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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 6 Número 17 Novembro 2015 NUPESDD UEMS Web-Revista SOCIODIALETO Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 6, nº 17, nov. 2015 137 ENTRE BOTÂNICOS E NATURALISTAS: UM NOVO ANTIGO OLHAR PARA SÃO PAULO DO SÉCULO XIX Fabiana Raquel Leite (UNICAMP) 1 [email protected] RESUMO: A fim de contribuir para a composição da história social da língua portuguesa no Brasil, o presente trabalho objetiva apresentar um levantamento sistemático das informações contidas nos relatos dos viajantes europeus, Karl Friedrich von Martius & Johann Baptist Spix e Auguste de Saint Hilare, acerca do contexto sócio histórico da Província de São Paulo no século XIX. PALAVRAS-CHAVE: língua portuguesa; Província de São Paulo; século XIX; viajantes naturalistas europeus ABSTRACT: In order to contribute to the composition of the social history of the Portuguese language in Brazil, this work aims to present a systematic survey of the information contained in the reports of the European travelers, Karl Friedrich von Martius & Johann Baptist Spix and Auguste de Saint Hilare, about the socio-historical context of the Province of São Paulo in the nineteenth century. KEYWORDS: Portuguese language; Province of São Paulo, 19th century; European naturalist travelers 1. Introdução A ligação com o “mar oceano” transformou a civilização paulista, fez-lhe perder o seu sublime isolamento. (HILAIRE, 1953) A história social da variedade da língua portuguesa falada em São Paulo é, frequentemente, desassociada das outras variedades do português brasileiro devido à sua posição geográfica e à maneira como a região foi colonizada. Neste trabalho, com o objetivo de contribuir para a composição da história social da língua portuguesa no Brasil, realizo um breve estudo da variedade paulista falada no século XIX. Para tanto, analiso os relatos de viagem à Província de São Paulo de três naturalistas europeus: o francês Auguste de Saint Hilaire e os alemães Karl Friedrich von Martius e Johann Baptist Ritter von Spix. Assim, as obras analisadas neste estudo são: - Viagem ao Brasil, Vols. I e II 2 , Martius & Spix; 1 Doutoranda em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas. E-mail: [email protected]

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ENTRE BOTÂNICOS E NATURALISTAS: UM NOVO ANTIGO

OLHAR PARA SÃO PAULO DO SÉCULO XIX

Fabiana Raquel Leite (UNICAMP)1

[email protected]

RESUMO: A fim de contribuir para a composição da história social da língua portuguesa no Brasil, o

presente trabalho objetiva apresentar um levantamento sistemático das informações contidas nos relatos

dos viajantes europeus, Karl Friedrich von Martius & Johann Baptist Spix e Auguste de Saint Hilare,

acerca do contexto sócio histórico da Província de São Paulo no século XIX.

PALAVRAS-CHAVE: língua portuguesa; Província de São Paulo; século XIX; viajantes naturalistas

europeus

ABSTRACT: In order to contribute to the composition of the social history of the Portuguese language

in Brazil, this work aims to present a systematic survey of the information contained in the reports of the

European travelers, Karl Friedrich von Martius & Johann Baptist Spix and Auguste de Saint Hilare, about

the socio-historical context of the Province of São Paulo in the nineteenth century.

KEYWORDS: Portuguese language; Province of São Paulo, 19th century; European naturalist travelers

1. Introdução

A ligação com o “mar oceano” transformou a

civilização paulista, fez-lhe perder o seu

sublime isolamento. (HILAIRE, 1953)

A história social da variedade da língua portuguesa falada em São Paulo é,

frequentemente, desassociada das outras variedades do português brasileiro devido à sua

posição geográfica e à maneira como a região foi colonizada.

Neste trabalho, com o objetivo de contribuir para a composição da história social da

língua portuguesa no Brasil, realizo um breve estudo da variedade paulista falada no

século XIX. Para tanto, analiso os relatos de viagem à Província de São Paulo de três

naturalistas europeus: o francês Auguste de Saint Hilaire e os alemães Karl Friedrich

von Martius e Johann Baptist Ritter von Spix. Assim, as obras analisadas neste estudo

são:

- Viagem ao Brasil, Vols. I e II2, Martius & Spix;

1 Doutoranda em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas. E-mail: [email protected]

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- Viagem à Província de São Paulo, Saint-Hilaire;

- Segunda Viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e São Paulo, Saint-Hilaire.

Escolhi os trabalhos desses três viajantes, pois, além de os três terem percorrido a

região na mesma época, eles apresentam certa homogeneidade. Os três eram botânicos,

membros de academias de ciências e estavam vinculados ao poder estatal. Auguste de

Saint Hilaire veio ao Brasil acompanhando a missão do Conde de Luxemburgo,

embaixador do rei da França e Spix & Martius vieram, juntamente com outros cientistas

alemães, em missão oficial por ordem o rei da Baviera.

Para torná-lo mais instrutivo, dividi este trabalho em três partes. Na primeira,

apresento brevemente os viajantes, o território e o período estudados. Em seguida,

realizo o levantamento das informações relevantes para a história social da língua

portuguesa falada em São Paulo no século XIX presente nos relatos desses viajantes. E,

por fim, teço algumas considerações finais a respeito da variedade paulista do português

brasileiro oitocentista.

2. Viajantes em São Paulo no Século XIX

Com a chegada da família real portuguesa no Brasil em 1808 e conseguinte abertura

dos portos às nações amigas, dá-se início a uma série de viagens de naturalistas

europeus à América Portuguesa em busca novos conhecimentos a respeito da flora,

fauna, geografia e organização social da região.

Neste trabalho, conforme mencionado, discorrerei sobre os relatos deixados pelos

naturalistas alemães Spix e Martius e pelo francês Saint-Hilaire acerca a cidade de São

Paulo e seu entorno.

2.1 Auguste Saint-Hilaire (1779-1853)

2 Utilizei a versão inglesa publicada em 1824, disponível em: http://www.etnolinguistica.org/biblio:spix-

martius-1824-travels acesso: 27 de agosto de 2014.

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Augustin François César de Saint Hilaire, nascido a 4 de outubro de 1779 em

Orléans e falecido a 30 de setembro de 1853 em Lurpinière, foi um importante botânico,

naturalista e viajante francês que esteve no Brasil em duas ocasiões entre os anos de

1816 e de 1822. Saint-Hilaire era membro da Academia das Ciências do Instituto da

França e foi um dos primeiros cientistas vindos da Europa a poder explorar todo o

território brasileiro sem restrições. Em sua primeira viagem ao Brasil, em 1816, Saint

Hilaire veio acompanhando a missão do Conde de Luxemburgo, embaixador do rei da

França, de tomar a posse da Guiana Francesa. Durante essa primeira estada, percorreu

os estados brasileiros do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, São

Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em sua segunda viagem ao país, revisitou

os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.

Em suas viagens, Saint Hilaire coletou dados sobre a flora brasileira (seu principal

interesse), recolheu dados sobre a fauna e teceu considerações acerca de aspectos

econômicos, políticos e culturais da sociedade brasileira da época.

2.1.1 A Primeira Viagem à Província de São Paulo

Os relatos de Saint-Hilaire em Viagens à província de São Paulo estão organizados

em treze capítulos. A obra reproduz o relatório sobre a viagem de Saint-Hilaire ao

Brasil feito por membros da Academia de Ciências de Paris. A versão utilizada neste

trabalho foi traduzida e prefaciada por Rubens Borba de Moares3 e constitui a tradução

do primeiro tomo de Voyage dans les provinces de Saint-Paul et de Sainte Catherine e

de Aperçu d'un voyage dans l'intérieur du Brésil, la Province Cisplatine et les Missions

dites du Paraguay.

No primeiro Capítulo, intitulado “Quadro Resumido da Província de São Paulo”,

Saint-Hilaire traça um quadro geral da Província, trazendo detalhes sobre sua história,

3 Esta versão possui uma cópia digital disponível no endereço:

https://archive.org/stream/viagemprovinci00sainuoft#page/n17/mode/2up Acesso em: 27/08/2014

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geografia, população e administração. Nos capítulos seguintes, II, III e IV, o francês

relata a sua viagem de Franca a São Paulo, descrevendo em detalhes a região e os

personagens que encontra em seu percurso. No sexto capítulo, já em São Paulo, o

naturalista faz uma descrição detalhada da cidade, incluindo informações sobre as

atividades e os diferentes papéis sociais, a arquitetura, a saúde e o modo de falar da

população ‘caipira’. No final do livro, há um breve relatório das viagens de Saint

Hilaire ao Brasil e ao Paraguai e duas listas, uma contendo toda a bibliografia citada por

Saint Hilaire em Viagens à Província de São Paulo e outra contendo uma relação das

principais obras escritas por Saint Hilaire.

(Mapa com o Itinerário da Primeira Viagem de Saint-Hilaire pela Província de São

Paulo, HILAIRE, 1938:1)

2.1.2 Segunda Viagem à Província de São Paulo

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A obra Segunda viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo constitui

um diário de viagem escrito por Saint Hilaire em sua segunda viagem a São Paulo.

Neste diário, o naturalista descreve superficialmente as cidades por onde passou e tece

alguns comentários breves acerca dos costumes de seus habitantes e sobre a

miscigenação.

É importante mencionar que o principal objetivo de Saint Hilaire em sua segunda

viagem a São Paulo era repor amostras de plantas danificadas e por ele coletadas em

1817. Nesse sentido, esta obra não é tão detalhada e abrangente quanto a primeira

(Viagem a Província de São Paulo), haja vista o objetivo específico do viajante.

Neste trabalho, utilizei a edição de 1938, traduzida e prefaciada por Affonso de E.

Taunay.

2.2 Os Naturalistas bávaros: Johann Baptist von Spix e Karl Friedrich Philipp von

Martius (1794-1868)

In the annals of Brazil, S. Paulo is highly interesting

beyond all the other cities in a historical point of view

(Spix&Martius, Viagens ao Brasil, 1817-1820).

2.2.1 Johann Baptist von Spix

Johann Baptist von Spix foi um naturalista alemão nascido na cidade de Höschstadt,

na Baviera em 1781. Spix estudou teologia, filosofia e medicina nos seminários de

Bamberg e Würzburg. Após doutorar-se em medicina, Spix dedicou-se à zoologia. Em

1808, entrou para o governo bávaro, para o qual realizou diversas expedições científicas

à França, Suíça e Itália. Foi membro de várias academias científicas, incluindo a

Academia Bávara de Ciências, na qual, em 1811, assumiu o cargo de conservador das

coleções zoológicas. Em 1817, inicia sua principal e mais importante missão científica,

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uma expedição de três anos ao Brasil. Spix, acompanhado pelo também naturalista Karl

Philipp von Martius, visita diversas regiões do Brasil, onde recolhe importantes

informações sobre a sua flora, fauna, geografia e cultura. Spix falece em 1826, em

Munique na Alemanha, antes da conclusão de sua principal obra Reise in Brasilien

(Viagem ao Brasil), concluída por seu companheiro de expedição Martius em 18314.

Além de Viagem ao Brasil, Spix escreveu diversos trabalhos publicados,

principalmente, pela Academia Bávara de Ciências. Entre os seus trabalhos mais citados

estão História e crítica dos sistemas de zoologia desde Aristóteles e O desenvolvimento

do Brasil desde o descobrimento até nossa época.

2.2.2 Karl Friedrich Philipp von Martius

Karl Friedrich Phillip von Martius foi um dos mais importantes pesquisadores

europeus do século XIX a estudar a flora e a fauna brasileira. Martius nasceu e foi

criado na cidade de Erlangen, no estado da Baviera. Entre os anos de 1810 e 1814,

cursou Medicina na Universidade de Erlangen. Após sua formatura, ingressou na

Academia Real de Ciências da Baviera, em Munique. Em 1816, foi nomeado adjunto do

Jardim Botânico, onde conheceu o rei Maximiliano José I, que o convida a participar na

expedição para o Brasil ao lado de Spix.

Em 1817, com a missão de recolher dados sobre os aspectos naturais, sociais e

linguísticos do território da colônia portuguesa, Martius viaja para o Brasil ao lado de

Spix e outros naturalistas alemães e austríacos5. Após três anos explorando o Brasil

(1817-1820), Martius retornou para seu país de origem com cerca de 6.500 espécies de

plantas. Nesse período, o naturalista bávaro reúne também uma coleção valiosa de

dados filológicos e etnográficos, além de transcrições de canções e cânticos populares

brasileiros e melodias indígenas.

4 Reise in Brasilien (Viagem ao Brasil) foi publicada em três volumes entre os anos de 1823 e 1831 pelo

naturalista Karl Friedrich von Martius. 5 Nessa missão, Martius fica responsável pelos estudos botânicos e Spix pelos zoológicos.

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Em 1826 foi nomeado professor de botânica da Universidade de Munique e, em

1832, curador sênior do Jardim Botânico. Martius falece em Munique no ano de 1868,

aos 74 anos de idade.

Ele, assim como Spix, deixou, além de Viagem pelo Brasil, outras obras de igual

importância e valor científico como Nova genera et species plantarum brasiliensiun

(1823-1832), Historia naturalis palmarum (1823-1850), Icones selectae plantarum

cryptogamicarum brasiliensiun (1827), Systema materiae medicae vegetabilis

brasiliensis (1843), Flora cryptogamica Erlangensis (1817) e Akademische Denkreden

(1866) e a monumental Flora Brasiliensis6 (1840-1906).

2.2.3 A Viagem e o Relato de Martius & Spix

Em 1815, Maximiliano José I, rei da Baviera, havia ordenado que Academia de

Ciências de Munique organizasse uma viagem científica ao interior da América do Sul.

Contudo, devido a uma série de complicações, essa viagem só foi viabilizada dois anos

mais tarde, em 1817, com a vinda da arquiduquesa austríaca Leopoldina ao Brasil, em

razão de seu casamento com Pedro de Alcântara (futuro D. Pedro I).

Para acompanhar a arquiduquesa em sua viagem ao Brasil, o diretor do Museu de

História Natural de Viena organizou uma missão científica que, uma vez na colônia

portuguesa, deveria recolher dados sobre os aspectos naturais, sociais e linguísticos do

território. A pedido do rei da Baviera, uma missão bávara, formada por Martius, Spix e

outros naturalistas alemães, juntou-se a essa comitiva.

Martius & Spix exploraram diversas regiões do Brasil por pouco mais de três anos

(de abril de 1817 a dezembro de 1820). Entre 1817 e 1820, eles percorreram as

províncias do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Pará,

6 Martius começou a escrever Flora brasiliensis em 1840, contudo a obra só chegou a ser concluída em

1906, 38 anos após a sua morte, por um grupo de 75 pesquisadores. Flora brasiliensis é constituída por

44 volumes, com 20.773 páginas e 3.811 ilustrações, classificando 850 famílias e descrevendo mais de

oito mil espécies de plantas brasileiras.

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recolhendo amostras de espécies animais e vegetais e registrando as línguas e dialetos

falados pelos nativos.

O registro das diversas línguas e dialetos brasileiros havia sido solicitado pela Real

Academia de Ciências de Munique:

As faculdades de história e de filosofia e filologia da

Academia lembravam-nos o estudo das diversas

línguas, traços característicos dos povos, as tradições

históricas, moedas, ídolos, e, particularmente, tudo que

pudesse esclarecer o estado de civilização e história dos

aborígenes e dos atuais habitantes do Brasil (SPIX 1938

[1823], v. 1:9 – ênfase acrescentada)

De volta à Europa, em 1820, e com um volume expressivo de material coletado,

Martius e Spix dedicaram-se à produção do relato Reise in Brasilien, obra ilustrada em

três volumes e publicada por Martius entre os anos de 1821 a 1831. Devido à morte de

Spix em 1826, seis anos após o retorno a Alemanha, Martius teve que concluir a obra

sozinho. Reise in Brasilien foi traduzida para o Português somente em 1938 como

Viagem pelo Brasil, em edição patrocinada pelo Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro (IHGB).

Anexas à obra Viagem pelo Brasil encontram-se, ainda, reunidas pelo título

Cantigas Populares Brasileiras e Melodias Indígenas (Brasilianische Volkslieder und

indianische Melodien) oito cantigas, um lundu instrumental e quatorze músicas

indígenas coletadas por Martius. Três das oito cantigas foram coletas em São Paulo:

Acaso São Estes; Qual Será o Feliz Dia e Escuta Formoza Marcia.

Viagem pelo Brasil constitui, certamente, um dos mais importantes relatos do

século XIX sobre o Brasil.

3 São Paulo no Século XIX sob os Olhares dos Viajantes

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A cidade de São Paulo, do século XIX, foi retratada pelos seus moradores, escritores

e principalmente por viajantes europeus, como Auguste Saint Hilaire, Karl Philipp von

Martius e Johann Baptist Spix. Neste trabalho, priorizamos o olhar desses três últimos

para descrever a província de São Paulo do século XIX.

3.1 O Perfil da Sociedade Paulista Oitocentista

Nesta sessão, discorro sobre o perfil da sociedade paulista do século XIX traçado

nas obras de Auguste Saint-Hilaire e Martius & Spix.

De acordo com Matos (1958:58), São Paulo, no século XIX, caracterizava-se por

ser uma cidade pequena constituída mormente por uma população mestiça, com uma

parcela considerável de negros e por uma população branca formada sobretudo por

portugueses e seus descendentes. O historiador estima que, nas três primeiras décadas

do século XIX, a população urbana de São Paulo não chegava a dez mil habitantes.

Para o viajante francês Saint-Hilaire, devido a uma série de fatores culturais, é

difícil determinar com exatidão qual era a população de São Paulo no século XIX.

A preguiça geral no país, a ignorância de seus habitantes,

sobretudo em certas regiões da província de São Paulo, a

extrema disseminação dos habitantes são outros tantos

obstáculos que se opõem a que, com referência à população,

especialmente, se obtenham dados precisos. Os que se obtém

são, apenas, aproximados [...] (HILAIRE, 1940:84).

O naturalista estima, entretanto, que, em 1822, teriam a cidade e seu distrito

25.682 habitantes. Em relação à composição da população na referida época, Saint-

Hilaire chama a atenção para a sua heterogeneidade. O naturalista vê a “mistura de

raças” como uma barreira para o desenvolvimento social e econômico da província.

A população da França, como a de toda a Europa ocidental, é

perfeitamente homogénea — uma só raça de homens e não

existem escravos. O mesmo, infelizmente, não ocorre no Brasil.

Não somente a escravidão é ali admitida, como também três

raças completamente distintas (e os numerosos mestiços que as

ligações entre as mesmas produziram) constituem a população

do país. Escravos negros, uns crioulos, outros africanos; negros

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livres, africanos e crioulos; alguns indígenas batizados; um

número considerável de indígenas selvagens; mulatos livres e

mulatos escravos; homens livres, todos considerados, perante a

lei, como da raça caucásica, entre os quais se encontra, porém,

grande quantidade de mestiços de brancos e de indígenas — tais

são os habitantes da província de São Paulo. Entranha confusão

de raças, do que resultam complicações embaraçosas e

perigosas, quer para a administração pública, quer para a

moral social (HILAIRE, 1940:84 – ênfase acrescentada).

Com relação a população de São Paulo nesse período, Martius & Spix

apresentam o seguinte quadro descritivo da formação da população paulista no ano de

1815:

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Lista da população da Capitania de São Paulo no ano de 1815, Viagens ao Brasil Vol. II p. 32

Observe que, em 1815, entre a população livre, o número de brancos é superior

ao número de negros e mulatos (brancos 12.247; negros e mulatos 7.084), sendo o

número de mulatos livres muito superior ao número de negros livres. Ao considerarmos,

também, os escravos, número de negros e mulatos chega a pouco mais da metade da

população paulista, 51%. É interessante notar, ainda, que no quadro apresentado por

Spix & Martius não há qualquer menção a indígenas e “mamelucos” entre a população

da Comarca de São Paulo.

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Os naturalistas alemães, entretanto, ao descreveram a população da província,

chamam a atenção para a presença de famílias “brancas” que, segundo eles, se

preservaram da mistura com os nativos e afirmam que a maioria da população é

formada por negros, mulatos e mamelucos.

Many families of Paulistas have preserved themselves without

any mixture with the Indians, and these are as white, may even

whiter than the purer descendants of the Europeans in the

northern provinces of Brazil(Spix & Martius, Vol. II, Viagens

ao Brasil, p.6).

Negroes, mulattoes, descendants of whites and Indians

(mamelucos), which form the greater part of its population [...] (Spix & Martius, Vol. I, Viagens ao Brasil, p. 316 – ênfase

acresentada)

Acerca da população escrava, Martius & Spix (1824:11) observam que embora o

número de mulheres supere o número de homens, o índice de natalidade entre os

escravos negros é muito baixo7.

Saint Hilaire, para o ano de 1839, embora acreditasse que os documentos existentes

a respeito da população paulista fossem ainda vagos e duvidosos, arrisca-se a afirmar

que

o número dos brancos era apenas de 4/5 sobre os homens de

côr, negros e mulatos; que era quasi nulo o de indígenas; que o

número das mulheres livres, brancas, mulatas e negras, era

sensivelmente superior ao dos homens livres pertencentes a

essas mesmas raças; que, finalmente, os escravos formavam

apenas um terço da população total (HILAIRE, 1945:171).

Com relação a existência de moradores estrangeiros (não portugueses) em São Paulo,

o viajante francês faz menção de um suíço chamado Grellet, em cuja casa ele esteve

hospedado.

Logo que as bagagens foram descarregadas, apressei-me em ir à

casa de um suíço chamado Grellet, que vendia mercadorias

francesas por conta de uma casa estabelecida no Rio de Janeiro,

e ao qual toda a minha correspondência devia ser dirigida

(HILAIRE, 1945:165).

7 The black slaves have very fewchildren, which is not entirely explained by the proportion of the female

to the male slaves (16:22).

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3.1.1 O campo, a cidade e o ser paulista

Em sua segunda viagem à São Paulo, Saint-Hilaire, ao descrever os habitantes da

cidade de São Paulo, diferencia-os do homem do campo. Ao descrever o homem

urbano, ele enfatiza que este é branco e foi educado segundo os moldes europeus.

Na cidade de São Paulo, ao contrário, desde há tempo a

civilização foi continuadamente mantida pelos europeus.

Não foram unicamente pessoas pobres e sem educação,

procurando fazer fortuna que na referida cidade vieram se

estabelecer; a amenidade do clima, a sua localização aprazível,

a vizinhança da costa e suas facilidades de comunicação têm

atraído para seu seio homens de classe mais elevada;

magistrados que estudaram na Europa em São Paulo se

casaram, tendo necessariamente, transmitido a seus filhos

certa distinção e finura de trato.

Assimilando as características propagadas pelos próprios paulistas habitantes da

cidade, o naturalista caracteriza o homem do campo como um ser inferior, anormal e

desprezível.

Nenhuma dificuldade há em distinguir os habitantes da cidade

de São Paulo dos das localidades vizinhas. Estes últimos,

quando percorrem a cidade, usam calças de tecido de algodão e

um chapéu cinzento, sempre envolvidos no indispensável

poncho, por mais forte que seja o calor. Denotam seus traços

alguns dos caracteres da raça americana; seu andar é pesado,

e têm um ar simplório e acanhado. Pelos mesmos têm os

habitantes da cidade pouquíssima consideração, designando-os

pela acunha injuriosa de caipiras, palavra derivada

provavelmente do termo corupira pelo qual os antigos

habitantes do país designavam demônios malfazejos existentes

nas florestas. (SAINT-HILAIRE, 1945: 171)

Ainda em outras passagens de sua Segunda viagem, ao percorrer o interior paulista,

o naturalista reitera a inferioridade intelectual do homem do campo e apresenta uma

imagem depreciativa dos “mestiços”.

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Enquanto descrevia e examinava as plantas, aproximou-se um

homem do rancho, permanecendo várias horas a olhar-me, sem

proferir qualquer palavra. Desde Vila Boa [Goiás] até Rio das

Pedras [São Paulo], tinha eu tido quiçá cem exemplos dessa

estúpida indolência. Esses homens, embrutecidos pela

ignorância, pela preguiça, pela falta de convivência com

seus semelhantes, e, talvez, por excessos venéreos

prematuros, não pensam: vegetam como árvores, como as

ervas dos campos. [...] Grande número de homens, mulheres e

crianças desde logo rodeou-me. [...] À primeira vista, a maioria

deles parecia ser constituída por gente branca; mas a largura de

suas faces e proeminência dos ossos das mesmas traíam, para

logo, o sangue indígena que lhes corria nas veias, mesclado

com o da raça caucásica (SAINT-HILAIRE, 1972:95 – ênfase

acrescentada).

Quanto ao homem branco da cidade, principalmente o pertencente à classe social

elevada, o francês tece inúmeros elogios sobre a sua educação e bons modos.

[...] não será lícito concluir que os homens das classes elevadas

de São Paulo sejam mal-educados, pois são, ao contrário, de

fino trato, e a polidez dos paulistas estende-se até às classes

inferiores. As pessoas de posição cumprimentam-se mesmo

quando não se conhecem, e os indivíduos das classes

subalternas nunca deixam de tirar o chapéu às pessoas de

mais elevada posição social; mas é certo que tal demonstração

de deferência é atribuída menos à pessoa do que à posição que

ocupa (SAINT-HILAIRE, 1938:186 – ênfase acrescentada).

É importante observar, entretanto, que embora o naturalista francês teça elogios

ao homem urbano paulista de classe alta, ele ainda o considera inferior ao homem do

campo mineiro.

Elogiei a polidez e as boas maneiras dos habitantes de São

Paulo pertencentes às classes abastadas; acrescentarei que, na

parte oriental de Minas Gerais os agricultores são geralmente

mais civilizados dos que os da província de que me ocupo

neste momento [São Paulo] (HILAIRE, 1938:187-188).

Em outro trecho de seu relato, Saint Hilaire destaca a superioridade dos mineiros

em relação aos paulistas, pois estes últimos se misturaram a raça indígena.

O uso da rede, quase desconhecido na Capitania de Minas, é

muito espalhado na de São Paulo a exemplo dos hábitos dos

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índios, outrora numerosos nesta região. Já tive muitas vezes a

ocasião de notar, que por toda parte onde existiram índios, os

europeus, destruindo-os, adotaram vários de seus costumes e

lhes tomaram muitas palavras da língua. Se os mineiros têm

grande superioridade sobre o resto dos brasileiros, isto

provém, certamente, de que pouco se misturaram com os

índios (HILAIRE, 1938:136).

Nesses exemplos, nota-se claramente que Saint Hilaire, influenciado pela sua

visão etnocêntrica, percebe o morador do campo paulista como um ser inferior, alguém

sem conhecimento ou qualidade, que, por razão de seu isolamento seria, na visão do

“civilizador europeu”, semelhante a um animal selvagem. Essa mesma visão

etnocêntrica o faz enxergar o processo de miscigenação ocorrido em São Paulo como

algo negativo, prejudicial ao desenvolvimento da província.

Ainda em relação aos mamelucos, Saint Hilaire relata que estes, por serem

“desprezados pelos brancos de raça pura, os antigos mamalucos não deviam ter grande

vontade de residir na cidade” (HILAIRE, 1945:188). Tal isolamento pode ter acentuado,

nos mestiços, as características culturais e linguísticas do lado materno indígena, como

aponta Saint Hilaire na passagem seguinte:

Os mamalucos não herdaram apenas o gosto pela vida errante

que caracteriza os indígenas, pois destes herdaram também a

descuidada preguiça, vício esse que mais se acentuou em

relação aos que não tinham coragem de se aventurar pelos

desertos. Criados pelas indígenas, esses homens viviam em

completo isolamento, desprezados pelos pais; ninguém

procurava elevá-los da ignorância em que jaziam. Seus

costumes eram, necessariamente, grosseiros. Vários

cruzamentos, em verdade aproximaram da raça caucásica os

descendentes dos primeiros mestiços; entretanto, como já tive

ensejo de observar, notam-se ainda, na fisionomia de um grande

número de agricultores paulistas, traços característicos da raça

americana; eles não procuram instruir-se, seu modo de vida

continua a se ressentir da rusticidade de seus antepassados

pelo lado materno, cuja indolência herdaram também

(HILAIRE, 1945:188).

3.1.2 A interação campo e cidade

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Conforme apontado no tópico anterior, o homem urbano diferenciava-se cultura e

socialmente do homem do campo. Este último caracterizava-se por ser desprezado pelo

primeiro e por descender de índios.

O contato entre o homem do campo e o da cidade se dava em dois momentos

principais: durante as atividades comerciais e as festividades religiosas.

Não há em São Paulo rua mais frequentada do que a das

Casinhas. A gente do campo ali vende suas mercadorias aos

comerciantes em cujas mãos os consumidores vão adquiri-las.

(HILAIRE, 1945:181 – grifo meu).

Saint Hilaire explica que os homens das classes mais baixas participavam dessas

festividades sem conhecer o seu real sentido, diferentemente daqueles das classes mais

altas que embora conhecessem o seu significado, faziam-no apenas por costume.

Estas festas para cá atraem grande número de pessoas do

campo. Segui parte dos ofícios e doeu-me a falta de atenção

dos fiéis. Ninguém se compenetra do espírito das festas. Os

homens mais distintos nelas tomam parte pela força do

hábito e o povo como a um grande divertimento. No ofício

de Quinta-Feira Santa, a maioria dos presentes recebeu a

comunhão da mão do bispo. Olhavam todos à direita e à

esquerda, conversavam antes deste solene momento e

recomeçavam a conversar imediatamente depois. Há, aliás, uma

circunstância que deve servir de desculpa ao povo. Ignora ele o

fim e o sentido das cerimônias religiosas, não entende a língua

em que o padre invoca o Senhor. E como ninguém usa livro de

missa nas igrejas nada existe absolutamente capaz de fixar a

atenção dos fiéis (HILAIRE, 1938:172 – grifo meu).

3.1.3 As mulheres paulistas

As diferenças sociais eram, no início do século XIX, muito significativas. Saint

Hilaire, ao retratar a mulher paulista da época, fala sobre a importância que o poder

econômico tem sobre o papel desempenhado por elas dentro da sociedade. Enquanto as

mulheres de classe social mais elevada cuidam dos afazeres domésticos, as de classe

social baixa se prostituem para sobreviver.

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As mulheres ricas, informaram-me, trabalham em leves

serviços no interior de suas casas — bordam, fazem flores,

enquanto que um grande número de mulheres pobres

permanecem em ociosidade durante o dia, e, quando a noite,

espalham-se pela cidade, dedicando-se ao tráfico de seus

encantos, como único recurso de subsistência (SAINT-

HILAIRE, 1945:187 – ênfase acrescentada).

Em outra passagem, o naturalista francês, mostra-se impressionado com o

número de prostitutas existentes pelas ruas da cidade de São Paulo.

Em nenhuma parte do mundo por mim percorrida vi

tamanho número de prostitutas; eram de todas as cores; as

calçadas ficavam, por assim dizer, cobertas de mulheres dessa

baixa espécie. Caminhavam devagar ou esperavam os fregueses

nas esquinas; mas, cumpre dizer, nunca abordavam os homens,

nem costumavam injuriá-los ou injuriar-se entre si; olhavam

apenas quem passava, conservando uma espécie de pudor

exterior, e nada demonstravam de cínico despudor que, na

mesma época, era tão frequentemente revelado pelas prostitutas

parisienses de baixa classe. É desagradável, para um viajante

sério, descer a tão tristes detalhes; mas deve ter a coragem de

fazê-lo, quando tem oportunidade de mostrar a que estado de

degradação podem chegar as classes pobres, inteiramente

abandonadas, se lhes não é ministrada uma educação moral

e religiosa. Os filhos dessas numerosas mulheres, apenas

vindos ao mundo, têm ante os olhos exemplos dos vícios; as

lições que recebem são as da infâmia; e o sacerdote, olvidado

dos preceitos de seu divino mestre, não exclamam como este

último exclamou — Deixae vir a mim as criancinhas — Essas

pobres criaturas crescem e parecem com as mães. (HILAIRE,

1945:187)

Nota-se, pelo excerto acima, que Saint Hilaire atribui o número elevado de

prostitutas em São Paulo não somente a dificuldades financeiras e econômicas, mas,

também, à falta de educação moral e religiosa entre a população de classe baixa.

Os alemães, Martius & Spix, descrevem as mulheres paulistas como joviais e

extrovertidas e possuindo a mesma simplicidade característica dos homens paulistas.

Quando as comparam às mulheres de outras partes do Brasil, afirmam que, em São

Paulo, as mulheres são mais ingênuas, haja vista o modo simples de pensar e agir de

toda esta província.

The women of S. Paulo have the same simplicity as the men.

The tone of society is jovial and unaffected, animated by

ready and cheerful pleasantry. They have been unjustly

accused of giddiness. If the spirit of conversation is strongly

contrasted with the refined manners of their European relatives,

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among whom a jealous etiquete prohibits the unrestrained

expression of feeling; their artless liveliness does not excite

surprise, in a province where a free and simple mode of

thinking has been retained, more than in any other part of Brazil

(Spix & Martius, p.8, Vol II – ênfase acrescentada).

3.2 O Espaço Urbano: o clima, a geografia e a arquitetura da cidade

Martius & Spix (1834:22) descrevem o clima de São Paulo como um dos mais

agradáveis do mundo. O francês Saint Hilaire (1945:173) também exalta o clima

paulista, “a situação de São Paulo é encantadora e é puro o ar que ali se respira” e elogia

a arquitetura e a localização da cidade. “[...] São Paulo possui, como se vê, vários

edifícios públicos e todos concordam em que ela é bonita e está muito bem situada

(HILAIRE, 1945:179).

Ao descreverem a arquitetura da cidade de São Paulo, os alemães chamam a

atenção para a amplitude, limpeza e boa iluminação das ruas:

The style of architecture indicates by the frequent latticed

balconies which have not disappeared here as in Rio, that it is

above a century old; the streets, however, are very broad,

light, and cleanly, and the houses mostly two stories high.

They seldom build here with bricks, and still less with stone,

but usually raise the walls of two rows of Strong posts or

wicker work, between which clay is rammed (casas de taïpa) a

method which much resembles what is called the pise in France

(Spix&Martius, Vol. II, 1834:316 – grifo meu).

Entretanto, quando falam das casas dos mestiços em Jacareí, relatam que as suas

habitações são “sujas e úmidas” como o clima do local (Spix&Martius, 1834:316).

No trecho a seguir, Saint Hilaire descreve detalhadamente as habitações da

cidade:

As casas, construídas de taipa muito sólida, são todas brancas e

cobertas de telhas côncavas; nenhuma delas, apresenta grandeza

e magnificência, mas há um grande número que, além do andar

térreo, tem um segundo andar e fazem-se notar por um aspecto

de alegria e de limpeza. Os telhados não avançam

desmesuradamente além das casas, mas têm bastante extensão

para dar sombra e garantir as paredes contra as chuvas. As

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janelas não se fecham umas contra as outras, como é comum no

Rio de Janeiro. As das casas de um andar possuem quasi todas

vidraças, e são guarnecidas de balcões e postigos pintados de

verde. As outras casas têm venezianas, que se erguem de baixo

para cima, formadas de travessas de madeira cruzadas

obliquamente (HILAIRE, 1945:175).

Ele segue elogiando as moradias dos habitantes de classe alta da cidade:

Vi moradias dos principais habitantes de São Paulo tão lindas

por dentro como por fora. As visitas são recebidas em um

salão muito limpo e mobiliado com gosto. As paredes são

pintadas com cores muito frescas; mas nas casas antigas vêem-

se desenhos e grandes arabescos; nas mais modernas as paredes

têm uma só côr e são guarnecidas com barras e rodapés,

imitando os nossos papéis pintados. Como não existem lareiras,

colocam-se sobre mesas os objetos de ornato, como sejam —

castiçais, redomas, relógios etc. (HILAIRE, 1945:175-176 –

grifo meu).

Saint Hilaire relata, ainda, que, entre os anos de 1818 e 1820, havia em São

Paulo somente duas paróquias, sendo criada uma terceira durante a sua estadia na

província.

De 1818 a 1820, só havia em São Paulo duas paróquias - a

catedral e Santa Ifigênia, esta situada no subúrbio do mesmo

nome,que se estende à margem esquerda do Hinhangabahú. Em

época menos remota, foi criada uma terceira paróquia — a do

Bom Jesus do Braz. Além das três igrejas paroquiais, existem

ainda em São Paulo diversas capelas. De 1819 a 1822,

contavam-se, na cidade, dois recolhimentos para mulheres e três

conventos para homens - o dos beneditinos, fundado em 1598; o

dos carmelitas descalços, fundado em 1596; e o dos

franciscanos (HILAIRE, 1945:175).

3.3 O Falar Paulista

Os relatos dos viajantes aqui estudados evidenciam o processo de segregação

social que vem ocorrendo no Brasil desde o início da colonização do país. De acordo

com Luchesi (2009:69), esse processo refletiu e ainda reflete no modo de falar das

camadas sociais mais baixas e, geralmente, compostas por negros e mestiços.

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Saint Hilaire manifesta sua oposição ao processo de miscigenação ocorrido na

província de São Paulo. Para ele, essa mistura de raças e culturas afetou negativamente

a língua dessa camada da população e se constitui em um entrave para o bom

desenvolvimento socioeconômico da província, uma vez que os mestiços adotam os

costumes dos indígenas. O naturalista elogia os mineiros por não terem se misturado

com os índios, fato que, segundo ele, faz com que os mineiros sejam superiores aos

paulistas.

O uso da rede, quase desconhecido na Capitania de Minas, é

muito espalhado na de São Paulo a exemplo dos hábitos dos

índios, outrora numerosos nesta região. Já tive muitas vezes a

ocasião de notar, que por toda parte onde existiram índios, os

europeus, destruindo-os, adotaram vários de seus costumes

e lhes tomaram muitas palavras da língua. Se os mineiros

têm grande superioridade sobre o resto dos brasileiros, isto

provém, certamente, de que pouco se misturaram com os

índios. (HILAIRE, 1945:136)

O francês critica severamente o modo de falar dos habitantes do interior da

província de São Paulo e cumprimenta os mineiros pela sua correção na pronúncia que,

para ele, supera a europeia.

[...] não deve causar admiração o fato dos habitantes do

interior da província de São Paulo falar e pronunciar muito

incorretamente o português, ao passo os do interior da de

Minas Gerais, ao menos na parte oriental dessa província,

falam, em geral, com correção, e têm uma pronúncia que só

difere da dos portugueses da Europa em ser mais melodiosa e

mais suave (HILAIRE, 1945:189).

Os paulistas do interior, em vez de vossemecê, abreviação de

vossa mercê, pela qual é designada a segunda pessoa, dizem

mecê; sua pronúncia é áspera e arrastada. Substituíram eles por

ts e ch português, dizendo, por exemplo, matso por macho e

atso por acho (do verbo achar) etc. (HILAIRE, 1945:189)

No trecho em que Saint Hilaire relata a sua passagem pela região de Jacareí,

mais uma vez, ele manifesta seu desprezo em relação ao modo de falar do habitante do

interior da província e à possível influência da língua indígena nessa variante da língua.

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Os homens desta região, tardos de movimentos, parecem

indiferentes a tudo. Não mostram a menor curiosidade, falam

pouco e são muito menos educados que os de Minas. A

pronúncia portuguesa toma na boca destes últimos uma

doçura que não existe na dos portugueses da Europa; mas

aqui esta doçura torna-se já moleza; as inflexões são pouco

variadas, e têm qualquer coisa de infantil, que lembra a língua dos índios. (HILAIRE, [1822]1932:155)

Os exemplos acima ilustram a visão do viajante europeu em relação ao modo

de falar e agir do homem do campo paulista. Nos relatos, fica clara a influência do

meio social e econômico no modo de falar da população da província (urbana e rural).

Sobre isso, Luchesi (2009:53) explica que, se de um lado tínhamos, nos séculos

XIX e anteriores, uma pequena parcela da população que cultivava a língua e as “boas

maneiras” do colonizador europeu, do outro, tínhamos a grande maioria adquirindo a

língua de forma precária e irregular, alterando-a a partir da nativização desses modelos

defectivos. E foi exatamente isso que aconteceu em São Paulo. O homem branco de

classe alta tinha acesso a variante de prestígio da língua, o modelo europeu; enquanto,

os negros e mestiços de classe baixa tinham pouco ou quase nenhum acesso a essa

variante, haja vista os raros momentos de interação entre as diferentes camadas da

sociedade.

CONSIDERAÇÃO FINAIS

As análises e a discussão apresentadas neste este trabalho são preliminares. Elas

abrem espaço para análises mais elaboradas do material deixados pelos viajantes

europeus para fomentar discussões acerca da influência dos contatos e do ambiente para

a formação da variedade paulista do português brasileiro.

Para tanto, faz-se necessário realizar um estudo mais aprofundado desses relatos

com especial atenção ao retrato que esses viajantes fizeram acerca do “caipira”.

Contudo, é mister observar que, embora sejam receptivos por natureza, esses viajantes

sendo cientistas formados dentro da tradição europeia, traziam conscientemente ou

inconscientemente a visão do “civilizador” europeu em suas descrições.

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Falta ainda uma análise detalhada das cantigas apresentas por Martius & Spix e um

estudo sobre a possível razão da inclusão dessas canções populares em Travels in

Brazil. Estes estudos podem ajudar a entender as manifestações culturais na cidade de

São Paulo no século XIX.

Ao longo dessa investigação, verificou-se que, em suas viagens pelo Brasil, Karl

von Martius, Spix e Auguste de Saint Hilaire mantiveram sobre os lugares por onde

passavam, o olhar etnocêntrico do “civilizador europeu”. Os relatos de viagem desses

naturalistas são construídos através das visões e dos valores do velho mundo. Tal ponto

de vista fica evidenciado nas descrições, com julgamento de valor, das diferenças

existentes entre o homem urbano e o rural.

Eles entendem que o meio reflete no modo de agir, pensar e falar do “caipira” e do

homem urbano. Contudo, ao descreverem tais diferenças, depreciam o homem do

campo por constituir um ser introspectivo que, de acordo com a visão etnocêntrica

desses viajantes, falava muito mal o português e não era de “raça pura”. Ao se referirem

ao homem urbano, elogiam-no, principalmente o branco, de “raça pura”, visto que este

assemelhava-se ao europeu, em suas “boas” maneiras e em seu modo de falar.

O reflexo desse pensamento pode ser notado até os dias atuais, quando a fala do

homem do interior, o antigo “caipira”, é constantemente depreciada em relação a do

habitante dos grandes centros urbanos.

Nota-se, pela leitura e análise dos relatos, que o espaço urbano era ocupado

majoritariamente pelos brancos descendentes do colonizador europeu. Os negros,

mulatos e, principalmente, os mamelucos habitavam as regiões mais afastadas da cidade

e, como não tinham acesso à educação formal e mantinham pouco ou nenhum contato

com a camada da população instruída, não eram expostos a variante de prestígio da

língua.

Todos esses fatores contribuíram para polarização sociolinguística existente no

Brasil hoje em variedades cultas e populares8.

8 Ver LUCHESI, 2009.

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REFERÊNCIAS

LUCHESI, D. “História do contato entre línguas no Brasil”. In: LUCHESI, D.;

BAXTER, A.; RIBEIRO, I. O português afro-brasileiro. Salvador, EDUFBA, 2009.

MATOS, O. N. “A cidade de São Paulo no século XIX” in: AZEVEDO, A. (Coaut. de).

(1958) A cidade de São Paulo: estudos de geografia urbana. São Paulo, SP:

Nacional. 4v., il. (Brasiliana, v.14, 14A, 14B, 14C). 1958. pp. 49-95.

SAINT-HILAIRE, A. de. Segunda viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São

Paulo: 1822. 2. ed. São Paulo, SP: Nacional, 1938. 222p. (Brasiliana, v.5).

______________________. Viagem a Provincia de São Paulo e Resumo das viagens

ao Brasil, Provincia Cisplatina e Missões do Paraguai. 2. ed. São Paulo, SP: Martins,

1945. 375p.

SPIX, J. B.; MATIUS, K. F. Travels in Brazil, in the years 1817-1820. Undertaken by

command of His Majesty the King of Bavaria. Vol I. London, printed for Longman,

Hurst, Rees, Orme, Brown and Green, 1824.

_______________________. Travels in Brazil, in the years 1817-1820. Undertaken

by command of His Majesty the King of Bavaria. Vol II. London, printed for Longman,

Hurst, Rees, Orme, Brown and Green, 1824.

Recebido Para Publicação em 26 de outubro de 2015.

Aprovado Para Publicação em 21 de janeiro de 2016.