Entrevista Do Crítico de Literatura Wilson Martins Por Observatório Da Crítica

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 www.obser vat or i odacr i t i ca.com.br

Ent r evi st a de Wi l son Mar t i nsEst ado de São Paul oDi sponí vel em: ht t p:/ / www.jor nal depoes i a.jor .br / ncour i 01c.ht mlacesso em: 16 dez. 2010

Nor ma Cour i ent r evi st a Wi l son Mar t i ns

Di z o poet a e cr í t i co Har ol do de Campos. "Wi l son af i r mou t ambémque Gui mar ães Rosa, mal or i ent ado pel os cr í t i cos, se est av a

per dendo em i nv enções f i l ol ógi cas, f ez cr uzada cont r a Paul oLemi nski ." E compl et a: "O Br asi l é o úni co paí s do mundo que t emuma hi st ór i a da i nt el i gênci a escr i t a por uma pessoa que não

pr i ma pel a i n t el i gênci a ."

El e v i veu 50 de seus 76 anos no har ém da l i t er at ur a br asi l ei r a

exer cendo seu of í ci o sagr ado, o de separ ar l i v r os bons dosr ui ns, cr i ando ami gos e mui t os desaf et os e pr ov ocando mui t apol êmi ca.

Cr í t i cos são como eunu cos num har ém: el es sabem como a coi sa é

f ei t a, mas el es mesmos são i ncapazes de f azer . Vi nganças comoest a do dr amat ur go i ngl ês Br endan Behan poder i am sercol eci onadas por Wi l son Mar t i ns, o úl t i mo moi cano da cr í t i cabr asi l ei r a no ent ender do ensaí st a José Paul o Paes. Os úl t i mos50 dos seus 76 anos, Wi l son passou no har ém l i t er ár i o br asi l ei r oexer cendo o of í ci o sagr ado e execr ado de cr i t i car . Met eu o dedona máqui na de escr ever el ét r i ca - el e det est a comput ador - ecr i t i cou de Gr aci l i ano Ramos - por t er seus t ext os segundo el eadul t er ados pel o Par t i dão - a Chi co Buar que, pel o que chamou der ecozi ment o de A Rev ol ução dos Bi chos, de Geor ge Or wel l , e Zer o,de I gnáci o de Loy ol a Br andão, par a f abr i car Fazenda Model o eEst or vo.Wi l son Mar t i ns at acou o poet a Paul o Lemi nski , ci dadão deCur i t i ba como el e, mexeu com a esquer da e a di r ei t a, f ut ucouf emi ni st as e homosexu ai s, bal ançou monst r os sagr ados, t ocou nosi nt ocávei s, passou mei o sécul o di zendo o que pensava. "Soma- se 52cr í t i cas por ano, uma por semana, há 50 anos e o r esul t ado são2,6 mi l i ni mi gos, quase o t ot al de escr i t or es do Paí s", di z opoet a Af f onso Romano de Sant 'Anna, ex- di r et or da Bi bl i ot eca

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Naci onal do Ri o, que v ê mui t os acer t os e poucos er r os no cr í t i co"que nun ca compact uou com gr upos, i deol ogi as, aut or es".At é o f i m do ano o Br asi l poder á conf er i r se esse cr í t i co f ezbem ou mal às l et r as do Paí s. At é l á sai o 14º e úl t i mo v ol umedos seus Pont os de Vi st a, uma col et ânea das cr í t i cas publ i cadasem quase t odos os gr andes jor nai s do Paí s desde 1954. "Ti ve o

bom senso de sacr i f i car as ant er i or es", di z. Os set e v ol umes dasua Hi s t ór i a da I nt el i gênci a no Br asi l , escr i t a há 20 anossobr e t udo o que f oi publ i cado no Br asi l desde 1500, f or amr el ançados pel a Secr et ar i a de Cul t ur a do Par aná numa cai xaespeci al ao pr eço de R$ 130,00. E a t er cei r a edi ção de A Pal av r aEscr i t a, uma hi st ór i a do l i v r o, da i mpr ensa e da bi b l i ot eca,t ambém sur gi r á at ual i zada. Neur ót i co por or dem, pont ual i dade er ot i na, Wi l son Mar t i ns vai dei xar a edi t or a T.A. Quei r ozaguar dando mai s um v ol ume dos Pont os de Vi st a at é o ano 2000 -mas el e não sabe se cont i nua. "Vão di zer , esse chat o ai ndacont i nua escr evendo?' A par t i r de 98 não sei onde eu est ar ei ,

nem onde est ar ão meus l i v r os".Também a edi t or a da Uni ver si dade do Par aná acaba de l ançar onúmer o 8 da sér i e Par anaenses, dedi cada a Wi l son Mar t i ns. Tr êsanos em Par i s como bol si st a, 30 nos Est ados Uni dos onde l eci onouna New Yor k Uni ver si t y, Wi l son Mar t i ns cur t e a aposent ador i aamer i cana e a br asi l ei r a escr evendo mai s cr í t i ca.O desaf et o de Mar t i ns, o escr i t or Si l v i ano Sant i ago r et r at ou ocr í t i co em St el l a Manhat t an (Rocco) como um pr of essor dedo- dur oque l eci onav a numa uni ver si dade amer i cana."Não é um cr í t i co, é um homem equi v ocado, um er udi t o que car r egauma car ga enor me de l i v r os nas cost as, mas, quando t em de

aval i ar , def i ne Ér i co Ver í ssi mo como escr i t or de vanguar da, enão Oswal d de Andr ade", di z o poet a e cr í t i co Har ol do de Campos."Wi l son af i r mou t ambém que Gui mar ães Rosa, mal or i ent ado pel oscr í t i cos, se est ava per dendo em i nv enções f i l ol ógi cas, f ezcr uzada cont r a Paul o Lemi nski ." E compl et a: "O Br asi l é o úni copaí s do mundo que t em uma hi st ór i a da i nt el i gênci a escr i t a poruma pessoa que não pr i ma pel a i nt el i gênci a.""A Hi st ór i a da I n t el i gênci a no Br asi l é o l i v r o mai s bur r o que j á l i , escr i t o por um r eaci onár i o", di sse na época o an t r opól ogoDar cy Ri bei r o.Nem só de bor doadas vi v eu o cr í t i co nest e mei o sécul o. No ar t i goque i n t i t u l ou Um I n t el ect ual Br asi l ei r o Sér i o, Pau l o Fr anci scont est ou o cr í t i co: "É f at o que Gui mar ães Rosa é super est i mado,mas é um gêni o". Fr anci s af i r mou: "Nossa hi st ór i a dai nt el i gênci a f ei t a a sér i o caber i a em 50 l audas de j or nal " . Masdi sse ser admi r ador de Mar t i ns, com cr í t i cas "mui t o di f er ent esda bobajada met al i ngüí st i ca dos acadêmi cos ou do `v ocê esf r egami nhas cost as que eu esf r ego as t uas'". "Ni nguém mai s no Br asi lf az cr í t i ca como el e", di z o f undandor da Casa Ruy Bar bosa e dosmel hor es sar aus l i t er ár i os car i ocas, Pl í n i o Doy l e.

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"O acent uado comer ci al i smo da i mpr ensa, que a t or na quasei ndi st i nguí vel do mar ket i ng, não of er ece sobr ev i vênci a aocr í t i co l i t er ár i o - Wi l son Mar t i ns é o ú l t i mo" , di z sempr e quepode o ensaí st a, poet a e t r adut or José Paul o Paes.Fi r me na opi ni ão de que não t êm sur gi do gr andes l i v r os noBr asi l depoi s do moder ni smo, úl t i mo moment o de cr i ação

l i t er ár i a, e bat endo f or t e em aut or es como João Ubal do, quesegundo el e per deu mui t o ao se dei xar "medusar " por Jor geAmado, por sua v ez t ambém "medusado" pel a esquer da, Wi l sonsegue i mbat í vel na demol i ção de r esenhi st as bajul ador es ouacadêmi cos est ér ei s que não cr i am l ei t or .Úl t i mo cr í t i co da escol a f r ancesa do Br asi l a exer cer o que seconv enci onou chamar cr í t i ca de r odapé, por que cor r i a embai xodas pági nas l i t er ár i as sem dei xar f al t ar i ngr edi en t e ao l ei t or ,Wi l son Mar t i ns aut odef i ne- se como"o úl t i mo di nossaur o sol t opel as r uas".

Est ado - O senhor f oi o cr í t i co que mai s t empo r esi st i u aocombat e, mai s que Tr i st ão de At hayde, Sér gi o Buar que, Ál var oLi ns, Sér gi o Mi l l i et .

Wi l son Mar t i ns  - Tenho mai s t empo do que qual quer um. Al i ás,subst i t u í o Sér gi o Mi l l i et por que el e andava enf adado de f azercr í t i ca. Sou o mai s ant i go, que é uma manei r a del i cada de di zer"o mai s v el ho".

Est ado - O senhor sent i u- se r espei t ado por out r os cr í t i cos?

Wi l son Mar t i ns -   Depende. O José Ramos Ti nhor ão de vez emquando me dava uma al f i net ada, l evei vár i as no penúl t i mo l i vr odel e sobr e a músi ca no r omance br asi l ei r o. Duas pági nas emsegui da el e concor dava comi go, f i cou empat ado. De out r oscr í t i cos, como Sér gi o Mi l l i et e Ant oni o Cândi do, f ui ami gopessoal . Foi Ál v ar o Li ns quem r ecomendou meu pr i mei r o l i v r o decr í t i ca par a a edi t or a José Ol y mpi o. Sér gi o Buar que eu sóconheci a de vi st a.

Est ado - O senhor não se dava com a esquer da br asi l ei r a?

Wi l son Mar t i ns -   Por t emper ament o, sempr e me consi der eieqüi di st ant e t ant o da esquer da como da di r ei t a. Mas àquel aal t ur a não ser de esquer da s i gni f i cava ser de di r ei t a, n i nguémf al ava mai s nel e. Não er a i nt egr al i st a, escapei por mi l agr e deser comun i st a, mas nenhum membr o do Par t i do Comuni st a f al avacomi go. Como mor av a em Cur i t i ba, consegui não me agr egar a umgr upo. Mas uma pessoa i ndependent e acaba mal v i st a pel os doi sl ados.

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 Est ado - O senhor acha que só mant eve essa I ndependênci a porser do Par aná?

Wi l son Mar t i ns - Eu a t er i a mant i do em qual quer l ugar , não soude me apai xonar nem por par t i dos nem por í dol os de f ut ebol . Um

ami go di zi a que eu er a f r i o, seco.

Est ado - O senhor concor da?

Wi l son Mar t i ns -   Ao cont r ár i o. Sou emot i v o e sor r i dent e, masessa condi ção de l obo da est epe me conv ém.

Est ado - É a úni ca manei r a de ser um cr í t i co i ndependent e?

Wi l son Mar t i ns -   É. A cr í t i ca é uma ar t e di f í ci l , são poucos osque f i cam na h i st ór i a l i t er ár i a. For a di sso, o cr í t i co est ar á

sempr e agr egado ou a uma cor r ent e de pensament o ou a um gr upo,o que vi ci a o j ul gament o. Não há nada mai s f áci l do que acr í t i ca par a aquel es que se acr edi t am cr í t i cos.

Est ado - A escr i t or a f r ancesa Mar guer i t e Dur as nuncar econheceu na cr í t i ca um l i vr o que havi a l i do, e só se gui avapel a opi ni ão de ami gos em quem conf i ava.

Wi l son Mar t i ns -   Não é um cr í t i co que f or ma opi ni ão. É umconju nt o de pont os de v i st a. Um cr í t i co é usado por cer t acamada da popul ação que t em os mesmos gost os, i dent i dade e

i deol ogi a. Os que per t encem a um campo di f er ent e não ser econhecem nel e. Pessoas que se di zem gui ar pel a cr í t i ca or alest ão comet endo um er r o de per spect i v a: por que os ami gos l er amas cr í t i cas. A cr í t i ca or al é poder osa e o que se acaba f or mandoé a médi a de opi ni ão.

Est ado - Qual o cr í t i co, ent r e os mai s novos, que o senhorr espei t a?

Wi l son Mar t i ns -   Last i mo, e é f ei o o que v ou di zer . Mas el a nãoexi st e. A cr í t i ca pr opr i ament e di t a desapar eceu, aquel es l ongosest udos de r odapé est ão sepul t ados, supl ement os cul t ur ai s dehoje publ i cam r esenhas, el egem mi l har es de gêni os, um ou out r oar t i go mai s sér i o a r espei t o de um aut or , mas dent r o daper spect i va do novo j or nal i smo, f undado nas i magens, nas f ot os,nos desenhos e nos t í t ul os. Quant o menos t ext o, mel hor .

Est ado - Uma espéci e de jor nal i smo vi deocl i pe?

Wi l son Mar t i ns -   Exat ament e. Tant o que subst i t uí r am o t í t ul o

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Supl ement o Li t er ár i o por Supl ement o de Cul t ur a. Quer em t r at arde t udo, da músi ca popul ar , do t eat r o, das v i agens.

Est ado - Quem o senhor consi der a um bom jor nal i st a de opi ni ão?

Wi l son Mar t i ns - Paul o Fr anci s er a. Cer t o, er r ado, mas comcor agem, o que é uma gr ande qual i dade, e um apai xonado por seuspont os de v i st a. Um pouco i mpul si vo, af i r mava coi sas que nãot i nha vi st o di r ei t o, mas assi m mesmo i ncl uo o Paul o Fr anci s nagal er i a dos gr andes jor nal i st as dest e sécul o. Fi z mui t ascr í t i cas desf avor ávei s sobr e os r omances del e e el e di zi a que oúni co cr í t i co que el e r espei t ava no Br asi l er a eu.

Est ado - O que o senhor consi der a um bom cr í t i co?

Wi l son Mar t i ns -   T.S. El l i ot di zi a que par a ser cr í t i co só há um

mét odo, ser mui t o i nt el i gent e. E quando di zi am que os cr í t i coser r avam mui t o el e r espondi a: "Os escr i t or es t ambém." Cr í t i co nãose f az por f or mação, ser cr í t i co é uma v ocação. Espont ânea,i nst i nt i v a. Apost o no Mi guel Sanches Net o. A f or mação hoj et ambém se f az assi m mas há uma gr ande di f er ença de qual i dade. Oensi no em ger al decai u mui t o e os pr of essor es uni ver si t ár i os seencami nhar am par a as t eor i as l i t er ár i as, não par a a l i t er at ur a.Em v ez de expl i car os l i v r os, ex pl i cam t eor i as. Essespr of essor es uni ver si t ár i os escr ev em l ongos ensai os achando queescr evem uma cr í t i ca.

Est ado - O que di f er enci a um ensai o de uma cr í t i ca?Wi l son Mar t i ns -   Você f az o ensai o depoi s que a cr í t i ca f oif ei t a, cr í t i co é aquel e homem que l ê o que acaba de sai r e est i cao pescoço par a a gui l hot i na num pr i mei r o ju l gament o. Reaf i r mav er dades i mpopul ar es. Penso numa vel ha f r ase do Vi ct or Hugo: "Ocr í t i co deve most r ar se o l i vr o é bom ou r ui m." Só o t empo v aimost r ar se el e t em ou não r azão. Jor ge Lui s Bor ges decl ar ou quedaqui a 50 anos, ao se f al ar nos escr i t or es do sécul o 20, ser ãomenci onados nomes que ni nguém ouv i u f al ar . Enquant o apost er i dade não v em, o cr í t i co é v i st o com r eser v a.

Est ado - Har ol do de Campos di z que o senhor , em ger al , é umhomem equi vocado.

Wi l son Mar t i ns -   El e di z que f i z cr uzada cont r a o Paul oLemi nski , e eu só escr ev i de passagem sobr e el e. Consi der oLemi nski um poet a l i do er r adament e e super v al or i zado. Mas adi scor dânci a com os i r mãos Campos vem de l onge.

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 Est ado - Est á na r ai z da di scor dânci a sobr e a poesi a concr et a?

Wi l son Mar t i ns -   Nunca f ui ent usi ast a do concr et i smo, quet r ansf or mou t ant o a mansão da cr í t i ca br asi l ei r a a pont o det or ná- l a i nabi t ável - não ex i st e i nven t ár i o pu r amen t e

ci ent í f i co, como o do João Cabr al de Mel l o Net o, sem l i r i smo er et ór i ca não há poesi a. Mas a par t i r dos meus coment ár i o osi r mãos Campos t or nar am- se adver sár i os de opi ni ão, di zendo queescr ev i uma hi st ór i a da i nt el i gênci a sem ser mui t o i n t el i gent e.Mi nha modést i a me obr i ga a concor dar . Dar cy Ri bei r o não di zi aque A Hi s t ór i a da I nt el i gênci a é o l i v r o mai s bur r o que já seescr eveu no Br asi l ? São i nsul t os. Raci oci nar por mei o dei nsul t os f az ef ei t o mas não s i gni f i ca nada.

Est ado - Dar cy t i nha uma pr esença, os i r mãos Campos são mei ogur us, i sso não l he i ncomoda?

Wi l son Mar t i ns -   A par t i r de cer t o moment o o cr í t i co passa aencar ar t udo como j ogo nor mal da v i da l i t er ár i a. Os i r mãosCampos di zem que eu at aquei Gui mar ães Rosa, mas o pr ópr i o Rosadecl ar ou nos escr i t ór i os da José Ol y mpi o que eu e Ant oni oCândi do er amos os úni cos cr í t i cos que acei t ar i a nos pr ef áci os deseus l i v r os.

Est ado - O senhor cont i nua achando que f oi Ér i co Ver í ssi mo enão o Oswal d de Andr ade o gr ande escr i t or de vanguar da doBr asi l ?

Wi l son Mar t i ns -   O Ér i co é o gr ande i nj ust i çado desse per í odot odo. Já naquel a al t ur a el e er a consi der ado um bur guês, umhomem que não er a de esquer da - el e, al i ás, passou o r est o dav i da t ent ando most r ar que er a de esquer da, o mai s esquer di st ade t odos, ni ngu ém acei t av a. É um escr i t or esqueci do. Agor a, essasr eações e f ant asi as são de pessoas com r ai v a da hi st ór i a, quequer em va r r er o Ér i co da h i st ór i a da l i t er at u r a b r asi l ei r a.

Est ado - Há f i gur as como Jor ge Amado, dos escr i t or es que mai svendem f or a do Paí s, e suas cr í t i cas não t êm si do f avor ávei s.

Wi l son Mar t i ns -   As pessoas embu r r am como se eu escr evesseof ensas pessoai s e di zem que me cont r adi go quan do gost o de uml i v r o de um aut or , e do segui nt e, não. Não escr ev o sobr e aut or es,escr evo sobr e l i v r os. Na cr í t i ca sér i a não há aut or , há soment eo t ex t o. Jor ge Amado escr eve há 60 anos, ao l ongo da v i dapubl i cou l i v r os bons e l i v r os menos bons. El ogi ei os bons, masnão r ecuei quando o l i v r o er a r ui m. Al ém di sso, est eve dur ant e

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uma gr ande par t e da sua car r ei r a "medusado" pel o r eal i smosoci al i s t a que est r agou boa par t e do t r abal ho.

Est ado - O senhor di sse o mesmo do João Ubal do, "medusado porAmado". É um at aque ao popul i smo l i t er ár i o?

Wi l son Mar t i ns -   Não, é um ar t i go i sent o que est uda o car át erdas obr as del e. Sempr e me consi der ei um admi r ador da obr a doJoão Ubal do e o Jor ge Amado, apesar de t udo, sempr e conser v oucomi go uma espéci e de camar adagem l i t er ár i a. Não é meu ami go,mas não passou par a o i nsul t o, sal v o i ndi r et ament e, pequenascoi sas que a gent e ouv e aqui e al i . Se el e escr ever out r o l i vr o,v ou j ul gar como se est i v esse começando a car r ei r a.

Est ado - Al i ás, do Ant ôni o Cal l ado o senhor sempr e pr ef er i u osl i vr os do começo de car r ei r a.

Wi l son Mar t i ns - Quem descobr i u o Ant ôni o Cal l ado f ui eu. Fi z opr i mei r o ar t i go el ogi oso sobr e o l i vr o de est r éi a del e, Assunçãode Sal vi ano. Mas escr ev i sobr e t odos, e consi der ei Quar up dosgr andes r omances do nosso t empo, mas não posso negar queRef l exos do Bai l e é uma obr a i nf er i or .

Est ado - Como o senhor se def ende dos aut or es br asi l ei r osdepoi s de af i r mar que o mai or escr i t or vi vo de l í nguapor t uguesa é José Sar amago?

Wi l son Mar t i ns -   Não me def endo. Par a mi m, el e é e cont i nu a

sendo. Quan do decl ar ei i sso, sabi a que est ava mexendo numv espei r o.

Est ado - Esse vespei r o est á bem vi vo. O senhor não devol ve asf er r oadas?

Wi l son Mar t i ns - Nun ca dev ol v i . Quando acont ece ser umai nv er dade, escl ar eço, mas não posso esper ar que t odo mun do gost ede mi m. Todo mundo gost a dos cr í t i cos bonzi nhos por que sãoanódi nos.

Est ado - Jô Soar es r ecl amou quando o senhor di sse que, aopr et ender f azer um r omance pol i ci al , el e cai u no hi st ór i co em OXangô de Baker St r eet .

Wi l son Mar t i ns -   El e não, mas cr i ei um caso com essa hi st ór i a eout r a com o r omanci nho daquel e meni no, f i l ho do Sér gi oBuar que.

Est ado - Chi co Buar que.

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 Wi l son Mar t i ns - É um cant or popul ar í ssi mo, mas f az l i t er at ur ade amador .

Est ado - O Chi co r eagi u?

Wi l son Mar t i ns -   El e não, mas o Caet ano Vel oso f oi aoFant ást i co na Gl obo di zer que meu ar t i go er a uma por car i a. Nãor econheço no Caet ano aut or i dade nenhuma par a jul garl i t er at ur a, nem mesmo os meus ar t i gos.

Est ado - O senhor vê a l i t er at ur a do Paul o Coel ho como amador ?

Wi l son Mar t i ns -   Paul o Coel ho não é f enômeno l i t er ár i o. Dopont o de v i st a l i t er ár i o el e não é nada. Como f enômeno, el e ésoci ol ógi co. Responde a um est ado de espí r i t o gener al i zado e f azsucesso no mun do i nt ei r o. Pega par ábol as bí bl i cas e r eescr ev e

secul ar es l endas ár abes, col a aqui l o t udo e f az o l i v r o. Umaespéc i e de v i dent e. A i n jus t i ça é ju l gar i sso como l i t er at ur a.

Est ado - Paul o Coel ho di z que os cr í t i cos só gost am do que nãovende.

Wi l son Mar t i ns -   Fal sa i mpr essão. Os cr í t i cos de cer t a cat egor i a j u l gam os l i v r os por mei o de um escal ão. Ent endo que al gu nsdesses l i v r os se t or nem compl exos par a quem só assi st e à novel a.A di f er ença é o ní vel i nt el ect ual . Quant os mai s r ádi os egel adei r as t emos, menos númer o de pal av r as empr egamos.

Cami nhamos assi m de v ol t a par a a f l or est a nat al , car r egados deapet r echos que nos f aci l i t am pul ar de um gal ho a out r o.

Est ado - Mas o senhor t ambém cr i t i cou o Nél son Rodr i gues, queer a popul ar .

Wi l son Mar t i ns -   Popul ar í ssi mo, f i cou mai s ai nda depoi s dabi ogr af i a do Ruy Cast r o que, na ver dade, r ei nv ent ou o Nél son,conf er i u a el e uma est at ur a que el e não t i nha e que sua obr a,mar cada pel a psi canál i se amador a, não ju st i f i ca. É pr eci soescl ar ecer um dos gr andes mal - ent endi dos dest e sécul o. O sucessode Vest i do de Noi v a deve- se à mont agem do Zi embi nsk i . As peçasdo Nél son são pr ov ocat i v as, f amí l i as com 15 adul t ér i os, um casoa est udar acr esci do da r econst r ução que o l i v r o do Ruy Cast r oexecut ou.

Est ado - O senhor é cont r a bi ogr af i as?

Wi l son Mar t i ns -   Bi ogr af i as são um f enômeno, mas por enquan t oest ão mui t o enev oadas, engol i das com mui t a f aci l i dade pel os

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7/23/2019 Entrevista Do Crítico de Literatura Wilson Martins Por Observatório Da Crítica

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l ei t or es br asi l ei r os. Passamos a encar ar o Nél son pel o ol har doRuy Cast r o. É como o Sábat o Magal di , que est á f azendo uma obr ai mpor t ant e sobr e o Nél son mas naquel a base, t i r ando o que nãopr est a. Aí , o que sobr a é mui t o bom. O t i po do j ul gament o que eunão consi go compr eender .

Est ado - Quai s os bons l i vr os do moment o?

Wi l son Mar t i ns -   O Br asi l est á sempr e à esper a de gêni os e seesquece de que é a l i t er at ur a médi a de boa qual i dade que cr i a aat mosf er a i nt el ect ual , o cal do de cul t ur a de onde sur gi r á ogr ande cr í t i co, o gr ande escr i t or . O Br asi l l ouva em excesso,super est i ma aut or es.

Est ado - O senhor f al ou mui t o de escr i t or es homens. A pr oduçãof emi ni na não anda gr ande coi sa?

Wi l son Mar t i ns -   Tem Rachel de Quei r oz, Ly gi a Fagundes Tel l es,Cl ar i ce Li spect or e a Mar i a Cr i st i na Al buquer que. Em ger al , nãohá uma gr ande pr odução f emi ni na ou f emi ni st a, o que t emapar eci do no Br asi l é mui t o r ei v i ndi cat i vo do t i po " f az anosque somos r epr i mi das". O que não dei xa de ser ver dade, mas opr obl ema não é r ecl amar , é apar ecer uma boa obr a l i t er ár i a. Sei sso acont ecer , t ant o f az que o aut or sej a homem, mul her ,homossexual .

Est ado - Aut or ou o per sonagem?

Wi l son Mar t i ns - Est ão apar ecendo l i vr os e l i vr os sobr eper sonagens homossexuai s, que assumi r am col et i v ament e na v i dae na obr a uma at i t ude pol êmi ca. Como se qui sessem t or nar ohomossexual i smo obr i gat ór i o. A ver dade é que t ambém nesse casonão apar eceu a gr ande obr a. O amor homossexua l par ece ummi met i smo dos amor es da l i t er at ur a cl ássi ca.