ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes...
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO
LITERÁRIO
Autora: Sonia Maria de Melo
1 Orientadora: Diná Tereza de Brito
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Resumo
Este trabalho de intervenção pretende analisar como a literatura pode corroborar no ensino e aprendizagem da leitura e na formação de um leitor proficiente. Essa proposta de estudo utiliza o Método Recepcional, organizado por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar, o qual possui cinco etapas, que pretende conduzir o leitor à ampliação dos seus horizontes de expectativas, permitindo a este, por meio de sua emancipação, desempenhar um papel atuante no contexto social. Seguindo os cinco passos desse método, escolheu-se o tema futebol para realizar as atividades, e por meio de vídeos publicitários, músicas, charges, questionamentos orais e escritos, além da leitura dramatizada, em sala de aula, do livro “Uma história de futebol”. Para o fechamento e apresentação do resultado dessa pesquisa à comunidade escolar, decidiu-se pela confecção de objetos: PET para a trave do gol, sacolas plásticas, os pompons para a coreografia da paródia musical: “É uma partida para a leitura” e tampinhas coloridas de garrafas plásticas, para o nome da “bandeira do time” 7ª C F. C. Conclui-se que é possível um trabalho diferenciado, que eleve o interesse do aluno para o mundo literário, onde este pode dar asas à imaginação, sem as amarras dos textos fragmentados do livro didático.
Palavras-chave: aprendizagem de leitura; Método recepcional; formação do leitor; literatura na íntegra.
1 Professora PDE – Lotada no Colégio Estadual Nóbrega da Cunha – Bandeirantes PR. Licenciada
em Letras: Habilitada em Português e Inglês pela Universidade de Ponta Grossa – UEPG. Especialista em Língua Portuguesa pela UEPG. 2 Professora Doutora em Estudos da Linguagem, lotada no CLCA da UENP-campus Cornélio Procópio.
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1 Introdução
Urge que os nossos estudantes sejam estimulados a ler, não só pelos
professores de Língua portuguesa, pois “o aluno, antes de qualquer coisa deveria
estar convencido das vantagens de saber ler e poder ler. O professor faria bem
então, em ajudá-lo a construir uma representação positiva da leitura e dos poderes
que ela confere ao cidadão”. (ANTUNES, 2003, P. 81).
Pensar que a leitura deveria ser um hábito adquirido desde a infância, é
unanimidade entre os educadores; no entanto, não é isso que ocorre ainda hoje em
grande parte dos lares das crianças brasileiras, principalmente nos de classe menos
privilegiada.
Essa realidade é preocupante, pois impede que milhares de crianças tidas
como “o futuro do país”, fiquem limitadas aos conhecimentos que recebem no local
em que vivem, onde a oralidade é o meio de comunicação mais utilizado, e sem
consciência da importância do conhecimento científico sistematizado, elas entram
para a estatística do continuísmo das diferenças sociais; na escola ainda correm o
risco de serem estigmatizadas por não se enquadrarem nos padrões culturais
linguísticos, o que corrobora para o abandono e o insucesso escolar.
Quando esses pequenos ingressam na Educação Infantil, é sabido que os
professores trabalham com metodologias diferenciadas e projetos para o incentivo
da leitura, além dos textos (fragmentos) dos livros didáticos, ainda assim, parte deles
(aproximadamente 30% de uma turma de trinta alunos) quando chega ao 9º ano,
apresenta algum grau de dificuldade diante dos gêneros textuais, por isso, é comum
ouvir dos alunos que “não gostam de ler”.
O objeto deste estudo, a princípio, não é ensinar o uso “correto” da língua;
entretanto, tem a intenção de trabalhar a literatura como fruição, condizente com a
faixa etária, e então gradativamente, com a mediação do professor, escolher textos
literários que levem o aluno a perceber que no aparente descompromisso de
narrativas fictícias, entre outros, ele possa se reconhecer também como sujeito da
sua própria história.
E é Zilberman quem questiona:
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Como procede a literatura? Ela sintetiza, por meio dos recursos da ficção, uma realidade, que tem amplos pontos de contato com que o leitor vive cotidianamente. Assim, por mais exacerbada que seja a fantasia do escritor ou mais distanciadas e diferentes as circunstâncias de espaço e tempo dentro das quais uma obra é concebida, o sintoma de sua sobrevivência é o fato de que ela continua a se comunicar com o destinatário atual, porque ainda fala de seu mundo, com suas dificuldades e soluções, ajudando-o, pois, a conhecê-lo melhor. (ZILBERMAN, 1987, p. 22).
Sob esses aspectos, entende-se que a realização deste trabalho foi de suma
importância para a comunidade escolar do Colégio Estadual Nóbrega da Cunha
localizado em Bandeirantes, na Avenida Prefeito Moacyr Castanho 1403, onde são
matriculados todos os anos, no Ensino Regular matutino e vespertino,
aproximadamente quatrocentos e cinquenta alunos na faixa etária de 10 a 15 anos.
Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa
diversidade. E a administração do colégio, comprometida com metodologias que
possam melhorar o ensino-aprendizagem da comunidade escolar, apoia projetos
que busquem novos paradigmas para superar esse desnível entre o decodificar e o
compreender o texto lido.
Acreditando que a aprendizagem ocorre com mais eficiência por meio da
leitura literária, este projeto já idealizado e posto em prática pelo trabalho com
leitura, alicerçado no Método Recepcional, veio corroborar para esta intervenção
pedagógica, pois ela pode transformar a trajetória escolar e também de vida, dos
alunos, mais especificamente os da escola pública, onde encontram ou deveriam
encontrar espaço para as práticas de linguagens que lhes possibilitem interagir na
sociedade, nas mais diferentes circunstâncias de uso da língua, pois é nos
processos educativos, e notadamente nas aulas de língua materna, que os
estudantes brasileiros têm a oportunidade de aprimoramento de sua competência
linguística, de forma a garantir uma inserção ativa e crítica na sociedade.
Então, de que modo trabalhar a literatura infanto-juvenil na íntegra, dentro do
Método Recepcional, para transpassar a barreira dos fragmentados textos dos livros
didáticos e despertar esses leitores ocultos, tornando-os proficientes para assim
transformar sua realidade social?
Dentro dessa perspectiva, o objetivo maior seria investigar se a dificuldade
da leitura e compreensão dos textos, (fragmentados) inseridos nos livros
didáticos, pelos alunos que vêm das séries iniciais e que ainda é constatada no 6º
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ano, podem ser superadas por meio da literatura associada à metodologias
diversificadas.
Visando a superar essa defasagem, eis alguns objetivos que foram
trabalhados:
Despertar o prazer pela leitura por meio de diversos textos literários, a partir
de uma apreciação estética.
Tornar as aulas de leitura uma atividade de fruição e interação entre os
sujeitos, favorecendo a capacidade de compreensão do que leem.
Possibilitar aos alunos o acesso ao acervo da biblioteca, incentivando-os a
escolher um ou mais livros para a leitura bimestral e discutir/comentar em
sala.
Trabalhar a intertextualidade para que o aluno gerencie a construção de
novos sentidos e assim, favorecer a comunicação com os conteúdos de
outras disciplinas, proporcionando a multiplicidade dos saberes.
Levar o aluno a entender o texto literário e extrair dele informações a fim de
se tornarem mais preparados para o enfrentamento da realidade.
Partindo dos pressupostos teóricos apresentados na Estética da Recepção
defendida por Jauss (1994): o efeito que a obra produz no leitor, e da Teoria do
Efeito, por Iser que considera que tanto o texto como o leitor trazem um repertório de
conhecimento que interagem no momento da leitura, as professoras Maria da Glória
Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, elaboraram o Método Recepcional, sugerido nas
DCE como encaminhamento metodológico para o trabalho com a Literatura. Essa
proposta de trabalho de acordo com Bordini e Aguiar tem como objetivos:
1) Efetuar leituras compreensivas e críticas 2) Ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem 3) Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural 4) Transformar os próprios horizontes de expectativas bem como os do
professor, da escola, da comunidade familiar e social (BORDINI e AGUIAR,1993, p.86).
Essa corrente teórica vem dando resultado na formação do leitor de obras
literárias, pois ele é tido como sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em seu
contexto; a partir do conhecimento prévio, o universo do aluno leitor é ampliado para
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além da leitura como fruição, ou seja, ele estará mais preparado para novas leituras
que o conduzirão vida afora, e possivelmente, comprometido com a transformação
do seu meio social.
2 Fundamentação Teórica
É sabido que a educação no Brasil, historicamente tem passado por grandes
transformações sociopolíticas, com base em teorias vindas da filosofia, da
pedagogia, da psicanálise entre outras ciências de teóricos importantes como a base
teórica de Rousseau, que acredita na bondade natural do homem e que o próprio
homem cria as desigualdades sociais; ou Vygotsky que prega a teoria sócio-
construtivista ou sócio-interacionista; e ainda Piaget e a teoria do construtivismo, e
muitos outros teóricos que contribuíram para a evolução do conhecimento científico.
O processo de ensino de Língua Portuguesa no Brasil iniciou-se com a
educação jesuítica, fundamental na formação da elite colonial subordinada à
metrópole, “favorecendo o modelo de sociedade escravocrata e de produção
colonial destinada aos interesses do país colonizador” (LUZ-FREITAS, 2007 s/p), ao
mesmo tempo em que se propunha a “alfabetizar” e “catequizar” os indígenas.
Evidenciava-se, já na constituição da escola e do ensino, que o acesso à
educação letrada era determinante na estrutura social, fazendo com que os colégios
fossem destinados aos filhos da elite colonial.
Nesses cinco séculos, a educação brasileira passou por muitas mudanças e,
com relação à literatura, até meados do século vinte, o principal instrumento do
trabalho pedagógico eram as antologias literárias, com base nos cânones. Essa
leitura visava transmitir a norma culta da língua, com base em exercícios gramaticais
e estratégias para incutir valores religiosos, morais e cívicos.
Entre mudanças de governos, e o sempre presente interesse das classes
elitizadas em manter o status quo, quem vem perdendo ao longo dos anos de estar
entre os primeiros no quesito educação, é o nosso país, já que o aluno que vem das
classes menos favorecidas, vive esse “apartheid” entre o acesso ao conhecimento
científico e a escola excludente, pois segundo Matencio (1994) essa escola não
consegue atender toda a clientela, o excesso de alunos que não conseguem vaga é
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grande, os índices de repetência e evasão são altos; há também a escola que limita,
pois as condições de trabalho e a formação de professores são péssimas, além de
reduzir quando impõe a norma culta como única variante aceita. Nesse raciocínio,
também (SOARES, 1995, p.54) aponta que tanto para a teoria da deficiência, quanto
para a teoria das diferenças, as desigualdades linguísticas se devem às
desigualdades sociais, o que causa desigualdades de rendimento escolar, pois
segundo a autora, as classes dominantes com a mediação da escola, impõem sua
cultura e sua linguagem, apresentadas como legítimas; desvaloriza-se uma cultura e
linguagem diferente e acusa-a de “deficiente”.
Com tantas constatações, fica óbvia a importância das Secretarias de
Educação continuarem promovendo a formação continuada para nós, os
professores, nos moldes do PDE, para que possamos adquirir mais embasamentos
teóricos que nos norteiem para sanar as muitas dúvidas que nos afligem e, em se
tratando da Língua Portuguesa, metodologias e estratégias que direcionem para
uma prática de leitura eficaz, para que assim, possamos formar cidadãos leitores,
proficientes e críticos, que não sejam entraves para a sociedade, mas que possam
transformar suas realidades e diminuir esse desnível social discrepante, que só uma
educação de qualidade conseguirá. Para isso, deve-se ter em mente que o ensino
da prática de leitura requer um professor que “além de posicionar-se como um leitor
assíduo, crítico e competente, atenda realmente a complexidade do ato de ler”
(SILVA, 2002, p. 22). Nesse contexto, as DCE (p.47-48, 2008) considera que:
[...] o percurso histórico da disciplina de Língua Portuguesa na Educação Básica Brasileira, e confrontando esse percurso com as situações de analfabetismo funcional, dificuldades de leitura compreensiva e produção de textos apresentadas pelos alunos; segundo os resultados de avaliações em larga escala e, mesmo, de pesquisas acadêmicas, as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa requerem, neste momento histórico, novos posicionamentos em relação às práticas de ensino; seja pela discussão crítica dessas práticas, seja pelo envolvimento direto dos professores na construção de alternativas. Essas considerações, resultaram, nas DCE, numa proposta que dá ênfase à língua viva, dialógica, em constante movimentação, permanentemente reflexiva e produtiva. Tal ênfase traduz-se na adoção das práticas de linguagem como ponto central do trabalho pedagógico [...].
Ante esse desafio, Aguiar e Bordini (1998, p.33) observam que:
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Os professores, apesar de visarem à formação do hábito da leitura e o desenvolvimento do espírito crítico, não oferecem atividades nem utilizam recursos que permitam a expansão dos conhecimentos, das habilidades intelectuais, a criatividade ou a tomada de posição, embora arrolem esses tópicos em seus critérios de aproveitamento escolar. O debate, a livre discussão e atividades que extrapolam o âmbito da sala de aula são esquecidos. As fórmulas mais carentes de criatividade e mais tradicionalmente empregadas, como aulas expositivas e exercícios escritos e orais de interpretação, são praticadas pela maioria, o que também promove a falta de incentivo e de motivação para a leitura dos alunos.
Nesse contexto, as Diretrizes da Língua Portuguesa propõem refletir sobre o
ensino da Língua e da Literatura, o que implica pensar também as contradições, nas
diferenças e nos paradoxos do quadro complexo da contemporaneidade, pois
vivemos a era digital, que possibilita o acesso rápido às multiplicidades de
linguagem em seus inúmeros formatos como os “sites”, “blogs”, “e-mails”, além dos
apetrechos eletrônicos cada vez mais “high tec” e mais acessível às mãos dos
nossos alunos. Ainda assim, convivemos com índices alarmantes de analfabetismo
funcional, revelados pelas avaliações educacionais que mostram o baixo
desempenho dos estudantes brasileiros em todos os níveis de escolaridade.
Essa constatação também é feita por Matencio (1994, p.21), quando escreve
que “a crescente utilização da escrita como forma de comunicação tornou-se mesmo
um obstáculo para muitos dos falantes, porque trouxe à tona mais elementos de
discriminação social (...)”. E se a linguagem é vista como fenômeno social, pois
nasce da necessidade de interação (política, social e econômica) entre os sujeitos,
deveria se levar em conta a complexidade estrutural e a multiplicidade cultural que
resultam diferentes tipos de letramento.
Bakhtin também justifica:
[...] toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte.Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. (...) A palavra é território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN/VOLOCHINOV, p.117). As palavras estão carregadas de conteúdo ideológico, elas “são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a toda as relações sociais em todos os domínios” (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999, p. 41).
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Portanto, é no universo escolar, que os professores de Língua Portuguesa e
Literatura têm a possibilidade de promover o amadurecimento do domínio discursivo,
da oralidade, da leitura e da escrita, para que os alunos compreendam as diversas
“formas de usar a linguagem e fazer/retirar sentido pela fala e pela escrita, que se
relacionam a visão de mundo das comunidades, suas crenças e valores
particulares”. (MATENCIO, p.20, 1994). Com mais habilidade, os alunos então
poderão expressar suas opiniões e assim, interferir no processo de socialização com
autonomia em relação ao pensamento e as práticas discursivas diversas.
3 Trajetória Metodológica – Realização do projeto
A implementação deste projeto deu-se no 3º período do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), uma política pública que estabelece o diálogo
entre os professores da Educação Superior e os da Educação Básica, através de
atividades teóricas-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de
conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública
paranaense (PDE, 2010) oferecido pela Secretaria do Estado da Educação (SEED)
do Estado do Paraná.
Amparado pelo Método Recepcional, o qual está de acordo com as
Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa e Literatura para a Educação Básica
do Estado do Paraná, o encaminhamento metodológico para esse trabalho de leitura
literária, priorizou o leitor como um sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em
seu contexto. De acordo com Bordini e Aguiar (1993), organizadoras desse método,
ele tem como objetivos: efetuar leituras compreensivas e críticas; ser receptivo a
novos textos e a leitura de outrem; questionar as leituras efetuadas em relação ao
seu próprio horizonte cultural, ou seja, textos que fazem parte do universo cultural do
aluno, para então, romper com esse universo e assim, transformar esses horizontes
de expectativas com momentos para debates para que ocorra a ampliação dos
mesmos.
São cinco as etapas que nortearam o trabalho em sala de aula:
Determinação do horizonte de expectativas;
Atendimento ao horizonte de expectativas;
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Ruptura do horizonte de expectativas;
Questionamento do horizonte de expectativas;
Ampliação do horizonte de expectativas.
Com essa metodologia, os alunos tiveram a oportunidade de desenvolver
seu senso crítico que os levou a perceberem-se como sujeitos presentes nos textos,
além de tomarem uma atitude responsiva diante dos textos lidos, sob a mediação da
professora, que os conduziram à realização de leituras significativas e atribuição de
sentidos ao que leram.
Dentre os muitos temas, que compõem o acervo da biblioteca escolar,
escolheu-se o esporte que mexe com grande parte do povo brasileiro, independente
da faixa etária, o futebol, que está presente na vida da maioria dos estudantes,
meninos e meninas de todas as classes sociais. É praticado em qualquer canto do
nosso país, além disso, estamos em preparação para sediar a próxima Copa em
2014 e isso pode ser um “campo fértil” para diversos gêneros textuais, produzidos
no período que antecede esse campeonato mundial e também pós-campeonato. É
um tema atemporal, pois em qualquer época é só abrir jornais, revistas, sites, entre
outras mídias e lá estão: charges, crônicas, artigos de opinião, além de romances e
músicas sobre o tema futebol.
Paralelamente ao processo de implementação desse projeto de ensino e
aprendizagem com a contribuição da leitura literária, foram também trabalhados os
conteúdos estruturantes da Língua Portuguesa; além do livro didático, o texto
literário veio somar-se aos conteúdos, para que as expectativas de aprendizagem se
concretizassem, haja vista a importância da análise linguística no letramento escolar.
Antunes (2007, p. 130) ressalta que o texto é a única forma de se usar a língua: “A
gramática é constitutiva do texto, e o texto é constitutivo da atividade da linguagem.
[...] Tudo o que nos deve interessar no estudo da língua culmina com a exploração
das atividades textuais e discursivas”.
Foram previstos doze encontros para esse trabalho, com início em agosto de
2011 e previsão para encerramento na primeira quinzena de novembro do mesmo
ano, porém há de se convir que a flexibilidade de tempo foi importante para que as
atividades propostas alcançassem as expectativas de modo satisfatório. Durante
todo o período, as ações foram registradas em fotos e filmes.
Na Determinação do Horizonte de Expectativas, primeira etapa, foi
considerado pertinente um “bate-bola” direcionado a investigar um pouco da
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realidade sociocultural dos alunos, 7ª série (8º ano) seus interesses e nível de
leitura. Esse momento ocorreu fora da sala, no pátio da escola, com bastante
descontração, os alunos tiveram vez e voz (depoimentos) para expressar suas
preferências quanto ao lazer, músicas, esporte preferido (vários apontaram o
futebol). Perguntado se gostavam de ler e quais livros conheciam ou já tinham lido
nas séries anteriores, alguns disseram que não gostavam, outros comentaram de
livros que leram e que foram marcantes, por exemplo, “O menino do dedo verde”,
“Bisa Bia, Bisa Bel”, entre outros. De volta à sala de aula assistiram ao vídeo (TV
pendrive), produzido por uma agência de publicidade argentina, sobre as diferenças
culturais entre alguns países. Os protagonistas do filme publicidade, são os
jogadores argentinos, Messi e Maradona.
Após assistirem ao filme, foi proposto um debate sobre questões
comportamentais mostradas no vídeo, comparando com as atitudes dos brasileiros,
no trânsito, respeito com pedestres e nos estádios de futebol.
1. É uma questão cultural jogar papel na rua, “furar” o sinal, não esperar o pedestre
atravessar a rua?
2. O que é cultura?
3. Em que podemos melhorar para vivermos em sociedade sem prejudicar o outro?
Com a participação coletiva, foram sugeridas (escrito no quadro de giz) cinco
ações positivas do cotidiano que podem melhorar a convivência em nosso meio
social (bairro, rua, escola) e cinco negativas que podem prejudicar a todos.
Na sequência, ainda com base no mesmo vídeo, foi pedido à turma, para
que observassem um comentário importante: “É um time que joga com o coração!”.
Aproveitando essa fala, a conversa foi direcionada para que os alunos falassem
sobre a importância da leitura, com a seguinte proposta:
4. Quais atividades podemos desenvolver para melhorar o aprendizado do nosso
“time” 7ª série C (8º ano) na questão literária? (A turma soltou a imaginação e
então, foram escritas no quadro as sugestões dadas):
dramatização (adaptada) da história toda ou alguns capítulos;
produção de paródias;
debate (trazer para a nossa realidade);
escrita das impressões que a obra causou;
clube da leitura.
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No Atendimento do Horizonte de Expectativas, 2ª etapa, dentro do tema
mais próximo das expectativas dos estudantes, foi assistido mais um vídeo, (20
minutos) sobre a história de vida da jogadora de futebol, a brasileira Marta,
intitulado, “Marta, uma das jogadoras mais rápidas do mundo”. Na sequência,
receberam questões impressas, para discutirem e responderem; após isso, houve
um debate com base nos questionamentos:
1. Marta, Ronaldo, Romário, Pelé e tantos outros jogadores, conheceram e viveram
uma infância pobre, porém tornaram-se ricos por meio do futebol. O que dizer para
milhões de brasileirinhos pobres, que não têm talento para o esporte, mas acreditam
que também podem “chegar lá”?
2. Você acredita que ser famoso é importante? Por quê?
3. Quais as vantagens e desvantagens de se ter fama?
No encontro seguinte, após agendar previamente, visitamos as bibliotecas
do colégio e a municipal, conhecida como Biblioteca Cidadã, para que conhecessem
melhor os acervos das duas e, principalmente o espaço agradável e disponível da
biblioteca pública; além de providenciar carteirinhas para empréstimos de livros, a
responsável pela Biblioteca Cidadã atenciosamente nos recebeu e proporcionou a
todos um “passeio” pelos livros, revistas e também falou sobre a importância da
leitura e da diversidade do acervo disponível na Biblioteca Cidadã.
De volta para a sala de aula, houve a continuidade ao atendimento dos
horizontes de expectativas dos alunos, e assim, apresentado o texto (musicado)
impresso, da banda Skank, “É uma partida de futebol”, que a FIFA incluiu no disco
oficial para a Copa do Mundo de 1998; na sequência, assistimos ao “clip” da música.
E “continuando o jogo”... com intuito de verificar a criticidade argumentativa,
receberam mais algumas questões para refletir e debater:
4. Quais as vantagens em ser jogador de futebol no Brasil?
5. “Que coisa linda é uma partida de futebol”. Lendo esse verso, podemos afirmar
que é sempre assim durante um jogo? Justifique.
6. A mídia tem mostrado vários episódios envolvendo jogadores de futebol. Quais os
que mais têm chamado a atenção?
7. Essa música é uma exaltação ao futebol, porém, temos muitas outras maravilhas
em nosso país. Quais merecem destaques e por quê?
Atividade escrita:
Em duplas, elaborar uma tabela (palavras adjetivas).
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Lado esquerdo: dez palavras - qualificando o futebol
Lado direito: dez palavras - qualificando a leitura
Nas atividades acima houve boa interação entre as equipes e bons
argumentos dos alunos.
Para a Ruptura do Horizonte de Expectativas, terceira etapa do Método
Recepcional, partiu-se das experiências de leitura dos alunos e gradativamente,
foram propostas outras leituras para que aprofundassem seus conhecimentos e
assim, distanciassem do senso comum em que se encontravam. Estes
procedimentos, inusitados para o leitor, rompem com sua acomodação e exigem
uma postura de aceitação ou descrédito, fundada na reflexão crítica, o que promove
a expansão de suas vivências culturais e existenciais. (Bordini & Aguiar, 1993, p.25).
Nesse momento, os alunos receberam, individual e ou em duplas,
exemplares do livro “Uma história de futebol” de José Roberto Torero. Objetiva,
2001, de apenas 78 páginas, para leitura oral (dramatizada) em sala de aula.
Após ler e comentar sobre a biografia do autor iniciamos a leitura dessa
emocionante e surpreendente história que conta as aventuras do menino Zuza, o
qual jogou com o Rei Pelé, ou melhor com Dico, apelido de infância de Edson
Arantes do Nascimento. Foram cinco encontros em sala para essa leitura, (final de
setembro e primeira quinzena de outubro); o envolvimento da turma com a narrativa
foi bom, pois a maioria quis ler (fazendo a voz dos personagens). A cada encontro,
era feito um “flash back” dos capítulos anteriores e a maioria comentava sobre as
ações das personagens. Terminada a leitura, apresentaram-se alguns
questionamentos, partindo da história dos personagens, para a realidade dos
alunos. Depois de discutirem em grupo (quatro alunos), expuseram para a sala o
que pensavam sobre:
1. Modo de agir dos personagens Mauzinho, Veludo, Espaguete, Azeitona, Tom Mix
e Arigatô; com qual deles o grupo mais se identificou?
2. O comportamento do personagem Mauzinho, pode ser caracterizado como
“bulling”? Justifique.
3. O pai de Zuza é analfabeto e se envergonha disso, porém toma uma decisão
corajosa que deixa o garoto muito intrigado. As atitudes do pai e do filho foram
corretas?
Para a próxima atividade, buscou-se suporte na fala de Maria de Lourdes
Meirelles Matencio, quando afirma que a literatura tem a possibilidade de promover
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o amadurecimento do domínio discursivo, da oralidade, da leitura e da escrita, para
que os alunos compreendam as diversas “formas de usar a linguagem e fazer/retirar
sentido pela fala e pela escrita, que se relacionam a visão de mundo das
comunidades, suas crenças e valores particulares”. (MATENCIO, p.20, 1994).
A citação postada pela professora Rita de Cássia Renzi, participante do
GTR, na atividade no dia 25/10/2011 ilustra as colocações que os alunos fizeram a
respeito da proposta de leitura dramatizada.
Ducrot (1988 p.36) disse que a Literatura é o desenvolvimento do que ele tem de mais sublime nas ideias. Cabe à escola a formação e o desenvolvimento do hábito da Leitura, e ao professor, orientar-se no sentido de promover a leitura entre os alunos, pelo exercício da reflexão e da crítica. A leitura com prazer, requer um exercício de conduta, de envolvimento, de diálogo com o outro, de fazer a criança refletir e imaginar, assim como o é a Literatura Infantil. A Leitura da palavra é antecipada não só pela Leitura do mundo, mas "por uma certa forma de escrevê-lo e de transformá-lo a partir de uma prática consciente” (VARGAS, 1993, p. 45).
4. Escreva suas impressões sobre o livro “Uma história de futebol” e o modo como
foi lido”. Eis alguns trechos escritos pelos alunos que autorizaram a reprodução:
“Esse livro é uma história legal e lido oralmente o torna mais entendível, com os
alunos, fazendo a voz dos personagens o livro fica mais divertido”. Lucas Bragante
Santos
[...] No começo eu não queria nem ler, porque não sou muito fã de futebol, mas não podemos julgar o livro pela capa, pois gostei muito da história, é um livro que mostra bastante o nosso dia a dia, tanto em casa, como na sociedade, analfabetismo, traições, sonhos, “bulliyng” e também a febre que é o futebol. Bárbara Sato
[...] Foi interessante também o fato de lermos em voz alta, pois cada um interpretou um personagem, foi muito legal. A parte que eu achei bastante tocante, foi quando a aviador morreu. A leitura oral é bastante interessante porque todos participam, tem como se fazer um teatro, mesmo não ensaiando, somente lendo o livro e fazendo os diálogos com pessoas diferentes. Agnes Outuki
O livro é muito bom de ler, pois conta a verdadeira história sobre o jogador Pelé, conta sobre a infância dele. [...] fala da vergonha do pai de um garoto
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por ser analfabeto [...] se sentia muito magoado por não poder ajudar o filho nas lições de casa. Érica Estaciana Martins.
5. Que tal criar e ou pesquisar na web, frases (em duplas) de incentivo à leitura?
O resultado foi bem proveitoso e dentre as tantas frases que trouxeram, destaque
para a frase de Bill Gates:
“Meus filhos terão computadores sim, mas antes terão livros, sem leitura, os nossos
filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história.”
Chegamos então ao Questionamento do Horizonte de Expectativas,
quarta etapa, quando foi possível perceber que os textos oferecidos na etapa
anterior, ajudaram na compreensão da leitura e nas atividades realizadas; a partir
daqui, os alunos já demonstravam mais maturidade e criticidade para realizar as
tarefas seguintes.
Nesse momento, os alunos, individualmente, receberam (impressos) os
trechos das letras das músicas e uma charge para análise comparativa e
interpretativa para responderem os questionamentos abaixo:
É uma partida de futebol – Skank
Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou ser um jogador de futebol?
(...)
Terceiro - Ultraje a Rigor
Todo equipado, preparado na linha de partida
Daqui a pouco vai ser dada a saída
Todo mundo nervoso e eu não to nem aí (O importante é competir!)
Então ta, vamo lá, nem vou me preocupar
Já ta tudo armado pra eu me conformar
Eu vou tentar só pra não falar que eu nem sou atleta
(...)
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Charge
1. No quarto verso da música “É uma partida de futebol”, há uma indagação
dirigida ao público masculino. Como se comprova isso?
2. Releia a primeira estrofe da música “É uma partida de futebol” (Skank) e a
segunda estrofe da música “Terceiro” (Ultraje). Escolha dois versos, um de cada
música, que mais se identificam com o primeiro quadro da charge. Escreva-os.
3. Observe o primeiro e o último quadros da charge. Comente as atitudes do
personagem e o porquê de ele chegar a essa situação.
4. Note que o pronome possessivo Nossa, aparece na maioria dos quadrinhos. A
quem ou a que ele se refere?
5. Com um olhar mais crítico para a charge, qual ou quais problemas observados
nos quadrinhos, mais aflige você?
Nessa última etapa do Método Recepcional, é o momento da Ampliação do
Horizonte de Expectativas do aluno/leitor, quando segundo Bordini & Aguiar
(1988), os alunos deverão perceber que os textos literários, não são apenas tarefas
do dia a dia escolar. Nesse momento, espera-se que eles estejam mais reflexivos
para uma tomada de consciência após as alterações vividas por meio das
experiências com a literatura e portanto, uma expectativa maior quanto a ampliação
dos seus conhecimentos.
Assim, outras leituras extraclasse serão bem-vindas, pois com mais
“bagagem” para entrar no campo literário e com postura mais crítica em relação aos
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textos lidos, os alunos poderão atribuir significados ao que lerem e então,
aprofundar suas reflexões e tornarem-se cidadãos mais preparados para os
enfrentamentos da vida de modo amplo.
Na sequência, foram discutidas as tarefas para a finalização do projeto.
Entre várias sugestões, ficou decidido que seriam utilizados objetos recicláveis e ou
reaproveitáveis.
Aqui, uma ressalva: as atividades descritas abaixo, ligadas mais à parte
artística, deveriam ter tido a participação (ajuda) da professora de Arte, porém, todos
sabemos da jornada que os mestres muitas vezes têm de cumprir, indo de uma
escola à outra, o que dificulta essa interação entre as disciplinas. Nessa etapa não
foi diferente e isso sobrecarregou o nosso trabalho, pois os alunos, sozinhos não
conseguiam desempenhar as tarefas propostas com resultado satisfatório.
Dividiu-se, então, a sala em dois grupos (direita e esquerda) para
trabalharem à tarde (contraturno), em dias alternados. O primeiro grupo responsável
para elaborar um grande painel em papel craft. Nele foi colocado um “mix” de fotos
(recorte de revistas) escolhidas pelos alunos, sob a minha supervisão, com os temas
Futebol X Leitura e as várias frases elaboradas previamente, na ruptura do
horizonte de expectativas. Também tiveram a ideia de construir com garrafas PET,
uma trave para representar o gol, além da bandeira do “time”: 7ªC F. C. (7ª C
Futebol Clube), escrito com tampinhas coloridas de garrafas PET, coladas em tecido
TNT; até a vovó de um aluno deu sua contribuição, confeccionando a bola, feita de
jornais e meias usadas. O outro grupo ficou responsável pela produção (coletiva) de
uma paródia da música “É uma partida de futebol” (Skank). A letra ficou assim:
Título: É uma partida para a leitura
(refrão)
Livro na estante não altera o saber Livro fechado sem ninguém para ler Leitura pra gente é um show Quem não sonhou em ser um grande escritor?
Livros para ler em qualquer parte Leio na sala, na cozinha e no quarto Em suas histórias eu me informo Que coisa linda é um livro e o futebol.
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Posso ler várias histórias Se eu não ler, será um imenso crime Posso chorar quando o livro acabar. A leitura sempre me encanta. Em todos os momentos quero continuar. Nas histórias é que eu viajo Até com o “Menino do Dedo Verde” Olhando para o livro, eu vejo o sol Estou “ligado” agora, leio o livro e jogo meu futebol. A leitura é questão de prática O livro eu levo pra todo lado Histórias cheias de alegrias e tristezas É bom ler e também jogar meu futebol.
O aluno Leonardo, espontaneamente propôs tocá-la no violão para
abrilhantar o “show”, na conclusão do projeto. As ideias iam surgindo... várias
garotas desse grupo se propuseram a confeccionar pompons, feitos de sacolas
plásticas de diversas cores e criaram uma coreografia que veio enriquecer a
apresentação da turma com a paródia musical na Mostra Pedagógica do Colégio no
dia 02/12/2011, no Salão Nobre do colégio.
A Direção, em apoiou a esse projeto de leitura, dispensou todo o corpo
discente e docente para que assistissem à apresentação da turma 7ª série C (8º
ano), envolvida nesse trabalho. Para esse evento, vieram alguns responsáveis pelos
alunos, além da representante da Biblioteca Cidadã, a professora Lucinéia da Silva
Oliveira, que também contribuiu com seus conhecimentos, apresentando todo o
acervo aos alunos, além de uma palestra sobre a importância da leitura.
3.1 A apresentação
Enquanto era projetado no datashow, um dos “clipes” escolhidos, referente a
música “É uma partida de futebol”, cinco alunos no palco, vestindo camisas de
diferentes times, nacionais e internacionais, simulavam um jogo de futebol. Para
tanto, foram usadas a trave construída de garrafas PET, a bola de meias e jornais,
na parede, afixada a bandeira do “time”, confeccionada em TNT preto e tampinhas
coloridas de garrafas plásticas, onde se lia: 7ª C F. C.
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Na segunda apresentação, a turma (25 alunos) vestida de camisas de times
diversos, cantou a paródia musicada, “É uma partida para a leitura”,
acompanhada pelo violão enquanto as garotas faziam coreografias, utilizando os
pompons coloridos feitos de sacolas plásticas. Nos dois momentos houve interação
com a plateia.
Para finalizar, sortearam-se livros, gibis e cruzadinhas entre os alunos
presentes, que assistiram à apresentação. Entre os alunos da turma, foram
sorteados três livros: O fantasma no campo de futebol, (Thomas Brezina); Pobre
Corintiano Careca, (Ricardo Azevedo) e para a mudança de tema, um livro de
mistério e suspense: Ataque do Comando P. Q. (Moacyr Scliar). Ficou combinado,
que os alunos, depois que lessem, doariam esses três títulos para a biblioteca do
colégio.
4 Considerações Finais
Repensar sempre as práticas pedagógicas, deve ser uma atitude constante
de um educador comprometido com uma educação de qualidade, que visa à
formação do aluno/cidadão para o enfrentamento de um mundo de oportunidades,
entretanto, também de fracassos. Assim, as Diretrizes Curriculares Estaduais de
Língua Portuguesa requerem, neste momento histórico, novos posicionamentos em
relação às práticas de ensino; seja pela discussão crítica dessas práticas, seja pelo
envolvimento direto dos professores na construção de alternativas.
O Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná – PDE, tem
corroborado com esse novo olhar na construção de alternativas para uma educação
de qualidade e tem tido excelentes resultados na formação continuada para
docentes do ensino público, haja vista, que integra as escolas do Ensino
Fundamental e Médio, às Instituições de Ensino Superior – IES. Essa parceria
possibilita a inserção do professor da educação básica nas atividades de formação
desenvolvidas no âmbito das IES, por meio de atividades teórico-práticas orientadas,
como também possibilita aos professores das IES essa aproximação com o Ensino
Básico, superando esse distanciamento. O resultado disso, é um professor com
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mais embasamento teórico e, portanto, mais capacitado para realizar mudanças
qualitativas na sua prática pedagógica.
Assim, esse trabalho deve ser visto como uma possível proposta de ensino
da literatura, em que se objetiva formar leitores competentes, para isso, é importante
o professor ter o conhecimento teórico e, com base em uma metodologia de ensino,
desenvolver estratégias que motivem os alunos a lerem com prazer, pois como
observa criticamente Aguiar e Bordini (1998, p.33):
Os professores, apesar de visarem à formação do hábito da leitura e o desenvolvimento do espírito crítico, não oferecem atividades nem utilizam recursos que permitam a expansão dos conhecimentos, das habilidades intelectuais, a criatividade ou a tomada de posição, embora arrolem esses tópicos em seus critérios de aproveitamento escolar.
Trabalhar com esses estudantes da 7ª série (8º ano) dentro dessa pesquisa
utilizando a literatura, foi gratificante, pois a dinâmica da leitura de forma oral e
dramatizada, do livro escolhido, “Uma história de futebol”, envolveu noventa por
cento da sala, já que alguns disseram não gostar de ler em voz alta. Algumas
dificuldades também existiram na finalização, quanto à disponibilidade de tempo
para os trabalhos no contraturno: elaboração de cartaz, confecção de objetos feitos
de produtos recicláveis, por exemplo, garrafas PET: A trave do gol; sacolas
plásticas: os pompons para a dança coreografada; bandeira do time: 7ª C F. C:
tampinhas coloridas de garrafas PET. Também sentimos a falta de um professor de
Arte, que pudesse dar ideias e ajudar na elaboração das etapas artísticas para
então, melhorar ainda mais a apresentação final, no entanto, não houve essa
interação por diversos motivos, entre eles, aposentadoria de professor e ou
substituição.
Ainda assim, esse trabalho com leitura atendeu as expectativas quanto ao
que foi proposto: trabalhar com a literatura infanto-juvenil para que a aprendizagem
da Língua não ocorra de modo impositivo e sim, mais prazeroso; também porque
essa metodologia possibilitou o trabalho com os três eixos do ensino da língua: a
leitura, a oralidade e a escrita, atendendo o objetivo do ensino de Língua
Portuguesa.
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Ao final de um ano letivo, desenvolvendo atividades de leitura como a
exemplificada, foi possível perceber que os alunos dessa turma entenderam que a
leitura de textos literários pode formar e transformar suas vidas, dentro e fora da
escola.
Esse trabalho é mais um entre tantos que buscam melhorar o desempenho
dos estudantes da escola pública e que pode e deve ser aperfeiçoado para que o
objetivo maior seja alcançado: que nossos alunos leiam mais, entendam o que leem,
façam suas inferências de modo coerente e escrevam bem, pois a leitura é um
subsídio de grande valia na caminhada acadêmica e fora dela.
Para concluir, a frase do escritor peruano, Mário Vargas Llosa, ilustra bem
como deve ser um leitor crítico: “Um público comprometido com a leitura é crítico,
rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar
por ideias”.
Referências
AGUIAR,Vera Teixeira; BORDINI,Maria da Glória. Literatura: A formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto alegre: Mercado aberto, 1998.
ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.
BAKHTIN, M. M. (Mikhailovitch), 1895-1975. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2010.
MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles. Leitura, produção de textos e a escola: reflexões sobre o processo de letramento. Campinas, São Paulo: Mercado de letras,1994.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação.Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008.
SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1995.
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TORERO, José Roberto Torero. Uma história de futebol. São Paulo: Objetiva, 2001.
ZILBERMAN, Regina. A Literatura infantil na escola. São Paulo: Global Ed., 6ª ed.. 1987.