Esboço Da Minha Proposta de Artigo

6
No âmbito da filosofia do não e da teoria da imaginação de Gaston Bachelard observamos uma particular perspectiva sobre a relação e o conflito entre a realidade e suas estruturas divisórias, que se manifestam na distinção entre o que é da magnitude do “fato” e do que é “estritamente” da ordem do imaginário ficcional. Sabemos da importância do pensamento de Bachelard, porque foi devido ao seu criticismo ao espírito científico cartesiano que foram construídas uma considerável parte de produções intelectuais do século XX; a estes somamos filósofos, antropólogos, sociólogos, teóricos da literatura, assim como pensadores das mais diversas áreas do saber: como Michel Foucault, Georges Canguilhem e Gilbert Durand. Analisamos neste texto as fronteiras entre o que é factual, tornando-se “realidade” e o que é da ordem do imaginário “ficcional” para Bachelard. Há, de fato, uma separação entre estes? Como metodologia para a tentativa de expor nosso argumento poderíamos usar a análise dos movimentos sensíveis dos corpos em Assim falava Zaratustra ou quem sabe junto a isso citações de A Gaia Ciência? Poderíamos a partir disso desenvolver o próprio trânsito entre ciência e poesia...Propomos uma releitura desses próprios limites, pois partimos do pressuposto que o saber racional e a criação poética não são excludentes. Ou seja, na nossa visão estes ramos do conhecimento tradicionalmente não são uniformes, inclusive entre as suas próprias propedêuticas e a dialética do conhecimento proposta por Bachelard rompe com as compartimentações axiomáticas das certezas na produção científico-filosófica e no texto poético. Justamente por isso tomamos como foco a análise das discussões empreendidas pelo filósofo sobre o conceito de fenomenologia da imaginação exposto em suas obras: Filosofia do não e A poética do espaço como método para o estudo crítico e filosófico de teoria literária. E das suas sugestões em Nietzsche, Foucault e outros... Palavras – chave: ficção, fato, imaginário, filosofia e teoria literária. A problemática surgida entre as dimensões do discurso científico e filosófico e da escrita tem sido alvo de

description

filosofia

Transcript of Esboço Da Minha Proposta de Artigo

No mbito da filosofia do no e da teoria da imaginao de Gaston Bachelard observamos uma particular perspectiva sobre a relao e o conflito entre a realidade e suas estruturas divisrias, que se manifestam na distino entre o que da magnitude do fato e do que estritamente da ordem do imaginrio ficcional. Sabemos da importncia do pensamento de Bachelard, porque foi devido ao seu criticismo ao esprito cientfico cartesiano que foram construdas uma considervel parte de produes intelectuais do sculo XX; a estes somamos filsofos, antroplogos, socilogos, tericos da literatura, assim como pensadores das mais diversas reas do saber: como Michel Foucault, Georges Canguilhem e Gilbert Durand. Analisamos neste texto as fronteiras entre o que factual, tornando-se realidade e o que da ordem do imaginrio ficcional para Bachelard. H, de fato, uma separao entre estes? Como metodologia para a tentativa de expor nosso argumento poderamos usar a anlise dos movimentos sensveis dos corpos em Assim falava Zaratustra ou quem sabe junto a isso citaes de A Gaia Cincia? Poderamos a partir disso desenvolver o prprio trnsito entre cincia e poesia...Propomos uma releitura desses prprios limites, pois partimos do pressuposto que o saber racional e a criao potica no so excludentes. Ou seja, na nossa viso estes ramos do conhecimento tradicionalmente no so uniformes, inclusive entre as suas prprias propeduticas e a dialtica do conhecimento proposta por Bachelard rompe com as compartimentaes axiomticas das certezas na produo cientfico-filosfica e no texto potico. Justamente por isso tomamos como foco a anlise das discusses empreendidas pelo filsofo sobre o conceito de fenomenologia da imaginao exposto em suas obras: Filosofia do no e A potica do espao como mtodo para o estudo crtico e filosfico de teoria literria. E das suas sugestes em Nietzsche, Foucault e outros...Palavras chave: fico, fato, imaginrio, filosofia e teoria literria.A problemtica surgida entre as dimenses do discurso cientfico e filosfico e da escrita tem sido alvo de muitas pesquisas. A historiografia marxista fortalecida pela filosofia da histria de Friedrich Hegel trata o fato como o que pode ser documentvel. No entanto, no nos interessa alongar nosso estudo neste ponto. O que entendemos que, nessa perspectiva de histria, o fundamental e indispensvel para a compreenso da memria e da sociedade torna-se apenas o que est registrado; enquanto isso a literatura trafega pelas searas da fico tornando o imaginrio um espao muito mais ligado arte e s narrativas literrias. Cremos que estas separaes so nocivas a uma teoria do conhecimento, tendo em vista que podemos cair em possveis reducionismos. Por conseguinte argumentamos e entendemos os conceitos Bachelardianos de imaginao e, de forma derivada, o de devaneio potico, como indispensveis para uma compreenso mais ampla dos percursos dos saberes no ser humano. Consequentemente elegemos estes dois conceitos como uma das bases para o rompimento dos limites entre a criao potica e o pensamento cientfico-filosfico. necessria a insero do mito, do smbolo e da oralidade, como fatores preponderantes para uma viso mais ampla do pensamento. Mas na viso de Bachelard o mito no est subordinado metfora. A metfora em Bachelard, assume uma funo dinmica na poesia, tem um poder de transformao e de ambivalncia, de transmutao com a prpria natureza, enquanto que o mito assume uma situao estanque, a de arqutipo. Mas a metfora transposta por meio da observao matria, tal como o cientista assim o faz. Nesse ponto (entre o mito, smbolo, oralidade e a metfora) encontramos uma concatenao com o conceito de transvalorao de Nietzsche(?) como voc enxerga essa aproximao? Nesse sentido, se for coerente poderamos analisar o movimento sensvel dos corpos em Zaratustra? A necessidade de ir para alm de uma anlise factual tentar entender o registro da realidade que a cognio abarca e que transcende os fatos tais como eles so, pois o que experimentamos de imediato: o instante dos movimentos sensveis da matria est contido no espao da razo e concomitantemente no espao da imaginao a partir da transformao de uma ideia elaborada na narrao de um fato emprico. Nesse exerccio de pensamento j encontramos a fico ou ainda a imagem; as lembranas empricas vivenciadas no cotidiano so impressas nos escritos, intrnseco ao autor: mesmo que este procure o real at as ltimas consequncias, o que encontrar so impresses de seu imaginrio. Eis ento a quebra de paradigmas entre a cincia, a filosofia e a escrita potica, e por sua vez a problemtica causada por muitos tericos e crticos de arte da atualidade em relao literatura - tida como fico - desligada da prxis dos outros saberes. Para fundamentar nossa anlise a filosofia de Bachelard surge ento, como proposta de uma dialtica entre o que nasce no intelecto razo e imaginao, como sistemas constantemente abertos e fechados, e entre o que se torna fenmeno exgeno, materializado empiricamente e perceptvel aos interlocutores. justamente, no devaneio da imaginao que fundamos e refundamos a realidade e, por sua vez, fundimos o fato com a fico:Dado que a cincia est sempre inacabada, a filosofia dos cientistas permanece sempre mais ou menos ecltica, sempre aberta, sempre precria. Mesmo se os resultados positivos permanecerem, em alguns aspectos, deficientemente coordenados, estes resultados podem ser assim transmitidos, como estados do esprito cientfico, em detrimento da unidade que caracteriza o pensamento filosfico. Para o cientista, a filosofia da cincia est ainda no reino dos fatos... Para o filsofo, a filosofia da cincia nunca est totalmente no reino dos fatos. Em sua Potica do espao, o pensador usa o exemplo da casa e de seus espaos imaginativos como analogia a realidade de cada indivduo, propondo uma perspectiva potica sobre o movimento dos sonhos. Por sua vez este movimento, perpassa pelos corpos materializados no devaneio do poeta; o que mais interessa ao ser potico o que irremediavelmente originado das profundezas da solido do homem que percebe o seu sonho acordado (devaneio): Para analisar nosso ser na hierarquia de uma ontologia, para psicanalisar nosso inconsciente entrincheirado nas moradias primitivas, preciso, margem da psicanlise normal, dessocializar nossas grandes lembranas e atingir o plano dos devaneios que trazamos conosco nos espaos de nossas solides. Para tais indagaes, os devaneios so mais teis que os sonhos. E tais indagaes mostram que os devaneios podem ser bem diferentes da viso psicanaltica sobre os sonhos e que na imaginao que ultrapassamos, por assim dizer, o limite entre o factual e o ficcional. Verificamos, todavia, que Bachelard no descarta nem a psicanlise e nem o estudo do inconsciente, ele elenca, no entanto, uma anlise complementar a estes conhecimentos a chamada topoanlise o estudo da intimidade do ser:Bem entendido, graas casa que um grande nmero de nossas lembranas esto guardadas e se a casa se complica um pouco, se tem poro e sto, cantos e corredores, nossas lembranas tm refgios cada vez mais bem caracterizados. Voltamos a eles durante toda a vida em nossos devaneios. Um psicanalista deveria portanto dar ateno a essa simples localizao das lembranas. Como indicamos em nossa Introduo, daramos a essa anlise auxiliar da psicanlise o nome de topoanalise. A topoanalise seria ento o estudo psicolgico sistemtico dos lugares fsicos de nossa vida ntima. No teatro do passado que a nossa memria, o cenrio mantm os personagens em seu papel dominante. s vezes acreditamos conhecer-nos no tempo, ao passo que se conhece apenas uma srie de fixaes nos espaos da estabilidade do ser, de um ser que no quer passar no tempo, que no prprio passado, quando vai em busca do tempo perdido, quer "suspender" o vo do tempo. Em seus mil alvolos, o espao retm o tempo comprimido. O espao serve para isso. (BACHELARD, p. 19, 2003).O conceito de fico para Bachelard deve ser entendido como manufatura e/ou produo das imagens onricas em atividade de viglia. Bachelard um dos filsofos do sculo XX que defende a ideia da aglutinao da literatura com a filosofia e a cincia. Realizou, sem dvida, grandes conexes; sendo a arte, a filosofia e a cincia, para este pensador, caminhos no qual a realidade transita pela oralidade, pela imagem e pelo movimento da matria e, por meio deste processo, recria novas realidades. Sua concepo de imaginao est ligada ao espao da nossa intimidade, onde a imaginao do ser defende a existncia de uma objetividade material e dinmica do conhecimento e, desta forma, poetiza o mundo: pelo espao, no espao que encontramos os belos fsseis de uma durao concretizados em longos estgios.A discusso destes espaos fundamental para a compreenso das possibilidades do uso do Imaginrio nas artes e no nosso caso, especificamente, na literatura - explorar as captaes da inteno e da criao esttica a partir do imaginrio e da sensibilidade - a temporalizao da subjetividade do ato potico que permite ao poeta fazer a sua obra, possibilitando um abrimento para maiores potencialidades de realidades na existncia. Inclusive questionando a prpria fronteira entre fato e fico. Aqui encontramos um possvel paralelo entre a percepo de sensibilidade impressa na obra Assim falava Zaratustra de Friedrich Nietzsche...?