DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO NAS PRÁTICAS DE...

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DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO NAS PRÁTICAS DE LEITURA: A PESQUISA–AÇÃO EM UMA TURMADE 5º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA JANE PEREIRA COSTA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS). Resumo O presente artigo contempla a abordagem da pesquisa do Mestrado em Educação Brasileira (2009–2011), no programa de pós–graduação em Educação pela Universidade Federal de Alagoas. Este trabalho de pesquisa na linha de Educação e Linguagem pretende fazer um diagnóstico nas práticas de leitura e a necessária intervenção pedagógica nessas práticas, na turma de 5º ano de uma escola pública. Essa pesquisa tem como objeto de investigação, a intervenção pedagógica no ato de ler. Desta forma, se fará uma elaboração sistematizada do diagnóstico, contribuindo para a promoção de práticas favorecedoras da compreensão da leitura pelo aluno. A fundamentação está pautada em Kato, Braggio, Silveira, Kaufman, Silva, Cagliari, Kleiman e Villard. Quanto à metodologia, o tipo de pesquisa será qualitativa, tendo como abordagem a pesquisa–ação. No tocante aos instrumentos de pesquisa para a coleta de dados, forma selecionados a entrevista individual estruturada e semi–estruturada, questionários, testes de compreensão de textos com os alunos e o teste Cloze. Estes elementos configuram uma pesquisa de mestrado voltada para uma preocupação maior da parte mestranda, a respeito dos alarmantes índices apontados nos exames de avaliação nacional em torno das habilidades de leitura dos alunos do Ensino Fundamental, situação que há décadas vem se traduzindo através dos índices de analfabetismo funcional e absoluto no Brasil. Palavras-chave: leitura, Diagnóstico, Intervenção. A leitura é considerada atualmente como uma ferramenta básica para que seja assegurada ao sujeito a sua formação sócio-cognitiva, permitindo desta forma a sua inclusão no mundo cultural. Os resultados dos exames de avaliação nacional do ensino, tais como SAEB[1] (2008), ENADE[2] (2008), PROVA BRASIL[3] (2008), entre outros, expõem um panorama adverso a esta inclusão, o que remete a estudos investigativos que contemplem uma nova visão dos processos cognitivos. As preocupações dos antigos pesquisadores dos séculos passados como Rousseau, considerado o precursor da educação moderna (Elias, 2006), Decroly e Freinet já demonstravam uma situação que exigia maiores reflexões no setor educacional; atualmente, mediante os avanços na área, os pesquisadores ainda se veem em meio a entraves quanto à formação docente e investimentos na área. Até a década de 1980, o foco na atividade de alfabetização privilegiava o método, não se falava ainda em processo e, desta forma, a leitura e a escrita eram objetos de instrução sistemática. O método sintético era predominante; paulatinamente, a concepção behaviorista de leitura foi sendo substituída por uma concepção interacionista. A partir da década citada, ao longo do tempo, essa concepção foi sendo substituída pela concepção sociopsicolingüística e com os avanços das

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DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO NAS PRÁTICAS DE LEITURA: A PESQUISA–AÇÃO EM UMA TURMADE 5º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA JANE PEREIRA COSTA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS). Resumo O presente artigo contempla a abordagem da pesquisa do Mestrado em Educação Brasileira (2009–2011), no programa de pós–graduação em Educação pela Universidade Federal de Alagoas. Este trabalho de pesquisa na linha de Educação e Linguagem pretende fazer um diagnóstico nas práticas de leitura e a necessária intervenção pedagógica nessas práticas, na turma de 5º ano de uma escola pública. Essa pesquisa tem como objeto de investigação, a intervenção pedagógica no ato de ler. Desta forma, se fará uma elaboração sistematizada do diagnóstico, contribuindo para a promoção de práticas favorecedoras da compreensão da leitura pelo aluno. A fundamentação está pautada em Kato, Braggio, Silveira, Kaufman, Silva, Cagliari, Kleiman e Villard. Quanto à metodologia, o tipo de pesquisa será qualitativa, tendo como abordagem a pesquisa–ação. No tocante aos instrumentos de pesquisa para a coleta de dados, forma selecionados a entrevista individual estruturada e semi–estruturada, questionários, testes de compreensão de textos com os alunos e o teste Cloze. Estes elementos configuram uma pesquisa de mestrado voltada para uma preocupação maior da parte mestranda, a respeito dos alarmantes índices apontados nos exames de avaliação nacional em torno das habilidades de leitura dos alunos do Ensino Fundamental, situação que há décadas vem se traduzindo através dos índices de analfabetismo funcional e absoluto no Brasil. Palavras-chave: leitura, Diagnóstico, Intervenção.

A leitura é considerada atualmente como uma ferramenta básica para que seja assegurada ao sujeito a sua formação sócio-cognitiva, permitindo desta forma a sua inclusão no mundo cultural. Os resultados dos exames de avaliação nacional do ensino, tais como SAEB[1] (2008), ENADE[2] (2008), PROVA BRASIL[3] (2008), entre outros, expõem um panorama adverso a esta inclusão, o que remete a estudos investigativos que contemplem uma nova visão dos processos cognitivos.

As preocupações dos antigos pesquisadores dos séculos passados como Rousseau, considerado o precursor da educação moderna (Elias, 2006), Decroly e Freinet já demonstravam uma situação que exigia maiores reflexões no setor educacional; atualmente, mediante os avanços na área, os pesquisadores ainda se veem em meio a entraves quanto à formação docente e investimentos na área.

Até a década de 1980, o foco na atividade de alfabetização privilegiava o método, não se falava ainda em processo e, desta forma, a leitura e a escrita eram objetos de instrução sistemática. O método sintético era predominante; paulatinamente, a concepção behaviorista de leitura foi sendo substituída por uma concepção interacionista. A partir da década citada, ao longo do tempo, essa concepção foi sendo substituída pela concepção sociopsicolingüística e com os avanços das

teorias, das ciências, como a psicologia, a sociologia, da lingüística, a educação foi passando por uma nova fase.

Estudos a respeito da psicogênese da língua escrita, do papel do interlocutor, das estratégias de leitura, têm oferecido uma compreensão acerca dos processos de apropriação do ato de ler e escrever. É reconhecível que a partir de estudos e discussões que originaram-se de reformas e mudanças ocorridas no setor educacional brasileiro nos últimos tempos e em conseqüência da atual legislação, em suma, da LDB 9394/96, que por sua vez, já completou mais de uma década, diga-se de passagem, vem se instaurando uma maior flexibilização do ensino e mais autonomia às escolas, possibilitando um processo de mudanças, cabendo a todos os envolvidos no processo educativo uma abertura em suas práticas para a devida revisão de seus conceitos.

1- A UTILIDADE DA PESQUISA DE INTERVENÇÃO:

No tocante à definição do objeto desta pesquisa, sabe-se que as séries iniciais do Ensino Fundamental têm como atividades norteadoras as atividades de linguagem, ou seja, leitura e escrita. Embora estejam entrelaçadas, cada qual tem suas especificidades, seus pormenores. É objeto desta pesquisa, a intervenção pedagógica de leitura para o diagnóstico e avanço do nível de inferências feitas pelos alunos no processamento do ato de ler, considerando que tal ação, requer um bom planejamento didático de intervenção, que indispensavelmente inclui nas atividades de leitura um trabalho seletivo com os gêneros textuais. É neste ponto que o presente projeto de pesquisa também irá se deter.

Presencia-se casos de inabilidades de leitura nas turmas de 4ª séries ou 5º ano, queixas dos professores quanto a " desinteresse", "incapacidades", "analfabetismo", "distorção idade-série". Na verdade, fazendo uma leitura adequada da situação, o problema está mais na didática da leitura para desenvolver no aluno o gosto pela ato de ler e na escassez de conhecimentos acerca das estratégias de leitura, por parte do professor, para compreender como este ato de ler se processa, que mesmo no aluno.

O uso de instrumentos de pesquisa se dará através de entrevistas com professor e alunos e também fazendo uso de demais instrumentos com os alunos através de questionários, testes de compreensão, diário de campo, teste Cloze, análise de relatórios, etc.

É fundamental considerar que oportunizando situações onde o professor seja melhor capacitado, seja através de sua formação continuada, em momentos de reflexão em grupo, de oficinas de leitura ou mesmo em áreas específicas do conhecimento, o docente estará bem mais capacitado para o enfrentamento dos constantes desafios de sala de aula, em particular dos desafios na aquisição de habilidades de leitura pelos alunos. Conseqüentemente, serão os próprios alunos os maiores beneficiados.

2- O APARATO TEÓRICO:

Para a estruturação de uma base teórica que contemple uma investigação acerca da capacidade do ato de ler, se faz necessário que esta investigação esteja pautada

em conhecimentos teóricos relacionados à alfabetização, linguística, aos gêneros e tipologias textuais, estratégias e aos processos de leitura - abordando, inclusive, as diversas maneiras possíveis para desenvolver no aluno o gosto ou o hábito da leitura.

A presente pesquisa está fundamentada nos seguintes autores:

A abordagem em torno de sequências didáticas ou projeto didático, contempla estudos de Silva (2003) em torno da questão:

"Nesta vertente do processo do planejamento, é importante destacar a diversidade de configurações textuais que circulam em sociedades e que por isso mesmo, são importantes de serem contempladas durante a montagem de unidades de leitura. Cabe sempre lembrar que uma das competências básicas de leitura é exatamente saber diferenciar essas configurações no sentido de estabelecer os propósitos e acionar as habilidades para a sua leitura." (p.32)

Estes conhecimentos são fundamentais não apenas para os professores das séries iniciais, mas para todos aqueles que trabalham com o ensino da língua materna, em particular, para os professores das escolas públicas, onde se defronta com maior incidência na distorção idade- série.

Soares (2006) faz uma explicitação dos conceitos de alfabetização e do letramento, necessários ao presente estudo, destacando conceitos como analfabeto, alfabetizado e letrado. Para esta pesquisadora, o analfabeto está limitado a não saber ler e a não escrever; o alfabetizado é aquele que faz uso da leitura e da escrita, simplesmente; e o letrado, que envolve-se nas práticas sociais da atividade de leitura e escrita, tendo uma outra condição sócio-cultural, sem ter que mudar de classe social obrigatoriamente, passa a se relacionar com os bens culturais, sem perder sua identidade, suas origens.

Para a autora em questão, o ato de ler envolve habilidades e comportamentos que vão desde decodificar sílabas ou palavras, até mesmo ler um romance longo, enquanto o ato de escrever se estende desde o registro do próprio nome à capacidade de escrever uma tese de mestrado ou doutorado. Logo, para Soares, há diferentes níveis de letramento, que dependem das necessidades, das demandas individuais e do meio sócio-cultural.

Com referência a Silveira (2005), neste estudo se fará uma explanação a respeito das estratégias de leituras difundidas por Goodman, cuja argumentação se faz necessária ao presente projeto de pesquisa. A autora destaca o papel das estratégias de leitura como um dos elementos para que o leitor ou o aluno se caracterize como um bom leitor, ou seja, um leitor proficiente. A pesquisadora citada destaca as estratégias básicas de leitura da seguinte forma:

[...] a predição, que é a capacidade de o leitor antecipar-se ao texto à medida que vai processando a sua compreensão; a seleção, ou seja, a habilidade de selecionar apenas os índices que são relevantes à sua compreensão e propósito (...), a inferência, através da qual o leitor completa a informação, utilizando a sua

competência lingüística, o seu conhecimento conceptual e os esquemas que estão em sua mente; a confirmação, que é utilizada para verificar se as predições estão certas ou precisam ser reformuladas e, finalmente, a correção, ou seja, uma vez não confirmada a predição, o leitor levanta outras hipóteses e busca outras pistas, sempre na tentativa de encontrar sentido no que lê (p.30).

O que remete a um breve estudo acerca das técnicas de leitura, que colaboram para o uso satisfatório das estratégias de leitura, são as técnicas de skimming, scanning,leitura detalhada, levantamento das idéias centrais e leitura crítica, muito utilizadas em programas de leitura em línguas estrangeiras.

Para este lingüista, o processo de leitura se destaca como um ato que exige contribuição do leitor, seja através de seus conhecimentos prévios ou de suas estratégias, do escritor e do texto para que ocorra uma compreensão de como ele se processa, destacando assim que a capacidade do leitor é determinante para o êxito do processo. Onde se deve incluir o propósito do leitor, a cultura social, o conhecimento prévio, o controle lingüístico, a atitudes e os esquemas conceptuais.

Neste parecer, a leitura passa por um processo que envolve vários ciclos, passando pelos ciclos óptico, perceptual, gramatical e, finalmente, pelo ciclo de significado; à medida que há avanços no processamento da leitura, ocorrem outros ciclos e assim por diante, até a conclusão da leitura.

Braggio (1992) também oferece uma contribuição pertinente à fundamentação desta pesquisa, com seus estudos envolvendo a concepção sociolingüística, defendida por Goodman, sobre o processo de leitura e alfabetização. Por esta razão, a definição da base teórica desta pesquisa também contempla os estudos de Braggio.

Vale ressaltar que, segundo a autora, as atividades de leitura e escrita são vistas como a contraparte do falar em relação à escrita, onde escritor e leitor se encontram através da transação[4] com o texto em um determinado contexto e com intenções específicas (p.71), sendo também o ato da leitura ou da escrita, um processo unitário, ele é também flexível, pois varia conforme o objetivo do escritor ou do leitor, a capacidade de proficiência, a visão de mundo - o contexto sócio-histórico, enfim. Braggio destaca que, conforme o modelo sociolingüístico de leitura desenvolvido por Goodman, a leitura eficiente está atrelada às habilidades na seleção dos aspectos mais relevantes, ou produtivos, importantes na produção e teste das hipóteses sobre a escrita. O processo transacional da leitura é estendido como uma aglutinação de três sistemas lingüísticos de que o leitor procura fazer uso, são eles: grafofônico, o sintático e o semântico. À medida que o leitor vai se apropriando destes sistemas, ele estará desenvolvendo a habilidade da leitura, pois está pondo em uso seus esquemas.

Desta forma, a pesquisadora em foco esclarece questões que perpassam o processo transacional de leitura, como também, amplia conceitos em torno das estratégias cognitivas, destacando a estratégia de iniciação, mapeamento e seleção, inferência, predição, confirmação e não-confirmação, correção e terminação, somando conhecimentos pertinentes ao presente estudo investigativo.

Braggio (1992) ressalta a importância do objetivo e da intenção do leitor no momento da leitura, o que deveria despertar a atenção de professores para que observassem o seguinte:

No caso da leitura ser, por exemplo, requerida por um professor cuja intenção seja a de testar o conhecimento do aluno, a intenção do aluno pode diferir da do professor e afetar fortemente a compreensão. Isto ocorre [...] quando se avalia a leitura com foco na compreensão (comprehension), tomada esta como produto final do ato de leitura e não sobre o compreender (comprehending) o processo da leitura, o qual, como se viu, pode ser mudado durante o ato da leitura, através do uso das estratégias cognitivas apontadas por Goodman.(p.72-3)

É nisto que muitos colegas de profissão divagam, certamente por falta de conhecimentos ou de um bom acervo de gêneros textuais nas escolas. Segundo Braggio, é a partir da aplicação da visão transacional de leitura, ou seja, sociopsicolingüística, que contextos de linguagem voltados para a repetição e memorização serão abolidos das atividades de leitura, conferindo espaço para textos significativos, ou melhor, efetivos.

Cagliari (1999), com suas pesquisas na área de lingüística, oferece uma fundamentação pertinente ao presente trabalho de pesquisa, fornecendo conhecimentos em torno da leitura, definindo a sua utilidade da seguinte forma "A leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer diploma"(p.148).Esta afirmativa traduz com exatidão o valor do aprendizado da leitura na vida de qualquer pessoa; é ela que confere ao aprendiz a capacidade do conhecimento.

Este lingüista destaca tipos de leitura, como a leitura oral, no caso de contar história, por exemplo, como um processo de leitura recíproca, ou seja, que o outro "lê" o texto "ouvindo", sendo este o primeiro contato que as crianças mantêm com a leitura; da mesma forma, o que é ouvido através da TV ou rádio constituem leituras, concorrendo para que as crianças que têm esta experiência possam adquirir maiores possibilidades na vida escolar. Quanto ao outro tipo de leitura exposto pelo pesquisador citado, a leitura silenciosa visual, esta foi dominante durante um bom tempo, porém, dependendo do texto, este tipo de leitura nem sempre é o mais adequado, apesar de sua grande importância para a maioria das pessoas, por oferecer maior reflexão ao leitor.

Conforme Cagliari (1999), o uso do tipo de leitura mais comum é a visual silenciosa e a menos usual é a oral pública, sendo esta necessária para o desenvolvimento de uma boa leitura. É interessante destacar o pensamento deste lingüista quando ele levanta a seguinte questão:

Será que se pode aprender a ler antes de aprender a escrever? Será que se pode aprender a ler sem aprender a escrever? Sem dúvida; aliás, aprender a ler é mais fácil do que aprender a escrever. Uma criança pode começar ouvindo histórias, aprendendo a decifrar os sons das letras (no seu dialeto e no da escola) em diversos contextos (palavras diferentes), e se pôr a ler pequenos textos de cujo

contexto já tem conhecimento ( já ouviu) ou que sabe de cor, como canções, provérbios, adivinhações, etc. Se esse tipo de atividade for intensificado, a criança passa a ter um outro tipo de contato com a escrita, que não é simplesmente jogo de montar e desmontar sílabas e palavras. ( p. 168)

Pelo exposto, nota-se que a dificuldade nas atividades de leitura está na carência na adoção de gêneros textuais, que mesmo na capacidade do aluno, necessitando que o ato de ler seja prazeroso, constante, pois a leitura se destaca como uma habilidade que precede a escrita. Daí a necessidade de maior estímulo à leitura no processo de alfabetização, ou nas séries iniciais. Cabe às escolas repensar seus espaços físicos de biblioteca ou sala de leitura e ainda as salas de aula enquanto espaços de desenvolvimento prioritário de leitura, fornecendo aos alunos os recursos materiais ao ato de ler, através de bons livros, bons gêneros textuais.

É valioso destacar o pensamento de Kleiman (2002:83), coerente com esta pesquisa, quando ela destaca a construção de sentido do texto, pois este ponto remete às habilidades lingüísticas e à compreensão global, que estão relacionados com os fatores de capacidade para perceber a estrutura do texto ou construí-la, a capacidade para perceber a intenção do autor e a capacidade para interpretar o texto e a capacidade para interpretar o texto com as próprias palavras, ou seja, fazer paráfrases, respondendo a perguntas sobre ele, fazer um resumo, enfim. Isto confere ao leitor, ou aluno, uma compreensão global sobre o texto.

Vale destacar também que quando o aluno tem algum conhecimento a respeito do tema, isto já lhe favorece, tornando o texto mais simples e o conhecimento sobre ele mais familiar. No caso do gênero textual, por exemplo, quanto mais diversificado o contato desses alunos com os gêneros, através dos textos narrativos, expositivos e descritivos, melhor ele conhecerá a estrutura desses textos, facilitando, conseqüentemente, a sua percepção quanto às relações entre a informação e a estrutura de um texto e efetivando a capacidade ou a proficiência enquanto leitor, à medida que seus conhecimentos vão se ampliando, permitindo que ele possa exercer maior interação com os textos de estruturas mais complexas.

Estes conhecimentos são fundamentais não apenas para os professores das séries iniciais, mas para todos aqueles que trabalham com o ensino da língua materna, em particular para os professores das escolas públicas, onde se defronta com maior incidência na distorção idade- série.

3- DIRETRIZES NORTEADORAS:

Para a realização da coleta de dados serão estabelecidos como instrumentos a entrevista individual estruturada e semi-estruturada envolvendo professor colaborador e alunos, questionários para cruzamento das falas, testes de compreensão de texto com alunos, aplicado de modo mais aprofundado, utilizando-se de aparelho de gravação, fazendo uso também, de pesquisa bibliográfica e em alguns momentos, da webgráfica, análise de relatórios, o teste Cloze, que se trata de uma técnica anglo-saxônica, com texto para complementação, favorecendo a

avaliação e o desenvolvimento da compreensão do aluno no ato de ler, notas de campo ou registros de campo.

O instrumento de entrevista auxiliará os grupos de observação (pesquisador e participantes comuns) na socialização de idéias, dúvidas, novos encaminhamentos e superação de possíveis entraves ao desenvolvimento da pesquisa. No caso da entrevista individual, ela possibilita ao pesquisador uma maior intervenção quanto à formação e atuação pedagógica dos participantes comuns, no caso professor ou mesmo coordenador pedagógico, ou ainda direção escolar.

THIOLLENT (2007) expõe o seguinte a respeito do instrumento de entrevista, enquanto coleta de dados:

"Na concepção de roteiros de entrevistas, questionários ou de outros instrumentos de coleta de dados, em pesquisa alternativa, sempre se coloca a questão do papel atribuído aos elementos explicativos associados à obtenção de informação esclarecida por parte dos respondentes. Consideramos que tais elementos não visam orientar as respostas em função das expectativas dos pesquisadores e sim descondicionar as pessoas para que não respondam apenas com "facilidade", isto é, como se a sua resposta fosse um simples reflexo de senso comum ou dos efeitos do condicionamento pelos meios de comunicação de massa. As "explicações" são sugeridas aos respondentes para que tenham um papel ativo na investigação. As "explicações consistem em sugerir comparações ou outros tipos de raciocínios não-conclusivos que permitam aos respondentes uma reflexão individual ou coletiva a respeito dos fatos observados e cuja interpretação é objeto de questionamentos". (p. 70)

Os dados significativos apresentados na pesquisa, desde as entrevistas iniciais ao desenvolvimento de uma unidade didática em conjunto com os participantes, agregando-se ainda o levantamento final das habilidades de leitura da turma de 3ª série envolvida, irão formatar a estruturação de gráficos inicial e final das habilidades de leitura dos alunos das referidas séries, a fim de estabelecer uma análise dos avanços alcançados a partir da aplicação de um trabalho de intervenção pedagógica, através de uma pesquisa qualitativa, no contexto escolar, através de parceria escola e universidade. Finalmente, a estruturação de um texto dissertativo, contemplando a análise do processo desta pesquisa-ação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Sabe-se que os desafios são variados no enfrentamento das dificuldades de leitura na sala de aula, porém, é preciso traçar diretrizes, desenvolver projetos que envolvam ações coletivas, integradoras; acreditando que numa perspectiva de pesquisa-ação, onde os envolvidos têm papéis a desenvolver, não mais permanecendo na condição de expectador, é preciso reverter o atual quadro da educação brasileira, onde segundo o SAEB (2008), os alunos estão cada vez menos habilidosos no ato de ler, pois, entre outras questões, o hábito de ler ainda não está constituído no dia-a-dia do aluno.

De forma mais restrita, atendo-se ao ambiente escolar de sala de aula, vê-se que o professor está sempre buscando idéias, caminhos, atividades que o ajudem a desenvolver, a estimular em seus alunos o tal "hábito" ou "gosto" de ler, porém, o processo na verdade, é complexo; não bastam algumas ações, mas um conjunto de ações, que de forma integradora, como já foi dito, permitirão um maior domínio de conhecimentos a nível de intervenção docente na produção de leitura de seus

alunos. Desta forma, acredita-se que o professor possa atingir o alvo certo, ou seja, as dificuldades ou limitações do aluno no processamento da leitura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRAGGIO, Sílvia Lúcia Bigonjal. O Modelo Sociopsicolingüístico de Leitura.In:___Leitura e Alfabetização: da concepção mecanicista à sociopsicolingüística. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.p.p.68-82.

CAGLIARI, Luiz Carlos. A Leitura. In:___Alfabetização e Lingüística. 10ª ed. São Paulo: Scipione,1999.p.p.147-176.

CHIZZOTTI,Antonio. Pesquisa Qualitativa. In: ___Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais.8ª ed. São Paulo: Cortez,2006.

DIONÍSIO, Ângela Paiva et al. Gêneros Textuais e Ensino. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna,2003

ELIAS, Marisa Del Cioppo. Recuperando Rousseau. In:___De Emílio a Emília: a trajetória da alfabetização. 4ª ed. São Paulo: Scipione, 2006.p.p.-15-53.

GOODMAN, Kenneth S. O Processo de Leitura: Considerações a respeito das línguas e do desenvolvimento. In: O Processos de Leitura e de Escrita: novas perspectivas. Org. FERREIRO, Emília &PALACIO, Margarida Gómez, Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.p.p.11-68.

KAUFMAN, Ana Maria & RODRIGUEZ, Maria Elena. Rumo a uma Tipologia Textual.

In:___Escola, Leitura e Produção de Textos. Porto Alegre: Artmed, 1995.p.p.11-19.

KLEIMAN, Angela. Oficina de Leitura: teoria e prática. 9ª ed.Campinas, SP: Pontes, 2002.

LÜDKE, Menga & ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas.São Paulo: EPU, 1986.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Unidades de Leitura.Trilogia Pedagógica. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.

SILVEIRA, Maria Inez Matoso. Estratégias de Leitura. In: ___Modelos Teóricos e Estratégias de Leitura_ suas implicações no ensino. Maceió: Edufal, 2005.p.p.65-87.

SOARES, Magda. O que é Letramento e Alfabetização.In:___Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica. 2006.p.p.27-60.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação. 15ª ed. São Paulo: Cortez, 2007.

VILLARD, Raquel. Ensinando a Gostar de Ler e Ensinando Lectores para a Vida Inteira. RJ: Dunya. 1999.

[1] Sistema de Avaliação da Educação Básica

[2] Exame nacional do desempenho dos Estudantes

[3] Avaliação de leitura e matemática para 4ª e 8ª série ou 5º e 9º ano e ainda 3º ano de Ensino Médio de escolas públicas.

[4] Expressão defendida por Goodman (1984).

DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO NAS PRÁTICAS DE LEITURA: a pesquisa-ação em uma turma de 5º ano de uma escola pública

Jane Pereira Costa

Universidade Federal de Alagoas Programa de Pós-graduação em Educação-PPGE

Mestranda em Educação Brasileira

RESUMO:

O presente artigo contempla a abordagem da pesquisa do Mestrado em Educação Brasileira (2009-2011), no programa de pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Alagoas. Este trabalho de pesquisa na linha de Educação e Linguagem, pretende fazer um diagnóstico nas práticas de leitura e a necessária intervenção pedagógica nessas práticas, na turma de 5º ano de uma escola pública. Essa pesquisa tem como objeto de investigação, a intervenção pedagógica no ato de ler. Desta forma, se fará uma elaboração sistematizada do diagnóstico, contribuindo para a promoção de práticas favorecedoras da compreensão da leitura pelo aluno. A fundamentação está pautada em Kato, Braggio, Silveira, Kaufman, Silva, Cagliari, Kleiman e Villard. Quanto à metodologia, o tipo de pesquisa será qualitativa, tendo como abordagem a pesquisa-ação. No tocante aos instrumentos de pesquisa para a coleta de dados, forma selecionados a entrevista individual estruturada e semi-estruturada, questionários, testes de compreensão de textos com os alunos e o teste Cloze.Estes elementos configuram uma pesquisa de mestrado voltada para uma preocupação maior da parte desta mestranda, a respeito dos alarmantes índices apontados nos exames de avaliação nacional em torno das habilidades de leitura dos alunos do Ensino Fundamental, situação que há décadas vem se traduzindo através dos índices de analfabetismo funcional e absoluto no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: leitura – diagnóstico – intervenção

INTRODUÇÃO:

A leitura é considerada atualmente como uma ferramenta básica para que seja

assegurada ao sujeito a sua formação sócio-cognitiva, permitindo desta forma, a sua

inclusão no mundo cultural. Os resultados dos exames de avaliação nacional do ensino tais

como SAEB1 (2008), ENADE2 (2008), PROVA BRASIL3 (2008), entre outros, expõem

1 Sistema de Avaliação da Educação Básica 2 Exame nacional do desempenho dos Estudantes

um panorama adverso a esta inclusão, o que remete a estudos investigativos que

contemplem uma nova visão dos processos cognitivos.

As preocupações dos antigos pesquisadores dos séculos passados como Rousseau,

considerado o precursor da educação moderna (Elias, 2006), Decroly e Freinet já

demonstravam uma situação que exigia maiores reflexões no setor educacional; e

atualmente, mediante os avanços na área, os pesquisadores, ainda se vêem em meio a

entraves quanto à formação docente e investimentos na área.

Até a década de 1980, o foco na atividade de alfabetização privilegiava o método,

não se falava ainda em processo e desta forma, a leitura e a escrita eram objetos de

instrução sistemática. O método sintético era predominante; paulatinamente, a concepção

behaviorista de leitura foi sendo substituída por uma concepção interacionista. A partir da

década citada, ao longo do tempo, essa concepção foi sendo substituída pela concepção

sociopsicolingüística e com os avanços das teorias, das ciências, como a psicologia, a

sociologia, da lingüística, a educação foi passando por uma nova fase.

Estudos a respeito da psicogênese da língua escrita, do papel do interlocutor, das

estratégias de leitura, têm oferecido uma compreensão acerca dos processos de apropriação

do ato de ler e escrever. È reconhecível que a partir de estudos e discussões que

originaram-se de reformas e mudanças ocorridas no setor educacional brasileiro nos

últimos tempos e em conseqüência da atual legislação, em suma, da LDB 9394/96, que por

sua vez, já completou mais de uma década, diga-se de passagem, vem se instaurando uma

maior flexibilização do ensino e mais autonomia às escolas, possibilitando um processo de

mudanças, cabendo a todos os envolvidos no processo educativo uma abertura em suas

práticas para a devida revisão de seus conceitos.

3 Avaliação de leitura e matemática para 4ª e 8ª série ou 5º e 9º ano e ainda 3º ano de Ensino Médio de escolas públicas.

1- A UTILIDADE DA PESQUISA DE INTERVENÇÃO:

No tocante à definição do objeto desta pesquisa, sabe-se que as séries iniciais do

Ensino Fundamental têm como atividades norteadoras, as atividades de linguagem, ou

seja, leitura e escrita. Embora estejam entrelaçadas, cada qual, tem suas especificidades,

seus pormenores. É objeto desta pesquisa, a intervenção pedagógica de leitura para o

diagnóstico e avanço do nível de inferências feitas pelos alunos no processamento do ato

de ler, considerando que tal ação, requer um bom planejamento didático de intervenção,

que indispensavelmente inclui nas atividades de leitura, um trabalho seletivo com os

gêneros textuais. É neste ponto que o presente projeto de pesquisa também irá se deter.

Presencia-se casos de inabilidades de leitura nas turmas de 4ª séries ou 5º ano,

queixas dos professores quanto a “ desinteresse”, “incapacidades”, “analfabetismo”,

“distorção idade-série”. Na verdade, fazendo uma leitura adequada da situação, o problema

está mais na didática da leitura para desenvolver no aluno o gosto pela ato de ler e na

escassez de conhecimentos acerca das estratégias de leitura por parte do professor, para

compreender como este ato de ler se processa, que mesmo no aluno.

O uso de instrumentos de pesquisa se dará através de entrevistas com professor e

alunos e também fazendo uso de demais instrumentos com os alunos através de

questionários, testes de compreensão, diário de campo, teste Cloze, análise de relatórios,

etc.

È fundamental considerar que oportunizando situações onde o professor seja melhor

capacitado, seja através de sua formação continuada, em momentos de reflexão em grupo

ou de oficinas de leitura ou mesmo em áreas específicas do conhecimento, o docente estará

bem mais capacitado para o enfrentamento dos constantes desafios de sala de aula, em

particular, dos desafios na aquisição de habilidades de leitura pelos alunos.

Conseqüentemente, serão os próprios alunos os maiores beneficiados.

2- O APARATO TEÓRICO:

Para a estruturação de uma base teórica que contemple uma investigação acerca da

capacidade do ato de ler, se faz necessário que esta investigação esteja pautada em

conhecimentos teóricos relacionados à: alfabetização, lingüística, aos gêneros e tipologias

textuais, estratégias e aos processos de leitura. Abordando inclusive, as diversas maneiras

possíveis para desenvolver no aluno o gosto ou o hábito da leitura.

A presente pesquisa está fundamentada nos seguintes autores:

A abordagem em torno de seqüências didáticas ou projeto didático, contempla

estudos de Silva (2003, p.27) em torno da questão:

“Nesta vertente do processo do planejamento, é importante destacar a diversidade de configurações textuais que circulam em sociedades e que por isso mesmo, são importantes de serem contempladas durante a montagem de unidades de leitura. Cabe sempre lembrar que uma das competências básicas de leitura é exatamente saber diferenciar essas configurações no sentido de estabelecer os propósitos e acionar as habilidades para a sua leitura.”

Estes conhecimentos são fundamentais não apenas para os professores das séries

iniciais, mas para todos aqueles que trabalham com o ensino da língua materna, em

particular, para os professores das escolas públicas, onde se defronta com maior incidência

na distorção idade- série.

Soares (2006), faz uma explicitação dos conceitos de alfabetização e do letramento,

necessários ao presente estudo, destacando conceitos como analfabeto, alfabetizado e

letrado. Para a tal pesquisadora, o analfabeto está limitado a não saber ler e a não escrever;

o alfabetizado, é aquele que faz uso da leitura e da escrita, simplesmente; e o letrado, que

envolve-se nas práticas sociais da atividade de leitura e escrita, tendo uma outra condição

sócio-cultural, sem ter que mudar de classe social obrigatoriamente, ele passa a se

relacionar com os bens culturais, sem perder sua identidade, suas origens.

Para a autora em questão, o ato de ler envolve habilidades e comportamentos que vão

desde decodificar sílabas ou palavras até mesmo ler um romance longo, enquanto o ato de

escrever se estende desde o registro do próprio nome à capacidade de escrever uma tese de

mestrado ou doutorado. Logo, para Soares, há diferentes níveis de letramento, que

dependem das necessidades, das demandas individuais e do meio sócio-cultural.

Com referência a Silveira (2005), neste estudo se fará uma explanação a respeito das

estratégias de leituras difundidas por Goodman. Cuja argumentação se faz necessária ao

presente projeto de pesquisa. A autora destaca o papel das estratégias de leitura como um

dos elementos para que o leitor ou o aluno se caracterize como um bom leitor, ou seja, um

leitor proficiente. A pesquisadora citada destaca as estratégias básicas de leitura da

seguinte forma:

[...] a predição, que é a capacidade de o leitor antecipar-se ao texto

à medida que vai processando a sua compreensão; a seleção, ou seja, a habilidade de selecionar apenas os índices que são relevantes à sua compreensão e propósito (...), a inferência, através da qual o leitor completa a informação, utilizando a sua competência lingüística, o seu conhecimento conceptual e os esquemas que estão em sua mente; a confirmação, que é utilizada para verificar se as predições estão certas ou precisam ser reformuladas e, finalmente, a correção, ou seja, uma vez não confirmada a predição, o leitor levanta outras hipóteses e busca outras pistas, sempre na tentativa de encontrar sentido no que lê (2005, p.30).

O que remete a um breve estudo acerca das técnicas de leitura, que colaboram para o

uso satisfatório das estratégias de leitura, são as técnicas de skimming, scanning,leitura

detalhada, levantamento das idéias centrais e leitura crítica, muito utilizadas em programas

de leitura em línguas estrangeiras.

Para este lingüista, o processo de leitura se destaca como um ato que exige

contribuição do leitor, seja através de seus conhecimentos prévios ou de suas estratégias,

do escritor e do texto para que ocorra uma compreensão de como ele se processa,

destacando assim, que a capacidade do leitor é determinante para o êxito do processo.

Onde se deve incluir o propósito do leitor, a cultura social, o conhecimento prévio, o

controle lingüístico, a atitudes e os esquemas conceptuais.

Neste parecer, a leitura passa por um processo que envolve vários ciclos, passando

pelos ciclos óptico, perceptual, gramatical e finalmente, pelo ciclo de significado, à medida

que há avanços no processamento da leitura, ocorrem outros ciclos e assim por diante, até

a conclusão da leitura.

Braggio (1992) também oferece uma contribuição pertinente à fundamentação desta

pesquisa, com seus estudos envolvendo a concepção sociolingüística, defendida por

Goodman, sobre o processo de leitura e alfabetização. Por esta razão, a definição da base

teórica desta pesquisa também contempla os estudos de Braggio.

Vale ressaltar que segundo a autora, as atividades de leitura e escrita são vistas como

a contraparte do falar em relação à escrita, onde escritor e leitor se encontram através da

transação4 com o texto em um determinado contexto e com intenções específicas (op.cit.

p.71), sendo também o ato da leitura ou da escrita, um processo unitário, ele é também

flexível, pois varia conforme o objetivo do escritor ou do leitor, a capacidade de

proficiência, a visão de mundo, o contexto sócio-histórico, enfim. Braggio destaca que

conforme o modelo sociolingüístico de leitura desenvolvido por Goodman, a leitura

eficiente está atrelada às habilidades na seleção dos aspectos mais relevantes, ou

produtivos, importantes na produção e teste das hipóteses sobre a escrita. Onde o processo

transacional da leitura é estendido como uma aglutinação de três sistemas lingüísticos de

que o leitor procura fazer uso, são eles: grafofônico, o sintático e o semântico. À medida

que o leitor vai se apropriando destes sistemas, ele estará desenvolvendo a habilidade da

leitura, pois está pondo em uso seus esquemas.

Desta forma, a pesquisadora em foco esclarece questões que perpassam o processo

transacional de leitura, como também, amplia conceitos em torno das estratégias

cognitivas, destacando a estratégia de iniciação, mapeamento e seleção, inferência,

predição, confirmação e não-confirmação, correção e terminação. Somando conhecimentos

pertinentes ao presente estudo investigativo.

4 Expressão defendida por Goodman (1984).

Braggio (1992, p.72-73) ressalta a importância do objetivo e da intenção do leitor no

momento da leitura, o que deveria despertar a atenção de professores para que

observassem o seguinte:

No caso da leitura ser, por exemplo, requerida por um professor e a

intenção deste seja a de testar o conhecimento do aluno, a intenção do aluno pode diferir da do professor e afetar fortemente a compreensão. Isto ocorre [...] quando se avalia a leitura com foco na compreensão (comprehension), tomada esta como produto final do ato de leitura e não sobre o compreender (comprehending) o processo da leitura, o qual, como se viu, pode ser mudado durante o ato da leitura, através do uso das estratégias cognitivas apontadas por Goodman.

É nisto que muitos colegas de profissão divagam, certamente por falta de

conhecimentos ou de um bom acervo de gêneros textuais nas escolas. Segundo Braggio, é

a partir da aplicação da visão transacional de leitura, ou seja, sociopsicolingüística, que

contextos de linguagem voltados para a repetição e memorização serão abolidos das

atividades de leitura, conferindo espaço para textos significativos, ou melhor, efetivos.

Cagliari (1999), com suas pesquisas na área de lingüística, oferece uma

fundamentação pertinente ao presente trabalho de pesquisa, fornecendo conhecimentos em

torno da leitura, definindo a sua utilidade da seguinte forma (op. cit., p.148) “A leitura é a

extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de

ser conseguido através da leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do que

qualquer diploma”. Esta afirmativa traduz com exatidão o valor do aprendizado da leitura

na vida de qualquer pessoa, é ela que confere ao aprendiz a capacidade do conhecimento.

Este lingüista destaca tipos de leitura, como a leitura oral, no caso de contar história,

por exemplo, como um processo de leitura recíproca, ou seja, que o outro “lê” o texto

“ouvindo”, sendo este o primeiro contato que as crianças mantêm com a leitura, da mesma

forma, o que é ouvido através da TV ou rádio constituem leituras, concorrendo para que as

crianças que têm esta experiência possam adquirir maiores possibilidades na vida escolar.

Quanto ao outro tipo de leitura exposto pelo pesquisador citado, a leitura silenciosa visual,

esta foi dominante durante um bom tempo, porém, dependendo do texto, este tipo de

leitura nem sempre é o mais adequado, apesar de sua grande importância para a maioria

das pessoas, por oferecer maior reflexão ao leitor.

Conforme Cagliari (1999), o uso do tipo de leitura mais comum é a visual silenciosa

e a menos usual é a oral pública, sendo esta necessária para o desenvolvimento de uma boa

leitura. É interessante destacar o pensamento deste lingüista quando ele levanta a seguinte

questão:

Será que se pode aprender a ler antes de aprender a escrever? Será

que se pode aprender a ler sem aprender a escrever? Sem dúvida; aliás, aprender a ler é mais fácil do que aprender a escrever. Uma criança pode começar ouvindo histórias, aprendendo a decifrar os sons das letras (no seu dialeto e no da escola) em diversos contextos (palavras diferentes), e se por a ler pequenos textos de cujo contexto já tem conhecimento ( já ouviu) ou que sabe de cor, como canções, provérbios, adivinhações, etc. Se esse tipo de atividade for intensificado, a criança passa a ter um outro tipo de contato com a escrita, que não é simplesmente jogo de montar e desmontar sílabas e palavras. ( p. 168)

Pelo exposto, nota-se que a dificuldade nas atividades de leitura está na carência na

adoção de gêneros textuais, que mesmo na capacidade do aluno, necessitando que o ato de

ler seja prazeroso, constante, pois a leitura se destaca como uma habilidade que precede a

escrita. Daí, a necessidade de maior estímulo à leitura no processo de alfabetização, ou nas

séries iniciais. Cabendo às escolas, repensar seus espaços físicos de biblioteca ou sala de

leitura e ainda as salas de aula enquanto espaços de desenvolvimento prioritário de leitura,

fornecendo aos alunos os recursos materiais ao ato de ler, através de bons livros, bons

gêneros textuais.

É valioso destacar o pensamento de Kleiman (2002), coerente à esta pesquisa,

quando ela destaca a construção de sentido do texto, pois este ponto remete (op.cit. 83) às

habilidades lingüísticas e à compreensão global, que estão relacionados com os fatores de

capacidade para perceber a estrutura do texto, ou construí-la, a capacidade para perceber a

intenção do autor e a capacidade para interpretar o texto e a capacidade para interpretar o

texto com as próprias palavras, ou seja, fazer paráfrases, respondendo a perguntas sobre

ele, fazer um resumo, enfim. Isto confere ao leitor, ou aluno, uma compreensão global

sobre o texto.

Vale destacar também que quando o aluno tem algum conhecimento a respeito do

tema, isto já lhe favorece, torna o texto mais simples e o conhecimento sobre ele, mais

familiar. No caso do gênero textual, por exemplo, quanto mais diversificado o contato

desses alunos com os gêneros, através dos textos narrativos, expositivos e descritivos, ele

conhecerá melhor a estrutura desses textos, facilitando conseqüentemente, a sua percepção

quanto às relações entre a informação e a estrutura de um texto; efetivando a capacidade

ou a proficiência enquanto leitor, à medida que seus conhecimentos vão se ampliando,

permitindo que ele possa exercer maior interação com os textos de estruturas mais

complexas.

Estes conhecimentos são fundamentais não apenas para os professores das séries

iniciais, mas para todos aqueles que trabalham com o ensino da língua materna, em

particular, para os professores das escolas públicas, onde se defronta com maior incidência

na distorção idade- série.

3- DIRETRIZES NORTEADORAS:

Para a realização da coleta de dados serão estabelecidos como instrumentos, a

entrevista individual estruturada e semi-estruturada envolvendo professor colaborador e

alunos, questionários para cruzamento das falas, testes de compreensão de texto com

alunos, aplicado de modo mais aprofundado, utilizando-se de aparelho de gravação,

fazendo uso também, de pesquisa bibliográfica e em alguns momentos, da webgráfica,

análise de relatórios, o teste Cloze, que se trata de uma técnica anglo-saxônica, com texto

para complementação, favorecendo a avaliação e o desenvolvimento da compreensão do

aluno no ato de ler, notas de campo ou registros de campo.

O instrumento de entrevista auxiliará aos grupos de observação (pesquisador e

participantes comuns) na socialização de idéias, dúvidas, novos encaminhamentos e

superação de possíveis entraves ao desenvolvimento da pesquisa. No caso da entrevista

individual, ela possibilita ao pesquisador, uma maior intervenção quanto à formação e

atuação pedagógica dos participantes comuns, no caso, professor, ou mesmo coordenador

pedagógico ou direção escolar.

THIOLLENT (2007) expõe o seguinte a respeito do instrumento de entrevista,

enquanto coleta de dados:

“Na concepção de roteiros de entrevistas, questionários ou de outros instrumentos de coleta de dados, em pesquisa alternativa, sempre se coloca a questão do papel atribuído aos elementos explicativos associados à obtenção de informação esclarecida por parte dos respondentes. Consideramos que tais elementos não visam orientar as respostas em função das expectativas dos pesquisadores e sim descondicionar as pessoas para que não respondam apenas com “facilidade”, isto é, como se a sua resposta fosse um simples reflexo de senso comum ou dos efeitos do condicionamento pelos meios de comunicação de massa. As “explicações” são sugeridas aos respondentes para que tenham um papel ativo na investigação. As “explicações consistem em sugerir comparações ou outros tipos de raciocínios não-conclusivos que permitam aos respondentes uma reflexão individual ou coletiva a respeito dos fatos observados e cuja interpretação é objeto de questionamentos”. (p. 70)

Os dados significativos apresentados na pesquisa, desde as entrevistas iniciais ao

desenvolvimento de uma unidade didática, em conjunto com os participantes, agregando-

se ainda o levantamento final das habilidades de leitura da turma de 3ª série envolvida, irão

formatar a estruturação de gráficos inicial e final das habilidades de leitura dos alunos das

referidas séries, a fim de estabelecer uma análise dos avanços alcançados a partir da

aplicação de um trabalho de intervenção pedagógica, através de uma pesquisa qualitativa,

no contexto escolar, através de parceria escola e universidade. Finalmente, a estruturação

de um texto dissertativo, contemplando a análise do processo desta pesquisa-ação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Sabe-se que os desafios são variados no enfrentamento das dificuldades de leitura na

sala de aula, porém, é preciso traçar diretrizes, desenvolver projetos que envolvam ações

coletivas, integradoras; acreditando que numa perspectiva de pesquisa-ação, onde os

envolvidos têm papéis a desenvolver, não mais permanecendo na condição de expectador,

é preciso reverter o atual quadro da educação brasileira, onde segundo o SAEB (2008), os

alunos estão cada vez menos habilidosos no ato de ler, pois, entre outras questões, o hábito

de ler ainda não está constituído no dia-a-dia do aluno.

De forma mais restrita, atendo-se ao ambiente escolar de sala de aula, vê-se que o

professor está sempre buscando idéias, caminhos, atividades que o ajudem a desenvolver, a

estimular em seus alunos o tal “hábito” ou “gosto” de ler, porém, o processo na verdade, é

complexo; não bastam algumas ações, mas um conjunto de ações, que de forma

integradora, como já foi dito, permitirão um maior domínio de conhecimentos a nível de

intervenção docente na produção de leitura de seus alunos. Desta forma, acredita-se que o

professor possa atingir o alvo certo, ou seja, as dificuldades ou limitações do aluno no

processamento da leitura.

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