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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA BHAGAVAN DE CASTRO COELHO PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA ACOMPANHADOS NO SERVIÇO DE GASTROENTEROLOGIA DO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA FORTALEZA 2019

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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA

HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

BHAGAVAN DE CASTRO COELHO

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA

ACOMPANHADOS NO SERVIÇO DE GASTROENTEROLOGIA

DO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

FORTALEZA

2019

2

BHAGAVAN DE CASTRO COELHO

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA

ACOMPANHADOS NO SERVIÇO DE GASTROENTEROLOGIA

DO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

Monografia apresentada à Escola de Saúde Pública/CE a ser utilizada como trabalho de conclusão de Residência Médica em Gastroenterologia do Hospital Geral de Fortaleza.

ORIENTADORA: DRA. ANDREA BENEVIDES LEITE

FORTALEZA

2019

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FOLHA DE APROVAÇÃO

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha esposa que

sempre me incentiva a realizar constante

atividade física e dieta balanceada para

que futuramente não venha apresentar as

enfermidades aqui estudadas.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus, que concede o dom da vida e permite o conhecimento e a

saúde necessários, sem os quais não conseguiria concluir essa jornada.

À minha família, que sempre me apoiou durante os momentos difíceis.

Ao Hospital Geral de Fortaleza, que me recebeu durante dois anos na Residência de

Gastroenterologia.

Ao Dr. Sérgio Pessoa, fonte de integridade, conhecimento e inspiração, pela

dedicação ao ensino de Medicina e por ter me acolhido na Residência de

Gastroenterologia.

À Dra. Andrea Benevides, que gentilmente aceitou em ser minha orientadora na

realização deste trabalho.

Às Dras. Gardênia Costa, Mariana Rolim, Rafaelle Marques, Ticiana Rolim e Sílvia

Romero, indispensáveis ao completo êxito de término da Residência.

Às colegas residentes Débora, Camila e Renata, que muito me ajudaram no

preenchimento do protocolo de pesquisa.

Aos pacientes, sem os quais não seria possível a realização deste trabalho.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a concretização deste estudo.

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RESUMO

Introdução. A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é a enfermidade

crônica do fígado mais comum na atualidade, devendo se tornar a principal causa de

transplante hepático a partir de 2020. A prevalência global da doença é estimada em

cerca de 20%, acometendo principalmente pacientes portadores de síndrome

metabólica. No Brasil, especialmente no Ceará, a Literatura ainda não dispõe de

publicações relevantes relacionadas ao tema, ocasionando escassez de dados

epidemiológicos sobre DHGNA. O principal objetivo deste trabalho é descrever as

características clínicas e epidemiológicas de pacientes diagnosticados com DHGNA

em um hospital terciário de Fortaleza.

Métodos. Trata-se de um estudo transversal e descritivo que incluiu pacientes

assistidos ambulatorialmente no período de julho a dezembro de 2018. Indivíduos com

histórico de etilismo ou outras hepatopatias crônicas foram excluídos. Dados

demográficos e antropométricos, presença de comorbidades e resultados de exames

laboratoriais foram coletados em formulário próprio padronizado. Também foi

estimado o grau de fibrose hepática através de elastografia hepática transitória.

Resultados. Um total de 83 pacientes foi selecionado para participar da pesquisa. A

média de idade foi de 56,5 anos, com maior prevalência de DHGNA em mulheres

(80,7%). Apenas 12% dos pacientes avaliados apresentaram IMC normal.

Dislipidemia (93%), HAS (78%) e DM (58%) foram as comorbidades mais associadas

à DHGNA. Em relação às enzimas hepáticas, níveis elevados de fosfatase alcalina,

GT, AST e ALT foram observados em 63,5%, 42,3%, 45,1% e 45,1% dos pacientes,

respectivamente. Apenas AST apresentou correlação baixa e estatisticamente

significativa com fibrose hepática (p=0,021). Dos 60 indivíduos submetidos à

elastografia hepática, 65% exibiram pelo menos um grau de fibrose ao exame.

Aproximadamente 10% dos participantes já se apresentaram com cirrose clinicamente

estabelecida e apenas um paciente (1,2%) foi diagnosticado com carcinoma

hepatocelular.

Conclusão. Este estudo contribuiu com dados importantes sobre DHGNA no Ceará.

Em nosso serviço, a DHGNA foi mais frequente em mulheres obesas de meia-idade.

Dislipidemia destacou-se como a condição metabólica mais associada aos portadores

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de DHGNA. Fosfatase alcalina foi a enzima hepática mais alterada entre os

participantes da pesquisa. A fibrose hepática foi significativamente diagnosticada,

indicando o caráter progressivo da doença. As características da nossa população,

predominantemente obesa e rica em comorbidades metabólicas, podem contribuir

para esses resultados. Estudos prospectivos e com maior número de pacientes devem

ser realizados para ratificar os resultados aqui encontrados.

Palavras-Chave: Doença hepática gordurosa não alcoólica; Esteato-hepatite não

alcoólica; Cirrose hepática; Síndrome metabólica

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LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

TABELAS

Tabela 1: Condições que podem levar à esteatose hepática ----------------------------- 20

Tabela 2: Critérios diagnósticos de síndrome metabólica --------------------------------- 22

Tabela 3: Vantagens e desvantagens dos métodos de imagem na avaliação da

DHGNA ------------------------------------------------------------------------------------------------- 26

Tabela 4. Escala de Metavir ----------------------------------------------------------------------- 29

Tabela 5. Probabilidade de melhora da DHGNA com a perda de peso ---------------- 38

Tabela 6: Principais opções de tratamento para DHGNA --------------------------------- 41

Tabela 7: Resumo das alterações laboratoriais apresentadas pelos pacientes ----- 63

Tabela 8: Correlação e Teste de Independência em relação a Fibrose --------------- 68

GRÁFICOS

Gráfico 1: Distribuição dos participantes de acordo com o gênero ---------------------- 57

Gráfico 2: Distribuição dos participantes de acordo com a faixa etária ---------------- 57

Gráfico 3: Distribuição da população de acordo com o estado nutricional ------------ 59

Gráfico 4: Circunferência abdominal nos pacientes com DHGNA ----------------------- 60

Gráfico 5: Comorbidades mais associadas à DHGNA ------------------------------------- 62

Gráfico 6: Classificação da dislipidemia nos pacientes com DHGNA ------------------ 65

Gráfico 7: Avaliação do grau de fibrose de acordo com a elastografia hepática

transitória ----------------------------------------------------------------------------------------------- 69

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AASLD – Associação Americana para Estudo de Doenças do Fígado

ALT – Alanina aminotransferase

AST – Aspartato aminotransferase

CCR – Receptores de quimiocina CC

CHC – Carcinoma hepatocelular

cm – Centímetro

DHGNA – Doença hepática gordurosa não alcoólica

DM – Diabetes mellitus

dL – Decilitro

DPP – Dipeptidil peptidase

EASL – Associação Europeia para Estudo do Fígado

FDI – Federação Internacional de Diabetes

g – gramas

GT – -glutamil-transferase

GLP – Peptídeo semelhante ao glucagon

HAS – Hipertensão arterial sistêmica

HCV – Vírus da hepatite C

HDL – Lipoproteína de alta densidade

HELLP – Hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetopenia

HGF – Hospital Geral de Fortaleza

IMC – Índice de massa corpórea

Kcal – Quilocalorias

10

Kg – Quilograma

LDL – Lipoproteína de baixa densidade

mg – Miligramas

mL – mililitros

mmHg – milímetros de mercúrio

NAC – N-acetil-cisteína

NAFL – Fígado gorduroso não alcoólico

NASH – Esteato-hepatite não alcoólica

OCA – Ácido Obeticólico

PPAR – Receptor ativado por proliferador de peroxissoma

TNF – Fator de necrose tumoral

UDCA – Ácido Ursodesoxicólico

UI – Unidades internacionais

US – Ultrassonografia abdominal

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SUMÁRIO

1. Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------- 12

2. Objetivos --------------------------------------------------------------------------------------------- 14

3. Metodologia ----------------------------------------------------------------------------------------- 15

4. Revisão de literatura ------------------------------------------------------------------------------ 18

4.1. Definição de DHGNA ---------------------------------------------------------------------- 18

4.2. Epidemiologia -------------------------------------------------------------------------------- 18

4.3. Classificação --------------------------------------------------------------------------------- 20

4.4. Fatores de risco ----------------------------------------------------------------------------- 21

4.5. Quadro clínico e diagnóstico ------------------------------------------------------------- 24

4.6. História natural e prognóstico ------------------------------------------------------------ 31

4.7. Tratamento ----------------------------------------------------------------------------------- 36

4.7.1. Tratamento não farmacológico ------------------------------------------------- 37

4.7.2. Tratamento farmacológico ------------------------------------------------------- 41

4.7.3. Tratamento cirúrgico --------------------------------------------------------------- 49

4.7.4. Perspectivas futuras --------------------------------------------------------------- 53

5. Resultados e discussão -------------------------------------------------------------------------- 56

5.1. Características demográficas ----------------------------------------------------------- 56

5.2. Características antropométricas e estado nutricional ----------------------------- 58

5.3. Comorbidades ------------------------------------------------------------------------------ 61

5.4. Alterações laboratoriais ------------------------------------------------------------------ 63

5.5. Grau de fibrose à elastografia hepática transitória --------------------------------- 69

5.6. Limitações ao estudo ---------------------------------------------------------------------- 70

6. Conclusão ------------------------------------------------------------------------------------------- 72

7. Referências ----------------------------------------------------------------------------------------- 74

8. Apêndices ------------------------------------------------------------------------------------------- 84

9. Anexos ----------------------------------------------------------------------------------------------- 86

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1. INTRODUÇÃO

A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é caracterizada pelo

acúmulo excessivo de tecido gorduroso no fígado, sendo definida pela presença de

esteatose em mais de 5% dos hepatócitos através de análise histológica, de acordo

com a Sociedade Europeia para Estudos do Fígado – EASL (2016). Associa-se,

primariamente, à resistência insulínica, devendo-se, para um diagnóstico preciso,

excluir o uso expressivo de álcool e as causas secundárias de esteatose hepática.

Segundo a Associação Americana para Estudo de Doenças do Fígado -

AASLD (2018), a incidência de DHGNA é crescente em todo mundo, principalmente

na região asiática. Em países ocidentais, a taxa de incidência é estimada em cerca de

28 casos a cada 1000 pessoas por ano. Calcula-se que a prevalência global de

DHGNA diagnosticada por ultrassonografia (US) seja de aproximadamente 25% e a

observada em biópsia hepática de 59%. Em obesos, o percentual de fígado gorduroso

pode chegar a 95%. No Brasil, a prevalência de esteatose hepática é, em média, 20%.

No Nordeste, estudos de Cruz et al. (2016) demonstraram que 29% dos indivíduos

submetidos à US apresentavam esteatose.

O espectro de gravidade da DHGNA engloba uma variedade de condições

distintas, podendo se apresentar desde uma simples esteatose sem sinais clínicos ou

repercussões laboratoriais até intensa inflamação do parênquima hepático, com o

desenvolvimento de cirrose e câncer de células hepáticas, conforme afirma o estudo

de Cotrim (2009).

A grande importância da DHGNA é seu potencial de evolução para formas

graves como cirrose hepática e carcinoma hepatocelular (CHC), gerando elevados

índices de morbimortalidade entre os portadores dessas condições.

Aproximadamente 20% dos pacientes com diagnóstico de DHGNA apresentam

inflamação do tecido hepático (esteato-hepatite). Desses, vinte a 45% podem evoluir

para cirrose hepática, principal fator de risco para o surgimento de CHC. Uma revisão

sistemática de 61 estudos estimou a incidência de 12,8% de CHC, ao longo de 3 anos,

em pacientes com cirrose por DHGNA, de acordo com Streba et al. (2015).

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A esteato-hepatite não alcoólica (NASH) é atualmente a causa mais comum

de doença hepática crônica no mundo, com previsão de se tornar a principal indicação

de transplante hepático a partir de 2020. Pacientes com NASH tem risco aumentado

para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares em comparação com a

população geral e com indivíduos que apresentam apenas esteatose simples,

proporcionando, assim, maiores taxas de mortalidade para esse grupo populacional.

Vários medicamentos têm sido propostos nos últimos anos para o

tratamento de DHGNA. Entretanto, ainda não há terapia considerada efetiva no

combate à evolução cirrotizante da doença. A principal linha de tratamento consiste

no controle dos fatores de risco, como diabetes mellitus (DM) e obesidade, com a

adoção de dietas especiais e atividade física regular.

Várias evidências mostram a importância clínica e epidemiológica da

DHGNA na atualidade. Conhecer as características dos portadores dessa condição e

os mecanismos relacionados à gênese da doença é fundamental para o diagnóstico

precoce, para o controle dos fatores de risco, para guiar estratégias de tratamento e

para reduzir a probabilidade de evolução para formas graves e letais da enfermidade.

No Serviço de Gastroenterologia do Hospital Geral de Fortaleza, é atendida,

mensalmente, uma quantidade significativa de pacientes com DHGNA, dada a

elevada prevalência da doença em nosso meio. Entretanto, ainda não há registros de

trabalhos que objetivem estudar essa população. A escassez de informações acerca

desse grupo populacional e a gravidade do impacto da DHGNA em termos de saúde

pública justificam, portanto, a realização deste trabalho científico.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Descrever os aspectos clínico-epidemiológicos dos portadores de DHGNA

atendidos nos ambulatórios de gastroenterologia geral/hepatologia do Hospital Geral

de Fortaleza.

2.2. Objetivos Específicos

1 - Traçar o perfil epidemiológico dos pacientes.

2 - Determinar os fatores de risco mais relacionados.

3 - Definir o grau de fibrose hepática mais frequente.

4 - Verificar a relação entre fibrose hepática e enzimas hepáticas.

5 - Identificar as principais alterações laboratoriais apresentadas.

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3. METODOLOGIA

O presente trabalho consiste em um estudo observacional, transversal e

descritivo sobre o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com DHGNA. As

informações foram obtidas pelo próprio pesquisador a partir de entrevistas e consultas

registradas no prontuário médico de pacientes assistidos nos ambulatórios de

gastroenterologia geral/hepatologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) no período

de julho a dezembro de 2018. Assim, o HGF se configurou como o local de realização

da pesquisa.

Foram incluídos na pesquisa pacientes maiores de 18 anos que

apresentaram o diagnóstico de qualquer espectro de DHGNA primária (esteatose

simples, NASH, cirrose e CHC) atendidos no período de 01/07/2018 a 31/12/2018.

Para estabelecer o diagnóstico de DHGNA, foi utilizada a definição da AASLD (2018)

em sua última diretriz sobre o assunto, cujos critérios são expressos a seguir: (1)

presença de infiltração gordurosa no fígado observada por exame de imagem ou

através de histologia; (2) ausência de consumo marcante de álcool (mais que 21

drinques ou 294 g por semana para homens e 14 drinques ou 196 g para mulheres);

(3) inexistência de causas secundárias que induzam à esteatose hepática; (4)

ausência de outra condição que leve à doença hepática crônica.

O exame de imagem escolhido para demonstrar a infiltração gordurosa

hepática foi a US realizada nos últimos dois anos, em decorrência de sua boa

sensibilidade, sua ampla disponibilidade e de seu baixo custo. Para avaliar o consumo

de bebidas alcoólicas, os pacientes foram questionados ativamente durante as

consultas sobre a ingestão de álcool, sendo excluídos aqueles que referiram um

histórico de consumo de álcool maior que 21 drinques ou 294 g por semana para

homens e 14 drinques ou 196 g para mulheres.

Também ficaram de fora do estudo os pacientes portadores de DHGNA que

apresentaram outra doença hepática concomitante (hepatites virais, hepatite

autoimune, hepatite medicamentosa, hemocromatose, doença de Wilson,

esquistossomose, nódulos hepáticos benignos e malignos, colangite biliar primária e

16

secundária, colangite esclerosante primária, deficiência de -1-anti-tripsina, entre

outras).

Da mesma forma, pacientes com possibilidade de esteatose hepática

secundária foram excluídos do estudo. De acordo com a AASLD (2018),

consideraram-se, como principais causas de esteatose secundária, as seguintes

condições: nutrição parenteral recente, abetalipoproteinemia, síndrome HELLP,

esteatose aguda da gravidez, síndrome de Reye, erros inatos do metabolismo e uso

de medicações (corticoides, tamoxifeno, ácido valpróico, anti-retrovirais, amiodarona,

metotrexate, bloqueadores de canal de cálcio, entre outros).

O grau de fibrose hepática foi estimado através de elastografia hepática

transitória (Fibroscan®), realizada em clínica externa ao Hospital Geral de Fortaleza,

sempre pelo mesmo profissional hepatologista.

Foram considerados cirróticos pacientes diagnosticados com grau de

fibrose F4 à elastografia ou com sinais clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos

compatíveis com insuficiência hepática crônica (icterícia, ascite, aranhas vasculares,

eritema palmar, ginecomastia, sinais de hipertensão portal, hipoalbuminemia, tempo

de protrombina alargado, plaquetopenia, hiperbilirrubinemia, sinais de hepatopatia

crônica ao exame ecográfico).

Avaliou-se a presença de comorbidades nos pacientes selecionados para a

pesquisa, conforme a descrição a seguir. Consideraram-se hipertensos pacientes em

uso de medicação anti-hipertensiva. Já aqueles em tratamento com hipoglicemiantes

orais e/ou com exames laboratoriais compatíveis com diabetes (glicemia de jejum >

126 mg/dL e/ou hemoglobina glicosilada > 6%) foram considerados diabéticos. A

dislipidemia foi caracterizada em pacientes em uso de estatinas e/ou com alterações

laboratoriais compatíveis (hipertrigliceridemia > 150 mg/dL, LDL-colesterol > 130

mg/dL e HDL-colesterol < 40 mg/dL). Para o diagnóstico de hipotireoidismo, foram

considerados pacientes em uso de levotiroxina ou com aumento de hormônio

tireóideo-estimulante > 4 UI/mL.

Para acidente vascular encefálico, doença arterial coronariana, doença

renal crônica, osteoporose e outras comorbidades foram levados em consideração

informações do prontuário médico e da anamnese durante a consulta.

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As variáveis estudadas consistiram em idade, sexo, peso, estatura, índice

de massa corporal (IMC), circunferência abdominal (não foi considerada em pacientes

cirróticos, devido à possibilidade de a ascite superestimar o resultado), estágio da

DHGNA e a presença de comorbidades.

Além disso, exames laboratoriais também foram analisados, conforme

mostra o protocolo desenvolvido para esta pesquisa (Apêndice A). Os valores de

referência usados como base para a normalidade equivaleram aos adotados pelo

laboratório de análises clínicas do HGF (Anexo A).

Os dados foram analisados em bloco, pelo programa de software SPSS

versão 22.0, usando coeficiente de correlação de Pearson para variáveis contínuas e

teste do Qui-quadrado e coeficiente de correlação de Spearman para variáveis

categóricas.

Para embasamento científico do trabalho, foram pesquisados os termos

“non-alcoholic fatty liver disease”, “liver cirrhosis”, “hepatocellular carcinoma”,

“hepatopatia gordurosa não alcoólica”, “carcinoma hepatocelular” e “cirrose hepática”

nas bases de dados Pubmed e Scielo, sendo selecionadas as produções mais

relevantes dos 10 anos anteriores, com priorização das publicações dos últimos cinco

anos. As diretrizes sobre DHGNA de duas grandes e respeitadas associações para

estudo de doenças do fígado, AASLD (2018) e EASL (2016), e o Consenso Brasileiro

de DHGNA da Sociedade Brasileira de Hepatologia (2016) foram utilizados para

nortear os principais tópicos desse trabalho.

O autor declara a inexistência de conflitos de interesse na realização deste

projeto científico que possam influenciar o desenvolvimento e o resultado do trabalho.

A pesquisa iniciou-se apenas após a aprovação do comitê de ética do HGF, cuja folha

de aprovação encontra-se em anexo (Anexo C).

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4. REVISÃO DE LITERATURA

4.1 . Definição de DHGNA

De acordo com a AASLD (2018), a doença hepática gordurosa não alcoólica

(DHGNA) é definida pela presença de infiltração gordurosa (esteatose hepática) no

fígado, confirmada por exame de imagem ou histopatologia, após a exclusão de

causas secundárias de acúmulo de gordura, como consumo abusivo de álcool,

medicações esteatogênicas ou distúrbios hereditários.

A EASL (2016) caracteriza a existência de DHGNA pela presença de

esteatose em mais de 5% dos hepatócitos, de acordo com avaliação histológica, ou

por uma fração de gordura maior que 5.6% quando a análise é realizada por

ressonância nuclear magnética. O diagnóstico de DHGNA requer a exclusão de

causas secundárias e de consumo diário de álcool superior a 30 g para homens e 20

g para mulheres.

A DHGNA pode estar associada a alterações necro-inflamatórias do

parênquima hepático e fibrose, ocasionado uma situação denominada de NASH (non-

alcoholic steatohepatitis) que pode evoluir para cirrose e, mais raramente, para CHC.

A doença ocorre em pessoas sem histórico de consumo abusivo de álcool e que não

apresentam outras hepatopatias que expliquem a esteatose. A maioria dos casos está

relacionada com a síndrome metabólica, conforme indica o Consenso Brasileiro sobre

DHGNA da Sociedade Brasileira de Hepatologia (2016).

4.2 . Epidemiologia

A DHGNA é o distúrbio hepático mais comum nos países industrializados

ocidentais e deve ser, em pouco tempo, a principal causa de transplante hepático no

mundo. Bellentani (2017) estima que a prevalência média global é de 20%, variando

de 6 a 35% ao redor do mundo.

19

Em uma recente revisão sobre o tema, Younossi et al. (2017) apresentaram

uma prevalência global de DHGNA estimada em 24% e, na América do Sul, de

aproximadamente 35%. Acredita-se que estes números ainda possam ser maiores em

virtude de uma boa parte da população ainda não ter acesso aos serviços de saúde e

da crescente epidemia de obesidade principalmente nos países ocidentais.

Conforme elencaram Perumpail et al. (2017), vários trabalhos mostraram

diferentes prevalências de acordo com a população estudada e o método empregado

para o diagnóstico. Nos Estados Unidos, a DHGNA já é considerada a causa mais

comum de doença hepática crônica, afetando entre 80 e 100 milhões de indivíduos,

dos quais cerca de 25% evoluem para esteato-fibrose. Na Índia, a prevalência

estimada por US foi de 17%. Oriente Médio e América do Sul têm as maiores

prevalências de DHGNA, estimadas em 31% e 32%, respectivamente. A menor

prevalência encontra-se na África, calculada em aproximadamente 13,5%.

Dados sobre incidência de DHGNA são escassos. Calcula-se que 20 a 86

indivíduos por ano a cada grupo de 1000 pessoas serão acometidos pela doença, com

base na elevação de enzimas hepáticas e/ou análise por US, conforme indicaram

Marchesini e Mazzotti (2015). Observa-se que acomete mais frequentemente

pacientes do sexo masculino e acima de 50 anos, segundo Bernalreyes et al. (2019).

No Brasil, as informações epidemiológicas sobre DHGNA são insuficientes.

Muitos estudos procuraram avaliar a presença de DHGNA por métodos não invasivos,

como a US. Reis Júnior (2016) afirma que a prevalência de DHGNA varia de 18,1% a

41,5%, de acordo com a região do país analisada e o IMC da população estudada.

Na Bahia, estudos de Matteoni et al. (2011) demostraram a prevalência de

18% de esteatose hepática em pacientes que realizaram US. Desses, pouco mais de

50% eram homens.

Em Aracaju, estado de Sergipe, Cruz et al. (2016) avaliaram pacientes

submetidos à US e encontraram uma prevalência de DHGNA na população estudada

de 29,1%, sendo maior no gênero masculino, com a mediana de idade, entre

portadores de esteatose, de 46 anos.

Durante a revisão de literatura, não foram encontrados dados

epidemiológicos sobre DHGNA referentes ao estado do Ceará.

20

4.3 . Classificação

Com relação à etiologia, a EASL (2016) classifica a DGHNA em primária ou

secundária. A doença primária se associa a fatores de risco metabólicos e

componentes da síndrome metabólica. A DHGNA secundária, entretanto, ocorre na

vigência de outras condições (hepatopatias ou não) que podem levar ao

desenvolvimento de esteatose hepática. Vale lembrar que as duas formas de DHGNA

podem coexistir em um mesmo paciente, sendo, por vezes, difícil diferenciar qual

componente predomina nesses casos.

Condições que podem levar à DHGNA secundária, de acordo com a EASL

(2016):

Tabela 1: condições que podem levar à esteatose hepática segundo EASL, 2016.

Quanto aos aspectos histológicos, a DHGNA pode ser classificada em

fígado gorduroso não alcoólico (NAFL) e NASH, de acordo com a AASLD (2018).

A AASLD (2017) define NAFL pela presença de mais de 5% de esteatose

hepática sem evidência de lesão hepatocelular na forma de balonização dos

hepatócitos ou de fibrose. Nesses casos, o risco de progressão para cirrose e falência

Condições que podem levar à esteatose hepática

Doença hepática induzida por fármacos

Hepatite C (genótipo 3)

Hemocromatose

Hepatite autoimune

Doença celíaca

Doença de Wilson

Hipopituitarismo

Hipotireoidismo

Inanição

Nutrição parenteral

Alterações congênitas do metabolismo

21

hepática é mínimo. Já a NASH é caracterizada pela presença de mais de 5% de

esteatose hepática com inflamação e lesão hepatocitária (balonização), com ou sem

a existência de fibrose. A NASH é uma condição que pode evoluir para cirrose

hepática e CHC.

Apesar de seu potencial evolutivo para formas graves e letais de doença

hepática, a exata taxa de prevalência de NASH é desconhecida na população

mundial. Entretanto, alguns pesquisadores tentaram avaliar a prevalência da doença

a partir de dados epidemiológicos de algumas populações. Nesse contexto, de acordo

com Younossi et al. (2017), a prevalência de NASH em pacientes portadores de

DHGNA nos Estados Unidos é de 21%. Assim, pode-se estimar que a prevalência de

NASH na população norte-americana é de 3 a 4%. Nesses indivíduos, as

comorbidades mais associadas à NASH foram obesidade (82%), DM tipo 2 (48%),

hiperlipidemia (82%), síndrome metabólica (76%) e hipertensão arterial sistêmica

(HAS - 70%).

As taxas de mortalidade em pacientes com NASH são maiores quando

comparadas à população normal, demostrando-se a importância de se estadiar a

DHGNA de acordo com o seu comportamento histopatológico. Doença cardiovascular

é a causa mais comum de óbito, seguida por complicações da cirrose hepática e CHC,

conforme indica a Sociedade Brasileira de Hepatologia (2016).

4.4 . Fatores de risco

A DHGNA primária está relacionada à resistência aumentada à insulina e

aos componentes da síndrome metabólica. Desta forma, comorbidades como DM,

obesidade, dislipidemia e HAS são os principais fatores de risco para o

desenvolvimento de esteatose hepática.

Em adultos, a associação entre doença cardiovascular isquêmica e

obesidade está bem constituída. Essa relação, levou à criação do termo “síndrome

metabólica” para determinar aquelas pessoas que teriam mais chances de

desenvolver eventos cardiovasculares em decorrência dos componentes da

síndrome. Dentre os fatores incluídos na síndrome metabólica, estão obesidade

22

visceral, dislipidemia aterogênica, HAS e a resistência à insulina. Entretanto, outras

entidades como a NASH e a apneia obstrutiva do sono estão comumente associadas

à síndrome metabólica, conforme indica a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e

Metabologia (2017).

Vários parâmetros são utilizados para o diagnóstico de síndrome

metabólica. No Brasil, adota-se mais frequentemente os critérios da Federação

Internacional de Diabetes - FDI (2005), indicados na tabela abaixo:

Componente Referência

Triglicerídeos

> 150 mg/dL ou tratamento

de dislipidemia

HDL-colesterol

< 40 mg/dL em homens; < 50 mg/dL em mulheres

Pressão arterial

Pressão arterial sistólica >

130 mmHg ou pressão arterial diastólica > 85

mmHg ou tratamento de HAS

Glicemia

> 100 mg/dL ou DM

Circunferência abdominal

> 94 cm em homens

europídeos e > 90 em asiáticos;

> 80 cm em mulheres Tabela 2: critérios diagnósticos de síndrome metabólica, segundo a FDI.

Para o diagnóstico de síndrome metabólica, é obrigatória a presença de

obesidade central, medida através da circunferência abdominal, e mais dois dos

outros quatro critérios.

Em uma recente publicação sobre DHGNA e síndrome metabólica, Kim,

Touros e Kim (2018) descreveram a íntima relação entre as duas condições e

mencionaram um estudo no qual a prevalência de síndrome metabólica em pacientes

23

com DHGNA cresceu de acordo com o aumento do IMC da população analisada,

passando de 18% em pacientes com peso normal para 67% em obesos com DHGNA.

Os autores também alertaram que a presença de síndrome metabólica foi associada

ao desenvolvimento mais frequente de NASH e fibrose grave. Atualmente, a NASH é

considerada a manifestação hepática da síndrome metabólica, de acordo com

Nalbantoglu e Brunt (2014).

O aumento do número de pessoas obesas nas últimas décadas vem

alertando para o crescimento de DHGNA na população geral. Por outro lado, apesar

de a obesidade ser o fator mais importante para o desenvolvimento de DHGNA,

algumas pessoas com IMC normal podem desenvolver esteatose hepática. Encontra-

se, na literatura, a prevalência estimada de esteatose em 6% da população com peso

normal, conforme indicaram Leon et al (2014).

A AASLD (2018) considera a obesidade (IMC excessivo e obesidade

visceral) como o fator de risco mais associado à DHGNA, cuja relação é a mais bem

documentada na literatura. De fato, todo espectro de obesidade, desde sobrepeso

até obesidade mórbida, pode estar associado com esteatose hepática. Singh, Osna e

Kharbanda (2017) citam que a proporção de pacientes obesos com DHGNA pode

variar de 75 a 92% a depender da população estudada.

O DM, especialmente o tipo 2, é outro fator fortemente relacionado ao

desenvolvimento de DHGNA. A prevalência de DHGNA em diabéticos pode chegar a

75%. Além disso, pacientes diabéticos portadores de DHGNA podem desenvolver

NASH em torno de 63 a 87%. Fibrose avançada é frequente nesses indivíduos,

acometendo 34 a 60% dos pacientes com DHGNA e DM. Por último, DM pode

aumentar em até 3 vezes o risco de desenvolvimento de CHC em indivíduos com

esteatose. Diante dessas evidências, Corey et al. (2016) publicaram sobre a

imperativa necessidade de rastreio de NASH em pacientes diabéticos.

Dislipidemia, caracterizada pela diminuição do HDL-colesterol e/ou

aumento dos triglicerídeos, é outro componente da síndrome metabólica

frequentemente encontrado em pacientes com DHGNA. A AASLD (2018) destaca

que a prevalência de DHGNA em pacientes dislipidêmicos seja estimada em

aproximadamente 50%. Katsiki, Mikhailidis e Mantzoros (2016) organizaram uma

atualização sobre dislipidemia e DHGNA e consideraram que a dislipidemia

24

aterogênica que ocorre em DHGNA pode ser responsável pelo aumento de doenças

cardiovasculares em pacientes com esteatose hepática. Além disso, indivíduos com

NASH podem ter concentrações mais elevadas de LDL-colesterol e lipemia pós-

prandial, contribuindo para o maior risco cardiovascular se comparados a indivíduos

com esteatose simples.

A HAS, isolada ou como componente da síndrome metabólica, também é

encontrada em pacientes com DHGNA. Lonardo et al. (2018), ao estudarem a relação

entre DHGNA e HAS, demonstraram uma forte associação entre as duas condições e

destacaram que até 50% dos pacientes hipertensos podem ter DHGNA.

Excluindo-se os clássicos componentes relacionados à síndrome

metabólica, a AASLD (2018) também destaca o sexo masculino como fator de risco

para DHGNA, sendo a prevalência de esteatose hepática duas vezes maior em

homens. Com relação a aspectos étnicos, indivíduos hispânicos tem uma prevalência

maior de DHGNA quando comparados a negros não hispânicos.

Por último, a AASLD (2018) cita condições emergentes que podem ser

consideradas fatores de risco para desenvolvimento de DHGNA, como apneia

obstrutiva do sono, psoríase, hipotireoidismo, hipogonadismo, hipopituitarismo e

ressecção pancreático-duodenal.

4.5 . Quadro clínico e diagnóstico

De acordo com as diretrizes da Associação Americana de Gastroenterologia

(2012), a DHGNA primária é diagnosticada quando os quatro critérios a seguir estão

presentes: (1) presença de infiltração gordurosa no fígado observada por exame de

imagem ou através de histologia; (2) ausência de consumo marcante de álcool (>21

drinques por semana para homens e 14 drinques para mulheres); (3) inexistência de

causas secundárias que levem à esteatose hepática; (4) ausência de outra condição

que cause doença hepática crônica.

Clinicamente, a maioria dos pacientes com DHGNA é assintomática. Em

geral, a doença é descoberta acidentalmente durante a realização de exames

25

laboratoriais e/ou US de rotina. A anamnese é importante para investigar o consumo

etílico, uso de medicamentos e a presença de comorbidades. Dentre as principais

queixas que o paciente com DHGNA pode apresentar, destacam-se a fadiga,

desconforto no quadrante superior direito e sintomas relacionados à descompensação

de comorbidades, como o DM.

Com relação ao exame físico, Zaterka e Eisig (2016) mencionam que a

alteração mais encontrada é o sobrepeso, variando de 56 a 79%, seguido de pressão

arterial elevada e adiposidade visceral. De acordo com os autores, a hepatomegalia

pode estar presente em até 75% dos pacientes. A presença de icterícia, aranhas

vasculares, ginecomastia, eritema palmar, esplenomegalia e edema de membros

inferiores indica uma doença mais grave e possivelmente a existência de insuficiência

hepática crônica.

A EASL (2016) recomenda uma avaliação laboratorial abrangente nos

pacientes com suspeita de DHGNA. São indicados os seguintes exames laboratoriais:

hemograma, enzima hepáticas (AST, ALT e GT), sorologias para hepatites B e C,

ferritina, saturação de transferrina, testes para doença de Wilson, hepatopatia auto-

imune, dosagem de -1-antitripsina, rastreio para doença celíaca, função tireoidea,

glicemia de jejum, hemoglobina glicosilada, teste oral de tolerância à glicose, insulina,

perfil lipídico e ácido úrico. Para completar a avaliação, deve-se realizar US.

Sobre os achados laboratoriais em pacientes com DHGNA, Zaterka e Eisig

(2016) expõem que elevações leves a moderadas de ALT e AST (até quatro vezes o

limite superior da normalidade) são a alteração laboratorial mais frequentemente

encontrada. A DHGNA é considerada a causa mais comum de aumento persistente e

inexplicado de ALT. Até 50% dos pacientes podem apresentar elevação de GT e

cerca de um terço, de fosfatase alcalina. Os autores alertam para o desenvolvimento

de cirrose quando há a presença de hiperbilirrubinemia, hipoalbuminemia e tempo de

protrombina alargado. Outras alterações que podem ser encontradas são o perfil

lipídico e glicêmico descompensados.

Embora nenhum método de imagem tradicional seja capaz de diferenciar

esteatose simples de NASH ou indicar graus iniciais de fibrose hepática, US,

tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética podem ser utilizadas

no diagnóstico de DHGNA. Em uma revisão sobre avaliação radiológica em DHGNA,

26

Lee (2014) destaca (tabela 3) as principais vantagens e desvantagens dos exames de

imagem usados na avaliação da esteatose hepática.

Método Vantagem Desvantagem Aplicação clínica

Ultrassonografia Amplamente

disponível, fácil de realizar, baixo custo

Operador dependente,

precisão limitada no diagnóstico de

esteatose leve

Triagem

populacional. Exame inicial para

pacientes com suspeita de DHGNA

Tomografia computadorizada

Amplamente disponível, fácil de

realizar, baixo custo

Uso de radiação ionizante. Precisão

limitada no diagnóstico de esteatose leve

Detecção de

esteatose hepática moderada a grave em candidatos a doadores para

transplante hepático

Ressonância magnética

Altamente preciso e reprodutível para

mensurar a gordura hepática

Alto custo. Longo tempo de exame

Acompanhamento da resposta após a

terapia na prática ou ensaios clínicos

Ressonância magnética com espectroscopia

Altamente preciso e reprodutível para

mensurar a gordura hepática

Alto custo, longo tempo de exame,

avaliação de pequena porção do

fígado, necessidade de

profissional experiente para

aquisição e análise das imagens

Acompanhamento da resposta após a

terapia na prática ou ensaios clínicos

Tabela 3: vantagens e desvantagens dos métodos de imagem na avaliação da DHGNA (Lee, 2014).

A US é, sem dúvida, o exame de imagem mais utilizado em DHGNA. É uma

ferramenta não invasiva, amplamente disponível e precisa na detecção de DHGNA.

A ecografia deve ser usada como teste diagnóstico de primeira linha em pacientes

com enzimas hepáticas anormais, quando outras causas de doença hepática são

excluídas. É um método sensível e confiável que pode reduzir a necessidade de

biópsia hepática em um ambiente clínico reconhecidamente apropriado.

27

Os fatores de risco clínicos, quando utilizados com achados

ultrassonográficos, apresentam alta acurácia na identificação de pacientes com

DHGNA. Com base nesses elementos, Khov (2014) propôs um algoritmo diagnóstico

(figura 1) para pacientes com suspeita de DHGNA, que considera a importância

relativa entre os achados ultrassonográficos característicos e os fatores de risco

clínicos, com o objetivo de diagnóstico de DHGNA, evitando a realização de biópsia

hepática.

Para usar o algoritmo, hepatites virais, doença hepática autoimune, doença

hepática alcoólica e condições genéticas devem ser excluídas. Os fatores de risco

incluem qualquer uma das condições: DM, IMC maior que 30, hepatomegalia e

hiperlipidemia. As alterações ecográficas abrangem as seguintes características:

rápida atenuação da imagem a 4-5 cm de profundidade; ecogenicidade difusa,

principalmente mais intensa nos primeiros 2-3 cm de profundidade; fígado

uniformemente heterogêneo; tecido subcutâneo espesso (> 2 cm); o fígado

preenchendo todo o campo sem bordas visíveis.

Ainda de acordo com Khov (2014), o nível normal de alanina ALT sozinho

não foi suficiente para excluir esteatose hepática significativa. No entanto, a razão

entre aminotransferases (AST / ALT) maior que 1 tem sido associada à fibrose

avançada na biópsia hepática. O reconhecimento de fatores clínicos apropriados em

conjunto com os achados ultrassonográficos característicos pode levar a um

diagnóstico acurado da DHGNA sem o uso de testes invasivos, além de identificar os

indivíduos que devem passar por uma biópsia hepática.

28

Figura 1. Algoritmo de diagnóstico para a suspeita de DHGNA. Adaptado de KHOV (2014).

A DHGNA engloba um espectro de achados histológicos, incluindo

esteatose simples não complicada, esteatose com lesão hepatocitária e inflamação

com ou sem fibrose (NASH) e cirrose hepática. Segundo a EASL (2016), a biópsia

hepática é único procedimento capaz de diferenciar adequadamente a esteatose

simples da NASH e seus graus variados de fibrose.

De acordo com Nalbantoglu e Brunt (2014), as indicações gerais para

realização de biópsia hepática em pacientes com DHGNA são reservadas para os

casos em que há dúvida diagnóstica, para excluir outras doenças do fígado que

possam existir simultaneamente com DGHNA e para realizar o estadiamento da lesão

29

hepática para fins de tratamento e prognóstico. A última indicação inclui a atividade

necro-inflamatória, potencialmente reversível, e a intensidade da fibrose com seus

graus variados de remodelação, teoricamente menos reversível.

Petitclerc et al. (2016) mostram em sua publicação que vários sistemas de

estadiamento de fibrose hepática foram propostos de acordo com a doença

subjacente. A escala de pontuação de Metavir, considerada principalmente em casos

de Hepatite B e C, é indiscutivelmente a mais usada na atualidade. O sistema de

Metavir classifica a fibrose hepática em uma escala de 0 a 4 através da avaliação

visual da quantidade e da distribuição de tecido fibroso no corte histopatológico,

conforme mostra a tabela 4.

Metavir Descrição

F 0

Ausência de fibrose hepática

F 1

Fibrose leve. Presença de fibrose

portal, sem septos

F 2

Fibrose significativa. Presença de fibrose portal com alguns septos

F 3

Fibrose severa. Presença de fibrose

portal com numerosos septos

F 4

Cirrose hepática, com fibrose difusa

e distorção arquitetural

Tabela 4. Escala de Metavir. Adaptada de Bedossa e Pounard (1996).

A biópsia hepática é capaz de diferenciar NAFL de NASH e ainda

diagnosticar com elevada acurácia a existência de cirrose. Entretanto, não é

recomendada rotineiramente devido ao risco de complicações graves. De acordo com

Tapper e Lok (2017), as principais limitações são o risco de eventos adversos (dor

intensa, lesão de outros órgãos, sangramento grave e óbito), custo alto e erro de

amostragem já que a DHGNA pode não acometer o fígado homogeneamente e o

fragmento coletado ser insatisfatório. Em consequência disso, vários métodos não

30

invasivos foram desenvolvidos para estimar o grau de fibrose hepática, entre os quais,

destaca-se a elastografia.

De acordo com Lee (2014), a elastografia por US ou por ressonância

magnética está emergindo como um método promissor em diagnosticar fibrose

hepática e, por consequência, NASH. A elastografia avalia a rigidez hepática através

da medição da velocidade da onda de cisalhamento gerada por US ou ressonância

magnética ao passar pelo fígado. Várias técnicas de elastografia por US foram

desenvolvidas, de acordo com o método de cisalhamento e com a geração e a

captação de ondas ultrassônicas. Inicialmente, a elastografia foi aplicada para a

avaliação de fibrose e pacientes com hepatite viral crônica. Porém, nos últimos anos,

o seu uso vem sendo expandido para outras doenças do fígado, incluindo DHGNA.

Dentre os diversos métodos de elastografia por US, sobressai-se a

elastografia hepática transitória, conhecida comercialmente como FibroScan®. Nesse

exame, a velocidade de propagação da onda ultrassônica está diretamente

relacionada à rigidez hepática, de acordo com a lei de Hook (velocidade das ondas de

cisalhamento que viajam através de um objeto elástico é proporcional à rigidez do

objeto). Deste modo, quanto mais duro for o meio, mais rápido a onda se propagará.

Na prática clínica, conforme amenta o grau de fibrose no fígado, mais rapidamente a

onda se deslocará através do parênquima hepático.

Tsai e Lee (2018) afirmam que, em comparação coma biópsia hepática, a

elastografia hepática transitória apresenta várias vantagens: método não invasivo,

indolor, seguro e sem risco de complicações, reprodutível, rápido e pode ser aplicado

como ferramenta de triagem e para monitorar a progressão da doença hepática.

Os autores também destacam as limitações do método que podem

prejudicar a avaliação da fibrose hepática. Pacientes obesos com circunferência

abdominal aumentada (IMC > 30 Kg/m²), presença de ascite volumosa, espaços

intercostais estreitos e inexperiência do examinador foram os determinantes mais

importantes para o surgimento de resultados não confiáveis. Além disso, algumas

situações podem superestimar o grau de fibrose hepática como hepatite ativa ou

inflamação aguda (ALT maior que cinco vezes o limite superior da normalidade),

colestase e insuficiência cardíaca congestiva.

31

Hashemi, Alavian e Gholami-Fesharaki (2016) desenvolveram uma revisão

sistemática e metanálise sobre a realização de elastografia hepática transitória

(FibroScan®) para o diagnóstico de fibrose na DHGNA, constituindo um total de sete

publicações e 698 pacientes submetidos ao exame. Os resultados do estudo

indicaram que quanto maior o grau de fibrose hepática melhores serão a

especificidade, a sensibilidade e o valor preditivo negativo da elastografia no

diagnóstico de fibrose em pacientes com DHGNA. Os autores concluíram que em

pacientes com fibrose avançada, a elastografia terá resultados mais reais, próximos à

biópsia hepática. O estudo também forneceu evidências de que o uso da elastografia

transitória na detecção de fibrose nos casos de DHGNA tem alta precisão e pode ser

uma boa alternativa à biópsia hepática em pacientes que não querem ou não devem

se submeter a procedimentos invasivos.

Em resumo, o diagnóstico de DHGNA requer uma ampla avaliação do

paciente e de seus fatores de risco, incluindo todos os componentes da síndrome

metabólica e o risco cardiovascular. O uso de exames de imagem, como a US, é

importante para a avaliação global do parênquima hepático, para estimar a

intensidade da infiltração gordurosa e para auxiliar no diagnóstico de outras causas

de hepatopatia crônica. A determinação do grau de fibrose hepática, seja por meio

não invasivo, como a elastografia hepática transitória, ou invasivo, como a biópsia

hepática, é fundamental para estabelecer o principal fator determinante da progressão

da doença e desenvolvimento de cirrose hepática.

4.6 . História natural e prognóstico

Nos últimos anos, vários estudos descreveram a história natural da DHGNA.

A AASLD (2017), fez uma compilação dos principais resultados relacionados ao

assunto e ressaltou que taxa de mortalidade na população com DHGNA é maior do

que em indivíduos sem esteatose, destacando-se a doença cardiovascular como

primeira causa de morte em pacientes com DHGNA, independentemente de outras

comorbidades metabólicas. Além disso, evidências sugerem que pacientes com

NASH, especialmente aqueles com algum grau de fibrose, apresentam risco

32

aumentado de desfechos desfavoráveis, como cirrose, câncer hepático e incremento

da mortalidade relacionada à doença hepática.

Já é bem consolidada na literatura a forte relação entre DHGNA e o aumento

do risco cardiovascular. Muitos estudos corroboram com a afirmação de que pacientes

com esteatose hepática morrem mais de doenças cardiovasculares do que a

população normal. Brea e colaboradores (2016) publicaram uma ampla revisão sobre

o assunto e concluíram que existe uma clara associação entre DHGNA, doenças

cardiovasculares, alterações estruturais e funcionais do miocárdio, encerrando um

aumento na morbi-mortalidade cardiovascular global neste grupo populacional. Na

prática clínica, o fato de a DHGNA ser reconhecidamente um gatilho amplificador do

risco cardiovascular deve alertar ao médico, frente à detecção casual de esteatose

hepática em uma US de rotina, para investigar a coexistência de fatores de risco

metabólicos subjacentes.

A DHGNA é, em boa parte dos casos, uma enfermidade lenta e progressiva

e a maioria dos pacientes acometidos dificilmente desenvolverá doença hepática

terminal. Porém, estabelecer quais indivíduos com DHGNA desenvolverão

complicações relacionadas ao fígado no futuro e quando isso ocorrerá é uma tarefa

extremamente difícil. Segundo Ekstedt, Nasr e Kechagias (2017), o maior risco de

desenvolver complicações relacionadas ao fígado é observado em pacientes idosos

diabéticos e o mais forte preditor de mortalidade relacionado à doença hepática é o

estágio de fibrose avançada.

Bellentani (2017) considera em sua revisão sobre epidemiologia da DHGNA

que, além da evidência histológica de inflamação hepática, outros fatores têm sido

associados à rápida progressão da doença ou desenvolvimento de cirrose. São eles:

idade avançada, DM, aumento das aminotransferases séricas, presença de balonismo

e sinais de fibrose na biópsia hepática, IMC > 28 Kg/m², maior índice de adiposidade

visceral avaliado pela circunferência abdominal e consumo pesado de álcool.

Comumente, costuma-se dividir a DHGNA em dois subgrupos histológicos:

NAFL e NASH. A NAFL, na maior parte dos casos, não evoluiu para formas graves

de doença hepática e não confere maiores repercussões clínico-patológicas. A NASH,

todavia, pode progredir para estágios graves de doença hepática, como fibrose

severa, cirrose descompensada e CHC. Estes et al. (2018), em um estudo sobre a

33

estimativa de progressão de DHGNA/NASH em oito países, consideraram o modelo

de evolução da doença de acordo com a figura 2.

Younossi et al. (2018) reforçam que a minoria dos pacientes com DHGNA

evoluem para cirrose, CHC ou morte relacionada ao fígado. Os autores relatam que a

maioria dos estudos de longo prazo sugerem que a esteatose simples evolui para

NASH em aproximadamente 20% dos casos. Dos pacientes com NASH, cerca de 15

a 20% podem desenvolver doença hepática progressiva e cirrose. Por outro lado,

alguns pacientes com NASH e fibrose têm a doença hepática revertida. As

circunstâncias exatas pelas quais a lesão hepática dos pacientes com NASH

consegue progredir ou regredir ainda não estão bem esclarecidas. No entanto, em

geral, o curso progressivo da NASH está intimamente ligado ao crescente número de

comorbidades metabólicas, especialmente DM tipo 2.

Os pacientes que desenvolvem cirrose e/ou CHC podem ser candidatos ao

transplante hepático. Estudos mostram que a DHGNA e suas complicações devem se

tornar a principal causa de transplante hepático no mundo ocidental a partir de meados

da década de 2020. Younossi et al. (2018) avaliaram os principais motivos de

transplante hepático nos Estados Unidos e concluíram que as causas mais comuns

(Hepatites B e C) vem gradativamente perdendo espaço para a NASH, que

34

representa, atualmente, a etiologia de 18% dos pacientes listados por CHC. De acordo

com os autores, desde 2002 a prevalência de CHC em candidatos a transplante

hepático por NASH aumentou 11,8 vezes, enquanto que essa taxa cresceu 6 vezes

para hepatite B, 3,4 para doença alcoólica e 2,3 para hepatite C.

De acordo com Mishra e Younossi (2012), os resultados do transplante

hepático em pacientes cirróticos por NASH são semelhantes àqueles com outras

hepatopatias crônicas. A sobrevida em 5 anos pós-transplante variou de 71 a 75% e

a recorrência de DHGNA no fígado transplantado também se mostrou usual,

ocorrendo em 20 a 33% dos casos. A história natural da DHGNA encontra-se

esquematizada na figura abaixo.

Figura 3. História natural da DHGNA, adaptado de Mishra e Younossi (2012).

Recentemente, Hagström et al. (2017) avaliaram o desfecho clínico em 646

pacientes com DHGNA confirmada por biópsia durante um período médio de

seguimento de 20 anos. O mais forte preditor para o desenvolvimento de futuras

complicações relacionadas ao fígado foi o estágio de fibrose no início do estudo. O

História natural da DHGNA

35

tempo médio em que até 10% dos pacientes desenvolveram doença hepática grave

foi entre 31 e 36 anos em pacientes sem fibrose ou fibrose no estágio 1, 19 anos no

estágio 2 da fibrose e 6 anos no estágio 3. O tempo médio em que até 10% dos

pacientes desenvolveram descompensação da cirrose foi de 6 anos.

Atualmente, muitos casos de cirrose sem causa definida (cirrose

criptogênica) são considerados como consequência de NASH. Ao longo dos anos,

estudos demonstraram através de biópsia hepática que pacientes portadores de

cirrose criptogênica apresentavam, na verdade, alterações hepáticas compatíveis

com NASH. Obesidade e DM tipo 2 estão presentes em até 70% dos pacientes com

cirrose criptogênica, taxas comparáveis aos pacientes com NASH. Vernon, Baranova

e Younossi (2011) apresentam esses dados em uma revisão sobre a história natural

da DHGNA e acrescentam, ainda, que outras características relacionadas à síndrome

metabólica como dislipidemia e HDL-colesterol baixo são significativamente maiores

em pacientes diagnosticados com cirrose criptogênica.

O carcinoma de células hepáticas, ou CHC, é uma complicação que pode

ser consequência da progressão da DHGNA, especialmente em pacientes com fibrose

severa e cirrose. A AASLD (2017) cita que a DHGNA é a terceira causa desse tipo de

câncer nos Estados Unidos e que, em razão da crescente epidemia de obesidade nos

países ocidentais, a incidência de CHC relacionado à DHGNA pode aumentar a uma

taxa anual de até 9%. É importante destacar, também, que a esteatose hepática

configura-se como um fator de risco independente para desenvolvimento de CHC,

mesmo na ausência de cirrose. Desse modo, vários estudos epidemiológicos têm

associado a obesidade e o DM tipo 2 ao risco de desenvolver CHC, conforme expõe

a EASL (2016).

Lindenmeyer e McCullough (2018) relatam que a incidência anual de CHC

em pacientes com esteatose hepática foi estimada em 0.44 a cada 1000 indivíduos.

Porém, se forem levados em consideração apenas pacientes com NASH, a taxa de

incidência anual salta para 5.29 a cada 1000 pessoas. Epidemiologicamente, quando

comparados a outras causas de cirrose hepática, pacientes com CHC atribuídos à

DHGNA tendem a ser mais velhos e do sexo feminino. Observa-se que pacientes com

DHGNA e CHC tiveram uma menor sobrevida após o diagnóstico, mais eventos

cardiovasculares e maior probabilidade de mortalidade relacionada ao câncer de

36

fígado do que pacientes sem DHGNA. Por fim, os autores enfatizam o surgimento de

CHC em pacientes com síndrome metabólica e DHGNA, sem cirrose. Como

consequência, nesses pacientes, o CHC é frequentemente diagnosticado em um

estádio mais avançado, encerrando pior prognóstico e aumento da mortalidade.

Há, na literatura, uma escassez de dados sobre resolução completa da

DHGNA. O maior obstáculo reside na necessidade de biópsia hepática para confirmar

o desaparecimento da esteatose após um tratamento considerado bem-sucedido. De

acordo com Mishra e Younossi (2012), os dados mais relevantes sobre esse contexto

vem da população submetida à cirurgia bariátrica. Os autores citam dois trabalhos em

que foi comprovada a melhora da DHGNA. No primeiro, de 91 pacientes biopsiados

no momento da cirurgia bariátrica, 65 apresentaram diminuição da infiltração

gordurosa em biópsia realizada no seguimento ambulatorial. No outro estudo, de 90

pacientes biopsiados no procedimento cirúrgico, 18% mantiveram o mesmo grau de

esteatose, 28% apresentaram melhora da esteatose e 54% reverteram para tecido

hepático normal no momento da segunda biópsia.

4.7 . Tratamento

O manejo da DHGNA deve consistir no tratamento da doença hepática e de

suas variantes, bem como do quadro metabólico e das comorbidades que a grande

maioria dos pacientes apresenta. O controle da obesidade, hiperlipidemia e do DM

tipo 2 deve ser o foco primordial do tratamento, tendo como base as modificações do

estilo de vida.

A fisiopatologia e o significado clínico dos vários elementos moleculares

que produzem as alterações hepáticas na DHGNA são complexas e multifatoriais.

Entretanto, Oseini e Sanyal (2017) consideram que o desequilibro metabólico indutor

do acúmulo de gordura no fígado parece decorrer de três fatores principais: (1)

ampliação da disponibilidade de gordura para o fígado a partir do intestino pelo

aumento da ingestão ou fisiologia intestinal desregulada; (2) maior influxo de ácidos

graxos livres não esterificados principalmente do tecido adiposo branco e (3) aumento

da lipogênese hepática a partir do excesso de carboidratos e/ou hiperinsulinemia

37

relacionada ao aumento da resistência à insulina no tecido adiposo. Quando esses

processos não podem ser compensados por outras vias metabólicas, há uma

deposição de triglicerídeos e ácidos graxos livres nos hepatócitos, desencadeando

uma cascata de alterações fisiopatológicas que levam ao desenvolvimento de

NAFL/NASH.

Diante da variedade de vias envolvidas na patogênese da DHGNA e sua

íntima relação com a síndrome metabólica, diversas linhas de tratamento foram

propostas para pacientes com DHGNA, tendo como alvo pontos metabólicos

específicos dos processos celulares e moleculares que levam às alterações

histopatológicas da doença. Deste modo, deve-se considerar que o manejo da

DHGNA consiste no tratamento da doença hepática, com o principal objetivo de evitar

sua progressão e o surgimento de complicações graves, como cirrose e CHC.

Como os pacientes com DHGNA são frequentemente obesos e/ou tem

síndrome metabólica associada, o controle dessas condições passa ser o fator mais

importante no tratamento da DHGNA. Alterações no estilo de vida, como a prática de

atividade física regular, a perda de peso satisfatória e a adoção de uma dieta saudável

são os elementos primordiais e obrigatórios no manejo inicial da DHGNA. A EASL

(2016) recomenda que pacientes com esteatose simples, sem NASH ou fibrose,

podem receber apenas aconselhamentos de mudanças no estilo de vida, sem

farmacoterapia associada. Por outro lado, indivíduos com fibrose e alto risco de

progressão da NASH (maiores de 50 anos, diabéticos portadores de síndrome

metabólica e paciente com ALT persistentemente elevada) devem receber tratamento

farmacológico combinado.

4.7.1 Tratamento não farmacológico

O tratamento não farmacológico da DHGNA engloba as modificações no

estilo de vida, representadas pela adoção de dieta restritiva, realização de exercícios

físicos e diminuição do sedentarismo. A reversão de hábitos não saudáveis tem

impacto direto na redução de peso, considerado o principal fator colaborador para

melhora histológica da NASH. Além disso, a adoção de práticas benéficas à saúde

38

tem resultados na redução do risco cardiovascular global e auxilia no controle das

comorbidades relacionadas à síndrome metabólica.

Os benefícios da perda de peso no tratamento da DHGNA já são bem

estabelecidos na literatura. A EASL (2016), baseada em vários estudos populacionais,

recomenda que as intervenções no estilo de vida proporcionem uma perda de peso

entre 7 a 10% em indivíduos com excesso de peso/obesidade para acarretar melhora

histológica e das enzimas hepáticas. A tabela 5 mostra a probabilidade de melhora

da DHGNA gerada pela perda de peso em pacientes que se submeteram a

modificações do estilo de vida após um ano de intervenção, de acordo com Romero-

Gómez, Zelber-Sagi e Trenell (2017).

% de perda de peso/ Efeito

esperado Até 5% Entre 5 e 7% Entre 7 e 10%

Acima de 10%

Resolução da NASH

10% 26% 64% 90%

Regressão da fibrose (pelo menos um

estágio)

45% 38% 50% 81%

Melhora da esteatose

35% 65% 76% 100%

Tabela 5. Probabilidade de melhora da DHGNA com a perda de peso. Adaptado de Romero-gómez, Zelber-sagi e Trenell (2017).

A maneira mais comum de redução de peso é através da manutenção de

dieta balanceada e atividade física regular, gerando incremento na qualidade de vida

e no bem-estar geral, além de regressão da lesão histológica relacionada à DHGNA.

Em um estudo prospectivo realizado por Vilar-Gomez et al. (2015), 293 pacientes

diagnosticados com NASH por meio de biópsia foram encorajados a perder peso

através de modificações no estilo de vida durante 52 semanas. Após esse período,

39

uma nova biópsia hepática foi realizada para avaliar o impacto da redução de peso

nesses pacientes. Os resultados reforçaram os benefícios da perda de peso no

tratamento da DHGNA: um quarto dos indivíduos apresentaram resolução da NASH,

47% tiveram diminuição nos escores de atividade histológica da NASH e 19% exibiram

redução da fibrose. É importante destacar que, nesse estudo, a redução da atividade

histológica da NASH e da fibrose foi mais intensa em pacientes que perderam 10%

ou mais de massa corporal.

Com relação à dieta adequada, as recomendações da EASL (2016)

afirmam que a restrição energética deve ser considerada e o consumo abusivo de

produtos que provocam a DHGNA deve ser evitado (tais como os alimentos

processados, gorduras animais, excesso de carboidratos e bebidas ricas em frutose).

A composição de macronutrientes deve ser ajustada de acordo com a dieta

mediterrânea.

De acordo com a AASLD (2018), a realização de dieta com restrição calórica

está associada à mobilização de gordura no fígado e à redução do risco cardiovascular

a longo prazo. A composição específica de micronutrientes da dieta parece ser menos

importante do que o resultado final da perda de peso sustentada. Dados sugerem que

a redução da ingestão calórica em pelo menos 30% ou aproximadamente 750 a 1000

kcal por dia resulta em melhora da resistência à insulina e da esteatose hepática. A

Associação Americana também reforça a capacidade da dieta mediterrânea em

reduzir a esteatose hepática e recomenda a combinação de dieta hipocalórica (500 a

1000 kcal por dia) e exercício físico moderado para manter a perda de peso no

decorrer do tempo.

O exercício físico configura-se como uma das principais armas do

tratamento não farmacológico no combate à DHGNA. Corey e Rinella (2016) afirmam

que o treinamento aeróbico, mesmo na ausência de perda de peso considerável, pode

melhorar a DHGNA. Os autores mostram que o exercício aeróbico pode diminuir o

nível de transaminases, além de reduzir a esteatose em exames de imagem. Trinta a

45 minutos de ciclismo, 90 minutos de caminhada ou corrida três vezes por semana

podem melhorar o conteúdo hepático de triglicerídeos.

Treinos de resistência (musculação) também se mostraram eficazes em

reduzir a DHGNA. Um ensaio desenvolvido por Bacchi et al. (2013) randomizou 31

40

indivíduos diabéticos sedentários com o diagnóstico de DHGNA em dois grupos que

foram submetidos separadamente a exercícios aeróbicos e de resistência durante

quatro meses. Os resultados mostraram que o conteúdo de gordura hepática foi

consideravelmente reduzido nos dois grupos. Além disso a esteatose desapareceu

em aproximadamente um quarto dos pacientes de cada grupo. Os autores concluíram

que tanto o treinamento de resistência, quanto o aeróbico são igualmente eficazes na

redução da gordura hepática em pacientes diabéticos tipo 2 com DHGNA.

Por outro lado, Keating et al. (2016) conduziram um ensaio randomizado e

controlado para avaliar o efeito do treino de resistência sobre a gordura hepática e a

adiposidade visceral em 29 indivíduos sedentários com obesidade. Os autores

concluíram que o treinamento de resistência tradicional não foi eficaz em reduzir a

gordura do fígado em adultos com sobrepeso/obesidade em comparação com o grupo

placebo. Se o alvo terapêutico for a redução da esteatose hepática, um volume

adequado de exercícios aeróbicos deve ser realizado.

A EASL (2016) considera que tanto o exercício aeróbio como o treino de

resistência reduzem efetivamente o tecido adiposo hepático. A escolha do exercício

deve ser adaptada com base nas preferências dos doentes para que possam ser

mantidos a longo prazo.

Estudos em pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica também

comprovaram que a redução do peso proporcionada pelo procedimento foi benéfica

ao regredir as alterações histológicas relacionadas à NASH. Glass et al. (2014)

conduziram um estudo de coorte com 45 pacientes diagnosticados com NASH e

submetidos a biópsias hepáticas seriadas para monitoramento clínico. Concluíram

que houve uma taxa significativamente maior de regressão de fibrose entre os

pacientes que foram selecionados para a cirurgia bariátrica e que perderam acima de

10% do peso corporal.

Lassailly et al. (2015) realizaram um estudo com 109 pacientes obesos

mórbidos portadores de NASH que se submeteram à cirurgia bariátrica. Após um ano

de acompanhamento, os pesquisadores descobriram que a NASH havia desaparecido

em 85% dos pacientes. Houve melhora significativa dos níveis de ALT e GT e a

fibrose foi reduzida em aproximadamente um terço dos pacientes.

41

Desta forma, a cirurgia bariátrica pode se configurar como uma opção de

tratamento em pacientes obesos mórbidos com NASH que não responderam ao

tratamento convencional com modificações do estilo de vida. Todavia, mais estudos

são necessários para avaliar os resultados a longo prazo dessa cirurgia nesse grupo

populacional.

4.7.2 Tratamento farmacológico

De acordo com a recomendação da EASL (2016), o tratamento

medicamentoso está indicado para pacientes com NASH progressiva (presença de

fibrose e cirrose), para pessoas com alto risco de progressão da fibrose (maiores de

50 anos, portadores de síndrome metabólica e ALT persistentemente alta) e NASH

ativa com importante atividade necro-inflamatória. Atualmente, não existem fármacos

aprovados em ensaios clínicos de fase III ou por agências reguladoras. Portanto, não

há qualquer medicamento específico que possa ser solidamente indicado para o

tratamento de NASH.

Várias classes de medicamentos vêm sendo estudadas ao longo das

últimas décadas para tratamento da NASH. Todavia, nenhuma delas tem eficácia

realmente comprovada. Com base na fisiopatologia da doença, cada droga específica

deve atuar em uma via metabólica diferente, dentro do espectro de alterações do

processo patogênico da DHGNA. Singh, Osna e Kharbanda (2017) listam as

principais opções medicamentosas para tratamento da DHGNA.

Classes Agentes

Sensibilizadores de insulina

Metformina, tiazolidinedionas

Hipolipemiantes

Estatinas, ezetinibe

Hepatoprotetor

Ácido ursodesoxicólico

42

Antioxidante

Vitamina E

Análogos da incretina

Agonista do receptor GLP-1

Inibidores da DPP-4

Agente anti-inflamatório

Pentoxifilina

Outros

Probióticos

Bloqueadores do receptor de angiotensina

Opções cirúrgicas

Cirurgia bariátrica

Transplante hepático

Potenciais novas opções terapêuticas

Inibidores de caspases

Inibidores de ASK 1 Inibidores de p38 MAPK

Agonistas PPAR-α e PPAR-ɣ (Elafibranor) Inibidores de CCR2 e CCR5 (Cenicriviroc) Inibidor da Lisil oxidase-2 (Simtuzumab)

Betaína Ácido obeticólico

Tabela 6. Principais opções de tratamento para DHGNA. Adaptado de Singh, A Osna e Kharbanda (2017).

Apesar de a metformina ser amplamente utilizada para o tratamento de DM

tipo 2, especialmente em pacientes com excesso de peso, segundo a EASL (2016),

existe pouca evidência histológica de sua eficácia na terapia da NASH.

De acordo com Singh, Osna e Kharbanda (2017), a metformina melhora a

resistência à insulina, reduzindo a gliconeogênese hepática, a lipogênese e a

reabsorção de glicose no intestino e aumentando a oxidação de ácidos graxos. Alguns

estudos mostraram melhora dos níveis de colesterol e de transaminases em pacientes

com NASH em uso de metformina. Apesar desses efeitos, os autores afirmam que

não há estudos bem estabelecidos utilizando biópsia hepática para documentar a

melhora histológica e da atividade inflamatória da NASH.

Leoni et al. (2018) realizaram uma revisão sistemática sobre o tratamento

de NASH e afirmaram que, devido à evidência de sua eficácia limitada na melhoria

43

das características histológicas da NASH, a metformina não é recomendada por

nenhum guideline de grandes associações mundiais para tratar especificamente a

DHGNA.

As tiazolidinedionas, popularmente conhecidas como glitazonas, são

drogas largamente utilizadas no tratamento do DM tipo 2. Através da ação sobre

PPAR-ɣ, são drogas que promovem maior sensibilidade à insulina no músculo

periférico e redução da produção hepática de glicose, além de inibição da lipólise

periférica em adipócitos, redução dos níveis de ácidos graxos livres e da adiposidade

visceral, resultando em melhora de parâmetros glicêmicos e metabólicos nesse grupo

populacional. Apresentam bons resultados na manutenção do controle glicêmico a

longo prazo e, ainda, podem ser utilizadas em condições em que prevalece a

resistência à insulina, de acordo com Silva e Lazaretti-Castro (2010).

As tiazolidinedionas foram extensamente estudadas na NASH, em especial

a pioglitazona. Em uma recente metanálise sobre o uso de pioglitazona e rosiglitazona

em 516 pacientes com NASH, Musso et al. (2017) descobriram que o uso de

tiazolidinedionas por até 24 meses foi associado à melhora da fibrose em qualquer

estágio e resolução da NASH. Esses resultados também foram observados em

pacientes sem DM, o que pode aumentar as indicações aprovadas para o uso de

tiazolidinedionas. É importante destacar que os efeitos observados da terapêutica com

tiazolidinediona foram explicados pelo uso de pioglitazona. A rosiglitazona não

alcançou significância estatística para nenhum desfecho histológico.

Outra metanálise desenvolvida por Boettcher et al. (2011) encontrou que os

achados histopatológicos de balonização, necro-inflamação, esteatose, inflamação

lobular e fibrose foram melhorados com o uso de tiazolidinedionas. Além disso,

também houve redução dos níveis de transaminases.

Por outro lado, o uso de tiazolidinedionas a longo prazo pode aumentar o

risco de efeitos colaterais, como ganho de peso, edema de membros inferiores e

insuficiência cardíaca congestiva. Nesse contexto, devem-se evitar essas medicações

em pacientes com doenças cardiovasculares, que, sabidamente, são a maior causa

de mortalidade em pacientes com DHGNA.

44

A AASLD (2017) considera que pioglitazona melhora a histologia do fígado

em doentes portadores de NASH com ou sem DM tipo 2, podendo ser usada para

tratar esses pacientes. Riscos e benefícios devem ser discutidos individualmente

antes de iniciar a terapia. Até que dados adicionais apoiem sua segurança e eficácia,

a pioglitazona não deve ser usada para tratar a DHGNA sem NASH comprovada por

biópsia.

O peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) é um hormônio que pertence

ao grupo das incretinas, sendo secretado no íleo distal e cólon proximal por células L.

Além de estimular a proliferação de células no pâncreas e aumentar a biossíntese

de insulina, o GLP-1 também interage com receptores em outras partes do trato

gastrointestinal, no pulmão, no rim e no sistema nervoso central. Desta forma, o GLP-

1 tem várias funções metabólicas, incluindo retardamento do esvaziamento gástrico,

supressão do apetite, aumento da captação hepática de glicose e da sensibilidade

periférica à insulina. Nesse sentido, substâncias análogas ao GLP-1, como o

liraglutida e exenatide, podem ser usadas para o controle do DM tipo 2, além de serem

estudadas para o tratamento de NASH, segundo Oseini e Sanyal (2017).

Armstromg et al. (2017) avaliaram a segurança e eficácia da liraglutida em

doentes com NASH em um estudo multicêntrico, randomizado e controlado por

placebo e encontraram que 39% dos pacientes que receberam liraglutida tiveram

resolução da NASH, frente a apenas 9% do grupo placebo. Já com relação à fibrose,

somente 9% dos pacientes que usaram a medição versus 36% do grupo placebo

apresentaram progressão da fibrose. Os autores concluíram que a liraglutida foi

segura e bem tolerada, levando à resolução da NASH.

Apesar dos resultados promissores com liraglutida, a AASLD (2018) avalia

como prematuro o uso de análogos de GLP-1 especificamente para tratamento da

NASH.

Os inibidores da dipeptidil peptidase 4 (DPP-4), tais como sitagliptina e

vildagliptina, atuam na enzima DPP-4, responsável por degradar o GLP-1. Portanto,

esses medicamentos devem prolongar a ação do GLP-1. Até agora, os resultados do

uso de sitagliptina não geraram evidência suficiente sobre a eficácia deste grupo de

medicamentos no tratamento da NASH. Oseini e Sanyal (2017) consideram que

outros estudos são necessários para confirmar totalmente a sua eficácia clínica.

45

Singh, Osna e Kharbanda (2017) elencaram alguns estudos sobre o uso de

inibidores da DPP-4 em pacientes com DHGNA e consideraram que apesar dos

poucos dados disponíveis na literatura e da falta de evidência convincente, a eficácia

da sitagliptina na melhora da fibrose hepática na DHGNA não pode ser totalmente

descartada. Isso se deve ao fato de que os ensaios com essa droga não geraram

evidência suficiente para ratificar sua eficácia. Assim, o efeito da sitagliptina deve ser

analisado em ensaios clínicos de maior duração e com maior número de pacientes

com NAFLD/NASH.

Considerada um potente agente antioxidante, a vitamina E impede a

propagação de radicais livres e reduz o estresse oxidativo que leva ao dano tecidual.

De acordo com Nagashimada e Ota (2018), os macrófagos desempenham um papel

crucial no estresse oxidativo e na resistência à insulina envolvidos na DHGNA. A

vitamina E pode promover a homeostase hepática, regulando a ativação de

macrófagos, e, por consequência, reduzindo a lesão celular, interrompendo a

progressão da NASH.

Como a vitamina E diminui o dano celular, alguns trabalhos procuraram

avaliar a redução de marcadores de lesão hepatocelular, como a ALT, após o uso de

vitamina E em pacientes com NASH. Hoofnagle et al. (2013) estudaram a relação

entre ALT e o tratamento com vitamina E descobriram que 46% dos pacientes que

usaram vitamina E responderam satisfatoriamente com queda da ALT frente a 16%

dos que utilizaram placebo. O estudo ainda mostrou que a vitamina E também teve

benefício em pacientes que não perderam peso durante o ensaio.

Uma metanálise de cinco ensaios clínicos randomizados com o uso de

vitamina E foi desenvolvida por Sato e colaboradores (2015) e teve como resultado a

evidência de que a vitamina E reduz significativamente os níveis séricos de ALT e

AST, além de melhorar a esteatose, a inflamação lobular e a fibrose hepática. Em

conclusão, a publicação refere que o tratamento com vitamina E pode melhorar

parâmetros bioquímicos, histologia hepática e, em pacientes adultos, a fibrose

hepática.

Nagashimada e Ota (2018) afirmam que preocupações sobre a segurança

da suplementação de vitamina E tem sido levantadas, uma vez que foi associada a

um aumento da taxa de mortalidade geral, ao desenvolvimento de acidente vascular

46

encefálico hemorrágico e ao câncer de próstata. A terapia com vitamina E deve ser

cuidadosamente discutida em portadores de NASH antes de se iniciar o uso. Os

autores citam duas metanálises relacionadas ao tema. A primeira sugeriu que altas

doses de vitamina E (≥ 400 UI / dia) podem aumentar a taxa de mortalidade global

dos pacientes com DHGNA. Já a outra metanálise indicou que a vitamina E induziu

uma redução relativamente pequena do risco de acidente vascular cerebral isquêmico,

porém exacerbou as consequências do derrame hemorrágico. Desta forma, os riscos

do tratamento com vitamina E devem ser discutidos e considerados individualmente

com cada paciente.

Com base nessas evidências, a EASL recomenda o uso de vitamina E, com

melhor tolerabilidade e segurança a curto prazo, em pacientes com NASH sem DM e

sem cirrose. Entretanto, são necessários mais estudos antes de ser solidamente

indicada.

Já a AASLD (2018) tem posicionamento semelhante à EASL. A associação

americana diz que a vitamina E administrada na dose diária de 800 UI melhora a

histologia hepática em adultos não diabéticos com NASH comprovada por biópsia e,

portanto, pode ser considerada para esta população de pacientes. Riscos e benefícios

devem ser discutidos individualmente antes de iniciar a terapia. Até que dados

adicionais que apoiem sua eficácia tornem-se disponíveis, a vitamina E não é

recomendada para tratar NASH em pacientes diabéticos, DHGNA sem biópsia

hepática, cirrose por NASH e cirrose criptogênica.

A N-acetil-cisteína (NAC) é considerada um agente antioxidante e também

vem sendo estudada em pacientes com NASH. A NAC tem efeitos benéficos em

reduzir a DHGNA em modelos animais, em grande parte, através da diminuição do

estresse oxidativo no tecido hepático. Poucos estudos mostraram melhora da função

hepática em pacientes com NASH, porém biópsias de acompanhamento não foram

realizadas. Lam e Younossi (2010), de acordo com o exposto, acham improvável que

a NAC se torne um pilar do tratamento da DHGNA, podendo servir como terapia

adjunta em combinação com outros medicamentos mais específicos.

Os hipolipemiantes orais, como as estatinas, também podem entrar no

escopo de tratamento da DHGNA. Historicamente, o uso de estatinas em pacientes

com doenças crônicas do fígado tem sido considerado potencialmente arriscado em

47

virtude da possibilidade de hepatotoxicidade. Paralelamente, muitos pacientes com

DHGNA geralmente recebem estatinas em razão dos fatores de risco

cardiovasculares relacionados à síndrome metabólica. Consequentemente, a principal

preocupação das diretrizes é a segurança das estatinas.

A esse respeito, Leoni et al. (2018) destacaram uma recente revisão que

admitiu a segurança das estatinas e sua eficácia na redução da morbidade

cardiovascular associada a pacientes com DHGNA, incluindo aqueles com enzimas

hepáticas elevadas até três vezes o limite superior da normalidade. Segundo os

autores, todas as diretrizes são unânimes em afirmar a segurança das estatinas em

pacientes com DHGNA, mesmo na vigência de cirrose. Entretanto, a prescrição

habitual de uma estatina não é aconselhada em pacientes com cirrose

descompensada ou insuficiência hepática aguda.

A EASL (2016) considera que os dados sobre os hipolipemiantes orais são

insuficientes já que as estatinas não foram adequadamente avaliadas em grandes

estudos. Entretanto, a associação europeia admite que a sua utilização na DHGNA é

segura, sem risco de aumentar a hepatotoxicidade e pode ainda reduzir

significativamente as aminotransferases. As estatinas reduzem o LDL-colesterol e

previnem o risco cardiovascular, não trazendo qualquer benefício ou ameaça para a

doença hepática e devem ser usadas para tratar dislipidemia em pacientes com

DHGNA.

O ácido ursodesoxicólico (UDCA) apresenta propriedades hepatoprotetoras

e vem sendo objeto de estudo de vários ensaios clínicos para o tratamento de

DHGNA. De acordo com Singh, Osna e Kharbanda (2017), pequenos ensaios iniciais

mostraram uma melhora dos níveis de enzimas hepáticas e da esteatose; entretanto,

ensaios clínicos randomizados não evidenciaram benefícios do UDCA em reduzir a

lesão histológica induzida pela NASH.

Troisi, Crisciotti e Gianturco (2013) conduziram um estudo no qual 87

pacientes idosos com síndrome metabólica e DHGNA foram randomizados em dois

grupos. O primeiro foi tratado por seis meses com UDCA (300 a 450 mg/dia) e ao

outro, apenas dieta com restrição calórica foi oferecida. Os pesquisadores

descobriram que 75% dos pacientes tratados com UDCA apresentaram diminuição do

índice de esteatose hepática e concluíram que O UDCA melhora

48

as enzimas hepáticas e a US em pacientes geriátricos com DHGNA ou NASH. O

UDCA ainda se mostrou benéfico em melhorar o controle glicêmico e a sensibilidade

à insulina em alguns desses pacientes.

Segundo Pearlman e Loomba (2014), diversos estudos mostraram dados

conflitantes do UDCA no tratamento da DHGNA. A maioria dos ensaios mostrou que

o UDCA confere alguma melhora na bioquímica hepática, porém não existem dados

convincentes na literatura de que o UDCA sozinho seja capaz de reverter a NASH. A

AASLD (2018) não recomenda o UDCA para tratamento da DHGNA.

De acordo com Takahashi (2015), a pentoxifilina é um derivado de

metilxantina e inibidor não seletivo da fosfodiesterase que reduz a formação de TNF-

α. A pentoxifilina tem sido investigada como uma opção de tratamento para DHGNA

uma vez que o TNF-α é considerado um importante fator na progressão da DHGNA.

Um ensaio clínico randomizado desenvolvido por Alam et al. (2017) dividiu

os portadores de DHGNA em dois grupos. Uma parte dos pacientes recebeu

pentoxifilina e foram orientados a realizar modificações no estilo de vida. Já aos

demais, recomendou-se apenas mudanças no estilo de vida. Ao final de um ano, os

pacientes foram submetidos à biópsia hepática. A principal conclusão desse estudo

foi que a pentoxifilina melhorou significativamente a histologia, a esteatose e a

inflamação lobular em pacientes com NASH, com o mínimo de efeitos colaterais. Os

pesquisadores, no entanto, consideraram que o estudo envolveu poucos pacientes e

que grandes ensaios clínicos duplo-cegos multicêntricos devem ser realizados para

consolidar a eficácia da pentoxifilina no tratamento da DHGNA.

Du (2014) desenvolveu uma metanálise de cinco ensaios clínicos

randomizados, totalizando 147 pacientes com DHGNA que usaram pentoxifilina. Os

resultados mostraram que, em comparação com placebo, a pentoxifilina resultou em

diminuição significativa do peso corporal, das aminotransferases, da glicose e do TNF-

α. Por outro lado, colesterol total, triglicerídeos, fosfatase alcalina e GT não

apresentaram alterações expressivas. Com relação à histologia, a pentoxifilina foi

capaz de reduzir o escore de atividade da NASH e o grau de inflamação lobular.

Melhora na balonização hepatocelular e na fibrose não foram comprovadas. Os

autores concluem que a pentoxifilina pode ser uma nova opção de tratamento para

NASH.

49

Os importantes guidelines da AASLD (2018) e da EASL (2016) não citam a

pentoxifilina como opção de tratamento da DHGNA.

Em resumo, não existe ainda medicamento aprovado com o objetivo

específico de tratar a DHGNA. Apesar disso, certas substâncias mostraram algum

benefício em melhorar as lesões histológicas da NASH, como a pioglitazona e

vitamina E. Combinadas ao tratamento não farmacológico, essas drogas podem se

configurar como a principal terapia para NASH a curto e médio prazos. Conforme

expõe a EASL (2016), duração ideal da terapêutica é desconhecida. Nos doentes com

aumento de ALT, o tratamento medicamentoso deve ser interrompido se não houver

qualquer diminuição das aminotransferases após seis meses do seu início. Já para os

pacientes com ALT normal, não pode ser dada qualquer recomendação.

4.7.3 Tratamento cirúrgico

O manejo clínico da DHGNA é o principal componente do tratamento e deve

ser recomendado para todos os pacientes. Todavia, alguns indivíduos portadores da

doença podem se beneficiar de intervenções cirúrgicas. Nesse contexto, duas

modalidades terapêuticas ganham destaque como opções de tratamento em paciente

selecionados: a cirurgia metabólica para redução do peso e o transplante hepático.

Em pacientes que não responderam ao tratamento com modificações do

estilo de vida e à terapia farmacológica, a cirurgia bariátrica é uma opção para reduzir

peso e complicações derivadas da síndrome metabólica. Segundo Rabl e Campos

(2012), a cirurgia bariátrica é indicada como tratamento para obesidade com base no

valor de IMC e na presença de características da síndrome metabólica. Todas as

técnicas para a realização de cirurgia bariátrica podem ser utilizadas em pacientes

que apresentem IMC ≥ 35 kg/m² associado a qualquer característica da síndrome

metabólica ou em indivíduos com IMC ≥ 40 kg/m² independente da presença de

doenças associadas.

De acordo com Lim (2016), a cirurgia bariátrica representa uma

possibilidade de tratamento importante para os pacientes com NASH e obesidade. A

maioria dos pacientes com DHGNA é diabética e obesa, porém somente alguns

50

pacientes respondem completamente à terapia clínica. Para esses pacientes, a perda

de peso alcançada pelo tratamento conservador, pode ser insuficiente para reverter

as alterações histológicas associadas à NASH. Para a maior parte dos pacientes que

têm obesidade e síndrome metabólica, a cirurgia bariátrica, através de técnicas como

bypass gástrico em Y-de-Roux, bandagem gástrica ajustável laparoscópica ou

gastrectomia vertical laparoscópica, tem demonstrado um claro benefício na redução

de todos os componentes histológicos da NASH, incluindo esteatose, inflamação

hepática e fibrose.

Von Schönfels et al. (2018) avaliaram o impacto da cirurgia anti-obesidade

na histologia hepática de 53 pacientes portadores de DHGNA submetidos ao

procedimento e à biópsia hepática durante o seguimento. Os autores mostraram que

a cirurgia bariátrica levou à diminuição dos níveis de transaminases, além de melhoria

das lesões histológicas relacionadas à NASH. A proporção de casos de NASH passou

de 21% no pré-operatório para 2% na biópsia de controle. Interessante destacar que

não foi encontrada diferença significativa entre as técnicas cirúrgicas utilizadas.

Uma metanálise desenvolvida por Fakhry et al. (2018) com 2.374 pacientes

obesos submetidos à cirurgia bariátrica apresentou fortes e recentes evidências de

que a cirurgia bariátrica melhora significativamente a histologia e as alterações

bioquímicas relacionadas à NASH. A cirurgia de redução de peso foi responsável por

melhora ou resolução completa de 88% dos casos de esteatose simples, de 59% dos

casos de NASH e interrompeu a progressão ou eliminou a fibrose hepática em 30%

dos pacientes submetidos ao procedimento. Números respeitáveis frente a qualquer

outro tratamento para DHGNA.

Goh, Schauer e McCullough (2018) consideram que a cirurgia bariátrica

pode ser realizada em pacientes com cirrose bem compensada, comumente Child-

Pugh A, com mínimo risco de complicações por fatores cirúrgicos ou hepáticos. Os

pacientes precisam ser cuidadosamente selecionados e otimizados, enquanto a

técnica cirúrgica e a modalidade também desempenham papéis igualmente

importantes. Com avanço da epidemia de DHGNA e o aumento previsto em pacientes

com cirrose por NASH, a cirurgia bariátrica pode exercer um papel considerável, como

parte do conjunto de opções terapêuticas.

51

Com base nas evidências expostas anteriormente, a EASL (2016) avalia a

cirurgia bariátrica como uma opção terapêutica para pacientes que não respondem às

mudanças no estilo de vida e à farmacoterapia. A AASLD (2018) afirma que a cirurgia

bariátrica pode ser indicada em indivíduos obesos bem selecionados. Entretanto, é

prematuro considerar a cirurgia como uma opção estabelecida de tratamento

especificamente para NASH.

É fato bem estabelecido que a prevalência da obesidade vem aumentando

em todo mundo nas últimas décadas. Com isso, as complicações relacionadas ao

excesso de peso também cresceram consideravelmente nesse período, incluindo a

DHGNA. Logo, cada vez mais casos de cirrose decorrente de NASH serão

diagnosticados e encaminhados para transplante. Nesse contexto, o transplante

hepático desponta como uma indicação formal de tratamento para doentes com

cirrose em consequência de NASH.

De acordo com Pais et al. (2016), em consequência de sua crescente

prevalência em todo o mundo e ao seu reconhecimento como doença hepática grave

e progressiva, a NASH se tornou a segunda maior causa de transplante hepático nos

Estados Unidos. Os autores afirmam que, em poucos anos, a NASH deve se

configurar como a principal indicação de transplante em indivíduos norte-americanos

com doença hepática terminal e CHC.

Noureddin et al. (2018) conduziram uma análise atualizada sobre as

indicações de transplante hepático nas últimas duas décadas nos Estados Unidos. O

estudo incluiu 127.164 pacientes maiores de 18 anos listados para transplante. Os

autores descobriram que a indicação de transplante em decorrência de NASH

aumentou consideravelmente ao longo dos anos, ao passo que o encaminhamento

por hepatite C diminuiu em virtude da introdução dos novos tratamentos orais para o

vírus C. Destaca-se também que a NASH foi a principal causa de transplante hepático

em mulheres e segunda em homens (perdem apenas para doença hepática alcoólica).

Em 2016, a doença hepática alcoólica foi a primeira indicação para transplante

hepático em lista de espera, seguida de NASH. CHC em decorrência de infecção

crônica por vírus C (HCV) ficou na terceira posição e infecção crônica por HCV isolada

veio, em seguida, na quarta colocação. O estudo ainda mostrou que a NASH

52

aumentou como causa de transplante em todos os subgrupos étnicos e foi a principal

causa em 2016 em asiáticos, hispânicos e mulheres brancas não hispânicas.

De acordo com Liu et al. (2018), os pacientes submetidos ao transplante

hepático em decorrência de NASH apresentam mortalidade a longo prazo semelhante

aos transplantados por outras causas, como HCV e doença alcoólica. A sobrevivência

após um ano de transplante é de aproximadamente 70 a 90%, após três anos a

sobrevida alcança 82 a 83% e após 5 anos, 72 a 78%.

Wang et al. (2014) realizaram uma revisão sistemática para estimar os

resultados pós transplante hepático em pacientes submetidos ao procedimento em

decorrência de cirrose por NASH. O estudo incluiu 4.237 pacientes de nove

publicações. Os autores descobriram que os pacientes com NASH apresentam maior

risco de morte por complicações cardiovasculares e sepse após o transplante

hepático. Entretanto, pacientes com NASH apresentaram menor chance de falência

do enxerto após o transplante. A AASLD (2018) admite que os pacientes com cirrose

por NASH têm alto risco cardiovascular, assim um cuidado atencioso deve ser

realizado para a identificação de doenças cardiovasculares, sejam elas aparentes ou

ocultas, durante o processo de avaliação do candidato ao transplante.

Apesar do tratamento exitoso que o transplante confere à maioria dos

pacientes cirróticos por NASH, a recorrência de esteatose hepática no enxerto não é

difícil de acontecer, principalmente pelo fato de o transplante, por si só, não tratar os

componentes da síndrome metabólica, geralmente presentes em pacientes com

DHGNA. Patel, Berg e Moylan (2016) relatam que a taxa de recorrência pode variar

entre 30 e 100% em diferentes estudos sobre o assunto. Felizmente, para a maioria

dos pacientes, o risco de fibrose avançada e a necessidade de um novo transplante é

baixo. Segundo os autores, a sobrevivência desses pacientes não tem sido afetada,

porém ações devem ser implementadas para evitar o surgimento de DGHNA no fígado

transplantado, como implementação de modificações do estilo de vida.

A EASL (2016) reconhece o transplante hepático como um procedimento

possível de ser realizado nos doentes com NASH e doença hepática terminal, com

sobrevida global comparável a outras indicações, apesar da maior mortalidade

cardiovascular. Os pacientes com NASH e insuficiência hepática ou CHC decorrente

de DHGNA são candidatos ao transplante hepático.

53

4.7.4 Perspectivas futuras

O conhecimento sobre DGHNA e sua patogênese avançou bastante nas

últimas décadas. Não existe, todavia, um medicamento seguro e completamente

eficaz aprovado para o tratamento da esteatose hepática e suas consequências.

Vários estudos vêm sendo desenvolvidos nesse sentido e muitas drogas começaram

a despontar como potenciais opções terapêuticas para DHGNA.

O pegbelfermin é um análogo peguilado do fator humano de crescimento de

fibroblastos 21 que já demonstrou ter efeitos em melhorar marcadores metabólicos e

fibrose hepática em pacientes obesos com DM tipo 2. De acordo com Morris (2019),

um estudo em fase 2 b com 75 pacientes que usaram pegbelfermin e placebo mostrou

que a medicação diminui a fração de gordura hepática, a atividade de transaminases

em pacientes obesos com NASH e a fibrose em estágios de 1 a 3, confirmados por

biópsia, após o tratamento por 16 semanas. Apesar das evidências, mais estudos são

necessários para permitir avaliações de segurança e eficácia do pegbelfermin em um

maior número de pacientes com NASH.

Uma das drogas que progrediu para estudo de fase III foi o ácido obeticólico

(OCA), um agonista do receptor X farnesoide, cujas ações potenciais incluem

diminuição da esteatose, da inflamação e da fibrose hepática, além de aumentar a

sensibilidade à insulina nos tecidos, de acordo com Younossi et al. (2018).

Um estudo clínico de fase 3 em pacientes não cirróticos com NASH está em

andamento (Randomized Global Phase 3 Study to Evaluate the Impact on NASH with

Fibrosis of Obeticholic Acid Treatment - REGENERATE). A análise de eficácia

primária após 18 meses de tratamento com OCA revelou que 23,1% dos pacientes

que usaram 25 mg de OCA por dia apresentaram melhora da fibrose hepática em pelo

menos um estágio, frente 11,9% do grupo placebo. Segundo os organizadores do

estudo, o OCA alcançou o endpoint primário, demonstrando melhora estatisticamente

significativa na fibrose hepática sem piora da NASH ao final de 18 meses de

tratamento. A Intercept Pharmaceuticals (2019), idealizadora do estudo, pretende

solicitar a regulamentação do OCA nos Estados Unidos e na Europa no segundo

semestre de 2019.

54

Outros agentes que merecem destaque são os agonistas do receptor

ativado por proliferador de peroxissoma α e δ (PPAR α/δ). De acordo com Eshraghian

(2017), esses receptores, cuja ação envolve a regulação de lipídios e o metabolismo

da glicose, estão presentes no tecido adiposo, músculo esquelético, fígado e coração.

O elafibranor, agonista duplo de PPAR α/ δ, melhorou o perfil lipídico e reduziu a

gordura hepática em modelos animais, além de diminuir a resistência hepática e

periférica à insulina em indivíduos obesos. Um ensaio clínico randomizado

desenvolvido por Ratziu et al. (2016) mostrou que 120 mg de elafibranor durante 52

semanas foi associada à melhora da função hepática, da esteatose e da fibrose em

pacientes com NASH.

O estudo de fase III RESOLVE-IT está avaliando a eficácia e a segurança

do elafibranor versus placebo em pacientes com NASH. Dois mil pacientes foram

randomizados para utilizar 120 mg de elafibranor diariamente, sob a forma de

comprimido oral revestido, e placebo. Ao término de 72 semanas e após 4 anos de

administração da droga (tratamento a longo prazo), serão avaliados a melhora do grau

de fibrose hepática, do escore histológico de NASH, de marcadores cardiometabólicos

e hepáticos. Ainda não há data para conclusão do estudo, que deve fornecer

resultados preliminares apenas em 2021.

CCR2 e CCR5 são receptores de quimiocina CC, expressos principalmente

em células do sistema imunológico, como monócitos, macrófagos, células de Kupffer

e linfócitos T, que estimulam as células estreladas hepáticas a promover fibrose.

Segundo Singh, Osna e Kharbanda (2017), um novo medicamento denominado

cenicriviroc pode inibir esses receptores, sendo capaz de levar à redução da

inflamação e da fibrose hepática em vários modelos animais. O CENTAUR é um

ensaio clínico randomizado em fase 2 b desenvolvido por Friedman et al. (2016) que

avalia a eficácia de cenicriviroc em pacientes com NASH e fibrose hepática após um

e dois anos de tratamento. A análise preliminar após um ano de uso da medicação

mostrou que o dobro de pacientes apresentou melhora de pelo menos um estádio de

fibrose e nenhum caso de piora da NASH, quando comparado ao grupo placebo.

A terapia biológica também vem sendo alvo de pesquisas para o tratamento

de NASH. Nesse contexto, cita-se o simtuzumab, anticorpo monoclonal contra lisil

oxidase 2, uma enzima que contribui para a fibrogênese hepática. De acordo com

55

Harrison et al. (2018) dois trials em fase 2 b avaliaram o efeito do simtuzumab em

pacientes com NASH e fibrose avançada. Os estudos, porém, foram interrompidos

após 96 semanas devido à falta de eficácia. Nos dois estudos, o simtuzumab mostrou-

se ineficaz na diminuição da fibrose e no gradiente de pressão venosa hepática em

pacientes com fibrose em ponte ou cirrose compensada decorrentes da NASH.

Nos últimos anos, vem ganhando ênfase o papel da microbiota intestinal no

desenvolvimento de NASH. Brandl e Schnabl (2017) estudaram a relação entre

microbiota intestinal e DHGNA. Os autores acreditam que a NASH possa estar

relacionada a alterações da microbiota intestinal. A inflamação intestinal causada pela

disbiose seria responsável pelo aumento da permeabilidade da mucosa intestinal,

proporcionado a translocação de produtos microbianos. Esses fatores derivados das

bactérias intestinais atingiriam o fígado de pacientes geneticamente predispostos,

induzindo inflamação hepática, contribuindo, assim, para a progressão da DHGNA e

da NASH.

Trata-se de uma simples visão de um mecanismo altamente complexo,

necessitando de outros estudos para confirmar a verdadeira relação entre microbiota

intestinal e NASH. Por outro lado, há a esperança de que no futuro novos tratamentos

baseados em transplante de microbiota, modulação do metabolismo de bactérias

intestinais ou terapias com cepas probióticas selecionadas possam surgir e

revolucionar a manejo da DHGNA.

Em resumo, é imprescindível que medicamentos eficazes sejam elaborados

para o tratamento de DHGNA/NASH, já que esta consiste em uma condição que pode

progredir para quadros graves e extremamente mórbidos, como cirrose

descompensada e CHC. Segundo Banini e Sanyal (2017), na realidade atual, apenas

a vitamina E a pioglitazona são considerados medicamentos de primeira linha para o

tratamento de NASH. Entretanto, muitas substâncias estão em fases intermediárias

ou avançadas de desenvolvimento, incluindo o ácido obeticólico, o elafibranor e

cenicriviroc. Com a importância cada vez maior da terapia com agentes probióticos, o

microbioma intestinal e a endotoxemia metabólica são alvos promissores para o

desenvolvimento de novas drogas para NASH. Prevê-se que até 2020, medicamentos

em etapas finais de avaliações sejam aprovados para o tratamento de DHGNA.

56

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão da pesquisa,

foram selecionados inicialmente 102 pacientes. Desses, seis relataram consumo

importante de álcool, seis eram portadores de outra doença hepática, quatro faziam

uso de medicamentos sabidamente esteatogênicos e três não realizaram US recente,

restando 83 pacientes aptos para participação no estudo.

5.1. Características demográficas

Com relação ao gênero, a amostra foi composta por 67 mulheres (80,7%) e

16 homens (19,2%), indicando a predominância de mulheres portadoras de DHGNA

no ambulatório de gastroenterologia do HGF, conforme mostra o gráfico 1. Tal

demanda pode ser explicada pelo fato de, historicamente, em nosso meio, as

mulheres procurarem mais frequentemente atendimento médico do que os homens.

Por outro lado, Cotrim et al. (2011) estudaram o perfil clínico e histológico

da DHGNA em 1280 pacientes de 16 centros médicos espalhados pelo Brasil e

encontraram maior prevalência de esteatose hepática em homens (53,3%). Cruz et

al. (2016) também descobriram que a DHGNA foi mais prevalente em homens (33,4%)

do que em mulheres (27,2%) ao analisarem 800 indivíduos submetidos à US na cidade

de Aracaju, no Sergipe.

De acordo com Mishra e Younossi (2012), os dados na Literatura são

conflitantes no que diz respeito ao gênero mais acometido. Os autores alegam que

estudos ocidentais sugeriram predominância do sexo feminino, com mulheres

representando 60 a 83% dos diagnósticos. Entretanto, uma investigação americana

com 400 adultos demonstrou que a DHGNA foi mais prevalente em homens (58,9%).

Inversamente ao nosso trabalho, de forma geral, a Literatura cita maior prevalência

de DHGNA em homens.

57

Gráfico 1. Distribuição dos participantes de acordo com o gênero.

A média de idade dos participantes foi de 56,5 anos, variando de 23 a 82.

O gráfico 2 apresenta a distribuição dos participantes conforme a faixa etária. Os

resultados mostram que quase metade dos pacientes (46%) possui entre 46 e 60

anos. Já os idosos (acima de 60 anos) vem em seguida, representando 36% da

amostra. Pessoas de 31 a 45 anos atingiram 16% e a minoria foi composta por

pacientes até 30 anos (2%).

Gráfico 2. Distribuição dos participantes de acordo com a faixa etária.

80,7%

19,2%

GÊNERO

Mulheres

Homens

2%

16%

46%

36%

FAIXA ETÁRIA

Até 30 anos

31 a 45 Anos

46 a 60 anos

Acima de 60anos

58

Matteoni et al. (2011) avaliaram a presença de esteatose hepática em

pacientes submetidos à US na cidade de Salvador, Bahia, encontrando maior

prevalência em homens (56,2%), com média de idade em torno de 56 anos,

semelhante ao nosso estudo. Já a investigação de Cotrim et al. (2011) apresentou

média de idade um pouco inferior (49,6 anos).

Com relação à idade de surgimento de DHGNA, a Literatura fornece

informações bastante variadas. Mishra e Younossi (2012) referem que a prevalência

de DHGNA aumenta com a idade. De acordo com os autores, nos Estados Unidos, o

pico de prevalência concentrou-se na quarta década de vida em homens e na sexta

década em mulheres.

É importante notar que, de maneira geral, com o avanço da idade também

há o aumento de comorbidades relacionadas à DHGNA, como HAS, DM e obesidade,

podendo justificar, em parte, maior prevalência da doença em pacientes com mais de

50 anos.

5.2. Características antropométricas e estado nutricional

O estado nutricional dos pacientes (gráfico 3) foi avaliado pelo IMC. Dos 83

participantes, 75 (90,3%) tiveram o IMC calculado. A média de IMC foi de 29,8 Kg/m²,

indicando uma população predominantemente acima do peso ideal. Observou-se que

quase metade dos pacientes (46%) apresenta sobrepeso. Em segundo lugar,

aparecem pacientes com obesidade grau I (29%). Indivíduos considerados com peso

adequado (12%) ocuparam a terceira colocação, seguidos pelos obesos grau II (8%).

Apenas 5% dos pacientes são portadores de obesidade mórbida (grau III).

Esses dados mostram que 88% dos pacientes estão acima do peso normal,

sendo que 42% apresentam algum grau de obesidade. É importante destacar,

também, que a DHGNA acometeu pessoas com IMC normal, representadas por 12%

dos pacientes.

No estudo de Cotrim et al. (2011), a obesidade esteve presente em 44,7%

dos indivíduos e sobrepeso em 44,4%, números semelhantes aos nossos resultados.

59

Rocha et al. (2005) desenvolveram um estudo sobre índices

antropométricos (IMC e circunferência abdominal) em 81 pacientes com DHGNA

acompanhados no ambulatório de gastro-hepatologia da Universidade Federal da

Bahia. A média de idade no estudo foi de 44,6 anos. Os autores encontraram que 53%

dos pacientes apresentavam sobrepeso e 40% obesidade, sendo 30% obesidade grau

I e 10% obesidade grau II. Resultados bem próximos aos do nosso trabalho.

Leon et al. (2014) organizaram uma investigação com o objetivo de

determinar a prevalência de pacientes com peso normal diagnosticados com DHGNA

em hospital terciário de Porto Alegre. Ao todo, foram analisados 55 indivíduos com

DHGNA. Destes, 10,9% tinham IMC normal e 89.1% apresentavam sobrepeso ou

obesidade, taxas bastante semelhantes às encontradas em nosso estudo. Tais dados

sugerem que, no Brasil, a prevalência de DHGNA em pacientes com o IMC normal

pode estar acima do índice de prevalência global nesta população, estimada em 7%,

de acordo com a EASL (2016).

Por outro lado, em um estudo realizado por Lu et al. (2016) com 691

chineses, a prevalência de DHGNA em pacientes não obesos (IMC < 25 Kg/m²),

superou as taxas global e brasileira, sendo estimada em 19,94%.

Gráfico 3. Distribuição da população de acordo com o estado nutricional.

12%

46%

29%

8%

5%

ESTADO NUTRICIONAL

Até 24.9 Kg/m²

25 a 29.9 Kg/m²

30 a 34.9 Kg/m²

35 a 39.9 Kg/m²

A partir de 40 kg/m²

60

Com relação ao grau de obesidade visceral (gráfico 4), do total de 83

pacientes, 76 foram avaliados através da medida da circunferência abdominal.

Excluindo-se os cirróticos, restaram 64 pacientes, sendo 14 homens e 50 mulheres.

Considerando-se como referência os valores estabelecidos pela

Organização Mundial de Saúde (≥ 94 cm para homens e ≥ 80 cm para mulheres) e

adotados pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome

metabólica (2016), todas as mulheres avaliadas (100%) apresentaram circunferência

abdominal aumentada, variando de 87 a 121 cm. Já entre os homens, apenas um

paciente exibiu circunferência abdominal normal (92 cm). Portanto, 63 pacientes

(98,4%) possuíam circunferência abdominal acima dos valores adequados.

Gráfico 4. Circunferência abdominal nos pacientes cm DHGNA.

Nota-se que a população estudada apresenta predominantemente gordura

visceral acima dos níveis de normalidade. A média de circunferência abdominal entre

os pacientes foi de 103,1 cm (excluindo-se os cirróticos). No estudo de Rocha et al.

(2005), entretanto, os resultados foram mais heterogêneos. Circunferência abdominal

normal foi vista em 27% dos pacientes, ligeiramente aumentada em 31% e muito

aumentada em 42%.

92,90%100%

7,10%

HOMENS MULHERES

CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL

Aumentada Normal

61

Le et al. (2017) desenvolveram um levantamento populacional com 6000

pacientes atendidos no período de 1999 e 2012 nos Estados Unidos sobre

prevalência, fatores de risco e chance de fibrose avançada em pacientes

diagnosticados com DHGNA. Os autores encontraram que a prevalência global de

DHGNA nessa população foi de 30%. Nos pacientes com DHGNA, a média de

circunferência abdominal foi de 112,7 cm, em comparação com 90.9 cm em pacientes

sem DHGNA.

O nosso estudo, assim como o americano, reforça a forte relação entre

aumento de circunferência abdominal e a presença de DHGNA. Supõe-se, portanto,

que a perda de peso, com redução da gordura visceral, pode ajudar no tratamento da

esteatose hepática.

5.3. Comorbidades

A DHGNA faz parte do escopo de manifestações da síndrome metabólica,

apresentando-se, geralmente, em associação com outras comorbidades. A condição

metabólica mais frequente nos nossos pacientes foi a dislipidemia, presente em 77

dos 83 pacientes (93%). Em segundo lugar, aparece a HAS em 65 indivíduos (78,3%).

Já DM atingiu 48 pacientes (58%), configurando a terceira comorbidade mais

relacionada à DHGNA. Na quarta posição, o hipotireoidismo acometeu 10 pacientes

(12%).

Outras comorbidades também se fizeram presentes, como osteoporose

(7,2%), doença arterial coronariana (4,8%), acidente vascular cerebral (4,8%) e

doença renal crônica (3,6%). É importante destacar que o mesmo paciente pode

apresentar mais de uma condição associada à DHGNA e que todos os pacientes do

estudo exibiram pelo menos uma comorbidade. Nesse contexto, aproximadamente

metade dos pacientes (49,3%) apresentaram HAS, dislipidemia e DM

simultaneamente. Os dados encontram-se representados no gráfico 5.

No estudo de Cotrim et al. (2011), a dislipidemia também despontou como

comorbidade mais associada à DHGNA, acometendo 66,8% dos casos, já os

pacientes diabéticos alcançaram 22,7% da amostra.

62

Já o estudo americano de Le et al. (2017) mostrou que, entre os pacientes

com DHGNA, a hiperlipidemia esteve presente em 50,9%, DM em 22,5%, HAS em

20,8%. Nesse mesmo estudo, outras comorbidades também foram avaliadas em

pacientes com esteatose hepática. Doença arterial coronariana acometeu 11,7% dos

pacientes, acidente vascular cerebral 3,8% e doença renal crônica 2,1%.

Um trabalho retrospectivo conduzido por Simeone et al. (2017) avaliou as

características clínicas e a incidência de fatores de risco em pacientes diagnosticados

com DHGNA em um centro de medicina geral entre 2004 a 2015 no estado norte-

americano da Pensilvânia. No total, 18.754 indivíduos com DHGNA foram incluídos

na pesquisa. No estudo de Simeone, no entanto, a HAS foi a comorbidade mais

frequente em pacientes com DHGNA (52,8%). A dislipidemia acometeu 51,9% dos

indivíduos. Já o DM apareceu em terceiro lugar, assim como no nosso estudo,

presente em 39,3% dos casos.

De forma geral, observa-se na Literatura, que as comorbidades mais

relacionadas à DHGNA são dislipidemia, HAS e DM, com ou sem associação com

síndrome metabólica. No Ceará, essa tendência mundial também é reproduzida,

denotando semelhanças entre o nosso estudo e a realidade global.

Gráfico 5. Comorbidades mais associadas à DHGNA.

93%78%

58%

12%7%

4% 4%

COMORBIDADES MAIS RELACIONADAS À DHGNA

63

5.4. Alterações laboratoriais

Frequentemente, pacientes com DHGNA desenvolvem alterações

laboratoriais, sobretudo aqueles que apresentam comorbidades metabólicas. Foram

pesquisados os seguintes exames séricos: hemoglobina (Hb), hematócrito (Ht),

leucometria, plaquetometria, ferritina, International Normalized Ratio (INR), AST, ALT,

fosfatase alcalina, GT, bilirrubina total e direta, albumina, TSH, T4 livre, proteína C

reativa (PCR), creatinina, ureia, ácido úrico, α-fetoproteína, colesterol total e frações,

triglicerídeos, glicemia em jejum, hemoglobina glicosilada, insulina e índice de HOMA

em pacientes não diabéticos.

Alguns pacientes não realizaram todos os exames devido a fatores externos

ao desenvolvimento do trabalho, como, por exemplo, a falta de reagentes no

laboratório do HGF. A tabela 7 resume os resultados dos testes laboratoriais, em

números percentuais, com relação à frequência de alterações encontradas nos

pacientes avaliados.

Exame Pacientes avaliados

Prevalência de alterações

Variação Média

Hb 81 Aumentado: 11,1% Reduzido: 12,3%

5,5-18,5 13,3

Ht 81 Aumentado: 11,1% Reduzido: 11,1%

16,9-52,4 40,35

Leucócitos 81 11,1% 2.140-17.800 7.139

Plaquetas 81 9,8% 40.000-404.000 229.982

Ferritina 58 Aumentada: 36,9% Reduzida: 12,0%

4-1.186 218,4

INR 67 1,4% 0,92-1,33 1,05

AST 82 45,1% 17-187 46,4

ALT 82 45,1% 12-320 59,9

FA 74 63,5% 36-406 157,36

GT 78 42,3% 11-636 85,02

Bilirrubina total 73 9,5% 0,11-2,10 0,59

Bilirrubina direta 71 21,1% 0,01-0,90 0,17

Albumina 71 8,4% 2,3-4,8 4,1

64

PCR 37 43,2% 0-3,0 4,3

TSH 72 11,1% 0,54-7,66 2,3

T4 livre 61 9,8% 0,71-12,5 1,2

Ureia 68 10,2% 15-52 30,9

Creatinina 80 7,5% 0,5-1,8 0,79

Ácido úrico 56 Aumentado: 5,3% Reduzido: 5,3%

1,8-8,3 4,84

-fetoproteína 22 4,5% 0,7-20,9 3,7

Colesterol total 81 41,9% 102-490 195,71

HDL 81 35,8% 22-93 43,9

LDL 79 24,0% 26-453 113,21

Triglicerídeos 81 61,7% 47-1033 192,17

Hb glicosilada 68 48,5% 1,6-14,4 6,6

Insulina* 21 4,7% 2,38-37,2 13,2

Índice de HOMA* 20 55,0% 0,56-9,27 3,15

Glicemia 73 65,7% 70-263 119,15

Tabela 7. Resumo das alterações laboratoriais apresentadas pelos pacientes. *Não considerado em diabéticos.

Verificando-se os resultados dos exames laboratoriais, observa-se que, em

números relativos, a glicemia em jejum foi o teste laboratorial que mais apresentou

resultados acima da normalidade, estando anormal em 65,7% dos casos. A

hemoglobina glicosilada alterou-se em 48,5% dos pacientes. O fato de a DHGNA

estar relacionada a comorbidades metabólicas, como o DM, pode justificar a alta

prevalência desses resultados e indicar que boa parte dos nossos pacientes possam

apresentar descompensação do DM de forma frequente.

Dos 35 pacientes não diabéticos, 20 tiveram o índice de HOMA-IR calculado.

Desses, 11 pacientes (55%) apresentaram resistência aumentada à insulina.

A dislipidemia confirmou-se como comorbidade mais presente nos

indivíduos com DHGNA. Após análise do lipidograma desses pacientes, constatou-se

que a alteração do perfil lipídico mais comum foi a hipertrigliceridemia (61,7%),

seguida pela diminuição do HDL-colesterol (35,8%). O aumento do LDL-colesterol

apareceu em 24% dos pacientes. É importante destacar que o mesmo paciente pode

65

apresentar mais de um tipo de dislipidemia. Os dados encontram-se representados

no gráfico 6.

Gráfico 6. Classificação da dislipidemia nos pacientes com DHGNA.

Marcadores de lesão hepatocelular se alteraram em 45,1% dos

portadores de DHGNA. Já pacientes com enzimas canaliculares aumentadas foram

relativamente frequentes. A fosfatase alcalina foi a enzima hepática que mais se

mostrou acima dos níveis de normalidade (63,5%), seguida pela GT (42,3%).

Por outro lado, a função hepática é preservada em grande parte dos

nossos pacientes. A prevalência de alterações não ultrapassou 10% em cada teste

laboratorial analisado. Bilirrubina total aumentou em 9,5% dos indivíduos, seguida

pela redução da albumina (8,4%) e alargamento do INR (1,4%).

Um exame que merece destaque é a proteína C reativa, que esteve

aumentada em 43,2% dos casos. Infere-se que o caráter inflamatório da DHGNA

possa ajudar a elevar os níveis de PCR nesses pacientes.

Na nossa pesquisa, apenas 22 pacientes (sendo 8 clinicamente cirróticos,

7 com grau de fibrose F4 à elastografia e outros 7 sendo F3) realizaram a dosagem

de -fetoproteína, um marcador que pode se elevar em indivíduos com CHC. Apenas

um paciente (4,5%) apresentou valor de α-fetoproteína acima de 20 ng/mL. Vale

destacar que esse paciente fora diagnosticado com CHC pouco tempo depois.

Estudos prospectivos e com maior número amostral devem ser realizados para

61,7%

35,8%

24,0%

HIPERTRIGLICERIDEMIA HDL BAIXO LDL ALTO

Dislipidemia

66

analisar a validade da -fetoproteína no rastreio de CHC em pacientes com DHGNA

sem cirrose.

Hiperferritinemia costuma ser encontrada em portadores de DHGNA,

podendo refletir o estado inflamatório crônico da NASH e do tecido gorduroso visceral

disfuncional. No nosso estudo, 36,9% dos pacientes exibiram valores altos de ferritina

sérica.

Ureia, creatinina, TSH, T4 livre e ácido úrico não exibiram alterações

significativas.

A Literatura mostra que anormalidades em exames laboratoriais podem ser

as únicas alterações encontradas em portadores de DHGNA, já que a maioria dos

pacientes é assintomática. De forma geral, a achado incidental de elevação das

enzimas hepáticas leva o paciente a procurar assistência médica e, eventualmente,

ao diagnóstico de NASH.

Fora do Brasil, as anormalidades laboratoriais podem se modificar de

acordo com a população estudada. Variações étnicas contribuem para a diversidade

de alterações encontradas nos diferentes grupos populacionais.

García-Carretero et al. (2019) desenvolveram uma pesquisa sobre

prevalência de NASH e características clínicas de 2.242 pacientes hipertensos na

cidade de Madri, Espanha, e encontraram alguns resultados semelhantes aos nossos.

A prevalência de NASH nessa população foi de 11,4%. A média de idade e de IMC no

grupo de NASH foi de 51,9 anos e 31,2 Kg/m² respectivamente.

Com relação às alterações laboratoriais, alguns resultados de testes

bioquímicos do estudo de García-Carretero e colaboradores aproximaram-se dos

nossos. Ácido úrico, colesterol total, LDL apresentaram os seguintes valores médios:

6,5 mg/dL, 197,6 mg/dL e 115,2 mg/dL. Triglicerídeos, glicemia, hemoglobina

glicosilada, insulina, índice de HOMA, IST e ferritina apresentaram as medianas 127

mg/dL, 107 mg/dL, 6,1%, 15,7 mUI/mL, 4,3, 28,1% e 213 mg/dL, respectivamente.

Um estudo desenvolvido por Lee et al. (2017) avaliou 2.749 coreanos na

cidade de Seul, Coréia do Sul, com o objetivo de encontrar a prevalência e os

preditores de DHGNA na população geral. Utilizou-se a elastografia hepática

67

transitória para definir a presença de esteatose nesses pacientes. A prevalência de

DHGNA encontrada foi de 42,9%.

No grupo de indivíduos que apresentaram DHGNA, a média de idade foi de

54 anos e a maior parte foi composta por homens (63,9%). O IMC médio foi de 26

Kg/m². Entre as comorbidades apresentadas, HAS atingiu 39,6% dos pacientes e DM,

12,7%. Com relação aos exames laboratoriais, os valores médios de ALT, bilirrubina

total, albumina, plaquetas, glicemia, triglicerídeos, LDL e HDL-colesterol foram 36 U/l,

1 mg/dL, 3,5 g/dL, 244.000/mm³, 100 mg/dL, 122 mg/dL, 123 mg/dL e 48 mg/dL,

respectivamente.

De maneira geral, observa-se que o nível médio de ALT no estudo asiático

foi inferior ao da nossa população (média 59,9). Infere-se que esse resultado pode ser

explicado pelo fato de a população coreana ter menor incidência de comorbidades

reconhecidamente implicadas com maior gravidade da DHGNA, como DM e HAS.

Além disso, os coreanos mostram prevalência de obesidade inferior à nossa

população, outro fator que tende a minimizar os valores de ALT nesse grupo

populacional.

No Brasil, o trabalho de Cotrim et al. (2011) mostrou AST, ALT e GT

elevadas em 42,2%, 55,8% e 63,1% dos pacientes, respectivamente. No nosso

trabalho, fosfatase alcalina foi o exame que mais se alterou dentre as enzimas

hepáticas (63,5%). No estudo de Rocha et al. (2005), que avaliou dados

antropométricos e laboratoriais de 81 portadores de DHGNA, a porcentagem de

pacientes com taxas anormais de AST, ALT e GT foi de 31%, 56% e 49%,

respectivamente. A análise estatística revelou que, neste estudo, o aumento da

circunferência abdominal não foi associado ao incremento de AST, ALT e GT (p >

0,05).

No nosso trabalho, entretanto, notou-se uma correlação negativa baixa e

estatisticamente significativa entre circunferência abdominal e AST (ρ = -0,348, Valor-

p = 0,064), e circunferência abdominal e ALT (ρ = -0,323, Valor-p = 0,087). Já a

relação entre a circunferência abdominal e o grau de fibrose hepática mostrou

dependência estatística entre as duas variáveis, porém não foi estatisticamente

significante (p > 0,05).

68

A elevação de AST e ALT pode sugerir a presença de NASH, após

descartadas outras causas de doenças hepáticas. Vários estudos procuraram mostrar

a relação entre fibrose hepática e a elevação de transaminases. Verma et al. (2013)

desenvolveram uma investigação para determinar qual valor de ALT poderia indicar

com precisão a presença de NASH e fibrose avançada em pacientes com DHGNA.

Os pesquisadores avaliaram 222 pacientes através de biópsia hepática

atendidos no Centro Médico Universitário de Chicago. Cinquenta e seis (23%) tinham

ALT normal. Não houve diferença na taxa de fibrose avançada entre ALT normal e

elevada (26,8% vs 18,1%, p = 0,19). No entanto, uma porcentagem significativamente

menor no grupo ALT normal apresentou NASH em comparação com o grupo ALT

elevado (10,7% vs. 28,9%, p <0,01). Os autores concluíram que não há níveis ótimos

de ALT que possam prever com segurança a existência de NASH e fibrose avançada

e que fatores de risco metabólicos devem ser avaliados individualmente para

selecionar aqueles pacientes que se beneficiariam de uma biópsia hepática.

No nosso estudo, AST, ALT, fosfatase alcalina e GT revelam possuir

dependência estatística com fibrose hepática (estatística Q próxima de 0 e Valores-p

altos). Entretanto, somente AST demonstrou uma correlação baixa e estatisticamente

significativa com a fibrose (ρ = 0,373, Valor-p = 0,021).

Tabela 8: Correlação e Teste de Independência em relação a fibrose. *p < 0,05

Com relação à ferrocinética, de forma geral, aproximadamente um terço dos

pacientes com DHGNA apresentam sinais de alteração do metabolismo do ferro,

indicados pela elevação da ferritina sérica com saturação de transferrina normal ou

levemente aumentada, de acordo com Datz, Müller e Aigner (2017). Nosso estudo

apresentou prevalência de hiperferritinemia de 36,9%. Taxa próxima à relatada na

Literatura.

Variáveis Correlação de Spearman Teste Qui-quadrado ρ Valor-p Q Valor-p

AST 0,373 0,021* 9,670 0,139

ALT 0,179 0,282 10,680 0,298

FA -0,018 0,917 8,212 0,223

GT 0,159 0,354 4,636 0,591

69

Todavia, um inquérito europeu obteve índice inferior de ferritinemia. Buzzetti

et al. (2019) avaliaram 468 pacientes diagnosticados com DHGNA por biópsia

hepática em dois centros de referência em hepatologia do Reino Unido e da Itália. A

média de idade da população estudada foi de 47 anos e o IMC médio de 30,4 Kg/m².

A prevalência de hiperferritinemia foi de 26%. Nesse trabalho, houve menor

prevalência de comorbidades (dislipidemia, 68%, e diabetes, 29%) e de pacientes com

fibrose avançada (≥ F3, 19%), podendo justificar, em parte, a porcentagem mais baixa

de sobrecarga de ferro na população em questão.

5.5. Grau de fibrose à elastografia hepática transitória

Sessenta pacientes (72,2%) realizaram elastografia transitória para estimar

o grau de fibrose hepática. Destes, 21 não apresentaram fibrose detectável ao método

(F0), 13 eram portadores de fibrose Metavir F1, 12 com Metavir F2 e 7 com Metavir

F3. Em 7 pacientes, o exame elastográfico foi compatível com Metavir F4. Esses

resultados são expressos no gráfico 7.

Os dados mostram que aproximadamente 65% dos participantes da

pesquisa submetidos à elastografia apresentaram pelo menos um grau de fibrose

hepática. Quase 12% dos pacientes possuem cirrose hepática, caracterizada por

Metavir F4. Já 35% dos pacientes não exibiram fibrose hepática de acordo com o

FibroScan®.

Gráfico 7. Avaliação do grau de fibrose de acordo com a elastografia hepática transitória.

35%

21,7%

20%

11,6%

11,6%

GRAU DE FIBROSE HEPÁTICA À ELASTOGRAFIA TRANSITÓRIA

F 0F 1F 2F 3F 4

70

Lee et al. (2017) utilizaram a elastografia hepática transitória para estimar

o grau de fibrose na população coreana. Dos 1.178 portadores de DHGNA avaliados

pelo FibroScan®, somente 5,1% apresentaram fibrose grave, caracterizada por

rigidez hepática ≥ 8 kPa (compatível com fibrose ≥ F3). Já pacientes com fibrose

moderada (F2) representaram pouco mais da maioria dos casos (57,4%), enquanto

ausência de fibrose ou fibrose leve acometeram 37,4% dos indivíduos.

Os dados mostram que a população asiática em questão apresenta

significativamente menor taxa de fibrose hepática grave (F3 e F4) ao ser comparada

à nossa população (5,1% vs 23,2%). Esse fato pode estar associado, como

mencionado anteriormente, à menor incidência, no grupo coreano, de fatores

relacionados à rápida progressão da fibrose, como HAS, DM, IMC > 28 Kg/m² e maior

aumento de transaminases hepáticas.

O estudo de Cotrim et al. (2011) avaliou 1280 pacientes com DHGNA de

vários centros do Brasil. Desses, 437 foram submetidos à biópsia hepática. 31% dos

casos apresentaram NASH sem fibrose ao estudo histopatológico. Apesar de serem

métodos diferentes e a biópsia representar o padrão-ouro no diagnóstico de fibrose,

no nosso estudo, a porcentagem de pacientes sem fibrose hepática à elastografia foi

de 35%. Os resultados aproximados nos dois trabalhos sugerem que a elastografia

pode ser usada com segurança na avaliação de fibrose hepática em pacientes com

DHGNA.

Por fim, vale destacar que oito pacientes (9,6%) já se apresentaram à

consulta ambulatorial com cirrose hepática clinicamente diagnosticada, através de

anormalidades ao exame físico, alterações laboratoriais e ultrassonográficas. Esses

pacientes, por conseguinte, não foram submetidos à elastografia.

5.6. Limitações ao estudo

O presente estudo apresentou algumas limitações que influenciaram os

resultados. Pode-se citar a ausência de dados relacionados às alterações laboratoriais

e às características antropométricas de determinados pacientes. Nesse caso,

destaca-se a carência de reagentes para a realização de testes laboratoriais pelo

71

Hospital Geral de Fortaleza. Também vale ressaltar a falta de balança calibrada para

aferição do peso e da estatura dos pacientes em certos dias de atendimento

ambulatorial.

Desta forma, alguns pacientes não apresentaram todos os exames

laboratoriais do protocolo de pesquisa e também não puderam ter o IMC calculado,

gerando prejuízo, em números absolutos, aos resultados do estudo.

A indisponibilidade de elastografia hepática no próprio hospital contribuiu

para reduzir o número de pacientes que se submeteram ao exame, limitando os

resultados da pesquisa.

Sentimos falta de um grupo controle com pacientes saudáveis para

comparação com a população portadora de DHGNA e da biópsia hepática,

considerada padrão-ouro no diagnóstico de NASH. Tais fatores, certamente,

proporcionariam maior robustez aos resultados encontrados. Porém, a quantidade de

exames que teriam de ser solicitados em pacientes sem esteatose, à propósito da

pesquisa, iria gerar um custo inaceitável para o HGF.

72

6. CONCLUSÃO

Esse estudo contribuiu com informações importantes sobre as

características da DHGNA no estado do Ceará, especialmente, em Fortaleza. De

modo geral, do ponto de vista epidemiológico, diante dos dados avaliados na presente

pesquisa, concluímos que, em nosso serviço, a DHGNA prevaleceu em mulheres

obesas de meia-idade.

Por outro lado, pacientes com IMC normal, mas com circunferência

abdominal aumentada e portadores de comorbidades metabólicas, devem ficar alertas

pela possibilidade de apresentarem DHGNA. Em nosso estudo, a prevalência de

esteatose hepática em indivíduos magros foi superior à da população geral.

A DHGNA, em nosso meio, evidenciou sua íntima relação com a síndrome

metabólica, já que grande parte dos pacientes apresentou comorbidades relacionadas

a essa síndrome. Destaque para a dislipidemia que esteve presente em mais de 90%

da nossa população.

Dentre as anormalidades laboratoriais mais prevalentes, deve-se atenção ao

perfil glicêmico dos pacientes. A glicemia em jejum foi o teste mais alterado em nosso

estudo. Com relação às enzimas hepáticas, a fosfatase alcalina sobressaiu-se como

exame que mais apresentou valores acima da normalidade, seguida pelas

transaminases. Entretanto, apenas a AST mostrou ter correlação baixa e

estatisticamente significativa com fibrose hepática na nossa investigação.

Apesar de a nossa população exibir características clínicas favoráveis à

rápida progressão da doença hepática, aproximadamente três quartos dos pacientes

submetidos à elastografia transitória não apresentaram fibrose significativa (F3/F4).

Esses resultados indicam que uma atenção especial deve ser dispensada

aos nossos pacientes no sentido de monitorizar e corrigir os níveis glicêmicos e

lipêmicos elevados, além de estimular veementemente a perda de peso e hábitos

saudáveis de vida, uma vez que o DM e a obesidade configuram-se como importantes

fatores de progressão para formas graves de fibrose hepática em pacientes com

NASH.

73

Por fim, a tentativa de controle dos elementos metabólicos, aliada ao

tratamento farmacológico disponível atualmente, deve ser largamente oferecida aos

nossos pacientes, evitando que a DHGNA evolua para formas graves e letais de

doença hepática, como a cirrose descompensada e o CHC.

Novos estudos prospectivos e com maior número de participantes devem

ser realizados para ratificar os resultados aqui encontrados.

74

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84

APÊNDICE A

Protocolo de Pesquisa em DHGNA

Identificação

Nome:____________________________________________________________________________

Sexo: M ( ) F ( ) Idade:________ Prontuário:_______________

Dados Clínicos

Peso (Kg):______ Altura (m):_____ IMC (Km²):_____ Circunferência abdominal* (cm):____

Espectro da DHGNA: Esteatose simples ( ) NASH ( ) Cirrose hepática ( ) CHC ( )

Se cirrótico(a): Child:_________ Meld:_________

Comorbidades:

HAS ( ) DM ( ) Dislipidemia ( ) Obesidade ( ) DAC ( ) AVC ( )

Osteoporose ( ) Hipotireoidismo ( ) DRC ( )

Outras:___________________________________________________________________________

Usa medicamento que causa DHGNA ? Não ( ) Sim ( ) Qual ? ____________________

Exames complementares ( / / )

Hb:_______ AST:_____ α-fetoproteína:____ CT:________

Ht:_______ ALT:_______ TSH:_______ HDL:________

Leuco:_______ FA:________ T4 livre:________ LDL:_________

Plaquetas:________ Gt:______ Ureia:______ Triglicerídeos:_____

Ferritina:______ Bilirrubina total:_____ Creatinina:_______ Hb glicada:______

PCR:______ Bilirrubina direta:______ Ácido úrico:______ Insulina:_______

INR:______ Albumina:_______ Glicemia: ______ HOMA:_____

USG abdominal ( / / )_________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

Elastografia hepática ( / / ) F:___________ S:__________ CAP:________

Observações:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

*Não considerar em cirróticos Data:____/____/____ Ambulatório: Dr(a):___________

85

APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO O (a) senhor (a) está sendo convidado (a) para participar, de forma voluntária, da pesquisa intitulada Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica acompanhados no serviço de Gastroenterologia do Hospital Geral de Fortaleza, que está sob a responsabilidade do pesquisador Bhagavan de Castro

Coelho e tem como objetivo principal estudar os aspectos clínicos e epidemiológicos dos pacientes portadores de doença hepática gordurosa não alcoólica acompanhados na gastroenterologia do HGF. Para isso, precisamos que o (a) senhor (a) autorize, de forma livre e esclarecida, a coleta e a utilização de informações contidas em seu prontuário médico para preenchimento do nosso protocolo de pesquisa. Seus dados serão tratados de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os resultados divulgados em eventos e/ou revistas cientificas. Esta pesquisa poderá trazer o risco eventual de exposição da identidade do paciente e perda de documentos do prontuário. Para minimizar esse risco, o autor da pesquisa se compromete a zelar pelos dados coletados e pelo prontuário. Como benefício, o conhecimento do perfil clínico-epidemiológico da DHGNA em nosso meio pode guiar estratégias de tratamento para reduzir a probabilidade de evolução para formas graves e letais da doença. O (A) senhor (a) pode interromper o procedimento se assim desejar. A sua participação é de caráter voluntário, isto é, a qualquer momento o (a) senhor (a) pode desistir de participar e retirar seu consentimento, entrando em contato com a responsável pela pesquisa pelo telefone 85988837949. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição. O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) é formado de um grupo de profissionais de diversas áreas, cuja função é avaliar as pesquisas com seres humanos. O CEP foi criado para defender os interesses dos participantes da pesquisa e, também, dos pesquisadores. Qualquer dúvida ética o (a) senhor (a) poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Geral de Fortaleza, fone: 3101 7078. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é feito em duas vias, no qual o (a) senhor (a) terá uma via e não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras.

Fortaleza,_____de_________________de_____________ _________________________________________ Participante da pesquisa (Digitais caso não assine) _______________________________________ Pesquisador responsável pela coleta dos dados Rubrica:

86

ANEXO A

Valores de referência para exames laboratoriais, de acordo com o laboratório de

análises clínicas do Hospital Geral de Fortaleza (2019)

Exame Referência

Hb – Hemoglobina 11.5 a 15 g/dL

Ht – Hematócrito 36 a 47%

Leuco – Leucócitos 3.600 a 11.000/mm³

Plaq – Plaquetas 150.000 a 450.000/mm³

Ferritina Homens: 28 a 365 ng/mL Mulheres: 9 a 148 ng/mL

INR - International Normalized Ratio 1 a 1.3

AST – Aspartato aminotransferase 13 a 39 U/l

ALT – Alanina aminotransferase 7 a 52 U/l

FA – Fosfatase alcalina 34 a 104 U/l

GT – Gama glutamil transferase 9 a 64 U/l

Bilirrubina total 0 a 1.0 mg/dL

Bilirrubina direta 0 a 0.2 mg/dL

Albumina 3.5 a 5.7 g/dL

PCR – Proteína C reativa 0 a 3 mg/L

TSH – Hormônio tireoideoestimulante 0.4 a 4.0 uUI/mL

T4 livre – Tetraiodotironina livre 0.8 a 1.76 ng/dL

Ureia 15 a 43 mg/dL

Creatinina Homens: 0.7 a 1.3 mg/dL Mulheres: 0.6 a 1.1 mg/dL

Ácido úrico Homens: 4.4 a 7.6 mg/dL Mulheres: 2.3 a 6.6 mg/dL

α-fetoproteína 0-15 ng/mL

Colesterol total < 200 mg/dL

HDL – Lipoproteína de alta densidade > 40 mg/dL

LDL – lipoproteína de baixa densidade < 130 mg/dL

Triglicerídeos < 150 mg/dL

Hb glicada – Hemoglobina glicada 4.2 a 6.0%

Insulina Até 29.1 UI/mL

Índice de HOMA < 2.8

Glicemia 66 a 100 mg/dL

87

ANEXO B

Valores de referência para índice de massa corporal (IMC) e circunferência

abdominal, de acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade

e da Síndrome Metabólica (2016).

IMC (Kg/m²)

Classificação Obesidade grau Risco de doença

< 18,5 Magro ou baixo

peso 0 Normal ou elevado

18,5-24,9 Normal ou eutrófico

0 Normal

25-29,9 Sobrepeso ou pré-

obeso 0 Pouco elevado

30-34,9 Obesidade I elevado

30-39,9 Obesidade II Muito elevado

≥ 40,0 Obesidade grave III Muitíssimo elevado

Circunferência abdominal

Medidas de circunferência abdominal conforme a etnia (cm) para Homens (H) e

Mulheres (M):

Europídeos: ≥ 94 cm (H); ≥ 80 cm (M)

Sul-africanos, Mediterrâneo Ocidental e Oriente Médio: idem a europídeos

Sul-asiáticos e Chineses: ≥ 90 cm (H); ≥ 80 cm (M);

Japoneses: ≥ 90 cm (H); ≥ 85 cm (M)

88

ANEXO C

89

90