Era uma vez... Histórias para você

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XÜt âÅt äxéAAA XÜt âÅt äxéAAA XÜt âÅt äxéAAA XÜt âÅt äxéAAA Histórias reunidas por Carmélia Cândida Março/2010

Transcript of Era uma vez... Histórias para você

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Histórias reunidas por Carmélia Cândida

Março/2010

TÑÜxáxÇàt†ûÉTÑÜxáxÇàt†ûÉTÑÜxáxÇàt†ûÉTÑÜxáxÇàt†ûÉ

E sta coleção traz contos que venho coletando ao longo de anos de trabalho com o contadora de histórias. E u a preparei pensando em reunir e organizar esses contos num único volum e e tam bém pensando em oferecê-la com o presente a outros contadores de histórias.

A qui tem histórias que chegaram a m im enviadas por outros contadores, há histórias que garim pei na internet, outras que d igitei e há algum as que são reescritas m inhas. Coloquei a fonte sem pre que possível; só não o fiz nos casos em que não m e lem bro delas.

A coleção está dividida em duas partes. A prim eira traz contos m ais infantis; a segunda, m ais voltados para adolescentes e adultos. M inha intenção ao fazer isso não foi classificar rigidam ente as histórias, apenas organizá-las, um a vez que classificar histórias por idade é relativo, pois isso depende m uito da relação e do grau de intim idade que o contador tem com os ouvintes.

A gradeço aos am igos gentes das m aravilhas G lauter P icolé (A ngra dos R eis) e A ndrea Cozzi (B elém do P ará), com panheiros de m uitas partilhas e trocas há uns bons anos. A gradeço a W ilson B arbosa (SP ), que tam bém já trocou m uitas “figurinhas com igo”, e a outros contadores que se fazem presente nesta coleção por m eio de histórias que m e enviaram , L ucy (SP ) e M aria C lara Cavalcanti (G rupo Confabulando, R J).

E spero que gostem ! B oa leitura e ótim as contações! U m superabraço cheio de histórias para contar!

H istórias falam direto ao coração. Q uando elas chegam , entram e vão se acom odando… E o coração se exalta, se exulta, se acalenta. F ica cheio de satisfação e enternecim ento.

(Carm élia Cândida)

Carm élia Cândida é de Pará de M inas – M G . É contadora de h istórias e tem um baú onde coloca seus guardados na internet: carm eliacandida.blog.terra.com .br

Índice PARTE I Macaquinho ........................................................................................ 6 Pituchinha ................................................................................... 8 A formiguinha e a neve .................................................................. 11 Os sete cabritinhos ...................................................................... 15 Dona Baratinha .......................................................................... 18 O coqueiro encantado ................................................................... 21 A onça e o bode ........................................................................... 24 Almofadinha de ouro .................................................................... 27 O mágico e o camundongo ............................................................. 30 O pescador, o anel e sua mulher ..................................................... 31 PARTE II Dois cães ..................................................................................... 34 A serpente e o vaga-lume .............................................................. 35 Menino Azul ................................................................................ 36 Fábula da Convivência ................................................................. 37 Não esqueça o principal ................................................................ 38 A lenda do pássaro Cabeça de Vento ................................................ 39 A menina e o pássaro encantado .................................................... 40 Lenda do urutau .......................................................................... 41 A mulher esqueleto ...................................................................... 44 As três laranjas mágicas ............................................................... 46 A mentira e a verdade .................................................................. 48 O homem sem sorte ...................................................................... 51 A ratoeira .................................................................................... 55 A história do gato ........................................................................ 57 Quem te matou? .......................................................................... 60 Os macacos ................................................................................. 63 A lenda do girassol ....................................................................... 65 A visita da comadre morte ............................................................ 66 Os bigodes do leão ....................................................................... 69 A noiva teimosa ........................................................................... 71 A serpente de ouro ....................................................................... 74 Uma ideia toda azul ..................................................................... 76 A pequenina luz azul .................................................................... 78 A lenda dos sapatos vermelhos ...................................................... 82 Deus nunca era .............................................................................. Se é bom ou ruim, só o tempo dirá ...................................................

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PARTE I

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Macaquinho

Todas as noites o macaquinho passava pra cama do pai e ficava mexendo, e pulando, e dando chute, e não deixava o pai dormir. Canto: Macaquinho, sai daí (bis) Você tem sua cama pra se deitar Papai quer dormir Porque você não volta pra lá? Macaquinho - Por que eu tô com frio. O pai macaco cobriu o macaquinho com lençol, mas depois de um tempo lá estava o macaquinho de novo na cama do pai, Canto: Macaquinho, sai daí (bis) Você tem sua cama pra se deitar Papai quer dormir Por que você não volta pra lá? Macaquinho - Por que eu tô com fome.

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O pai macaco deu mamadeira pro macaquinho, mas não adiantou. Depois de um tempo, já tava de novo na cama do pai. Canto: Macaquinho, sai daí (bis) Você tem sua cama pra se deitar Papai quer dormir Por que você não volta pra lá? Macaquinho - Tô com vontade de fazer xixi. Cada dia o macaquinho dava uma desculpa: medo, cama apertada... até que um dia ele falou a verdade. Macaquinho - Eu quero ficar na sua cama porque fico com saudades de você. Aí o pai macaco entendeu. E começou a brincar com o macaquinho todas as vezes que chegava do trabalho, ao invés de só ver televisão. O macaquinho ficou todo feliz e nunca mais passou pra cama do pai. E nunca mais o pai macaco precisou cantar: Canto: Macaquinho, sai daí (bis) Você tem sua cama pra se deitar Papai quer dormir Por que você não volta pra lá? Ronaldo Simões Coelho. Macaquinho. Belo Horizonte, Lê, 1985

Adaptação: Nick Zarvos e Bia Bedran Esta e outras histórias podem ser lidas no blog do grupo Cirandeiros do Conto. Visite: cirandeiras.blogspot.com

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PituchinhaPituchinhaPituchinhaPituchinha

Numa loja de brinquedos, moravam muitas bonecas e bonecos bem juntinhos nas prateleiras. Durante o dia, a loja ficava cheia de gente: mães, tias, avós e amigos procurando presentes para dar às crianças.

Quando a noite chegava, as luzes se apagavam, as portas se fechavam para só abrir novamente na manhã seguinte.

Todos os brinquedos deviam ficar bem quietinhos para não fazer bagunça na loja.

O problema é que nem todos conseguiam...

- Olá! Eu sou a Pituchinha, uma boneca muito levadinha, que vive se metendo em confusão. Hoje queria ficar bem quietinha na noite, mas vi quando chegou aquele maravilhoso doce de leite, que foi guardado lá na cozinha... Mmmm, que fome! O que fazer?

Olhei para um lado e para outro da prateleira onde estava, e logo achei meus melhores amigos: Pompom e Polichinelo.

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- Vamos dar um passeio na cozinha para comer só um pouquinho de doce de leite?

- Eu quero, disse Pompom.

- Eu também, disse Polichinelo. Mas como vamos enganar o guarda?

É verdade: os brinquedos eram proibidos de sair da estante, e durante toda a noite o guarda tomava conta da loja. A tudo ele vigiava e, quando dormia, era com um olho aberto e o outro fechado. Depois trocava: um olho aberto e o outro fechado... Não parava nunca, nem deixava de ver nadinha!

- Já sei! Vamos bem de mansinho, andando só quando ele fechar um dos olhos, depois paramos todos juntos.

E assim foram bem devagarinho: pé cá, pé lá... pé cá, pé lá ... pé cá, pé lá ...

E chegaram à cozinha escura. O guarda não viu nada.

Todos procuraram pelo pote de doce de leite, mas acabaram descobrindo que ele foi guardado lá no alto, dentro do armário.

Pompom esticou bem seus bracinhos, mas suas mãos não alcançavam a porta de cima do armário da cozinha.

Polichinelo também tentou, se esticando todo, mas não conseguiu chegar perto.

A Pituchinha então disse:

- Cada um de nós sozinho nunca vai provar aquele delicioso doce de leite que está lá em cima. Meu plano é subirmos uns nos ombros dos outros para alcançá-lo, e então...

Todos gostaram da idéia, e foram logo fazendo. Primeiro foi Polichinelo, que era o mais forte. Depois Pompom subiu em seus ombros, e por último subiu a Pituchinha, que esticou bem os bracinhos e abriu a porta de cima do armário. O pote de doce de leite estava lá no fundo, e sua mãozinha estava quase conseguindo agarrá-lo. Deu mais uma esticadinha, tentou uma puxadinha e então...

O pote de doce de leite escorregou, voou na parede e ...

Bum!

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Espalhou doce para todo lado. E o pior, com o barulhão, na certa o guarda iria pegá-los...

E pegou. Ficou muito zangado com aquela bagunça toda, que ele não queria limpar.

Foi então que teve uma idéia: guardou cada bonequinho em sua caixinha, bem preso por uma fita, para só se soltar na casa da criança que ganhar aquele brinquedo.

Desse dia em diante, as lojas de brinquedo passaram a guardar seus bonecos bem fechadinhos em caixinhas - para que não façam bagunça na loja de noite. Já reparou como eles vêm bem embaladinhos?

Fonte: http://www.feijo.com/~flavia/pituchinha.html

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A Formiguinha e a NeveA Formiguinha e a NeveA Formiguinha e a NeveA Formiguinha e a Neve

Certa manhã de inverno, uma formiguinha saiu para o seu trabalho diário.

Já ia muito longe a procura de alimento, quando um floco de neve caiu e

prendeu o seu pezinho.

Aflita, vendo que não podia se livrar da neve, iria assim morrer de fome e

frio, voltou-se para o sol e disse:

- Ó sol, tu que és tão forte, derrete a neve que

prende o meu pezinho!

E o sol indiferente nas alturas, falou:

- Mais forte do que eu, é o muro que me

tapa.

Olhando, então para o muro, a

formiguinha pediu:

- Ó muro, tu que és tão forte, que tapas o

Sol que derrete a neve, desprende meu pezinho.

E o muro que nada vê e muito pouco fala, respondeu apenas:

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- Mais forte do que eu, é o rato que me rói!

Voltando-se então, para um ratinho que

passava apressado, a formiguinha suplicou:

- Ó rato, tu que és tão forte, que róis o muro que tapa o sol que derrete a

neve, desprende meu pezinho.

Mas o rato, que também ia fugindo do frio, gritou de

longe:

- Mais forte do que eu, é o gato que me come!

Já cansada, a formiguinha pediu ao gato:

- Ó gato, tu que és tão forte, que comes o rato, que rói o muro, que tapa o

sol, que derrete a neve, desprende o meu pezinho.

E o gato sempre preguiçoso, disse bocejando:

- Mais forte do que eu, é o cão que me

persegue! Aflita e chorosa, a pobre

formiguinha pediu ao cão:

- Ó cão, tu que és tão forte, que persegues

o gato, que come o rato, que rói o muro,

que tapa o sol, que derrete a neve,

desprende meu pezinho.

E o cão, que ia correndo atrás de uma raposa, respondeu sem parar:

- Mais forte do que eu, é o homem que me bate!

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Já quase sem forças, sentindo o coração

gelado de frio, a formiguinha implorou ao

homem:

- Ó homem, tu que és tão forte, que bates no

cão, que persegue o gato, que come o rato,

que rói o muro, que tapa o sol, que derrete a

neve, desprende o meu pezinho.

E o homem, sempre preocupado com o seu trabalho, respondeu apenas:

- Mais forte do que eu, é a morte que me mata.

Trêmula de medo, olhando para a morte que se aproximava, a pobre

formiguinha, suplicou:

- Ó morte, tu que és tão forte, que matas o

homem, que bate no cão, que persegue o

gato, que come o rato, que rói o muro, que

tapa o sol, que derrete a neve, desprende

meu pezinho.

E a morte, impassível, respondeu:

- Mais forte do que eu, é Deus que me governa!

Quase morrendo, então a formiguinha rezou baixinho:

- Meu Deus, tu que és tão forte, que governas a morte, que mata o

homem, que bate no cão, que persegue o gato, que come o rato, que rói o

muro, que tapa o sol, que derrete a neve, desprende meu pezinho.

E Deus então, que ouve todas as preces, sorriu,

estendeu a mão, por cima das montanhas e

ordenou que viesse a primavera

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No mesmo instante, no seu carro de veludo e ouro, a primavera desceu por

sobre a Terra. Enchendo de flores os campos, enchendo de luz os

caminhos.

E vendo a formiguinha quase morta, gelada

pelo frio, tomou-a carinhosamente entre as

mãos e levou-a para seu reino encantado.

Onde não há inverno, onde o sol brilha

sempre, e onde os campos estão sempre

cobertos de flores!

Fonte: http://voteldobrasil.blogspot.com/2009_04_01_archive.html

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Os sete cabritinhosOs sete cabritinhosOs sete cabritinhosOs sete cabritinhos

XXXXra uma vez uma cabra, que morava com seus sete cabritinhos em

uma linda casinha com quintal e jardim. Naquela manhã, estavam todos assistindo televisão antes de mamãe sair para o mercado, fazer compras. A notícia de última hora dizia:

- Cuidado: há um lobo mau solto por aí. Foi visto pela última vez fugindo para perto do rio. Todos estamos trabalhando para caçá-lo, mas até agora ele continua solto. As crianças devem ficar em casa até que ele esteja bem preso.

- Ah! Logo hoje que íamos começar nosso clube novinho lá fora! Mamãe cabra não quis saber: falou sério com seus sete cabritinhos, e todos entenderam muito bem.

- Ninguém sai de casa hoje enquanto vou ao mercado. A porta fica fechada com a chave. Não abram para ninguém. Vocês conhecem a mamãe: quando voltar, chamarei pela janela com minha voz de sempre, e baterei de levinho no vidro com minha pata clarinha e de unhas curtas. Aprendam que o lobo mau tem um vozeirão terrível e uma pata escura enorme cheia de unhas gigantes. Muito cuidado!

- Está bem, então. Pode confiar em nós. Vamos ficar bem atentos. E lá se foi a cabra para as compras ...

Encontrou sua amiga no caminho, e foi logo comentando como estava preocupada em sair para o mercado com aquele lobo mau solto por aí... O que elas não sabiam, é que o lobo mau disfarçado estava ali bem pertinho escutando tudo, e pensando: "Sete cabritinhos sozinhos em casa, e eu com tanta fome!"

Correu para a casa, jogando fora seu disfarce, tentou abrir a porta, e viu que estava trancada.

- Abram a porta! Está trancada! - Não vamos abrir nada, seu lobo bobo. A voz da mamãe é suave e macia, só

vamos abrir para ela! Então o lobo ficou furioso. Tinha que ter alguma idéia. Aqueles cabritinhos

só iam abrir para a mãe, mas como enganá-los? Ahá! O lobo correu até a

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confeitaria, escolheu a melhor torta de maçã e mel, que engoliu inteirinha, querendo adoçar a voz. Treinou falar cantadinho como as mães dos outros.

-Abram a porta! É a mamãe! Aquela não parecia mais a voz do lobo, e os cabritinhos ficaram em dúvida

se a mãe tinha ficado com esta voz diferente. Lembrando dos conselhos recebidos, eles disseram:

- Se é a mamãe, mostre sua patinha na janela. E o lobo, pego de surpresa, mostrou mesmo. - Vá embora seu lobo mau! As patinhas da mamãe são bem clarinhas! E sem

garras! Então o lobo teve outra idéia: correu até o moinho e afundou as patas na

farinha branquinha, para enganar os tolos. Bateu de volta na porta, ainda adoçando a voz, e novamente foi parar com a pata na janela: desta vez ele encolheu bem as unhas:

Os cabritinhos ficaram em dúvida, olharam uns para os outros, e resolveram abrir a porta. Para que?

Foi uma correria danada, todos tentando se esconder. Tinha cabritinho

escondido na ,também tinha na , na lareira, nos armários, em baixo da mesa, em toda parte. O lobo foi caçando um por um, engolindo por inteiro cada cabritinho de tanta fome que estava. Perdeu a conta de quantos cabritinhos já tinham entrado naquele barrigão cheio, e foi embora, pensando não ter deixado sobrar nenhum.

Estava enganado: apenas o cabritinho pretinho não foi encontrado em seu esconderijo:

O tic-tac tic-tac atrapalhou o ouvido do lobo, que não ouviu o coraçãozinho

assustado que estava escondido lá dentro. Quando mamãe cabra viu a porta aberta, já entrou esperando pelo pior. -O lobo levou todos os meus filhinhos! - Todos, não mamãe. Eu ainda estou aqui! Os dois se abraçaram muito, e decidiram ir atrás do lobo, para ver se

ainda podiam salvar os irmãozinhos. Correram em direção ao rio, onde souberam pela TV que era o esconderijo dele. Ao chegarem perto, logo ouviram um som terrível: ROM... URM... ROM... Era o lobo roncando, dormindo sob as árvores na beira do rio.

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Mamãe cabra teve uma idéia, e disse ao filho: - Não faça nenhum barulho para não acordar o lobo. Corra com toda sua

velocidade até lá em casa, e traga a cesta de costura da mamãe: veja que tenha tesoura, agulha e linhas.

O cabritinho nem respondeu: saiu correndo como o vento, e logo estava de volta com sua encomenda.

Mamãe cabra não perdeu tempo: com sua foi abrindo o barrigão do lobo enquanto ele estava dormindo. Logo foram saltando vivinhos, um por um, os seis cabritinhos que ele tinha engolido. A todos mamãe pedia silêncio. Quando todos saíram, ela disse em segredo:

- Vão procurar as pedras maiores e mais pesadas que encontrarem, mas não façam barulho, nem demorem.

Logo chegavam pedras em quantidade suficiente: mamãe colocou todas na barriga do lobo, e costurou rápido com agulha e linha. Então foram todos se esconder.

Quando o lobo acordou, sentiu a barriga muito pesada e a boca muito seca. Levantou-se com muito esforço, e quase não conseguiu ficar de pé ("foram seis ou sete cabritinhos?"). E foi se arrastando até o rio querendo beber água. A correnteza estava forte, e o lobo com a barriga cheia de pedras acabou indo parar no fundo do rio, de onde nunca mais saiu.

E todos puderam comemorar o fim do malvado, e a sorte de todos os pequenos, que agora corriam livres pelo caminho para casa, para um novo dia.

Fonte: http://www.feijo.com/~flavia/7cabritinhos.html

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Dona BaratinhaDona BaratinhaDona BaratinhaDona Baratinha

Era uma vez uma baratinha que varria o salão quando, de repente, encontrou

uma moedinha:

- Oba! Agora fiquei rica, e já posso me casar!

Este era o maior sonho da Dona Baratinha, que queria muito fazer tudo

como tinha visto no cinema. Então, colocou uma fita no cabelo, guardou o dinheiro

na caixinha, e foi para a janela cantar:

- Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro

na caixinha?

Um ratinho muito interesseiro estava passando por ali, e ficou imaginando o

grande tesouro que a baratinha devia ter encontrado para cantar assim tão feliz.

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Tentou muito chamar sua atenção e dizer: "Eu quero! Eu quero!" Mas ele era muito

pequeno e tinha a voz muito fraquinha e, enquanto cantava, Dona Baratinha nem

ouviu.

Então chegou o cão... com seu latido forte, foi logo dizendo: - Eu quero! Au!

Au!

Mas, Dona Baratinha se assustou muito com o barulhão dele, e disse:

- Não, não, não, não quero você não, você faz muito barulhão!

E o cachorrão foi embora.

O ratinho pensou: agora é minha vez! Mas...

- Eu quero, disse o elefante.

Dona Baratinha, com medo que aquele animal fizesse muito barulho, pediu

que ele mostrasse como fazia. E ele mostrou o barulho que fazia.

- Não, não, não, não quero você não, você faz muito barulhão!

E o elefante foi embora.

O ratinho pensou novamente: "Agora é a minha vez!", mas...

Outro animal já ia dizendo bem alto: "Eu quero! Eu quero!"

E Dona Baratinha perguntou:

- Como é o seu barulho?

- GRRR!

- Não, não, não, não quero você não, você faz muito barulhão!

E vieram então vários outros animais: o rinoceronte, o leão, o papagaio, a

onça, o tigre ... A todos Dona Baratinha disse não: ela tinha muito medo de barulho

forte.

E continuou a cantar na janela:

- Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro

na caixinha?

Também veio o urso, o cavalo, o galo, o touro, o bode, o lobo, ... nem sei

quantos mais. A todos Dona Baratinha disse não. Já estava quase desistindo de

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encontrar aquele com quem iria se casar. Foi então que percebeu alguém pulando,

exausto de tanto gritar: "Eu quero! Eu quero!"

- Ah! Achei alguém de quem eu não tenho medo! E é tão bonitinho! - disse a

Dona Baratinha. Enfim, podemos nos casar!

Então, preparou a festa de casamento mais bonita, com novas roupas,

enfeites e, principalmente, comidas. Essa era a parte que o Ratinho mais esperava:

a comida. O cheiro maravilhoso do feijão que cozinhava na panela deixava o Ratinho

quase louco de fome. Ele esperava, esperava, e nada de chegar a hora de comer. Já

estava ficando verde de fome!

Quando o cozinheiro saiu um pouquinho de dentro da cozinha, o Ratinho não

aguentou:

- Vou dar só uma provadinha na beirada da panela, pegar só um pedacinho de

carne do feijão, e ninguém vai notar nada...

Que bobo! A panela de feijão quente era muito perigosa, e o Ratinho guloso

não devia ter subido lá: caiu dentro da panela de feijão, e nunca mais voltou.

Dona Baratinha ficou muito triste que seu casamento tenha acabado assim.

No dia seguinte, decidiu voltar à janela novamente e recomeçar a cantar,

mas... Desta vez iria prestar mais atenção em tudo o que era importante para ela,

além do barulhão, é claro!

- Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro

na caixinha?

Recolhida na internet

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b VÉÖâx|ÜÉ XÇvtÇàtwÉb VÉÖâx|ÜÉ XÇvtÇàtwÉb VÉÖâx|ÜÉ XÇvtÇàtwÉb VÉÖâx|ÜÉ XÇvtÇàtwÉ

`̀̀̀uito longe daqui, numa pequena povoação, vivia antigamente um pobre

padeiro. Esse padeiro tinha um filho. Roberto era o seu nome , mas todos o conheciam por Betinho. Direi que Betinho era um menino esperto, obediente e trabalhador.

Um dia, Betinho, depois de fazer sua tarefa (arrumar a casa e varrer o quintal), foi dar um passeio por uma grande mata que havia perto de sua casa. Ora, junto da estrada, havia um velho coqueiro. Notou Betinho que o coqueiro estava cheio de formigas.

-Que pena -pensou Betinho - essas formigas são bem capazes de matar esse coqueiro.

E, apanhando dois galhos secos, começou a bater nas formigas e tanto bateu, tanto bateu, que elas fugiram. Quando Betinho havia acabado de salvar o coqueiro, livrando-o das formigas, ouviu vozes no meio da mata.

- Que seria?

Betinho era curioso e resolveu espiar. Foi bem devagarinho, pé ante pé, escondeu-se atrás de uma árvore e espiou. Era de assustar o mais valente. Debaixo de uma grande figueira avistou Betinho uma mulher, muito velha, vestida de preto com uma vassoura na mão. Compreendeu Betinho que a velha do vestido preto era uma feiticeira. E diante dela estavam três bichos: um macaco, um porco e um tatu.

A feiticeira falava:

Lá, lá, lá, Vamos começar. Lá, lá, lá, Vamos começar!

E, nisso, o macaco apontou para o lugar em que se achava o Betinho:

- Rum! Rum! Rum!

A feiticeira voltou-se e avistou o vulto de Betinho. E gritou, furiosa:

- Vamos agarrar aquele menino!

Ao ouvir aquelas palavras, Betinho correu para a estrada e, mais que depressa, subiu no coqueiro.

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A feiticeira chegou junto do coqueiro e gritou alto:

Desce coqueiro que eu quero pegar o filho do padeiro!

O coqueiro foi diminuindo, diminuindo, mas quando a velha de preto ia agarrar o Betinho, ele, tremendo de susto, implorou:

-Sobe coqueiro que eu te livrei do formigueiro!

O coqueiro, ao ouvir a voz do menino, cresceu, cresceu, cresceu e levou o menino lá para cima. A feiticeira gritou:

-Desce coqueiro que eu quero pegar o filho do padeiro.

O coqueiro foi diminuindo, diminuindo, até ficar deste tamanhinho. Mas quando a feiticeira ia agarrar o Betinho, este, assustado gritou:

-Sobe coqueiro Que eu te livrei do formigueiro!

O coqueiro, ao ouvir a voz do seu amigo, cresceu, cresceu, cresceu, ficou tão alto, que o menino, lá em cima, parecia pequenininho.

Vendo a feiticeira que não conseguia agarrar o menino (pois o coqueiro descia e subia de novo) chamou o macaco de disse-lhe:

-Vem macaco Matreiro sobe no coqueiro e traz de lá de cima o filho do padeiro.

O macaco resolveu subir no coqueiro, mas quando chegou no meio do coqueiro este começou a tremer, a tremer tanto que o macaco caiu, de quatro no chão. A feiticeira, furiosa, bateu com a vassoura no macaco e o macaco fugiu para o mato. A feiticeira chamou, então, o tatu:

-Vem tatu do salseiro

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derruba este coqueiro e tira lá de cima o filho do padeiro.

O tatu começou a cavar o chão para derrubar o coqueiro. De repente uma raiz do coqueiro saiu de dentro da terra, bateu com tanta força no focinho do tatu, que o tatu rolou tonto pelo chão no meio das pedras e depois, roncando de dor, fugiu para o mato.

Então a feiticeira chamou o porco:

-Vem porco porqueiro derruba este coqueiro e tira lá de cima o filho do padeiro.

O porco quis roer o pé do coqueiro, mas o coqueiro tinha a casca tão grossa que quebrou os dentes do porco. E o porco grunhindo de dor, fugiu para o mato.

A feiticeira, vendo que não conseguia agarrar o menino, começou a atirar pedras e mais pedras. O coqueiro, porém, balançava de um lado para o outro, de modo que a feiticeira não acertava no Betinho.

Mas Betinho, com aquele balanço, estava ficando tonto e já estava cansado. Vendo que o coqueiro era seu amigo, disse baixinho:

-Coqueiro coqueirinho meu amiguinho só de brincadeira atira um coquinho na feiticeira.

Ora, o coqueiro largou, lá de cima, um côco e acertou bem no cocuruto da feiticeira. O côco fez:

- Pum!

E saltou para cima como uma bola! A feiticeira soltou um grito e fugiu para o mato e nunca mais apareceu. Aí, então, o coqueiro foi-se abaixando, abaixando, e Betinho saltou para o chão.

E desse dia em diante, tornou-se Betinho amigo não só do coqueiro como de todas as árvores, pois ele sabia bem que as árvores , boas, são úteis e protegem os meninos.

Fonte: A Arte de Ler e Contar Histórias de Malba Tahan, Editora Conquista, 1961

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T Édžt x É uÉwxT Édžt x É uÉwxT Édžt x É uÉwxT Édžt x É uÉwx

Esta é uma das histórias que o meu pai me contava quando eu era criança. Eu adorava ouvi-la, e é por isso que vou contá-la pra vocês…

A onça estava procurando um lugar pra fazer sua casa. Procurou, procurou, até que achou um terreno ajeitadinho, todo plano, perfeito para sua construção. Ela ficou muito animada e foi embora cuidar de suas obrigações, mas falou: “amanhã cedo eu venho fazer a capina e preparar o terreno pra levantar meu barraco.”

O bode também estava procurando um lugar pra fazer sua casa. Tinha trabalhado numa fazenda a vida toda e estava prestes a se aposentar. Então ele procurou, procurou, até que achou um lugar no jeito pra construir, planinho, planinho. Como já tinha terminando o serviço lá na fazenda, na mesma hora tratou de fazer a capina e deixar o terreno pronto para construção. E falou: “amanhã de tarde, quando eu acabar minha lida, venho aqui pra fazer o alicerce.” E foi embora, feliz da vida.

No outro dia cedo, a Dona Onça chega no terreno que escolheu e não acredita: “Meu Deus do céu, mas o Senhor é bom demais pra mim! Tá querendo me ajudar! Já limpou meu terreno! Agora então eu vou é fazer o alicerce!” E a onça trabalhou a manhã inteira e mais um pedacinho da tarde. Quando o alicerce estava prontinho, ela olhou, feliz da vida e falou: “Agora eu vou cuidar das minhas obrigações, mas amanhã eu volto cedo para levantar as paredes.”

Ah, a onça seguiu pra um lado, e, daí a pouco, lá vem o bode do outro. Quando o bode chega, olha o terreno e vê que o alicerce já está construído, ele fica alegre demais. “Ô, meu Deus, mas o Senhor tá me ajudando demais! Obrigado! Agora, então, eu vou é levantar as paredes.” E assim o bode fez. Trabalhou até o anoitecer, e quando ele acabou, sentiu-se todo satisfeito. E falou: “Amanhã de tarde, quando eu acabar a lida, venho depressa pra cá para fazer o telhado.”

No outro dia bem cedo, quando a onça chega, olha e vê aquelas belezuras de paredes levantadinhas, ela olha para o céu e fala: “Ô, meu Deus, obrigada, obrigada! Como o

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Senhor é bom pra mim, Sô! Agora, então, eu vou é fazer o telhado.” E a onça trabalhou lá a manhã inteirinha, e quando ela acabou, o telhado tinha ficado uma beleza. “Amanhã cedo eu volto e vou pôr as portas e as janelas.”

A onça foi embora. Ah, daí a pouco, chega o bode. Quando o bode vê que a casa está cobertinha, ele nem acredita: “Ô, meu Deus, isso é bondade demais! O Senhor tá mesmo ajudando este filho seu. Que que eu vou fazer agora? Vou colocar as portas e as janelas!” E o bode trabalhou a tarde todinha até um pedacinho da noite. Pôs as portas, as janelas e pintou toda a casa com tinta de cor bem bonita. E quando ele foi embora, deixou a casa prontinha. “Amanhã de tarde eu trago minha mudança.”

No outro dia cedinho, lá vem a onça, toda animada. Quando ela para na frente da casa e vê as portas e as janelas… vê a casa pintadinha… (Estava bonito demais da conta.!) Ah, os olhos da onça até se encheram de lágrimas. Ela ajoelhou, agradeceu a Deus. Como Deus era bom! Então tratou de fazer uma limpeza na casa e foi embora arrumar sua mudança. “No início da tarde eu estarei de volta, casinha minha!”

Quando a tarde chegou…

De um lado, lá vem o bode com sua mudança, todo feliz. E do outro lado quem vem? A onça! Toda assanhada porque iria se mudar para a casa SÓ DELA.

Mas, de repente, se encontram bem na porta da casa, a onça e o bode. Todos os dois querendo entrar.

- Espera aí, seu bode! Aonde que o senhor pensa que vai com essas tralhas? - Eu estou mudando pra minha casa, uai. Que eu construí com a ajuda Deus Nosso Senhor . - O quê? Essa casa aqui? Essa casa é minha! Eu que construí , e com a ajuda de Deus! - Ah, dona onça. Na-na-nin-na-não! Pois fui eu que limpei o terreno, levantei as paredes, pus as porta s e janelas e pintei tudinho.

- Muito bem, senhor bode! Mas fui eu quem fez o alicerce, o telhado e toda a faxina.

Ai, Deus, e agora? Os dois tinham trabalhado na casa!

A onça não arredava o pé. Falou que a casa era dela e que não ia perdê-la. O bode virou um estaca na porta da casa. Falou que tinha o mesmo direito que a onça.

E os dois conversaram, conversaram até que chegaram num acordo. Já que os dois tinham feito a casa, os dois tinham direito a ela. E combinaram de morar juntos, embora nenhum dos dois estivesse nem um pouco satisfeito com a idéia. Mas a onça falou:

- Óu, está bem. Mas eu vou te avisar uma coisa: o dia que eu olhar pra você com os olhos arregalados e raspar a pata no chão, você tome cuidado porque nesse dia eu estarei perigosa. Então você saia de perto.

Enquanto ela foi falando o bode já foi matutando o que ia dizer:

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- Está bem. Mas também vou te avisar: o dia que eu olhar pra você e minha barba tiver repuxando, tome cuidado que nesse dia estarei perigoso. Não fique por perto, não.

E os dois passaram a viver juntos, se respeitando. Mas a verdade é que nenhum queria o outro ali. E a verdade também é que morriam de medo um do outro.

E o tempo foi passando. Eles foram agüentando… Até que chegou um dia que a onça se encheu e pensou: “É hoje!” O bode? Não é que ele estava pensando a mesma coisa?

A onça, então, arregalou os olhos – encarados no bode - começou a fungar e a raspar a pata no chão. Quando o bode viu aquilo, ele levou um susto. Mas se recompôs e passou a encarar a onça, bufando e repuxando a barba.

Ficaram naquilo ali uns instantes: um pra atacar o outro. Mas todos dois morrendo de medo! E o medo foi maior que a coragem. O bode saiu em disparada para um lado, e a onça saiu para o outro. Nenhum dos dois olhou para trás.

- O quê? Viver dia e noite com aquela estranha? Morrendo de medo dela? – pensou o bode.

- O quê? Ficar com aquele esquisito o tempo todo e viver com medo? Deus Me livre! – pensou a onça.

O que aconteceu foi quem cada um fugiu pra um lado e nunca mais nenhum quis saber de voltar ali. E a casa? Ah… depois de um tempo, um senhor, que tinha perdido sua casa na enchente, se apossou dela. Levou a família, se acomodaram ali e viveram muito felizes. E a onça e o bode? Ah, devem ter construído outra casa, só que bem longe um do outro.

E boi não é vaca; feijão não é arroz. Quem quiser, que conte dois!

Conto popular contado por Carmélia Cândida

Disponível em: carmeliacandida.blog.terra.com.br

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XXXXra uma vez uma menina muito bonita e graciosa, filha única, e que teve a

infelicidade de ficar órfã da mãe. Seu pai ainda ficou e casou novamente, com uma viúva que tinha uma filha, pondo-se mocinha e muito feia e orgulhosa. A madrasta, na presença do marido, tratava a enteada bem, mas como esse vivia viajando, vingava-se, obrigando-a a trabalhos pesados, como lavar roupa, limpar a estrebaria, o galinheiro, a casa inteira, etc.. A mocinha começou a viver amargurada e sofrendo toda a espécie de privações e insultos. De tanto padecer, perdeu a paciência e achou que o remédio era fugir daquele purgatório. Antes de tomar essa decisão, a moça rezava todas as noites à Nossa Senhora, que era sua madrinha, pedindo que lhe ensinasse os caminhos do bom proceder. Nossa Senhora virou-se numa velhinha e falou com ela no caminho do rio, explicando tudo. Abençoou-a e lhe deu uma almofadinha de ouro que era encantada. Quando precisasse de alguma coisa, pedisse à almofadinha de ouro que fora dotada por Deus com poderes. Deixando a casa, a moça andou muitos dias, com fome e sede, e acabou encontrando uma ocupação num palácio vistoso, residência de um príncipe solteiro e muito agradável. A moça, para não causar suspeitas e despertar maldades, sujou o rosto e andava tão imunda que só lhe deram o serviço de tratar das galinhas e dos porcos, dormindo no fundo do quintal, num quartinho escuro e isolado do palácio. Dia vai e dia vem, anunciaram três dias de festas e toda a gente ficou influída para esse divertimento preparando as roupas novas, encomendando os arranjos e fazendo cálculos. O príncipe era um dos mais alegres e as moças da cidade desejavam que ele se engraçasse de uma delas e casasse, por ocasião das festas. Chegando o primeiro dia, o príncipe foi para o baile e os empregados do palácio fugiram para ver as luzes e a entrada das pessoas que iam dançar. A princesa-velha, mãe do príncipe, foi também. Ficando sozinha, a moça tomou banho, penteou-se e pediu à almofadinha de ouro que lhe desse um vestido cor do campo com suas flores e uma carruagemcom criados. Apareceu, incontinente, o pedido, e a moça vestiu-se e compareceu à festa,

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causando um assombro pela sua formosura e lindeza de traje. O príncipe largou todas as outras e só dançou com ela. Como lembrança do encontro, fez-lhe presente um anel. Perto da meia-noite a moça desapareceu, fugindo para casa onde trocou a roupa, o vestido e o carro sumiram. No segundo dia aconteceu a mesma coisa. A moça levou um vestido cor do mar com todos o seus peixinhos e o príncipe ficou encantado por ela, dançando, servindo-a e conversando. Deu-lhe uns brincos. Antes da meia-noite a moça não foi encontrada em parte alguma. Já estava em casa, suja e feia como habitualmente parecia aos olhos de todos. No terceiro dia, o mesmo sucedido. Desta vez o vestido era da cor do céu com todos os seus astros e a moça encandiava a vista pelo brilho das jóias. O príncipe só faltava gritar de contente. Presenteou-lhe um colar e ficou griste quando ela desapareceu, antes da meia-noite. Passados os três dias, só se falava na cidade naquele assunto da moça desconhecida, com os três vestidos mais bonitos do mundo. O príncipe procurou-a como um cego procura a luz e não a encontrou em parte alguma. Estava tão apaixonado que adoeceu de cama, trancou-se no quarto e só deixava entrar sua mãe. Todo mundo lastimava a doença do príncipe e os médicos não tinham mais remédio para aconselhar nem receita que servisse. O príncipe nem queria comer e a princesa-velha fazia as maiores promessas para que o filho se alimentasse, fosse como fosse. Um dia a moça disse à princesa-velha que queria fazer um bolo para o príncipe doente. A princesa achou graça no atrevimento, mas tanto a moça pediu e rogou que obteve o consentimento. Preparou-se, foi para a cozinha e fez um bolo dourado, colocando dentro da massa o anel que o príncipe lhe dera na primeira noite do baile. O príncipe nem queria ver a comida, mas sua mãe tanto pediu que ele cortou um pedaço do bolo e, ao levar à boca, reparou num objeto que aparecia na parte restante do prato. Puxou com o bico da faca e reconheceu o anel. Comeu todo o bolo, melhorando, e declarou que queria outro bolo feito pela mesma pessoa. A moça fez outro bolo e neste mandou o brinco, que o príncipe achou e ficou certo que a moça estava por perto. Pediu outro bolo e neste veio o colar. Então sem ter mais dúvida, disse à princesa-velha que mandasse ao seu quarto quem fizera os três bolos. A princesa obrigou a moça a mudar de roupa, perfumar-se para tirar o mau cheiro do galinheiro, e disse que se apresentasse ao seu filho. A moça subiu a escada, com a almofadinha de ouro na mão, e assim que bateu na porta, pediu que lhe aparecesse no corpo o vestido do terceiro dia da festa, dos

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pés à cabeça. Quando a porta se abriu e ela entrou, o príncipe deu um grito de alegria, levantou-se da cama bonzinho de saúde, chamando pela mãe e mostrando a moça que estava mais bonita do que nas noites passadas. Casaram-se imediatamente, contando a moça sua história, e foram felizes até a morte. Fonte: http://www.aletria.com.br/historias.asp?id=390

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O mágico e o camundongo Diz uma antiga fábula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato.

Um mágico teve pena dele e o transformou em gato. Mas aí ele ficou com medo de cão, por isso o mágico o transformou em pantera. Então ele começou a temer os caçadores.

A essa altura o mágico desistiu.

Transformou-o em camundongo novamente e disse:

- Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem apenas a coragem de um camundongo.

Fonte: http://voteldobrasil.blogspot.com/2009_04_01_archive.html

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O PESCADOR, O ANEL E O REI Conto popular - Música e adaptação: Bia Bedran

Era uma vez um velho pescador que vivia cantando: Canto: Viva Deus e ninguém mais / Quando Deus não quer / ninguém nada faz. Mesmo quando sua pesca não era boa, ele cantava com muita fé e alegria a sua cantiga. Canto: Viva Deus e ninguém mais / Quando Deus não quer / ninguém nada faz.

Um dia, o rei daquele lugar soube da existência do pescador e quis que ele fosse à sua presença, por não admitir que Deus podia mais que tudo no mundo... Esse rei era tão poderoso e orgulhoso, que achava que podia até mais que o próprio Deus! E lá foi o pescador, subindo as escadas de tapete vermelho do palácio, cantando: Viva Deus... Diante do rei, o pescador não mostrou medo algum, e ainda reafirmou sua fé, cantando a mesma cantiga. Então o rei disse: Rei: Vamos verse Deus pode mais que eu, pescador! Eis aqui o meu anel. Vou entregá-lo aos seus cuidados! Se dentro de 15 dias você me devolver o anel, intacto, você ganhará um enorme tesouro, e não precisará mais trabalhar para viver. Porém, se no 15° dia você não voltar com o anel, mando cortar a sua cabeça! Agora vá embora... O pescador foi embora e na volta pra casa, cantava: Viva Deus... Quando chegou em casa entregou o anel para a mulher que prometeu guardá-lo a sete chaves. Deixe estar que isso não passava de um plano do rei, que logo mandou um criado disfarçado de mercador, bater na casa do pescador, quando esteja havia saído para pescar. Criado disfarçado: Ó de casa! A velha senhora abriu a porta. Criado: Minha senhora, sou mercador. Vendo e compro anéis. A senhora não teria aí pelas gavetas um anelzlnho para me vender? Pago bem! E mostrou muito dinheiro. Velha: Não tenho não senhor. Aqui é casa de pobre. Não tem anel nenhum não.

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Mas a velha ficou surpresa com tanto que o homem mostrava. Acabou caindo na tentação, e vendeu o anel! No fim do dia, o pescador voltou pra casa cantando: Viva Deus... ...Quando chegou em casa, soube do que havia acontecido e ficou desesperado. Pescador: Mulher! Você não vendeu o anel não; você vendeu minha cabeça! E foram correndo procurar o mercador pela floresta, pela estrada, pela praia, pela aldeia e nada... Claro! À essa altura, o criado disfarçado de mercador já estava longe, e havia jogado o anel em alto mar, a mando do rei, para que nunca mais ninguém pudesse encontrá-lo. E: o tempo foi passando... Décimo dia... O pescador, triste continuava cantando: (mais lento) Viva Deus... Décimo primeiro dia... E o pescador cantando e pescando... Canto: (ainda mais lento) Viva Deus... Até que no penúltimo dia, o pescador chamou a mulher e disse: Pescador: Mulher, eu vou morrer... Amanhã, minha cabeça vai rolar. Vamos nos despedir, com uma última refeição. Farei uma boa pescaria. E lá foi o pescador, tristemente, cantando sem parar sua cantiga. Canto: Viva Deus... (muito triste) Pescou 50 peixes, 49 ele vendeu no mercado, e 1 levou para mulher preparar. Ela caprichou no tempero e fez no fogão de lenha, aquele peixe que seria sua última ceia junto com o marido depois de tantos anos. Mastiga daqui, chora dali, pensa de lá, e de repente... Pescador: (Se engasgando) O que é isso? Mulher (cospe o anel). Eu não disse que Deus pode mais que todo o mundo? Canto(bem animado): Viva Deus... O pescador limpou o anel, e correu em direção ao palácio. Subiu a escadas de tapete vermelho cantando, fez uma reverência para rei, que perguntou todo poderoso: Rei: E então, pescador? Aonde está o meu anel? E o pescador, vitorioso: Pescador: Está aqui, meu rei! O rei ficou boquiaberto! Não conseguia acreditar...Teve de entregar o tesouro para o pescador. E até o rei teve que cantar: Canto: Viva Deus e ninguém mais / Quando Deus não quer / Ninguém nada faz.

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PARTE II

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Dois cães

Um homem conversava com um velho índio.

- Você não pode me entender, sua cultura é primitiva demais

para isso. Nós, que vivemos no mundo civilizado, temos que nos

sobressair em nossas tarefas diárias. Se em alguns momentos podemos

dar atenção a alguém, na maioria das vezes temos que passar por cima

de tudo para sermos bem sucedidos. Na verdade, vivemos em constante

competição.

Depois de dito isso, o homem sorria intimamente, pensando ter

confundido totalmente a cabeça do velho índio. Este olhou nos olhos do

homem e disse:

- Dentro de mim moram dois cães

que vivem uma luta eterna. Um é sábio,

complacente, compreensivo, feliz. O outro

se arrasta na maldade, na disputa, no

cansaço e na dor.

Como nada mais dissesse, o homem

lhe perguntou:

- E quem vence essa luta?

- Aquele que eu mais alimento –

respondeu o índio.

Autor desconhecido

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A SERPENTE E O VAGALUME

Conta a lenda que uma vez uma serpente começou a perseguir um vagalume. Este fugia rápido, com medo da feroz predadora e a serpente nem pensava em desistir. Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada.... No terceiro dia, já sem forças o vagalume parou e disse à cobra: - Posso lhe fazer uma pergunta? - Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que vou te devorar mesmo, pode perguntar. - Pertenço a sua cadeia alimentar? - Não. - Eu te fiz algum mal? - Não. - Então, por que você quer acabar comigo? - Porque não suporto ver você brilhar!

"Pense nisso e selecione as pessoas em quem confiar."

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Menino Azul Anos atrás, em uma cidadezinha chamada Fraterna, aconteceu um fato muito interessante. Um dia, alguém acordou gritando feliz para todos ouvirem que ele tinha encontrado a solução para todos os problemas do mundo. Dizia que os homens eram infelizes, tristes, nervosos e estressados porque não tinham resolvido os problemas mais simples da vida. Então, qual era a receita que estava sendo divulgada com tanta ênfase naquela manhã? O autor daquele barulho todo, um menino de 12 anos, dizia que toda vez que se zangava, perdia a serenidade e ficava triste, ele olha para o céu azul - azul claro, é claro - e logo a paz voltava. Ele concluiu que se todo o mundo fosse pintado de azul -azul claro, é claro - os homens seriam felizes. Como espalhar essa idéia genial? Resolveu escrever uma carta aos presidentes dos países mais importantes do mundo, pois, se eles pintassem seus países de azul - azul claro, é claro - todos os outros iriam fazer o mesmo, e a paz no mundo seria plena. O menino enviou as cartas e esperou … esperou … esperou e nada de respostas. Pensou: talvez seja mais fácil convencer o presidente do meu país. Escreveu e recomendou que se fizesse uma lei que tudo no país fosse pintado de azul claro. O menino esperou … esperou … esperou e nada de resposta. O presidente deve ser muito ocupado, pensou. Talvez o governador seja a pessoa indicada. Nosso estado será o exemplo para o país, que será exemplo para o mundo. E escreveu para o governador. O menino esperou … esperou … esperou e nada de resposta. Ele não desanimou. Pensou: vou escrever para o prefeito. Começando pela minha cidade é mais fácil convencer o governador e os presidentes, e a paz reinará. O menino esperou … esperou … esperou e nada de resposta. Triste porque ninguém lhe dera resposta sobre um assunto tão importante como a paz no mundo, sentou debaixo da árvore no jardim de sua casa, e começou a chorar. Depois de algum tempo, o menino levantou-se para brincar, quando olhou surpreso para a sua casa: não era azul, e sim branca desbotada. Levantou-se e gritou: "É claro. Depende de mim, de mais ninguém! Minha casa vai ser azul". Depois de alguns dias sua casa era outra. Estava toda azul - azul claro é claro. O menino estava feliz porque dera o início do seu plano de paz no mundo. Todos os que passavam por ali olhavam aquele casa de azul - azul claro, é claro – e sentiam-se alegres se estavam tristes, sorridentes se estavam sisudos, em paz se estavam nervosos. Muitas pessoas gostaram tanto daquela cor que pintaram suas casas também de azul − azul claro, é claro. A ideia do menino foi se espalhando pelo planeta, e lá do espaço os astronautas atestaram que a terra estava azul - azul claro, é claro. O menino entendeu que qualquer transformação tem seu ponto de origem em cada um de nós. Para transformar o mundo, antes eu tenho que me transformar. (Texto baseado no livro "Teo, O Menino Azul", de Paulo R. Costa, Editora Riani Costa) Quem me enviou foi Lucy (RJ)

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YöuâÄt wt VÉÇä|ä£Çv|tYöuâÄt wt VÉÇä|ä£Çv|tYöuâÄt wt VÉÇä|ä£Çv|tYöuâÄt wt VÉÇä|ä£Çv|t Durante uma glaciação, muito remota, quando parte do globo terrestre estava coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram, indefesos, por não se adaptarem as condições do clima hostil. Foi então, que uma grande manada de porco-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, a juntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro e, todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se, enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso. Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamennte aqueles que forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou de morte. Afastaram-se feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se, por não suportatrem mais tempo os espinhos dos seus semelhantes. Doíam muito... Mas, essa não foi a melhor solução: afastados, separados, logo começaram a morrer congelados. Os que não morreram voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precaução, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar danos recíprocos. Assim, suportaram-se, resistindo a longa era glacial. Sobreviveram.

Extraída da internet – Desconheço a autoria.

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aûÉ xáÖâx†t É ÑÜ|Çv|ÑtÄAAAaûÉ xáÖâx†t É ÑÜ|Çv|ÑtÄAAAaûÉ xáÖâx†t É ÑÜ|Çv|ÑtÄAAAaûÉ xáÖâx†t É ÑÜ|Çv|ÑtÄAAA Conta a lenda que certa mulher pobre com uma criança no colo, passando diante de uma caverna escutou uma voz misteriosaque lá dentro lhe dizia: "Entre e apanhe tudo o que você desejar, mas não seesqueça do principal. Lembre-se, porém, de umacoisa: depois que você sair, a porta se fechará para sempre.Portanto, aproveite a oportunidade, mas não se esqueça do principal...." A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas jóias, pôs a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental. A voz misteriosa falou novamente:"Você só tem oito minutos." Esgotados os oito minutos, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou... Lembrou-se, então, que criança ficara lá e a porta estava fechada para sempre!!! A riqueza durou pouco e o desespero, sempre. O mesmo acontece, as vezes, conosco. Temos uns oitenta anos para viver, neste mundo, e uma voz sempre nos adverte:"Não se esqueça do principal!". E o principal são os valores espirituais, aoração, a vigilância, a família, os amigos, a vida!!! Mas a ganância, a riqueza, os prazeres materiais os fascinam tanto que o principal vai ficando sempre de lado... Assim, esgotamos o nosso tempo aqui, e deixamos delado o essencial: "Os tesouros da alma!" Que jamais nos esqueçamos que a vida, neste mundo, passa rápido e que a morte chega de inesperado. E quando a porta desta vida se fechar para nós, de nada valerá as lamentações. Portanto, que jamais esqueçamos do principal!!! Colaboração de Andrea Cozzi, contadora de histórias de Belém do Pará Visite o blog de Andrea: http://www.alinhavosdecomadreflorzinha.blogspot.com/

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T _T _T _T _xÇwt wÉ cöáátÜÉ Vtux†txÇwt wÉ cöáátÜÉ Vtux†txÇwt wÉ cöáátÜÉ Vtux†txÇwt wÉ cöáátÜÉ Vtux†t@@@@wxwxwxwx@@@@ixÇàÉixÇàÉixÇàÉixÇàÉ Numa tribo indígena, havia uma índia que se sentia muito infeliz no casamento. O marido era um daqueles homens broncos, insensíveis, incapazes de um ato de verdadeiro carinho, mas que dizia amar muito a mulher. Ela, a cada dia, se sentia mais oprimida por ele. Sabia que seria muito difícil deixá-lo, pois ele não aceitaria jamais este fato. Mesmo assim, teve coragem para dizer-lhe que iria embora. É claro que o marido não concordou e, de acordo com os costumes da tribo, ela teria de ficar com ele. O marido, então, passou a oprimi-la ainda mais. E assim foram vivendo, por muito tempo.

Uma noite, porém, a mulher fez uma descoberta fascinante: depois que o marido dormia, ela podia deixar o corpo na cama, ao lado dele, e sair com a cabeça para voar. Ele, dormindo, como de costume, passava a mão do lado dela e via que ela estava lá e continuava a dormir. Ela, a cabeça, voava por toda a floresta, conhecia lugares incríveis. E assim foi por um bom tempo. Quase todas as noites, a cabeça ia passear sozinha, longe da opressão do marido.

Tudo ia mais ou menos bem, mas, uma noite, a cabeça voou para longe demais… e não conseguiu encontrar o caminho de volta. Ficou só aquela cabeça a voar, perdida na floresta.

Ao amanhecer, o marido se deu conta de que só tinha o corpo da mulher consigo. Ficou furioso. Não podia aceitar aquilo e, como tinha só o corpo, decidiu castigá-lo: surrou-o até a morte. Não satisfeito, esquartejou o corpo, queimou-o jogando as cinzas no rio.

E a cabeça? O Deus da tribo, para não deixá-la aquela vagando perdida pela floresta, transformou-a no “pássaro-cabeça-de-vento”. E foi assim que este pássaro surgiu na Terra. Um pássaro que traz consigo um grande ar de tristeza, mas que, no fundo, tem um quê de felicidade, pois é livre.

Contado por Ricardo Azevedo no curso “Elos entre o folclore e a literatura infantil” (Belo Horizonte – 2000) Reconto: Carmélia Cândida

Conheça o Baú de Carmélia: carmeliacandida.blog.terra.com.br

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Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os demais: Era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta, vão embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades... Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.

"- Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você...". E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro. Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça. "... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes. E de novo começavam as estórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre. Mas chegava sempre uma hora de tristeza. "- Tenho que ir", ele dizia. "- Por favor não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar....". "- Eu também terei saudades", dizia o pássaro. "-- Eu também vou chorar. Mas eu vou lhe contar um segredo: As plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades. Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar. Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite. Imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada. "- Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz". Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas

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cores, com estórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz. Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro. "- Ah! Menina... Que é que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias...". Sem a saudade, o amor irá embora... A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente. Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio; deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo... Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola. "- Pode ir, pássaro, volte quando quiser...". "- Obrigado, menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar... E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia. "- Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo...". E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos... "- Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje... Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. Porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar. AH! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama... E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento. - Quem sabe ele voltará amanhã.... E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

Texto de Rubem Alves

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Lenda do Lenda do Lenda do Lenda do UrutauUrutauUrutauUrutau

O Urutau é o pássaro mais feio da floresta. Quando a lua nasce, tem um canto esquisito. Quem já ouviu, conta que ele diz foi, foi, foi. Eta bicho mais estranho, parece que fala. Numa casinha muito pobre no sertão, vivia com seus pais uma moça muito feia. Não podia nem se olhar no espelho que chorava. Os pais dela, já velhinhos, queriam ver a filha casada. Tinham medo de morrer e deixar a coitada sozinha, encalhada. Mas ninguém queria a moça jaburu. O tempo foi passando e todas as suas amigas foram se casando. A coitada ficava sempre na janela da sala, esperando o povo que voltava da roça. Tinha a esperança que alguém gostasse dela. Era boazinha, trabalhadeira e cozinhava como ninguém. Todo mundo que passava, até cumprimentava a moça, mas não havia viva alma que se interessasse por ela. Tinha um narigão pontudo, olhos arregalados como um sapo, uma boca enorme, cheia de dentes tortos e os cabelos bem pretos escorridos. O mulher bem feia, parecia uma bruxa. Desiludida, desistiu de ficar na janela e começou a dar longos passeios à noite, quando ninguém podia ver a sua feiúra. Arrumou um cachorro como amigo, um cusco quase tão feio quanto ela, mas que acompanhava suas longas caminhadas. Adorava a natureza. Cada árvore, cada flor, cada pedra, lhe fazia companhia.

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Uma noite, sentada num tronco, pensando na vida, ouviu o trote de um cavalo se aproximando. Como sempre sonhava com príncipes, logo imaginou que alguém vinha salvá-la. Um moço muito bonito e bem vestido desceu do cavalo. Não dá pra acreditar, mas era um príncipe de verdade. A noite estava escura e o moço não conseguia ver direito a coitada. Toda querida, ofereceu ajuda para o príncipe que estava completamente perdido. Foram caminhando pela floresta, um ao lado do outro, puxando o cavalo. Ela podia ser horrível, mas, no escuro, parecia a mais encantadora das criaturas. Conversava sobre tudo, era delicada, sensível, inteligente. O príncipe, já apaixonado, se ajoelhou e pediu a moça em casamento. De repente, a lua apareceu e iluminou o rosto dela. Foi o maior susto que o pobre moço já levou. Pensou estar falando com uma assombração. Como era muito educado, inventou uma desculpa. Disse que precisava encontrar seu mensageiro e que logo voltaria para buscá-la. A moça, acreditando ter finalmente encontrado a sua cara metade, ficou sentada esperando. Esperou, esperou e nada. Até que alguém apareceu. Não era o príncipe, era uma feiticeira que vivia na floresta. A bruxa perguntou o que ela fazia ali sozinha. A moça, crente que o noivo voltaria, contou toda a estória. Pediu, então, para a velha transformá-la num pássaro que pudesse voar e encontrar o amado. Ele poderia estar perdido outra vez e ela tinha que ajudá-lo. A feiticeira pensou duas vezes no pedido da moça que, de tanto chorar, foi atendida. Cabum!!! Virou um pássaro. Uma ave muito esquisita. Ficou feliz de qualquer modo. Agradeceu e voou mundo afora atrás do príncipe. O homem sumiu da face da terra. Dizem por aí que nunca viram um cavalo correr tanto. Um cavalo que passou por aqui, montado por um príncipe. Coisa mais estranha. A moça, agora aquele pássaro horroroso, voltou para o lugar onde tinha encontrado a bruxa. Pediu que a transformasse de novo em gente, pois tinha desistido do noivo. A feiticeira, meio sem graça, disse que sentia muito, mas não se lembrava como desfazer o encanto. Sabe como é, o tempo passa, a gente envelhece e acaba esquecendo das coisas. A moça-pássaro ou o pássaro-moça, acostumado a viver sozinho, se enfiou dentro de um tronco de árvore e vive lá até hoje. Quando tem lua cheia, grita foi, foi, foi. Foi o príncipe que foi embora.

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A mulher esqueletoA mulher esqueletoA mulher esqueletoA mulher esqueleto

Era uma vez um jovem pescador que ficou perdido no oceano por

longos dias. Ele era muito destemido e, por conta de sua coragem, acabou

chegando com seu caiaque em uma região de águas profundas. Tendo fome,

resolveu lançar as se pescar algo para si. Ao puxá-las, sentiu que elas traziam

algo grande e pesado. Imaginando tratar-se de um peixe avantajado, puxou

com todo o entusiasmo até trazer à tona a horrível visão de uma mulher-

esqueleto.

Era o corpo de Sedna, comido pelos peixes e deteriorado pela longa

permanência nas águas abismais. Apavorado, o pescador pôs-se a remar a toda

velocidade. Entretanto, quanto mais rápido remava, mais rápido o esqueleto

era arrastado atrás dele, pois os ossos haviam-se enroscado nas redes de pesca.

Chegando em terra, o pescador se pôs a correr com quantas pernas

tinha. Como levava com ele a rede, a mulher-esqueleto vinha junto, pulando e

chacoalhando os ossos. O pescador pulou para sua tenda, achando que ali

estaria protegido, e levou um enorme susto ao descobrir que o esqueleto

entrara com ele. Conseguindo superar a sensação de pavor, só então o rapaz

tomou coragem para olhar com mais atenção a mulher-esqueleto e descobrir

que ela só o seguira porque seus ossos descarnados estavam enroscados na

rede.

Então, pela primeira vez o pescador sentiu compaixão por aquela

mulher agora transformada num monte de ossos. Aproximou-se, tomou

coragem e começou a desembaraçar os ossos dos fios da rede. Aos poucos,

libertou todo os ossos do esqueleto e deitou-os cuidadosamente sobre uma

confortável pele de urso. Encerrado o trabalho, e percebendo que nada mais

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podia fazer por aquele esqueleto que um dia fora uma mulher, foi dormir com

uma lágrima a escorrer dos olhos.

Acontece que, depois de dormir um tempo imemorial no fundo do

oceano, a mulher-esqueleto sentiu-se confortável e aquecida pela pele de urso.

Então ela acordou, viu seu benfeitor a dormir e viu também a lágrima a

escorrer-lhe do olho. Como a mulher-esqueleto tinha sede, levantou-se e bebeu

a lágrima do pescador. E bebeu muito e muito, porque sua sede vinha de

muito longe. Depois percebeu que o pescador fizera comida, e comeu um

pouco dela. E como sua fome vinha de muito longe, ela comeu e comeu e

comeu, até sentir-se aquecida por dentro. E aos poucos a carne foi de novo

cobrindo seus ossos, e seus cabelos cresceram belos outra vez, e seu corpo foi

tomando forma.

Quando o pescador acordou, descobriu que uma linda mulher dormia a

seu lado. Não é preciso dizer que os dois ficaram juntos desde então, e que

jamais faltou boa pesca para ele, pois ela sempre sabia lhe dizer onde jogar a

rede.

Fonte: www.aletria.com.br

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As três laranjas mágicas

Era uma vez um velho rei que, decidiu que era a hora do seu filho casar. Para escolher a felizarda, convidou várias princesas, muitas delas vindas de muito longe, para participarem na festa. Mas, mesmo com várias pretendentes, o príncipe não gostou de nenhuma. Para resolver a situação, decidiu que seria melhor ele próprio procurar uma

esposa, mas sozinho. Assim, o príncipe montou o seu cavalo e partiu, rumo ao desconhecido. Um certo dia, chegou a uma floresta e, na entrada da mesma havia uma laranjeira:

• Ah!!! Esta laranjeira tem três magníficas laranjas de ouro! Vou colhê-las. – declarou o príncipe, seguindo o seu caminho.

Mais tarde, com o grande calor que fazia, o príncipe teve sede: - Vou abrir uma das laranjas, para ver se fico melhor. - E assim fez - Que maravilha, é uma delícia!

Entretanto, da laranja saiu uma bela donzela, com os olhos da cor do céu, e cabelos da cor do sol.

- Dá-me um golo de água, por favor! - rogou a rapariga ao príncipe. - Infelizmente, não tenho água para te dar! - respondeu ele, encantado

com a visão dela. Com esta resposta, ela desapareceu tal como tinha vindo. O príncipe

continuou a sua jornada mas, o calor aumentava à medida que caminhava. - Estou de novo cheio de sede, por isso vou abrir a segunda laranja! Ao abrir a segunda laranja, sai outra donzela, esta com os olhos da cor

dum lago, e o cabelo vermelho, como uma cereja: - Peço-te por tudo, dá-me água! - implorou a rapariga. - Desculpa, mas não tenho! Afinal, quem és tu? - perguntou o príncipe,

mas ela já tinha desaparecido. Por fim, ele chegou a uma fonte onde conseguiu saciar, toda a sua sede.

Agora, estava era com fome: - Vou abrir a última laranja, e vamos lá a ver o que acontece! Tal como das outras vezes, também desta laranja saiu uma donzela,

com os olhos e cabelos negros como as asas dum corvo, e a pele branca como a neve:

- Dá-me água! - suplicou a rapariga. - Agora, já posso satisfazer o teu pedido! - respondeu o príncipe,

enquanto mergulhava as mãos, em forma de concha, na água da fonte.

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Aproximou-se da donzela e deu-lhe a água, para beber. E, assim se quebrou o feitiço de uma bruxa que, tinha encarcerado a rapariga, nas laranjas mágicas.

O príncipe, encantado com ela, levou-a para o seu castelo, onde os dois se casaram, e viviam muito felizes.

Algum tempo depois, a bruxa descobriu que a menina tinha sido libertada e, ficou furiosa. Decidiu então disfarçar-se de vendedora, e foi até ao castelo:

- Ganchos para o cabelo! Quem quer comprar estes belos ganchos? A menina, já rainha, pediu à velhota para entrar: - Faça favor! Que ganchos tão bonitos…Quero este que, tem uma

pérola na ponta. - Deixe-me ser eu a pô-lo no seu cabelo! - pediu a bruxa manhosa. A rainha inclinou-se e ela espetou-lhe o gancho na cabeça,

transformando-a numa pomba branca. A rainha voou, voou, até chegar à floresta onde, o seu marido estava a caçar.

- Que bela pomba! Vou apanhá-la para a dar à minha esposa de presente. - disse ele, sem saber que a pomba era a sua própria rainha.

Quando chegou a casa, o príncipe teve um enorme desgosto ao ver que, a sua mulher não estava em casa. E os meses passaram e, ela não regressava. O único consolo dele, era a pequena pomba branca que, nunca o abandonava.

Um dia, ao acariciar a cabeça da pomba, ele sentiu a pérola que enfeitava o gancho:

- Quem seria capaz desta crueldade? Vou tirar isto, para ela não se magoar.

Ao puxar o gancho… Aconteceu um milagre!!! A pomba transformou-se, na sua bela esposa.

- Meu amor, estava com tantas saudades tuas! O que foi que aconteceu? - perguntou o príncipe, muito emocionado com a volta da sua amada.

Depois de todas as explicações, ficou furioso e, mandou os seus soldados irem buscar a maldita bruxa, à sua presença. No entanto, isso não foi preciso, pois a velha já tinha morrido, atraiçoada pelos seus próprios feitiços.

E assim, o rei e a bela rainha viveram felizes para sempre...

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A Mentira e a VerdadeA Mentira e a VerdadeA Mentira e a VerdadeA Mentira e a Verdade

Em tempos que há muito se vão, a Mentira e a Verdade, saíram viajando pelo mundo.

Sei que parece estranho, mas essa história diz que naquele tempo, por incrível que pareça, a Mentira era muito acanhada, muito calada, por isso, logo no primeiro dia de viagem, ela disse para a Verdade:

– Ô comadre Verdade, vamos combinar uma coisa? Se tivermos que falar com alguém, fala você, eu não quero abrir a boca jamais, pois sei que todos me reconhecerão, e não acreditarão no que eu disser... - e assim combinado, seguiram viagem.

Ora, aconteceu que lá pela hora do almoço, elas avistaram uma cabana no meio da floresta, e para lá se dirigiram para pedir pousada. A dona da casa convidou-as gentilmente a entrar, desculpando-se por não ter feito ainda o almoço, pois se distraíra colhendo flores.

Nisso, chega o marido da mulher, vindo da floresta, morto de fome, e vendo que ela não havia ainda nem começado a preparar a comida, perdeu completamente a paciência e perguntou às duas viajantes:

– O que as senhoras acham disso? A Mentira conforme o combinado, não tugiu nem mugiu, mais a

Verdade foi logo dizendo: – Ora, eu acho um absurdo uma dona de casa, que não tem a comida

preparada quando o marido chega do trabalho. Aí foi a vez da mulher ficar furiosa, e expulsou as duas de sua casa aos

gritos! E lá se foram elas tontas de fome... Anda que anda, chegaram a um vilarejo e resolveram pedir pousada ao

prefeito. Pelo caminho, passaram por um grupo de rapazes que esquartejavam um boi. Eles guardavam os melhores pedaços de carne para eles mesmos, e o resto colocavam em cestos de palha.

Por coincidência, infeliz coincidência, chegaram juntos à prefeitura, a Mentira e a Verdade e os rapazes trazendo para o prefeito, a carne dos cestos de palha.

Este, todo orgulhoso com o presente, perguntou às duas viajantes:

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– Sabem quem manda neste vilarejo? A Mentira fez que nem ouviu a pergunta, mas a Verdade foi logo

dizendo: – Claro que são estes rapazes, pois eles partem, repartem, e ficam

com a melhor parte... Aí foi a vez do prefeito ficar furioso, e ordenou que parte de seus

soldados corressem atrás dos rapazes que já iam longe, e o resto, escoltassem aquelas duas senhoras até os limites da cidade expulsando-as de lá.

Bem, a esta altura, a Mentira já estava começando a desconfiar que alguma coisa ia mal...daí a pouco elas iam morrer de fome... disse, então, a Verdade:

– Ô comadre... as coisas tão indo mal... vamos ver se eu falando as coisas melhoram?

E assim combinado, seguiram viagem. Mais adiante, chegaram a uma grande cidade e avistaram uma fonte.

Estavam as duas ali, descansando um pouquinho, quando chegou uma jovem para pegar água. Conversa daqui, conversa dali, ela contou à Mentira, que uma grande desgraça se abatera sobre aquela cidade; a Rainha morrera, e o Rei enlouquecido de dor, já não comia nem bebia. Sua loucura com a morte da Rainha era tanta, que ele havia prometido dar o peso em ouro a quem conseguisse ressuscitá-la.

A Verdade calada estava, calada ficou, mas a Mentira foi logo falando: – Ora, ressuscito fácil, fácil, gente, sem problema nenhum... A jovem, nem bem ouviu aquilo, correu a dar a notícia ao rei, que

imediatamente ordenou que levassem as duas senhoras a sua presença. Recebeu-as com todas as honrarias, serviu-lhes uma lauta refeição, e depois, com os olhos brilhando de emoção, perguntou-lhes:

– É verdade, vocês disseram que podem ressuscitar minha querida rainha?

A Verdade não resistiu e falou: – Eu não disse nada de nada Majestade... quem falou foi ela... – Pois disse e repito. - falou a Mentira. O Rei, ficou tão emocionado, que repetiu na frente de toda a corte, o

que a jovem já havia falado, que ele daria o peso da Mentira em ouro, se ela lhe trouxesse de volta sua adorada mulher!

A Mentira não se fez de rogada. Mandou que construíssem uma cabana de madeira encima da sepultura da Rainha, e trancou-se lá dentro diante de toda a corte. Durante um bom tempo só se ouviu, barulho de picareta e gente cavando, de repente, ouviu-se uma forte discussão dentro da cabana. Eram várias vozes que falavam quase que ao mesmo tempo, cada uma querendo falar mais alto do que a outra... sai, então, a Mentira toda desgrenhada e diz ao Rei:

– Ô Majestade, a coisa agora complicou...

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– O que houve? - perguntou o rei, aflito. Bem, quando a rainha ressuscitou e já ia saindo da sepultura, sua sogra

agarrou-a pelo pé, e ofereceu-me duas vezes meu peso em ouro se eu a trouxesse junto com a filha. Nisso, apareceu a mãe de sua sogra, oferecendo-me três vezes meu peso em ouro pelo mesmo serviço. Nem bem eu me refizera de tão tentadora proposta, apareceu a mãe da mãe de sua sogra, oferecendo-me todo o ouro que eu pudesse carregar. Vim avisá-lo, portanto, Majestade, que terei de ressuscitar a todas, pois não quero perder a chance de ficar rica. Prepare já vosso palácio que eu não me demoro... - e começou a voltar para a cabana.

O Rei, que tremia só em lembrar da vida que levava quando a sogra estava viva, imaginando o que seria passar o resto de seus dias não com uma, mas com quatro sogras... agarrou a Mentira pela barra da saia e foi logo dizendo que tinha mudado de idéia, que cobria qualquer oferta para que ela deixasse sua mulher, e toda sua parentelha, dormindo em paz.

E assim, a Mentira e a Verdade, sentadas na boleia de uma carroça cheinha de ouro, seguiram viagem. E dizem que esta combinação deu tão certo, que é por isso que até hoje, a Mentira fala muito mais do que a Verdade ...

Conto adaptada por Maria Clara Cavalcanti, do Grupo Confabulando (RJ). Quem me enviou-o foi a própria Maria Clara, por intermédio do Glauter Barros.

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O HOMEM SEM SORTE

Vivia perto de uma aldeia um homem, um homem que era completamente sem sorte. Nada do que ele fazia dava certo. Muitas vezes ele plantava sementes e o vento vinha e as levava, outras vezes, era a chuva, que vinha tão violenta que carregava as sementes. Outras vezes ainda, as sementes permaneciam sob a terra, mas o sol era tão quente que as cozinhava. E ele se queixava com as pessoas e as pessoas escutavam suas queixas, da primeira vez com simpatia, depois com um certo desconforto e enfim, quando o viam mudavam de caminho ou entravam para suas casas fechando portas e janelas, evitando-o. Então além de sem sorte, o homem se tornou chato e muito só. Ele então começou a procurar um culpado para o que lhe acontecia. Analisando a situação de sua família percebeu que seu pai era um homem de sorte, sua mãe tinha tido sorte por ter se casado com seu pai e seus irmãos eram muito bem sucedidos. Pois então, se não era um caso genético, só poderia ser coisa do Criador. E depois de muito pensar, resolveu tomar uma atitude e ir até o fim do mundo falar com o Criador, que como Criador de tudo, deveria ter uma resposta. Arrumou sua malinha, algum alimento e partiu rumo ao fim do mundo. Andou um dia, um mês, um ano e um dia, e pouco antes de entrar numa grande floresta ouviu uma voz: - Moço, me ajude. Ele olhou para os lados procurando alguém. Até que se deparou com um lobo, magro, quase sem pelos; era pele e osso o infeliz. Dava para contar suas costelas . E o lobo falou: - Há três meses estou nesta situação. Não sei o que está acontecendo comigo. Não tenho forças para me levantar daqui. O homem refeito do susto respondeu: - Você está se queixando a toa ...Eu tive azar a vida inteira. O que são três meses? Mas faça como eu. Procure uma resposta. Eu estou indo procurar o Criador para resolver o meu problema.

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- Se eu não tenho forças nem para ir ao rio beber água... Faça este favor para mim. Você está indo vê-lo, pergunte o que está acontecendo comigo. O homem fez um sinal de insatisfação e disse que estava muito preocupado com seu problema , mas se lembrasse, perguntaria. Virando as costas, continuou seu caminho. Andou um dia, um mês, um ano e um dia e de repente, ao tropeçar numa raiz, ouviu: - Moço, cuidado. E quando olhou, viu uma folhinha que vinha caindo, caindo. Olhando para cima, viu uma árvore com apenas duas folhinhas. Levantou-se e observando suas raízes desenterradas, seus galhos retorcidos, sua casca soltando-se do tronco, falou: - Você não se envergonha ? Olhe as outras árvores a sua volta e diga se você pode ser chamada de árvore? Conserte sua postura. A árvore, com uma voz de muita dor, disse: - Não sei o que está acontecendo comigo. Estou me sentindo tão doente. Há seis meses que minhas folhas estão caindo, e agora, como vês, só restam duas... E, no fim da conversa, pediu ao homem que procurasse uma solução com o Criador. Contrariado, o homem virou as costas com mais uma incumbência. Andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou a um vale muito florido , com flores de todas as cores e perfumes. Mas o homem não reparou nisto. Chegou até uma casa e na frente da casa estava uma moça muito bonita que o convidou a entrar. Eles conversaram longamente e quando o homem deu por si já era madrugada. Ele se levantou dizendo que não podia perder tempo e quando já estava saindo ela lhe pediu um favor: - Você que vai procurar o Criador, podia perguntar uma coisa para mim? É que de vez em quando sinto um vazio no peito, que não tem motivo, nem explicação. Gostaria de saber o que é e o que posso fazer por isto. O homem prometeu que perguntaria e virou as costas e andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou por fim ao fim do mundo. Sentou-se e ficou esperando até que ouviu uma voz. E uma voz no fim do mundo, só poderia ser a voz do criador. - Tenho muitos nomes. Chamam-me também de Criador ... E o homem contou então toda a sua triste vida. Conversou longamente com a voz até que se levantou e virando as costas foi saindo, quando a voz lhe perguntou:

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- Você não está se esquecendo de nada ? Não ficou de saber respostas para uma árvore, para um lobo e para uma jovem ? - Tem razão... E voltou-se para ouvir o que tinha que ser dito. Depois, virou-se e correu mais rápido que o vento, até que chegou à casa da jovem. Como ela estava em frente à casa , vendo-o passar chamou: - Ei!!! Você conseguiu encontrar o Criador? Teve as respostas que queria? - Sim!!! Claro! O Criador disse que minha sorte está toda no mundo. Basta eu ficar alerta para perceber a hora de apanhá-la! - E quanto a mim, você teve a chance de fazer a minha pergunta? - Ah! O Criador disse que o que você sente é solidão. Assim que encontrar um companheiro vai ser completamente feliz, e mais feliz ainda vai ser o seu companheiro. A jovem então abriu um sorriso e perguntou ao homem se ele queria ser este companheiro. - Claro que não... Já trouxe a sua resposta... Não posso ficar aqui perdendo tempo com você. Não foi para ficar aqui que fiz toda esta jornada. Adeus!!! E virando as costas correu, mais rápido do que a água, até a floresta onde estava a árvore. Ele nem se lembrava mais dela. Mas quando novamente tropeçou em sua raiz, viu caindo uma última folhinha. Ela perguntou se ele tinha uma resposta, ao que o Homem respondeu: - Tenho muita pressa e vou ser breve, pois estou indo em busca de minha sorte e ela está no mundo. O Criador disse que você tem embaixo de suas raízes uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. O ferro desta caixa está corroendo suas raízes. Se você cavar e tirar este tesouro daí, vai terminar todo o seu sofrimento e você vai poder virar uma árvore saudável novamente. - Por favor !!!Faça isto por mim!!! Eu não tenho como fazê-lo. Você pode ficar com o tesouro. Ele não serve para mim. Eu só quero de novo minha força e energia. O homem deu um pulo e falou indignado: - Você está me achando com cara de quê? Já trouxe a resposta para você. Agora resolva o seu problema. O Criador falou que minha sorte está no mundo e eu não posso perder tempo aqui conversando com você, muito menos sujando minhas mãos na terra. E virando as costas, correu, mais rápido do que a luz, atravessou a

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floresta e chegou onde estava o lobo, mais magro ainda e mais fraco. O homem se dirigiu a ele apressadamente e disse: - O Criador mandou lhe falar que você não está doente. O que você tem é fome. Está a morrer de inanição, e como não tem forças mais para sair e caçar, vai morrer ai mesmo. A não ser, que passe por aqui uma criatura bastante estúpida e você consiga comê-la. E nesse momento, os olhos do lobo se encheram de um brilho estranho, e reunindo o restante de suas forças, o lobo deu um pulo e comeu o homem sem sorte." Disponível em: http://contoselendas.blogspot.com/2004/05/ohomem-sem-sorte.html

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A “R A T O E I R A”A “R A T O E I R A”A “R A T O E I R A”A “R A T O E I R A”

hhhhm rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa

abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que poderia haver ali.

Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado. Correu ao pátio da

fazenda advertindo a todos:

- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!!! A galinha, disse:

- Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

O rato foi ao porco e lhe disse:

- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!!!

- Desculpe-me Sr. Rato - disse o porco - mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces.

O rato dirigiu-se então à vaca. Ela lhe disse:

- O quê Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não! Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a

ratoeira do fazendeiro.

Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua

vítima.

A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego. No escuro, ela

não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra

picou a mulher... O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou

com febre.

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Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que

uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o

ingrediente principal.

Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-

la. Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco.

A mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente veio para o

funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele

povo.

Na próxima vez que você ouvir que alguém está diante de um problema e

acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que, quando há uma

ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco.

O PROBLEMA DE UM É PROBLEMA DE TODOS.

Desconheço a autoria dessa história. Quem enviou-a para mim foi o Glauter Picolé, contador de histórias de Angra dos Reis.

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A H I S T Ó R I A D O G A T O

Esta é uma história que se passa na savana. Existem diferentes versões em vários países africanos.

Uma vez um gato saiu à procura do bicho mais poderoso de todos, e na sua busca, se deparou com alguns bichos que pulavam de galho em galho e faziam muito barulho que eram... (suspense): os macacos! - Esses bichos que pulam de galho em galho e fazem todo esse barulho devem ser muito poderosos. Acho que vou passar a acompanhá-los.

Então passou a viver entre os macacos. Viveu tranqüilo durante muito tempo.

Até que um dia os macacos ficaram alvoroçados e fugiram. Fugiram de medo, pois apareceu... um leão! Pensou então o gato: - Esse deve ser o mais poderoso. Dizem que é o rei dos animais. E se é o rei é porque é mais poderoso. Então o interesseiro gato passou a acompanhar o leão em todos os lugares,

durante muito tempo. Até que um dia o leão começou a arrepiar sua juba e correu em disparada,

pois apareceu um... rinoceronte! Quando viu aquele grande bicho, com sua carapaça grossa, seus olhos bem

pequenos e aquele charme todo especial, o chifre no focinho, pensou o gato: - Que bicho maravilhoso, com sua carapaça etc. Além de tudo espantou o leão, o rei da floresta. Só pode ser esse tal de rinoceronte o bicho mais poderoso. Então o gato passou a acompanhar o rinoceronte por todos os lugares

durante muito tempo. Até que um dia a terra começou a tremer, o rinoceronte começou a correr, pois estava aparecendo ali um... elefante!

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- Que bicho enorme, com essas orelhas, patas, esse rabinho pequeno, os marfins e essa tromba! Pôs até o rinoceronte para correr. Sem dúvida esse elefante é o mais poderoso. E imediatamente o gato passou a acompanhar o elefante por todos os

lados. Durante muito tempo o gato desfrutou da companhia e proteção do elefante. Porém um dia, durante uma calmaria, se ouve um estampido fazendo o elefante correr o mais que podia. Foi então que o gato se deparou com o responsável pela fuga do elefante: o caçador! Frustrado com o fracasso de sua caçada, o caçador se dirige para sua casa, enquanto o gato... - Que poder deste caçador! Com apenas um tiro conseguiu espantar aquele enorme elefante, é claro que ele só pode ser o mais poderoso de todos. Vou segui-lo. Chegando então em sua casa o caçador foi recepcionado por sua mulher:

- Oi querido, que gatinho bonito esse, onde você conseguiu? - Ele está me seguindo desde a floresta. - Por falar em floresta, você não ia caçar? - Fui... - Foi?!?! Então onde está a caça? - Eu tentei acertar um elefante, mas errei. - Você conseguiu errar o tiro em um elefante? Pois agora vai ter que nos conseguir carne, vai procurar! - Está bem querida... Dizendo isto partiu o homem para atender o pedido da mulher. O gato que

observava tudo atentamente ponderou: - Essa mulher manda no temido caçador, o terror de todos os bichos. Então tenho certeza que é a mais poderosa de todos. Então com muito interesse passou a fazer carinho nas pernas da mulher,

que se agradou com o bichano. - Oh! Que gatinho mais carinhoso. Pode ir dormir que depois te darei um pouco de leite.

O gato tomou seu assento na sala enquanto a dona da casa se ocupava de seus afazeres. Então o silêncio foi interrompido por gritos histéricos da mulher, que fez o gato despertar de sobressalto. Quando se aproximou da mulher, descobriu que ela gritava com medo de um... rato!

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Sorrateiramente, num único bote e algumas mastigadas o gato liquidou

com o rato. A mulher ficou tão grata: - Que gatinho maravilhoso, muito obrigado por me livrar desse monstro. Você é poderoso!!! Foi aí que o gato concluiu:

- Saí à procura do bicho mais poderoso. Pensei que eram os macacos, mas logo vi que eles morrem de medo do leão, que pode ser o rei dos animais, mas não enfrenta o rinoceronte. Que com toda aquela carapaça e aquele chifre não ousa a duelar com o elefante. Porém com todo seu tamanho jamais se vira contra o caçador. Esse aterroriza todos os bichos, mas se transforma em um medroso diante de sua mulher. Ela fala alto, dá ordens ao temido caçador, mas se desespera diante de um rato. Rato que eu, o gato, devoro num instante. Isso significa que eu, o gato, sou o mais poderoso dos bichos.

E desde então o gato se considerando o mais poderoso dos bichos passou a sair, entrar, comer e namorar à sua vontade. Achando que ninguém o comanda.

E como encontraram Tal qual encontrei Assim me contaram Assim vos contei!...

Enviada por Glauter Barros

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QUEM TE MATOU?

Um homem, certo dia, saiu da cidade andando a pé, e junto a uma porteira, longe de habitações, deu com uma caveira feia como só podem ser a morte e o pecado. Levianamente, deu-lhe um pontapé e caçoou: - Quem te matou, caveira? Mas qual não foi o seu espanto, quando, com um estalar dos ossos muito brancos, lavados de chuva e estorricados ao sol, a caveira respondeu: - Foi a língua. O pavor o sacudiu com ímpeto. Saiu por ali afora numa doida carreira, e dentro de pouco tempo estava novamente na cidade. Na sua excitação, contou a toda gente o que lhe acontecera. – Não pode ser – diziam. – Foi. Juro. Eu vi. Eu ouvi. Junto a uma porteira. – Uma caveira falando? Alucinação, meu amigo. – Verdade. Alguns acreditavam, outros não. A maioria, não. Mas a notícia correu a cidade, cercou-a, voou até o palácio do rei. O rei mandou chamar o moço. – Que história é essa? O moço contou tudo, ainda se arrepiando de se lembrar do susto.

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– Ela respondeu, juro, majestade. O rei se desencostou do trono e, com um dedo em riste, sacudindo-o diante do nariz do moço, falou: - Vou lá ver isso. Sou curioso. Mas veja lá, se for mentira sua, e você me fizer bancar o bobo, eu te mando pendurar na primeira árvore que encontrarmos. – Foi verdade, majestade – murmurou o moço. Aprestara, então, um grande cortejo. Ia adiante o rei no seu cavalo branco, ricamente ajaezado, com aperos de ouro e prata. E depois, os nobres, suntuosamente vestidos. E os soldados. Tudo aquilo fulgia ao sol. Bem adiante, caminhava o moço a pé, com as mãos amarradas. Tudo estacou junto à porteira. Parecia uma festa. Os que riam e caçoavam calaram-se ao ver a caveira, tão maligna parecia. Trêmulo, o moço perguntou: - Quem te matou, caveira? A caveira quieta estava e quieta ficou. O moço pensou que talvez tivesse falado muito baixo. Em voz mais alta, mas insegura, interpelou novamente: - Quem te matou, caveira? E a caveira, quieta. – Quem te matou, caveira? – gritava agora, com os olhos esbugalhados, saltadas as veias do pescoço, e um pavor infinito apertando-lhe o coração. – Quem te matou, caveira? Quem te matou, caveira? E a caveira muito branca, luzindo ao sol, em silêncio. O moço perdeu a cabeça, começou a dar-lhe pontapés, o golpe soava cavo, e ele ia atrás dela novamente, de um para outro lado, suando, rugindo.

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– Quem te matou, caveira? Apanharam-no, veio o carrasco no seu camisolão vermelho, fez o nó corrediço com dedos ágeis, e o moço ficou enforcado numa árvore à beira do caminho, enquanto a comitiva voltava, aparatosa mas sem animação, para a cidade. Ficou tudo em silêncio, no campo. Não passava vivalma. Decorreram as horas quentes do dia, anoiteceu. Quando se adensaram as primeiras sombras, aconteceu uma coisa extraordinária. A caveira, que não parecia dotada de movimento, rolou um pouco sobre si mesma e veio, aos pulos. Pulou até chegar sob a árvore onde estava o enforcado. E ali, com o feio buraco das órbitas vazias virado para cima, perguntou: - Eu não te falei que quem te matou foi a língua?

(In ROMERO, Sílvio. Folclore brasileiro; contos populares do Brasil) Fonte: http://www.jangadabrasil.com.br/dezembro/im41200c.htm _________________________________________________________________

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OS MACACOSOS MACACOSOS MACACOSOS MACACOS

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam

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batendo naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: — Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui...

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T T T T ÄxÇwt ÄxÇwt ÄxÇwt ÄxÇwt wÉ wÉ wÉ wÉ z|ÜtááÉÄz|ÜtááÉÄz|ÜtááÉÄz|ÜtááÉÄ

VVVVontam os livros antigos uma lenda que fala do amor de uma

estrela pelo sol - a lenda do girassol. Dizem que existia no céu uma estrelinha tão apaixonada pelo sol

que era a primeira a aparecer de tardinha, no céu, antes que o sol se escondesse. E toda vez que o sol se punha ela chorava lágrimas de chuva.

A lua falava com a estrelinha que assim não podia ser, que estrela nasceu para brilhar de noite, para acompanhar a lua pelo céu, e que não tinha sentido este amor tão desmedido! Mas a estrelinha amava cada raio do sol como se fosse a única luz da sua vida, esquecia até a sua própria luzinha.

Um dia ela foi falar com o rei dos ventos para pedir a sua ajuda, pois queria ficar olhando o sol, sentindo o seu calor, eternamente, por todos os séculos.

O rei do vento, cheio de brisas, disse à estrelinha que o seu sonho era impossível, a não ser que ela abandonasse o céu e fosse morar na Terra, deixando de ser estrela.

A estrelinha não pensou duas vezes: virou estrela cadente e caiu na terra, em forma de uma semente.

O rei dos ventos plantou esta sementinha com todo o carinho, numa terra bem macia. E regou com as mais lindas chuvas da sua vida.

A sementinha virou planta. Cresceu sempre procurando ficar perto do sol. As suas pétalas foram se abrindo, girando devagarinho, seguindo o giro do sol no céu. E, assim, ficaram pintadas de dourado, da cor do sol.

É por isso que os girassóis até hoje explodem o seu amor em lindas pétalas amarelas, inventando verdadeiras estrelas de flores aqui na Terra.

Extraída da internet

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A VISITA DA COMADRE MORTEA VISITA DA COMADRE MORTEA VISITA DA COMADRE MORTEA VISITA DA COMADRE MORTE

Alfred Russell Wallace

Um homem e sua mulher estavam a conversar, lamentando com profundo desgosto, senão com terror, a fatalidade da morte. – Se eu pudesse arranjar um meio de fazer-me amigo da Morte, - dizia o marido, - talvez assim eu não tivesse tanto temor dela. – Isso você consegue facilmente, - replicou-lhe a mulher. – Basta, para tanto, que você a convide para madrinha de nosso filho, que deve ser batizado na próxima semana. Nessa ocasião, você poderá falar-lhe a respeito desse assunto, e, certamente, ela não se recusará a prestar-lhe um pequeno favor, qualquer que seja. De acordo com esse alvitre, a Morte foi convidada e veio. Após a cerimônia e acabada a festa, já se ia ela retirando, quando o homem se lhe aproximou, e assim lhe disse: - Comadre Morte, como há muita gente no mundo para você levar embora, eu espero e desejo que você nunca venha buscar-me, chegada que seja a minha vez de pagar o seu tributo. – É muito certo, compadre, o que você acaba de dizer, - replicou-lhe a Morte; - mas a isso que você me está pedindo, eu, entretanto, decididamente, não posso atender. De Deus eu sou mandada para o mister que exerço, e quando recebo ordens para vir cá buscar alguém, não tenho remédio senão obedecer. Em todo caso, farei por você tudo que estiver ao meu alcance; e em qualquer circunstância, eu me comprometo, desde já, a dar-lhe um aviso, com oito dias de antecedência, a fim de que você assim disponha de algum tempo para se preparar. Vários anos se passaram, até que chegou, por fim, a vez de vir fazer-lhe a Morte a visita fatal. – Boa noite, compadre! – disse ela, assim que foi chegando. – Aqui venho hoje para um negócio bem desagradável. Já recebi ordem para vir buscá-

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lo daqui a oito dias; mas, conforme eu antes lhe havia prometido, hoje aqui venho somente para lhe fazer este aviso. – Ah, comadre! – exclamou o homem, - você voltou muito depressa! Agora, justamente, que eu vou indo tão bem em meus negócios, acho isto muito inconveniente. Se você consentisse em deixar-me em paz, por aqui mesmo, dentro de poucos anos eu ficaria um homem bastante rico. Seja mais complacente para comigo, comadre! Em meu lugar, você poderá levar qualquer outro homem. Estou certo de que, sem nenhuma dificuldade, você, por essa forma, ainda poderá dar-me um arranjo. – Sinto deveras, - replicou-lhe a Morte; - mas, agora, já não é possível, de jeito algum, em virtude de já ter recebido a ordem e ter que cumpri-la. De resto, uma vez assim decretado, ninguém escapa de pagar este tributo, e poucos são os que obtém um aviso com prazo tão longo, como o que eu acabo de conceder a você. Vou tentar, contudo, o que ainda for possível fazer em seu favor, e, mesmo no caso de ser bem sucedida em tal propósito, você só me verá daqui a oito dias. Desde já, porém, posso assegurar-lhe que nenhuma esperança tenho de conseguir bom resultado. Até a volta! Chegou finalmente o dia aprazado. O homem, coitado, andava em grande sobressalto, contando certo que, daquela vez, não escaparia. A sua mulher, no entanto, lembrou-se de um estratagema, que decidiram logo pôr em prática. Havia na casa um negro velho, o qual era o encarregado dos serviços de cozinha. Fizeram com que o negro vestisse as roupas do seu senhor e mandaram-no, em seguida, para fora. Por sua vez, o seu dono, tingindo o rosto de preto, fez-se tão parecido, quanto possível, com o velho escravo. Na noite fatal, conforme havia prometido, a Morte voltou. – Ah, comadre! – respondeu-lhe a mulher. – Meu marido não estava mais contando com o seu regresso, hoje, e, em vista disso, foi à cidade tratar de

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negócios… Decerto, agora, só muito tarde da noite é que voltará para casa. – Assaz embaraçosa é a situação em que agora me encontro,- disse a Morte, - pois nunca supus que meu compadre viesse um dia a proceder assim comigo… Que descortesia! Deixar-me neste embaraço! Terei que levar comigo outra pessoa. Quem é que está lá nos fundos da casa? Ante esta pergunta, a mulher mais se alarmou, pois ela supunha, até então, que a Morte logo dali partisse, em direção à cidade, à procura de seu marido. Dominando porém a emoção, e considerando que seria melhor mostrar-se calma, respondeu, então, muito amavelmente: - Aqui em casa, encontra-se somente um negro velho, que está lá na cozinha, acabando de preparar o jantar. – Sente-se, comadre! Descanse um bocado. – Talvez, assim, dê tempo de meu marido voltar. Estou muito contrariada pelo incômodo que ele lhe está causando. – Não, eu não posso demorar-me; não tenho tempo a perder!- retrucou-lhe a Morte. – Tenho ainda que fazer hoje uma grande caminhada. Levarei comigo outra qualquer pessoa. Nesse casso… Deixe-me ver… Quem sabe? Poderá ir o negro velho! E encaminhando-se pela casa a dentro, em direção à cozinha, lá encontrou aquele homem a fingir que se achava atentamente entregue aos cuidados do fogão. – Pois bem, já que o compadre não vem, como eu estou presumindo, em seu lugar vai este negro velho, - disse a Morte. E, antes que a mulher pudesse proferir qualquer palavra, estendeu o braço, e seu marido, caindo logo ao chão, no mesmo instante já era cadáver.

Retirado da página: http://www.jangadabrasil.com.br/novembro/im31100a.htm

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bá u|zÉwxá wÉ ÄxûÉ bá u|zÉwxá wÉ ÄxûÉ bá u|zÉwxá wÉ ÄxûÉ bá u|zÉwxá wÉ ÄxûÉ Conto da Etiópia

UUUUizunesh, uma mulher das terras altas de África, casou com

Gudina, um homem das terras baixas. Quando Bizunesh foi viver para casa de Gudina, descobriu que este tinha um filho chamado Segab. Segab era um rapaz muito triste porque a sua mãe tinha morrido de febre.

Bizunesh gostava muito de Segab e tentou ser uma verdadeira mãe para ele. Remendava todas as suas túnicas, consertava os seus sapatos e perguntava-lhe sempre de que comida gostava mais. Nunca se esquecia de guardar os melhores bocados de carne do guisado para ele. Mas o rapaz não lhe agradecia. Nem sequer lhe dirigia a palavra.

Bizunesh e o seu novo filho estavam frequentemente sozinhos na casa de Gudina. Gudina era mercador e viajava com caravanas para cidades distantes, que ficavam nas montanhas e nas planícies. Quando Bizunesh ficava sozinha com Segab, falava-lhe de forma gentil. Dizia-lhe coisas como “Sempre quis ter um filho e Deus mandou-me um. Gosto muito de ti.” E tentava muitas vezes beijá-lo. Mas Segab fugia dela e gritava, zangado:

— Não gosto de ti. Não és a minha verdadeira mãe. A minha mãe morreu. Não gosto de ti. Odeio-te.

Bizunesh tentava cozinhar os pratos favoritos de Segab. Mas Segab não os comia. Remendava as roupas dele, mas ele rasgava-as de propósito nos espinhos. O rapaz chegava a atravessar o rio para estragar os sapatos novos que ela lhe tinha comprado. Sempre que Bizunesh tentava beijar Segab, este fugia. A mulher chorava muitas vezes sozinha no quarto e ansiava pelo dia em que o filho a amasse tanto quanto ela o amava.

Um dia, Segab fugiu de casa e ficou na floresta até o pai o encontrar. Quando regressou a casa, não deixou que a madrasta o beijasse. Bizunesh chorou a noite inteira.

Na manhã seguinte, Bizunesh foi até à caverna de um famoso sábio. Contou-lhe que o seu novo filho não a amava e pediu ao velho:

— Dá-me uma poção de amor mágica. Assim, o Segab gostará tanto de mim quanto gostava da mãe.

O sábio respondeu:

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— Para fazer essa poção preciso dos bigodes de um leão velho e feroz, que habita o deserto das rochas negras, por detrás do rio. Traz-me os bigodes e far-te-ei a poção.

— Mas como hei-de fazê-lo? O leão vai matar-me de certeza. — Nisso não te posso ajudar. Só sei fazer poções de amor mágicas.

Nada sei sobre leões. Tens de encontrar uma maneira. Como Bizunesh amava muito Segab, decidiu tentar, apesar do medo.

Atravessou o rio até ao deserto das rochas negras e observou o leão à distância. Era uma animal feroz. Quando o ouviu rugir, Bizunesh teve tanto medo que desatou a fugir.

No dia seguinte, voltou ao deserto com comida. Colocou-a numa rocha, a um quilómetro de distância do leão e fugiu.

Na manhã seguinte, a mulher levou novamente comida ao leão mas, desta vez, colocou-a só a meio quilómetro do animal. No dia seguinte, a distância já só era de um quarto de quilómetro.

Finalmente, ganhou coragem para se aproximar ainda mais do animal. O leão viu-a e rosnou de forma amigável. Bizunesh ficou perto do animal, enquanto ele comia. Na manhã seguinte aproximou-se mais e, finalmente, deu ela mesma de comer ao animal. Viu as suas mandíbulas enormes abrir e fechar num estrondo, e ouviu o som dos dentes a rasgarem a carne. Bizunesh sentiu um medo enorme, mas amava muito o enteado. Fechou os olhos, estendeu a mão e arrancou os bigodes do leão. Este mal notou a pequena dor que sentiu ao perder três dos seus bigodes. Bizunesh correu até à caverna do velho sábio.

Estava ofegante quando lá chegou. — Trago-te os bigodes do leão! — gritou. — Faz-me a poção mágica e o

Segab irá de certeza amar-me como a uma mãe. — Não vou fazer-te nenhuma poção de amor. Aprendeste a aproximar-

te do leão. Faz o mesmo com o teu enteado e ele aprenderá a amar-te.

Retirado da página: http://espaco-esperanca.blogspot.com/2007/05/os-bigodes-do-leo-conto-da-etipia.html

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T ÇÉ|ät àx|ÅÉátT ÇÉ|ät àx|ÅÉátT ÇÉ|ät àx|ÅÉátT ÇÉ|ät àx|ÅÉát Um certo rapaz jovem e incauto apaixonou-se por uma moça que tinha um rosário de qualidades: era bonita, simpática, inteligente, culta e com um brilhante futuro profissional à frente. Os dois namoraram um tempo e, depois, o rapaz, caidinho de amores, resolveu pedir a mão da moça em casamento. O futuro sogro ficou feliz com a escolha, mas resolveu advertir o rapaz: - Olhe aqui, eu sei que você está encantado com minha filha, que é realmente muito charmosa, muito inteligente, muito culta, muito tudo. Mas eu preciso ser honesto com você e lhe dizer a verdade: a minha filha é teimosa que nem mula velha, ela é teimosa que nem burro manco..., por isso eu acho bom você pensar um pouco mais. Mas o rapaz respondeu: - Não se preocupe, meu sogro. Eu sei lidar com isso. E assim aconteceu o casamento com muita pompa e circunstância. O casal passou a noite de núpcias no sítio do sogro e depois, foram fazer uma longa viagem. Na volta, o sogro observou que a moça estava mansinha, mansinha. Doce que nem mamão com açúcar, que nem banana com melado. O sogro ficou com a pulga atrás da orelha: - O que será que esse moço andou fazendo com ela, para que ela fique assim tão meiguinha? Afinal, não agüentando mais de curiosidade, ele resolveu ir procurar o rapaz e perguntar o que havia acontecido. O jovem disse: - Nada não, meu sogro. Eu não fiz nada não. São coisas da vida... Mas o sogro não se conformou: - Coisas da vida não. Você vai me explicar direitinho o que foi que você fez. Depois de muita insistência, o rapaz resolveu contar:

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- Bem, meu sogro, é que eu inventei um método muito bom para lidar com o assunto. Veja bem: nós passamos a noite de núpcias no seu sítio, não foi? Pois bem. No meio da noite, quando o galo cantou pela primeira vez, eu me sentei bruscamente na cama e disse bem alto: “Eu falei com esse galo que não era para ele contar hoje! Galo teimoso!” A noiva acordou, me olhou com curiosidade e disse: “O que é isso?”. Eu não respondi. Virei para o outro lado e voltei a dormir. Dali a uma meia hora, o galo cantou de novo. Eu fiquei em pé na cama e falei com minha voz mais máscula: “Galo danado!Eu disse para você não cantar hoje!” A noiva me olhou assustada e não disse nada. Não tardou muito e o galo cantou outra vez. Aí, eu levantei da cama, atirei o lençol no chão, saí do quarto pisando duro, peguei o facão, fui lá fora, cortei a cabeça do galo e voltei para o quarto com o galo degolado e o facão na mão. Coloquei, triunfalmente o facão na mesa e disse: Para teimosia, tenho facão! - E é isso aí, meu sogro. Foi assim que eu consegui amansar a fera... O Sogro ficou interessadíssimo: - Puxa vida, mas você é esperto mesmo! É uma técnica muito eficiente. Eu fico aqui me perguntando se eu não poderia usá-la também. É que minha mulher é igualzinha à filha. Teimosa que nem governador de Minas! E assim, na próxima noite em que dormiram no sítio, o sogro resolveu repetir a façanha do genro. Quando o galo cantou pela primeira vez, ele se sentou com estardalhaço na cama e gritou: - Galo teimoso! Eu falei que hoje não era para você cantar! Sua mulher continuou dormindo. Dali a pouco, quando o galo cantou pela segunda vez, o sogro ficou em pé na cama e deu um pulo, gritando: - Galo Teimoso! Você está desobedecendo as minhas ordens! A mulher abriu um olho e tornou a fechar. Quando o galo cantou pela terceira vez, o sogro completou a encenação. Pegou o facão, foi lá fora, degolou o

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coitado do galo e entrou triunfalmente no quarto com o galo degolado e o facão na mão, dizendo: - Para teimosia, tenho facão! A mulher virou-se na cama, olhou para ele e disse: - Perdeu tempo, seu bobo. O galo a gente mata é na primeira noite... (Recolhida por Câmara Cascudo)

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T fxÜÑxÇàx wx bâÜÉT fxÜÑxÇàx wx bâÜÉT fxÜÑxÇàx wx bâÜÉT fxÜÑxÇàx wx bâÜÉ

VVVVerta vez, um negociante muito rico esqueceu, em meio à balbúrdia

de um leilão, uma caixa de moedas de ouro. Dentro da caixa havia também

uma jóia, uma serpente de ouro maciço, com a qual ele pretendia negociar.

Um homem pobre que passava por lá viu a caixa ali esquecida e, sem

saber a quem pertencia, levou-a consigo. Chegando à sua casa, muito surpreso

ficou ao ver toda aquela fortuna; e afligiu-se, pensando em quem a teria

perdido.

Quando deu pela falta do seu tesouro, o negociante desesperou-se e

mandou apregoar por toda a cidade que daria a quem devolvesse a caixa dez

moedas como recompensa.

A notícia chegou aos ouvidos do pobre, que, sem hesitar, apressou-se a

devolver o que achara. Procurou o dono da caixa, mas este, depois de contar

as moedas e ver que nada faltava, arrependeu-se da promessa que fizera e

resolveu ludibriar o pobre homem.

- Muito bem! – exclamou. – Vejo que não há mais pessoas honestas neste

mundo! Onde está a outra serpente?

- Outra serpente?!? – admirou-se o pobre. – Mas eu lhe juro que só havia

uma!

O rico, porem, continuou afirmando que eram duas as serpentes e que,

portanto, não lhe daria nada, visto que o roubo equivalia, ou mesmo

ultrapassava, as dez moedas prometidas.

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O homem pobre, ofendido e magoado, foi procurar o rei e pedir-lhe ajuda.

O rei mandou vir o negociante e ouviu dele a outra versão do acontecido.

Os ministros e nobres da corte foram unânimes em dar razão ao rico, pois o

outro, tão mal vestido, não lhes parecia digno de crédito; além disso, doía-lhes

admitir que alguém, e não eles, recebesse a recompensa.

O rei, no entanto, ponderou que ambos podiam ter razão. E, não

conseguindo decidir-se, mandou chamar um velho filósofo, conhecido por sua

sabedoria e senso de justiça.

O filósofo ouviu os dois litigantes. O pobre pareceu-lhe sincero, mas não

podia simplesmente decidir por ele, ofendendo o rico negociante. Então, assim

se dirigiu ao rei:

- Creio, ó majestade magnânima, que os dois estão dizendo a verdade. O

que encontrou a caixa não pode estar mentindo, pois por que devolveria ele

parte do tesouro se podia ficar com tudo? Esta me parece uma prova de sua

honradez. O dono da caixa, por outro lado, é rico e não tem motivos para

mentir. Se ele diz que na caixa havia duas serpentes de ouro, é porque esta

caixa que foi encontrada não é a dele. Sugiro, assim, majestade, que se dêem

dez moedas ao pobre e que se guarde a caixa até aparecer o seu legítimo dono;

quanto ao negociante, que continue a busca a seu tesouro!

Ouvindo aquilo, o homem rico soltou um lamento arrependido e

confessou tudo.

O rei perdoou-lhe, porém ordenou que desse ao pobre, além das dez

moedas, a valiosa serpente de ouro, como recompensa pelas injúrias que

sofrera.

Enviada a mim por Wilson Barbosa (SP)

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hÅt |wx|t àÉwt téâÄhÅt |wx|t àÉwt téâÄhÅt |wx|t àÉwt téâÄhÅt |wx|t àÉwt téâÄ Marina Colasanti

Um dia, o Rei teve uma ideia. Era a primeira

da vida toda, e tão maravilhado ficou com aquela ideia azul, que não quis saber de contar aos ministros. Desceu com ela para o jardim, correu com Ela nos gramados, brincou com ela de esconder entre outros pensamentos, encontrando-a sempre com igual alegria, linda ideia dele toda azul. Brincaram até o Rei adormecer encostado numa árvore.

Foi acordar tateando a coroa e procurando a ideia, para perceber o perigo. Sozinha no seu sono, solta e tão bonita, a ideia poderia ter

chamado a atenção de alguém. Bastaria esse alguém pegá-la e levar. É tão fácil roubar uma ideia:

Quem jamais saberia que já tinha dono? Com a ideia escondida debaixo do manto, o Rei voltou para o

castelo. Esperou a noite. Quando todos os olhos se fecharam, saiu dos seus aposentos, atravessou salões, Desceu escadas, subiu degraus, até Chegar ao Corredor das Salas do Tempo. Portas fechadas, e o silêncio. Que sala escolher?

Diante de cada porta o Rei parava, pensava, e seguia adiante. Até chegar à Sala do Sono. Abriu. Na sala acolchoada os pés do Rei afundavam até o tornozelo, o olhar se embaraçava em gazes, cortinas e véus pendurados como teias. Sala de quase escuro, sempre igual. O Rei deitou a ideia adormecida na cama de marfim, baixou o cortinado, saiu e trancou a porta. A chave prendeu no pescoço em grossa corrente. E nunca mais mexeu nela.

O tempo correu seus anos. Ideias o Rei não teve mais, nem sentiu falta, tão ocupado estava em governar. Envelhecia sem perceber, diante dos educados espelhos reais Que mentiam a verdade. Apenas, sentia-se mais triste e mais só, sem que nunca mais tivesse tido vontade de brincar nos jardins.

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Só os ministros viam a velhice do Rei. Quando a cabeça ficou toda branca, disseram-lhe que já podia descansar, e o libertaram do manto. Posta a coroa sobre a almofada, o Rei logo levou a mão à corrente. - Ninguém mais se ocupa de mim - dizia atravessando salões e descendo escadas a caminho das Salas do Tempo - ninguém mais me olha. Agora posso buscar minha Linda ideia e guardá-la só para mim.

Abriu a porta, levantou o cortinado. Na cama de marfim, a ideia dormia azul como naquele dia. Como naquele dia, jovem, tão jovem, uma ideia menina. E linda. Mas o

Rei não era mais o Rei daquele dia. Entre ele e a ideia estava todo o tempo passado lá fora, o tempo

todo parado na Sala do Sono. Seus olhos não viam na ideia a mesma graça. Brincar não queria, nem Rir. Que fazer com ela? Nunca mais saberiam estar juntos como naquele dia.

Sentado na beira da cama o Rei chorou suas duas últimas lágrimas, as que tinha guardado para a maior tristeza.

Depois baixou o cortinado, e deixando a ideia adormecida, fechou para sempre a porta.

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T cxÖâxÇ|Çt _âé TéâÄT cxÖâxÇ|Çt _âé TéâÄT cxÖâxÇ|Çt _âé TéâÄT cxÖâxÇ|Çt _âé TéâÄ

[[[[avia, antigamente, na velha cidade de Jidda, na Arábia, um rei

que era muito curioso. Esse rei chamava-se El-Khamil. Morava em um rico e belo palácio no alto de um morro. Do palácio do rei avistava-se o porto de Jidda com os seus navios. Uma noite o rei acordou e, sentindo-se sem sono, foi passear na larga varanda de seu palácio. A noite estava quente, o céu sem lua, todo estrelado. Nem a mais leve aragem agitava as palmeiras do jardim. O rei olhou para a cidade. Tudo escuro. A cidade dormia, dormia tranqüila. De repente, o rei avistou, no meio da escuridão, uma luzinha. A luzinha brilhava, brilhava que era uma beleza! Era uma pequenina luz azul. E de um azul muito vivo. O rei ficou intrigado. Que luzinha seria aquela? Quem

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estaria acordado, àquela hora? Algum estudante preparando sua lição? Algum sábio estudando novos cálculos? Algum artista preocupado em acabar um quadro? Algum operário concluindo uma tarefa? Quem seria? No dia seguinte, muito cedo, o rei mandou chamar o prefeito da cidade. - Prefeito – disse o rei, muito sério – esta noite levantei-me, já muito tarde, cheguei à varanda, e avistei, ao longe, muito ao longe, no meio da escuridão, uma luz azul muito viva, muito brilhante. Sinto-me intrigado com esse caso. Desejo saber quem passou a noite acordado, em vigília. Ordeno-lhe que faça indagações, que abra um inquérito, a fim de descobri o misterioso dono daquela luzinha azul. Respondeu o prefeito, em tom grave, e inclinando-se diante do rei: - Esse inquérito que Vossa Majestade acaba de ordenar é inútil. Posso desde já, informar qual era o dono da pequenina luz azul... que feriu os olhos de Vossa Majestade. Espantou-se o rei ao ouvir aquilo. E disse:: - Já sabe, então, qual era o dono daquela pequenina luz azul? O prefeito inclinou-se outra vez e, com um sorriso orgulhoso, declarou:

- Aquela luz provinha do oratório da minha casa. - Do seu oratório? – estranhou o rei. - Sim – confirmou o prefeito – do meu oratório. Passei a noite em orações, pedindo

a Deus pela preciosa saúde de Vossa Majestade! Pela saúde e pela felicidade do rei! Ora, o rei, ao ouvir aquela inesperada declaração do prefeito, ficou sinceramente comovido. E disse: - Muito aprecio a sua amizade, amigo prefeito. A sua dedicação... Passar a noite acordado por minha causa, em orações! Que maravilha! Saberei responder aos cuidados que lhe mereço. Retirando-se o prefeito, o rei mandou chamar o ministro. Veio o ministro. Era um homem alto, de barbas pretas, meio calvo. Usava, na orelha esquerda, um brinco de ouro em forma de meia lua. - Meu caro Senhor Ministro – declarou o rei – resolvi dar o prêmio de cinco mil moedas de ouro ao prefeito desta formosa cidade de Jidda! - Cinco mil moedas! Moedas de ouro? Mas isto é um dinheirão! – protestou o ministro – Que teria feito o governador da cidade para merecer tão valioso presente? - Praticou uma ação nobre e sublime – explicou o rei. E narrou ao ministro, do princípio até o fim, o misterioso caso da pequenina lua azul. - E sabia o sr. ministro qual era a origem da luzinha azul? Era o oratório do bom prefeito. O prefeito passara a noite em vigília, rezando pela saúde e pela felicidade do rei! Ao ouvir aquilo, o ministro mostrou-se profundamente abalado. Ficou

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pálido. Uma ruga na testa. Parecia trêmulo. Até o brinco de meia lua tremia. E disse ao rei: - Há um engano, muito sério, nesse caso da pequenina luz azul. O prefeito, infelizmente, está faltando à verdade. A luzinha azul não era do seu oratório. Não podia ser. E, antes que o rei o interrogasse, o ministro foi logo dizendo: - Aquela luzinha, que tanto brilhava na escuridão, vinha da velha lâmpada de azeite que ilumina a minha sala de estudos. Passei a noite acordado, estudando os delicados problemas do governo: o custo da vida, os transportes, a criação dos camelos, os novos mercados, a venda das tâmaras – tudo, enfim, que Vossa Majestade deve resolver com urgência para tornar o povo rico e feliz. - Grande e esforçado amigo – declarou o rei, abraçando o seu ministro – Estou encantado com sua dedicação, com o seu amor ao trabalho. Retirou-se o ministro. Mandou o rei chamar o general. O general era um homem corpulento, de ombros largos, sobrancelhudo. Usava um turbante verde com barra branca. Ostentava no peito várias medalhas. Uma dessa medalhas tinha a forma de um camelo. - Meu caro general, resolvi acender ao nosso bom ministro o título de Cheique número um. Ele passará a morar num grande palácio e terá quarenta empregados! O general mostrou-se profundamente surpreendido com as palavras que acabara de ouvir do rei. - Cheique número um? Quarenta empregados? Que teria feito o ministro para merecer tão altas regalias? O rei contou, então, ao general, o caso da pequenina luz azul. A tal luz que era viva, brilhando no meio da cidade escura. - E sabia o general qual era o dono da luzinha misteriosa? O dono da luzinha azul era o ministro. O ministro passara a noite em vigília estudando os mais importantes problemas do governo. Ao ouvir aquilo, o general deu uma risada: - Ah! Ah! Ah! Que fantasia! - E acha o sr. general – perguntou o rei – que... tenha havido... engano... sim... um engano do ministro? - Acho não! Tenho certeza. Onde já se viu uma lâmpada de azeite dar luz azul? Onde já se viu? E sabe Vossa Majestade donde vinha a luzinha azul? O general, neste ponto, fez ligeira pausa, e logo prosseguiu: - Era a luz da lâmpada de minha barraca de guerra. - Da sua barraca? – estranhou o rei. - Sim, sim... – confirmou o general – Ao cair da tarde ouvi de pessoa bem informada certos boatos... Algumas tribos rebeldes, chefiadas por meia dúzia de bandidos, preparavam um ataque ao palácio real. Como medida de precaução, para evitar qualquer surpresa, resolvi ficar de prontidão. Passei a

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noite vigilante, zelando pela segurança de Vossa Majestade, pronto para entrar, a qualquer momento, em combate, com forças de minha absoluta confiança! - Por Deus! – exclamou o rei – Que valentia! Que heroísmo! Não sei como poderei agradecer tão grande serviço prestado ao país! - Que fazer? – pensava o rei, sozinho, depois que o general se despedira – Vou conceder-lhe o título de Príncipe e uma pensão anual! Não... ele mercê muito mais ainda! Salvou-me a vida... Salvou-me o trono!... Depois de muito refletir, resolveu o rei consultar um sábio, isto é, um ulemá (como dizem os árabes). Esse sábio fora um professor do rei. - Na minha opinião – respondeu o sábio – Vossa Majestade não deve acreditar nem no prefeito, nem no ministro, nem no general. Quero crer que a tal luz provinha do novo farol que indica, aos navegantes, a entrada do porto, assegurando-lhes o bom caminho em noite de tormenta. - Era, então, a luz do farol? – exclamou o rei – Vou apurar a verdade! E, nessa mesma noite, três horas depois da última prece, o rei levantou-se do seu leito, chegou à varanda e olhou para a cidade que dormia a seus pés. Que surpresa teve o rei! Que grande surpresa! Como já era conhecida de todos a notícia das prometidas recompensas, a cidade surgia, naquela noite, extraordinariamente iluminada! Nunca se vira tanta luz azul! Eram milhares e milhares de lâmpadas, lanternas e lampiões! Queriam todos agradar ao rei! E, no meio daquelas luzes todas brilhava, perdida ao longe, a luzinha azul que despertara a atenção do rei. Era a luz do farol! - É assim – pensou o rei – para cada pessoa honesta e dedicada, há uma porção de mentirosos e bajuladores! Malba Tahan

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A lenda dos sapatos vermelhosA lenda dos sapatos vermelhosA lenda dos sapatos vermelhosA lenda dos sapatos vermelhos

Era uma vez....

.... uma menina pobre e sozinha, tão pobre que nem sapatos tinha. Ela morava em uma cabana, na floresta, e seu grande sonho era ter um par de sapatos vermelhos. Por isso, foi guardando todos os trapos vermelhos que encontrava, até que conseguiu fazer um par de sapatos vermelhos de pano.

Ela adorava seus sapatos, usá-los fazia com que se sentisse feliz, mesmo tendo que passar os dias procurando frutas e nozes para comer, no bosque solitário

onde vivia.

Um dia....

.... ela estava andando por uma estrada, quando passou uma velha muito rica, em uma carruagem dourada. A velha parou ao lado da menina, e disse "vou leva-la para minha casa, e cria-la como minha filha". Pobre e sem esperanças,

a menina aceitou o convite e foi morar na casa da velha senhora.

Ao chegar, os criados lhe deram banho, pentearam, cortaram o cabelo e vestiram com roupas novas e muito bonitas. Animada com as coisas novas, a

menina nem se lembrou dos trapos que usava, nem do seus adorados sapatinhos vermelhos. Quando, passados alguns meses, perguntou sobre eles aos criados, foi informada que a senhora havia jogado tudo no fogo, dizendo

que as roupas eram imundas e os sapatos eram ridículos.

A menina ficou muito triste, porque adorava os seus sapatinhos vermelhos. Além disso, a vida nova tinha perdido todo o encanto. Ela era obrigada a ficar sentada, quietinha, o dia todo. Não podia comer com as mãos. Não podia correr ou pular, ou rolar na grama. E, quanto mais o tempo passava, mais

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falta ela sentia de seus lindos sapatinhos vermelhos. Mais importantes eles se tornavam.

O tempo passou...

...e chegou o dia de ser crismada - porque a velha senhora era muito religiosa e fazia questão de que a menina recebesse esse sacramento. Essa era uma grande ocasião para ela, que queria que a menina se apresentasse impecável na igreja. Costureiras foram chamadas para fazer o vestido. E a senhora levou a menina a um velho sapateiro aleijado, que era considerado muito bom, para fazer um

par de sapatos novos para a ocasião especial. Na vitrine do sapateiro havia um lindo par de sapatos vermelhos, do melhor couro. A menina escolheu os sapatos vermelhos, e a velha senhora, coitada, que enxergava tão mal que nem podia distinguir as cores, deixou que ela os levasse. O velho sapateiro, conivente, piscou para a menina e embrulhou os

sapatos.

A entrada da menina na igreja, no dia seguinte, foi um escândalo. Todos olhavam para os sapatos vermelhos da menina. Como alguém podia se apresentar para a crisma com uns sapatos tão indecentes? A menina, entretanto, achava seus sapatos mais lindos do que qualquer coisa.

Quando chegou em casa, a tempestade estava armada. A velha senhora, que havia ouvido todos os comentários maldosos, proibiu a menina de usar novamente os tais sapatos." Nunca volte a usar os sapatos vermelhos"!,

ordenou, furiosa.

A menina, entretanto, estava fascinada pelos sapatos. No domingo seguinte, quando foi a missa de novo, colocou os sapatos - e, novamente, a velha senhora não percebeu de que se tratava, pois enxergava muito mal.

Na entrada do templo, havia um velho soldado ruivo, com o braço enfaixado. Ele se reclinou em frente à menina, dizendo "posso tirar o pó de seus lindos sapatos"? A menina, toda orgulhosa, deixou que ele o fizesse. Enquanto limpava os sapatos, ele disse para a menina "não se esqueça de ficar para o

baile", e cantou uma musiquinha alegre.

Novamente, se repetiu a desaprovação de todos dentro da Igreja. A menina, fascinada com seus sapatos, nem ligava. Não escutava a missa, não via

ninguém. Só olhava para seus lindos sapatos vermelhos.

Na saída, o velho soldado disse para a menina "que belas sapatilhas para

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dançar". E a menina, mesmo sem querer, começou a rodopiar ali mesmo.

Sem parar...

...ela continuou dançando, dando voltas, fazendo piruetas. Todos corriam atrás, assustados. O cocheiro da velha senhora tentou alcançá-la, mas foi em vão. Finalmente, um grupo de pessoas conseguiu segurá-la, e o cocheiro

arrancou os sapatos vermelhos, com grande dificuldade, dos pés da menina.

Ao chegar em casa, a velha senhora guardou os sapatos no fundo do armário, e disse para a menina "agora me ouça, nunca mais use esses malditos sapatos vermelhos". A menina, entretanto, não conseguia parar de pensar nos sapatos. Muitas vezes abria o armário, e ficava espiando os seus lindos sapatinhos

vermelhos.

Algum tempo depois a velha senhora adoeceu. A menina, que já tinha que se comportar e ficar quieta, agora tinha que andar na ponta dos pés pela casa,

para não perturbar. Estava enjoada, entediada. E não resistiu.

Abriu o armário...

... e pôs nos pés os sapatos vermelhos. Imediatamente, começou a dançar, rodopiar, bailar. Era como se os sapatos a guiassem. Eles a levavam, dançando, para onde queriam. E assim ela saiu de casa, dançando, e atravessou a propriedade, dançando, e chegou na floresta, dançando.

Na entrada da floresta, estava o velho soldado que havia encontrado na porta da igreja no dia da crisma.Ele estava encostado em uma árvore, e a saudou, repetindo "puxa, que lindos sapatos para dançar"! E lá se foi a menina,

dançando, atravessando campos e cidades. Exausta, tentava, vez por outra, arrancá-los. Mas não conseguia.

Dançando, dançando, dançando, foi-se a menina pelo mundo. Tentou entrar em uma igreja para se benzer, mas o sacristão disse-lhe que não poderia, pois seus sapatos eram malditos. Tentou se aproximar de alguém, mas a maioria não queria ajudá-la, com medo de sua maldição. E os poucos que o faziam não

conseguiam arrancar os sapatos malditos dos seus pés.

Por fim, exausta, a menina procurou o carrasco de uma aldeia, e lhe implorou que cortasse os sapatos. O carrasco tentou, mas não conseguiu. Desesperada, a

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menina disse "então corte-me os pés, não posso viver dançando".

O carrasco, penalizado e implorando perdão a ela e a Deus, cortou seus pés, com lágrimas nos olhos. E os seus pés, com sapatinhos vermelhos e tudo,

continuaram dançando, dançando, dançando, pelo mundo afora.

agora, a menina era uma pobre aleijada...

... e teve que aprender a viver dessa maneira. Sem sapatos vermelhos, e trabalhando como criada.

Fonte: http://www.femininoplural.com.br/fogo/lenda/sapatolenda.html Leia uma análise dessa história no endereço acima.

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Há muito tempo, num reino distante, havia um rei que não acreditava na bondade de Deus. Tinha, porém, um súdito que sempre lhe lembrava dessa verdade. Em todas as

situações, dizia:

- Meu Rei, não desanime, porque tudo que Deus faz é perfeito. Ele nunca erra!

Um dia, o rei saiu para caçar juntamente com seu súdito, e uma fera da Floresta atacou o rei. O súdito conseguiu matar o animal, porém não evitou que sua majestade perdesse o dedo mínimo da mão direita. O rei, furioso pelo que havia acontecido e sem mostrar agradecimento por ter sua vida salva pelos esforços de seu servo, perguntou a ele:

- E agora, o que você me diz? Deus é bom? Se Deus fosse bom eu não teria sido atacado,

e não teria perdido o meu dedo.

O servo respondeu:

- Meu rei, apesar de todas essas coisas, somente posso dizer-lhe que Deus é bom, e que mesmo isso, perder um dedo, é para seu bem! Tudo que Deus faz é perfeito. Ele Nunca

erra!!!

O rei, indignado com a resposta do súdito, mandou que fosse preso na cela mais escura e mais fétida do calabouço. Após algum tempo, o rei saiu novamente para caçar e

aconteceu dele ser atacado, dessa vez por uma tribo de índios que vivia na selva. Esses índios eram temidos por todos, pois se sabia que faziam sacrifícios humanos para seus deuses. Mal prenderam o rei, passaram a preparar, cheios de júbilo, o ritual do sacrifício. Quando já estava tudo pronto e o rei já estava diante do altar, o sacerdote indígena, ao

examinar a vítima, observou furioso:

- Este homem não pode ser sacrificado, pois é defeituoso! Falta-lhe um dedo! E o rei foi libertado.

Ao voltar para o palácio, muito alegre e aliviado, libertou seu súdito e pediu que viesse

em sua presença. Ao ver o servo, abraçou-o afetuosamente, dizendo-lhe:

- Meu caro, Deus foi realmente bom comigo! Você já deve estar sabendo que escapei da morte justamente porque não tinha um dos dedos. Mas ainda tenho em meu coração uma grande dúvida: Se Deus é tão bom, por que permitiu que você fosse preso da maneira como foi? Logo você, que tanto o defendeu?! O servo sorriu e disse:

- Meu rei, se eu estivesse junto contigo nessa caçada, certamente seria sacrificado em teu

lugar, pois não me falta dedo algum!

Portanto, lembre-se sempre: DEUS NUNCA ERRA!!!

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Contam que uma vez um homem muito rico morreu e deixou suas terras para os filhos. Todos receberam terras férteis e boas, com exceção do mais novo, para quem sobrou um brejo inútil para a agricultura. Seus amigos se entristeceram com o fato e o visitaram, lamentando a injustiça que haviam feito com ele. Mas ele mantinha-se tranquilo e só lhes disse uma coisa: "Se é bom ou ruim, só o tempo dirá".

No ano seguinte, uma seca terrível se abateu sobre o país, e as terras dos seus irmãos foram devastadas: as fontes secaram, os pastos ficaram esturricados, o gado morreu. Mas o brejo do irmão mais novo, com suas águas que antes só atrapalhavam, se transformou num oásis fértil e belo. Ele aproveitou o terreno, ficou rico e comprou um lindo cavalo por um preço altíssimo. Seus amigos organizaram uma festa porque estavam muito felizes com o acontecido. Mas dele só ouviram uma coisa: "Se é bom ou ruim, só o tempo dirá".

No dia seguinte, seu cavalo de raça fugiu, e foi grande a tristeza. Seus amigos vieram e lamentaram o acontecido. Mas o que ele lhes disse foi: "Se é bom ou ruim, só o tempo dirá".

Passados sete dias, o cavalo voltou trazendo consigo dez lindos cavalos selvagens. Vieram os amigos para celebrar essa nova riqueza, mas o que ouviram foram as palavras de sempre: "Se é bom ou ruim, só o tempo dirá".

No dia seguinte, seu filho, sem juízo, montou um cavalo selvagem. O cavalo deu pinotes e o lançou longe. O moço quebrou uma perna e ficou todo machucado. Voltaram os amigos para lamentar a desgraça. "Se é bom ou ruim, só o tempo dirá", o pai repetiu.

Poucos dias depois, vieram os soldados do rei para levar os jovens para a guerra. Todos os moços tiveram que partir, menos o seu filho de perna quebrada. Os amigos se alegraram e vieram festejar. O pai viu tudo e só disse uma coisa: "Se é bom ou ruim, só o tempo dirá…"

Texto com pequenas adaptações. Citado por Rubem Alves no livro O retorno e Terno (Papirus Editora) – Disponível em: carmeliacandida.blog.terra.com.br

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E entrou por uma porta, saiu por outra,

Quem quiser, que conte outra.

E outra... e outra... e outra...

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http://deborakikuti.blogspot.com/- Blog da contadora de histórias Débora Kikuti (SP)