Epilepsia - UNICAMP · A pessoa com epilepsia pode partici - par de festas, reuniões, atividades...

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Em 26 de março, realiza-se em vários paí- ses o Purple Day (Dia Roxo), para conscientizar a sociedade da importância de não isolar o paciente com epilepsia. Na Unicamp, muitos profissionais se envolvem nesta campanha. A epilepsia, diferente do que muitos pen- sam, não é contagiosa e o diagnóstico pode ser obtido apenas com uma consulta clínica. Ainda assim, quem tem epilepsia muitas ve- zes sente medo do preconceito, isolando-se gradativamente de uma vida social e ativa. De 3 a 5 de março, realiza-se também o 14º Encontro, Epibrasil, com o tema “A epilepsia na experiência da pessoa e sociedade”. A programação está disponível na página http:// limin4.wix.com/epibrasil. A psicóloga e professora da Faculdade de Educação Física da Unicamp Paula Fernandes atua em casos de pacientes com epilepsia e explica um pouco mais sobre o tratamento, causas e diagnóstico dessa doença que, em- bora relatada desde os tempos da Antiguida- de, até hoje é tida com bloqueios. De acordo com Paula, a dedicação ao tratamento é muito importante e há muitas histórias de sucesso. “Temos pacientes que começaram a trabalhar depois do tratamento adequado. Temos pessoas que, depois da cirurgia, voltaram ao trabalho. Temos pacien- tes que constituíram família. Temos de tudo. O mais importante é realizar o tratamento adequado e focar no que pode ser feito pelo paciente. Com isso, precisamos informar a sociedade para que haja mais conhecimento e maior tolerância às diferenças”, enfatiza. GGBS – Purple Day ou Dia Roxo refere- -se à solidão da flor de lavanda e foi criado para a sociedade entender a importância de não isolar o paciente com epilepsia. No trabalho, como deveria ser? Como fazer para que o colega com este quadro se sinta integrado, para que todos os dias tenham a mesma cor? Paula – O ideal seria que todos soubessem realmente o que é epilepsia, como lidar diante de uma crise epiléptica e como tratar o pacien- te. Acredito sempre que a informação é o maior e o melhor instrumento contra o preconceito. A sociedade precisa saber que epilepsia é uma condição não contagiosa, que a maioria das pessoas com epilepsia pode ter suas crises controladas com tratamento adequado e que a pessoa que convive com a epilepsia diaria- Epilepsia mente não pode nem deve ser marginalizada por isso. Muito ao contrário, deve ser integrada no contexto profissional e pessoal. GGBS - Como funciona o circuito neu- ral do paciente com epilepsia? De uma maneira simples, é como se fosse um curto-circuito no cérebro: em um determi- nado momento, o cérebro passa a trabalhar em alta intensidade, gerando as crises epiléti- cas, que podem ser parciais (apenas uma parte do cérebro é comprometida) ou generalizadas (o cérebro todo é comprometido). GGBS – É difícil diagnosticar correta- mente a epilepsia? Paula – Não. O diagnóstico é fundamental- mente clínico e deve ser feito preferencialmente por um médico neurologista. É realizado a partir de informações diárias do paciente e seus familiares: quantas crises ocorreram, como foram, como o paciente se sentiu depois. Quanto mais informações o médico tiver, mais tranquilo o diagnóstico. GGBS – Qual a importância do trata- mento? Paula – O tratamento é fundamental. Apro- ximadamente 70% das pessoas com epilepsia podem ser tratadas com apenas uma medica- ção e ter o controle das crises epilépticas. A maioria destas pode, com orientação médica adequada, parar de tomar a medicação e ter uma vida sem epilepsia. Algumas pessoas precisam de várias medicações, que devem ser tomadas por toda a vida, e outras podem se beneficiar com os resultados da cirurgia da epilepsia. Algumas pessoas terão que conviver durante toda a vida com as crises e com a epilepsia. Além destes, dois tratamentos complemen- tares devem ser ressaltados para que a pessoa com a epilepsia tenha uma boa qualidade de vida. Um deles é o acompanhamento psicoló- gico para que o paciente entenda sua condição e saiba como lidar com a mesma, sem deixar de viver bem, dentro do que pode realizar. E o outro é a prática de exercícios físicos, com orientação adequada de um profissional da área. Estes dois tratamentos complementam o tratamento medicamentoso e fazem diferença na vida diária dos pacientes, tanto para aqueles que têm epilepsia “mais controladas”, como aqueles com epilepsia de “difícil controle”. GGBS – É importante não interromper acompanhamento? Paula – É fundamental que o paciente não interrompa o tratamento. Quando o paciente tem o controle das crises, o tratamento pode ser interrompido gradativamente pelos médi- cos, sem prejuízos para o paciente. GGBS – Qual a rotina social de pacien- tes com epilepsia? Paula – Com o controle das crises, a pes- soa com epilepsia fica mais tranquila para participar de atividades sociais. A rotina social deve ser feita de acordo com os costumes da família. A pessoa com epilepsia pode partici- par de festas, reuniões, atividades físicas, en- contros, cursos, trabalho,etc. Ela não precisa se esconder ou viver nas sombras porque tem epilepsia. O importante é ela estar segura e não ter receio de expor sua condição. Assim, se tiver uma crise em público, que é o grande medo dos pacientes, todos saberão como lidar. E a grande maioria das crises epilépticas tem a duração de 1 a 2 minutos. Sabemos que o peso da crise ultrapassa este pouco tempo, mas quando informamos a sociedade sobre a condição e fortalecemos o paciente para se inserir nesta sociedade, teremos sem dúvida, casos de muito sucesso! Como conjugar doença e vida social Paula Fernandes Arquivo pessoal

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Em 26 de março, realiza-se em vários paí-ses o Purple Day (Dia Roxo), para conscientizar a sociedade da importância de não isolar o paciente com epilepsia. Na Unicamp, muitos profissionais se envolvem nesta campanha.

A epilepsia, diferente do que muitos pen-sam, não é contagiosa e o diagnóstico pode ser obtido apenas com uma consulta clínica. Ainda assim, quem tem epilepsia muitas ve-zes sente medo do preconceito, isolando-se gradativamente de uma vida social e ativa. De 3 a 5 de março, realiza-se também o 14º Encontro, Epibrasil, com o tema “A epilepsia na experiência da pessoa e sociedade”. A programação está disponível na página http://limin4.wix.com/epibrasil.

A psicóloga e professora da Faculdade de Educação Física da Unicamp Paula Fernandes atua em casos de pacientes com epilepsia e explica um pouco mais sobre o tratamento, causas e diagnóstico dessa doença que, em-bora relatada desde os tempos da Antiguida-de, até hoje é tida com bloqueios.

De acordo com Paula, a dedicação ao tratamento é muito importante e há muitas histórias de sucesso. “Temos pacientes que começaram a trabalhar depois do tratamento adequado. Temos pessoas que, depois da cirurgia, voltaram ao trabalho. Temos pacien-tes que constituíram família. Temos de tudo. O mais importante é realizar o tratamento adequado e focar no que pode ser feito pelo paciente. Com isso, precisamos informar a sociedade para que haja mais conhecimento e maior tolerância às diferenças”, enfatiza.

GGBS – Purple Day ou Dia Roxo refere--se à solidão da flor de lavanda e foi criado para a sociedade entender a importância de não isolar o paciente com epilepsia. No trabalho, como deveria ser? Como fazer para que o colega com este quadro se sinta integrado, para que todos os dias tenham a mesma cor?

Paula – O ideal seria que todos soubessem realmente o que é epilepsia, como lidar diante de uma crise epiléptica e como tratar o pacien-te. Acredito sempre que a informação é o maior e o melhor instrumento contra o preconceito. A sociedade precisa saber que epilepsia é uma condição não contagiosa, que a maioria das pessoas com epilepsia pode ter suas crises controladas com tratamento adequado e que a pessoa que convive com a epilepsia diaria-

Epilepsiamente não pode nem deve ser marginalizada por isso. Muito ao contrário, deve ser integrada no contexto profissional e pessoal.

GGBS - Como funciona o circuito neu-ral do paciente com epilepsia?

De uma maneira simples, é como se fosse um curto-circuito no cérebro: em um determi-nado momento, o cérebro passa a trabalhar em alta intensidade, gerando as crises epiléti-cas, que podem ser parciais (apenas uma parte do cérebro é comprometida) ou generalizadas (o cérebro todo é comprometido).

GGBS – É difícil diagnosticar correta-mente a epilepsia?

Paula – Não. O diagnóstico é fundamental-mente clínico e deve ser feito preferencialmente por um médico neurologista. É realizado a partir de informações diárias do paciente e seus familiares: quantas crises ocorreram, como foram, como o paciente se sentiu depois. Quanto mais informações o médico tiver, mais tranquilo o diagnóstico.

GGBS – Qual a importância do trata-mento?

Paula – O tratamento é fundamental. Apro-ximadamente 70% das pessoas com epilepsia podem ser tratadas com apenas uma medica-ção e ter o controle das crises epilépticas. A maioria destas pode, com orientação médica adequada, parar de tomar a medicação e ter uma vida sem epilepsia. Algumas pessoas precisam de várias medicações, que devem

ser tomadas por toda a vida, e outras podem se beneficiar com os resultados da cirurgia da epilepsia. Algumas pessoas terão que conviver durante toda a vida com as crises e com a epilepsia.

Além destes, dois tratamentos complemen-tares devem ser ressaltados para que a pessoa com a epilepsia tenha uma boa qualidade de vida. Um deles é o acompanhamento psicoló-gico para que o paciente entenda sua condição e saiba como lidar com a mesma, sem deixar de viver bem, dentro do que pode realizar. E o outro é a prática de exercícios físicos, com orientação adequada de um profissional da área. Estes dois tratamentos complementam o tratamento medicamentoso e fazem diferença na vida diária dos pacientes, tanto para aqueles que têm epilepsia “mais controladas”, como aqueles com epilepsia de “difícil controle”.

GGBS – É importante não interromper acompanhamento?

Paula – É fundamental que o paciente não interrompa o tratamento. Quando o paciente tem o controle das crises, o tratamento pode ser interrompido gradativamente pelos médi-cos, sem prejuízos para o paciente.

GGBS – Qual a rotina social de pacien-tes com epilepsia?

Paula – Com o controle das crises, a pes-soa com epilepsia fica mais tranquila para participar de atividades sociais. A rotina social deve ser feita de acordo com os costumes da família. A pessoa com epilepsia pode partici-par de festas, reuniões, atividades físicas, en-contros, cursos, trabalho,etc. Ela não precisa se esconder ou viver nas sombras porque tem epilepsia. O importante é ela estar segura e não ter receio de expor sua condição. Assim, se tiver uma crise em público, que é o grande medo dos pacientes, todos saberão como lidar. E a grande maioria das crises epilépticas tem a duração de 1 a 2 minutos. Sabemos que o peso da crise ultrapassa este pouco tempo, mas quando informamos a sociedade sobre a condição e fortalecemos o paciente para se inserir nesta sociedade, teremos sem dúvida, casos de muito sucesso!

Como conjugar doença e vida social

Paula Fernandes

Arquivo pessoal

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Isto vai dar uma dor de cabeça! No sentido figurado, esta é a frase comumente aplicada a alguma ação que poderá ser malsucedida, mas, no sentido literal, quando a dor de cabe-ça deve ser levada ao consultório? De acordo com o neurologista da Unicamp Alberto Luiz Cunha da Costa Costa, de forma geral, uma dor de cabeça que venha acompanhada de qualquer outro sintoma deve ser sempre avaliada por um médico. “Não é normal ter dor de cabeça, mas devemos nos preocupar sempre que ocorrer uma dor diferente das habituais; ao ocorrer a primeira ou a pior dor da vida, quando uma cefaleia não melhora com o tratamen-to ou piora progressivamente e venha acompanhada de sonolência, febre, confusão, rigidez no pescoço ou qual-quer outro sintoma neurológico como visão dupla, fraqueza em um lado do corpo, dificuldade na visão ou fala”, orienta. Se a dor surgir após um trauma de crânio ou aparecer pela primeira vez em um idoso, o melhor a fazer é procurar atendimento imediato, alerta o especialista.

Os casos de enxaqueca e cefaleia não são poucos e, muitas vezes, afetam a rotina de trabalho e a vida social do paciente, além de ter um impacto financeiro significativo na área de saú-de. De acordo com Costa, cerca de 50% das crises de enxaqueca limitam as atividades pessoais e profissionais, e 35% obrigam ao repouso no leito durante a crise. “Estima-se que cada paciente falte ao trabalho entre quatro e dez dias de trabalho por ano. Crianças faltam às aulas entre dois e três dias por ano e entre dois e três dias de traba-lho doméstico por ano são perdidos”, apresenta o especialista. Ele acrescenta que cerca de 30% dos pacientes faltam a atividades sociais e familiares no ano por conta de crises. Apenas as crises de

Dor de cabeçaenxaqueca apresentam um custo total estimado de US$ 13 bilhões nos EUA e € 27 bilhões na Europa por ano e, segundo Costa, em Ipuã – São Paulo, autores de uma pesquisa estimaram um gasto anual de US$ 42.500/ano decorrente de crises de enxaqueca.

Entre os profissionais que mais so-frem com enxaqueca estão enfermeiros, professores do ensino fundamental, executivos e trabalhadores rurais. De acordo com o neurologista, em hospi-tais, alunos, funcionários e professores são afetados em até 30% por crises de enxaqueca.

Costa explica que a dor de cabeça ou cefaleia é a queixa mais comum na prática médica e existe desde o início das civilizações e pode indicar algo como uma enxaqueca, meningi-te, acidente vascular cerebral ou até uma neoplasia. “Dor de cabeça é um sintoma, ou seja, é a manifestação

de um problema oculto e geralmente vem acompanhado de outras queixas que permitem ao médico treinado identificar entre os inúmeros tipos de dores de cabeça e propor o tratamen-to mais adequado. Cerca de 90% da população teve ou terá algum tipo de dor de cabeça no decorrer da vida e aproximadamente 40% sofrem delas regularmente. Apesar de estes pacien-tes e alguns médicos usarem o termo ‘dor normal’, ter dor de cabeça nunca é normal e sempre deve ser avaliada por um médico.”

As dores de cabeça são classificadas em primárias e secundárias. As primárias são muito mais fre-quentes e são aquelas cefa-leias cujas causas não são identificadas por meio de nenhum exame. Já as secundárias, são diag-nosticadas com exa-mes adequados. “Um exemplo de cefaleia primaria é a migra-nea ou enxaqueca.Uma meningite, sinusite ou um tu-mor cerebral são exemplos de uma cefaleia secundá-ria”, explica.

Em sua maio-ria, as dores es-tão associadas ao sistema nervoso, mas são descritas cefaleias causadas por doenças sistêmicas que envolvem o sistema nervoso como a cefa-leia da diálise, do jejum, das grandes altitudes, da eclampsia, do glaucoma, da rinossinusite, coluna cervical entre outras.

Alberto Costa

2 Suplemento Especial Saúde - Informativo GGBS - Nº 1 - Março 2016

Quando a cefaleia e a enxaqueca levam ao consultório

Arquivo pessoal

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Como as dores frequentes podem estar associadas a ansiedade e de-pressão, reduzir os níveis de estresse podem não impedir o aparecimento das crises de dores de cabeça com-pletamente, mas podem reduzir o seu número, intensidade e duração, além de melhorar a forma como o paciente enfrenta seus problemas, segundo

Costa.

De maneira geral, o tra-

t a m e n t o das dores

de ca-b e ç a segue t r ê s

e s -

tratégias. Considerando a enxaqueca como o tipo de cefaleia mais comum e importante, os comentários serão direcionados a ela. O tratamento pode ser classificado em modificações de hábitos, tratamento abortivo e tra-tamento profilático.

Para a mudança de hábitos reco-menda-se a regularização dos horá-rios de sono, acordando e dormindo nos mesmos horários; a prática regu-lar de atividade física e observar uma alimentação regular e saudável. “Não se recomenda dieta para enxaqueca, mas é bem conhecido que algumas substâncias podem desencadear crises de cefaleia em determinados pacien-tes. Seu médico, após avaliação crite-riosa, pode sugerir que evite consumir chocolate, glutamato monossódico,

álcool (vinho tinto), cítricos e etc. Li-mitar o consumo de

medicações também

contri-b u i

para o sucesso no tratamento”, acrescenta.

Em muitos casos, existe a necessi-dade de iniciar uma medicação para reduzir a frequência e intensidade das crises de cefaleia. Estes medicamentos não são infalíveis e é possível que sejam modificadas as doses ou o tipo de medicação até atingir o controle das crises. Algumas medicações para enxaqueca são também usadas para outros problemas médicos como hipertensão arterial, depressão, epi-lepsia e tonturas. É importante seguir corretamente as instruções fornecidas.

Seguir corretamente a prescrição médica reduz o tempo de tratamento e diminui a possibilidade de com-plicações com as dores. Torna as crises de cefaleia menos frequentes e menos intensas, reduz o descon-forto e minimiza os impactos sociais, profissionais e pessoais causados pelas dores frequentes.A má adesão ao tratamento, além de prolongar o sofrimento causado pelas crises e sintomas associados, pode levar ao aparecimento de uma cefaleia crônica, definida como uma dor pre-sente por mais de 15 dias por mês,

segundo Costa.

Preocupar-se menos pode evitar dor de cabeça

3Suplemento Especial Saúde - Informativo GGBS - Nº 1 - Março 2016

Reitor: Prof. Dr. José Tadeu Jorge Coordenador-geral da Universidade: Prof. Dr. Álvaro Penteado Crosta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário: Teresa Dib Zambon AtvarsPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários: João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitora de Pesquisa: Gláucia Maria PastorePró-reitora de Pós-Graduação: Rachel MeneguelloPró-reitor de Graduação: Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete: Paulo Cesar MontagnerChefe Adjunto: Osvaldir Pereira TarantoCoordenador do GGBS: Edison Cardoso Lins

Coordenação: Marilisa de Melo Freire Rossilho e Maria Alice da Cruz PaulaOrientação: Prof. Dr. Li Li MinRedatoras: Daniela Martins, Maria Alice da Cruz e Andréa Ruas Edição: Maria Alice da Cruz Paula e Marilisa de Melo Freire Rossilho

Editoração e arte: Sergio Simionato

Expediente

Ilustrações: freepik

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AVCO ex-atleta Benedito Paulo Camargo Filho,

de 46 anos, teve o primeiro AVC aos 34 anos e o segundo, aos 39. Em novembro de 2015, ele participou do evento “AVC na Lagoa”, uma ação idealizada pelo Instituto Brasileiro de Neurociências e Neurotecnologia (Brainn, do inglês Brazilian Institute of Neuroscience and Neurotechnology) e da Organização Não Governamental Assistência à Saúde de Pacien-tes com Epilepsia (Aspe) para conscientizar a população a respeito dos fatores de risco do AVC e tentar diminuir o número alarmante de casos. As atividades aconteceram na Lagoa do Taquaral e atraíram mais de 300 participantes de diferentes gerações. “Antes do primeiro AVC, não tinha nenhum conhecimento sobre a doença e nem dos fatores de risco. Por isso, considero que ações de conscientização como essa são muito importantes para informar à população que o AVC pode acontecer com qualquer pessoa, a qualquer momento. Por isso, temos que estar atentos ao nosso histó-rico familiar e aos fatores que podem levar ao AVC”, disse Camargo Filho.

A história de Camargo Filho mostra que o AVC pode ocorrer em qualquer idade e a qualquer momento. Mas, de acordo com espe-cialistas, o AVC pode ser prevenido, por meio da melhora do estilo de vida e tendo hábitos saudáveis. Parte da Campanha Mundial de Combate ao AVC, a ação contou com uma atividade prática proposta por uma equipe do Centro de Referência em Reabilitação Jorge Rafful Kanawaty, na qual se demonstrou como é a rotina pós-AVC. Por meio de pesos colo-cados em seus braços e pernas, os visitantes tentavam andar, levantar os braços e segurar objetos e também usar uma cadeira de rodas. Todos perceberam quão difícil passa a ser a vida de alguém que sofreu um AVC e como a realização de tarefas simples como falar, an-dar ou levantar os braços sozinho passa a ser difícil ou quase impossível. São muito comuns os casos de depressão pós-AVC, conforme afirmam os especialistas.

De acordo com Camila Nascimento, fonoaudióloga do Centro de Reabilitação, a maioria dos pacientes são homens na faixa dos 30 anos (altamente relacionada a acidentes automobilísticos, principalmente motocicletas). Em média, a reabilitação desses pacientes dura de 6 a 12 meses. “É um processo lento

e que exige muita dedicação para obtenção de pequenos resultados. Há um número considerável de desistências”, disse Camila. Ela acredita que quanto mais interativo for o processo de reabilitação, maior será a adesão de pacientes e melhores serão os resultados.

A ação aconteceu em parceria com o Centro de Educação ao Trabalhador da Saúde (CETS), o Centro de Referência em Reabilita-ção (CRR) Jorge Rafful Kanawaty, a Secretaria Municipal de Saúde e órgãos da Prefeitura Municipal de Campinas. A ação também teve a colaboração Ambulatório de Substâncias Psi-coativas (ASPA), Grupo de AVC Infantil, ambos do HC/Unicamp e de professores e alunos de Fisioterapia da Universidade São Francisco e de Nutrição e Enfermagem da UNIP. Um grupo de voluntários multidisciplinar, formado por profissionais de diversas áreas, como neurolo-gia, enfermagem, fonoaudiologia, fisioterapia, nutrição e educação física, orientava e tirava

dúvidas dos visitantes.O grupo de AVC Infantil orientou a respeito

dos fatores que podem levar ao AVC Infantil e de que ele pode ocorrer desde a fase perinatal até os 18 anos de idade. A Aspa informou e deu dicas/orientações de como parar de fumar. A educadora física Nathália Volpato, do Brainn, orientou e realizou atividade física com os participantes, afinal, o sedentarismo é também um dos fatores de risco do AVC.

A ação permitiu que visitantes com alte-rações dos sinais e fatores de risco fossem encaminhados para os Centros de Saúde. Além de orientar sobre quantidade de gor-dura presente em alguns alimentos e oferecer informações sobre hábitos saudáveis, a equipe checou fatores como antecedente familiar, uso de bebida alcoólica e stress.

A maioria dos participantes da ação “AVC na Lagoa” ressaltou a importância deste tipo de evento. “Ações de conscientização como essa, realizadas em locais com grande público, são muito importantes para ajudar as pessoas na prevenção de doenças como o AVC, disse Edna Santos”. Ela e o marido passaram pela tenda da Nutrição e Enfermagem e receberam orientações dos voluntários sobre como evitar o AVC. Ela disse ainda que um cunhado tinha sofrido um AVC e que a prevenção é importan-te, já que a recuperação pode ser muito difícil.

A ação AVC na Lagoa foi liderada pela enfermeira Isilda Assumpção, do Ambulató-rio de Neurologia do Hospital de Clínicas da Unicamp e presidente da ONG Aspe. O ambulatório atende em média, por semana, 15 pacientes acometidos pelo AVC.

O neurologista Li Min, do Ambulatório de Neurologia do HC e pesquisador do Brainn, um dos autores do livro “AVC, uma catástrofe que pode ser prevenida e tratada”, deixa a se-guinte mensagem: “Invista na sua saúde, pois a prevenção é o melhor remédio contra o AVC.

Ações para reduzir riscos

Serviço Fontes: www.redebrasilavc.org.br, www.stroke-association.org e www.iapediatrics.org

LivroAVC – Uma catástrofe que pode ser prevenida e tratadaAutores: Li Li Min, Paula Teixeira Fernandes, Rodrigo Bastos Cunha, Susana Oliveira Dias, Vera Regina Toledo de Camargo e Carlos Vogt (organizadores). – São Paulo: Plêiade, 2009. (Série CInAPCe, 2).

Saiba reconhecer os sinais do AVC. Eles começam rapidamente.

Aja rápido. Tempo perdido é cérebro perdido.

Benedito Paulo

Grupo de voluntários multidisciplinar

Fotos: Andréa RuasANDRÉA RUAS