ERIKA DA SILVA MAGLIANO - IESC · Amanda de Moura Souza Rio de Janeiro 2017 . M195 Magliano, Erika...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA ERIKA DA SILVA MAGLIANO ASSOCIAÇÃO ENTRE CONSUMO DE SÓDIO E PRESSÃO ARTERIAL EM ADOLESCENTES DO ESTUDO DE RISCOS CARDIOVASCULARES EM ADOLESCENTES (ERICA) Rio de Janeiro 2017

Transcript of ERIKA DA SILVA MAGLIANO - IESC · Amanda de Moura Souza Rio de Janeiro 2017 . M195 Magliano, Erika...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA

ERIKA DA SILVA MAGLIANO

ASSOCIAÇÃO ENTRE CONSUMO DE SÓDIO E PRESSÃO ARTERIAL EM

ADOLESCENTES DO ESTUDO DE RISCOS CARDIOVASCULARES EM

ADOLESCENTES (ERICA)

Rio de Janeiro

2017

ERIKA DA SILVA MAGLIANO

ASSOCIAÇÃO ENTRE CONSUMO DE SÓDIO E PRESSÃO ARTERIAL EM

ADOLESCENTES DO ESTUDO DE RISCOS CARDIOVASCULARES EM

ADOLESCENTES (ERICA)

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação do Instituto de Estudos em

Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio

de Janeiro como requisito parcial para a

obtenção do título de Doutor em Saúde Coletiva

Orientadora: Profª. Drª. Katia Vergetti Bloch

Orientadora: Profª. Drª. Amanda de Moura Souza

Rio de Janeiro

2017

M195

Magliano, Erika da Silva.

Associação entre Consumo de Sódio e Pressão Arterial em

Adolescentes do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes

(Erica) / Erika da Silva Magliano. – Rio de Janeiro: UFRJ / Instituto de

Estudos em Saúde Coletiva, 2017.

120 f.; 30 cm.

Orientadora : Katia Vergetti Bloch

Co-orientadora: Amanda de Moura Souza

Tese (Doutorado) – UFRJ / Instituto de Estudos em Saúde Coletiva,

2017.

Referências: f. 106-120.

1. Hipertensão. 2. Saúde do adolescente. 3. Pressão arterial. I. Bloch,

Katia Vergetti. II. Souza, Amanda de Moura. III. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. IV. Título.

CDD 616.132

A Deus, sempre fiel às suas promessas na minha vida.

Aos meus pais José e Regina e ao meu

marido, Robson, pelo total apoio em tudo

que realizo.

AGRADECIMENTOS

A Katia Vergetti Bloch, a quem admiro e respeito, pessoalmente e profissionalmente. Pela

confiança em mim depositada nesses quase oito anos de convivência e parceria. Muito

obrigada por tudo! Agradeço pelo aprendizado que levarei para toda a vida!

Aos meus pais que sempre me apoiaram, junto com o meu irmão, Diego, foram o suporte para

todas as minhas conquistas! Pais, vocês são meu maior exemplo para tudo, sem vocês não

teria chegado até aqui! Obrigada por toda perseverança em me tornar uma pessoa feliz e

realizada.

Ao meu marido Robson por todos os momentos de paciência e companheirismo nessa longa

jornada! Obrigada pela cumplicidade e pelo companheirismo sempre. Esse sonho não seria

realizado sem o seu suporte.

A minha sogra Rudinalva que me cercou de toda estrutura necessária para que eu chegasse

aqui, e ao meu enteado Nathan por trazer tanta alegria à minha vida. Não conseguiria sem

vocês! Ao meu cão Spoky pelo alento nos momentos mais difíceis dessa jornada!

Aos meus companheiros do Erica: Laura Barufaldi, Gabriela Azevedo, Thiago Luiz e Debora

França. Obrigado por toda ajuda, e por estarem sempre disponíveis e prontos para o que fosse

preciso. Amigos que certamente levarei além da vida acadêmica! Vocês são os melhores!

Dedico essa vitória a todos vocês! E vamos comemorar! Vocês são especialistas nisso!

Aos amigos e professores: Carlos Henrique Klein, Maria Cristina Kuschnir, Amanda de

Moura Souza, Mônica Magnanini e Aline Araújo por estarem sempre dispostos para me

ajudar. Admiro muito todos vocês, são grandes exemplos para mim!

A minha amiga Luciana Camacho, uma das minhas principais incentivadoras nessa jornada.

Presente desde o mestrado, todas as vezes me cobrava progressos no andamento do projeto.

Participou de risos e choros, e construiu essa estrada ao meu lado. Essa vitória também é sua!

Obrigada pelo amor e carinho!

Aos meus amigos do INCA que me apoiaram desde o início dessa longa jornada. Minha

amiga Andrea Dias (in memorian), Alcinéia, Ana Paula, Andrea Tofani, Carlos Eduardo,

Carolina, Daiane, Deise, Desirée, Dulce, Edlaura, Lènzie, Luísa, Marcelle, Márcio, Maria

Gildênia, Maria Inês, Patrícia, Paula, Rafael Marques, Rafael Sadoc, Renata, Taciane,

Tamires, Vanessa e Viviane. Muita gratidão pelo companheirismo do dia a dia, tanto no

ambiente de trabalho quanto fora dele. Obrigada por existirem na minha vida! E pelo apoio

constante!

A minha amiga Erika Barreto, que mesmo de longe sempre esteve na torcida por essa

conquista! Amo você!

Aos alunos, pais/responsáveis, diretores de escolas, coordenadores estaduais, supervisores de

campo e financiadores, que fizeram do Erica uma realidade.

Ao corpo docente do IESC/UFRJ, que foram essenciais na minha formação acadêmica.

Aos funcionários do IESC/UFRJ, Fátima, Roberto e Nadja, por toda prontidão em ajudar e

servir.

RESUMO

MAGLIANO, Erika da Silva. Associação entre Consumo de Sódio e Pressão Arterial em

Adolescentes do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica). Rio de

Janeiro, 2017. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) – Instituto de Estudos em Saúde Coletiva,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

A adoção de medidas de prevenção primária em jovens assume grande importância no cenário

da abordagem das doenças cardiovasculares. Alguns fatores de risco para doenças

cardiovasculares vêm aumentando também em crianças e adolescentes. A obesidade, o

sedentarismo, a alimentação não saudável e o histórico familiar para hipertensão são alguns

dos fatores relacionados à hipertensão arterial. Dentro desse contexto, o consumo de sódio

comprovadamente influencia a pressão arterial, naqueles indivíduos sensíveis, e é um fator

importante que pode ser modificado para prevenção de complicações no futuro. O presente

trabalho teve como objetivo analisar a associação do consumo alimentar de sódio com a

pressão arterial em adolescentes. O primeiro artigo descreve a distribuição do consumo de

sódio e analisa quais grupos de alimentos mais contribuíram para esse consumo na população.

Os dados de consumo de sódio foram obtidos por meio de recordatório alimentar de 24 horas.

As médias foram estimadas, bem como os intervalos de confiança. Para a análise por grupos

de alimentos foram identificados 32 grupos de alimentos com perfis similares de

macronutrientes. O consumo médio de sódio no país foi de 3.378 mg (IC 95%: 3.313 – 3.444

mg), sendo que os adolescentes do sexo masculino apresentaram maiores médias do que o

sexo feminino. Os alimentos que mais contribuíram para o consumo de sódio na população

total foram: arroz e preparações (16%), feijão, leguminosas e preparações (12%), pães (10%)

e carne bovina (9%), com pequenas variações por região do país. Os adolescentes consomem

uma quantidade de sódio muito acima da recomendação para a sua faixa etária. No segundo

artigo, as características da associação do consumo alimentar de sódio com a pressão arterial

foram investigadas para variáveis de confundimento e modificadoras de efeito. A medida da

pressão arterial foi realizada de acordo com o “Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation,

and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents”. Foram realizados

gráficos a fim de explorar essa relação estratificando-se por sexo, idade, cor da pele e região

do país. Essas foram as variáveis que demonstraram maior variabilidade. Dados sobre o

histórico familiar para hipertensão foram obtidos pelo questionário do responsável. O

coeficiente de regressão linear observado foi de 0,42, com p<0,001. Esse é o incremento na

pressão sistólica para cada aumento de 1g no consumo de sódio, ajustado por sexo, idade e

consumo energético. Após estratificação por sexo, o coeficiente de regressão linear só

permaneceu significativo para adolescentes do sexo masculino. Além disso, no sexo

masculino, o fato de ter só mãe, ou pai e mãe, com hipertensão arterial impacta no efeito do

consumo do sódio na pressão arterial sistólica dos adolescentes, levando a um aumento

estatisticamente significativo. Os resultados apresentados sugerem que adolescentes do sexo

masculino e com história familiar de hipertensão arterial tendem a apresentar maior

sensibilidade ao sódio. A complexidade das relações estudadas e características da

adolescência, uma fase de grandes transformações biológicas e comportamentais, além de

limitações metodológicas intrínsecas a estudos observacionais são discutidas ao longo desse

trabalho e nas considerações finais.

Palavras-chave: Hipertensão arterial. Consumo de sódio. Saúde do adolescente. Pressão

arterial.

ABSTRACT

MAGLIANO, Erika da Silva. Associação entre Consumo de Sódio e Pressão Arterial em

Adolescentes do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica). Rio de

Janeiro, 2017. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) – Instituto de Estudos em Saúde Coletiva,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

The adoption of measures for primary prevention in young people is of great importance in

the scenario of cardiovascular diseases. Some risk factors for cardiovascular disease have also

been raising in children and adolescents. Obesity, sedentary lifestyle, unhealthy food and

family history of hypertension are some of the factors related to high blood pressure. Within

this context, sodium intake has been shown to influence blood pressure in these sensitive

individuals and is an important factor that can be modified to prevent complications in the

future. The objective of the present study was to analyze the association between sodium food

intake and blood pressure in adolescents. The first article describes the distribution of sodium

intake and analyzes which food groups most contributed to this consumption in the

population. Data on sodium intake were obtained through a 24-hour food recall. The averages

were estimated as well as the confidence intervals. For the analysis by food groups, 32 food

groups with similar macronutrient profiles were identified. The mean intake of sodium in the

country was 3,378 mg (95% CI: 3,313 - 3,444 mg), and the male adolescents presented higher

averages than the female ones. Foods that contributed most to sodium consumption in the

total population were: rice and preparations (16%), beans, vegetables and preparations (12%),

breads (10%) and beef (9%), with small variations in regions of the country. Teenagers

consume much more sodium than the recommendation for their age group. In the second

article, the characteristics of the association of sodium food intake with blood pressure were

investigated for confounding and effect modifying variables. Measurement of blood pressure

was performed according to the Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation, and Treatment of

High Blood Pressure in Children and Adolescents. Graphs were drawn to explore this

relationship stratified by sex, age, skin color and region of the country. Data on the family

history of hypertension were obtained through the guardian´s questionnaire. The linear

regression coefficient was 0.42, with p <0.001. This is the increase in systolic pressure for

each 1g increase in sodium intake, adjusted for sex, age and energy consumption. After

stratification by sex, the linear regression coefficient only remained significant for male

adolescents. In addition, in the male sex, having only mother, or father and mother, with

arterial hypertension impacts on the effect of sodium intake on the systolic blood pressure of

adolescents, leading to a statistically significant increase. The results presented suggest that

male adolescents with a family history of hypertension tend to be more sensitive to sodium.

The complexity of the relations studied and characteristics of adolescence, a phase of great

biological and behavioral transformations, and methodological limitations intrinsic to

observational studies are discussed throughout this work and in the final considerations.

Key words: Arterial hypertension. Sodium consumption. Adolescent health. Blood pressure.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Análise da regulação da pressão arterial pela equalização da "curva de débito

renal" com a "curva de ingestão de sal e de água". O ponto de equilíbrio representa o

nível no qual a pressão arterial será regulada.

18

Figura 2. Duas maneiras pelas quais a pressão arterial pode ser elevada. A, pelo

deslocamento da curva de débito renal para a direita, em direção a um novo nível de

pressão ou B, pelo aumento da ingestão de sal e água.

18

Figura 3. Mecanismo vasoconstritor da renina-angiotensina para o controle da pressão

arterial.

19

Figura 4. Eventos sequenciais por meio dos quais a ingestão de sal aumenta a pressão

arterial, mas a redução por feedback da atividade do sistema renina-angiotensina

praticamente a normaliza.

21

Figura 5. Análise da regulação da pressão arterial na (1) hipertensão essencial insensível

ao sal e (2) hipertensão essencial sensível ao sal.

22

Figura 6. Modelo teórico para associação de consumo de sódio com pressão arterial. 40

Artigo 1

Figura 1. Grupos de alimentos que mais contribuíram para o consumo de sódio no Brasil

e por região, Erica 2013-2014.

63

Figura 2. Grupos de alimentos que mais contribuíram para o consumo de sódio por tipo

de escola, Erica 2013-2014.

65

Artigo 2

Figura 1. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS e PAD (mmHg) por sexo – Erica

2013-2014.

87

Figura 2. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS e PAD (mmHg) por sexo e cor da

pele – Erica 2013-2014.

88

Figura 3. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS e PAD (mmHg) por região – Sexo

Feminino – Erica 2013-2014.

89

Figura 4. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS e PAD (mmHg) por região – Sexo

Masculino – Erica 2013-2014.

90

Figura 5. Médias de pressão sistólica por quintil de sódio para história familiar de

hipertensão arterial – Sexo Feminino – Erica 2013-2014.

92

Figura 6. Médias de pressão sistólica por quintil de sódio para história familiar de

hipertensão arterial – Sexo Masculino – Erica 2013-2014.

92

Figura 7. Associação entre consumo de sódio e PAS por sexo e história familiar para

hipertensão - Erica 2013-2014.

93

Figura 8. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS (mmHg) por sexo – Municípios –

Erica 2013-2014.

94

LISTA DE QUADROS

Artigo 1

Quadro 1. Grupos de Alimentos que contribuíram para o consumo de sódio, Erica

2013-2014.

62

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Correspondência entre os valores de sódio e de sal 28

Artigo 1

Tabela 1. Médias de consumo de sódio por grupo de variáveis: bruta e ajustada por

consumo de energia, Erica 2013-2014.

59

Tabela 2. Consumo médio de sódio nos municípios, Erica 2013-2014 65

Artigo 2

Tabela 1. Características da amostra observada, Erica 2013-2014. 83

Tabela 2. Médias de pressão arterial sistólica, diastólica e médias de consumo de sódio,

Erica 2013-2014.

85

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa

ADH Hormônio anti-diurético

DCV Doença cardiovascular

Erica Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes

HA Hipertensão arterial

HAS Hipertensão arterial sistêmica

HDL Lipoproteína de alta densidade

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMC Índice de Massa Corpórea

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

OR Odds-ratio

PA Pressão arterial

PAD Pressão arterial diastólica

PAE Pressão arterial elevada

PAS Pressão arterial sistólica

PDA Personal digital assistant

POF Pesquisa de Orçamentos Familiares

QFA Questionário de Frequência Alimentar

REC24h Recordatório 24 horas

RR Risco Relativo

WHO World Health Organization

SUMÁRIO

Apresentação 13

1 INTRODUÇÃO 17

1.1 FISIOPATOLOGIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL E INGESTÃO DE SAL

E ÁGUA

17

1.2 REGULAÇÃO DE SÓDIO E POTÁSSIO E VOLUME DE LÍQUIDO

EXTRACELULAR

22

1.3 INFLUÊNCIA DO HISTÓRICO FAMILIAR NA HIPERTENSÃO ARTERIAL 24

1.4 HIPERTENSÃO ARTERIAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 25

1.5 RELAÇÃO ENTRE CONSUMO DE SÓDIO E PRESSÃO ARTERIAL 28

1.6 HIPERTENSÃO ARTERIAL E OUTROS ELETRÓLITOS 31

1.7 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE CONSUMO ALIMENTAR 33

1.8 HÁBITOS ALIMENTARES 36

1.9 MODELO TEÓRICO 38

2 OBJETIVOS 41

2.1 OBJETIVO GERAL 41

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 41

3 MÉTODOS 42

3.1 POPULAÇÃO DE PESQUISA DO ERICA 42

3.2 LOGÍSTICA 43

3.3 DADOS COLETADOS 43

3.4 AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR 43

3.5 INFORMAÇÕES DO QUESTIONÁRIO DO RESPONSÁVEL 44

3.6 AFERIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL 45

3.7 MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS 46

3.8 OUTRAS VARIÁVEIS 47

3.9 CONTROLE DE QUALIDADE 47

3.10 ARMAZENAMENTO DOS DADOS 48

3.11 ASPECTOS ÉTICOS 48

3.12 ANÁLISE ESTATÍSTICA 48

4 RESULTADOS 50

ARTIGO 1 50

ARTIGO 2 74

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 103

REFERÊNCIAS 106

13

Apresentação

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares

(DCV) são a principal causa de morte no mundo, o que significa que mais pessoas morrem

anualmente por essas enfermidades do que por qualquer outra causa. Estima-se que 17,5

milhões de pessoas morreram por doenças cardiovasculares em 2012, representando 31% de

todas as mortes em nível global1.

A hipertensão arterial mantém associação independente com eventos como morte

súbita, acidente vascular encefálico, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca,

doença arterial periférica e doença renal crônica, fatal e não-fatal2; 3; 4; 5.

No Brasil, a hipertensão arterial atinge 32,5% (36 milhões) de indivíduos adultos, mais

de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por DCV6. A

prevalência de hipertensão arterial autorreferida em adultos brasileiros foi de 22,7% em 2011

e vinha se mantendo estável entre 2006 e 20117. Os principais fatores de risco para a

hipertensão arterial são: idade, sexo e etnia, excesso de peso e obesidade, ingestão de sal e

álcool, sedentarismo, fatores socioeconômicos e genéticos5.

Um importante estudo epidemiológico, o INTERSALT, realizado com 10.079

participantes em 1986 mostrou uma relação linear positiva e com significância estatística

entre pressão arterial sistólica (PAS) e excreção urinária de sódio de 24 horas. Um aumento

no consumo de sódio de 100 mmol/dia (2.300 mg/dia) aumentou a pressão arterial

sistólica/pressão arterial diastólica (PAD) em 3-6/0-3 mmHg. Essa relação permaneceu após

estratificação para ambos os sexos, para jovens e idosos, e para 8.344 indivíduos do estudo

sem hipertensão8.

Estudos em diferentes países observaram aumento da prevalência de hipertensão

arterial em adolescentes concomitante ao aumento da obesidade9; 10; 11. Estudos brasileiros

sobre a hipertensão arterial em adolescentes mostram valores de prevalência heterogêneos,

possivelmente devido a diferentes metodologias utilizadas. Magalhães e colaboradores

encontraram prevalência de pressão arterial elevada e de hipertensão arterial sistêmica (HAS)

de 2,5 a 30,9% em indivíduos de 10 a 19 anos12. Christofaro e colaboradores encontraram

prevalência de pressão arterial elevada em crianças e adolescentes de 4 a 20 anos de 0,46 a

20,6%9. Em uma revisão sistemática com metanálise foi encontrada prevalência global de

8,1% (IC 95% 6,2-10,5), em adolescentes de 10 a 20 anos, com grande variabilidade entre os

14

estudos13. Outra revisão sistemática também com metanálise encontrou valor semelhante, de

8%, em crianças e adolescentes de 10 a 19 anos14.

A maioria das doenças cardiovasculares pode ser prevenida por meio da abordagem de

fatores comportamentais de risco – como uso de tabaco, dietas não saudáveis e obesidade,

sedentarismo e uso abusivo do álcool, - utilizando estratégias para a população geral. Para

indivíduos com doença cardiovascular ou com alto risco cardiovascular (devido à presença de

um ou mais fatores de risco como hipertensão, diabetes, hiperlipidemia ou doença já

estabelecida), é fundamental o diagnóstico e tratamento precoce, por meio de orientação

médica ou administração adequada de medicamento1.

Dentro desse cenário, o “Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes”

(Erica), coordenado pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi elaborado para investigar importantes questões de

saúde pública. Financiado pelo Ministério da Saúde (MS), com Chamada Pública –

MCT/FINEP/MS/SCTIE/DECIT – CT-Saúde e FNS – Síndrome Metabólica – 01/2008, o

Erica é um estudo de delineamento transversal, multicêntrico, nacional, de base escolar, que

teve como objetivo estimar a magnitude da prevalência de diabetes, obesidade, dislipidemias

e outros fatores de risco cardiovascular em adolescentes de 12 a 17 anos de cidades com mais

de 100 mil habitantes; investigar características da distribuição desses fatores de risco, e

estimar a prevalência da síndrome metabólica.

Dentre os 273 municípios com mais de 100.000 habitantes em 1º de julho de 2009

(dado populacional mais recente à época das definições básicas do Erica), foram

contemplados 124, abrangendo 1.251 escolas, com uma amostra estimada em torno de 75.000

alunos.

Para responder aos objetivos da chamada pública foram coletados dados dos

adolescentes escolares mediante um questionário autopreenchível para obtenção de

características sociodemográficas e de hábitos de vida, tais como: prática de atividade física,

tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas, além de sono, depressão, morbidade referida,

saúde reprodutiva e bucal; dados de consumo alimentar via recordatório alimentar de 24 horas

(REC24h); medidas antropométricas (peso, estatura e perímetro da cintura), medidas de

pressão arterial, estágios de maturação sexual e exames bioquímicos. Nas amostras de sangue

coletadas, realizadas apenas em uma subamostra aproximada de 40.000 adolescentes do turno

da manhã, foram analisados dados de glicemia de jejum, colesterol total, HDL-colesterol

(lipoproteína de alta densidade), triglicerídeos, hemoglobina glicada e insulina de jejum.

15

Os resultados do Erica certamente contribuirão para o conhecimento sobre fatores de

risco cardiovascular em uma população jovem, cujos dados ainda são inéditos a nível

nacional, importantes para subsidiar medidas preventivas e desenvolver políticas de saúde que

envolvem diferentes setores da sociedade.

Portanto, esta Tese de Doutorado é parte integrante do Erica e utilizará os dados

coletados por esse estudo de abrangência nacional.

Embora existam evidências na literatura de que o consumo de sódio está associado à

elevação da pressão arterial em adultos, essa relação não parece ser a mesma para todas as

faixas etárias, podendo ser modificada por fatores relacionados a uma maior sensibilidade ao

sal. Além disso, a maioria dos estudos utilizam como “proxy” do consumo de sódio a

excreção urinária de sódio, que é um procedimento de difícil exequibilidade em grandes

estudos populacionais.

Ainda não há no Brasil estudos sobre o consumo de sódio e pressão arterial em

adolescentes com as possíveis variações regionais no país. Portanto, esse estudo permitirá,

utilizando o consumo de sódio obtido pelo recordatório de 24h, avaliar se essa associação e

suas interações já são perceptíveis em adolescentes e se existem fatores que modificam ou

confundem essa relação.

O Erica tem fundamental importância nesse contexto, pois permitirá subsidiar

propostas de mudanças comportamentais em uma faixa etária que refletirá na incidência de

problemas de saúde na idade adulta.

O objetivo principal dessa tese é investigar a associação do consumo de sódio com

pressão arterial em adolescentes escolares de 12 a 17 anos, avaliados no Erica, de todas as

regiões do Brasil. Ela está estruturada em cinco capítulos, como explicitado resumidamente a

seguir.

O capítulo da Introdução contextualiza o leitor frente ao tema principal da tese. Em

linhas gerais, apresenta conceitos sobre hipertensão arterial, função do sódio no organismo,

métodos de avaliação de consumo alimentar e relação do sódio com a pressão arterial.

Os Objetivos deste trabalho estão expostos no capítulo 2.

No capítulo 3, são descritos os Métodos utilizados para responder os objetivos

propostos. No capítulo dos Resultados, encontram-se os dois artigos elaborados como

produtos desta tese. O primeiro artigo consiste em uma análise descritiva do consumo de

sódio em adolescentes do Erica. O segundo analisa a associação do consumo de sódio com

pressão arterial nesses adolescentes.

16

No último capítulo, as conclusões das análises realizadas são apresentadas como

Considerações Finais.

Nas Referências, são listadas as publicações utilizadas para embasamento teórico do

tema estudado.

17

1 INTRODUÇÃO

1.1 FISIOPATOLOGIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL E INGESTÃO DE SAL E ÁGUA

Aproximadamente 90 a 95% dos casos de hipertensão são de "hipertensão primária ou

essencial", o que significa que a hipertensão é de origem desconhecida, em contraste com as

formas de hipertensão secundárias a causas conhecidas. Na maioria dos pacientes, o excesso

de peso e a vida sedentária desempenham papel primordial na determinação da hipertensão.

Nesses indivíduos, a hipertensão tem como características: débito cardíaco aumentado,

atividade nervosa simpática aumentada, níveis elevados de angiotensina II e aldosterona e

mecanismo de natriurese da pressão renal comprometido, ou seja, os rins não excretam a

quantidade adequada de sal e de água15.

A pressão arterial é o produto do débito cardíaco e a resistência periférica total, com o

débito cardíaco como produto da frequência cardíaca e volume sistólico, com isso o controle

da pressão arterial à longo prazo é influenciado principalmente pelo volume intravascular.

Este, por sua vez, é influenciado pelo tônus vascular e pelo volume de líquido extracelular,

que é determinado pelo balanço de sódio. A resposta renal às mudanças na pressão arterial

renal é chamada de resposta aguda à pressão de natriurese16. Uma mudança na pressão arterial

somente pode ser mantida se a resposta renal aguda à pressão de natriurese estiver

prejudicada, o que faz da hipertensão uma doença renal17.

O corpo humano possui mecanismos de regulação da pressão arterial à longo prazo.

Um desses mecanismos é a homeostasia do volume do líquido corporal (balanço entre a

ingestão e eliminação de líquido). Para a sobrevida à longo prazo, a ingestão e eliminação de

líquido devem ser precisamente balanceados; essa tarefa é realizada por múltiplos controles

nervosos e hormonais e por sistemas de controle local, nos rins, que regulam sua excreção de

sal e água15.

A alteração de apenas alguns milímetros de mercúrio na pressão arterial no ser

humano pode duplicar a diurese de pressão (débito renal de água) e a natriurese de pressão

(eliminação de sal). O nível da pressão arterial à longo prazo é determinado pelo grau de

desvio da pressão na curva do débito renal de água e sal e pelo nível da linha de ingestão de

água e sal15 (Figura 1).

18

Figura 1. Análise da regulação da pressão arterial pela equalização da "curva de débito renal"

com a "curva de ingestão de sal e de água". O ponto de equilíbrio representa o nível no qual a

pressão arterial será regulada. (Fonte: Guyton & Hall, 2006).

Na figura 2-A, alguma anormalidade renal causou o deslocamento de 50 mmHg da

curva de débito renal na direção das altas pressões, deslocando também o ponto de equilíbrio.

Como a curva de débito renal se deslocou para um novo nível de pressão, a pressão arterial

também seguirá para esse novo nível em alguns dias. Na figura 2-B, o nível de ingestão de sal

e água aumentou quatro vezes e o ponto de equilíbrio foi deslocado para um nível de pressão

60 mmHg acima do valor normal15.

Figura 2. Duas maneiras pelas quais a pressão arterial pode ser elevada. A, pelo

deslocamento da curva de débito renal para a direita, em direção a um novo nível de pressão

ou B, pelo aumento da ingestão de sal e água. (Fonte: Guyton & Hall, 2006).

19

A pressão arterial pode ser elevada pelo aumento do volume do líquido extracelular

através do seguinte mecanismo: (1) elevação do volume de líquido extracelular, (2) elevação

do volume sanguíneo, (3) aumento da pressão média de enchimento da circulação, que (4)

aumenta o retorno venoso para o coração, (5) aumentando o débito cardíaco, que (6) aumenta

a pressão arterial15.

Por outro lado, quando há a queda da pressão arterial, há a liberação de uma enzima

proteica-renal, a renina, que contribui para elevação da pressão arterial em mecanismo

descrito na figura 3.

Figura 3. Mecanismo vasoconstritor da renina-angiotensina para o controle da pressão

arterial. (Fonte: Guyton & Hall, 2006).

A enzima renina atua sobre o angiotensinogênio liberando a angiotensina I que é

convertida nos pulmões a angiotensina II pela enzima conversora. A angiotensina II é um

vasoconstritor extremamente potente, atuando em muitas áreas do corpo. A constrição das

arteríolas aumenta a resistência periférica total, elevando a pressão arterial. Além disso, a

angiotensina II também eleva a pressão arterial pela diminuição da excreção de sal e água

pelos rins. Ela atua diretamente sobre os rins para provocar retenção de sal e água e secreta

aldosterona, que aumenta a reabsorção de sal e água pelos túbulos renais15.

20

Apesar do aumento do volume de líquido extracelular, o aumento da ingestão de sal

tem probabilidade muito maior de elevar a pressão arterial que o aumento da ingestão de

água. Isso ocorre porque a água pura é normalmente excretada pelos rins com quase a mesma

rapidez com que é ingerida, o que não acontece com o sal15.

Quando ocorre excesso de sal no líquido extracelular, sua osmolaridade aumenta,

estimulando o centro da sede no cérebro, fazendo com que a pessoa beba mais água e

aumentando o volume extracelular. Além disso, o aumento da osmolaridade causada pelo sal

estimula o mecanismo secretor do hipotálamo-hipófise posterior, liberando maior quantidade

de hormônio antidiurético. Esse hormônio faz com que os rins reabsorvam uma quantidade

muito aumentada de água pelos túbulos renais, reduzindo o volume excretado de urina e

elevando o volume do líquido extracelular15.

Assim, a quantidade de sal acumulada no corpo é o principal determinante do volume

do líquido extracelular. Como apenas pequenos aumentos do volume do líquido extracelular e

do sangue podem com frequência aumentar muito a pressão arterial, o acúmulo extra de uma

pequena quantidade de sal no corpo pode levar a um aumento considerável da pressão15.

Uma das mais importantes funções do sistema renina-angiotensina é a de permitir que

a pessoa ingira quantidades muito pequenas ou muito grandes de sal sem apresentar grandes

variações do volume do líquido extracelular ou da pressão arterial, exemplificado pela figura

4.

21

Figura 4. Eventos sequenciais por meio dos quais a ingestão de sal aumenta a pressão arterial,

mas a redução por feedback da atividade do sistema renina-angiotensina praticamente a

normaliza. (Fonte: Guyton & Hall, 2006).

Quando o sistema funciona normalmente, a pressão se eleva não mais do que 4 a 6

mmHg, em resposta ao aumento de 50 vezes na ingestão de sal15.

Em resposta a um alto consumo de sódio, a angiotensina II é suprimida, a curva de

natriurese de pressão é deslocada para a esquerda, o que permite uma maior excreção de sódio

para cada valor de pressão arterial, impedindo a expansão do volume de líquido extracelular18.

A hipertensão essencial tem uma análise gráfica, as curvas de função renal por

sobrecarga de sódio, demonstradas na figura 5. Nessa figura podemos ver dois tipos de casos

(1) hipertensão insensível ao sal ou (2) hipertensão sensível ao sal. No indivíduo com

hipertensão insensível ao sal, a pressão arterial não se eleva de modo significativo quando a

ingestão de sal é aumentada. Ao contrário, nos indivíduos com hipertensão arterial essencial

sensível ao sal, a ingestão aumentada exacerba significativamente a hipertensão15.

22

Figura 5. Análise da regulação da pressão arterial na (1) hipertensão essencial insensível ao

sal e (2) hipertensão essencial sensível ao sal. (Fonte: Redesenhada de Guyton AC, Coleman

TG, Young DB, et al: Salt balance and long-term blood pressure control. Annu Rev Med

31:15, 1980. Com permissão da Annual Review of Medicine, 1980, por Annual Reviews

http://www.AnnualReviews.org. Guyton & Hall, 2006).

A sensibilidade da pressão sanguínea ao sal é uma característica quantitativa, de modo

que alguns indivíduos são mais sensíveis que outros. Ela não é uma característica fixa; pelo

contrário, a pressão fica mais sensível ao sal à medida que a pessoa envelhece, especialmente

após os 50 ou 60 anos de idade. A diferença entre esses dois tipos de hipertensão estaria

relacionada a diferenças estruturais ou funcionais nos rins desses dois tipos de indivíduos15.

1.2 REGULAÇÃO DE SÓDIO E POTÁSSIO E VOLUME DE LÍQUIDO

EXTRACELULAR

Para o funcionamento normal das células, elas precisam estar banhadas em um líquido

extracelular com uma concentração relativamente constante de eletrólitos e outros solutos. A

concentração total de solutos no líquido extracelular, e, portanto, a osmolaridade - são

determinadas pela quantidade de soluto dividida pelo volume do líquido extracelular19.

O sódio desempenha funções essenciais no organismo humano. Em condições

normais, a concentração plasmática de sódio é mantida com ajuste fino numa estreita faixa de

135-145 mmol/L, apesar das grandes variações no consumo de sal e água. O sódio e os ânions

que o acompanham, principalmente cloreto e bicarbonato contribuem para 86% da

osmolaridade no fluido extracelular20.

23

Existe um sistema de feedback muito eficaz para controlar a osmolaridade e a

concentração de sódio plasmáticas, por meio da alteração na excreção renal de água,

independentemente da taxa de excreção de solutos, mediante o hormônio antidiurético

(ADH), ou vasopressina19.

Quando a osmolaridade dos líquidos corpóreos se eleva para valores acima do normal,

a glândula pituitária posterior secreta mais ADH, o que aumenta a permeabilidade dos túbulos

distais e ductos coletores à água. Isso permite que grande quantidade de água seja

reabsorvida, havendo diminuição do volume urinário, porém sem alterações acentuadas na

taxa de excreção renal dos solutos19.

Por outro lado, quando há um excesso de água no corpo e, portanto, uma queda de

osmolaridade no líquido extracelular, a secreção de ADH diminui, reduzindo a

permeabilidade dos túbulos distais e ductos coletores à água, levando à excreção de uma

grande quantidade de urina diluída. Assim, a taxa de secreção do ADH determina largamente

a excreção renal de uma urina diluída ou concentrada19.

A concentração de potássio no líquido extracelular costuma ser regulada precisamente

em torno de 4,2 mEq/L. Essa exatidão do controle é necessária, já que muitas funções

celulares mostram-se bastante sensíveis às alterações da concentração extracelular do

potássio21.

Uma dificuldade peculiar na regulação da concentração extracelular de potássio deve-

se ao fato de que mais de 98% do potássio total no corpo encontra-se nas células, e apenas 2%

no líquido extracelular. Assim, a falha na rápida remoção do potássio ingerido do líquido

extracelular poderia causar hipercalemia com risco de morte. Do mesmo modo, uma pequena

perda de potássio do líquido extracelular poderia levar à grave hipocalemia na ausência de

respostas compensatórias rápidas e apropriadas. Como mais de 98% do potássio total do

corpo está nas células, elas podem servir como local para o extravasamento do potássio em

excesso para o líquido extracelular, durante hipercalemia, ou como fonte de potássio, durante

a hipocalemia21.

A manutenção do balanço do potássio depende em grande parte da excreção renal,

pois a quantidade excretada nas fezes é de apenas 5 a 10% da ingestão. Desse modo, o

equilíbrio exige o ajuste renal rápido e preciso da sua excreção, relacionado às amplas

variações da ingestão21. Após a ingestão de uma refeição regular, a concentração de potássio

no líquido extracelular aumentaria até um nível letal se não fosse rapidamente deslocado para

as células. Esse processo tem as seguintes características21:

24

a) a insulina estimula a captação celular de potássio;

b) a aldosterona aumenta a captação celular de potássio;

c) a estimulação -adrenérgica aumenta a captação celular de potássio;

d) anormalidades ácido-bases podem causar alterações na distribuição de potássio;

e) a lise celular causa aumento da concentração extracelular de potássio;

f) os exercícios extenuantes podem causar hipercalemia pela liberação de potássio pela

medula esquelética.

g) o aumento da osmolaridade do líquido extracelular causa redistribuição de potássio

das células para o líquido extracelular.

1.3 INFLUÊNCIA DO HISTÓRICO FAMILIAR NA HIPERTENSÃO ARTERIAL

O histórico familiar de hipertensão está relacionado a um risco dobrado de

desenvolvimento de hipertensão essencial em crianças e adultos jovens. Essa associação tem

levado a pesquisas extensivas para elucidar a causa genética da hipertensão primária. Diversas

mutações podem estar envolvidas no processo22.

Nos indivíduos com antecedente familiar de hipertensão, uma vez expostos aos fatores

ambientais, a ativação dos sistemas nervoso simpático e renina-angiotensina vão ocorrer, e o

desbalanço desses sistemas vai resultar em alterações estruturais e funcionais dos vasos

levando ao aumento da resistência vascular sistêmica, principal mecanismo do ponto de vista

hemodinâmico da hipertensão arterial23. Os filhos de pais hipertensos comparados com filhos

de pais normotensos têm pressão arterial mais alta, atingindo níveis compatíveis com pré-

hipertensão24.

O componente familiar é de grande importância no desenvolvimento da hipertensão,

tanto é que, quando os dois pais têm hipertensão arterial, a chance de os filhos ficarem

hipertensos é maior do que quando apenas um deles é hipertenso23.

Skrabal e colaboradores investigaram os efeitos de uma restrição moderada de sal em

52 indivíduos jovens normotensos com e sem histórico familiar de hipertensão.

Aproximadamente 42% responderam à restrição durante duas semanas, com uma queda

significante na pressão arterial, demonstradas por registros contínuos da pressão arterial (PA).

Estes foram classificados como sensíveis ao sal e os outros como resistentes. Comparados aos

resistentes ao sal, indivíduos sensíveis ao sal apresentavam 2,5 vezes mais histórico familiar

positivo para hipertensão (p<0,01) e uma pressão arterial mais elevada, estatisticamente

25

significativa. O estudo também demonstra que a sensibilidade ao sal deve ser causada pela

hipersensibilidade às catecolaminas (determinadas geneticamente). Isso porque a resposta à

norepinefrina injetada em indivíduos sensíveis ao sal em relação ao aumento da pressão

arterial foi o dobro da dos indivíduos resistentes, independente da dieta e diretamente

relacionada ao aumento da reabsorção de sódio no túbulo proximal25.

1.4 HIPERTENSÃO ARTERIAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Embora a maior parte dos diagnósticos de hipertensão arterial sistêmica seja firmada

em adultos, a HAS pode ter seu início na infância, ser secundária a várias afecções ou indicar

a existência de um fator de risco para outras doenças 26. Valores elevados de pressão arterial

têm sido relatados também na população jovem e diversas pesquisas têm sido realizadas sobre

o tema27; 28; 29; 30. Quase 20% dos 6.790 adolescentes norte-americanos de 11 a 17 anos

participantes do estudo de McNiece et al. encontravam-se sob risco para doenças

cardiovasculares futuras, avaliado pelo aparecimento já nessa idade de pré-hipertensão e

hipertensão11. O estudo de Oliveira et al. com 701 crianças de 5 a 9 anos em Feira de Santana

(Bahia) descreve o papel importante de fatores biológicos (sexo, raça, estado nutricional,

idade) e ambientais (histórico familiar de hipertensão arterial e escola frequentada) na gênese

da hipertensão arterial em crianças31. No Erica foi encontrada uma prevalência de hipertensão

de 9,6% (IC 95% 9,0-10,3%)32.

Epidemiologicamente, a hipertensão secundária predomina na infância, embora não

seja comum nesta fase da vida, enquanto que as formas primárias são mais frequentes entre

adolescentes e adultos5. Esse fato tem sido atribuído à adoção, por crianças e adolescentes, de

hábitos ou estilos de vida que representam fatores de risco para a hipertensão arterial

sistêmica33. Conforme preconizado pelas VII Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2016)5, é

importante o rastreamento de crianças e adolescentes com risco aumentado de se tornarem

adultos hipertensos, para que sejam adotadas medidas preventivas em idade precoce,

reduzindo os riscos de doenças cardiovasculares e de acidente vascular encefálico.

Em crianças e adolescentes, o interesse pela avaliação da pressão arterial surge a partir

da década de 1960. Entretanto, somente a partir de 1970 é que aparecem as primeiras

recomendações sobre a medida rotineira de pressão arterial nessa faixa etária. Anteriormente,

apenas alterações muito graves da PA eram identificadas em crianças ou adolescentes, e as

causas secundárias, principalmente renais, eram as mais prevalentes. Surgiram então vários

26

estudos, buscando conhecer melhor o comportamento da PA em crianças e adolescentes, seus

fatores determinantes e a sua relação com hipertensão arterial ou doença cardiovascular

futuras, com vistas a medidas de prevenção primária34; 35; 36

A partir desses estudos, verificou-se que alterações discretas de pressão arterial

podiam ser observadas nessa faixa etária, sendo comuns particularmente em adolescentes, e

sem nenhuma causa secundária identificada37.

A medida de pressão arterial em crianças é recomendada em toda avaliação clínica

após os três anos de idade ou em circunstâncias especiais de risco antes desta idade,

identificando-se a pressão diastólica na fase V de Korotkoff (para aparelhos com medição

auscultatória) e empregando-se manguito com bolsa de borracha de tamanho adequado à

circunferência do braço38.

Dados populacionais em crianças e dados epidemiológicos com riscos associados em

adultos estabeleceram a fase V de Korotkoff para a medida de PA diastólica e fase I para a

medida de PA sistólica35; 36; 37; 38.

A identificação dos sons de Korotkoff possibilita definir exatamente os momentos de

variação da pressão arterial, reconhecer o exato valor das pressões sistólica e diastólica. Os

sons são produzidos pela passagem turbilhonar do sangue através da artéria estenosada pela

compressão do manguito e divide-se em cinco fases39:

a) Fase I ou K1: primeiro som, fraco, e seguido por batidas regulares. Equivale à

pressão sistólica.

b) Fase II ou K2: sons da fase I seguidos por sons sibilantes ou por sopros.

Caracteriza-se por sons suaves e longos como um murmúrio intermitente.

c) Fase III ou K3: amplificação dos sons da fase II correspondente ao aumento do

volume de sangue que passa pela artéria ainda parcialmente comprimida, os sons são mais

crispados.

d) Fase IV ou K4: os sons se tornam súbita e nitidamente abafados.

e) Fase V ou K5: os sons cessam completamente porque e artéria deixa de estar

comprimida e o fluxo passa a ser laminar. A pressão indicada no manômetro corresponde à

pressão diastólica.

Porém, em crianças com menos de 13 anos, gestantes e indivíduos com débito

cardíaco alto ou com vasodilatação periférica, os sons podem ser ouvidos até 0 mmHg. Nessa

situação, a fase IV (Abafamento – K4) deve ser utilizada como indicativo da pressão

diastólica. Entretanto, a anotação deve conter esta informação39.

27

A classificação de hipertensão para crianças e adolescentes segue um padrão diferente

do adotado para adultos. Deve ser interpretada de acordo com as curvas de distribuição da

pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica por sexo, faixa etária e estatura,

observando-se os valores correspondentes aos diversos percentis. Consideram-se os valores

abaixo do percentil 90 como normotensão, desde que inferiores a 120/80 mmHg; entre os

percentis 90 e 95, como limítrofe (“pré-hipertensão”38), e igual ou superior ao percentil 95,

como hipertensão arterial, salientando-se que qualquer valor igual ou superior a 120/80 em

adolescentes, mesmo que inferior ao percentil 95 deve ser considerado limítrofe40.

O fato de a hipertensão arterial sistêmica ter baixa prevalência na infância e

adolescência e de ocorrer em indivíduos assintomáticos certamente contribui para a difícil

incorporação da aferição de rotina da medida de pressão arterial no atendimento pediátrico.

Além disso, nessas faixas etárias, a medida de pressão envolve a escolha de manguitos

adequados ao braço da criança/adolescente, a utilização de curvas de crescimento para

identificação do percentil de altura segundo idade e o sexo, e a identificação do percentil de

pressão arterial em tabelas específicas, o que demanda mais equipamentos e maior

disponibilidade de tempo do que a realização da medida em adultos38; 40; 41; 42.

Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE – em

2009 constatou uma modificação no perfil antropométrico-nutricional de toda a população

brasileira. A pesquisa confirmou a tendência de declínio da desnutrição infantil e ratificou a

aceleração recente desse declínio na década de 2000. Por outro lado, em todas as idades, a

partir dos cinco anos, houve um aumento acelerado do excesso de peso e obesidade. Em

crianças de cinco a nove anos de idade e entre adolescentes, a frequência do excesso de peso,

que vinha aumentando modestamente até o final da década de 1980, praticamente triplicou

nos últimos 20 anos, alcançando entre um quinto e um terço dos jovens43.

O padrão de consumo alimentar também foi avaliado nesse mesmo estudo, e mostrou

que o brasileiro adota um padrão alimentar inadequado, com teor excessivo de açúcar,

consumo insuficiente de frutas e hortaliças e consumo excessivo de gorduras em geral.

Nesse contexto, soma-se a grande tendência para o sedentarismo, contribuindo para o

aparecimento de alterações relacionadas com o metabolismo glicídico e lipídico e para o

aumento da pressão arterial, reconhecidos como fatores importantes para as doenças

cardiovasculares.

A adoção de medidas de prevenção primária em jovens assume grande importância no

cenário da abordagem das doenças cardiovasculares. A demonstração da presença da

28

aterosclerose na infância, na adolescência, e na fase adulta jovem, aliada ao maior

conhecimento dos fatores de risco nessa idade, aponta para propostas de programas efetivos

que tenham como objetivo intervir sobre esses fatores o mais precocemente possível44. A

principal finalidade de medidas preventivas voltadas ao risco cardiovascular em populações

jovens é prevenir fatores de risco como hipertensão arterial, dislipidemia, obesidade, diabetes

e tabagismo, com medidas amplas de promoção de saúde. As medidas de prevenção

concentram-se em adoção de hábito alimentar saudável com redução da ingestão de calorias,

sal e de gordura saturada, e na atividade física regular e na abstenção do fumo.

1.5 RELAÇÃO ENTRE CONSUMO DE SÓDIO E PRESSÃO ARTERIAL

Nos últimos anos, tem sido observado um aumento da quantidade de sódio consumida

na dieta, o que também está contribuindo para elevada incidência de doença cardiovascular45.

O INTERSALT foi o maior estudo já realizado sobre o assunto. Este foi realizado em 52

centros de 32 países na década de 80 e publicado em 1988. Cada centro recrutou 200 homens

e mulheres de 20 a 59 anos. O consumo de sódio foi medido através da excreção de sódio na

urina de 24h. A mediana do consumo de sal foi de 9,9g/dia46. Variou de 0,1g/dia em índios

Yanomami no Brasil, a 15g/dia em Tianjin, na China. Em países de alta renda, o consumo de

sal está entre 9-12g/dia, e acima de 80% do sal vem de comidas industrializadas47. No Brasil,

74,4% da distribuição da disponibilidade domiciliar de sódio corresponde ao sal e

condimentos à base de sal, 18,9% de alimentos processados com adição de sal, 4,8% de

alimentos in natura ou processados sem adição de sal e 1,6% de pratos prontos48. A tabela 1

apresenta a relação entre o sódio e o sal.

Tabela 1. Correspondência entre os valores de sódio e de sal

Sódio (mg) Sódio (mmoL) Sal (g)

1200 51 3

2000 87 5

2400 104 6

4000 174 10

(Fonte: Elaborada pela autora.)

O sódio é o cátion mais abundante no fluido extracelular, com funções-chave na

manutenção do balanço de fluidos no corpo. Participa do equilíbrio ácido-base, da pressão

oncótica e da atividade de músculos e nervos49; 50.

29

Trabalhos recentes sugerem que o endotélio, em particular, também reage com as

mudanças no consumo de sódio da dieta, através de uma série de eventos complexos que são

independentes da pressão arterial e do eixo renina-angiotensina-aldosterona. Há evidências de

aumento do TGF-β (Fator de Transformação de crescimento beta) e de óxido nítrico com o

aumento do consumo de sal. Isso diminuiria a conformação vascular, aumentando a

constrição arterial periférica e a pressão arterial. As alterações persistentes na função vascular

aumentariam os eventos cardiovasculares e reduziriam a função renal, reduzindo a expectativa

de vida em condições de consumo de sal aumentado49.

Os métodos para avaliação do consumo de sal são:

1 - registro alimentar.

2 - recordatório alimentar de 24h.

3 - dosagem do conteúdo de sal do alimento antes da ingestão.

4 - dosagem da excreção de sódio urinário (sendo a urina de 24h considerada como

padrão-ouro para esse procedimento).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda consumo de sal abaixo de 5

g/dia, o equivalente a 2 g de sódio/dia51.

A falta de habilidade dos rins em excretarem totalmente o sal é um dos principais

mecanismos na associação do sal com a pressão arterial52. No estudo INTERSALT, a

associação da excreção urinária de sódio nas 24h com a pressão arterial foi semelhante a

associação entre o aumento da pressão arterial com a idade46. A diminuição no consumo de

5,8 g de sal associou-se a uma redução de 3,1 mmHg na pressão arterial sistólica (PAS)53.

Além disso, populações com menor consumo diário de sal tiveram valores de pressão arterial

mais baixos e pouco ou nenhum aumento na pressão arterial com a idade46.

Sarno e colaboradores, 200954, utilizando estimativas baseadas nos dados da Pesquisa

de Orçamentos Familiares (POF), avaliaram que a quantidade diária de sódio disponível para

consumo nos domicílios brasileiros, de 2002-2003, foi de 4,5 g por pessoa, excedendo, assim,

em mais de duas vezes o limite recomendado de ingestão desse nutriente51.

Em uma revisão, Alderman em 200655, apresenta evidências da associação entre o sal

da dieta e as doenças cardiovasculares. A suposição de que o consumo está associado às

doenças cardiovasculares baseia-se no seu impacto na pressão arterial. São apresentados nove

estudos observacionais que correlacionam consumo de sal (estimado pela urina de 24h ou

consumo avaliado pela dieta) com morbidade e mortalidade. Os resultados isoladamente são

30

inconsistentes. Juntos, eles sugerem que a heterogeneidade genética, comportamental e

ambiental melhor descreve a relação do consumo de sal com as doenças cardiovasculares.

He e MacGregor56 realizaram uma metanálise de 17 estudos com adultos hipertensos e

11 com normotensos para observar o efeito de uma redução modesta no consumo de sal, com

uma duração de quatro semanas ou mais, na pressão arterial. A redução mediana na excreção

urinária (24h) de sódio foi de 78 mmol (equivalente a 4,6g de sal/dia) em hipertensos e de 74

mmol em normotensos. A queda estimada na pressão arterial foi de 4,96 mmHg na PAS e de

2,73 mmHg na PAD - em hipertensos e de 2,03 mmHg na PAS e de 0,97 mmHg na PAD em

normotensos, diferenças essas estatisticamente significativas. Os resultados demonstram que

uma redução modesta no consumo de sal em quatro semanas ou mais, é suficiente para

reduzir a pressão arterial tanto em hipertensos quanto em normotensos.

A redução do consumo de sal reduz infarto57, hipertrofia ventricular esquerda58,

distensibilidade arterial59, proteinúria e doença renal crônica60; 61.

Strazzullo et al., 200962, realizaram uma revisão sistemática/meta-análise com 19

amostras de coortes independentes de 13 estudos com 177.025 participantes no total. Maior

consumo de sal foi associado com maior risco de infarto com risco relativo (RR) de 1,23 (IC

95% 1,06-1,43) e doença cardiovascular (RR 1,14 IC 95% 0,99-1,32). Devido à imprecisão na

medida de consumo de sal, essas medidas de efeito podem estar ainda subestimadas.

Em crianças acima de dois anos, uma revisão com 37 estudos observacionais e de

intervenção concluíram que o aumento no consumo de sal está realmente relacionado ao

aumento na pressão arterial também em crianças e adolescentes63.

O estudo National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) analisou uma

população de 3.248 crianças no NHANES III (1988-1994) e de 8.388 crianças no seguimento

(NHANES 1999-2008), com idades entre 8 a 17 anos. O desfecho analisado foi pressão

arterial elevada (PAE). Como resultado, a pressão arterial aumentou do NHANES III para o

NHANES 99-08 para ambos os sexos (Masculino: 15,8% para 19,2%, p=0,057; Feminino:

8,2% para 12,6%, p=0,007). O consumo de sódio (≥ 3.450 mg vs < 2.300 mg/2000 calorias,

odds ratio - OR=1,36, p=0,024) foi associado independentemente com pressão arterial

elevada, confirmando esta associação nessa faixa etária64.

Há uma única meta-análise realizada com crianças e adolescentes de estudos

controlados (10 ensaios) com 966 participantes65. A redução de 42% do consumo de sal

reduziu a PAS em 1,17 mmHg (IC 95% -1,78 a -0,56 mmHg) e a PAD em 1,29 mmHg (IC

95% -1,94 a -0,65 mmHg). Três estudos com 551 crianças foram incluídos, com redução de

31

54% de consumo de sal. Nestes, a redução na PAS foi de 2,47 mmHg (IC 95% -4 a -0,94

mmHg). A meta-análise demonstrou que uma redução modesta no consumo de sal causa

queda imediata na pressão arterial e, se continuada, pode também diminuir o aumento

subsequente da pressão arterial com a idade, o que pode levar à diminuição das doenças

cardiovasculares em adultos.

Mais recentemente, uma análise global estimada indicou que 8,5 milhões de mortes

poderiam ser evitadas durante 10 anos (2006-2015) somente pela redução de sal e o custo

estimado por pessoa com essa redução estaria entre US$0,04-US$0,3266.

O consumo excessivo de sódio também está associado a outros numerosos efeitos

negativos para a saúde, incluindo: câncer gástrico67, diminuição da densidade óssea68 e

possivelmente obesidade69. Apesar das consequências negativas para a saúde e dos custos

associados aos tratamentos das doenças geradas, o consumo de sal na maioria dos países ainda

é bem acima dos níveis recomendados, tornando a redução do consumo de sódio uma

prioridade para a saúde pública70; 71.

Em uma revisão, Nguyen et al., 2013, relatam como determinados fatores nutricionais

atuam no manejo da hipertensão. Para o sódio, a conexão entre sal e hipertensão ainda está

sob debate. O conceito de sensibilidade ao sal versus resistência ao sal originou-se de estudos

que demonstraram respostas heterogêneas da pressão arterial em relação ao consumo de

sódio; tendo a sensibilidade ao sal sido encontrada em maior prevalência em certos

subgrupos: idades mais velhas, negros, resistentes à insulina, com microalbuminúria, com

doença crônica renal e com baixos níveis de renina. Segundo os autores as evidências sobre a

recomendação de restrição de sódio na dieta devem ser interpretadas com cautela72.

1.6 HIPERTENSÃO ARTERIAL E OUTROS ELETRÓLITOS

Vários estudos internacionais demonstram efeitos positivos da suplementação de

potássio na redução da pressão arterial. O benefício do consumo de potássio na redução da

pressão arterial parece ser maior em pacientes com hipertensão, com períodos longos de

suplementação, e com alto consumo de sódio concomitante. No geral, a média de consumo

diário de potássio em muitos países é abaixo do recomendado. Alimentos ricos em potássio

são vegetais, frutas, laticínios e vários tipos de amêndoas72.

Uma meta-análise de ensaios clínicos randomizados teve como objetivo avaliar as

respostas na pressão arterial em relação ao consumo de sódio e potássio e examinar o efeito

32

de modificação por idade, sexo, pressão arterial, peso e consumo habitual de sódio e potássio.

Foram selecionados 40 ensaios clínicos para consumo de sódio e 27 para potássio com

duração mínima de duas semanas como elegibilidade. Como conclusão, a redução no

consumo de sódio e aumento no consumo de potássio apresentaram uma contribuição

importante na prevenção da hipertensão, especialmente em populações com pressão arterial

elevada73.

A relação entre consumo de cálcio e hipertensão é complexa e difícil de ser isolada

devido à interação com outros nutrientes da dieta e à dificuldade na confiabilidade dos dados

coletados sobre consumo de cálcio, além da ausência de informações sobre variáveis de

confundimento. A discrepância nos resultados dos estudos pode ser explicada por uma

variedade de fatores que incluem heterogeneidade dos participantes do estudo, falhas nos

desenhos de estudos, limitações na aferição da pressão arterial e no consumo de cálcio, curta

duração dos estudos, diferentes métodos analíticos, bem como colinearidade com outros

fatores dietéticos tais como magnésio, fibras, proteínas e potássio72.

Apesar das controvérsias acerca do papel do cálcio, uma coorte seguida por 10 anos

com 28.886 mulheres americanas acima de 45 anos investigou a associação de consumo

diário de produtos ricos em cálcio e vitamina D, com incidência de hipertensão, e observou

que, tanto o consumo diário de cálcio quanto o de vitamina D, foram inversamente associados

com o risco de hipertensão nessas mulheres74.

Existe uma correlação inversa significativa entre magnésio sérico e a incidência de

doenças cardiovasculares. O magnésio é um mineral com importantes funções no organismo

como efeito antiarrítmico, ações no tônus vascular, contratilidade, metabolismo de glicose e

homeostasia insulínica. Além disso, baixas concentrações de magnésio são associadas ao

estresse oxidativo, estado pró-inflamatório, disfunção endotelial, agregação plaquetária,

resistência à insulina e hiperglicemia. Os resultados conflitantes dos estudos que avaliaram os

efeitos da suplementação com magnésio na pressão arterial e outros desfechos

cardiovasculares demonstram que a ação do magnésio no sistema vascular existe, mas ainda

não está bem estabelecida75.

A deficiência de magnésio tem sido associada a um aumento de pressão arterial em

estudos isolados, enquanto que uma meta-análise com 29 estudos demonstrou uma associação

negativa entre consumo de magnésio na dieta e pressão arterial. Com base nessas

informações, a relação entre magnésio e hipertensão parece inconsistente72.

33

Em um estudo de seguimento para avaliar a associação de fatores nutricionais com

hipertensão por quatro anos, com 30.681 profissionais de saúde do sexo masculino sem

hipertensão diagnosticada, idade, peso e consumo de álcool foram os preditores mais fortes

para hipertensão enquanto que a quantidade de fibras, potássio e magnésio na dieta

associaram-se de forma independente e estatisticamente significativa a um menor risco de

hipertensão, mesmo após ajustes por idade, peso, consumo de álcool e consumo calórico76.

Em uma revisão sobre o papel do potássio, magnésio e cálcio tanto na causa como no

tratamento da hipertensão, Houston e Harper concluíram que os americanos consomem o

dobro de sódio e metade do potássio recomendados pelas diretrizes americanas atuais. Um

aumento no consumo de potássio aliado a uma diminuição no consumo do sódio

provavelmente seria a melhor escolha de dieta (depois da perda de peso) que deveria ser

implementada para a redução de doenças cardiovasculares. Infelizmente, a população que

mais poderia se beneficiar do aumento de potássio, magnésio e cálcio na dieta é a que possui

menos acesso à esse grupo de alimentos (frutas e vegetais)77.

1.7 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR

Os métodos dietéticos têm o objetivo de medir a informação dietética e podem ser

classificados em qualitativos e quantitativos, podendo, ainda, ser divididos em duas

categorias: os que registram o consumo atual de alimentos (pesagem de alimentos, registro

alimentar e o recordatório de 24 horas) e os que recordam o consumo passado de alimentos

(história dietética e questionário de frequência alimentar)78.

Recordatório de 24 horas

O recordatório de 24 horas consiste no relato de todos os alimentos e bebidas

consumidos pelo indivíduo ao longo de um período de 24 horas, geralmente o dia anterior à

entrevista. As informações são obtidas em medidas caseiras ou unidades e posteriormente

convertidas em pesos e volumes79.

Bastante usado em todo o mundo, o método recordatório de 24 horas é um instrumento

de avaliação da ingestão de alimentos e nutrientes de indivíduos e grupos populacionais, mas

requer nutricionista ou entrevistador bem treinado para a realização da coleta de dados. Em

geral, esse instrumento é bem aceito pelos entrevistados, o tempo de aplicação é curto, o custo

é baixo e não promove alteração da dieta habitual80.

34

A utilização do recordatório de 24 horas em estudos epidemiológicos apresenta

muitas vantagens, principalmente porque é rápido, relativamente barato e de fácil aplicação.

Permite que a população estudada não seja alfabetizada. Esse método avalia a dieta atual e

estima valores absolutos ou relativos da ingestão de energia e nutrientes amplamente

distribuídos no total de alimentos oferecidos ao indivíduo80. Entretanto, o entrevistado tem

que recordar, definir e quantificar sua ingestão alimentar do dia anterior à entrevista. Outra

limitação importante é que, por refletir a ingestão atual, não representa os hábitos alimentares.

Também não permite considerar a sazonalidade, além do fato da ingestão real poder estar

omitida pelo sub-registro81.

A qualidade das informações obtidas por meio do recordatório de 24 horas será

determinada pela habilidade do indivíduo de recordar, a qual estará influenciada pelo sexo,

idade e nível de escolaridade. A idade é o fator que mais influencia na qualidade82. A única

maneira de amenizar as fontes de erro (viés de memória, tamanho de medidas caseiras e

estimação das porções) é associar ao recordatório de 24 horas o uso de fotografias, réplicas de

alimentos e kits com medidas caseiras, além de repetir a entrevista em outra ocasião80. Apesar

de todas as limitações e significativas fontes de erro, esse método é muito usado83.

Registro Alimentar

Consiste no registro, em formulários previamente estruturados, de todos os alimentos e

bebidas consumidas e suas respectivas quantidades durante determinado período, em geral ao

longo de um dia. Caso o indivíduo seja orientado a anotar seus dados de consumo logo após

as refeições, o método poderá ser mais completo e preciso. Requer auxílio gráfico ou de

objetos próprios de diferentes tamanhos de porções e a representação do que foi consumido

em medidas caseiras tradicionalmente usadas83. Os alimentos consumidos fora da residência

também devem ser registrados80.

Uma das principais vantagens do método é que ele independe de memória. Entretanto,

sua utilização envolve mais tempo do entrevistado, que deverá estar muito motivado, pois o

resultado dependerá da sua cooperação80. As principais desvantagens são o sub-registro

alimentar ou a omissão de alimentos, impossibilidade de aplicar o método em pessoas não

alfabetizadas, impaciência natural de crianças e adolescentes para preencher todos os

formulários e seu alto custo83. Esse método, como o recordatório de 24 horas, recolhe

informação sobre a ingestão atual de um indivíduo ou grupo populacional80.

35

O registro alimentar também pode ser realizado com pesagem de alimentos. Neste

caso, há necessidade de balança doméstica. Embora seja considerado mais exato para

determinar a ingestão, o método de pesagem é mais demorado, oneroso e exige alto nível de

cooperação das famílias e indivíduos83.

Questionário de Frequência Alimentar (QFA)

O questionário de frequência alimentar consiste em uma lista de alimentos com uma

seção de respostas sobre a frequência com que os alimentos ou grupo de alimentos são

consumidos durante um período de tempo predeterminado, possibilitando, assim, obter dados

qualitativos sobre o consumo alimentar82. Para possibilitar a estimativa de dados

quantitativos, incorporam-se, nos questionários de frequência alimentar, questões sobre o

tamanho das porções. O QFA, por ser um instrumento dietético que representa o consumo

habitual dos indivíduos e pelo fato de ter menor custo relativo quando comparado a outros

instrumentos, tem sido bastante utilizado em estudos epidemiológicos com o objetivo de

elucidar a associação entre consumo alimentar e ocorrência de doenças crônico-

degenerativas84; 85; 86.

A construção do QFA pode ser feita a partir de um banco de dados, que em geral é

composto pelos alimentos e preparações mais frequentemente consumidos pela população a

ser estudada ou a partir de tabelas de composição de alimentos. Para utilização do QFA é

necessário menos treinamento do entrevistador, uma vez que pode ser aplicado em entrevista,

autoadministrado ou enviado pelo correio. Essa vantagem pode ser traduzida em menor custo

e eficiência na prática epidemiológica87. Entretanto, em estudos epidemiológicos nacionais e

em países grandes e com populações com hábitos alimentares tão heterogêneos, como o

Brasil, o uso do QFA torna-se complicado, por ser difícil criar um questionário que inclua os

alimentos típicos de todas as regiões do país.

História Dietética

Este método consiste em uma associação de métodos em que, geralmente o QFA é

aliado a outro, que pode ser o recordatório de 24 horas ou registro alimentar, para verificar e

validar os dados coletados inicialmente. Em geral utiliza-se três dias de registros alimentares

por meio de medidas caseiras, observando, entre outras coisas, o tamanho da porção. Permite

36

estimar a ingestão alimentar habitual, mas é desaconselhável para estudos populacionais, pois

requer tempo para execução e seu custo é alto80.

1.8 HÁBITOS ALIMENTARES

A epidemiologia nutricional tem produzido informações importantes concernentes à

relação dieta-saúde. Determinados aspectos da dieta são reconhecidos atualmente por terem

efeitos biológicos que possam estar relacionados ao risco para doenças crônicas88.

A influência de fatores ambientais na determinação do comportamento alimentar

humano tem sido muito estudada. O estudo de Quaioti e Almeida (2006)89 adota uma

estratégia interessante, em forma de revisão, por período de desenvolvimento do ser humano

(lactantes, pré-escolares, escolares, adolescentes e adultos), para discutir determinantes

ambientais do consumo alimentar que podem predispor à obesidade. Os autores afirmam que

é na fase da adolescência que as preferências alimentares se consolidam.

Fatores de risco como o sedentarismo, o tabagismo e a alimentação inadequada,

diretamente relacionados ao estilo de vida, são responsáveis por mais de 50% do risco total de

desenvolver algum tipo de doença crônica, mostrando-se, nessa relação causal, mais decisivos

que a combinação de fatores genéticos e ambientais. Importante ressaltar que os benefícios

para a saúde podem ser conseguidos com uma alimentação saudável e balanceada, aliada a

níveis moderados a intensos de atividade física90; 91.

A formação dos hábitos alimentares é influenciada por uma série de fatores:

fisiológicos, psicológicos, socioculturais e econômicos. A aquisição dos hábitos ocorre à

medida que a criança cresce, até o momento em que a própria escolherá os alimentos que

farão parte da sua dieta. Quando pequena, seu universo se restringe, geralmente, aos pais e

cabe a eles determinar que alimentos lhe será ofertados. À medida que a criança passa a

frequentar a escola e a conviver com outras crianças, ela conhecerá outros alimentos,

preparações e hábitos. Os adultos são modelos, delineando as preferências alimentares das

crianças. Os vínculos afetivos poderão influenciar positiva ou negativamente na fixação dos

padrões de consumo alimentar. Em sociedades modernas é grande a influência da televisão na

formação dos hábitos alimentares92.

O período da adolescência é caracterizado por crescimento físico e desenvolvimentos

rápidos, com aumento da necessidade de nutrientes. Além destas, características como a

crescente independência, alterações psicológicas, busca de autonomia, definição da própria

37

identidade, influência de amigos, demandas escolares e de trabalho, pressões e modificação

das preferências alimentares e rebeldia contra os padrões familiares fazem deste um grupo de

risco nutricional. Deve-se também considerar os fatores de risco para a saúde do adolescente,

como o tabagismo, uso de álcool, sedentarismo, excesso de esportes, uso de drogas, hábito de

fazer dieta por questões estéticas, problemas familiares, como separação ou morte dos pais,

gravidez e comportamento alimentar inadequado92.

Algumas patologias que antes só se manifestavam em adultos ou idosos vêm sendo

encontradas em adolescentes, como o diabetes tipo II, doenças cardiovasculares, osteoporose

e outras. Isto ocorre, principalmente, por causa da alimentação e do estilo de vida

inadequados92. Há algumas décadas atrás, fazer as refeições fora de casa, comer em pé

rapidamente, abandonar o “arroz e feijão”, adotar o hamburger no cardápio diário eram

hábitos inconcebíveis para o brasileiro. Hoje, com a disseminação da “fast food”, uma nova

realidade se instala no Brasil93.

Monteiro et al. (2000) atualizam as tendências temporais do consumo alimentar nas

áreas metropolitanas do Brasil utilizando dados da pesquisa sobre orçamentos familiares

(POF). Eles relatam tendência ascendente da participação relativa de lipídios na dieta do

Norte e do Nordeste, aumento no consumo de ácidos graxos saturados em todas as áreas

metropolitanas do país, ao lado da redução do consumo de carboidratos completos, da

estagnação ou da redução do consumo de leguminosas, verduras, legumes e frutas e do

aumento no consumo já excessivo de açúcar como traços marcantes e negativos da evolução

do padrão alimentar brasileiro entre 1988 e 1996. Mudanças que podem indicar a adesão da

população a dietas mais saudáveis – declínio no consumo de ovos e recuo discreto da elevada

proporção de calorias lipídicas – foram registradas apenas no Centro-Sul do País94.

Um estudo realizado em Cascavel, Paraná, com adolescentes entre 11 a 17 anos

mostrou que os adolescentes, em geral, não consideram sua alimentação saudável, apesar de

terem esse conhecimento e saberem quais são os riscos da má alimentação, consideram-se

ainda jovens para pensar no futuro e querem apenas viver o presente95.

Um estudo com 2.209 adolescentes de 13 e 14 anos de Pelotas, RS, relata que os

hábitos alimentares saudáveis mais frequentes foram o consumo diário de feijão e leite,

relatado por cerca de metade dos alunos. Quase metade dos jovens referiu ingerir batata frita e

salgadinhos no máximo uma vez por semana. Como conclusão, verificou-se baixa frequência

de hábitos alimentares saudáveis em todos os subgrupos estudados96.

38

É recomendável a moderação no consumo de gorduras, principalmente as saturadas,

contidas nos alimentos de origem animal. Entretanto, a dieta deverá suprir as quantidades

necessárias para o crescimento. Dietas pobres em gordura geralmente não fornecem a energia

e os nutrientes essenciais, com prejuízos à puberdade. A recomendação de uma alimentação

com alto conteúdo de fibras e baixo em gorduras não prejudica o conteúdo energético ou de

nutrientes. Sempre que necessário, os profissionais de saúde devem aconselhar os

adolescentes a diminuir a quantidade de gorduras e aumentar as fibras da dieta, em conjunto

com a promoção de atividade física e de hábitos de vida saudáveis, para o bem-estar desta

população92. Bazzano et al (2002) afirmam em um estudo com 9.608 adultos do National

Health and Nutrition Examination Survey Epidemiological Follow-Up Study (NHANES I)

que existe uma forte associação inversa entre consumo de frutas e vegetais e risco

subsequente de doença cardiovascular, sustentando a questão de uma dieta rica em frutas e

verduras ser uma aproximação para a prevenção de doenças cardiovasculares97.

Vários estudos internacionais estudaram a relação dieta-saúde através da análise dos

padrões alimentares e doença e alguns estudos brasileiros já foram publicados nesse mesmo

tema com adolescentes: H. Okubo et al (2008) com obesidade98; Salvatti et al (2011) com

estado nutricional99; Neumann et al (2007) com fatores de risco para doenças

cardiovasculares100; Dishchekenian et al (2011) com obesidade e doenças crônicas101.

A ocorrência da maioria das doenças está relacionada com o que as pessoas comem e

bebem, com suas atividades diárias, e seu ambiente físico e social102. Neste caso, a promoção

da saúde, a prevenção de algumas doenças, ou pelo menos, seu aparecimento mais tardio,

poderiam ser alcançados por meio da redução da prevalência desses fatores, que são,

teoricamente, passíveis de modificação103.

1.9 MODELO TEÓRICO

Um modelo teórico foi elaborado como base para a investigação da hipótese da

associação positiva de consumo de sódio com pressão arterial (Figura 6).

O papel de algumas características foi investigado para avaliar se são modificadoras de

efeito ou variáveis confundidoras. Essas características são: sexo, idade, estado nutricional

(avaliado por índice de massa corpórea - IMC), cor da pele, consumo energético e histórico

familiar de hipertensão arterial.

39

A variável de confundimento está associada à exposição, e independentemente dessa

ao desfecho, mas não está envolvida na cadeia causal. Por outro lado, a exposição pode ter um

efeito que é mediado por variáveis utilizadas no ajuste. Nesse caso, pode concluir-se

erroneamente, que a exposição não tem participação na determinação do desfecho, e nunca

testar a possibilidade de intervenção eficaz para esse fator de risco. A inclusão de uma

variável mediadora no modelo irá possivelmente reduzir ou eliminar o poder explicativo da

exposição, mas poderá evidenciar a existência de um caminho independente104.

Quando o efeito da exposição é modificado por uma terceira variável, ou seja, a

associação é heterogênea entre estratos dessa variável, a modificação de efeito deve ser

considerada, havendo significância estatística para essa heterogeneidade, e os resultados

devem ser relatados para cada estrato, e não combinados em uma única medida de associação.

É importante lembrar que se tratando de um estudo seccional, a maior parte das

associações estudadas não podem ser interpretadas como associações causais.

Nesse modelo, a associação do consumo de sódio com a pressão arterial é modificada

por sexo, pelo histórico familiar e cor de pele. Ou seja, o comportamento da associação é

diferente no sexo masculino e feminino, na presença ou ausência do histórico familiar e com a

cor da pele (branca/preta).

A idade, o estado nutricional (avaliado pelo IMC) e o consumo energético são

variáveis confundidoras, pois estão associadas ao consumo de sódio de maneira crescente, e

também estão associadas à pressão arterial, independentemente.

40

Figura 6. Modelo teórico para associação de consumo de sódio com pressão arterial. (Fonte:

Elaborada pela autora).

*Associação (Causal?)

Exposição: Consumo de Sódio

Variável Independente

Desfecho: Pressão Arterial Elevada

Variável Dependente

Confundimentos

Idade

Estado Nutricional

Consumo Energético

Associação

(Causal)

Associação

(Causal ou não)

Modificação de Efeito

Sexo

Histórico Familiar de HA

Cor de Pele

41

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Investigar a associação do consumo de sódio na dieta com a pressão arterial de

adolescentes de 12 a 17 anos que frequentam escolas em cidades brasileiras com mais de

100.000 habitantes.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Artigo 1:

Descrever a distribuição do consumo de sódio de adolescentes escolares brasileiros de

12 a 17 anos segundo: região do país, sexo, idade, estado nutricional, cor da pele,

escolas públicas e privadas e escolaridade da mãe.

Artigo 2:

Investigar o papel (confundimento e modificação de efeito) de diferentes

características (sexo, idade, estado nutricional, cor da pele, consumo energético) na

associação do consumo de sódio com pressão arterial em adolescentes.

Investigar a modificação do efeito da história familiar de hipertensão arterial e sexo na

associação de consumo de sódio com pressão arterial de adolescentes.

Investigar a associação de consumo de sódio com pressão arterial de adolescentes no

nível ecológico (capitais e municípios).

42

3 MÉTODOS

3.1 POPULAÇÃO DE PESQUISA DO ERICA

Trata-se de um estudo seccional, multicêntrico nacional de base escolar. O Estudo de

Riscos Cardiovasculares em Adolescentes - Erica tem o objetivo de estimar a prevalência de

diabetes mellitus, obesidade, fatores de risco cardiovascular e de marcadores de resistência à

insulina em adolescentes.

No presente estudo, foram elegíveis todos os adolescentes, de ambos os sexos, de 12 a

17 anos, que frequentavam escolas públicas e privadas das cidades brasileiras com mais de

100.000 habitantes selecionadas para participar do estudo. Os critérios de exclusão para

participação do estudo foram: adolescentes portadores de deficiência física ou déficit

cognitivo que impossibilitassem a avaliação antropométrica ou a compreensão ou

preenchimento do questionário e adolescentes grávidas.

Amostragem

A amostra foi estratificada em três estágios de seleção: escola, turma e alunos. Em

cada estrato geográfico, as escolas foram selecionadas com probabilidade proporcional ao

tamanho. Nas escolas selecionadas, foi feito um levantamento das turmas e alunos das séries

consideradas, para permitir a seleção de três turmas por escola. Nas turmas selecionadas,

todos os alunos foram convidados a participar do estudo. A população de pesquisa

correspondeu ao conjunto de adolescentes de 12 a 17 anos, matriculados em escolas dos 273

municípios com 100 mil habitantes ou mais em julho de 2009. A população de pesquisa foi

estratificada em 32 estratos geográficos assim constituídos: cada um dos 27 municípios de

capital e cinco estratos com o conjunto de municípios de mais de 100 mil habitantes de cada

uma das cinco macrorregiões do país. Foram criados ainda estratos para turmas do turno da

manhã e turno da tarde. Tomando a série escolar como uma aproximação razoável da idade,

foram selecionadas turmas das três últimas séries do ensino fundamental e das três séries do

ensino médio. A descrição completa do processo de amostragem pode ser encontrada em

artigo já publicado105.

43

3.2 LOGÍSTICA

As escolas selecionadas foram contatadas para fins de recrutamento e planejamento da

coleta de dados. Os responsáveis foram informados do estudo, e apenas os adolescentes que

assinaram o Termo de Assentimento (TA) foram incluídos. Aqueles que também participaram

da coleta de sangue foram avaliados mediante Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE) assinado pelos pais ou responsáveis. Os alunos que aceitaram participar foram

entrevistados dentro nas escolas em horários agendados. O protocolo do estudo foi submetido

a comitês de ética em pesquisa de todos os estados. O detalhamento da metodologia de

protocolo do estudo pode ser consultado em outra publicação106.

3.3 DADOS COLETADOS

O questionário do adolescente utilizado foi autopreenchido em coletor eletrônico de

dados – personal digital assistants (PDA), contendo cerca de 100 questões e dividido em 11

blocos: aspectos sóciodemográficos, atividades ocupacionais, atividade física,

comportamentos alimentares, tabagismo, uso de bebidas alcoólicas, saúde reprodutiva, saúde

bucal, morbidade referida, duração do sono e transtornos mentais comuns.

Alguns blocos do questionário, incluindo o de comportamentos alimentares, basearam-

se no questionário utilizado pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada

pelo IBGE no ano de 2009107.

3.4 AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR

Para avaliação do consumo alimentar foram realizados dois recordatórios alimentares

de 24 horas (REC24h): um na amostra total e outro apenas em uma subamostra (cerca de

10%), a fim de avaliar a variabilidade intraindividual no consumo alimentar.

A distribuição de consumo baseada em apenas dois dias está sujeita a flutuações

(variação intrapessoal), que pode sub ou superestimar a prevalência de inadequação108.

A entrada dos dados do REC24h foi realizada na escola, utilizando-se um software

específico com o uso de netbooks. Este software utiliza uma lista de alimentos proveniente

dos resultados da Pesquisa de Orçamento Familiar43.

A aplicação do REC24h foi realizada por dois pesquisadores de campo devidamente

treinados. Para reduzir o erro na obtenção dos dados, uma técnica de entrevista denominada

44

“Multiple Pass Method”109 foi utilizada, com algumas adaptações. Maior detalhamento do

método pode ser consultado em artigo de Barufaldi e colaboradores110.

Considerou-se a adição de óleo de soja em todas as formas de preparação de carnes,

peixes e aves e nas preparações cozidas e refogadas de legumes e verduras. Adicionalmente,

padronizou-se a adição de 10 g de açúcar para cada 100 ml de suco de fruta, café, café com

leite, chá e mate, quando os indivíduos reportaram o consumo usual de açúcar, e adição de 5 g

de açúcar para cada 100 ml dessas bebidas, quando foi reportado o consumo frequente tanto

de açúcar quanto de adoçante.

Para a estimativa da ingestão de energia, macro e micronutrientes foram utilizadas as

tabelas de composição nutricional111 e medida caseira112 compiladas especificamente para

análise dos alimentos e preparações citados na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2008-

200943. Os dados de ingestão de nutrientes representam a contribuição somente dos alimentos

e/ou bebidas e não incluíram o consumo de suplementos e/ou medicamentos.

Em nossa pesquisa o consumo de sal será estimado pelo teor de sódio dos alimentos. A

adição de sal à mesa não foi considerada para a análise pois esta informação, além de

imprecisa, não ajudaria na estimativa do consumo total de sódio, pois é difícil de ser

quantificada.

3.5 INFORMAÇÕES DO QUESTIONÁRIO DO RESPONSÁVEL

O questionário do responsável foi enviado aos responsáveis pelo próprio aluno e

incluiu informações sobre escolaridade da mãe, histórico familiar para doenças

cardiovasculares e metabólicas e circunstâncias relacionadas ao nascimento do aluno (peso ao

nascer, amamentação). Este foi o único formulário impresso utilizado no estudo. A entrada de

dados foi realizada duplicada para minimizar erros de digitação.

A variável utilizada foi história familiar de hipertensão. Tal questão foi abordada em

uma pergunta com quatro respostas possíveis no questionário do responsável:

- Assinale se já foi dito por médico que algum parente da/do estudante tem hipertensão

arterial (pressão alta) para o pai, para a mãe, irmão/irmã ou outro parente,

separadamente;

As perguntas permitiam as respostas “sim”, “não” e “não sei”.

Essas variáveis foram recodificadas em quatro categorias para histórico familiar para

hipertensão arterial: sem histórico familiar de pai ou mãe hipertensos, histórico familiar

45

positivo para pai, histórico familiar positivo para mãe e histórico familiar positivo para pai e

mãe.

3.6 AFERIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL

As medidas de pressão arterial e classificação de hipertensão arterial nos adolescentes

foram baseadas no Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation, and Treatment of High Blood

Pressure in Children and Adolescents38. As pressões sistólica, diastólica e a pulsação foram

medidas usando o aparelho oscilométrico automático Omron® 705-IT, validado para

adolescentes113.

A medida da pressão arterial foi realizada no braço direito, com o aluno sentado e com

os pés no chão, e com manguito de tamanho apropriado (pela medida de perímetro do braço),

cobrindo aproximadamente 80% da distância entre o olecrânio e o acrômio. A bolsa

pneumática deveria cobrir pelo menos 40% da circunferência do braço que era posicionado na

altura do coração.

O adolescente não poderia ter fumado, ingerido café, refrigerantes ou outro energético

há pelo menos uma hora; a bexiga também deveria estar vazia. Foram realizadas três medidas

consecutivas para cada indivíduo, com um intervalo de três minutos entre elas. A primeira

medida foi descartada e foi utilizada a média das duas últimas medidas.

O adolescente foi considerado normotenso se a pressão arterial sistólica e/ou diastólica

eram mais baixas que o percentil 90 para sua altura, sexo e idade; com pressão arterial normal

alta se a pressão arterial sistólica e/ou a diastólica estavam entre os percentis 90 e 95 e como

hipertenso se a pressão arterial sistólica e/ou diastólica estavam igual ou acima do percentil

95.

Foram adotados alguns critérios para encaminhamento ao serviço de saúde de acordo

com a classificação da pressão arterial:

- Limítrofe: Percentil ≥ 90 e < 95 ou PAS ≥ 120 ou PAD ≥ 80.

Recomendação de repetição da medida em um ano ou encaminhamento ao serviço de

saúde caso apresentasse mais algum parâmetro laboratorial fora da normalidade.

- Elevada: Percentil ≥ 95 e < 99 mais 5 mmHg

Encaminhamento ao Serviço de Saúde.

- Muito Elevada: Percentil ≥ 99 mais 5 mmHg

Encaminhamento ao Serviço de Saúde com Urgência.

46

3.7 MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS

As medidas de peso e estatura foram coletadas com o auxílio de um biombo para

garantir a privacidade durante a coleta de dados. Para todas as medidas, os adolescentes

deveriam estar descalços e portando roupas leves. Caso o adolescente estivesse portando

calças ou bermudas pesadas, a equipe solicitava ao adolescente a troca por shorts mais leves

disponibilizados pela equipe.

O peso foi obtido em balança eletrônica Líder ® com capacidade de 200 kg e variação

de 50 g. A balança era posicionada em piso plano horizontal (sem reentrâncias, protuberâncias

ou inclinação), com os pés tocando o piso simultaneamente. O adolescente era conduzido ao

centro da balança após a mesma ter sido ligada e o visor ter atingido o zero. Solicitava-se ao

adolescente que subisse na balança, ereto, com a cabeça erguida, os braços estendidos ao

longo do corpo, o peso distribuído igualmente nos dois pés juntos e paralelos, e que

permanecesse imóvel até o final da pesagem114. A leitura era realizada após o valor do peso

permanecer fixo no visor, sendo digitado imediatamente no PDA no local apropriado. Foi

realizada uma única medida já que a balança era digital, mas o valor foi digitado no PDA duas

vezes, para que fossem evitados erros de digitação.

A estatura foi medida utilizando-se estadiômetro portátil e desmontável da marca

Alturexata® com resolução de 1mm e campo de uso de até 213 cm. No momento da medida, a

cabeça do adolescente deveria estar livre de adereços (boné, arco, tiara, prendedores de

cabelo, tranças, e outros...). Solicitava-se ao adolescente que se posicionasse sobre a

plataforma de apoio dos pés. A parte posterior da cabeça, as costas, as nádegas, as

panturrilhas e os calcanhares deveriam tocar o apoio vertical do estadiômetro. No caso de

joelhos em “X” (genovalgo), os pés deveriam ficar separados, de forma que as bordas mediais

dos joelhos se tocassem, mas não se sobrepusessem. Quando o adolescente era capaz de

encostar todos os pontos simultaneamente no estadiômetro, mantendo uma postura natural

razoável, o pesquisador deveria garantir que encostasse as nádegas e o calcanhar, ou a cabeça

na base vertical do equipamento114. Quando a cabeça do adolescente estivesse posicionada no

Plano de Frankfürt, solicitava-se ao mesmo que inspirasse profundamente e se mantivesse

ereto, sem alterar o nível dos ombros. Em seguida, deslizava-se a haste móvel até comprimir o

cabelo do adolescente e, então era realizada a leitura na escala numérica. A medida, em

centímetros, era digitada imediatamente no PDA. Foram obtidas duas medidas e admitida

uma variação máxima de 0,5 cm entre as duas. O sistema automaticamente calculava a média

47

das duas medidas. Caso a variação excedesse este valor, as medidas eram descartadas

automaticamente no visor do PDA e deveriam ser realizadas novamente.

Foi calculado o IMC, definido como peso (Kg) dividido pelo quadrado da estatura

(metros). Para a classificação do estado nutricional dos adolescentes, foram adotadas as novas

curvas de referência da World Health Organization (WHO) lançadas em 2007115, utilizando

como índice o IMC-para-idade, segundo sexo. Os pontos de corte adotados foram: muito

baixo peso escore Z < -3; baixo peso escore Z ≥ -3 e < -2; eutrofia escore Z ≥ -2 e ≤ 1;

sobrepeso escore Z > 1 e ≤2; obesidade escore Z > 2.

3.8 OUTRAS VARIÁVEIS

A variável cor da pele foi autorreferida e nas seguintes categorias: branca, preta, parda,

amarela, indígena e não informada.

Para a classe econômica foram utilizados os pontos de corte do Critério Brasil, pela

Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ABEP 2013. Tal critério utiliza um esquema

de pontos para classificação da classe econômica pela análise das seguintes variáveis:

banheiro, empregados domésticos, automóveis, microcomputadores, lava-louça, geladeira,

freezer, lava-roupa, DVD, micro-ondas, motocicleta e secadora de roupas. Com isso é feita

uma estimativa média de renda para cada classe, sendo:

A: R$ 20.252,76

B1: R$ 8.695,88

B2: R$ 4.427,36

C1: R$ 2.409,01

C2: R$ 1.446,24

D – E: R$ 639,78.

3.9 CONTROLE DE QUALIDADE

Para prevenir ou minimizar erros sistemáticos ou aleatórios durante a coleta dos dados,

medidas antropométricas e na análise do sangue, foram adotados procedimentos padronizados

para garantir a qualidade das informações. Elaboraram-se manuais com descrições detalhadas

dos procedimentos para a seleção da população do estudo e coleta de dados. A equipe de

48

campo foi treinada e certificada antes do início do estudo e reavaliada. A coleta de dados foi

monitorizada durante todo o estudo.

Uma amostra das informações foi analisada regularmente na busca de tendências e

padrões que pudessem resultar em problemas nos procedimentos realizados, seja por

entrevistadores, técnicos ou processadores de informação106.

3.10 ARMAZENAMENTO DOS DADOS

Foram utilizados coletores eletrônicos de dados, PDAs, para a coleta de informação no

campo com transferência eletrônica para a central de dados do estudo localizado no IESC-

UFRJ, tendo sido desenvolvido um sistema para entrada e armazenamento de dados. Esse

sistema era integrado ao sistema de coleta de dados do REC24h e recebeu também as

informações laboratoriais e do questionário do responsável.

3.11. ASPECTOS ÉTICOS

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IESC-UFRJ e

também por um comitê de ética e pesquisa em cada um dos estados e do Distrito Federal. Só

foram incluídos no estudo os adolescentes que concordaram em participar do estudo e para a

avaliação bioquímica os que trouxeram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

assinado por responsável.

3.12 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Variáveis contínuas foram descritas com médias e desvios-padrão, intervalos de

confiança de 95% ou percentis, e categóricas com frequências e intervalos de confiança. Os

dados foram analisados com o software STATA, versão 14 (Stata Corp., College Station,

USA). As análises foram realizadas considerando-se o desenho de amostra complexa

utilizado.

A ingestão de sódio foi estimada segundo região do país, capital, sexo, idade, estado

nutricional, cor da pele, escolas públicas e privadas e escolaridade da mãe.

A relação entre o consumo de sódio e a pressão arterial sistólica e diastólica foi

avaliada por gráficos entre as duas variáveis utilizando a função suavizadora lowess no Stata e

limitando o consumo de sódio entre 1.000 mg e 8.000 mg para excluir o efeito de valores

considerados extremos.

49

Vale ressaltar que esses gráficos não levam em consideração o desenho amostral, nem

os ajustes pelas variáveis confundidoras. A intenção foi apenas identificar pontos de corte

onde houvesse uma relação linear positiva entre as duas variáveis. Assim sendo, foram

identificados esses pontos de corte de acordo com o sexo e as estratificações.

Nessas faixas de consumo de sódio específicas foram realizadas regressões lineares

utilizando os comandos para o desenho amostral complexo e controlando pelas variáveis de

confundimento.

A associação do consumo de sódio com pressão arterial foi descrita levando em

consideração as variáveis de confundimento e modificadoras de efeito. Essa associação foi

investigada em diferentes níveis: individual e ecológico por capitais e por municípios.

A análise da associação foi realizada também por quintis de consumo de sódio,

estratificando por sexo e ajustando para consumo energético, idade e estado nutricional.

As análises ecológicas foram realizadas para capitais e para municípios, buscando-se

encontrar uma maior heterogeneidade do consumo de sódio. Nessas análises foram levadas

em consideração as seguintes variáveis: sexo, idade e energia.

50

4 RESULTADOS

ARTIGO 1

Título: Consumo de sódio em adolescentes do Erica – Estudo de Risco Cardiovasculares em

Adolescentes.

Resumo

Introdução: O aumento do consumo excessivo de sódio ao longo dos últimos anos tem

contribuído para as elevadas taxas de doenças cardiovasculares e de outros problemas de

saúde no Brasil e no mundo. As taxas de inadequação de consumo de sódio em adolescentes

estão acima de 80%. Objetivo: Descrever a distribuição do consumo de sódio em

adolescentes brasileiros e analisar os alimentos que mais contribuíram para o consumo de

sódio nessa população. Métodos: O consumo de sódio foi avaliado por recordatório alimentar

de 24 horas. As médias de consumo de sódio foram estimadas, bem como os intervalos de

confiança. As médias foram ajustadas pelo consumo energético para possibilitar a

comparação da densidade de sódio consumida independente do volume. Para a análise por

grupos de alimentos foram identificados 32 grupos de alimentos com perfis similares de

macronutrientes. Resultados: O consumo médio de sódio no país foi de 3.378 mg (IC 95%:

3.313 – 3.444 mg), sendo que os adolescentes do sexo masculino apresentaram maiores

médias do que o sexo feminino. Os participantes que estudavam em escolas públicas

apresentaram maiores médias para o consumo de sódio do que os das escolas privadas,

mesmo após o ajuste. Foi observado um gradiente inverso entre consumo de sódio e

escolaridade da mãe, mesmo após ajuste. Os alimentos que mais contribuíram para o consumo

de sódio na população total foram: arroz e preparações (16%), feijão, leguminosas e

preparações (12%), pães (10%) e carne bovina (9%), com pequenas variações por região do

país. Conclusão: Os resultados encontrados mostram um consumo bastante elevado de sódio

nessa população.

Palavras-chave: saúde do adolescente, consumo de sódio

51

ARTIGO 1

Title: Sodium consumption in adolescents from Erica – The Study of Cardiovascular Risk in

Adolescents.

Abstract

Introduction: The raise in excessive sodium intake over the last few years has contributed to

high rates of cardiovascular diseases and other health problems in Brazil and worldwide. The

rates of inadequate sodium intake in adolescents are above 80%. Objective: To describe the

distribution of sodium intake in Brazilian adolescents and to analyze foods that most

contributed to sodium consumption in this population. Methods: Sodium intake was assessed

by a 24-hour food recall. Averages of sodium consumption were estimated as well as

confidence intervals. The averages were adjusted by energy consumption to allow comparison

of the density of sodium consumed, regardless of volume. For analysis by food groups, 32

food groups with similar macronutrient profiles were identified. Results: The mean intake of

sodium in the country was 3,378 mg (95% CI: 3,313 - 3,444 mg), and male adolescents

presented higher averages than female. Participants who studied in public schools presented

higher averages for sodium consumption than those in private schools, even after adjustment.

An inverse gradient between sodium intake and maternal schooling was observed, even after

adjustment. Foods that most contributed to sodium consumption in the total population were:

rice and preparations (16%), beans, vegetables and preparations (12%), breads (10%) and beef

(9%), with small regional variations in the country. Conclusion: The results show a very

high consumption of sodium in this population.

Key-Words: adolescent health, sodium consumption

52

Introdução

O aumento do consumo excessivo de sódio ao longo dos últimos anos tem contribuído

para as elevadas taxas de doenças cardiovasculares e de outros problemas de saúde no Brasil e

no mundo1. De acordo com estimativas globais, cerca de 8,5 milhões de mortes poderiam ser

evitadas durante 10 anos (2006-2015) somente pela redução de sal2. A Organização Mundial

de Saúde (OMS) recomenda consumo de sal abaixo de 5 g/dia, o equivalente a 2 g de

sódio/dia para adultos3.

Sarno et al., 20094, utilizando estimativas baseadas nos dados da Pesquisa de

Orçamentos Familiares, avaliaram que a quantidade diária de sódio disponível para consumo

nos domicílios brasileiros, de 2002-2003, foi de 4,5 g por pessoa, excedendo, assim, em mais

de duas vezes o limite recomendado de ingestão desse nutriente3.

De acordo com o US Dietary Reference Intakes, o consumo máximo tolerável de sódio

seria de 2.200 mg/dia para indivíduos de 9 a 13 anos e de 2.300 mg/dia para indivíduos acima

de 13 anos5.

No Brasil, nos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, a média de

consumo de sódio diária foi de 3.163 mg para a faixa etária de 10 a 13 anos em meninos e

2.931,5 mg para meninas e de 3.705,6 mg para a faixa etária de 14 a 18 anos para

adolescentes do sexo masculino e 2.907,4 para adolescentes do sexo feminino6.

Segundo os dados do Inquérito Nacional de Alimentação (INA 2008-2009), o

percentual de inadequação do limite máximo para o consumo de sódio na faixa de 10 a 13

anos foi de 81% e de 14 a 18 anos de 88,4% para o sexo masculino e de 75,1% e 69,9% para o

sexo feminino nas respectivas faixas de idade7.

No estudo ERICA, os percentuais de inadequação para o sódio na faixa etária de 12 a

13 anos foram de 97% e de 14 a 17 anos de 99% para o sexo masculino. Para o sexo

feminino, esses percentuais foram de 84% e 85% nas respectivas faixas etárias8.

Os alimentos mais consumidos no ERICA foram: arroz (82%), feijão (68%), sucos e

refrescos (56%), pães (53%) e carne bovina (52%) nas duas faixas etárias8. O consumo alto de

sódio é explicado pela alimentação inadequada.

Algumas patologias, como diabetes do tipo II, doenças cardiovasculares, osteoporose e

outras que antes só se manifestavam em adultos ou idosos, vêm sendo encontradas em

adolescentes. Isto ocorre, principalmente, por causa da má alimentação e do estilo de vida

inadequados9. Há algumas décadas atrás, fazer as refeições fora de casa, comer em pé

53

rapidamente, abandonar o “arroz e feijão”, adotar o hamburger no cardápio diário eram

hábitos inconcebíveis para o brasileiro. Hoje, com a disseminação da “fast food”, uma nova

realidade se instala no Brasil10.

O método recordatório de 24 horas é um instrumento de avaliação da ingestão de

alimentos e nutrientes de indivíduos e grupos populacionais, mas requer um nutricionista ou

entrevistador bem treinado para a realização da coleta de dados. Em geral, esse instrumento é

bem aceito pelos entrevistados, o tempo de aplicação é curto, o custo é baixo e não promove

alteração da dieta habitual11. A utilização do recordatório de 24 horas em estudos

epidemiológicos apresenta muitas vantagens, principalmente porque é rápido, relativamente

barato e de fácil aplicação.

O Erica, por ter representatividade nacional, regional e por capitais, permitirá propor

mudanças comportamentais em uma faixa etária que poderá refletir na incidência de

problemas de saúde na idade adulta. Caso seja possível definir um grupo de maior risco que

possa ser alvo de intervenções específicas de mudanças comportamentais, isso será uma

importante estratégia de prevenção de doenças cardiovasculares e suas complicações.

Não foram identificados até o momento estudos brasileiros sobre a distribuição do

consumo de sódio em adolescentes que investigassem o padrão de consumo segundo

variações regionais e de outras características sociodemográficas. Portanto, o objetivo do

estudo foi descrever a distribuição do consumo de sódio em adolescentes brasileiros e analisar

os alimentos que mais contribuem para o consumo de sódio nessa população.

Métodos

Desenho e população de estudo

Trata-se de um estudo seccional, nacional de base escolar. O objetivo do Estudo de

Riscos Cardiovasculares em Adolescentes - Erica foi estimar a prevalência de fatores de risco

cardiovascular e de marcadores de resistência à insulina em adolescentes.

No presente estudo, foram elegíveis todos os adolescentes, de ambos os sexos, de 12 a

17 anos, que frequentavam escolas públicas e privadas das cidades brasileiras com mais de

100.000 habitantes selecionadas para participar do estudo no período de 2013 a 2014. Os

critérios de exclusão para participação do estudo foram: adolescentes portadores de

54

deficiência física ou déficit cognitivo que impossibilitassem a avaliação antropométrica ou o

preenchimento do questionário e adolescentes grávidas.

O Erica adotou uma estratégia amostral complexa por conglomerados e estratificada

em três estágios de seleção: escola, turma e alunos. Em cada estrato geográfico, as escolas

foram selecionadas com probabilidade proporcional ao tamanho. A descrição completa do

processo de amostragem pode ser encontrada em artigo já publicado12.

Logística

As escolas selecionadas foram contatadas para fins de recrutamento e planejamento da

coleta de dados. Os responsáveis foram informados do estudo, e apenas os adolescentes que

assinaram o Termo de Assentimento (TA) foram incluídos.

A equipe de campo era composta por sete membros: dois supervisores (um

responsável pelo contato com as escolas e sensibilização dos alunos e o outro pelo

acompanhamento da coleta de dados no campo e transferência de dados); dois

antropometristas (para a realização das medidas de peso, estatura, perímetros da cintura e do

braço); um membro para aferição da pressão arterial e dois entrevistadores para o recordatório

alimentar de 24 horas (REC24h). Maior detalhamento do processo pode ser encontrado em

Bloch et al13.

O questionário do adolescente foi autopreenchido em coletor eletrônico de dados

(PDA), contendo cerca de 100 questões e dividido em 11 blocos. A variável cor de pele foi

autorreferida e a classe econômica utilizou os pontos de corte do Critério Brasil ABEP 2013.

Avaliação do Consumo Alimentar

A ingestão alimentar foi estimada pela aplicação de recordatório de 24 horas. Os

adolescentes foram entrevistados por pesquisadores de campo devidamente treinados, que

utilizaram um software específico para a entrada de dados de consumo alimentar, com

registro direto das informações em netbooks.

A técnica de entrevista foi o multiple-pass method14, que consiste em ume entrevista

orientada em cinco etapas, com o objetivo de reduzir o subrelato do consumo alimentar. O

software utilizado continha uma lista de alimentos provenientes da base de dados de aquisição

de alimentos e bebidas da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2002-200315 realizada pelo

55

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os alimentos que não constavam na

base de dados foram incluídos pelos entrevistadores.

O consumo energético e de nutrientes foi estimado com base na Tabela de

Composição Nutricional dos Alimentos Consumidos no Brasil16 e na Tabela de Medidas

Referidas para os Alimentos Consumidos no Brasil17.

Os dados de ingestão de nutrientes não incluíram o consumo de suplementos ou

medicamentos. Para análise da ingestão energética e nutrientes, considerou-se a adição de

óleo de soja em todas as formas de preparação cozida e refogadas de carnes e vegetais. Os

1.626 itens alimentares disponíveis na lista de alimentos utilizada no software específico para

coleta de dados do Erica foram categorizados em grupos com perfis similares de

macronutrientes8.

Um único dia de consumo fornece boas estimativas da média populacional de ingestão

de nutrientes e alimentos18; portanto, as estimativas de prevalência de consumo dos alimentos

e das médias populacionais de ingestão energética e da contribuição percentual de

macronutrientes foram calculados com base em um recordatório de 24 horas.

O consumo de sal foi estimado pelo teor de sódio dos alimentos. A adição de sal à

mesa não foi considerada para a análise. As médias de consumo de sódio foram estimadas,

assim como os seus intervalos de confiança de 95% e ajustadas pelo consumo de energia, para

possibilitar a comparação da densidade de sódio consumida de forma independente do

volume. Para esse ajuste, o consumo médio de sódio por grupo foi dividido pelo consumo

energético médio nesse mesmo grupo e multiplicado por 1.000. Também foram estimados os

intervalos de confiança de 95% dessas razões de médias.

Para a análise por grupos de alimentos nesse artigo foram utilizados a tabela de

composição da POF16 e o banco de alimentos do Erica. A quantidade de açúcar adicionada

aos sucos e bebidas (10%) e o óleo adicionado às preparações foram considerados para a

análise. Em relação à contribuição para o consumo de sódio foram identificados 32 grupos de

alimentos com perfis similares de macronutrientes. A estimativa do sódio adicionado no

preparo também foi incluída no cálculo.

A idade foi categorizada em duas faixas etárias devido as diferentes recomendações

para ingestão de micronutrientes segundo sexo e idade.

56

Medidas Antropométricas

O peso foi obtido em balança eletrônica Líder ® com capacidade de 200 kg e variação

de 50 g. A balança era posicionada em piso plano horizontal, com os pés tocando o piso

simultaneamente. Foi realizada uma única medida já que a balança era digital, mas o valor foi

digitado no PDA duas vezes, para que fossem evitados erros de digitação.

A estatura foi medida utilizando-se estadiômetro portátil e desmontável da marca

Alturexata® com resolução de 1 mm e campo de uso de até 213 cm. Foram obtidas duas

medidas e admitida uma variação máxima de 0,5 cm entre as duas. O sistema

automaticamente calculava a média das duas medidas. Caso a variação excedesse este valor,

as medidas eram descartadas no visor do PDA e deveriam ser realizadas novamente.

Foi calculado o IMC, definido como peso (Kg) dividido pelo quadrado da estatura

(metros). Para a classificação do estado nutricional dos adolescentes, foram adotadas as novas

curvas de referência da WHO lançadas em 200719 utilizando como índice o IMC-para-idade,

segundo sexo. Os pontos de corte adotados foram: muito baixo peso escore Z < -3; baixo peso

escore Z ≥ -3 e < -2; eutrofia escore Z ≥ -2 e ≤ 1; sobrepeso escore Z > 1 e ≤2; obesidade

escore Z > 2.

Controle de Qualidade

Para prevenir e minimizar erros sistemáticos durante a coleta dos dados foram

adotados procedimentos padronizados para garantir a qualidade das informações13.

Aspectos Éticos

O Erica foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em

Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro e de cada estado e do Distrito

Federal e encontra-se detalhado em Bloch et al13. Todos os participantes assinaram termo de

assentimento.

Análise Estatística

Variáveis contínuas foram descritas com médias e desvios-padrão, e categóricas com

intervalos de confiança de 95%. Os dados foram analisados com o software STATA, versão

57

14 (Stata Corp., College Station, USA). As análises foram realizadas considerando-se o

desenho amostral utilizado.

A ingestão de sódio foi estimada segundo região do país, capital, sexo, idade, estado

nutricional, cor da pele, escolas públicas e privadas, escolaridade da mãe e classe econômica.

Resultados

O total de adolescentes participantes dessa tese foi de 71.553. O consumo médio de

sódio no país foi de 3.378 mg (IC 95%: 3.313 – 3.444 mg). Essa média está acima do limite

máximo recomendável. O consumo de sódio e sua distribuição encontram-se na tabela 1.

As médias para consumo de sódio foram maiores em adolescentes do sexo masculino

em comparação às do sexo feminino. Tal diferença permaneceu após o ajuste por energia.

Para as regiões, a maior média de consumo foi da região Nordeste, seguida por Centro-Oeste,

Norte, Sudeste e Sul, respectivamente. Após o ajuste, essa ordem inverteu-se um pouco:

Nordeste, seguida por Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Norte, respectivamente.

Os participantes que estudavam em escolas públicas apresentaram maiores médias

para o consumo de sódio do que os das escolas privadas, mesmo após o ajuste. As escolas

localizadas em áreas rurais também apresentaram valores maiores de médias do que as escolas

em áreas urbanas, tal diferença praticamente desapareceu quando ajustada por energia.

Os adolescentes na maior faixa etária (14 a 17 anos) tiveram uma maior média de

consumo de sódio do que os mais jovens (12 a 13 anos). Mas essa diferença desapareceu após

o ajuste por consumo energético.

Para a variável cor de pele, referida pelo adolescente, a maior média para o consumo

de sódio foi observada para os de cor de pele indígena, seguida por preta, parda, amarela e

branca, respectivamente. Quando ajustadas, o maior valor foi observado para os de cor preta e

o menor para os de cor branca. As outras cores de pele praticamente se igualaram no consumo

de sódio.

Foi observado um gradiente inverso entre consumo de sódio e escolaridade da mãe,

mesmo após ajuste. Em relação a características socioeconômicas, os adolescentes das

classes D e E consomem mais sódio do que os de classe A e B, diferença que permaneceu

após ajuste.

A capital que apresentou a maior ingestão média de sódio foi Recife (4.529,7 mg/dia),

seguida de João Pessoa, Rio de Janeiro, Natal e Salvador. Quando as análises foram ajustadas

58

pelo consumo energético total, as capitais com as maiores médias foram: Recife, Rio de

Janeiro, Porto Alegre, Cuiabá e Campo Grande.

As capitais que apresentaram as menores médias foram: Macapá, Curitiba e

Florianópolis, respectivamente. O consumo geralmente foi maior em adolescentes do sexo

masculino dentro das capitais.

59

Tabela 1. Médias de consumo de sódio por grupos de variáveis: bruta e ajustada por consumo de energia, Erica 2013-20141.

(Fonte: elaborada pela autora).

Características

Médias de Sódio

(mg) IC 95%

Densidade de

Sódio(mg/1.000kcal) IC 95%

Sexo Feminino 2.988,6 2.933,7 - 3.043,6 1,43 1,41 - 1,44

Masculino 3.764,9 3.674,3 - 3.855,4 1,52 1,51 - 1,53

Região

Norte 3.345,9 3.286,2 - 3.405,7 1,45 1,42 - 1,48

Nordeste 3.652,2 3.534,6 - 3.769,7 1,53 1,49 - 1,54

Centro-Oeste 3.466,5 3.403,4 - 3.529,6 1,49 1,46 - 1,51

Sudeste 3.308,0 3.192,5 - 3.423,4 1,47 1,45 - 1,49

Sul 3.152,2 3.059,1 - 3.245,4 1,45 1,42 - 1,48

Tipo de Escola Pública 3.411,8 3.344,0 - 3.479,6 1,49 1,47 - 1,50

Privada 3.219,4 3.054,7 - 3.384,0 1,44 1,41 - 1,47

Região da Escola Urbana 3.356,4 3.306,7 - 3.406,1 1,48 1,47 - 1,49

Rural 3.923,1 3.687,7 - 4.158,4 1,45 1,43 - 1,56

Idade 12 a 13 anos 3.184,7 3.099,2 - 3.270,3 1,48 1,46 - 1,49

14 a 17 anos 3.483,2 3.412,4 - 3.553,9 1,48 1,47 - 1,49

Cor da pele2

Branca 3.314,7 3.234,3 - 3.395,1 1,46 1,44 - 1,48

Preta 3.464,4 3.333,3 - 3.595,4 1,51 1,48 - 1,54

Parda 3.417,0 3.338,1 - 3.496,0 1,48 1,47 - 1,50

Amarela 3.391,7 3.229,2 - 3.554,1 1,48 1,44 - 1,53

Indígena 3.533,5 3.061,4 - 4.005,6 1,49 1,40 - 1,59

60

Continuação...

Características Médias de Sódio

(mg) IC 95%

Densidade de Sódio

(mg/1.000kcal) IC 95%

Escolaridade da Mãe

Analfabeto/<1 ano 3.444,3 3.261,2 - 3.627,4 1,54 1,49 - 1,60

1-7 anos 3.472,4 3.326,0 - 3.618,9 1,49 1,47 - 1,51

8-12 anos 3.403,5 3.347,8 - 3.459,1 1,47 1,46 - 1,49

>12 anos 3.392,6 3.302,0 - 3.483,3 1,47 1,45 - 1,49

Classe Econômica

A 3.420,1 3.272,5 - 3.567,6 1,47 1,43 - 1,50

B 3.373,3 3.307,9 - 3.438,8 1,46 1,45 - 1,48

C 3.464,5 3.382,3 - 3.546,6 1,50 1,48 - 1,52

D e E 3.586,9 3.302,9 - 3.871,0 1,56 1,51 - 1,62

Capitais

Rio Branco 3.477,8 3.338,9 - 3.616,7 1,44 1,39 - 1,48

Maceió 3.596,5 3.393,9 - 3.799,0 1,52 1,47 - 1,57

Macapá 2.808,3 2.655,8 - 2.960,8 1,30 1,24 - 1,36

Manaus 3.486,0 3.379,2 - 3.592,7 1,49 1,45 - 1,53

Salvador 3.600,1 3.427,1 - 3.773,1 1,45 1,42 - 1,49

Fortaleza 3.274,9 3.177,7 - 3.372,1 1,47 1,44 - 1,51

Brasília 3.470,4 3.331,1 - 3.609,6 1,47 1,43 - 1,52

Vitória 3.173,5 3.051,8 - 3.295,2 1,43 1,40 - 1,46

Goiânia 3.249,4 3.129,9 - 3.368,8 1,43 1,36 - 1,50

São Luís 3.400,6 3.347,1 - 3.454,1 1,50 1,46 - 1,53

Cuiabá 3.454,3 3.275,7 - 3.632,8 1,55 1,50 - 1,59

61

Continuação...

Características Médias de Sódio

(mg) IC 95%

Densidade de Sódio

(mg/1.000kcal) IC 95%

Capitais

Campo Grande 3.473,0 3.349,6 - 3.596,4 1,53 1,48 - 1,58

Belo Horizonte 3.253,7 3.158,5 - 3.348,9 1,40 1,37 - 1,43

Belém 3.310,2 3.188,7 - 3.431,8 1,37 1,31 - 1,44

João Pessoa 3.778,2 3.611,0 - 3.945,3 1,50 1,47 - 1,54

Curitiba 3.050,7 2.950,9 - 3.150,6 1,39 1,36 - 1,42

Recife 4.529,8 4.222,8 - 4.836,7 1,64 1,57 - 1,72

Teresina 3.284,8 3.099,7 - 3.469,8 1,51 1,44 - 1,57

Rio de Janeiro 3.660,4 3.560,4 - 3.760,3 1,55 1,53 - 1,58

Natal 3.617,2 3.450,3 - 3.784,0 1,51 1,46 - 1,55

Porto Alegre 3.286,2 3.162,6 - 3.409,8 1,55 1,50 - 1,59

Porto Velho 3.395,2 3.160,7 - 3.629,7 1,52 1,46 - 1,59

Boa Vista 3.141,2 2.970,9 - 3.311,5 1,44 1,39 - 1,49

Florianópolis 3.064,0 2.927,7 - 3.200,4 1,40 1,36 - 1,43

São Paulo 3.198,4 3.104,9 - 3.291,8 1,47 1,44 - 1,50

Aracaju 3.400,1 3.242,2 - 3.558,0 1,48 1,44 - 1,52

Palmas 3.135,4 2.991,4 - 3.279,4 1,46 1,40 - 1,51

1 n=71.553; 2 2,66% não referiram a cor da pele.

62

No quadro 1 são apresentados os 32 grupos de alimentos para a análise da

contribuição para o consumo de sódio.

Grupos de Alimentos Descrição

Arroz e preparações Arroz, arroz com legumes, sushi e outras preparações à base de arroz

Feijão, leguminosas e preparações Feijões, carne de soja e outras leguminosas

Pães Pães brancos e integrais e torradas

Carne bovina e preparações Carne bovina e preparações à base de carne e outras carnes

Aves e preparações Frango e preparações à base de frango e outras aves

Sanduíches Hambúrgueres e outros sanduíches

Biscoito salgado Biscoitos salgados e tipo chips (batata ou milho)

Bolos e biscoitos doces e recheados Bolos, tortas em geral, biscoitos doces e recheados

Massas e preparações a base de macarrão Macarrão, ravióli, lasanha e outras preparações à base de massas

Embutidos, frios e carnes processadas Presunto, salame, mortadela, linguiça, salsicha e outras carnes processadas

Carnes e Peixes Salgados Peixe e preparações à base de peixe

Sopas Sopas e caldos

Leite e outros laticínios Leite integral e desnatado, bebidas lácteas adoçadas com aromas artificiais ou

naturais, leite fermentado, leite de soja e bebidas à base de soja

Pizza Pizzas e calzones

Salgados fritos e assados Coxinha, empadão, pão de queijo e outros salgados

Pescados e preparações

Gorduras, Molhos e condimentos Manteiga, margarina, molhos e condimentos

Macarrão instantâneo

Queijos Queijos e iogurtes

Batata inglesa e frita

Milho e preparações Milho, farinha de milho, polenta e outras preparações à base de milho

Bebidas Sucos de frutas naturais e industrializados, café, cappuccino, café com leite e

outras bebidas à base de café, chás, vinho, cerveja e outros

Carne Suína Carne de porco e preparações à base de carne de porco

Outros tubérculos Batatas, exceto industrializadas (chips), mandioca, inhame e outros tubérculos

Hortaliças Vegetais folhosos e legumes

Ovos Ovos e preparações à base de ovos

Doces e Açucares Doces e sobremesas a base de frutas, chocolate, outras guloseimas, açúcar, mel,

geleias, doces, sobremesas, bolos, tortas e biscoitos doces diet e light

Refrigerantes Refrigerantes normais, dietéticos e light

Cereais matinais Aveia, sucrilhos, barra de cereais e outros cereais

Frutas Frutas e saladas de frutas

Oleaginosas (castanhas, nozes,

amendoins)

Amendoim, castanha de caju, amêndoas e outros

Óleos Óleos vegetais, azeite de oliva

Quadro 1. Grupos de Alimentos que contribuíram para o consumo de sódio, Erica, 2013 –

2014. (Fonte: quadro elaborado pela autora).

63

Figura 1. Grupos de alimentos que mais contribuíram para o consumo de sódio no Brasil e

por região, Erica 2013-2014. (Fonte: figura elaborada pela autora).

Os alimentos que mais contribuíram para o consumo de sódio foram: arroz e

preparações (16%); feijão, leguminosas e preparações (12%); pães (10%); carne bovina e

preparações (9%); aves e preparações (7%); sanduíches (5%); biscoitos salgados (4%);

massas e preparações à base de macarrão (4%); bolos e biscoitos doces e recheados (4%) e

embutidos, frios e carnes processadas (3%) (Figura 1).

64

Juntos, o arroz e feijão e preparações mais os pães contribuíram com 38% do consumo

de sódio de adolescentes. Por outro lado, os alimentos que menos contribuíram para o

consumo de sódio foram: óleos, oleaginosas, frutas, cereais matinais, refrigerantes, ovos,

doces e açúcares, hortaliças, carne suína e outros tubérculos. Para as adolescentes do sexo

feminino, não foram encontradas diferenças nos grupos que mais contribuíram em relação ao

padrão no Brasil como um todo. Também não foi encontrada diferença quando analisados

esses grupos pelas faixas etárias (12 a 13 anos e 14 a 17 anos), resultados não apresentados.

Para os adolescentes do sexo masculino a única diferença encontrada foi o

aparecimento do grupo de alimentos “Carnes e Peixes Salgados” na faixa etária de 14 a 17

anos. Tal grupo não está entre os 10 principais grupos de alimentos que contribuíram para o

consumo de sal para a população total ou entre as adolescentes.

A figura 1 também mostra a distribuição dos grupos de alimentos no Brasil e por

macrorregião. Além das mudanças na ordem dos grupos de alimentos que mais contribuíram

para o consumo de sódio, em algumas macrorregiões do país observam-se grupos de

alimentos que não aparecem entre os que mais contribuíram no Brasil.

No Norte do país configuraram entre os alimentos que diferem: “Sopas”, “Pescados e

preparações” e “Peixes salgados”; no Nordeste: “Carnes e Peixes salgados”; no Sul: “Pizza” e

“Sopas” e no Centro-Oeste: “Salgados fritos e assados”. No Sudeste o padrão de consumo foi

o mais semelhante com o perfil do Brasil.

Quando as análises foram estratificadas segundo tipo de escola (Figura 2), além da

alteração da ordem dos grupos de alimentos nas escolas públicas e privadas, chama a atenção

a maior contribuição para o consumo nas escolas privadas os grupos “Pizzas”, “Sanduíches” e

“Carnes e Peixes Salgados”.

65

Figura 2. Grupos de alimentos que mais contribuíram para o consumo de sódio por tipo de

escola, Erica 2013-2014. (Fonte: figura elaborada pela autora).

Em relação aos municípios (122), selecionamos os dez que têm maiores e menores

médias de consumo de sódio, respectivamente. Como pode ser observada na Tabela 2, a

maioria dos municípios com maior consumo de sódio são da região nordeste do país e a

maioria dos que menos consomem, da região sudeste.

Tabela 2. Consumo médio de sódio nos municípios, Erica 2013-2014. (Fonte: tabela

elaborada pela autora).

Municípios com maior consumo de sódio Municípios com menor consumo de sódio

Município

Média de

Consumo

de Sódio (mg)

Estado Município

Média de

Consumo

de Sódio (mg)

Estado

Olinda 4.664,1 PE Coronel Fabriciano 2.439,4 MG

Camaragibe 4.631,8 PE Indaiatuba 2.510,0 SP

Alagoinhas 4.562,4 BA Praia Grande 2.514,3 SP

Recife 4.529,7 PE Ferraz de Vasconcelos 2.579,1 SP

Parnamirim 4.471,6 RN Mossoró 2.602,8 RN

Campina Grande 4.427,7 PB Itajaí 2.693,7 SC

Jaboatão dos Guararapes 4.225,9 PE Criciúma 2.714,8 SC

Poços de Caldas 4.144,1 MG Colatina 2.776,3 ES

Paulista 4.134,7 PE Macapá 2.808,3 AP

Camacari 4.120,5 BA Paulo Afonso 2.873,0 BA

Discussão

O consumo médio de sódio encontrado nos adolescentes do Erica estava muito acima

do recomendado para todos, levando em consideração também a recomendação por faixa de

idade. O consumo foi maior para os adolescentes do sexo masculino. Não houve diferença de

consumo para a idade quando ajustado para consumo energético. Entre as regiões, as maiores

66

médias foram para a região Nordeste e em seguida para a região Centro-Oeste. Os alunos de

escola pública tiveram médias ligeiramente maiores para o consumo de sódio do que os

alunos de escolas privadas, mesmo após o ajuste.

Os alimentos que mais contribuíram para o consumo de sódio foram: arroz e

preparações, feijão, leguminosas, pães e carne bovina. A densidade de sódio é o quanto em

miligramas o sódio está presente em 1.000 calorias do alimento por indivíduo e é muito útil

na descrição de dietas e alimentos. Os alimentos supracitados que mais contribuíram são

porque são os mais consumidos, porém há outros alimentos que apresentam maior densidade

de sódio do que esses. A dieta do brasileiro, portanto, é composta do tradicional “arroz com

feijão”, mas também por outros alimentos.

Em nosso estudo encontramos um alto teor de ingestão diária de sódio na dieta dos

adolescentes. Resultado semelhante foi observado em estudos de inadequação de

micronutrientes, como o de Veiga et al, utilizando dados do Inquérito Nacional de

Alimentação (INA)7 e no próprio estudo Erica, por Moura et al8.

A média de consumo de sódio encontrada em nossa população de adolescentes

assemelha-se à encontrada em alguns estudos. Yang e colaboradores analisaram dados de

6.235 crianças e adolescentes de 8 a 18 anos no NHANES 2003-2008 e também avaliaram o

consumo de sódio por recordatório de 24h. Os valores encontrados foram de 3.260 mg (erro

padrão=23,9) na faixa de 8 a 12 anos e de 3.486 mg (erro padrão=26,2) na faixa de 13 a 18

anos20.

Souza e colaboradores analisando dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-

200921 encontraram consumo diário de sódio de 3.523 mg ± 49,5 (SE) em adolescentes do

sexo masculino e 2.949 mg ± 37,3 (SE) no sexo feminino22. Tais valores muito se

assemelham aos encontrados no Erica, e também observaram maior consumo no sexo

masculino.

Nesse mesmo estudo, na população de 10 a 19 anos, os percentuais mais altos de

consumo de sódio foram atribuídos ao arroz e preparações, feijões e pães, os mesmos grupos

de alimentos encontrados no nosso estudo. Esses alimentos são considerados fontes

importantes de sódio devido ao seu consumo frequente na população, apesar de terem baixa

densidade de sódio22.

Um estudo realizado no Canadá com 8.625 crianças e adolescentes de 9 a 18 anos de

idade, através de um recordatório de 24h encontrou consumo diário de sódio de 3.412 mg.

Dentro dessa mesma faixa de idade, os alimentos que mais contribuíram para tal consumo

67

foram: pães, carnes processadas e alimentos à base de macarrão23. No Reino Unido, 125

adolescentes de 13 a 17 anos participaram de um estudo seccional que encontrou média de

consumo de sal medida através de excreção urinária de sal de 7.550 mg, aproximadamente

3.020 mg de sódio. Os alimentos que mais contribuíram para esse consumo foram: cereais e

produtos à base de cereais (36% - 15% incluíam pães); carnes (19%) e leite e derivados

(11%). Como a maior parte do sal da dieta de crianças e adolescentes vem de alimentos

processados, um esforço ainda maior seria necessário para reduzir a quantidade de sal desses

alimentos24.

Informações obtidas pelo “National Center for Chronic Disease Prevention and

Health Promotion” listam os dez alimentos que são as principais fontes de sódio em

americanos de 2 a 19 anos: pizza, pães, aves, carnes e embutidos, sanduíches, salgadinhos,

sopas, queijos, pratos à base de macarrão, salsichas e molhos (www.cdc.gov/salt/sorces.htm).

À exceção de alguns deles (pizza, salgadinhos, sopas, queijos e salsichas e molhos), muitos

destes também aparecem no perfil dos adolescentes brasileiros. Importante salientar que a

base da alimentação tradicional do Brasil inclui o arroz e o feijão como principais fontes de

sódio na alimentação, não por possuírem alta densidade de sódio, mas por serem os mais

consumidos. Esses alimentos possuem baixa densidade de sódio, 382 mg/100 g e 226 mg/100

g, respectivamente, por alimento. Alimentos são considerados com alta densidade de sódio

quando esta assume valores acima de 600 mg/100 g22.

O padrão para a escola pública assemelha-se muito mais ao padrão encontrado para o

Brasil do que na escola privada. Isso se deve ao fato de que cerca de 2/3 dos alunos do estudo

são provenientes de escolas públicas, o que reflete o padrão socioeconômico do país.

Em relação ao perfil do grupo de alimentos pelas regiões, eles foram bem semelhantes,

exceto por algumas particularidades em algumas regiões. Na região Norte e Nordeste

apareceram os peixes salgados. Isso é justificado, pois essas duas regiões brasileiras possuem

grande área de litoral, o que facilita o acesso a esse tipo de alimento, além do custo de

consumo ser reduzido pela grande oferta.

Ainda na região Nordeste, as carnes salgadas. Essa tradição alimentar de consumo de

carnes salgadas persiste até os dias de hoje. E pode ser por esse motivo que as médias para

consumo de sódio foram maiores para essa região do país.

Na região Norte, sopas e pescados. Esses itens marcam características locais no

consumo de alimentos, pois a região é rica em rios o que favorece a alimentação à base de

peixe e caldos. Esses achados foram semelhantes aos encontrados no INA, mas englobando

68

todas as faixas etárias25. Na região Sul, pizza e sopas, o que é explicado por ser a região do

país que registra as menores temperaturas. No Centro-Oeste salgados fritos e assados.

A região Sudeste foi a que mais se aproximou do padrão Brasil, os mesmos grupos que

mais contribuíram, porém, em diferente ordem de aparecimento.

Em nosso estudo os dados de apenas um recordatório foram utilizados, o que pode não

representar o consumo diário usual do indivíduo. Contudo, um dia de recordatório tem sido

considerado suficiente para estimar a contribuição de cada alimento para o consumo de sódio,

quando médias populacionais e não individuais, de consumo são comparadas26. Outra

limitação desse estudo foi não estimar a quantidade de sal de mesa adicionado à comida.

Uma revisão dos métodos de mensuração da ingestão de sódio em populações reafirma

que o padrão-ouro é a excreção urinária de 24 horas. Aproximadamente 90% do sódio

ingerido é excretado na urina pelo mesmo período de tempo, portanto a coleta da urina de 24

horas reflete com confiabilidade a ingestão. Mesmo os outros métodos de avaliação deveriam

ser acompanhados pelo exame de urina 24 horas para permitir o desenvolvimento de equações

estimadas de validade, que proporcionariam uma estimativa média mais robusta a partir

desses métodos27.

O método utilizado, recordatório de 24h, depende da informação do entrevistado e

pode subestimar o consumo de sódio. Além disso, o teor de sódio dos alimentos e preparações

foi estimado segundo a tabela de composição da POF16.

Em publicação anterior do Erica foi demonstrado que mais de 80% dos adolescentes

apresentaram ingestão superior ao valor de ingestão máximo recomendado de sódio, sendo

que para os meninos esse percentual foi de quase 100%8. Isso reflete que a dieta dos

adolescentes brasileiros caracteriza-se pela manutenção no consumo de alimentos

tradicionais, como arroz e feijão, e de alimentos ultraprocessados8.

O compromisso dos países das Américas com a redução do consumo de sódio pelas

populações da região, conforme proposto pelas OPAS, é uma estratégia fundamental para a

prevenção e controle da morbidade e da mortalidade por doenças crônicas. Nesse sentido, a

redução do consumo de sódio pela população brasileira, dos atuais 4.700 mg para menos de

2.000 mg/pessoa/dia, assume posição de destaque dentro da agenda de saúde no Brasil,

mediante diminuição do sal adicionado durante o preparo e o consumo de alimentos e do

sódio presente nos alimentos industrializados. Para estas ações, foram criados três subgrupos

de trabalho: pactuação de metas de redução de teores de sódio nos alimentos processados;

69

realização de campanhas de educação e informação da população; e elaboração de guias de

boas práticas nutricionais28.

Porém, um estudo realizado avaliou o potencial impacto da redução do teor de sódio

em alimentos processados no consumo total de sódio no Brasil. Como referencial, foram

utilizadas as metas de redução de sódio estabelecidas em 2011 pelo Ministério da Saúde,

supracitadas. A população de estudo foi uma subamostra do INA 2008-2009, e obteve como

resultado que a redução média estimada no consumo de sódio após cinco anos de pactuação

foi de apenas 1,5%, um pequeno impacto no consumo médio de sódio na população brasileira.

O estudo conclui, portanto, que politicas públicas voltadas para o estímulo de mudanças

comportamentais que visem à redução da adição de sal no preparo de alimentos e menor

consumo de alimentos ultraprocessados, tendo como base o novo Guia Alimentar para

População Brasileira29, desempenham papel fundamental para mudanças efetivas no padrão

de consumo de sódio na população brasileira30.

Conclusão

Já nessa faixa etária é possível observar um consumo diário muito alto de sódio na

dieta. Se já há um alto consumo nessa faixa etária, no futuro consumirá mais ainda. Medidas

de intervenção devem ser estudadas e colocadas em prática para que esse consumo seja

reduzido, evitando assim complicações de saúde no futuro.

70

REFERÊNCIAS

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29 SAÚDE., M. D. Guia Alimentar para a População Brasileira. DEPARTAMENTO

DE ATENÇÃO BÁSICA, S. D. A. À. S., MINISTÉRIO DA SAÚDE. Brasília:

Ministério da Saúde 2014.

30 SOUZA, A. D. M. et al. The impact of the reduction of sodium content in processed

foods in salt intake in Brazil. Cadernos de Saúde Pública, v. 32, n. 2, 2016.

74

ARTIGO 2

Título: Associação de consumo de sódio com pressão arterial e fatores associados em

adolescentes do Erica – Estudo de Risco Cardiovasculares em Adolescentes.

Resumo

Introdução: A pressão arterial elevada é o fator de risco mais forte para doenças

cardiovasculares que pode ser modificado. Em crianças e adolescentes também têm sido

relatados valores elevados de pressão arterial. Ensaios clínicos realizados nessa faixa etária

comprovam que uma redução no consumo de sódio pode reduzir a pressão arterial. Não foram

identificados estudos sobre a associação do consumo de sódio com pressão arterial em

adolescentes brasileiros que explorem possíveis variações regionais no país. Objetivo:

Investigar a associação do consumo de sódio com a pressão arterial em adolescentes

brasileiros. Métodos: O consumo de sódio foi avaliado por recordatório alimentar de 24

horas. Dados sobre o histórico familiar para hipertensão foram obtidos pelo questionário do

responsável. A associação do consumo de sódio com pressão arterial foi descrita levando em

consideração as variáveis de confundimento e modificadoras de efeito. Essa associação foi

investigada em diferentes níveis: individual e ecológico por capitais e por municípios.

Resultados: O coeficiente de regressão linear observado foi de 0,42, com p<0,001. Esse é o

incremento na pressão sistólica para cada aumento de 1g no consumo de sódio, ajustado por

sexo, idade e consumo energético. Após estratificação por sexo, o coeficiente de regressão

linear só permaneceu significativo para adolescentes do sexo masculino. Além disso, no sexo

masculino ter só mãe, ou pai e mãe, com hipertensão arterial impacta no efeito do consumo do

sódio na pressão arterial sistólica dos adolescentes, levando a um aumento estatisticamente

significativo. Conclusão: Os resultados apresentados sugerem que adolescentes do sexo

masculino e com história familiar de hipertensão arterial tendem a apresentar maior

sensibilidade ao sódio com elevação da pressão arterial.

Palavras-chave: saúde do adolescente, consumo de sódio, pressão arterial, hipertensão.

75

ARTIGO 2

Title: Association of sodium intake with blood pressure and associated factors in adolescents

from Erica – The Study of Cardiovascular Risk in Adolescents.

Abstract

Introduction: High blood pressure is the strongest risk factor for cardiovascular disease that

can be modified. High blood pressure has also been reported in children and adolescents.

Clinical trials in this age group have shown that a reduction in sodium intake can reduce

blood pressure. Objective: To investigate the association of sodium intake with blood

pressure in Brazilian adolescents. Methods: Sodium intake was evaluated by a 24-hour food

recall. Data on family history for hypertension were obtained from the guardian´s

questionnaire. The association of sodium intake with blood pressure was described taking into

account confounding and effect modifying variables. This association was investigated at

different levels: individual and ecological by capitals and by cities. Results: The linear

regression coefficient observed was 0.42, p <0.001. This is the increase in systolic pressure

for each 1g increase in sodium intake, adjusted for sex, age and energy consumption. After

stratification by sex, the linear regression coefficient only remained significant for male

adolescents. In addition, in males having only mother, or father and mother with

hypertension, impacts on the effect of sodium consumption on systolic blood pressure of

adolescents, leading to a statistically significant increase. Conclusion: The results suggest

that male adolescents with a family history of hypertension tend to be more sensitive to

sodium intake with increase in blood pressure.

Key-Words: adolescent health, sodium consumption, blood pressure, hypertension

76

Introdução

A pressão arterial elevada é o mais forte fator de risco para doenças cardiovasculares

que pode ser modificado. Apesar do conhecimento amplo sobre maneiras de prevenção e

tratamento da hipertensão, sua prevalência e incidência globais e complicações

cardiovasculares não reduzem, parte disso devido a inadequações na prevenção, diagnóstico e

controle dessa desordem em um mundo em envelhecimento1.

Valores elevados de pressão arterial (PA) têm sido relatados em jovens e diversas

pesquisas têm sido realizadas sobre o tema2; 3. Quase 20% dos 6.790 adolescentes norte-

americanos de 11 a 17 anos participantes do estudo de McNiece et al. encontravam-se sob

risco para doenças cardiovasculares futuras, avaliado pelo aparecimento já nessa idade de pré-

hipertensão e hipertensão3. O estudo de Oliveira et al. com 701 crianças de 5 a 9 anos em

Feira de Santana (Bahia) descreve o papel importante de fatores biológicos (sexo, raça, estado

nutricional, idade) e ambientais (histórico familiar de hipertensão arterial e tipo de escola

frequentada como proxy de nível socioeconômico) na gênese da hipertensão arterial em

crianças4. No Erica foi encontrada uma prevalência de hipertensão de 9,6% (IC 95% 9,0-

10,3%)5.

Entre crianças e adolescentes têm aumentado o numero de hipertensos. Essa

distribuição tem sido atribuída à adoção, por crianças e adolescentes, de hábitos ou estilos de

vida que representam fatores de risco para a hipertensão arterial sistêmica (HA)6. Tais fatores

seriam obesidade, sedentarismo e histórico familiar positivo para hipertensão e outras doenças

cardiovasculares7.

Estudos experimentais mostraram que o aumento da ingestão de sódio tem

probabilidade muito maior de elevar a pressão arterial do que o aumento da ingestão de água.

A razão disso é que a água é normalmente excretada pelos rins tão rapidamente quanto é

ingerida, mas o sal, muitas vezes, não é excretado tão facilmente. Ao acumular-se no corpo, o

sal aumenta indiretamente o volume líquido extracelular, por duas razões básicas. A primeira

é aumentando a osmolaridade, o que estimula o centro da sede. Isso faz com que o indivíduo

beba quantidade extra de água para diluir o sal extracelular até a sua concentração normal, o

que, evidentemente, aumenta o volume do líquido extracelular8.

Além do efeito na pressão arterial, existem evidências de que o sal possui efeitos

adversos no epitélio endotelial. Essas evidências mostram que o sal causa prejuízos à função

77

endotelial e aumenta a rigidez arterial, independente da pressão arterial. Uma dieta rica em sal

resulta em estresse oxidativo e aumento da rigidez arterial, que prejudica a função endotelial9.

Em crianças acima de dois anos, uma revisão com 37 estudos observacionais e de

intervenção concluíram que o aumento no consumo de sal está realmente relacionado ao

aumento na pressão arterial também em crianças e adolescentes10.

Há uma única meta-análise realizada com crianças e adolescentes de estudos

controlados de redução da pressão arterial com redução de consumo de sal (10 ensaios) com

966 participantes11. A redução de 42% do consumo de sal reduziu a pressão arterial sistólica

(PAS) em 1,17 mmHg (IC 95% -1,78 a -0,56 mmHg) e a pressão arterial diastólica (PAD) em

1,29 mmHg (IC 95% -1,94 a -0,65 mmHg). Três estudos com 551 crianças foram incluídos,

com redução de 54% de consumo de sal. Nestes, a redução na PAS foi de 2,47 mmHg (IC

95% -4 a -0,94 mmHg). A meta-análise demonstrou que uma redução modesta no consumo de

sal causa queda imediata na pressão arterial, e, se continuada, pode também diminuir o

aumento subsequente da pressão arterial com a idade, o que pode levar à diminuição das

doenças cardiovasculares em adultos.

Em uma revisão de literatura, Nguyen et al., 2013, relatam como determinados fatores

nutricionais atuam no manejo da hipertensão. A conexão entre sal e hipertensão ainda está sob

debate. O conceito de sensibilidade versus resistência ao sal originou-se de estudos que

demonstraram respostas heterogêneas da pressão arterial em relação ao consumo de sódio.

Maior prevalência de sensibilidade ao sal foi observada em certos subgrupos: indivíduos mais

velhos, negros, resistentes à insulina, com microalbuminúria, com doença renal crônica e com

baixos níveis de renina plasmática12.

Não foram identificados estudos sobre a associação do consumo de sódio com pressão

arterial em adolescentes brasileiros, e que explorem possíveis variações regionais no país.

Portanto, esse estudo, utilizando o consumo de sódio obtido por recordatório alimentar de

24h, tem como objetivo analisar essa associação e possíveis interações com diferentes

características sociodemográficas em adolescentes.

A identificação de um grupo de maior risco para hipertensão arterial que possa ser

alvo de intervenções específicas de mudanças comportamentais contribuirá para a elaboração

de estratégias de prevenção de doenças cardiovasculares.

78

Métodos

População de Estudo

Trata-se de um estudo seccional, nacional de base escolar. O objetivo do Estudo de

Riscos Cardiovasculares em Adolescentes - Erica foi estimar a prevalência de fatores de risco

cardiovascular e de marcadores de resistência à insulina em adolescentes.

No presente estudo, foram elegíveis todos os adolescentes, de ambos os sexos, de 12 a

17 anos, que frequentavam escolas públicas e privadas de cidades brasileiras com mais de

100.000 habitantes selecionadas para participar do estudo. Os critérios de exclusão para

participação do estudo foram: adolescentes portadores de deficiência física ou déficit

cognitivo que impossibilitassem a avaliação antropométrica ou o preenchimento do

questionário e adolescentes grávidas.

Amostragem

Trata-se de amostra complexa por conglomerados, estratificada em três estágios de

seleção: escola, turma e alunos. Em cada estrato geográfico (27 capitais e cinco conjuntos de

municípios do interior de cada uma das cinco macrorregiões do país), as escolas foram

selecionadas com probabilidade proporcional ao tamanho, considerando a natureza

administrativa (pública ou privada) e se de área urbana ou rural. A descrição completa do

processo de amostragem pode ser encontrada em artigo já publicado13.

Logística

As escolas selecionadas foram contatadas para fins de recrutamento e planejamento da

coleta de dados.

A equipe de campo era composta por sete membros: dois supervisores (um

responsável pelo contato com as escolas e sensibilização dos alunos e o outro pelo

acompanhamento da coleta de dados no campo e transferência de dados); dois

antropometristas (para a realização das medidas de peso, estatura, perímetros da cintura e do

braço); um membro para aferição da pressão arterial e dois entrevistadores para o recordatório

alimentar de 24 horas. Maior detalhamento do protocolo do estudo pode ser encontrado em

Bloch et al14.

79

Avaliação do Consumo Alimentar

O questionário do adolescente foi autopreenchido em coletor eletrônico de dados

(Personnal Digital Assistant, PDA), contendo cerca de 100 questões. A variável cor de pele

foi autorreferida.

O recordatório alimentar de 24 horas (REC24h) consiste no relato de todos os

alimentos e bebidas consumidos pelo indivíduo ao longo de um período de 24 horas, o dia

anterior à entrevista. As informações são obtidas em medidas caseiras ou unidades e

posteriormente convertidas em pesos e volumes15.

No Erica foram realizados dois REC24h, o segundo aplicado em uma subamostra para

estimativa da variância intrapessoal e do consumo usual dos indivíduos. Para este artigo

utilizamos apenas os dados do primeiro recordatório, suficiente para estimar média de

consumo na população16.

A aplicação do REC24h foi realizada por pesquisadores de campo devidamente

treinados que entrevistaram os adolescentes nas escolas, utilizando um software específico

para entrada das informações em netbooks. Este software utiliza uma lista de alimentos

proveniente dos resultados da Pesquisa de Orçamento Familiar17. Para reduzir o erro na

obtenção dos dados, uma técnica de entrevista denominada “Multiple Pass Method”18 foi

utilizada, com algumas adaptações. Maior detalhamento do método pode ser consultado em

artigo de Barufaldi e colaboradores19.

Para a estimativa da ingestão de energia, macronutrientes e micronutrientes foram

utilizadas as tabelas de composição nutricional20 e medida caseira21 compiladas

especificamente para análise dos alimentos e preparações citados na Pesquisa de Orçamento

Familiar (POF) 2008-2009. Os dados de ingestão de nutrientes representam a contribuição

somente dos alimentos e/ou bebidas e não incluíram o consumo de suplementos e/ou

medicamentos. A adição de óleo de soja em todas as preparações cozidas e refogadas de

carnes e hortaliças, bem como de açúcar em sucos e bebidas foram consideradas na estimativa

da ingestão de energia e de nutrientes22.

As médias de consumo de sódio foram estimadas, assim como os seus intervalos de

confiança de 95%.

A idade foi categorizada em 12 a 13 anos e 14 a 17 anos por haver recomendações

diferentes para a ingestão de sódio e de outros micronutrientes para essas duas faixas etárias23,

2.200 mg por dia e 2.300 mg por dia, respectivamente, para o sódio.

80

Medidas Antropométricas

O peso foi obtido em balança eletrônica Líder ® com capacidade de 200 kg e variação

de 50 g. Foi realizada uma única medida já que a balança era digital, mas o valor foi digitado

no PDA duas vezes, para que fossem evitados erros de digitação.

A estatura foi medida utilizando-se estadiômetro portátil e desmontável da marca

Alturexata® com resolução de 1 mm e campo de uso de até 213 cm. Foram obtidas duas

medidas e admitida uma variação máxima de 0,5 cm entre as duas. O sistema

automaticamente calculava a média das duas medidas. Caso a variação excedesse este valor,

as medidas eram descartadas no visor do PDA e deveriam ser realizadas novamente.

Foi calculado o IMC, definido como peso (Kg) dividido pelo quadrado da estatura

(metros). Para a classificação do estado nutricional dos adolescentes, foram adotadas as novas

curvas de referência da WHO lançadas em 200724 utilizando como índice o IMC-para-idade,

segundo sexo. Os pontos de corte adotados foram: muito baixo peso escore Z < -3; baixo peso

escore Z ≥ -3 e < -2; eutrofia escore Z ≥ -2 e ≤ 1; sobrepeso escore Z > 1 e ≤2; obesidade

escore Z > 2.

Aferição da Pressão Arterial

A classificação de hipertensão arterial para crianças e adolescentes segue um padrão

diferente do adotado para adultos. Deve ser interpretada de acordo com as curvas de

distribuição da pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD) por sexo,

faixa etária e estatura, observando-se os valores correspondentes aos diversos percentis.

Consideram-se os valores abaixo do percentil 90 como normotensão, desde que inferiores a

120/80 mmHg; entre os percentis 90 e 95, como limítrofe (“pré-hipertensão”25), e igual ou

superior ao percentil 95, como hipertensão arterial, salientando-se que qualquer valor igual ou

superior a 120/80 em adolescentes, mesmo que inferior ao percentil 95 deve ser considerado

limítrofe26.

A medida da pressão arterial e a classificação de hipertensão arterial nos adolescentes

foram realizadas de acordo com o “Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation, and

Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents”25. As pressões sistólica,

diastólica e o pulso radial foram medidos com o aparelho oscilométrico automático Omron®

705-IT, validado para adolescentes27.

81

Em resumo, a medida da pressão arterial foi realizada no braço direito, com o aluno

sentado e com os pés no chão, utilizando-se braçadeira de tamanho apropriado, cobrindo

aproximadamente 80% da distância entre o olecrânio e o acrômio.

Foram realizadas três medidas consecutivas para cada indivíduo, com um intervalo de

três minutos entre elas. A primeira medida foi descartada e foi utilizada a média das duas

últimas medidas.

Questionário do Responsável

O questionário do responsável foi enviado aos responsáveis pelo próprio aluno e

incluiu informações sobre escolaridade da mãe, histórico familiar para doenças

cardiovasculares e metabólicas e circunstâncias relacionadas ao nascimento do aluno (peso ao

nascer, amamentação). Este foi o único formulário impresso utilizado no estudo. A entrada de

dados foi duplicada para minimizar erros de digitação.

Controle de Qualidade

Para prevenir e minimizar erros sistemáticos durante a coleta dos dados foram

adotados procedimentos padronizados e controle de qualidade contínuo das medidas14.

Aspectos Éticos

O Erica foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em

Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de cada estado e do Distrito

Federal e encontra-se detalhado em Bloch et al14. Todos os participantes assinaram termo de

assentimento.

Análise Estatística

Variáveis contínuas foram descritas com médias e desvios-padrão, e categóricas com

intervalos de confiança de 95%. Os dados foram analisados com o software STATA, versão

14 (Stata Corp., College Station, USA). As análises foram realizadas considerando-se o

desenho amostral complexo utilizado.

A relação entre o consumo de sódio e a pressão arterial sistólica e diastólica foi

avaliada por gráficos entre as duas variáveis utilizando a função suavizadora lowess no Stata e

82

limitando o consumo de sódio entre 1.000 mg e 8.000 mg para excluir o efeito de valores

considerados extremos.

Vale ressaltar que esses gráficos não levam em consideração o desenho amostral, nem

os ajustes pelas variáveis confundidoras. A intenção foi apenas identificar pontos de corte

onde houvesse uma relação linear positiva entre as duas variáveis. Assim sendo, foram

identificados esses pontos de corte de acordo com o sexo e as estratificações.

Nessas faixas de consumo de sódio específicas foram realizadas regressões lineares

considerando o desenho amostral complexo e controlando pelas variáveis de confundimento.

A associação do consumo de sódio com pressão arterial foi avaliada levando em

consideração as variáveis de confundimento e modificadoras de efeito. Essa associação foi

investigada em diferentes níveis: individual e ecológico por capitais e por municípios.

A análise da associação foi realizada também por quintis de consumo de sódio e razão

sódio/potássio, estratificando por sexo e ajustando para consumo energético, idade e estado

nutricional.

As análises ecológicas foram realizadas para capitais e para municípios, buscando-se

encontrar uma maior heterogeneidade nas médias do consumo de sódio. Nessas análises

foram levadas em consideração as seguintes variáveis: sexo, idade e consumo energético total.

83

Resultados

A tabela 1 mostra as características da população do estudo de 71.553 adolescentes, e

da população representada por ela (considerando o desenho amostral complexo e a expansão

da amostra13).

Tabela 1. Características da amostra observada, Erica 2013-2014.

(Fonte: tabela elaborada pela autora).

N

Amostra

%

Amostra

%

Populacional

Sexo n %

Feminino

Masculino

39.690

31.863

55,5

44,5

-

-

Idade (anos)

12

13

14

15

16

17

8.006

11.827

13.007

13.663

14.183

10.867

11,2

16,5

18,2

19,1

19,8

15,2

-

-

-

-

-

-

Cor da pele

Branca

Preta

Parda

Amarela

Indígena

Não Informada

25.425

5.409

36.477

1.805

535

1.902

35,5

7,6

51,0

2,5

0,75

2,65

38,9

8,0

47,5

2,0

0,6

3,0

Tipo de Escola

Pública

Privada

56.168

15.385

78,5

21,5

82,6

17,4

Região

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

14.494

22.205

16.434

9.089

9.331

20,3

31,0

23,0

12,7

13,0

8,4

21,3

50,8

11,8

7,7

Estado Nutricional

Muito baixo peso

Baixo peso

Peso adequado

Sobrepeso

Obesidade

255

1.851

51.930

12.011

5.506

0,3

2,6

72,6

16,8

7,7

0,4

2,4

71,8

17,0

8,4

Classificação da Pressão Arterial

Normotensos

Pré-hipertensão

Hipertensos

55.410

9.599

6.544

77,4

13,4

9,2

76,7

13,7

9,6

84

Na amostra, há um leve predomínio de adolescentes do sexo feminino em relação ao

sexo masculino. A maioria dos alunos é proveniente de escolas públicas. As regiões Sul e

Centro-Oeste do país foram as que tiveram menores números de participantes do estudo.

Cerca de 51% dos participantes declararam sua cor de pele como parda e 35,5% como

branca. Em relação ao estado nutricional, aproximadamente 73% estavam dentro da faixa de

peso adequado, enquanto que 25% estavam com sobrepeso/obesidade.

Na tabela 2 são apresentadas as médias de pressão arterial sistólica e diastólica, e de

consumo de sódio segundo características da população estudada.

O consumo médio de sódio dos adolescentes foi de 3.378 mg (IC 95%: 3.313 – 3.444

mg). O sexo masculino teve maiores médias de pressão sistólica e de consumo de sódio do

que o sexo feminino. As maiores médias para consumo de sódio nas regiões do país foram:

Nordeste, seguida de Centro-Oeste, Norte, Sudeste e Sul, respectivamente.

Os adolescentes que se declararam de cor indígena tiveram as maiores médias de

consumo de sódio, porém são poucos indivíduos nessa categoria e as diferenças não foram

estatisticamente significativas. Há um gradiente crescente para ambas as médias de pressão,

sistólica e diastólica, com o aumento da idade e para as médias de consumo de sódio, embora

com superposição dos IC 95%.

As médias de consumo de sódio são semelhantes entre normotensos e hipertensos, mas

bem maiores na categoria pré-hipertensos.

As variáveis consideradas confundidoras na associação de consumo de sódio com

pressão arterial foram: idade, estado nutricional e ingestão energética total enquanto que os

modificadores de efeito foram sexo, cor de pele e histórico familiar para hipertensão arterial.

85

Tabela 2. Médias de pressão arterial sistólica e diastólica e médias de consumo de sódio, Erica 2013-2014. (Fonte: elaborada pela autora).

Característica

Média da

Pressão

Sistólica

(mmHg)

IC 95%

Média da

Pressão

Diastólica

(mmHg)

IC95%

Média do

Consumo

de Sódio

(mg/dia)

IC95%

Sexo

Feminino 108,0 107,6 - 108,4

66,4 66,0 - 66,7

2.988,6 2.933,6 - 3.043,6

Masculino 113,6 113,2 - 114,0

65,4 65,1 - 65,7

3.764,9 3.674,3 - 3.855,4

Idade

12 106,0 105,4 - 106,6

64,2 63,8 - 64,6

3.127,6 2.994,3 - 3.260,9

13 108,2 107,2 - 109,1

64,5 64,0 - 65,1

3.242,1 3.167,8 - 3.316,5

14 110,9 110,4 - 111,4

65,6 65,2 - 66,0

3.372,0 3.186,4 - 3.557,5

15 112,7 112,2 - 113,3

66,7 66,2 - 67,1

3.453,1 3.377,8 - 3.528,5

16 113,6 113,1 - 114,1

67,1 66,7 - 67,6

3.545,4 3.477,0 - 3.613,8

17 114,6 114,0 - 115,1

67,5 67,0 - 67,9

3.590,2 3.478,9 - 3.701,4

Cor da pele

Branca 111,0 110,6 - 111,4

66,3 66,0 - 66,7

3.314,7 3.234,3 - 3.395,1

Preta 112,0 111,3 - 112,6

65,9 65,4 - 66,4

3.464,4 3.333,3 - 3.595,4

Parda 110,5 110,0 - 111,0

65,5 65,2 - 65,8

3.417,1 3.338,1 - 3.496,0

Amarela 109,4 108,4 - 110,3

65,7 65,1 - 66,4

3.391,7 3.229,2 - 3.554,1

Indígena 110,5 108,8 - 112,2

64,9 63,4 - 66,3

3.533,5 3.061,4 - 4.005,6

Não declarada 111,4 110,5 - 112,4

65,4 64,8 - 66,0

3.310,9 3.161,1 - 3.460,7

Tipo de Escola

Pública 111,0 110,6 - 111,3

65,9 65,6 - 66,2

3.411,8 3.344,0 - 3.479,6

Privada 110,1 109,0 - 111,1

65,9 65,4 - 66,4

3.219,4 3.054,7 - 3.384,1

86

Continuação...

Característica

Média da

Pressão

Sistólica

(mmHg)

IC 95%

Média da

Pressão

Diastólica

(mmHg)

IC95%

Média do

Consumo

de Sódio

(mg/dia)

IC95%

Região

Norte 110,2 109,9 - 110,5

64,8 64,5 - 65,2

3.345,9 3.286,2 - 3.405,7

Nordeste 110,1 109,7 - 110,5

65,8 65,4 - 66,2

3.652,2 3.534,6 - 3.769,7

Sudeste 110,8 110,2 - 111,3

66,0 65,5 - 66,4

3.308,0 3.192,5 - 3.423,4

Sul 113,0 112,4 - 113,7

66,4 65,9 - 66,9

3.152,2 3.059,1 - 3.245,4

Centro-Oeste 110,7 110,3 - 111,1

65,8 65,5 - 66,2

3.466,5 3.403,4 - 3.529,6

Estado Nutricional

Muito baixo peso 101,9 98,5 - 105,3

62,5 60,3 - 64,7

3.538,3 3.176,7 - 3.899,9

Baixo peso 103,5 102,5 - 104,5

63,9 63,2 - 64,6

3.448,8 3.330,3 - 3.567,4

Adequado 108,9 108,5 - 109,2

64,9 64,6 - 65,3

3.475,8 3.407,0 - 3.544,6

Sobrepeso 115,7 115,1 - 116,1

67,5 67,1 - 67,9

3.127,1 3.049,3 - 3.204,9

Obeso 120,3 119,7 - 121,0

71,1 70,7 - 71,6

3.028,6 2.880,2 - 3.177,0

Classificação da Pressão Arterial

Normotenso 106,1 105,8 - 106,3

63,5 63,2 - 63,7

3.340,4 3.277,8 - 3.402,9

Pré-hipertenso 122,6 122,4 - 122,8

71,0 70,7 - 71,3

3.605,7 3.502,7 - 3.708,7

Hipertenso 132,0 131,4 - 132,6

77,9 77,3 - 78,4

3.359,2 3.233,5 - 3.485,0

87

A sequência de figuras 1 a 4 mostram a relação gráfica do consumo de sódio com PAS

e PAD com as seguintes variáveis, respectivamente: sexo; sexo e cor da pele; sexo feminino e

região e sexo masculino e região. As análises foram ajustadas por idade, ingestão energética

total e IMC.

Figura 1. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS e PAD (mmHg) por sexo - Erica 2013-

2014. (Fonte: elaborada pela autora).

Sis

tóli

ca

Dia

stóli

ca

88

Figura 2. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS e PAD (mmHg) por sexo e cor da pele –

Erica 2013-2014. (Fonte: elaborada pela autora).

89

Figura 3. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS e PAD (mmHg) por região – Sexo

Feminino – Erica 2013-2014. (Fonte: elaborada pela autora).

90

Figura 4. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS e PAD (mmHg) por região – Sexo

Masculino – Erica 2013-2014. (Fonte: elaborada pela autora).

91

Os coeficientes das figuras referem-se aos coeficientes obtidos por regressão linear e

ajustados para idade, estado nutricional e consumo energético. E o valor do coeficiente é o

aumento na pressão arterial sistólica ou diastólica (em mmHg) para um aumento em 1.000 mg

no consumo de sódio.

Pode-se observar que a relação mostrou-se linear em determinados segmentos do

gráfico sendo mais frequentes para a pressão arterial sistólica do que para a diastólica.

Para a idade de 12 a 13 anos e de 14 a 17 anos, estratificado por sexo, não foi

encontrada no gráfico alguma parte que pudesse expressar uma relação linear, por isso os

dados não foram apresentados para PAS e PAD nesses grupos.

Apenas um grupo específico apresentou coeficiente de regressão linear

estatisticamente significativa: um coeficiente no valor de 4,04 na PAS e de 3,6 na PAD para

cada aumento de 1 g de sódio consumido. Tal grupo compreende os adolescentes do sexo

masculino de cor de pele preta que consumiram entre 5.000 mg a 8.000 mg de sódio.

Na análise no nível individual utilizando a variável consumo de sódio de forma

contínua (mg), assim como a pressão arterial (mmHg), observamos um coeficiente de

regressão linear de 0,42, com p<0,001. Esse é o incremento na pressão sistólica para cada

aumento em 1g no consumo de sódio, ajustado para as variáveis de confundimento. Não foi

observada associação estatisticamente significativa com a pressão arterial diastólica

(coeficiente -0,05; p=0,25).

Quando estratificado por sexo, esse valor só permaneceu estatisticamente significativo

para o sexo masculino, com coeficiente de regressão linear 0,32 para cada 1 g de sódio com

p<0,001, ajustados por energia, idade e estado nutricional. Para o sexo feminino, esse valor

foi de -0,01 com p=0,85.

A maior parte dos coeficientes de regressão linear da associação do consumo de sódio

por quintis com a pressão arterial sistólica não foram estatisticamente significativos. Alguns

coeficientes foram positivos e outros negativos, porém, estatisticamente significativos. Apesar

disso, não foi possível identificar uma tendência ao longo dos quintis.

Em um subgrupo de aproximadamente 40% da amostra do estudo (n=28.463) cujos

responsáveis responderam sobre o histórico familiar de hipertensão arterial no questionário

dos responsáveis, foi analisada a modificação de efeito desse histórico familiar na associação

de interesse.

Em relação ao histórico familiar para hipertensão arterial, 63% relataram resposta

negativa, enquanto que 16,1% tinham pai, 12,4% mãe e 8,5% pai e mãe com histórico

92

positivo. As figuras 5 e 6 mostram as médias de pressão sistólica por quintil de consumo de

sódio estratificado por sexo e por histórico familiar para hipertensão arterial.

Figura 5. Médias de pressão sistólica por quintil de sódio para histórico familiar de HA –

Sexo Feminino – Erica 2013-2014. (Fonte: elaborada pela autora).

Figura 6. Médias de pressão sistólica por quintil de sódio para histórico familiar de HA –

Sexo Masculino – Erica 2013-2014. (Fonte: elaborada pela autora).

Como observado nas figuras, as médias de pressão sistólica são maiores para aqueles

indivíduos com pai e mãe com histórico familiar de hipertensão na maioria dos quintis em

relação aos indivíduos sem histórico familiar para hipertensão. Além disso, os adolescentes do

sexo masculino têm médias mais elevadas para pressão arterial sistólica.

93

A associação do consumo de sódio com a pressão arterial sistólica, levando em

consideração o histórico familiar de HA, foi avaliada em modelos de regressão linear

ajustados para ingestão energética total, idade e estado nutricional. Observa-se na figura 7 que

no sexo masculino, ter só mãe, ou pai e mãe, com HA impacta no efeito do consumo de sódio

na PAS dos adolescentes mais sensíveis ao efeito do sódio, levando a um aumento

estatisticamente significativo. Esse efeito modificador não foi observado no sexo feminino.

A variação na pressão sistólica (em mmHg) observada no gráfico foi estimada para um

aumento em 1.000 mg de sódio.

Figura 7. Associação entre consumo de sódio e pressão arterial sistólica por sexo e histórico

familiar para hipertensão – Erica 2013-2014. (Fonte: elaborada pela autora).

Apesar da variação considerável nas médias de consumo de sódio nas capitais, não foi

possível observar o efeito da associação.

Porém, na avaliação gráfica do consumo de sódio com a pressão arterial nos

municípios (figura 8), nota-se um padrão bem diferente entre os sexos. No sexo masculino

parece ter uma tendência linear.

Há uma parte do gráfico do sexo feminino onde nota-se relação linear positiva, mas

não foi estatisticamente significativo. Para o sexo masculino, foi realizada a regressão linear

na faixa de consumo de sódio onde a relação parecia linear e positiva (3.300 mg a 6.000 mg).

O coeficiente de regressão linear foi de 2,34 para cada aumento de 1 g no consumo de sódio

na PAS sem ajuste.

94

Não foi possível realizar os ajustes do modelo por todas as variáveis de confundimento

(idade, consumo de energia e estado nutricional) por tratar-se de estudo ecológico. Por isso,

foram apresentadas as análises brutas.

Figura 8. Efeito do consumo de sódio (mg) na PAS (mmHg) por sexo – Municípios – Erica

2013-2014. (Fonte: elaborada pela autora).

Discussão

A média de consumo de sódio de adolescentes brasileiros é muito alta. Essa média é

muito semelhante à encontrada em adultos, 3,95g por dia, numa revisão sistemática com 205

estudos abrangendo 66 países. Esse estudo mostrou que 99,2% dos indivíduos estudados

excediam o consumo de sódio recomendado pela Organização Mundial de Saúde de 2 g por

dia e concluiu que 1,65 milhões de mortes anuais por doenças cardiovasculares (IC 95%: 1,1-

2,22) foram atribuídas ao consumo de sódio acima do nível de referência. Essas mortes

contribuíram para quase uma a cada 10 mortes por doenças cardiovasculares28.

Nos adolescentes do Erica só foi possível observar uma associação linear do consumo

de sódio com pressão arterial sistólica no sexo masculino e em alguns grupos específicos,

como nos adolescentes de cor de pele preta e com história familiar de HA. É possível que os

efeitos do consumo de sódio ainda não possam ser observados nessa faixa etária, uma vez que

a sensibilidade ao sódio tende a aumentar com a idade29. Além disso, a pressão arterial

Coeficiente: -1,6

P valor = 0,82

Coeficiente: 2,34

P valor = 0,004

95

sistólica parece ser bem mais influenciada pelo consumo de sódio do que a pressão diastólica,

como pode ser observada nos gráficos.

Não identificamos na literatura, achados sobre a pressão sistólica no sexo feminino ter

uma relação aparentemente negativa com o consumo de sódio, o que supomos estar

relacionada à variação hormonal. Porém, mais estudos são necessários para elucidar tal

comportamento. O mesmo achado aplica-se para a pressão diastólica, em ambos os sexos,

necessitando maiores esclarecimentos.

Uma meta-análise analisou o efeito da redução no consumo de sal de no mínimo duas

semanas na pressão arterial de crianças e adolescentes normotensos. Em 10 ensaios clínicos

com 966 participantes, nos quais o consumo de sal foi reduzido em 42%, houve uma

diminuição na pressão sistólica de -1,17 mmHg (IC 95%: -1,78; -0,56) e na pressão diastólica

de -1,29 mmHg (IC 95%: -1,94; -0,65). Em três ensaios clínicos com 551 participantes e com

redução no consumo de sal de 54%, a pressão sistólica diminuiu de -2,47 mmHg (IC 95%: -4;

-0,94). O consumo de sal nesses estudos foi medido por diversos métodos30.

A pouca variabilidade individual observada no Erica com a maioria dos adolescentes

com consumo elevado, também dificulta a observação do efeito do consumo na PA em nível

individual. Na análise do consumo de sódio por quintis, não foi possível evidenciar uma

tendência ao longo dos quintis. Isso dificultou a compreensão da associação entre consumo de

sódio e pressão arterial por esse método de análise, mesmo estratificando por sexo, região ou

cor da pele.

No estudo americano NHANES 2003-2008, com 6.235 participantes de 8 a 18 anos,

dois recordatórios de 24 horas foram utilizados e a média de consumo diário de sódio foi de

3.387 mg. Observou-se que a cada 1.000 mg por dia de sódio consumido correspondia um

aumento de 0,097 desvios-padrão (IC 95%: 0,006 – 0,188) ~1 mmHg na pressão sistólica em

todos os participantes e 0,141 (IC 95%: -0,01 – 0,298) ~ 1,5 mmHg na pressão diastólica em

participantes com sobrepeso/obesidade). A média ajustada da pressão sistólica aumentou com

o quartil de consumo de sódio (entre o 1º e o último quartil) de 106,2 mmHg para 108,8

mmHg para o total da população (p=0,01) e de 109 mmHg para 112,8 mmHg em adolescentes

com sobrepeso/obeso. O OR ajustado comparando riscos para pré-hipertensão e hipertensão

entre os indivíduos no maior quartil versus menor quartil foi 2 (IC 95%: 0,95 – 4,1; p=0,06)

para o total e 3,5 (IC 95%: 1,3 – 9,2; p=0,01) para sobrepeso/obeso. Concluiu-se que o

consumo de sódio e o índice de massa corpórea parecem ter efeito sinérgico no risco para pré-

hipertensão/hipertensão (excesso de risco relativo para interação = 0,29)31.

96

A história familiar de HA é um fator de risco para a hipertensão arterial já conhecido

em adultos32. Araújo e colaboradores avaliaram um conjunto de indicadores de risco para a

hipertensão arterial em uma população infanto-juvenil de Fortaleza. Dos 342 escolares

avaliados nesse estudo transversal, 44,7% apresentaram valores de pressão arterial acima do

percentil 90 e 55,6% dos participantes referiram história familiar, até 2º grau, de hipertensão

arterial33.

Kuschnir e Mendonça realizaram um estudo caso-controle em adolescentes de 12 a 20

anos incompletos (91 casos e 182 controles) no Rio de Janeiro, avaliando os principais fatores

de risco para o desenvolvimento de hipertensão arterial em adolescentes. Sobrepeso,

obesidade e história familiar de hipertensão (pai e mãe hipertensos) foram os principais

fatores de risco encontrados. Foi observada associação positiva de hipertensão com história

familiar de pai e mãe hipertensos (OR=8,6; IC95% 3,51-20,59) e de apenas um dos pais

hipertensos (OR=2,17; IC 95% 1,18-3,99)34.

Outro estudo comparou a pressão arterial e o perfil lipídico de 43 adolescentes com ou

sem antecedente familiar de hipertensão arterial em São Paulo. Destes, 20 eram filhos de

hipertensos e 23 de normotensos (controles). Filhos de hipertensos apresentaram maiores

valores basais de médias de pressão arterial sistólica (109 ± 3 vs 99 ± 2 mmHg, p=0,01) e

diastólica (68 ± 2 vs 62 ± 2 mmHg, p=0,04). Nestes também foi encontrado perfil lipídico

mais desfavorável, o que possivelmente reflete os mesmos hábitos alimentares e influências

ambientais35.

Com a análise ecológica, por capitais e municípios, esperava-se obter uma maior

variabilidade do consumo de sódio. No entanto, ainda assim não foi possível detectar

associação entre a média do consumo de sódio e a média da PA.

O método de medida do consumo de sal ou sódio tem impacto na precisão dos valores

estimados. Principalmente no que se refere ao método de quantificação do sódio, cujo exame

de referência é a urina de 24 horas, de difícil utilização em estudos epidemiológicos. Por se

tratar de um estudo transversal e de grande magnitude, o Erica utilizou o recordatório de 24

horas, considerado o método de escolha para análise de consumo alimentar em estudos

epidemiológicos36. Em nosso estudo os dados um único recordatório de 24 horas foram

utilizados, contudo, um dia de recordatório tem sido considerado suficiente para estimativa da

ingestão média de nutrientes em grupos populacionais37. Outra limitação desse estudo foi não

estimar a quantidade de sal de mesa adicionado à comida. No entanto, a quantificação desse

consumo é difícil, além do que, essa não é a maior parcela do sal consumido.

97

Mesmo em adultos ainda há controvérsia sobre o efeito do consumo de sódio na

pressão arterial, principalmente de indivíduos normotensos.

Não parece haver discordância de que um consumo alto de sal esteja associado com o

aumento da pressão arterial e desta com a mortalidade cardiovascular, embora o nível de

consumo considerado elevado não seja consensual38.

Conclusão

A relação entre consumo de sódio e pressão arterial em adolescentes pode ser melhor

avaliada em estudos longitudinais, mas os resultados apresentados sugerem que adolescentes

do sexo masculino e com história familiar de hipertensão arterial tendem a apresentar maior

sensibilidade ao sódio com elevação da pressão arterial.

98

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103

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de ainda haver controvérsias sobre o benefício da redução no consumo de

sódio em indivíduos normotensos, é de conhecimento notório o papel que este micronutriente

desempenha no organismo e a sua influência na pressão arterial, principalmente, na pressão

arterial sistólica.

A evolução dos estudos sobre o consumo de sódio e hipertensão arterial durante os

anos tem levado à uma compreensão cada vez maior do efeito do consumo acima do

recomendado sobre a pressão arterial, direta ou indiretamente. Além disso, a excreção urinária

de 24 horas vem se consolidando como padrão-ouro para esse tipo de análise, sendo menos

susceptível à vieses.

A grande maioria dos adolescentes do estudo consomem uma quantidade muito grande

de sódio na alimentação. Esse alto consumo de sódio tornou-se um hábito generalizado na

sociedade em que vivemos. Isso deve-se ao alto consumo de alimentos ultraprocessados116, e

a adoção de hábitos alimentares que envolvem utilização de alimentos do tipo “fast-food”93.

Some-se a isso outros fatores de risco como sedentarismo, excesso de peso e obesidade, que

contribuem para um estilo de vida não saudável.

Em nosso estudo as alterações na pressão arterial associadas ao consumo de sódio

foram encontradas apenas para a pressão arterial sistólica, que, de fato é a mais apresentada

nesse modelo de associação. Uma revisão sistemática com meta-análise de 11 ensaios clínicos

randomizados controlados mais recentes no tema de consumo alimentar de sódio e pressão

arterial, reportou um decréscimo pequeno (1,1 mmHg) na média da pressão sistólica, mas não

na diastólica em uma dieta com redução de sódio. Concluiu que: redução de sódio em

pacientes hipertensos reduz a pressão arterial, e o impacto a longo prazo da redução no

consumo de sal na pressão arterial, mortalidade e morbidade ainda precisa ser esclarecido117.

O sexo masculino apresentou maiores médias de pressão arterial sistólica e diastólica.

Essa característica também foi relatada em outros estudos118.

A relação entre pressão arterial e quantidade de sódio ingerido é heterogênea. Isso

ocorre pela sensibilidade ao sal, e quanto maior essa sensibilidade individual, maior é a

reabsorção proximal tubular de sódio, a incidência de hipertensão e a presença de lesões em

órgãos-alvo119.

104

O consumo de sódio é um alvo terapêutico atrativo para a hipertensão porque a dieta é

um fator facilmente modificável que pode evitar o uso de medicamentos120.

Em outra revisão sobre o tema, Magalhães e colaboradores sugerem que a prevenção

da hipertensão arterial tenha início já na população jovem, pois nessa idade já podem ser

identificados fatores de risco para doenças cardiovasculares que geralmente persistem até a

idade adulta. Além disso, nessa faixa etária podem ser aplicadas mais facilmente

modificações no estilo de vida como aspectos nutricionais, ingestão de sódio e álcool, peso

corporal, atividade física e hábitos saudáveis de vida no sentido de reduzir os problemas de

saúde no futuro121.

O compromisso dos países das Américas com a redução do consumo de sódio pelas

populações da região, conforme proposto pelas OPAS, é uma estratégia fundamental para a

prevenção e controle da morbidade e da mortalidade por doenças crônicas. Nesse sentido, a

redução do consumo de sódio pela população brasileira, dos atuais 4.700 mg para menos de

2.000 mg/pessoa/dia, assume posição de destaque dentro da agenda de saúde no Brasil,

mediante diminuição do sal adicionado durante o preparo e o consumo de alimentos e do

sódio presente nos alimentos industrializados. Para estas ações, foram criados três subgrupos

de trabalho com os seguintes objetivos: pactuação de metas de redução de teores de sódio nos

alimentos processados; realização de campanhas de educação e informação da população; e

elaboração de guias de boas práticas nutricionais122.

Porém, um estudo realizado avaliou o potencial impacto da redução do teor de sódio

em alimentos processados no consumo total de sódio no Brasil. Como referencial, foram

utilizadas as metas de redução de sódio estabelecidas em 2011 pelo Ministério da Saúde,

supracitadas. A população de estudo foi uma subamostra do Inquérito Nacional de

Alimentação (INA 2008-2009), e obteve como resultado que a redução média estimada no

consumo de sódio após cinco anos de pactuação foi de apenas 1,5%, um pequeno impacto no

consumo médio de sódio na população brasileira. O estudo conclui, portanto, que politicas

públicas voltadas para o estímulo de mudanças comportamentais que visem a redução da

adição de sal no preparo de alimentos e menor consumo de alimentos ultraprocessados, tendo

como base o novo Guia Alimentar para População Brasileira123 desempenham papel

fundamental para mudanças efetivas no padrão de consumo de sódio na população

brasileira124.

105

Como recomendações e intervenções para prevenção e controle da hipertensão sugere-

se as seguintes mudanças para redução do consumo de sódio:

a) Conscientização sobre educação alimentar nas escolas;

b) Diminuição da adição de sal no preparo dos alimentos;

c) Diminuição no consumo de alimentos ultraprocessados;

d) Aumento do consumo de alimentos in natura.

Somente a política e o pacto de redução de consumo de sal pelas indústrias de

alimentos podem não ser suficientes para reduzir de fato o consumo de sódio. Se desde

pequenos as crianças e adolescentes aprenderem a escolher seus alimentos com qualidade,

quando adultos manterão esse hábito e evitarão doenças futuras relacionadas às doenças

cardiovasculares. Portanto, mais importante do que as medidas e pactos governamentais para

a redução encontra-se o papel da conscientização das pessoas sobre a liberdade de escolha dos

alimentos, que se bem consolidada, garantirá a redução no número de complicações de saúde

no futuro.

106

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