Ergonomia e Outras Medidas Compensatórias e Preventivas Do Estresse Na Odontopediatria

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  • XII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 7 a 9 de Novembro de 2005

    Ergonomia e outras Medidas Compensatrias e Preventivas do EstresseOcupacional na Odontopediatria

    Jorge Andr Ribas Moraes (UNISC) [email protected] Andr Luiz Moraes (UNISC) [email protected]

    Renita B. Moraes (UNISC) [email protected] da Silva Machado (UNISC) [email protected]

    Elpidio Oscar Benitez Nara (UNISC) elpidio @unisc.br

    Resumo

    O interesse pelo estudo do estresse no trabalho tem sido crescente na literatura cientfica,particularmente nos ltimos anos. Um dos motivos para esse crescente interesse devido aoimpacto negativo do estresse ocupacional na sade e bem estar dos trabalhadores(PASCHOAL e TOMAYO, 2004). O odontopediatra est sujeito ao estresse ocupacionalpelas condies em que se mostra organizada a estrutura do seu trabalho. A partir disso, esteartigo apresenta algumas medidas de preveno ou reduo dos processos de estresseocupacional, articulando a ergonomia como uma ferramenta imprescindvel na qualidade dodesenvolvimento das atividades ocupacionais na odontopediatria.Palavras-chave: estresse ocupacional, ergonomia, odontopediatria, psicologia do trabalho.

    1.Introduo

    Estudos sobre o estresse vm se desenvolvendo desde a aplicao de seu conceito inicial scincias biolgicas. Essa terminologia era adotada exclusivamente nos estudo da resistnciasde materiais, onde se entendia o estresse como a capacidade de manuteno da forma originalde um material slido submetido a uma fora externa at o rompimento do mesmo. Aaplicao desse conceito nas cincias biolgicas feita pelo fisiologista Hans Seyle na dcadade 1920 (LIPP e cols, 1998), veio a denotar a capacidade do organismo em suportarmodificaes ambientais que exigissem uma reorganizao s condies primeiras,originando um estado mais adequado e de menor comprometimento ao organismo ainda emcontato com os eventos tidos como estressores.Os quadros de estresse se desenvolvem diante da percepe dos indivduos dos processos defragilizao da qualidade de vida, aliado muitas vezes comprometimentos de ordem fsica emental. Tal afirmao amplia o entendimento e a implicao do estresse na vida,ultrapassando assim o seu conceito inicial como sendo a sndrome geral da adapatao. Esseconceito sugere atravs do termo sndrome, que o estresse articulado e interfere a diversosfatores da vida, atingindo um comprometimento geral da condio humana devido exposio ao evento estressor, sugerindo que possam ser esperadas em diferentes indivduosrespostas psicofisiolgicas muitos semelhantes. O que se observa que um mesmo eventoestressor desencadeia diferentes reaes em diferentes indivduos, apontando que existamcondies individuais que respondam um estressor. Com isso, o entendimento atual doestresse no se ops totalmente a primeira definio proposta, mas se ampliou em direo squestes perceptuais que os indivduos tm dos eventos estressores, entendendo o estressecomo um estado de desacomodao, de desorganizao do organismo frente a algo que tensor ou mesmo ameaador (MACHADO, 2003, p.19). Entende-se assim que a percepoe o julgamento dos eventos presentes na vida dos indivduos que explicam a abrangncia doimpacto do estresse na dimenso psicofisiolgica do ser humano, entendendo que apersonalidade um dos mais importantes fatores de vulnerabilidade, pois condiciona nosso

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    comportamento e nossa interpretao subjetiva do potencial estressor de uma situao(SOUZA, 2001, p.65).Delboni (1997), diz que o estresse est intimamente relacionado ao nosso poder de mudanase adaptaes nas mais diversas situaes de nossas vidas. Esse entendimento desloca o sentidodo estresse como sendo estreitamente ligado doena, passando a ser entendido como umareao normal (e esperada) do organismo frente uma condio de vida que pede prontamenteuma mobilizao adaptativa. Assim, todo o empreendimento humano na tentativa de obteruma resolutibilidade desencadeia um processo de estresse pela utilizao da energiaadaptativa do organismo (LIPP e cols., 1998), fazendo que o investimento dessa energiaadaptativa feita pelo indivduo para empreender-se na superao da situao estressora, acabegerando desgastes fsicos e mentais, tendendo a se cronificarem se os eventos percebidoscomo estressores no cessarem.Quando o equilbrio biolgico se encontra ameaado, o organismo aciona mecanismosbiolgicos neuro-hormonais que geram alteraes fisiolgicas - cardiovasculares,respiratrias, gastrointestinais, aumento da sudorese, da evacuao etc., (BAUK, 1999;KAPLAN et al, 1997). Alm dessas reaes fisiolgicas, reaes psicolgicas como aumentosbito da motivao, apreenso, ansiedade, confuso, entre outras, aliadas necessidade deresponder afetivamente s situaes, se mostram presentes. Essas reaes psicolgicas advmdo empreendimento cognitivo do indivduo na tentativa de solucionar as problemticas emquesto. Com esse objetivo, aumentam a vigilncia, a ateno, a necessidade do raciocnio,memria de trabalho, memria semntica, tenso, etc, (CATALDI, 2002; VASCONSELOS,2000; LIPP e cols., 1998). Essas demandas so entendidas como articuladas s condies deenfrentamento que o indivduo empenha na tentativa de solucionar as situaes presentes, ouseja, aos mtodos que o indivduo se apropriou ao longo de sua vida para resolver essassituaes, onde busca entender como a experincia de outras situaes vivenciadas possam seraladas como forma de facilitar outras formas de resolutibilidade.Trs componentes estariam articulados no processo de mobilizao psicofisiolgica aoestresse: o estressor, o contexto e a vulnerabilidade individual (GRIMBERG, 1991). Nainterseco entre esses trs elos estaria tanto o cerne do desenvolvimento de quadros maisincapacitantes de estresse, como a via de se empreender medidas para a recuperao dessesquadros.Levando esse entendimento para a realidade do trabalho, se pode compreender que odesenvolvimento de uma atividade laboral abarca essas trs dimenses que se articulam,possibilitando o surgimento do estresse. Assim, os estressores correspondem toda demandaque cabe ao indivduo resolver, podendo essa demanda exigir deste trabalhador diferentesnveis de implicao. Partindo desse entendimento, logicamente se sugere que quanto maior onvel de implicao que certa atividade (ou demanda administrativo-organizacional) exige dotrabalhador, pareado s menores condies percebidas por esse sujeito em responder taldemanda, alm da sua vulnerabilidade psicofisiolgica, maior ser o quadro de estresse queesse trabalhador pode apresentar. Com isso, aliando os conhecimentos j adquiridos pelaantropometria, biomecnica, fisiologia, ergonomia, psicologia cognitiva, entre outrasdisciplinas, a estruturao do prprio ambiente de trabalho considerado como elementar naetiologia do estresse, tornando-se assim pertinente os incursos junto essa instncia. Assim, pode-se aludir a contribuio da ergonomia no processo de organizao de umambiente em que o trabalho possa ser exercido de modo que o organismo sofra menosimpacto possvel, evitando cargas mental e fsica excessivas, atendendo assim realidademultifatorial do processo de adoecimento no ambiente de trabalho, especificamente, notrabalho do cirurgio-dentista odontopediatra.

    2.O Stress Ocupacional na Odontopediatria

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    O trabalho uma das fontes de satisfao de diversas necessidades humanas, como auto-realizao, manuteno de relaes interpessoais e sobrevivncia (MURTA e TRCCOLI,2004), e tambm se mostra como uma fonte de adoecimento devido presena de riscos aoprprio trabalhador.A segunda causa brasileira de afastamento e diminuio da produtividade no trabalho seriamdevidos aos comprometimentos ocupacionais (ASSOCIAO BRASILEIRA DEPREVENO DE ACIDENTES, 2000), que podem estar associados a fatores fsicos,qumicos, biolgicos, ergonmicos e psicossociais (ONG, 1994; DURO, 1987). O estresse ocupacional desenvolve-se pela apresentao de demandas estressoras no ambientede trabalho. Porm, a simples presena de eventos no se caracteriza como um estressor, umavez que no tenha sido percebido pelos trabalhadores como tal (LAZZARUS, 1995), pois aspercepes dos indivduos so mediadores do impacto do ambiente de trabalho sobre simesmos (PASCHOAL e TOMAYO, 2004). Assim, o estresse ocupacional pode ser entendidocomo o resultante das percepo entre a discordncia das exigncias da tarefa e os recursospessoais para cumprir tais exigncias (FIGUEROA et al, 2001), gerando custos elevados aosindivduos, organizaes e a sociedade, pelos efeitos deletrios sobre a produtividade,absentesmo, sade e bem estar em geral (SPIELBERGER e REHEISER, 1994).Na rea da sade, pelas necessidade do contato interpessoal direto, aliado as demandas detrabalho, se apresentam as profisses que despertam maiores interesses cientficos quanto aoestudo do desenvolvimento de quadro mais severos de estresse entre seus trabalhadores.Autores dizem que a odontologia a profisso mais estressante da rea da sade (FREEMANET AL, 1995 e BOURASSA & BAYLARD, 1994), pela necessidade do dentista em conciliaras tcnicas de interveno na profilaxia dos comprometimentos odontolgicos, viabilizadapelo contato direto com os pacientes nem sempre colaboradores, bem como displicentes dasua implicao no processo de higienizao e cuidados com a sade bucal. Outro fator que demarca intenso comprometimento da sade do odontlogo, possibilitando odesenvolvimento de quadros mais agudos de estresse, devido sua exposio um ambienteocupacional onde h existncia de elementos ergonmicos inadequados s condiesantropomtricas e sensoriais humanas, fazendo com que esse profissional se submeta aoempreendimento de tcnicas que venham sobrecarregar msculos, tendes e demais membrossuperiores, coluna, regio cervical, punhos, braos, ante-braos e mos. Alm disso, sedestaca o pequeno foco de atuao do seu trabalho, a boca, fazendo com que se redobre aateno, intensificando a necessidade do detalhamento da regio a ser explorada, necessitandouma iluminao especfica nem sempre disponvel em razo do no cumprimento por partedas fbricas desses instrumentos, s normas sugeridas para o desenvolvimento dessasatividades, ocasionando carga mental (sensorial) indevida.A carga de trabalho pode ser fsica, psquica ou cognitiva (WISNER, 1987), marcando nveisquantitativos de comprometimento, ou seja, de efeito cumulativo. A condio qualitativa dacarga mental se refere as atividades ou mesmo demandas administrativas com que oprofissional est submetido e sofrendo impacto. As inadequaes ergonmicas (iluminao inadequada, equipamentos geradores de rudos,odores, etc.), aliadas s ms posturas durante o desenvolvimento dessas atividades, seriamresponsveis pelo acmulo de carga fsica e mentais de trabalho. Essa carga fsica e mentalque responsvel pelos sintomas psicofisiolgicos do estresse exercendo impacto na sade dotrabalhador.Especificamente na odontopediatria, outros fatores contribuem na gerao da carga mental,bem como no desenvolvimento de quadros de estresse. Uma das maiores dificuldades seria adificuldade de comunicao com o paciente peditrico, principalmente os da primeirainfncia. Tavares et al (2000) organizou um estudo que apresentou entre outros dados, que62% da amostra de odontopediatras de sua pesquisa sentiam-se mal psicologicamente aps aaplicao da tcnica Mos Sobre a Boca em seus pacientes. Essa tcnica uma das

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    estratgias usadas na odontopediatria de manejo do comportamento infantil. Assim, se podeentender que o prprio desenvolvimento da profisso dos odontopediatras oferece desgastefsico e emocional, bem como dificuldades inerentes para o desenvolvimento das atividades.Uma outra doena ocupacional que torna-se de importante ateno, a DORT (DoenasOsteomusculares Relacionadas ao Trabalho), devido ao seu aparecimento estar muito prximoaos quadros incapacitantes de estresse. Autores como Linn et al (1998) e Greve e Amatuzzi(1999), ao estabelecerem os elementos que propiciariam o desenvolvimento da DORT nocirurgio-dentista, salientam a verificao de quadros de estresse concomitante ou prvios aodesenvolvimento desses comprometimentos ocupacionais.

    3.Sugestes da Ergonomia na Odontopediatria

    A ergonomia estuda uma diversidade de fatores que, segundo Aez (2000), envolvem ohomem e suas caractersticas fsicas, fisiolgicas e psicolgicas; a mquina que se constitui detodas as ferramentas, os mobilirios, os equipamentos e as instalaes; o ambiente quecontempla temperatura, rudos, vibraes, luzes, cores etc; a informao que se refere aosistema de transmisso; a organizao que constitui todos os elementos citados no sistemaprodutivo, considerando turnos, equipes, horrios; e as conseqncias do trabalho, em queentram as questes relacionadas com os erros e acidentes, alm da fadiga e do estresse. Desde o seu desenvolvimento inicial, a ergonomia atua enfatizando tanto os aspectos fsicos emateriais, quanto os aspectos cognitivo e psicolgico. Atualmente, a ergonomia parece seampliar, pois compreendeu que o homem, o trabalho e a produtividade mostram-se como ocerne da realizao social, ampliando assim as demandas da sua prtica.O trabalho dos cirurgies-dentistas requer uma anlise mais pormenorizada, uma vez que osmesmos se queixam de dores e de outros distrbios de sade relacionados ao desempenho daprofisso. As posies inadequadas causadas por horas de trabalho, tendem a desenvolveralteraes no sistema msculo-esqueltico, gerando fadiga e leses.A ergonomia odontolgica visa adequar o trabalho odontolgico s caractersticas do serhumano, possibilitando aos profissionais evitar movimentos e posturas inadequadas,permitindo-lhes produzir mais e melhor, evitando a fadiga visual, fsica e mental; prevenirsintomas (dor, dormncia, perda de fora etc); evitar o desgaste desnecessrio, alm depropiciar mais conforto e segurana aos pacientes (RIO, 2001). Essa realidade confirmadanuma pesquisa feita durante os anos de 1999 e 2000, onde Rio (2001) avaliou 450 dentistasque atuam em Belo Horizonte. A pesquisa revelou que a maioria dos profissionais (92,12%)sente dores ou incmodos fsicos relacionados ao exerccio da profisso e quase todos(96,85%) consideram a sua atividade estressante.Seixas (2001) relata que, alm da fadiga mental, os odontopediatras podem desenvolverfadiga visual, em resposta visualizao prolongada de pequenos detalhes em condies deiluminao inadequada. Alm disso, as posturas inadequadas decorrentes da atividade causamtambm, a fadiga muscular e as doenas do sistema msculo-esqueltico.Para que a atividade laboral seja um fator indutor de sade importante que as pessoastenham: condies de trabalho adequadas s prprias caractersticas psquicas e fsicas, o quepode ser obtido atravs da aplicao da ergonomia e um bom estilo pessoal de trabalho, frutode bons hbitos laborais (RIO, 2001, p.10).A mesma autora complementa que o estilo de vidae de trabalho so em grande parte responsveis por uma boa sade desse profissional, alm decaractersticas hereditrias, ambientais e sociais. Para o cirurgio-dentista, o uso excessivo da fora, a alta repetitividade de movimentos, acompresso mecnica, as vibraes e as posturas inadequadas so os principais fatorescausadores de LER/DORT (Leses por Esforos Repetitivos / Distrbios OsteomuscularesRelacionados ao Trabalho). A postura inadequada o fator mais importante dessas afeces,pois, para a prtica odontolgica, o profissional submetido a condies no ideais em

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    decorrncia de fatores como: campo de visualizao e operacionalizao pequeno (boca),alm das limitaes de posicionamento do paciente. O ideal seria que o profissional pudessetrabalhar na postura mais neutra possvel, aquela mais anatmica e que impe menos cargasobre os segmentos msculo-esqueltico nela envolvidos. Sabe-se que isso no acontece, poisa necessidade de aproximao para a visualizao de pequenos detalhes induz a flexo dotronco e outras disfunes posturais.

    Para Coury (1995), a postura sentada sobrecarrega o corpo, principalmente quando sepermanece muito tempo nessa posio e em condies inadequadas. A posio sentada exigeatividade muscular do dorso e do ventre para mant-la. Praticamente todo o peso do corpo suportado pelos ossos da plvis, ocasionando um desconforto na rea abdominal, o que resultaem problemas posturais, circulatrios e respiratrios (MUNIZ, MORO, VILA, 1999;MASSAMBANI e SANTOS, 2001). O consumo de energia de 3% a 10 % maior em relao posio horizontal. A postura ligeiramente inclinada para frente mais natural e menosfatigante que a ereta. O assento deve permitir que o profissional possa mudar freqentementede postura para assim retardar o aparecimento de fadiga (IIDA, 1998). Como o profissionalem questo necessita muitas vezes inclinar a cabea para frente, essa postura provoca fadigarpida nos msculos do pescoo e dos ombros e as dores comeam a aparecer quando ainclinao da cabea em relao vertical (coluna vertical) for maior que 30.Quanto mais flexionado (mais de 30) para frente estiver o pescoo, maior ser o nmero dequeixas de desconforto, pois tal posio demanda um trabalho adicional dos msculos esobrecarrega os ligamentos e as articulaes da regio.As queixas relacionadas s dores nas pernas ocorrem devido diminuio dos seusmovimentos e pela presso contnua das ndegas e coxas contra o assento da banqueta(mocho). Esses fatores somados fazem reduzir a circulao local e dificultar o retorno dosangue ao corao. Com o passar do tempo, ocorre uma diminuio da temperatura naspernas, sensao de formigamento, dormncia, dor e inchao principalmente nos ps, nostornozelos e nas pernas, o que poder futuramente ocasionar na pessoa problemascirculatrios perifricos. Para Kendall (1995), a boa postura no um fim em si mesmo, masuma parte do bem-estar geral, cabendo ao profissional perceber que essas inadequaesposturais podem ser compensadas, se o ele souber da importncia das recomendaesergonmicas para sua sade.J no caso da odontopediatria, alm dos cuidados apresentados, destacam outras necessidadescomo: educao da criana nos cuidados com sua higiene bucal e aceitao do tratamentonecessrio e peridico de seus dentes; ajudar a criana a entender que ela deve ser aresponsvel pela sua prpria sade bucal; e desenvolver a aproximao entre o profissional eas crianas com a inteno de auxili-las no seu desenvolvimento de intercmbio ativo com osseres humanos (MORAES, 2000).Segundo Klatchoian (1993)

    perceber a criana como ser humano integral e no apenas como portadora dedentes, pode levar o dentista a aprender significados peculiares que cadacriana atribui a seus dentes, boca, lngua e face e adequar-se ento snecessidades individuais. Deve-se criar condies para que as crianasfiquem atentas a outros estmulos alm da rea bucal diminuindo ento suaconcentrao em zonas dolorosas ou ansiognicas (p.3).

    A relao dentista-criana assume uma forma triangular, principalmente quando o paciente ainda incapaz de verbalizaes e mantm dependncia estreita das pessoas que a cuidam(primeira infncia). A famlia atua de forma direta na relao dentista-criana, pois expressaexperincias fundamentais, entre as quais destaca as atitudes que a criana deve ter para com odentista e o tratamento bucal propriamente dito. Dessa forma, a criana antes de iniciar otratamento pode ostentar uma imagem pr-formada do ambiente que a espera, o que contribuipara elevar seus medos, suas ansiedades, suas dores e seus desconfortos emocionais

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    (ARAGONE e VICENTE, 1998; CORREIA e MAIA, 1998; MORAES, 2000).O dentista, quando vai executar o seu trabalho, sempre invade o espao ntimo, classificadopor Santos (2001) como aquele que se situa entre 15cm e 65cm, o que para algumas crianaspode ser sentida como uma ameaa. Para Cinotti & Grieder apud Klatchoian (2002), a visoda criana pode ser ocupada com decoraes agradveis, objetos de interesse, como aqurios,quadros, mbiles, e aparncia agradvel do pessoal tcnico (dentista e auxiliar). O sentido daaudio poder ser estimulado por msica ou conversa com o dentista (SEGER e cols, 2002),onde se oportuniza contar histrias e falar sobre os interesses das crianas, etc. Essas medidaspossibilitam facilitar o vnculo da criana com a equipe odontolgica, criando assim, umambiente estruturado criana e promovendo o desenvolvimento da empatia da equipetcnica com o paciente peditrico. Ao odontopediatra, cabe interagir com as crianas para o sucesso de sua profisso. Para tanto,deve perceber que o desenvolvimento da criana um processo de mudana comcaractersticas biolgicas, hereditrias e interacionais (KLATCHOIAN, 1993). Essedesenvolvimento se d na medida em que a criana aprende a lidar com nveis maiscomplexos de movimentos, pensamentos, sentimentos e de relacionamentos com os outros(MYERS, 1990), o que correspondem s dimenses fsico-motoras (capacidade de mover-se ede coordenar movimentos), cognitivas (capacidade de pensar e raciocinar), emocionais(capacidade de sentir) e sociais (capacidade de relacionar-se com os outros).O cuidado criana no se limita apenas teraputica especfica, mas tambm concorre parao processo de desenvolvimento de sua conduta no ambiente social. Nesse sentido, a psicologiainstrumentaliza a odontopediatria, viabilizando uma conduo mais orientada criana.

    4.Condies do Odontlogo no Manejo do Estresse

    Lazarus e Folkman apud Pinheiro, Trccoli e Tamayo (2003) definem como coping a varivelindividual representada pela condio de reao ao estresse, determinada por fatores pessoais,exigncias situacionais e recursos psicolgicos disponveis. Essa condio considera asestratgias que o indivduo utiliza para empreender-se na soluo de problemas e regulao daemoo envolvida em cada situao. No ambiente de trabalho, os mesmos autores referem-se ao coping ocupacional como umconjunto de aes e reavaliaes perceptuais cognitivas que deveriam andar juntas sestratgias de enfretamento ou esquiva da situao estressante, bem como estratgias comobusca de informaes, ao direta, processos intra-psquicos e apoio social (PINHEIRO,TRCCOLI e TAMAYO, 2003).Murta e Trccoli (2004) sugerem alguns programas estruturados para a minimizao doestresse. Esses autores enfatizam as especificidades observados entre eles, como o emprego detcnicas diversas as tcnicas cognitivo-comportamental (inoculao de estresse, reestruturaocognitiva, manejo da raiva, etc), treinamento das habilidades pessoais (assertividade,negociao, etc), reduo da tenso (relaxamento, biofeedback e meditao), bem como outrastcnicas comportamentais, de condicionamento fsico e demais atividades de lazer.Lipp e cols (1998) sugerem estratgias sociais para o manejo de sintomas do estresse, entreeles a possibilidade de (1) conversar e compartilhar os problemas da vida com uma pessoa deconfiana, buscando entender a constituio da situao, ampliando a conscincia epossibilitando traar medidas para a resoluo dessas situaes; (2) perceber quais as emoesque mostram-se mais presentes diante de uma situao que seja entendida como aversiva enotar quais comportamentos so empregados naqueles momentos; (3) atividades comojardinagem, prticas esportivas e eventos de lazer que agradem so importantes no controledos impulsos; (4) ceder ocasionalmente s presses, permitindo estar errado algumas vezes;(5) usar a agenda e organizar horrios cabveis para o desenvolvimento das suas atividades e,se possvel, anotar entre as atividades sugestes ou lembrentes que faam bem, comoproximidade do final de semana, algum evento social esperado, ou mesmo pedir para uma

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    pessoa que se tem apreo para deixar um recado de confiana e amizade; (6) conviver comespectativas mais provveis de realizao; (7) traar metas, dando nfase para as de curto emdio prazo; (8) colocar na agenda momentos de descontrao, bem como descansos epausas; (9) evitar o uso de medicaes sem acompanhamento mdico e uso excessivoestimulantes como caf etc.; (10) primar por uma alimentao mais saudvel. Essas sugestomostram-se muito simples, podendo serem at desacreditadas, mas so comprovadamenteeficientes no manejo quotidiano do estresse e das demandas sociais.No caso do odontlogo, tentar organizar sua agenda para ter pequenos intervalos entre asconsultas pode ser de grande valia. Caso os pacientes apresentarem dificuldades de submeter-se a intervenes, permitir-se programar mais de um encontro, respeitando o limite dopaciente e no desperdiando energia adaptativa em demasia do prprio profissional natentativa de convencer os pacientes, mostra-se como sendo necessrio, bem como uma atitudemais humana.

    5.Metodologia e Operacionalizao da PesquisaPara a realizao dessa pesquisa foi feito um levantamento bibliogrfico referente ao estresseocupacional, instrumentos de avaliao psicolgica do estresse, ergonomia aplicada noconsultrio odontolgico de odontopediatria. Posteriormente, foi realizado um levantamentojunto ao Conselho Regional de Odontologia (CRO-RS), dos profissionais dentistas comespecializao em odontopediatria do estado. Das informaes obtidas, foi selecionada umaamostra de 32 (n=32) odontopediatras de Santa Cruz do Sul, Santa Maria e Porto Alegre queforam convidados participar do estudo mediante termo de consentimento informado, queresguardava o participante de qualquer problema quanto ao seu sigilo, bem como lhesassegurava o resultado da pesquisa e o resultado individual do inventrio de estresse. Osparticipantes responderam o Inventrio Adulto de Sintomas de Stress de Lipp (LIPP, 2000) eum questionrio investigativo de dores e desconfortos, alm das percepes quanto aodesenvolvimento das atividades na odontopediatria. Os dados foram tabulados ecorrelacionados.

    6.Resultados e Consideraes ParciaisDa amostra em questo 59,37% dos odontopediatras entrevistados (n=32) apresentaram nveisde estresse acima do quadro de Alerta (com base no modelo quadrifsico de estresse: alerta,resistncia, quase-exausto e exausto). Assim, 12,5% da amostra apresentou quadros dealerta e resistncia, enquanto 46,88% oscilaram entre resistncia e quase exausto. Com basenesses dados, 73% dos entrevistados com quadros de estresse (Resistncia e Quase-Exausto),estavam a menos de 10 anos de formados, enquanto que 27% dos profissionais com mais de10 anos de trabalho na rea apresentaram resultados semelhantes, sugerindo o fatorexperincia para a condio de manejo das demandas quotidianas da profisso. Outrosdados referem que a maioria desses profissionais, alm de no praticar nenhuma atividade delazer ou relaxamento, percebem o contexto macro-social incluindo a alta competitividade,busca de resultado, aumento de produtividade, reduo de custos e conquistas de clientes,como sendo fontes geradoras de prepocupaes e estresse. Diversos autores como Lipp e cols (1998) e Machado (2003), advertem da impossibilidade deeliminar totalmente o fenmeno do estresse da vida dos indivduos, uma vez que nessefenmeno est intrnceco o processo de complexificao do prprio organismo. Porm,muitos das limitaes ocasionadas pela cronificaes de seus quadros podem ser reduzidasmediante adoo de estratgias simples, incorporadas rotina de vida. Nesse trabalho, buscou-se correlacionar a teoria entre os processos de estresse e a condio daergonomia em poder ser entendida como uma estratgia a ser utilizada na preveno deacometimentos que viriam demandar do organismo do profissional odontopediatra, entre elas

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    doenas ocupacionais e o estresse. A ergonomia ento resgatada na sua origeminterdisciplinar, fomentando um espao para integrao de outras disciplinas na promoo daqualidade de vida e resguardos quanto sade dos trabalhadores.

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  • XII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 7 a 9 de Novembro de 2005

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