Enquanto isso eu escrevo

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enquanto isso eu escrevo Marina Fagundes Gueiros

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Primeiro livro de Marina Fagundes Gueiros, Enquanto Isso, Eu Escrevo é um mosaico que reúne fragmentos de sua vivência. Escrever é abraçar as palavras que quase dão trabalho… mas na verdade sopram vida e tem cheiro de novidade. Pensamentos que invadem a pausa da fala precisam movimentar-se livres, ora correndo,ora dançando. É possível transgredir o padrão de sempre querer explicá-los imediatamente e de vez em quando só observá-los como quem toma conta da criança no parquinho. Escrever é traduzi-los generosamente em frases fluidas e leais cuidando do que é conhecido e convidando o novo pra brincar.

Transcript of Enquanto isso eu escrevo

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Marina Fagundes Gueiros

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Marina Fagundes Gueiros

Copyright © 2011 by Marina Fagundes GueirosCopyright desta edição © 2011 by Livros Ilimitados

LIVROS ILIMITADOSConselho Editorial:BERNARDO COSTA

JOHN LEE MURRAY

LEONARDO MODESTO

Capa: Laércio LourençoDiagramação e miolo: Jorge Paes

Direitos desta edição reservados àRed Pepper Consultoria Marketing e Assessoria Ltda Rua Joaquim Nabuco, 81 – 101Copacabana – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22080-030Tel.: (21) [email protected] www.livrosilimitados.com.br

PARCEIRO

ÍNDICE

1| prefácio 7

1| dentro do túnel 9

2| anseios e ardências 20

3| colos e cafunés 33

4| ciranda de palavras 38

5| suspiros de quem ama 48

6| velas, mastros e cartas de navegação 55

7| motivos e ações 64

A primeira vez que vi Marina foi em uma aula de Biodanza, mais precisamente em uma roda de feedback. Ao entrar na sala, fiquei atenta àquela mulher que falava com uma voz d’agua e de curtos ca-belos de fogo, típicos das pessoas que reivindicam. E a cada minuto, aumentava meu interesse e a minha curiosidade de querer saber e ouvir mais.

O falar da Marina era totalmente integrado com seus gestos, com seu olhar. Ouvi-la foi se tornando um prazer. Era como contem-plar uma dança, era isso! Marina dança quando fala, quando escuta, quando acolhe, quando escreve. Nas suas linhas, ela flui, se integra, se entrega, nos mostra e se mostra com alma e bravura. Tudo isso acon-tece de uma forma leve, sutil, engraçada e arrebatadora. Fala da vida e se compromete com ela da melhor maneira, AMANDO! Sua escrita é um baú cheio de brinquedos esquecidos, poeira, cheiros, novidades e inspiração, que nos faz visitar lugares nossos, aceitar conflitos e ca-minhar de volta pra casa... Gingando!!!

Enquanto isso, eu escrevo é um presente de quem não tem medo de amar, de quem gosta de aprender a viver, de quem leva o amor como asa e escudo, de quem sente prazer só pelo fato do outro existir e de se ver neles. Marina se encontra no outro, na vida e nesse livro pegando tudo que sua vida exige! E a gente se delicia conhecendo Ma-rina com matéria de sonhadora. Com seus pés descalços e sempre de mãos dadas com a vida, ela nos convida e nos inspira a entrar na nossa roda viva com poesia!

Do lugar onde estou aplaudo e dou graças pela sua existência! Sempre...

adrIana Zattar

Assento 1C

Enquanto esse medo de voar não passa, eu escrevo sobre ele... “Logo na frente... vai ser o primeiro a morrer...” Disse o amigo simpático ao camarada sentado do meu lado. Tudo bem que estou na Bahia e tudo parece menos grave e urgente, mas não importa! Querem fazer piada com essa tal de morte... querem nos instruir com manuais “...em caso de pouso de emergência”. O camarada ao lado trocou de lugar e eu continuo aqui sentindo o perfume doce da senhora que ocupou o assento 1B. O avião nem decolou e já estou com o coração à mil... Porque dizer: “...em caso de despressurização, blá, blá, blá”? Poderia ser: “Oi gente vamos ensinar à todos como usar máscaras de oxigênio, caso um dia vocês precisem.” Pouparia minha imaginação criativa dos 5 minutos seguintes de cenas borbulhantes de terror e pânico.Escrevo em cima de um material didático que deve ter custado uma nota pra companhia. Ótima leitura para uma pessoa que beira o pânico. Meu Deus acende essa Luz! Se eu parar de escrever eu morro! Ufa! Que bom! Tem uma Luz individual. Obrigada por esse ato solidário Sr. Chefe de cabine... quase te amo. Socorro! Ele disse aquela frase desgraçada “preparar para a decolagem”. Estou percebendo o meu nível alterado de consciência... pré comatoso... vou desmaiar? to ofegante, mãos suadas, pontada na barriga. To confusa e ja escrevi algumas palavras estranhas que nem saberia o idioma.Será que eles tem um saquinho maior que o de vômito? Melhor do que pedir fralda. Ai que tortura meu Senhor do Bonfim! Me ajuda minha Nossa Senhora! Vai decolar!!! Acho que subiu! Se alguém ler essas palavras é porque sobrevivi.

1 Dentrodo túnel

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Quero chão

...e depois da pior turbulência da minha vida eu vi o sol...

...agradeci... Conheço algumas histórias de turbulência... daquelas que nos surpreendem na rede do Verão.Turbulência parece aviso do fim.Não agüentei! Dessa vez eu chorei... chorei igual criança que levou susto com o cachorro do vizinho... Chorei igual criança esquecida na escola... Eu não entendo de turbulência nunca sei quando vai passar... se vai passar... Tremo por dentro e por fora... As prateleiras de pensamentos mais uma vez foram ao chão... Vejo tudo! ...coisas que não precisavam mais existir... Vejo alguns bons pensamentos, desses que dão luz à escuridão... ...esses voltarão para a prateleira... Os outros... Vão... Eu quero chão... Quero um abraço... Quero um afago... To assustada... muito assustada!A viagem só começou... Treme tudo... músculos que nem conhecia.Quero coragem... Quero imagem de gente feliz... Quero chão... Quero ir... Quero mudar... Quero ser... Quero amar... Amar muito... Quero saborear os melhores sabores... ...sentir os melhores perfumes... Quero chão!...e quando tocar o chão... ...quero esquecer todas as inutilidades que colecionei.Quero ir, sem medo, sem economia, de peito aberto... Eu vou... Eu fui...!

11Enquanto isso eu escrevo

Enquanto isso... a 28D escreve

O 29E está roncando... Que inveja!A 27C também... parece um rádio fora da estação... O 28C está lendo concentradíssimo... A 30C dorme de boca aberta... ...e assim como a maioria deste vôo, foi presenteada como abraço de Morfeu. Meu corpo esta reclinado para frente, minha testa esta enrugadae eu pareço estar esperando o resultado da prova de recuperação.Ainda não vi ninguém nesse estado de ferro retorcidoCadê aquela frase que eu adoro... ”Tripulação, preparar para o pouso”.De repente! Uma “zona de turbulência” foi anunciada no microfone... quase desmaiei de medo... Depois que essa “zona” passou, eu bebi quatro copos d’águae neste momento tenho que administrar inúmeras idas ao banheiro,frios na barriga preocupantes e uma falta do que fazer sem precedentes.Será que é por isso eu escrevo... por não ter o que fazer?Espera aí!Escrever é muita coisa!OK! A justiça é cega mas enxerga no escuro!Eles são os que dormem... e eu sou a que escreve.

12 Marina Fagundes Gueiros

Deixa ele ser

Imaginação é igual avião decolando, nos distancia do solo em segundos e transforma os conhecidos quarteirõesem aquarelas e pontilhados emoldurados por rios e estradas.É tudo tão sutil, sensível, fantástico e assustador!Os barulhos, as paisagens... Quero me encantar com a beleza do por do sol que sussurrapoesias para o horizonte... O medo me rouba a atenção. É isso que o medo faz.Ele assalta a leveza, a poesia da simplicidadee da contemplação.Viver é simples como perceber a beleza do por do sol,o medo vem e complica. Passa correndo e levaa clareza do olhar, a certeza do sentire a entrega ao imprevisível.Eu tenho medo de parar de escrever e sentir medo.É... estou escrevendo sem parar desde que sentei nesse assento 6B.Já escrevi quatro páginas.As emoções precisam de um tempo, um ciclo, uma digestão.Preciso deixar ele vir. Eu não vou morrer de medo.Quero conhecê-lo, saber suas dimensõese aprender a Ser com ele.Obrigada medo, por me ensinar a ver e viver melhor.

13Enquanto isso eu escrevo

Ponte aérea entre o medo e o amor

Ainda tenho medo de avião, eu sinto que ele ainda estaaqui mordiscando o meu calcanhar igual filhote de cachorro.Será que ele quer a minha atenção?Que besteira! Medo não tem vontade!E porque ele é tão dominador?Fico esquecida, esquisita e estridente...meus pensamentos se agitam resmungões... “Porque a comissária de bordo fala inglês assim?Duvido que alguém entenda”“Porque as pessoas trazem tanta bagagem de mãoe demoram tanto pra guardá-las?”“Porque o meu vizinho é tão espaçoso, a ponto de invadiro meu pequeno espaço?”Eu estou uma bruxa! Meus diálogos internos não se calam!“Porque essa criancinha fica emitindo esse som esquisito?Será que ele pensa que tá cantando? Cadê a mãe dele?”“Porque ele não tem medo?”...Ouço aquela frase miserável sobre a “inesperada despressurização”... esse menino não deve entender português, continuacantando a musiquinha esquisita dele como se nadaestivesse acontecendo. É claro! Ele ainda não viveuo bastante pra experimentar o medo de morrer.“Em caso de pouso na água...”Como assim!? A quem eles querem enganar?Esse texto me irrita muito.Acho que preciso de um calmante.Não! Melhor não! Posso apagar e só acordar no destino final, Fortaleza.Porque eu insisto em viajar de avião? Eu respondo!É porque eu quero encontrar o meu amor o mais rápido possível.Aliás, nada melhor do que um amor verdadeiro para enfrentar os medos.Comecei falando de medo e terminei falando de amor.“Ok tripulação, preparar para a decolagem!”

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Medo roupa apertada

Medo é uma roupa estranha. Tenho me perguntado,antes de vestir, se é medo pra sobreviverou deixar de viver. Se for aquele que preserva a vida,que não me deixa entrar no mar revolto eu visto.Se for aquele que paralisa diante do desconhecido,eu mando pra a costureira e peço que transformeem saia rodada de chita.To pronta!Vou sair por aí, dançando de saia bonita,girando, fazendo vento e soprando os medose poeiras de dúvidas pra longe de mim.

15Enquanto isso eu escrevo

Estou à 7 passos do meio do avião

Querido Senhor Chefe de cabine quero lhe dizer quea sua oferta de mais uma folha de papel foi mais umacaridade e para mim representa um renascimento.Sinto-me forte e valente para encarar essa 1h e 43 min. até o Rio.Nesse momento agradeço a minha existência... Que barulho é esse?! Que perfume ruim é esse?!Porque essa criancinha ta tão feliz? Com quem aprendemos a ter medo? Vou mandar matar! Esse avião ta rápido demais... Aquela sensaçãode pré coma ta voltando.Espera aí... vou buscar lembranças da minhaviagem maravilhosa com o meu Golden.OK... muito bem... meus batimento estão normalizando. Nesse instante repasso meus momentos mais agradáveis,minhas vitórias, meus sonhos, sem esquecer das inutilidades, apegos... Pausa para a turbulência... Ta dificil falar da minha subjetividade nesse momentopoderia mergulhar fundo nos segredos da existência...ao invés disso, me perco na tempestade de estímulosdessa aeronave tão simpática, pequena e saculejante.Levei um susto com o barulho do gás que escapou do refrigerante.Opa! O carrinho de bebidinhas e comidinhasacabou de passar! Como assim?O cardápio é amendoim, suco, refri ou água?Vou tomar um porre de suco e depois caminharaté o banheiro umas cinco vezes, o que seria ótimopara me distrair e aliviar o estresse dessasituação limite que me encontro.Vou imaginar que estou no cinema... Ótimo!Acabei de dar uma rápida e corajosa olhadapara trás e achei a disposição dos assentos semelhantesa um sala de cinema... um cinema bem pequeno...

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com o teto baixo, estreito... uma sala bem aconcheganteexibindo filmes cult... mas tem pessoas lendo,dormindo, ouvindo mp3, laptop... no cinema? Jornal, barulho de turbina... Chega! Não quero saber... to no cinema sim,a imaginação é minha e vou comer amendoime beber cinco copos de suco.A sessão vai começar... é um documentáriosobre a vida dos comissários de bordo.O título é “Estou à 7 passos do meio do avião”.Não foi premiado, nem tem bonequinho,mas merece esse olhar poético filosófico.Depois de um longo programa de treinamento,provas e desafios de sobrevivência, eles estão prontos.Prontos para tudo, até mesmo morrer.Não os invejo em nada... Gelo? Suco, água ou refrigerante?Rosto simpático, transmitindo tranqüilidade e segurança. Abro um parêntese para expor minha indignação...o que eu faço com 15g de amendoim? Esse pacote que não abre... tenho medo de abrire de repente voar tudo. Tudo dessas 15g.Agora vem a novidade... um cardápio com produtos à venda.Que absurdo! Ofereceram um amendoim armadilhaque só te deixa com mais fome e você não temoutra escolha a não ser adquirir o “combo” de 15 reais...as surpresas não param... tem até máquina para pagar com cartão.Esse capitalismo... Ih o documentário acabou! Continuo sem saber quem são essas pessoas escondidasnessa fina estampa de prestatividade.Esse vôo deve estar vindo da Disney, já contei cinco crianças... Ai! Tem uma trocando a fralda aqui do lado.Que mistura exótica! Como se já não bastasseo perfume alucinógeno da avó vou ter queencarar esse cheiro de bueiro... A netinha tornou a viagem ainda mais cheia de estímulos.Pelo amor de Deus o que deram pra essa criança comer?Provavelmente um acarajé cheio de pimenta,

17Enquanto isso eu escrevo

aposto toda a minha rinite.Socorro! Não sei se tampo o nariz ou os ouvidos...UAU! Um grito de menina de 3 anos!!!Daqueles bem estridentes, quase explodiu meu cérebro.Que saudade das turbulências!!Se eu quiser uso minha imaginação e elas podemse transformar numa sessão de massagem na “Cadeira de Tokio”. Eu queria poder dizer para a Dona Sachéque os sons de animais que ela tenta reproduzirpara a Sachezinho estão me enlouquecendoe ela não parece feliz.Eu vou gritar!Posso dar um gritinho estridente fingindo ser aCachinhos de gritos e fazer aquele “psssssiu”como se nada tivesse acontecido.Bom... vou parar por aqui... a folha esta acabandoe estou um pouco culpada de falar tão mal dasminhas queridas companheiras de viagem.Entendi tudo! Descobrir que sentir raiva é menosdesestruturante do que sentir medo.Esse insight vai dar pano pra manga!