ESCOLA ESTADUAL BRASIL: ENTRE MEMRIAS E IMAGENS WILSON RICARDO ANTONIASSI DE ALMEIDA (UNESP RIO CLARO). RESUMO

Este trabalho retrata a histria da Escola Estadual BRASIL, instituio de ensino pblico mais antiga em funcionamento no municpio de Limeira, Estado de So Paulo. A ateno se concentra no estudo do processo educacional e a anlise do projeto pedaggico, relacionando aspectos relativos educao atravs de memrias (depoimentos) e imagens (fotografias). Os depoimentos e fotos revelam um conjunto de flagrantes de situaes do cotidiano escolar, descrevendo aspectos instigantes e a materialidade dos processos organizacionais e simblicos implicados neste contexto especfico, permitindo aos olhos de quem v as suas interpretaes. O recurso a depoimentos e s imagens deu-se atravs de um trabalho arqueolgico em arquivos e cartografia dos sentidos, compondo um tecido a partir do uso de duas linhas: a linha da diacronia e a linha da sincronia, o olhar sobre as imagens do presente se articulou com o olhar sobre o passado, construindo-se um dispositivo de interpretao das relaes entre a escola e o tempo. O debate sobre o sentido da escola para o momento em que vivemos ganha vigor quando sustentado por um vnculo com a materialidade de uma experincia, e a experincia de todos que se envolveram com a escola que trazida para este estudo. O percurso realizado pelo interior do territrio das imagens d as condies necessrias para desenhar o mapa dos sentidos da ao educacional e a viagem pela memria de muitos, atravs de relato de vrios episdios, permitindo reunir fragmentos de sentidos e afetos. A relao com a escola em um tempo mais imediato feito por meio de enfoque sincrnico, utilizando-se de anlises das mudanas ocorridas ao longo dos anos no processo educacional e na instituio escolar e refletindo sobre a funo da escola para o sculo XXI. Palavras-chave: Histria da educao, Escola, Memria.

1. ESCOLA ESTADUAL BRASIL Atualmente, a Escola Estadual BRASIL1 a instituio de ensino pblico mais antiga em funcionamento no municpio de Limeira, estado de So Paulo, j que o Grupo Escolar Coronel Flamnio Ferreira de Camargo2 encontra-se desativado. constituda por uma bela fachada, tendo sua frente o Largo Jos Bonifcio, com rea arborizada de 1.936,58 m2. Seus ptios e dependncias possuem uma rea de 7.159,00 m2, sendo desses, 2.423,90 m2

No decorrer dos anos, alm de transformaes fsicas, como a sua ampliao, com a construo de outro prdio e o crescimento das rvores que hoje praticamente escondem sua bela fachada, a clientela da escola tambm no mais a mesma. Devido a localizar-se no centro da cidade, em uma rea comercial e ao ensino de qualidade proposto pela escola, a procura de vagas grande, no entanto, a clientela que, anteriormente, situava-se circunscrita em bairros prximos escola, apresenta-se hoje muito dispersa, a maioria proveniente de

de rea construda e juntamente com o largo ocupam um quarteiro completo da cidade.

1 Segundo Grupo Escolar de Limeira. 2 Primeiro Grupo Escolar de Limeira.

inmeros bairros da cidade. Por isso, a clientela escolar bastante diversificada, oriunda de famlias, em sua maioria, de baixa renda familiar e de baixa escolaridade. A Escola Estadual BRASIL funciona em trs perodos, sendo o perodo da manh das 7h s 12h20min; perodo da tarde das 12h40min s 18h; perodo noturno das 19h s 23h, atendendo mais de 2400 alunos por ano e oferecendo as seguintes modalidades de ensino: Ensino Mdio Regular no perodo da manh; Ensino Fundamental no perodo da tarde e Ensino Mdio Regular e Educao de Jovens e Adultos no perodo noturno. Ao longo do tempo, esta escola consagrou-se numa instituio educacional de tradio, orgulho e de relevante importncia para o desenvolvimento da cidade, responsvel pela instruo e formao de vrias geraes de cidados. Contudo, mesmo diante do grande valor depositado a esse estabelecimento de ensino, constatou-se a ausncia de bibliografia referente a ele, pois a compreenso em relao a essa escola no passava muito alm de um passado recente at o presente momento, sendo inaceitvel o seu anonimato perante a sua sociedade. Em conseqncia dessa circunstncia, este trabalho teve como finalidade trazer tona o passado remoto e desconhecido desse educandrio, ou seja, registrar e apresentar a sua histria, relacionando-a a aspectos relativos educao e cidade. Esta histria foi contada pelas pessoas que tiveram suas prprias vidas em interao com a escola, abordando os mltiplos momentos dessa relao ao longo da existncia da instituio, a partir de lembranas e de fotografias dos acontecimentos contemporneos s suas vivncias, possibilitando reunir os fragmentos necessrios para descrever o cotidiano escolar por meio de relatos de muitos episdios. Essa juno de relatos e imagens fotogrficas proporcionou um conhecimento mais intimo da escola, no entanto, h muito ainda a ser desvendado, visto que o ento presente j se tornara passado.

2. MATERIAIS E MTODOS

Como recurso importante para a metodologia, de modo a reconstituir a histria dessa escola, fez-se a opo pelo estudo de imagens fotogrficas, pois elas, podem oferecer-nos uma viso histrica do meio e dos seus participantes (BOGDAN; BIKLEN, 1994: 184), remetendo a questes fsicas e simblicas caractersticas de cada perodo e revelando a diversidade de situaes do cotidiano escolar, permitindo anlises e reflexes. Alm disso, a fotografia uma fonte histrica e est sujeita s variveis tcnicas e estticas do contexto que as produziram, assim como das diferentes vises de mundo que concorreram no jogo das relaes sociais (GOMES, 2003). A fotografia oferece um registro restrito, no entanto poderoso das aes temporais e dos acontecimentos reais - concretos e materiais, tendo como aplicaes para a pesquisa a documentao da especificidade da mudana histrica e a realizao de sua leitura a fim de obter uma informao cultural-histrica (LOIZOS, 2002). Durante os momentos iniciais de investigao, a busca por fotografias e outros documentos deu-se a partir de um trabalho arqueolgico, por meio de visitas a arquivos: museu da cidade, arquivo municipal, imprensa do municpio e do prprio arquivo da escola, no entanto, verificou-se a escassez de material referente aos perodos mais antigos - a partir da dcada de 30 - j que o acesso fotografia era muito restrito para aquela poca. Isto implicou na deciso de recorrer tambm coleta de depoimentos de alunos e ex-alunos, professores e ex-professores e funcionrios e ex-funcionrios como outro meio para auxiliar na constituio da histria dessa escola que, devido ausncia de bibliografia, ela encontrava-se gravada apenas em fotos e nas lembranas dessas pessoas. O processo de coleta de depoimentos aconteceu por meio de garimpagem no arquivo da escola, e a partir de consulta aos livros de movimento - antigo livro ponto, livros de matrculas de alunos e de agendas de telefone, foram selecionados vrios nomes de ex-alunos, de ex-professores e ex-funcionrios dos diversos perodos ao longo da existncia da

instituio de ensino que, posteriormente, comearam a ser contatadas. A prioridade foi por pessoas que possuam, em seus arquivos familiares, fotos de alguma situao do cotidiano escolar, pois a partir delas pode-se recolher lembranas de suas relaes com a escola, assim como das situaes observadas nas fotos. Ocupando o lugar de um cartgrafo atento foi possvel registrar os sentimentos e emoes que emergiram durante essas recordaes. A utilizao de depoimentos, principalmente dos sujeitos presentes nas imagens fotogrficas, possibilitou contextualizar com maior riqueza as situaes nelas apresentadas, pois apenas o uso da fotografia mostrou-se insuficiente para fazer interferncias de carter histrico. A fotografia deve necessariamente ser associada a outros dados de pesquisa - depoimentos orais, documentos, mapas, dados bibliogrficos, alm de outras fotos - para que as informaes contidas possam ser visualizadas pelo pesquisador dentro de um contexto mais amplo, permitindo a ele explorar ao mximo os dados registrados naquele suporte fotogrfico (SIMSON, 1996). Dentre os sujeitos que contriburam para o registro dessa histria, estavam alunos e ex-alunos, professores e ex-professores, funcionrios e ex-funcionrios, sendo encontradas centenas de fotos e colhidos 89 depoimentos. Mereceu destaque o fato de que alguns ex-alunos, mais tarde, tornaram-se professores e funcionrios desta escola. Isto permitiu reportar a vises diversas do ambiente escolar, cada qual de acordo com sua situao perante a instituio. As fotos encontradas foram fotocopiadas e digitalizadas, para futura seleo e utilizao na pesquisa, tendo suas originais devolvidas a seus proprietrios. Os depoimentos transcorreram de forma no roteirizada, sendo uma parte gravada em udio e transcrita, principalmente daqueles mais idosos, e outra escrita pelo prprio depoente. Pode-se, desta forma, compor um tecido fazendo o uso de duas linhas: a linha da diacronia e a linha da sincronia. O olhar sobre as imagens fotogrficas do presente articulou-se com o olhar sobre o passado, e assim construiu-se um dispositivo de anlise das relaes entre a escola e o tempo. O percurso realizado pelo interior do territrio das imagens fotogrficas forneceu as condies necessrias para desenhar o mapa dos sentidos da ao educacional. A este esforo foi somado o registro de cenas das situaes mais diversas, formando um conjunto de flagrantes colhidos no cotidiano escolar, permitindo, aos olhos de quem v as suas interpretaes.

3. ENTRE MEMRIAS E IMAGENS A anlise de documentos e a leitura e a interpretao de fotografias e depoimentos possibilitaram expressar sentimentos, fatos e emoes, elaborando-se uma espcie de radiografia da escola, flagrada ao longo de sua existncia, utilizando-se de aspectos que caracterizam as relaes e situaes do ambiente escolar e do ensino. O pesquisador pode ocupar o lugar de cartgrafo na lida da investigao, assim como o leitor tambm poder acompanh-lo em um exerccio de mapeamento dos sentidos emergentes nos processos educacionais registrados pelas imagens fotogrficas e pelos testemunhos de pessoas que se envolveram com a escola. 3.1. Segundo Grupo Escolar de Limeira A constante evoluo do municpio no incio da dcada de 30, com o grande desenvolvimento do comrcio, das indstrias de mquinas de caf, arroz e outros produtos, bem como a expanso da produo de laranja, divulgou alm das fronteiras do municpio a fama de um grande progresso e qualidade de vida, atraindo famlias de vrias regies do Pas. Esta poca foi momento de orgulho para os limeirenses, porm no houve tempo para o crescimento proporcional de alguns setores como o da Instruo Primria. O Primeiro Grupo

Escolar de Limeira, no mais suportava tanta clientela, deixando de realizar vrias matrculas por falta de vagas. Devido ao fato, centenas de pais deixaram de matricular suas crianas. Por isso a populao reivindicava a criao de um segundo grupo escolar. Aps vrias solicitaes da populao juntamente com sua representante, a prefeita Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, Limeira conquistou o seu segundo grupo escolar, criado pelo Interventor Federal Interino do Estado, Marcio Pereira Munhoz, por decreto n. 6.708 de 28 de setembro de 1934, publicado no dia seguinte no Dirio Oficial do Estado, para ser instalado em 1935. No dia 4 de outubro de 1934, conforme ofcio n. 891 (Prefeitura Municipal de Limeira, de 3 de outubro de 1934), Limeira teve seu comrcio paralisado das 12h30min s 16h, para que toda sociedade limeirense pudesse participar das festividades de lanamento da primeira pedra do edifcio do Segundo Grupo Escolar, s 13 horas. Em 30 de outubro de 1934, o prefeito interino de Limeira, o professor Jos Marciliano da Costa Jnior, solicitou Secretaria de Educao e Sade Pblica do Estado providncias para a construo do Segundo Grupo Escolar, de modo que este fosse iniciado com brevidade, pois um grande nmero de crianas estava sem aceso instruo primria. Para abreviar a construo, a Prefeitura Municipal informou ao Governo do Estado que em Limeira havia pessoas interessadas na construo do prdio do Segundo Grupo Escolar, prontificando-se a inici-lo e a termin-lo, financiando para pagamentos a longo prazo e, tambm, alm de questes educacionais, a Prefeitura Municipal justificou que o incio das obras iria melhorar a prpria esttica urbana local. Em fevereiro de 1935, durante a gesto do prefeito municipal Gumercindo Godoy, nada ainda havia sido feito a no ser a demarcao do terreno onde seria construdo o novo prdio, e durante o restante daquele ano fora a nica ao feita, relativa construo do Segundo Grupo Escolar. Mesmo havendo pessoas dispostas a financiar a construo do Grupo Escolar, a fim de aumentar o acesso de crianas ao Ensino Primrio, questes polticas retardaram o incio e a concluso das obras. A partir do relato de Trajano de Barros Camargo Filho, filho da prefeita municipal da poca, Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, pode-se evidenciar essa situao:

[...] Diante disso, foi criado o Segundo Grupo Escolar de Limeira. Foi feita a concorrncia pblica e a firma que venceu a concorrncia estava aguardando o governo liberar as verbas para que o grupo escolar fosse construdo. Nesse tempo, a poltica contrria minha me, do Partido Republicano Paulista, do Major Levy, fez um artigo dizendo que esse Grupo s seria para os nossos netos. Minha me, em vista disso contatou a firma que havia vencido a concorrncia estabelecendo um acordo; de que iniciasse a construo do grupo escolar, que ela se responsabilizaria pelas despesas at que viesse a verba. Ento iniciou-se a construo do Grupo BRASIL. Assim foi a primeira fase do Grupo BRASIL; foi criada e iniciada a construo. Nesse perodo mudou o governador, saindo o Dr. Armando de Salles Oliveira e sendo nomeado, Adhemar Pereira de Barros, como Interventor do Estado, e como era muito amigo do Major Levy, atendeu a um pedido do Major e interrompeu sua construo. Mais tarde, ao fim da gesto de Adhemar Pereira de Barros e sendo nomeado outro interventor, a construo do grupo escolar foi retomada. O Grupo BRASIL teve essa fase inicial difcil, a diviso poltica era muito grande e minha me sempre atenta a esses problemas da cidade, conseguiu com que fosse construdo e transformado nesse belo estabelecimento que hoje [...] (Trajano de Barros Camargo Filho apud ALMEIDA, 2007: 27).

Finalmente, em 8 de maio de 1935 instalou-se o Segundo Grupo Escolar de Limeira, sendo realizadas as matrculas e o incio das aulas das primeiras turmas, porm os alunos estudariam em salas cedidas pelo Grupo Escolar Cel. Flamnio Ferreira de Camargo em seu terceiro perodo de aula. O estabelecimento de ensino constituiu-se inicialmente de dez classes, com um total de 381 alunos. E, posteriormente, tambm funcionou em mais salas cedidas pelo Colgio Santo Antonio, pois ainda no havia iniciado a obra de construo do grupo escolar. Essa situao perdurou at incio de 1939. O prdio do Segundo Grupo Escolar foi inaugurado solenemente em 7 de maio de 1939, durante a 1 Festa da Laranja, realizada em seu prdio no perodo de 7 a 14 de maio, promovida pelo Rotary Club de Limeira.

Figura 1. Primeira Festa da Laranja em 1939. Vista do Largo Jos Bonifcio a partir do Segundo Grupo Escolar e sua frente, a rua Dr. Trajano de Barros Camargo e a residncia da famlia Levy, local agora ocupado pelo supermercado Assai. Fonte: Almeida (2007: 33).

Recordo-me da 1 Festa da Laranja e havia esttua de dois homens, que representavam apanhadores de laranja, estando um de costas ao outro e frente de cada um, uma caixa de laranjas. Os festejos de inaugurao do Grupo Escolar BRASIL - Grupo Novo - ocorreram no transcurso dessa Festa da Laranja. Neste perodo, sim, se poderia chamar Limeira de Capital da laranja (Osvaldo Ernesto Felizi, aluno do 3 e 4 anos de 1939 e 1940 apud ALMEIDA, 2007: 34).

3.2. Primeiro dia de aula As aulas no prdio do 2 Grupo Escolar iniciaram apenas em maro de 1939, em meio s obras finais de concluso, pois o Colgio Santo Antonio seria reaberto e o 2 Grupo Escolar ficaria sem as salas que l ocupava. Alunos que iniciaram o Ensino Primrio em 1939 no Segundo Grupo Escolar, explicaram com detalhes onde foram seus primeiros dias de aulas:

Em 1939 comeamos a estudar no Clube dos Pretos - Grmio Recreativo Limeirense, prdio localizado na esquina entre as ruas Baro de Cascalho e Rua Tiradentes, pois o Grupo Escolar estava sendo construdo e o Colgio Santo Antonio3

tambm havia emprestado algumas salas e fomos para l. E quando aprontaram o poro do Grupo Escolar comeamos a estudar nele, mas as obras ainda continuaram. (Jorge Aliberti; Dirceu Messias de Menezes; Horcio Tetzner; Milton Ferrari; Lzaro de Oliveira Couto, alunos de 1939 a 1942 apud ALMEIDA, 2007: 30).

Jorge Aliberti estudou no prdio do Segundo Grupo Escolar de 1939 a 1940 e at hoje guarda com muito zelo e carinho todos os cadernos desse perodo, e por meio de um deles confirmou a data exata em que iniciaram as aulas nesse novo grupo escolar:

Os cadernos vinham de Rio Claro, os que voc no podia comprar, eles davam. No meu caderno do 1 ano est a data certinha e a fichinha que a prpria professora, Dona Cotinha - Maria Pinto Sampaio - fez quando comeamos a estudar no Grupo Escolar, pois apesar de estarmos estudando antes, s recebemos os cadernos quando o Grupo Escolar comeou a funcionar (Jorge Aliberti, aluno de 1939 a 1942 apud ALMEIDA, 2007: 31).

Figura 2. Primeira pgina do caderno de Caligrafia de Jorge Aliberti, constando a primeira atividade realizada por ele no 1 dia de aula no prdio do 2 Grupo Escolar. Observa-se no canto superior direito da pgina a data do 1 dia de aula dos alunos no grupo escolar: 20 de maro de 1939. Fonte: Almeida (2007: 31).

3 Local onde atualmente situa-se a Escola Estadual Professor Ely de Almeida Campos

3.3. Grupo Escolar BRASIL e demais denominaes

Figura 3. Grupo Escolar BRASIL, 1941. sua frente, o Largo Jos Bonifcio, composto naquela poca por apenas uma rvore, o que permitia visualizar com perfeio a sua fachada, que atualmente encontra-se escondida pelo bosque ali formado. Fonte: Almeida (2007: 35). Em 28 de fevereiro de 1941, o ento prefeito municipal Ary Levy Pereira, solicitou atravs do ofcio n. 5.078, ao secretrio da Educao e Sade Pblica do Estado, Sr. Dr. Mario Guimares de Barros Lins, que fosse dado ao Segundo Grupo Escolar de Limeira o nome de BRASIL, cujo ofcio apresenta-se transcrito a seguir:

A prefeitura Municipal de Limeira pede muito respeitosamente a Vossa Excelncia, a devida vnia para sugerir ou solicitar, seja dado ao Segundo Grupo Escolar desta cidade, o nome de BRASIL. Essa denominao, Excelentssimo Senhor Doutor Secretrio, viria como um complemento natural e grandioso, coroar a ao patritica deste poder pblico municipal, que j deu s suas escolas municipais os nomes de todos os Estados brasileiros, tendo recebido um grupo escolar municipal h pouco constitudo, o nome de SO PAULO. Aspirao natural, espontnea e ardente do povo limeirense, o nome de BRASIL seria um tributo a mais de civismo, erguido em honra de nossa Ptria pelos habitantes da Capital da Laranja, que assim, teriam um outro magnfico ensejo de ver exaltado na fachada desse grandioso estabelecimento educacional, como um incentivo e um floro de glria, o nome que simboliza todo um evangelho de luminosidade e esplendor. Agradeo penhoradamente a gentileza e a generosidade da boa acolhida sugesto ora apresentada, e valho-me do ensejo para me firmar com mxima estima, apreo e muito atenciosamente. (Copiador de Cartas e

Ofcios: Centro Municipal de Memria Histrica de Limeira apud ALMEIDA, 2007: 36-37).

Logo aps, em 27 de maio de 1941, por meio do decreto n. 11.987, o Segundo Grupo Escolar da cidade passou a denominar-se Grupo Escolar BRASIL. Em 1976, atravs da Resoluo S.E. n. 23/76, publicado no D.O.E. de 26/01/76, o Grupo Escolar BRASIL passa a ministrar o ensino de 1 grau at a 8 srie, sendo denominada de Escola Estadual de Primeiro Grau BRASIL - E. E. P. G. BRASIL. Em 1990, por meio da Resoluo S.E. 93/90, publicado no D.O.E. de 23/05/90, a escola passa a atender o ensino de 2 grau, sendo denominada de Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus BRASIL - E. E. P. S. G. BRASIL. Em 1999, de acordo com a Resoluo S.E. 37/99, publicado no D.O.E. de 24/04/96, a escola passa a denominar-se, simplesmente, Escola Estadual BRASIL - E. E. BRASIL, cujo nome prevalece at hoje. 3.4. Cotidiano escolar

Figura 4. Boletim de Balthazar da Silveira, 4 ano de 1939. Fonte: Almeida (2007: 55).

Relativo freqncia, tinha um boletim, a professora fazia a chamada e quem faltava, ela punha falta. No ms se tinha o comportamento, o comparecimento, aplicao e falta, a vinha o boletim e voc tinha que levar para o pai assinar; no outro ms a mesma coisa. [...] muito interessante esse mtodo, de levar para o pai ou a me assinar e no poderia levar de volta se no tivesse assinado, seno o filho no poderia

entrar na escola. Era um perodo severo, rigoroso, porm muito bom (Jorge Aliberti, aluno de 1939 a 1942 apud ALMEIDA, 2007: 56).

Figura 5. Professor Antonio Perches Lordello e sua turma de alunos do 4 Ano Masculino de 1940, na parte interna do Grupo Escolar. Da esquerda para a direita, de cima para baixo, esto: 2 fileira, Joo Batista Borrelli (9); 4 fileira, Osvaldo Ernesto Felizi (9). Fonte: Almeida (2007: 58).

Esta uma fotografia do Sr. Lordello com minha turma, todos com sapatos, o uniforme era uma camisa de manga curta branca, cala azul, meia branca e sapato, mas quando eu estava no outro Grupo, a minha turma ia descala, ento o governo obrigou os alunos a irem calados. Eu tinha um irmo que estava em ano anterior a mim e ns dividamos os mesmos sapatos. Eu ia com um p de sapato e outro descalo. Cantvamos o Hino Nacional. No 4 ano tnhamos aula de msica e at hoje eu sei as msicas que aprendi com o Sr. Lordello. O Sr. Lordello adorava msica e cantava o Hino Nacional. Reprovei o 1 ano e o 2 ano, porque eu era um pouco levado e a professora no gostava de mim, reprovou pra se vingar e a partir da fui para o 3 e o 4 ano e deslanchei, fiz o ginsio, o cientfico e nunca mais teve uma segunda poca. Era uma escola de alto nvel, bons professores e limpa, o diretor era uma autoridade. Minha classe era masculina. S tenho a dizer palavras de elogios do Grupo BRASIL e de todos os professores. O Grupo BRASIL foi um orgulho [...] (Joo Batista Borrelli, aluno do 4 ano de 1940 apud ALMEIDA, 2007: 61-62).

Figura 6. Certificado de concluso do 4 ano de Jorge Aliberti, 1942. Fonte: Almeida (2007: 65).

[...] Tnhamos aula de religio todos os sbados e no havia merenda; cada um levava a sua. Os pais faziam questo de ver as notas que a gente tirava no boletim. Quando recebi o diploma, chorei porque no iria mais ver meus amiguinhos. Mesmo com 78 anos de idade, eu ainda sinto saudade do Grupo BRASIL e de todas as professoras (Jorge Aliberti, aluno de 1939 a 1942 apud ALMEIDA, 2007: 65).

Figura 7. Professora Isabel Ribeiro e sua turma de alunas 1 ano Feminino de 1954. Fonte: Almeida (2007: 81).

No 1 e no 2 ano minhas classes eram mistas, mas havia duas carreiras de meninas e duas para meninos, no sentvamos misturados e no 3 e 4 ano no, eram separados os meninos das meninas. Mas para ns no fazia nenhuma diferena, a gente se respeitava. amos escola para estudar, no havia nada de paquera, esse agarra-agarra. Mesmo no intervalo, as meninas brincavam de um lado e os meninos do outro, no deixavam misturar, ningum nem podia chegar perto um do outro. Ficvamos separados, meninas poderiam brincar, mas com as meninas e os meninos com os meninos, era severo, a disciplina era tima. Para sair do recreio formava-se fila, para entrar tambm se formava. De manh, formava-se fila, tudo direitinho e comeava assim, o menor primeiro e ia subindo, o maior era o ltimo. Na fila j tinha a posio certa de cada um e a professora acompanhava at a entrada da classe. Para saber o momento de incio da aula havia um sino, quando batia o sino cada classe formava sua fila, cada uma no seu lugar determinado e o professor vinha e acompanhava at classe. Pra sair no, olhava no relgio e saa na hora certa, os alunos se enfileiravam no corredor e saam um atrs do outro, era bem organizado, no havia baderna (Jorge Aliberti, aluno de 1939 a 1942 apud ALMEIDA, 2007: 69).

4. CONSIDERAES FINAIS

O propsito fundamental durante o processo de registro dessa histria foi compreender e apresentar a Escola Estadual BRASIL de uma forma minuciosa, empenhando-se, inicialmente, em revelar a origem da escola e, posteriormente, a razo de sua denominao BRASIL. Certificando-se de sua origem e das razes de seu nome, os esforos foram

concentrados em interrog-la ao longo de todos esses anos, a fim de apresent-la a toda sociedade. A anlise de documentos e relatos e a interpretao das fotografias foram capazes de desvendarem muitas incgnitas e revelaram inmeras transformaes no processo educacional ao longo da existncia da escola. Agora, todo o histrico dessa instituio est registrado em imagens fotogrficas e na fala de alguns de seus sujeitos que vivenciaram cada momento e cada situao, desde sua origem, como tambm ao longo de sua existncia at os dias atuais. Se anteriormente no era conhecida suficientemente, hoje alm de todas essas informaes adquiridas, tornando-a mais ntima de sua sociedade, cada cidado poder aprender a admir-la e a respeit-la muito mais. Constituir o registro dos fatos dessa escola foi uma tarefa prazerosa, porm nada simples. Devido ausncia de fontes bibliogrficas, foi necessrio juntar a sua histria que estava fragmentada como um quebra-cabea em que cada pea estava representada por fotos e relatos de cada um dos integrantes desse jogo, e embora se tenha juntado um grande nmero de peas, este jogo ser contnuo, pois enquanto existir a Escola BRASIL, sempre surgir novas peas, ficando uma lacuna representando os eventos que ainda esto por virem.

5. REFERNCIAS ALMEIDA, W. R. A. Escola Estadual Brasil: entre memrias e imagens. Limeira: Expresso, 2007. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigao Qualitativa em Educao: uma introduo teoria e aos mtodos. Porto, Portugal: Porto Editora, 1994.

GOMES, L. C. G. A histria da educao atravs de imagens fotogrficas e outras fontes complementares: vrios espelhos de um mesmo objeto. Vrtices, Campos dos Goytacazes, RJ, CEFET Campos, v. 5, n. 2, p. 39-62, maio/ago. 2003.

LOIZOS, P. Vdeo, filme e fotografias como documento de pesquisa. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. (Ed.). Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som: um manual prtico. 5. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2002.p. 137-155. SIMSON, O. Som e imagem na pesquisa qualitativa em Cincias Sociais: reflexes de pesquisa. In: Anais do Seminrio Pedagogia da Imagem, imagem na Pedagogia, Niteri (RJ) UFF, Faculdade de Educao, 1996. p. 88-101.