Entrevista de Rubem Amorese

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www.jornalnossotempo.com.br Ano VI :: Número 49 :: Fevereiro :: 2013 2,00 Promoção Índio de aldeia pernambucana, domiciliado na capital flumi- nense, compartilha visão sobre evangelismo e papel da igreja na sociedade Página 14 INDÍGENAS AÇÃO SOCIAL Igrejas evangélicas saem dos templos e se unem em socorro às vítimas das chuvas no Rio com prestação de assistência e distribuição de donativos Página 19 Atrás de liberdade e indepen- dência, jovens contam como é o desafio de deixar a casa dos pais e a necessidade de apoio familiar nesse momento Página 8 JUVENTUDE Remetente: Av. Marechal Floriano, 143 Conj.: 1.301 Centro Rio de Janeiro 20.080-005 - RJ Nosso Tempo JORNAL Jornal A psicóloga Isabelle Ludovico aborda os desafios da mulher na pós-modernidade MULHER ARTE CRISTÃ Companhia utiliza diversas ferramentas artísticas para evangelismo e obra social Página 3 VITRINE Entre os destaques deste mês de fevereiro está o livro Heldy Meu Nome, da editora Hagnos Página 24 Página 6 RUBEM AMORESE De política aos novos rumos da Igreja, escritor apresenta suas avaliações do cenário brasileiro Páginas 12 e 13 Divulgação Edição Especial de Verão JOVENS PATRÕES Páginas 16 e 17 Dinâmicos e hiperconectados às novas tecnologias, eles decidiram abrir o próprio negócio, impulsionando o empreendedorismo no Brasil, com o diferencial de guiarem suas carreiras à luz da palavra de Deus

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Rubem Amorese, colunista da revista Ultimato, é o entrevistado do jornal Nosso Tempo, de fevereiro de 2013.

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Page 1: Entrevista de Rubem Amorese

w w w . j o r n a l n o s s o t e m p o . c o m . b r Ano VI :: Número 49 :: Fevereiro :: 2013

2,00Promoção

Índio de aldeia pernambucana, domiciliado na capital flumi-nense, compartilha visão sobre evangelismo e papel da igreja na sociedade

Página 14

INDÍGENASAÇÃO SOCIALIgrejas evangélicas saem dos templos e se unem em socorro às vítimas das chuvas no Rio com prestação de assistência e distribuição de donativos

Página 19

Atrás de liberdade e indepen-dência, jovens contam como é o desafio de deixar a casa dos pais e a necessidade de apoio familiar nesse momento

Página 8

JUVENTUDE

Remetente:Av. MarechalFloriano, 143Conj.: 1.301

CentroRio de Janeiro

20.080-005 - RJNosso Tempo

JORNAL

Jornal

A psicóloga Isabelle Ludovico aborda os desafios da mulher na pós-modernidade

MULHER ARTE CRISTÃCompanhia utiliza diversas ferramentas artísticas para evangelismo e obra social Página 3

VITRINEEntre os destaques deste mês de fevereiro está o livro Heldy Meu Nome, da editora Hagnos

Página 24

Página 6

RUbEM AMORESEDe política aos novos rumos da Igreja, escritor apresenta suas avaliações do cenário brasileiro Páginas 12 e 13

Div

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ação

Edição Especial de Verão

JOVENS PATRõES

Páginas 16 e 17

Dinâmicos e hiperconectados às

novas tecnologias, eles decidiram abrir o próprio

negócio, impulsionando o empreendedorismo no

brasil, com o diferencial de guiarem suas carreiras à

luz da palavra de Deus

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Vestibular e Transferências

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A partir desse momento, os canais abertos passam a enriquecer a informação com recortes, comentários, bastidores, opiniões técnicas etc. Mas já não são a única fonte; já não dizem o que querem impunemente.

JNT: Após um período de eleições marcado por forte participação de lide-ranças evangélicas, como o senhor vê o modo como o segmento tem buscado hoje participar da vida política do país?

RA: No tempo da Assembleia Nacio-nal Constituinte, vários irmãos se uniram para formar, sob a liderança do irmão Euler Morais, o Grupo Evangélico de Ação Política (GEAP). A participação dos evangélicos na política era tão intensa, em todo o país, que pensamos em colaborar com a promoção de encontros nacionais, distribuição de boletins, elaboração de pautas sensatas e coisas assim. Eu fiquei como vice-presidente do grupo. E a ebu-lição foi grande; em especial no que se seguiu à ANC, com a formação da bancada

Mais do que uma entrevista, uma aula sobre história do Brasil, perfil da Igreja evangélica e como viver a sim-plicidade do Evangelho diariamente. Como ele mesmo se apresenta, Ru-bem Amorese é “paulistano do Rio", nascido em Vila Mariana, São Paulo, porém criado na Ilha do Governador, Zona Norte carioca. Formou-se em Comunicação Social pela UERJ e fez mestrado na Universidade de Brasília, na mesma área. Estudou também lite-ratura na Aliança Francesa do Rio e fez uma pós-graduação em informática na Universidade Católica de Brasília.

É membro da Fraternidade Teoló-gica Latino-americana (FTL), presbí-tero emérito da Igreja Presbiteriana do Planalto (IPP), em Brasília, fundou e presidiu, por 20 anos, a Missão Social Evangélica, conhecida como Comuni-carte, foi professor na Faculdade Teo-lógica Batista de Brasília (FTBB), bem como presidente do Diretório Regional da Sociedade Bíblica do Brasil. É autor de vários livros, como Icabode, Fábrica de Missionários, entre outros, publica-dos pela Editora Ultimato, onde escreve na coluna “Ponto Final”. Trabalhou e se aposentou como Consultor Legislativo do Senado Federal.

JNT: Como homem de comuni-cação, como o senhor avalia a atuação do Senado nos últimos anos, sobretu-do, após a repercussão do julgamento do “Mensalão”?

RA: O Congresso Nacional evo-luiu muito, nos últimos anos, em termos de comunicação. Quando lá cheguei, sequer existia um capítulo na Constitui-ção Federal sobre comunicação. Eram apenas um ou dois artigos. Tive a honra de participar na elaboração do capítulo que hoje existe. Pode parecer uma observação insignificante, mas posso lembrar que, durante a Assembleia Nacional Constituinte (ANC), todos nós (senadores e assessores), à noite, para sabermos o que havia ocorrido nas comissões das quais não havíamos tomado parte, corríamos para casa para assistir tudo na televisão e, depois, começávamos o dia seguinte ávidos, nos jornais. Mas isso era informação indireta, filtrada pela mídia, sua ideo-logia e seus interesses. Com o tempo, vieram os canais da TV Senado, Rádio Senado, Internet, Agência Senado etc. Nasceu, naquela mesma época, a TV Justiça. E o julgamento do “Mensalão” se transformou em um campeão de audiência. O importante, no entanto, é esse elemento democrático do registro.

Giuliana [email protected]

evangélica no congresso, composta de mais de 30 parlamentares. Entretanto, com o tempo, percebeu-se que muitos come-çaram a se perder, ao lidar com o poder, com concessões de canais de rádio e TV. Lembro-me da cena em que se votava um quinto ano de mandato para o presidente José Sarney, que oferecia canais de TV a quem votasse por ele. Entre os evangéli-cos, as opiniões estavam divididas. Seria ético? Houve deputado que dissesse: "eu quero esse canal; vou usá-lo para divulgar o Evangelho". E aceitou e mudou seu voto. Num certo momento, a galeria lotada nos brindou com uma chuva de moedas e notas de dinheiro. Ai, que vergonha! Acho que, por causa de coisas assim e da nossa inexperiência democrática (lembro que estávamos saindo da ditadura), muitos irmãos parlamentares preferiram não mais se identificar como evangélicos, até hoje. Com o tempo, aqui e ali percebemos movimentos cristãos; são evangélicos e católicos unidos contra algo que lhes pareça proposta inaceitável. É o caso do PL 122, da deputada Marta Suplicy, ou a famosa "lei da homofobia". De todo modo, mantenho os ideais dos tempos do GEAP: acho que o crente deve estar presente na política. Em especial naquela política apartidária, que se desenvolve no bairro, na escola do filho, na faculdade e em tantos outros "centros de poder". A imagem bíblica permanece: Ester e Mordecai. A Ester sendo uma enviada de Deus a um centro de poder e Mordecai, seu tutor, sendo a Igreja, que fica por trás, dando apoio, ajudando, orientando.

JNT: Como especialista na área de informática, o senhor acredita que os últimos governos têm dado a devida atenção aos processos regulatórios de uso da internet?

RA: A pergunta é boa, mas de res-posta mais difícil do que parece. Por ter trabalhado nessa área por muitos anos, sou um exemplo pessoal das controvérsias envolvidas na "regulação da Internet". Os projetos foram tantos! Projetos de lei que passaram por mim podem ser contados às dezenas. Primeiro, temos um grande em-bate político. Uma vírgula mexida é como uma pedrada numa casa de marimbondos. Marimbondos de fogo. Segundo, havia o problema técnico. Para nossa legislação penal é importante saber onde o crime foi cometido. Por exemplo, se foi no país. Mas, na Internet, isso é difícil. Uma pá-gina ofensiva pode estar sediada em um servidor na Antuérpia, cujas máquinas físicas estejam na Líbia ou no Canadá. Finalmente, olhe o problema na área da técnica legislativa: toda vez que se chega a um texto de boa qualidade, aqueles que são contra perguntam: em quê esses cri-mes são diferentes daqueles já previstos no atual Código Penal? De fato, a grande maioria dos delitos praticados na Internet não são, exatamente, "crimes de Internet". O que mais me anima, entretanto, não é a perspectiva de novas leis, mais apro-priadas à tipificação dos delitos, mas a crescente capacitação técnica da Política Federal. As notícias de prisão de pedófilos nas redes sociais, de sites com apologia ao crime e tantos outros delitos começam a aparecer. Uma vez identificado e preso o delinquente, fica por conta da Justiça fazer as analogias necessárias para o seu enquadramento, enquanto a legislação específica não surge.

JNT: Como a Igreja pode se valer das ferramentas digitais e redes sociais?

RA: Ah, gostei dessa pergunta. Ago-ra chegamos à minha vivência atual. Até agora, tenho falado como técnico. Talvez

Eu acho possível o louvor (dizer coisas boas sobre deus ou para Deus) sem o coração. Mas não vejo como adorar

sem o coração

Rubem Amorese:

Amorese ressalta a importância da busca pelo convívio com os irmãos na igreja em um tempo de forte interação virtual

ENTREVISTA

recuperando a memória histórica e popular de um Brasil em transformação

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até ex-técnico. Mas chegamos à Igreja (risos). Meu pensamento sobre essa questão tem dois ângulos. O primeiro é o da simples constatação e, o segundo, de alguma ponderação ou alerta. Veja que tempo maravilhoso estamos vivendo. Estou precisando de um bom cântico para fechar um sermão sobre algum salmo. Nem faço pesquisa; vou direto ao site da IPP e pesquiso no "cardápio de músicas" (risos). Ah, mas eu gostaria é de trocar algumas ideias com o Rubem Amorese. Pronto, achei! Ele está no Facebook. Melhor que isso, ele conversa comigo! (risos). Mas a palavra de alerta nos vem do primeiro capítulo de Hebreus: "nestes últimos dias, nos falou por meio do Fi-lho". A encarnação do Verbo nos ensina que a distância é insuportável para quem ama. Assim, também entre nós, embora eu admire e seja totalmente favorável aos sites de igrejas, continuo "confessando": creio na igreja; creio na comunhão dos santos. E digo isso pensando na igreja local, em irmãos de carne e osso (muitas vezes, osso duro de roer, como é o meu caso), em presença, em abraço de verda-de, em comer e beber à mesa.Tenho visto muita gente dizer que não precisa mais "ir à igreja", pois agora ela "vem a eles", sem precisar sair de casa e enfrentar a "parte ruim", do convívio com os irmãos. É aí que mora o perigo.

JNT: Teologia, comunicação e música são apontadas como suas grandes paixões. Como o senhor une esses três elementos na produção do seu trabalho?

RA: Vou lhe confessar uma histo-rinha. O povo da minha igreja, que tem acompanhado minha trajetória de longa data, brinca dizendo que eu comecei "fazendo teologia". Foi o início da nossa igreja, da qual sou fundador. Em 2012, comemoramos nossos 30 anos, e fui elei-to "presbítero emérito" pela comunidade. Dizem os mesmos irmãos que, passados os anos, comecei a escrever livros e arti-gos. E, não satisfeito, passei a publicá-los pela Comunicarte e no meu site. Mas a brincadeira continua: "agora, o Rubem passou a fazer poesias em músicas. Che-gou ao ápice da carreira. Não tem mais criança para criar, dedica-se às coisas do coração, como louvor e adoração”. Não fossem as imprecisões cronológicas, até seria uma boa visão do meu ministério. É que essas coisas aconteceram meio que ao mesmo tempo. Os livros são quase que crônicas das nossas reuniões semanais do conselho da igreja (toda segunda--feira, por 30 anos!). O cuidado com a comunicação vinha de uma grande pre-ocupação com um evangelismo honesto, não invasivo, mas próximo, afetuoso. Bem, chego à conclusão de que a brin-

cadeira tem muito de verdade, quando diz que, nos últimos tempos, fiquei mole e chorão; que baixei a voz e que tenho composto muito louvor. Sim, tenho até cântico em forma de chorinho, por que não? E tango, também. Mas o louvor, a adoração, o "entra no teu quarto", tem sido também uma síntese. É o que sobra, quando você começa a esquecer e precisa reler o próprio livro para dar um estudo. Mas eu respondo: sobra a melhor parte: a intimidade.

JNT: Os álbuns da sua discografia são compostos, em grande parte, de canções produzidas na vivência co-munitária da IPP. Qual é o papel da música na vida do homem?

RA: De fato, as músicas que temos produzido são resultantes da vida na igre-ja. E se você reparar, tomamos o cuidado de registrar essa informação. Acho que, ao incluir no "sistema operacional" do homem a sub-rotina da música, Deus o estava dotando de uma capacidade ímpar (um dom) de expressar emoções. Não tem jeito, música é expressão emocional. Aliás, a arte, em geral. Se a música permite à pessoa se expressar emocionalmente sobre qualquer tema, no culto isso se torna vital. É um momento em que podemos falar com o coração. Eu acho possível o louvor (dizer coisas boas sobre Deus ou para Deus) sem o coração. Veja o caso de Jonas. Mas não vejo como adorar sem o coração. Um coração magoado, frustrado não adora. Até presta culto, mas não adora. Claro, a adoração é muito mais que a música ou outras formas de arte. Mas é pelos cânticos que podemos fazê-lo de forma coletiva, adotando no coração dizeres e expressões da letra.

JNT: Estatísticas apontam uma tendência de crescimento vertigino-

so dos evangélicos no Brasil para os próximos anos. Na sua visão, surgirá uma igreja com outro perfil ou é a atual igreja que crescerá?

RA: Estou vendo surgir uma Igre-ja com perfil radicalmente diferente daquela do meu tempo de menino. Se é melhor ou pior, não sei dizer. Até porque ainda estamos dobrando a esquina. Ainda não sabemos o que seremos, feita a curva. Não é isso que significa "pós-modernidade"? Se é "pós" alguma coisa, é porque sabemos o que existiu anteriormente (a modernidade), mas o que somos agora, ainda não. O crescimento numérico da Igreja não me impressiona. Ao contrário, me assusta um pouco. Sabe aquela música do Tom Jobim: "Se todos fossem iguais a você"? Pois é, fico a imaginar um país composto por 100 milhões de rubens. E me per-gunto: seria um país melhor do que o de hoje? Mas é aí que está o nervo do dente. Eu peço a Deus uma Igreja que produza uma resposta positiva a essa pergunta. Aí, então, se ela crescer e tomar o Brasil para Cristo, eu direi: “aleluia!”. Mas, se não for assim, será que me alegrará esse crescimento vertiginoso? Mas, para não fugir à questão, eu acho que a nova Igreja terá um perfil diferente na sua forma, na sua expressão, no seu modo de se inserir na sociedade. Porém, espero que seja a mesma na sua base bíblica, no seu partir do pão, na sua esperança da glória, na sua comunhão, na sua de-pendência total do Espírito Santo para ser corpo de Cristo.

o crescimento numérico da Igreja não me impressiona. Ao contrário, me assusta um pouco

JNT: No livro Fábrica de Mis-sionários, o senhor defende que cada cristão é um missionário, indepen-dentemente se atua em áreas remo-tas ou não. Qual deve ser o principal foco do agente missionário hoje?

RA: Acho que Atos 1.8 nunca foi tão pertinente e definidor, ainda que deva ser lido metaforicamente. A metáfora é que Jerusalém vira a nossa cidade, nossa igreja, nosso lar; e Judeia, Samaria e confins vão sendo entendidos como o que você chama de áreas remotas. A meu ver, nunca foi tão importante olhar para Jerusalém (onde fica a fábrica de missionários). É onde se faz "missão", e não "missões". Não sei se você (e seus leitores) entendem assim, mas o plural, “missões”, sempre me fala de distância, de áreas remotas. Já “missão” me fala de aqui e agora. Se Jerusalém estiver desassistida, em breve a fábrica não produzirá mais missionários. Teremos que importá-los (da China, para variar?). Não diminuo em nada o olhar para a Judeia, Samaria e confins da terra. E louvo a Deus por aqueles que são chamados para longe. Mas quero dizer que não tenho medo de missionários (risos). Não aceito que sejam vistos como supercrentes, como "aqueles que realmente estão fazendo a obra". A ideia de que, quanto mais longe, maior é a obediência, não me convence. Cumprida a "missão domés-tica", teremos ensinado nossos filhos a amar ao Senhor e ao próximo como nos é recomendado em Deuteronômio 6.■

Para o presbítero, é importante que as igrejas fortaleçam o trabalho missionário local

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