ENTRE A DOR E A SAÚDE, O RISO: CONTRIBUIÇÕES DA … · RESUMO Os estados de ânimo, as emoções...

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1 ENTRE A DOR E A SAÚDE, O RISO: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA Lúcio de Souza Andrade 1 Kely Silva Prata 2 RESUMO Os estados de ânimo, as emoções e os afetos, paulatinamente tornaram-se alvo de pesquisas científicas cuja premissa é entender a influência do humor e da afetividade no comportamento e nas condições de saúde das pessoas. Na Psicologia, o “bom humore a expressão da afetividade começam a ser utilizados como recursos terapêuticos, principalmente no contexto hospitalar. Este trabalho tem como objetivo compreender de que forma o “bom humor” exerce influência na saúde das pessoas e de que modo pode ser utilizado como recurso terapêutico. Como diretrizes, buscou-se fazer um apanhado histórico a respeito das concepções acerca do humor; descrever as possíveis articulações entre “bom humor” e promoção de saúde e também identificar experiências terapêuticas que tenham o “bom humor” como recurso terapêutico. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, cujas reflexões permitem novas concepções a respeito das práticas utilizadas no cuidado e manejo em terapias de saúde, como também as contribuições da Psicologia como agente facilitador no processo de entendimento de terapias que viabilizem melhores condições de promoção da saúde e do bem estar. Nessa conjuntura, considera-se a necessidade de uma visão holística que contemple a pessoa humana, de forma integral. Tal perspectiva ressalta a importância do riso para a promoção e preservação da saúde. Palavras-chave: Humor . Riso. Saúde. Psicologia. INTRODUÇÃO Nossa existência está condicionada a diversos fatores de ordem interna e externa, uma vez que vivemos cercados de objetos, situações e de outras pessoas com quem interagimos. Tudo o que nos cerca provoca um desejo de afastamento ou de aproximação e esses desejos, mesmo que não sejam realizados, constituem a 1 Graduando do Curso de Psicologia da Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: lucio- [email protected] 2 Mestre em Psicologia. Professora do Curso de Psicologia da Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: [email protected]

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ENTRE A DOR E A SAÚDE, O RISO: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA

Lúcio de Souza Andrade1

Kely Silva Prata2

RESUMO

Os estados de ânimo, as emoções e os afetos, paulatinamente tornaram-se alvo de pesquisas científicas cuja premissa é entender a influência do humor e da afetividade no comportamento e nas condições de saúde das pessoas. Na Psicologia, o “bom humor” e a expressão da afetividade começam a ser utilizados como recursos terapêuticos, principalmente no contexto hospitalar. Este trabalho tem como objetivo compreender de que forma o “bom humor” exerce influência na saúde das pessoas e de que modo pode ser utilizado como recurso terapêutico. Como diretrizes, buscou-se fazer um apanhado histórico a respeito das concepções acerca do humor; descrever as possíveis articulações entre “bom humor” e promoção de saúde e também identificar experiências terapêuticas que tenham o “bom humor” como recurso terapêutico. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, cujas reflexões permitem novas concepções a respeito das práticas utilizadas no cuidado e manejo em terapias de saúde, como também as contribuições da Psicologia como agente facilitador no processo de entendimento de terapias que viabilizem melhores condições de promoção da saúde e do bem estar. Nessa conjuntura, considera-se a necessidade de uma visão holística que contemple a pessoa humana, de forma integral. Tal perspectiva ressalta a importância do riso para a promoção e preservação da saúde.

Palavras-chave: Humor . Riso. Saúde. Psicologia.

INTRODUÇÃO

Nossa existência está condicionada a diversos fatores de ordem interna e externa,

uma vez que vivemos cercados de objetos, situações e de outras pessoas com

quem interagimos. Tudo o que nos cerca provoca um desejo de afastamento ou de

aproximação e esses desejos, mesmo que não sejam realizados, constituem a

1 Graduando do Curso de Psicologia da Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: lucio-

[email protected] 2 Mestre em Psicologia. Professora do Curso de Psicologia da Universidade Vale do Rio Doce.

E-mail: [email protected]

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experiência afetiva de cada um que interfere na forma como cada indivíduo lida com

a realidade. Romero (2002) apresenta a afetividade a partir de dois aspectos:

Primeiro de modo formal e abstrato: a afetividade é uma dimensão da existência que abrange todas as formas que possam afetar subjetivamente o ser humano em sua relação com o mundo. A afetividade é entendida simplesmente como um conjunto de todos os afetos, negativos ou positivos, quaisquer que seja sua modalidade. Segundo, de um modo fenomenológico-existencial: o homem está em permanente interação com seu ambiente; nesta interação homem-mundo, os eventos, os objetos e pessoas que configuram este relacionamento têm certo grau de ressonância na existência do sujeito, ressonância que estrutura sua subjetividade de maneira que afeta todo o seu ser, em algum grau (ROMERO, 2002, p. 17).

E, desse modo, percebe-se que através da afetividade, as relações com os objetos,

com as pessoas e com o mundo são estabelecidas e mantidas, e que esta

habilidade torna o indivíduo susceptível aos acontecimentos ao seu redor e consigo

mesmo.

Romero (2002) menciona também que a afetividade se manifesta em dois planos:

orgânico/corporal e cognitivo. No plano orgânico/corporal, as informações são

obtidas através da senso-percepção, ou seja, os sete sentidos (olfato, paladar, tato,

visão, audição, cinestésico e vestibular) fornecem dados do mundo externo e interno

que provocam sensações e reações corporais: sensação de frio e calor, sensação

de dor, senso de equilíbrio e movimento, sensações de fome, sede, fadiga e

excitação sexual, por exemplo. Já no plano cognitivo, o que se observa é que as

sensações, conforme sua duração, forma e intensidade, são significadas pelo

indivíduo e traduzidas em experiências de prazer e desprazer, aproximação e

afastamento que indicam como o indivíduo é afetado e reage a tais eventos; a este

fato denomina-se subjetividade. Cabe observar, entretanto, que os modos de

significar e traduzir em ações as sensações e as emoções sofrem, influências sócio-

culturais.

Assim, pode-se dizer que biologicamente, as emoções são disposições corporais

que determinam ou especificam domínios de ações possíveis, e são essas

disposições e domínios que constituem e caracterizam as pessoas e suas

realizações. Não há ação humana sem uma emoção que a estabeleça como tal e a

torne possível como ato - a duração, a intensidade e as formas expressivas variam

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de pessoa para pessoa, estão associadas à personalidade e ao comportamento do

indivíduo e são marcadas pela historicidade e pelas convenções sócio-culturais.

Neste contexto as emoções são, ao mesmo tempo, experiências psíquicas e

somáticas, e revelam sempre a unidade psicossomática básica do ser humano.

Goleman (1995) diz que essa capacidade de sentir, entender e aplicar eficazmente o

poder e a perspicácia das emoções e dos afetos como uma fonte de energia,

informação, conexão e influências humanas, motiva as pessoas a buscarem

propósitos e potenciais, ativando suas aspirações e valores mais profundos,

marcando sua forma de pensar e viver. O autor denomina essa capacidade de

inteligência emocional e aponta o quanto é importante para o indivíduo saber lidar

com seus sentimentos, pois quando a pessoa significa as emoções de modo

negativo, fomenta cobranças e julgamentos internos desvalorativos, tornando-se

susceptível a adoecimentos psíquicos, somáticos e psicossomáticos.

Dalgalarrondo (2008) também atenta para a importância da vida afetiva para o bem-

estar humano, afirmando que qualquer alteração do humor ou estado de ânimo, das

emoções e dos afetos – considerados modalidades da vida afetiva

interdependentes, certamente resultará na alteração da afetividade e

consequentemente no bem-estar do indivíduo.

A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. Sem afetividade a vida mental torna-se fazia, sem sabor. O termo afetividade é genérico, compreendendo várias modalidades de vivências afetivas como o humor, as emoções e os sentimentos (DALGALARRONDO, 2008, p. 155).

Considerando essa perspectiva, os estados de ânimo, as emoções e os afetos

paulatinamente tornaram-se alvo de pesquisas científicas cuja premissa maior é

entender a influência do humor e da afetividade no comportamento das pessoas. Na

Psicologia, o “bom humor” e a expressão da afetividade começam a ser utilizados

como recursos terapêuticos, principalmente no contexto hospitalar.

Este trabalho tem como objetivo compreender de que forma o esse “bom humor”

exerce influência na saúde das pessoas e quais são as possibilidades de utilizá-lo

como recurso terapêutico. Como diretrizes, buscou-se fazer apresentar a influência

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do “bom humor” sobre a fisiologia e sobre o psiquismo humano; descrever as

possíveis articulações entre “bom humor” e promoção de saúde; e identificar

experiências terapêuticas que tenham o “bom humor” como recurso terapêutico.

Desenvolveu-se este estudo através de pesquisa bibliográfica, tendo como fonte de

dados a literatura e a produção acadêmico-científica nacional indexada nas bases

de dados BVS e PEPsic a partir de 2005, e como descritores de busca, os termos:

afetividade, humor, inteligência emocional, saúde, terapia do riso.

1 “BOM HUMOR” E SAÚDE: a evolução histórica dessa interação

Segundo Rezende (2009), a palavra humor surgiu na medicina humoral dos antigos

Gregos. O termo humor (khymós, em grego) representava qualquer um dos quatro

fluidos corporais (ou humores): o sangue, a fleuma, a bile amarela e a bile negra –

substâncias existentes no organismo, necessárias à manutenção da vida e da

saúde, e considerados responsáveis por regular a saúde física e emocional humana.

Na doutrina dos quatro humores, o sangue é armazenado no fígado e levado ao

coração, onde se aquece, sendo considerado quente e úmido; a fleuma, que

compreende todas as secreções mucosas, provém do cérebro e é fria e úmida por

natureza; a bile amarela é secretada pelo fígado e é quente e seca, enquanto a bile

negra é produzida no baço e no estômago e é de natureza fria e seca. Desta forma,

o estado de saúde dependeria da exata proporção e da perfeita mistura dos quatro

humores, que poderiam alterar-se por ação de causas externas ou internas. O

excesso ou deficiência de qualquer dos humores, assim como o seu isolamento ou

miscigenação inadequada, causariam as doenças com o seu cortejo sintomático.

De acordo com Rezende (2009), na concepção hipocrática da patologia humoral,

quando uma pessoa se encontra enferma, há uma tendência natural para a cura; a

natureza encontra meios de corrigir a desarmonia dos humores (discrasia),

restaurando o estado anterior de harmonia (eucrasia). Assim, a recuperação do

enfermo se dá pela restauração do equilíbrio dos humores.

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Segundo este autor, Galeno, no século II d. C., ressaltou a manifestação de quatro

tipos de temperamentos conforme o predomínio de um dos quatro humores:

sangüíneo, fleumático, colérico (de cholé, bile), melancólico (de melános, negro +

cholé, bile). Transfere-se, desse modo, para o comportamento das pessoas, a noção

de equilíbrio e harmonia dos humores. As expressões “bom humor”, “mau humor”,

“bem humorado”, “mal humorado” são reminiscências dos conceitos de eucrasia e

discrasia.

A doutrina da patologia humoral guiou a prática médica por mais de 2.000 anos e só

começou a perder terreno com a descoberta da estrutura celular dos seres vivos

graças ao desenvolvimento da microscopia. Os órgãos e os tecidos deixaram de ser

considerados massas consistentes resultantes da solidificação dos humores e

passaram a ser vistos como aglomerados de células individuais, adaptadas à

natureza e função de cada órgão. Foi Rudolf Virchow (1821-1902) quem

estabeleceu as bases da nova patologia, fundamentada nas alterações celulares

causadas pelas doenças.

De acordo com Cardoso (1997), o cérebro é um órgão diferente dos demais tanto

por sua constituição química quanto pelo seu funcionamento. Suas células nervosas

(neurônios) comandam a motricidade, a sensibilidade e a consciência. A atividade

das células nervosas constroem um mundo interno que se molda à medida que

interage com o ambiente externo e determina a experiência, a sobrevivência e a

evolução humana para fins de adaptação. Esta foi uma descoberta significativa da

neurociência - a diversidade cultural do ambiente provoca mudanças no cérebro.

Novos ramos de células interconectados (conexões sinápticas) são adicionados e

ampliados em resposta à experiência e à aprendizagem, alcançando assim, regiões

mais amplas do cérebro. Essas células "experientes" remodelam também o

comportamento humano, seja em resposta de adaptação ao meio externo, seja para

a evolução dele.

Sendo assim, nossas sensações, sentimentos, pensamentos, respostas motoras e

emocionais, assim como a ação das drogas psicoativas, as causas das doenças

mentais, e qualquer outra função ou disfunção do cérebro humano não podem ser

compreendidas sem o conhecimento do processo de comunicação entre as células

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nervosas (neurônios). Os neurônios precisam continuamente coletar informações

sobre o estado interno do organismo e de seu ambiente externo, avaliar essas

informações e coordenar atividades apropriadas à situação e às necessidades atuais

da pessoa (CARDOSO, 2001). Eles processam as informações através de impulsos

nervosos de natureza elétrica e química – os neurotransmissores.

Segundo Kaplan (1997), com a teoria celular da doença, vários estudos comprovam

que há neurotransmissores responsáveis diretos pelo estado de humor – as aminas

biogênicas, em especial a noradrenalina e serotonina, embora a dopamina também

o influencie.

O humor é definido como tônus afetivo do individuo, o estado emocional basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento. É a disposição afetiva de fundo que penetra toda a experiência psíquica, que dá às vivencias do sujeito, a cada momento, uma cor particular, ampliando ou reduzindo o impacto das experiências reais e, muitas vezes, chegando mesmo a modificar a natureza e o sentido das experiências vivenciadas (DALGALARRONDO, 2008, p. 155).

Qualquer variação no humor afeta a saúde do individuo, isto quer dizer que a

qualidade de vida da pessoa está intimamente ligada ao seu humor ou ao estado de

ânimo. O estado de ânimo revela a maneira vivida e experimentada, o modo como

se encontra a pessoa como ser-no-mundo, transparece o grau de sintonia da

existência e do ser, sintonia esta que pode variar de intensidade, clareza e sentido e

que constitui o clima afetivo e impregna o campo vivencial do sujeito. Portanto, as

projeções, planos e esperanças fazem-se conforme o estado de ânimo, que

influencia diretamente em nosso bem-estar.

Damásio (1996) diz que há emoções primárias e emoções secundárias. As primárias

são inatas, como um “kit básico” de sobrevivência, e podem ser acionadas

diretamente no sistema límbico, especificamente através da amígdala e seus

núcleos neurais. Ela não descreve toda a gama dos comportamentos emocionais.

Certamente constituem, apenas, o processo básico. Acredita-se portanto, que em

termos do desenvolvimento de um indivíduo seguem-se mecanismos de emoções

secundárias que ocorrem desde que começamos a ter sentimentos e formam

ligações sistemáticas entre categorias de objetos e situações, Entende-se por

conseguinte, que as estruturas no sistema límbico não são suficientes para sustentar

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o processo das emoções secundárias. A rede tem de ser ampliada e isso requer a

intervenção dos córtices pré-frontal e somatos. A emoção secundária se dá através

do processo de imaginação ou pensamento que aciona a rede neural das emoções

primárias. Assim os sintomas aparecem no organismo como se o acontecimento

fosse real.

Depois da formação de imagens mentais sobre os aspectos principais dessas cenas (o encontro com o amigo há muito ausente; a morte de um colega), verifica-se uma mudança no estado de seu corpo definida por várias modificações em diferentes regiões. [...] Em qualquer dos casos, registram-se mudanças numa série de parâmetros relativos ao funcionamento das vísceras (coração, pulmões, intestinos, pele), musculatura esquelética (a que está ligada aos ossos) e glândulas endócrinas (como a pituitária e as supra-renais). [...] De um modo geral, o conjunto de alterações estabelece um perfil de desvios relativamente a uma gama de estados médios que correspondem ao equilíbrio funcional, ou homeostase, de acordo com o qual a economia do organismo funciona provavelmente no seu nível ótimo, despendendo menos energia e procedendo a ajustamentos mais simples e rápidos (DAMÁSIO, 1996, p. 164).

O autor argumenta que tais experiências ficam registradas em nossa memória e são

caracterizadas para facilitar decisões futuras. Este processo é denominado

“Marcador somático”, isto é, marca uma imagem que produz determinadas

sensações no corpo. Tais marcadores atuam como um alarme automático que faz

convergir a atenção para o resultado negativo que a ação pode conduzir, isto pode

levar o organismo a escolher entre as alternativas. Os marcadores são adquiridos

por meio da experiência, sob o controle de um sistema interno de preferências e

debaixo da influência de um conjunto externo de circunstâncias, tais como

convenções sociais, regras éticas etc. A prioridade do organismo é a sobrevivência e

paralelamente a isto o sistema interno de preferências encontra-se pré disposto a

evitar a dor e procurar prazer.

A base neural para o sistema interno de preferências consiste, sobretudo, em disposições reguladoras inatas com o fim de garantir a sobrevivência do organismo. Conseguir sobreviver coincide com conseguir reduzir os estados desagradáveis do corpo e atingir estados homeostáticos, isto é, estados biológicos funcionalmente equilibrados. O sistema interno de preferências encontra-se inerentemente predisposto a evitar a dor e procurar o prazer, e é provável que esteja pré-sintonizado para alcançar esses objetivos em situações sociais. [...] A interação entre um sistema interno de preferências e conjuntos de circunstâncias externas aumenta o repertório de estímulos que serão marcados automaticamente (DAMÁSIO, 1996, p. 164).

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De acordo com Damásio (1996), o sistema neural crítico para a aquisição da

sinalização pelos marcadores somáticos situa-se nos córtices pré-frontais onde são

co-extensivos com o sistema de emoções secundárias. Há alguns motivos que

fazem dos córtices pré-frontais o local ideal para esta finalidade: recebem sinais de

todas regiões sensoriais responsáveis pelas imagens que formam nossos

pensamentos, inclusive dos córtices somatossensoriais, em que estados do corpo

passado e presente são constantemente representados; recebem também sinais de

vários setores bioreguladores do cérebro humano, incluindo os núcleos

neurotransmissores, situados no tronco cerebral (aqueles responsáveis pela

distribuição de dopamina, norepinefrina e serotonina) e prosencéfalo basal (aqueles

que distribuem acetilcolina), assim como amígdala, o cíngulo anterior e hipotálamo.

Os próprios córtices pré-frontais representam a categorização e classificação das

contingências da nossa experiência da vida real.

Este autor afirma ainda, que são os córtices pré-frontais os responsáveis em receber

as mensagens de todo o pessoal do serviço de padrão e medidas. As preferências

inatas do organismo relacionadas com a sua sobrevivência, o sistema de valores

biológicos, são transmitidas aos córtices pré-frontais, fazendo desse modo parte

integrante do mecanismo de raciocínio e tomada de decisões. Pode-se dizer que os

setores pré-frontais ocupam uma posição privilegiada, relativamente a outros

sistemas do cérebro, pois são seus córtices que recebem os sinais sobre o

conhecimento factual, já existente ou sendo adquirido, relacionado com o mundo

exterior; sobre as preferências biológicas reguladoras inatas, e sobre o estado do

corpo, anterior e atual, à medida que é constantemente alterado por esse

conhecimento e por essas preferências.

Numa outra perspectiva, Teixeira (2009) descreve evidências de que a falta de

senso de humor ou uma vida acompanhada de impaciência, raiva e atitudes hostis

está associada ao maior risco de desenvolver pressão alta, piora do controle dos

níveis de glicose, aumento do risco de doença isquêmica do coração e de morte.

Este autor refere-se ao humor como uma capacidade para perceber e/ou expressar

o que cômico, divertido, buscando a melhor perspectiva diante das piores situações.

Neste sentido, o bom humor é um bom remédio contra a ansiedade e um facilitador

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das relações sociais, por provocar empatia e melhorar a capacidade de relacionar

com intimidade e confiança.

Este autor ressalta ainda que dentre as manifestações do “bom humor” está o riso. A

risada faz aumentar a secreção de endorfina que relaxa as artérias, melhora a

circulação e beneficia a reação imunológica. Além disso, estimula a produção de

adrenalina o que ocasiona mais irrigação nos tecidos que recebem mais oxigênio. O

“bom humor” aumenta a capacidade de resistir à dor.

Rir é a forma mais simples para resgatar o ânimo, a energia pessoal e de nos fazer enxergar o lado positivo, muitas vezes cômico, divertido, hilário, patético, de todas as brigas que temos conosco e com o mundo. o riso e o gargalhar constituem um excelente presente da natureza, que na sua prática, desencadeia a produção de substâncias que tanto beneficiam a saúde do corpo físico quanto a alma e o espírito. Do ponto de vista psicológico, podemos dizer com Gérard Jugnot que o riso é como um limpador de pára-brisa; ele nos permite rodar em frente, chegar em nosso destino, mesmo diante da chuva ou temporal. Não há nada melhor que um filme ou espetáculo humorístico, uma seção de piadas e gargalhadas para retomarmos o fôlego quando a tristeza ou o mau humor nos ataca. Não se trata de negar as feridas da vida, mas de sobreviver a elas (TRUCON, 2010).

Riso e “bom humor” diminuem estresse e ansiedade, reforçam a imunidade, relaxam

a tensão muscular e diminuem a dor. O riso inicia uma cadeia de reações

fisiológicas: primeiro, ele ativa o sistema cardiovascular, aumentando a frequência

cardíaca e a pressão arterial; as artérias se dilatam, levando a uma queda da

pressão; contrações fortes e repetidas dos músculos da parede torácica, abdômen e

diafragma aumentam o fluxo sanguíneo nos órgãos; a respiração forçada (o ha! ha!

ha! do riso) eleva o fluxo de oxigênio no sangue; a tensão muscular diminui e podem

temporariamente perder controle de sua musculatura, como na expressão "ficar

fraco de tanto rir". O riso ajuda os sistemas fisiológicos, principalmente o sistema

imunológico, a aumentarem o número de células que auxiliam no combate às

infecções. O riso também pode promover mudanças hormonais benéficas. De

acordo com pesquisas científicas recentes o riso libera transmissores neuroquímicos

chamados endorfinas que reduzem a sensibilidade à dor e promovem sensações

prazerosas e de bem-estar (TRUCON, 2010).

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2 - O “BOM HUMOR” COMO RECURSO TERAPÊUTICO

A saúde é um indicador de que a sobrevivência não está sendo ameaçada, Rey

(1999) define saúde como

[...] uma condição em que um indivíduo ou grupo de indivíduos é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um conceito positivo, enfatizando recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aptidões físicas. É um estado caracterizado pela integridade anatômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares, profissionais e sociais; pela habilidade para tratar com tensões físicas, biológicas, psicológicas ou sociais com um sentimento de bem-estar e livre do risco de doença ou morte extemporânea. É um estado de equilíbrio entre os seres humanos e o meio físico, biológico e social, compatível com plena atividade funcional (REY, 1999, P.632).

O que se observa é que ter saúde integral vem da conservação de hábitos

emocionalmente saudáveis. Nestes termos, quanto mais construímos hábitos

emocionais saudáveis, mais nossa saúde se fortalece. Há uma interrelação entre

nosso cérebro e nosso sistema imunológico. O cérebro e o sistema imune enviam

sinais um ao outro continuamente, em geral, pelos mesmos caminhos, o que pode

explicar como o estado mental influencia a saúde (MONTEVERDE, 2007).

Partindo do principio de que a saúde é sinônimo de vida e a morte a extirpação da

sobrevivência, o adoecimento é o processo entre a vida e a morte. O processo de

adoecimento possui um dispositivo de alerta que informa o organismo de que algo

não vai bem, ou seja, a sobrevivência está sendo ameaçada. Esse dispositivo de

alerta é denominado “Dor”, Bartilotti (2006) define dor como:

A raiz da palavra dor é dolor, que significa sofrimento; entendido como um estado grave de angústia associada a eventos que ameaçam a intatilidade da pessoa [...]. No nosso dia a dia a dor está vinculada ao sofrimento físico e/ou mental, e algumas definições referem-se à dor como um sofrimento moral, desconforto, mágoa ou uma sensação desagradável. A função inicial da dor é informar sobre um perigo, seja potencial ou real, bem como a quebra da estabilidade orgânica e/ou estado saudável de um organismo (BARTILOTTI, 2006).

Neste contexto, a dor é entendida como estágio que antecede a extirpação da

sobrevivência, portanto é considerada também como uma ameaça; por isso o

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sistema interno de preferência, encontra-se predisposto a evitar a dor ou obter

prazer.

Devido ao fato de nossa existência estar contextualizada pela interação com objetos,

situações e outras pessoas, tais interações por vezes geram adversidades as quais

podem nos causar dor, ameaça ao bem estar ou a sobrevivência. Estas são

percebidas como elementos estressores ou risco eminente, conforme relata

Penteado (2009):

O organismo submetido constantemente ao estresse sofrerá mudanças patológicas,

ou seja, entrará no processo de adoecimento. Uma das mudanças é a distimia, ou

seja, a alteração básica do humor tanto, no sentido de inibição (Hipotimia) como no

sentido de exaltação (hipertimia). Sadock (2007) diz que:

Dentre os procedimentos de anamnese, há uma antiga e duradoura observação clínica de que acontecimentos estressantes da vida, mais frequente, precedem o primeiro episódio de transtornos do humor, em vês dos subsequentes. Tal associação tem sido relatada tanto em pacientes com transtorno depressivo maior como naqueles com transtorno bipolar I. Uma teoria para explicar tal observação é que o estresse acompanhando o primeiro episódio leva a modificações duradouras na biologia do cérebro. Essas alterações podem modificar os estados funcionais de vários neurotransmissores e os sistemas intraneurais de sinalização, modificações que podem até incluir a perda de neurônios e a redução excessiva de contatos sinápticos. Como resultado, o indivíduo fica com um alto risco de desenvolver episódios de um transtorno de humor mesmo sem um estressor externo. (SADOCK, 2007).

Cada pessoa tem a capacidade própria para enfrentar tais situações. Isto é,

resiliência, cujo papel é desenvolver a habilidade humana de enfrentar, vencer e sair

de situações adversas, fortalecido e transformado. Segundo Melillo (2005),

De uma perspectiva psicológica, destaquei, em um trabalho anterior, o valor do humor como poderoso recurso simbólico, mantenedor do laço social e das identificações coletivas, o que dá a ele um lugar merecido como elemento de resistência subjetiva à adversidade. Mas a resiliencia não é apenas resistência, e nesse sentido a origem metalúrgica do termo, que alude à capacidade de um corpo voltar à sua posição de origem, depois de sofrer uma deformação, não inclui a acepção que o conceito tomou, porque o processo não consiste simplesmente no fato de voltar ao ponto de partida. A resiliência é mais do que um modo de dar uma cara boa ao mau tempo, é também um recurso criativo que permite encontrar respostas novas para situações que parecem não ter saída, e este elemento de novidade mostra a ligação entre resiliencia e o senso de humor, permitindo traçar paralelos interessantes que revelam as razões desse vinculo (MELILLO, 2005, p 134).

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Este autor comenta que na própria definição de resiliência há um lugar reservado

para a criatividade e a surpresa, por isso encontra-se, habitualmente em trabalhos

sobre resiliência, o humor como um dos fatores promotores de saúde.

De acordo com Cymrot (2003), quando experimentamos forte tristeza podem ocorrer

estados de desânimo, abatimento, depressão, acompanhados de dor e de agonia.

Se achamos que vamos sofrer, ficamos ansiosos, atemorizados; se não temos

esperança de alívio, ficamos desesperados. Neste caso o riso pode surgir como

alivio da pressão e proporcionador da resiliência.

Melillo (2005) afirma que o senso de humor ou “bom humor” é necessário para que o

balanço narcisista não adquira sempre um caráter dramático ou apocalíptico. O

senso de humor não oferece um quadro de grandiosidade e euforia, mas de um

sereno triunfo interior, com certo matiz de melancolia. Acrescenta a aceitação da

finitude da existência e a sabedoria como a capacidade do ser humano de aceitar as

limitações de sua capacidade física, intelectual e emocional, o que lhe permite

manter uma atitude estável diante da vida e de seus semelhantes, integrando

conhecimentos, mas admitindo seus limites e recorrendo ao senso de humor e a um

sistema de valores marcado pela experiência vivida dos desejos.

O “bom humor”, segundo Melillo (2005), é um traço que constitui um comportamento

muito significativo da mente humana. A natureza do sistema de informação que da

origem às pautas que a especificam. O “bom humor” mostra como a percepção de

uma situação pode mudar subitamente e produzir uma mudança no comportamento

do sujeito. Constitui também a essência da criatividade. Há um salto por um

“caminho” lateral que abandona a sequência lógica do pensamento em curso, como

um efeito liberador, cômico ou criativo, cuja lógica aparecerá num momento

posterior: as razoes verdadeiras do salto são, num primeiro momento, inconscientes.

Melillo (2005) comenta ainda, que pelo humor, o sujeito se recusa a sentir a dolorosa

realidade, mesmo sem desconhecê-la, nem desmenti-la ou ser constrangido pelo

sofrimento. O humor é opositor e significa um triunfo do eu, apesar das reais

circunstancias desfavoráveis; é a melhor defesa possível contra o sofrimento, que

não leva a alma a se resignar, mas contribui para a sua saúde. É uma operação

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intelectual e uma atitude diante da realidade penosa. Algo doloroso tem a

possibilidade de se converter naquilo que dê prazer.

Como estratégia terapêutica, Romero (2007) informa que o procedimento

cognitivista de questionar as crenças associadas ao estado de “bom humor” e

sentimentos ruins é uma boa maneira de levar à descentralização do sujeito,

levando-o a considerar novas perspectivas. Se existe uma primazia do sujeito na

avaliação de sua realidade, então a pessoa pode treinar seu olhar, considerar os

mais diversos pontos de vista sobre o mundo e sobre si, sem ficar preso ao padrão

já constituído, levando sempre em consideração que questionar crenças não é

meramente mexer com idéias, mas com os sentimentos que sustentam as crenças.

Para Romero (2007), outra forma de melhorar o estado de ânimo é a terapia dos

afetos, que tem como objetivos básicos, facilitar e estimular à expressão afetiva

genuína, o reconhecimento dos sentimentos positivos e negativos, a superação dos

sentimentos negativos e ambivalentes, o cultivo de sentimentos positivos referidos a

si mesmo e ao próximo e a superação de padrões afetivo-emocionais perturbadores.

Ele cita ainda, pelo menos quatro estratégias para regular os estados de humor

negativo, como a estratégia de administração ativa do estado de humor, a qual inclui

uma combinação de técnicas de relaxamento; controle de atividades estressantes;

controle dos pensamentos negativos; procura de atividades prazerosas e distração;

controle passivo do humor e apoio social.

Este autor cita algumas técnicas3 para melhorar o estado de ânimo que julga efetiva,

tais como:

a) Reeducação do uso da linguagem e da cinética corporal;

b) A focalização do emocional de Gendlin e sua variante proposta por Mahrer;

c) A exploração ativa do campo imaginário proposta por Romero;

d) A espiral da vida, sugerida por Romero;

e) Personagens em busca de um autor;

f) O TAT como técnica para estimular a criatividade e o espaça imaginário;

g) O sociodrama de Moreno e as técnicas gestálicas;

3 ROMERO, E. A compreensão de si e do mundo – métodos e técnicas de pesquisa e desenvolvimento pessoal

em terapia. Della Bídia, 2010. Neste livro o autor descreve cada uma dessas técnicas e seus procedimentos.

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h) A música;

i) O teatro, a dança;

j) A meditação.

Segundo José (2006), humor terapêutico é definido como sendo “qualquer

intervenção que promova saúde e o bem estar por estimular uma descoberta

divertida, uma expressão ou apreciação do absurdo e das incongruências da vida”.

Tais técnicas baseiam-se nas propriedades do riso para melhorar pessoas

imunodeprimidas, tratando assim as emoções negativas, para esquecer a dor ou o

medo que caracterizam alguns pacientes.

Concomitante aos diversos tipos de tratamento, atualmente encontramos vários

recursos que são utilizados como ferramentas muito importantes, no auxílio da cura

de uma doença e até mesmo para a promoção e prevenção da saúde. Dentre esses

recursos encontramos na arte, o uso do humor como recurso terapêutico.

Instituições de saúde por todo o mundo já reconhecem o valor social e terapêutico

da arte aplicada à medicina, e a tendência de incluí-la entre as atividades

hospitalares. A Arte terapia, Terapia do Riso, Doutores da Alegria, o Clown entre

outros, são exemplos da inserção da arte em benefício à saúde.

2.1 - Clown

Instituições de saúde por todo o mundo já reconhecem o valor social e terapêutico

da arte aplicada à medicina, e a tendência de incluí-la entre as atividades

hospitalares é crescente.

O clown4, por exemplo, é elemento humanizante das relações e tem suas origens

fincadas na ingenuidade e pureza. Ele coloca à disposição do paciente o prazer de

rir, amplia sua perspectiva de vida e lhe mostra outras possibilidades no processo da

4 A técnica de clown, ou palhaço, trabalha intimamente com as emoções do indivíduo, recorrendo ao

físico e descobrindo o humor que existe em cada um e o riso enquanto arma em prol da saúde, como outras técnicas que se utilizam de expressões artísticas para promover a saúde, dentre elas a Arteterapia; Musicoterapia; Ramain Thiers e a Terapia do Riso.

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cura. No momento em que ri, a criança e o adolescente demonstram que a sua

posição de paciente se transfere para a de agente de sua própria alegria, podendo

seu corpo de dor ser transformado num corpo de riso.

Em 1986, Michael Christensen, diretor do Big Apple Circus, de Nova Iorque, foi

convidado a participar das comemorações do Dia do Coração no Columbia

Presbyterian Babies Hospital, quando optou por fazer uma satirização às rotinas

médicas e hospitalares, utilizando o teatro Clown. O resultado surpreendeu a todos,

pois as crianças que se encontravam deprimidas e apáticas participaram ativamente

das atividades propostas. Após outras visitas, o hospital decidiu investir na

continuidade do trabalho, nascendo então a Clown Care Unit.

Em 1988, Wellington Nogueira, ator brasileiro, que na ocasião morava em Nova

Iorque, passou a integrar a troupe do Clown Care Unit, e ao retornar ao Brasil, em

1991, criou um programa-irmão do Clown Care Unit do Big Apple Circus, iniciando

as atividades no Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo.

O projeto brasileiro, batizado com o nome de Doutores da Alegria, tinha como

objetivo utilizar a arte do teatro clown para avaliar a necessidade das crianças

hospitalizadas e colocar ao seu dispor truques, magia e malabarismo. Com isso,

devolveria à criança um pouco do controle, sobre o corpo e sobre sua vida, que lhe é

totalmente tirado quando se encontra enferma e hospitalizada e ainda favoreceria

uma atitude mais positiva e ativa em relação à enfermidade e sua recuperação. O

humor é um recurso essencial para auxiliar na superação dos traumas inerentes aos

processos de enfermidade e internação, e também na restituição da alegria, parte

integrante da vida do paciente.

Os resultados do projeto Doutores da Alegria foram analisados em dissertação de mestrado e a visível mudança de comportamento das crianças foi apontada como o resultado mais marcante: crianças que antes estavam prostradas, mostraram-se mais ativas; as quietas passaram a se comunicar melhor e a se queixar menos de dores e ainda passaram a se alimentar e aceitar melhor a medicação, os exames e a própria internação. No geral, a imagem da hospitalização tornou-se menos hostil, com reflexos diretos na aceleração da recuperação e da cura. Para a equipe, o estresse da rotina diminuiu, e isso facilitou o trabalho e melhorou a integração entre os profissionais (LIMA et al, 2009, p. 5).

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Em 1995, um grupo de alunos da disciplina Enfermagem Pediátrica ministrada no 7º

período do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem de

Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, manifestou interesse em desenvolver

um trabalho com crianças e adolescentes hospitalizados, com base na proposta dos

Doutores da Alegria.

Inicialmente, desenvolveu-se uma oficina de trabalho intitulada Assistência à

criança: humanização hospitalar através da arte, com o objetivo de permitir que os

participantes (alunos de graduação e pós-graduação, enfermeiras pediátricas e

docentes da disciplina Enfermagem Pediátrica e Neonatal) vivenciassem a

experiência da humanização hospitalar a partir de relatos de experiências

complementados por dinâmicas com exercícios de sensibilização. Esta oficina foi

ministrada pelo próprio coordenador do grupo Doutores da Alegria, juntamente com

outros atores integrantes da trupe.

Somando a essa experiência os conhecimentos das disciplinas Psicologia e

Enfermagem Pediátrica, criou-se a Companhia do Riso - Cia do Riso, com o objetivo

de resgatar o riso da criança e do adolescente hospitalizados, dos seus familiares e

da equipe de saúde, mediante atividades, como: cantigas de roda, mágicas,

improvisações, danças, dramatizações, jogos infantis e músicas, apoiados em

técnicas do teatro clown. Cada clown tem sua própria identidade e estilo, ou seja,

carrega suas marcas registradas: nariz vermelho, instrumental característico do

ambiente hospitalar (estetoscópios coloridos, maletas espalhafatosas), violões,

pandeiros e assobios. Assim, duas vezes por semana, a Cia do Riso, com seus

personagens clowns, passou a habitar as enfermarias infanto-juvenis de um

hospital-escola do interior do Estado de São Paulo.

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2.2 - Terapia do riso

Segundo Trucon (2010), o bom humor, na verdade, diz respeito a rir-se das coisas

do cotidiano. Das incongruências do dia a dia, da comédia da vida diária, das brigas,

dos pequenos problemas da rotina diária e, até mesmo, dos tempos difíceis que

passamos. Fazer piada de tudo, sempre observando o bom senso, é mais eficiente

que assistir a um show de humorismo sofisticado, onde disputamos uma vaga aos

berros para estacionar. Trata-se de levar uma vida de forma mais leve, sem grandes

apegos ou valores desmedidos. Mesmo diante de um trabalho mais sério, criar

sempre situações e soluções que contenham com frequência um prisma de alegria,

um desfrutar em tudo o que fazemos. Além das técnicas já citadas, que trabalham o

humor como agente co-terapeuta, surgiram outras tais como a “terapia do riso”. Tal

técnica possibilita o resgate do nosso otimismo, do bom astral, do bom-humor,

enfim, do estar de bem com a vida; um estado natural da nossa criança interna, um

ser absolutamente espontâneo e sutil. Assim, a Terapia do Riso tem como propósito

essencial facilitar o Resgate da Alma, uma parte absolutamente sutil de nosso Ser.

Esta autora comenta que cada vez mais a Terapia do Riso tem sido objeto de

estudos, por se tratar da expressão mais explícita do bom humor e do positivismo.

As pessoas que sabem se divertir e rir são geralmente mais saudáveis e mais

capazes de sair de situações de estresse com mais facilidade. A redução da

liberação dos cortisóis e da adrenalina (hormônios do estresse e do envelhecimento

precoce) é totalmente desejável, já que como se sabe, seu excesso desencadeia o

desenvolvimento de infecções e doenças.

Segundo Lima (2009), no caso de crianças, o brinquedo é um aliado para melhorar o

humor, por isto lhe é atribuído grande valor.

O valor terapêutico do brinquedo fica evidente porque auxilia a criança no processo de adaptação à hospitalização, uma vez que possibilita liberar temores, raivas, frustrações e ansiedade; facilita a comunicação entre ela e a equipe cuidadora; estimula seu desenvolvimento físico, psicológico, social e moral; aperfeiçoa as habilidades psicomotoras, e ainda favorece seu

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equilíbrio físico com a finalidade de preservar e restaurar sua integridade orgânica (LIMA, 2009, p 3).

No hospital, brincar torna o ambiente menos traumatizante e mais alegre, o que

contribui para a recuperação da criança, proporcionando-lhe momentos de higiene

mental, espaço para expressão de sentimentos oriundos da doença e da internação

e a manutenção de uma relação estável entre a criança, sua família e a equipe de

saúde.

O trabalho do psicólogo é ajudar a pessoa a desenvolver a capacidade de lidar com

as emoções, a tal capacidade chamamos inteligência emocional. A inteligência

emocional é um tipo de inteligência que envolve as emoções voltadas em prol de si

mesmo. Para que um indivíduo se desempenhe bem, necessita de inteligência

intelectual, flexibilidade mental, objetivos traçados, equilíbrio emocional e

determinação. Adquirindo a capacidade de auto-conhecimento, passa a lidar com os

sentimentos, controlando-os, administrando as emoções, afim de relacionar-se e

observar o emocional de outras pessoas.

As emoções, muitas vezes influenciam as pessoas em suas decisões e isso significa

que esta se mantém positivamente ativa já que colabora com o amplo e global

crescimento do indivíduo. Pode ser desenvolvida positivamente já que possui tanta

influência sobre as pessoas, através das observações e avaliações do próprio

comportamento e sentimento, ocultando sentimentos como raiva, desânimo,

frustração e substituindo-os por bom humor. Desta forma, é possível entender que

ser bem humorado significa perceber que a maior parte das situações que vivemos

não é nem muito importante, nem muito séria e nem muito grave. As maiorias das

situações estressantes após algumas semanas de acontecidas se tornam

engraçadas. Logo, ser bem humorado é perceber a graça nessas situações no

momento em que estão ocorrendo.

Portanto, se o que sentimos e as nossas reações estão intimamente ligadas a nossa

percepção da relação homem-mundo e da nossa resiliência diante das situações

percebidas, tudo isto depende dos repertórios, marcadores somáticos e das opções.

Cabe ao psicólogo ajudar a pessoa a ampliar seu repertório, seu campo de

possibilidades. Como exemplo: Há algum tempo atrás um diagnóstico de câncer era

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sentença de morte. Hoje, porém, com o avanço da ciência, isso não é mais assim.

Mas para muitos, em seu repertório, só tem a visão de antigamente. Uma boa forma

de ajudar na ampliação do campo de possibilidades é mostrar que depende do grau

e local onde o câncer foi diagnosticado e os recursos existentes hoje para

tratamento, pesquisas sobre pessoas que foram curadas.

Desta forma então, repertório da pessoa é ampliado, pois, o diagnostico de câncer

deixar ser exclusivamente sentença de morte e passa a ter outros desfeches, novas

alternativas, entre elas, a cura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, a palavra humor é mais usada para designar a disposição, ânimo alegre

e descontração. Bom humor é sinônimo de humor equilibrado. Dentre as alterações

fisiológicas e emocionais que o humor origina, percebe-se que a resposta cognitiva,

afetiva ou comportamental não depende apenas do que o indivíduo percebe, mas

também de como avalia e lida com a situação percebida.

Neste contexto, a Psicologia, enquanto ciência, torna-se instrumento de

compreensão e intervenção no ato do cuidado psíquico e emocional, viabilizando e

promovendo saúde e bem estar. A ampliação do conhecimento sobre a importância

do bom humor na constituição dos vínculos sociais, na representação dos aspectos

culturais e na expressão da emotividade humana, bem como compreender as

etapas no processo de desenvolvimento da personalidade e suas vivencias

especificas é uma das alternativas para se intervir, favorecendo a qualidade de vida

e a expressão do humor como fator resiliente.

Portanto, quando se fala em intervenções terapêuticas, a Psicologia torna-se aliada

por preconizar a promoção de bem-estar e comportamentos apropriados aos

diversos e progressivos modos de subjetividade e sua adaptação ao meio em que se

vive. Ainda são esparsas as iniciativas da Psicologia para contemplar o modelo de

terapias e tratamentos que abarquem o humor como mecanismo de intervenção e

cuidado. Cursos de formação e especialização são necessários, assim como

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pesquisas sobre as iniciativas existentes que podem reiterar o humor como recurso

terapêutico.

**RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

Between pain and health, the laugh: Contributions of psychology Abstract Moods, emotions and affections gradually became the focus of scientific research whose premise is to understand the influence of humor and affection in behavior and health conditions of people. In psychology, the "good mood" and the expression of affection begin to be used as therapeutic resources, especially in hospital settings. This work aims to understand how the "good mood" influence people's health and how they can be used as a therapeutic resource. As guidelines, we tried to do a historical overview about the conceptions of humor, to describe possible connections between "good mood" and health promotion and to identify therapeutic experiences that have the "good mood" as a therapeutic resource. It is a literature, whose reflections provide new ideas about the practices used in the care and management in health therapies, as well as the contributions of psychology as a facilitator in the process of understanding of therapies that enable better health promotion and well-being. At this juncture, it is the need for a holistic approach that considers the human person, in full. This perspective underscores the importance of laughter for the promotion and preservation of health.

Keywords: Humor. Laugh. Health. Psychology.

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