ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

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ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E AVANÇADOS PARA AVALIAÇÃO DE ESTADOS CRÍTICOS EM REJEITOS DE FERRO DANILO MANATA ELOI MESTRADO EM MECÂNICA DOS SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA Dissertação submetida para obtenção do grau de Mestre em Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto FEVEREIRO DE 2021

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ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E AVANÇADOS PARA AVALIAÇÃO

DE ESTADOS CRÍTICOS EM REJEITOS DE FERRO

DANILO MANATA ELOI

MESTRADO EM MECÂNICA DOS SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA

Dissertação submetida para obtenção do grau de Mestre em Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica na Faculdade de Engenharia da Universidade

do Porto

FEVEREIRO DE 2021

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ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E AVANÇADOS PARA AVALIAÇÃO

DE ESTADOS CRÍTICOS EM REJEITOS DE FERRO

DANILO MANATA ELOI

MESTRADO EM MECÂNICA DOS SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA

Orientador: Professor Doutor António J. P. Viana Da Fonseca

Coorientador: Professora Doutora Ecidinéia Pinto Soares de Mendonça

FEVEREIRO DE 2021

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“Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.”

Machado de Assis

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Índice Geral

RESUMO.......................................................................................................................... IV

ABSTRACT........................................................................................................................ V

AGRADECIMENTOS........................................................................................................... VI

ÍNDICE DO TEXTO............................................................................................................. VII

ÍNDICE DE FIGURAS........................................................................................................... X

ÍNDICE DE TABELAS......................................................................................................... XV

SIMBOLOGIA.................................................................................................................. XVI

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................1 2 ESTADO DA ARTE ..................................................................................................... 5 3 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................... 40 4 RESULTADOS E CONCLUSÕES.............................................................................. 72 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................. 94

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RESUMO

Os rejeitos de minério são, em sua maioria, materiais areno-siltosos muito

finos que quando sujeitos a grandes tensões de confinamento, como as que

ocorrem a grandes profundidades nas barragens de deposição, tendem a

diminuir seus índices de vazios até esses atingirem o índice de vazios crítico.

Esses materiais quando atingem esse índice de vazios crítico podem deformar-

se sob tensão e volume constantes, sendo esse índice de vazios crítico um

parâmetro determinante para a obtenção da linha de estados críticos do material,

sendo que essa linha delimita a fronteira entre os estados soltos e densos, que

sob carregamento drenado impõem ao material um comportamento contrátil ou

dilatante respectivamente. No caso de carregamentos não drenados, podem

ocorrer excessos de poropressão positivas nos materiais soltos ou pouco

densos, levando a uma redução das tensões efetivas do rejeito e assim a uma

maior susceptibilidade à liquefação.

O processo de determinação da linha de estado crítico (LEC), e o seu uso

como referência para avaliar a suscetibilidade à liquefação, vem ganhando

impulso mais recentemente, em detrimento de abordagens empíricas e menos

rigorosas. Tendo o laboratório de geotecnia da FEUP feito parte de estudos que

viriam a fundamentar as bases para garantir melhor qualidade destas

determinações, procurou-se, através deste trabalho de dissertação, fazer uma

análise comparada dos equipamentos, métodos e processos, conduzidos no

Laboratório de Geotecnia da FEUP e no Laboratório de Geotecnia da EE/UFMG

para explicar, a obtenção de resultados diferenciados e consequentes distintas

linhas de estado crítico (LEC).

Assim, identificaram-se nesse trabalho, fatores que podem explicar essas

diferenças, como a utilização de bases lubrificadas e topos guiados no

laboratório da FEUP e a ausência desses equipamentos na EE/UFMG, e suas

implicações nos parâmetros que a calibração resultante dos dois conjuntos de

resultados de ensaios poderá ter em modelos constitutivos, usados em análises

de estabilidade de estruturas de deposição e contenção de rejeitos,

particularmente em métodos de cálculo em tensão-deformação recorrendo a

ferramentas de modelação numéricas.

Palavras-chave:

liquefação, ensaios triaxiais, ensaios de compressão, linha de estados críticos,

mineração, barragens

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ABSTRACT

Most tailings are very fine sand-silty materials which, when subjected to

large confinement stresses, such as those occurring at great depths in deposition

dams, tend to decrease their void rates until they reach the critical voids. When

these materials reach this critical void index, they can deform under constant

tension and volume, this critical void index being a determining parameter for

obtaining the critical state line of the material, and this line delimits the boundary

between the loose states and dense, which under drained loading impose on the

material a contractile or dilating behavior respectively. In the case of non-drained

loads, positive poropressure excesses may occur in loose or sparsely dense

materials, leading to a reduction in the effective tailing stresses and thus a greater

susceptibility to liquefaction.

The process of determining the critical state line (LEC), and its use as a

reference to assess susceptibility to liquefaction, has been gaining recently, to

the detriment of empirical and less rigorous approaches. Since FEUP's

geotechnical laboratory was part of studies that would support the bases to

guarantee better quality of these determinations, it was sought, through this

dissertation work, to make a comparative analysis of the equipment, methods

and processes, conducted at the Geotechnical Laboratory from FEUP and at the

Geotechnical Laboratory of EE/UFMG to explain, the achievement of

differentiated results and consequent distinct lines of critical state (LEC).

Thus, factors that may explain these differences were identified in this

work, such as the use of lubricated bases and guided tops in the FEUP laboratory

and the absence of such equipment in EE/UFMG, and their implications for the

parameters that the resulting calibration of the two sets of test results you can

have in constitutive models, used in stability analysis of deposition structures and

tailings containment, particularly in stress-strain calculation methods using

numerical modeling tools.

Keywords:

liquefaction, triaxial trials, compression test, critical state line, mining, dams

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AGRADECIMENTOS

São inúmeras as pessoas a quem devo agradecer por me guiarem, incentivarem

e me apoiarem nesse trabalho, faltando-me palavras para expressar o apreço

que carrego para com todas elas.

Agradeço em primeiro lugar ao Professor António Viana da Fonseca, orientador

deste trabalho, por todo o empenho ao me orientar, mesmo com as adversidades

dos tempos de pandemia, a disponibilidade e por me agregar grande

conhecimento no Laboratório de Geotecnia da FEUP. Agradeço-lhe também

pela amizade que edificamos, sendo um grande mentor em minhas decisões, me

aconselhando sempre com muito esmero.

Agradeço a Professora Ecidinéia Pinto Soares de Mendonça por se prontificar a

me coorientar, apoiando e incentivando as atividades desse trabalho.

Agradeço também ao Professor Antônio Ananias de Mendonça por me abrir as

portas do Laboratório de Geotecnia da UFMG em meio aos tempos difíceis de

pandemia, e por se prontificar sempre a me auxiliar nos ensaios, incentivar nos

momentos adversos, sanar minhas dúvidas e ser um amigo que me guia em

diversas decisões.

Agradeço aos colegas do Laboratório de Geotecnia da FEUP, Diana, Fausto,

Catarina, Rubens, Isabela e Daniela por toda a dedicação em me ensinarem

sobre os diversos ensaios no tempo em que lá estive.

Agradeço aos colegas do Mestrado em Mecânica dos Solos e Engenharia

Geotécnica da FEUP por todos os momentos de auxílio nos estudos e, também,

pelo apoio afável, quando me foi necessário, devido as adversidades da vida

pessoal.

Agradeço a minha mãe por ser sempre um colo sagrado que me acolhe,

acalenta, aconchega e protege, sendo a minha principal conselheira nos

momentos de dor, medo ou dúvida. O conforto de suas palavras durante o

decorrer desse trabalho é a definição inequívoca do amor e do benquerer.

Agradeço a meu pai por ser um alicerce para minhas decisões, sendo grande

apoiador de minhas ideias e vibrante em minhas conquistas.

Agradeço a meus irmãos por sempre me agigantarem, sendo eles meus ídolos

e maiores referencias de humanidade.

Agradeço aos amigos do Brasil que me visitaram e aos que sempre me

contactaram ajudando assim a diminuir a saudade de meu país e aos amigos de

Portugal por sempre se disponibilizarem.

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ÍNDICE DO TEXTO

1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1

1.1 Relevância da pesquisa..................................................................................1

1.2 Objetivos........................................................................................................ 2

1.2.1 Objetivos Gerais....................................................................................... 2

1.2.2 Objetivos específicos................................................................................ 3

1.3 Organização da dissertação.......................................................................... 3

2 - ESTADO DA ARTE........................................................................................ 5

2.1 Introdução...................................................................................................... 5

2.2 Resíduos de mineração................................................................................. 5

2.3 Rejeitos de mineração................................................................................... 6

2.4 Formas de deposição de rejeitos................................................................... 7

2.4.1 Deposição subterrânea............................................................................ 7

2.4.2 Deposição subaquática............................................................................ 8

2.4.3 Deposição superficial............................................................................... 8

2.5 Tipos de barragens de rejeitos....................................................................... 8

2.5.1 Método de alteamento a montante........................................................... 9

2.5.2 Método de alteamento a jusante............................................................. 11

2.5.3 Método de alteamento por linhas de centro............................................ 12

2.6 Caracterização geotécnica de rejeitos de mineração................................... 13

2.6.1 Granulometria de rejeitos....................................................................... 13

2.6.2 Massa específica.................................................................................... 15

2.6.3 Compressibilidade e Adensamentos/Consolidação............................... 16

2.6.3.1 Teoria do adensamento unidimensional............................................ 16

2.6.3.2 Teoria do adensamento com deformações finitas............................. 17

2.6.4 Permeabilidade...................................................................................... 17

2.6.5 Limites de Atterberg................................................................................ 18

2.6.6 Parâmetros de resistência...................................................................... 19

2.6.7 Parâmetros elásticos.............................................................................. 19

2.7 Liquefação................................................................................................... 20

2.7.1 Métodos da análise da susceptibilidade a liquefação (ensaios de campo

e de laboratório).............................................................................................. 20

2.7.1.1 Análise por meio de ensaios de granulometria.................................. 20

2.7.1.2 Análise pelo método de Olson (2001)................................................ 22

2.7.1.3 Análise pelo método de Schnaid e Yu (2007).................................... 23

2.7.1.4 Análise pelo método de Robertson (2016)......................................... 24

2.7.1.5 Análises pelo formato dos grãos........................................................ 27

2.7.1.6 Análises pelo índice de plasticidade e limite de liquidez.................... 27

2.7.1.7 Análises pela presença de finos........................................................ 28

2.7.1.8 Análises pelo parâmetro de estado in situ.......................................... 30

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2.7.2 Teoria dos estados críticos..................................................................... 31

2.7.2.1 Critério do índice de vazios críticos.................................................... 31

2.7.2.2 Critério do estado de deformação...................................................... 33

2.7.2.3 Critério do parâmetro de estado........................................................ 35

2.7.3 Fluxo por liquefação............................................................................... 37

2.7.4 Influência do excesso de poropressão.................................................... 38

2.8 Método dos elementos finitos em obras geotécnicas................................... 39

3 – MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................... 40

3.1 Materiais...................................................................................................... 40

3.2 Métodos....................................................................................................... 40

3.2.1 Caracterização....................................................................................... 40

3.2.1.1 Granulometria................................................................................... 41

3.2.1.1.1 Análise granulométrica FEUP...................................................... 41

3.2.1.1.2 Análise granulométrica EE/UFMG................................................ 45

3.2.1.2 Massa específica (Gs)....................................................................... 48

3.2.1.2.1 Massa específica FEUP............................................................... 48

3.2.1.2.2 Massa específica EE/UFMG........................................................ 50

3.2.2 Consolidação e Adensamento................................................................ 53

3.2.2.1 Edométrico FEUP.............................................................................. 53

3.2.2.2 Edométrico EE/UFMG....................................................................... 54

3.2.3 Resistência............................................................................................. 55

3.2.3.1 Ensaios triaxiais executados na FEUP.............................................. 56

3.2.3.1.1 Preparação das amostras e instalação da câmara....................... 56

3.2.3.1.2 Passagem de CO2, percolação, saturação e verificação da

saturação.................................................................................................... 60

3.2.3.1.3 Consolidação das amostras......................................................... 62

3.2.3.1.4 Corte das amostras...................................................................... 62

3.2.3.1.5 Congelamento da amostra e da base........................................... 63

3.2.3.2 Ensaios triaxiais executados na EE/UFMG....................................... 64

3.2.3.2.1 Preparação das amostras e instalação da câmara....................... 64

3.2.3.2.2 Percolação, saturação e verificação da saturação........................ 67

3.2.3.2.3 Consolidação das amostras......................................................... 68

3.2.3.2.4 Corte das amostras...................................................................... 69

4 – RESULTADOS E CONCLUSÕES............................................................... 72

4.1 Ensaios de caracterização dos rejeitos........................................................ 72

4.2 Ensaios de compressibilidade..................................................................... 76

4.3 Ensaio de resistência................................................................................... 77

4.4 Modelação numérica no software RS2 utilizando modelo NORSAND......... 85

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5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 94

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ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.01 – Produção brasileira e mundial de minério de ferro, (adaptado

DTTM/SGM 2019)......................................................................................... 2

Figura 2.01 – Diagrama representativo de tratamento de minério, (Luz e Lins,

2018)............................................................................................................. 6

Figura 2.02 – Método construtivo de alteamento a montante (adaptado de Vick,

1983)............................................................................................................. 9

Figura 2.03 – Detalhe de situação dos drenos (Cardozo, et al., 2016)............. 10

Figura 2.04 – Método construtivo de alteamento a jusante (adaptado de Vick,

1983)........................................................................................................... 11

Figura 2.05 – Método construtivo de alteamento por linhas de centro (adaptado

de Vick,1983).............................................................................................. 12

Figura 2.06 – Curvas granulométricas de rejeitos de minério de ferro da região

do quadrilátero ferrífero (Pereira, 2012)...................................................... 14

Figura 2.07 – Faixas granulométricas dos principais rejeitos das usinas de

minério de ferro da região do quadrilátero ferrífero (Guimarães, 2011)....... 15

Figura 2.08 – Faixas granulométricas propostas por Tsuchida (1970) (retirado de

Junior et al., 2019)....................................................................................... 21

Figura 2.09 – Estudos de materiais de Olson com a envoltória de Fear e

Robertson (1995) propostas por Olson (2001) (APVD Junior et al., 2019).. 23

Figura 2.10 – Diagrama Qtn x IG para identificação de microestrutura nos solos

(APVD Junior et al., 2019)........................................................................... 25

Figura 2.11 – Diagrama para classificação de solos SBTn atualizado (APVD

Junior et al., 2019)....................................................................................... 27

Figura 2.12 – Efeitos do teor de finos nas razões de vazio máximo e mínimo para

areias siltosas (Lade et al., 2009)................................................................ 28

Figura 2.13 – Relação entre a variação da compressibilidade com o teor de finos

e a densidade relativa (Lade et al., 2009).................................................... 29

Figura 2.14 – Trajetórias de tensões efetivas de ensaios triaxiais não drenados

em amostras com diferentes tensões efetivas e teor de finos constante (Lade

et al., 2009)................................................................................................. 30

Figura 2.15 – (a) gráfico Tensão x deformação (b)gráfico Tensão x índice de

vazios para amostras soltas e densas de areia (Kramer, 1996).................. 31

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Figura 2.16 – Linha de vazios crítica delimitando o estado denso e o solto

(Kramer, 1996)............................................................................................ 32

Figura 2.17 – (a) escala aritmética (b) escala logarítmica do comportamento de

areias soltas e densas em condições drenadas e não drenadas (Kramer,

1996)........................................................................................................... 32

Figura 2.18 – Linha de estados críticos delimitando comportamentos

susceptíveis a liquefação e não susceptíveis a liquefação (Kramer,

1996)........................................................................................................... 33

Figura 2.19 – Liquefação, liquefação limitada e dilatação em ensaios de

carregamento estático realizados por Castro em 1969 (Kramer,

1996)........................................................................................................... 33

Figura 2.20 – Projeção tridimensional da linha de estado permanente (Kramer,

1996)........................................................................................................... 34

Figura 2.21 – Demonstração do parâmetro de estado (Kramer,

1996)........................................................................................................... 36

Figura 2.22 – Respostas de cinco ensaios triaxiais consolidados isotropicamente

com o mesmo índice de vazios inicial em diferentes tensões de

confinamento. Determinação da superfície de fluxo por liquefação nas

amostras C, D e E nos pontos marcados com um x (Kramer,

1996)........................................................................................................... 38

Figura 2.23 – Zona suscetível à liquefação por fluxo (Kramer, 1996)................ 39

Figura 3.01 – Exemplo de barragem com rejeitos de Minério de Ferro da região

do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, Brasil (Fonte:

www.estadodeminas.com.br, 2019)............................................................ 40

Figura 3.02 – Rejeito sobre tábua de esquartelamento ..................................... 41

Figura 3.03 – Rejeito em repouso ..................................................................... 42

Figura 3.04 – Rejeito no dispersor ..................................................................... 42

Figura 3.05 – Rejeito grosso retirado da estufa ................................................. 43

Figura 3.06 – Peneiras no agitador ................................................................... 43

Figura 3.07 – Rejeito grosso separado por peneiras ......................................... 44

Figura 3.08 – Medição da temperatura e densidade da amostra ...................... 44

Figura 3.09 – Rejeito em umidade higroscópica ................................................ 45

Figura 3.10 – Rejeito destorroado e homogeneizado ........................................ 45

Figura 3.11 – Medição da densidade ................................................................ 46

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Figura 3.12 – Material dentro da estufa utilizada na EE/UFMG ........................ 47

Figura 3.13 – Peneiras no agitador da EE/UFMG ............................................. 47

Figura 3.14 – Rejeito sendo despejado no picnômetro...................................... 48

Figura 3.15 – Rejeito sobre placa de aquecer ................................................... 49

Figura 3.16 – Tabela para determinação das massas específicas da FEUP .... 49

Figura 3.17 – Rejeito para análise da massa específica em repouso na EE/UFMG

.................................................................................................................... 50

Figura 3.18 – Aplicação do vácuo sobre o rejeito na EE/UFMG........................ 51

Figura 3.19 – Tabela para determinação das massas específicas da EE/UFMG

.................................................................................................................... 52

Figura 3.20 – Equipamento para ensaio Edométrico da Universidade do Porto

.................................................................................................................... 53

Figura 3.21 – Equipamento para ensaio Edométrico da EE/UFMG................... 54

Figura 3.22 – Amostra para ensaio Edométrico da EE/UFMG .......................... 54

Figura 3.23 – Exemplo de câmara triaxial convencional utilizada (Fonte: Matos

Fernandes, 2017)........................................................................................ 55

Figura 3.24 – Homogeneização de amostra para ensaio triaxial da FEUP

.................................................................................................................... 56

Figura 3.25 – Bases lubrificadas da FEUP......................................................... 57

Figura 3.26 – Montagem de camada da amostra para ensaio triaxial da FEUP

.................................................................................................................... 58

Figura 3.27 – Retirada do corpo de molde da amostra para ensaio triaxial da

FEUP.......................................................................................................... 59

Figura 3.28 – Enchimento da câmara para ensaio triaxial da FEUP.................. 60

Figura 3.29 – Passagem de CO2 em amostra para ensaio triaxial da FEUP

.................................................................................................................... 61

Figura 3.30 – Saturação da amostra para ensaio triaxial da FEUP................... 61

Figura 3.31 – Corte da amostra em ensaio triaxial da FEUP ............................ 63

Figura 3.32 – Amostra congelada após ensaio triaxial na FEUP ...................... 64

Figura 3.33 – Corpo de molde sobre base da câmara da EE/UFMG ................ 65

Figura 3.34 – Peso de rejeito em uma camada para ensaio triaxial da EE/UFMG

.................................................................................................................... 66

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Figura 3.35 – Amostra para ensaio triaxial da EE/UFMG .................................. 66

Figura 3.36 – Enchimento da câmara com a amostra para ensaio triaxial da

EE/UFMG ................................................................................................... 67

Figura 3.37 – Saturação da amostra para ensaio triaxial da EE/UFMG ............ 68

Figura 3.38 – Manômetro utilizado no ensaio triaxial da EE/UFMG .................. 68

Figura 3.39 – Painel de pressões utilizado no ensaio triaxial da EE/UFMG...... 69

Figura 3.40 – Ensaio não drenado executado na EE/UFMG............................ 70

Figura 3.41 – Ensaio drenado rompido executado na EE/UFMG...................... 71

Figura 4.01 – Curva granulométrica obtida na FEUP......................................... 72

Figura 4.02 – Curvas granulométricas obtidas na EE/UFMG em ensaios com e

sem defloculante ........................................................................................ 73

Figura 4.03 – Curvas granulométricas obtidas na FEUP e na EE/UFMG em

ensaios com defloculante ........................................................................... 74

Figura 4.04 – Tabela para determinação do GS da EE/UFMG ......................... 75

Figura 4.05 – Curva de compressibilidade obtida nos ensaios na FEUP........... 76

Figura 4.06 – LEC no plano p’ x e definida na FEUP ........................................ 79

Figura 4.07 – LEC no plano p’ x e definida na EE/UFMG ................................. 79

Figura 4.08 – LEC no plano p’ x e (FEUP e EE/UFMG)..................................... 80

Figura 4.09 – Gráfico p’ x q da FEUP ................................................................ 81

Figura 4.10 – Gráfico p’ x q da EE/UFMG ......................................................... 81

Figura 4.11 – Gráfico p’ x e da EE/UFMG com ensaio não drenado ................ 82

Figura 4.12 – Gráfico p’ x q da EE/UFMG com ensaio não drenado ................ 82

Figura 4.13 – Gráfico εa x q da FEUP ................................................................ 83

Figura 4.14 – Gráfico εa x εv da FEUP ............................................................... 84

Figura 4.15 – Gráfico εa x q da EE/UFMG ......................................................... 84

Figura 4.16 – Gráfico εa x εv da EE/UFMG ........................................................ 84

Figura 4.17 – Gráfico εa x u da EE/UFMG ....................................................... 85

Figura 4.18 – Gráfico ψ em Dmin versus Dmin ..................................................... 87

Figura 4.19 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico εa x q FEUP

.................................................................................................................... 88

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xiv

Figura 4.20 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico εa x εv FEUP

.................................................................................................................... 88

Figura 4.21 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico q x p’ FEUP

.................................................................................................................... 88

Figura 4.22 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico εa x q EE/UFMG

.................................................................................................................... 89

Figura 4.23 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico εa x εv

EE/UFMG................................................................................................... 90

Figura 4.24 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico p’ x q EE/UFMG

.......................................................................................................................... 90

Figura 4.25 – Comparação entre resultados da modelação numérica e ensaios

experimentais no gráfico p’ x e da FEUP..................................................... 91

Figura 4.26 – Comparação entre resultados da modelação numérica e ensaios

experimentais no gráfico p’ x e da EE/UFMG ............................................. 91

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xv

ÍNDICE DE TABELAS Tabela 4.01 – Resumo das condições iniciais dos corpos de prova para cada

fase dos ensaios triaxiais na FEUP ............................................................. 78

Tabela 4.02 – Resumo das condições iniciais dos corpos de prova para cada

fase dos ensaios triaxiais na EE/UFMG....................................................... 78

Tabela 4.03 – Parâmetros do modelo NorSand assumidos neste estudo de

sensibilidade, enquadrados pelos valores típico de acordo com Jefferies e

Been (2016)................................................................................................ 87

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SIMBOLOGIA ALFABETO LATINO B Parâmetro de poropressão de Skempton

Cp Fator de correção do nível de tensão

cc Coeficiente de compressibilidade

cr Coeficiente de recompressibilidade

cs Coeficiente de expansibilidade

D Diâmetro

Dmin Dilatância máxima

E Especificação

e Índice de vazios

ec Índice de vazios crítico

emáx Índice de vazios máximo

emin Índice de vazios mínimo

ess Índice de vazios da linha de estado estacionário

Fr Parâmetro do atrito medido em percentual

fs Resistência de atrito lateral do cone

Go Modulo cisalhante a pequenas deformações

Gs Densidade real dos grãos

gd Peso volúmico seco

H Altura

Ic Índice de classificação do tipo de material no ábaco SBTn

IG Índice de rigidez de pequena deformação

K*G Índice de rigidez de pequenas deformações normalizado

K0 Coeficiente de empuxo em repouso

Kc Coeficiente de correção

Page 21: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

xvii

M Rácio de tensões no estado crítico

n Expoente de correção para o solo

p' Tensão efetiva média

pa Pressão atmosférica

Qtn Resistência de ponta do cone normalizada com uma

variável expoente de estresse

Qtn,cs Resistência de ponta normalizada corrigida

q Tensão de desvio

qc Resistência de ponta medida em campo

qc1 Resistência de ponta normalizada pela tensão vertical

efetiva

qc2 Resistência de ponta corrigida

qn Resistência de cone

qt Resistencia de ponta corrigida

Wd Peso seco

w Teor de umidade

χ Parâmetro que relaciona a dilatância máxima com o

parâmetro de estado

ALFABETO GREGO Γ Índice de vazios de referência

u Variação da poropressão

εa Deformação axial

εv Deformação volumétrica

λ Inclinação

σv Tensão vertical total

σv’ Tensão vertical efetiva

υ Coeficiente de Poisson

c ângulo de atrito crítico

Ψ Parâmetro de estado

Page 22: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

xviii

SIGLAS ABNT Agência Brasileira de Normas Técnicas

ANM Agência Nacional de Mineração

ASTM Sociedade Americana de Testes e Materiais

CANLEX Canadian Liquefaction Experiment

CETEM Centro de Tecnologia Mineral

CO2 Dióxido de carbono

CPT Ensaio de penetração de cone

CPTu Ensaio de penetração de cone com medição de pressão

Neutra

CVR Linha de vazios crítica

DETG Departamento de Engenharia de Transporte e Geotecnia

DTTM Departamento de Transformação e Tecnologia Mineral

EE/UFMG Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas

Gerais

Fe2O3 Óxido férrico / hematita

FEAM Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais

FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

FLS Suscetível à liquefação por fluxo

IBRAM Instituto Brasileiro de Mineração

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LabGeo Laboratório de Geotecnia

LEC Linhas de Estados Críticos

LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil

LVDT Transdutor para medição de deslocamento linear

LSC Sensor de deslocamento linear

MCTIC Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e

Comunicações

MME Ministério de Minas e Energia

NBRs Normas Brasileira Regulamentadoras

Page 23: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

xix

NP Norma Portuguesa

SBTn Classificação pelo tipo de comportamento do solo

SCPTu Ensaio de cone sísmico com leituras de poropressões

SGM Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação

Mineral

SiO2 Dióxido de silício

SPT Sondagem à percussão

SSL Linha de estado permanente

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

USEPA Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos

Page 24: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Relevância da pesquisa

A mineração engloba diversas atividades como a pesquisa das possíveis

áreas de lavra, a mensuração de tais áreas, a extração do mineral, o

beneficiamento e o transporte.

Com o aumento da demanda por minerais ao longo dos anos que se

sucederam a revolução industrial, surgiu, como consequência, a geração de

maiores quantidades de rejeitos provenientes dessas atividades. Inicialmente, a

ausência de legislatura sobre como deveriam ser tratados tais rejeitos levou a

uma disposição incontrolada desses. Posteriormente, com o advento das

legislações ambientais, as disposições de rejeitos passaram a ser controladas e

em sua grande maioria executadas em depósitos como barragens.

Grandes volumes e massas de materiais são extraídos do solo e assim

movimentados nas diversas atividades de mineração. O processo de extração

dos minérios, a localização em profundidade das jazidas, as tecnologias

disponíveis nas localizações de extração, dentre outros fatores, são

determinantes para a quantidade de resíduos gerada pela atividade minerária.

Dois são os principais resíduos na atividade de mineração, os estéreis e

os rejeitos. Os resíduos estéreis são os materiais provenientes da atividade de

extração na retirada das camadas de terra da mina que recobrem o minério. Os

rejeitos por sua vez, são resultantes do processo de beneficiamento das

substâncias minerais. O processo de beneficiamento tem como finalidade

padronizar o tamanho dos fragmentos, remover minerais sem valor econômico

associados aos minerais explorados e aumentar a qualidade e pureza do produto

final.

A quantificação do volume de resíduos de mineração é algo de difícil

determinação. Entretanto, de acordo com estudos feitos pela Fundação Estadual

do Meio Ambiente de Minas Gerais (IPEA, 2012), cerca de 70% a 80% do volume

em massa extraído e beneficiado são resíduos sólidos gerados nas atividades

de mineração do estado.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM, 2016) o Brasil

produz aproximadamente 80 substâncias minerais não energéticas destacando-

se como o maior produtor de nióbio, minério de ferro, bauxita e manganês.

A participação da produção brasileira de minério de ferro a nível mundial,

de acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME, 2020), foi de

aproximadamente 18,4% no ano de 2018 conforme mostrado no gráfico da

Figura 1.01.

Page 25: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

2

Figura 1.01 – Produção brasileira e mundial de minério de ferro, (adaptado DTTM/SGM 2019).

Com tamanha quantidade de minérios de ferro extraída anualmente, a

gestão dos rejeitos deve ser prioridade nas políticas ambientais do governo

brasileiro e das empresas que atuam no país, visando assim evitar desastres

como os de Mariana (2015) e Brumadinho (2019). Para tal, deve-se buscar

aprofundar estudos sobre o comportamento geomecânico dos rejeitos e sua

susceptibilidade à liquefação a luz da teoria dos estados críticos em detrimento

de metodologias empíricas, e menos rigorosas, ainda bastante difundidas e

empregadas.

1.2. Objetivos 1.2.1. Objetivos Gerais

Esse trabalho tem como principal objetivo a avaliação do comportamento

mecânico dos rejeitos de minério de ferro de Minas Gerais a luz da Teoria dos

Estados Críticos. Para tal, será feito um trabalho comparativo entre resultados

obtidos, para um mesmo rejeito, entre análises feitas nos laboratórios de

geotecnia da Universidade do Porto e da Universidade Federal de Minas Gerais,

buscando assim elucidar as principais diferenças entre os equipamentos dos

laboratórios e as metodologias adotadas.

Dessa forma, foram obtidas as linhas de estados críticos do material em

cada laboratório e posteriormente verificada a conformidade desses resultados

a modelos numéricos.

Page 26: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

3

1.2.2. Objetivos Específicos

Baseado nos objetivos gerais que se busca no presente trabalho,

descreve-se os objetivos específicos:

• Execução de ensaios para caracterização dos rejeitos entre eles a determinação da curva granulométrica e da massa específica das amostras;

• determinação da curva de compressibilidade desse material com ensaios edometricos clássicos, objetivando através de carregamentos e descarregamentos simular as situações in situ a que esse rejeito está sujeito;

• determinação do comportamento tensão-deformação do rejeito a diferentes níveis de tensão em ensaios triaxiais drenados;

• determinação do comportamento tensão-deformação do rejeito em ensaio triaxial não drenado;

• demonstração das principais diferenças nas metodologias de ensaios executadas nos laboratórios de geotecnia da FEUP e da EE/UFMG

• determinação das linhas de estados críticos do rejeito para cada um dos laboratórios utilizados nesse trabalho;

• Comparação entre as linhas de estados críticos encontradas em cada laboratório e possíveis explicações para as principais disparidades encontradas;

• Modelação numérica em softwares específicos de geotecnia dos ensaios triaxiais de cada laboratório e comparação dos resultados dessas modelações com os resultados experimentais obtidos.

1.3. Organização da dissertação

Este trabalho está dividido em cinco capítulos, sendo o Capítulo 1 este

presente introdutório, citando a relevância da pesquisa que se segue e os

objetivos do estudo.

No Capítulo 2 é feita uma completa revisão bibliográfica sobre os assuntos

relevantes para essa pesquisa, citando as principais características da lavra de

minérios, os tipos de rejeitos gerados e suas formas de deposição, a importância

das caracterizações geotécnicas de rejeitos de mineração, os estudos

relacionados a definição das linhas de estados críticos e o fenômeno da

liquefação.

Page 27: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

4

No Capítulo 3 é apresentada toda a metodologia de trabalho deste estudo,

esclarecendo, com detalhes, como são executados os ensaios de laboratório

tanto na FEUP como na EE/UFMG.

No Capítulo 4 apresenta-se os resultados de todos os ensaios executados

nesse trabalho e as análises dos resultados experimentais. Nesse capítulo é

feita, ainda, uma comparação dos resultados experimentais com os resultados

numéricos obtidos por modelos computacionais, e discute-se os resultados

obtidos.

No Capítulo 5 fez-se as devidas considerações finais sugerindo possíveis

estudos futuros que podem ser conduzidos na sequência desse trabalho.

Page 28: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

5

2. ESTADO DA ARTE

2.1. Introdução

Neste capítulo é apresentada uma extensa revisão do estado da arte atual

sobre os principais temas que englobam o assunto desse trabalho.

2.2. Resíduos da mineração

A maioria dos minérios encontrados na natureza, necessitam para o seu

uso, de alguma forma de beneficiamento para melhorar as suas propriedades

físico-químicas (Luz e Lins, 2018).

Entende-se por beneficiamento de minérios a separação física ou físico-

química dos minerais com valor econômico dos sem valor econômico, para a

obtenção de uma porção que contenha a maior parte dos minerais valiosos (Luz

e Lins, 2018).

Existem vários métodos de lavra de minério que variam em função das

técnicas de extração que são realizados, sendo os principais:

• lavra a céu aberto ou de superfície;

• lavra subterrânea.

Independente dos métodos de lavra utilizados, no processo de produção

do minério de ferro, assim como nos demais minerais, duas etapas são as

responsáveis pelos resíduos gerados, a extração/lavra e o

beneficiamento/concentração. A Figura 2.01 apresenta um esquema

representativo do processo de exploração mineral.

Page 29: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

6

Figura 2.01 – Diagrama representativo de tratamento de minério, (Luz e Lins, 2018).

O primeiro dos resíduos gerados, na fase de lavra, é o escombro, material

estéril proveniente da rocha removida para que se alcance o minério no interior

da crosta terrestre. Esse material considerado sem aproveitamento imediato, é

geralmente depositado em escombreiras, sendo possível, a sua reutilização em

construções de barragens ou para enchimento das galerias subterrâneas (IPEA,

2012).

O segundo resíduo gerado é o rejeito, material que provém da separação

desse com o concentrado. Esse é composto por partículas muito finas e em

alguns casos resíduos químicos provenientes do processo de beneficiamento do

minério (IPEA, 2012).

2.3. Rejeitos de mineração

Os rejeitos de mineração provêm de uma sucessão de processos físicos

e químicos do beneficiamento que influem na distribuição granulométrica das

partículas, nas formas de suas partículas e na sua composição mineralógica.

Sendo assim, possuem características muito distintas do solo natural (Vick,

1983).

Page 30: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

7

No caso específico da mineração de minério de ferro, a substância de

valor econômico é a hematita. No beneficiamento esse material é separado dos

demais minerais. Assim, o minério de ferro é separado, dando origem a rejeitos

finos e muito finos e facilmente dissolvidos em água (Gomes, 2017).

Esses rejeitos podem ser divididos de acordo com a sua granulometria,

que pode ser fina, denominados lama, ou grossa, denominados granulares, e

são comumente depositados sem segregação nas barragens (IBRAM, 2016).

Os rejeitos de granulometria fina, tendem a apresentar características de

elevada compressibilidade e plasticidade e são materiais de difícil sedimentação.

Já os rejeitos de granulometria grossa apresentam, por sua vez, elevada

resistência ao cisalhamento e permeabilidade (IBRAM, 2016).

A deposição dos rejeitos de mineração é em sua maioria executada na

forma de polpa concentrada. A última etapa do processo de beneficiamento

mineral é o desaguamento ou descarte, que influencia, e muito, nas

características finais do rejeito depositado (Soares, 2010).

Quando não se executa o espessamento, que é a operação de separação

do sólido e o líquido que compõem o rejeito através da velocidade de

sedimentação, e se deposita os mesmos diretamente nas barragens, esse rejeito

recebe o nome de polpa. Nesse tipo de rejeitos, a quantidade de partículas

sólidas varia entre 30% e 40% (Bacco, 2020).

Embora essa deposição em barragens seja ainda a mais utilizada, tem-se

crescido o número de métodos que depositam os rejeitos espessados e os

armazenam com menores teores de água, sendo o grau de espessamento e o

método de deposição critérios de projeto fortemente dependentes das condições

específicas de cada instalação (Bacco, 2020).

A cada vez maior escassez de água potável, devido a fatores climáticos e

ambientais, bem como a competição pelo seu uso entre comunidades e outras

atividades de grande importância como a agricultura, é um dos fatores que

contribuem para um desenvolvimento maior de novas tecnologias para a

disposição de rejeitos da mineração (Falcucci e Peres, 2010).

Os rejeitos espessados apresentam algumas vantagens com relação aos

rejeitos não espessados, como a redução ou eliminação da segregação, o

reaproveitamento da água extraída da polpa, o aumento da resistência e a

redução da possibilidade de ocorrer lixiviação e liquefação (Rankin, 2011).

2.4. Formas de deposição de rejeitos

A deposição de rejeitos provenientes das atividades de mineração pode

ser realizada de três formas distintas a partir das disponibilidades técnicas e

financeiras de cada região; subterrânea, subaquática ou superficial.

2.4.1. Deposição subterrânea

Na deposição subterrânea, os rejeitos retornam às cavidades lavradas

onde auxiliam com maior estabilidade nas paredes e tetos das galerias,

reduzindo possíveis abatimentos na superfície ou subsidências na região. A

limitação das características geotécnicas do rejeito para função de

Page 31: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

8

preenchimento dos vazios de forma mais homogênea pode ser contornada

através da eventual mistura com outros materiais. A utilização de cimento,

estéreis, cinzas volantes ou poliuretanos permitem uma melhoria considerável

nas propriedades mecânicas e dinâmicas dos materiais de preenchimento

(Nieble, 1987).

2.4.2. Deposição subaquática

Nesse método, os rejeitos são lançados diretamente no fundo de mares,

lagos ou reservatórios na forma de polpa, através de tubulações especificas.

Embora não seja uma boa solução do ponto de vista ambiental, a

utilização desta técnica pode ser a única aplicável para disposição de rejeitos em

regiões costeiras. Nesta situação, fatores combinados, como elevada

pluviosidade, topografia acidentada e uso extensivo do solo para fins mais

nobres (habitações, agricultura e áreas de preservação ambiental), podem

inviabilizar a atividades mineiras, caso esta solução não seja adotada (Ferraz,

1993).

2.4.3. Deposição superficial

Nesse método, os rejeitos podem ser depositados em pilhas ou em

reservatórios contidos por diques ou barragens.

A deposição em forma de pilhas é realizada através da secagem prévia e

posterior empilhamento dos rejeitos com auxílio de equipamentos de

terraplenagem, com procedimento executivo similar àquele utilizado em pilhas

de estéril ou por lançamento de rejeito espessado (Albuquerque, 2004).

Além destas formas convencionais, a utilização de cavas, de lavras

exauridas de mineração, tem se tornado prática bastante viável para deposição

dos rejeitos (Gomes et al., 1999).

2.5. Tipos de barragens de rejeitos

As barragens ainda são os métodos mais utilizados para a disposição de

rejeitos provenientes da extração mineral. Essas barragens podem ser

construídas utilizando-se do solo retirado no local, materiais estéreis ou mesmo

o próprio rejeito da mineração, e ainda, executadas em etapa única ou por

alteamentos sucessivos (Bacco, 2020).

Barragens executadas em etapa única são construídas com sua máxima

altura antes do início da descarga de rejeitos. Geralmente são constituídas por

solo nativo de diferentes tipos, com zoneamento interno que costuma incluir um

núcleo impermeável, zonas de drenagem, filtros apropriados e revestimento com

a técnica do “riprap” a montante, sendo seu projeto desenvolvido de acordo com

a tecnologia convencional de barragens de terra (Vick, 1983).

No método de alteamento por etapas, a construção ocorre ao longo do

enchimento da barragem. Inicia-se com uma barragem (dique) de partida e os

Page 32: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

9

aumentos subsequentes são executados de acordo com o enchimento da

barragem anterior com a deposição do material (Bacco, 2020).

O método construtivo de alteamento por etapas apresenta vantagens

significativas do ponto de vista financeiro, uma vez que as despesas de

construção são distribuídas ao longo da vida útil da barragem. Além disso não é

necessário a disponibilidade imediata do quantitativo total de material que será

utilizado na construção, permitindo uma maior flexibilidade quanto a seleção dos

materiais para a execução dos alteamentos (Vick, 1983).

2.5.1. Método de alteamento a montante

O método de alteamento a montante é conhecido por ser o mais antigo e

simples método de construção de barragens. A etapa inicial neste tipo de

barragens consiste na construção de um dique que recebe o nome de dique de

partida, normalmente de material argiloso ou enrocamento compactado, quando

este cumpre as características exigidas em projeto. Após completada essa

etapa, inicia-se o lançamento do rejeito, através de canhões, em direção a

montante da linha de simetria do dique, formando assim a praia de deposição,

que será a fundação para o próximo alteamento. Tal material poderá ser utilizado

também para a execução do alteamento da barragem. Este processo continua

sucessivamente até se atingir a cota final prevista em projeto (Araujo, 2006).

A Figura 2.02 apresenta as etapas de construção de tal método.

Figura 2.02 – Método construtivo de alteamento a montante (adaptado de Vick, 1983).

Page 33: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

10

Por ser o método de alteamento de menor custo construtivo, esse foi

amplamente empregado ao longo de anos em diversas localidades do mundo.

Entretanto, devido a altos riscos associados a tal método, esse foi proibido por

diversos países e órgãos regulamentadores, principalmente em países com

grande atividade sísmica ou de altos índices pluviométricos (Araujo, 2006).

Um dos grandes riscos do alteamento a montante de barragens situa-se

no fato de os alteamentos posteriores ao dique de partida serem fundados sobre

o próprio rejeito, que normalmente, não se encontra em níveis adequados de

densificação, podendo, dessa forma, estar suscetível a ocorrência do fenômeno

da liquefação quando submetidos a carregamentos cíclicos ou estáticos (Araujo,

2006).

Para se evitar os riscos associados a liquefação em tal método, busca-se

evitar o acúmulo de água nos rejeitos com a instalação de drenos, geralmente

na base do dique inicial, conforme apresentado na Figura 2.03. Entretanto, neste

método construtivo ainda existe uma dificuldade na implantação de um sistema

interno de drenagem eficiente para controlar o nível d’água dentro da barragem,

constituindo um problema adicional com reflexos na estabilidade da estrutura

(Araujo, 2006).

Além da drenagem, é de grande importância o controle do ritmo com que

são executados os alteamentos, adequando-os à permeabilidade dos rejeitados.

Assim pode-se buscar controlar os excessos de pressão neutra que podem levar

à redução da resistência ao corte dos rejeitos.

A construção excessivamente rápida de diversos alteamentos pode ser o

gatilho inicial do fenómeno de liquefação estática, que tem sido a causa de rotura

de diversas barragens de rejeitados construídas com o método de alteamento à

montante (Tinoco, 2017).

Figura 2.03 – Detalhe de situação dos drenos (Cardozo, et al., 2016).

De acordo com Rico et al. (2008), 70% de todas as falhas de barragens

de rejeitos já registradas foram em barragens com alteamentos sucessivos a

montante.

No Brasil, segundo a ANM (2019), existem 61 barragens com alteamento

a montante, sendo que 41 delas situam-se no estado de Minas Gerais. Em

ambos os grandes desastres recentes do estado, em Mariana e Brumadinho, o

método construtivo das barragens era o de alteamento a montante, o que

corrobora possíveis fragilidades desse método construtivo.

Page 34: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

11

2.5.2. Método de alteamento a jusante

O método de alteamento a jusante inicia-se com a construção de um dique

de partida, normalmente de solo ou enrocamento compactado, quando este

cumpre as características exigidas em projeto, e posteriores alteamentos

subsequentes realizados para jusante conforme apresenta-se na Figura 2.04

(IBRAM, 2016).

Esse método confere à estrutura uma maior estabilidade, visto que sua

fundação não depende estruturalmente da resistência dos rejeitos depositados.

Outro fator importante é que nesse tipo de construção pode-se incorporar

elementos de controle do nível freático, tais como drenos e núcleos

impermeabilizantes. Essas medidas permitem que seja feito o armazenamento

de grandes volumes de água diretamente contra a face interna do aterro (Vick,

1983).

Figura 2.04 – Método construtivo de alteamento a jusante (adaptado de Vick, 1983).

Dentre as vantagens do processo de alteamento para jusante estão o

controle do lançamento e compactação do material no corpo da barragem, de

acordo com técnicas convencionais de construção. O alteamento não é

construído sobre o rejeito previamente depositado. Os sistemas de drenagem

interna podem ser construídos juntos ao alteamento, permitindo assim o controle

Page 35: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

12

da linha de saturação na estrutura da barragem e aumentando sua estabilidade.

A barragem pelo método à jusante apresenta maior resistência que os demais

métodos, inclusive sendo capaz de resistir a qualquer tipo de forças sísmicas,

desde que projetadas para tal (Klohn, 1981). Estas estruturas têm, no entanto,

sido negligenciadas em projetos, pois estas são susceptíveis a problemas de

assentamentos excessivos associados a compressibilidade dos aterros

existentes ou devido a subsidência das fundações.

Entretanto, barragens de jusante necessitam de volumes muito maiores

de material para sua construção quando comparado aos outros métodos,

apresentando maiores custos associados ao processo de ciclonagem ou ao

empréstimo de material. Além disso, a área ocupada pelo sistema de contenção

de rejeitos por esse método é muito maior, devido ao alteamento ser feito para

jusante do dique inicial em função do acréscimo da altura (Araujo, 2006).

2.5.3. Método de alteamento por linhas de centro

O método de alteamento por linhas de centro apresenta uma estrutura

que mescla os métodos de alteamento a jusante e alteamento a montante,

apresentando as vantagens dos mesmos que atenuam as desvantagens de um

método sobre o outro (IBRAM, 2016).

Conforme apresentado na Figura 2.05, nesse tipo de construção o eixo

central é coincidente em todos os alteamentos, fato que dá origem ao nome do

método (Vick, 1983).

Figura 2.05 – Método construtivo de alteamento por linhas de centro (adaptado de Vick, 1983).

Page 36: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

13

O comportamento geotécnico do método de linha de centro é mais

parecido com o de barragens alteadas para jusante, onde o alteamento da crista

é realizado de forma vertical, sendo o eixo vertical dos alteamentos coincidente

com o eixo do dique de partida. Neste método, pode-se utilizar zonas de

drenagem interna em todas as fases de alteamento, o que permite um maior

controle da linha de saturação e promove uma melhor dissipação das

poropressões. (IBRAM, 2016).

Uma importante vantagem que esse método apresenta, em comparação

ao método de jusante, é a redução no volume de material necessário para a

realização dos alteamentos. Outra importante vantagem é que esse método

agrega ainda a facilidade construtiva do método de alteamento a montante (U.S.

Environmental Protection Agency, 1994).

Há, no entanto, de se ressaltar que muitas vezes os alteamentos fundam-

se parcialmente em rejeitos, o que constitui por si uma situação de instabilidade

na estrutura.

2.6. Caracterização geotécnica de rejeitos de mineração

A caracterização geotécnica de rejeitos de mineração é de fundamental

relevância para a compreensão de seus comportamentos quando depositados

e, consequentemente, para a obtenção de parâmetros de projeto importantes

para a segurança das barragens.

O tipo de minério explorado, o método de extração utilizado e a forma de

deposição, são alguns dos fatores que influem no comportamento geotécnico

dos rejeitos, que dada a heterogeneidade no processo de deposição desses

dentro de uma barragem, condicionam, muitas vezes, uma difícil caracterização.

2.6.1. Granulometria de rejeitos

Devido a heterogeneidade da mineralogia das rochas e dos diferentes

processos de extração, beneficiamento e deposição, a variabilidade das

características dos rejeitos de minério acabam por dificultar a obtenção de uma

curva granulométrica dos mesmos, sendo possível apenas determinar uma faixa

de variação para essas curvas. Sendo assim, os rejeitos de mineração variam

de materiais arenosos não plásticos à materiais muito finos e de alta plasticidade.

A Figura 2.06 apresenta as diferentes curvas granulométricas para

amostras de rejeitos de minério de ferro de diversas minas da região do

quadrilátero ferrífero em Minas Gerais.

Page 37: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

14

Figura 2.06 – Curvas granulométricas de rejeitos de minério de ferro da região do quadrilátero

ferrífero (Pereira, 2012).

Além da mineralogia do minério e dos processos de extração e

beneficiamento do minério e deposição dos rejeitos, a porcentagem de fração

argilosa é outro aspecto importante que condiciona o comportamento mecânico

do rejeito, implicando, inclusive em mudanças na sua denominação.

Quando os rejeitos possuem granulometria predominantemente fina

(abaixo de 0,074 mm) são denominados lama e quando possuem granulometria

essencialmente grossa (acima de 0,074 mm), são denominados rejeitos

granulares (IBRAM, 2016).

Guimarães (2011) apresenta em seu estudo o gráfico da Figura 2.07 que

ilustra as diferentes faixas granulométricas de diversos tipos de rejeitos (lamas,

rejeito de flotação e rejeito da concentração magnética) presentes em minas de

minério de ferro situadas na região do Quadrilátero Ferrífero.

Page 38: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

15

Figura 2.07 – Faixas granulométricas dos principais rejeitos das usinas de minério de ferro da

região do quadrilátero ferrífero (Guimarães, 2011).

2.6.2. Massa específica

Os resíduos de mineração quando lançados em reservatórios, possuem

em torno de 10 a 25% em peso de sólidos. A massa específica, que é a relação

entre a massa e o volume, é de difícil determinação em campo, dada a grande

heterogeneidade devida aos efeitos de segregação das partículas, sendo que

esse índice físico está diretamente ligado à composição mineralógica do

material. Valores elevados e a variabilidade encontrada nos resultados de um

mesmo reservatório, são devido à mineralogia da rocha de origem, e

principalmente ao teor de ferro existente, que variam ao longo do período de

extração (Villar, 2002).

Os rejeitos de minério de ferro da região do quadrilátero ferrífero são

formados por hematita (Fe2O3) cuja massa específica dos grãos é em torno de

5,25 g/cm3 e quartzo (SiO2), com massa específica em torno de 2,65 g/cm3

(Portes, 2013), os mesmos tendem a apresentar uma faixa de variação da massa

específica dos grãos entre estes extremos (Pereira, 2005).

Page 39: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

16

2.6.3. Compressibilidade e Adensamento/Consolidação

Todos os materiais deformam-se quando submetidos a ação de uma

carga aplicada, sendo a diminuição do volume quando da atuação dessas cargas

conhecida como compressibilidade. Nos solos saturados, a compressibilidade

pode ocorrer devido a fenômenos de consolidação hidrodinâmica, fazendo com

que a água presente nos vazios do solo sofra uma pressão que a faz escoar

pelos poros. Tais ações levam a uma redução nos vazios do solo e, por

consequência, a redução no volume do mesmo.

2.6.3.1. Teoria do adensamento unidimensional

A teoria de adensamento unidimensional que foi apresentada por

Terzaghi e Frolich (1936) utiliza-se de algumas premissas como o solo ser

totalmente saturado e homogêneo, a compressão que ele recebe é

unidimensional e que sentido do fluxo ocorre em apenas em uma direção. Tal

teoria é utilizada para determinar o grau de adensamento de uma camada de

solo para uma dada profundidade e em um determinado instante de tempo. Com

tais informações, determina-se quanto o solo deformou, a alteração dos índices

de vazios, as tensões efetivas e as pressões neutras para cada momento

analisado. Todo o processo de adensamento ocorre de forma gradativa,

sofrendo o solo uma redução de volume devido a uma lenta percolação da água

que está entre os poros em direção ao exterior. Esta situação incorre no aumento

progressivo da tensão efetiva do solo, fazendo com que ocorra uma compressão

do mesmo, e um gradual incremento de resistência ao cisalhamento (Nogueira,

2010).

Matos Fernandes (2017) elucida que, para que a teoria de Terzaghi seja

aplicada, algumas hipóteses devem ser consideradas:

i) O solo é homogêneo e está saturado;

ii) A compressibilidade da água e das partículas individuais do solo é

desprezável;

iii) Em qualquer seção horizontal e em qualquer instante os estados de

tensão e de deformação são uniformes;

iv) As deformações ocorrem apenas na direção vertical;

v) O escoamento da água é exclusivamente vertical e obedece a lei de

Darcy;

vi) Os efeitos, os fenômenos e o seu curso em elementos de dimensões

infinitesimais são extrapoláveis para dimensões representativas de

um maciço real;

vii) Para um pequeno intervalo de tensões e deformações considera-se

constante o coeficiente de permeabilidade, e os coeficientes de

compressibilidade e de compressibilidade volumétrica;

viii)Existe uma relação biunívoca entre o índice de vazios e a tensão

efetiva vertical, num dado ponto e num dado instante (inexistência de

fluência do esqueleto sólido);

Page 40: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

17

ix) É valida a hipótese dos pequenos deslocamentos (linearidade

geométrica).

O adensamento pode ser dividido em adensamento primário e

secundário. O adensamento primário ocorre pela dissipação da poropressão,

sendo tanto menor quanto mais fino for o solo.

Já o adensamento secundário ocorre mesmo após a total dissipação das

poropressões. No caso dos resíduos de mineração arenosos e não plásticos,

esse geralmente é atribuído ao rearranjo das partículas e ao escorregamento

dos grãos sobre influência do carregamento (Mamani, 2012).

2.6.3.2. Teoria do adensamento com deformações finitas

Tal estudo é direcionado para a condições específica de que ocorra

grandes deformações na da teoria de adensamento (Gibson Et. Al., 1967).

A teoria em questão descreve de forma mais adequada que a de Terzaghi,

a magnitude e o progresso do recalque de materiais de granulometria fina

altamente compressíveis. Sendo essa teoria a mais indicada para o estudo do

adensamento de rejeitos de mineração. Essa teoria se baseia nas seguintes

suposições de acordo com Schiffman (1980):

i) Meio saturado e constituído de três componentes: as partículas de

solo, o esqueleto de solo formado por elas e os vazios preenchidos

com água;

ii) Completa interação entre o esqueleto de solo e os vazios preenchidos

por água, ou seja, o princípio da tensão efetiva é válido;

iii) O fluido é newtoniano;

iv) A Lei de Darcy-Gersevanov governa o escoamento do fluido através

do esqueleto de solo e é expressa em termos da velocidade relativa

entre a água intersticial e as partículas sólidas;

v) Assume-se que as partículas de solo e a água que preenche os vazios

são incompressíveis;

vi) As massas das porções sólidas e fluidas do sistema são conservadas

separadamente, o que requer a não existência de interações químicas

entre os constituintes.

2.6.4. Permeabilidade

A permeabilidade de um solo pode ser resumida na facilidade com que a

água tem de percolar por ele. Para sua determinação, é necessário saber a

porosidade do solo, o tamanho dos grãos e a morfologia dos mesmos, a

orientação dos poros, o teor de umidade natural do solo, o grau de saturação,

entre outros.

Rejeitos de mineração não são produtos encontrados naturalmente,

sendo produzidos através da alteração da composição tanto física como química

de um determinado mineral. Logo, as características desses variam

Page 41: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

18

significativamente, dependendo além do método produtivo, do modo de

disposição dos rejeitos, do teor de finos e da profundidade que esses estão

(Nierwinski, 2019).

A Permeabilidade pode ser mensurada em laboratório com a realização

de ensaios de adensamento com permeâmetro de parede flexível, permeâmetro

de parede rígida ou ensaios triaxiais. Em alguns consolidômetros com

possibilidade de fluxo induzido pela base e topo, tais como os edometricos

hidráulicos, também é possível fazer a direta determinação da condutividade

(Viana da Fonseca, 1996)

Em campo os ensaios de sondagem de simples reconhecimento,

piezômetros, poços ou cavas, ensaios de infiltração e o de bombeamento para

determinação do coeficiente de condutividade hidráulica são os mais utilizados

para determinação da permeabilidade. A variabilidade dos solos em um mesmo

horizonte é fator que leva a resultados de campo com elevadas dispersões.

Devido a essas variabilidades e aos parâmetros envolvidos, os ensaios de

campo tem menor precisão que os de laboratório na determinação dessa

propriedade dos solos na maioria das vezes (Bedin, 2010).

Dentre as propriedades geotécnicas dos rejeitos de minério, a

condutividade hidráulica é a mais difícil de generalizar. Os valores encontram-se

em uma faixa que varia de 1,0x10-9 a 1,0x10-4 (m/s). Diversos são os fatores que

interferem na condutividade hidráulica, sendo esta propriedade condicionada por

características específicas de cada reservatório (tensão de confinamento,

distribuição granulométrica, quantidade de finos, forma das partículas,

angularidade, esfericidade, rugosidade, superfície específica e textura das

partículas, composição mineralógica, índice de plasticidade), a fatores

relacionados ao arranjo estrutural das partículas (índice de vazios e grau de

saturação), a fatores associados ao fluído (natureza do fluido, tipo de fluxo e

temperatura) e a fatores do estado natural dos rejeitos (heterogeneidade e

anisotropia) (Vick, 1983).

2.6.5. Limites de Atterberg

Os limites de Atterberg são um dos critérios utilizados para a avaliação

da suscetibilidade à liquefação dos solos, sendo indispensável sua determinação

na caracterização de rejeitos de mineração.

Diferentes tipos de consistência podem ser observados em diferentes

solos, a depender da quantidade de água em seus poros, podendo ser

caracterizadas como sólida, semissólida, plástica ou a de um fluido denso. Os

limites de Atterberg são métodos utilizados na avaliação da natureza de um solo

através de uma série de ensaios, onde é possível definir o limite de liquidez, o

limite de plasticidade e o limite de retração do material. O limite de plasticidade

é o teor de umidade que delimita o estado semissólido do plástico. É assim o

teor de umidade em que o solo deixa de ser plástico, tornando-se quebradiço

(Soares, 2010).

Os ensaios para a obtenção dos limites de liquidez e plasticidade são

realizados utilizando amostras de solo que são remexidas e misturadas com

água. Essa obtenção leva a modificações no arranjo inicial das partículas e no

Page 42: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

19

teor em água natural do solo, logo, os limites obtidos nesses ensaios não são

uma propriedade fielmente representativa do solo em seu estado natural, mas

sim características específicas das partículas que o formam (Matos Fernandes,

2017).

2.6.6. Parâmetros de resistência

A resistência ao cisalhamento é a propriedade que está diretamente

relacionada com a capacidade dos solos de suportar as tensões geradas tanto

por solicitações internas como externas. Define-se então a resistência ao

cisalhamento de um solo como a tensão máxima que este pode suportar antes

de romper sob um determinado estado (tensão, compacidade ou consistência).

O cisalhamento ocorre de duas formas, ou devido ao deslizamento entre

corpos sólidos ou entre partículas do solo. Os principais fenômenos que

condicionam em maior ou menor grau os deslizamentos, são o atrito e a coesão

(Lambe e Whitman,1969), que são parâmetros do critério de rotura de Mohr-

Coulomb.

A resistência ao corte (deslizamento) deve-se ao atrito entre as partículas em movimento regular entre si e de forças de afastamento entre elas, se as mesmas estiverem imbricadas. Uma parcela coesiva efetiva é circunstancial e deve-se a ligações cimentícias entre as partículas que podem, por sua vez, dever a ligantes naturais ou artificiais que não são sensíveis à pressão intersticial, ou a sucção, devida a forças de compressão ou cisalhamento em solos não saturados ou totalmente secos. É importante distinguir a coesão aparente da coesão verdadeira, sendo que, de fato, a primeira se deve à pressão capilar da água em solos úmidos, não saturados, e desaparece com a saturação.

Geralmente, os rejeitos de mineração são caracterizados pela ausência

ou baixos valores de coesão. Apresentam também, se comparados a solos

naturais em condições semelhantes de densidade e nível de tensão, ângulos de

resistência última friccional ao cisalhamento elevados. Isso se deve aos

processos de britagem de rochas que, diferentemente dos siltes e argilas

naturais, costumam ser compostos por minerais duros e não alterados, de modo

que suas partículas são angulares, não planas e rugosas (Sarsby, 2013).

2.6.7. Parâmetros elásticos

O estudo das deformações elásticas a que um solo estará sujeito quando

carregado, é de fundamental importância em projetos geotécnicos. Para se

tornar o mais realista possível as previsões de deformações de um terreno, e

consequentes deslocamentos estruturais, deve-se recorrer a ensaios

laboratoriais com medições de alta precisão de tensões e deformações ou

ensaios in-situ que utilizam de módulos vibracionais para avaliar propriedades

de rigidez elástica que são convergentes com as dinâmicas deduzidas pelas

velocidades de propagação de onda de baixa energia (SCPT e SCPTu).

Para suprir a necessidade de caracterização dos parâmetros de

deformabilidade com maior precisão, desenvolveram-se técnicas, como a

utilização de transdutores piezoelétricos, que através da emissão e recepção de

Page 43: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

20

ondas, determinam os parâmetros elásticos no domínio das pequenas e muito

pequenas deformações.

2.7. Liquefação

O fenômeno da liquefação ocorre essencialmente em solos granulares,

principalmente areias e siltes finos, quando nesses materiais as poropressões

elevam-se de modo que anulam as tensões efetivas do solo. Quando isso ocorre,

a tensão interna entre partículas do solo (intergranular) também pode anular-se.

Nestes casos, o solo passa a ter um comportamento similar ao de um líquido.

A literatura tem feito a divisão da liquefação em dois fenômenos

considerados distintos, o fenômeno do fluxo por liquefação e o da mobilidade

cíclica. Essa divisão deve-se, apesar dos solos suscetíveis aos dois fenômenos

alcançarem no fim a mesma condição onde tem-se a anulação da tensão efetiva,

a condições diferentes. Os solos propícios ao fenômeno do fluxo por liquefação,

como as areias e os siltes finos, exibem uma rápida e significativa perda de

resistência, sofrendo grandes deslocamentos. Já solos propícios ao fenômeno

da mobilidade cíclica, como as areias densas, exibem apenas perdas

temporárias de resistência e pequenas deformações progressivas (Polito, 2001).

A maioria dos estudos feitos sobre a liquefação estática da ênfase aos

solos granulares, entretanto é cada vez maior o número de estudos que se

debruçam sobre os rejeitos de mineração, buscando conhecer suas

características e assim verificar sua susceptibilidade ao fenômeno da liquefação

(Bedin et al., 2012).

Rejeitos de mineração quando depositados hidraulicamente em

barragens, costumam estar completamente saturados e apresentam baixa

compacidade, condições que associadas a solicitações não drenadas tendem a

torná-los propícios a rotura por liquefação. O estudo da liquefação é assim, de

extrema importância na mineração devido as características geotécnicas dos

rejeitos e devido as formas de deposição desses.

2.7.1. Métodos de análise da susceptibilidade a liquefação (ensaios de

campo e de laboratório)

Materiais com comportamento granular são os mais propícios a liquefação

e assim possuem um maior número de estudos e dados (Junior et al., 2019).

Alguns estudos foram desenvolvidos por diversos autores a fim de

encontrar metodologias de determinação da susceptibilidade à liquefação dos

materiais, dentre esses, Robertson (1995), Olson (2001), Schnaid (2007).

2.7.1.1. Análise por meio de ensaios de granulometria

Segundo Terzaghi et al. (1996), solos não coesivos, soltos e saturados,

são propícios à liquefação quando apresentam altos índices de vazios, de modo

que ao estarem sujeitos a movimentos de cisalhamento, apresenta

comportamento contrátil e quando a permeabilidade é suficientemente baixa,

não ocorra a drenagem, tendendo a desenvolver incrementos de poropressão

Page 44: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

21

com perda de resistência. Dentre os fatores que influem para que essas

características estejam presentes em um solo temos:

• Formato dos grãos;

• Granulometria;

• Índice de vazios;

• Estado de tensão in situ;

• Micro estrutura do solo;

• Histórico de tensões atuantes no solo.

Siltes e areias finas e não plásticas que apresentam uma proporção de

materiais passantes na peneira nº 200 inferior a 5% são os materiais mais

susceptíveis à liquefação cíclica, pois apresentam maiores probabilidades de

apresentarem as características mencionadas. Cascalhos ou areias grossas e

medias, são, na maioria dos casos, menos susceptíveis a liquefação pois são

altamente permeáveis (Terzaghi et al., 1996).

Materiais siltosos, logo com porcentagem significativa de partículas

passantes na peneira nº 200 e pequena porção de argila (não plásticos) são

suscetíveis a liquefação estática por fluxo.

Seguindo as observações acima e na análise da granulometria de

materiais que sofrem liquefação durante sismos, Tsuchida (1970) propôs curvas

granulométricas que avaliam o potencial de liquefação de um material conforme

ilustra a Figura 2.08.

Figura 2.08 – Faixas granulométricas propostas por Tsuchida (1970) (retirado de Junior et al.,

2019).

Nesse estudo feito por Tsuchida sobre sismos, o limite inferior

correlaciona a influência dos finos do solo com o aumento da resistência à

contração que esses materiais possuem quando sujeitos a sismos. A faixa entre

os limites superiores por sua vez representam as areias com permeabilidade

Page 45: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

22

variando entre 10-3 e 10-2 m/s. Os solos arenosos mais suscetíveis à liquefação

são os que possuem coeficiente de permeabilidade entre 10-5 e 10-3 m/s (Junior

et al., 2019).

De acordo com Terzaghi et al. (1996), rejeitos arenosos são altamente

susceptíveis a liquefação mesmo apresentando porcentagem de finos passantes

na peneira nº 200 acima de 5%, desde que tais finos sejam compostos por

materiais não plásticos, logo materiais com baixa coesão, o que possibilita a

diminuição do volume durante o cisalhamento.

2.7.1.2. Análise da liquidificabilidade pelo método de Olson (2001)

Nesse método, o autor utilizou como metodologia a análise da ruptura de

33 casos históricos cujas falhas foram atribuídas ao fenômeno da liquefação. O

comportamento do material como contrátil ou dilatante é estudado por

correlações entre parâmetros do solo obtidos em ensaios CPT/CPTu ou SPT

(Olson, 2001).

Olson (2001) propôs a aplicação da envoltória de Fear e Robertson

(1995), baseada em estudos do Canadian Liquefaction Experiment (CANLEX)

para a classificação dos materiais para o estado de tensão atuante in-situ. Essa

envoltória é expressa pela equação [1].

(𝜎 ,𝑣𝑜)𝐸𝑁𝑉𝑂𝐿𝑇𝑂𝑅𝐼𝐴 = 1,1047. 10−2. 𝑞𝑐1

4,7863 [1]

Onde ’v0 é a tensão vertical efetiva in-situ dada em kPa e qc1 é a

resistência de ponta normalizada pela tensão vertical efetiva, dada em kPa.

A resistência de ponta corrigida (qc2) pode ser calculada com o valor da

resistência de ponta medida em campo e é obtida pela expressão [2]:

𝑞𝑐2 = 𝑞𝑐 . 𝐶𝑞 [2]

Onde Cq é o fator de correção do nível de tensão que pode ser calculado

com a equação [3] proposta por Seed et al. (1983).

Olson propôs que o valor de Cq não deve ser superior a 2.

𝐶𝑞 = 1,8

0,8+𝜎,

𝑣𝑜𝑝𝑎

[3]

sendo:

𝜎 ,𝑣𝑜 : a tensão efetiva vertical em kPa

𝑝𝑎 : a pressão atmosférica em kPa

Classifica-se assim o comportamento dilatante ou contrátil do material

através de comparação do qc2 obtido no ensaio com o qc1 da envoltória de Fear

e Robertson (1995) para estados de tensão in-situ (Olson, 2001).

Caso qc2 medido no ensaio seja menor que o qc1 da envoltória para uma

determinada tensão vertical efetiva, o material é considerado contrátil e assim

susceptível à liquefação. Caso contrário, o material não é susceptível a

Page 46: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

23

liquefação. A Figura 2.09 demonstra graficamente a metodologia de Olson

(2001), sendo os materiais a direita da envoltória dilatante e os materiais a

esquerda da envoltória contrátil (Olson, 2001).

Figura 2.09 – Estudos de materiais de Olson com a envoltória de Fear e Robertson (1995)

propostas por Olson (2001) (APVD Junior et al., 2019).

2.7.1.3. Análise pelo método de Schnaid e Yu (2007)

Schnaid e Yu (2007) propuseram uma análise sobre propriedades

mecânicas dos solos baseadas em combinações de medidas provenientes de

ensaios independentes. Por exemplo a razão da rigidez elástica pela resistência

de ponta do cone (𝐺𝑜

𝑞𝑐).

Esse método é aplicado apenas em areias, avaliando o grau de

cimentação dessas relacionando com o parâmetro de estado.

Page 47: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

24

No caso, ensaios SCPTu são mais utilizados na metodologia de análise

de Schnaid e Yu pois com eles é possível fazer leituras da velocidade de

propagação das ondas de cisalhamento em profundidades, o que permite a

obtenção do modulo cisalhante para pequenas deformações (Go) (Schnaid e Yu,

2007).

Schnaid e Yu (2007) propuseram a obtenção de um parâmetro de estado

(Ψ) para avaliar a susceptibilidade a liquefação do solo através da equação [4]

(Schnaid e Yu, 2007).

ψ = α (p,

pa)

β

+ Xln (Go

qc) [4]

onde:

𝛼 = -0,520

𝛽 = -0,07

𝑋 = 0,18

são valores médios de calibração sugeridos pelos autores.

Caso ψ > -0,05 o material tem comportamento contrátil e assim

susceptível a liquefação (Jefferies e Been, 2016).

2.7.1.4. Análise pelo método de Robertson (2016)

As correlações que utilizam os ensaios CPT e CPTu se baseiam na

maioria das vezes em solos com pouca ou nenhuma microestrutura,

denominados solos ideais. Entretanto, um dos fatores que mais influenciam no

comportamento mecânico de um solo in-situ é a microestrutura. Robertson

(2016) afirma que os solos ideais onde se baseiam tais ensaios são jovens e

assim não apresentam cimentação. Estes últimos solos estão no diagrama Qtn x

IG, atualizado por Robertson em 2016, dentro da faixa de K*G < 330 conforme a

Figura 2.10.

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25

Figura 2.10 – Diagrama Qtn x IG para identificação de microestrutura nos solos (APVD Junior et

al., 2019).

Onde Qtn é a resistência de ponta do cone normalizada e pode ser

calculada conforme a expressão [5].

Q𝑡𝑛 =qn

(pa

𝜎,𝑣𝑜

)𝑛 [5]

sendo:

qn : Resistencia de cone em kPa;

p𝑎 : Pressão atmosférica em kPa;

𝜎 ,𝑣𝑜 : Tensão vertical efetiva em kPa;

𝑛 : expoente de correção para o solo especificado, sendo seu valor de 0,5 para

areias puras e próximos de 1,0 para materiais finos.

O índice de rigidez para pequenas deformações normalizado K*G é

calculado pela equação [6].

𝑘∗𝐺 = (

G𝑜

qn) . (𝑄𝑡𝑛

0,75) [6]

sendo:

Go : Módulo cisalhante a pequenas deformações;

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26

O valor de qn pode ser calculado segundo Robertson (2016) pela equação

[7].

qn = (qt− σ𝑣 )

𝑝𝑎 [7]

sendo:

qt : Resistencia de ponta corrigida em kPa;

IG é o índice de rigidez de pequena deformação.

Na atualização proposta por Robertson (2016) de seu próprio sistema de

classificação SBTn (Soil Behavior Type) de solos, Robertson (2010), o autor

focou na determinação de classes de comportamento in-situ e não na separação

de materiais por características físicas. Robertson assim separou os materiais

em 3 grandes grupos sendo os materiais com comportamento arenoso, os com

comportamento argiloso e os transicionais.

Os materiais com comportamento arenoso não apresentam plasticidade

e tem facilidade de drenagem. Os materiais com comportamento argiloso por

sua vez apresentam plasticidade e praticamente sem drenagem. Já os materiais

transicionais apresentam comportamento de ambos sendo muito característico

nesse grupo os materiais finos de baixa plasticidade como os siltes (Robertson,

2016).

Nessa atualização de Robertson (2016) a substituição do parâmetro IC

pelo parâmetro IB para determinação das curvas limites entre as regiões

incorporou as observações feitas por Schneider et al. (2012). Tal atualização

pode ser verificada na Figura 2.11.

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27

Figura 2.11 – Diagrama para classificação de solos SBTn atualizado (APVD Junior et al., 2019).

O parâmetro do atrito medido em percentual (Fr) é definido por Robertson

(1990) conforme a equação [8].

Fr = 𝑓𝑠

(qt− σ𝑣𝑜 ) [8]

sendo:

𝑓𝑠 : a resistência de atrito lateral do cone em kPa.

2.7.1.5. Análise pelo formato dos grãos

Reddy (2008) estudou a influência do formato dos grãos na

susceptibilidade de um solo à liquefação. O autor sugeriu que em solos onde os

grãos têm formatos arredondados a susceptibilidade à liquefação é maior pois

nesses a concentração desses grãos arredondados é devida ao rearranjo das

partículas, enquanto solos com grãos mais angulares esta concentração se dá

pelo esmagamento desses grãos (Bedin, 2009).

2.7.1.6. Análises pelo índice de plasticidade e limite de liquidez

Estudos feitos por Ishihara e Koseki (1989) constataram uma correlação

entre o aumento do índice de plasticidade e a resistência à liquefação, sendo

essa relação diretamente proporcional. Tal estudo demonstrou que a influência

das características plásticas do material é mais relevante que a granulometria do

mesmo (Bedin, 2009).

Page 51: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

28

2.7.1.7. Análises pela presença de finos

A presença de partículas finas nos materiais altera substancialmente

diversas características como índice de vazios máximo e mínimo, densidade

relativa, compressibilidade, resistência ao cisalhamento e, por consequência

destes a resistência à liquefação (Lade et al., 2009).

Lade et al. (2009) executaram estudos com areias acrescidas de diversas

porções diferentes de siltes e assim determinou inicialmente a influência nos

índices de vazios máximos e mínimos pela quantidade de finos conforme a

Figura 2.12.

Seguindo os ensaios, Lade et al. (2009) verificaram a compressibilidade

de uma areia siltosa para diferentes teores de finos e diferentes densidades

relativas. Os resultados são mostrados na Figura 2.13. Os autores perceberam

uma relação entre o aumento da compressibilidade volumétrica com o aumento

do teor de finos e a diminuição da densidade relativa.

Figura 2.12 – Efeitos do teor de finos nas razões de vazio máximo e mínimo para areias

siltosas (Lade et al., 2009)

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29

Figura 2.13 – Relação entre a variação da compressibilidade com o teor de finos e a densidade

relativa (Lade et al., 2009)

Foram então executados diversos ensaios de compressão triaxial não

drenados para diferentes misturas de areia e silte para estudar o efeito da

liquefação estática nesses. Esses ensaios foram realizados com pressão de

consolidação constante de 25kPa nos quais a liquefação pode ocorrer em

depósitos naturais próximos a superfície conforme demonstrado pelos autores

(Lade et al., 2009).

Como resultado dos ensaios, os autores perceberam que, para um

mesmo percentual de finos, quanto maior for a densidade relativa, mais estável

é o comportamento da areia siltosa e assim menos propicia a liquefação.

De fato, os autores demonstram conforme pode-se verificar na Figura

2.14, que o aumento da densidade relativa em uma amostra com teor de finos

de 20% leva a uma maior estabilização do solo. Na figura, as amostras com

densidades relativas de 31%, 42% e 47% liquefizeram enquanto as amostras

com 53% e 56% foram estáveis (Lade et al., 2009).

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30

Figura 2.14 – Trajetórias de tensões efetivas de ensaios triaxiais não drenados em amostras

com diferentes tensões efetivas e teor de finos constante (Lade et al., 2009)

Os autores concluíram que teores maiores de finos necessitam de

maiores densidades relativas para que a areia siltosa permaneça estável. Outra

conclusão é a de que a liquefação estática ocorre em baixas pressões, sendo

que com o aumento da tensão de confinamento aumenta-se a resistência do solo

(Lade et al., 2009).

2.7.1.8. Análises pelo parâmetro de estado in situ

Abordagens que se baseiam em análises de resistência e rigidez são

predominantes nos estudos de engenharia, entretanto, dada a sua natureza

empírica, existem poucos estudos que relacionam a liquefação do solo ao

comportamento tensão-deformação desses, tornando difícil a modelagem das

respostas mecânicas, estáticas e dinâmicas dos solos (Schnaid et al., 2013).

Estudos feitos por Schnaid et al (2013) demonstraram que a instabilidade

do fluxo é uma função da correlação de estado dos solos e não uma propriedade

do material. Assim, estimar a liquefação de fluxo em reservatórios de rejeitos de

mineração a partir do parâmetro de estado in situ é comprovadamente mais

promissor pois o parâmetro de estado in situ é um método consistente para

avaliação de liquefação, sendo uma promissora alternativa quando comparado

a gráficos semiempíricos baseados em histórico de caso.

Schnaid (2013) justifica a escolha do parâmetro de estado apresentando

um conjunto de resultados, onde a taxa de variação dos valores Ψ medidos foi

significativa, sendo no início da instabilidade do fluxo com amolecimento de alta

tensão o valor do Ψ de aproximadamente 0,1, aumentando para 0,3 quando o

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31

colapso total ocorre como resultado da liquefação completa, enquanto os valores

do Ψ menores do que 0,1 estão associados a condições estáveis. Uma

dificuldade encontrada nesse estudo foi medir o peso do volume in situ e

recuperar amostras não perturbadas em solos sem coesão, o que torna a

previsão do parâmetro de estado difícil e não confiável. No caso de areias e

sedimentos, as correlações do tipo Ψ são estabelecidas por meio de testes de

penetração padrão ou de cone, no entanto, a resistência à penetração não é

sensível ao histórico de tensão-deformação ou cimentação Inter partículas por

causa de efeitos químicos secundários e outros efeitos, levando a previsões

dispersas de Ψ.

2.7.2. Teoria dos estados críticos

Quando ocorre de um solo estar em uma condição onde a deformação

pode continuar ocorrendo mesmo sem a ocorrência da variação de volume ou

de tensões efetivas, estabelece-se que que este solo está em sua condição de

estado crítico (Atkinson e Bransby, 1978).

As barragens de rejeito podem estar sujeitas ao fenómeno da liquefação

por sobrecarga do depósito. O controle da estabilidade dessas pode então ser

feito conhecendo-se o índice de vazios e o estado de tensão dos rejeitos

depositados in situ em relação aos estados últimos, que são consumados pelas

linhas de estados críticos. (Viana da Fonseca et al., 2016)

2.7.2.1. Critério do índice de vazios críticos

Casagrande (1936) foi pioneiro em trabalhos sobre a resistência ao

cisalhamento de solos. Ele, ao realizar ensaios triaxiais drenados com tensões

controladas em diversas amostras de areias inicialmente soltas e densas,

percebeu que todos os corpos de prova testados na mesma pressão de

confinamento efetiva se aproximaram da mesma densidade quando cisalhados

em grandes deformações. Ele percebeu também que esses continuaram a

deformar com resistência ao cisalhamento constante mesmo sem variações da

densidade e que com essa densidade constante, todos os materiais, amostras

densas e soltas, tinham o mesmo índice de vazios que foi denominado índice de

vazios crítico conforme mostrado na Figura 2.15 (Kramer, 1996).

Figura 2.15 – (a) gráfico Tensão x deformação (b)gráfico Tensão x índice de vazios

para amostras soltas e densas de areia (Kramer, 1996).

Page 55: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

32

Procedendo com ensaios em diferentes pressões de confinamento

efetivas, Casagrande (1936) determinou que o índice de vazios crítico

relacionava exclusivamente com a pressão efetiva de confinamento,

determinando assim a linha de estado crítico (Figura 2.16) onde essa delimita a

fronteira entre os estados solto, que contrai, e denso, que dilata (Kramer, 1996).

Figura 2.16 – Linha de vazios crítica delimitando o estado denso e o solto (Kramer,

1996).

Na época de seus estudos, Casagrande não dispunha de equipamentos

para medição da poropressão, entretanto o mesmo levantou hipóteses de que

os ensaios não drenados com tensão controlada iriam gerar em solos soltos,

com comportamento contrátil, poropressões positivas e em solos densos, com

comportamento dilatante, poropressões negativas até que a linha de estado

crítico fosse alcançada conforme a Figura 2.17 (Kramer, 1996).

Figura 2.17 – (a) escala aritmética (b) escala logarítmica do comportamento de areias soltas e

densas em condições drenadas e não drenadas (Kramer, 1996).

Sendo a linha de estados críticos limitante entre solos com

comportamento contrativo e dilatante, essa foi considerada para determinar

solos suscetíveis ou não à liquefação (Figura 2.18), sendo solos saturados com

índice de vazios elevados, posicionados acima e a direita da linha e assim

Page 56: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

33

susceptíveis a liquefação. Já os solos abaixo e a esquerda da linha não são

susceptíveis a liquefação (Kramer, 1996).

Figura 2.18 – Linha de estados críticos delimitando comportamentos susceptíveis a liquefação

e não susceptíveis a liquefação (Kramer, 1996).

2.7.2.2. Critério do estado de deformação

Em 1969, Castro realizou ensaios triaxiais estáticos e cíclicos em

amostras consolidadas isotropicamente e ensaios estáticos em amostras

consolidadas anisotropicamente.

Foram observados três comportamentos distintos tensão x deformação

para diferentes solos consolidados anisotropicamente conforme na Figura 2.19.

Figura 2.19 – Liquefação, liquefação limitada e dilatação em ensaios de carregamento estático

realizados por Castro em 1969 (Kramer, 1996).

Page 57: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

34

Amostras muito soltas, como a amostra (A) nos gráficos, exibem um pico

de resistência não drenada em pequenas tensões de cisalhamento e, em

seguida, colapsam para fluir rapidamente para grandes deformações a baixas

pressões de confinamento efetiva e baixa resistência a grandes deformações.

Esse comportamento hoje é conhecido como fluxo por liquefação (Kramer,

1996).

Amostras densas, como a amostra (B) nos gráficos, inicialmente

contraem, mas rapidamente começam a dilatar até atingir níveis altos de tensões

de confinamento efetiva e altos valores de resistência ao cisalhamento (Kramer,

1996).

Amostras com densidades intermediárias, como a amostra (C) nos

gráficos, desenvolvem um pico de resistência no início dos ensaios em baixa

tensão, seguido de um amolecimento que se mantem até que novas dilatações

ocorram. Essa mudança do comportamento contrativo para dilatante ocorre no

ponto conhecido como transformação de fase. Carregamentos adicionais sobre

a amostra produzem dilatações mesmo sob altas tensões de confinamento e,

consequentemente, maiores resistência a grandes deformações. Esse

comportamento foi descrito como liquefação limitada (Kramer, 1996).

Com os resultados obtidos, Castro (1969) relacionou a tensão de

confinamento efetiva com o índice de vazios das amostras para grandes

deformações. Esta linha foi nomeada como linha de estado permanente, sendo

essa linha representante do estado limitante onde uma massa de partículas se

deforma continuamente, com volume, tensão efetiva, tensão cisalhante e

velocidade constantes (Figura 2.20).

Figura 2.20 – Projeção tridimensional da linha de estado permanente (Kramer, 1996).

Page 58: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

35

2.7.2.3. Critério do parâmetro de estado

Segundo Viana da Fonseca (2013) a abordagem com base no parâmetro

de estado (Ψ) para problemas geotécnicos é aplicada com sucesso no estudo

dos carregamentos cíclicos e monotônicos.

A relação desses dois fenómenos é insuficientemente compreendida,

entretanto se entende que o parâmetro chave de ambos os fenómenos se baseia

na compressibilidade dos materiais geotécnicos, fator determinante para o

desenvolvimento de instabilidades. Este fator se relaciona com a posição do

índice de vazios de repouso e a correspondente da linha de estados críticos

(LEC), para o mesmo estado de tensão efetiva. Assim esse comportamento

associado com a suscetibilidade à liquefação pode ser estudado à luz da teoria

dos estados críticos (TEC), sendo uma explicação simples para comportamentos

típicos da liquefação estática, também denominada de fluxo por liquefação

(Viana da Fonseca, 2013).

Num gráfico, o espaço geométrico que congrega esses pontos que

correlacionam as tensões e o índice de vazios crítico é chamado de linha de

estados críticos. Essa linha é considerada um delineador entre estados onde o

solo tem comportamento dilatante e contrativo (Junior et al., 2019). Atualmente,

existe um consenso de que matematicamente não existem diferenças entre as

linhas de estado crítico e as linhas de estado permanente (Jefferies &

Been,2016), sendo que ambos os termos serão tratados nesse trabalho.

Solos quando estão a mesma distância da linha de estado crítico, (Figura

2.28), ou seja, com determinado índice de vazios e tensões confinantes, exibem

comportamento semelhante e assim podem ser susceptíveis ou não à

liquefação. Been e Jeffries (1985), deduziram assim que o parâmetro de estado

pode ser definido pela equação [9] que relaciona o índice de vazios com as

tensões.

Ψ = 𝑒 − 𝑒𝑠𝑠 [9]

Onde (ess) é o índice de vazios da linha de estado estacionário na pressão

de confinamento efetiva de interesse, “e” é o índice de vazios natural e (Ψ) é o

parâmetro de estado.

A Figura 2.21 monstra como o parâmetro de estado pode ser um indicador

da suscetibilidade ao fluxo de liquefação de um solo. Caso esse parâmetro seja

positivo, o solo terá tendência a uma contração, ou redução de volume, e assim

será suscetível ao fluxo por liquefação, caso o parâmetro seja negativo, o solo

tendera a ter uma dilatação, ou aumento de volume, e assim não será

susceptível ao fluxo por liquefação.

Page 59: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

36

Figura 2.21 –Demonstração do parâmetro de estado (Kramer, 1996).

Conforme discutido, o índice de vazios crítico varia em função da tensão

efetiva média, reduzindo com o aumento das tensões. O mesmo solo também

apresentará um determinado valor do índice de vazios ao qual o solo não

apresentará variação volumétrica durante o cisalhamento, para qualquer tensão

efetiva que atue sobre ele (Junior et al., 2019).

Sendo assim, a linha de estados crítico é uma propriedade intrínseca dos

solos, não variando essa em função do estado inicial e da condição de

carregamento, podendo dessa forma ser obtida a partir quer de ensaios

drenados quer de ensaios não drenados. (Jefferies e Been, 2016).

Robertson (2010) propôs uma correlação entre o parâmetro de estado (Ψ)

definido por (Jeffries e Been, 2016) e a resistência de ponta normalizada de um

ensaio de piezocone através da equação [10].

𝜓 = 0,56 − 0,33. log (𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠) [10]

onde Qtn,cs é a resistência de ponta normalizada corrigida.

A correção do fator Qtn,cs pode ser feita pela equação [11]

𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 = 𝐾𝑐. 𝑄𝑡𝑛 [11]

onde Kc é o coeficiente de correção que pode ser obtido pelas equações [12] e

[13] onde Ic é o índice de classificação do tipo de material no ábaco SBTn de

Robertson (2009).

𝐾𝑐 = 1,0 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐼𝑐 ≤ 1,64 [12]

𝐾𝑐 = 5,81. 𝐼𝑐3 − 0,403. 𝐼𝑐

4 − 21,63. 𝐼𝑐2 + 33,75. 𝐼𝑐 − 17,88 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐼𝑐 > 1,64

[13]

Page 60: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

37

2.7.3. Fluxo por liquefação

Hanzawa et al. (1979) foi o primeiro a mostrar que para além dos solos

argilosos, areias soltas e saturadas, quando carregadas em condições não

drenadas, apresentam um comportamento de suavização de deformação

(amolecimento), que é caracterizado por um pico na resistência ao cisalhamento,

a partir do qual o solo passa a apresenta maior instabilidade e tende a se

deformar até atingir a resistência cisalhante liquefeita, no estado permanente

mostrado na Figura 2.20 (Kramer, 1996).

Esse comportamento, conforme discutido no tópico 2.7.2.3 é típico de

solos que tendem a ter redução de volume (contrativos), por fluxo, após terem

atingido um valor de resistência de pico com baixas deformações.

Se considerarmos diferentes amostras de solos com os mesmos índices

de vazios, em ensaios triaxiais não drenados, mas submetidas a diferentes

tensões de confinamento, percebe-se que todas as amostras alcançarão as

mesmas condições de tensão efetiva no estado permanente, entretanto através

de caminhos de tensões diferentes. Analisando a Figura 2.22, observa-se que

as amostras A e B estão abaixo da linha de estado permanente, logo exibem

comportamento expansivo ao cisalhar. As amostras C, D e E por estarem acima

de tal linha, exibem comportamento contrativo. Cada uma delas atinge seu pico

de tensão e após isso rapidamente convergem para o estado permanente. As

amostras C, D, e E por apresentarem comportamento contrativo, estão

suscetíveis a liquefação por fluxo, essa que é iniciada nos picos de seus

caminhos demarcados com um (x) no trajeto (Kramer, 1996).

Percebe-se nas amostras suscetíveis a liquefação, C, D e E, que seus

valores de pico de resistência ao cisalhamento se alinham definindo assim uma

fronteira entre comportamentos estáveis e não estáveis durante o cisalhamento.

Essa linha é denominada superfície de fluxo por liquefação e representada pela

linha tracejada na Figura 2.22 (Kramer, 1996).

Page 61: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

38

Figura 2.22 – Respostas de cinco ensaios triaxiais consolidados isotropicamente com o mesmo

índice de vazios inicial em diferentes tensões de confinamento. Determinação da superfície de

fluxo por liquefação nas amostras C, D e E nos pontos marcados com um x (Kramer, 1996).

2.7.4. Influência do excesso de poropressão

A geração de excesso de poropressão é o gatilho para que se possa

iniciar a liquefação nos solos.

A liquefação por fluxo pode ser iniciada por carregamentos cíclicos ou por

equilíbrio estático. Para que ocorra por carregamento cíclico, a tensão cisalhante

necessária para se atingir o equilíbrio estático deve ser maior que a resistência

no estado permanente (Kramer, 1996).

In-situ, essas tensões cisalhantes são causadas pela gravidade e são

constantes até que se desenvolvam grandes deformações. Assim, como pode-

se ver na Figura 2.23, apenas os estados de tensão iniciais que se situam na

região sombreada são suscetíveis à liquefação por fluxo (SLF). Entretanto, para

que ocorra essa liquefação por fluxo, uma perturbação não drenada

suficientemente intensa deve ocorrer para que o caminho das tensões efetivas

saia de seu ponto inicial em direção a superfície de fluxo por liquefação (Kramer,

1996).

Page 62: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

39

Figura 2.23 – Zona suscetível à liquefação por fluxo (Kramer, 1996).

2.8. Método dos elementos finitos em obras geotécnicas

Desde o seu desenvolvimento há algumas décadas, o Método dos

Elementos Finitos foi cada vez mais amplamente utilizado para análises de

engenharia geotécnica e suas aplicações. Atualmente, após diversas

aprimorações, o método dos elementos finitos passou de uma simples

ferramenta de pesquisa para uma ferramenta diária de engenharia. Esse

método, apresenta vantagens significativas em problemas complexos de

geotecnia em relação aos métodos convencionais e analíticos. No entanto, como

qualquer outro método de análise, o método dos elementos finitos também

apresenta suas limitações de aplicação. Essas limitações quando não são

reconhecidas pelos usuários de softwares, pode levar a projetos com erros.

Mesmo com todo o desenvolvimento dos softwares de elementos finitos

na área de geotecnia, é impossível criar um modelo fidedigno com a realidade

dos processos físicos envolvidos em um projeto real e que forneça uma previsão

perfeitamente realista do comportamento dos materiais (deslocamentos,

tensões, pressões dos poros, forças estruturais, capacidade de carga, fator de

segurança, capacidade de drenagem, capacidade de bombeamento, etc.). Isso

se deve principalmente ao caráter altamente não linear e heterogêneo dos solos

o que os tornam difíceis de capturar em modelos numéricos. Ao se utilizar o

método dos elementos finitos, o solo é modelado por meio de um modelo

constitutivo (relação tensão-deformação) que é elaborado em uma estrutura

contínua. A escolha do modelo constitutivo e o conjunto correspondente de

parâmetros do modelo são as principais questões a se considerar quando se cria

um modelo de elementos finitos para um projeto geotécnico. Esses parâmetros

e o modelo constitutivo são hoje a principal limitação da utilização de modelagem

numérica, pois, mesmo sendo um modelo complexo, esse será sempre uma

aproximação simplificada do comportamento real do solo, não sendo possível

fazer a captura pelo modelo de algumas importantes características do solo.

Entretanto, essa aproximação feita pela modelagem, quando bem feita, pode ser

um excelente guia para a concepção de projetos mais confiáveis (Brinkgreve e

Engin, 2013)

Page 63: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

40

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Materiais

O resíduo utilizado nesse estudo provém de uma barragem, conforme

exemplo mostrado na Figura 3.01, que se situa na região do quadrilátero ferrífero

no estado de Minas Gerais, Brasil. Os minérios de ferro dessa região são em

grande maioria os itabiritos, que se dividem em normais (bandas ricas em

quartzo e óxido de ferro) e dolomíticos (bandas de anfibólio e óxido de ferro)

(Rocha, 2008).

Figura 3.01 – Exemplo de barragem com rejeitos de Minério de Ferro da região do

quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, Brasil (adaptado de www.estadodeminas.com.br).

3.2. Métodos

Por ser um trabalho envolvendo dois laboratórios, o laboratório de

geotecnia da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (LabGeo/

FEUP) e o Laboratório de Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais

(LabGeo-DETG/EEUFMG), buscou-se a execução dos mesmos ensaios em

ambos. Assim, foram feitas análises para a caracterização dos materiais, para a

determinação dos parâmetros de compressibilidade e consolidação e para

determinação dos parâmetros de resistência em ambos laboratórios.

Será descrito sucintamente todos os ensaios, de forma que seja

perceptível as diferenças entre as metodologias de ensaios dos laboratórios.

3.2.1. Caracterização

Os ensaios de caracterização buscaram a determinação da granulometria

e da massa específica dos rejeitos. Ensaios para determinação dos limites de

Page 64: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

41

Atterberg definiram tal material como não plástico, sendo assim omitidos desse

estudo.

3.2.1.1. Granulometria

A análise granulométrica de um material tem como o objetivo a

classificação das partículas que compõem o solo de acordo com seus diferentes

tamanhos. Definindo as frações percentuais do solo que correspondem a cada

faixa granulométrica, é possível determinar a curva granulométrica do material.

3.2.1.1.1. Análise granulométrica FEUP

A análise granulométrica executada na FEUP, seguiu a especificação E

196 – 1966 do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

Os ensaios de caracterização granulométrica iniciaram-se com a

separação do rejeito completamente seco (retirado da estufa após 24 horas) em

diferentes porções sobre a tábua de quarteamento conforme a Figura 3.02. O

processo de quarteamento do rejeito, visa homogeneizar o material de forma a

obter uma amostra mais representativa. Antes do processo de esquartelamento,

foram executados destorroamentos do material para uma melhor

homogeneização da granulometria real do rejeito.

Figura 3.02 – Rejeito sobre tábua de esquartelamento.

O rejeito então é despejado em um frasco Erlenmeyer e nesse

adicionados 100 ml de defloculante. Agitou-se a amostra para realizar a mistura

e em seguida colocou-se em repouso conforme a Figura 3.03. Segundo a norma

E 196 – 1966, o Erlenmeyer deve ficar em repouso por 6 horas, entretanto no

laboratório da FEUP é comum deixá-lo por 24 horas.

Page 65: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

42

Figura 3.03 – Rejeito em repouso.

Após o tempo estipulado de repouso, o recipiente foi levado à fervura em

uma placa de aquecer por 10 minutos e, posteriormente, colocado no dispersor

por um tempo mínimo de 15 minutos conforme na Figura 3.04.

Figura 3.04 – Rejeito no dispersor.

Executou-se posteriormente a lavagem do rejeito, onde separa-se a

fração grossa da fração fina ao passá-lo em uma peneira com 0,075 mm de

abertura, tendo cada fração um procedimento diferente após esta etapa.

O rejeito que fica retido na peneira, considerado grosso, é colocado em

uma vasilha e completamente seco na estufa conforme a Figura 3.05.

Page 66: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

43

Figura 3.05 – Rejeito grosso retirado da estufa.

O rejeito grosso é então pesado e despejado em um jogo de peneiras que

posteriormente foram colocadas em um agitador, conforme a Figura 3.06, aonde

ficaram por um tempo mínimo de 20 minutos. Na FEUP, as peneiras utilizadas

têm suas aberturas padronizadas pela American Society for Testing and

Materials (ASTM), segundo a norma D6913.

O rejeito retido em cada peneira é então pesado e assim sabe-se a fração

de cada granulometria do rejeito grosso, conforme a Figura 3.07.

Figura 3.06 – Peneiras no agitador.

Page 67: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

44

Figura 3.07 – Rejeito grosso separado por peneiras.

O rejeito fino, que passou pela peneira 200 na lavagem, é encaminhado

para o processo de medição da densidade e da temperatura. Fez-se a

homogeneização da mistura rejeito/água destilada dentro de uma proveta com

1000 ml preenchidos e posteriores medições de temperatura e densidade nos

intervalos de tempo de 1, 2, 5, 15, 30, 60, 250, 1440 e 2880 minutos conforme a

Figura 3.08.

Figura 3.08 – Medição da temperatura e densidade da amostra.

Fez-se assim a aferição de todas as medidas conforme norma e registrou-

se na folha de cálculo, sendo posteriormente os dados tratados em tabela Excel

utilizada no laboratório da FEUP.

Page 68: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

45

3.2.1.1.2. Análise granulométrica EE/UFMG

A análise granulométrica executada na EE/UFMG, seguiu as

especificações das Normas Brasileira Regulamentadoras (NBRs) 7181 e 6457

da Agência Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Na EE/UFMG os ensaios iniciaram-se com a preparação do rejeito,

secando-o até que esse atingisse a umidade higroscópica. Após essa etapa,

procedeu-se com o destorroamento, e assim obteve-se um material mais

homogeneizado, conforme as Figuras 3.09 e 3.10.

Figura 3.09 – Rejeito em umidade higroscópica.

Figura 3.10 – Rejeito destorroado e homogeneizado.

Com o rejeito homogeneizado, procedeu-se com o quarteamento do

mesmo para a obtenção de uma amostra representativa em quantidade

suficiente e posteriormente passou-se o material na peneira de 4,8mm de

abertura.

O rejeito então é passado na peneira de 2,0mm de abertura e lavado para

a retirada do material fino aderente. O material retido seria então colocado na

estuda a uma temperatura de 110ºC até a completa secagem, entretanto, todo

Page 69: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

46

material passou na peneira, sendo assim deu-se continuidade com o processo

da norma para o material fino.

O rejeito que passou na peneira de abertura 2,0mm, considerado material

fino, é pesado e em uma massa de 120 gramas desse foi adicionado o

defloculante na proporção considerada pela norma. Foram separadas 3

amostras desse material para determinação do teor de umidade. Esse material

é então agitado em um béquer e colocado em repouso por 24 horas, sendo o

tempo mínimo de norma de 12 horas.

Posteriormente, a esse material é adicionada água destilada e colocado

em um dispersor por 15 minutos.

O material então é despejado em um provete e completo até 1000 ml. Em

seguida é agitado de modo a manter as partículas em suspensão em intervalos

constantes até que a temperatura se estabilize. Iniciou-se então a medição das

densidades em intervalos de tempo de 0,5, 1, 2, 4, 8, 15, 30, 60, 120, 240, 480

e 1440 minutos (Figura 3.11).

Figura 3.11 – Medição da densidade.

Resalta-se que todo o ensaio foi feito em local com temperatura constante.

Após a última medição, passou-se o material na peneira de abertura

0,075mm e o material retido foi bem lavado e posteriormente colocado em uma

estufa a 110ºC para a completa secagem (Figura 3.12).

Page 70: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

47

Figura 3.12 – Material dentro da estufa utilizada na EE/UFMG.

Com o material seco, passou-se esse, com o auxílio de um agitador

mecânico, nas peneiras de material fino, 1,2, 0,6, 0,42, 0,25, 0,15, 0,075 mm de

abertura, e anotou-se, com resolução de 3 casas decimais, os pesos de material

em cada peneira conforme a Figura 3.13.

Figura 3.13 – Peneiras no agitador da EE/UFMG.

Com todos os registros, utilizando-se de tabela Excel do laboratório,

produziu-se a curva granulométrica do rejeito.

Page 71: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

48

3.2.1.2. Massa específica

A massa específica de um solo pode ser definida como a relação entre a

massa total desse solo e o seu volume total. A massa específica é um dado

necessário para a determinação de diversos índices físicos de um solo, como o

índice de vazios, e para ensaios que envolvam a sedimentação.

3.2.1.2.1. Massa específica FEUP

A determinação da massa específica relativa (densidade) do solo

executada na FEUP, seguiu as especificações da Norma Portuguesa (NP – 83).

Foram utilizados dois picnômetros para realização do ensaio. Para cada

um deles separou-se aproximadamente 30 g de rejeito, sendo essa quantidade

estimada no laboratório para solos pesados conforme a Figura 3.14.

Figura 3.14 – Rejeito sendo despejado no picnômetro.

Para a obtenção dessas amostras, foi feito o esquartelamento, conforme

descrito na análise granulométrica, no entanto as divisões foram feitas mais

vezes, até ser obtido os 30 g para cada picnômetro.

Em seguida, despejou-se o rejeito no picnômetro e adicionou-se água

destilada. A amostra foi então agitada para homogeneizar a mistura. Observou-

se com cuidado que todo o solo ficou depositado na parte inferior interna do

picnômetro. Deixou-se em repouso tal material por 24 horas.

Em uma placa de aquecer, colocou-se os picnômetro e marcou após

iniciar a fervura, 10 minutos, conforme a Figura 3.15. Após fervura colocou-se os

picnômetro em repouso para sedimentação por mais 24 horas.

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49

Figura 3.15 – Rejeito sobre placa de aquecer.

Após a sedimentação, completou-se com água destilada os picnômetros

até a marca de calibração, e pesou-se o conjunto, medindo também o valor da

temperatura pois essa influência na densidade. Posteriormente despejou-se todo

o conteúdo em um béquer o qual foi colocado na estufa para completa secagem

do rejeito.

Após seco, fez-se a pesagem para determinação da quantidade de rejeito.

Com o preenchimento da tabela Excel conforme a Figura 3.16, a qual já possui

a calibração do picnômetro utilizado e as devidas formulações da norma,

determinou-se a massa específica do material.

Figura 3.16 – Tabela para determinação das massas específicas da FEUP.

Page 73: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

50

3.2.1.2.2. Massa específica EE/UFMG

A determinação da massa especifica relativa (densidade) do solo

executada na EE/UFMG, seguiu as especificações da NBR - 6508 da ABNT.

No ensaio executado na EE/UFMG, o processo de obtenção da amostra

do rejeito se fez de forma similar ao para obtenção do ensaio granulométrico,

seguindo a NBR 6457. Obteve-se também a umidade inicial da amostra para

utilização na formulação.

Foram executados 3 ensaios distintos e simultâneos. Despejou-se o

rejeito dentro dos picnômetros e fez-se a adição de água destilada de forma a

cobrir completamente o rejeito. Deixou-se essas amostras em repouso por 24

horas, (Figura 3.17), sendo o mínimo exigido por norma 12 horas.

Figura 3.17 – Rejeito para análise da massa específica em repouso na EE/UFMG.

Após esse período, despejou-se a amostra num copo de dispersão por 15

minutos, completando com água destilada. Transferiu-se novamente a amostra

para o picnômetro e completou-se com mais água destilada. Nesse momento,

aplicou-se vácuo na amostra com 88 KPa ( 66 cm de Hg a 0ºC) por 15 minutos

com agitações esporádicas (Figura 3.18).

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51

Figura 3.18 – Aplicação do vácuo sobre o rejeito na EE/UFMG.

Aplicou-se novamente por mais 15 minutos o mesmo valor de vácuo e

posteriormente adicionou-se água destilada até próximo da marca de calibração

dos picnômetros. Esperou-se que a temperatura do conjunto se equilibrasse com

a do meio e em seguida completou com água destilada até as marcas de

calibração. Pesou-se então o conjunto e fez-se a aferição da temperatura do

sistema. Com o auxílio da tabela Excel utilizada pelo laboratório, determinou-se

a massa especifica dos rejeitos, (Figura 3.19).

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52

Figura 3.19 – Tabela para determinação das massas específicas da EE/UFMG.

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53

3.2.2. Consolidação e Adensamento

Foram feitos ensaios edometricos clássicos com carregamentos

sucessivos e descarregamentos

3.2.2.1. Edométrico FEUP

O ensaio Edométrico reproduz como o solo responde a um carregamento

vertical/compressão em condições anisotrópicas. No Laboratório de Geotecnia

da Universidade do Porto, foram realizados ensaios edometricos clássicos em

que as tensões foram aplicadas por um braço de alavanca, cujo equipamento é

apresentado na Figura 3.20.

Figura 3.20 – Equipamento para ensaio Edométrico da Universidade do Porto.

O provete foi moldado com um diâmetro de 49,68 mm e uma altura de

19,99 mm.

Os deslocamentos verticais foram medidos de forma continuada através

de um LSC, sendo também medidos os deslocamentos por um deflectômetro

analógico para confirmação dos deslocamentos do LSC.

O ensaio foi feito com 12 escalões de carregamento diferentes, sendo

assim aplicadas as tensões correspondentes a 3, 6, 12, 25, 50, 100, 200, 400,

800, 1600, 3200, 6400 kPa. Foram feitos também 6 escalões de

descarregamento diferentes, sendo aplicadas as tensões correspondentes a 1,5,

25, 50, 200, 400, 1600 kPa.

Page 77: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

54

3.2.2.2. Edométrico EE/UFMG

No Laboratório de Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais,

também foram realizados ensaios edometricos clássicos em que as tensões

foram aplicadas por um braço de alavanca, sendo o equipamento utilizado

apresentado na Figura 3.21.

Figura 3.21 – Equipamento para ensaio Edométrico da EE/UFMG.

O provete foi moldado com um diâmetro de 50,00 mm e uma altura de

20,00 mm, podendo ser visualizada dentro do molde na Figura 3.22.

Figura 3.22 – Provete para ensaio Edométrico da EE/UFMG.

Page 78: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

55

Os deslocamentos verticais foram medidos por um deflectômetro

analógico executando leituras nos prazos de tempo, em cada escalão, de 15 e

30 segundos, 1, 2, 4, 8, 15, 30 minutos e 1, 2, 4, 8, 24 horas.

O ensaio foi feito com 11 escalões de carregamento diferentes, sendo

assim, foram aplicadas as tensões correspondentes a 2,5, 5, 10, 13, 25, 51, 102,

204, 407, 815, 1630 kPa. Foram feitos também 11 escalões de descarregamento

diferentes, sendo aplicadas as mesmas tensões correspondentes ao

carregamento na mesma proporção.

3.2.3. Resistência

Para a determinação dos parâmetros de resistência do rejeito foram

executados ensaios triaxiais em condições controladas. Foram executados

ensaios drenados e não drenados com o objetivo de determinar a linha de

estados críticos do rejeito específico, sendo essa utilizada nos estudos da

susceptibilidade à liquefação.

A câmara triaxial convencional utilizada é apresentada na Figura 3.23.

Figura 3.23 – Exemplo de câmara triaxial convencional utilizada (Matos Fernandes, 2017).

Page 79: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

56

Nesse tipo de câmara, a célula tem paredes de acrílico que são fixadas

na base e no topo da célula por meio de tirantes de pressão. No topo da câmara

situa-se um embolo que faz a aplicação da força vertical medida pela célula de

carga. Na base, situa-se um sistema de dutos que se conectam ao exterior por

meio de torneiras que por sua vez podem ser conectadas a transdutores para

medir as pressões ou os volumes de água deslocados para o exterior.

O provete é posicionado sobre a base na posição central da câmara e

deve ser protegida por uma membrana impermeável de modo a manter a

estanqueidade do solo dentro da membrana. Para que tal estanqueidade seja

garantida. O-rings são ajustados na base e no topo fixando a membrana.

3.2.3.1. Ensaios triaxiais executados na FEUP

Os ensaios na FEUP foram executados isotropicamente com as tensões

de consolidação de 100, 200 e 400 kPa, todos drenados.

Os procedimentos em todos os ensaios foram os mesmos, variando

apenas as tensões de consolidação.

3.2.3.1.1. Preparação das amostras e instalação da câmara

As amostras preparadas para os ensaios foram executadas com o rejeito

original, sendo esse completamente seco em estufas a 90ºC por um período

mínimo de 24 horas. Utilizou-se nos trabalhos a técnica de moist tamping ou

compactação ligeira em condições pouco úmidas para a moldagem dos corpos

de provas. Ao se moldar os provetes, utilizou-se um percentual de 5% de teor

em água e procedeu-se com a completa homogeneização (Figura 3.24).

Figura 3.24 – Homogeneização de amostra para ensaio triaxial da FEUP.

A preparação dos corpos de provas foi feita em moldes, sobre as bases

das câmaras triaxiais. Na FEUP, as dimensões dos moldes são de

aproximadamente 71 mm de diâmetro e 144 mm de altura.

Page 80: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

57

Nos ensaios da FEUP foram utilizadas bases e topos lubrificados visando

reduzir os efeitos da contenção de extremidades. A base lubrificada consiste em

dois discos de membrana de látex, com uma fina camada de graxa de silicone

prensada entre eles. As lâminas lubrificadas evitam que as partículas de solo

sejam pressionadas nas bases e assim desenvolvam contatos de atrito. Tal

implemento produz corpos de prova em que se espera que deformem

uniformemente como um cilindro durante o cisalhamento, pois o diâmetro dessas

bases é ligeiramente superior ao diâmetro da amostra, podendo acompanhar a

sua deformação radial. Isso leva a tensões uniformes e pressões de poros

uniformemente distribuídas em ensaios não drenados. A Figura 3.25 mostra uma

base lubrificada do laboratório da FEUP utilizada nesse trabalho.

Figura 3.25 – Base lubrificada da FEUP.

Os provetes foram moldados do lado solto de modo a evitar fortes

adensamentos nos mesmos. Objetivando obter uma maior uniformidade de

índices de vazios dentro do provete, utilizou-se o procedimento de under

compaction, no qual faz-se um aumento progressivo do peso das camadas. Para

isso, utilizou-se tabelas em Excel elaboradas na FEUP, que definem a

quantidade de rejeitos por camada a ser empregada para um determinado índice

de vazios inicial. A Figura 3.26 apresenta o processo de moldagem de uma

dessas camadas.

Page 81: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

58

Figura 3.26 – Montagem de camada do provete para ensaio triaxial da FEUP.

Ao finalizar a última camada, inseriu-se o bloco de topo nos moldes e fez-

se as devidas fixações, dos mesmos, com os O-rings na base e no bloco de topo.

Os blocos de topo nos ensaios da FEUP são do tipo guiado, esses

reduzem as diferenças de inclinações durante o corte da amostra, permitindo

que essa se deforme uniformemente, reduzindo a possibilidade de ocorrência de

superfícies de rotura direcionadas pelo carregamento. Os topos guiados

permitem também que a variação volumétrica na amostra ocorra de forma

homogênea, sendo essa importante pois melhora as aferições das LEC.

Entre a pedra porosa da base e o provete e entre a pedra porosa do topo

e o provete, foram posicionados papeis de filtro para evitar a colmatação.

Antes de executar a desmontagem dos moldes, a instrução de trabalho

em ensaios triaxiais da FEUP solicita que sejam feitas a verificação da

estanqueidade da membrana e a testagem das pressões no provete utilizando o

vácuo.

Após as verificações, procedeu-se com a desmontagem do molde (Figura

3.27).

Page 82: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

59

Figura 3.27 – Retirada do corpo de molde do provete para ensaio triaxial da FEUP.

Após a retirada do molde foi feito novo teste de estanqueidade sobre a

membrana do provete. Verificada a estanqueidade, procedeu-se com a tomada

das medidas do corpo de prova e sua consequente instalação na câmara triaxial

com o enchimento da mesma com água destilada (Figura 3.28).

O equipamento onde se executaram os ensaios triaxiais na FEUP é da

marca Wykeham Farrance, (Figura 3.28).

Page 83: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

60

Figura 3.28 – Enchimento da câmara para ensaio triaxial da FEUP.

3.2.3.1.2. Passagem de CO2, percolação, saturação e verificação da

saturação

O procedimento de saturação do corpo de prova através da percolação

de água pela mesma, visa a expulsão da maior quantidade possível de ar

existente entre as partículas.

Para acelerar o processo de expulsão das bolhas de ar entre as partículas

e aumentar o percentual de saturação do provete, fez-se, previamente a

saturação, a passagem de dióxido de carbono (CO2) pelo provete, com uma

tensão não excedente a 5kPa, visando evitar qualquer possível excesso de

pressão interna no provete e o colapso da mesma. A Figura 3.29 mostra a

passagem do CO2, utilizando uma garrafa pet como o medidor do volume

passado de CO2.

A percolação é feita sempre com a passagem da água no sentindo

ascendente, da base para o topo, sendo aplicada uma pressão de água na base

e mantendo-se sempre um diferencial de pressão com a câmara de 10kPa. Tal

procedimento é feito até a passagem de um volume aproximado de duas vezes

o volume de vazios do provete.

Page 84: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

61

Figura 3.29 – Passagem de CO2 no provete para ensaio triaxial da FEUP.

Para a retirada de bolhas de ar de menores dimensões, procede-se a

saturação com um aumento gradativo da pressão na base, fazendo em

simultâneo o aumento da pressão da câmara para se manter o diferencial de

pressões de 10kPa e assim evitar a consolidação do provete. A Figura 3.30

apresenta o procedimento de saturação feito na FEUP, mostrando a quantidade

de água passada no corpo de prova e coletada no béquer.

Figura 3.30 – Saturação do provete para ensaio triaxial da FEUP.

Page 85: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

62

A verificação do grau de saturação por sua vez é feita através da medição

do parâmetro B de Skempton. Para isso, aplicou-se um aumento de pressão na

câmara e, com a válvula de topo/saída da água fechada, mediu-se a variação da

pressão no provete. Se o provete estiver próximo da saturação, praticamente

todo o aumento de tensão será equilibrado por meio de um excesso de pressão

neutra, ficando o parâmetro B próximo da unidade. Tal parâmetro é assim

calculado através da expressão [14].

𝐵 =∆𝑢

∆𝜎3 [14]

onde u é a variação da poropressão do corpo de prova e 3 é a variação da

pressão aplicada na câmara.

O laboratório da FEUP assume que um provete está saturado para um

valor do parâmetro B de Skempton acima de 0,975 para ensaios drenados e 0,98

para não drenados.

3.2.3.1.3. Consolidação dos provetes

Com a consolidação, buscou-se simular, em laboratório, o estado de

tensão efetiva para o qual o rejeito estava submetido in situ. Nessa fase, a

consolidação ocorre de forma isotrópica, sendo as tensões efetivas verticais e

horizontais iguais.

Essa consolidação isotrópica, ocorre com o aumento gradual das

pressões da câmara. No laboratório da FEUP, o aumento de tensões foi

executado durante os ensaios a uma taxa de 50kPa/hora de modo que esse

aumento não gerasse excessos de pressão neutra dentro do provete.

Nessa fase, os ensaios foram feitos em condições drenadas, sendo

utilizado um medidor de volumes associado à base do sistema triaxial. A

consolidação é considerada completa quando a variação de volume passa a ser

constante ao longo do tempo.

3.2.3.1.4. Corte dos provetes

O corte foi feito com a aplicação de uma força axial sobre o corpo de prova

de modo que levasse essa a ruptura. Essa etapa pode ser executada de forma

drenada ou não drenada, sendo os ensaios desse trabalho, executados na

FEUP, todos drenados. Pode-se executar também o controle das deformações

ou das tensões.

A utilização de topos guiados pelo laboratório da FEUP proporciona ao

ensaio alcançar deformações mais elevadas sem que ocorra rupturas

localizadas no provete.

Os ensaios na FEUP foram feitos com uma variação de deformação

controlada de forma a manter sempre à poropressão interna dos corpos de prova

o mais próximo possível de zero, sendo o ensaio de 100kPa executado a uma

deformação média de 0,027mm/min; o ensaio de 200kPa executado a uma

Page 86: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

63

deformação média de 0,025mm/min e o de 400kPa executado a uma

deformação média de 0,028mm/min.

O deslocamento relativo entre a câmara triaxial e o pistão de carga foi

medido através de um LVDT fixado sobre a superfície da câmara. O medidor de

volumes foi utilizado também nesta etapa para a medição do volume deslocado

no corte. Transdutores de pressão faziam o controle das pressões internas do

provete e da câmara. Todo o monitoramento e a aquisição de dados foram feitos

pelo programa MultiGEO, desenvolvido na própria FEUP. A carga vertical

aplicada é medida através de uma célula de carga embutida no êmbolo. Na

FEUP, estas células de carga são submersíveis, podendo ser colocadas no

interior da câmara triaxial, e assim evitando que a fricção associada ao

movimento do pistão afete os resultados.

A Figura 3.31 apresenta um ensaio em execução, durante a fase de corte,

no laboratório da FEUP.

Figura 3.31 – Corte do provete em ensaio triaxial da FEUP.

3.2.3.1.5. Congelamento do provete e da base

Após o corte, os provetes ainda sobre a base foram congeladas com o

objetivo de uma melhor aferição do índice de vazios ao final do ensaio, sendo esse

um aspecto determinante da linha de estados críticos.

Page 87: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

64

Com o congelamento, conserva-se toda a água que está no corpo de prova

saturado, sendo assim possível determinar de forma mais precisa seu volume.

Com esse volume, utilizando a equação [15], é possível determinar com maior

precisão o índice de vazios final.

e = 𝐺 ×𝑤

𝑆 [15]

A Figura 3.32 apresenta o aspecto do provete congelado sobre a base após

24 horas no congelador.

Figura 3.32 – Provete congelada após ensaio triaxial na FEUP.

3.2.3.2. Ensaios triaxiais executados na EE/UFMG

Os ensaios na EE/UFMG foram executados com as tensões de

consolidação de 100, 200, 400 e 600kPa, sendo que para os corpos de prova

consolidados com as três tensões menores foram executados ensaios drenados

e para o corpo de prova consolidado com 600 kPa foi realizado ensaio não

drenado.

Os procedimentos em todos os ensaios foram os mesmos, variando

apenas as tensões de consolidação isotrópica.

3.2.3.2.1. Preparação dos provetes e instalação da câmara

Na EE/UFMG os corpos de prova também foram preparados com o rejeito

original, sendo esse completamente seco em estufas a 110ºC por um período

mínimo de 24 horas. Utilizou-se também nos trabalhos a técnica de moist

tamping para a moldagem dos provetes. Ao se moldar os corpos de prova,

utilizou-se um percentual de 6% de teor em água, para uma melhor

Page 88: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

65

trabalhabilidade nesse laboratório, e procedeu-se com a completa

homogeneização.

Os provetes foram moldados em corpos de moldes sobre as bases das

câmaras triaxiais, sendo que as dimensões dos moldes da EE/UFMG foram de

aproximadamente 53 mm de diâmetro e 110 mm de altura.

Nos ensaios da EE/UFMG foram utilizadas bases não lubrificadas.

A Figura 3.33 apresenta o molde sobre a base da câmara triaxial, já

preparado para receber o material para confecção do corpo de prova.

Figura 3.33 – Corpo de molde sobre base da câmara da EE/UFMG.

Os corpos de prova foram todos moldados do lado solto. De modo a obter uma

maior proximidade entre os índices de vazios, utilizou-se o procedimento de

under compaction, sendo exemplificado na Figura 3.34 o processo de pesagem

de uma das camadas para um dos ensaios.

Page 89: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

66

Figura 3.34 – Peso de rejeito em uma camada para ensaio triaxial da EE/UFMG.

Ao finalizar a última camada, fez-se as devidas fixações do bloco de topo

e da base com os O-rings.

Entre a pedra porosa da base e o provete e entre a pedra porosa do topo

e o provete, foram posicionados papeis de filtro para evitar a colmatação.

Após a devida fixação dos O-rings retirou-se o molde do corpo de prova

(Figura 3.35).

Figura 3.35 – Provete para ensaio triaxial da EE/UFMG.

Page 90: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

67

Após a tomada das medidas do corpo de prova, procedeu-se com a

instalação da câmara de acrílico e o enchimento da mesma com água desareada

(Figura 3.36).

O equipamento onde se executaram os ensaios triaxiais na EE/UFMG é

da marca Wille Geotechnik, (Figura 3.36).

Figura 3.36 – Enchimento da câmara com o provete para ensaio triaxial da EE/UFMG.

3.2.3.2.2. Percolação, saturação e verificação da saturação

A percolação é feita com a passagem da água no sentindo ascendente,

da base para o topo, sendo aplicada uma pressão de água na base e mantendo-

se sempre um diferencial de pressão com a câmara de 10kPa. Para a retirada

de bolhas de ar de menores dimensões, procedeu-se a saturação com um

aumento gradativo da pressão de base, fazendo em simultâneo o aumento da

pressão da câmara para se manter o diferencial de pressões de 10kPa e assim

evitar a consolidação do corpo de prova. Por não ter feito a passagem de CO2

no corpo de prova, foi executada a passagem de água desareada até que na

verificação do parâmetro B de Skempton obtivesse um valor próximo de 0,95,

valor esse considerado no laboratório da EE/UFMG para a amostra saturada.

A verificação do parâmetro B de Skempton foi feita através das leituras

das pressões em um manômetro ótico.

A Figura 3.37 mostra um exemplo do processo de saturação em curso, na

EE/UFMG, para um dos ensaios realizados. Por sua vez a Figura 3.38 apresenta

o manômetro utilizado para verificação do parâmetro B de Skempton. Por ser um

manômetro com escala de 20kPa de pressão, para verificação do parâmetro foi

Page 91: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

68

aplicado um diferencial de pressão de 40kPa na câmara com o corpo de prova

isolado.

Figura 3.37 – Saturação do corpo de prova para ensaio triaxial da EE/UFMG.

Figura 3.38 – Manômetro utilizado no ensaio triaxial da EE/UFMG.

3.2.3.2.3. Consolidação dos corpos de prova

A consolidação isotrópica, ocorre com o aumento gradual das pressões

da câmara. No laboratório da EE/UFMG, o aumento de tensões foi executado

Page 92: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

69

durante os ensaios a uma taxa de 10kPa/min, devido a esse aumento ter sido

feito de forma manual e as limitações de tempo impostas pela pandemia de

Covid 19, e com o controle através do manômetro para que não ocorresse

excessos de pressão neutra dentro do corpo de prova. Todo o processo foi

executado de modo manual através do painel de pressões (Figura 3.39).

Nessa fase, os ensaios são feitos em condições drenadas, sendo utilizado

uma bureta graduada para medição do volume deslocado em intervalos de

tempo pré definidos em tabelas da EE/UFMG. A consolidação é considerada

completa quando a variação de volume passa a ser constante ao longo do

tempo. Devido a limitações de tempo dentro das instalações da UFMG por conta

a pandemia de Covid19, não eram possíveis fazer as medições de 8 horas de

consolidação e de 16 horas de consolidação, sendo feitas medições nos

intervalos de 21 horas e 24 horas e verificado nesses dois intervalos se a

variação de volume permanecia constante ao longo do tempo.

Figura 3.39 – Painel de pressões utilizado no ensaio triaxial da EE/UFMG.

3.2.3.2.4. Corte dos corpos de prova

Os ensaios na EE/UFMG foram feitos com uma variação de deformação

controlada de 0,050 mm/min, devido as limitações de tempo impostas pela

pandemia de Covid 19, sendo assim atingido uma deformação de

aproximadamente 20% nos provetes com aproximadamente 7 horas de ensaio,

deformação essa que considera o corpo de prova rompido segundo a norma. Tal

Page 93: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

70

velocidade foi definida tendo em conta o tempo diário disponível nas instalações

da UFMG.

A verificação dos excessos de poropressão internos no corpo de prova

eram feitos com o manômetro ótico de escala de 20kPa, não sendo verificados

excessos de poropressão nos ensaios drenados. Deduziu-se assim que as

variações da poropressão foram mínimas de forma a não influir no corte.

O deslocamento relativo entre a câmara triaxial e o pistão de carga foi

medido no próprio equipamento da Wille que possuía a medição do

deslocamento durante o corte. O volume deslocado nos ensaios drenados foi

medido através da bureta graduada conectada a base do provete. Todo o

monitoramento e aquisição de dados foi executado de forma manual com o

auxílio da tabela utilizada na EE/UFMG.

A Figura 3.40 apresenta, a título de exemplo, o ensaio não drenado, na

fase de corte em execução, no laboratório da EE/UFMG. No provete não

drenado, além do manômetro de escala de 20kPa, utilizou-se também um

manômetro de escala de 5kPa.

A Figura 3.41 apresenta o corpo de prova do ensaio drenado com tensão

de confinamento de 100kPa após rotura.

Figura 3.40 – Ensaio não drenado executado na EE/UFMG.

Page 94: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

71

Figura 3.41 – Ensaio drenado rompido executado na EE/UFMG.

No laboratório da EE/UFMG não é utilizada a técnica do congelamento

das amostras, sendo nesse feita a retirada dos corpos de prova com o máximo

cuidado para evitar perdas de solo e de água, para que a pesagem seja feita

com o valor mais próximo possível do peso da amostra após o corte. Após, essa

é colocada na estufa e, posteriormente, com o peso do solo completamente

seco, faz-se os devidos cálculos para aferição do índice de vazios final com o

auxílio de tabelas Excel.

Page 95: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

72

4. RESULTADOS E CONCLUSÕES

Neste capítulo são apresentados os resultados de todos os ensaios

executados durante este trabalho e as conclusões que se obtiveram em suas

análises.

4.1. Ensaios de caracterização dos rejeitos

Durante os trabalhos, foi executado uma análise granulométrica no

laboratório da FEUP e duas análises granulométricas no laboratório da

EE/UFMG.

A composição granulométrica de um solo, ou de um meio particulado em

geral, é definida como a porcentagem ponderal de partículas de solo de acordo

com determinada dimensão.

A curva granulométrica obtida no laboratório da FEUP é apresentada na

Figura 4.01. Nela percebe-se que a composição do rejeito de minério estudado

tem uma característica predominantemente siltosa.

Ensaios para a obtenção dos Limites de Atterberg também foram

realizados com o rejeito original, sendo observado que os rejeitos são não

plásticos, corroborando estudos conduzidos por Vick (1983).

Figura 4.01 – Curva granulométrica obtida na FEUP.

Na EE/UFMG foram executados dois ensaios de caracterização

granulométrica, sendo um com a utilização de defloculante e outro sem

defloculante. A Figura 4.02 apresenta as diferenças encontradas nas curvas

granulométricas nos dois métodos de ensaio. Percebe-se comparando as curvas

que o uso do defloculante fez com que as partículas tivessem uma maior

dispersão e assim o percentual de partículas muito finas (argila) inicial aumentou.

0,8

41

0,2

50

0,1

80

0,1

05

0,0

74

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,001 0,01 0,1 1

% P

assados

Diâmetro equivalente das partículas (mm)

Page 96: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

73

Um detalhe importante é que em ambos os ensaios, com e sem

defloculante, segundo a ASTM o rejeito é classificado como silte com grande

quantidade de areia. Entretanto, a quantidade de material siltoso quando

comparadas as normas ABTN reduz drasticamente. Tal fato, se deve as

diferenças entre os sistemas de classificação no diâmetro considerado das

partículas de silte, sendo na ABNT entre 0,002 mm e 0,06 mm e na ASTM entre

0,002 mm e 0,075 mm

Também foram executados na EE/UFMG ensaios para determinação dos

Limites de Atterberg e que chegaram as mesmas conclusões dos ensaios

realizados na FEUP, sendo o rejeito classificado como não plástico.

Figura 4.02 – Curvas granulométricas obtidas na EE/UFMG em ensaios com e sem

defloculante.

Comparando os resultados da FEUP e da EE/UFMG nas mesmas

condições, ou seja, com a utilização de defloculante em ambos os ensaios,

percebe-se que a curva granulométrica da EE/UFMG obteve um maior

percentual de partículas muito finas (argilas) e um percentual menor de material

arenoso, podendo-se assim considerar que houve nesse caso uma maior

dispersão das partículas do solo devido a uma maior atuação do defloculante

nesse ensaio quando comparado a atuação do defloculante utilizado na FEUP.

A Figura 4.03 mostra as duas curvas granulométricas no mesmo gráfico.

No gráfico da Figura 4.03 percebe-se um pequeno elevar da curva

granulométrica da EE/UFMG nos diâmetros menores, tal provavelmente reflete

um pequeno erro de leitura do ensaio.

0,8

41

0,2

50

0,1

80

0,1

05

0,0

74

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,001 0,01 0,1 1

% P

assados

Diâmetro equivalente das partículas (mm)

Sem DefloculanteEE/UFMG

Com DefloculanteEE/UFMG

Page 97: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

74

Figura 4.03 – Curvas granulométricas obtidas na FEUP e na EE/UFMG em ensaios com

defloculante (Fonte: Autor, 2020).

A determinação da massa específica feita na FEUP encontrou um valor

de 4,548. Quando tal valor é comparado aos 3 ensaios executados na EE/UFMG

percebe-se uma concordância com o ensaio executado com a aplicação de

vácuo e fervura do corpo de prova que foi de 4,55. Quando executado o ensaio

apenas com a aplicação de vácuo, encontrou-se um valor para a massa

específica de 4,47 e quando executado o ensaio apenas com a aplicação da

fervura um valor de 4,45. Tal fato, se deve a um melhor desprender das

partículas de ar do solo com a aplicação das duas técnicas, vácuo e fervura.

Devido ao valor encontrado no ensaio com aplicação de vácuo e fervura

na EE/UFMG ter sido aproximadamente o mesmo da FEUP, optou-se por

considerá-lo o mais expressivo da massa específica do material, sendo o valor

adotado. A Figura 4.04 demonstra a tabela utilizada na EE/UFMG no ensaio com

aplicação de vácuo e fervura.

0,8

41

0,2

50

0,1

80

0,1

05

0,0

74

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,001 0,01 0,1 1

% P

assados

Diâmetro equivalente das partículas (mm)

FEUP

Com DefloculanteEE/UFMG

Page 98: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

75

Figura 4.04 – Tabela para determinação do GS da EE/UFMG.

Page 99: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

76

4.2. Ensaios de compressibilidade unidimensional (Edométrico)

Os ensaios edometricos clássicos foram executados com o intuito de

estudar a consolidação e compressibilidade dos rejeitados, simulando situações

in situ de carregamento e descarregamento. Na FEUP foram utilizados

edómetros da marca Wykeham Farrance com carregamento feito de forma

mecânica e leitores de deslocamento por LSCs e analógicos. O gráfico da Figura

4.05 apresenta a curva de compressibilidade obtida dos ensaios realizados na

FEUP.

Figura 4.05 – Curva de compressibilidade obtida nos ensaios na FEUP.

Percebe-se no trecho inicial uma inclinação mais acentuada até a

proximidade da tensão de 12kPa, tal fato pode ser explicado devido ao colapso

inicial da estrutura do solo e à conformação inicial desse devido ao método de

moldagem do corpo de prova para o ensaio. A partir dessa tensão de 12kPa,

percebe-se um abrandar da inclinação da curva de carregamento, atingindo essa

linearidade próximo da tensão de 800 kPa. Esse comportamento ocorre, pois,

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

1,10

1,20

1,30

1,40

1 10 100 1000 10000

e, I

nd

ice

de

Vaz

ios

, Tensão ( kPa )

CC 1

CC 2

CR 1

Cs

CR 2

Page 100: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

77

nos valores de tensões mais baixos, o rejeito sofre deformações pequenas e

reversíveis, sendo esse comportamento elástico; e nos valores de altas tensões,

esse sofre grandes deformações que são irreversíveis, sendo esse

comportamento plástico. Nas tensões mais elevadas, percebe-se uma tendência

de evolução do ramo virgem, provavelmente devido a geração de finos no

provete.

Com base no gráfico, pode-se calcular o índice de compressibilidade do

solo, que é definido como o declive do trecho virgem através da expressão [16]

sendo o valor desse de 0,177.

𝐶𝑐 = −∆𝑒

∆log (𝜎′𝑣) [16]

Pode-se calcular também o índice de expansibilidade (Cs) do solo na

curva de descarregamento final através da equação [17], tendo obtido o valor de

0,013.

𝐶𝑠 = −∆𝑒

∆log (𝜎′𝑣) [17]

Percebe-se no gráfico da Figura 4.05 ainda que nas duas curvas de

descarregamento-recarregamento, o índice de vazios pouco variou, sendo seu

índice de recompressibilidade (Cr) de 0,005 na primeira curva de

descarregamento-recarregamento e de 0,012 na segunda. Tal valor foi

calculado utilizando a expressão [18], aplicada aos ramos de descarga-recarga.

𝐶𝑟 = −∆𝑒

∆log (𝜎′𝑣) [18]

4.3. Ensaios de resistência

Os ensaios triaxiais desse estudo foram executados de forma drenada

tanto na FEUP como na EE/UFMG. Adicionalmente, foi executado um ensaio

não drenado na EE/UFMG para confirmação da linha de estados críticos do solo.

Todos os ensaios em ambos os laboratórios foram executados com a saturação

mínima dos corpos de prova considerada em cada laboratório (0,975 na FEUP

e 0,95 na EE/UFMG) e com a consolidação executada isotropicamente (K0 = 1).

As Tabelas 4.01 e 4.02 apresentam as condições iniciais dos corpos de prova

para os ensaios drenados executados, respectivamente, na FEUP e na

EE/UFMG após a moldagem dos provetes (A), após a consolidação dos provetes

(B) e após a conclusão dos cortes e seu descongelamento (C). Tais informações

são importantes para identificar a linha de estados críticos do solo e determinar

o comportamento desse rejeito em distintas etapas.

Page 101: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

78

Tabela 4.01 – Resumo das condições iniciais dos corpos de prova para cada fase dos ensaios

triaxiais na FEUP.

Tensão

Efectiva

Fase

Diâmetro Altura

Peso

Húmido

do

Provete

Peso Seco

do

Provete

Teor de

Água

Peso

Volúmico

seco

Índice de

Vazios

σ’c D H W Wd w d e

(kPa) (mm) (mm) (g) (g) (%) (kg/m³)

100

A 71,22 143,68 1227,21 1146,28 7,1 19,6 1,27

B 67,56 136,83 1384,48 1145,88 20,8 22,9 0,95

C 77,65 97,83 1357,20 1145,88 18,4 24,3 0,84

200

A 71,55 143,55 1227,21 1139,99 7,7 19,4 1,30

B 67,44 135,96 1373,15 1137,57 20,7 23,0 0,94

C 76,40 99,40 1343,12 1137,57 18,1 24,5 0,82

400

A 70,87 144,09 1148,73 1095,83 4,8 18,9 1,36

B 65,78 134,76 1312,97 1095,94 19,8 23,5 0,90

C 74,69 98,24 1285,44 1095,94 17,3 25,0 0,79

Tabela 4.02 – Resumo das condições iniciais dos corpos de prova para cada fase dos ensaios

triaxiais na EE/UFMG.

Tensão

Efectiva Fase

Diâmetro Altura

Peso

Húmido

do

Provete

Peso Seco

do

Provete

Teor de

Água

Peso

Volúmico

seco

Índice de

Vazios

σ’c D H W Wd w d e

(kPa) (mm) (mm) (g) (g) (%) (kg/m³)

100

A 53,00 110,00 562,91 532,05 5,8 21,5 1,20

B 50,36 105,06 606,42 501,36 21,0 23,5 0,95

C 55,64 83,06 599,12 501,36 19,5 24,4 0,88

200

A 53,00 110,00 561,31 532,05 5,5 21,5 1,20

B 49,20 104,20 603,36 502,25 20,1 24,9 0,92

C 54,16 82,20 594,66 502,25 18,5 26,0 0,84

400

A 53,00 110,00 562,38 532,05 5,7 21,5 1,20

B 48,60 103,50 601,78 505,35 19,1 25,8 0,87

C 53,54 81,50 593,28 505,35 17,4 27,0 0,79

Percebe-se, ao comparar as Tabelas 4.01 e 4.02, que os ensaios foram

executados em provetes com dimensões diferentes. Outro detalhe importante

que será tratado em considerações de resultados posteriormente é a utilização

de bases lubrificadas nos ensaios triaxiais da FEUP, sendo as bases dos ensaios

da EE/UFMG não lubrificadas.

Com os resultados obtidos, foram determinadas as linhas de estados

críticos (LEC) para o mesmo rejeito em ambos os laboratórios. Executando os

devidos ajustes nos pontos finais dos ensaios, foram definidos os valores para o

Page 102: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

79

volume específico quando p’ é 1.0 kPa (Γ) e da inclinação (λ) da LEC em ambos

os laboratórios no gráfico p’ x e, conforme as figuras 4.06 e 4.07.

Figura 4.06 – LEC no plano p’ x e, definida na FEUP.

Figura 4.07 – LEC no plano p’ x e, definida na EE/UFMG.

Determinou-se então no laboratório da FEUP o volume específico quando

p’ é 1.0 kPa de 1,037 e a inclinação de 0,037 e no laboratório da EE/UFMG o

volume específico quando p’ é 1.0 kPa de 1,25 e a inclinação de 0,069.

e = -0,037ln(p') + 1,0377

0,70

0,75

0,80

0,85

0,90

0,95

1,00

10 100 1000 10000

Índ

ice

de

vazi

os,

e (

-)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

e = -0,069ln(p') + 1,2507

0,70

0,75

0,80

0,85

0,90

0,95

1,00

10 100 1000 10000

Índ

ice

de

vazi

os,

e (

-)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

Page 103: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

80

O gráfico da Figura 4.08 apresenta uma comparação entre as linhas de

estados críticos de ambos os laboratórios. Tais linhas apresentaram uma

tendência de proximidade nos ensaios sob tensões mais elevadas (400 kPa),

sugerindo uma tendência dos resultados nesses pontos, devido aos valores dos

índices de vazios finais dos ensaios estarem mais próximos em ambos os

laboratórios. Nos ensaios sob médias e baixas tensões, pode-se verificar uma

maior diferença entre as LEC, sendo que essa diferença pode ser explicada, em

parte, pelos diferentes índices de vazios finais dos ensaios entre os laboratórios.

Tal ocorrência pode ser explicada pelo fato de que nos ensaios sob medias e

baixas tensões os provetes da EE/UFMG, por não ter bases lubrificadas e topos

guiados, podem gerar planos de fratura mais notórios. As menores dimensões

dos provete nesse laboratório também acentuam os erros no ensaio. Por fim,

devido a maior espessura das membranas utilizadas no laboratório da

EE/UFMG, pode-se considerar que tais acabam por restringir mais os provetes

e assim alterar as tensões nas mesmas.

Figura 4.08 – LEC no plano p’ x e, FEUP e EE/UFMG.

Nos gráficos p’ x q pode-se verificar o valor do rácio de tensões no estado

crítico (M) para as linhas de estados críticos de cada laboratório, sendo o valor

da FEUP de aproximadamente 1,40 e na EE/UFMG cerca de 1,45 (Figuras 4.09

e 4.10 respectivamente). Esses valores, definiram os ângulos de atrito críticos

(c) para os ensaios na FEUP de 34,58º e para os da EE/UFMG de 35,72º,

valores obtidos com recurso a equação [19], estando estes associados aos

planos de corte nos ensaios.

𝑀 = 6×sin ∅𝐶

3−sin ∅𝐶 [19]

0,70

0,75

0,80

0,85

0,90

0,95

1,00

10 100 1000 10000

Índ

ice

de

vazi

os,

e (

-)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

LEC - EE/UFMG

LEC - FEUP

Page 104: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

81

Figura 4.09 – Gráfico p’ x q da FEUP.

Figura 4.10 – Gráfico p’ x q da EE/UFMG.

Ao analisar as linhas de estados críticos obtidas nos gráficos p’ x q da

FEUP e da EE/UFMG, (Figuras 4.09 e 4.10 respectivamente), percebe-se uma

diferença entre elas conforme demonstram as equações das retas, corroborando

a diferença entre as LEC de cada laboratório obtidas no plano p’ x q (Figura

4.08).

O ensaio não drenado executado na EE/UFMG com tensão de 600 kPa,

também confirmou a linha de estados críticos obtida nesse laboratório, conforme

pode-se verificar nas Figuras 4.11, gráfico p’ x e, e na Figura 4.12, gráfico p’ x q.

Percebe-se assim, uma coerência nos resultados da EE/UFMG, mesmo

com os resultados apresentando uma discrepância com os resultados da FEUP,

que a princípio, aborda técnicas de laboratório mais confiáveis .

q = 1,3972 p'

0

200

400

600

800

1000

1200

0 200 400 600 800 1000

Ten

são

de

des

vio

, q(k

Pa)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

400 kPa

200 kPa

100 kPa

q = 1,4493 p'

0

200

400

600

800

1000

1200

0 200 400 600 800 1000

Ten

são

de

de

svio

, q(k

Pa)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

100kPa

200kPa

400kPa

Page 105: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

82

Figura 4.11 – Gráfico p’ x e da EE/UFMG com ensaio não drenado.

Figura 4.12 – Gráfico p’ x q da EE/UFMG com ensaio não drenado.

A evolução da tensão de desvio pela deformação axial e a evolução da

deformação volumétrica pela deformação axial durante a execução das fases de

corte é demonstrada para os ensaios da FEUP nas Figuras 4.13 e 4.14, e para

os ensaios da EE/UFMG nas Figuras 4.15 e 4.16. Observa-se que, pelos ensaios

terem sido feitos com o material solto, os corpos de provas ensaiados em

condições drenadas exibiram um comportamento contrativo, apresentando uma

redução do volume (εv > 0%) ao longo dos ensaios em ambos os laboratórios.

No caso específico do ensaio não drenado executado na EE/UFMG,

percebe-se no gráfico tensão de desvio pela deformação axial um pico próximo

a 2,5% de deformação axial, característica de materiais densos, sendo assim

verificado que a técnica de moldagem do corpo de prova pode ter influenciado o

nível de compacidade inicial. Esse aumento expressivo da poropressão interna

y = -0,069ln(x) + 1,2507

0,70

0,75

0,80

0,85

0,90

0,95

1,00

10 100 1000 10000

Índ

ice

de

vazi

os,

e (

-)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

q = 1,4493 p'

0

200

400

600

800

1000

1200

0 200 400 600 800 1000

Ten

são

de

des

vio

, q(k

Pa)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

100kPa

200kPa

400kPa

Page 106: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

83

do provete nesse trecho inicial pode ser confirmado pelo gráfico da variação da

poropressão pela deformação axial na Figura 4.17.

É de se verificar na Figura 4.16 a resposta inconstante, do

desenvolvimento da variação volumétrica pela variação axial do ensaio da

EE/UFMG. Tal fato pode ser o reflexo de algumas fragilidades no processo de

carregamento do provete como: o provete pode ter sido carregado de forma

inclinada, devido ao topo não ser guiado, ou esse provete pode ter sofrido

pequenas superfícies de rotura localizadas que geraram essas respostas não

homogêneas devido a ausência de bases lubrificadas do equipamento. Percebe-

se com esses resultados, como as circunstâncias do equipamento em conjunto

com a metodologia de aferição de resultados, manual nesses ensaios, pode

influenciar o decorrer dos ensaios e os resultados.

Percebe-se também na Figura 4.17 que a poropressão, após o aumento

expressivo, passou a seguir em uma constância com pequenas variações. Pode-

se considerar nesse caso que possíveis fraturas ocorreram dentro do provete,

possivelmente devido à ausência de bases lubrificadas, passando assim a ser

lido no manômetro uma pressão de água livre na fratura.

Figura 4.13 – Gráfico εa x q da FEUP.

0

200

400

600

800

1000

1200

0 10 20 30

q [

kPa]

εa(%)

400kPa

200kPa

100kPa

Page 107: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

84

Figura 4.14 – Gráfico εa x εv da FEUP.

Figura 4.15 – Gráfico εa x q da EE/UFMG.

Figura 4.16 – Gráfico εa x εv da EE/UFMG.

0

1

2

3

4

5

6

7

0 10 20 30

εv (

%)

εa(%)

400kPa

200kPa

100kPa

0

200

400

600

800

1000

1200

0 10 20 30

q [

kPa]

εa(%)

100kPa

200kPa

400kPa

600kPa NãoDrenado

0

1

2

3

4

5

0 5 10 15 20 25

εv (

%)

εa(%)

100kPa

200kPa

400kPa

600kPa NãoDrenado

Page 108: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

85

Figura 4.17 – Gráfico εa x u dá EE/UFMG.

4.4. Modelação numérica no software RS2 utilizando modelo NORSAND

O modelo NORSAND descrito por Jefferies e Been (2006) por basear-se

sobre a Teoria dos Estados Críticos e a rotação das tensões principais é muito

utilizado para reproduzir o desenvolvimento de liquefação em solos granulares.

O modelo busca prever as respostas do solo causadas pelas mudanças no

índice de vazios e na tensão de confinamento (Viana da Fonseca, 2013).

A determinação dos parâmetros necessários para a modelação dos

ensaios triaxiais no modelo NORSAND seguiram assim orientações de Jefferies

e Been (2016).

Conforme demonstrado acima, as linhas de estados críticos de ambos os

laboratórios foram definidas nos gráficos p’ x e, sendo nesses, definidas as

equações das retas e assim os volumes específicos quando p’ é 1.0 kPa (Γ) e

as inclinações (λ).

Nos gráficos p’ x q para os ensaios executados, obteve-se os valores do

rácio de tensões no estado crítico (M) para as linhas de estados críticos de cada

laboratório, e com esses valores, utilizando-os na equação [19], calculou-se os

ângulos de atrito críticos (’c) de cada laboratório.

O índice de vazios no estado crítico (ec) é obtido através da equação [20],

onde por utilizar dados experimentais, emprega-se o logaritmo na base 10 e o

λ10, sendo esse calculado na equação [21].

𝑒𝑐 = Γ − λ10log (p′𝑐) [20]

λ10 = (2,303λ) [21]

A utilização de ensaios com Bender Elements era de suma importância

para definir os parâmetros elásticos conforme demonstrado por Viana da

Fonseca et al. (2009) , entretanto esses não foram utilizados nesse estudo.

0

100

200

300

400

500

600

0 10 20 30

u

[kPa

]

εa(%)

600kPa NãoDrenado

Page 109: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

86

Sendo assim, para se executar a modelação, foram utilizados parâmetros

definidos por Jefferies & Been (2016), como o coeficiente de Poisson no intervalo

0,15 < ν < 0,25, e parâmetros definidos por Bedin (2009) como o módulo de

cisalhamento máximo Gmax.

Conforme explicado no capítulo 2.7.2.3, o parâmetro de estado (Ψ) dos

solos é a diferença entre o índice de vazios natural (e) e o índice de vazios crítico

(ec).

Para a determinação de alguns parâmetros necessários na aplicação do

modelo NORSAND, fez-se o uso de resultados de ensaios executados com

amostras densas na FEUP. Resultados esses que não foram obtidos nesse

trabalho.

A dilatância (D) pode ser definida como sendo a razão entre os dois

invariantes de incremento de deformação. A razão de tensões por sua vez é

definida como η.

De acordo com Jefferies & Been (2016) a abordagem convencional é

relacionar a dilatância máxima (que na verdade é Dmin devido à convenção de

compressão positiva) com o parâmetro de estado, utilizando a equação [22].

D𝑚𝑖𝑛 = 4Ψ

1+𝑒 [22]

Jefferies & Been (2016) ainda definem que a melhor determinação do

efeito de estado no comportamento do solo é através da limitação da dilatação,

sendo assim utilizada a equação [23], onde χ é uma propriedade do solo que

pode ser determinada em ensaios de triaxiais drenados em provetes densos para

uma diversidade de índices de vazios e tensões de confinamento, sendo esse

definido como a inclinação da linha de tendência da dilatação máxima versus o

parâmetro de estado. Assim, os autores propõem utilizar a relação entre Dmin e

Ψ para determinando χ, obter um modelo de plasticidade.

D𝑚𝑖𝑛 = XΨ [23]

Seguindo o descrito por Jefferies & Been (2016) acima e utilizando, além

dos resultados desse trabalho, os resultados do ensaio triaxial drenado com

amostra densa executado na FEUP, determinou-se através da equação [9] do

capítulo 2.7.2.3 o valor do parâmetro de estado de -0,097. Com este valor,

substituindo-o na equação [22], determinou-se a dilatância máxima de -0,226.

Por fim, faz-se uma simplificação utilizando o único ensaio denso obtido, e gera-

se o gráfico da Figura 4.18. Nele traça-se a reta entre o ponto de Dmin por Ψ

definido com a origem, ponto onde Ψ=0. Determina-se o valor da propriedade do

solo χ com a inclinação dessa reta, sendo esse igual a 2,33.

Page 110: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

87

Figura 4.18 – Gráfico ψ em Dmin versus Dmin.

Com os valores obtidos acima, fez-se a modelação dos três ensaios

drenados sobre os corpos de provas soltos executados em cada laboratório

nesse trabalho e o único ensaio não drenado executado na EE/UFMG. Ajustes

nos parâmetros foram feitos para obter a melhor representação dos

comportamentos obtidos nos ensaios experimentais.

A tabela 4.03 demonstra os valores adotados para os parâmetros na

modelação da FEUP e da EE/UFMG.

Tabela 4.03 – Parâmetros do modelo NorSand assumidos neste estudo de sensibilidade,

enquadrados pelos valores típico de acordo com Jefferies e Been (2016)

Propriedade Valores Utilizados FEUP Valores Utilizados EE/UFMG

Γ 1,037 1,25

λ 0,037 0,069

M 1,40 1,45

N 0,30 a 0,90 0,30 a 0,90

H 110 60

χ 2,33 2,33

G0 10 a 150 MPa 10 a 150 MPa

υ 0,15 a 0,25 0,15 a 0,25

As Figuras 4.19 e 4.20 a seguir demonstram as comparações entre os

gráficos εa x q e εa x εv obtidos na modelação numérica no modelo NORSAND e

os resultados obtidos na FEUP. O gráfico da figura 4.21 por sua vez demonstra

o gráfico p’ x q obtido na modelação. Percebe-se nesse uma pequena diferença

entre a equação da reta obtida na modelação e a obtida nos ensaios

experimentais da FEUP, que pode ser observada na Figura 4.09.

Conclui-se que os resultados da modelação são consideravelmente

próximos aos obtidos experimentalmente, visto que representa adequadamente

a tensão máxima de desvio dos ensaios e as trajetórias de tensões.

Dmin = 2,3299 Ψ

-0,25

-0,2

-0,15

-0,1

-0,05

0

-0,12 -0,1 -0,08 -0,06 -0,04 -0,02 0

Dm

in

Ψ

Page 111: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

88

Figura 4.19 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico εa x q FEUP.

Figura 4.20 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico εa x εv FEUP.

Figura 4.21 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico q x p’ FEUP.

0

200

400

600

800

1000

1200

0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 0.025 0.030

Ten

são

de

des

vio

, q(k

Pa)

Deformação axial, εa(%)

Modelação numérica

Ensaios experimentais

0.000

0.001

0.002

0.003

0.004

0.005

0.006

0.007

0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 0.025 0.030Def

orm

ação

vo

lum

etri

ca, ε

v(%

)

Deformação axial, εa(%)

Modelação numérica

Ensaios experimentais

q = 1,4391 p'

0

200

400

600

800

1000

1200

0 200 400 600 800 1000

Ten

são

de

des

vio

, q(k

Pa)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

Page 112: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

89

Devido à ausência de resultados com ensaios densos na EE/UFMG,

utilizou-se os mesmos resultados dos parâmetros definidos em ensaios densos

da FEUP na modelação numérica feita para os ensaios da EE/UFMG. Fez-se

assim uma mescla entre esses parâmetros determinados por ensaios densos,

definidos na FEUP, e os parâmetros definidos nos ensaios soltos que

determinaram a LEC da EE/UFMG. Devido a diferença de resultados obtidos nos

ensaios da FEUP e da EE/UFMG, percebe-se que essa mescla leva a uma maior

diferença entre os resultados da modelação quando comparados aos ensaios

experimentais nesse laboratório, mesmo procedendo ao melhor ajuste dos

parâmetros utilizados. Por uma análise meramente acadêmica, prossegui com

as modelações para verificar a influência de tal mescla de resultados.

A Figura 4.22 a seguir mostra as comparações entre os gráficos εa x q

obtidos na modelação numérica no modelo NORSAND e os resultados obtidos

na EE/UFMG, e a Figura 4.23 demonstra as diferenças para o gráfico εa x εv. O

gráfico da Figura 4.24 por sua vez apresenta o gráfico p’ x q obtido na

modelação.

Conclui-se que os resultados da modelação nesse caso já não ficam tão

próximos dos obtidos nos ensaios experimentais, percebendo neles uma maior

diferença entre as tensões máximas de desvio.

Figura 4.22 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico q x εa EE/UFMG.

0

200

400

600

800

1000

1200

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00

Ten

são

de

des

vio

, q(k

Pa)

Deformação axial, εa(%)

Modelação numérica

Ensaios experimentais

Page 113: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

90

Figura 4.23 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico εv x εa EE/UFMG.

Figura 4.24 – Melhor ajuste encontrado representado no gráfico p’ x q EE/UFMG.

As Figuras 4.25 e 4.26 demonstram as comparações dos gráficos p’ x e

entre as modelações no software RS2 e os resultados experimentais para os

laboratórios da FEUP e da EE/UFMG respectivamente. Como era de se esperar,

pelos resultados das modelações acima com os resultados obtidos no laboratório

da FEUP, observou-se uma constância e proximidade dos resultados entre os

ensaios experimentais da FEUP e a modelação. Por sua vez, os resultados da

modelação numérica dos ensaios da EE/UFMG demostram grande diferença.

Dada as ponderações feitas nesse capítulo, conclui-se que as circunstâncias do

equipamento e a metodologia de tomada de resultados afetam os resultados

desses ensaios e assim concomitantemente os resultados.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00Def

orm

ação

vo

lum

etri

ca, ε

v(%

)

Deformação axial, εa(%)

Modelação numérica

Ensaios experimentais

q = 1,4559 p'

0

200

400

600

800

1000

1200

0 200 400 600 800 1000

Ten

são

de

des

vio

, q(k

Pa)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

Page 114: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

91

Figura 4.25 – Comparação entre resultados da modelação numérica e ensaios experimentais

no gráfico p’ x e da FEUP.

Figura 4.26 – Comparação entre resultados da modelação numérica e ensaios experimentais

no gráfico p’ x e da EE/UFMG.

0,70

0,75

0,80

0,85

0,90

0,95

1,00

10 100 1000 10000

Índ

ice

de

vazi

os,

e (

-)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

Ensaios experimentais

Modelação numérica

0,70

0,75

0,80

0,85

0,90

0,95

1,00

10 100 1000 10000

Índ

ice

de

vazi

os,

e (

-)

Tensão efetiva média, p' (kPa)

Ensaios experimentais

Modelação numérica

Page 115: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

92

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou clarificar o comportamento dos rejeitos de minério

de ferro da região do quadrilátero ferrífero em Minas Gerais, Brasil, sobretudo

em termos de deformações e resistência.

Um determinado rejeito provindo de uma barragem de MG foi

caracterizado fisicamente nos laboratórios de Geotecnia da FEUP, seguindo as

normas Europeia, e na EE/UFMG, seguindo as normas Brasileira. Em ambas se

concluiu que o solo em estudo é não plástico, mas com curvas granulométricas

distintas nos dois laboratórios, diferenciando-se manifestamente na parcela que

distingue a parte siltosa da arenosa. Pelos resultados da FEUP, o solo foi

classificado como um silte, segundo as normas ASTM, e pelos resultados da

EE/UFMG, segundo as normas ABNT, foi classificado como um silte com areia

a silte arenoso, estando na interseção das duas classes. Tal explica-se pela

distinta forma como as normas direcionam a utilização do defloculante, sendo

importante quando se comparam classificações em laboratórios distintos.

Ainda nos ensaios de caracterização física, percebeu-se uma similaridade

no valor da massa específica das partículas sólidas em ambos os laboratórios,

sendo esse de aproximadamente 4,55.

Nos ensaios de compressibilidade, realizados na FEUP, com o material

moldado com a técnica de “moist tamping” em estado muito solto, percebeu-se

que esses rejeitos atingem um ramo “virgem” (de condição normalmente

adensada) com linearidade até tensões efetivas isotrópicas de cerca de 800kPa.

Constatou-se também, nestes ensaios, que os descarregamentos intermediários

para valores de ¼ dos escalões anteriores levaram a variações dos índices de

vazios muito moderadas, com razões entre os dois declives próximas da dezena.

Devido às limitações temporais, geradas pelos tempos de pandemia, os ensaios

edométricos não puderam ser finalizados na EE/UFMG.

Estudos adicionais, com um maior número de ensaios edométricos,

podem determinar a influência do índice de vazios inicial no comportamento

desses rejeitos durante os escalões de carregamento e assim verificar a

influência da forma de deposição desses rejeitos nas barragens.

A resistência última dos rejeitos foi definida através de ensaios triaxiais,

tendo sido estimadas linhas de estados críticos tanto para o laboratório da FEUP

como da EE/UFMG, seguindo procedimentos específicos de cada.

A posição mais elevada da LEC obtida pelos ensaios realizados na

EE/UFMG em relação a LEC da FEUP, ou seja, o valor significativamente mais

alto do índice de vazios para a tensão efetiva isotrópica padrão (designado por

, como abaixo se apresenta), conduzirá a resultados de análises de estabilidade

das estruturas erróneos se comparados aos resultados da FEUP. Tal se deve à

referenciação de índices de vazios in loco, em relação à respetiva LEC

(posicionada erradamente mais elevada no espaço de contração/dilatância), o

que conduz a parâmetros de estado mais favoráveis do que a realidade, logo

hipóteses anti-conservadoras.

Determinou-se com o auxílio do gráfico p' x q o valor correspondente ao

ângulo de resistência ao cisalhamento no estado crítico desses rejeitos, sendo

Page 116: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

93

obtido um valor de 34,6º na FEUP e de 35,7º na EE/UFMG. Os parâmetros de

caracterização das linhas de estados críticos, respectivamente Γ e λ, foram

encontrados no gráfico p’ x e, sendo 1,037 e 0,037 na FEUP e 1,25 e 0,069 no

laboratório da EE/UFMG. Percebeu-se assim um maior diferencial nos

parâmetros de caracterização das linhas de estados críticos, que podem ser

marginalmente explicados pelos diferentes índices de vazios na moldagem dos

provetes, mas sobretudo procedimentos subsidiários diferenciados no decurso

do ensaio triaxial, tais como: a ausência de bases lubrificadas, a ausência de

topos guiados, as diferenças entre as dimensões dos provetes, a não utilização

de congelamento final para determinação mais rigorosa do teor de humidade do

corpo de prova no final do ensaios e, concomitantemente, do índice de vazios,

na EE/UFMG. Outros fatores podem ainda ser identificados, como o ensaio não

drenado executado sob altas tensões, 600 kPa, na EE/UFMG mostrar-se

coerente com os ensaios drenados para definição da LEC nesse laboratório,

muito provavelmente porque a manutenção do volume ao longo do ensaio sem

drenagem minimizou algumas diferenças.

Uma simulação de um elemento numérico (no código RS3®) com base

nas leis constitutivas do modelo NORSAND, para aferir a importância das opções

paramétricas na reprodução dos carregamentos conduzidos nos ensaios

triaxiais, demonstrou-se satisfatória e coerente para os ensaios executados na

FEUP, representando de forma próxima os resultados experimentais, o que se

espera com a introdução dos parâmetros deles deduzidos, e demais estimados

em trabalhos afins como o módulo de distorção elástico e sua relação com a

tensão de pico. Já a modelação para os ensaios da EE/UFMG, considerando a

referência dos deduzidos na FEUP, distinguiu de forma considerável as

respostas em tensões-deformação dos ensaios experimentais nesse laboratório.

Percebeu-se nos ensaios da EE/UFMG uma repetibilidade quanto a

imprecisão na definição da LEC, sendo essa repetibilidade confirmada com o

ensaio não drenado atingindo a LEC obtida nesse laboratório.

No futuro dever-se-á conduzir mais ensaios, nomeadamente com tensões

mais elevadas, em ambos os laboratórios, agregando outros eventualmente,

objetivando avaliar a sensibilidade destas significativas diferenças entre as

linhas de estados críticos deduzidas nesses laboratórios sob altas tensões.

Page 117: ENSAIOS TRIAXIAIS COM PROCEDIMENTOS CONVENCIONAIS E ...

94

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