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ENTRE A DOR E A SAÚDE, O RISO: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA
Lúcio de Souza Andrade1
Kely Silva Prata2
RESUMO
Os estados de ânimo, as emoções e os afetos, paulatinamente tornaram-se alvo de pesquisas científicas cuja premissa é entender a influência do humor e da afetividade no comportamento e nas condições de saúde das pessoas. Na Psicologia, o “bom humor” e a expressão da afetividade começam a ser utilizados como recursos terapêuticos, principalmente no contexto hospitalar. Este trabalho tem como objetivo compreender de que forma o “bom humor” exerce influência na saúde das pessoas e de que modo pode ser utilizado como recurso terapêutico. Como diretrizes, buscou-se fazer um apanhado histórico a respeito das concepções acerca do humor; descrever as possíveis articulações entre “bom humor” e promoção de saúde e também identificar experiências terapêuticas que tenham o “bom humor” como recurso terapêutico. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, cujas reflexões permitem novas concepções a respeito das práticas utilizadas no cuidado e manejo em terapias de saúde, como também as contribuições da Psicologia como agente facilitador no processo de entendimento de terapias que viabilizem melhores condições de promoção da saúde e do bem estar. Nessa conjuntura, considera-se a necessidade de uma visão holística que contemple a pessoa humana, de forma integral. Tal perspectiva ressalta a importância do riso para a promoção e preservação da saúde.
Palavras-chave: Humor . Riso. Saúde. Psicologia.
INTRODUÇÃO
Nossa existência está condicionada a diversos fatores de ordem interna e externa,
uma vez que vivemos cercados de objetos, situações e de outras pessoas com
quem interagimos. Tudo o que nos cerca provoca um desejo de afastamento ou de
aproximação e esses desejos, mesmo que não sejam realizados, constituem a
1 Graduando do Curso de Psicologia da Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: lucio-
[email protected] 2 Mestre em Psicologia. Professora do Curso de Psicologia da Universidade Vale do Rio Doce.
E-mail: [email protected]
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experiência afetiva de cada um que interfere na forma como cada indivíduo lida com
a realidade. Romero (2002) apresenta a afetividade a partir de dois aspectos:
Primeiro de modo formal e abstrato: a afetividade é uma dimensão da existência que abrange todas as formas que possam afetar subjetivamente o ser humano em sua relação com o mundo. A afetividade é entendida simplesmente como um conjunto de todos os afetos, negativos ou positivos, quaisquer que seja sua modalidade. Segundo, de um modo fenomenológico-existencial: o homem está em permanente interação com seu ambiente; nesta interação homem-mundo, os eventos, os objetos e pessoas que configuram este relacionamento têm certo grau de ressonância na existência do sujeito, ressonância que estrutura sua subjetividade de maneira que afeta todo o seu ser, em algum grau (ROMERO, 2002, p. 17).
E, desse modo, percebe-se que através da afetividade, as relações com os objetos,
com as pessoas e com o mundo são estabelecidas e mantidas, e que esta
habilidade torna o indivíduo susceptível aos acontecimentos ao seu redor e consigo
mesmo.
Romero (2002) menciona também que a afetividade se manifesta em dois planos:
orgânico/corporal e cognitivo. No plano orgânico/corporal, as informações são
obtidas através da senso-percepção, ou seja, os sete sentidos (olfato, paladar, tato,
visão, audição, cinestésico e vestibular) fornecem dados do mundo externo e interno
que provocam sensações e reações corporais: sensação de frio e calor, sensação
de dor, senso de equilíbrio e movimento, sensações de fome, sede, fadiga e
excitação sexual, por exemplo. Já no plano cognitivo, o que se observa é que as
sensações, conforme sua duração, forma e intensidade, são significadas pelo
indivíduo e traduzidas em experiências de prazer e desprazer, aproximação e
afastamento que indicam como o indivíduo é afetado e reage a tais eventos; a este
fato denomina-se subjetividade. Cabe observar, entretanto, que os modos de
significar e traduzir em ações as sensações e as emoções sofrem, influências sócio-
culturais.
Assim, pode-se dizer que biologicamente, as emoções são disposições corporais
que determinam ou especificam domínios de ações possíveis, e são essas
disposições e domínios que constituem e caracterizam as pessoas e suas
realizações. Não há ação humana sem uma emoção que a estabeleça como tal e a
torne possível como ato - a duração, a intensidade e as formas expressivas variam
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de pessoa para pessoa, estão associadas à personalidade e ao comportamento do
indivíduo e são marcadas pela historicidade e pelas convenções sócio-culturais.
Neste contexto as emoções são, ao mesmo tempo, experiências psíquicas e
somáticas, e revelam sempre a unidade psicossomática básica do ser humano.
Goleman (1995) diz que essa capacidade de sentir, entender e aplicar eficazmente o
poder e a perspicácia das emoções e dos afetos como uma fonte de energia,
informação, conexão e influências humanas, motiva as pessoas a buscarem
propósitos e potenciais, ativando suas aspirações e valores mais profundos,
marcando sua forma de pensar e viver. O autor denomina essa capacidade de
inteligência emocional e aponta o quanto é importante para o indivíduo saber lidar
com seus sentimentos, pois quando a pessoa significa as emoções de modo
negativo, fomenta cobranças e julgamentos internos desvalorativos, tornando-se
susceptível a adoecimentos psíquicos, somáticos e psicossomáticos.
Dalgalarrondo (2008) também atenta para a importância da vida afetiva para o bem-
estar humano, afirmando que qualquer alteração do humor ou estado de ânimo, das
emoções e dos afetos – considerados modalidades da vida afetiva
interdependentes, certamente resultará na alteração da afetividade e
consequentemente no bem-estar do indivíduo.
A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. Sem afetividade a vida mental torna-se fazia, sem sabor. O termo afetividade é genérico, compreendendo várias modalidades de vivências afetivas como o humor, as emoções e os sentimentos (DALGALARRONDO, 2008, p. 155).
Considerando essa perspectiva, os estados de ânimo, as emoções e os afetos
paulatinamente tornaram-se alvo de pesquisas científicas cuja premissa maior é
entender a influência do humor e da afetividade no comportamento das pessoas. Na
Psicologia, o “bom humor” e a expressão da afetividade começam a ser utilizados
como recursos terapêuticos, principalmente no contexto hospitalar.
Este trabalho tem como objetivo compreender de que forma o esse “bom humor”
exerce influência na saúde das pessoas e quais são as possibilidades de utilizá-lo
como recurso terapêutico. Como diretrizes, buscou-se fazer apresentar a influência
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do “bom humor” sobre a fisiologia e sobre o psiquismo humano; descrever as
possíveis articulações entre “bom humor” e promoção de saúde; e identificar
experiências terapêuticas que tenham o “bom humor” como recurso terapêutico.
Desenvolveu-se este estudo através de pesquisa bibliográfica, tendo como fonte de
dados a literatura e a produção acadêmico-científica nacional indexada nas bases
de dados BVS e PEPsic a partir de 2005, e como descritores de busca, os termos:
afetividade, humor, inteligência emocional, saúde, terapia do riso.
1 “BOM HUMOR” E SAÚDE: a evolução histórica dessa interação
Segundo Rezende (2009), a palavra humor surgiu na medicina humoral dos antigos
Gregos. O termo humor (khymós, em grego) representava qualquer um dos quatro
fluidos corporais (ou humores): o sangue, a fleuma, a bile amarela e a bile negra –
substâncias existentes no organismo, necessárias à manutenção da vida e da
saúde, e considerados responsáveis por regular a saúde física e emocional humana.
Na doutrina dos quatro humores, o sangue é armazenado no fígado e levado ao
coração, onde se aquece, sendo considerado quente e úmido; a fleuma, que
compreende todas as secreções mucosas, provém do cérebro e é fria e úmida por
natureza; a bile amarela é secretada pelo fígado e é quente e seca, enquanto a bile
negra é produzida no baço e no estômago e é de natureza fria e seca. Desta forma,
o estado de saúde dependeria da exata proporção e da perfeita mistura dos quatro
humores, que poderiam alterar-se por ação de causas externas ou internas. O
excesso ou deficiência de qualquer dos humores, assim como o seu isolamento ou
miscigenação inadequada, causariam as doenças com o seu cortejo sintomático.
De acordo com Rezende (2009), na concepção hipocrática da patologia humoral,
quando uma pessoa se encontra enferma, há uma tendência natural para a cura; a
natureza encontra meios de corrigir a desarmonia dos humores (discrasia),
restaurando o estado anterior de harmonia (eucrasia). Assim, a recuperação do
enfermo se dá pela restauração do equilíbrio dos humores.
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Segundo este autor, Galeno, no século II d. C., ressaltou a manifestação de quatro
tipos de temperamentos conforme o predomínio de um dos quatro humores:
sangüíneo, fleumático, colérico (de cholé, bile), melancólico (de melános, negro +
cholé, bile). Transfere-se, desse modo, para o comportamento das pessoas, a noção
de equilíbrio e harmonia dos humores. As expressões “bom humor”, “mau humor”,
“bem humorado”, “mal humorado” são reminiscências dos conceitos de eucrasia e
discrasia.
A doutrina da patologia humoral guiou a prática médica por mais de 2.000 anos e só
começou a perder terreno com a descoberta da estrutura celular dos seres vivos
graças ao desenvolvimento da microscopia. Os órgãos e os tecidos deixaram de ser
considerados massas consistentes resultantes da solidificação dos humores e
passaram a ser vistos como aglomerados de células individuais, adaptadas à
natureza e função de cada órgão. Foi Rudolf Virchow (1821-1902) quem
estabeleceu as bases da nova patologia, fundamentada nas alterações celulares
causadas pelas doenças.
De acordo com Cardoso (1997), o cérebro é um órgão diferente dos demais tanto
por sua constituição química quanto pelo seu funcionamento. Suas células nervosas
(neurônios) comandam a motricidade, a sensibilidade e a consciência. A atividade
das células nervosas constroem um mundo interno que se molda à medida que
interage com o ambiente externo e determina a experiência, a sobrevivência e a
evolução humana para fins de adaptação. Esta foi uma descoberta significativa da
neurociência - a diversidade cultural do ambiente provoca mudanças no cérebro.
Novos ramos de células interconectados (conexões sinápticas) são adicionados e
ampliados em resposta à experiência e à aprendizagem, alcançando assim, regiões
mais amplas do cérebro. Essas células "experientes" remodelam também o
comportamento humano, seja em resposta de adaptação ao meio externo, seja para
a evolução dele.
Sendo assim, nossas sensações, sentimentos, pensamentos, respostas motoras e
emocionais, assim como a ação das drogas psicoativas, as causas das doenças
mentais, e qualquer outra função ou disfunção do cérebro humano não podem ser
compreendidas sem o conhecimento do processo de comunicação entre as células
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nervosas (neurônios). Os neurônios precisam continuamente coletar informações
sobre o estado interno do organismo e de seu ambiente externo, avaliar essas
informações e coordenar atividades apropriadas à situação e às necessidades atuais
da pessoa (CARDOSO, 2001). Eles processam as informações através de impulsos
nervosos de natureza elétrica e química – os neurotransmissores.
Segundo Kaplan (1997), com a teoria celular da doença, vários estudos comprovam
que há neurotransmissores responsáveis diretos pelo estado de humor – as aminas
biogênicas, em especial a noradrenalina e serotonina, embora a dopamina também
o influencie.
O humor é definido como tônus afetivo do individuo, o estado emocional basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento. É a disposição afetiva de fundo que penetra toda a experiência psíquica, que dá às vivencias do sujeito, a cada momento, uma cor particular, ampliando ou reduzindo o impacto das experiências reais e, muitas vezes, chegando mesmo a modificar a natureza e o sentido das experiências vivenciadas (DALGALARRONDO, 2008, p. 155).
Qualquer variação no humor afeta a saúde do individuo, isto quer dizer que a
qualidade de vida da pessoa está intimamente ligada ao seu humor ou ao estado de
ânimo. O estado de ânimo revela a maneira vivida e experimentada, o modo como
se encontra a pessoa como ser-no-mundo, transparece o grau de sintonia da
existência e do ser, sintonia esta que pode variar de intensidade, clareza e sentido e
que constitui o clima afetivo e impregna o campo vivencial do sujeito. Portanto, as
projeções, planos e esperanças fazem-se conforme o estado de ânimo, que
influencia diretamente em nosso bem-estar.
Damásio (1996) diz que há emoções primárias e emoções secundárias. As primárias
são inatas, como um “kit básico” de sobrevivência, e podem ser acionadas
diretamente no sistema límbico, especificamente através da amígdala e seus
núcleos neurais. Ela não descreve toda a gama dos comportamentos emocionais.
Certamente constituem, apenas, o processo básico. Acredita-se portanto, que em
termos do desenvolvimento de um indivíduo seguem-se mecanismos de emoções
secundárias que ocorrem desde que começamos a ter sentimentos e formam
ligações sistemáticas entre categorias de objetos e situações, Entende-se por
conseguinte, que as estruturas no sistema límbico não são suficientes para sustentar
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o processo das emoções secundárias. A rede tem de ser ampliada e isso requer a
intervenção dos córtices pré-frontal e somatos. A emoção secundária se dá através
do processo de imaginação ou pensamento que aciona a rede neural das emoções
primárias. Assim os sintomas aparecem no organismo como se o acontecimento
fosse real.
Depois da formação de imagens mentais sobre os aspectos principais dessas cenas (o encontro com o amigo há muito ausente; a morte de um colega), verifica-se uma mudança no estado de seu corpo definida por várias modificações em diferentes regiões. [...] Em qualquer dos casos, registram-se mudanças numa série de parâmetros relativos ao funcionamento das vísceras (coração, pulmões, intestinos, pele), musculatura esquelética (a que está ligada aos ossos) e glândulas endócrinas (como a pituitária e as supra-renais). [...] De um modo geral, o conjunto de alterações estabelece um perfil de desvios relativamente a uma gama de estados médios que correspondem ao equilíbrio funcional, ou homeostase, de acordo com o qual a economia do organismo funciona provavelmente no seu nível ótimo, despendendo menos energia e procedendo a ajustamentos mais simples e rápidos (DAMÁSIO, 1996, p. 164).
O autor argumenta que tais experiências ficam registradas em nossa memória e são
caracterizadas para facilitar decisões futuras. Este processo é denominado
“Marcador somático”, isto é, marca uma imagem que produz determinadas
sensações no corpo. Tais marcadores atuam como um alarme automático que faz
convergir a atenção para o resultado negativo que a ação pode conduzir, isto pode
levar o organismo a escolher entre as alternativas. Os marcadores são adquiridos
por meio da experiência, sob o controle de um sistema interno de preferências e
debaixo da influência de um conjunto externo de circunstâncias, tais como
convenções sociais, regras éticas etc. A prioridade do organismo é a sobrevivência e
paralelamente a isto o sistema interno de preferências encontra-se pré disposto a
evitar a dor e procurar prazer.
A base neural para o sistema interno de preferências consiste, sobretudo, em disposições reguladoras inatas com o fim de garantir a sobrevivência do organismo. Conseguir sobreviver coincide com conseguir reduzir os estados desagradáveis do corpo e atingir estados homeostáticos, isto é, estados biológicos funcionalmente equilibrados. O sistema interno de preferências encontra-se inerentemente predisposto a evitar a dor e procurar o prazer, e é provável que esteja pré-sintonizado para alcançar esses objetivos em situações sociais. [...] A interação entre um sistema interno de preferências e conjuntos de circunstâncias externas aumenta o repertório de estímulos que serão marcados automaticamente (DAMÁSIO, 1996, p. 164).
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De acordo com Damásio (1996), o sistema neural crítico para a aquisição da
sinalização pelos marcadores somáticos situa-se nos córtices pré-frontais onde são
co-extensivos com o sistema de emoções secundárias. Há alguns motivos que
fazem dos córtices pré-frontais o local ideal para esta finalidade: recebem sinais de
todas regiões sensoriais responsáveis pelas imagens que formam nossos
pensamentos, inclusive dos córtices somatossensoriais, em que estados do corpo
passado e presente são constantemente representados; recebem também sinais de
vários setores bioreguladores do cérebro humano, incluindo os núcleos
neurotransmissores, situados no tronco cerebral (aqueles responsáveis pela
distribuição de dopamina, norepinefrina e serotonina) e prosencéfalo basal (aqueles
que distribuem acetilcolina), assim como amígdala, o cíngulo anterior e hipotálamo.
Os próprios córtices pré-frontais representam a categorização e classificação das
contingências da nossa experiência da vida real.
Este autor afirma ainda, que são os córtices pré-frontais os responsáveis em receber
as mensagens de todo o pessoal do serviço de padrão e medidas. As preferências
inatas do organismo relacionadas com a sua sobrevivência, o sistema de valores
biológicos, são transmitidas aos córtices pré-frontais, fazendo desse modo parte
integrante do mecanismo de raciocínio e tomada de decisões. Pode-se dizer que os
setores pré-frontais ocupam uma posição privilegiada, relativamente a outros
sistemas do cérebro, pois são seus córtices que recebem os sinais sobre o
conhecimento factual, já existente ou sendo adquirido, relacionado com o mundo
exterior; sobre as preferências biológicas reguladoras inatas, e sobre o estado do
corpo, anterior e atual, à medida que é constantemente alterado por esse
conhecimento e por essas preferências.
Numa outra perspectiva, Teixeira (2009) descreve evidências de que a falta de
senso de humor ou uma vida acompanhada de impaciência, raiva e atitudes hostis
está associada ao maior risco de desenvolver pressão alta, piora do controle dos
níveis de glicose, aumento do risco de doença isquêmica do coração e de morte.
Este autor refere-se ao humor como uma capacidade para perceber e/ou expressar
o que cômico, divertido, buscando a melhor perspectiva diante das piores situações.
Neste sentido, o bom humor é um bom remédio contra a ansiedade e um facilitador
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das relações sociais, por provocar empatia e melhorar a capacidade de relacionar
com intimidade e confiança.
Este autor ressalta ainda que dentre as manifestações do “bom humor” está o riso. A
risada faz aumentar a secreção de endorfina que relaxa as artérias, melhora a
circulação e beneficia a reação imunológica. Além disso, estimula a produção de
adrenalina o que ocasiona mais irrigação nos tecidos que recebem mais oxigênio. O
“bom humor” aumenta a capacidade de resistir à dor.
Rir é a forma mais simples para resgatar o ânimo, a energia pessoal e de nos fazer enxergar o lado positivo, muitas vezes cômico, divertido, hilário, patético, de todas as brigas que temos conosco e com o mundo. o riso e o gargalhar constituem um excelente presente da natureza, que na sua prática, desencadeia a produção de substâncias que tanto beneficiam a saúde do corpo físico quanto a alma e o espírito. Do ponto de vista psicológico, podemos dizer com Gérard Jugnot que o riso é como um limpador de pára-brisa; ele nos permite rodar em frente, chegar em nosso destino, mesmo diante da chuva ou temporal. Não há nada melhor que um filme ou espetáculo humorístico, uma seção de piadas e gargalhadas para retomarmos o fôlego quando a tristeza ou o mau humor nos ataca. Não se trata de negar as feridas da vida, mas de sobreviver a elas (TRUCON, 2010).
Riso e “bom humor” diminuem estresse e ansiedade, reforçam a imunidade, relaxam
a tensão muscular e diminuem a dor. O riso inicia uma cadeia de reações
fisiológicas: primeiro, ele ativa o sistema cardiovascular, aumentando a frequência
cardíaca e a pressão arterial; as artérias se dilatam, levando a uma queda da
pressão; contrações fortes e repetidas dos músculos da parede torácica, abdômen e
diafragma aumentam o fluxo sanguíneo nos órgãos; a respiração forçada (o ha! ha!
ha! do riso) eleva o fluxo de oxigênio no sangue; a tensão muscular diminui e podem
temporariamente perder controle de sua musculatura, como na expressão "ficar
fraco de tanto rir". O riso ajuda os sistemas fisiológicos, principalmente o sistema
imunológico, a aumentarem o número de células que auxiliam no combate às
infecções. O riso também pode promover mudanças hormonais benéficas. De
acordo com pesquisas científicas recentes o riso libera transmissores neuroquímicos
chamados endorfinas que reduzem a sensibilidade à dor e promovem sensações
prazerosas e de bem-estar (TRUCON, 2010).
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2 - O “BOM HUMOR” COMO RECURSO TERAPÊUTICO
A saúde é um indicador de que a sobrevivência não está sendo ameaçada, Rey
(1999) define saúde como
[...] uma condição em que um indivíduo ou grupo de indivíduos é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um conceito positivo, enfatizando recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aptidões físicas. É um estado caracterizado pela integridade anatômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares, profissionais e sociais; pela habilidade para tratar com tensões físicas, biológicas, psicológicas ou sociais com um sentimento de bem-estar e livre do risco de doença ou morte extemporânea. É um estado de equilíbrio entre os seres humanos e o meio físico, biológico e social, compatível com plena atividade funcional (REY, 1999, P.632).
O que se observa é que ter saúde integral vem da conservação de hábitos
emocionalmente saudáveis. Nestes termos, quanto mais construímos hábitos
emocionais saudáveis, mais nossa saúde se fortalece. Há uma interrelação entre
nosso cérebro e nosso sistema imunológico. O cérebro e o sistema imune enviam
sinais um ao outro continuamente, em geral, pelos mesmos caminhos, o que pode
explicar como o estado mental influencia a saúde (MONTEVERDE, 2007).
Partindo do principio de que a saúde é sinônimo de vida e a morte a extirpação da
sobrevivência, o adoecimento é o processo entre a vida e a morte. O processo de
adoecimento possui um dispositivo de alerta que informa o organismo de que algo
não vai bem, ou seja, a sobrevivência está sendo ameaçada. Esse dispositivo de
alerta é denominado “Dor”, Bartilotti (2006) define dor como:
A raiz da palavra dor é dolor, que significa sofrimento; entendido como um estado grave de angústia associada a eventos que ameaçam a intatilidade da pessoa [...]. No nosso dia a dia a dor está vinculada ao sofrimento físico e/ou mental, e algumas definições referem-se à dor como um sofrimento moral, desconforto, mágoa ou uma sensação desagradável. A função inicial da dor é informar sobre um perigo, seja potencial ou real, bem como a quebra da estabilidade orgânica e/ou estado saudável de um organismo (BARTILOTTI, 2006).
Neste contexto, a dor é entendida como estágio que antecede a extirpação da
sobrevivência, portanto é considerada também como uma ameaça; por isso o
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sistema interno de preferência, encontra-se predisposto a evitar a dor ou obter
prazer.
Devido ao fato de nossa existência estar contextualizada pela interação com objetos,
situações e outras pessoas, tais interações por vezes geram adversidades as quais
podem nos causar dor, ameaça ao bem estar ou a sobrevivência. Estas são
percebidas como elementos estressores ou risco eminente, conforme relata
Penteado (2009):
O organismo submetido constantemente ao estresse sofrerá mudanças patológicas,
ou seja, entrará no processo de adoecimento. Uma das mudanças é a distimia, ou
seja, a alteração básica do humor tanto, no sentido de inibição (Hipotimia) como no
sentido de exaltação (hipertimia). Sadock (2007) diz que:
Dentre os procedimentos de anamnese, há uma antiga e duradoura observação clínica de que acontecimentos estressantes da vida, mais frequente, precedem o primeiro episódio de transtornos do humor, em vês dos subsequentes. Tal associação tem sido relatada tanto em pacientes com transtorno depressivo maior como naqueles com transtorno bipolar I. Uma teoria para explicar tal observação é que o estresse acompanhando o primeiro episódio leva a modificações duradouras na biologia do cérebro. Essas alterações podem modificar os estados funcionais de vários neurotransmissores e os sistemas intraneurais de sinalização, modificações que podem até incluir a perda de neurônios e a redução excessiva de contatos sinápticos. Como resultado, o indivíduo fica com um alto risco de desenvolver episódios de um transtorno de humor mesmo sem um estressor externo. (SADOCK, 2007).
Cada pessoa tem a capacidade própria para enfrentar tais situações. Isto é,
resiliência, cujo papel é desenvolver a habilidade humana de enfrentar, vencer e sair
de situações adversas, fortalecido e transformado. Segundo Melillo (2005),
De uma perspectiva psicológica, destaquei, em um trabalho anterior, o valor do humor como poderoso recurso simbólico, mantenedor do laço social e das identificações coletivas, o que dá a ele um lugar merecido como elemento de resistência subjetiva à adversidade. Mas a resiliencia não é apenas resistência, e nesse sentido a origem metalúrgica do termo, que alude à capacidade de um corpo voltar à sua posição de origem, depois de sofrer uma deformação, não inclui a acepção que o conceito tomou, porque o processo não consiste simplesmente no fato de voltar ao ponto de partida. A resiliência é mais do que um modo de dar uma cara boa ao mau tempo, é também um recurso criativo que permite encontrar respostas novas para situações que parecem não ter saída, e este elemento de novidade mostra a ligação entre resiliencia e o senso de humor, permitindo traçar paralelos interessantes que revelam as razões desse vinculo (MELILLO, 2005, p 134).
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Este autor comenta que na própria definição de resiliência há um lugar reservado
para a criatividade e a surpresa, por isso encontra-se, habitualmente em trabalhos
sobre resiliência, o humor como um dos fatores promotores de saúde.
De acordo com Cymrot (2003), quando experimentamos forte tristeza podem ocorrer
estados de desânimo, abatimento, depressão, acompanhados de dor e de agonia.
Se achamos que vamos sofrer, ficamos ansiosos, atemorizados; se não temos
esperança de alívio, ficamos desesperados. Neste caso o riso pode surgir como
alivio da pressão e proporcionador da resiliência.
Melillo (2005) afirma que o senso de humor ou “bom humor” é necessário para que o
balanço narcisista não adquira sempre um caráter dramático ou apocalíptico. O
senso de humor não oferece um quadro de grandiosidade e euforia, mas de um
sereno triunfo interior, com certo matiz de melancolia. Acrescenta a aceitação da
finitude da existência e a sabedoria como a capacidade do ser humano de aceitar as
limitações de sua capacidade física, intelectual e emocional, o que lhe permite
manter uma atitude estável diante da vida e de seus semelhantes, integrando
conhecimentos, mas admitindo seus limites e recorrendo ao senso de humor e a um
sistema de valores marcado pela experiência vivida dos desejos.
O “bom humor”, segundo Melillo (2005), é um traço que constitui um comportamento
muito significativo da mente humana. A natureza do sistema de informação que da
origem às pautas que a especificam. O “bom humor” mostra como a percepção de
uma situação pode mudar subitamente e produzir uma mudança no comportamento
do sujeito. Constitui também a essência da criatividade. Há um salto por um
“caminho” lateral que abandona a sequência lógica do pensamento em curso, como
um efeito liberador, cômico ou criativo, cuja lógica aparecerá num momento
posterior: as razoes verdadeiras do salto são, num primeiro momento, inconscientes.
Melillo (2005) comenta ainda, que pelo humor, o sujeito se recusa a sentir a dolorosa
realidade, mesmo sem desconhecê-la, nem desmenti-la ou ser constrangido pelo
sofrimento. O humor é opositor e significa um triunfo do eu, apesar das reais
circunstancias desfavoráveis; é a melhor defesa possível contra o sofrimento, que
não leva a alma a se resignar, mas contribui para a sua saúde. É uma operação
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intelectual e uma atitude diante da realidade penosa. Algo doloroso tem a
possibilidade de se converter naquilo que dê prazer.
Como estratégia terapêutica, Romero (2007) informa que o procedimento
cognitivista de questionar as crenças associadas ao estado de “bom humor” e
sentimentos ruins é uma boa maneira de levar à descentralização do sujeito,
levando-o a considerar novas perspectivas. Se existe uma primazia do sujeito na
avaliação de sua realidade, então a pessoa pode treinar seu olhar, considerar os
mais diversos pontos de vista sobre o mundo e sobre si, sem ficar preso ao padrão
já constituído, levando sempre em consideração que questionar crenças não é
meramente mexer com idéias, mas com os sentimentos que sustentam as crenças.
Para Romero (2007), outra forma de melhorar o estado de ânimo é a terapia dos
afetos, que tem como objetivos básicos, facilitar e estimular à expressão afetiva
genuína, o reconhecimento dos sentimentos positivos e negativos, a superação dos
sentimentos negativos e ambivalentes, o cultivo de sentimentos positivos referidos a
si mesmo e ao próximo e a superação de padrões afetivo-emocionais perturbadores.
Ele cita ainda, pelo menos quatro estratégias para regular os estados de humor
negativo, como a estratégia de administração ativa do estado de humor, a qual inclui
uma combinação de técnicas de relaxamento; controle de atividades estressantes;
controle dos pensamentos negativos; procura de atividades prazerosas e distração;
controle passivo do humor e apoio social.
Este autor cita algumas técnicas3 para melhorar o estado de ânimo que julga efetiva,
tais como:
a) Reeducação do uso da linguagem e da cinética corporal;
b) A focalização do emocional de Gendlin e sua variante proposta por Mahrer;
c) A exploração ativa do campo imaginário proposta por Romero;
d) A espiral da vida, sugerida por Romero;
e) Personagens em busca de um autor;
f) O TAT como técnica para estimular a criatividade e o espaça imaginário;
g) O sociodrama de Moreno e as técnicas gestálicas;
3 ROMERO, E. A compreensão de si e do mundo – métodos e técnicas de pesquisa e desenvolvimento pessoal
em terapia. Della Bídia, 2010. Neste livro o autor descreve cada uma dessas técnicas e seus procedimentos.
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h) A música;
i) O teatro, a dança;
j) A meditação.
Segundo José (2006), humor terapêutico é definido como sendo “qualquer
intervenção que promova saúde e o bem estar por estimular uma descoberta
divertida, uma expressão ou apreciação do absurdo e das incongruências da vida”.
Tais técnicas baseiam-se nas propriedades do riso para melhorar pessoas
imunodeprimidas, tratando assim as emoções negativas, para esquecer a dor ou o
medo que caracterizam alguns pacientes.
Concomitante aos diversos tipos de tratamento, atualmente encontramos vários
recursos que são utilizados como ferramentas muito importantes, no auxílio da cura
de uma doença e até mesmo para a promoção e prevenção da saúde. Dentre esses
recursos encontramos na arte, o uso do humor como recurso terapêutico.
Instituições de saúde por todo o mundo já reconhecem o valor social e terapêutico
da arte aplicada à medicina, e a tendência de incluí-la entre as atividades
hospitalares. A Arte terapia, Terapia do Riso, Doutores da Alegria, o Clown entre
outros, são exemplos da inserção da arte em benefício à saúde.
2.1 - Clown
Instituições de saúde por todo o mundo já reconhecem o valor social e terapêutico
da arte aplicada à medicina, e a tendência de incluí-la entre as atividades
hospitalares é crescente.
O clown4, por exemplo, é elemento humanizante das relações e tem suas origens
fincadas na ingenuidade e pureza. Ele coloca à disposição do paciente o prazer de
rir, amplia sua perspectiva de vida e lhe mostra outras possibilidades no processo da
4 A técnica de clown, ou palhaço, trabalha intimamente com as emoções do indivíduo, recorrendo ao
físico e descobrindo o humor que existe em cada um e o riso enquanto arma em prol da saúde, como outras técnicas que se utilizam de expressões artísticas para promover a saúde, dentre elas a Arteterapia; Musicoterapia; Ramain Thiers e a Terapia do Riso.
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cura. No momento em que ri, a criança e o adolescente demonstram que a sua
posição de paciente se transfere para a de agente de sua própria alegria, podendo
seu corpo de dor ser transformado num corpo de riso.
Em 1986, Michael Christensen, diretor do Big Apple Circus, de Nova Iorque, foi
convidado a participar das comemorações do Dia do Coração no Columbia
Presbyterian Babies Hospital, quando optou por fazer uma satirização às rotinas
médicas e hospitalares, utilizando o teatro Clown. O resultado surpreendeu a todos,
pois as crianças que se encontravam deprimidas e apáticas participaram ativamente
das atividades propostas. Após outras visitas, o hospital decidiu investir na
continuidade do trabalho, nascendo então a Clown Care Unit.
Em 1988, Wellington Nogueira, ator brasileiro, que na ocasião morava em Nova
Iorque, passou a integrar a troupe do Clown Care Unit, e ao retornar ao Brasil, em
1991, criou um programa-irmão do Clown Care Unit do Big Apple Circus, iniciando
as atividades no Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo.
O projeto brasileiro, batizado com o nome de Doutores da Alegria, tinha como
objetivo utilizar a arte do teatro clown para avaliar a necessidade das crianças
hospitalizadas e colocar ao seu dispor truques, magia e malabarismo. Com isso,
devolveria à criança um pouco do controle, sobre o corpo e sobre sua vida, que lhe é
totalmente tirado quando se encontra enferma e hospitalizada e ainda favoreceria
uma atitude mais positiva e ativa em relação à enfermidade e sua recuperação. O
humor é um recurso essencial para auxiliar na superação dos traumas inerentes aos
processos de enfermidade e internação, e também na restituição da alegria, parte
integrante da vida do paciente.
Os resultados do projeto Doutores da Alegria foram analisados em dissertação de mestrado e a visível mudança de comportamento das crianças foi apontada como o resultado mais marcante: crianças que antes estavam prostradas, mostraram-se mais ativas; as quietas passaram a se comunicar melhor e a se queixar menos de dores e ainda passaram a se alimentar e aceitar melhor a medicação, os exames e a própria internação. No geral, a imagem da hospitalização tornou-se menos hostil, com reflexos diretos na aceleração da recuperação e da cura. Para a equipe, o estresse da rotina diminuiu, e isso facilitou o trabalho e melhorou a integração entre os profissionais (LIMA et al, 2009, p. 5).
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Em 1995, um grupo de alunos da disciplina Enfermagem Pediátrica ministrada no 7º
período do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, manifestou interesse em desenvolver
um trabalho com crianças e adolescentes hospitalizados, com base na proposta dos
Doutores da Alegria.
Inicialmente, desenvolveu-se uma oficina de trabalho intitulada Assistência à
criança: humanização hospitalar através da arte, com o objetivo de permitir que os
participantes (alunos de graduação e pós-graduação, enfermeiras pediátricas e
docentes da disciplina Enfermagem Pediátrica e Neonatal) vivenciassem a
experiência da humanização hospitalar a partir de relatos de experiências
complementados por dinâmicas com exercícios de sensibilização. Esta oficina foi
ministrada pelo próprio coordenador do grupo Doutores da Alegria, juntamente com
outros atores integrantes da trupe.
Somando a essa experiência os conhecimentos das disciplinas Psicologia e
Enfermagem Pediátrica, criou-se a Companhia do Riso - Cia do Riso, com o objetivo
de resgatar o riso da criança e do adolescente hospitalizados, dos seus familiares e
da equipe de saúde, mediante atividades, como: cantigas de roda, mágicas,
improvisações, danças, dramatizações, jogos infantis e músicas, apoiados em
técnicas do teatro clown. Cada clown tem sua própria identidade e estilo, ou seja,
carrega suas marcas registradas: nariz vermelho, instrumental característico do
ambiente hospitalar (estetoscópios coloridos, maletas espalhafatosas), violões,
pandeiros e assobios. Assim, duas vezes por semana, a Cia do Riso, com seus
personagens clowns, passou a habitar as enfermarias infanto-juvenis de um
hospital-escola do interior do Estado de São Paulo.
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2.2 - Terapia do riso
Segundo Trucon (2010), o bom humor, na verdade, diz respeito a rir-se das coisas
do cotidiano. Das incongruências do dia a dia, da comédia da vida diária, das brigas,
dos pequenos problemas da rotina diária e, até mesmo, dos tempos difíceis que
passamos. Fazer piada de tudo, sempre observando o bom senso, é mais eficiente
que assistir a um show de humorismo sofisticado, onde disputamos uma vaga aos
berros para estacionar. Trata-se de levar uma vida de forma mais leve, sem grandes
apegos ou valores desmedidos. Mesmo diante de um trabalho mais sério, criar
sempre situações e soluções que contenham com frequência um prisma de alegria,
um desfrutar em tudo o que fazemos. Além das técnicas já citadas, que trabalham o
humor como agente co-terapeuta, surgiram outras tais como a “terapia do riso”. Tal
técnica possibilita o resgate do nosso otimismo, do bom astral, do bom-humor,
enfim, do estar de bem com a vida; um estado natural da nossa criança interna, um
ser absolutamente espontâneo e sutil. Assim, a Terapia do Riso tem como propósito
essencial facilitar o Resgate da Alma, uma parte absolutamente sutil de nosso Ser.
Esta autora comenta que cada vez mais a Terapia do Riso tem sido objeto de
estudos, por se tratar da expressão mais explícita do bom humor e do positivismo.
As pessoas que sabem se divertir e rir são geralmente mais saudáveis e mais
capazes de sair de situações de estresse com mais facilidade. A redução da
liberação dos cortisóis e da adrenalina (hormônios do estresse e do envelhecimento
precoce) é totalmente desejável, já que como se sabe, seu excesso desencadeia o
desenvolvimento de infecções e doenças.
Segundo Lima (2009), no caso de crianças, o brinquedo é um aliado para melhorar o
humor, por isto lhe é atribuído grande valor.
O valor terapêutico do brinquedo fica evidente porque auxilia a criança no processo de adaptação à hospitalização, uma vez que possibilita liberar temores, raivas, frustrações e ansiedade; facilita a comunicação entre ela e a equipe cuidadora; estimula seu desenvolvimento físico, psicológico, social e moral; aperfeiçoa as habilidades psicomotoras, e ainda favorece seu
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equilíbrio físico com a finalidade de preservar e restaurar sua integridade orgânica (LIMA, 2009, p 3).
No hospital, brincar torna o ambiente menos traumatizante e mais alegre, o que
contribui para a recuperação da criança, proporcionando-lhe momentos de higiene
mental, espaço para expressão de sentimentos oriundos da doença e da internação
e a manutenção de uma relação estável entre a criança, sua família e a equipe de
saúde.
O trabalho do psicólogo é ajudar a pessoa a desenvolver a capacidade de lidar com
as emoções, a tal capacidade chamamos inteligência emocional. A inteligência
emocional é um tipo de inteligência que envolve as emoções voltadas em prol de si
mesmo. Para que um indivíduo se desempenhe bem, necessita de inteligência
intelectual, flexibilidade mental, objetivos traçados, equilíbrio emocional e
determinação. Adquirindo a capacidade de auto-conhecimento, passa a lidar com os
sentimentos, controlando-os, administrando as emoções, afim de relacionar-se e
observar o emocional de outras pessoas.
As emoções, muitas vezes influenciam as pessoas em suas decisões e isso significa
que esta se mantém positivamente ativa já que colabora com o amplo e global
crescimento do indivíduo. Pode ser desenvolvida positivamente já que possui tanta
influência sobre as pessoas, através das observações e avaliações do próprio
comportamento e sentimento, ocultando sentimentos como raiva, desânimo,
frustração e substituindo-os por bom humor. Desta forma, é possível entender que
ser bem humorado significa perceber que a maior parte das situações que vivemos
não é nem muito importante, nem muito séria e nem muito grave. As maiorias das
situações estressantes após algumas semanas de acontecidas se tornam
engraçadas. Logo, ser bem humorado é perceber a graça nessas situações no
momento em que estão ocorrendo.
Portanto, se o que sentimos e as nossas reações estão intimamente ligadas a nossa
percepção da relação homem-mundo e da nossa resiliência diante das situações
percebidas, tudo isto depende dos repertórios, marcadores somáticos e das opções.
Cabe ao psicólogo ajudar a pessoa a ampliar seu repertório, seu campo de
possibilidades. Como exemplo: Há algum tempo atrás um diagnóstico de câncer era
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sentença de morte. Hoje, porém, com o avanço da ciência, isso não é mais assim.
Mas para muitos, em seu repertório, só tem a visão de antigamente. Uma boa forma
de ajudar na ampliação do campo de possibilidades é mostrar que depende do grau
e local onde o câncer foi diagnosticado e os recursos existentes hoje para
tratamento, pesquisas sobre pessoas que foram curadas.
Desta forma então, repertório da pessoa é ampliado, pois, o diagnostico de câncer
deixar ser exclusivamente sentença de morte e passa a ter outros desfeches, novas
alternativas, entre elas, a cura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, a palavra humor é mais usada para designar a disposição, ânimo alegre
e descontração. Bom humor é sinônimo de humor equilibrado. Dentre as alterações
fisiológicas e emocionais que o humor origina, percebe-se que a resposta cognitiva,
afetiva ou comportamental não depende apenas do que o indivíduo percebe, mas
também de como avalia e lida com a situação percebida.
Neste contexto, a Psicologia, enquanto ciência, torna-se instrumento de
compreensão e intervenção no ato do cuidado psíquico e emocional, viabilizando e
promovendo saúde e bem estar. A ampliação do conhecimento sobre a importância
do bom humor na constituição dos vínculos sociais, na representação dos aspectos
culturais e na expressão da emotividade humana, bem como compreender as
etapas no processo de desenvolvimento da personalidade e suas vivencias
especificas é uma das alternativas para se intervir, favorecendo a qualidade de vida
e a expressão do humor como fator resiliente.
Portanto, quando se fala em intervenções terapêuticas, a Psicologia torna-se aliada
por preconizar a promoção de bem-estar e comportamentos apropriados aos
diversos e progressivos modos de subjetividade e sua adaptação ao meio em que se
vive. Ainda são esparsas as iniciativas da Psicologia para contemplar o modelo de
terapias e tratamentos que abarquem o humor como mecanismo de intervenção e
cuidado. Cursos de formação e especialização são necessários, assim como
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pesquisas sobre as iniciativas existentes que podem reiterar o humor como recurso
terapêutico.
**RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
Between pain and health, the laugh: Contributions of psychology Abstract Moods, emotions and affections gradually became the focus of scientific research whose premise is to understand the influence of humor and affection in behavior and health conditions of people. In psychology, the "good mood" and the expression of affection begin to be used as therapeutic resources, especially in hospital settings. This work aims to understand how the "good mood" influence people's health and how they can be used as a therapeutic resource. As guidelines, we tried to do a historical overview about the conceptions of humor, to describe possible connections between "good mood" and health promotion and to identify therapeutic experiences that have the "good mood" as a therapeutic resource. It is a literature, whose reflections provide new ideas about the practices used in the care and management in health therapies, as well as the contributions of psychology as a facilitator in the process of understanding of therapies that enable better health promotion and well-being. At this juncture, it is the need for a holistic approach that considers the human person, in full. This perspective underscores the importance of laughter for the promotion and preservation of health.
Keywords: Humor. Laugh. Health. Psychology.
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