ENTREVISTA O CONSTRUTOR DE IDÉIAS · pessoa compra e não a sua idéia. Uma idéia pode ser boa,...

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34 Pequenas Empresas & Grandes Negócios | Fevereiro 2004 ENTREVISTA POR JOSÉ FUCS IDÉIAS O CONSTRUTOR DE O CONSTRUTOR DE O CONSTRUTOR DE O empresário Ricardo Belli- no, 38 anos, é uma espé- cie de “construtor de idéias”. Além de ser ex- tremamente criativo e de conseguir identificar grandes oportunidades de negócios com uma freqüência sur- preendente, Bellino tem também uma notável capacidade de trans- formar sonhos em realidade. Em meados da década de 80, quando tinha apenas 21 anos, largou a faculdade de economia para “cos- turar” o desembarque da Elite Mo- dels no Brasil, então a maior agência de modelos do mundo. Depois, nos anos 90, idealizou a campanha “O Câncer de Mama no Alvo da Moda”, em parceria com a Cia. Hering, maior fabricante de camisetas do país. Em 2003, tornou-se o presidente da Trump Realty Brazil, do magnata americano Donald Trump, responsável pela construção de um clube de golfe de alto nível em Itatiba, interior de São Paulo, idealizado por ele mesmo. Autor do livro “O Poder das Idéias – Como Transformar Idéias em Taca- das de Sucesso” (ed. Campus, 27 reais, 186 págs.), lançado em novem- bro, Bellino não pára. Está sempre atrás de uma nova idéia para imple- mentar. Nesta entrevista, ele conta suas histórias saborosas no mundo dos negócios e diz o que é preciso fazer para concretizar os seus proje- tos, mesmo sem dinheiro nenhum. Entrevista181 1/29/04 12:33 Page 34

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34 Pequenas Empresas & Grandes Negócios | Fevereiro 2004

ENTREVISTA

POR JOSÉ FUCS

IIDDÉÉIIAASSO CONSTRUTOR DEO CONSTRUTOR DEO CONSTRUTOR DE

Oempresário Ricardo Belli-no, 38 anos, é uma espé-cie de “construtor deidéias”. Além de ser ex-

tremamente criativo e de conseguiridentificar grandes oportunidades denegócios com uma freqüência sur-preendente, Bellino tem tambémuma notável capacidade de trans-formar sonhos em realidade.

Em meados da década de 80,quando tinha apenas 21 anos, largoua faculdade de economia para “cos-turar” o desembarque da Elite Mo-dels no Brasil, então a maior agênciade modelos do mundo. Depois, nosanos 90, idealizou a campanha “OCâncer de Mama no Alvo da Moda”,em parceria com a Cia. Hering, maiorfabricante de camisetas do país. Em2003, tornou-se o presidente da TrumpRealty Brazil, do magnata americanoDonald Trump, responsável pelaconstrução de um clube de golfe dealto nível em Itatiba, interior de SãoPaulo, idealizado por ele mesmo.

Autor do livro “O Poder das Idéias– Como Transformar Idéias em Taca-das de Sucesso” (ed. Campus, 27reais, 186 págs.), lançado em novem-bro, Bellino não pára. Está sempreatrás de uma nova idéia para imple-mentar. Nesta entrevista, ele contasuas histórias saborosas no mundodos negócios e diz o que é precisofazer para concretizar os seus proje-tos, mesmo sem dinheiro nenhum.

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RICARDO BELLINO

n Idade38 anos

n O que fazÉ presidente da Trump RealtyBrazil, em sociedade com omagnata americano do setorimobiliário, Donald Trump

n Uma opinião polêmica“Não acredito em business plan.Eles vêm recheados de teorias, deteses e de projeções superficiais eartificiais”

deria dele para viabilizá-la. Dizia queele poderia entrar ou não no ônibus,que já estava em movimento.

n Como você lida com a necessidadede promover ajustes em suas idéias pa-ra que elas possam se tornar realidade?

Ao contrário do que acontece coma maioria das pessoas, não tenho ne-cessidade de ser considerado comoo pai de uma idéia. Acho que essedesprendimento é fundamental.Muita gente se "casa" com umaidéia, apega-se emocionalmente aela. Isso é terrível, porque não per-mite que você possa incorporar ou-tras pessoas ao seu projeto. É preci-so deixar que os outros também sedêem o crédito daquela idéia, por-que existe uma longa jornada atéque ela se transforme em realidade.

n E qual é a sua reação quando seusinterlocutores criticam suas idéias?

Tem gente que não admite crítica,se ofende e fica magoado quando al-guém critica a sua idéia. Em vez de ti-rar proveito da crítica, acha que o su-jeito é invejoso, quer destruí-lo, rou-bar sua idéia. Todas essas manifesta-ções de posse resultam numa neuro-se, numa paranóia, que distancia aspessoas. Ninguém tem interesse detrabalhar com pessoas paranóicas.

n Com tantas boas idéias, qual é o seusegredo para conseguir vendê-las por aí?

Eu costumo dizer que é você que apessoa compra e não a sua idéia. Umaidéia pode ser boa, menos boa ou hor-rível, mas é o seu carisma que envol-ve as pessoas. No momento em quevocê conta a sua idéia, quem está dooutro lado da mesa e que pode fazer

a diferença, compra principalmente asua atitude, a sua capacidade detransformar sonho em realidade. De-pois, a idéia pode até mudar, mas, sea pessoa comprou a sua atitude, vocêcertamente será aproveitado em al-guma coisa, porque é difícil encontrarpessoas com esse perfil.

n Muita gente deve achar você meiolouco...

Na maioria das vezes, quando vo-cê trata de idéias grandes, como é omeu caso, a primeira impressão quefica para a grande maioria das pessoascom as quais eu me aconselho é deque é tudo uma loucura, que não vaifuncionar. E não tem nada mais moti-vador para alguém que se lança emgrandes desafios, como eu, ouvir umnão, ouvir que você está louco. É umgrande prazer, depois, escutar a mes-ma figura dizer que, no fundo, sem-pre acreditou no projeto. Mentira!

n E essa coisa de business plan? Vo-cê levou business plan para conversarcom o Donald Trump, com o Fábio He-ring e com o John Casablanca?

Não acredito em business plan. Elesvêm recheados de teorias, teses e pro-jeções completamente superficiais eartificiais. Tentam responder algumasperguntas, mas não têm embasamen-to concreto, apenas especulações. Sevocê se concentrar nos princípios bá-sicos da viabilidade do negócio, trans-mitir essa mensagem rapidamente ecolocar sua paixão para que as pes-soas acreditem na sua capacidade derealização e, ao mesmo tempo, na pos-sibilidade de aperfeiçoar aquela idéiacom você, esteja certo de que con-quistou aquelas pessoas.

n Na sua opinião, qual é o grande obs-táculo à concretização de uma idéia?

É a falta de autoconfiança, a faltade convicção de que você pode, sim,fazer aquilo acontecer, sem criar bar-reiras para você mesmo que o impe-çam de levar o projeto adiante. Mui-tas vezes, falta aquela coragem de irpara a frente, mesmo sabendo quevocê poderá ouvir um não como res-posta. Eu já ouvi muitos nãos na vi-da, mas nunca me deixei abater oume constranger por esses nãos.

Muita gente acredita que o princi-pal problema para implementar umaidéia é a falta de dinheiro. Mas con-segui provar, ao longo de minha vi-da, que dá para fazer grandes negó-cios e ser sócio de grandes empresá-rios sem nenhum dinheiro. Ao con-trário do que muita gente diz, o pro-blema também não é falta de relacio-namento, porque isso você constrói.

n Quando você apresenta um projetopara executivos e empresários, nãotem medo de que lhe roubem a idéia?

Nunca tive esse tipo de preocupa-ção. Primeiro, porque os projetos quedesenvolvi sempre demandaram umenvolvimento que dificultava esse ti-po de coisa. Não era possível sim-plesmente pegar a fórmula e copiá-la. Era preciso costurá-la, gerenciá-la. E isso é muito complicado. Sem-pre tentei mostrar que a idéia já eraum fato consumado. Procurei nuncatransmitir a impressão de que depen-K

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“ ”Eu costumo dizer que é você que as pessoas compram

e não a sua idéia. Ela pode ser boa, menos boa ou horrível, mas é seu carisma que envolve as pessoas.

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n Alguém já pediu business plan pra você?Não. E eu não apresento, porque

não acredito nisso. Eu até já fiz um bu-siness plan na época da internet, massó depois de ter “vendido” o projeto.

n Como surgiu essa parceria com oDonald Trump, para construir um cam-po de golfe de alto nível no Brasil?

Nasceu de uma idéia que me ocor-reu na varanda da minha casa, commeu vizinho, meu sócio e meu ami-go. Ele me ofereceu a oportunidadede intermediar a venda de uma árearural, para que a gente pudesse ga-

nhar uma comissão. Mas, como eusempre pensei grande, tive a visãode que, em cima daquela oportuni-dade, poderíamos construir o primei-ro projeto do Donald Trump no Bra-sil. Eu sabia que ele estava buscan-do oportunidades fora dos EstadosUnidos, mas não tinha conseguidoainda consolidar nenhuma parceria.Projetei, então, na minha mente acriação de uma plataforma latino-americana para o Donald Trump criarum clube exclusivo de golfe que reu-nisse os 500 mais importantes ho-mens de negócios e celebridades docontinente e que funcionasse comouma base para seus projetos naAmérica do Sul. Meu amigo falou:“Você está maluco”. Mas naquelemomento eu já não enxergava maisnada. A decisão de formar uma par-ceria com o Donald Trump estava to-mada e sua execução, para mim, eraapenas uma questão de tempo.

n E como você conseguiu chegar até ele?Eu usei o meu networking. Falei

com o John Casablanca, que tem ami-zade com toda a cúpula do grupo. Fizuma apresentação conceitual e, em 24horas, já tinha a marca do empreen-dimento escolhida, Vila Trump, e osprincípios de marketing fundamentaisde um projeto a ser erguido num ter-reno do qual não tínhamos nem a op-ção de compra. Aí, o Casablanca fezuma carta de uma página, uma apre-sentação tão boa que nem meu paifaria melhor. Uma semana depois, oDonald Trump me ligou.

n Quanto tempo vocês falaram aotelefone?

Foram 15 minutos.

n E o que ele lhe disse?Ele falou que tinha sido surpreen-

dido pela carta que o Casablancalhe havia enviado para me apresen-tar e que estava curioso para saberquem era aquela figura. Disse tam-bém que o conceito lhe pareceramuito interessante, mas que queriaentender um pouco melhor o proje-to. Houve uma empatia imediata emarcamos, já na semana seguinte,uma reunião para eu apresentar pa-ra ele, em Nova York.

n Como foi o seu contato com o Trump?Ele estava junto com dois de seus

executivos. Entrei, sentei e ele, mui-to simpático, mas muito objetivo, medisse: “Você tem três minutos para mevender sua idéia”. Ele blefou, fez is-

so para me testar. Depois, fez váriasperguntas que nada tinham a ver como negócio para conhecer a minha vi-são das coisas. Aí, ele disse: “Meni-no, você tem convicção de que esseprojeto vai ter os mais altos padrões,que me permitirão construir minhaimagem em cima disso, de maneirasólida? É só isso que eu quero saber”.

n E o que você respondeu?Eu disse que tinha convicção dis-

so e que todo o conceito do projetoestava baseado nesses princípios.Disse também que era uma oportu-nidade única e que estava dispostoa fazer o negócio acontecer. Mas de-pois disse que não queria entrar nu-ma espiral de discussões, que le-varia meses, porque tinha um deadline para negociar o terreno e, se euperdesse o prazo, todo o negócio iriapor água abaixo. Com a carta doCasablanca na sua mão e na deseus executivos, ele disse: “O negó-cio está fechado”.

n Quanto tempo durou a reunião?Meia hora. Tiramos uma foto aper-

tando a mão, com os quadros que eletem com celebridades e primeiros-ministros e as centenas de capas derevistas que ele tem atrás da gente.Ele pediu para os executivos deleirem para uma sala e saírem de lácom o acordo comigo. Foi realmenteum negócio sui generis. Mas não te-ria acontecido se não houvesse essapostura, essa coragem, essa atitudefrente a um dos homens mais ricosdo mundo para fazer um negócio noqual eu não tenho nenhuma expe-riência. Não tenho nenhuma expe-riência no ramo imobiliário, nenhu-ma experiência no golfe. Mas tinhaa convicção de que poderia fazer eque eu iria, sim, reunir todos os com-ponentes para viabilizar o projeto. Enós tivemos a habilidade de juntarprofissionais competentes e os recur-sos necessários para fazer o sonho setornar realidade. ■■

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”Não tem nada mais motivador

para alguém que se lança em grandes desafios,

como eu, do que ouvir um não,ouvir que você está louco

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