Ensaio - Comunicação e aprendizagem online
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Comunicação e Aprendizagem Online
Reflexões norteadas pela UC de Psicologia da Comunicação Online
Andréa César
Universidade Aberta de Portugal
http://www.uab.pt/
RESUMO: O presente ensaio tem por objetivo dissertar sobre a comunicação e aprendizagem online,
que amparada pelas tecnologias da informação e comunicação –TICs, vem diminuindo cada vez mais
a percepção da distância física nas interações sociais de cursos ofertados através da web, validando
que a comunicação online pode ser tão eficaz quanto a que é realizada face-a-face, facilitando assim o
aprendizado nesta modalidade. Norteamos nossas reflexões a partir des estudos e partilhas realizadas
com colegas, tendo como ponto de partida os materiais disponibilizados na unidade curricular de
Psicologia da Comunicação Online, do Mestrado de Pedagogia do e-Learning, conduzida pelo
Professor Antônio Quintas.
Palavras-chave: Comunicação Online, Aprendizagem Online, e-Learning.
1. Introdução
Em nossa atuação na Educação a Distância, é comum atender alunos que não acreditam ou
sentem-se inseguros quanto a eficácia do aprendizado online, baseados unicamente no fato que não é
possível aprender de verdade sem estar face-a-face com os professores e colegas. Na grande maioria
das vezes essa impressão é desfeita quando o aluno se dispõe a experimentar a plataforma e a
metodologia, mas a recorrência deste fato indica aos profissionais envolvidos na produção, gestão e
oferta dos cursos online, a necessidade de analisar com cuidado este importante indicador. Análise
essa que deve estar baseada em estudos, tanto empíricos da própria dinâmica do processo, como
acadêmico, guiada por trabalhos sérios de pesquisa de profissionais que se dedicaram ao estudo das
relações de comunicação nos contextos online.
2. Comunicação Face-a-Face e Comunicação Online
Como tão bem dizia o comunicador Chacrinha, “Quem não se comunica, se trumbica!", e a
característica gregária da raça humana torna essa necessidade fundamental para assegurar interações
efetivas.
O nosso corpo, foi o primeiro instrumento de comunicação, complementado pela fala, assim que
o nosso ancestral começou a articular as primeiras palavras. Apendemos assim e esse padrão é
reproduzido com a disciplina biológica da nossa existência, pois quando bebês e crianças, é o choro, o
olhar e as contrações e movimentos musculares que falam sobre as nossas necessidades; só depois e
alguns meses começamos a pronunciar as primeiras palavras e usar a comunicação verbal. O corpo
sempre esteve presente, com maior ou menor intensidade; talvez por isso a resistência em reconhecer
a possibilidade de nos comunicarmos com a ausência do corpo, em um ambiente totalmente virtual, e
a parte do corpo que mais simboliza essa pré-disposição são os olhos. É difícil, para alguns, conceber
uma forma de comunicação que facilite o aprendizado, sem o “olho no olho”, que “estabelece a ligação
e a conexão entre os indivíduos” (Simmel, 1950 citado por Quintas, A.; Morgado, L. & Amante, L.
2010, p. 3)
A necessidade de reproduzir no ciberespaço o modelo tradicional de comunicação ainda move
muitos desenvolvedores de LMS, fudamentados e norteados pela Teoria da Riqueza dos Media, que
defende que a forma mais rica de Comunicação Mediada por Computador (CMC), é a que incorpora
as características da comunicação face-a-face, previlegiando as interações síncronas com uso de
recursos de transmissão e recepção de áudio e vídeo.
Os princípios que norteiam uma comunicação efetiva não estão diretamente relacionados a forma
como ela acontece, se presencialmente ou virtualmente, mas sim ao bom desempenho dos elementos
que compõem um processo de comunicação. Uma mensagem clara, transmitida de maneira eficiente,
através de um canal bem estruturado e para receptores que estejam aptos/receptivos a recebê-las terá
sempre um êxito, independentemente de aconter face-a-face ou através da CMC.
O problema da mimetização proposta pela Largura da Banda e Riqueza dos Media acaba
engessando possiblidades de se pensar novas formas de melhorar a CMC, afinal, quem busca a
aprendizagem a distância busca formas alternativas de estudar, sem a limitação imposta pelo tempo e
pelo espaço. Reproduzir padrões presenciais a partir da priorização da sincronicidade pode ser um fator
negativo para muitos ‘simpatizantes’ do e-Learning.
Em contrapartida, outros estudos surgiram e apresentaram resultados que evidenciam que a CMC
pode ser tão ou mais eficaz que a face-a-face, através das afinidades sociais e psicológicas dos sujeitos
envolvidos, para os quais o cerne de uma boa comunicação está na partilha e trocas de conteúdos de
interesse comum, para o qual questões como a identidade e a sincronicidade não são prioritárias.
Sintetizamos as principais teorias que estudam a comunicação mediatizada, a fim de enfatizar as
principais características de cada uma:
Teorias Tradicionais
• Largura de Banda - Sistemas cuja largura é diretamente proporcional aos recursos que podem suportar: texto, áudio, vídeo. (direcionais ou bi-direcionais)
• Riqueza dos Media - "Quanto mais os media conseguirem imitar ou incorporar características da comunicação face-a-face maior eficácia eles terão" (Quintas, Morgado & Amante,2010).
Comunicação Relacional
• Modelo de Identidade Social - Baseia-se no princípio que para pertencermos ou nos identifircarmos a um grupo , não há necessidade de nos comunicarmos face-a-face. A identidade social irá assegurar as trocas e relações interpessoais.
• Modelo de Comunicação Hiperpessoal - Essencialmente assíncrona, teve respaldo através de pesquisas que grupos visualmente anônimos ultrapassam o nível de interação e afetividade dos grupos cuja comunicação se dá face-a-face. Sem preocupação com apresentação e aceitação da identidade física ou social, os sujeitos afinizam-se pelas convicções e similaridades psicológicas.
Enquanto profissional que atua em comunidades de aprendizagem mediadas por computadores, é
importante estar atento às pesquisas acerca dos processos de comunicação e análise de seus resultados,
pois, como bem diz Conrad (2015):
Um exame da literatura relevante incidirá sobre dois temas relacionados que se concentram
em comunidades de aprendizagem, comunicação e interação. Esses temas podem ser descritos
da seguintes forma: a comunicação e a interação dela resultante são a chave para o sucesso da
aprendizagem online, e comunidades de aprendizagem sadias geram níveis aproporiados e
relevantes de interação. (Conrad, p. 395)
3. Comunicação Online e Aprendizagem
Como dito anteriormente, uma vez rompido o preconceito que não se aprende a distância pela
falta da comunicação face-a-face, um projeto pedagógico que esteja em sintonia com as
especificidades da aprendizagem online e com um bom direcionamento dos processos de
comunicação, poderá reverter essa pré-disposição e tornar o aluno motivado e disposto a percorrer o
percurso de aprendizagem de forma exitosa.
Neste processo, o grande desafio será neutralizar a distância, construindo um ambiente onde a
percepção de presença seja fortalecida através das interações, atividades colaborativas e um sistema
de feedbacks efetivo. O aluno jamais deverá sentir-se só e abandonado. Independentemente de como
a CMC seja estabelecida e dos recursos que serão usados, as demandas deverão sempre ser atendidas
prontamente.
3.1 Distância Transacional
A teoria da Distância Transacional (Moore, 1993) corresponde ao espaço psicológico e
comunicacional que surge da separação entre alunos e professores. Pode ocorrer também na Educação
Presencial e sua extensão ocorre em função de três grupos de variáveis:
Diálogo Educacional – Deve ser intencional, construtivo e valorizado pelas partes envolvidas,
segundo Moore,
Um dos mais importantes fatores ambientais - e o que normalmente atrai mais atenção
das pessoas tanto dentro quanto fora da Educação a Distância - é o meio de
comunicação. À medida que o campo da Educação a Distância amadurece, espera-se
que uma atenção maior seja dada a outras variáveis além do meio de comunicação,
especialmente o projeto de cursos, a seleção e treinamento dos instrutores e o estilo de
aprendizagem dos alunos. (Moore, p.3)
Estrutura do Programa – Esta variável tem o objetivo de descrever os as estratégias, objetivos
e metas para atender a cada necessidade individual do aluno. Deverá prover as oportunidades
adequadas para o diálogo entre professor e aluno, independentemente dos suportes
tecnológicos utilizados.
Autonomia do Aluno – “A autonomia do aluno é a medida pela qual, na relação
ensino/aprendizagem, é o aluno e não o professor quem determina os objetivos, as experiências
de aprendizagem e as decisões de avaliação do programa de aprendizagem.” (Moore, 1993,
p.9) Apesar de não ser uma característica comum e planemente desenvolvida nos estudantes a
distância, os professores devem sempre estimular a aquição das habilidades necessárias para
que tenham autonomia no decorrer do próprio processo de aprendizado.
4. Os números da Aprendizagem Online no Brasil
Interpretar o cenário da oferta de cursos Online sinaliza a importância que a comunicação tem nos
processos de aprendizado e de como ações visando otimizá-la pode impactar positivamente na redução
da evasão.
O Censo EAD Brasil 2014, sinaliza que “o tipo de curso mais comum conta com materiais digitais
disponibilizados on-line e atendimento on-line através de chat, videoconferência, e-mails, fóruns etc.”.
Figura 01 - Distribuição dos cursos
regulamentados totalmente a distância
oferecidos em 2014 dee acordo com o
formato dos materiais e seu modo de
disponibilização. (ABED, 2014, p. 48) .
Figura 02 - Número de instituições por
percentual de evasão em cursos
regulamentados totalmente a distância em
2014 (ABED, 2014, p. 77)
Associando a grande oferta de conteúdos online, temos um outro indicador preocupante , que trata da
evasão, que segundo o Censo, “para a maioria das instituições que participaram da pesquisa, o maior
obstáculo enfrentado foi a evasão, cuja taxa média em 2014 foi de até 25% nas diferentes
modalidades EAD”.
Ao observamos as causas da evasão, temos o seguinte cenário:
Figura 03 - Número de instituições por causas de evasão em cursos regulamentados totalmente a
distância em 2014 (ABED, 2014, p. 77)
A análise desses resultados nos sinaliza como ainda é frágil a estrutura de monitoramento dos
indicadores de qualidade dos cursos online, mas também nos mostra um vasto terreno de pesquisa,
que poderá indicar ajustes metodológicos que auxiliem os estudantes a otimizarem o seu tempo e se
adaptarem com mais tranquilidade à metodologia, além de identificar as causas onde as informações
não foram investigadas. Estudos esses que podem contribuir para a melhoria dos processos da CMC,
com foco na redução da distância transacionale na construção de aprendizados efetivos que possam
ser revertidos em bens sociais a partir de profisisonais competentes.
5. Conclusão
Nas interações humanas, aconteçam onde acontecerem, é importante estarmos sempre atentos aos
aspectos psicológicos que norteiam as expectativas dos sujeitos envolvidos, e elas podem variar
bastante.
A percepção de distância pode ser neutralizada, a partir do momento que vínculos afetivos e
motivacionais sejam criados e estimulados.
Acreditamos, assim como Quintas, Morgado e Amante (2010), que “Ensinar e aprender online
implica o estabelecimento de relações interpessoais e educacionais ou seja o estabelecimento de
interacções e transacções entre os sujeitos e entre os sujeitos e os “objectos” de aprendizagem.”
Para estabelecer essas relações faz-se necessário que os profissionais envolvidos nos programas
de ensino e aprendizagem online tenham sua prática norteada pela aprendizagem e atualização
contínuas, ajustando metodologias e recursos que não estejam em consonância com as espectativas
dos alunos e implementando recursos que estimulem a interação e o diálogo.
Estar sempre receptivo para novas experimentações, diálogos, inquirições.
Manter a motivação, a paixão, a curiosidade.
Estimular e acompanhar nossos alunos, principalmente com o nosso exemplo.
Acredito neste caminho.
"É porque se integra - na medida em que se relaciona, e não apenas se acomoda - que o
homem cria, recria e decide." Paulo Freire
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Quintas, A., Morgado, L. & Amante, L. (2010). Comunicação Mediatizada por Computador Educação
Online: da Distância à Proximidade. In: Silva, M., Pesce, L. e Zuin, A.- Educação online: cenário,
formação e questões didáctico-metodológicas. Rio de Janeiro: Editora WAK.
Conrad, D. (2015). Interação e Comunicação em Comunidades de Aprendizagem Online: rumo a um
futuro engajado e flexível. Em Zawacki-Richter, O.; Anderson, T. (Org.), Educação a Distância
Online, construindo uma agenda de pesquisa. (p. 395). São Paulo: Artesanato Educacional.
ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância. (2014). Censo EaD.BR, Relatório Analítico
da Aprendizagem a Distância no Brasil. Recuperado em 02 de março de 2016, de
http://www.abed.org.br/censoead2014/CensoEAD2014_portugues.pdf
Moore, M. G. (1993). Teoria da Distância Transacional. Publicado em Keegan, D. (1993) Theoretical
Principles of Distance Education. London: Routledge, p. 22-38. Recuperado em 04 de março de
2016, de
http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2002_Teoria_Distancia_Transacion
al_Michael_Moore.pdf