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ATIVIDADE EM EQUIPE HOMEM, CULTURA E SOCIEDADE Profa - ngela Peralva A crítica de Marx à ideologia O modo problemático como a história do Ocidente lidou com o pensamento pode mostrar suas consequências em diversos aspectos; dentre eles, o modo de compreender a organização da sociedade moderna e as suas propostas educacionais. O filósofo Karl Marx (1818-1883) foi um exemplo importante no que se refere à crítica à história do pensamento ocidental, acusando-o de se utilizar de abstrações e conceitos universalizantes para compreender a realidade humana, mas sem levar em consideração as peculiaridades históricas, concretas e materiais dos indivíduos abarcados pelo abstrato conceito de “humanidade”. No caso de Marx, tratava-se de uma crítica à ideologia, a qual poderia ser compreendida como um discurso mais ou menos destituído de validade objetiva mas que, mesmo assim, seria mantido por conta dos interesses claros ou ocultos daqueles que o utilizam. Um exemplo disso se mostra na concepção dos direitos humanos, em que se diz que todos os seres humanos são livres. Ao se pensar em sua aplicação econômica no liberalismo, por exemplo, em que todos são livres para produzir e conquistar, por meio do próprio trabalho, suas riquezas e bens, a incompatibilidade entre a realidade e o pensamento se torna patente. Seguindo a crítica de Marx, a afirmação de que todos os seres humanos são livres teria um caráter ideológico na medida em que não houvesse também as mesmas possibilidades de autorrealização dos indivíduos. Isso pode nos auxiliar a compreender algumas das motivações de diretórios estudantis pelas universidades do Brasil, que lutam pelo fim dos vestibulares, pois a proposta do vestibular seria uma evidência desse caráter de discurso ideológico, porque, ao se pressupor que a todos é dada a mesma chance para ingressar na universidade, a partir da neutralidade da aplicação de uma única e mesma prova, oculta-se a desigualdade presente nesse processo, que é a desigualdade de oportunidades educacionais que os vestibulandos tiveram para poder estar mais ou menos bem preparados para as provas do vestibular. Ou seja, trata-se das discrepâncias quanto ao acesso à educação básica, pois, se se estabelece um processo seletivo para o ingresso à universidade, naturalmente aqueles que estão mais bem preparados terão maiores chances, e este melhor preparo não depende somente do nível do esforço pessoal (como pressupõe a doutrina liberal), mas também das oportunidades de acesso a um ensino de qualidade, que, na realidade de nosso país, em que o ensino público básico apresenta tantos graves problemas, tem a ver diretamente com discrepâncias de cunho social. Ou seja, as escolas particulares (em geral) têm qualidade de ensino superior à das escolas públicas, de modo que o vestibular acaba por proporcionar vantagens àqueles economicamente favorecidos, auxiliando a perpetuar a história da universidade como espaço elitizado e sem relações mais diretas com a sociedade. Problemas do marxismo Acontece que Marx, ao pretender combater a ideologia, tinha como pressuposto que a ideologia era o discurso falso e que seu discurso de combate a ela seria o discurso verdadeiro. Além disso, pautando-se no idealismo, sustentava que a superação das contradições devia culminar num sistema político em que todos fossem econômica e politicamente iguais: o socialismo. Desse modo, por mais revolucionário que

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ATIVIDADE EM EQUIPE HOMEM, CULTURA E SOCIEDADE

Profa - Angela Peralva

A crítica de Marx à ideologia

O modo problemático como a história do Ocidente lidou com o pensamento pode mostrar suas consequências em diversos aspectos; dentre eles, o modo de compreender a organização da sociedade moderna e as suas propostas educacionais. O filósofo Karl Marx (1818-1883) foi um exemplo importante no que se refere à crítica à história do pensamento ocidental, acusando-o de se utilizar de abstrações e conceitos universalizantes para compreender a realidade humana, mas sem levar em consideração as peculiaridades históricas, concretas e materiais dos indivíduos abarcados pelo abstrato conceito de “humanidade”. No caso de Marx, tratava-se de uma crítica à ideologia, a qual poderia ser compreendida como um discurso mais ou menos destituído de validade objetiva mas que, mesmo assim, seria mantido por conta dos interesses claros ou ocultos daqueles que o utilizam. Um exemplo disso se mostra na concepção dos direitos humanos, em que se diz que todos os seres humanos são livres. Ao se pensar em sua aplicação econômica no liberalismo, por exemplo, em que todos são livres para produzir e conquistar, por meio do próprio trabalho, suas riquezas e bens, a incompatibilidade entre a realidade e o pensamento se torna patente. Seguindo a crítica de Marx, a afirmação de que todos os seres humanos são livres teria um caráter ideológico na medida em que não houvesse também as mesmas possibilidades de autorrealização dos indivíduos. Isso pode nos auxiliar a compreender algumas das motivações de diretórios estudantis pelas universidades do Brasil, que lutam pelo fim dos vestibulares, pois a proposta do vestibular seria uma evidência desse caráter de discurso ideológico, porque, ao se pressupor que a todos é dada a mesma chance para ingressar na universidade, a partir da neutralidade da aplicação de uma única e mesma prova, oculta-se a desigualdade presente nesse processo, que é a desigualdade de oportunidades educacionais que os vestibulandos tiveram para poder estar mais ou menos bem preparados para as provas do vestibular. Ou seja, trata-se das discrepâncias quanto ao acesso à educação básica, pois, se se estabelece um processo seletivo para o ingresso à universidade, naturalmente aqueles que estão mais bem preparados terão maiores chances, e este melhor preparo não depende somente do nível do esforço pessoal (como pressupõe a doutrina liberal), mas também das oportunidades de acesso a um ensino de qualidade, que, na realidade de nosso país, em que o ensino público básico apresenta tantos graves problemas, tem a ver diretamente com discrepâncias de cunho social. Ou seja, as escolas particulares (em geral) têm qualidade de ensino superior à das escolas públicas, de modo que o vestibular acaba por proporcionar vantagens àqueles economicamente favorecidos, auxiliando a perpetuar a história da universidade como espaço elitizado e sem relações mais diretas com a sociedade.

Problemas do marxismo

Acontece que Marx, ao pretender combater a ideologia, tinha como pressuposto que a ideologia era o discurso falso e que seu discurso de combate a ela seria o discurso verdadeiro. Além disso, pautando-se no idealismo, sustentava que a superação das contradições devia culminar num sistema político em que todos fossem econômica e politicamente iguais: o socialismo. Desse modo, por mais revolucionário que seja o pensamento de Marx, ele participa ainda assim de uma característica da tradição: a pressuposição de que aquilo a ser combatido é mentira e que o combatente porta a verdade. Ou seja, de que existe um discurso que é a verdade, de forma absoluta. A partir daí, o primeiro problema é que os marxistas atuais ao redor do mundo por vezes ignoram contextos específicos unicamente nos quais é possível falar propriamente de marxismo, como um sistema político dividido entre burguesia e proletariado. Essa divisão em nosso país, por exemplo, é impensável, pois, pelo fato de aqui nunca ter ocorrido uma revolução burguesa, a distribuição de renda é tão desigual que é difícil pensar numa classe burguesa com poder político, sendo este dominado no mais das vezes por grandes empresários ou latifundiários que são eleitos por meio de manipulação da massa pobre e mal educada que se torna seu eleitorado (torna-se inviável detectar conflito de classes tão facilmente determináveis e definíveis – como burguesia e proletariado).Em segundo lugar, os atuais marxistas, além de ignorar o contexto em que o discurso de Marx foi possível, mantêm-se ainda no interior de uma ideologia: a de que o mundo humano é composto de forma maniqueísta, com os bons de um lado e os maus de outro; além disso (e o que é mais problemático), acreditam que seus discursos são uma verdade contra uma mentira, não levando em consideração que todos os discursos são formulados a partir de interesses, de perspectivas conflitantes, as quais são sempre interpretações inseridas num meio específico que as possibilita.

A ideologia do marxismo

A instauração de cotas para afrodescendentes é uma questão que pode servir de exemplo nesta nossa reflexão sobre o pensamento marxista na época da discussão sobre a lei de cotas, um amigo meu, negro, discordava categoricamente das cotas, por achá-las injustas. De origem pobre, com nível de oportunidade como a de vários outros brancos ou negros, ele considerava mais correto a não existência de privilégios – ainda mais ele, tão inteligente, com facilidade de aprender e com imensa habilidade discursiva. Esse exemplo serve para problematizar um aspecto da inclusão na universidade em relação a um pressuposto marxista: o de que as condições materiais determinam o pensamento, e não o contrário – o qual seria, a seu ver, uma ideologia. Esse meu amigo teve duas determinações concretas: sua condição social e sua cor (pois o pressuposto da lei de cotas para afrodescendentes é a do vigor em geral destes dois fatores), e nem por isso seu pensamento foi determinado por elas. Ou seja, inverter as coisas não basta para combater

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a ideologia, pois assim somente se cria outra. É importante lembrar que a postura de alguém diante de uma questão não tem como fator determinante de decisão as condições concretas de sua vida, mas sim o modo como o indivíduo interpreta, valora, julga a sua condição concreta. Assim, o pressuposto marxista de que só seria necessário trazer o esclarecimento para as massas para ocorrer a revolução seria um grande erro, pois quando alguém acata a qualquer ideologia é por que, de alguma forma, esta ideologia o conforta – como por exemplo, outro indivíduo negro que, com maiores dificuldades intelectuais, ainda que com as mesmas oportunidades que o meu amigo, considerasse interessante a lei por lhe proporcionar uma vantagem; ou ainda outro que concordasse num sentido histórico e político, pensando ser justa essa reparação para a sua herança e a de seus antepassados. Tentativas várias têm sido realizadas no interesse de abrir mais as portas da universidade para a sociedade, como alfabetização de adultos na universidade, cotas étnicas e sociais, cursos de extensão à comunidade etc. Em geral há o discurso de que a universidade tem o dever de compensar danos históricos causados a determinados grupos sociais. Tudo bem, estes danos históricos são inegáveis. Mas me parece que há um equívoco quanto ao método de resolução do problema. Pode parecer a repetição de um lugar comum, mas tentar resolver a partir da própria universidade um problema tão grande tem somente efeitos paliativos, como o aumento do números de pessoas com diploma. As consequências desastrosas dessa tentativa de solução que não privilegia as bases (o ensino básico, além da melhoria geral das condições de vida da população) não estão sendo consideradas, como a geração de péssimos profissionais por conta da diminuição do rigor na avaliação tanto do ingresso quanto das avaliações de cursos universitários que prezam a justiça histórica, como se ela fosse realmente possível sem que sejam resolvidas questões que lhe são anteriores. Fala-se no caráter emergencial dessas ações, mas não estou convencido de que a pretensão de igualdade possa pretender ignorar (ainda que somente institucional ou burocraticamente) a existência de diferenças entre indivíduos, como uma maior ou menor habilidade para com determinada área de atuação.Parece-me necessário ser repensado o sentido da universidade, a sua proposta originária, qual a sua finalidade; pois cada vez mais a universidade se descaracteriza, ainda que mantenha o mesmo nome. Um dos problemas da democracia – mesmo que seja o sistema político mais viável – é a pressuposição não de que todos têm direitos iguais, mas de que todos têm habilidades iguais.

Para um maior entendimento da teoria MarxistaPor: Bianca Wild Marx tinha como principal objetivo entender o capitalismo e propunha através de sua obra uma ampla transformação política econômica e social, um aspecto particular de suas teorias é o fato de sua obra ser destinada a todos os homens e não apenas aos estudiosos de economia, política e da sociedade, em sua obra existe um alcance amplo nas suas formulações, que adquiriram uma dimensão revolucionária com ação política efetiva, as contradições na sociedade capitalista e as possibilidades da superação, enfim pode-se notar contida em toda obra de Marx a necessidade de se explicar a exploração do homem pelo homem, Marx utilizava o materialismo histórico, enxergava a sociedade através de uma base material sobre a qual todas as coisas funcionam. "Os seres humanos podem se diferenciar dos animais pela consciência, religião e qualquer outra coisa que quisermos considerar. Mas, eles somente começam a diferenciar-se dos animais tão logo comecem a produzir seus próprios meios de sobrevivência, sua comida, abrigo e roupas".Com estas palavras, Karl Marx antes de tudo destacava como sua explicação se diferenciava ao explicar como a sociedade se desenvolve. Marx Pretendia caracterizar não apenas uma visão econômica da história, mas também uma visão histórica da economia, a teoria marxista também procura explicar a evolução das relações econômicas nas sociedades humanas ao longo do processo histórico. Haveria, segundo a concepção marxista, uma permanente dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a história da humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes, como deixa bem claro a primeira frase do primeiro capítulo de “O Manifesto Comunista”:

“A história de toda sociedade passada é a história da luta de classes”.

Classes essas que, para Engels são "os produtos das relações econômicas de sua época". Assim apesar das diversidades aparentes, escravidão, servidão e capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo único. A base da sociedade é a produção econômica. Sobre esta base econômica se ergue uma superestrutura, um estado e as idéias econômicas, sociais, políticas, morais, filosóficas e artísticas. Marx queria a inversão da pirâmide social, ou seja, pondo no poder a maioria, os proletários, que seria a única força capaz de destruir a sociedade capitalista e construir uma nova sociedade, socialista.

Para Marx os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe dominante, ou seja, as idéias que eles têm do mundo e da sociedade seriam as mesmas idéias que a burguesia espalha. O capitalismo seria atingido por crises econômicas porque ele se tornou o impedimento para o desenvolvimento das forças produtivas. Seria um absurdo que a humanidade inteira se dedicasse a trabalhar e a produzir subordinada a um punhado de grandes empresários. A economia do futuro, que associaria todos os homens e povos do planeta, só poderia ser uma produção controlada por todos os homens e povos. Para Marx, quanto mais o mundo se unifica economicamente mais ele necessita de socialismo.

Os Manuscritos econômico-filosóficos ou Manuscritos de Paris apresentam a planta fundamental do pensamento de Marx: a concentração de sua filosofia na crítica da economia nacional de Adam Smith, J.B. Say e David Ricardo. Na obra, Marx expõe a contradição entre moral e economia, denunciando a radicalidade da exploração do homem pela empresa capitalista. Enquanto a reprodução do capital é o único objetivo da produção, o trabalhador ganha apenas para sustentar suas necessidades mais vitais, ou seja, para não morrer e poder continuar produzindo. materialismo dialético e declara a necessidade de "uma ação comunista efetiva" a fim de superar a propriedade privada. Se muitos dos capítulos da obra são apenas esboços, ela não deixa de oferecer um desenvolvimento quase absoluto da compreensão geral de Marx acerca das relações íntimas entre liberdade, economia e sociedade, em ensaios às vezes geniais e inclusive acabados como é o caso de "Dinheiro", o último capítulo dos

Nos Manuscritos, o autor criticou os economistas burgueses que consideravam os homens apenas enquanto produziam para o Capital. Reduziam o proletariado apenas àquele que "sem capital nem renda da terra vivia puramente do trabalho e do trabalho unilateral, abstrato, apenas como operário". Assim puderam estabelecer "o princípio pelo qual como qualquer cavalo, ele tem que ganhar o suficiente para poder trabalhar. Não considerava-o no tempo em que não trabalhava, ou seja, como homem. Assim, "os mendigos, os desempregados, os trabalhadores famintos, indigentes, criminosos, eram figuras que não existiriam para a economia política, mas apenas para os olhos dos médicos, juízes, coveiros e burocratas. As necessidades dos trabalhadores "se reduziriam as necessidades de

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mantê-lo diariamente no trabalho, de molde a não extinguir a raça dos trabalhadores". Os salários teriam "o mesmo significado, o da manutenção de qualquer outro instrumento de produção (...) é o óleo aplicado à mola para conservá-la rodando". O homem se transformava numa peça de engrenagem e a sociedade numa grande fábrica.

Marx submeteu o capitalismo a uma crítica feroz, denunciou a desumanização do homem e a sua transformação em simples mercadoria. Denunciou o processo de alienação, não apenas religiosa e política, mas fundamentalmente a alienação, a que teria por centro o próprio trabalho humano. Definiu o trabalho alienado como fundamento do homem alienado.

No capitalismo, afirmava Marx, a produção não apenas produz o homem como mercadoria humana. produz o homem como um ser mental e fisicamente desumanizado. Imoralidade, aborto, escravidão do trabalho, a partir do momento em que a humanidade se compõe principalmente de trabalhadores, dos quais deserdados são os proletários, o humanismo real que se preocupa com os interesses de cada homem é aquele que defende os interesses proletários.

Na sociedade capitalista os operários eram as maiores vítimas da guerra sem quartel da concorrência pelos mercados, pois as alianças entre os capitalistas, fundiários, empresários eram bem quistas e conseguiam êxito, já as entre os proletários condenadas , reprimidas e dificilmente vingavam. O operário, segundo ele, não ganhava necessariamente quando o capitalista ganhava, mas perdia necessariamente quando ele perdia. "Se a riqueza da sociedade declina, afirmou, é o operário quem mais sofre; mas se a riqueza progride, é a situação mais favoravelmente para os operários, mas significa para eles também um trabalho extenuante, que abreviará sua existência".

A economia política burguesa era, por sua vez, extremamente moralista, pelo menos quanto a classe operária. Segundo o jovem Marx, sua tese principal era a renúncia à vida e às necessidades humanas. Quanto menos se comer, beber, comprar livros, ir ao teatro ou bares, ou botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir etc. tanto mais se poderia economizar. Tudo o que o economista tirava sob a forma de vida e humanidade devolvia sob forma de dinheiro. O trabalho deve ser apenas o que lhe é necessário para desejar viver, e deve desejar viver para ter isso.

Em contraposição a moralidade burguesa começava a surgir uma nova moralidade: quando artesãos comunistas formam associações, o ensino e a propaganda são seus primeiros objetivos. Mas sua própria associação uma necessidade nova, a necessidade da sociedade, o que ser um meio tornar-se um fim. Fumar, comer e beber não são mais meios de congregar pessoas. A sociedade, a associação, o divertimento tendo também como alvo a sociedade, é suficiente para eles, a fraternidade do homem não é a frase vazia, mas uma realidade e a pobreza do homem resplandece sobre nós vindo de seus corpos fatigados.

Já no seu 1º manuscrito Marx passou a estender o seu conceito de alienação do campo da política para o campo da economia; particularmente estudando a alienação do trabalho. No capitalismo o trabalho era exterior ao operário, não pertencia à sua essência. No seu trabalho o operário não se afirmava, mas se negava. Não se sentia bem, mas infeliz. Não desenvolvia nenhuma energia física e espiritual, mas mortifica o corpo e arruinava o espírito. Portanto, o operário só se sentia consigo mesmo fora do trabalho, pois no trabalho, pelo contrário, sentia-se fora de si.

O trabalho era forçado, imposto de fora. Não era a satisfação de uma necessidade do trabalhador. O trabalho não se tornou uma necessidade, mas apenas um meio de receber um salário, um simples meio de atender outra necessidade. Todo trabalho operário voltava-se contra ele, como uma força estranha e hostil. O operário ao produzir mercadorias, produzia a sua própria alienação.

Segundo Marx: O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riquezas e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens, quanto mais o trabalhador se desgaste no trabalho tanto mais poderoso se torna o mundo dos objetos por ele criado em face dele mesmo, tanto mais simples se torna a vida interior, e tanto menos ele se pertence a si próprio, o trabalhador pôs a sua vida no objeto, e sua vida, então, não mais lhe pertence, porém ao objeto. Concluiu que se o produto do trabalho não pertencia ao operário, isso só era possível porque pertencia a outrem, o capitalista.

Marx descobriu assim um dos fundamentos da alienação humana no capitalismo: a apropriação do produto do trabalho pelo não-operário (proprietário dos meios de produção) o que acarretaria uma dominação real daquele que produz por aquele que não produz. A alienação do produto do trabalho exprimia-se na hostilidade entre o operário e o não-operário.Em geral, escreveu, a proporção de que o homem está alienado do seu ser genérico, significa que um homem está alienado de outro assim como cada um deles está alienado da essência humana.

Por isso, Marx criticou as correntes socialistas, que buscavam eliminar a condição do proletário, através de um aumento de salários, se escondendo sob a palavra de ordem “salários justos". Escreveu: Uma elevação do salário pela força nada seria do que um melhor assalariado dos escravos e não conquista para o operário, nem para o trabalho, o seu destino humano". O salário seria conseqüência do trabalho alienado e aquele que se erguia contra a propriedade privada devia reclamar a anulação do trabalho alienado, e, portanto, do salariato, como a situação na qual o trabalho não era um fim em si, mas um servidor do salário.

Marx já neste período tinha clareza da unidade dialética que se forjava entre o homem e sociedade. Nele não vemos nada que se assemelhasse ao determinismo econômico, que alguns teimam em lhe embutir. A sociedade e as condições históricas produziam os homens concretos, mas ao mesmo tempo estes não eram meros produtos, sem vontade, e sim agentes ativos que com sua ação consciente poderiam mudar as condições que lhes deram origem(consciência de classe). Afirmava ele: "da mesma forma que a sociedade produz o homem, também ela era produzida por ele". Continuou, "embora o homem seja um indivíduo único ele é igualmente o todo, o todo ideal, a existência subjetiva de sociedade como é pensada e vivenciada. Ele existe como a soma das manifestações humanas da vida".

O homem, portanto, não pode ser entendido como um “Robson Cruzóe”, do pensamento liberal. Ele só pode ser entendido como parte integrante do mundo dos homens, a sociedade. Cada indivíduo era portador do conjunto dessas relações (homem/homem,homem/natureza). O Homem (individual/real) só pode ser entendido na coletividade dos homens. Mas, em Marx, dos Manuscritos essas idéias estavam em transição e tenderiam a desaparecer na obras seguintes, em especial na Ideologia Alemã de 1845.

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Todo o mundo para o homem, inclusive os seus sentidos, eram frutos da ação dos próprios homens - do trabalho humano - e "mesmo as formas de relação do homem com o mundo, ver ouvir, cheirar, saborear amar, ou seja, tudo o que é possível captar e transmitir através dos órgãos de nossa individualidade são produtos de anos de trabalho social humano". A propriedade privada, segundo Marx, "tornou-nos estúpidos e parciais a ponto de um objeto só ser considerado nosso quando é diretamente comido, bebido, vestido, habitado, etc, em resumo quando utilizado de alguma forma todos os sentidos físicos e intelectuais foram substituídos pela simples alienação de todos eles, pelo sentido do ter".

A sociedade capitalista tem no dinheiro uma forma particular de alienação da essência humana em geral, que inverte o sentido da realidade, a propriedade do dinheiro passa a ser também de quem o possui, "sou feio, mas posso comprar a mais bela mulher, conseqüentemente não sou feio sou estúpido, mas o dinheiro é o verdadeiro cérebro de todas as coisas, como poderá este seu possuidor ser estúpido?". O dinheiro, para Marx, "converte o amor em ódio servo em senhor estupidez em inteligência aonde que pode comprar a bravura é bravo, malgrado seja covarde".

Contrapondo ao mundo do dinheiro, Marx pregava uma nova sociedade em que "o homem fosse homem e que a relação com o mundo fosse humana, aonde o amor só pudesse ser trocado por amor se desejar apreender a arte, será preciso apenas ser uma pessoa autenticamente educada". Mas para realizar tal mundo é preciso, antes de mais nada, abolir a propriedade privada,esquecer o ganho de capital, as rendas da terra,eliminá-los definitivamente de nossas concepções. Este seria o primeiro passo para a apropriação da verdade humana a substituição positiva de toda a alienação, o retorno do homem da religião, do Estado, para a vida realmente social.

O comunismo seria para Marx, a abolição da propriedade privada e o fim da alienação humana. Ele seria a "verdadeira apropriação da natureza humana através do e para o homem. O retorno do homem a si mesmo como ser social. O comunismo como naturalismo plenamente desenvolvido é humanismo é a resolução do antagonismo do homem e a natureza, do homem e seu semelhante. É a verdadeira solução do conflito entre a existência e essência entre o individuo e a espécie".

Questões

1- Terminou por volta de 19h30 desta segunda-feira (10) o protesto, no Centro do Rio, contra o aumento da passagem de ônibus para R$ 2,95, ocorrido no dia 1º. Pelo menos 34 pessoas acabaram detidas. Somente uma delas foi levada para a 4ª DP (Praça da República), enquanto as demais foram encaminhados a 5ª DP (Mem de Sá). A manifestação, que começou pacífica, terminou em confronto com a Polícia Militar, que usou bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar a multidão. (Publicado no G1 em 10 de junho de 2013). O aumento do valor das passagens dos ônibus foi concedido pela Prefeitura do Rio de Janeiro no final do mês de maio, atendendo aos apelos dos empresários e contrariando os interesses de grande parte dos usuários deste tipo de transporte, que alegam não terem seus salários reajustados de modo equivalente. De que modo este episódio pode ser analisado, a partir da concepção marxista da história?

Questão discursiva: Para Marx este seria um claro exemplo de manipulação do poder estatal, pelos donos das empresas de ônibus do Rio de Janeiro. O episódio ilustraria a tese de Marx de que o Estado se apresenta como representante dos interesses das classes dominantes, na sociedade capitalista.

2- Escrito em 1880, o livro de Friederich Engels, Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, buscou discutir os limites do chamado Socialismo Utópico. Os filósofos do Socialismo Utópico acreditavam que a partir da compreensão e da boa vontade da burguesia se poderia transformar a sociedade capitalista eliminando o individualismo, a competição, a propriedade individual e os lucros excessivos, todos responsáveis pela miséria dos trabalhadores. Como alternativa àquela corrente, Engels e Marx propunham o Socialismo Científico.

Com base nessa informação:a) caracterize a alternativa proposta por Engels e Marx – o Socialismo Científico – em relação ao papel dos trabalhadores na transformação da sociedade.

3- “Não se pode negar que a economia capitalista mutaciona-se celeremente e que esta mutação produz e acelera o conhecimento. Não se pode deixar de falar, também, que o controle da produção e a concentração de renda nas mãos de uma pequena minoria são fatores a serem discutidos e superados. Vale reafirmar que a pobreza é fruto de uma realidade produzida, não natural. Isso é inquestionável porque se todos passassem fome não existiria pobreza. A pobreza é fruto da própria desigualdade social”. A partir da leitura do fragmento acima, explique a importância da teoria marxista para a análise da sociedade atual vislumbrando os seguintes aspectos:

a) dialética e as contradições do capitalismo;b) ideologia;c) mercadoria (utilize o conceito de feitichismo);

4- No final de 2000 o jornalista Scott Miller publicou um artigo no The Street  reproduzida no Estado de S. Paulo(13 dez. 2000), com o titulo "Regalia para empregados compromete os lucros da Volks na Alemanha". No artigo ele afirma:"A Volkswagen vende cinco vezes mais automóveis do que a BMW, mas vale menos no mercado do que a rival. Para saber por que, é preciso pegar um operário típico da montadora alemã. Klaus Seifert é um veterano da  case. Cabelo grisalho, Seifert é um planejador eletrônico de currículo impecável. Sua filha trabalha na montadora e. nas horas vagas, o pai dá aulas de segurança no trânsito em escolas vizinhas. Mas Seifert tem, ainda, uma bela estabilidade no emprego. Ganha mais de 100 mil marcos por ano (51.125 euros), embora trabalhe apenas 7 horas e meia por dia, quatro dias por semana. 'Sei que falam que somos caros e inflexíveis protesta o alemão durante o almoço no refeitório da sede da Volkswagen AG. 'Mas o que ninguém entende é que produzimos veículos muito bons?” 

A relação entre lucro capitalista e remuneração da força de trabalho pode ser abordada a partir do conceito de mais-valia .a) explique o que é mais-valia.b) Com o intuito de ampliar a taxa de extração de mais valia absoluta, qual seria a medida imediata mais adequada a ser tomada por uma empresa de automóveis?