Enquadramento Metodológico dos Processos de Treino no Futsal · Prova de Licenciatura Barros, T....

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Enquadramento Metodológico dos Processos de Treino no Futsal Tiago Nuno Nogueira Durães Barros Porto, 2007

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Enquadramento Metodológico dos

Processos de Treino no Futsal

Tiago Nuno Nogueira Durães Barros

Porto, 2007

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Monografia realizada no âmbito da disciplina

de Seminário do 5º ano da Licenciatura em

Desporto e Educação Física, na área de

Desporto de Rendimento - Futebol, da

Faculdade de Desporto da Universidade do

Porto

Trabalho Orientado por: Mestre José Guilherme Granja de Oliveira Trabalho Realizado por: Tiago Nuno Nogueira Durães Barros

Porto, 2007

Enquadramento Metodológico

dos Processos de Treino no

Futsal

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Prova de Licenciatura

Barros, T. (2007). Enquadramento metodológico dos processos de treino no

Futsal. Porto: Barros, T. Tese de Licenciatura apresentada à Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto.

Palavras chave: Futsal, Periodização, Modelo de Jogo, Especificidade, Táctica.

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I

Agradecimentos

Este trabalho não poderia ser realizado se para ele não tivesse contribuído

um conjunto de pessoas e instituições, que de uma ou outra forma nos apoiaram e

nos guiaram.

Assim, queria deixar aqui o meu agradecimento a todos a quantos

contribuíram para que este momento se concretizasse:

• Ao Mestre Guilherme Oliveira, pela sabia influência e orientação, bem

como pelo seu incentivo;

• Aos treinadores integrantes da amostra pela disponibilidade, empenho

e cedência de informações durante a entrevista;

• Aos responsáveis pelas instituições às quais me desloquei e que tão

bem me receberam;

• Ao Eduardo Queiroz que, por materializar em todos os sentidos o

conceito de uma verdadeira amizade, permitiu que nunca deixasse de acreditar;

• Ao Paulo Andrade, pelo apoio prestado e cedência de material

necessário, por tempo indeterminado;

• À minha família e amigos pelo apoio incondicional e paciência

demonstradas perante as faltas de presença sentidas e não cobradas;

• À Cátia por todo o carinho e companheirismo, pelos conhecimentos

postos incondicionalmente à disposição, e por ter partilhado a concretização de

um sonho, que, sem ela, teria sido incomparavelmente mais amargo;

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Índice Geral

I. Agradecimentos............................................................................................I II. Indice Geral...................................................................................................II III. Indice de Anexos.........................................................................................IV IV. Resumo.........................................................................................................V 1. Introdução......................................................................................................1 2. Revisão da Literatura....................................................................................5

2.1 Futsal, afinal o que é?..............................................................................5

2.1.1 Futsal no universo dos JDC.....................................................5

2.1.2 Futsal: jogo táctico-técnico.......................................................6

2.1.3 Futsal: um jogo de ataque, defesa e transições.......................7

2.1.3.1 O processo ofensivo.................................................8

2.1.3.2 O processo defensivo...............................................9

2.1.3.3 Futsal: um jogo de transições..................................9

2.2. Necessidade de uma nova preocupação.............................................11

2.2.1 Conceito: Modelação Sistémica..........................................11

2.2.2 A Complexidade dos fenómenos........................................12

2.2.3 A dimensão táctica do jogo.................................................13

2.2.4 Pressupostos básicos da operacionalização do treino: modelos

no processo de treino........................................................................15

2.2.4.1 Concepção / Filosofia de jogo...................................15

2.2.4.2 Modelo de jogo: Comportamentos colectivos............16

2.2.4.2.1 Princípios e sub-príncipios de uma certa forma de

jogar........................................................................................18

2.2.4.3 A especificidade, dentro da especificidade do jogo...20

2.2.4.4 A “forma desportiva” dentro de uma certa forma de

jogar........................................................................................21

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III

2.2.4.5 Os principios metodológicos que dão corpo à

estrutura da unidade de treino e ao padrão semanal, que se

repete ao longo da época.......................................................22

2.2.4.5.1 Princípio da progressão complexa.............22

2.2.4.5.2 Princípio da alternância horizontal em

especificidade.........................................................................23

2.2.4.5.2.1 – O desgaste “mental-emocional”.

Efeitos da concentraçao.........................................................24

2.2.4.5.3 Princípio das propensões...........................26

3. Enquadramento Metodológico...................................................................27 3.1 Caracterização da amostra...............................................................27

3.2 Metodologia......................................................................................27

3.3 Recolha de dados.............................................................................28

4. Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados..............................29 4.1 Como é que os treinadores vêm e dividem os momentos/fases do

jogo de futsal?...................................................................................................29

4.2 Táctica como requisito fundamental.................................................30

4.3 Modelo de Jogo – Concepção/filosofia.............................................33

4.4 Modelo de jogo – principios e sub-princípios como comportamentos

basilares do processo de treino.........................................................................35

4.5 O trabalho em “Especificidade”........................................................37

4.6 O conceito de forma desportiva?......................................................39

4.7 A Concentração – Desenvolvimento e recuperação........................41

4.8 Importância do treino e do seu planeamento...................................43

5. Considerações Finais.................................................................................47 6. Sugestões para futuros estudos..............................................................51 7. Bibliografia.................................................................................................53 8. Anexos........................................................................................................59

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IV

Indice de Anexos

Anexo 1: Questões da Entrevista

Anexo 2: Entrevistas aos Treinadores

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RESUMO

A teoria tradicional do treino transporta várias lacunas no que concerne à

metodologia a adoptar numa modalidade inserida nos jogos desportivos

colectivos. É para nós fundamental, a procura do esclarecimento dessa

problemática, dos conceitos de planeamento e programação na preparação das

equipas.

Com a realização deste trabalho monográfico pretende-se esclarecer algumas

questões relativas à Periodização Táctica, bem como relacionar se o trabalho

realizado nos clubes da primeira divisão nacional de Futsal está inserido com esta

nova abordagem metodológica.

No sentido de encontrar-mos respostas para as questões, traçamos objectivos

para o nosso estudo: analisar as metodologias utilizadas pelos treinadores durante

a periodização e o planeamento da época, bem como averiguar se a

especificidade e o modelo de jogo têm um papel fundamental. Saber o grau de

importância que dão aos princípios e sub-princípios de jogo e à recuperação na

periodização por eles delineada.

Para efeito, além de uma pesquisa bibliográfica e documental, recorreu-se à

realização de várias entrevistas abertas aos treinadores de seis equipas.

Deste modo, através do cruzamento da informação conclui-se que, a dimensão

táctica não é a gestora de todo o processo de treino, o conceito Especificidade

surge, muitas vezes, associado a dimensão física e dimensão técnica individual.

Concluiu-se ainda que o modelo de jogo é a base de todo o planeamento, mas

não parece estar muito bem definido. A importância concedida pelos treinadores à

recuperação mental é quase nula e continua a ser elevada relativamente ao

preparador físico.

Deste processo de reflexão, constata-se a necessidade de o Futsal procurar

uma nova teoria orientada para a Especificidade da modalidade.

Palavras chave: Futsal, Periodização, Modelo de Jogo, Especificidade, Táctica

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Introdução

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1. Introdução 1.1 Pertinência e âmbito de Estudo

Em Portugal, o Futsal tem, de uma forma gradual, conquistado um

reconhecimento desportivo, social e cultural inequívoco, edificado em resultados

desportivos internacionais relevantes.

Na nossa experiência profissional enquanto praticantes da modalidade,

deparamos com treinadores que privilegiavam a dimensão Física como a base

para um bom rendimento no jogo. Tivemos, ainda, treinadores que aplicavam

quantidades desproporcionais de exercícios apelando apenas à dimensão

Técnica, realçando, ao jogador, que para ter sucesso na carreira teria que ser um

“dotado” tecnicamente. Por fim, alguns treinadores abordavam a táctica como

forma mecanizada, amestrando jogadas estereotipadas no complexo processo

ofensivo e defensivo.

A nossa experiência profissional enquanto técnicos de Futsal, tem levantado

várias interrogações sobre aspectos ligados à metodologia de treino da

modalidade.

Sendo o Futsal considerado um Jogo Desportivo Colectivo não, podemos

deixar de falar na vertente táctico-técnica, pelo que nos surgem várias

problemáticas acerca da operacionalização e organização metodológica do treino,

aspecto que nos parece importantíssimo na construção e evolução qualitativa de

uma equipa, pelo que pensámos que uma reflexão neste sentido seria mais um

contributo para elevar a qualidade do nosso Futsal, dos nossos treinadores,

atletas, professores e mesmo dirigentes ligados à modalidade.

O nosso estudo levará a cabo uma análise das metodologias aplicadas no

treino no escalão Sénior no Futsal, em seis equipas da 1ª. Divisão Nacional.

Na primeira fase do trabalho procuraremos reunir um conjunto de opiniões de

autores exploradores do tema, finda qual passaremos a examinar as metodologias

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Introdução

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dos treinadores dos clubes da 1ª Divisão Nacional, processo através do qual

tentaremos reflectir acerca do estado actual do processo de treino no Futsal

Português.

Por estes motivos coloca-se como fundamental uma investigação a este nível.

É necessário implementar no Futsal uma metodologia que se preocupe com o

processo jogo como um todo, sem haver necessidade de o decompor em

dimensões (táctica, técnica, física e psicológica).

Esse conceito denomina-se Periodização Táctica e surge como uma forma de

entender e perceber o complexo fenómeno – Jogar.

Pensamos que o importante não é trabalhar apenas para a evolução do

jogador (individual), mas sim da equipa, para que esta jogue de forma coerente

com o Modelo de Jogo preconizado

1.2 Objectivos

O nosso estudo está centrado na alta competição a nivel nacional, escalão

senior, da 1ª Divisão Nacional.

Deste modo, através do cruzamento e sistematização da informação

proveniente da revisão bibliográfica e da entrevista realizada aos treinadores das

equipas, pretendemos construir um discurso lógico que permita reflectir um pouco

sobre questões do planeamento e periodização do treino, ou seja, saber quais as

metodologias utilizadas pelos treinadores e se vão de encontro aos objectivos da

Periodização Táctica. Até que ponto deveremos periodizar em termos físicos e

não dar maior importância à componente táctica, seguindo o Modelo de jogo

criado, cumprindo com todos os seus princípios? Onde a componente física e

todas as outras dimensão aparecerão arrastados pela componente táctica, sem

maximizar cada uma delas em separado. Para além destas questões existem

outras que pretendemos ver esclarecidas, e que estão relacionadas com a

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Introdução

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periodização de treino, tais como: até que ponto a recuperação é importante e

está inserida nessa periodização? Será que a Especificidade e o Modelo de Jogo

deverá ser o principal pilar do treino?

Assim, será importante reflectir sobre um conjunto de questões fundamentais

para o processo de treino, que influencia o modo de jogar das equipas e se, de

facto, vão de encontro a esta nova abordagem metodológica.

1.3 Estrutura do trabalho

O presente estudo será estruturado em sete pontos.

O primeiro, Introdução, tem como objectivo apresentar e justificar a pertinência

do tema e do estudo, definir objectivos, descrever metodologia adoptada e explicar

a estrutura do trabalho.

No segundo ponto, denominado Revisão Bibliográfica, pretende-se confirmar o

Futsal como o modalidade desportiva, realizar uma síntese evolutiva dos conceitos

de periodização, explorar a importância do Modelo de Jogo adoptado os princípios

desse Modelo de Jogo e a importância da Especificidade.

O terceiro ponto, Enquadramento Metodológico, onde apresentaremos a

caracterização da amostra, a metodologia utilizada e a recolha de dados.

Com o quarto ponto, intitulado Apresentação, Análise e Discussão dos

Resultados, pretende-se apresnetar resultados, comparando-os com os conceitos

da revisão bibliográfica.

No quinto ponto, apresentar-se-ão as considerações finais do estudo.

No sexto ponto, serão apresentadas algumas sugestões para futuros estudos.

No sétimo ponto estará presente toda a bibliografia utilizada.

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Introdução

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Revisão da Literatura

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2. Revisão da Literatura

2.1 Futsal: afinal o que é? 2.1.1 Futsal: no universo dos JDC Desde o seu aparecimento na década de 30 na América do Sul, o Futsal tem

evidenciado um enorme e claro desenvolvimento à escala nacional e mundial,

contudo Braz (2006) refere que o Futsal não apresenta um lugar de destaque na

pesquisa cientifica, tal como, o Futebol, Basquetebol, Andebol e Voleibol e como

tal, são escassas as informações relativas à modalidade em causa. Sousa (2002;

citado por Braz, 2006), defende que esta modalidade está inserida na

classificação dos jogos desportivos colectivos (JDC), pois apresenta

características comuns às outras demais modalidades deste grupo, que segundo

Bayer (1994) são: existência de uma bola, pela posse da qual lutam duas equipas;

espaço delimitado (terreno de jogo), onde se desenvolve o “confronto”; presença

de um alvo a atacar e outro a defender (balizas); cumprimento das regras de jogo

e a cooperação com os colegas de equipa e a oposição aos adversários. Também

Tavares (1996) considera o Futsal como um JDC quando as suas acções de jogo

possuem imprevisibilidade de natureza complexa, existindo vários componentes

(colega, adversário, bola, campo de jogo, regras) que se confrontam

constantemente.

O Futsal conquistou o seu espaço próprio no mundo dos JDC, pois tal como

refere Rodriguez (2000) esta modalidade procura características multifuncionais,

isto é, jogadores que saibam jogar em todas as posições (jogador polivalente), a

melhoria das acções táctico-técnicas, devido ao aperfeiçoamento (carga horária

de treinos mais elevada, os escalões de base com formação no Futsal), maior

velocidade de execução gestual e uma maior intensidade em jogo (somente

descanso no banco ou nos tempos mortos do jogo, permitindo aos seus jogadores

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Revisão da Literatura

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uma maior continuidade nas acções de jogo). Em sintonia com esta ideia, Amaral

(2004) refere que, actualmente, fruto da especificidade táctica, do

aperfeiçoamento técnico e do desenvolvimento energético-funcionais, bem como

da proveniência dos jogadores dos escalões de formação, a ideia que o Futsal

seria um “parente pobre” do Futebol parece cada vez mais distante. Neste ponto é

importante referir que o Futsal é uma modalidade diferente do Futebol, pois

embora tenha adquirido características dete, também o fez relativamente a outros

desportos. Regras, técnicas, movimentações e rotações são características em

que o Futsal se apoiou para se afirmar como modalidade própria e que foram

evoluindo, ao longo dos tempos, as suas característica particulares, aumentando

assim a sua dinâmica de jogo (Braz, 2006). Tornou-se então necessário uma

melhor compreensão do jogo por parte dos jogadores, através do estabelecimento

de princípios de comunicação, concretizados através de acções motoras (técnica)

colectivas coordenadas (táctica).

2.1.2 Futsal: jogo táctico-técnico

Apesar de integrado no conjunto de modalidades que constituem os JDC, o

Futsal ainda não possui lugar de destaque na investigação científica. Assim,

poucos são os dados referentes às variáveis de jogo de Futsal (Sousa, 2002 e

Barbero, 2002; citados por Braz, 2006) facto que se constata quando se procede à

analise da literatura especializada.

Barbero (2002; citado por Braz, 2006), refere que o Futsal é, frequentemente,

considerado um desporto para jogadores de grande habilidade técnica, sendo de

vital importância o correcto dominio da bola, assim como a velocidade de

execução das diferentes acções técnicas. Isto levou a um exacerbada incidência

técnica no ensino do jogo, descuidando a aprendizagem de factores fundamentais

na compreensão do mesmo. Esta ideia é também partilhada por Garganta (2002)

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Revisão da Literatura

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relativamente aos JDC, já que defende que a didáctica dos mesmos repousa

numa análise formal e mecanicista, e o Futsal não é excepção.

Segundo Osimani (2004) em Espanha, que apresenta um jogo tacticamente

evoluído, utiliza-se um método global, partindo do jogo, aglomerando conteúdos.

No caso do seleccionador nacional espanhol Lozano (2005; citado por Braz, 2006)

encoraja os seus jogadores a pensar, a tomar decisões e a encontrar soluções

para os problemas que o jogo lhes coloca, pelo que deste modo dificilmente será

limitado tacticamente.

Uma caracteristica da actividade dos JDC é que todas as acções realizadas

são essencialmente determinadas sob o ponto de vista táctico (Konzag, 1983),

sendo unânime, entre especialistas, a importância do factor táctico na resolução

dos problemas que o jogo coloca. Soluções essas que poderão surgir num número

quase infinito de respostas, e segundo Braz (2006) cabe ao treinador a orientação

das mesmas.

Para Dugrand (1989) a equipa deve ser vista como um todo, como um sistema

em que o objectivo de jogadores, em interacção dinâmica, está organizado em

função de um objectivo, nas diferentes fases do jogo. A equipa ganha indentidade

própria (Castelo 1994; Pinto, 1996) que lhe advém uma cultura organizacional

específica (linguagem táctica comum).

A táctica desempenha um papel fundamental, pois é entendida como um factor

integrador e simultaneamente condicionador (Pinto, 1996) de todos os outros

(técnicos, fisicos e psicológicos).

2.1.3 Futsal: Um jogo de ataque, defesa e transições

Para Teoduresco (1984) o jogo é caracterizado por uma luta da posse de bola,

entre o ataque e a defesa, dois processos perfeitamente distintos e entendidos

como processo ofensivo e defensivo (Castelo,1994). No entanto o mesmo autor

refere ainda que, apesar de serem processos sob uma oposição lógica, no fundo

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Revisão da Literatura

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são, o complemento um do outro, significando que cada um deles está implicado

com o outro. A complementar esta ideia, Queiroz (1986) refere ainda que o jogo se

caracteriza pela aplicação de certos precedimentos antagónicos, de ataque e

defesa, tendo como objectivo o desiquilíbrio do sistema contrário, organizados e

ordenados num sistema de relações e inter-relações coerente e consequente a

que chamamos lógica interna do jogo.

Para melhor compreensão destes processos antagónicos, julgamos ser

importante realizar uma descrição sucinta de algumas das suas características.

2.1.3.1 O Processo Ofensivo

Segundo Teoduresco (1984), o processo ofensivo representa uma das fases

do jogo, sendo objectivamente determinado, pela equipa que se encontra de

posse de bola, com vista à obtenção do golo, sem cometer infracções às leis do

jogo.

Este mesmo conceito para Garganta (1997), abarca todas as acções

realizadas pelos jogadores pertencentes à equipa detentora da posse de bola, e

que ocorrem com base em objectivos, hierarquizados em função da finalidade do

jogo: manter a posse de bola, aproximar-se da baliza adversária e marcar golo, é

precisamente para este objectivo que, segundo Castelo (1996), os jogadores das

duas equipas, quando de posse de bola, direccionam as suas intenções e acções.

A fase ofensiva do jogo, para Kacani (1984), começa assim que a equipa

recupera a bola ao adversário e termina quando perde a sua posse, baseando-se

na cooperação de todos os jogadores na coordenação dos elementos das várias

formações, alternando ataques lentos e rápidos.

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2.1.3.2 O Processo Defensivo

O processo defensivo representa a fase do jogo na qual uma equipa luta pela

posse de bola, com vista à realização de acções defensivas, sem cometer

infracções e sem permitir que a equipa adversária obtenha golo (Teoduresco,

1984).

Para Castelo (1994) a fase defensiva caracteriza-se pelas acções de marcação

que exprimem a oposição do conjunto dos defesas através de comportamentos

táctico-técnicos individuais e colectivos, que visam essencialmente a anulação e a

cobertura dos adversários e espaços livres, concretizando o cumprimento dos

objectivos fundamentais da defesa: a defesa da baliza, impedindo a finalização e a

recuperação da posse de bola, retirando assim a iniciativa ao adversário.

Apesar de, na opinião de Castelo (1996), processo defensivo conter em si uma

acção negativa, onde, a equipa não poderá concretizar o objectivo do jogo, este

processo deverá ser encarado como uma forma de recurso, sendo abandonado

quando se recupera a posse de bola. Na conquista de uma vantagem importante,

o processo defensivo desempenhou o seu papel e, então, tem que desenvolver o

ataque aproveitando esse benefício, na qual a passagem rápida ao ataque é o

momento mais brilhante do processo defensivo, falamos, claro, das transições.

2.1.3.3 Um jogo de transições

Segundo Guilherme Oliveira (2004), alguns treinadores (Frade, 1989; Loius

Van Gaal citado por Kormelink & Seeverens, 1997; Mourinho, 1999; Valdano

2001; Guilherme Oliveira, 2003a) consideram que o jogo não tem apenas duas

fases, mas sim quatro momentos: organização ofensiva, organização defensiva,

transição defesa/ataque e transição ataque/defesa. O mesmo autor refere que,

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Revisão da Literatura

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tem mais lógica fala-se em momentos de jogo do que em fases, pois ao considerar

que o jogo pode ter quatro momentos, eles deixam de aparecer sequencialmente,

como acontecia nas fases, e a ordem de apresentação é arbitrária.

Barreto (2003) refere que depois da destruição (defesa) é necessário construir

(atacar), e é esta capacidade de coordenar estes dois tempos distintos e diversos,

que muitas equipas tem dificuldade de realizar.

O treinador Mourinho (2003a) refere que os jogadores, nas transições, têm de

saber não só efectuar a melhor escolha como também adoptar a melhor posição.

Num sistema que se baseia muito num jogo posicional de linhas e triângulos para

uma perfeita cobertura do terreno de jogo nas suas diferentes fases, a equipa

quando tem posse de bola deve ter os seus jogadores sempre em posição de a

receber e quando não a tem, os jogadores devem apostar numa pressão,

coberturas e permutas.

Por sua vez, Vázquez (2003) afirma que as transições são “momentos-chave”

do jogo, assim, faz todo o sentido Couto (2006) referir que as equipas equilibradas

são as que melhor dominam os momentos transitórios. Já segundo Jesualdo

Ferreira (2003), as equipas terríveis são as que diminuem o tempo entre o ganhar

a bola e atacar e entre o perder a bola e defender. É este o segredo do jogo

actual. Mourinho (2003a) é também categórico quando diz que no futebol de hoje,

os dois momentos mais importantes são o momento em que se perde a bola e o

momento em que se ganha a bola.

Para Guilherme Oliveira (2004), o momento de transição ataque/defesa é

caracterizado pelos comportamentos que se devem assumir durante os segundos

após a perda da posse de bola. Por outro lado, este mesmo autor, refere que o

momento de transiçao defesa/ataque é caracterizado é caracterizado pelos

comportamentos que se devem ter nos segundos imadiatos à conquista da posse

de bola.

Assim sendo fica clara a importância das transições defesa-ataque e ataque-

defesa, onde podemos perceber que são decisivos na fluidez do “jogar”, sendo

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Revisão da Literatura

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que a ideia é reorganizar rapidamente para poder aproveitar a desorganização

temporária do adversário.

2.2 Necessidade de uma nova preocupação...

“A preocupação é ter uma equipa a jogar de determinada maneira,

onde o padrão, as preocupações, são sempre jogar”

(Frade, 1989)

2.2.1 Conceito: Modelação Sistémica

“Devido à continua ligação entre prática e teoria atinge-se um estado superior de compreensão da

realidade do jogo, sendo possível proceder-se a uma sintese, ou seja, a uma generalização e

sistematização dos seus elementos fundamentais.”

(Teoduresco, 1984)

Moigne (1994) refere que o conceito de modelação sistémica aparece no

sentido de permitir perceber e tratar fenómenos complexos (jogo), sem

necessidade de os decompor analíticamente. Assim, segundo Guilherme Oliveira

(2002), se entendermos o conceito de modelação sistémica como periodização

“táctica”, este desenvolve-se para uma análise, conhecimento e modelização

reflectida do jogo, sem que para isso seja necessário a sua redução a aspectos

tácticos, físicos, técnicos e psicológicos. Reclama-se, então por uma modelização

(periodização) que revele suficientemente a inteligibilidade dos fenómenos para

que possa permitir a deliberação racionada, a invenção e a avaliação dos seus

projectos de acção (Moigne, 1994).

Para Moigne (1994), a modelação da complexidade permite aos jogadores e

treinadores interessados apropriarem-se dela cognitivamente, construindo a sua

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Revisão da Literatura

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inteligência intencional. Segundo Moigne (1994), o modelizador constroi as

representações multidimensionais dos processos físicos e cognitivos no seio dos

quais intervém intencionalmente; representações ou modelos sobre os quais

exercerá o seu entendimento, a fim de elaborar e avaliar os projectos de acção

que pode considerar.

O método de modelação sistémica justifica-se por uma axiomática à qual o

modelizador deve incessantemente referir-se, se não quiser construir de uma

forma não consistente e se não pretender modelizar analiticamente cortando, e

destruindo a complexidade em vez de a conceber na sua potencialidade (Moigne,

1994).

2.2.2 A Complexidade dos fenómenos...

Segundo Moigne (1994) a complexidade caracteriza um sistema modelizável

susceptível de manifestar comportamentos que não sejam todos pré-determinados

(necessários) ainda que potencialmente antecipáveis (possíveis) por um

observador deliberado desse sistema. Esta definição sugere um método de

análise conceptual da complexidade instantânea de um sistema (uma “medida” de

complexidade), pela colocação em correspondência (Moigne, 1994):

do número de comportamentos possíveis desse sistema

(ponderados pela sua probabilidade de ocorrência);

com o seu número de comportamentos certos (pré-

determináveis).

Existe agora, um modo de representação dos fenómenos que não esgota, e

que não mutila, a ambiguidade, a imprevisibilidade, e por conseguinte, a

complexidade dos fenómenos: uma complexidade a partir de então concebível. É

preciso, considerando a exposição deste paradigma como adquirido, interpretá-lo

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Revisão da Literatura

13

agora em termos de método. Assim o método da complexidade é antes de mais

método de concepção de modelos complexos (Moigne, 1994).

Deste modo, conceber, é organizar; uma concepção é uma organização,

organizada e organizante. Precisamos de construir um modelo e lê-lo na sua

potencialidade organizadora, ou seja, tem de ser organizante se pretende dar

conta da complexidade apercebida (imprevisibilidade essencial) do fenómeno que

foi modelizado (Moigne, 1994).

A concepção de um modelo com o objectivo de intervir é avaliar a situação e

explorar modelos disponíveis até que, como que um puzzle, se possa

corresponder às casas do modelo às peças recortadas na análise. O que acontece

na prática é escolher um modelo antes e, de seguida, realizar o corte de forma a

que as peças se ajustem, “como que por acaso”, nas casas reservadas à sua

intenção (Moigne, 1994).

É o projecto do modelizador que, ao procurar interpretar as percepções que se

constroi do fenómeno, vai dar-lhe sentido, torná-lo inteligível, “compreendê-lo

projectivamente”: este projecto modelizador torna-se a “causa final” relativamente

à qual a representação será significativa (Moigne, 1994).

Neste sentido, é necessário entender o jogo como algo complexo, para o poder

perceber e analisar, não esquecendo que, a equipa obedece a uma ordem, isto é,

as suas partes estão ligadas entre si e sob alguma regra (Garganta, 1996) – a

dimensão táctica.

2.2.3 A dimensão táctica do jogo

Segundo Garganta (1997) o espaço de jogo dos JDC é estandardizado, tem

medidas fixas e é estável. O que varia é o espaço informacional, o organizacional,

em função da movimentação dos jogadores, da posse ou não da bola, da zona do

terreno ocupada e da velocidade de execução das tarefas.

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Revisão da Literatura

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Assim a táctica não se traduz apenas numa organização das varáveis físicas

(tempo e espaço) do jogo mas implica, sobretudo, uma organização informacional.

Como tal, nos JDC não devem apenas ser consideradas as distâncias métricas,

mas também o espaço de interacção e a componente decisional (Moreno, 1994).

A magnitude de uma distância, nesses contextos, avalia-se não apenas na medida

das exigências do foro energético, ou físico, mas também pela dificuldade em

cobri-la, de acordo com as sucessivas configurações que o jogo apresenta

(Garganta, 1997). Ainda segundo o mesmo autor para que as acções tácticas

sejam eficazes, os jogadores devem eleger os espaços de jogo que permitam um

intercâmbio de funções entre os companheiros, ou seja, um complexo de relações

mútuas que se estabelece entre os jogadores, de acordo com as finalidades das

respectivas acções de jogo.

Numa partida, em cada acção a realizar, os problemas prioritários que se

colocam ao jogador são de natureza táctica (Garganta, 1997). Desta forma, são as

situações de jogo com a variabilidade, alternância e a aleatoridade que lhes é

inerente, que determinam a direcção dos comportamentos a adoptar pelos

jogadores, pelo que a estes é reclamada uma atitude táctica permanente

(Garganta, 1995). Os conhecimentos que o jogador dispõe, permitem-lhe orientar-

se prioritariamente para certas acções em detrimento de outras (Tavares, 1994).

Assim, o conceito de táctica pressupõe, segundo Teoduresco (1984), a

existência de uma concepção unitária da equipa (modelo) para tornar o jogo mais

eficaz, ou seja, é necessário um tema geral sobre o qual os jogadores concordam

e que lhes permite estabelecer uma linguagem comum Castelo (1994).

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Revisão da Literatura

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2.2.4 Pressupostos básicos da operacionalização do treino: modelos no processo de treino

“Um reconhecimento: toda a acção de jogo contém incerteza.

Uma necessidade: realizar estratégias de comportamento,

como arte de agir em condições aleatórias e adversas”

(Frade, 1985)

2.2.4.1 Concepção / Filosofia de jogo “É absolutamente indispensável a existência de uma concepção, uma filosofia, uma teoria de forma

a “dar” um sentido, um horizonte ao processo de treino e de jogo”

(Frade, 1985)

A concepção/filosofia de jogo de um treinador está relacionada com a forma

como este entende o próprio jogo e que pretende que a sua equipa jogue (Frade,

citado por Leandro 2003). Assim, a forma como um treinador orienta a sua equipa

deverá estar relacionada com a sua filosofia de jogo. Reforçando esta ideia

Caçador (citado por Fernandes, 2003) refere que se o treinador não tiver ideias

perfeitamente definidas em relação ao que pretende do jogo e da equipa,

certamente não terá sucesso.

Segundo Leandro (2003) é de máxima importância para qualquer treinador a

concepção que o mesmo tem do jogo. No entanto, para que isso aconteça é

necessário ter o conhecimento de outras concepções. O que realmente se verifica

é que cada treinador tem uma concepção diferente, isso consequentemente terá

como resultado formas de jogar também elas diferentes. Como refere Mourinho

(2002c) quando um treinador vai para um clube, deve encontrar mais do que um

sistema táctico, um modelo, uma filosofia de jogo. Face a isto, um aspecto

fundamental é a tarefa do treinador de transmitir aos jogadores a sua ideia de

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jogo, de forma organizada, com objectivos definidos. Por isso, Mourinho (citado

por Faria, 1999, pág. 44) salienta que “tudo passa por explicar aos jogadores

aquilo que eles têm de fazer”.

2.2.4.2 Modelo de jogo: Comportamentos colectivos

“O mais importante numa equipa é ter determinado modelo, determinados principios, conhecê-los

bem, interpretá-los bem, independentemente do facto de ser utilizado este ou aquele jogador. No

fundo é aquilo a que eu chamo de organização de jogo”

(Mourinho, 2002a)

“São comportamentos que nós queremos que a nossa equipa tenha em todos os momentos de

jogo. É uma forma de jogar,é “saber-se” aquilo que se tem de fazer permanentemente em todas as

circunstâncias de jogo ”

(Guiherme Oliveira citado por Tavares, 2003)

Para Frade (1997) o conceito de Periodização Táctica está directamente

relacionada com o modelo de jogo do treinador, pois constitui-se como um

pressuposto fundamental que dinamiza, baliza e orienta a definição de objectivos

e a selecção de meios e métodos mais adequados com vista à obtenção de

melhores rendimentos (Leal & Quinta, 2001). Desta forma o modelo de jogo pode

ser entendido como uma conjectura, um corpo de ideias em relação a uma

determinada forma de jogar, constituindo assim como o “perfil” de jogo da equipa

(Graça & Oliveira, 1994). Leandro (2003) refere também que cada concepção de

jogo produz um modelo de jogo próprio, uma vez que as ideias, inerentes a uma

determinada cultura de jogo, são também elas diferentes.

O modelo de jogo criado, deve, segundo Leal & Quinta (2001); Guilherme

Oliveira (1991); Castelo (1994) e Martins (2002), constituir-se por todo um

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conjunto de atitudes e comportamentos que permitam caracterizar a organização

dos processos tácticos, suportados pelos principios de jogo, que o treinador

pretende que sejam adoptados pela sua equipa, tentando assim simplificar

realidades complexas, no entanto, o jogo é sempre mais complexo e completo do

que a sua reprodução através de um qualquer modelo (Garganta, 1996 & Araújo,

1998). O modelo de jogo caracteriza-se assim por ser uma referência, que se

deseja atingir, havendo, portanto a necessidade de construir o presente em

“função” do futuro a que se aspira, tratando-se de um processo que nunca está

concluido (Frade, 1985) e para a sua elaboração é necessário considerar-se não

apenas as caracteristicas desse modelo, mas também as caracteristicas morfo-

funcionais, sócio-culturais e psicológicas dos seus jogadores, assim como as

condições geográficas e climatéricas onde o clube se insere (Frade, 2001).

Os modelos de jogo devem reproduzir, de uma forma metódica e sistemática,

um sistema de relações que se estabelece entre os diferentes elementos duma

equipa numa determinada situação de jogo, definindo tarefas e comportamentos

táctico-técnicos exigíveis aos jogadores, em função dos seus níveis de aptidão e

capacidade (Queiroz, 1986). Desta forma todos os jogadores em campo devem

conhecer e saber o que fazer no que se refere a acções tácticas colectivas de

acordo com as referências numa relação permanente e ajustada entre eles de

modo a garantir eficácia colectiva (Vingada, 1989).

Para Guilherme Oliveira (2002) o modelo de jogo consubstancia-se na

construção de um conjunto de princípios de jogo referentes aos quatro momentos

de jogo (ataque, defesa e respectivas transições), idealizados pelo treinador, que

estão intimamamente relacionados com a organização estrutural utilizada,

servindo como uma referência para os jogadores na competição. Podemos,

portanto concluir que o modelo de jogo baseia-se na concepção/filosofia

idealizada pelo treinador, no que se refere a um conjunto de aspectos essenciais

para a organização dos processos ofensivo e defensivo, tais como métodos de

jogo ofensivos e defensivos, os princípios de jogo, os sistemas de jogo e todo um

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Revisão da Literatura

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conjunto de comportamentos que permitam definir a organização dos métodos

ofensivos e defensivos, individuais e colectivos da equipa (Araújo, 1998).

Os principios de jogo podem ser entendidos como padrões de comportamento que

orientam a actividade.

2.2.4.2.1 Principios e sub-princípios de uma certa forma de jogar

“Nós não treinamos exercícios, nós treinamos princípios.”

(Guilherme Oliveira citado Tavares, 2003)

Os principios e sub-principios de jogo assumem um papel fundamental na

caracterização dos modelos de jogo das diferentes equipas, logo como

consequência, na sua forma de jogar. Por outro lado, podemos referir que os

princípios de jogo, os sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios, são

comportamentos e padrões de comportamento que os treinadores desejam ver

revelados pelos seus jogadores, individual, em grupo ou colectivamente, nos

diferentes momentos de jogo, na procura de soluções mais eficazes (Guilherme

Oliveira, 2003b).

Castelo (1996) refere que os principios estabelecem um quadro de referências

para os jogadores, orientando o pensamento táctico dos mesmos, e

consequentemente, o comportamento táctico-técnico com vista à resolução

eficiente das diversas situações que a competição em si encerra. Nesta linha de

ideias, torna-se importante reforçar que os princípios são representativos do “todo”

que é o modelo de jogo, nunca podendo ser vistos de forma isolada (Barreto,2003)

pois só dessa forma, se tornarão representativos (Guilherme Oliveira, 2002).

Ainda segundo Frade (1998) o importante é que o processo de treino incuta na

equipa e não nos jogadores, uma determinada alteração ou transformação que

implica uma organização colectiva desses jogadores. Uma organização que

promova uma forma de jogar em termos defensivos e ofensivos. É portanto, a

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Revisão da Literatura

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articulação desses princípios e sub-princípios, nos diferentes momentos de jogo,

que revelarão a verdadeira dinâmica de uma equipa, ou seja, a sua organização

funcional (Guilherme Oliveira, 2003a).

No entanto, esta forma de jogar (organização) segundo Frade (1998, citado por

Rocha, 2000), não é apenas ter em acção uma equipa de cada lado e pô-los a

jogar, mas deverá ser uma aquisição de um determinado princípio ou a articulação

de um princípio com outro. A titulo de exemplo e segundo Barreto (2003), da

articulação de dois princípios, em momentos diferentes, podemos referir que o

“pressing alto” do F.C.Porto de José Mourinho, era feito de uma forma

pressionante (zona pressing), no meio campo do adversário. Assim, o “pressing

alto” da F.C.Porto era visto como um meio, criar dificuldades ao adversário, para

atingir um fim, a recuperação da posse de bola o mais rapidamente possivel.

No que se refere à aplicação prática dos princípios, no processo de treino,

segundo o treinador pode construir o seu modelo de jogo, operando tanto de uma

forma global sobre todos os princípios, como também de uma forma mais parcial

ou isolada, sobre apenas um ou alguns dos princípios. Neste ponto, Guilherme

Oliveira (2002) chama a atenção que, apesar de os poder desintegrar, esses

princípios devem manter a sua complexidade natural, para serem representativos

do “todo”. A corroborar esta ideia está Bondarchuk (1982) que refere que no treino

não se deve dividir analiticamente em preparação geral, específica, capacidades

condicionais, técnica, táctica, etc. O ideal é trabalhar tudo em simultâneo, com

base num conjunto de exercícios específicos de treino sempre tendo como base o

modelo de jogo. Assim, o modelo de jogo e os seus princípios determinam os

exercícios a adoptar, prevendo-se o grau de complexidade, dificuldade de

execução, exigências a nivel da coordenação motora, grau de estimulação

provocada e a sua especificidade (Bondartchuk, 1982).

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2.2.4.3 A especificidade, dentro da especificidade do jogo

“Para o jogo ser jogo, o treino não pode ser outra coisa que não jogo”

(Guilherme Oliveira, 1991)

O conceito de especificidade pode-nos levar a várias interpretações, pois

segundo Freitas (2004) este tipo de especificidade não é aquela que advém da

caracterização das exigências fisiológicas, físicas ou mesmo da situacionalidade

das acções da modalidade, mas sim, uma especificidade que deve ser vista como

uma forma de estruturação intimamente relacionada com o modelo de jogo criado,

respectivos princípios e sub-princípios, todas as exigências específicas das suas

solicitações, aberta a todas as impresibilidades que a essência do próprio jogo

transporta (Guilherme Oliveira, 1991). Para este mesmo autor só se poderá

chamar de especificidade se houver uma permanente relação entre dimensões

psico-cognitivas, táctico-técnicas, físicas e coordenativas, em correlação constante

com o modelo de jogo criado e os respectivos princípios que lhe dão corpo”. No

fundo, Faria (1999), resume que é necessário mais do que uma especificidade-

modalidade, é necessário uma especificidade-modelo de jogo. Esta

“especificidade, devido às caracteristicas que o próprio jogo contém na sua

essência, é um “conceito aberto ao imprevisivel, ao aleatório, ao acaso” (Carvalhal

2001:67). Centra-se na procura da adequação dos efeitos do treino não só à

modalidade em causa mas fundamentalmente ao modelo de jogo, sendo essencial

que o objectivo final estaja sempre em visualização (Frade, 1985).

Para Frade (citado por Silva, 1998), a equipa deverá realizar o treino, ou

procurará fazer, o que conjectura como competição possivel, através de exercícios

mais ou menos complexos, com mais ou menos gente, num espaço maior ou

menor, etc, mas sempre sobrecondicionados a uma articulação de sentido,

treinando os princípios de determinada forma e sabendo coordenar isso e logo a

maximização da especificidade é conseguida no treino, com a acentuação de

princípios.

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Guilherme Oliveira (1991) afirma que a especificidade tem de passar a ser uma

metodologia, uma forma de estar, uma filosofia de treino onde não basta afirmar

que a especificidade é importante, é necessário que este “princípio” se assuma

como o baluarte de toda uma metodologia adoptada.

Mas Pereira (1993) num estudo realizado, vai mesmo mais longe ao

demonstrar que a especificidade é mesmo uma metodologia a adoptar, no sentido

de uma rentabilização máxima das capacidades do jogador e da equipa.

A especificidade está relacionada com a operacionalização dos princípios, sub-

princípios e sub-princípios dos sub-princípios do modelo de jogo criado (Frade,

2001). Assim, segundo Guilherme Oliveira (2004), a especificidade condiciona e

direcciona tudo aquilo que deve ser feito no processo de treino, nomeadamente a

intervenção interactiva do treinador com o exercício e com os jogadores. O mesmo

autor vai ainda mais longe e afirma que, durante a operacionalização do processo

de treino, a postura do treinador vai influenciar no mesmo exercício, na mesma

equipa, diferentes graus de especificidade.

Para Frade (2001) o princípio da especificidade é um dos pressupostos que

orienta a Periodização Táctica.

Guilherme Oliveira (2004) refere que o conceito de especificidade não deve

estar relacionado só com a modalidade em causa, mas também tem de estar

ligado à singularidade da equipa e presente em todo o processo de intervenção,

ou seja, na criação, organização e operacionalização do processo de treino.

2.2.4.4 A “forma desportiva” de uma certa forma de jogar

Para Faria (1999) o conceito de forma desportiva aparece ligado ao modelo de

jogo e aos seus princípios, ou seja, a uma determinada e especifica forma de

jogar. A forma desportiva é uma derivação da contínua manifestação de

regularidades que a equipa possa expressar e que indicam a sua qualidade

(entenda-se identidade) (Frade, citado por Faria, 1999).

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Segundo Silva (citado por Faria, 1999), a periodização deve atribuir

importância primordial à “estabilização da forma desportiva”, derivado de um longo

período competitivo. Completando esta ideia, Garganta (1992) refere que parece

ser mais correcto evitar grandes oscilações de forma, adoptando os chamados

“patamares de rentabilidade” em detrimento dos “picos de forma”. Estar em forma

é conseguir estar o menos abaixo possível daquilo que eventualmente seria um

máximo possível para um período bastante reduzido, durante o máximo de tempo,

isto é, o máximo de rendimento possivel para o tempo de competitição. Tudo isto

implica estabilizar rendimentos, regularidades, organização e adaptação (Frade,

citado por Vieira, 1993).

2.2.4.5 Os princípios metodológicos que dão corpo à estrutura

da unidade de treino e ao padrão semanal, que se repete ao longo da época

“Não é o treino que torna as coisas perfeitas,

mas antes o “perfeito” treino é que permite obter a perfeição”

(Frade, 2001)

2.2.4.5.1 Princípio da progressão complexa

Na ideia de Amieiro et al. (2006) este princípio diz respeito a uma

hierarquização dos principios e sub-princípios de jogo. Nada tem a ver com a uma

progressão do geral para o específico, do volume para a intensidade e nem do

aeróbio para o anaeróbio. Estamos, portanto, a falar de uma progressão como

pano de fundo duma aquisição de uma determinada forma “jogar”, que acontece,

pelo menos, em três níveis diferentes: ao longo da época, ao longo da semana

(tendo em conta o jogo passado e o próximo) e por fim ao longo de cada unidade

de treino, tornando-se assim, uma progressão complexa onde cada nível tem

relação com os demais.

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Revisão da Literatura

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Após a desintegração dos princípios em sub-princípios e sub-princípios dos

sub-princípios do modelo de jogo, torna-se necessário reintegrá-los, sempre

dentro de uma dinâmica do processo, de uma vivência hierarquizada dos

princípios de jogo (Amieiro et al., 2006), porém, para perceber a lógica estrutural

do padrão semanal na sua totalidade é necessário associar ao princípio da

progressão complexa o principio da alternância horizontal em especificidade.

2.2.4.5.2 Princípio da alternância horizontal em especificidade

“A estruturação da semana de treino e do que fazer em cada dia não está apenas relacionada com

os objectivos tácticos, mas também com o «regime físico» a priveligiar, na medida em que tenho

de ter em conta, por exemplo os aspectos da recuperação, nomeadamente no que diz respeito à

proximidade ou não do jogo anterior e do próximo. Portanto, num determinado dia o trabalho

táctico-técnico incide mais sobre a recuperação do último jogo, noutro dia, sobre aquilo que eu,

para simplificar, chamo de «força técnica», e assim sucessivamente.”

(Mourinho citado por Amieiro et al., 2006)

O principio metodológico acima referido é fundamental na concretização da

Periodização Táctica, funcionando como que um guia processual, pois para além

da aquisição hierarquizada do modelo de jogo criado e dos princípios que lhe dão

corpo, é necessária uma preocupação em manter uma regularidade semanal no

que diz respeito à alternância dos diferentes padrões de desempenho-

recuperação (Amieiro et al., 2006). Isto remete-nos para o tema da dinâmica das

cargas, onde Bondarchuk (1992) defende uma utilização, ao longo de toda a

época, de uma percentagem muito elevada de exercícios específicos com

intensidade elevada e volume constante. De acordo com esta ideia, Court (1992)

salienta que os exercícios específicos só produzem resultados positivos se

trabalhados a altas intensidades durante toda a época desportiva.

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Revisão da Literatura

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Para Carvalhal (2001), tudo é feito em alta intensidade, ou seja, velocidade em

concentração. O treino específico requer intensidades máximas, então o volume

deverá ser o das intensidades máximas acumuladas. Neste ponto, o mesmo autor

refere que a recuperação deve estar sempre presente entre os exercícios.

Segundo Silva (1993, citado por Vieira, 1993), devemos trabalhar

fundamentalmente acções de máxima intensidade instantânea, que tem a

vantagem de não ser tão desgastante assegurando, assim, uma fácil recuperação,

pois será importante estabilizar também as recuperações (Carvalhal, 2001).

Assim, Amieiro et al. (2006) referem que a recuperação se processa alternando o

padrão de contracção muscular dominante, realizando treinos mais descontínuos

e treinos menos descontínuos ao longo da semana (alternância horizontal),

sempre subordinados ao princípio da especificidade. Assim, estes autores

concluem que a lógica de distribuição dos conteúdos pelas diferentes unidades de

treino é assegurada pelo princípio da progressão complexa e da alternância

horizontal em especificidade, sempre tendo em consideração a recuperação e o

desgaste global, onde podemos inserir o “físico” e o “mental-emocional”, resultante

do grau de complexidade dos desempenhos.

2.2.4.5.2.1 – O desgaste “mental-emocional”. Efeitos da concentração

Como ponto de introdução, seria interessante procurar um entendimento

daquilo que é concentração; Silvério e Srebro (2002) defendem que a definição de

concentração comporta duas dimensões: por um lado, a capacidade de prestar

atenção à informação pertinente e ignorar a irrelevante e os estímulos

perturbadores e, por outro, a capacidade de manter essa atenção durante um

longo período de tempo. Assim sendo, e, para Freitas (2004), as informações

pertinentes para um jogador seriam as suas funções em campo, a posição da bola

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Revisão da Literatura

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e a posição e os movimentos dos seus colegas e adversários. As informações

irrelevantes e perturbadores seriam o ruido do público, fotógrafos, jornalistas e

pensamentos negativos e de insegurança.

A concentração tem, por isso, a ver com os mecanismos de atenção selectiva,

que pode ser interna ou externa (Cruz, 1996). O mesmo autor refere que o

elevado número de estímulos a que um jogador está sujeito no decorrer de um

exercício de treino ou num jogo propicía a que a eficiência das acções esteja

altamente dependente da capacidade de concentração, para que para que possa

assimilar e consolidar os comportamentos inerentes às suas funções em campo

(Lopes, 2005). Assim sendo, a concentração surge, segundo Frade (1990, citado

por Freitas, 2004), do agir em função de um propósito e é isso que faz crescer o

investimento emocional e a concentração – a verdadeira especificidade. A esta

perspectiva, Mourinho (2002b) acrescenta que uma das coisas que faz com que o

seu treino seja mais intenso é a concentração que exige, associado portanto a um

desgaste em termos emocionais (Fernandes, 2003). Ora, reconhecendo a

importância desse desgaste, resultante do jogar concentrado, impõe-se a

necessidade de um conceito de recuperação diferente do tradicional, ou seja,

daqueles que se reporta apenas à dimensão físiológica dos jogadores (Lopes,

2005). O mesmo autor, complementa referindo que desta forma importa que

durante a organização e gestão do processo de treino, na distribuição semanal

dos conteúdos, haja respeito pelas consequências que dimanam do facto de os

jogadores terem de estar concentrados (Lopes, 2005).

A este desgaste “mental-emocional”, Frade (2004) dá o nome de “fadiga

táctica” enquanto tradução da incapacidade de os jogadores estarem

concentrados nas acções que caracterizam a forma de jogar da sua equipa.

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Revisão da Literatura

26

2.2.4.5.3 Princípio das Propensões

Quando se pretende aprender ou melhorar um determinado princípio ou sub-

princípios de jogo a melhor forma de o fazer é criando exercícios para os treinar.

Remetendo para o que diziam Goleman et al. (2002), é necessário criar um

espaço onde os velhos hábitos possam ser evitados e possam ensaiar o novo

comportamento. Frade (2004) considera que o exercício é uma configuração de

um determinado existir, ou seja, interessa que certas coisas que se prendem com

um princípio apareçam mais vezes que outras. Este autor considera, por isso, que

a configuração do exercicío e o tempo de acção devem ser propensos ao

aparecimento frequente de determinados comportamentos, levando a uma

aquisição do princípio. É aquilo a que Carvalhal (2001) designa por “exercícios

condicionantes”, pois segundo ele os exercícios condicionam o fazer. Se, por

exemplo, configurarmos um exercício onde uma equipa está reduzida ao seu

sector defensivo,estando constantemente a defender certamente que o

aparecimento de comportamentos relacionados com a organização defensiva de

sector defensivo está a ser exponenciado. E aí surgirão muitas oportunidades de

“moldar” esses comportamentos.

Jensen (2002) refere que a respeito do sucesso da recuperação

(eventualmente, no jogo) de memórias aprendidas, é sempre muito dependente do

estado, tempo e do contexto. Toda a aprendizagem é associada a dados

sensoriais: tais como visões, cheiros e localizações (Jensen, 2002). Então, para

Fernandes (2003), a exercitação deve decorrer num espaço “com significado”

(zona do campo, corredores, posicionamento dos colegas, áreas e linhas do

campo, etc), para que os jogadores tenham alguns referenciais (neste caso

visuais).

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Enquadramento Metodológico

27

3 Enquadramento Metodológico

3.1 Caracterização da Amostra Sendo o objectivo deste trabalho aferir se as metodologias utilizadas, no alto

rendimento nacional de Futsal se enquadram dentro da metodologia “periodização

táctica”, apresentaremos entrevistas realizadas a seis treinadores de Futsal da 1ª

Divisão Nacional de Futsal:

Adil Amarante – Treinador do S.L.Benfica

Paulo Fernandes – Treinador do S.C.Portugal

Paulo Tavares – Treinador do G.D.Fundação Jorge Antunes

Luís Almeida – Treinador do Módicus – Sandim

Miguel Couto – Treinador do Junqueira

Joaquim Brito – Treinador da A.R.Freixieiro

Foram escolhidos estes treinadores, pois, pelo menos quatro das equipas, são

consideradas “profissionais” e duas “amadoras”.

Decidimos apresentar os resultados e as entrevistas em anexo, por uma

questão de confidencialidade, chamando os entrevistados por Treinador

A,B,C,D,E e F.

3.2 Metodologia

A técnica adoptada para a recolha de dados, foi uma entrevista aberta. Foi

utilizado um gravador Olympus – Pearlcorder J300 e cassetes Sony, com o

conhecimento e autorização dos entrevistados.

Tendo em vista a análise pormenorizada das entrevistas, estas foram

transcritas para o programa Microsoft Word do Windows XP Professional, através

de um computador portátil Sony Vaio VGN-S5HP.

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Enquadramento Metodológico

28

Nas entrevistas, foi utilizado um guião de perguntas, por nós elaborado, que

durante a entrevista serviu de orientação para a realização da mesma. A

realização do guião, com base na parte teórica deste trabalho, sustentando-se

numa pesquisa bibliográfica e documental, tendo em vista a concretização dos

objectivos deste estudo, aplicou-se fundamentalmente pelo facto de ser um meio

precioso para uma condução clara e estruturada da entrevista.

Devido à problemática deste estudo ser muito recente no Futsal,

considerou-se que a utilização deste meio de recolha de dados, através de uma

entrevista, poderia fornecer elementos de reflexão importantes e variados em

termos de qualidade de conteúdo, pondo de parte a quantidade de conteúdo,

comparativamente a utilização de um inquérito.

As questões realizadas foram relativamente abertas, para que os

intervenientes pudessem expor os seus pontos de vista de uma forma clara e o

mais aprofundada possível. Em alguns casos foram adicionadas ao formulário

algumas perguntas, com o intuito de esclarecimento de ideias.

Na apresentação dos resultados serão transcritas as afirmações consideradas

mais importantes para o estudo. Para melhor contextualizar as referidas

afirmações, deve-se recorrer aos anexos, onde as entrevistas vêm reproduzidas

na integra.

3.3 Recolha de dados

A recolha de dados teve lugar nos meses de Abril e Maio de 2007. As

entrevistas foram realizadas após os treinos nos respectivos clubes ou em Hotéis

onde as equipas estagiavam.

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

29

4 Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

A revisão da literatura efectuada permitiu identificar e esclarecer uma

orientação metodológica para o processo de treino em Futsal. Esta orientação

metodológica tem como designação “Periodização Táctica” e é defendida por

diversos autores, tendo sido o seu mentor o Professor Vítor Frade.

Na sequência deste conceito, remetemos para este ponto do trabalho, o

confronto das diversas opiniões expressadas pelos treinadores. Essas ideias e

concepções serão fundamentais no desenvolvimento deste trabalho monográfico,

permitirão esclarecer alguns conceitos.

Vamos, ao longo desta discussão, ter como núcleo central, os pressupostos

pelos quais se rege a Periodização Táctica, sendo esta que irá nortear toda a

discussão. A análise da amostra terá como objectivo, verificar se ao nível do alto

rendimento nacional, os intervenientes no processo de planeamento do treino se

aproximam desta realidade científica, teórica e necessariamente prática.

No desenvolvimento da discussão serão também analisados e apresentados

os resultados das entrevistas. O texto integral de cada uma das entrevistas poderá

ser consultado nos anexos.

4.1 Como é que os treinadores vêm e dividem os momentos/fases do jogo

de futsal?

Parece-nos fundamental, no sentido do organizarmos as ideias, começar por

tentar perceber como é que treinadores entrevistados vêm o jogo de futsal, e,

acima de tudo, como é que dividem as suas fases/momentos. Como referimos

anteriormente, a equipa deve ser vista como um todo, como um sistema

organizado em função de um objectivo, nas diferentes fases do jogo. Assim sendo,

a revisão da literatura, segundo alguns autores, sugere claramente que o jogo de

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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futsal apresenta quatro momentos: a organização ofensiva, a organização

defensiva, a transição defesa/ataque e a transição ataque/defesa.

Em relação a este tema, o treinador A refere que divide o jogo em “dois

grandes momentos: defensivo e ofensivo”, pois vê as transições como

“componentes não essenciais do modelo de jogo, que serão sempre

condicionadas pelo estudo do adversário”.

Por seu lado, o treinador B e D são de diferente opinião, afirmando que

dividem o jogo em quatro momentos: o ataque, a defesa e as respectivas

transições. Concordando com esta divisão, o treinador C é mesmo peremptório

afirmando que dá primazia à organização defensiva, depois a organização

ofensiva e todas as variantes que conduzem a esses mesmos princípios tanto

defensivos como ofensivos. E em seguida o processo de transição: ataque-defesa

e defesa-ataque.

Tendo em consideração todas as afirmações dos diferentes treinadores,

parece haver algumas divergências na maneira como dividem os momentos do

jogo. Obviamente que isto vai implicar diferentes maneiras de perceber o jogo.

4.2 A Táctica como requisito fundamental...

Seguindo a nossa bibliografia, verificamos a existência de quatro dimensões de

jogo: táctica, técnica, fisica e psicológica. Percebemos que, adoptando o conceito

de Periodização Táctica, a forma como as diferentes dimensões são abordadas

divergem, pois apoiando-nos na nossa revisão, percebemos que o jogo é

fundamentalmente táctico. Como é referido atrás, a táctica desempenha um papel

importante, pois é percebida como um factor integrador e simultaneamente

condicionador de todos os outros.

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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Quando confrontado sobre qual o requisito mais importante para um jogador

estar adaptado à forma de jogar da equipa, o treinador A refere que dá

importância à “situação táctica”, pois é “a base do seu modelo”. O treinador C

refere mesmo que o mais importante é contextualizar todo o trabalho em função

daquilo que pretende, dando mesmo um exemplo: ”se não tiver uma equipa

dotada de uma capacidade física interessante, não consegue trabalhar uma

defesa forte, trabalhar transições rápidas porque vai faltar velocidade. Por outro

lado, se analisar essas circunstâncias, vai ver que se tiver uma equipa

extremamente dotada de uma capacidade física, mas se não tiver raciocínio

táctico, quando roubam uma bola não sabem o que fazer com ela.” O treinador D

corrobora com o anterior, referindo que “trabalhamos todos eles de forma

integrada, dando maior enfâse aqueles que, em determinadas situações, sejam

mais importantes .Se estiver a trabalhar a componente do ataque organizado, já

tenho de dar muito maior enfâse à técnica e táctica. Na defesa, também já tem a

ver com a parte psicológica, principalmente se estivermos a trabalhar inferioridade

numérica defensiva e é muito importante o tipo de concentração, a parte volitiva

do atleta, portanto, vamos adaptando os princípios de acordo com as situações

mais específicas.”

Para o treinador E, o ênfase deve ser dado a todos, pois “fisicamente, toda a

gente sabe que numa modalidade destas se não estiver bem fisicamente, nem tão

pouco pensa. Por isso eu acho que todos eles são importantes, cada um na sua

área.” O mesmo treinador afirma também, que “a parte psicológica é uma parte

mais dificil.” De encontro com esta ideia vão as afirmações do treinador B, para

quem “o mais importante é o psicológico”, pois os jogadores tem capacidades

técnicas e tácticas praticamente idênticas.

Quando confrontado com esta questão, o treinador F, refere que “defender é a

atitude, o querer, depois, naturalmente, está o posicionamento.”

Mas fomos ainda mais longe, questionando acerca do papel do preparador

físico de cada treinador, onde podemos verificar uma grande variância nos

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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discursos dos diferentes treinadores, pois o treinador A, afirma que não tem

preparador físico. Pois na sua equipa técnica “não há nem treinador principal, nem

adjuntos, nem treinadores de guarda-redes, nem preparadores físicos. Há uma

equipa técnica e, esta equipa técnica, tem de trabalhar, de alguma forma, numa

simbiose total e em equipa. Se me perguntar se eu sou o líder da equipa, ou seja,

o porta-voz, sou. Mas a minha voz é um conjunto de opiniões.” Totalmente de

acordo com esta opinião está o treinador E, que diz que “nós trabalhamos em

equipa, em sintonia os três. Não há preparador, não há treinador principal, não há

adjunto. Cada um tem, como é óbvio, o seu papel dentro da equipa técnica, que

isso é que é uma equipa técnica, não é treinador e treinador adjunto ou

preparador.”

O treinador B concorda com esta ideia afirmando que na sua equipa também

não existe um preparador físico, pois “o treino é integrado em todos os aspectos”.

No entanto, nota-se um discurso um pouco diferente quando colocamos essa

questão ao treinador C, D e F. O primeiro refere que o seu preparador físico tem

um papel fundamental no trabalho específico ao nivel de flexibilidade, de força e

de velocidade. Vai mesmo mais longe e afirmando que o trabalho de força, que é

feito como complementação no ginásio, tal como o trabalho a nível de flexibilidade.

E do ponto de vista da velocidade, apesar de ser incluído no treino integrado

realiza também muitos estímulos de velocidade puros. O treinador D concorda

com o anterior e afirma que tem, de facto, um preparador físico, e justifica

afirmando, que “por muito que nós, treinadores, queiramos abranger muitas áreas,

acho que há áreas especificas. Não tendo eu um conhecimento académico da

componente física, optei por, absorver uma pessoa que de facto é especialista

naquilo que eu acho que é o trabalho do futsal, movimentos explosivos e

repetidos.”

Finalmente, para o treinador F, o preparador físico dele tem um trabalho

importante. “Ele faz treinos fantásticos, porque consegue integrar nos treinos dele,

na meia-hora que ele tem à tarde, consegue integrar aquilo que eu pretendo, ele

consegue fazer exercícios onde integra aquelas situações que falamos à pouco.”

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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Assim, e após analisar as afirmações dos diferentes treinadores podemos

reparar que são consensuais quanto à importância das quatro dimensões de jogo,

salientam alguns, contudo, que a componente psicológica é capaz, por si só, de

alterar o rumo dos acontecimentos, sendo um aspecto a ter em atenção.

No que diz respeito a ter uma das dimensões como núcleo central do

rendimento não existe concenso.

Existem, também diferentes concepções/ideias acerca do papel ou mesmo

existência de um preparador físico na equipa técnica. Sugerindo, desde já, uma

exacerbância sobre o trabalho analítico da capacidade fisica dos atletas.

4.3 Modelo de jogo – concepção/filosofia

Segundo a revisão da literatura é importante que o treinador tenha as ideias

bem definidas para que, o modelo de jogo criado, corresponda às suas ideias.

Assim, reportando à revisão bibliográfica, a concepção/filosofia de jogo de um

treinador está relacionada com a forma como este entende o próprio jogo e que

pretende que a sua equipa jogue. Logo, a forma como um treinador orienta a sua

equipa deverá estar relacionada com a sua filosofia de jogo, pois ela vai influenciar

o “guião” em todo o processo de treino.

Para o treinador A, o modelo de jogo da sua equipa está basicamente

alicerçado pelos sistemas que utiliza. No seu caso particular, usa dois sistemas

defensivos e ofensivos, fazendo algumas alternâncias pois tem jogadores que,

pela sua capacidade técnica, o permitem. Ainda segundo o mesmo treinador, cada

um “tem as suas ideias” mas “fica sempre condicionado à qualidade técnica dos

seus jogadores, principalmente numa primeira divisão nacional, patamar B”.

Questionado sobre este tema o treinador B afirma que o modelo de jogo criado

é um reajustamento às características não só dos seus jogadores, mas também às

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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equipas adversárias e finalmente às exigências do prórpio jogo. Sublinha ainda

que entende o “modelo de jogo como movimentação-base em termos ofensivos,

pois em termos defensivos a minha equipa está em constante adaptação às

estratégias adversárias”. A partir dessa movimentação-base tem várias soluções e

estratégias que pode utilizar.

Por sua vez, o treinador C afirma que deve ter um modelo de jogo global, que

seja maleável em função das características dos jogadores ou dificuldades que

surgem. Assim, modelo de jogo é “aquilo que se pretende dentro de uma equipa,

clube, tanto do ponto de vista ofensivo e defensivo”. Na sua concepção, este

modelo deve fornecer as bases para que, depois, possa trabalhar variantes no

sentido de se adaptar às dificuldades.

O treinador D refere que, “modelo de jogo são todos os princípios de jogo

adoptados, adaptados às características dos jogadores, tirando o máximo partido

deles em prol do colectivo”.

Para o treinador E o modelo de jogo é idealizado pela equipa técnica, olhando

um pouco às características dos jogadores, no sentido de tirar o melhor partido da

sua equipa. Este treinador entende o modelo de jogo em dois modelos: ofensivo e

defensivo, que são geridos por princípios em termos de ataque organizado e

defesa organizada. Dentro do modelo de jogo, podem funcionar em diferentes

sistemas que se vão adaptando consoante os adversários.

Para o treinador F o modelo de jogo da sua equipa previligia a posse de bola e

utiliza, maioritariamente, um sistema 3:1. Na criação do seu modelo de jogo, tenta

aproveita as características dos seus jogadores.

Apesar de apresentarem muitas dissemelhanças no entendimento do conceito

de modelo de jogo, pelas afirmações dos diferentes treinadores podemos

facilmente perceber que, de facto, ter um modelo de jogo definido é importante,

referindo, alguns, ser fundamental estar adaptado às caracteristicas dos jogadores

e do adversário. Assim sendo, uns treinadores não o distanciam de sistemas de

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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jogo. Já outros consideram ser todas as caracteristicas gerais evidenciadas por

uma equipa.

4.4 Modelo de jogo – princípios e sub-princípios como comportamentos

basilares do processo de treino Um outro aspecto determinante na operacionalização do processo de treino é o

estabelecimento de princípios e sub-princípios de jogo bem definidos, os quais se

caracterizam como linhas norteadoras de todo o processo.

Através da literatura verificamos também a existencia de princípios e sub-

princípios, sendo que os primeiros podem ser considerados como pilares da

organização da equipa nos diferentes momentos de jogo. Já os segundos podem

ser considerados como decomposições, desde que representativas do todo.

O treinador A refere que pede aos seus jogadores comportamentos como a

concentração e uma disponibilidade muito grande em perceber o jogo.

Para o treinador B “os princípios de jogo estão presentes para qualquer

adversário” e os comportamentos que quer que a sua equipa, no aspecto

defensivo, tenha em campo, serão comportamentos fortes em termos individuais,

de maneira a que não sejam precisas tantas ajudas, logo a sua equipa pode ser

mais pressionante. Já no aspecto ofensivo, previligia comportamentos que criem

superioridade numérica, evitem a inferioridade numérica e façam com que os seus

jogadores não percam a bola de maneira inocente. O mesmo treinador refere

também que não dá enfâse a nenhum comportamento pois são “inálteráveis e a

base, sem essa base não adianta trabalhar outras coisas”.

Segundo o treinador C o princípio mais importante, “tanto a nível ofensivo

como defensivo é a ocupação dos espaços. É ocupar o espaço de forma ordenada

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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e inteligente”, pois aborda os princípios de jogo “da seguinte maneira: primeiro a

organização defensiva, em seguida organização ofensiva e todas as variantes que

conduzem a esses princípios tanto defensivos como ofensivos. Depois o processo

de transição: ataque-defesa e defesa-ataque. Eu penso que é fundamental para

que a partir daí se consiga fazer variações do que se pretende dentro do aspecto

táctico.”

O treinador D, quando questionado acerca dos comportamentos que queria

que a sua equipa tivesse em campo divide-os nas diferentes fases, referindo que

“na defesa, pressão constante sobre o portador da bola”, “na transição ofensiva

ocupar, sempre que possível, os três corredores do jogo”, “no ataque organizado,

criar sempre dois apoios para o condutor da bola” e “na transição ataque-defesa,

tentamos criar o mais possível superioridade numérica”. O mesmo treinador

quando questionado se dividia os princípios de jogo respondeu afirmativamente

referindo também que estes eram “os nossos grandes princípios das diferentes

fases de jogo.”

Já o treinador E remete para o seu modelo de jogo os comportamentos que

quer que os seus jogadores tenham em campo, embora fique patente que há

comportamentos que variam consoante o seu adversário, pois “há defesas onde

nós temos de temporizar” como também “há defesas, quando perdemos a bola,

devemos atacá-la”. Remete o enfâse dado aos diferentes comportamentos para

uma estruturação do jogo dependendo do adversário. Refere mesmo que quando

“jogamos aqui em casa com uma equipa do meio da tabela, onde tem algumas

dificuldades a sair da pressão, nós temos uma estratégia para isso, que é

pressionar alto, muito alto, criar rapidamente o erro, onde recuperamos a bola

perto da baliza do adversário e tentamos fazer golo. “Se o adversário for o

Sporting, se for o Benfica ou se for o Freixieiro, se calhar temos de abordar o jogo

de uma forma diferente. Saber onde é que podemos pressionar e como é que

vamos sair de trás para a frente, onde é que vamos ganhar a bola, quem é que

vamos pressionar.”

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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O treinador F frisa que “o primeiro passe é fundamental para o sucesso”

principalmente em situação de vantagem numérica “naturalmente o

posicionamento dos alas contrários”.

Neste caso, e no que diz respeito aos principios de jogo e comportamentos que

os treinadores querem que os seus jogadores tenham em campo, nos diferentes

momentos de jogo, mais uma vez, quando questionados, os treinadores

demonstram uma notória divergência de opiniões e diferentes entendimentos dos

conceitos. Verificamos também que os treinadores que parecem ter os princípios

de jogo algo definidos são os treinadores D, C e E.

Será importante referir também que muitos treinadores referem que pedem

diferentes comportamentos com diferentes adversários.

4.5 O trabalho em “Especificidade” Tal como verificamos na revisão bibliográfica realizada, o conceito de trabalho

em especificidade que deve ser vista como uma forma de organização relacionada

com o modelo de jogo criado, respectivos princípios e sub-princípios, todas as

exigências específicas das suas solicitações. Este trabalho pode ser realizado

numa metodologia própria onde a especificidade seja um grande princípio, um dos

pressupostos orientadores da Periodização Táctica.

Para o treinador A o conceito de “trabalhar em especificidade,

fundamentalmente é trabalhar sobre todas as questões do treino, sobre todos os

elementos. E é fundamentalmente trabalhar o modelo de jogo, que está concebido

e tem de se trabalhar em especificidade o modelo de jogo. Continuo a dizer que é

trabalhar sobre todas as componentes e introduzi-las no modelo de jogo. Através

do modelo de jogo, nós trabalhamos todas as componentes que são fundamentais

para o rendimento do atleta.” Finaliza referindo que “depois temos aqui algumas

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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nuances, nomeadamente, a falta de tempo, que não me permitem trabalhar

estratégias e situações um bocado mais analíticas, que de alguma forma, vai

infuenciar a dificuldade em trabalhar em especificidade. Agora, se eu fosse

treinador de uma equipa profissional, trabalhava só em específicidade.”

Segundo o treinador B, a especificidade que desenvolve é mais evidente em

aspectos técnicos de alguns jogadores. “Temos desenvolvido principalmente a

finalização, que é uma das pechas, e alguns aspectos tácticos, principalmente.

Agora temos incidido em alguns jogadores que têm mais dificuldade.”

O treinador C refere que acha que para atingir o melhor nível dos jogadores,

tem de trabalhar em nível individualizado, nomeadamente na capacidade da força

muscular.Esse trabalho é feito pelo seu preparador físico que “trabalha com uma

máquina que nós temos lá no clube de cinesiologia”, onde faz medições de força

de membros individualizados, de musculatura agónica e antagonica, para

conseguir fazer um equilíbrio. Refere também que trabalha a flexibilidade e a

velocidade.

Já o treinador D e F caracterizam a importância da especificidade no trabalho

que é desenvolvido na parte final da semana, de acordo com o adversário.

Segundo o treinador E, o trabalho em especificidade é muito importante. “Há

trabalho específico que nós fazemos, com o guarda-redes e mesmo com alguns

jogadores que nós achamos que estão mal na finalização ou em alguns aspetos.

Em termos específicos, nós não podemos dizer que trabalhamos muito em termos

específicos.”

Assim sendo nota-se, nas afirmações de alguns treinadores, que existem

diferentes interpretações do conceito especificidade, sendo que, o treinador E, C e

B referiram que, para eles, o trabalho especifico seria mais analitico, em alguns

aspectos do jogo, nomeadamente nos treino dos guarda-redes, situações de

finalização e aspectos técnicos dos jogadores. Esta percepção do conceito não se

relaciona como conceito depreendido na literatura. Os restantes treinadores

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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revelaram que, para eles, trabalhar em especificidade é treinar em função do

próximo adversário.

4.6 O conceito de “Forma Desportiva”

Outro conceito é o da forma desportiva, onde e segundo a orientação da

Periodização Táctica, estar em forma é, conseguir o máximo de rendimento

possivel para o tempo de competitição. Obviamente que implica estabilizar

rendimentos, regularidades, organização e adaptação.

O treinador A entende o conceito de forma desportiva como a capacidade de

um atleta estar dentro das suas capacidades reais. “Ao longo de uma época,

sabemos que há atletas que sobem e descem de rendimento, podemos chamar a

isto forma desportiva. (...) A forma desportiva é o que o atleta melhor pode dar.

Estejam sempre no patamar onde dão sempre o máximo. Esta, para mim, é que é

a forma desportiva.”

Já o treinador B refere que entende “como a capacidade de um jogador

potencializar o que é trabalhado. Quantas mais vezes conseguir potencializar

essas situações, mais em forma está. Agora nós temos de adaptar isso às

caracteristicas do jogador. Neste caso, afirma que é importante a forma de jogar

estar adaptada a cada jogador.

Segundo o treinador C a forma desportiva da sua equipa aparece “quando

procura desenvolver determinadas capacidades, determinadas habilidades, no

preparatório e mantê-las dentro de um período competitivo.” Referindo mesmo,

que “se eu trabalhasse, por exemplo, no Brasil, onde nós temos competições

específicas, poderia trabalhar em cima de picos de forma, mas como aqui nós

temos uma calendário longo, nós temos um período competitivo de

aproximadamente dez a onze meses. Então é muito dificil de você trabalhar dentro

de um contexto de picos de forma.”

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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O treinador D corrobora com esta ideia e refere que “forma desportiva é desde

o primeiro jogo do período competitivo até ao último. Vamos manter a forma

desportiva o mais nivelada e por cima.” Afirma também que por vezes é dificil

manter essa forma principalmente “quando o plantel é curto”.

Para o treinador E a forma desportiva consegue-se através de um trabalho

padrão. “Nós funcionamos com o trabalho sempre igual. (..) tirando o pré-

peparatório, que é normal ser um pouco mais específico, a partir daí é com o pé

no acelerador. Não temos picos de forma, não temos alterações de nada. O

conceito é o trabalho daquilo que nós queremos que eles façam no jogo. Estas

semanas são planificadas.”

Com ideias um pouco distintas está o treinador F, para quem “essa forma

varia muito a parte psíquica. Um jogador-goleador, que está habituado ao longo

das épocas a marcar muitos golos. Ele pode estar a receber bem a bola, a passar

bem a bola, pode estar a assistir bem os companheiros, pode estar a criar jogadas

de fino recorte técnico, mas não está a marcar, então ele não está em forma,

porque não está a marcar golos. A forma de um goleador é o produto final, que

são os golos. Então só estão em forma quando, de facto, marcam golos.”

Todos os treinadores entrevistados concordam que estar em forma obviamente

que significa resultados positivos na competição, mas apenas o treinador C tenta

manter a forma dentro de um período competitivo e o treinador E, trabalhando de

um trabalho constante e o treinador D, tentando manter desde o primeiro jogo ao

último referem uma necessidade de estabilizar rendimentos, de regularidades

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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4.7 A Concentração – Desenvolvimento e recuperação

A concentração, segundo a revisão, é treinável através da especifícidade do

treino. Assim, as situações de treino tornam-se mais ou menos intensas consoante

o que pretendemos articular. Tudo tem de ser realizado numa intensidade de

concentração para que possa existir assimiliação dos principios de jogo.

Para o treinador A “a concentração é das coisas que mais se trabalha e que

mais dificuldades cria a um treinador.” Questionado acerca do método que utiliza

para trabalhar a concentração afirma que essencialmente dá aos seus jogadores

um problema, e dando-lhes sempre alguma coisa que os obrigue a pensar. “A

concentração para mim, é trabalhada essencialmente fazendo com que os meus

jogadores estejam a pensar coisas sobre o meu modelo de jogo. Ao estar-lhes a

dar isso, consigo em grande parte, que eles não se desviem daquilo que é

pretendido. Têm de estar atentos e concentrados naquilo que lhes vou estando

semrpe a dizer, ou seja, direcciono-lhes a concentração para o modelo de jogo e

para o que estão a fazer.“

Segundo o treinador B, a concentração pode ser trabalhada “através de

rotinas. Quanto mais rotinas nós temos, mais o jogador se adapta. Logo mais

sucesso, quanto mais sucesso, mais motivado e concentrado está.”

O treinador C trabalha a concentração através de vários exercícios que são

feitos dentro do ponto de vista táctico.

O treinador D concorda que a concentração pode ser trabalhada. Até vai mais

longe e afirma mesmo que “pode ser treinada. Nós utilizamos algumas técnicas

que possa por ao de cima essa concentração.” Quando questionado sobre essas

mesmas técnicas refere que utiliza “muitas das vezes situações que estão

incluídas no próprio jogo. Para mim, o treino tem de ser o mais parecido com o

jogo. Como é lógico, num treino propriamente dito, num treino normal, não

ocorrem dois tipos de pressão que há no jogo, o tempo e o resultado e é através

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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destes dois factores que nós trabalhamos os exercícios em que os jogadores

estão limitados pelo tempo ou estão subjugados ao resultado.”

O treinador E concorda que a concentração pode ser trabalhada. Afirma

mesmo que inventam alguns exercícios. “Alguns surgem do facto de interligar os

objectivos dos exercícios.” De modo a que sejam colocados e tal forma que os

“obrigue a pensar o que vão fazer a seguir, de forma a não se desligarem.” No

fundo, refere que trabalha na base de exercícios condicionados de forma a obrigar

os seus jogadores a pensar.

Para o treinador F, “a concentração tem muito a ver com a motivação.” Assim

sendo, refere que nos jogos contra equipas que estão em baixo na tabela

classificativa existe, por parte dos jogadores, um certo facilitismo dificil de

contrariar.

No que diz respeito à operacionalização da recuperação do esforço existem

algumas diferenças nas afirmações dos treinadores. Segundo o treinador A, não

lhes pode exigir nada e como, para ele, nao faz sentido um treino de recuperação

passadas 48 horas, o treino de segunda-feira é normal.

O treinador D concorda com esta ideia e refere que não utiliza o treino do dia

seguinte, pois treinar “24/36 horas depois do esforço físico e muito honestamente

já não há muito a recuperar.” Contudo, “fazemos sempre um trabalho de, pelo

menos, como tiveram um tempo anormal de paragem a seguir ao jogo, fazemos

apenas um trabalho de reaproximação ao esforço.” Curiosamente, este treinador

refere que pensa também na recuperação emocional dos seus jogadores fazendo,

em todos os treinos a seguir aos jogos, uma análise individual do jogo. Assim,

“cada jogador, olhos nos olhos de todos, fazer a sua análise do jogo, e fazer o seu

mea-culpa, o que teve bem e o que teve mal, penso que quando terminámos esta

fase, está tudo dito, já não tenho grandes coisas para dizer.”

Para o treinador C, no treino seguinte ao jogo, faz “uma avaliação rápida do

ponto de vista clínico”. Na fase seguinte, realiza “actividades recreativas onde se

faz essa suposta recuperação, mas já entrando no principio de resistência

aeróbia.” Conclui referindo que “trabalho de recuperação pura, não se faz.”

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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Para o treinador E, na recuperação, o tipo de alimentação é mesmo

fundamental: “quando jogamos fora nós damos muita importância aquilo que eles

comem depois dos jogos. Em casa não podemeos controlar muito. Eles sabem os

cuidados que devem ter a seguir ao jogo.” No treino de segunda-feira “fazem

alongamentos, dependendo se existe competição a meio da semana ou se

achamos necessário.”

Na opinião do treinador F, a recuperação é feita através de “cargas minimas”,

um “descanso activo”.

Todos os treinadores foram premptórios ao afirmar que a concentração é um

aspecto fundamental nos treinos e nos jogos, considerando mesmo que é

treinável.

Os treinadores A,D e E referem algumas medidas que podem estar

directamente relacionadas com a especificidade do treino como: “através de

rotinas”, “obrigando-os a pensar no modelo de jogo” e através de “exercícios

condicionados”.

Os treinadores C e F afirmam também que a trabalham através de “exercícios

técnicos e tácticos” e “aumentando a motivação”.

No que se refere à operacionalização da recuperação, apenas um utiiza uma

estratégia para recuperar mentalmente os seus jogadores. Para os restantes, toda

a recuperação ou não é feita, ou é feita sob o ponto de vista físiológico.

4.8 Importância do treino e do seu planeamento

Para finalizar, falamos na questão do treino para percebermos a importância

sua planificação, programação e periodização, pois é fundamental para se

perceber quais os principios metodológicos que poderão dar corpo a uma

estrutura da unidade de treino e mesmo do microciclo semanal.

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

44

Segundo o treinador A, o treino é mesmo fundamental na preparação de uma

equipa que esteja em competição, vendo nele um processo que permita aos

jogadores e treinadores criarem um colectivo. Nessa perspectiva, ainda segundo o

mesmo treinador, é “o treino que faz o jogo, onde os objectivos fundamentais do

treino colidem com os objectivos fundamentais do jogo, sendo que, a melhor

estratégia para a equipa atingir os objectivos fundamentais do treino é estar

preparada para todas as condicionantes que o adversário colocar”. O treinador B

corrobora com esta ideia, referindo mesmo que “o treino é um espelho daquilo que

os jogadores irão fazer no jogo”, pois trabalha no sentido de tentar tirar proveito

dos pontos mais frágeis do adversário.

Para o treinador C, “o treino é a base o trabalho planeado para a época”,

estando o treino e o jogo interligados, sempre tendo como base os objectivos

tácticos propostos e o planeamento efectuado. O treinador D acrescenta mesmo

que “o treino é a minha principal ferramenta de trabalho, onde a equipa

operacionalizo a minha forma de jogar”, tendo em conta que o jogo faz o treino e o

treino faz o jogo. Desta forma e utilizando um microciclo-padrão, que é regido por

objectivos fisicos, através de uma dicotomia intensidade/volume, segue uma

planificação onde vai dar maior enfâse aos seus principios de jogo. Em sintonia

com esta ideia, o treinador E refere que não diferencia muito o treino do jogo, pois

estão os dois interligados, mas que a melhor estratégia para se poder trabalhar é

uma planificação dos objectivos.

Para o treinador F a importância do treino é muito elevada, no sentido de criar

uma estratégia para o jogo. Para o mesmo treinador o jogo e o treino estão em

sintonia. No seu entendimento, a melhor estratégia para atingir os objectivos do

treino é ganhar no dia do jogo.

Todos os treinadores são consensuais ao referirem o treino como fundamental

na preparação da equipa inserida na competição. Mas, no entanto, apenas os

treinadores D e E referiram que trabalham com base num microciclo-padrão.

Parece-nos então existem algumas divergências no que se refere às estratégias

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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para atingir os objectivos fundamentais do treino, isto significa que poderá não

haver uma planificação nem preocupação acerca dos princípios metodológicos

que dão corpo à estrutura da unidade de treino e ao microciclo semanal.

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Apresentação, Análise e Discussão de Resultados

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Considerações Finais

47

5 Considerações Finais

Através da apresentação e discussão dos resultados conseguimos chegar a

algumas conclusões no que se refere à forma como os treinadores vêm o

processo de treino, no alto rendimento nacional de Futsal e se as suas

metodologias se enquadram dentro da do conceito da “Periodização Táctica”. A

saber:

Em relação à forma de ver e entender o jogo de futsal, dividindo-o nos

diferentes momentos/fases de jogo, não houve consenso entre os treinadores.

Três treinadores referiram que dividem em quatro fases; um treinador afirma que o

jogo está dividido em duas fases e os restantes não se pronunciaram sobre o

tema;

Os treinadores partilham da opinião que todas as dimensões do jogo –

táctica, técnica, fisica e psicológica – são fundamentais e devem ser todas elas

trabalhadas, embora um treinador ressalve que a dimensão mais importante é a

táctica e outro afirme que é a atitude. No que se refere à existência de uma

pessoa encarregue da parte fisica dos atletas, três treinadores referiram que não

fazia parte da sua equipa técnica, enquanto outros três afirmaram positivamente, o

que deixa transparecer, nestes casos, uma exacerbância do trabalho das

capacidades fisicas;

O entendimento, dos treinadores acerca da concepção/filosofia de jogo e

Modelo de Jogo não foi, na generalidade, muito claro. Há treinadores que referem

que modelo de jogo e sistemas de jogo serão a mesma coisa, sendo, em muitos

deles adaptado à equipa adversária;

Parece que existem treinadores que possuem os principios de jogo

melhor definidos que outros, daí que alguns treinadores não apresentem sub-

princípios também eles definidos;

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Considerações Finais

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Em relação à especificidade não existiu consenso na opinião dos

diferentes treinadores. Alguns treinadores referem mesmo que especificidade é o

treino das capacidades técnicas, treino das situações de finalização, treino da

força ou velocidade, treino dos guarda-redes ou mesmo em função do próximo

adversário. Apenas um treinador revelou entendimento de especificidade

correlacionada com o modelo de jogo;

De uma maneira geral, e de forma não muito clara, quase todos os

treinadores foram consensuais de que a forma desportiva seria o máximo de

resultados no máximo de tempo possível, na procura de um patamar de

rentabilidade;

Todos eles foram peremptórios ao considerarem a concentração um

aspecto fundamental para assimilar uma forma de jogar, considerando-a mesmo

treinável. Apenas um treinador não refere que ela pode ser trabalhada através da

especificidade do treino;

São unânimes em considerar importante uma recuperação do esforço

após um jogo, mas apenas no plano fisico pois apenas dois treinadores referem

um cuidado na recuperação mental dos seus jogadores;

Finalmente, todos os treinadores foram consensuais na atribuição da

importância do treino, mas sendo muito confusos no que se refere os objectivos

fundamentais do treino e a melhor estratégia para os atingir. Nenhum deles se

refere à necessidade de planear, periodizar e programar.

Verificamos, portanto que os treinadores apresentam opiniões divergentes na

análise dos mesmos temas. Provavelmente fruto da singularidade de cada

processo de treino, de cada filosofia de jogo e das diferentes condições.

No que se refere à aproximação da mais recente proposta de

operacionalização do treino, parece que os treinadores entrevistados não se

identificam com a Periodização Táctica. Isto porque referem, na sua maioria, que

todas as dimensões são importantes, e as integram no treino, mas não parecem

articulá-las em função daquilo que pretendem, não destacando a dimensão táctica

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Considerações Finais

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como gestora de todo o processo. Os treinadores entrevistados também não

parecem possuir um modelo, princípios e sub-princípios de jogo bem definidos

para a sua equipa, não revelando um entendimento da especificidade

correlacionada com o modelo de jogo criado. Todos os treinadores foram

consensuais na atribuição da importância do treino, mas nenhum deles se refere à

necessidade de planear, periodizar e programar, sugerindo que não existe

preocupaçao na organização dos princípios que dão corpo à estrutura da unidade

de treino e ao padrão semanal;

Em relação ao entendimento de forma desportiva, são unânimes em considerar

esse conceito como a melhor performance da equipa dentro do maior tempo

possível, não referindo porém, uma procura no sentido de estabilizar rendimentos.

Tendo em conta o atrás anúnciado, concluímos que o Futsal ainda procura por

uma nova abordagem metodológica, que fosse ao encontro da sua verdadeira

especificidade – a Periodização Táctica.

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Considerações Finais

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Sugestões para Futuros Estudos

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6 Sugestões para Futuros Estudos

No término deste trabalho gostariamos de deixar aqui algumas sugestões

para futuras investigações:

Realizar o mesmo trabalho utilizando uma amostra mais significativa de

forma a obter resultados que se possam generalizar à divisão em causa;

Realizar um trabalho mais específico acerca duma preocupaçao na

organização dos princípios que dão corpo à estrutura da unidade de treino e ao

padrão semanal;

Realizar um trabalho mais aprofundado sobre princípios e sub-princípios

de jogo e a sua operacionalização no futsal.

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Considerações Finais

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Anexos

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8 Anexos

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Anexo 1

Questões da Entrevista 1. O que pensa sobre o treino e qual a importância que dá ao treino?

2. Tendo em conta a sua perspectiva, considera que é o treino que faz o jogo ou

o jogo que faz o treino? Explique

3. Quais os objectivos fundamentais do treino? E qual a melhor estratégia para os

atingir?

4. O que entende por Modelo de Jogo?

5. Quando considera mais importante trabalhar essa forma de jogar?

6. No seu caso, o Modelo de Jogo que definiu para a sua equipa é reflexo da

filosofia de jogo?

6.1. Teve de efectuar alguns reajustamentos?

6.2. Se fez reajustamentos, quais foram as razões?

7. No seu entendimento do jogo e no Modelo de Jogo criado, considera

importantes as fases/momentos do jogo?

8. De uma forma simples, e, tendo em conta os momentos de jogo, quais são os

comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo?

9. Há comportamentos a que dê mais ênfase do que outros? Se sim, quais?

10. A forma de atacar e defender exige dos jogadores determinados requisitos ao

nível técnico, físico, táctico e psicológico. Entre estes requisitos a qual ou a

quais dá mais importância?

11. Qual o papel do preparador físico?

12. Hoje em dia fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o seu

plenamento e preparação do treino, qual a importância do conceito e trabalho

em “especificidade”?

13. Ligado ao modelo de jogo e seus princípios, aparece o conceito de “forma

desportiva”. Na sua perspectiva, como é entendido?

14. Acha que a concentração pode ser trabalhada?

14.1. Se sim, como?

15. Após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço?

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Anexo 2

ENTREVISTA AO TREINADOR A

Tiago Barros (TB) – O que pensa sobre o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador A (TA) – O treino vai ser fundamental no desenvolvimento e

preparação de uma equipa que, neste caso, está em competiçao. Portanto o treino

é um processo, que de alguma forma, permite aos jogadores e aos treinadores

poderem, de algum modo, criar um colectivo que supostamente irá por na

competição a qualidade adquirida nesse próprio treino. O treino é o fundamento do

jogo e o jogo é tudo aquilo que se faz no treino.

TB – Nessa perspectiva, é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino?

(TA) – Eu acho, fundamentalmente que o treino é que faz o jogo. Tudo é o

conjunto de situações provocadas pelo treino, essencialmente isso (...)

TB – E, para si, quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os atingir? (TA) – Os objectivos fundamentais do treino colidem todos com os objectivos

fundamentais do jogo, portanto, nós tentamos preparar no treino tudo aquilo que,

de alguma forma, se desenvolve no jogo com a particularidade (...) depois com o

estudo do adversário em termos de jogo e da competição em que a gente está

inserido. E a melhor estratégia é aproximar o mais possível o treino daquilo que a

gente pretende fazer no jogo, esse é, para mim, o objectivo fundamental do treino.

Depois passará por uma estratégia, muito também, em função do adversário que

nos vai aparecer no final do objectivo semanal, ao fim ao cabo. Depois passará

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Anexo 2

também, e isso é um elemento fundamental, pelo campeonato que se joga, que

também, de alguma forma, tem particularidades que podem condicionar o treino,

não é?

Agora, o que me parece também é que, essencialmente no treino, o treino

que é muito mais vocacionado para a equipa que treina do que com quem se vai

jogar, portanto a minha preocupação fundamental é que a minha equipa, de

alguma forma, faça nos treinos todo o desenvolvimento que eu quero e que esteja

apetrechada estatégicamente no jogo possa funcionar. Esse é o objectivo que eu

traço, é preparar a minha equipa de forma a que esteja preparada para todas as

condicionantes que o adversário colocar e estarmos preparados para isso.

TB – E o que entende por Modelo de Jogo?

(TA) – Modelo de jogo essencialmente, para mim, baseia-se numa situação muito

simples. Eu, de alguma forma, trabalho (...) o nosso modelo de jogo é trabalhado

em dois sistemas: o sistema defensivo e o sistema ofensivo e depois ainda

consigo, de alguma forma, porque tenho jogadores com esse perfil, em poder

dentro destes sistemas ter alternâncias, tanto no ofensivo como no defensivo, e o

modelo de jogo, basicamente, ou por outra, o fundamento do modelo de jogo

baseia-se nos sistemas que, de alguma forma o componhem.

O sistema defensivo, depois poderemos mudar por alguns sistemas

defensivos, um, dois, três (...) eu tenho dois sistemas defensivos. Os sistemas

ofensivos temos dois de raiz e depois tem, de alguma forma, algumas nuances

tácticas e estratégicas que complementam esses prórpios sistemas. Isto é o meu

modelo de jogo, que está basicamente alicerçado em dois sistemas ofensivos e

dois defensivos.

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Anexo 2

TB – Divide, portanto, o jogo em 2 grandes momentos: ofensivo e defensivo. Não considera as transições? (TA) – As transições e a estratégia, nomeadamente de lances de bola parada,

cantos, livres e lançamentos que são componentes do modelo de jogo, mas como

complemento. Não são o essencial, partilho que o essencial sejam os sistemas

defensivo e ofensivo. Serão condicionadas através do estudo do nosso adversário.

São elas a parte do treino em que nós lhe damos mais especificidade em relação

ao adversário que vamos encontrar. Estes poderão ser os detalhes importantes

dentro do modelo de jogo que, de alguma forma, podemos (..) priviligiar mais nas

tansições. Temos, como tu sabes, dois tipos de transiçao: a defesa-ataque e a

ataque-defesa. O que é que vai condicionar este tipo de estratégia? (..)

essencialmente a capacidade fisica do nosso adversário, o sistema ofensivo

utilizado pelo nosso adversário, o sistema defensivo, alguns pormenores em

relação ao guarda-redes adversário. Fundamentalmente as transições têm a ver

com o adversário.

TB – Tendo em conta esse modelo de jogo, quando é que considera ser mais importante trabalhar essa “forma de jogar”? (TA) – O modelo de jogo é a nossa cartilha. Eu acho que é, fundamentalmente,

uma coisa extremamente importante. A partir do primeiro momento da época

deve-se, de alguma forma, trabalhar o modelo de jogo e todo o trabalho deve estar

orientado em função do modelo de jogo. O modelo de jogo tem de estar presente

em todos os treinos e em todos os jogos.

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Anexo 2

TB – Nesse caso, o modelo de jogo que definiu para a equipa é reflexo da sua filosofia de jogo ou tive de efectuar alguns reajustamentos?

(TA) – A um nível destes, estamos a falar de uma primeira divisão patamar B, há

essa condicionante. Um treinador tem, por obrigação, analisar os seus jogadores e

dentro da qualidade técnica existente no seu plantel deverá entao elaborar o

modelo de jogo que tenha reunidos as qualidades técnicas dos seus jogadores

para fazer um desenvolvimento do modelo de jogo, para que não crie problemas

depois em termos de o treinar. O treinador tem as suas ideias em termos de

modelo de jogo, mas fica sempre condicionado à qualidade técnica dos seus

jogadores.

TB – E quais são os comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo nas diferentes fases de jogo, que me falou à pouco que eram a defesa e o ataque? (TA) – Comportamentos deste jogo, passam por um factor que, para mim, é

extremamente importante, que é a concentração. Saber analisar todos os

comportamentos do nosso adversário, essencialmente isto. O jogador de futsal de

um nível razoável ou elevado se não tiver este tipo de comportamento, se não

souber analisar com quem é que está a jogar, essencialmente isto, não vai

perceber se, de facto, aquilo que vai por em jogo, em termos do modelo que lhe foi

apresentado a treinar, irá ter muitas dificuldades.

Então quais são os comportamentos que eu, de alguma forma, lhes peço?

Essencialmente, muita concentração e uma disponibilidade muito grande em

perceber o jogo. Depois estamos a falar de uma situação que é perceber se os

nossos jogadores, de alguma forma, têm uma leitura correcta com aquilo que o

treinador pede e aí é que vai, para mim (...) se nós tivermos jogadores que

percebam o jogo, vão perceber o meu modelo, se eu tiver tiver jogadores que não

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Anexo 2

percebam o jogo, vaão ter dificuldades em interpretar o meu modelo, ou seja, vai

então entroncar naquilo que é o modelo que eu preparo para a minha equipa em

função dos meus jogadores. Logicamente que estes comportamentos que eles

vão ter que perceber que ao atacar um sistema defensivo, vão ter de interpretar

um sistema ofensivo que lhes propus no modelo e vice-versa.

Não precisamos de ir muito longe, vejamos, por exemplo, o Módicus –

Benfica, em que nós temos um situação que é o nosso sistema defensivo é de

todo solicitado devido à qualidade do Benfica, que tem um sistema ofensivo

extremamente agressivo e de grande qualidade. Se os meus jogadores não

conseguirem interpretar o sistema ofensivo que treinam, não conseguirem

interpretar aquilo que o adversário quer, vão ter muitas dificuldades. Para isso é

preciso ter grandes níveis de concentração, fundamentalmente este jogo passa

por concentração. Os atletas que praticam futsal devem ter padrões de

concentração elevados, devem ter uma disponibilidade física muito grande e

devem ter acima de tudo uma coisa muito importante neste jogo, que é serem

correctos com eles próprios, ou seja, um jogador não pode estar em défice dentro

de campo. TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais considera mais importantes?

(TA) – De alguma forma é um conjunto de situações, o que, de alguma forma, nos

preocupamos é que ele esteja com estes padrões de comportamento sempre

elevados. Agora, essencialmente uma grande disponibilidade para o jogo é

importante. Começa por aí. Depois, eu em termos de jogo, dou uma importância

essencialmente à situação táctica, ou seja, ao comportamento em relação àquilo

que os atletas teriam de fazer.

E porque é que é importante? É importante porque é essa a base do

modelo. E então se nós pedirmos aos atletas que estejam preocupados com que

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Anexo 2

eles ponham em prática os sistemas por nós treinados, todas as outras

componentes irão estar num patamar bom, razoável para enfrentarmos o jogo.

Precisamos, de alguma forma, que os atletas também percebam de que, de facto,

todas estas componentes estão ligadas e são todas importantes para que, de

alguma forma, tenham sucesso.

TB – Qual o papel do seu preparador físico?

(TA) – Não tenho. Não tenho preparador, tenho adjunto. Eu sei que esta

terminologia (...) o Mourinho criou uma ruptura em termos de filosofia de trabalho

não foi? (...) As pessoas esquecem-se que o Mourinho trabalha uma situação que

já tinha trabalhado e aprofundou-a. O sr. Van Gaal já trabalha assim há 10 anos.

O futsal é um bocado isto. Porque é que fazes essa pergunta? Eu sei porque é

que tu fazes essa pergunta, porque há uma coisa que eu luto muito contra isso

que é a futebolização do futsal. E então é assim, assim como nós temos o modelo

de jogo, assim como nós temos (...) e eu não diferencio os meus jogadores,

começa na baliza e o resto dos jogadores. Eu não tenho nem defesas nem

atacantes. Tenho jogadores que me preocupo com a universalidade deles. Numa

equipa técnica, eu continuo a dizer que não há nem treinador principal, nem

adjuntos, nem treinadores de guarda-redes, nem preparadores fisicos. Há uma

equipa técnica e, esta equipa técnica, tem de trabalhar, de alguma forma, numa

simbiose total e em equipa. Se me perguntar se eu sou o lider da equipa, ou seja,

o porta-voz. Sou. Mas a minha voz é um conjunto de opiniões.

TB – Falou-me atrás em trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”? (TA) – Trabalhar em especificidade, fundamentalmente é trabalhar (...) sobre

todas as questões do treino, sobre todos os elementos (...) é fundamentalmente

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Anexo 2

trabalhar o modelo de jogo, modelo de jogo está concebido e tem de se trabalhar

em especificidade o modelo de jogo. Continuo a dizer que é trabalhar sobre todas

as componentes e introduzi-las no modelo de jogo. Através do modelo de jogo,

nós trabalhamos todas as componentes que são fundamentais para o rendimento

do atleta. Eu procuro, de alguma forma, trabalhar sobre este ponto de vista.

Agora, que, de alguma forma, é dificil...é, porque nós treinamos 3 vezes por

semana. E depois temos aqui algumas nuances, nomeadamente, a falta de tempo,

que não me permitem trabalhar estratégias e situações um bocado mais

analíticas, que de alguma forma, vai infuenciar a dificuldade em trabalhar em

especificidade. Agora, se eu fosse treinador de uma equipa profissional,

trabalhava só em especificidade.

Eu trabalho consoante o meu contexto. TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que o entende?

(TA) – A forma desportiva é (..) o que é estar em forma? É estar dentro das

capacidades reais que um atleta pode desenvolver, essencialmente isto, ou seja,

nós, ao longo de uma época, sabemos que há atletas que sobem e descem de

rendimento, podemos chamar a isto “forma desportiva”. É lógico que uma equipa

como a minha, em que tem factores condicionantes dessa própria produção

desportiva, estamos a falar de estudantes universitários, esta semana só pude dar

dois treins porque eles têm a queima das fitas e são situações que eu percebo,

podia não perceber (...) mas não e isso (...) é o pai que está doente, é o cão que

não sei quê, é a namorada. Tudo isto condiciona o rendimento desportivo. O meu

trabalho influencia o rendimento desportivo, mas há outra parte em que eu não

consigo dominar para que o seu rendimento desportivo seja o melhor que eles

têm. A forma desportiva é o que o atleta melhor pode dar. Estejam sempre no

patamar onde dão sempre o máximo. Esta, para mim, é que é a forma desportiva.

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Anexo 2

TB – Acha que a concentração pode ser trabalhada? Se pode, como?

(TA) – A concentração é das coisas que mais se trabalha e que mais dificuldades

cria a um treinador.

TB –...e como é que a trabalha? (TA) – Essencialmente dando-lhes problema (...) problema. E dando-lhes sempre

alguma coisa que os obrigue a pensar. A concentração para mim, é trabalhada

essencialmente fezendo com que os meus jogadores estejam a pensar coisas

sobre o meu modelo de jogo. Ao estar-lhes a dar isso, consigo em grande parte,

que eles não se desviem daquilo que é pretendido. Têm de estar atentos e

concentrados naquilo que lhes vou estando semrpe a dizer, ou seja, direcciono-

lhes a concentração para o modelo de jogo e para o que estão a fazer. Depois hà

situações que eu não consigo dominar, onde os atletas vêm treinar por obrigação,

sem vontade, pois a disponibilidade dos atletas nestas equipas, não é total.

TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TA) – Simples. Bom fim de semana para todos e façam o que vocês quiserem.

Não lhes posso exigir mais nada. Na segunda-feira temos treino, perfeitamente

normal. Acho que não faz sentido um treino de recuperação passadas 48 horas.

Tem o domingo descansados e segunda à noite treino. É assim que eu faço. É a

minha realidade.

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Anexo 2

ENTREVISTA AO TREINADOR B

Tiago Barros (TB) – Miguel, o que pensas sobre o treino e qual é a importância que dás ao treino? Treinador B (TB) – O treino é o espelho daquilo que nós vamos fazer no jogo(..)

ou seja, nós temos de analisar as caracteristicas do jogo, quais são as

características da nossa equipa, tentá-las potencializar e ver os nossos erros e

isso só se consegue fazer através do treino. Através de muitas repetições, muitas

correcções, muitas paragens e só é possível durante o treino. Claro que durante o

jogo também se consegue fazer algumas rectificações, consegue-se desenvolver

bastantes aspectos mas o treino é o caminha para o sucesso do jogo.

TB – Nessa tua perspectiva, então, é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino?

(TB) – O treino depende do que nós fazemos no jogo, ou seja, das nossas

capacidades, nós vamos trabalhar aquilo que está bem, mas acima de tudo aquilo

que está mal. Só conseguimos analisar no jogo, esse é o nosso ponto de

avaliação, é o jogo, para ver se conseguimos estarmos a trabalhar bem, se a

nossa metodologia está a ser bem aplicada e isso só se consegue fazer através

do jogo, ou seja, um espelho daquilo que nós fazemos no jogo.

TB – E quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os atingir? (TB) – Eu tenho uma maneira diferente de muita gente de trabalhar. Eu tento

trabalhar sempre na perspectiva de conseguir tirar proveito dos pontos mais

frágeis do adversário. Nós estamos em constante adaptação à filosofia do

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Anexo 2

adversário, mantendo sempre os nossos princípios, ou seja, o que eu previligio

mais são os meus princípios e dentro dessa base tentamos aproveitar conforme

as características do adversário

TB – ...mas é preciso ter em atenção também para não dar demasiada importância às características do adversário para não correres o risco de perderes o “fio à meada” aos teus princípios... (TB) – Não, os meus princípios de jogo estão presentes para qualquer adversário,

são sempre os mesmos, a movimentação-base é sempre a mesma, agora eu

posso prviligiar os apoios no meio, paralelas ou jogo profundo, sair 4:0 mas com

chegadas em 2:2 ou 3:1, conforme as características do adversário.

TB – E o que entendes por Modelo de Jogo?

(TB) – Modelo de jogo (..) modelo de jogo é a movimentação-base, no meu

entender. Em termos ofensivos, porque em termos defensivos nós temos de estar

em constante adaptação, não podemos, eu pelo menos, não entendo que posso

definir a nossa estratégia base como sendo sempre a mesma, porque vou

encontrar adversários diferentes, estratégias diferentes, isto está sempre em

constante mutação. Por isso é que o jogo tem paragens e nós aproveitamos

qualquer interrupção para dar-mos novos feedbacks ou novas orientações, ou

seja, temos de estar sempre em constante adaptação, agora, se nós temos os

nossos princípios, temos de definir se queremos defender as alas ou se queremos

defender o meio e a partir daqui, se estiverem bem definidos os principios vão-se

conseguir adaptar a essas novas directrizes, não é assim tão dificil.

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Anexo 2

Esse é o meu ponto de vista, o meu modelo de jogo tem uma movimentação-base

a a partir dessa movimentação tenho várias soluções e estratégias que podemos

utilizar.

TB – Quando é que consideras ser mais importante trabalhar essa “forma de jogar”? (TB) – Como assim?

TB – ...se dás mais ênfase no período preparatório, no competitivo, etc? (TB) – Sempre. Sempre. Não há alterações, os principios de jogo podem-se ir

desenvolvendo, não podemos andar a alterar.

TB – ...os principios, então são trabalhados desde o primeiro dia de trabalho? (TB) – Desde o primeiro dia até ao final da época. E se conseguirmos alcançar

esses objectivos, vamos definir novos objectivos.

TB – O modelo de jogo que definiste para a equipa é reflexo da tua filosofia de jogo ou tiveste de efectuar alguns reajustamentos?

(TB) – É um reajustamento à minha equipa e às equipas adversárias. As

diferentes divisões, que eu já percorri, obrigam-nos a tomar diferentes estratégias.

A estatégia que nós conseguimos utilizar no ano passado na 2ª Divisão não tem

resultados aqui, na 1ª Divisão, ou seja, tem de haver, para além da adaptação dos

jogadores e da minha adaptação aos jogadores para tirar proveito das suas

caracteristicas, tembém tem de haver uma adaptação às exigências do próprio

jogo.

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Anexo 2

TB – No teu entendimento do jogo e no modelo de jogo criado, consideras importantes as fases ou momentos de jogo?

(TB) – O jogo é dividido de momentos, de segundos, ainda para mais nesta

divisão, qualquer segundo, momento conta. TB – ...eu estava-me a referir ao ataque, defesa e respectivas transições... (TB) – Nós tentamos desenvolver tudo. Na tentativa de desenvolver, por exemplo,

a posse de bola, ai trabalhamos só o ataque e condicionamos a defesa, apesar

de, em face às características da minha equipa, eu trabalhar muito mais as

transições defesa-ataque e ataque-defesa, do que propriamente a posse de bola.

É a minha adaptação à equipa.

TB – Tendo em conta esses mesmos momentos de jogo, quais são os comportamentos que queres que a tua equipa tenha em campo?

(TB) – São muito variados, ou seja, eu acho que nas equipas, de um modo geral,

não estão muito bem trabalhadas no aspecto defensivo individual, ou seja, poucos

jogadores fortes no 1x1 em termos defensivos e uma das coisas que procurei

desenvolver este ano foi esse aspecto. Se nós formos fortes em termos individuais

não precisamos de tantas ajudas, logo vamos ser mais pressionantes, vamos ter

mais probabilidades de sucesso(..)

Nos aspectos ofensivos tentar sempre criar situações de superioridade

numérica, tento fazer com que não haja ataque sem inferioridade numérica, não

se perca a bola de uma maneira inocente.

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Anexo 2

TB – E há principios a que dês mais ênfase do que outros? (TB) – Não. Dou importância a todos. São inalteráveis e a base, sem essa base

não adianta nada trabalhar outras coisas, no meu entender...

TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais consideras mais importantes? (TB) – O mais importante é o psicológico. A experiência que eu adquiri este ano é

que a diferença é a nível psicológico. Os jogadores tem boas capacidades

técnicas e táctico, praticamente idênticas, mas a nível psicológico isso já não

acontece. Precisamos de 10 oportunidades para marcar 1, e eles precisam de 3.

Isto vem não só através da maturidade, é da serenidade de outros factores, com

por exemplo as vitórias. O que eu acho mais importante desenvolver, não

descurando os outros aspectos é sobretudo o psicológico. É por isso que, apesar

de estarmos como estamos, nunca viramos a cara a nenhum jogo nem a ninguém

e lutamos até ao fim.

TB – Qual o papel do teu preparador físico?

(TB) – Nós no Junqueira não temos preparador físico. O treino é integrado em

todos os aspectos, ou seja, o fisico, táctico, técnico, está tudo integrado. É claro

que previligio algumas situações em relação a outras mas se nós treinarmos o

volume de treino que temos, chega perfeitamente para termos uma carga fisica

muito boa, ou seja, o Junqueira apesar de ter tido alguns altos e baixos, derivados

de lesões e de trabalho e isso faz com que a forma descresça um bocadinho.

Agora a nivel fisico não tenho tido grandes lesões, portanto não vejo necessidade

de ter um preparador fisico.

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Anexo 2

TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na tua perspectiva, como é que o entendes?

(TB) – Entendo como a capacidade de um jogador potencializar o que é

trabalhado. Quantas mais vezes conseguir potencializar essas situações, mais em

forma está. Agora nós temos de adaptar isso às caracteristicas do jogador.

TB –...no fundo é o jogador estar adaptado à forma de jogar... (TB) – Sim, assim como a forma de jogar está a adaptada a cada jogador(..) é

uma bola de neve...

TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TB) – Não tenho problemas porque os jogos são todos ao sábado. Temos folga

ao domingo e na segunda-feira começaos o trabalho normal.

TB – Fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”? (TB) – A especificidade que tenho desenvolvido é mais evidente em aspectos

técnicos dealguns jogadores. Temos desenvolvido principalmente a finalização,

que é uma das pechas, e alguns aspectos tácticos, principalmente. Agora temos

incidido em alguns jogadores que têm mais dificuldade. É isso...

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Anexo 2

TB – Achas que a concentração pode ser trabalhada? Se pode, como? (TB) – Através de rotinas. Quanto mais rotinas nós temos, mais o jogaodor se

adapta. Logo mais sucesso, quanto mais sucesso, mais motivado e concentrado

está. TB – ...mas as rotinas não acabam por criar um “facilitismo” no jogador por estar tão habituado? (TB) – Rotinas no principio não no exercício, ou seja, posso modificar o exercício

com um objectivo diferente... TB – ...falas de um aumento de complexidade no exercício? (TB) – Sim. Claro, se os jogadores já atingiram esse patamar, vamos andar para a

frente...

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Anexo 2

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Anexo 2

ENTREVISTA AO TREINADOR C

Tiago Barros (TB) – Prof, o que pensa sobro o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador C (TC) – O treino é a base do nosso trabalho. Você quando faz um

planeamento de uma época desportiva tem, basicamente, o treino como a

prioridade daquilo que você prentende em cima daquilo que você vai realizar. O

treino é a base de todo o teu planeamento.

TB – E, tendo em conta essa perspectiva, considera que é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino? (TC) – Olha, nós podemos analisar dentro de duas perspectivas. A primeira delas,

você trabalha o treino em função daquilo que você vai ter no jogo e você faz o jogo

em função daquilo que você tem no treino. Porque se analisarmos as situações

você trabalha, no teu dia a dia, em função daquilo que você vai encontrar no

próximo final de semana ou no próximo jogo, né?(...) e na próxima semana você

vai trabalhar em cima daquilo que você encontrou naquele final de semana. Se

você teve um jogo com alguma nuance diferente, com alguma situação diferente

ou alguma abordagem táctica diferente, na semana seguinte ou no teu próximo

microciclo, de repente, você vai tentar adaptar aquilo que você teve no jogo dentro

da tua realidade do treino.

TB – E quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia, para o prof, para os atingir? (TC) – Olha, nós podemos analisar dentro do ponto de vista de traçar objectivos.

O primeiro dele é: o que vamos fazer? O porquê vamos fazer? E como vamos

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Anexo 2

fazer?(..) Então é basicamente em cima disso que você organiza e planeia todo o

seu trabalho.

TB – ...no fundo estamos a falar duma programação, duma planificação e duma periodizaçao.... (TC) – Exacto. Excatamente. Isso tudo funciona em cima daquilo que você

pretende: objectivos a serem propostos, objectivos a serem cumpridos e como vão

ser cumpridos.

TB – ...e esses objectivos poderão ser objectivos fisicos, objectivos tácticos, objectivos técnicos ou outros objectivos? (TC) – Logicamente(...) quando você faz um programa, uma periodização, você

pretende(...) num primeiro momento um plano global e apartir de determinado

momento você vem trazendo para planos mais especificos daquilo que você

pretende, nê?(...) Você idealiza, entre aspas, um macrociclo com objectivos gerais

do que é que o clube ou aquilo que você pretende do qual você vem trazendo para

objectivos mais especificos daquilo que você pretende a médio prazo, ou seja,

coisas que nós fazemos dentro de mesociclos(...) que são(...) a palavra correcta

não seria isso, mas digamos, mesociclos especificos dentro daquilo que você

pretendo do aspecto táctico e depois você vem para coisas mais sucintas daquilo

que você faz no teu microciclo semanal, digamos assim, durante a tua semana. E

aí é que entra aquela questão que a gente estava conversando assim

informalmente, né?(...) Dentro da periodização táctica(..) Eu, para mim(...) existem

dois períodos numa época, que é você trabalhar período preparatório, período

competitivo. No período preparatório você dá a base toda daquilo que você quer

no trabalho a desenvolver. A partir do período competitivo você(...) eu,

desenvolvo mesociclos, entre aspas, com nuances do aspecto táctico daquilo

pretende, daquilo que você quer, dentro do contexto táctico. É isso que eu

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Anexo 2

entendo por periodização tática, de você trabalhar em função de determinados

aspectos que você vai lapidando no teu dia a a dia e por ai fora.

TB – Em relação, agora ao Modelo de Jogo. O que entende por Modelo de Jogo? (TC) – Modelo de jogo, para mim, é aquilo que você pretende, dentro de uma

equipa, dentro de um clube(...) de você desenvolver determinados mecanismos

tanto do ponto ofensivo, como do ponto defensivo. Isso envolve n situações. Você

tem que ter um modelo de jogo, do ponto de vista ofensivo e um modelo de jogo,

do ponto de vista defensivo. E a partir dai você tem o modelo de jogo da equipa. É

lógico que, na minha concepção de ver as coisas, tenho de ter uma determinada

directriz de trabalho e posso te dar bases para que você a partir daí consiga

trabalhar n variantes para que isso se encaixe com as dificuldades que os

adversários vão-te impôr do ponto de vista ofensivo e do ponto de vista defensivo,

ou seja, no meu modelo defensivo eu tenho que estar enquadrado para quando eu

precisar de defender em pressão, defender em todo o campo, ter determinadas

soluções para enfrentar qualquer tipo de soluçao que o adversário tem nesse

sentido e para quando eu tiver de defender ou em inferioridade numérica ou em

situações de (...) que eu faça uma opção por defender em zonas mais recuadas

no terreno que eu também tenha soluções para fazer isso. E do ponto de vista

ofensivo eu tenho que ter , no meu modelo de jogo, no meu modelo ofensivo,

situações em que se enquadrem, do ponto de vista, para enfrentar qualquer tipo

de defesa que a equipa adversária me proporcione. Agora na última

intercontinental, por exemplo, nós tivemos uma situação em que uma equipa

brasileira veio com uma defesa em quadrantes em que aqui em Portugal não se

trabalha isso e nós tivemos dificuldades em trabalhar em cima dessa situação. E

aí é uma questão de você conseguir trabalhar ou montar o seu modelo de jogo

ofensivou em função daquilo que você vai enfrentar dentro de competições. Isso

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Anexo 2

tudo depois é uma questão de adaptação, de você adaptar determinadas coisas

em função daquilo que você vai ter pela frente.

TB – Quando considera que é mais importante trabalhar essa forma de jogar?

(TC) – É sempre em função de você ter determinadas directrizes(...) obedecer a

determinadas directrizes e ter variantes para que elas enquadrem as dificuldades

que você vai encontrar, tanto do aspecto ofensivo como do defensivo.

TB – ...então essas dificuldades serão encontradas fim de samana a fim de semana, jogo a jogo, portanto será importante trabalhar essa forma de jogar durante o ano competitivo todo... (TC) – É lógico. Você desenvolve um modelo de jogo, que é o que falamos

anteriormente, e que esse modelo de jogo se enquadre dentro daquilo que você

vai encontrar perante a época desportiva, então, a cada microciclo você trabalha a

sua equipa em função daquilo que você vai enfrentar no próximo final de semana.

Mas não quer dizer com isso que você vai sair totalmente daquilo que você

planeou, porque você tem que tentar ter um modelo de jogo que englobe todas

essas situações. Você não pode a cada semana trabalhar uma situação, você tem

que ter um modelo de jogo global, em que, você consiga fazer determinadas

adaptações em cima daquilo que você vai pegar pela frente.

TB – No seu caso, o modelo de jogo que definiu para a sua equipa é reflexo da sua filosofia de jogo ou teve de efectuar alguns reajustamentos?

(TC) – Isso acontece no nosso dia a a dia, em função de caracteristicas de

jogadores, em função de determinadas limitações que você tem de plantel e por ai

fora. É por isso que eu refiro para você que nós temos de ter um modelo de jogo

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Anexo 2

global e que esse modelo de jogo seja maleável em função das dificuldades que

encontramos(..) ou seja, caracteristicas de jogadores que nos chegam,

dificuldades às vezes em função de lesão e alguma coisa que acontece durante a

época e que você possa, de repente, adaptar determinadas situações em cima

daquilo que você pretende.

TB – No seu entendimento do jogo e no modelo de jogo criado, considera importantes as fases ou momentos de jogo?

(TC) – Lógico. Você deve de obedecer a determinados princípios do desporto. E

quem fala sobre futsal nós sabemos que existem os princípios de jogo que são

fundamentais dentro daquilo que você faz. Agora o mais importante disso tudo é

que os jogadores tenham conhecimento e tenham noção do que é que são esses

princípios de jogo. Ai a partir dai, é lógico você obedecendo esses princípios de

jogo pode fazer com que você tenha muito mais facilidade para desenvolver o teu

modelo de jogo ou qualquer coisa que você pretenda dentro do contexto de uma

equipa.

TB – E agora que me falou nos princípios de jogo, quais são os principios que o Prof. Adil defende ou que quer que a sua equipa tenha em campo em determinados momentos de jogo?

(TC) – Bom, aí existe uma grande questão que é a quastão às vezes da

terminologia, a forma como nós abordamos a terminologia ou determinadas coisas

que nós falamos dentro do futsal. Porque existe uma linguagem, às vezes, um

tanto ou quanto controversa dentro daquilo que você entende ou pretende dentro

do contexto do jogo. Eu, por exemplo, analiso o futsal dentro de contexto de

principio de jogo da seguinte maneira: primeiro a tua organização defensiva,

segundo a tua organização ofensiva e todas as variantes que conduzem a esses

principios tanto defensivos como ofensivos, depois o processo de transição:

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Anexo 2

ataque-defesa e defesa-ataque, então, você obedecer a esses princípios e os teus

jogadores terem noção do que é que tem de fazer em cada fase desssas

situações, eu penso que é o fundamental para que a partir dai você consiga fazer

variações do que você pretende dentro do aspecto táctico. É lógico que muitas

vezes algumas dessas coisas que nós falamos dentro do contexto de vista, que

para alguns é princípios de jogo, para mim são movimentações básicas dentro do

futsal. Quando você fala, por exemplo, a nível de organização ofensiva em cima

de movimentos básicos como paralelas, diagonais e tal. Isso para mim não são

princípios, são movimentações básicas. Ai é que está aquela questão da

terminologia.

TB – ....mas em relação a esses princípios, e em relação aos diferentes momentos de jogo que me falou: o ataque, a defesa e as transições quais são os comportamentos que o Prof Adil quer que a sua equipa tenha em campo? (TC) – Basicamente, a primeira coisa que eu achoque um jogador de futsal deve

de ter e aquilo que a gente sempre vem defedendo ao longo do tempo, é a base

significa tudo, tanto a nivel ofensivo como defensivo na ocupação dos espaços. É

você ocupar o espaço de uma forma ordenada e inteligente. Você se mexer no

terrreno de uma forma ordenada e inteligente. E eu defendo uma coisa que eu

chamo de compactação, que não sei se é o termo que vocês usam aqui ou não, é

uma compactação ofensiva e defensiva. A tua equipa vale pelo conjunto e todos

tem de trabalhar em função (...) uns em função dos outros. Você trabalhar e fazer

o teu melhor em função daquilo que os teus colegas pretendem que você faça e

aquilo que você vai fazer para que teus colegas tenham condições para trabalhar

melhor. Eu defendo isso, na minha equipa a gente trabalha assim. Nos temos, por

exemplo, grandes jogadores, jogadores com uma capacidade técnica acima da

média, com uma inteligência táctica acima da média e é isso que nós

pretendemos dentro do nosso modelo de jogo, ás vezes criar situações para que

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Anexo 2

esses jogadores possam colocar em prática, dentro daquilo que nós pretendemos,

a suas capacidades individuais.

TB – ....em relação a essas capacidades individuais, a forma de atacar e defender e as próprias transições exigem grandes requesitos a nivel técnico, fisico, tactico. E entre estes quais considera mais importantes?

(TC) – Dentro dessas circunstâncias nós não podemos generalizar as coisas ou

especificar as coisas, melhor dizendo, nós temos de trabalhar isso de uma forma

mais geral. Porque dentro do contexto desses princípios: primeiro, se você não

tiver uma equipa dotada de uma capcidade fisica interessante você não consegue

trabalhar uma defesa forte, trabalhar transições rápidas porque vai faltar

velocidade. Por outro lado, se você analisar essas circunstâncias você vai ver que

se você tiver uma equipa extremamente dotada de uma capacidade fisica mais se

não tiver raciocínio táctico, quando você rouba uma bola não sabe o que fazer

com ela e por ai fora. Então nós não podemos tratar isso de uma forma especifica.

Nós temos de tratar de uma forma geral. E é por isso que gente analisa a questão

do treino, e aí voltamos à sua questão inicial aqui, onde falamos da periodização

do treino, ou da periodização táctica ou até do ponto de vista que eu prefiro dizer,

daquela famosa questão do treino integrado, de você juntar todas as vertentes que

você tem de trabalhar ou todas capacidades motoras e as (..) capacidade técnicas

e tácticas do jogador dentro do contexto do treino. Para que você possa ter um

rendimento, para quando chegar nessa situação, por exemplo, que você me

propôs aqui, de que a minha equipa esteja a 100% do ponto de vista fisico, mas a

nivel de raciocinio táctico daquilo, que nós pretendemos, esteja a zero. Então acho

que nós temos de trabalhar isso dentro de um contexto(..) de quando você tiver

determinadas situações para enfrentar durante um jogo, você consigas resolvê-las

da melhor maneira possível.

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Anexo 2

TB – Qual o papel do seu preparador físico?

(TC) – Olha aqui, nós entramos justamente naquela situação em que nós estamos

a falar do esquema do treino integrado. Eu, defendo a questão do treino integrado,

mas com algumas nuances, em cima de dois pontos de vista. Eu acho que você

consegue fazer ou realizar n coisas dentro do treino integrado, agora tem duas

vertentes que para você conseguir ter ou tirar o melhor proveitamento dos

jogadores você tem de trabalhar elas de forma especifica. E aí eu cito: por

exemplo o trabalho de força, que é o que nós fazemos num trabalho de

complementação a nivel de ginásio e ai que entra o trabalho do meu preparador

físico, temos o trabalho a nível de flexibilidade, que eu acho fundamental, para que

você desenvolva as outras capacidades motoras e até o trabalho de coordenação

e situações que vão-te favorecer dentro do ponto de vista a nível táctico e técnico

e fisico. E a última questão do ponto de vista da velocidade, apesar de que, na

velocidade nós incluímos a nivel do treino integrado muitas situações voltadas à

situação do jogo, mas fazemos também muitos estímulos de velocidade puros.

Porque eu acho que a velocidade em si, para você trabalhar ela ao melhor nível,

você tem de trabalhar ela de forma distinta, de uma forma pura e integrada, então

é isso que nós fazemos. O meu preparador fisico é fundamental dentro desses

aspectos, trabalhoao nivel de flexibilidade, de força e de velocidade.

TB – Falou-me à pouco em trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância des te conceito e do trabalho em “especificidade”? (TC) – Justamente o que te tinha falado. Praticamente respondi a essa pergunta

nas colocações que te dei anteriormente. Eu acho que para nós(..)

conseguirmos...para nós conseguirmos...atingir o melhor nível dos jogadores, você

tem de trabalhar, em algumas circunstâncias, em nível individualizado. Força, para

mim, por exemplo, é uma delas. Por exemplo, o nosso preparador físico trabalha

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Anexo 2

com uma máquina que nós temos lá no clube de cinesiologia(...) de você fazer

medições de força de membros individualizados, de musculatura agónica e

antagonica, de você conseguir depois fazer um equilibrio a nivel de um trabalho

especifico em cima desses jogadores. E do ponto de vista da flexibilidade também,

porque a gente sabe perfeitamente que nem todos tem a mesma capacidade de

flexibilidade, de um jogador para o outro. E depois do ponto de vista de

velocidade, onde nós trabalhamos aspectos do ponto de vista de velocidade pura,

ne?(...) e depois de outros aspectos integrados onde a gente envolve a velocidade

de reacção e tal, dentro de nuances que nós temos no jogo, situações directas do

jogo.

TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que entende este conceito? (TC) – Ai está aquela questão de terminologia. Forma desportiva, o que é que

para você é forma desportiva...?

TB –...para mim, é ter uma equipa a pensar toda da mesma maneira nos diferentes momentos de jogo, a jogar bem, a ganhar os jogos, onde todos os jogadores estão adaptados à “forma de jogar” da equipa, numa rentabilidade estável... (TC) – Perfeito...é aquela questão de terminologia. Para mim, analisaria isso num

contexto individual, mas dentro dessa concepção que você tem de forma

desportiva eu acho que realmente é isso, né?(..) Você tem que trabalhar,

principalmente quando trabalhamos dentro do contexto de um desporto colectivo

como é o futsal, você tem de procurar agregar, todas as forças e as condições de

trabalho que você tem para que realmente e gente consiga alcançar o máximo de

rentabilidade dos jogadores que você tem à disposição.

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Anexo 2

TB –...isto é, vai procurar “patamares de rentabilidade” e não picos de

forma”?

(TC) – Sempre, porque a partir do momento que você defende essa ideia de

Periodização Táctica, você não trabalha em cima de picos de forma, nè? A não

ser que esteja muito por fora do contexto do treino desportivo. Mas daquilo que eu

aprendi, daquilo que a gente vem acompanhando dentro do desenrolar do trabalho

a nivel da metodologia do treino, quando você fala em termos de periodização

táctica procura desenvolver determinadas capacidades, determinadas habilidades,

no preperatório e mantê-las dentro de um período competitivo. Então eu não

posso, por exemplo, dentro de um campeonato longo, como é o campeonato

português(...) já posso dizer para você o seguinte, se eu trabalhasse, por exemplo,

no Brasil, onde nós temos competições específicas, poderia trabalhar em cima de

picos de forma, mas como aqui nós temos uma calendário longo, nós temos um

período competitivo de aproximadamente dez a onze meses. Então é muito dificil

de você trabalhar dentro de um contexto de picos de forma, né?(...) com doze,

quinze atletas todos a atingir o pico de forma naquela fase(...) é muito complicado.

Então eu defendo a ideia que nós temos de trabalhar em cima da periodização

táctica mesmo. Você fazer um período preparatório, depois desenvolver o aqueles

mesociclos que eu digo, entre aspas, daquilo que se pretende dentro do ponto de

vista táctico, não do ponto de vista fisico, porque aqui você tem de trabalhar no

período preparatório e no período competitivo você tem de procurar manter um

nivel de capacidades motoras da tua equipa no melhor que puder.

TB - Acha que a concentração pode ser trabalhada?

(TC) – A...?

TB - ...concentração...

(TC) – Nós fazemos isso muito.

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Anexo 2

TB - ...como?

(TC) – Através de n exercícios e n trabalhos que fazemos dentro do ponto de vista

táctico, até no desenrolar de exercícios técnicos e tácticos onde os jogadores o

máximo de atenção e concentração em todos os momentos. Para te citar um

exemplo simples aqui(...) por exemplo, n exercícios que nós fazemos em que

todos os jogadores trabalham com a mesma cor do equipamento. Isso obriga eles

a pensar o que estão a fazer ou com quem estão a jogar. Então essa é uma das

formas que tenho para trabalhar a concentração.

TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TC) – A gente trabalha da seguinte maneira: primeiro tem a fase natural de

recuperação que os jogadores tem com a folga. Depois, você faz uma avaliação

rápida no treino seguinte, digamos assim, ao jogo onde você faz uma avaliação

geral, do ponto de vista clínico(..) todos os jogadores passam pelo departamento

médico, onde fazem uma avaliação clínica, e a partir dai começam a trabalhar.

Geralmente, essa recuperaçao que você fala, nós fazemos do ponto de vista

recreativo, com actividades recreativas onde você faz essa suposta recuperação.

Apesar de que muitas vezes entramos directo ao trabalho que se pretende, porque

a nossa recuperação geralmente é feita em cima de trabalho de resistência

aeróbia(...) Recreativo, exercícios de brincadeita e tal, mas já entrando no principio

de resistência aeróbia. Aí você faz o relaxamento da “cabeça”. Agora trabalho de

recuperação pura, não se faz não.

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Anexo 2

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Anexo 2

ENTREVISTA AO TREINADOR D

Tiago Barros (TB) – O que pensa sobre o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador D (TD) – O treino, para mim, é a minha principal ferramenta de

trabalho. É atraves do treino que eu operacionalizo a nossa forma de jogar.

TB – Falou-me agora no treino e no jogo, na sua perspectiva, é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino?

(TD) – As duas coisas. Primeiro porque dentro do jogo temos os princípios,

portanto e utilizo no jogo os princípios do nosso jogo, reartindo dentro dos 4

momentos de jogo, portanto, ataque, defesa e transiçoes ataque-defesa e defesa-

ataque e repartindo os princípios de cada uma destas situações, daí o interesse

do jogo em relação ao treino. A forma como eu trabalho, como eu operacionaliza,

a forma como eu vou do geral para o particular nestas fases, daí a importância do

treino em realação ao jogo.

TB – E quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os atingir?

(TD) – Nós não utilizamos nem macrociclos, nem mesociclos. Tenho microciclo e

dsó trabalho com eles e depois, como é lógico, as unidades de treino. Como o

microciclo que trabalho é igual do princípio ao fim da época, salvo raras exepções,

se temos jogos a meio da semana ou não. Já que, desde o primeiro dia da época,

a fase preparatória, até ao último treino, o período competitivo, tirando a

intensidade e volume, portanto temos essas duas variáveis, todo o tipo de trabalho

que faço na pré-época e exatamente o mesmo tipo de trabaho que faço durante o

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Anexo 2

período competitivo, ou seja, divido (...) tenho objectivos próprios para cada dia da

semana, tenho objectivos próprios para o treino da manhã e o treino da tarde, já

que temos treino bi-diarios quase todos os dias e dái seguindo o nosso

planeamento semanal, é ai que eu vou utilizando um barómetro em relação às

cargas do dia anterior, se posso avançar ou se estabiliza, sempre olhando o

objectivo do dia seguinte. Não sei se me fiz entender.

TB –...utiliza, então, um microciclo-padrão... (TD) – Exatamente, onde a única coisa que vai mudando é (...) vamos ver (...)

inicio da época, vou dar um maior enfâse aos princípios correcto? Depois de eles

estarem assimilados por parte de todos os intrevenientes, não dou tanta

importância de uma forma particular, mas partindo já para situações do nosso

modelo de jogo, de uma forma mais geral.

Numa fase inicial trabalho mais o particular e à medida que já estão

adaptados áquilo que pretendemos vamos partindo para situações de jogo para o

geral.

TB –...falou-me à pouco numa alternância entre volume e intensidade. Isto quer dizer que esse tal microciclo rege-se pela forma física dos seus jogadores? (TD) – De dia para dia, ou seja, nós começamos a semana com maior volume e

menor intensidade e à medida que nos vamos aproximando do dia do jogo

baixamos o volume e aumentamos a intensidade, e é sempre com esta paramêtro

semanal que nós trabalhamos, tirando aquelas duas semanas iniciais, que

normalmente se trabalha mais em volume, mas dai para a frente o nosso patamar

é sempre o mesmo.

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Anexo 2

TB – E o que entende por Modelo de Jogo? (TD) – Modelo de jogo é (...) todos os principios de jogo adoptados por nós, neste

caso, dentro da perspectiva das caracteristicas dos nossos jogadores, tirando o

máximo partido deles em prol do colectivo.

TB – isto quer dizer que o modelo de jogo que definiu para a equipa é reflexo da sua filosofia de jogo ou é também adaptado...

(TD) –...às caracteristicas dos nossos jogadores.

TB – Falou-me atrás nos 4 momentos de jogo: ataque, defesa e respectivas transições. Tendo em conta estes momentos, quais são os comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo? (TD) – Comportamentos em que aspecto?

TB –...princípios... (TD) – Tenho mesmo de os escalpelizar?

TB –...não, não. Os grande princípios... (TD) – Na defesa, pressão constante sobre o portador da bola, tentar equilibrar ao

máximo os dois corredores mais próximos da bola (...) nas transições, tentar

ocupar sempre (...) na transição ofensiva ocupar sempre que possível os 3

corredores do jogo, para que possamos conduzir a bola sempre no corredor

central, o tranporte da bola deve ser o mais rápido possível utilizando o menor

número de toques. No ataque organizado tentamos criar sempre 2 apoios para o

condutor da bola, um atrás e um central, ao mesmo tempo criar um movimento de

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Anexo 2

apoio ou de ruptura no sistema deensivo adversário e na transição ataque-defesa

tentamos criar o mais possível superioridade numérica de forma a ocuparmos

racionalmente os espaços de forma a, primeiro, tentar conter o contra-ataque do

adversário, não conseguindo, tentando equilibrar o mais possível o nosso sistema

defensivo.

TB – Quando lhe perguntei acerca dos princípios, questionou-me se os tinha de escalpelizar, isto quer dizer que provavelmente divide ou sub-divide os princípios....

(TD) – Sim, exatamente (...) por isso perguntei se seria necessário escalpelizá-los

todos. De qualquer forma estes são os nossos grandes princípios das diferentes

fases de jogo.

TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais considera mais importantes? (TD) – De uma forma geral, trabalhamos todos eles de forma integrada, dando

maior enfâse aqueles em determinadas situações, por exemplo, nas transições, de

certeza absoluta que, para além da parte técnica, a parte fisica vai ser muito

importante, sejam elas ofensivas ou defensivas, as transições. Se estiver a

trabalhar a componente do ataque organizado, já tenho de dar muito maior enfâse

à técnica e táctica. Na defesa, também já tem a ver com a parte psicológica,

principalmente se estivermos a trabalhar inferioridade numérica defensiva e é

muito importante o tipo de concentração, a parte volitiva do atleta, portanto, vamos

adaptando os principios de acordo com as situações mais especificas

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Anexo 2

TB – Falou-me agora na concentração. Acha que a concentração pode ser trabalhada? Se pode, como? (TD) – Claro que sim. Aliás pode ser treinada. Nós utilizamos algumas técnicas

que possa por ao de cima essa concentração. TB – ...quais? (TD) – Utilizamos muitas das vezes situações que estão incluídas no próprio jogo.

Para mim, o treino tem de ser o mais parecido com o jogo. Como é lógico, num

treino propriamente dito, num treino normal, não ocorrem dois tipos de pressão

que há no jogo, o tempo e o resultado e é através destes dois factores que nós

trabalhamos os exercícios em que os jogadores estão limitados pelo tempo ou

estão subjugados ao resultado. E eu penso que estes dois factores contribuem

bastante para trabalhar a concentração dos atletas. Esta semana, por exemplo,

treinamos bastante situações de bola parada e ruído exterior, para apelar ainda

mais à concentração. E tudo isso, não é mais nem é menos do que o apelar ao

trabalho da concentração dos nossos atletas. TB – Qual o papel do seu preparador físico?

(TD) – Eu, de facto, ao contrário dos meu outros colegas, não tenho treinador

adjunto, tenho, de facto um preparador fisico. E qual o papel dele? Eu acho, que,

por muitos que nós, treinadores, queiramos abranger muitas áreas, acho que há

áreas especificas. Não tendo eu um conhecimento académico da componente

física, optei por, absorver uma pessoa que de facto é especialista naquilo que eu

acho que é o trabalho do futsal, movimentos explosivos e repetidos (...) Fui buscar

uma pessoa que não sabia sequer o que era o futsal, mas que a grande

especialidade dele era exactamente trabalho com velocistas e em que se

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Anexo 2

trabalhava imenso a explosão e para além disso também a forma como ele geria o

trabalho de base, de ginásio, na preparação da equipa que era o que me faltava

como componente principal para o meu trabalho técnico e táctico. E daí eu dizer

que, se calhar, 50% desta equipa é do preparador físico TB – Utiliza, então, o ginásio como complemento aos treinos?

(TD) – Exactamente.

TB – Fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”?

(TD) – A forma como eu caracterizo e sub-divido todas as acções do meu modelo

de jogo. A importância da especificidade para mim é esta: quando eu falei à pouco

que nós tinhamos um microciclo-padrão, o trabalho que nós fazemos de segunda

a quinta-feira (...) trabalhamos o nosso modelo de jogo, trabalhamos a nossa

forma (...) alias o nosso trabalho de uma forma continuada, mas a partir, não sei

se isto vai responder à sua pergunta, a especificidade tem a ver essencialmente

(...) porque eu já trabalhei no inicio da semana dentro das caracteristicas dos

meus atletas, a parte do nosso modelo de jogo, mas depois a especificidade vai

de encontro às caracteristicas do adversário. Não seise lhe estou a responde rà

pergunta ou não. Ou seja, o meu trabalho na parte final da semana, foge um

bocado daquilo que é o nosso modelo de jogo e tento adptá-lo às caracteristicas

do adversário e aí trabalho especificamente. Da forma como poderemos jogar, em

relaçao às caracteristicas do adversário.

TB – Faz então um estudo do adversário? (TD) – Tenho que o fazer.

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Anexo 2

TB – Não teme que isso seja prejudicial ao seu modelo de jogo? (TD) – Não, não é. Porque quando nós falamos que temos um modelo de jogo,

que temos um principio em que vimos a trabalhar ao longo do ano. A partir da 2ª

volta já todas as equipas sabem como atacamos e como defendemos e como é

lógico, tem de haver algumas alterações. Essas alterações nós fazêmo-las

semanalmente. A forma de eu atacar o adversário X não tem a ver com a forma de

eu atacar o adversário Y. Nós temos, 4 rotinas de ataque, posso-lhe chamar

assim, em que trabalhamo-las semanalmente, mas se calhar, para um adversário

não preciso detrabalhar em tanta quantidade as 4, mas vou utilizar mais 2, então

dou maior enfâse às 2. Quem diz para o ataque, diz para a defesa.

Semanalmente, nós trabalhamo-las todas no inicio da semana e quando vamos

trabalhar especificamente para um determinado adversário deixamos aquilo que

achamos que não vai ser tão necessário e concentramo-nos no especifico.

TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que o entende?

(TD) – Forma desportiva é desde o primeiro jogo do período competitivo até ao

último. Vamos manter a forma desportiva o mais nivelada e por cima. Sabemos

que às vezes não se consegue, principalmente quando o plantel é curto, os

jogadores mais utilizados quantitativamente não são (...) em número elevado, há

lesões. Mas tento sempre, e felizmente tenho conseguido isso, pôr mais ou menos

o Sporting numa forma desportiva (...) não temos picos, pronto...é isso. Quando

tento fazer isso, dei-me mal, por exemplo, temtamos fazer isso para a UEFA CUP,

para um ciclo onde vamos ter jogos muito concentrados com pouco tempo e

recuperação, mas não me tenho dado bem com isso, quando quero fazer grandes

alterações porque a equipa está rotinada.

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Anexo 2

TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TD) – Depende. Por exemplo, nós não utilizams o treino do dia seguinte.

Treinamos, normalmente 24/36 horas depois do esforço fisico e muito

honestamente já não há muito a recuperar. Porque o jogador está habituado a

treinar às 10.30 da manhã e as 17.30 da tarde e no dia seguinte outra vez,

portanto o tempo de recupreação dele já está bem trabalhado. Mas fazemos

sempre um trabalho de, pelo menos, como tiveram um tempo anormal de paragem

a seguir ao jogo, fazemos apenas um trabalho de reaproximação ao esforço.

Emocionalmente, já agora, o tipo de trabalho que nós fazemos é simples. E

fazemos isto todos os treinos a seguir ao jogo, e acho que isto é o melhor que é,

cada jogador, olhos nos olhos de todos, fazer a sua análise do jogo, e fazer o seu

mea-culpa, o que teve bem e o que teve mal, penso que quando terminámos esta

fase, está tudo dito, já não tenho grandes coisas para dizer e penso que

psicologicamente o jogador (...) pode haver coisas mehores, mas esta tem dado

bons resultados.

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Anexo 2

ENTREVISTA AO TREINADOR E

Tiago Barros (TB) – O que pensa sobre o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador E (TE) – Primeiro, o trabalho aqui é feito pela equipa técnica, os três(...)

pelos três elementos, pensamos os três em conjunto. E aquilo que nós pensamos

do treino(...) nós não diferenciamos muito o treino do jogo, ou seja, aquilo que nós

planificamos durante toda a época, todos os exercícios são realizados e toda a

parte fisica e parte táctica passa com bola, toda ela desde o primeiro dia de

trabalho(...) e a filosofia, e os jogadores sabem disso, treino é jogo e jogo é treino.

É assim que nós pensamos e é assim que os jogadores começam a entender a

forma de trabalhar desta equipa técnica.

TB – Nessa sua perspectiva, então, considera que é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino? (TE) – Eu acho que estão os dois interligados, e é assim que nós pensamos, tanto

é que, nós temos variadíssimas situações de treino onde o cronómetro funciona,

onde são criadas situações de jogo onde os jogadores obrigatóriamente tem que,

funcionando dentro daquilo que está no modelo de jogo, tem que saber raciocinar,

saber pensar e saber executar rapidamente numa situação do jogo. Por isso é que

todo o trabalho que desenvolvemos parte muito de exercícios de jogo(...) de não

dividirmos o treino e o jogo com coisas diferentes. Eu acho que uma complementa

a outra e os atletas sabem perfeitamente disso e na forma como nós trabalhamos

os atletas tem obrigatoriamente de ver o treino e preparar-se para o treino

exactamente como se preparam para o jogo. Não há grande diferença daquilo que

fazemos durante a semana para o jogo, o pensamento é o mesmo.

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Anexo 2

TB – Para si e para a sua equipa técnica, quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os poder atingir? (TE) – A melhor estratégia passa pela planificação, que é aquilo que nós

fazemos(...). Nós planificamos aquilo que queremos e a partir dai desenvolvemos

todo o nosso trabalho(...) e agora perdi-me na pergunta...

TB – ...quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia, que me disse que passa por uma planificação do treino... (TE) – O modelo de jogo está definido, tanto ofensivo como defensivo, e todo o

trabalho visa, fundamentalmente, que eles consigam ganhar rotinas, dentro do

próprio modelo de jogo, em termos ofensivos e defensivos (...) todo o treino se

baseia muito nisso e todo o treino, na sua grande maioria, 80 a 90% dos

exercícios que executamos aqui, obrigam os jogadores a pensar, ou seja, os

exercícios formam-se em cadeia. Nós temos situações de 1x1, 2x2, todos estes

exercícios são feitos, onde eles começam o exercício numa ponta do campo e

acabam na outra ponta do campo. Eles são capazes de arrancar com um 2x1 e se

calhar a seguir entrar numa outra fase do campo em 3x2. Isto obriga a que todos

os atletas estejam concentrados sempre que está um exercício a fazer,

independentemente de estarem dentro do campo ou não, porque eles executam

de uma forma para baixo e quando vêm em sentido contrário já executam outro

exercício. Tudo isto é feito de forma a que eles pensem, dentro do modelo de jogo

que nós temos definido, e estejam sempre concentrados ao máximo.

A tal situação de nós nunca querermos que eles percam a concentração, que é

das coisas mais importantes que existem no jogo. Isto tudo dentro da planificação

e tudo dentro daquilo que temos muito bem orientado e que eles também tem em

computador (...) sobre tudo aquilo que nós pensamos em termos de ataque,

contra-ataque, tudo isso está bem definido e os treinos passam exactamente por

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Anexo 2

isso. É planificado desde o início da época e a partir daí funcionamos dentro

desses mesmos planos de trabalho

TB – Falou-me à pouco em Modelo de Jogo. O que entende por Modelo de Jogo? (TE) – Modelo de jogo(..) O modelo de jogo que nós temos aqui definido e muito

bem definido(...) nós temos dois modelos: modelo de jogo ofensivo e modelo de

jogo defensivo.

Aqueles princípios com que os jogadores têm que funcionar em termos de ataque

organizado e em termos de defesa organizada. Assim como, quando estamos a

falar na perca de bola, como é que defendemos, rapidamente como voltamos às

nossas posições e quando ganhamos as bolas, como é que partimos para o

contra-ataque, por onde e como(...) dependendo da situação da bola.

O modelo de jogo passa por ai. Depois o sistema que nós podemos

funcionar aqui na Fundação é o 4:0 e o 3:1, um 3:1 móvel, não temos 3:1 fixo, é

um 3:1 móvel, onde do 4:0 se passa para um 3:1 na parte final da parte ofensiva.

Por isso o modelo de jogo está extremamente bem definido, eles sabem o que

devem fazer entre jogar entre linhas ou não jogar entre linhas e a partir daí,

mediante também os nossos adversários, podemos partir em alguns jogos

mediante a defesa que o adversário faz , passarmos para o tal 3:1 móvel ou

mantermo-nos no 4:0. O modelo de jogo, nesse aspecto, está extremamente bem

definido. Todos eles tem muito bem dentro da cabeça, mesmo os novos, que já

chegaram e se conseguiram adaptar.

Depois os sistemas que podemos utilizar aqui, é uma questão de ver o adversário

com quem vamos jogar.

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Anexo 2

TB – No seu caso, o modelo de jogo que definiu ou que a sua equipa técnica definiu para a equipa é reflexo da sua ou da vossa filosofia de jogo ou teve de efectuar alguns reajustamentos, mediante das caracteristicas dos jogadores que tinha e que foram aparecendo?

(TE) – Não. O modelo de jogo foi pensado por nós. Foi desenhado e a partir daí os

jogadores tiveram de se (...) para já estamos numa fase, eu estou no clube, vai

para a terceira época e isto de facto é importante falar porque dos jogadores

quando eu ca cheguei que eram 17, neste momento está cá um, o resto é tudo

novo. Isso foi uma remodelação enorme. Tínhamos uma equipa com muitos

nomes, com a maioria deles acima dos 30 anos e a opção passou por renovar

todo o plantel. Foi esta a grande chave que a direcção quis e quando nos

contratou foi remodelar todo este plantel. Isso tem os seus timings, nós finalmente,

este ano, começamos a acertar naquilo que queremos cá. Daí a importãncia do

modelo de jogo e da adaptação ao modelo de jogo, sabendo nós que no futuro, e

se calhar já na próxima época, é natural que dentro desse modelo de jogo

olhemos um poco às características dos jogadores, para poder criar aqui uma

simbiose melhor, e tirar partido melhor dos jogadores que cá temos.

TB – No seu entendimento do jogo e no modelo de jogo criado, considera importantes as fases ou momentos de jogo?

(TE) – São. No futsal há (...) nós aqui(..) é uma das pechas deste grupo que

existe.

Há uma fase, que eu acho que no futsal é extremamente importante e penso que

eles já começam a perceber, que é quando se perde a bola. É extremamente

complicado quando, no futsal com um campo tão pequeno, e se uma equipa não

está bem organizada, primeiro quando perde a bola como é que rapidamente

consegue defender e se não tem, geralmente paga a factura disso. O grupo é

jovem, jogadores de todos os sitios e mais alguns e depois cada um com o seu

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Anexo 2

sistema de trabalho. Foi uma fase muito dificil, a Fundação passou dois anos

muito difíceis, para conseguir por toda esta gente a pensar da mesma forma e

penso que estamos neste momento a poder colher alguma coisa desse trabalho.

Dai eu dizer que a Fundação já o ano passado perdeu nos play-offs exactamente

porque quando perdíamos a bola não conseguiamos voltar rapidamente às

posições que devíamos e tapar o contra-ataque do adversário. Daí eu considerar a

fase mais importante do jogo, quando se perde a bola. TB – Falou-me à pouco que quer pôr os jogadores a pensar da mesma maneira, tendo em conta os momentos de jogo, quais são os comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo? (TE) – Os comportamentos eles sabem-nos e está no modelo de jogo. Utilizamos

a defesa zona/mista.

Eles sabem que, quando se perde a bola, atendendo a algumas situações (...) há

defesas onde nós sabemos temporizar, eles sabem quando é que o devem fazer.

Há defesas quando perdemos a bola, devemos atacá-la, dependendo da zona de

campo e se o jogador está perto ou se não está, e eles também sabem que devem

voltar às suas posições o mais rapidamente possível e utilizando o menos tempo

possível. Eles sabem para onde devem correr quando a bola é perdida, qual é a

posição que devem realmente ocupar dentro de campo e qual é a posição para

onde devem correr e que mais rapidamente vão lá chegar. Isso está bem definido,

neste momento a equipa faz isso, na minha opinião, em 80% do jogo fá-lo na

perfeição. Penso que nesse aspecto nós caminhamos bem e estamos bem.

TB – Dentro desses comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo, há alguns a que dê mais ênfase do que outros?

(TE) – Em termos defensivos?

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Anexo 2

TB – ...em termos defensivos, ofensivos ou nas transições... (TE) – Todos os comportamentos são importantes, depende de como a equipa

está estruturada para o jogo. Neste momento nós temos(...) dependendo do

adversário, nós preparamos o jogo (...) imagine que jogamos aqui em casa com

uma equipa do meio da tabela, onde tem algumas dificuldades a sair da pressão.

Nós temos uma estratégia para isso, que é pressionar alto, muito alto, criar

rapidamente o erro, onde recupera-mos a bola perto da baliza do adversário e

tentamos fazer golo. É isso que geralmente esta equipa tem feito, durante grande

parte de campeonato(...) Temos tido bons resultados(...) depende depois do

adversário, se for o Sporting, se for o Benfica ou se for o Freixieiro, se calhar

temos de abordar o jogo de uma forma diferente. Saber onde é que podemos

pressionar e como é que vamos sair de trás para a frente, onde é que vamos

ganhar a bola, quem é que vamos pressionar. Esse trabalho é feito e é importante,

agora é importante aquilo que se faz durante a semana, é importante que eles

saibam aquilo que queremos, é importante que(...) eu dou-lhe um exemplo, o jogo

com o Freixieiro, onde nós alteramos a defesa, que raramente o fazemos, mas

achamos que o devíamos fazer devido a um jogador, que se chama Israel e que

cria graves problemas quando está bem. Optámos por fazer um trabalho diferente

durante a semana, onde os jogadores interpretaram bem, não pressionar a

primeira bola, mas pressionar a segunda (...) o mesmo jogador e a partir daí

começar a defesa. Isso trabalhou-se bem durante a semana e o Freixieiro acabou

por ser goleado aqui, muito por força disso, porque raramente conseguiu sair do

meio-campo e nós tivemos situações de finalização umas atrás das outras.

Depende das fases, somos nós que, durante a semana, e mediante o adversário

que temos, somos nós que pensamos como queremos agir e a partir daí acho que

as fases são todas importantes. No Freixieiro era essa: era ganhar a segunda bola

e onde é que iríamos colocar rapidamente e onde devíamos finalizar. Fizemos isso

bem e aos 4/5 minutos estava 4-0.

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Anexo 2

TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais considera mais importantes?

(TE) – A todos (..) Fisicamente, toda a gente sabe que numa modalidade destas

se não estiver bem fisicamente, nem tão pouco pensa. Nem pensa. Por isso eu

acho que todos eles são importantes, cada um na sua área.

Na parte técnica e táctica, que é importante e penso que é um trabalho que se faz

durante todo o ano.

A parte física, sem comentários. Quem não estiver bem fisicamente acho que não

consegue cumprir os outros três.

A parte psicológica é uma parte mais dificil, a nossa média de idades é 21, temos

míudos de 17 anos aqui connosco (...) antes dos 20 anos temos cinco elementos e

a parte psicológica é dura de trabalhar porque há problemas de dentro do próprio

jogo, às vezes a forma de encarar um Benfica, se têm medo ou se não têm medo

de jogar.

Existem outros problemas que muitas vezes passam ao lado que mexem com o

jogador, às vezes o zangar com a namorada, são coisas que a nós já não diz

nada, mas que nós temos de estar atentos ao que se passa por fora e ao que se

passa por dentro. A parte psicológica é extremamente importante. Nós temos um

grupo de jovens e sentimos isso. Neste momento, 2 dos jogadores que chegaram,

em Dezembro, vieram com 26 e 27 anos exactamente por causa disso, são 2

elementos que vieram acrescentar maturidade à equipa e que se as pessoas

quiserem olhar, foi a primeira vez que conseguimos não perder com o Benfica,

não perder com o Sporting, batermo-nos de igual para igual e para quem viu os

jogos, viu uma equipa muito mais madura, muito mais adulta e que jogou o jogo

pelo jogo sem nunca baixar os olhos. Sem olhar para cronómetros, sem olhar para

camisolas e vamos ver quem é que é melhor dentro deste rectângulo. Por isso a

parte psicológica é extremamante importante, apesar de que eu acho que cada

vez mais (...) eu não sou formado, e cada vez mais (...) é uma área onde o Jorge

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Anexo 2

Bráz está mais ligado e é uma área que eu acho que é extremamente importante.

Por vezes a parte psicológica arrebenta com toda uma época. Isto para não falar

dos convites de outros clubes e por aí fora... nunca mais parávamos...

TB – Qual o papel do seu preparador físico?

(TE) – Papel nenhum, porque nós trabalhamos em equipa, em sintonia os três.

Não há preparador, não há treinador principal, não há adjunto. Cada um tem,

como é óbvio, o seu papel dentro da equipa técnica, que isso é que é uma equipa

técnica, não é treinador e treinador adjunto ou preparador, chamem-lhe o que

quiserem. Cada um tem a sua área, o Bráz é muito forte no treino de guarde-redes

e eu tenho de me aproveitar disso(..) mas todo o trabalho que é feito, é feito pela

cabeça dos três, tudo! Falamos, não há lideres. Funcionamos em equipa, o Bráz

se tiver que chamar a atenção do Paulo Tavares, porque está qualquer coisa que

não esta a ser feito do plano de trabalho, pode e deve fazer. Foi o trato que nós

fizemos. Por isso acabamos por puxar os três uns pelos outros. Axo que esta

forma de trabalhar é importante e eu funciono muito na parte da táctica e por aí

fora, mas não faço nada sem falar com o Braz e com o Telmo. Tudo é feito

primeiro no papel, powerpoint, é apresentado aos jogadores e por isso todo o

trabalho é feito em sintonia com os três. Depois a parte fisica não é trabalhada à

parte, nós trabalhamos com bola desde o primeiro dia, todos os exercícios são

feitos com bola, desde a explosão, velocidade, tudo o que você possa imaginar é

feito com bola.

É um trabalho planificado de forma a querermos saber o que vamos trabalhar

durante a semana, na terça, quarta, quinta e sexta e é passado para o papel, por

isso o trabalho é feito pelos três e acho que é assim que deve funcionar uma

equipa técnica. Ninguém deixa adormecer ninguém. Quando alguém adormece

um pouco e às vezes facilita um bocado, porque já vamos com muitos meses de

trabalho, há sempre um dos três que dá um abanão, porque está a fugir um

bocado ao plano ou está a alterar alguma coisa que não se deve. Uma coisa nós

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Anexo 2

temos ciente: o trabalho é planificado, é pensado pelos três(...) eu digo isto muitas

vezes: eu prefiro uma ideia não tão certa, mas que toda a gente pense por ela do

que uma ideia certa mas que cada um puxe pela sua cabeça. É assim que nós

funcionamos, está no papel, decidimos, treinamos e temos de cumprir

exactamente aquilo que está no papel.

É a única forma de depois medirmos isto tudo. Nestes 2 anos fizemos isso, correu

bem e por isso esta periodização antes do período “pré-competição”, não e?(..) e

sinceramente tem sido extremamente simples. Tem sido manter aquilo que já vem

de trás. É óbvio que tem algumas coisas novas, também para não entrar em

saturação, mesmo nos exercicios mas, muito sinceramente, não mudamos muito a

forma de trabalhar. Os jogadores já sabem em que linhas é que se cosem...

TB – Fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”?

(TE) – É muito importante. Mas para isso temos de voltar atrás. Há trabalho

específico que nós fazemos, com o guarda-redes e mesmo com alguns jogadores

que nós achamos que estão mal na finalização ou em alguns aspetos. Há muito

trabalho a fazer aí, não há dúvida absolutamente nenhuma.

Em termos específicos, nós não podemos dizer que trabalhamos muito em termos

específicos. Sabemos a importância que tem, mas também sabemos que não se

constroí um plantel em 2 dias. De forma que, conforme eu lhe disse, eu quando cá

cheguei, tinha 17 jogadores e está cá 1, mas já entraram mais 12 e já sairam, por

isso foi uma remodelação enorme nestes 2 anos e com tudo isto baichamos o

orçamento a metade. Também é importante falar nisto. Muito do trabalho que nós,

no fundo ganhamos, foi modelo de jogo e por estes jogadores a pensar, no fundo

é isso.

O modelo de jogo da maneira que está desenhado, obriga-os a pensar, porque um

jogador decide a movimentação e o outro decide aquilo que deve fazer a seguir

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Anexo 2

com a bola. Além disso foi onde nós perdemos(...) ganhamos muito tempo e há

trabalho específico a fazer, muito (...) não temos trabalhado muito porque

achamos que ainda não estamos lá. Algum desse trabalho tem sido feito,

principalmente com os guarda-redes. Mas muito sinceramente, é um trabalho em

que para o ano sim, vamos entrar a sério(...) em muitas áreas. Nestes 2 anos, não

nos deu sequer tempo para isso. É o primeiro ano que em Dezembro só saem 3

jogadores e a partir daí (..) este ano só foram 3, mas nos outros anos têm saído

aos 7 e 8. Isso tem sido penoso e nós demos prioridade ao modelo de jogo e a

restruturar tudo. Não tínhamos nada do que vocês possam ver aqui. Nada. Zero.

Quando cá chegamos não havia um plano de trabalho, um único e não havia

regras absolutamente nenhumas. Toda a gente ia no autocarro(...)estilo(...) iam

mais directores que jogadores, desde poder beber o que quisessem às refeições,

desde fumar dentro do autocarro. A partir daqui você pode ter uma ideia do que

apanhamos quando cá chegamos e os problemas que tivemos de enfrentar nestes

2 anos.

Tudo isto foi extremamente desgastante e área que nós apontamos como principal

foi organizar o clube, criar um plantel novo(...) implementar um modelo de jogo a

acho que a partir daqui começamos a ter um núcleo de 6/7 jogadores, um núcleo

forte, onde vamos apostar no futuro, trabalhando outras coisas. Isto é incrível mas

era o clube que se chamava de profissional que ainda hoje não é(...).

Felizmente, nestes 2 anos, com todo o trabalho que fizemos, com a época que

estamos a fazer este ano, a direcção começa a dar valor à qualidade no trabalho.

TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que o entende? (TE) – Forma desportiva como?

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Anexo 2

TB – Basicamente, o treinador procura os chamados “patamares de rentabilidade”, na minha perspectiva, isto traduz-se e jogar bem e ganhar os jogos... (TE) – Nós funcionamos com o trabalho sempre igual, não há(..) tirando o pré-

peparatório, que é normal ser um pouco mais específico, a partir daí é com o pé

no acelerador. Não temos picos de forma, não temos alterações de nada. O

conceito é o trabalho daquilo que nós queremos que eles façam no jogo. Estas

semanas são planificadas. É pé no acelerador e só desacelaramos quando acaba

a época. Por vezes há jogadores que começam bem e depois caem um pouco,

mas depois levantam-se outra vez. Conforme nós começamos é conforme nós

acabamos. Temos algum trabalho mais específico devido ao trabalho de

resistência, dentro da primeira semana, a partir dai é pé no acelerador...

TB – Falou-me à bocadinho na concentração. Acha que pode ser trabalhada? (TE) – Eu acho que pode. Nós andamos a inventar alguns exercícios. Alguns

surgem do facto de interligar os objectivos dos exercícios. Estamos a fazer o 2x1 e

depois acabou, não fazem mais nada(...) Nós, cada vez mais, estamos a defender

um 2x1 e mal acaba tem de sair e entrar numa zona de campo para atacar 3x2, a

seguir outra vez até à linha de meio-campo onde vai atacar para 3. Enfim, eles

estão a ser colocados numa forma onde os obrigo a pensar o que vão fazer a

seguir, de forma a não se desligarem. Isto obriga a muito tempo, nós não somos

profissionais, nenhum de nós é profissional, obriga a muito tempo, muito tempo,

muito trabalho. Todos os exercícios tem de ter lógica.

Para mim é importantíssima a concentração. Já perdi jogos pela concentração, n

deles(..) Como é que deve trabalhar? Nós fazemos isso. É uma das área, onde

obrigatóriamente nos vamos ter de dedicar, porque já o ano passado, toda a gente

sabe que por vezes basta a desconcentração de um jogador para estragar aquilo

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Anexo 2

que se fez em 39 minutos. Neste momento trabalhamos na base dos exercícios

condicionados, obrigá-los a pensar.

Aí rapidamente nós nos apercebemos se o jogador está co a cabeça cá ou não.

Se o exercício é defesa à zona e está um a fazer individual (..) pronto algo está

mal. É uma forma de os pôr a pensar.

TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço, quer fisico, quer mental?

(TE) – Mental não lhe sei dizer(...) Aquilo que nós fazemos é (...) geralmente a

alimentação. Quando jogamos fora nós damos muita importância aquilo que eles

comem depois dos jogos. Em casa não podemeos controlar muito. Eles sabem os

cuidados que devem ter a seguir ao jogo. No domingo de manha não fazemos o

treino de recuperação, fazemos segunda-feira de manhã. Já não é a mesma

coisa, mas temos de ter pelo menos um dia para estar com a família.

Geralmente fazem alongamentos com o Telmo, dependendo se existe competição

a meio da semana ou se achamos necessário. A alimentação que nós achamos

que é importante, principalmente depois do jogo e durante o domingo. Eu sei que

há alguns que cumprem, outros não.

Isto é aquilo que nós fazemos, mas podemos fazer mais. Era muito importante

fazer estágio a seguir ao jogo. Nós não temos dinheiro para fazer antes e depois

muito menos. Achamos que é importante.

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Anexo 2

ENTREVISTA AO TREINADOR F

Tiago Barros (TB) – O que pensa sobre o treino e qual é a importância que dá ao treino? Treinador F (TF) – O treino (...) a importância é (...) 100%. Treinar bem é 100%

para estar no jogo. É a partir do treino que criamos uma estratégia para o jogo, por

isso eu considero que é fundamental treinar bem. Treinar bem é estar concentrado

é ter os procedimentos correctos, para que no dia do exame, que é o jogo,

possamos exercitar aquilo que fazemos durante as unidades de treino.

O Freixieiro tem 2 unidades de treino diárias, com 2 horas em cada

unidade. Na segunda-feira fazemos na primeira unidade de treino um recuperação

do jogo de sabado ou domingo. É o inicio da semana, onde a carga fisica vai

tendo um aumento progressivo. É no treino de segunda-feira que, no início,

comentamos aquilo que se passou no jogo,o que temos que melhorar para

noutros jogos não cometermos os mesmos erros. É no inicio da semana que

vamos trabalhando aquilo que temos de fazer no próximo jogo.

Eu previligio as situações de jogo. Tudo o que vou encontrar no jogo é isso

que eu treino. Não existe sistematização no meu treino. Treino consoante o

adversário, consoante a estratégia que o treinador adversário vai implementar,

consoante os jogadores disponiveis desse mesmo adversário. Eu tenho o detalhe,

o pormenor e é nesse microcico, se você quiser, que nós nas unidades de treino

valorizamos a componente física meia hora e treinamos hora e meia em cada

unidade a parte táctica e aquilo que vamos encontrar no jogo.

No inicio da competição, naquele período preparatório, nós valorizamos

mais a componente fisica, para criar uma disponibilidade fisica, para que depois

aguente toda a época. Naturalmente, passados 15 dias, iniciamos a trabalhar a

componente técnico-táctica. É assim que elaboramos a época no Freixieiro.

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Anexo 2

TB – Falou-me agora no treino e no jogo, na sua perspectiva, é o treino que faz o jogo ou o jogo que faz o treino?

(TF) – Olhe (..) nós treinamos para que tudo saia bem no jogo, portanto

dependentemente do jogo é aquilo que eu tenho de treinar, portanto, eu penso

que ambos estão em sintonia. No jogo sei que vou encontrar, por exemplo, um

adversário que me vai pressionar, naturalmente que eu durante as unidades que

tenho na semana, tenho de treinar as saídas de pressão. Tenho de ter mais horas

nesse detalhe. Eu penso que os dois estão agregados um ao outro.

TB – E quais são os objectivos fundamentais do treino, e qual é a melhor estratégia para os atingir? (TF) – Olhe, a melhor estratégia é no dia do jogo a equipa ganhar. Isso é a melhor

estratégia, tanto no plano desportivo, como no plano psiquíco é a melhor.

Naturalmente que as vitórias é o melhor preparo psiquíco que a equipa pode ter.

Além disso temos também o pagamento, que ao dia 15, o presidente vai pagando

tudo certinho e isso é fundamental, pois é a vida deles, e isso é importante, para

que eles estejam 100% a pensar no clube.

Existe um conhecimento das equipas adversárias, eu sei quando uma

equipa faz da estratégia do treinador o contra-ataque, eu sei qual é a equipa que

faz marcação na linha 1, linha 2 ou linha 3, uma equipa que vai pressionar, uma

equipa que gosta de ter a posse de bola, portanto em função do procedimento que

cada um vai ter é isso que eu faço durante as minhas unidades de treino.

Eu conheço o modelo de jogo do adversário, os protagonistas,

naturalmente os treinadores e em função desse modelo tenho de ter o antídoto

necessário para contrariar o sistema de jogo que vou encontrar.

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Anexo 2

TB – E o que entende por Modelo de Jogo? (TF) – Modelo de jogo (..) qual o modelo de jogo da minha equipa?(...) É um

modelo de jogo em que previligio a posse de bola, é um modelo de jogo em que a

maior parte dos minutos utilizamos um sistema, o 3:1, é um modelo de jogo em

que os nossos jogadores procuram através de passes certos, jogadas de

estratégia (..) pronto através de velocidade (...)É nesse modelo de jogo, que eu

tenho para o futsal, naturalmente não vou dizer se está certo ou errado, porque

não sou o dono da verdade, agora gosto da forma que tenho a ideia do futsal.

Naturalmente os jogadores contratados é um função, naturalmente, em função do

modelo de jog que eu tenho aqui para a nossa equipa. Portanto, a ideia, que eu

tenho du futsal, aquilo que eu gosto, é esse o modelo de jogo que nós temos

implementado.

TB – Nesse caso, o modelo de jogo que definiu para a equipa é reflexo da sua filosofia de jogo ou tive de efectuar alguns reajustamentos?

(TF) – Por vezes, os jogadores são sempre contratados em função da ideia que se

tem para o modelo de jogo. Repare, eu há 7/8 anos valorizava mais o modelo de

jogo em que funcionava um sistema de 4:0, em que tinhamos muita posse de bola,

jogar a 2 toques, entradas sem bola, etc. Neste momento, tenho 2 jogadores com

caracteristicas inatas de pivôt (..) e naturalmente que eu tenho de mudar em

relação as caracteristicas, aproveitar, se quiser, as caracteristicas que tenho dos

jogadores e integrá-lo noutro sistema de jogo, que é o 3:1, que jogamos a maior

parte dos 40 minutos de jogo.

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Anexo 2

TB – Quando é que considera ser mais importante trabalhar essa “forma de jogar”? (TF) – Olhe, eu trabalho (...) eu sou um treinador (...) não está em questão ser

melhor ou pior que os outros (..) mas trabalho muito o que vou encontrar.

Você chegou aqui à nossa quadra e viu eu a trabalhar situações que vou

encontrar amanhã. O papel do treinador é apresentar ao jogador aquilo que ele vai

encontrar, para que no dia do jogo, não surja uma situação nova. É obvio que no

momento de jogo, a inspiração do jogador, é isso que vai fazer a diferneça. Agora,

a obrigação do treinador é explicar aquilo que vamos encontrar no jogo.

É óbvio que um treinador não está dentro da quadra, limita-se a dizer aos

seus jogadores como as coisas vão acontecer do outro lado.

TB – No seu entendimento do jogo e no modelo de jogo criado, considera importantes as fases ou momentos de jogo?

(TF) – Sem dúvida, para mim o momento de jogo são os últimos 5 min. De cada

parte. É nos primeiros minutos, que o treinador pode até colocar um jogador novo

2/3. Onde ele pode experimentar um jogador que não tenha tanta regularidade. O

ritmo do jogo vai aumentando consoante os minutos vão passando, o estudo

mutúo que existe nos primeiros minutos da partida são fundamentais para o que o

treinador possa utilizar esse jogador 2/3 minutos.

O momento dificil (...) o momento, pronto, que o treinador tem de colocar a

melhor equipa em jogo, são de facto os últimos 5 minutos de jogo. Na minha

maneira de ver o futsal é o período crítico, onde existe maior desgaste e onde,

para mim, a maior parte dos jogos são ganhos nos últimos 5 minutos.

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Anexo 2

TB – Há quem divida o jogo em 2 ou em 4 momentos: ataque, defesa e respectivas transições. Considera isso importante ou não? (TF) – É importante, mas isso está sempre dentro dos 40 minutos. Até o slogan do

futsal: ataque-contra-ataque responde a essa sua questão. Porque a federação foi

feliz ao criar esse tipo de marketing, porque uma quadra, 4 jogadores para cada

lado, e naturalmente, uma perda de bola dá lugar a uma vantagem numérica e

consegue depois haver ainda uma perda de bola e consegue-se um contra-

ataque. Existe desde o primeiro ao quadragésimo minuto situações dessas na

nossa modalidade. O ataque, ataques rápidos, contra-ataques muito mais

frequentemente do que no futebol de 11, sem dúvida.

TB – E quais são os comportamentos que quer que a sua equipa tenha em campo nesses diferentes momentos de jogo? (TF) – O primeiro passe é fundamental para o sucesso. Quando vamos em

vantagem numérica no primeiro passe e depois, naturalmente, o posicionamento

dos alas contrários. Tenho sempre a indicação aos meus jogadores que quando

roubam a bola, em situação de vantagem numérica, naturalmente, em situação

2x2, 2x1, que caminhem sempre em direcção ao meio para que os alas contrários

sejam sempre opção de quem conduz. E depois é só escolher o melhor

posicionamento e conseguir marcar golo, que é esse o objectivo do jogo.

TB – E há comportamentos a que dê mais ênfase do que outros?

(TF) – Não. Como lhe digo, de facto o primeiro passe é importantissímo na nossa

maneira entender o futsal, e nisso eu trabalho muito de forma a que eles o façam

bem.

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Anexo 2

TB – A forma de atacar e defender exige grandes requesitos a nível técnico, fisico, tactico e psicológico. E entre estes quais considera mais importantes?

(TF) – A defender é a atitude, o querer, depois, naturalmente, está o

posicionamento. Se você pode, de facto, explicar os movimentos da equipa

adversária, a forma como eles jogam com pivôt de referência ou só a passar na

linha de pivôt. Agora, se o jogador não tiver, de facto, atitude, se naão quiser, um

termo mais popular, se não quiser, fica mais dificil para o treinador explicar o

posicionamento, como o jogador adversário se movimenta, como aparece.

Agora, primeiro lugar, na minha maneira de ver, na minha humilde opinião,

a atitude, o querer, porque defender é querer e depois, naturalmente, está o

posicionamento, estão as indicações do treinador e consoante a equipa adversária

se vai reger, como já lhe disse, as coberturas como se vão fazer consoante a linha

que estamos a marcar, se os adversários aparecem muito ao segundo pau, se

deixarmos de funcionar com coberturas estamos a valorizar o 1x1, estamos a dar

moral à nossa equipa, estamos a acreditar no trabalho realizado e não estamos a

dar moral à equipa adversária. Estamos sem receio de enfrentar o adversário. E,

portanto, varia muito com o adversário que vamos encontrar.

TB – Qual o papel do seu preparador físico?

(TF) – É fantástico. Ele faz treinos fantásticos, porque consegue integrar nos

treinos dele, na meia-hora que ele tem à tarde, consegue integrar aquilo que eu

pretendo, ele consegue fazer exercícios onde integra aquelas situações que

falamos à pouco. Por exemplo, ele consegue fazer exercícios de vantagem

numérica 3x2 e num roubo de bola ficar 2x1. Exercícios fantásticos para o treino

que o treinador vai fazer a seguir, portanto, existe uma sintonia entre um e outro

nas duas horas de treino, porque ele faz o treino em função daquilo que eu vou

fazer.

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Anexo 2

TB – ...provavelmente tem um papel mais preponderante na pré-época... (TF) – Como já o disse, o período preparatório são 15 dias que ele fica com a

equipa, onde os jogadores não trabalham nada da parte técnico-táctica. São 15

dias (...) 15 dias que vão dar, de facto uma, regularidade, vão trabalhar, vão

substanciar esse trabalho que ele realizou e depois rege-se por uma manutenção

e depois rege-se por aqueles exercícios que ele vai fazendo integrado no treino

que eu faço. Por exemplo, se eu faço treinos de saída de pressão, que implica

muitos piques, então ele, nessa meia-hora faz um treino onde vai imperar muita

velocidade, então, existe uma sintonia daquilo que eu faço e, naturalmente, ele

sabe o que tem de fazer. É uma pessoa formada e ele integra aquele tipo de treino

para que de facto já cheguem às minhas mãos, já preparados, para que eu dê

tudo a 100 logo. TB – Fala-se muito no trabalho específico. Tendo em conta o planeamento e a preparação do treino, qual a importância deste conceito e do trabalho em “especificidade”? (TF) – Olhe (...) Para nós, como já lhe disse em relação ao inicio da nossa

conversa, eu trabalho muito as situações de jogo e a especificidade que você me

questiona (...) se eu trabalho as situações do jogo, estou a trabalhar em

especificidade que você me fala, porque se eu estou a trabalhar, se eu vou ter um

adversário amanhã, o caso do Sporting, um adversário que me pressiona,

naturalmente que eu esta semana valorizei o trabalho de saída de pressão(...) é

esta especificidade que me questiona. Trabalho muito a especificidade. Trabalhei

mais minutos nestas unidadades de treino, as saídas de pressão, portanto fui

específico. Trabalhei mais essa especificidade.

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Anexo 2

TB – Ligado ao modelo de jogo e aos seus princípios, aparece o conceito de “forma desportiva”. Na sua perspectiva, como é que o entende?

(TF) – Essa forma varia muito a parte psíquica. Um jogador-goleador, que está

habituado ao longo das épocas a marcar muitos golos. Ele pode estar a receber

bem a bola, a passar bem a bola, pode estar a assistir bem os companheiros,

pode estar a criar jogadas de fino recorte técnico, mas não está a marcar (...) não

está a marcar (...) então ele não está em forma, porque não está a marcar golos. A

forma de um goleador é o produto final, que são os golos. Então só estão em

forma quando, de facto, marcam golos.

TB – Acha que a concentração pode ser trabalhada? Se pode, como?

(TF) – A concentração tem muito a ver com a motivação. A concentração, se o

jogador estiver motivado, se o jogador quiser, o jogador (...) por exemplo, a

responsabilidade do jogo (...) Nós somos uma equipa que estamos habituados a

ganhar, sabemos que se não estivermos em 7/8º lugar é complicado para o

presidente arranjar dinheiro. Até nisso nós temos de pensar, então nós temos de

motivar. Sabemos, por exemplo, quando vamos defrontar um clube que está em

baixo na tabela classificativa, por mais que nós queiramos, por mais que nós

queiramos mover os jogaodores para um grau altíssimo de concentração é-nos

muito dificil, mesmo que nós, tentamos transmitir aos jogadores a obrigatoriedade

de ganhar, tentamos transmitir aos jogadores que temas mais unidades de treino,

tentamos dizer aos jogadores que temos de ganhar para melhorar a nossa

posição na tabela, são seres humanos (...) Existe um certo facilitismo, ou mais

tarde ou mais cedo, se resolve o problema e depois não se resolve, depois a

gente quer, quer, quer e não consegue. Ao mesmo tempo que nós demos essa

facilidade, essas equipas vão crescer animicamente, vão acreditando que é

possível.

Penso que a concentração está ligada com a motivação.

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Anexo 2

TB – ...e nos jogos que me diz que são, supostamente mais fáceis, como é que trabalha a motivação ou a concentração? (TF) – Olhe, tento, dentro da cabine, fazer-lhes ver esses valores que lhes

transmiti à pouco. Valorizar a classificação, tento transmitir isso. Agora, acontecem

as surpresas e já fui a uma acção de formação, com Javier Lozano, e surgiu essa

questão, e ele diz que o ser humano é complicado e é-lhe dificil trabalhar. É muito

mais fácil trabalhar quando são jogos importantes.

Nós tentamos explicar as dificuldades que podem surgir se nós não

ganharmos os jogos.

Posso também tentar dar oportunidade a outros jogadores, que jogam

menos tempo, tentá-los colocar em campo, no inicio de jogo, valorizando o

trabalho deles TB – E após um jogo, como é que operacionaliza a recuperação do esforço? (TF) – Olhe, nós jogamos ao sabado e treinamos na segunda-feira de manhã, em

que é o inicio das actividades de treino com uma recuperação activa. Primeiro

treino da semana e naturalmente que a carga é minima, mas sempre um

descanso activo, a trabalhar (...) mas sem cargas de resistência (...) nada disso.

Á tarde eu faço um comentário ao jogo que tivemos, faço um comentário às

situações, poucas, que vamos encontrar no próximo jogo. Consoante as unidade

vão passado, vou aumentando a carga até quinta-feira. Sexta-feira de manhã não

temos treino e de tarde trabalhamos aquilo que você viu, as situações de jogo.

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