Equipamentos Receita Kit

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Equipamentos Vamos avaliar alguns dos equipamentos que podemos usar na fabricação da nossa cerveja caseira. Você vai perceber que muitos deles você já tem em casa ou já viu em algum lugar. Outros talvez sejam novos para você, mas perceberá que são simples e fáceis de usar. A lista de equipamentos aqui demonstrada não é rígida: se você tiver outros equipamentos que substituam os que alistamos, fique à vontade para usá-los. Se você gosta de dar uma de “Professor Pardal”, fique à vontade para adaptá-los da forma que quiser. Afinal, uma coisa legal de se fazer cerveja em casa é fazer também os equipamentos! Fogareiro É recomendável que você use um fogareiro maior, do tipo industrial. Afinal, vamos precisar aquecer uma grande quantidade de líquido em panelas grandes, e nesse momento uma boa chama ajuda. O fogareiro maior não é imprescindível

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Equipamentos

Vamos avaliar alguns dos equipamentos que podemos usar na fabricação da nossa cerveja caseira. Você vai perceber que muitos deles você já tem em casa ou já viu em algum lugar. Outros talvez sejam novos para você, mas perceberá que são simples e fáceis de usar. A lista de equipamentos aqui demonstrada não é rígida: se você tiver outros equipamentos que substituam os que alistamos, fique à vontade para usá-los. Se você gosta de dar uma de “Professor Pardal”, fique à vontade para adaptá-los da forma que quiser. Afinal, uma coisa legal de se fazer cerveja em casa é fazer também os equipamentos!

Fogareiro

É recomendável

que você use um

fogareiro maior, do

tipo industrial.

Afinal, vamos

precisar aquecer

uma grande

quantidade de

líquido em panelas

grandes, e nesse

momento uma boa

chama ajuda.

O fogareiro maior

não é

imprescindível, e se

você quiser

começar sem ele

também é possível

utilizar o fogão de

casa. Muitos usam

o fogão

convencional e

fazem boas

cervejas. O único

detalhe vai ser

Page 2: Equipamentos Receita Kit

negociar o uso do

fogão com sua mãe

ou sua esposa

durante quase 8

horas!

Balança de

Precisão

Uma balança é

importante para

pesar corretamente

os ingredientes. Dê

preferência para as

de precisão para

poder pesar o

lúpulo, pois é

comum usarmos

apenas algumas

gramas por

produção (neste

caso a precisão

não precisa ser

mais do que 1

grama). Se você já

tiver daquelas

balanças normais

de cozinha que não

são digitais, poderá

usá-la para pesar o

malte e talvez

conseguir com

alguém na

verdureira mais

Page 3: Equipamentos Receita Kit

próxima para pesar

as pequenas

quantidades de

lúpulo. Mas uma

balança destas não

costuma custar tão

caro.

Moedor de

Cereais

O moedor de

cereais é

imprescindível para

o cervejeiro

caseiro. Com ele

nós vamos

conseguir fazer

uma moagem

correta,

aproveitando ao

máximo os

ingredientes que

temos e tornando

mais fácil a

produção da

cerveja. Algumas

pessoas iniciam

moendo o malte no

liquidificador, mas

garantimos que não

chega perto da

moagem realizada

pelo moedor

Page 4: Equipamentos Receita Kit

apropriado.

Você notará que

existem vários tipos

de moedores, além

do moedor de

cereais comum que

apresentamos aqui.

O modelo que

mostramos é

encontrado

facilmente em

casas

agropecuárias e

lojas de ferragens.

Mas há também o

moedor específico

para maltes, feito

com rolos. Este é

mais parecido com

os utilizados pelas

cervejarias, mas

também custa mais

caro. O moedor de

cereais comum é o

que apresenta uma

boa relação custo x

benefício para o

cervejeiro iniciante.

Para ajudar você a

moer os maltes

mais rapidamente e

sem tanto esforço,

Page 5: Equipamentos Receita Kit

pode-se retirar a

manivela que gira o

moedor e adaptar

uma furadeira

comum para fazer

o trabalho. Para

isto, basta utilizar

um gancho

daqueles utilizados

para pendurar

vasos ou redes.

Panela

Para fazer a

cerveja caseira,

você precisará de

duas panelas (ou

caldeirões) que

comportem todo o

volume de cerveja

que vamos

produzir. Duas

panelas de 32

litroscada são

apropriadas para

fazer 20 litros por

vez. A capacidade

da panela deve ser

maior do que a

quantidade de

cerveja que você

vai produzir, pois o

volume de líquido

Page 6: Equipamentos Receita Kit

que levamos à

fervura é sempre

maior do que o

obtido no final da

fervura (perde por

evaporação).

Também

precisamos levar

em consideração

que o malte ocupa

bastante espaço na

panela no momento

da produção.

Você pode iniciar

usando caldeirões

de alumínio,

encontrado em

casas

especializadas em

cozinhas

industriais, lojas de

ferragens e afins.

Para ajudar a

retirar o mosto ao

final da produção,

instale uma torneira

ou válvula na parte

inferior das

panelas. Na panela

usada para fazer a

brassagem instale

Page 7: Equipamentos Receita Kit

a válvula o mais

próximo do fundo

possível, visando

ajudar a retirar o

máximo de líquido

da panela. Na

panela usada para

fervura, instale a

válvula a cerca de

três dedos do

fundo. Isto ajudará

você a retirar o

mosto sem retirar

junto o material que

vai decantar no

fundo da panela.

Quando passarmos

à parte prática,

você entenderá

melhor o uso

destas panelas.

Lembre-se de sempre usar torneiras ou válvulas feitas em metal que não enferruje, como inox ou latão.

Page 8: Equipamentos Receita Kit

Filtro de Bagaço

Este filtro é muito

importante e será

usado ao final da

primeira etapa de

produção, pois vai

nos ajudar a filtrar a

cerveja e ter um

líquido bem limpo e

livre de impurezas.

O filtro que

mostramos é do

tipo bazooka

screen™, que nada

mais é do que uma

manta de inox

enrolada em

formato de cilindro

e que conectamos

à válvula de

retirada da panela.

Este filtro atua

como peneira e

permite que

retiremos o líquido

da panela sem

retirar o bagaço de

malte. Na seção de

recirculação e

lavagem do malte

você verá em mais

detalhes como ele

Page 9: Equipamentos Receita Kit

funciona.

Você também pode

substituir o filtro do

tipo bazooka por

um do tipo fundo

falso. Um fundo

falso pode ser feito

utilizando uma

forma de pizza que

tenha o mesmo

diâmetro da panela

onde você fará a

recirculação do

mosto. Basta

perfurar a forma

com muitos furos

de pequeno

diâmetro, de forma

a reter o bagaço do

malte.

A vantagem do

filtro tipo bazooka é

que não

precisamos

transferir o bagaço

de malte para outra

panela para fazer a

recirculação. Pode-

se utilizar a mesma

panela da

brassagem para

Page 10: Equipamentos Receita Kit

fazer a

recirculação.

Observação: a marca bazooka screen™ é propriedade da empresa Zymico Inc. nos EUA.

Colher de pau

Uma colher de pau (ou de plástico) grande é importante. Deve ter o cabo firme, pois mexer o mosto com grãos de cevada é pesado.

Termômetro

O termômetro é

outro equipamento

imprescindível para

o cervejeiro

caseiro, pois

permite

controlarmos

facilmente a

temperatura da

cerveja durante a

produção. Sem um

bom controle de

Page 11: Equipamentos Receita Kit

temperatura fica

difícil produzir boa

cerveja.

Para começar você

pode utilizar um

termômetro simples

de mercúrio, com

escala até 100º C e

que seja um pouco

mais comprido do

que o comprado

em farmácias. Este

termômetro pode

ser obtido em lojas

de produtos para

laboratório ou em

adegas. Também é

possível comprar

termômetros

apropriados para

serem usados em

líquidos, que são

feitos em plástico e

tem a escala

marcada

internamente.

Outra opção é

comprar um

termômetro que

permita ser

acoplado à panela,

Page 12: Equipamentos Receita Kit

como o da foto. Ele

possui uma rosca

que permite ser

facilmente retirado

para limpeza. Dê

preferência aos que

em a haste em

inox, para evitar

que enferruje ou

solte tinta na

bebida (alguns tem

a haste em latão ou

aço comum).

Se você estiver disposto a gastar um pouco mais, poderá comprar um termostato digital especialmente desenvolvido para uso com líquidos quentes. Este é o mais recomendado, mas o mais caro.

JarraUma jarra simples nos ajudará a retirar o mosto durante a filtragem usando o bagaço. Pode ser de plástico, vidro ou metal. Qualquer outro recipiente poderá substituir a jarra.

Page 13: Equipamentos Receita Kit

Trocador de

Temperatura

(Chiller de

Imersão)

O chiller é um

trocador de

temperatura e é

usado para resfriar

o mosto ao final da

fervura. No caso do

chiller do tipo

imersão, o

equipamento é

colocado dentro do

mosto ainda quente

e é passada água

gelada por dentro

dele para retirar o

calor do mosto.

Normalmente é

feito em cobre, que

é um material com

boa condutividade

térmica.

O equipamento da

foto foi feito com 8

metros de cano de

cobre de ⅜ de

diâmetro.

Geralmente se

encontra estes

canos em lojas de

Page 14: Equipamentos Receita Kit

material de

construção e casas

de equipamentos

para gás.

Também é

interessante ter

alguns metros de

mangueira de PVC

do tipo“cristal” para

ajudar a conectar o

chiller à rede de

água. Neste caso,

use mangueiras

também de ⅜ de

diâmetro.

Se não tiver um chiller, você pode colocar a panela dentro do tanque de lavar roupas cheio de água com gelo. Demora mais, mas também funciona.

Page 15: Equipamentos Receita Kit

Densímetro e

proveta

O densímetro e a

proveta pro

densímetro são

equipamentos

importantes. Eles

servem para medir

a densidade da

cerveja ao final da

fabricação. Em

resumo, ele nos

dirá se

conseguimos

extrair bem os

açúcares do malte

e também nos

ajudará a estimar o

percentual de

álcool da cerveja

pronta.

Na seção “Apêndice” incluímos um artigo sobre como usar este equipamento. Pode-se encontrá-lo em lojas de material para laboratório.

Page 16: Equipamentos Receita Kit

Fermentador

Para fermentar a

cerveja você vai

precisar de um

recipiente grande e

que seja atóxico.

Uma opção boa e

barata é usar

baldes de plástico

alimentício com

tampa que vede

bem. Caso não

encontre baldes

novos, é possível

reaproveitar baldes

que continham

outros produtos

antes, como

azeitonas,

margarina e

gordura vegetal.

Muito cuidado ao

reaproveitar baldes

usados! Certifique-

se sempre que o

conteúdo anterior

foi alimento e que

estão isentos de

odores.

Outra alternativa

seria usar um galão

de água mineral

Page 17: Equipamentos Receita Kit

(bombona) de 20

litros. A

desvantagem do

galão de água é

que é difícil limpá-

lo.

Para facilitar o uso, adapte uma torneira plástica a cerca de dois dedos de altura do fundo do fermentador. Isso permitirá que você retire sua cerveja depois da fermentação, sem retirar o fermento que decantou no fundo do fermentador. Pode-se utilizar torneiras simples do tipo para jardim ou filtro de água.

Page 18: Equipamentos Receita Kit

Borbulhador

(Airlock)

O borbulhador, ou

airlock, nada mais

é do que um

equipamento

simples para

impedir que ar

entre no

fermentador e

contamine a

cerveja durante a

fermentação. A foto

mostra um airlock

importado

comprado nos

EUA. Mas hoje em

dia é possível

encontrá-lo no

Brasil também.

Casas

especializadas na

fabricação de vinho

também possuem

borbulhadores um

pouco diferentes do

exibido, mas que

desempenham o

mesmo papel.

O que ele faz é

bem simples: a

fermentação gera

Page 19: Equipamentos Receita Kit

como um dos

subprodutos o gás

carbônico. A

pressão interna do

fermentador vai

fazer com que esse

gás carbônico seja

expelido pelo

borbulhador. Há

uma barreira de

água que impede

que o ar entre no

fermentador. O gás

carbônico apenas

pode sair, através

de bolhas geradas.

Caso você não tenha um airlock, não se preocupe. É possível fazer um borbulhador caseiro de forma bem simples. Basta fazer um furo na tampa do fermentador e acoplar uma mangueira atóxica no furo, vedando bem. Para vedar, pode-se utilizar silicone atóxico. Quando a cerveja for colocada para fermentar, é só colocar a ponta da mangueira que fica de fora do fermentador dentro

Page 20: Equipamentos Receita Kit

de um recipiente com água. À medida que a fermentação gerar gás carbônico, este será liberado através de bolhas na água, mas o ar de fora não entrará no fermentador e impedirá que sua cerveja contamine.

Garrafas vazias

Obviamente precisaremos de algumas garrafas vazias para colocar a cerveja pronta. Uma prática comum entre os cervejeiros caseiros é reutilizar garrafas de cerveja. Ou seja, à medida que for tomando a cerveja que você compra no supermercado, lave a garrafa imediatamente após o uso e deixe-a tampada. Assim a garrafa permanece limpa e sem odores, tornando fácil o processo de limpeza antes de você colocar a sua cerveja.

Page 21: Equipamentos Receita Kit

Colocador de

Tampinhas

Para ajudar a

colocar as

tampinhas nas

garrafas, você vai

precisar do

colocador de

tampinhas. O

colocador de

tampinhas da foto é

importado.

Colocadores de

tampinha

nacionais, do tipo

de bancada, são

fáceis de encontrar

em casas de

ferragens e de

equipamentos para

cozinhas

industriais.

Outra opção é reutilizar garrafas que tenha tampa junto, como as usadas nas antigas Bohemia Weiss, ou ainda que tenham algum tipo de rosca.

Page 22: Equipamentos Receita Kit

Tampinhas

Obviamente precisaremos de tampinhas para fechar as garrafas com a cerveja pronta. Encontra-se estas tampinhas nos mesmos locais onde se vende os colocadores de tampinhas.

Visão GeralComo Fazer Cerveja - Introdução

Este material foi elaborado visando ajudar todos aqueles que desejam fazer

cerveja em sua casa. Apesar de o conceito geral ser de que a cerveja só pode

ser feita por grandes empresas com maquinário avançado e ingredientes

inacessíveis, você verá que é fácil fazer sua própria cerveja. Com um pouco de

dedicação e paciência em breve você estará bebendo uma cerveja feita do jeito

que você gosta, com todas as características que lhe agradam e, o melhor de

tudo, feita por você!

Todas as informações aqui contidas foram dispostas de forma a facilitar o

entendimento e a aplicação prática. Procuramos incluir apenas informações

básicas, de forma a dar o conhecimento necessário para a parte prática. Com

certeza, após a leitura deste material você vai querer se aprofundar mais em

cada aspecto da fabricação de cerveja, e o incentivamos fortemente que faça

isso.

Vale salientar que não somos os donos da verdade. Apenas tentamos expor

aqui uma forma simples de fazer cerveja e que tem dado bons resultados. Ao

longo do tempo você descobrirá que existem outras formas, técnicas e

equipamentos para fazer cerveja e que diferem muito do que aqui publicamos.

Page 23: Equipamentos Receita Kit

Nosso intuito é ajudar você justamente a conhecer o necessário para iniciar

sua produção, desmistificar a cerveja caseira e deixar o caminho aberto para

novas pesquisas e experiências.

Bom proveito!

O Malte

Para produzir o malte, o grão de cevada é umedecido e germinado em estufas

sob temperatura controlada até atingir certo grau de germinação. Neste

momento o grão é seco para interromper o crescimento do broto. Este

processo de germinação gera açucares, amidos solúveis e amidos que podem

ser transformados em açúcar durante o processo de produção de cerveja.

Na verdade, pode-se obter malte a partir de vários grãos além da cevada,

como, por exemplo, o trigo e o centeio. Porém, neste pequeno manual, sempre

que nos referirmos ao malte estaremos nos referindo ao malte de cevada.

Existe uma grande variedade de tipos diferentes de maltes. O que os difere

basicamente é o tempo e a temperatura de secagem.

Podemos dividir os maltes em maltes de base e maltes especiais. Os maltes de

base são aqueles que precisam passar por determinadas temperaturas durante

a produção da cerveja para extrair os açúcares necessários à fermentação.

Page 24: Equipamentos Receita Kit

Estes maltes compõem o maior percentual de maltes das receitas de cerveja.

Existem vários tipos de maltes de base, sendo diferenciados basicamente pela

coloração que conferem à cerveja. Esta coloração deve-se ao grau de

torrefação a que cada malte foi submetido.

Já os maltes especiais normalmente não têm poder de conversão de açúcares

como os maltes de base. Porém, eles adicionam características muito

importantes à cerveja. Também existem inúmeros tipos de maltes especiais,

obtidos por diferentes métodos de secagem e torrefação. Por exemplo, os

maltes do tipo cristal (ou caramelo) são maltes que ao invés de serem secos

rapidamente após a germinação do grão, são submetidos a temperaturas

controladas que fazem com que sejam obtidos açúcares do malte e estes

sejam cristalizados (por isso o nome de“cristal”). Maltes do tipo cristal ajudam a

conferir corpo à cerveja, deixando-a mais robusta e também mais saborosa.

Outros maltes especiais são os torrados, que são submetidos a temperaturas

maiores e chegam a ficar tão escuros quanto café torrado. Estes maltes são

usados para fazer cervejas escuras e com sabor tostado. Também pode-se

usar maltes torrados para dar ajustar a cor da cerveja.

À medida que você se aprofundar na fabricação de cerveja, verá a importância

destes maltes para o cervejeiro caseiro.

A água

Muito se fala da importância da água para a fabricação de cerveja. Inclusive,

muitas vezes a qualidade e sabor de uma cerveja são atribuídos à água com a

qual ela é feita. E isso é verdade, mas em parte. É claro que a água que você

utilizar vai fazer diferença na cerveja, pois além de corresponder a mais de

90% do produto final, os componentes que estão presentes na água afetam o

sabor também.

Antigamente as fábricas se instalam próximas a boas fontes de água para que

pudessem ter uma boa cerveja, e a água da localidade acabava tornando-se

Page 25: Equipamentos Receita Kit

referência para a produção de determinados tipos de cerveja. Veja como

exemplo a cerveja do tipo Stout, que tem como clássico representante a

Guinness. Esta cerveja é diferenciada devido às propriedades minerais da

água com que é feita.

Porém, na indústria moderna, através de avançadas técnicas de laboratório, é

possível manipular as propriedades da água para produção de cerveja. Com

isso, atualmente pode-se padronizar a água para produção de cerveja,

independentemente de onde esteja localizada a fábrica.

Visto que você vai fazer cerveja na sua casa e com poucos recursos

tecnológicos, a água não deve ser um motivo de preocupação no início da sua

produção. Basta usar uma água de boa qualidade e que não contenha cloro ou

outros produtos químicos.

Sugerimos usar água mineral, que já vem sem cloro e com pouca presença de

flúor. Mas até mesmo a água da torneira pode ser utilizada, caso a região onde

você more seja fornecida uma água de qualidade. Basta que a água seja

declorada. Para retirar o cloro, pode-se utilizar filtro de carvão ativado ou então

ferver a água (o cloro evapora).

Talvez você se pergunte: mas então as propriedades da água, como o seu ph,

não influenciam no produto final?

Sim, influenciam e de maneira considerável. Mas não de forma a inviabilizar a

produção caseira de cerveja. Lembre-se que estamos fazendo cerveja em

casa, de maneira simples. No início do seu aprendizado, não achamos que

valha a pena você se incomodar com isso. Qualquer água mineral obtida em

supermercado vai lhe ajudar a fazer uma ótima cerveja, sem atrapalhar seus

bons resultados. Relaxe e deixe isso pra quando você já estiver fazendo

cervejas incrementadas e de estilos bem específicos.

O Lúpulo

Page 26: Equipamentos Receita Kit

Podemos dizer que o lúpulo é principal “tempero” da cerveja. Ele é responsável

primariamente pelo amargor característico da cerveja, bem como ajuda a

incrementar o aroma e o sabor. Mas não são somente estas características que

interessam ao cervejeiro. O lúpulo também atua como conservante natural e

inibe a proliferação de algumas bactérias inimigas da cerveja, além de ajudar

na estabilidade do sabor e retenção da espuma da cerveja. Ou seja, o lúpulo é

imprescindível para nosso precioso líquido.

Mas afinal, o que é o lúpulo?

O lúpulo é uma

planta trepadeira que cresce em climas frios e com abundância de luz solar. O

que usamos na cerveja são as flores do lúpulo, obtidas a partir das plantas

fêmeas. A flor de lúpulo tem formato de cone e possui óleos e resinas que

possuem as principais propriedades que buscamos: amargor, sabor e aroma.

Visto que os óleos e resinas da planta são voláteis, é comum encontrarmos os

lúpulos em forma de “pellets”. Estes pellets são nada mais do que as flores

processadas e prensadas para facilitar a estocagem e manuseio, além de

evitar a volatilização e oxidação dos óleos.

Dois tipos de resinas presentes no lúpulo são importantes para o cervejeiro:

são chamados alfa e beta. A presença destes componentes são representadas

Page 27: Equipamentos Receita Kit

normalmente em termos de ácidos alfa e ácidos beta e são medidos pelo peso

relativo em relação ao peso da flor. Ou seja, se um lúpulo tem 4% de ácidos

alfa, isto significa que 4% do peso da flor é composto deste componente.

Os ácidos alfa são responsáveis pelo amargor da cerveja. Por isso, quando

maior o percentual de ácidos alfa de um lúpulo, maior o poder de deixar a

cerveja amarga. Isto é importante para o cervejeiro na hora de determinar

quando de lúpulo será usado para fazer a sua cerveja.

Lúpulos com baixo teor de ácidos alfa normalmente são chamados de lúpulos

aromáticos, pois contribuem pouco para o amargor da cerveja. Lúpulos com

maior teor deste componente são chamados de lúpulos de amargor.

Outro aspecto importante para o cervejeiro é saber quanto de lúpulo deve ser

usado para atingir certo grau de amargor. Para isso criou-se uma métrica

chamada IBU, ou “International Bitterness Units”. 1 IBU corresponde a 1

miligrama de ácido alfa dissolvido no mosto. Você notará que as receitas para

fabricação de cerveja sempre se referem a esta medida quando indicam a

quantidade e variedade de lúpulo usada. A maioria dos softwares para

formulação de receitas ajuda no momento de fazer os cálculos para a

quantidade de lúpulo a usar.

Vale ressaltar que existem dezenas de variedades de lúpulos diferentes, cada

um com suas características próprias de aroma, sabor e percentuais de ácido

alfa.

Para extrair as propriedades do lúpulo, eles devem ser fervidos junto com a

cerveja. Isso ocorre por que as resinas não são solúveis em água e a alta

temperatura causa uma reação química chama isomerização, que permite a

solubilização das resinas em água. Lembre-se sempre que os ácidos alfa e

beta somente contribuem com o amargor da cerveja.

Para agregarmos sabor e aroma à cerveja, é necessário extrair os óleos do

lúpulo, que são voláteis e não precisam ser fervidos para extraí-los. Por isso,

para conseguir que a cerveja tenha sabor e aroma de lúpulo, normalmente o

Page 28: Equipamentos Receita Kit

lúpulo é adicionado ao final da fervura (evitando que estes sejam perdidos por

evaporação) ou então após a cerveja já ter sido fermentada (esta técnica tem o

nome de dry hopping).

Para ajudar na preservação das propriedades do lúpulo, mantenha-os

armazenados na geladeira ou no refrigerador em recipiente bem fechado. Isto

ajudará a evitar a oxidação devido ao contato com o ar e a volatilização dos

óleos presentes no lúpulo.

O Fermento

O fermento, ou levedura, é outro dos principais ingredientes da cerveja. É o

fermento que vai determinar o tipo e os sabores da cerveja. São

microorganismos que basicamente consomem os açúcares presentes no mosto

e liberam álcool e gás carbônico. Neste processo os sabores da cerveja são

incrementados.

Existem basicamente dois tipos de leveduras para cerveja: os do tipo“ale”, ou

alta fermentação, e os do tipo “lager”, ou de baixa fermentação. Existem

centenas de cepas de cada um destes fermentos, cada qual com suas

características próprias. A definição de “alta fermentação” vem do fato de que

normalmente estes fermentos floculam e atuam na parte superior do mosto nos

primeiros dias de fermentação. Os de baixa fermentação atuam na parte

inferior do mosto, permanecendo decantados.

Os fermento chamados de alta fermentação normalmente trabalham em

temperaturas entre 13°C e 24°C. Os de baixa fermentação normalmente atuam

abaixo de 13°C. Isto não é uma regra, e alguns fermentos podem trabalhar fora

destas faixas de temperatura, conforme a cepa ou resultado que se espera

obter.

Normalmente, aqui no Brasil, o fermento que utilizamos é aquele liofilizado. Embora haja no

exterior ótimos fornecedores de fermentos líquidos prontos para uso e propagação, aqui ainda

carecemos deste tipo de serviço. Felizmente a oferta de fermentos vêm aumentando por aqui,

Page 29: Equipamentos Receita Kit

à medida que o movimento de produção de cerveja artesanal cresce.

A Receita

A seguir publicamos a receita para produção de uma cerveja do tipo “Blonde

Ale”. Este estilo de cerveja foi escolhido como exemplo na produção

primeiramente por se tratar de uma cerveja simples de produzir. Visto que

nosso objetivo com este material é ajudar quem quer começar a produzir, esta

receita vai utilizar poucos ingredientes e um processo simplificado de

produção.

Ao mesmo tempo (e não menos importante), a cerveja obtida será leve e

saborosa, tendo alguma similaridade com as cervejas premium que

encontramos no supermercado. Isto visa evitar que os“não iniciados” em

cervejas diferenciadas não gostem da cerveja que você vai produzir em casa.

Se você produzir já na primeira vez uma cerveja mais robusta e complexa,

aquele seu cunhado chato (que com certeza vai querer beber sua cerveja) vai

sair por aí dizendo que cerveja caseira é ruim!

Vamos à receita para produção de 20 litros de cerveja:

- 36 litrosde água mineral

- 5 kgde malte tipo Pilsen

- 50 gr de lúpulo com baixo teor de ácido alfa

- 1 pacotinho de levedura de alta fermentação (11gr)

- 1 pastilha de Whirlfloc (opcional)

Observações:

- O lúpulo usado nesta receita foi o Hallertau Mittelfrüh, que possui 4,5% de

ácido alfa. Se você possui um lúpulo com percentual de ácido alfa diferente

(geralmente esta informação é fornecida), tente equalizar o peso do lúpulo

com base no percentual de ácido alfa para se aproximar da receita que

Page 30: Equipamentos Receita Kit

fornecemos.

- A levedura que utilizamos nesta receita foi a Safale S-04 (da Fermentis).

Também pode ser utilizada a Safale US-05 ou qualquer outra do tipo ALE.

Vale a pena ressaltar que não deve-se utilizar fermento para pão (tipo

Fleischmann). Até funciona, mas o resultado não é satisfatório por não ser um

fermento apropriado.

- O Whirfloc é um produto à base de carragena, também chamado de Irish Moss. É um produto natural e serve para ajudar na decantação das partículas do líquido ao final da fervura, ajudando na clarificação da cerveja. Não é um item obrigatório. Apenas vai ajudar você a ter uma cerveja menos turva.Moagem do Malte

Para melhor aproveitar o malte na produção de cerveja caseira, é necessário

moer o malte. Moer, em nosso contexto, não significa triturar ou esfarelar.

Precisamos apenas moer de forma que a casca do grão permaneça o mais

íntegra possível, e o conteúdo seja exposto da melhor maneira. Para esta

atividade vamos usar um moedor de grãos semelhante ao da foto em seguida.

Existem outros tipos de moedores, próprios para fabricação de cerveja

caseira. Você poderá usar o que melhor lhe convier, desde que obedeça ao

pré-requisito de não esfarelar o grão todo. O moedor é um dos equipamentos

Page 31: Equipamentos Receita Kit

imprescindíveis para o cervejeiro caseiro e vale a pena gastar um pouquinho

na compra de um modelo adequado. O modelo exibido na foto não custa muito

caro e serve muito bem ao nosso propósito.

Importante: não use o liquidificador. A moagem fica muito ruim e o

aproveitamento será baixo. Procure um moedor próprio para cereais em casas

de produtos agropecuários ou de cozinhas industriais.

O objetivo de manter a casca do grão intacta é que ela servirá de filtro no final

do processo de mostura. O “bolo” de grãos formado no fundo da panela

permite que o mosto de cevada seja filtrado e levado para a fervura mais

limpo. Além de ter uma cerveja mais límpida, o rendimento da produção é

maior por ter menos descarte de sujeira ao final da fervura. Mais detalhes

sobre a filtragem serão abrangidos na parte de mostura.

Mas então não seria mais fácil deixar o grão inteiro? Para filtrar sim, mas para

extrair os açúcares necessários não. Por isso, precisamos expor o conteúdo

do grão para que consigamos extrair o máximo dele durante a mostura.

Em seguida temos uma foto dos grãos moídos, com a granulação que

consideramos boa. Note que as cascas (partes mais escuras) estão

consideravelmente inteiras, enquanto que a parte interna dos grãos (parte

branca) está parcialmente quebrada e parcialmente esfarelada.

Se você não conseguir ajustar o seu moedor para moer o malte corretamente

da primeira vez, não se preocupe. O seu rendimento final será levemente

afetado, mas não vai impedir que você produza uma boa cerveja.

Se desejar ganhar tempo, antes de iniciar a moagem do malte você pode colocar em torno de 15 litros de água para aquecer. Isto permitirá que enquanto você faz a moagem, a água seja aquecida e preparada para a próxima etapa.

Page 32: Equipamentos Receita Kit

Brassagem

A brassagem nada mais é do que o cozimento do malte para extrair os

açúcares necessários à fermentação da cerveja. Nesta etapa exige-se que

seja feito o controle da temperatura do cozimento, visando uma melhor

extração dos açúcares do malte.

Mas como isso funciona?

Basicamente, a cevada não maltada (o grão puro) é germinada até certo ponto

controlado e depois é secada para que a germinação seja interrompida. O

Page 33: Equipamentos Receita Kit

processo de germinação gera grande quantidade de amidos e proteínas que

serão necessários para a fermentação da cerveja.

Durante a brassagem o malte é hidratado e as enzimas presentes nele são

ativadas. Com a ativação destas enzimas, o amido pode ser convertido em

açúcares fermentáveis e as proteínas convertidas em nutrientes. Porém, as

enzimas necessárias para a conversão somente são ativadas diante de

temperaturas pré-determinadas. Por isso precisamos do controle da

temperatura!

O amido, por si só, não é algo “fermentável”. Em outras palavras, o fermento

não consegue digerir o amido. Então precisamos convertê-lo em açúcares

fermentáveis, ou digeríveis pelo fermento.

Abaixo apresentamos uma tabela que apresenta as diferentes enzimas presentes no malte e

suas respectivas temperaturas de ativação (fonte: HowToBrew).

Enzima Faixa Ideal de

Temperatura

Faixa de PH

Função da Enzima

Phytase 30-52°C 5.0-5.5 Diminuição do pH da mosturaDebranching (var.)

35-45°C 5.0-5.8 Solubilização de Amidos

Beta Glucanase

35-45°C 4.5-5.5 Gelatinização, auxiliando na liberação de açúcares disponíveis

Peptidase 45-55°C 4.6-5.3 Produz maior quantidade de proteínas solúveis no mosto

Protease 45-55°C 4.6-5.3 Quebra proteínas que geram turvação da cerveja

Beta Amylase 55-65°C 5.0-5.5 Produz maltoseAlpha Amylase 68-72°C 5.3-5.7 Produz açúcares diversos,

incluindo maltose

Importante: Os números acima devem ser interpretados como os ótimos para

atuação de cada enzima. As enzimas também vão ser ativadas em

temperaturas fora das faixas indicadas, mas serão destruídas à medida que a

Page 34: Equipamentos Receita Kit

temperatura sobe acima de cada faixa.

Em virtude das avançadas técnicas e processos disponíveis na indústria de

malteação moderna, o malte que temos disponível para produção de cerveja é

altamente modificado. Ou seja, é um malte com grande capacidade de

conversão de amidos. Isto significa também que é um malte que permite ao

cervejeiro caseiro simplificar o processo de produção de cerveja, reduzindo a

necessidade de utilização de várias etapas de temperatura na mostura.

Para a produção da receita modelo, vamos nos concentrar em manter a

temperatura em torno de 65º C. O processo em que se usa uma única

temperatura de infusão do malte é comumente chamado de “Single Infusion”

ou “One Step Infusion”. Funciona bem para nossa cerveja, visto que somente

estamos utilizando um tipo de malte base. A temperatura escolhida (65ºC)

permite que os açúcares sejam convertidos de maneira suficiente para

produção da cerveja.

À medida que você se aprofundar no assunto e pesquisar mais, notará que

muitas vezes se faz necessário que sejam utilizadas outras faixas de

temperaturas. Isto dependerá dos ingredientes usados e da cerveja que se

deseja obter.

Vale ressaltar também que não há um “número mágico” para definir a

temperatura de brassagem. Como exemplo: para fazer esta mesma cerveja

através do método de temperatura única, poderíamos fazer a brassagem em

torno de 63ºC ou em torno de 70ºC. O resultado final seria consideravelmente

diferente. No caso de temperaturas mais baixas se obterá uma cerveja mais

alcoólica e menos encorpada. No caso de temperaturas mais elevadas se

obterá uma cerveja menos alcoólica e mais encorpada devido à obtenção de

mais dextrinas, ou açúcares não fermentáveis (lembrando que o teor alcoólico

nem sempre tem relação com a percepção de “corpo” da cerveja).

Iniciando a Brassagem

Após a moagem dos grãos, coloque em torno de 15 litros de água para

Page 35: Equipamentos Receita Kit

aquecer até chegar em 68ºC. Para ganhar tempo, poderá deixar a água

aquecendo durante o período em que você faz a moagem do malte.

Com a água em 68ºC, adicione o malte.

Após adicionar o malte, misture bem e aguarde alguns instantes para que a

temperatura dos grãos e da água fique homogênea. Então, meça a

temperatura da mistura e veja se está em 65ºC. Se não estiver, não há

problemas. Caso a temperatura fique abaixo do esperado, mantenha o fogo

baixo ligado até que a temperatura suba conforme desejado. Se a temperatura

ficar um pouco acima do esperado, apenas desligue o fogo e aguarde ela

abaixar lentamente.

Os grãos devem ficar nesta temperatura durante uma hora. Este é o tempo

necessário para as enzimas fazerem a conversão do amido em açúcares,

preparando o precioso líquido para a fermentação que ocorrerá depois. O

segredo durante esta hora é manter a temperatura sempre na faixa de 65ºC.

Manter a panela tampada e sem mexer a mistura é uma forma de evitar que a

temperatura caia muito rápido. Sempre que a temperatura cair, acenda o fogo

baixo novamente, mexa durante o aquecimento para homogeneizar a

Page 36: Equipamentos Receita Kit

temperatura e desligue o fogo quando chegar à temperatura desejada.

Importante: Permaneça mexendo a mistura sempre que estiver fazendo o

procedimento de elevar a temperatura. Isto garantirá que a temperatura seja

homogeneizada, visto que a grande quantidade de malte no fundo da panela

tende a aquecer rapidamente e não transferir a temperatura para a parte

superior do líquido. Visto que fazemos a leitura da temperatura com um

termômetro, corremos o risco de fazer um controle deficiente se houver

diferença de temperatura entre a parte superior e inferior da mistura.

Visto que você terá somente que controlar a temperatura da mistura durante

os próximos 60 minutos, é hora de abrir uma cerveja e descontrair. Afinal,

estamos fazendo uma nova cerveja!

Interrompendo a Ação das Enzimas

Após os 60 minutos em que a mistura permaneceu na temperatura de

conversão do amido, chegou a hora de fazer com que as enzimas parem seu

trabalho para que possamos continuar a produção. Assim como as enzimas

são ativadas diante de determinadas temperaturas, elas também podem ser

inativadas. Para isso, basta elevar a temperatura da mistura para 76ºC. E

lembre-se: mexa sempre enquanto estiver elevando a temperatura visando

homogeneização.

A elevação nesta temperatura contribui de diversas formas para nossa

produção: faz cessar o trabalho das enzimas, interrompendo a conversão do

amido. Além disso, visto que nossa mistura está agora cheia de açúcar

dissolvido, a temperatura maior fará com que o açúcar fique mais líquido e

assim seja mais facilmente extraído.

Talvez você se pergunte: porque não elevamos mais ainda a temperatura para

facilitar ainda mais a extração do açúcar?

Isso facilitaria a extração do açúcar, mas começaria a extrair outras coisas não

desejáveis do malte, como, por exemplo, os taninos das cascas do malte.

Page 37: Equipamentos Receita Kit

Imaginamos que você não vai querer beber uma cerveja que dá a mesma

sensação de caqui verde na boca! Portanto, vamos ficar com os 76ºC.

Recirculação e Lavagem do Malte

Chegou a hora de extrair o doce líquido que depois vai se transformar em

cerveja. Mas antes de retirarmos todo o líquido quer irá para a fervura, vamos

filtrá-lo para conseguirmos um líquido mais límpido e com menos impurezas.

Visando ganhar tempo, coloque o restante da água em outra panela e inicie o

aquecimento até chegar à temperatura em que a mistura se encontra, que é

de 76ºC. Esta água será utilizada para “lavar” o malte, extraindo maior

quantidade de açúcares e ajudando a ter um melhor rendimento da produção.

Para isso fazer a recirculação, vamos extrair parte do líquido pela válvula

extratora na parte inferior da panela e devolvê-lo à panela pela parte de cima,

tentando mexer o mínimo possível na camada de malte. Fazendo isso, a

camada de malte vai se transformar em um filtro natural, onde as cascas do

malte vão ajudar no processo de contenção das partículas do líquido.

Como proceder:

- Abra a válvula no fundo da panela e comece a retirar o líquido, passando o

mesmo para uma jarra ou outro recipiente apropriado. Não abra a válvula na

capacidade máxima, evitando que sejam arrastadas muitas impurezas (veja

foto 1).

- Note que o líquido que sairá estará muito turvo, repleto de poeira de malte e

outras partículas.

- Quando a jarra estiver cheia, interrompa o fluxo do líquido e devolva o que foi

coletado à panela pela parte superior. Procure não agitar a mistura da panela

para não comprometer a camada filtrante que está se formando no bagaço.

Para isso, pode ser utilizada uma escumadeira ou a própria colher que foi

usada para mexer a mistura (veja foto 2).

- Reinicie a coleta de mais líquido pela parte inferior usando a jarra. Repita

todo o processo de retirada e devolução de líquido até que este fique límpido.

Page 38: Equipamentos Receita Kit

Serão necessárias algumas repetições até obter uma boa clarificação.

- Assim que o líquido estiver límpido, inicie a transferência do líquido para outro recipiente

maior (veja foto 3). Este líquido que está sendo coletado será levado para a próxima etapa,

que é a fervura. Podemos começar a chamar este precioso líquido de mosto.

Início da coleta do mosto Devolução do mosto à panela Cuidado para não agitar a camada de grãos

Mosto coletado para ser levado à fervura. Veja

como está mais límpido!

Mas pra que recircular e filtrar? Não posso simplesmente retirar o líquido e

passar pra próxima etapa de fervura, ganhando tempo?

O principal objetivo de filtrarmos é obter uma cerveja mais límpida e

diminuirmos o desperdício. Explicando: quando o mosto não é filtrado, muita

sujeira vai para a etapa de fervura. Esta sujeira, após a fervura, precisará

decantar antes da transferência para o fermentador. Se a quantidade de

“borra” decantada no fundo da panela for grande, precisaremos descartar um

maior volume do precioso líquido e com isso teremos menos cerveja (e temos

certeza que você não quer isso!). Inevitavelmente, maior quantidade de sujeira

será levada à fermentação, resultando numa cerveja mais turva. Ou seja, vale

a pena gastar um tempinho com a recirculação.

Assim que o nível do líquido na panela estiver a apenas alguns centímetros

dos grãos, iniciaremos a “lavagem” dos grãos (chamado também

de“sparging”). Para isso, vamos precisar da água adicional que foi levada para

aquecer à 76ºC.

Evitando que os grãos da panela fiquem sem líquido sobre eles, comece a

adicionar sobre o malte lentamente a água que foi aquecida. Tente equalizar o

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fluxo da água que é adicionada sobre o malte com o fluxo que está saindo

pela válvula da panela onde está o malte. Novamente, não queremos revolver

a camada de grãos para que o filtro que foi formado pela camada de malte não

seja perdido.

Para manter o fluxo de retirada igual ao fluxo da água aquecida adicionada,

normalmente nós procuramos colocar todos os recipientes envolvidos em

forma de degraus. Ou seja, no nível mais alto fica o recipiente com água

aquecida, no nível intermediário fica a panela onde está o malte e no nível

mais baixo fica o recipiente onde é coletado o mosto.

À medida que a água aquecida é adicionada ao malte e retirada, o açúcar que

ainda está presente no malte também é levada junto com a água. A água

adicionada é aquecida justamente para manter o açúcar mais líquido e facilitar

sua retirada. Este procedimento nos ajudará a aproveitar melhor o malte,

ajudando-nos a fazer mais cerveja com menos malte. Se fizéssemos a

brassagem com toda a água inicialmente, precisaríamos de mais malte para

obter o mesmo resultado.

Quando a água aquecida terminar, continue coletando mosto pela parte

inferior da panela onde está o malte. Ainda haverá muito líquido no meio do

bagaço. Caso você tenha aquecido muita água, interrompa o processo de

retirada quando obtiver em torno de 24 litros de mosto. Assim que terminar de

coletar o mosto, passe tudo o que foi coletado para a panela que será utilizada

na próxima etapa: a fervura e lupulagem.

Importante: Evite agitar ou sacudir muito o mosto enquanto quente, ou fazer

muita espuma na transferência entre os recipientes e panelas. Se muito ar for

incorporado ao mosto ainda quente, sabores indesejáveis de oxidação

poderão se desenvolver na sua cerveja.

Fervura e Lupulagem

Logo após coletarmos todo o mosto e transferirmos à panela, vamos

novamente colocá-lo no fogo e iniciar a fervura. A fervura é necessária para o

desenvolvimento de sabores da cerveja e também para ajudar na coagulação

Page 40: Equipamentos Receita Kit

de proteínas. Esta etapa vai durar no mínimo 60 minutos.

É também durante a fervura que vamos adicionar o lúpulo, que vai conferir

amargor e sabor à sua cerveja. Dependendo do momento da fervura em que o

lúpulo é adicionado, pode-se conferir diferentes características à cerveja, visto

que a extração das propriedades do lúpulo varia de acordo com o tempo de

fervura.

Mas como assim?

O lúpulo vai influenciar sua cerveja em três características básicas: amargor,

sabor e aroma. Estes não são os únicos motivos de usarmos o lúpulo na

cerveja. Como exemplo, ele também ajuda na estabilidade da espuma e como

conservante natural. À medida que você se aprofundar no assunto, verá que o

lúpulo é muito versátil e pode ser utilizado de muitas maneiras diferentes,

dependendo do que se espera obter.

De maneira simples, as adições de lúpulo respeitam as seguintes fases (numa

fervura de 60 minutos):

- Para obtenção de amargor, o lúpulo é adicionado no início da fervura;

- Para obtenção de sabor, o lúpulo é adicionado na metade do tempo de

fervura;

- Para obtenção de aroma, o lúpulo é adicionado ao final da fervura, o quando

esta já se encerrou.

Vale ressaltar que o exposto acima não é uma regra, ou algo inflexível. O

lúpulo que adicionamos no início da fervura vai conferir certa medida de sabor

e aroma, além do amargor. Assim como o lúpulo que adicionamos no final da

fervura vai conferir certa medida de sabor e amargor, além do aroma. As

etapas delineadas acima somente indicam os momentos mais propícios para

cada uma das características que desejamos obter.

Para começar a contar o tempo de fervura, aguardamos o mosto começar a

Page 41: Equipamentos Receita Kit

ferver. O tempo em que a água está somente esquentando não conta.

Somente após a fervura iniciar de maneira vigorosa é que contaremos o

tempo.

Ao mesmo tempo em que o mosto começa a ferver você notará que uma

espuma densa começará a ser formada e haverá acúmulo de partículas nas

beiradas da panela. Estas partículas são proteínas coaguladas e podem ser

retiradas com escumadeira ou colher antes de continuar a fervura.

Para adicionar os lúpulos, normalmente contamos as adições com base no

tempo que resta para terminarmos a fervura. Por exemplo, em nosso caso,

teremos duas adições de lúpulo: aos 60 e aos 20 minutos. Isto significa que

adicionaremos uma parte do lúpulo quando restarem 60 minutos para acabar a

fervura e outra parte quando restarem 20 minutos para acabar a fervura.

Assim que você retirar as partículas coaguladas de cima do mosto fervente,

adicione a primeira parte do lúpulo. No caso da nossa receita, são 25 gramas

de lúpulo aos 60 minutos. Agora, deixe fervendo vigorosamente pelos

próximos 40 minutos até a adição do restante do lúpulo.

Que tal aproveitar que você vai ter que aguardar 40 minutos e abrir outra

cerveja?

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Importante: a fervura será favorecida se ocorrer de maneira vigorosa. Ou seja, quando iniciar fervura, não diminua a intensidade do fogo. Deixe ferver pra valer! Isso aumentará um pouco a perda por evaporação, mas também vai ajudar a decantar as partículas na etapa de resfriamento, melhorando a clarificação da cerveja.

Se você estiver usando Whirlfloc para ajudar na clarificação da cerveja,

adicione meia pastilha quando estiver faltando 15 minutos para o final da

fervura.

Enquanto você aguarda a fervura terminar, aproveite para fazer os últimos

ajustes e ver se está tudo pronto para a etapa que vem a seguir, que é o

resfriamento. Veja se o chiller está realmente limpo e isento de oxidação e se

as mangueiras e conexões de água estão prontas para uso.

Quando terminar os 60 minutos de fervura, desligue o fogo e vamos passar à

próxima etapa.

Resfriamento

O resfriamento do mosto é uma das etapas mais críticas do processo de

produção. A partir de agora, a atenção e o cuidado devem ser redobrados. Um

erro agora pode ser fatal para sua cerveja.

Por que tanto cuidado assim?

Um dos motivos tem a ver com a possibilidade de contaminação. Uma vez que

Page 43: Equipamentos Receita Kit

o mosto esteja frio, a grande quantidade de açúcares presentes nele torna-se

um excelente meio de cultura para as leveduras que vamos adicionar para

fermentar a cerveja. Mas assim como o fermento que adicionamos gosta dos

açúcares do mosto, as leveduras selvagens que estão presentes no ar e nos

equipamentos à sua volta também gostam. Por isso, à medida que o mosto é

resfriado é necessário tomar cuidado para minimizar o risco de contaminar

nossa cerveja. Isso inclui evitar respirar diretamente sobre o mosto.

Antes de usar o chiller de imersão, ele deve ter sido muito bem lavado e estar

isento de oxidação (no caso do cobre, é uma oxidação esverdeada

chamada“zinabre”). Produtos ácidos ajudam a limpar o cobre, como água com

limão ou água com vinagre de álcool. Em últimos casos, uma boa esfregada

com esponja vai ajudá-lo.

Assim que você desligar o fogo, coloque o chiller de imersão limpo na panela e

engate as conexões para circulação de água. Conecte a mangueira na torneira

e abra a mesma, fazendo com que a água circule por dentro do chiller.

Como funciona o chiller de imersão feito de cobre?

Visto que o cobre é um material com boa condutividade térmica, ele permite

que a água que passa por dentro da tubulação retire o calor do mosto e leve

embora quando sair. Quanto mais fria estiver a água que entra no chiller, mais

rápido será o resfriamento. Tome cuidado com a água que sair do tubo, pois

estará quente. Para evitar perda de eficiência, ajuste o volume de água que

circula no chiller de forma que a água saia o menos quente possível. Se a

água estiver com pouca pressão e sair muito quente do chiller, isto significa

que na parte final do equipamento a temperatura não está sendo bem retirada

do mosto.

Ainda no início do processo de resfriamento, com o auxílio da colher de pau

limpa, faça uma espécie de redemoinho no mosto. Isto fará com que as

partículas decantem e se acomodem mais para o centro da panela, evitando

Page 44: Equipamentos Receita Kit

serem levadas junto para o fermentador ao final do resfriamento.

À medida que o mosto resfria, mantenha a panela tampada para evitar contato

com o ar ou que algo caia no mosto (lembre-se do risco de contaminação!). A

água que sai do chiller pode ser armazenada para posterior uso na limpeza

dos equipamentos e do ambiente onde você fez a cerveja.

Um aspecto importante a ser lembrado na etapa de resfriamento é que este

deve acontecer o mais rapidamente possível. Quanto menor o tempo de

resfriamento, melhor. Isto porque o quanto antes você deixar o mosto na

temperatura de fermentação, antes você vai fazer a transferência para o

fermentador e diminuirá as chances de contaminação. Se você simplesmente

deixar a panela tampada e esperar o mosto esfriar em temperatura ambiente,

serão formados sabores indesejáveis na sua cerveja final. Isso ocorrerá

porque alguns compostos indesejados são gerados e evaporados durante a

fervura. Se o mosto continuar em alta temperatura com o fogo desligado, os

compostos serão gerados e não evaporados, o que trará sabores indesejáveis.

Outro motivo de resfriar a cerveja rapidamente é que isso vai ajudar a ter uma

cerveja mais límpida. Isso ocorre porque algumas proteínas que estão no

mosto são coaguladas quando resfriadas bruscamente. Com as proteínas

decantadas no fundo da panela, você poderá descartá-las, sem levar ao

fermentador. Se a queda de temperatura do mosto não for rápida, estas

proteínas não serão afetadas e serão levadas junto para a cerveja final. Com

isso, no momento que você for resfriar a sua cerveja para consumo, essas

partículas vão coagular na garrafa e deixar a sua cerveja mais turva (esse

fenômeno é chamado de “turvação a frio”). Tudo bem que isso só vai impactar

no aspecto da cerveja, sem afetar o seu sabor. Mas é sempre melhor resfriar

rápido o mosto!

Importante: não mexa no mosto enquanto este resfria, pois isto atrapalhará a

decantação das partículas e formação do trub. O único detalhe é que ficará

difícil aplicar esta recomendação se você não usar o chiller de imersão,

Page 45: Equipamentos Receita Kit

conforme explicado logo em seguida.

E se eu não tiver o chiller de imersão?

Uma maneira de se resfriar o mosto sem usar um chiller de imersão é colocar

a panela onde está o mosto quente dentro de um recipiente com água fria e

gelo. Enquanto a panela estiver dentro da água fria, mexa o mosto para entrar

em contato com as paredes da panela e favorecer o resfriamento. Na falta de

recipiente apropriado, o tanque de roupas pode ser utilizado para esta

finalidade.

O ideal é resfriar o mosto até chegar à temperatura de fermentação, que no

caso da nossa cerveja é 20ºC. Se você não conseguir reduzir a esta

temperatura, tente pelo menos chegar a uma temperatura inferior a 30ºC. Isso

evitará que você inutilize o fermento ou que tenha uma fermentação inicial

muito vigorosa.

Agora vamos falar sobre a transferência para o fermentador e aeração.

Transferência para o Fermentador

Uma vez resfriado o mosto, vamos transferir o quanto antes para o

fermentador para evitar contaminações. Lembre-se que no fundo da panela do

mosto há muita sujeira decantada, gerada pelo lúpulo e pelas proteínas

Page 46: Equipamentos Receita Kit

coaguladas. Esta sujeira é comumente chamada de trub. O trub não deve ser

levado junto ao fermentador, pois este poderá inibir a fermentação.

O ideal agora é que o mosto seja retirado da panela e vá diretamente ao

fermentador, com o menor contato possível com o ar ambiente. Se necessário,

adapte um pequeno pedaço de mangueira transparente à válvula de saída da

panela de forma que o mosto seja despejado diretamente dentro do

fermentador sem ficar exposto no caminho entre esses dois recipientes (por

favor, esterilize bem esta mangueira usando álcool!).

Importante: Antes de fazer a transferência, certifique-se que o fermentador

esteja limpo e isento de contaminantes!

Agora abra lentamente a válvula da panela, fazendo com que o mosto saia

lentamente, evitando que alta vazão da válvula arraste o trub junto.

Geralmente a primeira parte do mosto virá com alguma sujeira que estará

presa à parte interna da válvula. Vá retirando o mosto até que ele passe a sair

limpo. Descarte o mosto sujo retirado. Para esta operação, pode-se utilizar a

jarra que foi primeiramente usada para recirculação do mosto, evitado sujar o

fermentador.

Antes de transferir para o fermentador, retire um pouco do mosto para fazer a

medição da densidade. Para isso, basta encher a proveta que você adquiriu

para usar com o densímetro.

Uma vez coletada a amostra para medir a densidade, vamos transferir o mosto

diretamente para o fermentador. Abra novamente a válvula e continue

retirando o mosto com vazão moderada para não arrastar o trub. Se possível,

mantenha o fermentador fechado ou semi-tampado, fazendo com que o

mínimo de ar entre no recipiente.

Enquanto a transferência ocorre, você pode aproveitar para fazer a medição

da densidade e tomar um golinho de cerveja (veja como medir a densidade no

Apêndice). Mas não se empolgue! É importante ficar atento à transferência,

pois pode ser que parte do trubcomece a ser arrastada para o fermentador. Se

Page 47: Equipamentos Receita Kit

isso acontecer, diminua a vazão do mosto.

Vale lembrar que não vamos retirar tudo o que está na panela. O trub deverá

ficar de fora! Por isso, quando o nível do mosto da panela chegar até a

camada de sujeira do fundo, interrompa o fluxo e descarte o que sobrou.

Aeração

Agora vamos aerar o mosto. Aerar, em nosso caso, nada mais é do que

introduzir ar no líquido. O fermento precisa de oxigênio para se multiplicar e

iniciar seu trabalho, que é consumir os açúcares presentes no mosto. Mas

visto que durante a fervura o oxigênio do mosto se perdeu, é necessário

reintroduzir oxigênio.

Há várias formas de introduzir oxigênio no mosto. Algumas pessoas fecham o

fermentador com o mosto dentro e agitam o mesmo para que o oxigênio seja

misturado. Também é possível adicionar oxigênio puro ao mosto, usando um

cilindro de oxigênio comprado. Esta última técnica é a ideal, pois evita o risco

de contaminação. É usada pelas cervejarias, mas também é a mais

dispendiosa pro cervejeiro caseiro iniciante. Em nosso caso, nós vamos

aproveitar a transferência para o fermentador para fazer a oxigenação do

mosto.

Page 48: Equipamentos Receita Kit

À medida que transfere o mosto para o fermentador, deixe que o mosto“caia”

de certa altura, fazendo com que o mesmo seja oxigenado sozinho. Para isso,

ajuste a altura da válvula ou da mangueira em relação ao fermentador de

modo que, ao cair, o mosto seja agitado. Também é importante manter a

vazão do mosto baixa, auxiliando na oxigenação. Uma espuma começará a

ser formar sobre o mosto e isso é normal. Como citamos anteriormente, se

possível mantenha o fermentador o mais fechado possível durante este

procedimento.

Adição do Fermento

Terminada a oxigenação, seu mosto estará pronto para receber o fermento.

Visto que para nossa cerveja estamos usando o fermento liofilizado (seco),

você poderá adicioná-lo diretamente ao mosto no fermentador. Para a maioria

dos fermentos secos do tipo ALE, um pacotinho é suficiente para fermentar

cerca de 20 litros de cerveja. Já no caso dos fermentos do tipo LAGER, muitos

preferem usar um pacotinho para cada 10 litrosde cerveja.

No caso de nossa cerveja, adicionaremos um pacote de fermento diretamente

no fermentador. Pronto, podemos lacrar o fermentador e deixar os bichinhos

fazer seu trabalho.

Algumas pessoas costumam hidratar o fermento antes de adicioná-lo ao

mosto, visando facilitar o início da fermentação. Se desejar fazer isso, siga as

instruções do fabricante. Caso você não tenha acesso a essa instrução, segue

uma forma simples de hidratar o fermento:

- Ferva 120ml de água em uma panela com tampa;

- Resfrie até menos de 30ºC;

- Adicione o fermento lentamente, mexendo com uma colher esterilizada à

medida que adiciona;

- Mexa suavemente por alguns minutos, formando um creme homogêneo;

- Deixe descansar de 15 a 20 minutos e adicione ao mosto resfriado.

Page 49: Equipamentos Receita Kit

Fermentação

Uma vez que o mosto resfriado foi levado ao fermentador e o fermento foi

adicionado, é hora de aguardar. Deixe o fermentador muito bem fechado em

um local preferencialmente ao abrigo da luz, fora do caminho de outras

pessoas. Lembre-se sempre que a luz é inimiga da cerveja, mesmo enquanto

ela estiver fermentando.

Não se esqueça de colocar o borbulhador no fermentador, para evitar possíveis contaminações resultantes do contato do mosto com o ar.

Visto que estamos usando um fermento do tipo ALE, a temperatura de

fermentação normalmente deve ficar entre 16 e 21ºC. O ideal é sempre

analisar as recomendações do fabricante quanto à faixa de temperatura

indicada. Se a temperatura estiver muito abaixo da faixa indicada, o fermento

pode “adormecer”e não fazer o seu trabalho. Se estiver acima poderá gerar

uma fermentação muito rápida, o que fará com que sabores indesejáveis

sejam gerados.

Na cerveja que utilizamos como exemplo, sugerimos manter a temperatura de

fermentação na faixa de 20ºC. Isto permite que a fermentação ocorra

Page 50: Equipamentos Receita Kit

normalmente, sem gerar sabores muito frutados (resultantes dos ésteres

gerados por temperaturas muito altas).

O fermento dará sinal de atividade normalmente dentro de 24 horas, e em

cerca de 36 horas haverá bastante agitação no borbulhador. Você notará uma

camada de espuma formada na parte de cima do mosto. Isso é normal

enquanto o fermento estiver em atividade. Não mexa no mosto enquanto

estiver fermentando. O fermento não gosta de ser incomodado...

Durante a fermentação, o fermento consome os açúcares presentes no mosto

e libera subprodutos, como álcool, gás carbônico e alguns componentes que

incrementam os sabores da cerveja.

E quanto tempo leva pra fermentar?

Após os primeiros 3 a6 dias, a camada de espuma sobre o mosto vai começar

a se dissipar e o fermento iniciará o processo de decantação para o fundo do

fermentador. Isto significa que a fase inicial da fermentação está chegando ao

fim. Quando a atividade de fermentação pára, a camada de espuma sobre o

mosto haverá se dissipado. Para saber se a fermentação chegou ao fim, retire

uma amostra da cerveja e meça a densidade com o densímetro.

Há duas formas de conduzir a fermentação: uma delas é usando apenas um

fermentador, e outra é usando dois fermentadores.

Quando usamos apenas um fermentador, é importante que a cerveja seja

engarrafada em no máximo 14 dias após o início da fermentação. Ou então

pode ser engarrafada imediatamente após o término da fermentação

(conferida pelo uso do densímetro). Se o fermento continuar muito tempo em

contato com a cerveja, ele entrará processo de autólise e trará sabores

indesejáveis à sua cerveja.

Se você optar por usar dois fermentadores, então deverá retirar a cerveja do

primeiro fermentador assim que a fermentação acabar. Use a válvula instalada

na parte inferior do fermentador para retirar a cerveja, tomando cuidado para

Page 51: Equipamentos Receita Kit

não retirar a camada que sedimentou. Feche o segundo fermentador e deixe

mais alguns dias (de7 a 10). Isto vai permitir que a cerveja passe por um

processo de maturação antes de ser engarrafada, e conterá menor quantidade

de fermento. Utilizando dois fermentadores você terá uma cerveja mais

límpida e “arredondada”, porém há mais desperdício de cerveja devido às

transferências entre fermentadores.

Para manter a temperatura desejada durante a fermentação, pode-se utilizar

um refrigerador que tenha seu termostato alterado para trabalhar em

temperaturas mais altas. Este procedimento ajudará a ter uma boa

fermentação, visto que haverá pouca oscilação de temperatura. Se você não

dispuser deste equipamento e o local onde você mora é muito quente, pode-se

tentar manter a temperatura sob certo controle por colocar o fermentador

dentro de um recipiente com água e diariamente adicionar uma garrafa PET

com água congelada dentro. Em últimos casos, deixe fermentar em

temperatura ambiente mesmo, pois boas cervejas são feitas à temperatura

ambiente! Não deixe de fazer cerveja por falta de controle de temperatura da

fermentação.

Encerrada a etapa de fermentação, chegou a hora de engarrafar sua cerveja.

Importante: podemos dizer que a fermentação é a etapa mais importante para

uma boa cerveja. É o fermento que caracteriza muitos dos estilos de cerveja, e

a correta escolha do fermento e controle da temperatura são determinantes.

Se há uma área de estudos para o cervejeiro caseiro se aprofundar, esta é a

fermentação. Sugerimos que leia bastante sobre isso à medida que você

aprimora suas técnicas cervejeiras.

Primming e Engarrafamento

Depois que sua cerveja estiver completamente fermentada, chegou a hora de

engarrafá-la. Ao engarrafar, vamos adicionar uma pequena quantidade de

açúcar para gerar uma leve fermentação na garrafa. Com isso, o fermento

consumirá o açúcar adicionado liberando gás carbônico e uma pequena

quantidade de álcool. Lembre-se que o fermento ainda está vivo ao final da

fermentação. Ele apenas diminuiu sua atividade devido ao término do açúcar e

Page 52: Equipamentos Receita Kit

passou a desempenhar outras tarefas dentro da sua cerveja.

Importante: verifique sempre através do densímetro se a fermentação chegou

realmente ao fim antes de engarrafar. Se ainda houver açúcar na cerveja a ser

consumido pelo fermento e levarmos esta cerveja à garrafa com mais açúcar,

isto poderá transformar suas garrafas em perigosas bombas caseiras.

Esta técnica de adicionar pequena quantidade de fermentáveis na garrafa para

carbonatar a cerveja chama-se “primming”. Para fazer o primming pode-se

usar açúcar comum, açúcar mascavo, açúcar demerara, mel, extrato de malte

ou qualquer outra coisa que sirva de alimento para o fermento. Dependendo

de cada fermentável que você vai adicionar na cerveja, a quantidade muda.

Vamos mostrar como fazer utilizando açúcar comum.

Para uma cerveja bem carbonatada, usa-se normalmente em torno de 10

gramas de açúcar por litro de cerveja (não por garrafa). Para uma cerveja

pouco carbonatada, pode-se usar a metade. Visto que queremos uma cerveja

com boa carbonatação, vamos usar a seguinte técnica:

- Pese 300 gramasde açúcar e coloque em uma panela;

- Dose 300 ml de água e coloque junto ao açúcar;

- Leve ao fogo e quando começar a ferver, abaixe a chama e deixe por uns 5

minutos.

Quando esta solução esfriar, vamos adicionar à cerveja. Teremos uma

solução bem concentrada em açúcar.

Antes de iniciar o engarrafamento, precisamos esterilizar as tampinhas

metálicas, caso você as use. As tampinhas podem ser deixadas de molho por

alguns minutos em álcool 70% ou simplesmente em vodka barata. Não ferva

as tampinhas nem use sanitizantes fortes, pois a borrachinha de vedação

interna pode ser danificada ou ficar com cheiro ruim.

Para engarrafar, coloque cerca de 1 ml de solução para cada 100 ml de

Page 53: Equipamentos Receita Kit

cerveja. Por exemplo, para uma garrafa de 500 ml, vamos colocar 5 ml da

solução por garrafa. Esta tarefa é facilitada com o uso de uma seringa comum

com marcação de volume, que pode ser comprada em qualquer farmácia.

Primeiro coloque a solução de primming na garrafa vazia, e depois coloque a

cerveja na garrafa vagarosamente, evitando fazer espuma. Tente retirar a

cerveja diretamente do fermentador para a garrafa, minimizando o contato

com o ar. É importante também deixar pouco espaço sobrando no pescoço da

garrafa, evitando que haja excesso de pressão na cerveja carbonatada. Assim

que a garrafa estiver com a quantidade certa de cerveja e solução de

primming, imediatamente coloque a tampinha.

Já posso tomar a cerveja?

Ainda não. Agora falta esperar a formação do gás carbônico na garrafa. Deixe

as garrafas em temperatura ambiente, em local escuro, por cerca de 10 dias.

Após isso, abra um exemplar para ver se já possui gás.

Sempre mantenha sua cerveja caseira na posição vertical, para que o

fermento fique alojado no fundo da garrafa. Desta forma, você poder servir

sem despejar o fermento (se quiser, claro!).

Uma cerveja caseira dura tranquilamente 6 meses. No caso da cerveja que

usamos como exemplo, sugerimos bebê-la em até 4 meses. Depois deste

período alguns sabores começarão a ficar comprometidos. Apesar disso,

mesmo após 1 ano guardada ela ainda estará boa para o consumo, mas

talvez não tão saborosa.

Esperou os 10 dias? Seguiu todos os passos indicados neste material? Então

você estará bebendo uma cerveja caseira, saborosa, nutritiva – e o melhor–

feita por você!

Limpeza e Sanitização dos Equipamentos

A limpeza dos equipamentos deve ser uma preocupação constante do

cervejeiro caseiro. Visto que estamos trabalhando com alimentos e

fermentação, qualquer descuido neste quesito pode gerar sabores

Page 54: Equipamentos Receita Kit

indesejáveis na sua cerveja ou até mesmo estragar todo o seu trabalho.

Portanto, dê atenção à limpeza e sanitização dos equipamentos.

Com respeito aos equipamentos usados na parte “quente” da produção, estes

devem apenas estar bem limpos e não precisam necessariamente ser

desinfetados. Ou seja, panelas, filtro de malte, colher de pau, jarra e tudo o

mais que estiver em contato com o mosto ainda quente deve ser bem limpo.

Para isso, basta usar água e sabão ou detergente neutros, enxaguando bem

ao final. Evite esfregar as panelas com produtos muito abrasivos, visto que

podem deixar gosto metálico na sua cerveja. Use sempre esponjas macias e

água em abundância. Também evite produtos que podem deixar cheiro em

seus equipamentos.

Um item que merece atenção é o trocador de temperatura feito em cobre.

Visto que o cobre sofre facilmente oxidação, este deve sempre ser muito bem

limpo antes do uso. A oxidação do cobre, chamada popularmente de zinabre,

pode ser tóxica dependendo da quantidade. Portanto, livre-se dele antes de

usar o seu trocador de temperatura. Para ajudar na limpeza, use produtos

ácidos, como vinagre ou suco de limão.

Já a parte “fria” do processo de produção deve ser muito bem limpa e

sanitizada, ou desinfetada. Fermentadores, torneiras, mangueiras de trasfega

e tudo o mais que ficará em contato com o mosto já resfriado ou que está

fermentando deve ser desinfetado. Isso evitará que sua cerveja seja

contaminada com bactérias e leveduras selvagens. Para esta sanitização, o

mais comum é usar uma mistura de água com iodo (também chamado

iodofor).

Em um recipiente com água, adicione iodo e misture até que o líquido fique

numa cor acobreada, que lembre uma cerveja do tipo “pale ale”. Use essa

mistura para deixar os equipamentos de molho ou para enxaguá-los após a

limpeza.

As garrafas também podem ser enxaguadas com essa solução antes de fazer

o primming. O iodo tem a vantagem de não precisar ser enxaguado. Ele

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também não deixa sabor perceptível na cerveja.

Lembre-se sempre: uma boa cerveja só é feita com equipamentos bem limpos e sanitizados.Receitas

American Pale Ale

Volume final: 17 LEficiência 75,0%OG: 1,050 / FG: 1,013ABV: 4,93% / IBU: 39

Ingredientes:2 kg Malte Pilsner (Cargill)2 kg Malte Munich (Cargill)25 g Lúpulo Cascade (60 minutos)30 g Lúpulo Cascade (20 minutos)1 Sache Fermento Safale S-04Mostura:- 66ºC durante 1 hora- 76ºC durante 15 minutos e para lavagem dos grãos. Fervura: 1 hora seguindo as etapas dos lúpulos.Fermentação:- Primária: 7 dias- Secundária: 7 diasEngarrafado com 7gr/litro de açúcar para primming.

English IPA

Volume final: 18 LEficiência: 71%

Oatmeal Stout

Volume final: 18 LEficiência: 70%OG: 1,048/ FG: 1,014ABV: 4,5% / IBU: 25

Ingredientes:3 kg Malte Pilsner (Cargill)0,5 kg Malte Munich (Cargill)0,25 kg Malte Carared® (Weyermann)0,4 kg Malte Carafa® III (Weyermann)0,25 Kg Aveia em Flocos (Quaker)13 g Lúpulo Galena (60 minutos)08 g Lúpulo Mt. Hood (20 Minutos)07 g Lúpulo Mt. Hood (05 Minutos)1 Sache Fermento US-05Mostura:- 67ºC por 60 minutos- 76ºC por 5 minutos e para lavagem dos grãosFervura: 1 hora seguindo as etapas dos lúpulos.Fermentação:- Primária: 6 dias- Secundária: 6 diasEngarrafado com 8gr/litro de açúcar mascavo para primming.

Weizenbock

Page 56: Equipamentos Receita Kit

OG: 1,053/ FG: 1,012ABV: 5,3% / IBU: 48

Ingredientes:3,5 kg Malte Pilsner (Cargill)0,75 kg Malte Munich (Cargill)0,35 kg Malte Carared® (Weyermann)0,10 kg Malte Carahell® (Weyermann)0,02 kg Malte Carafa® III (Weyermann)20 g Lúpulo Styrian Goldings (60 minutos)20 g Lúpulo Styrian Goldings (30 minutos)10 g Lúpulo Styrian Goldings (25 minutos)10 g Lúpulo Styrian Goldings (20 minutos)10 g Lúpulo Styrian Goldings (15 minutos)10 g Lúpulo Styrian Goldings (10 minutos)10 g Lúpulo Styrian Goldings (05 minutos)10 g Lúpulo Styrian Goldings (0 minutos)10 g Lúpulo Styrian Goldings (Dry Hopping)1 Sache Fermento Safale S-04Mostura:- 65ºC por 60 minutos- 76ºC por 5 minutos e para lavagem dos grãosFervura: 1 hora seguindo as etapas dos lúpulos.Fermentação:- Primária: 5 dias- Secundária: 7 dias (Dry Hopping)Engarrafado com 7gr/litro de açúcar mascavo para primming.

Volume final: 18 LEficiência: 57%OG: 1,069 / FG: 1,010ABV: 7,76% / IBU: 25

Ingredientes:3,5 kg Malte de Trigo Claro (Cargill)2 kg Malte Pilsner (Cargill)1 kg Malte Vienna (Weyermann)0,5 kg Malte Munich (Cargill)0,3 kg Malte Carared® (Weyermann)0,05 kg Malte Carafa® III (Weyermann)25 g Lúpulo Mt. Hood (60 minutos)25 g Lúpulo Mt. Hood (15 Minutos)1 Sache Fermento WB-06Mostura:- 55ºC por 20 minutos- 65ºC por 60 minutos- 68ºC por 30 minutos- 78ºC por 5 minutos e para lavagem dos grãosFervura: 1 hora seguindo as etapas dos lúpulos.Fermentação:- Primária: 8 dias- Secundária: 19 diasEngarrafado com 10gr/litro de açúcar mascavo para primming.