Entrevista - Memórias de Um Trader (25.04.2002)

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Publicado em: 25/4/2002 http://www.global21.com.br/entrevistas/entrevista.asp?cod=177 Roberto Giannetti da Fonseca: "Memórias de um Trader" é leitura obrigatória para quem atua no Comércio Exterior brasileiro Ele era um economista, formado pela USP, que conhecia muito pouco dos meandros do comércio internacional. Foi lançado às feras, como ele mesmo diz. Na marra, aprendeu cada lição com a memória de um trader e hoje é o homem forte do Governo quando o assunto é exportação. O mineiro Roberto Giannetti da Fonseca, atual Secretário-executivo da Camex, a Câmara de Comércio Exterior da Presidência da República, tem uma grande trajetória. Além de empreendedor, lança-se agora também como escritor. O livro “Memórias de um Trader” é uma excelente história que conta três décadas das mais interessantes do comércio exterior brasileiro. Lançado pela Editora IOB Thomson, a obra conta numa linguagem simples e envolvente como foi sendo formado o comércio exterior no país e o espírito empreendedor dos empresários nacionais. Nela, o leitor, seja um estreante no ramo, ou um experiente profissional, irá encontrar passagens marcantes da economia do país, cujo relato, na expectativa do autor, pretende contribuir com o crescimento e melhoria dos negócios do Brasil com os mercados externos. Os capítulos do livro são verdadeiras aventuras, histórias de bastidores, como o resgate do executivo brasileiro preso na Nigéria, numa operação batizada de "Queda do urubu". O Global 21 entrevistou Roberto Giannetti da Fonseca sobre sua experiência e as mudanças no cenário apresentadas no livro. G21 - Nas 330 páginas de “Memórias de um Trader” o sr. relata três décadas do comércio exterior brasileiro. O que mudou neste período? Roberto Giannetti da Fonseca: O comércio exterior brasileiro mudou muito neste tempo. Houve uma grande evolução. A pauta

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http://www.global21.com.br/entrevistas/entrevista.asp?cod=177

Roberto Giannetti da Fonseca: "Memrias de um Trader" leitura obrigatria para quem atua no Comrcio Exterior brasileiroEle era um economista, formado pela USP, que conhecia muito pouco dos meandros do comrcio internacional. Foi lanado s feras, como ele mesmo diz. Na marra, aprendeu cada lio com a memria de um trader e hoje o homem forte do Governo quando o assunto exportao. O mineiro Roberto Giannetti da Fonseca, atual Secretrio-executivo da Camex, a Cmara de Comrcio Exterior da Presidncia da Repblica, tem uma grande trajetria. Alm de empreendedor, lana-se agora tambm como escritor. O livro Memrias de um Trader uma excelente histria que conta trs dcadas das mais interessantes do comrcio exterior brasileiro. Lanado pela Editora IOB Thomson, a obra conta numa linguagem simples e envolvente como foi sendo formado o comrcio exterior no pas e o esprito empreendedor dos empresrios nacionais. Nela, o leitor, seja um estreante no ramo, ou um experiente profissional, ir encontrar passagens marcantes da economia do pas, cujo relato, na expectativa do autor, pretende contribuir com o crescimento e melhoria dos negcios do Brasil com os mercados externos. Os captulos do livro so verdadeiras aventuras, histrias de bastidores, como o resgate do executivo brasileiro preso na Nigria, numa operao batizada de "Queda do urubu". O Global 21 entrevistou Roberto Giannetti da Fonseca sobre sua experincia e as mudanas no cenrio apresentadas no livro.

G21 - Nas 330 pginas de Memrias de um Trader o sr. relata trs dcadas do comrcio exterior brasileiro. O que mudou neste perodo? Roberto Giannetti da Fonseca: O comrcio exterior brasileiro mudou muito neste tempo. Houve uma grande evoluo. A pauta de exportaes foi diversificada, novos mercados foram incorporados no processo de exportaes e tivemos uma evoluo tecnolgica no pas, especialmente no setor das comunicaes. Apesar da crise mundial, houve uma expanso muito significativa, trs vezes superior ao PIB. O comrcio exterior brasileiro mudou mais at do que outros mercados, tanto em volume quanto em insero no comrcio mundial. Na fase de 85-89 vivemos no pas um forte vis anti-exportao, com crise de crdito, sobrevalorizao cambial e nfase ao mercado interno o que desestimulou os exportadores. Com a mudana do regime cambial, em 1994, comeou ento um novo ciclo de investimentos.

G21 - De todos estes momentos, quais foram os fatos mais marcantes, tanto no aspecto positivo quanto negativo? Roberto Giannetti da Fonseca: O fato mais marcante foi, sem dvida, a diversificao da pauta de exportaes o que tornou o Brasil um pas com razovel amplitude e diversidade de produtos no exterior. Costumo dizer que vendemos desde minrio de ferro a avio. Onde ns falhamos foi na desonerao tributria, financiamento e logstica competitiva. A perdemos a oportunidade de avanar. Dois pases que fazem inveja so o Mxico e a China. O Mxico passou por duas crises, em 82 e 95, mas multiplicou o seu comrcio dezenas de vezes. Em 1980, exportava US$ 12 bilhes e agora US$ 160 bilhes. J a China, em 85, tinha o mesmo volume de exportaes do Brasil e hoje multiplicou por oito, chegando a US$ 220 bilhes. O Brasil pouco mais que duplicou as vendas externas. Isso mostra a diferena de desempenho.

G21 - Como o desenho do grfico do comrcio exterior brasileiro? A curva ascendente ou no? Roberto Giannetti da Fonseca: Experimentamos um perodo prdigo de 1970 a 1985. Depois, a curva foi recessiva de 1986 a 1999. A, voltamos a crescer especialmente a partir de 2000, quando nossas exportaes expandiram 15%, enquanto as mundiais 9%. Em 2001, as exportaes brasileiras cresceram 6% e as mundiais apenas 1%. Quer dizer, melhorou o nosso market share no mundo. Mas tem muito mais a ser feito, mesmo que tenhamos entrado num crculo virtuoso de crescimento, principalmente desde o segundo mandato do presidente Fernando Henrique.

G21 - Memrias de um Trader um relato autobiogrfico? Roberto Giannetti da Fonseca: No. O livro um relato de experincias profissionais que eu vivi. Pode ter traos autobiogrficos mas no o objeto da obra. So experincias relevantes nesta trajetria profissional que podero ser teis tanto para principiantes, estudantes de comrcio exterior, quanto para profissionais que querem trocar experincias sobre os procedimentos, rotina, estratgias, negociao, atitudes de perseverana e criatividade para incrementar solues. Levei nove meses escrevendo o livro, desde janeiro de 2001 at maro de 2002.

G21 - Quais os episdios que podem ser destacados ao longo deste tempo? Roberto Giannetti da Fonseca: H vrios momentos teis e interessantes mas eu destacaria a Operao Nigria, onde uma crise virou oportunidade. Um momento ruim que foi valioso. Do limo, fizemos uma limonada. Esta foi a maior vitria profissional da minha vida. H ainda passagens na sia, China, Japo e Leste Europeu onde a cultura, a lngua e os costumes so diferentes dos nossos e tive que passar por um processo de adaptao cultural, usar toda a criatividade e perseverana. Outro episdio foi a exportao de avies da Embraer para Colmbia, atravs de ttulos da dvida externa, uma operao valiosa para a empresa que deu flego na privatizao, em 1992.

G21 - Mas o fato de o Brasil no ocupar nem 1% do mercado mundial com suas exportaes, quando j possuiu 2%, de quem a culpa pela perda de espao? Roberto Giannetti da Fonseca: Ns precisamos rever este conceito. No h individualmente culpa. de todos os brasileiros, tanto do governo quanto do setor privado que no criaram ambiente para as exportaes e dos empresrios que no reagiram. Mas hoje qualquer candidato s eleies para presidente do pas sabe da importncia das exportaes para a economia do pas. Espero que meu livro possa contribuir com este processo, que sirva de estmulo para novos agentes de negcios internacionais e desmestifique a dificuldade de ser um exportador. Foi o que aconteceu comigo, um economista sem experincia prvia, lanado s feras na marra e obrigado a fechar negcios. Algumas vezes erramos mas os acertos so maiores do que os erros. O sucesso nas operaes de comrcio exterior estimula a economia mais competitiva.

G21 - No episdio do ao, o sr. defendeu uma posio diferente do Ministro do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio, Srgio Amaral, e ele no gostou. O sr. permanecer na Camex? Roberto Giannetti da Fonseca: Estou firme na Camex, muito satisfeito e no vejo nenhuma razo objetiva para sair do cargo. No h resistncia de trabalhar com o Ministro Amaral. Quem est dizendo isto devem ser aqueles que se sentem prejudicados com a minha posio. Pessoas do setor siderrgico que esto querendo a minha sada. Mas eu estou maduro o suficiente para no cair nesta armadilha.