Entrevista Luiz Barretto

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4 negócios H H H DOMINGO, 11 DE DEZEMBRO DE 2011 ab CAMILA MENDONçA DE SãO PAULO O próximo ano será de in- vestimento em inovação nas micro e pequenas empresas. Quem afirma é o presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Luiz Barretto. O primeiro passo será do- brar o número de agentes que acompanham negócios e su- gerem soluções durante dois anos. A ideia é passar de 500 para 1.000 especialistas. A área também deve rece- ber investimento de R$ 800 milhões nos próximos três anos, segundo Barretto. Em entrevista à Folha, ele adianta as novidades em ino- vação e faz um balanço sobre a Lei Geral das Micro e Peque- nas Empresas, que completa cinco anos neste mês. H Folha - O que motiva o empre- endedorismo no país? Luiz Barretto - Um dos mo- tivos é o Supersimples, que conseguimos atualizar [hou- ve redução de tributação para pequenas empresas] em 2011. Outro aspecto é a melhora da economia. O Brasil ainda vive um momento especial. O último é a capacitação —o empresário brasileiro tem feito mais treinamento e me- lhorado o grau de educação formal da mão de obra. Antes, ele era centrado no ensino fundamental. Agora, 51% dos donos de pequenos negócios têm ensino médio. Hoje, 73% das empresas sobrevivem nos dois primei- ros anos. Há dez anos, esse índice era em torno de 50%. O grau de sustentabilidade melhorou. Não significa que está tudo uma maravilha, mas os indicadores demons- tram essa perspectiva. A cada três empresas abertas, duas são por oportunidade e uma por necessidade. Hoje 27% das micro e peque- nas empresas fecham nos dois primeiros anos de vida. O que as faz sucumbir? Isso é natural em países ca- pitalistas, e é bom que ocorra. A média mundial é de 20%. Uma parte da mortalidade vem de quem empreende por necessidade: não faz um bom plano e não tem capital. PRESIDENTE DO SEBRAE DIZ QUE CRéDITO é INSUFICIENTE E QUE O IDEAL SERIA CRIAR UMA ESPéCIE DE ‘SIMPLES TRABALHISTA’ ENTREVISTA LUIZ BARRETTO Projetos em inovação são foco no ano que vem Aquela máxima de que ‘meu avô sempre fez assim, meu pai também fez assim’ não tem mais sentido. Se o empresário não estudar, não entender seu negócio e não se relacionar melhor com seus clientes, certamente não terá uma empresa viável é natural que a gente bai- xe esse índice para 24%, mas abaixo de 20% é difícil. O que ainda impede o cres- cimento das microempresas? O crédito melhorou muito, mas é insuficiente. Temos de pensar no microempreende- dor individual e no micro- empresário —aumentar as possibilidades de ter crédito facilitado e de ter um regime que não é somente baseado em juros mais baixos. Nas questões trabalhistas, as grandes e as pequenas empresas pagam os mesmos encargos. Talvez uma agenda moderna seja criar um “Sim- ples trabalhista”. A inovação é outro tema importante, não apenas do ponto de vista tecnológico, mas do de gestão. O conceito de inovação ainda não é pouco palpável? O conceito de inovação não é tese sociológica, mas ques- tão de sobrevivência. Inovar significa ganhar competitivi- dade. Não é apenas inovação em produtos, mas em gestão. Como está a agenda de inova- ção do Sebrae? Investiremos R$ 800 mi- lhões em inovação nos pró- ximos três anos. Tínhamos a meta de atender a 30 mil em- presas neste ano e chegamos a 48 mil. Queremos atender a 70 mil em 2012. Estamos reforçando o tra- balho do ALI [agente local de inovação, que acompanha empresas por dois anos]. Pre- tendemos dobrar de 500 para 1.000 agentes. Acompanhando microem- presas, temos 1.200 agentes de negócios. Quero aumentar esse número em pelo menos 20% em 2012. A Lei Geral da Micro e Peque- na Empresa completa cinco anos neste mês. Quais os ga- nhos e o que precisa mudar? O balanço é positivo. A tese de que um regime tribu- tário diferenciado diminui arrecadação [porque reduz encargos de pequenas em- presas] foi uma falácia, por- que a formalização cresceu. Há cinco anos, 1,5 milhão de empresas estava enqua- drada no Simples; hoje são quase 6 milhões. NOME E FORMAÇÃO Luiz Eduardo Barretto Filho, 49, sociólogo CARGO Presidente do Sebrae, eleito para o mandato 2011-2014 TRAJETÓRIA De 2008 a 2010, foi ministro do Turismo e já ocupou o posto de secretário de Indústria, Comércio e Abastecimento da Prefeitura Municipal de Osasco (SP) RAIO-X 1,9 milhão é o número de empreende- dores formalizados em 2011 69,3% de pequenos negócios estão em cidades do interior 2.000 municípios no país não regulamentaram a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa 2,3 MILHõES de brasileiros se tornaram empresários de 2001 a 2009 27 EM CADA 100 micro e pequenos negócios fecham em 2 anos Fonte: Sebrae Nacional PEQUENOS NEGÓCIOS EM NÚMEROS Alan Marques/Folhapress O presidente do Sebrae, Luiz Barretto

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Folha de S.Paulo

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4 negócios H H H Domingo, 11 DE DEzEmbro DE 2011 ab

camilamendonçade são paulo

O próximo ano será de in-vestimento em inovação nasmicro e pequenas empresas.Quem afirma é o presidentedoSebrae (ServiçoBrasileirodeApoioàsMicroePequenasEmpresas), Luiz Barretto.O primeiro passo será do-

braronúmerodeagentesqueacompanhamnegócios e su-geremsoluçõesdurantedoisanos. A ideia é passar de 500para 1.000 especialistas.A área também deve rece-

ber investimento de R$ 800milhões nos próximos trêsanos, segundo Barretto.Em entrevista à Folha, ele

adiantaasnovidadesemino-vaçãoe fazumbalançosobreaLeiGeraldasMicroePeque-nas Empresas, que completacinco anos neste mês.

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Folha -Oquemotivaoempre-endedorismo no país?Luiz Barretto -Umdosmo-

tivos é o Supersimples, queconseguimos atualizar [hou-vereduçãodetributaçãoparapequenasempresas]em2011.Outro aspecto é a melhora

da economia. O Brasil aindavive ummomento especial.O último é a capacitação

—oempresáriobrasileiro temfeito mais treinamento e me-lhorado o grau de educaçãoformal damão de obra.Antes, ele era centrado no

ensino fundamental. Agora,51% dos donos de pequenosnegócios têm ensinomédio.Hoje, 73% das empresas

sobrevivem nos dois primei-ros anos. Há dez anos, esseíndice era em torno de 50%.Ograudesustentabilidade

melhorou. Não significa queestá tudo uma maravilha,mas os indicadores demons-tramessaperspectiva.Acadatrês empresas abertas, duassão por oportunidade e umapor necessidade.

Hoje 27%dasmicro e peque-nasempresasfechamnosdoisprimeirosanosdevida.Oqueas faz sucumbir?Issoénaturalempaísesca-

pitalistas,eébomqueocorra.Amédiamundial é de 20%.Uma parte da mortalidade

vemdequemempreendepornecessidade:nãofazumbomplano e não tem capital.

PRESIdENtEdOSEBRAEdIzQUEcRédItOé INSUfIcIENtEEQUEOIdEALSERIAcRIARUMAESPécIEdE ‘SIMPLEStRABALHIStA’

entrevista luiz barretto‘Projetos eminovaçãosão foconoanoquevem

“ Aquelamáximadeque‘meuavô semprefez assim,meupaitambém fez assim’não temmaissentido. Se oempresário nãoestudar, nãoentender seunegócio e não serelacionarmelhorcomseus clientes,certamente não teráumaempresa viável

é natural que a gente bai-xe esse índice para 24%,masabaixo de 20% é difícil.

O que ainda impede o cres-cimentodasmicroempresas?O créditomelhoroumuito,

mas é insuficiente. temos depensar no microempreende-dor individual e no micro-empresário —aumentar aspossibilidades de ter créditofacilitado e de ter um regimeque não é somente baseadoem jurosmais baixos.Nas questões trabalhistas,

as grandes e as pequenasempresas pagam os mesmosencargos.talvezumaagendamoderna seja criar um “Sim-ples trabalhista”.A inovação é outro tema

importante, não apenas doponto de vista tecnológico,mas do de gestão.

Oconceitode inovaçãoaindanão é pouco palpável?Oconceitodeinovaçãonão

é tese sociológica, mas ques-tão de sobrevivência. Inovarsignifica ganhar competitivi-dade. Não é apenas inovaçãoemprodutos,mas emgestão.

Comoestáaagendade inova-ção do Sebrae?Investiremos R$ 800 mi-

lhões em inovação nos pró-ximos três anos. tínhamos ameta de atender a 30mil em-presas neste ano e chegamosa48mil. Queremos atender a70mil em 2012.Estamos reforçando o tra-

balho doALI [agente local deinovação, que acompanhaempresaspordois anos]. Pre-tendemosdobrarde500para1.000 agentes.Acompanhando microem-

presas, temos 1.200 agentesdenegócios.Queroaumentaresse número em pelo menos20% em 2012.

ALei Geral daMicro e Peque-na Empresa completa cincoanos neste mês. Quais os ga-nhos e o que precisamudar?O balanço é positivo. A

tese de que um regime tribu-tário diferenciado diminuiarrecadação [porque reduzencargos de pequenas em-presas] foi uma falácia, por-que a formalização cresceu.Há cinco anos, 1,5 milhão

de empresas estava enqua-drada no Simples; hoje sãoquase 6milhões.

NOME E FORMAÇÃOLuiz Eduardo Barretto Filho,49, sociólogo

CARGOPresidente do Sebrae, eleitopara omandato 2011-2014

TRAJETÓRIADe 2008 a 2010, foi ministrodo Turismo e já ocupouo posto de secretário deIndústria, Comércio eAbastecimento da PrefeituraMunicipal de Osasco (SP)

raio-x

1,9 milhãoé o número de empreende-dores formalizados em 2011

69,3%de pequenos negócios estãoem cidades do interior

2.000municípios no país nãoregulamentaram a Lei Geralda Micro e Pequena Empresa

2,3 milhõesde brasileiros se tornaramempresários de 2001 a 2009

27 em cada 100micro e pequenos negóciosfecham em 2 anos

Fonte: sebrae Nacional

pequenos neGÓciosEm nÚmEroS

alan Marques/Folhapress

o presidentedo sebrae,luiz Barretto