reconhecem como fator desfavorável compa-­

rativamente às gerações mais jovens. Por isso, é relevante assegurar que as com-­

de atualização e desenvolvimento nas faixas etárias que normalmente não são

abrangidas pela oferta de formação.

Como operacionalizar?

Consideração do grupo de empresários seniores como público relevante

Integração de uma perspetiva alargada das questões de desenvolvimento

Ponderação das modalidades e metodologias face às características e

particularidades do grupo etários.

Que agentes envolver?

Serviços públicos de apoio à atividade empresarial; serviços públicos res-­

setoriais e regionais; organizações responsáveis pelo fomento do empreende-­

dorismo; organizações que trabalham na promoção do envelhecimento ativo.

NOTAS

NOTAS