Epistola Aos Hebreus- Severino Pedro Da Silva

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  • SERIEComentrio

    Bblico

  • Epstola aos Hebreus mais uma jia literria para deleite espiritual do povo de Deus. Apesar de annima, ela traz em seu contedo todos os demais pensamentos divinos inseridos nas Escrituras de ambos os Testamentos. De igual modo, as palavras de Paulo encontradas em Atos e nas 13 epstolas que trazem o seu nome, so encontradas tambm aqui o que torna esta epstola de uma magnitude

    encantadora e esplendorosa.O pastor Severino Pedro da Silva comentou os 303 versculos da Epstola aos Hebreus, usando interpretaes tcnicas lgicas e espirituais , e nelas destacando Jesus como sendo a figura central em cada cena apresentada: seja ela histrica ou proftica. Parabns a ele e a ns

    por esta valiosa obra!

    So Paulo, 2002Jos Wellington Bezerra da Costa

    Presidente da CGADB

  • Prefcio ............... ...... ............. ....... ................... ....... ....... 5

    1. Mais Excelente do que os Anjos.................................... 9

    2. Uma to Grande Salvao............................................. 35

    3. No Endureais os vossos Coraes............................ 49

    4. O Prometido Repouso .... ......... ............................. 65

    5. O Sumo Sacerdote Eterno.......... ............................. 81

    6. O Caminho da Perfeio ............... ........................... 93

    7. Melquisedeque e o Sacerdcio de Cristo ...... 115

    8. O Novo Concerto................. ................. ....... ....... . 139

    9. O Tabernculo...................... ............................. . 151

    10. Sacrifcios e Ofertas............ ......... ................... . 179

    11. Pela F.................................................................... 209

    12. Perseverana em meio s Provaes.................... . 243

    13. A Graa Seja com todos vs.................. ........ ....... 267

  • Mais Excelente do que os Anjos

    I- IntroduoAntes de analisarmos a exegese da Eps

    tola aos Hebreus e sua aplicao prtica vida crist, necessrio nos a termos ao contexto histrico e aos fatos que levaram o seu autor a escrev-la. preciso ainda que observemos suas referncias ao Antigo Testamento, pois alm da meno de vrias passagens de Josu, Juizes, Salmos, entre outros livros, seu contedo est intrinsecamente ligado ao Pentateuco sobretudo aos livros de Gnesis, xodo e Levtico , em que o autor se baseia para abordar temas como o Tabernculo, o sacerdcio levtico e o seu simbolismo obra redentora de Cristo.

  • 10Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    II. Seu AutorH vrias opinies sobre a autoria da Epstola aos Hebreus.

    Sua mudana de estilo, tanto no incio como no final, bastante diferente das epstolas de Paulo. Vejamos os argumentos apresentados por alguns comentaristas a este respeito:

    Clemente de Alexandria afirmou que Paulo escreveu esta carta em hebraico e Lucas a traduziu para o grego. A igreja de Alexandria aceitou a autoria paulina e colocou esta entre as cartas de Paulo. Contudo, outros-expositores no concordam com este pensamento e sugerem uma lista enorme de nomes que pudessem t-la escrito. Parece que o autor desta carta no era um apstolo; ou se era, escreveu-a atravs de um amanuense (Hb 2.3). Nesse caso, Paulo seria ento seu autor, porque seus pensamentos esto inseridos nela do comeo ao fim:

    (Hb 1.2,3; 6.1; I Co 8.6; 2 Co 4.4; Cl 1.15-17);(Hb 2.14-17; 5.8; Rm 5.19; 8.3; G14.4; Fp 2.7,8);(Hb 9.28; I Co 5.7; Ef 5.2);(Hb 8.6; 9.15; 2 Co 3.6-11);(Hb 11.8-12,17-19; Rm 4.17-20; G1 3.6-9);(Hb 2.4; I Co 12.4-11,27-31);(Hb 2.6,9; SI 8; I Co 15.27);(Hb I2.I; I Co 9.24-27, etc.).

    As circunstncias em Hebreus 13 so simplesmente as de Paulo, nas cartas reconhecidas como paulinas. Compare o seguinte:

    Hebreus 13.23 com a amizade de Paulo e TimteoHebreus 13.18 com Romanos 15.30; 2 Corntios 1. 11; Atos

    23.1; 24.16; 2 Corntios I.I2; I Timteo 3.9; 2Timteo 1.3

  • IIMais Excelente do que os Anjos

    Hebreus 13.19 com Filemom 22; Filipenses 1.24,25 Hebreus 13.20,25 com Romanos 15.33; I Timteo 5.28;

    2 Timteo 3.18.

    Existem idias similares em Hebreus com outras cartas paulinas. Por exemplo: Cristologia:

    Hebreus 1.3 com Colossenses 1.15 Hebreus 1.2,3,10,11,12 com Colossenses 1.16,17; I

    Corntios 8.6 Hebreus 1.4-14; 2.14-17 com Filipenses 2.5- 11; Efsios 1.20-23; Hebreus 2.9; 9.26; 10.12 com I Timteo 2.6; Efsios 5.2; I Corntios 15.3. Os dois concertos: Hebreus 10 com Colossenses 2.16,17

    Hebreus 8.1-6; 4.1,2 com I Corntios 10.11Hebreus 7.18 com Romanos 8.3Hebreus 8.8-12; 7.19; 8.13 com 2 Corntios 3.9-11

    Vrios termos usados em Hebreus so similares aos termos de outras cartas paulinas. Exemplo:

    Hebreus 1.5 com Atos 13.33. Esta citao mencionada por Paulo em Hebreus para referir-se a Cristo, mas no usada em nenhuma outra passagem do Novo Testamento.

    Hebreus 2.4 com I Corntios 12.4,6,11 Hebreus 2.10 com Romanos 11.36; Colossenses 1.16; I

    Corntios 8.6; Hebreus 2.16 com Glatas 3.29; 4.16 Hebreus 4.12 com Efsios 6.17 Hebreus 6.3 com I Corntios 16.7 Hebreus 10.19 com Romanos 5.2; Efsios 2.18; 3.12

    A autoria paulina foi aceita por Clemente de Alexandria perto do final do sculo II d.C., e Hebreus foi encontrado

  • 12Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    numa coleo de livros atribudos a Paulo, no Egito. Eusbio acreditava que Hebreus fora escrita por Paulo em hebraico e traduzido para o grego por Lucas. Numa passagem de sua Histria Eclesistica, falando das epstolas paulinas, ele disse: Por outro lado, evidente e claro que as catorze cartas [de Romanos aos Hebreus] so de Paulo. Contudo, no justo ignorar que alguns rechaaram a Carta aos Hebreus, dizendo que a igreja de Roma no a admitiu por crer que no de Paulo.1

    Alguns eruditos questionam a no-autoria paulina, porque so encontradas 168 palavras em Hebreus que nunca foram usadas por Paulo em qualquer outra passagem do Novo Testamento, e mais 124 que no aparecem nos escritos de Paulo.

    Mas este argumento no invalida sua autoria se quisermos atribu-la a ele. Talvez sua solicitao pela presena de Marcos, dizendo que ele lhe seria muito til para o ministrio (2Tm 4.11) fosse, sem dvida, para que este o ajudasse na redao final da Epstola aos Hebreus. Em seus dois ltimos anos de vida, Paulo se volta para os seus: os judeus (I Co 9.20-22). E agora seu grande desejo e misso seria convenc- los da superioridade de Cristo sobre a antiga aliana, e tambm da importncia do sacerdcio de Cristo, que seria um sacerdcio eterno, segundo a ordem de Melquisedeque, superior quele outorgado a Aro e seus descendentes. Marcos teria, ento, as qualidades necessrias para ajud-lo nesta grande tarefa. Ele pertencia tribo de Levi, tribo esta ligada diretamente ao sacerdcio (cf. At 4.36; Cl 4.10). Algumas Bblias, especialmente pertencentes a edies antigas, traziam em seus ttulos: Epstola de S. Paulo aos Hebreus. A BIBLIA SAGRADA, Edio Barsa de 1967, baseada na INTER-AMERICAN COPYRIGHT UNION de 1910, publicada pela Catholic

  • 13Mais Excelente do que os Anjos

    Press, traz como ttulo: Epstola de S. Paulo aos Hebreus. Mas a maioria das outras verses no dizem assim. H. Wayne House oferece um grfico pr-e-contra da autoria desta epstola, alm de Paulo, mencionando os seguintes personagens:

    LucasArgumentos Favorveis: Existem similaridades de estilo

    entre os escritos de Lucas e o texto de Hebreus.

    A similaridade de estilos pode ser justificada por uma atmosfera comum. Alm disso, Hebreus uma obra mais requintada que Lucas e Atos.

    Os pensamentos paulinos em Hebreus poderiam ser explicados facilmente, uma vez que Lucas foi companheiro e cooperador do apstolo.

    Argumentos Contrrios: Lucas era apenas mais uma das pessoas prximas ao apstolo; assim, embora isso o torne provvel candidato autoria de Hebreus, seria apenas mais um entre muitos.

    EstvoO discurso de Estvo registrado por Lucas assemelha-se

    muito ao livro de Hebreus: a reviso da histria dos judeus, o chamado de Abrao, a perda da posse da terra, o Tabernculo construdo por ordem divina, a lei mediada por anjos, o chamado para sair, a idia da Palavra viva, aluso a Josu e o chamado celestial. As similaridades entre Hebreus e o discurso de Estvo argumentam mais a favor de Estvo como autor do que do prprio Lucas, embora se presuma que foi Lucas quem escreveu o discurso.

  • 14Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    ApoloArgumentos Favorveis: Apolo era judeu de Alexandria.

    O autor de Hebreus tambm era judeu, provavelmente com influncia alexandrina.

    Embora as caractersticas e circunstncias demonstrem que Apolo poderia ter escrito a epstola, como no h outros escritos de Apolo para que se faa uma comparao, no h evidncia de que ele de fato seja o autor. Outra pessoa que viveu no sculo I, annimo para ns e com as mesmas qualificaes, pode ter escrito Hebreus.

    Apolo era homem instrudo. O autor de Hebreus era instrudo, sendo este o escrito do Novo Testamento de melhor composio grega, sob o aspecto do estilo e da lgica. Nenhuma tradio antiga apia Apolo como autor. Seria difcil entender a falha da Igreja em Alexandria em preservar tal tradio, se Apolo realmente tivesse escrito. Apoio tinha um ensino preciso acerca de Jesus (At 18.25). O escritor de Hebreus faz uma apresentao exata e precisa a respeito de Jesus. Atos 18.24 em diante nada diz sobre Apolo sendo treinado no pensamento filnico, o qual a Epstola aos Hebreus parece refletir. Apolo retratado como um dos homens que usavam mais poderosamente o Antigo Testamento (At 18.24). O autor de Hebreus usa de forma poderosa o Antigo Testamento na sua argumentao, demonstrando grande capacidade em usar o seu entendimento. Marcos faz 15 citaes do Antigo Testamento, Mateus faz 19, Lucas faz 25, e Joo, no Apocalipse, faz 245, o que tambm os credencia para t-la escrito.

  • 15Mais Excelente do que os Anjos

    Apolo era fervoroso de esprito, o que tambm se observa no autor da epstola, que escreve com paixo e ousadia. Isso no era condio para que ele escrevesse Hebreus, pois cada crente na Igreja Primitiva era exortado a ser fervoroso no esprito (Rm 12.11). Apoio tinha excelente reputao na Igreja Primitiva (cf. At 18; 1 Co 1.12). O contato entre Paulo e Apoio pode explicar as expresses e os pensamentos paulinos e tambm justificar a meno a Timteo em Hebreus 13.23.

    Argumentos Contrrios: Tiago, Cefas e Joo eram considerados como as colunas na igreja de Jerusalm; eles, e no Apoio, seriam mais credenciados para escrever Hebreus.

    BarnabArgumentos Favorveis: Como levita, natural de Chipre

    (At 4.36), Barnab estaria qualificado para escrever sobre os regulamentos levticos da Lei. As caractersticas alexandrinas do livro tornam improvvel que tenha sido escrito por um judeu de Chipre. Talvez houvesse relao entre Barnab como o filho da consolao (At 4.36) e a palavra de consolao (Hb 13.22 exortao) mencionada pelo autor de Hebreus. A comprovao histrica precria e de origem ocidental. Esperar-se-ia mais, j que Barnab era uma figura bem conhecida. A autoria de Barnab atestada por Tertuliano, que parece expressar o consenso (provavelmente romano), e por Gregrio de Elvira e Filstrio (bispo de Brscia no sculo IV). E improvvel que um discpulo posterior em Jerusalm tivesse escrito Hebreus 2, 3 e 4. Barnab era considerado na Igreja Primitiva como ministro da consolao, o que o capacitaria a escrever Hebreus.

  • 16Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    Argumentos Contrrios: Barnab no produziu nenhuma obra (existe uma que leva o seu nome, mas considerada apcrifa) com a qual Hebreus possa ser comparado, de modo que no h prova intrnseca.

    Priscila e quilaArgumentos Favorveis: (Com a predominncia de

    Priscila) A qualidade deles como professores foi comprovada pelo mestre Apoio (At 18.26). Seu sucesso como professores poderia qualific-los como possveis autores, mas no deixaram nenhuma obra escrita com a qual Hebreus pudesse ser comparado. Ambos eram intimamente associados a Timteo (At 18.5; 19.22; I Co 16.10,19). So apenas dois entre um grande grupo de pessoas relacionadas com Paulo e Timteo. Se as saudaes em Romanos 16.3- 16 so dirigidas a moradores de Roma e se Hebreus foi escrito em Roma, significativo o fato de que abrigavam uma igreja em sua casa, em Roma (Rm 16.5; cf. I Co 16.10,19). Terem sido membros da Igreja em Roma de maneira alguma os torna provveis autores. A saudao ambgua; e se uma saudao para pessoas em Roma, muitos outros tambm se qualificariam como provveis autores. As transies entre ns e eu podem ser explicadas pela dupla autoria. O uso do plural no prova slida de dupla autoria, uma vez que Hebreus 13.19 est enfaticamente no singular, assim como 11.32 e 13.22,23. H uma tendncia anti-feminista na maior parte da Igreja ps-apostlica; um exemplo disso o texto ocidental (especialmente o Cdice D), que pode ser responsvel pela supresso do nome da autora. A posio significativa das mulheres nos ministri-

  • 17Mais Excelente do que os Anjos

    os de Jesus, de Paulo e da igreja subapostlica revela a atitude apropriada que a Igreja tinha para com as mulheres, apesar de alguns lderes provavelmente terem sido contrrios. A meno de mulheres na lista dos heris, em Hebreus 11, pode refletir a viso de uma mulher.

    Argumentos Contrrios: A meno de mulheres na lista de heris tambm poderia ser feita por um homem, conforme os livros de Lucas 8 e Romanos 16. O tema do peregrino em Hebreus 11.13-16 pode referir-se expulso deles de Roma, por ordem do imperador Cludio. No entanto, no existe evidncia histrica que apie essa alegao. O interesse no Tabernculo pode provir do fato de terem sido fabricantes de tendas. O interesse no Tabernculo tipolgico, e no da perspectiva de um fabricante de tendas. Aquila e Priscila, com predominncia de Priscila, foram seus autores, sem apresentar nenhum argumento pensa-se. O particpio em Hebreus 11.32, o qual nesse caso indica o sexo do autor, revela que este era do sexo masculino. O tom autoritrio da epstola falaria contra Priscila como autora, em vista do ensino do Novo Testamento, especialmente o ensino de Paulo (I Co 14.34,35; I Tm 2.11).

    SilvanoEntre as mais modernas conjeturas acerca da autoria de

    Hebreus est Silvano. Silvano pode ser comparado com o mesmo Silas que foi companheiro de Paulo. Ele era conhecido da Igreja em Jerusalm, pois de l foi enviado com Judas, outro ministro do Evangelho, para cooperar na Igreja em Antioquia (At 15.22,34,40). Era tambm conhecido da Igreja em Roma, tendo estado l com Pedro durante a escrita de I

  • 18Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    Pedro (I Pe 5.12). Os eruditos que defendem esta tese sustentam que Silvano, tendo vivido em Jerusalm e sendo judeu, estaria informado acerca do culto no templo.

    Alm destas, h outras conjeturas sobre o autor deste livro: Timteo, Clemente de Roma, Filipe, o evangelista, entre outros.2

    III. Quando Foi EscritaLevando em considerao Hebreus 10.1 em diante, pare

    ce que esta epstola foi escrita antes do ano 70 d.C. Neste captulo, o escritor sagrado faz aluso adorao no Templo, em Jerusalm, e aos sacrifcios dirios que eram oferecidos pelos sacerdotes ordinrios e tambm do sacrifcio anual que era oferecido pelo sumo sacerdote pelo pecado, em favor de toda a nao (vv. 1,11). Isso nos leva a entender que o santurio ainda se encontrava de p. Talvez tenha sido escrita entre os anos 64 e 67 d.C., visto que o ano da morte de Paulo, segundo estima-se, 68 d.C.

    IV Onde Foi EscritaA passagem de Hebreus 13.4 parece dizer que o autor

    escreveu esta epstola de algum lugar na Itlia. E, se foi Paulo o seu autor, ento teria escrito de algum crcere romano. Antes de seu julgamento como digno de morte pelo tribunal romano, ... Paulo ficou dois anos inteiros na sua prpria habitao que alugara... (At 28.30). Mas parece que todo este perodo ele dedicou somente para a pregao do Evangelho e para atendimento espiritual queles que o procuravam. Ali ele recebia todos quantos vinham v-lo. Passados

  • 19Mais Excelente do que os Anjos

    os dois anos, Paulo foi condenado morte sendo em seguida transferido de sua casa para o famoso crcere Mamertino, construdo no segundo sculo a.C., onde passou os ltimos dias de sua vida. Cremos que ali, solitrio, ele escreveu esta epstola, onde nela empregou todo o seu conhecimento espiritual e poder de erudio.

    V Propsito para que Foi Escrita

    O verdadeiro propsito desta epstola foi para mostrar aos crentes hebreus a superioridade de Cristo e de sua graa sobre o antigo concerto, como sendo um empreendimento melhor. E atravs desta conscientizao, encoraj-los a no voltarem para o judasmo, que havia terminado sua misso justificadora com a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Hb 10.9). Jesus superior. Nos captulos 14 de Hebreus, o escritor enfatiza que Cristo superior na sua pessoa. Ele melhor do que os profetas, os anjos, Moiss, Josu e o sbado. Ele superior aos sacerdotes dos tempos do Antigo Testamento. Cristo superior como sacerdote. Os captulos 510 relembram aos cristos judeus que Cristo superior como nosso Sacerdote. O seu caminho melhor do que o sacerdcio terrestre, o antigo concerto, os sacrifcios de animais ou as oferendas dirias. Cristo abriu um caminho melhor. Nos captulos 1113, Cristo abriu um caminho melhor para chegarmos a Deus; podemos ter f para crer nEle e em todas as coisas; podemos ter esperana de que nos far vitoriosos sobre todas as nossas provaes, e podemos demonstrar amor uns aos outros segundo a medida de amor que Cristo nos deu. Cristo melhor do que as tradies.

  • 20Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    Com o passar dos sculos, os judeus tinham criado inmeras tradies paralelas aos mandamentos de Deus e algumas de suas ordens. Alm do Pentateuco e dos outros livros que compem o Canon hebraico, existiam as tradies orais e outras obras escritas, repletas de outros ensinamentos que iam sendo adquiridos no dia-a-dia da vida do povo escolhido. Com a presena de Jesus entre eles, algumas destas tradies foram questionadas e rejeitadas pelo novo ensinamento de Cristo. Contudo, observamos que a Igreja do primeiro sculo d.C. era, na sua maioria, composta de crentes judeus. Isto sem dvida levou alguns deles, que abraavam a f em Jesus, a conservarem consigo algumas de suas tradies levando-os a aceitarem a f e ao mesmo tempo, continuarem guardando suas tradies (cf. At 15.1). O autor sagrado mostra-lhes que ... se algum est em Cristo, nova criatura : as coisas velhas j passaram; eis que tudo se fez novo (2 Co 5.17). Isto no somente inclua a velha natureza, que agora em Cristo fora substituda por uma nova natureza, mas tambm as velhas tradies e ordenanas da Lei. Estas tambm tinham sido substitudas pela f e a graa de nosso Senhor Jesus Cristo, que doravante era o meio e a causa da justificao de judeus e gentios (Jo 1.I7).

    VI. Seu ContedoA Epstola aos Hebreus composta por:

    13 captulos; 303 versculos; 6.454 palavras (Edio Revista e Atualizada); 17 perguntas (1.5 [duas vezes], 13,14; 2.4,6 [duas vezes];

  • 21Mais Excelente do que os Anjos

    3.17 [duas vezes], 18; 7.11; 9.14,17; 10.29; 11.32; 12.7,9);

    Citaes do Antigo Testamento. Alm de seu contedo principal, a Epstola aos Hebreus encontra-se pontilhada de citaes em seus 13 captulos. Todos, sem exceo, contm passagens do Antigo Testamento (cerca de 85 ao todo). Algumas dessas passagens envolvem at livros inteiros, quando desenvolvido um tema. Veja o quadro a seguir:

    1. AT: 2 Samuel 7.14; Salmos 2.7; 45.6,7; 104.4; 110.1 = Hebreus 1.5-132. Gnesis 33.5; Isaas 8.18; Salmos 8.4-6; 22.22 = Hebreus 2.6-8,12,133. xodo 12.37-51; Salmos 95.7-11 = Hebreus 3.7-11,154. Gnesis 2.2; Josu 11.23; Salmos 95.11 = Hebreus 4.3,4,5,75. Salmos 2.7; 110.1,4 = Hebreus 5.5,6,106. Gnesis 22.16,17; Salmos 110.1,4 Hebreus 6.14,207. Gnesis 14.18-20; Nmeros 18.21-28; Salmos 110.4 = Hebreus 7.1,2,10,11,15,178. xodo 25.40; Jeremias 31.31-34 = Hebreus 8.5,8-129. xodo 24.8; 25 40; 30.10; Levtico 16; Nmeros 19 = Hebreus 9.1-7,13,14,18-2110. Deuteronmio 31.6; 32.35,43; Salmos 40.6-8; Habacuque 3.3,4 = Hebreus 10.5-9,30,37,38, etc.11. Gnesis I; 2 = Hebreus 11.3 Gnesis 4.3-5; 10; 11 = Hebreus 11.4 Gnesis 5.24 = Hebreus 11.5Gnesis 6.13-22; 7.1-22 = Hebreus 11.7a Gnesis 8.1-22 = Hebreus 11.7b Gnesis 12.1-5 = Hebreus 11.8

  • 22Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    Gnesis 12.6-9 = Hebreus 11.9 Gnesis 21.1-3 = Hebreus 11.11 Gnesis 18.11 = Hebreus 11.12a Gnesis 22.17 = Hebreus 11.12b Gnesis 22.1-19 = Hebreus 11. 17 Gnesis 15.4 = Hebreus 11. 18 Gnesis 27.4-40 = Hebreus 11.20 Gnesis 48.1-20 = Hebreus 11.21Gnesis 50.24,25; xodo 13.19; Josu 24.32 = Hebreus 11.22xodo 2.2,3 = Hebreus 11.23axodo 1.15,16,22 = Hebreus 11.23bxodo 2.II = Hebreus 11.24-26xodo 12.37-41 = Hebreus 11.27xodo 12.1-28 = Hebreus 11.28xodo 14.16-31 = Hebreus 11.29Josu 6.15,20 = Hebreus 11.30Josu 6.22,23 = Hebreus 11.31 aJosu 2.1-21 = Hebreus 11.31bJuizes 68 = Hebreus 11.32aJuizes 5 = Hebreus 11.32bJuizes 1317 = Hebreus 11.32cJuizes II; 12 = Hebreus 11.32d1 Samuel I31 = Hebreus 11.32e2 Samuel 124 = Hebreus 11.32f Daniel 6 = Hebreus 11.33 Daniel 3 = Hebreus 11.34, etc.12. Provrbios 3.11,12; Gnesis 25.29-34; 27.1-46; xodo 19.12,16; Ageu 2.6 = Hebreus 12.5,16-21,2613. Gnesis 19.1 -17; Deuteronmio 31.6; Salmos 27.1; 56.4,11 ; Levtico 6.14-19; Nmeros 5.9,10; 19.3 = Hebreus 13.2,5,10,11

  • 23Mais Excelente do que os Anjos

    Dos versculos 35 a 40 de Hebreus 11, so apresentadas referncias e inferncias gerais.

    VII. O Primognito de toda a Criao1 Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a ns falou- nos, nestes ltimos dias, pelo Filho,

    O autor sagrado usa aqui uma linguagem geral para representar o Antigo Testamento, onde Deus falou e se apresentou aos pais, pelos profetas de muitas maneiras. Depois ele faz aluso a Cristo como a figura central na inspirao e preparao plenria do Novo Testamento e por extenso, na sucesso da Igreja at o arrebatamento.

    2 a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez tambm o mundo.

    O pensamento humanista moderno e secular est ligado teoria da evoluo. Basicamente, tal teoria defende que todas as coisas que vemos no mundo que nos rodeia apareceram por acaso, e isso implica a excluso de toda e qualquer participao divina. Em contraposio, as Escrituras declaram que a ordem, a diversidade, a complicada interdependncia e beleza do mundo natural foram criadas por um Deus vivo e auto- existente, e que na criao houve a participao direta do Filho, conforme descrito por Paulo, quando diz: O qual imagem do Deus invisvel, o primognito de toda a criao; porque nele foram criadas todas as coisas que h nos cus e na

  • 24Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    terra, visveis e invisveis, sejam tronos, sejam dominaes, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. E ele antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele a cabea do corpo da igreja; o princpio e o primognito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminncia (Cl 1.15-18).

    3 O qual, sendo o resplendor da sua glria, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela. palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificao dos nossos pecados, assentou-se destra da Majestade, nas alturas;

    Um dos argumentos defendidos por Toms de Aquino em sua Suma Teolgica, quando aborda as cinco vias que conduzem a Deus, o da Ordem do Mundo. A prova da ordem do mundo (ou, segundo Toms de Aquino, o argumento das causas finais) se apia no princpio da finalidade e toma a seguinte forma: A organizao complexa, objetivando um fim, exige uma inteligncia ordenada. Esta prova parte do princpio da ordem universal, atravs da qual demonstrado o supremo poder pessoal que existe no Filho de Deus. Essa ordem evidente: considerado no seu conjunto, o universo nos aparece como uma coisa admiravelmente ordenada, em que todos os seres, todos os elementos, por mais diferentes que sejam, contribuem para o bem geral do universo. Jamais uma estrela, planeta ou cometa entraram na rbita dos outros. A natureza obedece rigidamente s leis estabelecidas por Deus. O universo no ultrapassa qualquer limite alm daquilo que lhe foi prescrito. Todo este complexo de seres e coisas encon- tra-se orientado e sustentado ... pela palavra do seu poder.

  • 25Mais Excelente do que os Anjos

    VIII. A Excelncia de Jesus acima dos Anjos4 feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles.

    Um dos pensamentos principais do escritor nesta epstola mostrar a superioridade do Filho de Deus sobre os seres e as coisas, e aqui neste versculo os anjos so tomados nesta contextualizao. Cristo herdou mais excelente nome do que estes poderes angelicais, ainda que na esfera celeste seus nomes sejam honrados e admirados (Jz 13.18; Lc 1.19), mas o nome JESUS nome por excelncia! Paulo descreve como este nome maravilhoso e que foi escolhido por Deus Pai nas esferas da existncia, dizendo: Pelo que tambm Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que esto nos cus, e na terra, e debaixo da terra, e toda lngua confesse que Jesus Cristo o Senhor, para glria de Deus Pai (Fp 2.9-11).

    5 Porque a qual dos anjos disse jamais: Tu s meu Filho, hoje te gerei? F outra vez: Fu lhe serei por Pai, e ele me ser por Filho?

    Existem entre os comentaristas das Escrituras discordncia no que diz respeito palavra hoje, na passagem em foco. Alguns opinam que ela se refere ao hoje do tempo, quando Jesus foi gerado no ventre da virgem; enquanto outros sugerem que ela se aplica ao hoje da eternidade, quando Jesus fora gerado no eterno querer de Deus. Nesse caso, o hoje aqui se

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus26

    referia eternidade passada. No tendo assim, portanto, nenhum vnculo com o tempo presente do calendrio sucessivo. Em cerca de 300 d.C., um sacerdote egpcio chamado rio comeou a ensinar que Jesus no era o eterno Filho de Deus, mas simplesmente um ser celestial, criado por Deus antes da criao do universo. Para refutar tal heresia foi criado o Credo de Nicia, na Bitnia (atual Turquia), em 325 d.C. Ele inclua algumas declaraes importantes a respeito de Jesus, para tornar claro que Jesus era tanto homem como Deus, visto que fora gerado e no criado. Originalmente, o Credo de Nicia dizia: Creio em um Deus, o Pai Todo-poderoso, Criador dos cus e da terra, e de todas as coisas visveis e invisveis. E no Senhor Jesus Cristo, o Filho Unignito de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, no feito, sendo de uma substncia como o Pai, por quem todas as coisas foram feitas; que por ns, homens, e nossa salvao, veio dos cus e foi encarnado pelo Esprito Santo no ventre da Virgem Maria, e foi feito homem; foi crucificado por ns sob Pncio Pilatos. Ele sofreu e morreu e foi sepultado; e no terceiro dia ressuscitou, segundo as Escrituras, e ascendeu aos cus, e est sentado direita do Pai. E voltar de novo, com glria, para julgar tanto os vivos como os mortos, cujo reino no ter fim. Atravs deste Credo o arianismo foi condenado, e o prprio rio foi anatematizado. Depois, acrescentou-se o Esprito Santo como parte da Santssima Trindade e a nica Igreja, crist apostlica, como regra de f e modelo de doutrina. Esta outra parte que posteriormente fora adicionada, dizia: E creio no Esprito Santo, o Senhor e Doador da vida, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho adorado e glorificado; que falou pelos profetas. E creio na nica Igreja, crist apostlica.

  • 27Mais Excelente do que os Anjos

    Reconheo um batismo pela remisso dos pecados, e aguardo a ressurreio dos mortos, e a vida do mundo, que vem. Amm.

    6 E, quando outra vez introduz no mundo o Primognito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem.

    De acordo com alguns eruditos das Escrituras, a frase outra vez introduz no mundo o Primognito aponta claramente para a encarnao de Cristo, acontecimento este que, talvez os anjos, sem uma explicao por parte de Deus, jamais entenderiam. Eles foram adoradores de Cristo antes deste perodo, mas ignorando seu estado de humilhao, quando ... aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens (Fp 2.7). Era necessrio, portanto, que Deus, o Pai, ordenasse a estes elevados poderes que Jesus, mesmo tornando- se menor do que os anjos, por causa da paixo da morte, o fez por uma necessidade premente da salvao da pessoa humana. Mas Ele continuava o mesmo Deus, em sua natureza e essncia, quando era por eles adorado no trono da sua glria. Ento, Ele foi por eles (os anjos) aceito sem restrio alguma (cf. I Pe 3.22).

    7 E, quanto aos anjos, diz: O que de seus anjos faz ventos e de seus ministros, labaredas de fogo.

    Esta citao tomada por alegoria de Salmos 104.4, que diz: Faz dos ventos seus mensageiros, dos seus ministros, um fogo abrasador. Esta figura de linguagem aqui usada para mostrar que os anjos foram criados para serem servos, e no senhores, tal como as foras fsicas da natureza eram dependentes e

  • 28Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    finitas. Houve um tempo em que alguns destes seres caram na tentao e pecaram, sendo assim levados pelo vento da rebelio e consumidos pelo fogo do orgulho em seus coraes. Mas Jesus em tudo foi submisso ao Pai, e jamais transgrediu um s mandamento ou uma s ordem que dEle tinha recebido. Este era o seu objetivo principal: fazer a vontade de Deus, como Ele mesmo dissera: ... eu desci do cu no para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 6.38). Com efeito, porm, Ele pode ter sido tentado a fazer algo que fosse contrrio vontade de Deus. Mas no cedeu a tal pensamento contrrio natureza do seu ser. Por esta razo o escritor sagrado conclui: Ele ... em tudo foi tentado, mas sem pecado (Hb 4.15b).

    8 Mas, do Filho, diz: Deus, o teu trono subsiste pelos sculos dos sculos; cetro de eqidade o cetro do teu reino.

    Os gnsticos procuravam degradar o Filho de Deus, dizendo que Ele no era Deus, mas apenas uma emanao em processo de evoluo. Contudo, o prprio Deus Pai chama seu Filho de Deus. A pessoa que aqui est falando a mesma que vinha falando nos versculos anteriores e, sem dvida alguma, a pessoa do Pai, que aqui est em foco! A superioridade do Filho fica demonstrada nesta argumentao sobre os anjos, mostrando a infalibilidade de seu trono e de sua justia. Cerca de 8 livros do Novo Testamento foram escritos com o propsito de direta ou indiretamente refutarem determinadas heresias gnsticas, que procuravam negar a divindade de Jesus Cristo como sendo Deus. Mas o autor de Hebreus nos apresenta Jesus como sendo Deus e igual ao Pai em essncia, poder

  • 29Mais Excelente do que os Anjos

    e glria e em uma comunho coeterna, em tudo sendo exaltado pelo Pai.

    9 Amaste a justia e aborreceste a iniqidade; por isso,Deus, o teu Deus, te ungiu com leo de alegria, mais do que a teus companheiros.

    Tanto as Escrituras do Antigo Testamento como as do Novo afirmam que Jesus seria um Rei Ungido. Na passagem em foco, parece que alguns anjos foram ungidos por Deus para exercerem misses especiais. Pelo menos o querubim que estava no Jardim do den recebera uma espcie de uno para proteger, conforme depreendido em Ezequiel 28.14, que diz: Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas (nfase do autor). Alguns anjos que permaneceram fiis ao lado de Deus tambm foram eleitos, o equivalente da palavra ungidos (I Tm 5.21), mas nenhum destes seres recebeu uma uno to especial como aquela que recebera Jesus. Sua uno foi completa em todas as dimenses da existncia (cf. SI 45.7; Is 61.1; Lc 4.18; At 4.27). E, portanto, com este sentido que se destaca a uno de Cristo, quando o autor sagrado afirma: "... Deus ungiu a Jesus de Nazar com o Espirito Santo e com virtude; o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele (At 10.38, nfase do autor).

    IX. A Criao e o Julgamento do Homem

    10 E: Tu, Senhor, no princpio, fundaste a terra, e os cus so obra de tuas mos;

  • 30Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    O conceito evolucionista tem oferecido vrias explicaes sobre o surgimento do universo, incluindo cus e terra, dizendo que o aparecimento de cus e terra, com seu sistema csmico, deu-se atravs de um big bang. Segundo essa teoria, o universo surgiu de uma grande exploso csmica, o big bang, entre 8 bilhes e 20 bilhes de anos atrs. At ento, as estruturas do universo concentravam-se em um nico ponto, de temperatura e densidade energtica altssima. Esse ponto explode o instante inicial e comea assim a sua expanso, que continua at hoje. Nosso ponto de vista se baseia na adeso firme das Escrituras. Elas afirmam que os cus e a terra todo o universo tm sua origem em Deus, que os criou (Hb 11.3). Qualquer outra explicao alm desta no passa de vaga teoria nascida de imaginaes vazias, criada simplesmente para confundir a mente e a imaginao das pessoas (cf. I Tm 6.20).

    11 eles perecero, mas tu permanecers; e todos eles,como roupa, envelhecero,

    Uma vez que o cu superior, onde est instalado o trono de Deus, eterno, no , pois, sujeito a qualquer mudana. Cremos que a passagem e transformao aqui em foco se processar nos cus atmosfricos e astronmicos. Pedro fala disso em estado de grande expectativa, dizendo: Mas o Dia do Senhor vir como o ladro de noite; no qual os cus passaro com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfaro, e a terra e as obras que nela h se queimaro... aguardando e apres- sando-vos para a vinda do Dia de Deus, em que os cus, em fogo, se desfaro, e os elementos, ardendo, se fundiro? (2 Pe

  • Mais Excelente do que os Anjos

    3.10,12) Tais acontecimentos tero incio durante o perodo sombrio da Grande Tribulao, quando boa parte do universo visvel ser abalada por cataclismos iminentes (Ap 6.12-14; 17.20). Contudo, sua consolidao final somente se dar no Dia do Senhor, que por extenso, incluir tambm o Juzo Final, quando cus e terra passaro com grande e estrepitoso estrondo, conforme j mencionado (cf. Ap 20.11).

    12 e, como um manto, os enrolars, e, como uma veste, se mudaro; mas tu s o mesmo, e os teus anos no acabaro.

    O escritor sagrado continua em sua narrativa descrevendo a expurgao dos cus e da terra, porm mostrando que nenhuma mudana haver em Cristo, que para sempre continuar o mesmo ontem, e hoje, e eternamente em seu ser, em seu carter e em seu poder. A idia gnstica procurava ensinar que existia uma hierarquia de mediadores entre Deus e o homem, e que para este chegar presena de Deus, era necessrio atingir todos estes degraus de mediaes. Com tais heresias, eles excluam a Cristo do plano eterno da redeno. Porm, as Escrituras afirmam que Cristo eterno, e o nico Mediador entre Deus e os homens. E sendo eterno como Ele o , Ele Deus, no estando sujeito nem ao tempo e nem ao espao.

    A eternidade definida quanto quilo que infinito em relao ao tempo. O tempo marca extenso. Deus eterno! Uma vez que existe pela prpria necessidade de sua existncia. O tempo marca o incio da existncia criada; e como Deus nunca teve incio de existncia, o tempo no se aplica a Ele e nem a Jesus, que possui a mesma natureza do Pai.

  • 32Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    13 E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te minha destra, at que ponha os teus inimigos por escabelo de teus ps?

    Aqui tomada uma passagem do Antigo Testamento para representar o triunfo de Cristo sobre seus inimigos. Eles sero colocados debaixo de seus ps e sero esmagados como vasos de oleiro. Na antiguidade, quando um exrcito era derrotado, era costume os vencedores colocarem seus ps sobre os pescoos de seus inimigos vencidos, como sinal de extrema e degradante humilhao (SI 110.1). Cristo est assentado mo direita do Pai, exercendo todo o poder e autoridade, at que seus inimigos, incluindo o ltimo inimigo, que a morte, sejam aniquilados. Depois, vir o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o imprio e toda a potestade e fora. Porque convm que reine at que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus ps. Ora, o ltimo inimigo que h de ser aniquilado a morte (I Co 15.24-26).

    14 No so, porventura, todos eles espritos ministra- dores, enviados para servir a favor daqueles que ho de herdar a salvao?

    Os anjos so nossos conservos e ministram a nosso favor quando so designados por Deus para certas funes, sejam elas terrenas ou celestiais. Contudo, jamais devemos pensar que os anjos so mediadores entre Deus e os homens no que diz respeito salvao. Tal posio de mediador pertence so-

  • 33Mais Excelente do que os Anjos

    mente a nosso Senhor Jesus Cristo. Porque h um s Deus, e um s mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preo de redeno... (I Tm 2.5,6). Pedro, quando argido diante da Suprema Corte judaica acerca da pessoa de Jesus e de suas obras miraculosas, disse: ... Em nenhum outro nome h salvao, porque tambm debaixo do cu nenhum outro nome h, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos (At 4.12).

    1 CESARIA, Eusbio de, Histria Eclesistica, CPAD, Rio de Janeiro, 1999.

    2 HOUSE, Wayne. H., O Novo Testamento em Quadros, Editora Vida, So Paulo, 1999.

  • Uma to Grande Salvao

    I. A nossa Salvao1 Portanto, convm-nos atentar, com mais diligncia, para as coisas que j temos ouvido, para que, em tempo algum, nos desviemos delas.

    O escritor agora procura voltar a ateno para aquilo que acabou de ser dito no captulo primeiro acerca da elevada dignidade de Cristo e sobre seu poder de salvar. Ele chama a ateno dos santos para que atentem com mais diligncia para o grande valor da salvao que tinham recebido por meio do Evangelho da graa de Deus. As coisas que eles tinham visto e ouvido eram suficientes para lhes garantir a certeza de que Jesus era o Cris-

  • 36Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    to, o Filho de Deus, e que seu sacrifcio expiatrio tinha selado um novo pacto, feito por meio do seu sangue. Desviar-se, portanto, destas coisas, era voltar as costas para o maior e melhor benefcio de Deus a eles concedido, que doravante eram justificados em Cristo, sem o rigor da Lei (cf. Rm 10.4). Desviar-se o inverso de enviado, e a vontade de Deus no procedimento cristo que cada crente seja um enviado. Assim falou o Senhor Jesus depois de sua ressurreio, quando dava instrues aos seus discpulos: Assim como o Pai me enviou, tambm eu vos envio a vs (Jo 20.21).

    2 Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda transgresso e desobedincia recebeu ajustaretribuio,

    A palavra proferida pelos anjos em ambos os Testamentos, anunciando castigos ou determinando bnos, foi pronunciada em vrias ocasies; mas a lei de Moiss, conforme depreendemos de textos e contextos sagrados, deve aqui estar em foco. Estvo lembrou aos judeus, dizendo: Vs que recebestes a lei por ordenao dos anjos e no a guardastes (At 7.53). E em Glatas 3.19, Paulo diz que a Lei ... foi posta pelos anjos na mo de um medianeiro. Era crena comum entre os judeus dos ltimos dias que a Lei fora mediada por meio dos anjos. Essa Lei era firme era a Palavra de Deus , e sua violao produziria sofrimentos apropriados, como punio. Ainda que Deus seja tardio em irar-se, contudo chega o momento em que Ele pe termo sua misericrdia, para aplicar a sua correo reparadora. Em alguns casos isso envolve apenas um indivduo em particu-

  • Uma to Grande Salvao37

    lar; mas em outros, envolve naes inteiras. Essas punies so justas, e no exploses arbitrrias de vingana, pois sua prpria justia vindicava a Lei.

    3 como escaparemos ns; se no atentarmos para uma to grande salvao, a qual, comeando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos, depois, confirmada pelos que a ouviram;

    A palavra salvao encontra-se nas pginas do Novo Testamento com profundo significado e infinito alcance, e no texto em foco seu significado assume uma posio ainda mais elevada pelo expressivo termo grande. Isso se deu porque mui grande foi o nosso pecado (SI 19.13). A redeno em Cristo, o perdo dos pecados, a transformao segundo a sua imagem atravs da santificao, a glorificao e toda a plenitude de Deus, e a vida ltima alcanada em Cristo, so razes que tornam a redeno em grande salvao, porque esta foi efetuada por um grande Salvador, Jesus Cristo, o nosso Senhor. Por esta razo podemos dizer: Bendito o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e remiu o seu povo! E nos levantou uma salvao poderosa... (Lc 1.68,69). Assim, ... onde o pecado abundou, superabundou a graa; para que, assim como o pecado reinou na morte, tambm a graa reinasse pela justia para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 5.20,21).

    4 testificando tamhm Deus com eles, por sinais, e milagres, e vrias maravilhas, e dons do Espirito Santo, distribudos por sua vontade?

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus38

    Aqui neste versculo est em foco a operao miraculosa do Esprito Santo em ambos os Testamentos, mas a nfase maior recai do Pentecostes ao perodo quando esta epstola estava sendo escrita, quando as manifestaes dos dons espirituais eram evidentes em cada reunio. No entanto, as bnos materiais em plenitudes tambm so aqui adicionadas nas vidas crists e por extenso, nas vidas de outros povos. Paulo lembrou aos povos da Licania, dizendo: ... [Deus] no se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos l do cu, dando-vos chuvas e tempos frutferos, enchendo de mantimento e de alegria o vosso corao (At 14.17). E em Efsios 3.20, Paulo acrescenta: Ora, quele que poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente alm daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em ns opera, a esse glria na igreja, por Jesus Cristo... (nfase do autor). E ainda em Filipenses 4.19, o apstolo refora o mesmo significado do pensamento, quando diz: O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprir todas as vossas necessidades em glria, por Cristo Jesus.

    II. Cristo e sua Natureza Divina5 Porque no foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro,de que falamos;

    Este mundo vindouro de que fala o texto ser administrado pelo Filho de Deus. Ele quem ser exaltado ali, e no os anjos ou outro personagem da esfera terrena ou celestial. O mundo futuro era concebido pelos judeus para indicar o reino messinico de Cristo; mas aqui indica algo que vai mais alm: ele inclui tambm o estado eterno, quando tanto o Filho como o Pai sero tudo em todos (cf. I Co 15.28). Na esfera celestial,

  • Uma to Grande Salvao39

    onde no existe disputa pelo poder, ganncia por grandeza ou ostentao, tudo tratado em sentido comum. Por esta razo, h um s corpo e um s Esprito, como tambm fostes chamados em uma s esperana da vossa vocao; um s Senhor, uma s f, um s batismo; um s Deus e Pai de todos, o qual sobre todos, e por todos, e em todos (Ef 4.4-6). Por isso nos dito que aqueles que praticam o mal, no ... [tm] herana no Reino de Cristo e de Deus. Assim, fica evidenciado que o Reino eterno, onde Jesus ser o Soberano Dominador, pertence tanto a Deus Pai como a seu Filho Jesus Cristo (Ef 5.5).

    6 mas, em certo lugar, testificou algum, dizendo: Que o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites?

    Certa vez, algum testificou, usando o trecho de Salmos 8.4-6, que diz: Que o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que os anjos e de glria e de honra o coroas- te. Fazes com que ele tenha domnio sobre as obras das tuas mos; tudo puseste debaixo de seus ps. Esta passagem fala de Cristo em primeiro plano e tambm fala do homem. Porm, podemos ver a questo da nfase aqui o que dito do princpio ao fim deve aplicar-se tanto a Cristo como aos homens, pois Ele se tornou verdadeiro homem, compartilhando perfeitamente da posio humana. Era impossvel que Cristo morresse sendo apenas Deus porque Deus no pode morrer (I Tm 6.16). Ele possui em sua natureza a imortalidade. Portanto, Cristo se humanizou para poder morrer e assim, por meio de sua morte, poder salvar os homens.

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus40

    7 Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, de glria e de honra o coroaste e o constituste sobre as obras de tuas mos.

    A linguagem aqui empregada dignifica tanto a pessoa de Cristo como sua obra redentora em favor dos homens. Cristo, por amor de ns, sendo Deus se fez homem; sendo Senhor se fez servo, sem queixar-se se fez pobre, sendo divino se fez humano, sendo Senhor dos anjos; por amor dos pecadores, se fez menor do que eles, quando ... aniquilou a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente at morte e morte de cruz. Pelo que tambm Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que sobre todo o nome (Fp 2.7-9). Existem vrias maneiras atravs das quais algum pode conseguir alguma espcie de glria e honra. Uma delas pode ser tcnica preparada por algum que dispe dos meios e das circunstncias. Pode ser tambm por usurpao por algum que, usando de meios ilcitos e esperteza, consegue atingir uma posio elevada aos olhos humanos. E pode ser, ainda, por merecimento como aqui, no caso de Cristo. Ele foi coroado de glria e de honra pelo Pai, porque digno de toda a honra e de toda a glria!

    III. O Reino Eterno

    5 Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos ps. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que lhe no esteja sujeito. Mas agora, ainda no vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas;

  • Uma to Grande Salvao41

    O total domnio de Cristo comear seu processo de acelerao no princpio de formao do reino milenial, quando a dispensao da plenitude dos tempos ter incio, e quando Deus tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensao da plenitude dos tempos, tanto as que esto nos cus como as que esto na terra (Ef 1.10). J no Armagedom, a grande vitria de Cristo sobre o Anticristo e suas hostes aponta para esse tempo do fim, quando todos os inimigos do Filho de Deus entraro num processo acelerado de enfraquecimento. Cristo reinar. Todos os seus inimigos, sejam eles humanos ou angelicais, sero destrudos. Depois, vir o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo imprio e toda potestade e fora (I Co 15.24). Quando isso acontecer, ... ento tambm o mesmo Filho se sujeitar quele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos (v. 28).

    9 vemos, porm, coroado de glria e de honra aquele Jesus que fora Jeito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixo da morte, para que, pela graa de Deus, provasse a morte por todos.

    Estes seres celestiais j contam na presente era com a felicidade da vida ltima, isto , so seres imortais. Esta capacidade lhes d condio de serem superiores aos homens, que so seres mortais. Porm, quanto pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, so inferiores a Ele em cinco pontos. Ainda que por um pouco de tempo, Jesus... fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixo da morte (Hb 2.9).

    1o Os anjos so criaturas de Deus. Ainda que chamados filhos de Deus, contudo, no tm em si a condio

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus42

    original peculiar ao Senhor Jesus, que chamado de O unignito Filho de Deus. Por este motivo, Jesus foi feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles (Hb 1.4).

    2 Em razo da adorao, os anjos so inferiores a Cristo; eles so adoradores, enquanto Cristo adorado!

    3 Os anjos so ministros da salvao; Jesus o Autor da salvao. Isso certamente o coloca acima de qualquer posio angelical.

    4 Os anjos foram criados; Cristo o Criador.5o Os anjos so sditos; Cristo o Senhor. Ora, tanto

    no passado como no presente, e, mormente no futuro, os anjos foram, so e sero sditos do Reino de Deus, porm Cristo foi, e sempre ser o soberano Senhor (Hb 2.5-9).

    IV O Cristo Glorificado10 Porque convinha que aquele, para quem so todas as coisas e mediante quem tudo existe, trazendo muitos

    filhos glria, consagrasse, pelas aflies, o Prncipe da salvao deles.

    O Filho de Deus, quando se humanizou, despojou-se de toda a sua glria que tinha com o Pai. Por cuja razo Ele orou, dizendo: ... agora glorifica-me tu, Pai, junto de ti mesmo, com aquela glria que tinha contigo antes que o mundo existisse. Mais adiante, continuando sua Orao Sacerdotal, nosso Senhor diz ao Pai que repartiu com seus discpulos a glria que dEle havia recebido: E eu dei-lhes a glria que a mim me deste, para que sejam um, como ns somos um (Jo 17.5,22). Portanto, este privilgio de se apre-

  • Uma to Grande Salvao43

    sentar ao Pai levando consigo muitos filhos glria lhe pertence por direito e por resgate. Uma vez que a misso de Cristo foi completada, Ele foi glorificado. Contudo, esta misso foi consumada por meio de suas aflies. Porventura, no convinha que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glria? assim afirma o texto de Lucas e o contexto que temos aqui neste versculo (Lc 24.26).

    11 Porque, assim o que santifica como os que so santificados, so todos de um; por cuja causa no se envergonha de lhes chamar irmos,

    O direito de filiao divina dar-se- para aqueles que aceitam a Jesus como Salvador. A esses, Jesus ... deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crem no seu nome, os quais no nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varo, mas de Deus (Jo 1.12,13). A partir da, dentro da comunidade crist, o termo irmo usado para indicar o amor mtuo, a compaixo e o respeito por aqueles que confiam em Cristo e pertencem mesma famlia espiritual. Os anjos no so chamados de nossos irmos, porque pertencem a uma outra ordem elevada, isto , uma ordem espiritual. Mas na esfera do trabalho para Deus, eles so nossos conservos (Ap 22.9). Contudo, o mais importante neste contexto que aquEle que nos santifica (Jesus) chama-nos de meus irmos e de meus amigos(Mt 28.10; Jo 15.14).

    12 dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmos, cantar- te -ei louvores no meio da congregao.

  • 44Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    O louvor, em si mesmo, um sacrifcio que agrada a Deus (Hb 13.15). E Cristo em tudo procurou fazer a vontade do Pai, e sempre lhe oferecia este tipo de sacrifcio dos lbios, dando-nos assim o exemplo de que at o louvor que a Deus oferecemos deve passar por Ele. isso que depreendemos de Hebreus 13.15, que diz: ... ofereamos sempre, por ele [Jesus], a Deus sacrifcio de louvor, isto , o fruto dos lbios que confessam o seu nome. Muitos tm pensado que Jesus era uma pessoa extremamente sisuda. Contudo, pelo contrrio, Jesus era bem-humorado. Seu porte era impressionante e sua presena sempre inspirava confiana e segurana naqueles que o seguiam. E tudo quanto Ele fazia, o fazia de corao e com toda a pureza e dignidade de sua alma e como forma de gratido a Deus.

    13 E outra vez: Porei nele a minha confiana. E outravez: Eis-rne aqui a mim e aos filhos que Deus me deu.

    Historicamente falando, parece que o pano de fundo desta primeira citao a passagem de Salmos 18.2, enquanto na segunda pode estar em foco Gnesis 33.5; Isaa.s 8.18 e Joo 17.12. A primeira delas deve ser a citao de Gnesis que est em foco, e saiu dos lbios de Jac, quando disse a seu irmo Esa: [estes so] Os filhos que Deus graciosamente tem dado a teu servo. E a segunda deve ser Isaas 8.18, que diz: Eis- me aqui, com os filhos que me deu o Senhor... No dia do arrebatamento, todos os filhos de Deus comparecero perante o Pai, conduzidos por Jesus, o seu primognito e ali Ele dir aos anjos e tambm ao prprio Pai: Eis-me aqui a mim e aos

  • Uma to Grande Salvao45

    filhos que Deus me deu. Todos estes filhos eram filhos de Deus, mas durante a dispensao da graa foram transferidos por direito e por resgate para nosso Senhor Jesus Cristo. Ele mesmo afirmou que isso fora feito por um ato da prpria vontade de Deus, dizendo: Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra (Jo 17.6).

    14 E, visto que os filhos participam da carne e do sangue, tamhm ele participou das mesmas coisas, para que, pela morte, aniquilasse o que tinha o imprio da morte, isto , o diabo,

    O Diabo citado em 7 livros do Antigo Testamento e em 19 do Novo Testamento. Porm, a nica ocorrncia que temos do seu nome na Epstola aos Hebreus aqui no versculo 14. A humanidade de Jesus, que o possibilitou de participar ... da carne e do sangue (tornar-se humano), foi necessria para Ele e benfica para a humanidade. Somente atravs deste caminho de humilhao Ele tornou-se capaz de ... aniquilar o que tinha o imprio da morte, isto , o diabo. Esse triunfo de Cristo sobre o Diabo e seu imprio de terror enfatizado por Paulo, quando diz: Havendo [Cristo] riscado a cdula que era contra ns nas suas ordenanas, a qual de alguma maneira nos era contrria, e a tirou do meio de ns, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os exps publicamente e deles triunfou em si mesmo (Cl 2.14,15). A cdula que era contra ns era o imprio da morte. Com efeito, porm, este imprio foi por Cristo aniquilado (Jo 5.24; Ap 2.11).

  • 46Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    13 e livrasse todos os que com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos servido.

    O pecado praticado pelo primeiro homem, Ado, furtou da humanidade a verdadeira vida de liberdade, impondo sobre cada criatura humana o silncio da morte assim a morte passou a todos os homens... (Rm 5.12). Este estado de morte e servido afetou toda a criao e esta passou a gemer. Por esta razo, h uma ... ardente expectao de cada criatura, esperando a manifestao dos filhos de Deus. Este gemido da criao um gemido doloroso. No entanto, com a morte de Cristo na cruz, se inicia uma nova era de libertao: primeiro para todo aquele que cr no seu nome e aceita seu plano redentor; segundo, numa era futura, que ser o Milnio. Deus, por meio de Cristo, libertar sua criao da servido que o pecado lhe imps. E em lugar da servido que coloca sua criao num estado triste e inativo, estabelecer seu Reino eterno de poder e glria, que ter incio no Milnio e continuar por toda a eternidade (cf. Rm 8.18-23; 2 Pe 3.13).

    16 Porque, na verdade, ele no tomou os anjos, mas tomou a descendncia de Abrao.

    Ao ser questionado pela mulher samaritana diante do poo de Jac a respeito do lugar ideal para adorao, Jesus lhe respondeu: Mulher, cr-me que a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalm adorareis o Pai. Vs adorais o que no sabeis; ns adoramos o que sabemos porque a salvao vem dos judeus (Jo 4.21,22). Alguns comentaristas opinam que o nome

  • 47Uma to Grande Salvao

    de Ado aqui fosse mais apropriado, para completar a frase: a descendncia de Ado, pois todos os homens, judeus e gentios, so seus descendentes. Entretanto, o nome Abrao talvez seja mais abrangente, indicando todos aqueles que so seus descendentes espirituais, tornando-se assim no Israel de Deus (G1 6.16). E, em sentido direto, Cristo sua posteridade. Portanto, o perodo de preparao para que o plano da redeno se completasse foi confiado no aos anjos, mas descendncia (os judeus) de Abrao, atravs da qual viria o descendente que Cristo para consumar a redeno.

    17 Pelo que convinha que, em tudo, fosse semelhante aos irmos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que de Deus, para expiar os pecados do povo.

    Na Epstola aos Hebreus, Cristo chamado por vrios apelativos no que diz respeito ordem sacerdotal. Isso demonstra sua superioridade em termos comparativos aos filhos de Aro, ou at mesmo a um outro sacerdote de uma ordem ou casta sacerdotal qualquer, terrena ou celestial. Cristo , portanto:

    Um sumo sacerdote (4.15; 5.6,10; 6.20); Um fiel sumo sacerdote (2.17); Sumo sacerdote da nossa confisso (3.1); Grande sumo sacerdote (4.14; 10.21); Um outro sacerdote [quer dizer, especial: como nem mes

    mo Aro ou Melquisedeque o foram], mas o prprio Filho de Deus (7.11,28);

    Sacerdote eterno (7.17,22);

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    Sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado (7.26); Sumo sacerdote tal alm de qualquer possibilidade que

    a mente humana possa compreender (8.1); Sumo sacerdote dos bens futuros (9.11).

    Com respeito, porm, sua humanidade, Ele se tornou: semelhante aos irmos.

    18 Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que so tentados.

    Aprendemos de vrios textos sagrados que a tentao em si no ainda o pecado, mas ela pode conduzir a pessoa ao pecado. Socorrer aqueles que esto sendo tentados faz parte da misso misericordiosa do Filho de Deus. E esse pensamento que encontra-se encravado no texto em foco, quando diz: ... naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que so tentados. Algumas tentaes nos sobrevm como verdadeiras flechas inflamadas do maligno, ... mas fiel Deus, que vos no deixar tentar acima [alm] do que podeis; antes, com a tentao dar tambm o escape, para que a possais suportar (I Co 10.13). Em outras ocasies, elas so neutralizadas antes mesmo de atingir os salvos. E por esta razo que Jesus nos ensinou a orar e mandou tambm que orasse-mos, dizendo: ... no nos induzas tentao e acrescenta: ... vigiai e orai, para que no entreis em tentao (Mt 6.13; 26.41). Este escape, providenciado por Deus em meio tentao, que nos faz triunfar por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.

  • No Endureais os vossos Coraes

    I. O Sumo Sacerdote da nossa Confisso1 Pelo que, irmos santos, participantes da vocao celestial, considerai a Jesus Cristo, apstolo e sumo sacerdote da nossa confisso,

    A palavra confisso, usada no texto em foco, exprime duas idias importantes para o cristianismo.

    Io Ela traz o sentido da formalidade de um voto, de um acordo legal, indicando, no vocabulrio cristo, a solene lealdade que os homens devem a Cristo como seu Senhor e Salvador. Doravante, sempre envolver mais do que mera aceitao de um credo, de uma confisso de determinadas doutrinas ou decretos preestabeleci- dos. Em sentido elementar, mas espiritual, a

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus50

    entrega da alma a Cristo, naquela atitude dominada pela f: A saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu corao, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, sers salvo (Rm 10.9).

    2o Em sentido litrgico, isso traz em si a idia de um confessionrio, onde o pecador arrependido busca perdo para seus pecados. No caso dos santos, esse confessionrio so os ps de nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus foi constitudo por Deus como ... apstolo e sumo sacerdote da nossa confisso. Diante dEle: Se confessarmos os nossos pecados, ele fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustia (I Jo 1.9).

    2 sendo fiel ao que o constituiu, como tambm o foi Moiss em toda a sua casa.

    O prprio Deus falou isso a respeito de Moiss quando argumentava com Aro e Miri, dizendo: No assim com o meu servo Moiss, que fiel em toda a minha casa (Nm 12.7). Alguns personagens so tomados como figuras nesta epstola para exemplificar aquilo que fizeram de bem ou mal. Veja a lista que se segue, onde so mencionados na primeira citao:

    Do lado espiritual:

    Deus (1.1), Os anjos (1.4), O Esprito Santo (2.4), Jesus (2.9), O Diabo (2.14).

  • 51No Endureais os vossos Coraes

    Do lado humano:

    Abrao (2.16), Moiss (3.2), Davi (4.7), Josu (4.8), Aro(5.4), Melquisedeque (5.6), Levi (7.5), Jud (7.14), Abel(11.4), Caim (11.4), Enoque (11.5), No (11.7), Isaque (11.9), Jac (11.9), Sara (11.11), Esa (11.20), Jos (11.21), Fara (11.24), Raabe (11.31), Gideo (11.32), Baraque (11.32), Sanso (11.32), Jeft (11.32), Samuel (11.32), Timteo (13.23).

    Outros foram citados atravs de seus atos, mas so omitidos seus nomes.

    3 Porque ele tido por digno de tanto maior glria do que Moiss quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou.

    O escritor sagrado retoma aqui nesta passagem o mesmo sentimento que j expressara antes no versculo 9 do captulo anterior, quando afirma: Vemos, porm, coroado de glria e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixo da morte... Deus exaltou seu Filho acima de qualquer poder ou autoridade, porquanto sua glorificao foi suprema. O qual est destra de Deus, tendo subido ao cu, havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potncias (I Pe 3.22). Qualquer tributo feito a uma casa uma honra concedida a seu edificador. Aqui, a casa claramente a famlia de Deus (Ef 3.14,15). Por inferncia, Moiss fazia parte dessa famlia. Mas o construtor (cf. Hb 1.2) Deus, que opera por

  • 52Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    meio do Filho. Cristo o Senhor da Igreja, que a sua casa, mas tambm seu fundador e edificador. Esta casa chamada de casa de Deus, porque do ponto de vista divino, ela a Igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade, de acordo com aquilo que declara Paulo e tambm outras declaraes similares do Novo Testamento (cf. I Tm 3.15).

    4 Porque toda casa edificada por algum, mas o que edificou todas as coisas Deus.

    Deus declarado nas Escrituras como sendo o grande e admirvel construtor do universo. Este conceito se aplica tanto ao universo fsico como ao universo espiritual. Contudo, o argumento aqui em foco diz respeito edificao de um edifcio espiritual. Como casa de Deus, a Igreja tambm a habitao do Esprito Santo de Deus, coletivamente falando. Tal como nos tempos da Antiga Aliana, o templo era considerado o lugar onde Ele manifestava a sua presena. Portanto, evidente que a Igreja sua prpria casa: A qual casa somos ns (Hb 3.6; I Pe 2.5). Assim, cada ser humano que tem um encontro com Jesus torna-se uma casa varrida e adornada, edificada ... para morada de Deus no Esprito (Lc 11.24,25; Ef 2.22), cumprindo-se assim as palavras de Jesus, quando disse: Se algum me ama, guardar a minha palavra, e meu Pai o amar, e viremos para ele e faremos nele morada (Jo 14.23).

    5 E, na verdade, Moiss foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar;

  • 53No Endureais os vossos Coraes

    De acordo com o conceito esboado no presente versculo, Moiss foi tomado por Deus para representar como um servo pode ser fiel na casa de Deus. J no versculo seguinte, esta responsabilidade transferida para o Filho de Deus, que o Senhor de todos. Isto significa que, ... requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel, seja ele um servo ou um senhor. Moiss (representante da Lei) e Cristo (representante da graa) foram em tudo fiis a Deus naquilo para que foram designados. Para ser um verdadeiro servo, necessrio ao homem ser tambm participante da natureza divina, para que haja nele ... o mesmo sentimento que houve tambm em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, no teve por usurpao ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente at morte e morte de cruz (Fp 2.5-8).

    6 mas Cristo, como Filho, sohre a sua prpria casa; a qual casa somos ns, se to-somente conservarmos firme a confiana e a glria da esperana at ao fim.

    A misso do Filho de Deus foi servir vontade divina, cumprindo assim o plano de Redeno para a humanidade. Para edificar este grande edifcio que a sua Igreja, Ele precisou passar pelo vale da humilhao, quando cruzou o caminho da morte e foi atingido por seu aguilho. Porm, usando uma espcie de material mui frgil (barro), nosso Senhor erigiu uma grande e admirvel construo, denominada casa de Deus, que a Igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade (I Tm 3.15). Assim, cada crente deve ser transformado

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus54

    numa coluna, servindo de sustentculo na casa de Deus. Esta foi, portanto, a promessa de nosso Senhor quele que por meio dEle se torna um vencedor. Ento Ele diz: A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sair... (Ap 3.12). Somente nosso Deus eterno, por meio de Cristo, possui tal capacidade para este processo de transformao: fazer do fraco um forte! E, acima de tudo, fazer firme a confiana e a glria da esperana at ao fim de cada remido!

    II. Exortao aos de Corao Endurecido7 Portanto, como diz o Esprito Santo, se ouvirdes hojea sua voz,

    O Esprito Santo falou isso pela boca de Davi cerca de 1000 anos a.C., quando lembrava ao povo de Israel seu endurecimento contra Deus no deserto. Porm, ainda hoje, a exemplo do passado, Ele continua falando as mesmas palavras a cada um de ns, dizendo: Se hoje ouvirdes a sua voz [a minha quando o Esprito Santo fala], no endureais o corao, como em Merib e como no dia da tentao no deserto (SI 95.7,8). Cada mensagem das sete cartas do Apocalipse contm uma advertncia do Senhor Jesus, dizendo s igrejas ali mencionadas: Quem tem ouvidos oua o que o Esprito diz s igrejas (Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22). Isto significa que, em qualquer tempo ou lugar, o Esprito Santo no cessa de falar e de advertir s igrejas. Devemos, portanto, ser sensveis sua voz, e Ele nos guiar com o seu sbio conselho pelo caminho eterno (cf. SI 73.24; 139.23,24).

  • 55No Endureais os vossos Coraes

    s no endureais o vosso corao, como na provocao, no dia da tentao no deserto,

    A palavra corao, nas Escrituras, muitas vezes usada para representar o homem interior, essencial, e com freqncia eqivale ao vocbulo alma e em casos especiais, esprito. Quando no se refere ao rgo fsico do corpo humano, pode indicar a poro emocional ou mesmo intelectual do indivduo. A imaginao do corao do homem m desde a sua meninice e se ele se revolta contra Deus, abre caminho direto para seu endurecimento. Nesse caso, a operao divina, em forma de correo, pode no realizar nele o efeito desejado; porque ao invs de se quebrantar, ele se endurece. Em Salmos 95.10, que focaliza esta passagem, Deus fala queles que tm coraes endurecidos: Quarenta anos estive desgostoso com esta gerao... Mas aqui, logo no versculo 15 do captulo em foco, vem a recomendao para aqueles que esto sendo advertidos, que diz: No endureais o vosso corao.

    9 onde vossos pais me tentaram, me provocaram e viram, por quarenta anos, as minhas ohras.

    Os termos Mass e Merib surgiram diante da rocha em Horebe, quando Israel se encontrava acampado em Refidim, ... e no havia ali gua para o povo beber. Ento, contendeu o povo com Moiss e disse: D-nos gua para beber. Em resposta a esta necessidade, seguida por provocao do povo contra Moiss e contra Deus, o Senhor disse a Moiss: Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirs a

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus56

    rocha, e dela sairo guas, e o povo beber. E Moiss assim o fez, diante dos olhos dos ancios de Israel. E chamou o nome daquele lugar Mass e Mirib, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao Senhor, dizendo: Est o Senhor no meio de ns, ou no? (x 17.1,6,7, nfase do autor) Os nomes prprios empregados naquela passagem Mass e Merib levam alguns estudiosos a essa interpretao. Mass significa tentao, ao passo que Merib significa provocao.Tais atos abusivos santidade divina levaram ao juramento pronunciado por Deus contra o povo: ... no entraro no meu repouso (SI 95.11).

    10 Por isso, me indignei contra esta gerao e disse:Estes sempre erram em seu corao e no conheceramos meus caminhos.

    Nesta argumentao, o escritor sagrado relembra aos crentes hebreus o perigo em que caram aqueles que provocaram a Deus, ao invs de t-lo reverenciado. A desobedincia de Israel no deserto trouxe a Deus um enorme desgosto retardando assim a entrada do povo na Terra Prometida. Aps este incidente, a marcha do povo parou e se inicia o perodo chamado de vagueaes. Desse ponto, voltaram de Cades para o deserto, vaguearam ali por 38 anos, fora do crculo da vontade divina. Ora, vital distinguir entre as duas viagens: uma dentro da vontade divina e outra fora dela. Em face a tudo isso, vem aqui tambm a advertncia divina: ... ningum [nenhum de ns] caia no mesmo exemplo de desobedincia (Hb 4.11), porque a Palavra de Deus nos adverte que: ... a espada tanto consome este como aquele (cf. 2 Sm 11.25; Lc 13.5).

  • 57No Endureais os vossos Coraes

    11 Assim, jurei na minha ira que no entraro no meu repouso.

    Ao bradar dos cus, impedindo que Abrao sacrificasse seu filho Isaque, Deus fez-lhe um juramento de que o abenoaria, como tambm a sua semente. E o texto nos diz que Ele jurou por si mesmo ... Por mim mesmo, jurei, diz o Senhor, porquanto fizeste esta ao e no me negaste o teu filho, o teu nico (Gn 22.16). Mas o juramento divino, na passagem em foco, foi efetuado contra o povo, devido sua rebeldia. Em sua ira, Deus jurou dizendo: ... no entraro no meu repouso. Em sentido espiritual, isso tambm aponta para os dias atuais, quando o descuido tem trazido drsticas conseqncias s vidas de alguns cristos. Ao invs de desfrutarem do descanso prometido por Jesus para suas almas, cumprem-se as palavras de Paulo, quando escreve aos romanos: Tri- bulao e angstia sobre toda alma do homem que faz o mal, primeiramente do judeu e tambm do grego; glria, porm, e honra e paz a qualquer que faz o bem, primeiramente ao judeu e tambm ao grego (Rm 2.9,10).

    12 Vede, irmos, que nunca haja em qualquer de vs um corao mau e infiel, para se apartar do Deus vivo.

    Por diversas vezes ao longo das Escrituras o corao mencionado representando o centro da vida da pessoa humana. Assim, ele tanto pode ser BOM como pode ser MAU, dependendo apenas do contexto do viver de cada um.

  • Quando o corao BOM (daquele que se aproxima de Deus), ele :

    Entendido (I Rs 3.9) Sbio (I Rs 3.12) Perfeito (I Rs 8.61) Reto (I Rs 15.14) Preparado (SI 57.7) Firme (SI II 2.7) Alegre (Pv 15.13) Novo (Ez 18.31) Puro (SI 51.10) Limpo (Mt 5.8) BOM (Lc 6.45)

    Quando o corao MAU (daquele que se afasta de Deus), ele :

    Perverso (SI 101.4) Soberbo (SI 101.5) Orgulhoso (Pv 21.4) Maligno (Pv 26.23) De pedra (Ez 11.19) Incircunciso (Ez 44.7) MAU (Hb 3.12)

    III. Devemos Reter at o Fim o Princpio da nossaConfiana

    13 Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vs se endurea pelo engano do pecado.

    58Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

  • Nossas vidas espirituais devem ser renovadas diariamente. Por esta razo so Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito rvore da vida e possam entrar na cidade pelas portas (Ap 22.14, nfase do autor). O apstolo Joo, aqui, mostra que somente entraro na cidade celestial aqueles que lavam, e no os que lavaram e no lavam mais, as suas vestiduras no sangue do Cordeiro. Ainda que o Hoje aqui em foco seja tomado por extenso para indicar todo o perodo da dispensao da graa, contudo necessrio que a cada dia renovemos nossas vidas espirituais para com Deus e com os irmos ouvindo e pondo em prtica as exortaes que por eles so proferidas e lavando nossas vestes no sangue de Jesus. Algumas vezes (no so todas), essas exortaes vm do prprio Deus. Portanto, devemos guard-las em nossos coraes e no desprez-las sem nenhuma considerao.

    14 Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princpio da nossa confiana at ao fim.

    Esta passagem fala de nossa filiao com Cristo, o que requer nossa fidelidade a Ele at o fim. Atravs deste processo de filiao fomos enxertados na verdadeira Oliveira. Paulo descreve como isso aconteceu: E se alguns dos ramos foram quebrados [Israel], e tu, sendo zambujeiro [gentios], foste en- xertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, no te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, no s tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti (Rm 11.17,18). A participao em tudo quanto Cristo e tem

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    condicionada, se retivermos firmemente o princpio da nossa confiana at o fim. Isto requer um firme propsito de perseverana, conforme foi recomendado por Jesus quando dava instrues a seus discpulos no monte das Oliveiras, com respeito ao fim do mundo presente, dizendo. ... aquele que per- severar at ao fim ser salvo (Mt 24.13).

    15 Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, no endureais o vosso corao, como na provocao.

    Este hoje, aqui em foco, tanto marca o hoje da extenso do tempo, como marca o hoje do calendrio sucessivo, composto de 24 horas. O importante que ele atualiza a nossa obedincia a Deus e sua Palavra. Este o conceito que depreendido do que foi dito no versculo 8 deste captulo e repetido aqui. Encontramos em ambos uma recomendao do Esprito Santo para que nem Israel e nem os cristos, em qualquer poca, permitam que seus coraes sejam endurecidos contra Deus e contra seus ensinos. A perdio de Fara foi endurecer seu corao contra Deus, para no ouvir a sua voz. Dez vezes isso atribudo ao prprio Fara (Ex 7.13,14,22; 8.15,19,32; 9.7,34,35; 13.15) e dez vezes lemos que Deus o endureceu (Ex 4.22; 7.3; 9.12; 10.1,27; 11.10; 14.4,8,17). Mas somos aqui advertidos para no cairmos no mesmo abismo da desobedincia, como Fara e aqueles que no deram ouvidos voz divina.

    IV O Castigo pela Desobedincia16 Porque, havendo - a alguns ouvido, o provocaram; mas no todos os que saram do Egito por meio de Moiss.

  • 61No Endureais os vossos Coraes

    Nem todos foram desobedientes s orientaes divinas, lembra aqui o escritor sagrado. Sempre existiu e existir as excees de Deus em todas as pocas da histria humana. No episdio em que Israel foi envolvido com o bezerro de ouro, a tribo de Levi marcou sua fidelidade ao lado de Deus, no se contaminando com a idolatria. Por isso, recebeu de Deus a misso especial de exercer o sacerdcio entre seus irmos. Eles foram descritos assim: Ps-se em p Moiss na porta do arraial e disse: Quem do Senhor, venha a mim. Ento, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi (Ex 32.26). Assim cremos, e as informaes apontam para isso, pois quando esta epstola estava sendo escrita, muitos companheiros de Paulo o tinham abandonado. Entre outros, Himeneu, Fileto, Demas, etc. Algumas mulheres tambm haviam se desviado, "... indo aps Satans (I Tm 5.15; 2Tm 2.17; 4.10). Mas Deus jamais ser vencido pelas foras do mal, e aqui, no texto em foco, apresentado tambm em contraposto queles um tipo de remanescente que foi preservado por Deus como exemplo de fidelidade.

    17 Mas com quem se indignou por quarenta anos?No foi, porventura, com os que pecaram, cujos corpos caram no deserto?

    Paulo, ainda que de maneira sucinta, mostra-nos um quadro bem vivido destes acontecimentos que levaram a perecer no deserto grande parte do povo eleito. Como solene aviso, ele comea dizendo: Ora, irmos, no quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem; e todos passaram pelo mar, e todos foram batizados em Moiss, na nuvem e no mar, e todos comeram de um mesmo manjar espi-

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus62

    ritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. Mas Deus no se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto. E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que no cobicemos as coisas ms, como eles cobiaram. No vos faais, pois, idlatras, como alguns deles; conforme est escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se para folgar. E no nos prostituamos, como alguns deles fizeram e caram num dia vinte e trs mil. E no tentemos a Cristo, como alguns deles tambm tentaram e pereceram pelas serpentes. E no murmureis, como tambm alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor (I Co 10.1-10). Em seguida, o apstolo conclui, dizendo: Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e esto escritas para aviso nosso, para quem j so chegados os fins dos sculos (I Co 10.11). Vigiemos, pois, e sejamos sbios e santos; porque somente assim Deus se agradar de nosso trabalho e de nosso viver. Do contrrio, cairemos tambm no mesmo exemplo de desobedincia daqueles que pereceram no deserto.

    V A Incredulidade como Pecado Mortal

    18 E a quem jurou que no entrariam no seu repouso,seno aos que foram desobedientes?

    Os telogos medievais procuraram classificar os pecados em formais (toda a transgresso deliberada), e em materiais (transgresso sem consentimento ou sem conhecimento).

    Os pecados capitais so divididos em sete principais fontes de atos pecaminosos, que so:

  • 63No Endureais os vossos Coraes

    Orgulho Avareza Luxria Ira Gula Inveja Preguia

    Eles foram chamados de capitais, segundo este conceito, porque estes atos tm geralmente sua raiz no orgulho.

    O pecado venial o que no considerado mortal e praticado, segundo os telogos da Idade Mdia, por desobedincia em questes de menor gravidade ou pela falta de conhecimento. Segundo se opina, o pecado venial, embora prepare o caminho para o pecado mortal e seja o maior mal depois do pecado mortal, ainda no destri completamente a amizade do homem com Deus. uma enfermidade da alma, e no a morte. No conceito de Paulo, o pecado que abriu caminho para que todos pecassem foi o da desobedincia, dizendo: "... pela desobedincia de um s homem, muitos foram feitos pecadores... (Rm 5.19a, nfase do autor).

    19 E vemos que no puderam entrar por causa da sua incredulidade.

    Os especialistas apresentam vrios tipos de incredulidade, como por exemplo:

    A incredulidade simples. Simplesmente no crer em alguma coisa, de natureza religiosa ou secular;

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    A incredulidade por negligncia. Pode haver uma negligncia proposital da verdade, como no caso dos pagos que apostatam da f, em sua rebeldia e insensibilidade;A incredulidade da ignorncia. Consiste simplesmente em procurar ignorar alguma verdade revelada;A incredulidade da resistncia. O sistema gnstico exemplifica este tipo de incredulidade, que procura afrontar diretamente a verdade divina;A incredulidade duvidosa. Esta incredulidade vem ao corao humano por meio da dvida. A dvida o estado de esprito entre a negao e a afirmao. Assim, a pessoa no nega mas tambm no afirma, por falta de exame dos prs e contras. Dessa forma, o que o homem realiza neste estado pode se tornar em pecado; porque a dvida afasta a f. E tudo que no de f pecado (Rm 14.23); A incredulidade por falta de f. Esta deve ser confrontada com a natureza da incredulidade que apresentada neste versculo. Ela consiste na falta de f para crer na realizao das promessas de Deus na vida de seu povo. Ela torna-se a maior opositora da f e expressa-se mediante a desobedincia, o que ficou caracterizado no versculo anterior.

  • 0 Prometido Repouso

    I. Lembrai-vos da Mulher de L1 Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, parea que algum de vs fica para trs.

    Ficar para trs, aqui, o equivalente de no olhar para trs. O olhar para trs lembra a mulher de L, que desfrutava de todos os privilgios e direitos possveis da felicidade humana.

    Era esposa de um justo (2 Pe 2.7); Era mulher de um homem rico (Gn 13.5); Era casada com um sobrinho de Abrao, o

    amigo de Deus (Gn 14.12);

  • 66Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    Seu pai talvez tenha sido um rei da Mesopotmia ou da prpria Sodoma (cf. Gn 13.12);

    Era esposa de um juiz (Gn 19.9); Deus preservou a virgindade de suas filhas (Gn 19.8); Os anjos de Deus jantaram sua mesa (Gn 19.3); Os anjos tiraram-na para fora da cidade segurando na sua

    mo (Gn 19.19).

    O nome da mulher de L no mencionado nas Escrituras, mas encontra-se nos escritos judaicos como Adite ou Irite, onde mencionado ainda que era nativa de Sodoma, motivo por que relutava em ir-se embora. Contudo, ela olhou para trs quando seu corpo j estava fora de perigo, conforme pensou, mas seu corao continuava preso em Sodoma. Por isso, mesmo tendo escapado destruio de Sodoma, sendo conduzida pela misericrdia de Deus, ela desobedeceu ordem divina e teve um triste fim. E a mulher de L olhou para trs e ficou convertida numa esttua de sal (Gn 19.26). Em Lucas 17.32, o Senhor Jesus Cristo lembra aos seus ouvintes este episdio, advertindo-os: Lembrai- vos da mulher de L. E aqui no texto em foco, o escritor sagrado da Epstola aos Hebreus comea a observar nestes cristos alguns sintomas de desnimo e apego s coisas desta vida. Por esta razo alguns deixaram de prosseguir, pararam de ir correndo com pacincia em direo ao alvo maior: o arrebatamento dos salvos, quando a redeno de nosso corpo ser consumada (Rm 8.23).

    2 Porque tambm a ns foram pregadas as boas-novas, como a eles, mas a palavra da pregao nada lhes aproveitou, porquanto no estava misturada com a f naqueles que a ouviram.

  • 670 Prometido Repouso

    Aqui, o escritor sagrado faz aluso pregao das Boas Novas em ambos os Testamentos. A diferena, no entanto, que, em ns, a f cooperou, mas para eles a pregao no estava misturada com a f, e sim, com a justia de Deus. Tudo na Lei dependia da justia, ou seja, a ordem era: Fazei e vivei! Na graa, contudo, a mensagem de Cristo : Crede e vivei. A justificao pela f antecipava o perodo da Lei. Por esta razo a Escritura declara que Deus imputou a f de Abrao como sendo justia, que mais tarde a Lei vindicou; a dispensao patriarcal tambm o exigia (cf. Gn 18.19,25). Paulo afirma: Sabei, pois, que os que so da f so filhos de Abrao. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela f os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abrao, dizendo: Todas as naes sero benditas em ti. De sorte que os que so da f so benditos com o crente Abrao (G1 3.7-9). Na Nova Aliana, somos salvos pela f. Porque pela graa sois salvos, por meio da f; e isso no vem de vs; dom de Deus (cf. At 16.31; Rm 5.1; 9.30-32; Ef 2.8), guardados pela f (Rm 11.20; 2 Cl 1.24; I Pe 1.5; I Jo 5.4), enriquecidos pela f (Gl 3.5,14), estabelecidos e curados pela f (Is 7.9; At I4.9;Tg 5.15) e santificados pela f (At 26.18).

    II. O Repouso do Sbado3 Porque ns; os que temos crido, entramos no repouso, tal como disse: Assim, jurei na minha ira que no entraro no meu repouso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundao do mundo.

    Em nossos dias h muitas pessoas preocupadas em guardar dias, meses e anos (G1 4.10), e outras em guardar festas,

  • Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    luas novas e sbados (Cl 2.16). Todas essas coisas so apenas sombras, das quais Cristo haveria de ser a realidade. Cristo substituiu o repouso do sbado, que na cultura judaica considerado um dia de descanso. Mas no deve ser concebido para ns, que no somos judeus, como repouso obrigatrio. O 4o mandamento da Lei divina servia de sinal entre Deus e oseu povo (cf. Ex 20.9-11; 31.16,17). O mandamento que ordenava a guarda do sbado era seguido de outras ordens relacionadas com o trabalho e o repouso tanto dos homens como dos animais.

    1o Era obrigao legal trabalhar seis dias em sete.2 Ele era abrangente e inclua os homens e os animais.

    Isto indica que ele era ligado mais ao trabalho do que a atos religiosos, porque os animais no tm conscincia de Deus.

    4 Porque, em certo lugar, disse assim do dia stimo: E repousou Deus de todas as suas obras no stimo dia.

    O contexto desta passagem e de outras similares neste captulo refere-se a Gnesis 2.1-3, que diz: Assim, os cus e a terra, e todo o seu exrcito foram acabados. E, havendo Deus acabado no dia stimo a sua obra, que tinha feito, descansou no stimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abenoou Deus o dia stimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra, que Deus criara e fizera. A criao, tanto de cus e terra e do mundo espiritual, atual tambm no primeiro captulo da Bblia. Deus criou: cus e terra. O cu e a terra com todo o seu exrcito mencionado

  • 0 Prometido Repouso

    em Gnesis 2.1 Exrcito, aqui, tsebaam, de tsaba, que significa avanar como soldado (Gesenius, erudito hebreu do sculo XIX), ou andar juntos para servio (Furst); o termo usado, portanto, acerca dos anjos (I Rs 22.19; 2 Cr 18.18; SI 148.2; Lc 2.13). Refere-se tambm aos corpos celestes e aos poderes do cu (Is 34.4; Dn 8.10; Mt 24.29). Na criao original mencionada nos captulos I e 2 de Gnesis, est includo o cu e a terra, o espiritual com seus anjos. So eles as personalidades criadas no mundo espiritual (Nm 9.6), os seres e as coisas e a raa humana no mundo material (Mc 10.6). Deus, portanto, deixando o exemplo s suas criaturas, instituiu um dia para o descanso e ... ao stimo dia, descansou, e restaurou-se (Ex 31.17).

    3 E outra vez neste lugar: No entraro no meu repouso.

    O dr. Geo Goodman salienta que este repouso aqui mencionado trata-se do repouso da f. Ele comenta este repouso da seguinte maneira: A palavra descanso, neste trecho, aplicada a trs coisas:

    a) Ao descanso do sbado, institudo na criao (vv. 3,4), quando Deus acabara toda a sua obra;

    b) Ao descanso da Terra Prometida (v. 5). Este mandamento foi violado 70 vezes nos 490 anos de monarquia e Deus determinou os 70 anos de cativeiro sobre a nao hebria, para ... que a terra se agradasse dos seus sbados; todos os dias da desolao repousou, at que os setenta anos se cumpriram (2 Cr 36.21);

  • 70Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    c) Ao descanso que Davi previu: o descanso do Evangelho, que se encontra somente em Cristo (vv. 7-9). Trs descansos so aqui ensinados: Que o sbado figura (Cl 2.16,17), um tipo de descanso do corao que se acha em Cristo (Mt 11.29); que o descanso na Terra Prometida era tambm tpico, pois se Josu tivesse dado o descanso final que Deus propusera, Davi no teria falado de outro descanso, o descanso que tanto os vivos como os mortos encontram em Cristo o primeiro, sendo o descanso da alma, o segundo, o descanso das obras (Ap 14.13).

    6 Visto, pois, que resta que alguns entrem nele e que aqueles a quem primeiro foram pregadas as boas-novas no entraram por causa da desobedincia,

    Ao mencionar alguns que esto habilitados para entrar no repouso prometido por Deus, o autor sagrado se refere queles que aceitaram as Boas Novas do Evangelho de Cristo, que ... primeiro foi anunciada pelo Senhor e ... depois confirmada pelos que a ouviram (Hb 2.3). Enquanto ... aqueles a quem primeiro foram pregadas as boas-novas so os judeus descrentes que rejeitaram o Rei e o reino. Jesus Veio para o que era seu, e os seus no o receberam (Jo 1.11). O apstolo Paulo descreve esta cegueira de Israel em Romanos 11, mos- trando-nos que Israel buscava uma salvao pela sua prpria justia; no entanto, a salvao outorgada por Jesus pela graa. Pois qu? [pergunta o apstolo] O que Israel buscava no o alcanou; mas os eleitos o alcanaram, e os outros foram endurecidos (Rm 11.7). Contudo, quando a plenitude dos gentios for completada, os judeus voltaro a ser alcanados pela bon-

  • 710 Prometido Repouso

    dade de Deus. Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobedincia, para com todos usar de misericrdia (Rm 11.32).

    7 determina, outra vez, um certo dia, Hoje, dizendo por Davi, muito tempo depois, como est dito: Hoje, se ouvirdes a sua voz, no endureais o vosso corao.

    Devemos observar que o argumento deixado no captulo 3 novamente retomado aqui. O uso da expresso outra vez, portanto, nos d a entender que Deus toca mais de uma vez neste mesmo assunto. J diz: Antes, Deus fala uma e duas vezes, porm ningum atenta para isso (J 33.14). Muitas vezes o homem se encontra to distante de Deus e de seus propsitos, que se faz necessrio que Deus insista em falar algumas vezes, at que o homem escute a sua voz (cf. Ap 3.20). O mesmo se aplica pessoa que est pervertida em seus sentimentos: Ao homem herege, depois de uma e outra admoesta- o, evita-o (Tt 3.10). Deus no contender para sempre com o homem que no escuta a sua voz, e chegar o momento em que Ele por termo sua misericrdia e entrar em juzo com ele (cf. SI 7.12). Contudo, aquele que hoje ouvir a sua voz, alcanar misericrdia e ser ajudado em tempo oportuno.

    III. O Repouso que Temos nesta Terra E Temporrio8 Porque, se Josu lhes houvesse dado repouso, no falaria, depois disso, de outro dia.

    Durante o cativeiro egpcio, os filhos de Israel eram obrigados a trabalhar ininterruptamente. Ali no era observado o

  • 72Comentrio Bblico: Epstola aos Hebreus

    sbado (repouso), pois esse pertencia a Deus, e no a Fara. Durante a caminhada no deserto, pouco a pouco o descanso do sbado foi sendo observado pelo povo eleito, e por expressa ordem de Deus um homem foi morto porque apanhou lenha no sbado (Nm 15.32-36). No entanto, quando Josu que uma figura de Cristo introduziu o povo na Terra Prometida, a nao comeou a desfrutar um tipo de descanso, ainda que terreno. Mas o escritor sagrado nos mostra aqui que