ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes...

22

Transcript of ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes...

Page 1: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração
Page 2: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO

LITERÁRIO

Autora: Sonia Maria de Melo

1 Orientadora: Diná Tereza de Brito

2

Resumo

Este trabalho de intervenção pretende analisar como a literatura pode corroborar no ensino e aprendizagem da leitura e na formação de um leitor proficiente. Essa proposta de estudo utiliza o Método Recepcional, organizado por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar, o qual possui cinco etapas, que pretende conduzir o leitor à ampliação dos seus horizontes de expectativas, permitindo a este, por meio de sua emancipação, desempenhar um papel atuante no contexto social. Seguindo os cinco passos desse método, escolheu-se o tema futebol para realizar as atividades, e por meio de vídeos publicitários, músicas, charges, questionamentos orais e escritos, além da leitura dramatizada, em sala de aula, do livro “Uma história de futebol”. Para o fechamento e apresentação do resultado dessa pesquisa à comunidade escolar, decidiu-se pela confecção de objetos: PET para a trave do gol, sacolas plásticas, os pompons para a coreografia da paródia musical: “É uma partida para a leitura” e tampinhas coloridas de garrafas plásticas, para o nome da “bandeira do time” 7ª C F. C. Conclui-se que é possível um trabalho diferenciado, que eleve o interesse do aluno para o mundo literário, onde este pode dar asas à imaginação, sem as amarras dos textos fragmentados do livro didático.

Palavras-chave: aprendizagem de leitura; Método recepcional; formação do leitor; literatura na íntegra.

1 Professora PDE – Lotada no Colégio Estadual Nóbrega da Cunha – Bandeirantes PR. Licenciada

em Letras: Habilitada em Português e Inglês pela Universidade de Ponta Grossa – UEPG. Especialista em Língua Portuguesa pela UEPG. 2 Professora Doutora em Estudos da Linguagem, lotada no CLCA da UENP-campus Cornélio Procópio.

Page 3: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

2

1 Introdução

Urge que os nossos estudantes sejam estimulados a ler, não só pelos

professores de Língua portuguesa, pois “o aluno, antes de qualquer coisa deveria

estar convencido das vantagens de saber ler e poder ler. O professor faria bem

então, em ajudá-lo a construir uma representação positiva da leitura e dos poderes

que ela confere ao cidadão”. (ANTUNES, 2003, P. 81).

Pensar que a leitura deveria ser um hábito adquirido desde a infância, é

unanimidade entre os educadores; no entanto, não é isso que ocorre ainda hoje em

grande parte dos lares das crianças brasileiras, principalmente nos de classe menos

privilegiada.

Essa realidade é preocupante, pois impede que milhares de crianças tidas

como “o futuro do país”, fiquem limitadas aos conhecimentos que recebem no local

em que vivem, onde a oralidade é o meio de comunicação mais utilizado, e sem

consciência da importância do conhecimento científico sistematizado, elas entram

para a estatística do continuísmo das diferenças sociais; na escola ainda correm o

risco de serem estigmatizadas por não se enquadrarem nos padrões culturais

linguísticos, o que corrobora para o abandono e o insucesso escolar.

Quando esses pequenos ingressam na Educação Infantil, é sabido que os

professores trabalham com metodologias diferenciadas e projetos para o incentivo

da leitura, além dos textos (fragmentos) dos livros didáticos, ainda assim, parte deles

(aproximadamente 30% de uma turma de trinta alunos) quando chega ao 9º ano,

apresenta algum grau de dificuldade diante dos gêneros textuais, por isso, é comum

ouvir dos alunos que “não gostam de ler”.

O objeto deste estudo, a princípio, não é ensinar o uso “correto” da língua;

entretanto, tem a intenção de trabalhar a literatura como fruição, condizente com a

faixa etária, e então gradativamente, com a mediação do professor, escolher textos

literários que levem o aluno a perceber que no aparente descompromisso de

narrativas fictícias, entre outros, ele possa se reconhecer também como sujeito da

sua própria história.

E é Zilberman quem questiona:

Page 4: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

3

Como procede a literatura? Ela sintetiza, por meio dos recursos da ficção, uma realidade, que tem amplos pontos de contato com que o leitor vive cotidianamente. Assim, por mais exacerbada que seja a fantasia do escritor ou mais distanciadas e diferentes as circunstâncias de espaço e tempo dentro das quais uma obra é concebida, o sintoma de sua sobrevivência é o fato de que ela continua a se comunicar com o destinatário atual, porque ainda fala de seu mundo, com suas dificuldades e soluções, ajudando-o, pois, a conhecê-lo melhor. (ZILBERMAN, 1987, p. 22).

Sob esses aspectos, entende-se que a realização deste trabalho foi de suma

importância para a comunidade escolar do Colégio Estadual Nóbrega da Cunha

localizado em Bandeirantes, na Avenida Prefeito Moacyr Castanho 1403, onde são

matriculados todos os anos, no Ensino Regular matutino e vespertino,

aproximadamente quatrocentos e cinquenta alunos na faixa etária de 10 a 15 anos.

Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa

diversidade. E a administração do colégio, comprometida com metodologias que

possam melhorar o ensino-aprendizagem da comunidade escolar, apoia projetos

que busquem novos paradigmas para superar esse desnível entre o decodificar e o

compreender o texto lido.

Acreditando que a aprendizagem ocorre com mais eficiência por meio da

leitura literária, este projeto já idealizado e posto em prática pelo trabalho com

leitura, alicerçado no Método Recepcional, veio corroborar para esta intervenção

pedagógica, pois ela pode transformar a trajetória escolar e também de vida, dos

alunos, mais especificamente os da escola pública, onde encontram ou deveriam

encontrar espaço para as práticas de linguagens que lhes possibilitem interagir na

sociedade, nas mais diferentes circunstâncias de uso da língua, pois é nos

processos educativos, e notadamente nas aulas de língua materna, que os

estudantes brasileiros têm a oportunidade de aprimoramento de sua competência

linguística, de forma a garantir uma inserção ativa e crítica na sociedade.

Então, de que modo trabalhar a literatura infanto-juvenil na íntegra, dentro do

Método Recepcional, para transpassar a barreira dos fragmentados textos dos livros

didáticos e despertar esses leitores ocultos, tornando-os proficientes para assim

transformar sua realidade social?

Dentro dessa perspectiva, o objetivo maior seria investigar se a dificuldade

da leitura e compreensão dos textos, (fragmentados) inseridos nos livros

didáticos, pelos alunos que vêm das séries iniciais e que ainda é constatada no 6º

Page 5: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

4

ano, podem ser superadas por meio da literatura associada à metodologias

diversificadas.

Visando a superar essa defasagem, eis alguns objetivos que foram

trabalhados:

Despertar o prazer pela leitura por meio de diversos textos literários, a partir

de uma apreciação estética.

Tornar as aulas de leitura uma atividade de fruição e interação entre os

sujeitos, favorecendo a capacidade de compreensão do que leem.

Possibilitar aos alunos o acesso ao acervo da biblioteca, incentivando-os a

escolher um ou mais livros para a leitura bimestral e discutir/comentar em

sala.

Trabalhar a intertextualidade para que o aluno gerencie a construção de

novos sentidos e assim, favorecer a comunicação com os conteúdos de

outras disciplinas, proporcionando a multiplicidade dos saberes.

Levar o aluno a entender o texto literário e extrair dele informações a fim de

se tornarem mais preparados para o enfrentamento da realidade.

Partindo dos pressupostos teóricos apresentados na Estética da Recepção

defendida por Jauss (1994): o efeito que a obra produz no leitor, e da Teoria do

Efeito, por Iser que considera que tanto o texto como o leitor trazem um repertório de

conhecimento que interagem no momento da leitura, as professoras Maria da Glória

Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, elaboraram o Método Recepcional, sugerido nas

DCE como encaminhamento metodológico para o trabalho com a Literatura. Essa

proposta de trabalho de acordo com Bordini e Aguiar tem como objetivos:

1) Efetuar leituras compreensivas e críticas 2) Ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem 3) Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural 4) Transformar os próprios horizontes de expectativas bem como os do

professor, da escola, da comunidade familiar e social (BORDINI e AGUIAR,1993, p.86).

Essa corrente teórica vem dando resultado na formação do leitor de obras

literárias, pois ele é tido como sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em seu

contexto; a partir do conhecimento prévio, o universo do aluno leitor é ampliado para

Page 6: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

5

além da leitura como fruição, ou seja, ele estará mais preparado para novas leituras

que o conduzirão vida afora, e possivelmente, comprometido com a transformação

do seu meio social.

2 Fundamentação Teórica

É sabido que a educação no Brasil, historicamente tem passado por grandes

transformações sociopolíticas, com base em teorias vindas da filosofia, da

pedagogia, da psicanálise entre outras ciências de teóricos importantes como a base

teórica de Rousseau, que acredita na bondade natural do homem e que o próprio

homem cria as desigualdades sociais; ou Vygotsky que prega a teoria sócio-

construtivista ou sócio-interacionista; e ainda Piaget e a teoria do construtivismo, e

muitos outros teóricos que contribuíram para a evolução do conhecimento científico.

O processo de ensino de Língua Portuguesa no Brasil iniciou-se com a

educação jesuítica, fundamental na formação da elite colonial subordinada à

metrópole, “favorecendo o modelo de sociedade escravocrata e de produção

colonial destinada aos interesses do país colonizador” (LUZ-FREITAS, 2007 s/p), ao

mesmo tempo em que se propunha a “alfabetizar” e “catequizar” os indígenas.

Evidenciava-se, já na constituição da escola e do ensino, que o acesso à

educação letrada era determinante na estrutura social, fazendo com que os colégios

fossem destinados aos filhos da elite colonial.

Nesses cinco séculos, a educação brasileira passou por muitas mudanças e,

com relação à literatura, até meados do século vinte, o principal instrumento do

trabalho pedagógico eram as antologias literárias, com base nos cânones. Essa

leitura visava transmitir a norma culta da língua, com base em exercícios gramaticais

e estratégias para incutir valores religiosos, morais e cívicos.

Entre mudanças de governos, e o sempre presente interesse das classes

elitizadas em manter o status quo, quem vem perdendo ao longo dos anos de estar

entre os primeiros no quesito educação, é o nosso país, já que o aluno que vem das

classes menos favorecidas, vive esse “apartheid” entre o acesso ao conhecimento

científico e a escola excludente, pois segundo Matencio (1994) essa escola não

consegue atender toda a clientela, o excesso de alunos que não conseguem vaga é

Page 7: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

6

grande, os índices de repetência e evasão são altos; há também a escola que limita,

pois as condições de trabalho e a formação de professores são péssimas, além de

reduzir quando impõe a norma culta como única variante aceita. Nesse raciocínio,

também (SOARES, 1995, p.54) aponta que tanto para a teoria da deficiência, quanto

para a teoria das diferenças, as desigualdades linguísticas se devem às

desigualdades sociais, o que causa desigualdades de rendimento escolar, pois

segundo a autora, as classes dominantes com a mediação da escola, impõem sua

cultura e sua linguagem, apresentadas como legítimas; desvaloriza-se uma cultura e

linguagem diferente e acusa-a de “deficiente”.

Com tantas constatações, fica óbvia a importância das Secretarias de

Educação continuarem promovendo a formação continuada para nós, os

professores, nos moldes do PDE, para que possamos adquirir mais embasamentos

teóricos que nos norteiem para sanar as muitas dúvidas que nos afligem e, em se

tratando da Língua Portuguesa, metodologias e estratégias que direcionem para

uma prática de leitura eficaz, para que assim, possamos formar cidadãos leitores,

proficientes e críticos, que não sejam entraves para a sociedade, mas que possam

transformar suas realidades e diminuir esse desnível social discrepante, que só uma

educação de qualidade conseguirá. Para isso, deve-se ter em mente que o ensino

da prática de leitura requer um professor que “além de posicionar-se como um leitor

assíduo, crítico e competente, atenda realmente a complexidade do ato de ler”

(SILVA, 2002, p. 22). Nesse contexto, as DCE (p.47-48, 2008) considera que:

[...] o percurso histórico da disciplina de Língua Portuguesa na Educação Básica Brasileira, e confrontando esse percurso com as situações de analfabetismo funcional, dificuldades de leitura compreensiva e produção de textos apresentadas pelos alunos; segundo os resultados de avaliações em larga escala e, mesmo, de pesquisas acadêmicas, as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa requerem, neste momento histórico, novos posicionamentos em relação às práticas de ensino; seja pela discussão crítica dessas práticas, seja pelo envolvimento direto dos professores na construção de alternativas. Essas considerações, resultaram, nas DCE, numa proposta que dá ênfase à língua viva, dialógica, em constante movimentação, permanentemente reflexiva e produtiva. Tal ênfase traduz-se na adoção das práticas de linguagem como ponto central do trabalho pedagógico [...].

Ante esse desafio, Aguiar e Bordini (1998, p.33) observam que:

Page 8: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

7

Os professores, apesar de visarem à formação do hábito da leitura e o desenvolvimento do espírito crítico, não oferecem atividades nem utilizam recursos que permitam a expansão dos conhecimentos, das habilidades intelectuais, a criatividade ou a tomada de posição, embora arrolem esses tópicos em seus critérios de aproveitamento escolar. O debate, a livre discussão e atividades que extrapolam o âmbito da sala de aula são esquecidos. As fórmulas mais carentes de criatividade e mais tradicionalmente empregadas, como aulas expositivas e exercícios escritos e orais de interpretação, são praticadas pela maioria, o que também promove a falta de incentivo e de motivação para a leitura dos alunos.

Nesse contexto, as Diretrizes da Língua Portuguesa propõem refletir sobre o

ensino da Língua e da Literatura, o que implica pensar também as contradições, nas

diferenças e nos paradoxos do quadro complexo da contemporaneidade, pois

vivemos a era digital, que possibilita o acesso rápido às multiplicidades de

linguagem em seus inúmeros formatos como os “sites”, “blogs”, “e-mails”, além dos

apetrechos eletrônicos cada vez mais “high tec” e mais acessível às mãos dos

nossos alunos. Ainda assim, convivemos com índices alarmantes de analfabetismo

funcional, revelados pelas avaliações educacionais que mostram o baixo

desempenho dos estudantes brasileiros em todos os níveis de escolaridade.

Essa constatação também é feita por Matencio (1994, p.21), quando escreve

que “a crescente utilização da escrita como forma de comunicação tornou-se mesmo

um obstáculo para muitos dos falantes, porque trouxe à tona mais elementos de

discriminação social (...)”. E se a linguagem é vista como fenômeno social, pois

nasce da necessidade de interação (política, social e econômica) entre os sujeitos,

deveria se levar em conta a complexidade estrutural e a multiplicidade cultural que

resultam diferentes tipos de letramento.

Bakhtin também justifica:

[...] toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte.Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. (...) A palavra é território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN/VOLOCHINOV, p.117). As palavras estão carregadas de conteúdo ideológico, elas “são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a toda as relações sociais em todos os domínios” (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999, p. 41).

Page 9: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

8

Portanto, é no universo escolar, que os professores de Língua Portuguesa e

Literatura têm a possibilidade de promover o amadurecimento do domínio discursivo,

da oralidade, da leitura e da escrita, para que os alunos compreendam as diversas

“formas de usar a linguagem e fazer/retirar sentido pela fala e pela escrita, que se

relacionam a visão de mundo das comunidades, suas crenças e valores

particulares”. (MATENCIO, p.20, 1994). Com mais habilidade, os alunos então

poderão expressar suas opiniões e assim, interferir no processo de socialização com

autonomia em relação ao pensamento e as práticas discursivas diversas.

3 Trajetória Metodológica – Realização do projeto

A implementação deste projeto deu-se no 3º período do Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), uma política pública que estabelece o diálogo

entre os professores da Educação Superior e os da Educação Básica, através de

atividades teóricas-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de

conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública

paranaense (PDE, 2010) oferecido pela Secretaria do Estado da Educação (SEED)

do Estado do Paraná.

Amparado pelo Método Recepcional, o qual está de acordo com as

Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa e Literatura para a Educação Básica

do Estado do Paraná, o encaminhamento metodológico para esse trabalho de leitura

literária, priorizou o leitor como um sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em

seu contexto. De acordo com Bordini e Aguiar (1993), organizadoras desse método,

ele tem como objetivos: efetuar leituras compreensivas e críticas; ser receptivo a

novos textos e a leitura de outrem; questionar as leituras efetuadas em relação ao

seu próprio horizonte cultural, ou seja, textos que fazem parte do universo cultural do

aluno, para então, romper com esse universo e assim, transformar esses horizontes

de expectativas com momentos para debates para que ocorra a ampliação dos

mesmos.

São cinco as etapas que nortearam o trabalho em sala de aula:

Determinação do horizonte de expectativas;

Atendimento ao horizonte de expectativas;

Page 10: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

9

Ruptura do horizonte de expectativas;

Questionamento do horizonte de expectativas;

Ampliação do horizonte de expectativas.

Com essa metodologia, os alunos tiveram a oportunidade de desenvolver

seu senso crítico que os levou a perceberem-se como sujeitos presentes nos textos,

além de tomarem uma atitude responsiva diante dos textos lidos, sob a mediação da

professora, que os conduziram à realização de leituras significativas e atribuição de

sentidos ao que leram.

Dentre os muitos temas, que compõem o acervo da biblioteca escolar,

escolheu-se o esporte que mexe com grande parte do povo brasileiro, independente

da faixa etária, o futebol, que está presente na vida da maioria dos estudantes,

meninos e meninas de todas as classes sociais. É praticado em qualquer canto do

nosso país, além disso, estamos em preparação para sediar a próxima Copa em

2014 e isso pode ser um “campo fértil” para diversos gêneros textuais, produzidos

no período que antecede esse campeonato mundial e também pós-campeonato. É

um tema atemporal, pois em qualquer época é só abrir jornais, revistas, sites, entre

outras mídias e lá estão: charges, crônicas, artigos de opinião, além de romances e

músicas sobre o tema futebol.

Paralelamente ao processo de implementação desse projeto de ensino e

aprendizagem com a contribuição da leitura literária, foram também trabalhados os

conteúdos estruturantes da Língua Portuguesa; além do livro didático, o texto

literário veio somar-se aos conteúdos, para que as expectativas de aprendizagem se

concretizassem, haja vista a importância da análise linguística no letramento escolar.

Antunes (2007, p. 130) ressalta que o texto é a única forma de se usar a língua: “A

gramática é constitutiva do texto, e o texto é constitutivo da atividade da linguagem.

[...] Tudo o que nos deve interessar no estudo da língua culmina com a exploração

das atividades textuais e discursivas”.

Foram previstos doze encontros para esse trabalho, com início em agosto de

2011 e previsão para encerramento na primeira quinzena de novembro do mesmo

ano, porém há de se convir que a flexibilidade de tempo foi importante para que as

atividades propostas alcançassem as expectativas de modo satisfatório. Durante

todo o período, as ações foram registradas em fotos e filmes.

Na Determinação do Horizonte de Expectativas, primeira etapa, foi

considerado pertinente um “bate-bola” direcionado a investigar um pouco da

Page 11: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

10

realidade sociocultural dos alunos, 7ª série (8º ano) seus interesses e nível de

leitura. Esse momento ocorreu fora da sala, no pátio da escola, com bastante

descontração, os alunos tiveram vez e voz (depoimentos) para expressar suas

preferências quanto ao lazer, músicas, esporte preferido (vários apontaram o

futebol). Perguntado se gostavam de ler e quais livros conheciam ou já tinham lido

nas séries anteriores, alguns disseram que não gostavam, outros comentaram de

livros que leram e que foram marcantes, por exemplo, “O menino do dedo verde”,

“Bisa Bia, Bisa Bel”, entre outros. De volta à sala de aula assistiram ao vídeo (TV

pendrive), produzido por uma agência de publicidade argentina, sobre as diferenças

culturais entre alguns países. Os protagonistas do filme publicidade, são os

jogadores argentinos, Messi e Maradona.

Após assistirem ao filme, foi proposto um debate sobre questões

comportamentais mostradas no vídeo, comparando com as atitudes dos brasileiros,

no trânsito, respeito com pedestres e nos estádios de futebol.

1. É uma questão cultural jogar papel na rua, “furar” o sinal, não esperar o pedestre

atravessar a rua?

2. O que é cultura?

3. Em que podemos melhorar para vivermos em sociedade sem prejudicar o outro?

Com a participação coletiva, foram sugeridas (escrito no quadro de giz) cinco

ações positivas do cotidiano que podem melhorar a convivência em nosso meio

social (bairro, rua, escola) e cinco negativas que podem prejudicar a todos.

Na sequência, ainda com base no mesmo vídeo, foi pedido à turma, para

que observassem um comentário importante: “É um time que joga com o coração!”.

Aproveitando essa fala, a conversa foi direcionada para que os alunos falassem

sobre a importância da leitura, com a seguinte proposta:

4. Quais atividades podemos desenvolver para melhorar o aprendizado do nosso

“time” 7ª série C (8º ano) na questão literária? (A turma soltou a imaginação e

então, foram escritas no quadro as sugestões dadas):

dramatização (adaptada) da história toda ou alguns capítulos;

produção de paródias;

debate (trazer para a nossa realidade);

escrita das impressões que a obra causou;

clube da leitura.

Page 12: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

11

No Atendimento do Horizonte de Expectativas, 2ª etapa, dentro do tema

mais próximo das expectativas dos estudantes, foi assistido mais um vídeo, (20

minutos) sobre a história de vida da jogadora de futebol, a brasileira Marta,

intitulado, “Marta, uma das jogadoras mais rápidas do mundo”. Na sequência,

receberam questões impressas, para discutirem e responderem; após isso, houve

um debate com base nos questionamentos:

1. Marta, Ronaldo, Romário, Pelé e tantos outros jogadores, conheceram e viveram

uma infância pobre, porém tornaram-se ricos por meio do futebol. O que dizer para

milhões de brasileirinhos pobres, que não têm talento para o esporte, mas acreditam

que também podem “chegar lá”?

2. Você acredita que ser famoso é importante? Por quê?

3. Quais as vantagens e desvantagens de se ter fama?

No encontro seguinte, após agendar previamente, visitamos as bibliotecas

do colégio e a municipal, conhecida como Biblioteca Cidadã, para que conhecessem

melhor os acervos das duas e, principalmente o espaço agradável e disponível da

biblioteca pública; além de providenciar carteirinhas para empréstimos de livros, a

responsável pela Biblioteca Cidadã atenciosamente nos recebeu e proporcionou a

todos um “passeio” pelos livros, revistas e também falou sobre a importância da

leitura e da diversidade do acervo disponível na Biblioteca Cidadã.

De volta para a sala de aula, houve a continuidade ao atendimento dos

horizontes de expectativas dos alunos, e assim, apresentado o texto (musicado)

impresso, da banda Skank, “É uma partida de futebol”, que a FIFA incluiu no disco

oficial para a Copa do Mundo de 1998; na sequência, assistimos ao “clip” da música.

E “continuando o jogo”... com intuito de verificar a criticidade argumentativa,

receberam mais algumas questões para refletir e debater:

4. Quais as vantagens em ser jogador de futebol no Brasil?

5. “Que coisa linda é uma partida de futebol”. Lendo esse verso, podemos afirmar

que é sempre assim durante um jogo? Justifique.

6. A mídia tem mostrado vários episódios envolvendo jogadores de futebol. Quais os

que mais têm chamado a atenção?

7. Essa música é uma exaltação ao futebol, porém, temos muitas outras maravilhas

em nosso país. Quais merecem destaques e por quê?

Atividade escrita:

Em duplas, elaborar uma tabela (palavras adjetivas).

Page 13: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

12

Lado esquerdo: dez palavras - qualificando o futebol

Lado direito: dez palavras - qualificando a leitura

Nas atividades acima houve boa interação entre as equipes e bons

argumentos dos alunos.

Para a Ruptura do Horizonte de Expectativas, terceira etapa do Método

Recepcional, partiu-se das experiências de leitura dos alunos e gradativamente,

foram propostas outras leituras para que aprofundassem seus conhecimentos e

assim, distanciassem do senso comum em que se encontravam. Estes

procedimentos, inusitados para o leitor, rompem com sua acomodação e exigem

uma postura de aceitação ou descrédito, fundada na reflexão crítica, o que promove

a expansão de suas vivências culturais e existenciais. (Bordini & Aguiar, 1993, p.25).

Nesse momento, os alunos receberam, individual e ou em duplas,

exemplares do livro “Uma história de futebol” de José Roberto Torero. Objetiva,

2001, de apenas 78 páginas, para leitura oral (dramatizada) em sala de aula.

Após ler e comentar sobre a biografia do autor iniciamos a leitura dessa

emocionante e surpreendente história que conta as aventuras do menino Zuza, o

qual jogou com o Rei Pelé, ou melhor com Dico, apelido de infância de Edson

Arantes do Nascimento. Foram cinco encontros em sala para essa leitura, (final de

setembro e primeira quinzena de outubro); o envolvimento da turma com a narrativa

foi bom, pois a maioria quis ler (fazendo a voz dos personagens). A cada encontro,

era feito um “flash back” dos capítulos anteriores e a maioria comentava sobre as

ações das personagens. Terminada a leitura, apresentaram-se alguns

questionamentos, partindo da história dos personagens, para a realidade dos

alunos. Depois de discutirem em grupo (quatro alunos), expuseram para a sala o

que pensavam sobre:

1. Modo de agir dos personagens Mauzinho, Veludo, Espaguete, Azeitona, Tom Mix

e Arigatô; com qual deles o grupo mais se identificou?

2. O comportamento do personagem Mauzinho, pode ser caracterizado como

“bulling”? Justifique.

3. O pai de Zuza é analfabeto e se envergonha disso, porém toma uma decisão

corajosa que deixa o garoto muito intrigado. As atitudes do pai e do filho foram

corretas?

Para a próxima atividade, buscou-se suporte na fala de Maria de Lourdes

Meirelles Matencio, quando afirma que a literatura tem a possibilidade de promover

Page 14: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

13

o amadurecimento do domínio discursivo, da oralidade, da leitura e da escrita, para

que os alunos compreendam as diversas “formas de usar a linguagem e fazer/retirar

sentido pela fala e pela escrita, que se relacionam a visão de mundo das

comunidades, suas crenças e valores particulares”. (MATENCIO, p.20, 1994).

A citação postada pela professora Rita de Cássia Renzi, participante do

GTR, na atividade no dia 25/10/2011 ilustra as colocações que os alunos fizeram a

respeito da proposta de leitura dramatizada.

Ducrot (1988 p.36) disse que a Literatura é o desenvolvimento do que ele tem de mais sublime nas ideias. Cabe à escola a formação e o desenvolvimento do hábito da Leitura, e ao professor, orientar-se no sentido de promover a leitura entre os alunos, pelo exercício da reflexão e da crítica. A leitura com prazer, requer um exercício de conduta, de envolvimento, de diálogo com o outro, de fazer a criança refletir e imaginar, assim como o é a Literatura Infantil. A Leitura da palavra é antecipada não só pela Leitura do mundo, mas "por uma certa forma de escrevê-lo e de transformá-lo a partir de uma prática consciente” (VARGAS, 1993, p. 45).

4. Escreva suas impressões sobre o livro “Uma história de futebol” e o modo como

foi lido”. Eis alguns trechos escritos pelos alunos que autorizaram a reprodução:

“Esse livro é uma história legal e lido oralmente o torna mais entendível, com os

alunos, fazendo a voz dos personagens o livro fica mais divertido”. Lucas Bragante

Santos

[...] No começo eu não queria nem ler, porque não sou muito fã de futebol, mas não podemos julgar o livro pela capa, pois gostei muito da história, é um livro que mostra bastante o nosso dia a dia, tanto em casa, como na sociedade, analfabetismo, traições, sonhos, “bulliyng” e também a febre que é o futebol. Bárbara Sato

[...] Foi interessante também o fato de lermos em voz alta, pois cada um interpretou um personagem, foi muito legal. A parte que eu achei bastante tocante, foi quando a aviador morreu. A leitura oral é bastante interessante porque todos participam, tem como se fazer um teatro, mesmo não ensaiando, somente lendo o livro e fazendo os diálogos com pessoas diferentes. Agnes Outuki

O livro é muito bom de ler, pois conta a verdadeira história sobre o jogador Pelé, conta sobre a infância dele. [...] fala da vergonha do pai de um garoto

Page 15: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

14

por ser analfabeto [...] se sentia muito magoado por não poder ajudar o filho nas lições de casa. Érica Estaciana Martins.

5. Que tal criar e ou pesquisar na web, frases (em duplas) de incentivo à leitura?

O resultado foi bem proveitoso e dentre as tantas frases que trouxeram, destaque

para a frase de Bill Gates:

“Meus filhos terão computadores sim, mas antes terão livros, sem leitura, os nossos

filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história.”

Chegamos então ao Questionamento do Horizonte de Expectativas,

quarta etapa, quando foi possível perceber que os textos oferecidos na etapa

anterior, ajudaram na compreensão da leitura e nas atividades realizadas; a partir

daqui, os alunos já demonstravam mais maturidade e criticidade para realizar as

tarefas seguintes.

Nesse momento, os alunos, individualmente, receberam (impressos) os

trechos das letras das músicas e uma charge para análise comparativa e

interpretativa para responderem os questionamentos abaixo:

É uma partida de futebol – Skank

Bola na trave não altera o placar

Bola na área sem ninguém pra cabecear

Bola na rede pra fazer o gol

Quem não sonhou ser um jogador de futebol?

(...)

Terceiro - Ultraje a Rigor

Todo equipado, preparado na linha de partida

Daqui a pouco vai ser dada a saída

Todo mundo nervoso e eu não to nem aí (O importante é competir!)

Então ta, vamo lá, nem vou me preocupar

Já ta tudo armado pra eu me conformar

Eu vou tentar só pra não falar que eu nem sou atleta

(...)

Page 16: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

15

Charge

1. No quarto verso da música “É uma partida de futebol”, há uma indagação

dirigida ao público masculino. Como se comprova isso?

2. Releia a primeira estrofe da música “É uma partida de futebol” (Skank) e a

segunda estrofe da música “Terceiro” (Ultraje). Escolha dois versos, um de cada

música, que mais se identificam com o primeiro quadro da charge. Escreva-os.

3. Observe o primeiro e o último quadros da charge. Comente as atitudes do

personagem e o porquê de ele chegar a essa situação.

4. Note que o pronome possessivo Nossa, aparece na maioria dos quadrinhos. A

quem ou a que ele se refere?

5. Com um olhar mais crítico para a charge, qual ou quais problemas observados

nos quadrinhos, mais aflige você?

Nessa última etapa do Método Recepcional, é o momento da Ampliação do

Horizonte de Expectativas do aluno/leitor, quando segundo Bordini & Aguiar

(1988), os alunos deverão perceber que os textos literários, não são apenas tarefas

do dia a dia escolar. Nesse momento, espera-se que eles estejam mais reflexivos

para uma tomada de consciência após as alterações vividas por meio das

experiências com a literatura e portanto, uma expectativa maior quanto a ampliação

dos seus conhecimentos.

Assim, outras leituras extraclasse serão bem-vindas, pois com mais

“bagagem” para entrar no campo literário e com postura mais crítica em relação aos

Page 17: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

16

textos lidos, os alunos poderão atribuir significados ao que lerem e então,

aprofundar suas reflexões e tornarem-se cidadãos mais preparados para os

enfrentamentos da vida de modo amplo.

Na sequência, foram discutidas as tarefas para a finalização do projeto.

Entre várias sugestões, ficou decidido que seriam utilizados objetos recicláveis e ou

reaproveitáveis.

Aqui, uma ressalva: as atividades descritas abaixo, ligadas mais à parte

artística, deveriam ter tido a participação (ajuda) da professora de Arte, porém, todos

sabemos da jornada que os mestres muitas vezes têm de cumprir, indo de uma

escola à outra, o que dificulta essa interação entre as disciplinas. Nessa etapa não

foi diferente e isso sobrecarregou o nosso trabalho, pois os alunos, sozinhos não

conseguiam desempenhar as tarefas propostas com resultado satisfatório.

Dividiu-se, então, a sala em dois grupos (direita e esquerda) para

trabalharem à tarde (contraturno), em dias alternados. O primeiro grupo responsável

para elaborar um grande painel em papel craft. Nele foi colocado um “mix” de fotos

(recorte de revistas) escolhidas pelos alunos, sob a minha supervisão, com os temas

Futebol X Leitura e as várias frases elaboradas previamente, na ruptura do

horizonte de expectativas. Também tiveram a ideia de construir com garrafas PET,

uma trave para representar o gol, além da bandeira do “time”: 7ªC F. C. (7ª C

Futebol Clube), escrito com tampinhas coloridas de garrafas PET, coladas em tecido

TNT; até a vovó de um aluno deu sua contribuição, confeccionando a bola, feita de

jornais e meias usadas. O outro grupo ficou responsável pela produção (coletiva) de

uma paródia da música “É uma partida de futebol” (Skank). A letra ficou assim:

Título: É uma partida para a leitura

(refrão)

Livro na estante não altera o saber Livro fechado sem ninguém para ler Leitura pra gente é um show Quem não sonhou em ser um grande escritor?

Livros para ler em qualquer parte Leio na sala, na cozinha e no quarto Em suas histórias eu me informo Que coisa linda é um livro e o futebol.

Page 18: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

17

Posso ler várias histórias Se eu não ler, será um imenso crime Posso chorar quando o livro acabar. A leitura sempre me encanta. Em todos os momentos quero continuar. Nas histórias é que eu viajo Até com o “Menino do Dedo Verde” Olhando para o livro, eu vejo o sol Estou “ligado” agora, leio o livro e jogo meu futebol. A leitura é questão de prática O livro eu levo pra todo lado Histórias cheias de alegrias e tristezas É bom ler e também jogar meu futebol.

O aluno Leonardo, espontaneamente propôs tocá-la no violão para

abrilhantar o “show”, na conclusão do projeto. As ideias iam surgindo... várias

garotas desse grupo se propuseram a confeccionar pompons, feitos de sacolas

plásticas de diversas cores e criaram uma coreografia que veio enriquecer a

apresentação da turma com a paródia musical na Mostra Pedagógica do Colégio no

dia 02/12/2011, no Salão Nobre do colégio.

A Direção, em apoiou a esse projeto de leitura, dispensou todo o corpo

discente e docente para que assistissem à apresentação da turma 7ª série C (8º

ano), envolvida nesse trabalho. Para esse evento, vieram alguns responsáveis pelos

alunos, além da representante da Biblioteca Cidadã, a professora Lucinéia da Silva

Oliveira, que também contribuiu com seus conhecimentos, apresentando todo o

acervo aos alunos, além de uma palestra sobre a importância da leitura.

3.1 A apresentação

Enquanto era projetado no datashow, um dos “clipes” escolhidos, referente a

música “É uma partida de futebol”, cinco alunos no palco, vestindo camisas de

diferentes times, nacionais e internacionais, simulavam um jogo de futebol. Para

tanto, foram usadas a trave construída de garrafas PET, a bola de meias e jornais,

na parede, afixada a bandeira do “time”, confeccionada em TNT preto e tampinhas

coloridas de garrafas plásticas, onde se lia: 7ª C F. C.

Page 19: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

18

Na segunda apresentação, a turma (25 alunos) vestida de camisas de times

diversos, cantou a paródia musicada, “É uma partida para a leitura”,

acompanhada pelo violão enquanto as garotas faziam coreografias, utilizando os

pompons coloridos feitos de sacolas plásticas. Nos dois momentos houve interação

com a plateia.

Para finalizar, sortearam-se livros, gibis e cruzadinhas entre os alunos

presentes, que assistiram à apresentação. Entre os alunos da turma, foram

sorteados três livros: O fantasma no campo de futebol, (Thomas Brezina); Pobre

Corintiano Careca, (Ricardo Azevedo) e para a mudança de tema, um livro de

mistério e suspense: Ataque do Comando P. Q. (Moacyr Scliar). Ficou combinado,

que os alunos, depois que lessem, doariam esses três títulos para a biblioteca do

colégio.

4 Considerações Finais

Repensar sempre as práticas pedagógicas, deve ser uma atitude constante

de um educador comprometido com uma educação de qualidade, que visa à

formação do aluno/cidadão para o enfrentamento de um mundo de oportunidades,

entretanto, também de fracassos. Assim, as Diretrizes Curriculares Estaduais de

Língua Portuguesa requerem, neste momento histórico, novos posicionamentos em

relação às práticas de ensino; seja pela discussão crítica dessas práticas, seja pelo

envolvimento direto dos professores na construção de alternativas.

O Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná – PDE, tem

corroborado com esse novo olhar na construção de alternativas para uma educação

de qualidade e tem tido excelentes resultados na formação continuada para

docentes do ensino público, haja vista, que integra as escolas do Ensino

Fundamental e Médio, às Instituições de Ensino Superior – IES. Essa parceria

possibilita a inserção do professor da educação básica nas atividades de formação

desenvolvidas no âmbito das IES, por meio de atividades teórico-práticas orientadas,

como também possibilita aos professores das IES essa aproximação com o Ensino

Básico, superando esse distanciamento. O resultado disso, é um professor com

Page 20: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

19

mais embasamento teórico e, portanto, mais capacitado para realizar mudanças

qualitativas na sua prática pedagógica.

Assim, esse trabalho deve ser visto como uma possível proposta de ensino

da literatura, em que se objetiva formar leitores competentes, para isso, é importante

o professor ter o conhecimento teórico e, com base em uma metodologia de ensino,

desenvolver estratégias que motivem os alunos a lerem com prazer, pois como

observa criticamente Aguiar e Bordini (1998, p.33):

Os professores, apesar de visarem à formação do hábito da leitura e o desenvolvimento do espírito crítico, não oferecem atividades nem utilizam recursos que permitam a expansão dos conhecimentos, das habilidades intelectuais, a criatividade ou a tomada de posição, embora arrolem esses tópicos em seus critérios de aproveitamento escolar.

Trabalhar com esses estudantes da 7ª série (8º ano) dentro dessa pesquisa

utilizando a literatura, foi gratificante, pois a dinâmica da leitura de forma oral e

dramatizada, do livro escolhido, “Uma história de futebol”, envolveu noventa por

cento da sala, já que alguns disseram não gostar de ler em voz alta. Algumas

dificuldades também existiram na finalização, quanto à disponibilidade de tempo

para os trabalhos no contraturno: elaboração de cartaz, confecção de objetos feitos

de produtos recicláveis, por exemplo, garrafas PET: A trave do gol; sacolas

plásticas: os pompons para a dança coreografada; bandeira do time: 7ª C F. C:

tampinhas coloridas de garrafas PET. Também sentimos a falta de um professor de

Arte, que pudesse dar ideias e ajudar na elaboração das etapas artísticas para

então, melhorar ainda mais a apresentação final, no entanto, não houve essa

interação por diversos motivos, entre eles, aposentadoria de professor e ou

substituição.

Ainda assim, esse trabalho com leitura atendeu as expectativas quanto ao

que foi proposto: trabalhar com a literatura infanto-juvenil para que a aprendizagem

da Língua não ocorra de modo impositivo e sim, mais prazeroso; também porque

essa metodologia possibilitou o trabalho com os três eixos do ensino da língua: a

leitura, a oralidade e a escrita, atendendo o objetivo do ensino de Língua

Portuguesa.

Page 21: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

20

Ao final de um ano letivo, desenvolvendo atividades de leitura como a

exemplificada, foi possível perceber que os alunos dessa turma entenderam que a

leitura de textos literários pode formar e transformar suas vidas, dentro e fora da

escola.

Esse trabalho é mais um entre tantos que buscam melhorar o desempenho

dos estudantes da escola pública e que pode e deve ser aperfeiçoado para que o

objetivo maior seja alcançado: que nossos alunos leiam mais, entendam o que leem,

façam suas inferências de modo coerente e escrevam bem, pois a leitura é um

subsídio de grande valia na caminhada acadêmica e fora dela.

Para concluir, a frase do escritor peruano, Mário Vargas Llosa, ilustra bem

como deve ser um leitor crítico: “Um público comprometido com a leitura é crítico,

rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar

por ideias”.

Referências

AGUIAR,Vera Teixeira; BORDINI,Maria da Glória. Literatura: A formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto alegre: Mercado aberto, 1998.

ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.

BAKHTIN, M. M. (Mikhailovitch), 1895-1975. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2010.

MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles. Leitura, produção de textos e a escola: reflexões sobre o processo de letramento. Campinas, São Paulo: Mercado de letras,1994.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação.Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008.

SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1995.

Page 22: ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA COM A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO · Vindos de diversas classes sociais, parte deles tem problemas característicos dessa diversidade. E a administração

21

TORERO, José Roberto Torero. Uma história de futebol. São Paulo: Objetiva, 2001.

ZILBERMAN, Regina. A Literatura infantil na escola. São Paulo: Global Ed., 6ª ed.. 1987.