Ensino Coletivo de Violão Weslei

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Ensino Coletivo de Violão Weslei Rodrigues 1 Resumo: este artigo é um relato de experiência sobre o ensino coletivo de violão aos alunos do PARFOR. Nele estão mencionadas algumas dificuldades comuns referentes à implantação do ensino coletivo de instrumentos musicais e a forma pela qual pude contorná-los. Este formato de ensino está se configurando como uma das possibilidades mais adequadas ao ensino instrumental nas escolas de ensino regular, por ser mais acessível, democrático, e, sobretudo eficiente. Palavras-chave: Educação musical, ensino coletivo de instrumentos, violão. Introdução Relato por meio deste artigo as experiências vivenciadas durante a oficina de violão coletivo, ofertada como projeto de extensão aos alunos do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica, o PARFOR, que é direcionado a professores que desejam uma segunda Licenciatura em outras áreas. O local de realização da oficina foi no Bloco 08, do Departamento de Música da Universidade Estadual de Maringá, Paraná. O ensino coletivo de instrumentos musicais é uma proposta de trabalho que vem sendo adotada por muitos professores de música em várias regiões do país. Essa proposta de ensino vem ganhando novos adeptos a cada ano (TEIXEIRA, 2008). O crescente interesse por este formato de ensino esboça uma necessidade de renovações na área de ensino de instrumento musical, até porque, dentro do panorama da educação pública no Brasil é natural que haja pressão por parte das instituições ou mesmo do Estado, quanto a um ensino que abranja o maior número possível de alunos. A falta de recursos materiais e humanos no ensino brasileiro é um fato de conhecimento público. Na área da música, são poucas as 1 Acadêmico do 4º ano de Licenciatura em Educação Musical - UEM

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Ensino coletivo de Violão

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Ensino Coletivo de Violão

Weslei Rodrigues1

Resumo: este artigo é um relato de experiência sobre o ensino coletivo de violão aos alunos do PARFOR. Nele estão mencionadas algumas dificuldades comuns referentes à implantação do ensino coletivo de instrumentos musicais e a forma pela qual pude contorná-los. Este formato de ensino está se configurando como uma das possibilidades mais adequadas ao ensino instrumental nas escolas de ensino regular, por ser mais acessível, democrático, e, sobretudo eficiente.

Palavras-chave: Educação musical, ensino coletivo de instrumentos,

violão.

Introdução

Relato por meio deste artigo as experiências vivenciadas durante a

oficina de violão coletivo, ofertada como projeto de extensão aos alunos

do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica, o

PARFOR, que é direcionado a professores que desejam uma segunda

Licenciatura em outras áreas.

O local de realização da oficina foi no Bloco 08, do Departamento de

Música da Universidade Estadual de Maringá, Paraná.

O ensino coletivo de instrumentos musicais é uma proposta de

trabalho que vem sendo adotada por muitos professores de música em

várias regiões do país. Essa proposta de ensino vem ganhando novos

adeptos a cada ano (TEIXEIRA, 2008).

O crescente interesse por este formato de ensino esboça uma

necessidade de renovações na área de ensino de instrumento musical, até

porque, dentro do panorama da educação pública no Brasil é natural que

haja pressão por parte das instituições ou mesmo do Estado, quanto a um

ensino que abranja o maior número possível de alunos.

A falta de recursos materiais e humanos no ensino brasileiro é um fato de conhecimento público. Na área da música, são poucas as

1 Acadêmico do 4º ano de Licenciatura em Educação Musical - UEM

escolas brasileiras que possuem equipamento e espaço físico adequados ao ensino de instrumento musical. Neste contexto, o ensino coletivo se apresenta como uma proposta viável, pois o aumento poderia ser tanto quantitativo como qualitativo. Isto é, o ensino de instrumentos musicais poderia oferecer maior número de vagas e os professores poderiam ampliar sua área de atuação e formação buscando no material técnico e pedagógico aqueles específicos para trabalhar com o ensino coletivo. Além disso, o ensino coletivo pode tornar as aulas mais atraentes, mais participativas e sociabilizantes que o ensino tradicional ministrado em aulas individuais (QUEIROZ, RAY, 2005, p.2).

Metodologia

Tendo ciência de que os alunos inscritos no curso de violão coletivo,

em sua grande maioria não eram violonistas, seria, portanto, pouco

provável que tivessem a pretensão de tal coisa, mas sim de fazer deste

conhecimento uma alternativa metodológica para o ensino da música,

sendo assim, procurei elaborar conteúdos que viessem ao encontro de

suas necessidades, enquanto futuros professores de música.

O violão, instrumento que alguns consideram como sendo “o instrumento brasileiro”, oferece possibilidades de sons simultâneos e, da mesma forma que os teclados, poderá amparar o futuro professor na execução de acompanhamentos para canções que venham a ser executadas por seus alunos. Ao mesmo tempo, mesmo sendo um instrumento polifônico, o violão se presta à formação de duos, trios, quartetos, quintetos e até mesmo pequenas orquestras (cameratas) (ALBUQUERQUE, 2009, p.18).

Neste sentido, o violão, enquanto instrumento que acompanha o

canto, veio a se encaixar dentro deste contexto, norteando os objetivos

específicos do curso que foram:

1. Trabalhar padrões rítmicos o desenvolvimento da mão direita e o

acompanhamento instrumental no violão.

2. Tratar sobre a formação de acordes e campos harmônicos.

3. Trabalhar progressões harmônicas clichês da música popular.

4. Tratar a pulsação, a sonoridade e a tonalidade enquanto elementos

constituintes de música.

Tendo os meus objetivos específicos definidos, elaborei o

cronograma semestral do curso com atividades e os conteúdos

organizados de forma progressiva, porém passíveis de mudanças e

complementos, caso fosse necessário.

Fiz questão de conversar com os alunos, mostrar os meus objetivos,

e principalmente, ouvi-los quanto às suas expectativas em relação ao

curso de violão e elas coincidiram com o planejamento.

O conteúdo teórico sempre esteve atrelado à prática instrumental,

possibilitando que os alunos pudessem vivenciar sua funcionalidade e

compreender sua importância. Os padrões rítmicos, por exemplo, foram

extraídos de músicas que vieram a fazer parte do repertório executado

pelos alunos.

Uma aprendizagem é tanto mais significativa quanto mais relações com sentido o aluno for capaz de estabelecer entre o que já conhece, seus conhecimentos prévios e o novo conteúdo que lhe é apresentado como objeto de aprendizagem. Em suma, isto quer dizer que, contando com a ajuda de guias necessárias, grande parte da atividade mental construtiva dos alunos deve consistir em mobilizar e atualizar seus conhecimentos anteriores para entender sua relação ou relações com o novo conteúdo. A possibilidade de estabelecer essas relações determinará que os significados sejam construídos de forma mais ou menos significativa, funcional e estável (COLL, MARTÍN, MAURÍ, MIRAS, ONRUBIA, SOLÉ, ZABALA, 2004, p. 61).

As grafias musicais utilizadas durante o estágio foram em partitura,

tablatura, diagramas e cifras, por se encaixarem de forma precisa dentro

da proposta apresentada.

A notação musical deve estar presente na aula de música, pois proporciona a perenidade do texto musical e permite o registro para que a interpretação de uma obra “[...] possa ser corrigida, aperfeiçoada, e que a mesma possa ser executada por outras pessoas. [...] além de superar, em muito, a capacidade de armazenamento individual de qualquer conhecedor (SOUZA, 2006, p. 212).

Propostas abordadas e exemplos de atividades

As músicas utilizadas no repertório foram tanto no formato voz e

violão, quanto instrumentais, para que os alunos não ficassem restritos ao

aprendizado do erudito, ou popular, mas transcendessem estas divisões,

ampliando seu universo musical. De acordo com Almir Chediak (1986):

As lacunas na estrutura do ensino, principalmente a ausência de uma metodologia para o estudo da música popular, levam o aluno a optar: ou estuda o erudito, que bem ou mal tem um programa de

ensino, ou então o popular, na maioria das vezes transmitido de forma empírica sem fundamento teórico, com o aluno decorando músicas já prontas, sem as noções essenciais da autonomia para a liberdade criativa na elaboração dos acordes e sua progressão nas músicas. Quase todos os estudantes de música com os quais conversei sentem este problema, esta separação.

O ponto de partida para a compreensão dos padrões rítmicos,

presentes nos acompanhamentos das músicas no formato voz e violão, foi

sem dúvida a pulsação.

A conscientização de um movimento contínuo faz com que o aluno

sinta a pulsação, apercebendo-se que, tal como as batidas do coração, os

exercícios musicais que realiza devem ter essa continuidade e

regularidade.

Uma das atividades que elaborei para que os alunos pudessem

compreender o pulso consistia em três naipes de violões, o primeiro naipe

percutia no tampo do violão, marcando o pulso em semínimas, e os naipes

restantes tocavam linhas melódicas tendo como figuras de valor: mínimas

e semibreves. Segue abaixo a notação da atividade descrita:

A falta de repertório e de propostas metodológicas que contemplem

o ensino coletivo é realmente um problema para quem decide implantá-lo

(Rodrigues, 2005; Negreiros, 2003). No entanto, quando me utilizei de

adaptações de músicas, rearranjo, transcrições e composição na

elaboração das aulas, este problema pode ser contornado.

A maior dificuldade, entretanto, foi em relação à falta de prática

diária, ou pelo menos, regular por parte dos alunos referente aos

conteúdos trabalhados em aula, fazendo com que o processo de

desenvolvimento destes fosse mais lento do que eu esperava.

Ao lidarmos com alunos de diferentes níveis de desenvolvimento

musical, muitas vezes encontramos dificuldades em manter uma prática

musical coletiva homogênea, ou melhor, equilibrada. A alternativa que

encontrei para buscar este equilíbrio foi distribuir os naipes de acordo com

o nível de cada aluno, possibilitando que houvesse entre eles um espírito

de equipe, proporcionando que as dificuldades individuais fossem diluídas

na prática coletiva. Logo abaixo está transcrito um exemplo de atividade

utilizada em aula, que foi elaborada com este propósito.

Nesta atividade a melodia do violão um é construída com três notas,

em apenas uma corda, sendo que uma das notas é corda solta, facilitando

muito sua execução. A melodia do violão dois é mais elaborada,

utilizando-se de mais cordas e saltos de intervalos. O violão três faz a

linha do baixo, sendo dos naipes a de mais fácil execução.

Considerações finais:

É sabido que a música contribui para o desenvolvimento da

concentração, coordenação motora, disciplina, melhora do raciocínio entre

outros, porém acredito que seu ensino deva ser justificado não apenas por

isso, mas sim por ser uma área de conhecimento tão importante quanto

as demais e por ser prazeroso ensiná-la, aprendê-la e praticá-la.

Embora muitos educadores enfatizem que não é o papel desta

modalidade de ensino formar virtuoses e sim proporcionar uma iniciação

musical que contribua para a formação integral do indivíduo, o que pude

constatar na oficina de violão é que possível ir além, pelo simples motivo

de que mesmo dentro de uma modalidade de ensino coletivo, as

individualidades sempre estarão presentes, e não é possível ao professor

de música determinar os limites onde cada um poderá chegar.

O meu interesse pela modalidade de ensino coletivo de violão

começou antes mesmo da graduação. Tendo lecionado violão e guitarra

no formato individual, percebi que muitos alunos ao deparar com as

dificuldades do aprendizado , perdiam o interesse em continuar os estudos

e mesmo quando persistiam, perdiam a motivação quando do início do

aprendizado. Pude notar nos ensaios que ocorriam com a finalidade de

prepará-los para os recitais da escola, mais precisamente durante a

prática de conjunto, que muitas das dificuldades apresentadas durante as

aulas, eram dissolvidas no fazer coletivo.

Ao iniciar a graduação em música e com o retorno da música nas

escolas, vi neste formato de ensino uma possibilidade para a implantação

do ensino de instrumentos musicais. Procurei então compreender os

processos de ensino de diversos instrumentos, para me nortear no ensino

coletivo de violão, através do que tem sido feito neste sentido.

Com base nas revisões de literatura que tenho feito referente à

implantação do ensino coletivo, a experiência proporcionada pelo estágio

supervisionado e os resultados alcançados, posso afirmar que este

formato está se configurando como uma das possibilidades mais

adequadas ao ensino instrumental nas escolas de ensino regular de nosso

país, isto por ser mais acessível, democrático, e, sobretudo, eficiente.

Pude constatar no caso específico desta turma, que houve

desenvolvimento de cada um dos alunos, mesmo não havendo a prática

diária necessária que o aprendizado de um instrumento musical exige.

Muitas vezes foi preciso que eu deixasse de lado as minhas

expectativas em relação ao desenvolvimento deles e olhasse para a

realidade de cada um, para o caminho percorrido durante o processo de

aprendizagem, ou seja, de onde partiram e aonde chegaram, neste

sentido não há como negá-lo.

Particularmente não consigo enxergar desvantagens exclusivas

deste formato de ensino, pois as mesmas existem no formato

individualizado também. Dentre as vantagens posso mencionar:

1) É eficiente como metodologia;

2) O desenvolvimento dos elementos técnico-musicais para a

iniciação musical é acelerada;

3) O resultado musical ocorre de maneira rápida, motivando os

alunos a darem continuidade ao estudo do instrumento;

4) A teoria musical é associada à pratica musical, facilitando a

compreensão dos alunos;

5) Baixo índice de desistência;

6) Desenvolve a percepção auditiva, a coordenação motora, a

concentração, a memória, o raciocínio, a agilidade, o

relaxamento, a disciplina, a autoconfiança, a autonomia, a

independência, a cooperação e a solidariedade, entre outros.

Um episódio que me marcou bastante durante o estágio foi ouvir

uma aluna dizer que gostava da minha aula e da forma que ensinava, pois

não subestimava os alunos e isto a encorajava, acreditando que podia

aprender também.

Como educadores musicais, temos que ter consciência de onde

queremos chegar com nosso trabalho, o que pretendemos desenvolver,

pois a forma com que o aluno verá a música e sua importância está

profundamente ligada à forma que estamos ensinando. Devemos

contribuir para que este a veja como uma forma de conhecimento, de

arte, e não apenas como entretenimento, um produto da mídia. E o ensino

coletivo de violão pode ajudar neste e em tantos outros aspectos que

nossa sociedade tanto precisa para se fortalecer.

Referências bibliográficas:

ALBUQUERQUE, Luiz Botelho de. Educação Musical – Licenciatura. Projeto Pedagógico para implantação. Universidade Federal do Ceará, CE. Março, 2009.

CHEDIAK, Almir. Harmonia e Improvisação. Lumiar Editora – Rio de Janeiro – RJ.

COLL, César; MARTÍN, Elena; MAURI, Tereza; MIRAS, Mariana; ONRÚBIA, Javier; SOLÉ, Isabel; ZABALA, Antoni. O Construtivismo na Sala de Aula. Editorial Graó, de Serveis Pedagógics. Editora Ática. São Paulo. SP, 2004.

NEGREIROS, A. Perspectivas Pedagógicas para a Iniciação ao Contrabaixo no Brasil. Dissertação de Mestrado defendida em dezembro de 2003. Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2003. 101p.

QUEIROZ, Cíntia Carla de; Ray, Sonia. O ensino coletivo de cordas em Goiânia: mapeamento, análise das técnicas utilizadas e reflexos na formação do professor musical. Relatório final apresentado ao programa de bolsa PROLICEN. Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2005. 18 p.

RODRIGUES, Ricardo Newton L. Ensino coletivo de contrabaixo: criação de repertório para a proposta de Negreiros. Artigo ao curso de música-bacharelado em instrumento musical – contrabaixo. UFG, 2005. 13 p.

SOUZA, Jusamara. Educação Musical e Práticas Sociais. In: Revista da Abem, n.10. Porto Alegre, março 2004, p.7-11.

TEIXEIRA, Maurício Sá Barreto. Ensino Coletivo de Violão: Diferentes Escritas no Aprendizado de Iniciantes. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2008. p. 40