ENFOQUE PSICOPEDAGÓGICO FRENTE ÀS ALTAS HABILIDADES

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ENFOQUE PSICOPEDAGÓGICO FRENTE ÀS ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO Unidade 1 – Conceitos Gerais, Concepções Teóricas, Tipos de Superdotação INTRODUÇÃO Quero iniciar nossa conversa, levantando alguns questionamentos. Você sabia que Albert Einstein 1 tinha dificuldade de ler e soletrar e foi reprovado em matemática? Algumas personalidades da História não teriam sido selecionadas pelos métodos tradicionais de identificação, em função de não apresentarem um bom desempenho acadêmico. Virgolim (2007) cita alguns exemplos como: John Kennedy: tinha baixo rendimento escolar e dificuldades em soletrar; Walt Disney: foi despedido porque “não tinha boas ideias e rabiscava demais”; Beethoven: era considerado por seu professor de música “sem esperança como compositor”; Isaac Newton: descobriu o cálculo, desenvolveu a teoria da gravitação universal originou as três leis do movimento – tirava notas baixas na escola. Enquanto profissionais da Educação, o que podemos fazer para que talentos humanos não sejam desperdiçados? Vocês já pararam para pensar que na área da Educação Especial, as atenções são voltadas para as deficiências e que, aqueles indivíduos que estão acima da média são menos privilegiados no cuidado as suas necessidades educacionais especiais? Vocês sabiam também que existem atendimentos especializados garantidos pela legislação que amparam essa população? Então, esse é o começo da nossa reflexão... O tema altas habilidades/superdotação (AH/SD) têm sido gradativamente, mais abordado na área da Educação Especial e também, por meio de pesquisas científicas nas universidades. A ampliação da discussão sobre esta temática ocorreu a partir da década de 70 e vem crescendo até o momento atual (CIANCA, LYRA, MARQUEZINE, 2010). A primeira vez que se encontrou referência ao superdotado na legislação foi em 1971, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 5692/71, em

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ENFOQUE PSICOPEDAGÓGICO FRENTE ÀS ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

Unidade 1 – Conceitos Gerais, Concepções Teóricas, Tipos de Superdotação

INTRODUÇÃO

Quero iniciar nossa conversa, levantando alguns questionamentos. Você sabia que Albert Einstein1 tinha dificuldade de ler e soletrar e foi reprovado em matemática?

Algumas personalidades da História não teriam sido selecionadas pelos métodos tradicionais de identificação, em função de não apresentarem um bom desempenho acadêmico. Virgolim (2007) cita alguns exemplos como:

John Kennedy: tinha baixo rendimento escolar e dificuldades em soletrar;

Walt Disney: foi despedido porque “não tinha boas ideias e rabiscava demais”;

Beethoven: era considerado por seu professor de música “sem esperança como compositor”;

Isaac Newton: descobriu o cálculo, desenvolveu a teoria da gravitação universal originou as três leis do movimento – tirava notas baixas na escola.

Enquanto profissionais da Educação, o que podemos fazer para que talentos humanos não sejam desperdiçados?

Vocês já pararam para pensar que na área da Educação Especial, as atenções são voltadas para as deficiências e que, aqueles indivíduos que estão acima da média são menos privilegiados no cuidado as suas necessidades educacionais especiais?

Vocês sabiam também que existem atendimentos especializados garantidos pela legislação que amparam essa população?

Então, esse é o começo da nossa reflexão...

O tema altas habilidades/superdotação (AH/SD) têm sido gradativamente, mais abordado na área da Educação Especial e também, por meio de pesquisas científicas nas universidades. A ampliação da discussão sobre esta temática ocorreu a partir da década de 70 e vem crescendo até o momento atual (CIANCA, LYRA, MARQUEZINE, 2010). A primeira vez que se encontrou referência ao superdotado na legislação foi em 1971, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 5692/71, em seu art. 9º (BRASIL, 1971), que tornou obrigatório o atendimento educacional especializado a esta população (METTRAU; REIS, 2007).

O interesse em saber qual a origem da inteligência é tão antigo quanto as tentativas de desenvolver testes e instrumentos para medi-la. A história das altas habilidades/superdotação no Brasil registrou os primeiros atendimentos na área, na década de 1940, com a psicóloga e educadora russa Helena Antipoff, quando criou a Fazenda do Rosário para receber, em regime de internato, meninos “excepcionais”, de Belo Horizonte.

O investimento na área refletiu-se com a criação do Núcleo de Apoio a Aprendizagem do Superdotado (NAS) no ano de 1975 (em Brasília). Em 1978, originou-se a Associação Brasileira de Superdotação, com sede no Rio de Janeiro. Outras iniciativas se decorreram, como a criação do Centro para Desenvolvimento do Potencial e Talento (CEDET), em Minas Gerais, no ano de

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1993 e, a fundação do Conselho Brasileiro de Superdotação (ConBraSD) em Brasília, no ano de 2003 (BARRERA PÉREZ; FREITAS, 2009).

Outra importante ação implementada pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com a Secretaria de Educação dos Estados foi a instituição do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) no ano de 2005, em todos os estados brasileiros e Distrito Federal. O NAAH/S é um serviço de apoio pedagógico especializado, destinado a oferecer suporte aos sistemas de ensino no atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos com AH/SD, visando impulsionar ações de implementação das políticas de inclusão (BRASIL, 2006). Falaremos mais adiante sobre esse serviço de AEE.

Atenção, você que é professor, pedagogo ou psicopedagogo e reconhece um de seus alunos como possível superdotado, procure o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação, na Secretaria de Educação de seu Estado, que eles poderão orientá-lo.

Aproveitem para dar uma olhada no site do NAAH/S Paraná, que está sediado na cidade de Londrina.

Virgolim (2007) salienta que as escolas enfrentam muitos desafios na identificação e no atendimento a esses alunos e os NAAH/S apresentam-se como uma resposta adequada aos problemas propostos pela área, visando “[...] colaborar para a construção de uma educação inclusiva e de qualidade, assegurando o cumprimento da legislação brasileira e o princípio da igualdade de oportunidades para todos” (p. 10).

Para dar suporte teórico-prático aos atendimentos dos NAAH/S, os estudos de Gardner (1994,1997, 2000) e Renzulli (1986, 2004, 2012) têm sido os principais norteadores propostos pelo MEC, sobre a visão multidimensional da inteligência (FERRAZ, 2007). Percebe-se que algumas ideias errôneas sobre o que é a inteligência acima da média têm sobrevivido ao longo do tempo, no imaginário das pessoas. Estas crenças se traduzem em mitos e até mesmo em preconceitos, descritos por Winner (1998):

Superdotação é um fenômeno raro;

Constituem um grupo homogêneo em termos cognitivos e afetivos;

Apresentará necessariamente um bom rendimento na escola;

Tudo é fácil para a pessoa superdotada;

Ele é egoísta e solitário;

As crianças superdotadas se autoeducam, não precisam de ninguém;

Crianças superdotadas serão adultos eminentes.

Como vocês podem observar, esses mitos podem gerar alguns obstáculos na vida da PAH/SD. Por exemplo, se o aluno não se sente desafiado, pode não ter um desempenho acadêmico adequado, seja pela falta de motivação por já conhecer o assunto, ou porque não tem o AEE adequado, como o enriquecimento curricular no ensino regular. Então, esses alunos realmente necessitam de um direcionamento nos seus estudos e precisam de apoio.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a porcentagem de habitantes do planeta que manifestam altas habilidades, considerando-se apenas os resultados obtidos através de testes de QI é de 3,5 a 5% da população. Quantas pessoas com altas habilidades/superdotação teriam no Brasil, sem considerar os outros tipos de inteligência? Aí, bem, poderia chegar a 20%. É muita gente que está sem atendimento adequado e de repente seus talentos estão sendo

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desperdiçados (BARRERA PÉREZ, 2006). Portanto, se levarmos em conta apenas resultados de testes de QI, até mesmo quem é notavelmente apto em artes ou música não seria reconhecido, por terem habilidades que não são avaliadas em um teste convencional.

O que podemos afirmar é que a inteligência é complexa demais para que seja medida unicamente por testes psicométricos. Estes testes avaliam somente um tipo de inteligência, aquela resultante dos testes de QI (quoeficiente de inteligência). Essas avaliações não detectam o envolvimento com a tarefa e a criatividade, que são elementos que caracterizam o aluno com AH/SD, conforme definição do MEC (BRASIL, 2008).Esta visão conservadora de inteligência tem sido abandonada nos estudos recentes. Atualmente, a concepção de inteligência engloba vários componentes, podendo o indivíduo ter determinados fatores mais desenvolvidos, enquanto em outra pessoa outras dimensões estariam presentes em maior grau. Como por exemplo, a criatividade, que não era levada em conta pelos primeiros estudiosos da superdotação, passou a se constituir em um dos requisitos presentes em diferentes concepções de superdotação.

Selecionei um vídeo com Cristina Delou, que é a Presidente do ConBraSD, Conselho Brasileiro para Superdotação, que aborda as concepções atuais de AH/SD.

É sobre as teorias atuais que enfatizam as inteligências multifacetadas que iremos focar na nossa aula.

1.2 PRINCIPAIS CONCEITOS

Conceituar um fenômeno tão complexo como a superdotação não é tarefa fácil, haja vista a diversidade de nomenclaturas e definições que somadas aos mitos e ideias preconceituosas, configuram-se em uma das dificuldades para o estudo do tema e para a identificação do aluno com altas habilidades/superdotação. A partir dessa constatação, o MEC adotou a expressão “pessoa com altas habilidades/superdotação”, situando as características que os diferenciam enquanto comportamento, mas não como pessoa. Porém, outras terminologias podem ser encontradas na literatura, conforme o referencial teórico adotado, como, por exemplo, (FREITAS, 2006):

Altas habilidades/superdotação;

Superdotados;

Dotados;

Gênios;

Altamente capacitados;

Talentosos;

Precoces;

Prodígios.

Vocês perceberam quantos termos podem ser usados para se referir ao aluno com altas habilidades/superdotação?

Existe uma pluralidade de definições que variam conforme o país, autor, teoria. A habilidade superior, a superdotação, a precocidade, o prodígio e a genialidade são gradações de um mesmo fenômeno. Mas prestem atenção nas diferenças entre estes termos, pois não podemos sair chamando qualquer pessoa de gênio! Muitos pais acham que seus filhos são gênios, quando na

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verdade eles são precoces ou muito bem estimulados. Será que toda criança precoce é considerada superdotada?

Para Virgolim (1997) o termo superdotado

[...] produz confusão ao sugerir a idéia de “super” ou de capacidades que se situam em um nível muito além das apresentadas pelo ser humano comum. Da mesma forma, o termo em inglês gifted, refere-se a gift – “presente, dádiva, dom” – sugerindo que a habilidade superior é um dom natural ou dádiva divina (p. 175, grifo do autor).

Algumas terminologias citadas acima provocam confusão no imaginário das pessoas. Vocês podem, por exemplo, observar a diferença entre os seguintes termos (VIRGOLIM, 2007):

Precoce é aquela criança “[...] que apresenta alguma habilidade específica prematuramente desenvolvida em qualquer área do conhecimento, como na música, na matemática, nas artes, na linguagem, nos esportes ou na leitura” (VIRGOLIM, 2007, p. 23). Por exemplo, uma criança que sabe ler aos 4 anos de idade está bem adiantada em relação aos seus pares, não é mesmo?E o prodígio? Vocês já ouviram falar a respeito?

Prodígio é “[...] aquela criança precoce que apresenta um alto desempenho, como um profissional, em algum campo cognitivo específico” (VIRGOLIM, 2007, p. 24). São especialistas, demonstram domínio rápido e aparentemente sem esforços na área do seu conhecimento. Utiliza-se o termo “criança prodígio” para sugerir algo extremo, raro e único, fora do curso normal da natureza. Um exemplo seria Wolfgang Amadeus Mozart, que começou a tocar piano aos três anos de idade. Aos quatro anos, sem orientação formal, já aprendia peças com rapidez, e aos sete já compunha regularmente e se apresentava nos principais salões da Europa.E os Gênios, quem são eles?

Gênios são “[...] aquelas pessoas que deram contribuições originais e de grande valor à humanidade” (VIRGOLIM, 2007, p. 27). O MEC cita vários exemplos de gênios: Albert Einstein, William Shakespeare, Wolfgang Amadeus Mozart, Isaac Newton, Charles Darwin, Leonardo da Vinci, Mahatma Ghandi, Pablo Picasso, entre outros que se destacaram e mudaram a história da humanidade, sobressaindo-se até mesmo entre os extraordinários. Todos eles se sobressaíram por suas realizações criativas que elevaram o conhecimento humano, as ciências, a tecnologia, a cultura e as artes a patamares inusitados.

Mas prestem atenção! Os pesquisadores alertam que esses termos devem ser “[...] utilizados para efeito de estudos, nunca para rotular ou categorizar os alunos” (FERRAZ, 2007, p. 4). Então, respondendo a questão anterior, nem toda criança precoce será um superdotado, pois o ambiente tem grande influência no desenvolvimento da superdotação. Assim, se o aluno talentoso não tiver oportunidade de desenvolver seu potencial, ele poderá ser desperdiçado!

Portanto é muito importante que os professores e a família tenham conhecimento sobre as características das pessoas com AH/SD, para que seus talentos sejam identificados, não é mesmo?

Nos documentos que orientam sobre a identificação do aluno superdotado entende-se por superdotação:

[...] os padrões de desempenho superior que uma pessoa possa apresentar, quando comparada por grupo de igual faixa etária e contexto social. Em geral, apresenta em conjunto com esse desempenho, algumas características especialmente definidas e observáveis, que podem ser notadas e acompanhadas em várias faixas etárias, e que apresentam necessidades educacionais especiais, determinando procedimentos pedagógicos diferenciados para essa pessoa (BRASIL, 2003, p. 19, grifo nosso).

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De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, proposta em setembro de 2008, em Brasília, considera-se alunos com altas habilidades/superdotação os que:

[...] demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse (BRASIL, 2008, p. 15, grifo nosso).

Como se pode observar, a definição de AH/SD supracitada é mais abrangente, visto que não considera somente o desempenho intelectual, mas também características de personalidade, as influências do ambiente, a motivação, entre outros fatores intrínsecos e extrínsecos no desenvolvimento das AH/SD. Pode-se notar na prática cotidiana dos profissionais da educação que as produções científicas não são facilmente acessíveis aos profissionais, tendo em vista que a procura por conhecimento depende de alguns fatores. Entre eles, podemos citar o interesse de cada profissional em estudar o tema ou mesmo, nas oportunidades de formação oferecidas pelos órgãos responsáveis da área. Assim, podemos afirmar que um objetivo da formação profissional nessa área deve ser o de romper com as concepções errôneas sobre AH/SD, e resgatar um referencial teórico sólido fundamental para a prática profissional.

Esta reflexão nos leva a pensar que o aluno com AH/SD pode se destacar em diferentes áreas e nem sempre o professor domina todos os conteúdos. Por exemplo, um aluno tem interesse por Astrofísica, sabe tudo sobre as “estrelas quimicamente peculiares” e o professor não domina o tema que é tão específico. Não tem problema! O importante é o professor saber orientar/direcionar o estudo desse aluno, levando-o a pesquisar e buscar outras fontes de conhecimento, trabalhar por meio de projetos e incentivar o investimento na área de interesse do aluno. Falaremos mais detalhadamente na Unidade 2, sobre como trabalhar com o aluno superdotado por meio de projetos.

1.3 TIPOS DE SUPERDOTAÇÃO

Os tipos de superdotação citados pela Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1995, p. 17), são os seguintes:

Apresenta flexibilidade, fluência de pensamento, capacidade de pensamento abstrato para fazer associações, produção ideativa, rapidez do pensamento, compreensão e memória levadas, capacidade de resolver e lidar com problemas.

Um exemplo seria o físico inglês Stephen William Hawking (1942 - atual) é doutor em Cosmologia e um dos mais consagrados físicos teóricos do mundo (VIRGOLIM, 2007, p. 29).

Tipo AcadêmicoEvidencia aptidão acadêmica específica, de atenção, de concentração; rapidez de aprendizagem, boa memória, gosto e motivação pelas disciplinas acadêmicas de seu interesse; habilidade para avaliar, sintetizar e organizar o conhecimento; capacidade de produção acadêmica;

Para citar um exemplo deste tipo de inteligência, relacionamos os indivíduos que se destacam muito acima da média, em determinada disciplina, seja, por exemplo, em Química, Matemática, Biologia, etc.

Tipo CriativoRelaciona-se às seguintes características: originalidade, imaginação, capacidade para resolver problemas de forma diferente e inovadora, sensibilidade para as situações ambientais, podendo reagir e produzir diferentemente e até de modo extravagante; sentimento de desafio diante da desordem de fatos. Facilidade de auto-expressão, fluência e flexibilidade;

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Como exemplo, Virgolim (2007, p. 29) cita Leonardo da Vinci (1452-1519) escreveu, desenhou e fez estudos em inúmeras áreas: geometria, anatomia, geologia, botânica, astronomia, óptica, mecânica, arquitetura, projetos bélicos, etc.

Tipo Social

Revela capacidade de liderança e caracteriza-se por demonstrar sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade expressiva, habilidade de trato com pessoas diversas e grupos para estabelecer relações sociais, percepção acurada das situações de grupo, capacidade para resolver situações sociais complexas, alto poder de persuasão e de influencia no grupo;

Por exemplo, Mohandas Karamchand Gandhi (1869 - 1948), mais conhecido popularmente por Mahatma Gandhi (Mahatma, do sânscrito “grande alma”), foi um dos idealizadores e fundadores do moderno estado indiano (VIRGOLIM, 2007, p. 30).

Tipo Talento Especial

Pode-se destacar tanto na área das artes plásticas, musicais como dramáticas, literárias ou técnicas, evidenciando habilidades especiais para essas atividades e alto desempenho;

Um exemplo seria o compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887- 1959) recebeu sua primeira instrução musical aos seis anos, vinda do pai, que adaptou uma viola para que o filho pudesse estudar violoncelo (VIRGOLIM, 2007, p. 31).

Tipo Psicomotor

Destacam-se por apresentar habilidades e interesse pelas atividades psicomotoras, evidenciando desempenho fora do comum em velocidade, agilidade de movimentos, força, resistência, controle e coordenação motora.

Para exemplificar este tipo de inteligência, Virgolim (2007, p. 32) cita Edson Arantes do Nascimento (1940 – atual), mais conhecido como Pelé, é considerado o maior jogador da história do futebol e o mais famoso. Recebeu o título de Atleta do Século de todos os esportes em 1981.

Como vocês podem notar, o indivíduo superdotado se destaca acima da média em sua área de talento, ele não é bom em tudo o que faz, mas sim na sua habilidade específica. Virgolim (2007) cita outras pessoas conhecidas no nosso país, como exemplos de superdotados, cada um na sua área

[...] Pelé e Ronaldinho, no futebol, Gustavo Kuerten, no tênis, Carlos Drummond de Andrade e Olavo Bilac, na poesia, Ana Botafogo, na dança, Chiquinha Gonzaga e Tom Jobim, na música, Portinari e Tarsila do Amaral, nas artes plásticas, ou Padre Marcelo Rossi e Silvio Santos na capacidade de liderança, são exemplos de brasileiros que se destacaram em seus campos por demonstrarem habilidades específicas a um nível superior aos seus pares, em um dado momento cultural (p. 34).

O referido artigo tece uma análise das pesquisas e produções científicas na área de AH/SD, pretendendo auxiliar os estudiosos a verificarem o que tem sido tratado no meio acadêmico sobre o tema.

1.3.3 TEORIA DOS TRÊS ANÉIS DE RENZULLI

Renzulli (1986) em seu Modelo dos Três Anéis, a superdotação é resultado da interação de três fatores: habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade. O gráfico a seguir exemplifica a interação dos três fatores no Modelo dos Três Anéis de Renzulli.

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Habilidade acima da média, em alguma área do conhecimento, consiste em:

Alto nível de pensamento abstrato; Processo de informação rápido e preciso; Uso apropriado de informações, técnicas e estratégias; Seleção de informações.

A habilidade acima da média pode ser expressa através das habilidades gerais ou específicas.

Habilidades Gerais são normalmente medidas em teste psicométrico, estão relacionadas à memória, à fluência verbal, ao raciocínio lógico e numérico, às relações espaciais e ao pensamento abstrato; Capacidade em processar informações; Integrar experiências que resultem em respostas apropriadas a novas situações; Capacidade de se engajar em novas situações;

Habilidades Específicas: Capacidade de desempenhar atividades especializadas ou adquirir conhecimento e prática para atuar em atividades de uma área específica; são avaliadas pelo próprio desempenho da pessoa (CHAGAS; FLEITH, 2010).

Envolvimento com a tarefa ou motivação representa uma forma refinada e direcionada de motivação, energia canalizada para uma tarefa em particular ou uma área específica.

Alto nível de interesse, entusiasmo por área de estudo ou tópico especial;

Perseverança, trabalho e dedicação;

Alto padrão de excelência.

Criatividade

Fluência, flexibilidade, originalidade de pensamento;

Sensibilidade a detalhes;

Abertura a novas experiências, curiosidade;

Coragem para correr riscos e inovação. Nem sempre as pessoas apresentam os três fatores igualmente desenvolvidos, porém se

houver oportunidade e estimulação adequadas, poderão desenvolver seu potencial. Chagas (2007, p. 16) afirma que “[...] esses comportamentos são dinâmicos, complexos, temporais e envolvem a interação entre habilidades cognitivas, os traços de personalidade e o ambiente onde o indivíduo está inserido”. Sobre o incentivo a criatividade, Renzulli (2004) afirma que a escola tem a tarefa de estimular o desenvolvimento do talento criador e da inteligência em todos os seus alunos, e não somente nos alunos que se destacam por tirar melhores notas e tem QI elevado. Uma frase de Renzulli (2004, p. 108) exemplifica o que foi dito acima:

“A maré alta eleva todos os navios” Então, o que devo fazer quando acho que há um aluno com AH/SD na escola em que

trabalho? Quase sempre, a escola se preocupa apenas com os estudantes que apresentam um

desempenho abaixo da média e esquecem os que se sobressaem. Estes alunos acima da média também precisam de atenção especial e o papel do professor é de estimular e facilitar o desenvolvimento das habilidades e dos interesses do aluno. Percebendo-o de forma global, tanto na parte acadêmica quanto pessoal, valorizando-o, mas também, tendo o cuidado para que ele não receba um rótulo e sofra preconceito.

Renzulli considera que a inteligência não é a única expressão da potencialidade humana, e demonstra através da sua teoria que tanto a cultura quanto o ambiente são importantes para o desenvolvimento as habilidades do indivíduo. O autor salienta que o fenômeno da

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superdotação não pode ser explicado somente por testes padronizados, mas também por outros fatores que devem ser combinados.

1.3 SUPERDOTAÇÃO ESCOLAR E CRIATIVA-PRODUTIVA

Virgolim (2007) aborda os dois tipos de superdotação: a criativa-produtiva e a escolar analisadas por Renzulli (1986) e afirma que:

A superdotação escolar pode também ser chamada de “habilidade do teste ou da aprendizagem da lição”, pois é o tipo mais facilmente identificado pelos testes de QI para a entrada em alguns programas especiais. Como as habilidades medidas nos testes de QI são as mesmas exigidas nas situações de aprendizagem escolar, o aluno com alto QI também pode tirar boas notas na escola.A superdotação criativa-produtiva implica no desenvolvimento de materiais e produtos originais; aqui, a ênfase é colocada no uso e aplicação da informação - conteúdo - e processos de pensamento de forma integrada, indutiva e orientada para os problemas reais (VIRGOLIM, 2007, p. 43, grifo do autor).

O tipo acadêmico é aquele que se destaca nas diferentes disciplinas, geralmente é chamado de “nerd” pelos colegas, e às vezes até se “boicota” para não ser excluído do grupo de amigos por só tirar nota alta. Geralmente, tem alto desempenho na área de raciocínio lógico-matemática e da linguagem.

Já o tipo criativo-produtivo se destaca por ser mais criativo, curioso e questionador. Muitas vezes faz perguntas intermináveis para os professores principalmente na sua área de interesse e tem “fome” de conhecimento e desejo de buscar soluções inovadoras para resolver problemas. Ele pode encontrar dificuldades por não se adaptar a rotina e se desinteressar facilmente por temas que não lhe chamam a atenção, podendo ter um desempenho baixo nas avaliações escolares.

Muitas vezes o tipo criativo-produtivo não é identificado nas escolas porque suas áreas de interesse não fazem parte do currículo do ensino regular. Geralmente, esse aluno desenvolve projetos do tema que ele deseja explorar, nas salas de recursos de AH/SD.

Sentiu alguma dificuldade até o momento? Podemos seguir em frente? Vamos falar sobre a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner.

1.4 TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE GARDNER

A Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner propõe uma abordagem multifatorial da inteligência. Gardner (1994) afirmou que todas as pessoas normais são capazes de alguma atuação em pelo menos oito áreas intelectuais diversas e até certo ponto independentes, ao contrário das teorias que valorizam a visão psicométrica da inteligência.

Gardner (1997) apresentou no início dos estudos em 1983, no livro Estruturas da mente, sete inteligências. Porém, nos anos 90 pesquisou e incluiu mais um tipo, a inteligência naturalista. Atualmente, o autor especula haver uma nona inteligência.

Sua teoria estabelece que a competência cognitiva humana possa ser mais bem descrita como sendo um conjunto de habilidades, talentos ou capacidades mentais, consideradas universais (VIRGOLIM, 2007), a seguir descritas:

Linguística: “Envolve sensibilidade para a língua falada e escrita, a habilidade de aprender línguas e a capacidade de usar a língua para atingir certos objetivos” (GARDNER, 2000, p. 56). São exemplos: oradores, poetas, locutores, repentistas, contadores de histórias, jornalistas, advogados.

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Lógico-matemática: “Envolve a capacidade de analisar problemas com lógica, de realizar operações matemáticas e investigar questões cientificamente” (GARDNER, 2000, p. 56). São exemplos: matemáticos, engenheiros, cientistas, programador de computação, enxadrista, mestre de obra.

Espacial:

Capacidade de compreender o mundo visual de modo minucioso. Tem o potencial de reconhecer e manipular os padrões do espaço (aqueles usados, por exemplo, por navegadores, marinheiros e pilotos), bem como os padrões de áreas mais confinadas (GARDNER, 2000, p. 57).

São exemplos: escultores, cirurgiões, jogadores de xadrez, artistas gráficos, arquitetos, desenhistas, designers, costureiras.

Interpessoal: “[...] habilidade de entender as intenções, motivações e desejos dos outros, e consequentemente, de trabalhar de modo eficiente com terceiros” (GARDNER, 2000, p. 57). São exemplos: políticos, religiosos, clínicos, professores, vendedores, líderes - sociais, criminosos, religiosos.

Intrapessoal: “[...] envolve a capacidade da pessoa se conhecer, ter um modelo individual de trabalho eficiente – incluindo aí os próprios desejos, medos e capacidades” (GARDNER, 2000, p. 57) e de usar estas informações com eficiência para regular a própria vida. São exemplos: escritores, psicoterapeutas, conselheiros, teólogos, filósofos.

Musical: habilidade para tocar, compor e apreciar padrões musicais (GARDNER, 2000). São exemplos: músicos, compositores, dançarinos, maestros, ouvintes sensíveis da música, críticos musicais, intérpretes, instrumentistas.

Corporal-cinestésica: potencial em usar o corpo para dança, esportes ou para resolver problemas ou fabricar produtos (GARDNER, 2000). São exemplos: mímicos, dançarinos, desportistas, atores, mecânicos.

Naturalista: habilidades em reconhecer e classificar espécies da natureza.

Envolve as capacidades essenciais para reconhecer exemplos como membros de um grupo (mais formalmente, de uma espécie); para distinguir entre os membros de uma espécie; para reconhecer a existência de outras espécies próximas e para mapear as relações, formal ou informalmente, entre as várias espécies (GARDNER, 2000, p. 57).

São exemplos: fazendeiros, paisagistas, ecologistas, botânicos, caçadores.

Gardner (1997) ainda estuda a possibilidade de haver uma nona inteligência – a Inteligência existencial. O autor afirma:

Hoje estamos discutindo a possibilidade de haver uma nona inteligência, que chamamos de existencial. Essa inteligência está ligada a capacidade de considerar questões mais profundas da existência, de fazer reflexões sobre quem somos, de onde viemos ou porque morremos. Ainda não aceito inteiramente essa inteligência porque os cientistas não provaram que ela requer áreas específicas do cérebro. Por isso digo que existem oito inteligências e meia, embora a afirmação possa parecer um pouco estranha a primeira vista (GARDNER, 1997, p. 43).

Teóricos como Howard Gardner conseguiram comprovar cientificamente, mapeando as regiões cerebrais (por meio de exames de neuroimagem) responsáveis pela existência de pelo menos 8 inteligências, que ele denominou de Inteligências Múltiplas.

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Sugiro que assistam ao vídeo no Youtube feito por Carlos Garcia Jr, que fala sobre as Inteligências Múltiplas e encerra nos questionando: O que fazer para contribuir para o desenvolvimento das habilidades dessas crianças?

Vocês sabiam que todos nós nascemos com capacidade de desenvolver todas as inteligências?

Por exemplo, a inteligência corporal-cinestésica é estimulada se praticarmos esportes, corrermos, brincarmos, etc. Mas não é só isso, não posso me tornar um campeão olímpico simplesmente começando a nadar desde os 2 anos de idade.

Existe a influência da carga genética que é decisiva!

Percebam que é a interação dos fatores orgânicos com os fatores ambientais que vai determinar se o indivíduo desenvolverá seu potencial plenamente. Nenhuma criança nasce superdotada, mas podemos afirmar que nasce com um potencial para superdotação. Embora todas as crianças tenham um potencial surpreendente, apenas aquelas que tiverem a sorte ou oportunidade para desenvolver seus talentos, em um ambiente que responda as suas necessidades específicas, serão capazes de desenvolver mais plenamente suas habilidades.

Se pensarmos em Mozart, um dos gênios da música, ele herdou uma genética favorável para habilidade musical, provavelmente. Porém, se ele não tivesse crescido em um ambiente estimulante para a música, não teria grandes chances de se tornar este compositor maravilhoso.

Encerro dizendo que espero ter contribuído para que vocês desenvolvam um olhar especial para as AH/SD. Também, quero ressaltar que o interesse e o valor que, você profissional da área da Educação, atribui às experiências escolares ou extraclasse dos alunos com AH/SD, podem encorajá-los e assim, evitar que muitos talentos se percam no meio do caminho, sem dar à sociedade a sua preciosa contribuição.

Unidade 2 – Atendimento Educacional Especializado

1. CARACTERÍSTICAS MAIS COMUNS DAS PESSOAS COM AH/SD

Algumas características têm sido notadas em bebês “superdotados”, as quais os pais devem estar atentos, cujos primeiros sinais são (WINNER, 1998):

Sinais de vigilância e atenção prolongados;

Preferência por novidades;

Sentam, engatinham e caminham antes do esperado;

Falam cedo e progridem de elocuções de uma palavra para sentenças complexas rapidamente;

Vocabulário extenso;

Crianças com talento físico-motor demonstram cedo domínio de movimentos complexos e controle postural, equilíbrio e coordenação motora.

Crianças superdotadas geralmente demonstram:

Rapidez no processamento de informações;

Memória bastante aguçada;

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Leitura precoce (anterior aos 5 anos);

Interesse por questões filosóficas, políticas e morais precocemente;

Capacidade incomum na resolução de problemas;

Alto nível de metacognição e reflexão abstrata;

Preferência por brinquedo solitário;

Preferir a companhia de adultos e crianças mais velhas;

Intensa empatia e desejo de serem aceitas;

Ser mais assertivas, autoconfiantes e bem-humoradas quando comparadas com seus pares;

Discrepância entre os desenvolvimentos intelectual, social, emocional e físico.

Adolescentes superdotados normalmente demonstram:

Algumas barreiras internas relacionadas ao desenvolvimento do talento como autoconfiança, crença nas próprias habilidades e reconhecimento ou aceitação de suas habilidades;

Maiores níveis de reflexão e orientação para o futuro;

Passar mais tempo envolvidos em atividades relacionadas com a sua área de talento;

Maior nível de interação com os pais e irmãos;

Participar de atividades extraclasses, clubes, agremiações;

Maior satisfação com o desempenho acadêmico, quando desafiados;

Maior desejo de superar-se e dominar uma área;

Ser fortemente influenciados por fatores externos como elogios, reconhecimento e status social;

Participar com maior frequência de eventos, concursos e premiações;

Maior vulnerabilidade para a depressão, ansiedade e ideação suicida;

Resultados controversos sobre o ajustamento social.

Adultos superdotados podem apresentar, mais comumente:

Abertura a estímulos externos;

Grande concentração e manutenção no foco;

Persistência e obstinação no treinamento de habilidades;

Maior disposição para correr riscos; defender suas crenças e valores e eliminar obstáculos;

Engajamento em atividades produtivas;

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Atitude mais positiva e realista frente às suas limitações;

Aumento e maior estabilidade da inteligência cristalizada até a nona década da vida;

Possuir relações menos conflituosas;

Total envolvimento e participação em sua área de domínio;

Continuar produtivos até a fase mais tardia da vida;

Conhecer melhor suas potencialidades;

Reconhecem e lidam melhor com o estresse;

Melhor capacidade de comunicação;

Expressar sentimentos de forma pertinente e competente;

Capacidade extraordinária de julgamento e percepção;

Processamento mental rápido e incomum;

Grande sensibilidade e intuição;

Níveis superiores de realização e satisfação com a vida.

Gostaria que vocês assistissem ao vídeo chamado “Como lidar com crianças superdotadas” que mostra um exemplo de uma aluna que participa de um atendimento educacional especializado (ACERTA) e que teve 3 tipos de inteligência identificadas: lógico-matemática, espacial e linguística. É um vídeo bem interessante e demonstra como devemos estimular o potencial do indivíduo! Entrevista com a especialista Paula Pessoa Cavalcanti que realiza projetos na ACERTA/RJ.

Conforme as teorias de Gardner (1994; 1997; 2000) e Renzulli (1986; 2004; 2012), ambas referenciais para o estudo das altas habilidades/superdotação, dois fatores são contribuintes indispensáveis no processo de desenvolvimento da aprendizagem das crianças com altas habilidades/superdotação: genética e ambiente.

Segundo Mattei (2006)

[...] o ser humano nasce com a faculdade de ser inteligente, porém temos que ter subsídios para desenvolver nossas faculdades mentais, nosso potencial. Tanto Gardner quanto Renzulli consideram a inteligência não como algo isolado e unitário, mas ambos assinalam a importância da cultura e do ambiente para a definição e manifestação da mesma (p. 172).

A figura representada pelo crescimento de uma planta simboliza o desenvolvimento das habilidades do indivíduo. Assim como a semente necessita de condições favoráveis do ambiente para se desenvolver, também acontece com o ser humano. Nosso potencial genético está determinado no momento da concepção mas somente as condições de vida e oportunidades é que poderão estimular o desenvolvimento da superdotação. Assim, de acordo com o exposto, podemos afirmar que a família tem um papel fundamental no desenvolvimento das habilidades de seus filhos. Segundo Alencar e Fleith (2001), o desempenho superior está mais relacionado à vida familiar, aos traços de personalidade e ao engajamento em atividades de seu interesse, do que às habilidades cognitivas superiores.

1.2 CARACTERÍSTICAS DAS FAMILIAS DE PESSOAS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

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Fonte: Clip Art (2012)

Uma das autoras mais respeitadas no meio acadêmico de AH/SD, Ellen Winner (1998) destaca a existência de uma relação de influência mútua entre a criança superdotada e sua família. Para ela, a família pode influenciar de diversas formas o desenvolvimento do talento. Entretanto, a criança superdotada também afeta a organização familiar. Para confirmar esses dados, Winner (1998, p. 145-161) propôs a existência de características comuns presentes nas famílias de alunos superdotados, a elas denominou “Seis Principais Generalizações”, que são:

1. Posição especial na família, geralmente, primogênito ou filho único.

Primogênito: o filho dedica-se, de forma automotivação, a atingir elevados padrões de desempenho para manter-se em destaque aos olhos dos pais.

Filho único: o filho recebe mais estimulação dos adultos em seus primeiros anos de vida fazendo com que o filho único desenvolva seu potencial cognitivo de forma privilegiada.

2. Ambientes “enriquecidos”

Ambientes interessantes, variados e cheios de estímulos;

“Ambientes repletos de livros, onde há o hábito da leitura, com pais engajados em discutir ideias de forma sofisticada com seus filhos e que levam seus filhos a eventos culturais e a museus, desde pequenos” (FLEITH, 2007, p. 35);

Ambiente onde valoriza-se a educação formal, colocando-a em posição de prioridade na vida familiar, independente do nível socioeconômico e da escolaridade dos pais.

3. Famílias centradas nos filhos

“Sacrificam a vida pessoal para investir no talento dos filhos” (FLEITH, 2007, p. 35);

“Os sacrifícios feitos por esses pais são de diversas ordens: financeiro, social, educacional e profissional” (FLEITH, 2007, p. 35);

Pais atentos e responsivos;

Dedicam-se com devoção para que seu filho venha a desenvolver com plenitude seu potencial emergente.

4. Altos padrões de desempenho e alta expectativa

A Importância das Atitudes:o “Presença de alguém da família que atue como um modelo de dedicação, empenho

e alta realização na atividade profissional que executa” (FLEITH, 2007, p. 36);o Os pais demonstram o valor da dedicação diária ao trabalho por meio do próprio

exemplo.

A Importância dos Valores e das Crenças:o Nesses lares, valoriza-se o trabalho antes do lazer;o Desaprova-se a falta de compromisso ou irresponsabilidade com o próprio

desenvolvimento ou o uso do tempo com atividades medíocres.

5. Combinação entre Independência e Monitoramento

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Pais valorizam a independência nos filhos e esperam que os filhos possam assumir suas responsabilidades e os riscos por suas escolhas;

Pais concedem ao filho independência e autonomia ao mesmo tempo em que estabelecem padrões claros de conduta e desempenho.

6. Alta Expectativa, Estímulos e Apoio Afetivo

Combinação entre:o Afetividade;

o Apoio;

o Estímulos;

o Expectativa por altos padrões de desempenho: Atenção em nutrir as necessidades globais de desenvolvimento dos filhos, não colocando o talento do filho como o único aspecto do desenvolvimento merecedor de atenção.

As características acima citadas indicam que o indivíduo ao iniciar a vida é submetido aos contatos familiares e pouco a pouco, vai ampliando sua socialização. À medida que o repertório social aumenta, a responsabilidade pela mediação do desenvolvimento passa a ser compartilhada com a escola e mais tarde, com a sociedade como um todo. Dessen (2007) corrobora esse pensamento ao afirmar que a família constitui um contexto primário de desenvolvimento, mediando o processo de interação dos indivíduos com o contexto ambiental. Partindo dessas colocações, é interessante enfatizar a importância das crianças com altas habilidades/superdotação estarem inseridas em um ambiente que as estimulem seu desenvolvimento.

Sugiro que assistam um vídeo informativo do you tube que fala sobre Altas Habilidades/Superdotação para professores da rede pública de ensino, realizado por estudantes de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina, sob orientação da Dra. Eliza Tanaka, com apoio do Núcleo de Altas Habilidades / Superdotação (NAAH/S)

Tudo bem até aqui?

Falamos sobre as características das pessoas com AH/SD, das famílias dessas pessoas e agora podemos refletir sobre como identificar essas características no aluno, em sala de aula?

2. COMO IDENTIFICAR O SUPERDOTADO

A concepção que temos de superdotação vai influenciar na identificação da pessoa com AH/SD. Por exemplo, se consideramos o superdotado aquela pessoa que só tira 10 na escola, é tido como “nerd” e se destaca por suas notas altas, esse aluno é mais facilmente observável, então poderá ser encaminhado com maior frequência aos atendimentos (BARRERA PÉREZ; FREITAS, 2011). Mas e aqueles alunos que não vão bem na escola?

Os índices estatísticos demonstram que esses alunos não estão sendo identificados como deveriam. Vocês se lembram que eu comentei que a porcentagem de alunos com AH/SD seria de no mínimo 3,5 a 5%? E que poderia abranger até 20%? Os dados do INEP sobre o número de alunos matriculados com AH/SD, no ensino regular indicam um aumento desde o ano de 1996 até 2009 (BARRERA PÉREZ, 2012). Se os alunos não “aparecem” nas estatísticas, como as políticas públicas podem ser viabilizadas a essa população. Por isso é tão importante encaminhar essa população para os atendimentos adequados.

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Um dos temas que mais despertam interesse na área de AH/SD, e que está implicada diretamente na formação de professores, se refere à dificuldade de identificação desse aluno. Para tanto, os teóricos sugerem alguns procedimentos que devem ser variados e requerem “um período de 4 meses a um ano” (BARRERA PÉREZ; FREITAS, 2011, p. 27), tendo em vista a complexidade e variedade de áreas de interesse e talentos dos alunos com AH/SD. Devemos sempre levar em conta e valorizar os aspectos qualitativos e não somente os dados quantitativos. Entre os processos de identificação sugeridos (CIANCA, 2011), podemos citar:

Entrevista com a família, onde se pode investigar a história de vida, os hábitos, costumes, interesse, personalidade, amigos, gostos do aluno;

Entrevista com o aluno para verificar quais são seus gostos, talentos, capacidade de comunicação, sua rotina. Além de analisar suas produções de texto, desenho livre, desempenho escolar, avaliação dos interesses, estilos de aprendizagem, leitura, raciocínio lógico-matemática e questões sobre sua socialização, relacionamento interpessoal, liderança e também as características de personalidade, entre elas criatividade, motivação, envolvimento em tarefas do seu interesse, entre outros.

Entrevista com os professores do ensino regular de recursos para avaliar as facilidades e dificuldades de aprendizagem, a área em que o aluno se destaca, averiguar os indicadores de AH/SD observados em sala de aula e fora dela, potenciais e habilidades, entre outros.

Avaliação pedagógica para verificar se a criança é efetivamente avançada no conteúdo escolar e/ou quais suas dificuldades;

Indicação de profissionais de áreas específicas como música, dança, esportes, artes, etc.;

Realizar o processamento das informações considerando a sequência dos acontecimentos, a intensidade, frequência e consistência em que ocorrem os comportamentos de superdotação;

Lista de indicadores elaborada por Guenther (2000) e Barrera Pérez e Freitas (2010);

Destaques em áreas específicas como feiras de ciências, olimpíadas de matemática, destaque em jornal, etc.

Testes psicométricos padronizados aplicados por psicólogo somente e quando necessário, lembrando que a obtenção do QI do aluno não é o principal na abordagem multidimensional da inteligência e também porque os testes não detectam o desempenho em áreas como liderança, fatores emocionais, artísticos e psicomotores por exemplo;

Sobre a utilização dos testes de QI, devemos sempre lembrar o que Barrera Pérez e Freitas (2011) ressaltaram sobre esta avaliação

Pode ser feita por pessoas que tenham recebido capacitação adequada e suficiente sobre AH/SD, seja qual for a formação inicial. Na escola não há necessidade de “laudo” para receber o atendimento educacional especializado, visto que esse é um documento de avaliação clínica e as AH/SD não são uma patologia. O documento que informa que o aluno é uma PAH/SD[1] é o Parecer Pedagógico e, portanto, deve ser elaborado por um profissional da educação e, segundo define a legislação educacional, a identificação e o AEE[2] que o aluno deve receber precisa ser registrado no histórico escolar (p. 27).

Dentre as propostas de atendimento possíveis, Renzulli (1994) sugere que a identificação deve iniciar na sala de aula a partir do professor, que equipado com recursos adequados pode realizar suas observações sobre aquele aluno que se destaca. Detectados os estudantes com facilidade para aprender, o próximo passo é evitar que eles fiquem desmotivados e desinteressados na sala

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de aula. Para isso, o mais indicado é propor atividades que estimulem seus talentos, através de tarefas desafiadoras como pesquisas, debates e projetos em sua área de interesse.

[1] PAH/SD significa “pessoa com AH/SD”.

[2] AEE significa “Atendimento educacional especializado”.

Vamos pensar em um caso prático, por exemplo. Uma criança que tem um talento acima da média na área artística, como na pintura. Ela pode ser indicada pelo próprio colega de sala de aula ou pelo professor que percebe seu talento. A partir desse momento, sua habilidade artística deve ser apreciada por um profissional especialista na área que possa analisar os indicadores de AH/SD, como criatividade, coordenação motora fina, originalidade, etc. Se ela não for identificada, seu potencial pode não se desenvolver e mais um talento pode se perder.

Primeiro, porque se as PAH/SD não tiverem suas habilidades identificadas e desenvolvidas elas serão desperdiçadas e consequentemente, deixaremos de investir em novas descobertas e fomentar o desenvolvimento do próprio país. Segundo, que os alunos com AH/SD demandam oportunidades para o desenvolvimento dos talentos, corroborando para a criação de políticas de atendimentos especializados a essa população. Se esses alunos não fizerem parte das estatísticas nacionais, menos incentivo a área vai receber.

Após a identificação inicial, o aluno é avaliado no contexto escolar e encaminhado para os AEE. Estes serão descritos a seguir.

1.2 ENCAMINHAMENTO DO ALUNO PARA O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

Você sabe quais são as alternativas de atendimentos no Brasil, para os alunos com AH/SD?

O aluno com AH/SD demanda oportunidades especiais que a legislação prevê como por exemplo:

Enriquecimento curricular no ensino regular ou nas Salas de Recursos de Altas Habilidades/Superdotação ou Multifuncionais;

Aceleração;

Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação

ENRIQUECIMENTO CURRICULAR

O enriquecimento curricular consiste em estratégias que complementam ou suplementam o currículo regular. Ele pode acontecer no ensino regular e nas salas de recursos. Abrange o desenvolvimento de processos, como o pensamento criativo, a resolução de problemas, o pensamento crítico e o pensamento científico e de conteúdos curriculares, projetos e atividades dentro destes processos. Algumas estratégias de enriquecimento são: projetos, estudo independente, centros de aprendizagem, excursões, mentores, competições e outras atividades desafiadoras. Estratégias que complementam ou vão além do oferecido pelo currículo regular:

Modelo Triádico de Enriquecimento Curricular elaborado por Renzulli e Reis (1997). Esta proposta de trabalho desenvolvida por Renzulli objetiva o atendimento a todos os alunos, procurando desenvolver o talento de todos aqueles que têm potenciais e não somente os que apresentam QI elevado. Este modelo é utilizado no AEE e referendado pelo MEC (BRASIL, 2006).

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O Modelo é composto por 3 tipos de atividades:

Atividades do tipo I: Exploração

Atividades ou experiências que exponham os alunos a uma grande variedade de disciplinas, tópicos, questões, ocupações, hobbies, pessoas, lugares e eventos que normalmente não são contemplados pelo currículo do ensino regular.

Exemplos:

Assistir a filmes, shows, concertos;

Visitar museus, bibliotecas, hospitais, parques, antiquários, feiras, universidades, centros de pesquisa, laboratórios, exposições, etc.;

Promover palestras e debates;

Fazer demonstrações e simulações;

Promover o acesso a internet, artigos de revistas e jornais;

Promover passeios ecológicos ou caminhadas;

Promover atividades esportivas;

Fazer gincanas;

Promover minicursos.

Atividades do tipo II: Treinamento

Métodos instrucionais e materiais que promovam o desenvolvimento de habilidades técnicas, habilidades de pensamento e processos afetivos.

Exemplos:

Construir roteiros de entrevista, questionários e escalas;

Usar matrizes e ferramentas para geração, seleção, implementação e avaliação de ideias;

Usar técnicas avançadas de processamento e de pesquisa de informações: programas, estatística, banco de dados;

Usar técnicas avançadas de uma área específica;

Coletar, selecionar, classificar e analisar dados;

Usar técnicas de liderança e gerenciamento;

Promover estudos e debates sobre valores éticos, estéticos e morais.

Atividades do tipo III: Produção

Atividades de investigação e produção artística, onde o aluno assume o papel de “aprendiz de primeira mão” e “produtor de conhecimento”. Ele deve pensar, sentir e agir como um profissional da área.

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Exemplos:

Construir a árvore genealógica da família;

Construir um playground;

Fazer uma exposição de pinturas;

Apresentar performance: teatro, música, dança;

Escrever estória em quadrinhos;

Fazer um documentário;

Solucionar problema da comunidade local;

Gerenciar uma página na web;

Reunir receitas de pratos típicos regionais num livro;

Promover feiras de ciências.

Para Barrera Pérez e Freitas (2011) o professor pode auxiliar seus alunos, no Ensino Regular, desenvolvendo

[...] estratégias pedagógicas diferenciadas, flexibilizar o currículo, permitir que os alunos com AH/SD apresentem seus temas de interesse, que sempre são mais complexos e aprofundados, podendo enriquecer o conhecimento de seus colegas e favorecer também a sua socialização com a turma. Também pode ser utilizada, em alguns momentos, a monitoria, assim como projetos e pesquisas individuais e/ou em pequenos grupos (p. 38)

Em relação ao enriquecimento curricular nas Salas de Recursos, o professor deve promover atividades que não estão incluídas no currículo regular e que segundo as autoras referidas, devem apresentar

Níveis de complexidade diferenciados, de modo a expor os alunos a experiências e oportunidades que não são oferecidas na sala de aula comum, vinculadas aos seus interesses específicos. Este professor também pode estabelecer parcerias com recursos da comunidade, tais como, universidades, empresas, museus, academias de dança, música, futebol, etc. para garantir o AEE para esses alunos (p. 38).

O professor pode propor um modelo de Projeto a ser desenvolvido em grupo (quando outros alunos tem o mesmo tema de interesse) ou pode ser desenvolvido individualmente. A proposta deve incluir:

PROJETO

1- Nome do(s) aluno(s)2- Título do Projeto3- Objetivos (descrever a relevância do estudo)4- Método5- Resultados6- Socialização do trabalho

Quando falo de socialização do trabalho quero dizer que é importante que os resultados do projeto sejam divulgados entre os colegas, comunidade escolar, família etc. por meio de formas

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de apresentação diversas como artigos para publicação, músicas, poemas, apresentação de slides, jornal local ou da escola, exposição, entre outras. Recomenda-se também proceder uma avaliação do trabalho realizado, considerando os aspectos pedagógicos, o nível de compromisso do aluno, os avanços e/ou dificuldades.

Deve-se ainda, considerar os aspectos mais subjetivos do aluno, como por exemplo, relacionamento interpessoal, comportamento pessoal diante de situações de desafios, áreas de interesses e habilidades.

ACELERAÇÃO

Você sabia que ao aluno com AH/SD poderá ser ofertada a possibilidade de aceleração de estudos para concluir em menor tempo a escolaridade, utilizando-se dos procedimentos da reclassificação compatível com o seu desempenho escolar e maturidade socioemocional?

Você sabe o que significa aceleração de estudos?

Possibilidade de avanço dos estudos;o Fazer progredir ou andar mais rápido.o Estimular. Imprimir maior velocidade;o Cumprir o programa escolar em menos tempo;o pular séries;o compactação do currículo sem prejuízos.

Alguns benefícios podem ser observados na aceleração, como por exemplo, ela:

Favorece o contato com alunos mais velhos - tendência entre os alunos intelectualmente superiores;

Maior produtividade promovendo o início mais cedo da vida profissional;

Menos tédio e insatisfação entre os alunos - novo programa visto como mais estimulante e menos enfadonho;

Ajustamento emocional e social superior;

Produtividade exigida mais de acordo com suas capacidades;

Atitude mais responsável por parte do aluno;

Estabelecimento de novos propósitos e objetivos;

Desenvolvimento de hábitos mais adequados de estudo em atividades mais desafiadoras do que no ensino regular.

A Reclassificação é o procedimento de legalização da aceleração. É o processo pelo qual a escola avalia o grau de experiência do aluno matriculado, considerando as normas curriculares para encaminhá-lo à etapa de estudos compatível com sua experiência e desempenho, independentemente do que registre o seu histórico escolar (PARANÁ, 2001).

A reclassificação deve ser prevista:

No Projeto Político Pedagógico;

No Regimento Escolar;

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Em consenso entre os professores, equipe pedagógica da escola e a família, bem como assessorada por profissionais especializados do sistema.

Alguns fatores devem ser considerados nos casos de aceleração:

A criança deseja passar para a série seguinte;

O aluno é emocionalmente estável e entende o que está acontecendo;

Os pais sentem-se bem com a orientação do processo;

A escola assume o compromisso sem pressão para acelerar;

O aluno é efetivamente avançado no conteúdo escolar;

O acompanhamento do desempenho do aluno tanto acadêmico como social no âmbito escolar (família e escola).

A Legislação Brasileira garante o procedimento de aceleração aos alunos com AH/SD, por meio da LDBEN 9394/96 (BRASIL, 1996), em seu Art. 59, que ressalta:

“Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: [...] aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados” (BRASIL, 1996).

NÚCLEO DE ATIVIDADES DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO - NAAH/S

Outro atendimento Educacional Especializado ocorre através do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação. Serviço de apoio pedagógico especializado, de iniciativa do Ministério da Educação em parceria com a Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Está vinculado ao Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional, destinado a oferecer suporte aos sistemas de ensino no atendimento às necessidades educacionais dos alunos com Altas Habilidades/Superdotação, visando impulsionar ações de implementação das políticas de inclusão.

Os objetivos dos NAAH/S, de acordo com o Documento Orientador (2006) (BRASIL, 2006), são:

Atender os alunos com altas habilidades/superdotação;

Promover a formação e capacitação dos professores e profissionais da educação para identificar e atender a esses alunos;

Oferecer acompanhamento aos pais dessas crianças e à comunidade escolar em geral, no sentido de produzir conhecimentos sobre o tema e;

Disseminar informações e colaborar para a construção de uma educação inclusiva e de qualidade

É formado por três unidades:

Unidade de Atendimento ao Professor:

[...] tem por objetivo principal oferecer cursos de formação continuada de professores e profissionais da educação. É também um espaço reservado para pesquisa e planejamento de ações referentes às altas habilidades/superdotação. Ele deve funcionar por meio de interface

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entre as Secretarias de Educação, com as Instituições de Ensino Superior e/ou com organizações não governamentais, no sentido de garantir a participação de seus professores como formadores de professores nos cursos de atualização, aperfeiçoamento ou formação em serviço de professores, instrutores e tutores da rede pública (BRASIL, 2006, p. 22).

Unidade de Atendimento ao Aluno:

[...] compreende um espaço, que tem a função de apoiar alunos com altas habilidades/superdotação, professores e comunidade, por meio de um acervo de materiais e equipamentos específicos necessários ao processo de ensino e aprendizagem (BRASIL, 2006, p. 24).

Unidade de Apoio à família.

[...] tem a função de prestar orientação e suporte psicológico e emocional à família, com vistas à compreensão do comportamento dos seus filhos, melhorando as relações interpessoais e incentivando o desenvolvimento das potencialidades dos alunos (BRASIL, 2006, p. 25).

Pessoal, sugiro que vocês acessem o site do MEC que está logo abaixo, e verifiquem os livros lançados quando os NAAH/S foram implantados no Brasil. Lá vocês encontrarão vários autores renomados e experientes na área das altas habilidades/superdotação, abordando temas importantes como características dos alunos, as teorias que embasam os atendimentos, sugestões de trabalho em sala de aula regular e em atendimento educacional especializado. Aproveitem!

1.5.1 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA O ATENDIMENTO AO ALUNO COM AH/SD

Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva - Brasília – Setembro de 2008;

LDBEN Nº 9394/96 (BRASIL, 1996) – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Cap. V. artigo 59 – I e II;

Resolução CNE/CEB nº 02/01 (BRASIL, 2001) e Parecer nº 17/01(BRASIL, 2001) – Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.

Tenho algumas sugestões de filmes interessantes, sobre pessoas superdotadas. Agora que você já sabe quem são eles, ficará mais interesse assistir a esses filmes com um novo olhar, não é mesmo?

Vou encerrando nossa aula afirmando que espero ter auxiliado vocês a compreenderem como é importante identificar e encaminhar seu aluno com AH/SD para os atendimentos a que eles tem direito. Somente assim, seu potencial será valorizado e desenvolvido. Ressalto novamente que nós, professores, temos a missão de evitar que os talentos se percam no caminho e não tenham seu potencial explorado.