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Ciclo deConferências 2003:Estudos de Língua e Literatura

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Da loucura: comoLogosemJoséRégio

Carlos Teixeira

AntesdeentrarnotemaqueprocurareidesenvolveràluzdamultifacetadaobradeJoséRégio,parece-meconvenientefazerumabreve apresentação do autor. Na verdade o autor dos Poemas de Deus e do Diabo émaisumdaquelesescritoresdequem(quase)todaagentejáouviufalarepoucosleram.Nestecontexto,torna-sedesejáveldaraconhecer,emtraçoslargos–dadaabrevidadetemporaldequedispomos–,avidaeaobradestequefoiumdosmaiscompletosecomplexosescritoresportuguesesdoséculoXX,e,naexpressãodeIsabelCadeteNovais,“umadasmaislúcidasconsciênciasliteráriasdo seu tempo”�.

Falodoescritorporque,apesardeseterestreadocomosPoemas de Deus e do Diabo,em1926,Régiocultivouostrêsmodosliterários.Foi,semdúvida,umeloquentepoeta,tendodeixadodezlivrosdepoesia.Apresento-osporordemdepublicação:primeiro,osjá referidos Poemas de Deus e do Diabo,aosquaisseseguiuBiogra-fia. Depois: As encruzilhadas de Deus; Fado; Mas Deus é grande; A chaga do lado; Filho do Homem; Cântico suspensoeosdoisúltimos,que foram editados postumamente,Música ligeira e Colheita da tarde.MasJoséRégiofoiigualmenteumfecundoromancistaeumoriginal dramaturgo. Estreou-se no romance com Jogo da cabra cega –narrativaelaboradasobreaanálisedasdificuldadesderelaciona-

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mentoentrepessoascomplicadas(temainéditoentrenós).Aindanoromance,edepoisdeterdadoàestampaO príncipe com orelhas de burro,mergulhounaescritadeumlongoromanceintituladoA velha casa,doqualdeixoucincovolumescompletoseapontamentosparaum sexto.Ainda na narrativa, escreveu a novelaDavam grandes passeios aos domingos e dois livros de contos intitulados Histórias de mulheres e Há mais mundos.Oteatrofoitalvezasuamaiorpaixão.Dasoitoobrasqueproduziuparateatro,destacoJacob e o Anjo e com maior ênfase Benilde ou a Virgem-Mãe(obracujalinguagem,nodizerdeÓscarLopes,“sópodecomparar-senanossaliteratura,pelasuadignidade,aoFrei Luís de Sousa”2).Daproduçãoteatral,realçoainda El-rei Sebastião; A salvação do mundo e o volume intitulado Três peças em um acto,ondeseincluemasobras“Trêsmáscaras”,“Omeucaso”e“MárioouoEuPróprio-oOutro”.Alémdisso,foiorganizadordeantologiaspoéticas,ensaístaecríticoperspicaz,tendosido,comJoãoGasparSimões,ograndedefensoredivulgadordospoetas de Orpheu. Foi assíduo colaborador em revistas do seu tempo tendo travado nelas várias polémicas. Destacou-se pela escrita de obras de carácter intimista e memorialista (não posso deixar de referir a Confissão de um Homem Religioso,obraque,apesardeinacabada,constituiaverdadeiraabóbadadoedifícioliterárioqueJoséRégioarquitectou).Porfim,viveuapaixonadopelodesenhoeporantigui-dadesqueobstinadamentecoleccionouaolongodavida.

JoséRégioéopseudónimodeJoséMariadosReisPereira,cidadãonascidoemViladoConde,a17deSetembrode1901.Dasuavidapoucoháadizer.Abiografiadoescritorsãoasobrasquecriou.Trata-sedeumabiografiadefactosíntimos,devivênciasinteriores(circunstânciaquepartilhacomoutrosfecundoscriadoresliterários–ésuficienteevocarocasodeProust).Aesterespeito,aspalavrasdo poeta de Fado são elucidativas:

“Passaram meses, passou um novo ano lectivo, passaram novos exames, novas férias grandes..., sem que, na verdade, ti-vesse eu o impulso natural para escrever o quer que fosse neste diário. Também, nada de importante aconteceu digno de regis-to. E o que dentro de mim acontece – a obsessão do aproximar-se a velhice e a morte; o desgosto cada vez maior dos homens, de mistura com uma benevolência e uma caridade não menos reais por complexas; etc., etc. – só através da criação literária me é natural confessá-lo.”3

Aobradeartecomoformaparadigmáticadeconfissãoéumtemafundamentalnoestudodeumautorque,comoafirmouEugénioLisboa(omaispersistentebiógrafodeRégio),ficará“exemplarmentesecreto,istoé,umparadigmadepudor.Paraquempassouavidaa«confessar-se» não deixa de ser curiosamente paradoxal...”.�

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Em Páginas do Diário Íntimo,numapassagemdelúcidaauto-análise,podemosler:

“Quero (com uma vontade de fora, pois as minhas verda-deiras confissões estão nos meus livros) escrever nestas páginas alguma coisa de pessoal... isto é: de particular: do homem, não do escritor. E tão raro o consigo! A prova de que sou funda-mentalmente um artista – é que as minhas próprias confissões pessoais hão-de tomar forma artística: serem romances, poe-mas, teatro... Hão-de mascarar-se com personagens, cenas, símbolos, observações e análises de aparência geral.”5

Há,pois,queleraobradeRégioenelabuscarohomemquedisseteremsiomundo,comosepodeconstatarnosonetoquese segue:

“SONETO DE ONAN

Chegandonu,cantei.Cantei,écerto,Minhanudezansiosaelastimável.Fez-se,emredordemim,terror,deserto...Queumanudezassimépoucoamável.

«Estagenteesperava-meencoberto»,(Pensei)«masnuncaeusoubeserafável...»Eentãovagueeicantando,emmeudeserto,Minhanudezansiosaelastimável.

Só,vagabundo,assimdescimaisfundo:NaTorredeBabeldaminhaermida,Jávivomaisqueaminhaprópriavida!

Já,repelido,emvósmecontinuo...Sim!,sóamimmeentregoemepossuo,Porqueeumebastoparaacharomundo!”6

Mas,queiramosounão,todoohomemtemumtempoeumlugar.Eis,pois,algunsdadosbiográficos.

Nosiníciosdadécadadevinte(1922),depoisdeconcluídososestudosliceaisnoPorto,ojovemJoséMariadosReisPereiraentranauniversidadedeCoimbra.Aícomeçaaanimar-secomoJoséRégio.Em1927lança,juntamentecomJoãoGasparSimõeseBranquinhoda

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Fonseca,arevistaPresença,queseassumecomoórgãorepresentativodo segundo modernismo em Portugal.

Em1929parteparaPortalegre,ondeexerceaactividadede professor de Francês durante mais de três décadas. É nesta pátria àforçaescolhidaqueRégioencontraráapaznecessáriaàgestaçãoda maior parte das suas obras.

Depoisdareforma,asuavidaoscilaentrePortalegreeViladoConde,ondeprogressivamentesevaiinstalando.Énasuaterranatal,noaconchegodasparedesfamiliaresqueeleimortalizounolongo romance intitulado A velha casa,queJoséMariadosReisPereiraexalaoúltimosuspiroa22deDezembrode1969.JoséRégio,porém,permanece;asuapresençacontinuacomplexaeparadoxal.

Deixemososprolegómenos,epassemosàabordagemdotema escolhido.

Não apresentamos uma definição de loucura. (Loucos?!Sim,masnãotanto!!)Nãopodemos,contudo,calarumdesabafo:o estudo da concepção de loucura ao longo da literatura portuguesa dariauminteressantíssimoestudoquenãoestáobviamentenoâm-bitodestacomunicação.Tambémnãoestá,naturalmente,nasnossasintenções estudar este tema sob o ponto de vista da psicologia ou da psiquiatria.Navegaremosnomardaliteratura,aindaquecientesquenele desaguam águas de muitas ciências.

É, pois, nosso objectivo apresentar uma leitura global eglobalizantedaobraregianaperspectivadaatravésdotemadaloucura,concebida como logos.

Comecemos por entender “logos” na sua dupla acepção de palavraoudiscursoexterioredepensamentooudiscursointerior,quercomoconceitoouideia7.Mantemossempreassociadoalogosocarácterdeluminosidade,istoé,deelementorevelador-oqueeminglês se designa por enlightment. Poderíamos acrescentar o adjectivo epifânicocomoqual,mesmoqueumpouco tautologicamente,sereforçariaaideiadequealoucuraé,paraoautordePoemas de Deus e do Diabo,apalavraouopensamentodarevelação.

Deixemosopórticoeentremos…Onde?ProvavelmentenumloucolabirintodoqualsóoengenhosoDédalonospoderáresgatar.Mas,corajosos!,entremos…E,paranossasegurança,tomemoscomociceroneapróprialoucura.

DizaLoucura,naspalavrasdeErasmodeRoterdão:“Não preciso de vos dizer. Revelo-me, como dizem, pela

fronte e pelos olhos, e se alguém me quisesse tomar por Miner-va ou por Sofia, desenganá-lo-ia sem falar, já que o rosto não mente porque é o espelho da alma.”8

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Aproblemática do rosto é estruturante na obra regiana,conduzindo-nosaocentrodemaisumconflitoessencial–orostoversus a máscara. Nesta dualidade se evidencia a modernidade da poéticadeRégio,que,porumlado,setraduznumabuscaónticadaidentidadeedaverdadeabsolutas,e,poroutro,esbarracomaverdadeplural e com a identidade múltipla9 de um rosto onde sucessivamente se vão sobrepondo máscaras.

Numestudosobreamáscara,Lévi-Straussapontaareci-procidade como primeira e fundamental característica do mundo das máscaras.Assim,cadamáscaradefine-seemrelaçãoeemoposiçãoaoutra(s)máscara(s),umavezquenãocontémemsi todoo seusignificado.Éprecisoestaratentoàcomplexidadequeestemundoinstaura10.Esta complexidadeganhanovasproporçõesquandoasmáscaras,comodissemos,sesobrepõem.

Recordemosaesterespeito,ecomoumexemploentremuitospossíveis,osoneto“BailedeMáscaras”,incluídoemBiografia:

“Contínuatentativafracassando,Minhavidaéumasériedeatitudes.Minhasrugasmaisfundasquetaludes,Quantasmáscaras,já,vosfuicolando?

Massempre,atrásdeMim,mevoubuscandoMeusverdadeirosvíciosevirtudes.(–Eéaverseteencontras,outeiludes,Quebailasnesteentrudomiserando...)

Encontrar-me?iludir-me?aiqueonãosei!Sei mas é ter no rosto ensanguentadoOroldequantasmáscarasusei...

Maismeprocuro,pois,maisvouerrando.EaospésdeMim,umdia,eucairei,Comoumvestidoimpuroeremendado!”11

Eis um exemplo da busca obsidiante do eu pelo eu. Um actodeconstanteprocuraenuncadeencontropleno,poiscadanovorostoquesedescobreacabaporserevelarmaisumamáscara.Estecaminhar é, portanto, uma incerteza infinita, apesar da nudez tãofriamente exposta.

Háumdesejodeconfissãoplenaqueatravessaaobra(ea

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vida)doautord’A velha casa. Porém a esse desejo opõe-se o jogo irónicodamentira,nãovoluntariamenteprocurada,masdaqualosu-jeitonãologralibertar-se.Revelaçãoementiraentramnumadinâmicaassintótica.Queristodizer,fazendoaquiusodotermoimportadodageometria,queadistânciaentreosdoistermostendeparazero,masoencontrosóserápossívelnoinfinito12.

Também em teatro Régio tratou este assunto. Fê-lo emvários textos. Três Máscarasé,comootítulosugere,umdosmaissignificativosnoqueserefereàdualidademáscara/rosto.Analisandoesta“fantasiadramática”,classificaçãogenológicaqueopróprioautoradiantacomosubtítulodaobra,ManuelSimõesafirma:

“O tema de Três Máscaras é o da identidade procurada através da tentativa de dissolução da persona, isto é, do «eu» empírico e existencial reconhecível numa trama de relações sociais.”13

A acção dramática desenrola-se “durante um baile de segunda-feiradeEntrudo,numacasaelegantedacapital”,ecolocaemcenatrêspersonagens:Columbina,PierroteMefistófeles.Alutaentre o bem e o mal é desde logo sugerida pelo nome das duas per-sonagensmasculinasqueprocuramseduzirColumbina.Interessa-nosvernestemomentocomoamáscara,aomesmotempoqueescondeorosto,possibilitaaestaspersonagenscolocaranuasuaverdademaisíntima.TomemoscomoexemploaspalavrasdePierrotque,depoisdeafirmar“Sehojemesintoleve...livre...poderoso...équetragoestacara pintada”14,sedirigeaColumbinaparalhedizer:

“Porque me estou a confessar. Porque esta noite, se vim esta noite a este baile de máscaras, se te encontrei esta noite, Columbina, foi para isto: para ser nu como a verdade, assim mascarado. A minha verdade fugiu do poço esta noite de Entru-do...”15

E mais tarde acrescenta: “Foi preciso mascarar-me para dizerestascoisasumaveznavida”16.

Eisaduplafunçãodamáscara:ocultaerevela–função,aliás,partilhadacomoespelho,objectotambémrecorrentenaobraregianae,maisvastamente,nomodernismo.Ela(amáscara)éme-táfora do processo de transformação. Através dela se torna presente afiguradoDuplo.

FiguradoDuploqueospoetasmodernistas,nacontinuidadedealgunsescritoresdoséculoXIX,nomeadamenteRaúlBrandão,apresentamedesenvolvemnaspersonagensdoPierrot,doarlequim,dosaltimbanco,dopalhaço,quepovoamosseustextos.Apresençaobsessiva destas personagens revela a vontade dos artistas nos darem

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delesmesmosedacondiçãodaarteumaimagemdeformante,umauto-retratosarcástico,umacaricaturaaomesmotempoburlescaedolorosa.Estamosnodomíniodojogoirónicodeinterpretaçãodesi por si mesmo.

EmRégio, comonos seuscompanheirosdaPresença, atransfiguraçãonestaspersonagenscorroboraaconcepçãodepoetacomoserincompreendidonomeiodamultidão.Nãoéporacasoquelogononº2dareferidarevista,JoséRégiodobraojoelhodiantedeCharlot,queosoutrosvêem“comoumactorquefazrircomoqual-quer”equeeleconsidera“inimitávelesolitário”17.

Opalhaçoéentãoafiguraçãodopoeta.A imagem do louco corrobora e dá maior amplitude a este

jogoirónicodeauto-interpretação.ALoucuraé,domesmomodo,umideologemanoModer-

nismo.Asmanifestaçõesdeloucura,arquitectadasdramaticamenteno espaço literário, oumais amplamente artístico, constituemumfiávelsismógrafocapazderegistarereproduziroestatutodilemáticoda modernidade.

Aloucurasurge,emFernandoPessoaeemMáriodeSá-Carneiro,comoresposta-fugaaumtempoeaumespaçodilacerantes.JudithTeixeiraeAntónioBottocantamaloucuradosamoresrubros.Maistarde,elaressurgeemAlBerto,laceradoentre“ummedosecretodeendoidecer”eumaentregaàloucuraqueoassolalentamente,eemNunoJúdice,cujolirismooscilaentrepercepçõesalucinantesealucinadas da realidade e uma consciência hiperatenta a essa mesma realidade.

JoséRégio,nalinhadoshomensdeOrpheu,osqueelevaramaloucuraàgrandezadeprojectodevida,afirmaincessantementeasuaindividualidade–valorque,apardodaoriginalidadecomaqualestáemestreitarelação,constituiopontofulcraldapoéticaregiana.Estadefesaacérrimadaindividualidade(edaoriginalidade)apareceinequivocamenteassociadaàloucura,suaúnicaarmaparacombatereaniquilarosapelosdeservilismoque lhesãofeitos.AoposiçãoEu/Outroséclaranofamoso“CânticoNegro”(poemadetodasasjuventudes,comodiráoautor),noqualosujeitopoéticoopta,deformaincondicional,pela“Loucura”–significativamenteregistadacom inicial maiúscula.

“Ide!Tendesestradas,Tendesjardins,tendescanteiros,Tendespátrias,tendestectos,Etendesregras,etratados,efilósofos,esábios.

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EutenhoaminhaLoucura!Levanto-a,comoumfacho,aardernanoiteescura,Esintoespuma,esangue,ecânticosnoslábios…”18

Estrofedeseteversos,quatrodosquaissãodedicadosaosoutros, tendooeu-lírico,nos trêsúltimos,centradoa suaatençãosobresimesmo.Estaformafaz-nospensarnosetecomonúmerodatotalidade,noqualentramosquatropontoscardeais(aquiassocia-dosaosoutros)eostrêsdivinos(queaparecememrelaçãoaoEudopoeta).“EutenhoaminhaLoucura”–gritaosujeitodaenunciaçãolírica.Éumgritode recusa.É tambémumcaminhode fuga,umprojecto de solidão.

Não admira que ele termine o seu “Cântico” reiterandoveementementeasuaposiçãodeserúnico-daquelequenascedoamorqueháentreDeuseoDiabo-edepoder,porisso,escolherlivremente o seu caminho.

“Ah,queninguémmedêpiedosasintenções!Ninguémmepeçadefinições!Ninguémmediga«vemporaqui»!Aminhavidaéumvendavalquesesoltou.Éumaondaquesealevantou.Éumátomoamaisqueseanimou…Nãoseiporondevou,Nãoseiporondevou,-Seiquenãovouporaí!”19

Esteéumcelebérrimoexemplo!Maspoderíamosinvocaroutros(erealmentefalaremosdemaisalgunstextosquenosparecemsignificativamentereveladoresnoqueserefereaestetema).Aescolhadostextosaconvocarnãoé,contudo,fácil,umavezqueotemadaloucura assume no conjunto da obra regiana o carácter de isotopia. EntendemosestetermonalinhadeUmbertoEco,citadoporCarlosReiseAnaC.M.Lopes:

“Isotopia refere-se sempre à constância de um percurso de sentido que um texto exibe quando submetido a regras de coerência interpretativa.”20

Comofacilmenteseconstata,alargamosoconceito,aplican-do-oàobraregiananoseuconjuntoenãoapenasaumtextoparticular.Queremosafirmarqueaconcepçãodeloucuracomologoséumalinha

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temático-figurativafundamentalnaconstruçãodesentidosqueumleitoratentoéchamadoafazerdaobracriadaporJoséRégio.

Voltemosàdefiniçãode“logos”.Paratal,subamosàfonte,istoé,aHeraclito.Ointrodutordotermo“logos”novocabuláriofilo-sófico,aindaquepercorrendoumcaminhotortuoso,define-ocomoapalavra inteligente dos homens e palavra ordenadora do mundo. É a palavrauniversal,objectivaeverdadeira.Contudo,Heraclitotem,emuitoantesdePlatão–aquemvoltaremos–,plenaconsciênciaqueestelogos,quevêediztudocomorealmenteé,nãoestáacessívelàmaioriadoshomensque,nãoocompreendendo,vivemeagemcomose estivessem a dormir21.

Sabendoqueonossointuitonãoéumaabordagemfilosófica,massimliterária,voltemosaumtextodeRégioquepoderemosleràluzdestaconcepção.Trata-sedocontosignificativamenteintitulado“Os alicerces da realidade”22equeseencontrainseridonaobraHá mais mundos.

Ora,oqueéqueacontecenestasingularnarrativa?Vamosaosfactosdiegéticos:apersonagemcentral,“onossoamigoSilvestre”(comoinicialmenteéapresentadopelonarrador),éaparentementeumhomemnormal,emboratenhareveladodesdenovo“donsnãovulga-resdesensibilidade,imaginação,atéinteligência”,quenãochegouadesenvolverpornãoterprosseguidoestudos(repare-sequeoquesobressaisãoosinvulgaresdonsdesensibilidadeedeimaginação).Certo dia, numdos seus habituais passeios, “teve uma impressãoestranha”-aqueonarradorchama“asuaprimeirarevelação”. Esta estranhaimpressãoconsistiuemlheterparecidoquetudoaquiloqueoenvolviaerairreal-“comosefosseumarepresentaçãonumagravura,porexemploqueilustrasseumromance”.Aestaprimeirarevelaçãooutrasseseguem,detalmodoque“onossoamigo”intuique«A vida é um sonho.»equevivemosrepresentandoopapelquenoscabenestesonhodavida.Oconhecimentodesta“Verdadetãoevidente”queosoutrosnãoeramcapazesde“Ver”dáaSilvestreuma“firmeconsci-ênciadesuperioridadesobreocomumdosmortais”.Convictodequeomelhorseriaacoerênciaentreoseupensamento,queiachegandoasubtilezasfilosóficasinesperadas,easuaconduta,passouaagirdeformaverdadeiramentelivre,adoptandocomportamentosqueentramemchoquecomasconvençõessociais.Porexemplo,ria-sedescara-damentedosquecomeleserelacionavamoucruzavam.

Emtermossemânticos,nãoédescabidoestabelecerumarelação intertextual entre esta narrativa e a Alegoria da Caverna de Platão.Efectivamente,aSilvestreaconteceomesmoqueofilósofogregodescreveapropósitodohomemqueconseguiuquebrarasca-deiasqueoprendemaofundodacavernaeque,tendocontempladoasverdadeirascoisas,voltaaoantroeprocuraconvencerosoutroshomensqueaverdadeestáparaalémdasmíserassombrasqueeles

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vêem.Sóqueosoutros“sapientes”homensjulgam-nodoidoeaban-donam-noàsualoucura.EisoqueaconteceaSilvestre.

Destemodo,aloucuraconduzàsolidão,comoaliásjáfoisugeridoaquandodareferênciaaopoema“CânticoNegro”.Deentreinúmeraspassagensquepoderíamoscitar,vejamosapenasosdoisprimeiros versos do poema intitulado “Libertação”:

“Menino doido, olhei em roda, e vi-mefechado e só na grande sala escura.”23

Nocontoatrásreferido,aloucuraaparece-nos,claramente,comologosepifâniconamedidaemqueéporintermédiodelaqueseatingeoconhecimentodaverdade,oupelomenosesempre,doquenumdeterminadomomentosesupõeseraverdade.Éelaquelibertaohomemdomundodasaparências-aqueRégiochamafrequente-mente o palco ou a comédia da vida - e lhe permite o contacto com a verdadeiraessênciadascoisasedoprópriohomem.Trata-sedeumlogosvivoqueseopõeàspalavrasocasemortas,comoacontecenaobra dramática A salvação do mundo,tragicomédiaemtrêsactos.

Masvoltemosaomodonarrativoeaonãomenosfantásticoromance O príncipe com orelhas de burro.A“verídicahistória”desteromancelança-nosparaoepicentrodomodernismo.Naverdade,oquecaracterizatodoomodernismo,entendidonumsentidolato,éo“eu”–oumelhor,abuscadaunidadedeumeuquesesenteevivefragmentado.

Ora,oPríncipeLeonel,personagemcentralequecrescejulgando-seumhomemabsolutamenteperfeito(vistoqueusavasempreumturbantequelhetapavaasorelhasdeburro,quenemeleconhecia),descobre,nummomentodegrandeeuforia,oseuladotorpe,animalescoemonstruoso-umaboapartedaspersonagensregianasassimsão,marcadasporumadualidadeantagónicaquetraduzumadialécticaentrearquétiposeanti-arquétiposdivinos,comooBemeoMal,oBeloeoFeio,aVerdadeeaMentira.Depoisdaterríveldescobertadaverdadeacercadesi,edepoisdeterfugidodopalácio(estafugaassemelha-seaumaviageminiciáticatípicadoscontospopulares),tendoregressado,opríncipeconvocaoseupovoedeciderevelar-se,anulando assim a “extravagante comédia”24queéavida.Jánosmo-mentosfinaisdadiegese,opríncipefalaaoseupovoecomunica-lheasuaintenção.ÉimportanteverificarqueoFísico,velhosábiodacorte(quetambémignoraaverdade),intervémpedindoaopovoqueseretireporque,advogaele,aspalavrasdopríncipeprovam“quealucidíssimarazãodeSuaAltezarecebeuqualquerchoqueesofreumacrise”25.Nofundo,ovelhosábiodizqueSuaAltezaopríncipeLeonelseencontraloucoeactualizaaspalavrasqueaLoucurapronunciaranos inícios do século XVI:

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“Se um histrião que estiver em cena quiser tirar a más-cara para ostentar diante dos espectadores o verdadeiro rosto, conseguirá com isso perturbar a acção dramática; e não é justo que os espectadores exijam a expulsão deste louco?”26

QueristodizerquesóaloucurapermiteoactosupremodeserevelaraquetantoaspersonagensdassuasobrascomoopróprioRégioaspiram.Sãoinúmerasaspersonagensregianasqueprocuramrevelar-se.Porexemplo:PedroSerrad’O jogo da cabra cega; ou Lèlito,personagemcentrald’A velha casa,ealter-egodoautor);ouJaimeFranco,personagemobscuraqueaparecenosdoisromances,numa tentativa falhada de no segundo revelar a sua “verdadeira história”.

Mas émelhor não abandonar já o príncipe Leonel, quese encontra às portas dessemomento supremode tirar o turbantee mostrar as suas orelhas de burro. E a loucura do príncipe vai tão longequeeletiraoturbante.Eoqueéqueacontece?Coisasublime...omelhoréler!!!

Deentreasobrasdramáticas,ondeRégiomanifestareal-mentetodaasuagenialidadecriadora,vejamosA salvação do mundo,jáanteriormentereferida.MaspoderíamosfalarcomigualacertodeBenilde ou a Virgem-Mãe,oudeJacob e o Anjo,oud’El Rei Sebas-tião,ouaindanapequenapeçaMário ou o Eu próprio - o Outro,namedidaemque,deumoudeoutromodo,todasaspersonagenscentrais destas obras vivem sob o estigma da Loucura.

ARainhaMãeeoProfeta,d’A salvação do mundo,pro-tagonizamoidealdamorosofia.ARainhaMãeéumapersonagemloucaqueconheceintuitivamenteaverdadeequevivepeloEspírito.OProfetatrazconsigoumnovoevangelho–oQuintoEvangelho(queestáembranco)eanuncia-secomooprofetadoEspírito.

Convém,numbreveparêntesis,esclarecerqueoprocessodegnose(e,consequentemente,deautognose)é,paraoautordeA chaga do lado,essencialmenteintuitivo.Assim,Régiopostulaqueháumconhecimentoanteseforadaspalavras,istoé,nãoverbalizado.ÉoconhecimentodoEspíritopeloEspíritodequefalaHenriBergson.

Apenas ao louco é dado o privilégio desse conhecimento. Apenaseletemacessoàrealidadeíntimadoser-comoRégiogostadedizer.Outalvezsedêocontrário:todospodemteracessoaessarealidade;masaquelesqueláchegam(istoé,aquelesquesaemdacaverna)passamaserLoucos.

Régio, numa entrada diarística em que reflecte sobre amensagem da obra dramática A salvação do mundo,afirma:

“Intuições subjacentes a A salvação do mundo:

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“A palavra exprime. Porém na medida em que, exprim-indo, fixa e limita – trai o Espírito. O Poeta e ainda mais o Mís-tico bem n-o sabem. Até estes, contudo, e o vulgo ainda mais, tendem a esquecer isso que sabem (o vulgo nem n-o sabe). Uma expressão eloquente e comunicativa de tal modo se impõe, que é tendência quase geral tomá-la por expressão completa, abso-luta, cabal, daquilo que sempre a excede: o Espírito; daquilo que infinitamente a excede. Só a divina loucura do Poeta e do Louco vidente (o Profeta, a Rainha-Mãe...) lhes lembra, a eles, que a palavra é parcial... expressão sempre deficiente.”27

Eis, em suma, o papel da “divina loucura”: revelar aoshomensoquedeoutromodonuncapoderiamconhecer!

Quatroanosantesdefalecer,emplenamaturidade,portanto,o Poeta escreve no seu diário:

“Nada podemos saber absolutamente senão o que Deus (o Absoluto) nos permita que saibamos. A Revelação é a única fonte de verdadeiro conhecimento.”28

Sendo salvadora, a loucura é também libertação. Umalibertaçãoqueseconseguenamorte.Momentodesuperaçãodesselabirintodasolidãoemqueoeunãoseencontraasinemsedesco-breplenamentenooutro,amorteépassagem,éportaparaotempomítico.É-o,porque,seguindoomodelocrístico,ohomem-poetaaomorrer ressuscita para uma nova vida. Várias personagens regianas se lançam no mistério da morte na esperança da vida. Quero realçar as duas personagens da peça Mário ou o Eu próprio – o Outro. Trata-se deumaobraconstruídanabasedaparódiadetextosdeMáriodeSá-Carneiroequeprocurarecriaromomentoemqueestesesuicidou.

NodiálogoentreMárioeoOutro,amorte,sendoaponteparaotempomítico,éummovimentosimultaneamente“deregressoedefuga,mastambémdeplenoconhecimento”29.

Mário,dirigindo-seaosdeuses,afirma:“[...]Aquiestou.Poderei saberagora?Compreenderagoraosvossosenigmas?Po-dereiagora...?”30Estaéumadaspassagensemquesesugerequeamorteseráomomentodoconhecimentototal,umavezquenelasedáaanulaçãodapalavra,sempreimperfeita,paraseentrarnoseiodorepousodaluzsilenciosa.

Em Jacob e o Anjo a acção dramática gravita em torno daspersonagensdoReiedoBobo,quecenicamenteaparecesobaformadeAnjo.JánumafaseemqueseadivinhaamortedoRei,oBobodiz-lhe:

“– A marcha triunfal do Outro foi debaixo da cruz, de rastos nas pedras, sob os escárnios... falei-te de Ele quando pretendi ensinar-te a sofrer como quem triunfa.”31

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Naverdade,oReimorreparatriunfar,antesdemais,sobresipróprio,sobreaquiloqueemsitemdemorrer,paraqueelesepossaidentificarcomoAnjo,imagemdoeu-outro.OAnjoéumapersona-gemquepovoaaobraliteráriaepictóricadeJoséRégio.NafiguradoAnjo,oautordácorpoàtentaçãodobem.NaConfissão de um homem religioso,Régioafirmouqueoshomenssãopoucoaudazesporquepensamquesóomalétentador.ComoseDeusnãotentasse.

Abuscadamorteé,destemodo,arespostaaessatentação.EalutaentreoCorpoeoEspírito,entreJacobeoAnjo,fundamenta-senestadualidade:Morte/Vida.

Como o pobre e louco rei do mistério em três actos intitulado Jacob e o Anjo,digamosaonossoBobo-Anjo:

“– Ensina-me então a palavra do Silêncio...”32

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Notas

� NOVAIS,IsabelCadete, José Régio e os mundos em que viveu,[CatálogodaExposição]Lisboa,ImprensaNacional–CasadaMoeda,1999.

2 LOPES,Óscar,“JoséRégio”,in: Modo de ler, Crítica e interpretação literária / 2,Porto,EditorialInova,1969,p.405.

3 RÉGIO,José,Páginas do diário íntimo,Lisboa,ImprensaNacional–CasadaMoeda,2000, pp. 35�-352.

� LISBOA,Eugénio,José Régio, Uma literatura viva,[BibliotecaBreve,vol.22],Amadora,InstitutodeCulturaPortuguesa,1978,p.29.

5 RÉGIO,José,Páginas do diário íntimo, p. 3�9.6 RÉGIO,José,Biografia,6ªed.,Porto,BrasíliaEditora,1978,pp.75-76.7 Cf.PETERS,F.E.,Termos filosóficos gregos, um léxico histórico,2ªed.,Lisboa,

F.CalousteGulbenkian,1983.8 ERASMOdeRoterdão,Elogio da Loucura,6ªed.,[Trad.deÁlvaroRibeiro],

Lisboa,GuimarãesEditores,1982,p.16.9 Sobre a identidade, Lévi-Strauss afirma: “Nunca tive, e ainda não tenho, a

percepção do sentimento da minha identidade pessoal. Apareço perante mim mesmocomoumlugarondehácoisasqueacontecem,masnãoháo«Eu»,nãoháo«mim».Cadaumdenóséumaespéciedeencruzilhadaondeacontecemcoisas.Asencruzilhadas sãopuramentepassivas;háalgoqueacontecenesselugar. Outras coisas igualmente válidas acontecem noutros pontos. Não há opção: éumaquestãodeprobabilidades.”LÉVI-STRAUSS,Claude,Mito e significado,Edições70,1989,p.14.

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10 Cf.LÉVI-STRAUSS,Claude,La via delle maschere, Torino,Einaudi, 1979.ReferidoporSIMÕES,ManuelG.,“Oduploobscuro,ouseja,atensãoentreosereoparecernoteatrodeJoséRégio”,in: Boletim, Centro de Estudos Regianos,nº6-7,Junho–Dezembro2000,p.37.

11 RÉGIO,José,Biografia,6ªed.,Porto,BrasíliaEditora,1978,pp.61-62.12 Cf.LISBOA,Eugénio,José Régio, a obra e o homem,[estudosportugueses,nº

16],2ªed.,Lisboa,PublicaçõesDomQuixote,1986,p.35.13 SIMÕES,ManuelG.,“Oduploobscuro,ouseja,atensãoentreosereoparecer

noteatrodeJoséRégio”,in: Boletim, Centro de Estudos Regianos,nº6-7,Junho–Dezembro2000,p.37.

14 RÉGIO, José,Três peças em um acto, 3ª ed., Porto, Brasília Editora, 1980,p.2�.

15 Ibidem, p. 25.16 Ibidem, p. 33.17 RÉGIO,José,“LegendascinematográficasII–CharlieChaplin”,in: Presença,

Folha de arte e crítica,nº2,Coimbra,28deMarçode1927,p.8.18 RÉGIO,José,“CânticoNegro”,in: Poemas de Deus e do Diabo,p.58.19 Ibidem,p.59.20 REIS,Carlos; LOPES,AnaCristinaM.,Dicionário de Narratologia, 6ª ed.,

Coimbra,Almedina,1998.21 Cf.HERACLITO,Fr.1,Sexto,adv. math.,VII,132.22 Cf.RÉGIO,José,“Osalicercesdarealidade”in: Contos e novelas,[ObraCom-

pletadeJoséRégio],ImprensaNacional–CasadaMoeda,2000,pp.325-343.23 RÉGIO,José,Biografia,p.79.24 Esta expressão é de ummendigo que, tendo-se encontrado com o príncipe,

aquandodafugadeste,lhediz:“Écomosetudoistoquevemossereduzisseaumvolúvelcenário,eavidamaisnãofossequeumaextravagantecomédia…”.RÉGIO,José,O príncipe com orelhas de burro,7ªed.,Porto,BrasíliaEditora,1986,p141-142.

25 RÉGIO,José,O príncipe com orelhas de burro,p.294.26 ERASMO,Elogio da Loucura,p.47.[sublinhadonosso]27 RÉGIO,José,Páginas do diário íntimo,p.279.[sublinhadonosso]28 Ibidem, p. 365.29 MARQUES,JoãoMinhoto,“AproblemáticadoduploemMário ou Eu próprio

– o Outro”,in: Boletim, Centro de Estudos Regianos,nº1,Dezembrode1997,p.6�.

30 RÉGIO,José,“MárioouEupróprio–oOutro”,in: Três peças em um acto,3ªed.,Porto,BrasíliaEditora,1980,pp.147-148.

31 RÉGIO,José,Jacob e o Anjo,4ªed.,Porto,BrasíliaEditora,1978,p.167.32 Ibidem,p.186.