Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e...

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ESCRITURAS SANGRADAS ~ Livro #2 | Editora: Poetiguares (ICAP) | Autora: Civone Medeiros | ([email protected]) | Ano: 2009 | Edição: 1ª | Número de páginas: 132 | Formato: A5 | A obra está sob Licença CREATIVE COMMONS 2.5 Brasil (www.creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br)Blog: www.escriturasangradas.blogspot.comTwitter: www.twitter.com/civonemedeirosTambém na plataforma ISSUU: www.issuu.com/civonemedeiros/docs/escrituras-sangradas_livro2

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E S CR I T U RA S S A N G R A DA S

Livro #2

Ave de Arribaçã ou a propósito

de Viena e outros Ondes

Civone Medeiros

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Inst i tuto Cultura l e Audiovisual Pot iguar

Realização Colaborativa

Civone Medeiros [c.m] 2009

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[email protected]

Allan Talma

Capa

Goulven Jagot

Ilustração

Camila Loureiro

Revisão

FICHA CATALOGRÁFICA

www.naredecomcivone.blogspot.com

Medeiros, Civone, 2009 Escrituras Sangradas – Livro #2 – Ave de Arribaçã ou a Propósito de Viena e outros Ondes / Civone Medeiros. – 1ª Ed. – Natal/RN: Coleção POETIGUARES, 2009/10

132 p.

1. Poesia. 2. Literatura Brasileira. 3. Poesia Potiguar.

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Dedico... À meu Pai, por sê-lo!

À Bianca Medeiros, minha filha, por me retribuir a vida.

À Nalva Melo, Ceiça Lima, Ana Guimarães, Goulven Jagot, Allan Talma,

Ana Lúcia Fernandes, Edilson Pessoa, Camila Loureiro, Eduardo

Alexandre, Rosane Félix, Lenilton Lima, Glória Góis, Paulo Lima, Sânzia

Pinheiro, Marcelo Veni, Lola Raves, Paulo Augusto, Michele Ferret, Luiz

Gadelha e Múcia Teixeira pela crença, apoio e amor incondicional a mim; a

recíproca é macro-verdadeira – lembrando que a amizade é o amor que

nunca morre.

À Natal, que tanto amo e quiçá um dia aprenda, apreenda-me e se permita

me amar.

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Homenagem à... Otávio Augusto Barbosa (in memoriam) por tudo que foi, que é, e sempre

será em nossas vidas, para além da inspiração. Gratidão e vida eterna à tua

presença criativa e amorosa entre nós.

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Intróito

Uma escrita Civônica

O aspecto dessacralizador inscrito no texto de Civone é confessional e,

nisso, coloca-se ao lado do que muito se produziu, nas décadas de 70 e 80,

no descolado âmbito da poesia marginal. Para ela, essa "poesia incontida"

só pode escoar como um desabafo: "Sou uma velha de mais de trinta e

tantos anos/E uma criança de milhões de eras". É a anti-revelação porque

não ambiciona subir aos céus do cânone potiguar ou de qualquer outro céu

das letras universais. É uma sangria da escritura que se dá em jatos,

aluviões, jet-pororocas.

"Tecer com as veias", eis o lema da escritura que não é canônica, que não se

pretende sagrada, uma vez que está misturada a todas as potencialidade

que a linguagem pode oferecer. O texto escrito, sangrado na página,

dialoga com a performance, com o corpo solto no texto das ruas, do

cotidiano, do beco, do mundo.

O caminho buscado pela Escritura Sangrada é o do desvio, pois não imita o

estilo limpo, preciso, o padrão estético consagrado. Trata-se de uma

escritura suja, parida do caos, explodida do eu incontido.

Essa é a linguagem de Civone Medeiros. A expressão de uma amazona

traduzida, de uma fêmea híbrida.

João Batista de Morais Neto

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À guisa de um roteiro salteado:

Dedico... > Homenagem à... > Intróito > Proêmio > INTRO »

ARBÍTRIO > PEARL > A D E N T R O > Destino içou velas > Ofertório > Zugvogel oder Apropos... > Ave de Arribaçã ou a Propósito... >

ad.vertência: > Tão à Toa > ESPREITA > Remoto controle remoto >

Geração Dinamite > Carta à minha Amada > DE VIDA > Canto > Caliente > InfoMAR > Para tanto... Para > Mix > Cantilena ao Sereno > alívio: > 17.01.2002 (LUTO) > Ave! > Construção (des-troços) > CONFISSÃO >

A’VENTURA > Cantiga Breviária > Carta ao amado > Arte da Esquina do Brasil > UMA’EU > extrogênia > que Mera > Volatile > Arremedo de

Mundo > Recomendações à posteridade > Cicuta > Extemporânea > HUMANA AMBIÇÃO > ARREDIA > IDADE da POETA > A VIDA É

UMA FESTA > graxa > LEVEZA > SACADA SACANA... > Atiçada > d'EU > Indecisão de Cemitério > À risca > LIQUIDEZ > Impar > BATE

BEAT BATICUM > N a t a l d ' I [n] s t a n t e > OCEANOS FLUÍDOS > Afeita... > Quem? > s E M A N A > NASCIMENTO > Ser > Sem Saída >

DesaGostos > Veneno da Nata > Zeitgeist > Vuco-vuco > Kilogramas >

IVONE > Essa > A n ú n c i o > SI NAL > Amai-Ame-Amem > BADALADEIRA > Mulher-Peixe > FEMINA > Ecce Femme > A Tal > E c o

s do B e c o > Bamba > Vendaval > CAÇA-PALAVRAS > ODE às XANANAS > Ascensão pro nosso Amor > PASSADA > h a j a m a r >

Vou-me > Aquela... > É dando que se recebe... > Esboço d'um Poema ~ Ébauche d'un Poème > A felicidade não me inspira > Uma'zinha (DeCORAÇÃOdeLATÃO) > (minha) Língua > Inferno Astral > DADO

BIOGRÁFICO > Bela Estranhêz > E–X-P-O-S-T-A > Entre-Tempo > Aliciamento > A’Crítica > ENTERRA/da > GÊNESIS > Amo e sou amada

> Sina de Zila > Ela, a Praça D’alma > E... > O Potengi me Tange > Vulv’Ars poética > Febril/Cantos Undécimos > Enfant Terrible > |

“BONUS TRACK” » 9 Fragmento do Livro de Theta: AL MARE! > ANDARILHA > TENTÁCULOS > ESCRITOS PÉTREOS > PARADOXO > FIXAÇÃO > A CALHAR > IDA > TORNA-VIAGEM. + 5 Xtras-Postais...

Epílogo > Agradeço à...

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Intro » AQUELA

PROMESSA

FLORESCEU

E QUE BUQUÊ!!!

—Laércio Bezerra de Melo, sobre a poeta das Escrituras Sangradas.

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"Eu Preciso

Destas Palavras Escritas!"

—Artur Bispo do Rosário

>ARBÍTRIO<

Vim aqui ditar uma bíblia

Quem quiser que lembre

Quem quiser que esqueça

Quem quiser leia

Quem quiser ignore

Quem quiser aclame

Quem quiser reclame

Quem quiser odeie

Quem quiser ame

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PEARL Como Janis Joplin...

Não me atiro aos porcos

Oferto Pérolas

Aos poucos...

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Epigrama #1 A d e n t r o

Eu não estou à frente de minha poesia,

eu não estou dentro da minha poesia.

A verdade é que eu sou a minha poesia.

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“Si desmorono ou si edifico,

si permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei si fico

ou passo.”

— Cecília Meireles, Viagem

Destino içou velas Desatracada âncora

...O caminho é sempre mais importante que o porto Correntezas, correntes de ar - atlântico Corta entre - mares / afluentes

Avoei... Trem de pouso...

Nem o Danúbio nem o Potengi são azuis As Veias = os Rios

Rios Grandes Espaçosos em minha memória Guardo a imagem de crepúsculo sobre o Potengi

... As valsas de Tonheca Dantas Céu de âmbar flamejante

Cinza verde lodo Danúbio Dúbio prazer em vê-lo ora Outonal

...Céu d’azul luzente

...Valsas vienenses Um porto... Taça de “Sekt”, beijo espumante

Sina, emoções fluentes, cheias de sangue veias, ventos nas costas andejas... Estratégias de xadrez, pulsação d’amor, dados do gamão jogados...

Respiração, inspiração, transpiração E a discreta Primavera do lado hemisférico de Natal

...Aportei ora e finco ramas por Österreich, o “Reino do Leste” Venho com sangue quente, brilho nos olhos, coração ardente, a rima que

me segue... E a velha inquietude latente...

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Ofertório A o C a f é Sa l ã o

Te ofereço meu café amargo

Pra você distinguir o agridoce de meus beijos cálidos

Te ofereço minha ebriedade

Pra você gozar de minha lúdica lucidez

Te ofereço meu orgasmo silente Pra você ouvir os gemidos e gritos estridentes de minh’alma

Te ofereço minhas lágrimas de gozo

Pra nosso sexo ser humano, animal, romanesco e prazeroso

Te ofereço do meu vinho um trago

Trago do cigarro

Te ofereço um pouco Trago um desejo louco

De sorver-te...

Não posso me dar toda Te ofereço de mim um pouco

Te ofereço um trago do meu corpo

Um trago, um halo

Te ofereço meu olhar venenoso Pra você descobrir a cura no meu riso solto

Te ofereço minha displicência

Pra te lembrar que nem sempre as boas coisas da vida guardamos

Então, te ofereço uma chance:

Receba o que te ofereço E de quebra,

Não me esqueça!

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Zugvogel oder Apropos... Die Bahn fährt immer

Hin und zurück

Ich gehe

Immer

Hin und her und zurück und hin...

Ich gehe Ich bin Die vier Jahreszeiten sind Ich

Ich bin wie die Bahn

Ich bin wie trockene Blätter

Ich bin wie der Winter Ich bin wie der Blut

Ich gehe und gehe und fliege und gehe... Ich lebe

Ich liebe

Ich fliege

Immer

Von mir für die Welt Ohne Ende...

Ich bin wie das Zink Ich bin wie das Wasser

Reise um die Welt

Wiener Spielzeit

Ich bin wie der Winter

Ich bin alle Zeit Ich bin wie das Wetter

Ich gehe in Zickzack Ich bin eine Gestalt

...und ich fliege und gehe und fliege und gehe immer

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"Tem sangue eterno a asa ritmada."

—Cecília Meireles, Viagem

Ave de arribaçã ou a Propósito... O trem anda sempre

Ida e volta Eu vou

Sempre Ida e ida e volta e ida...

Eu vou Eu sou As Quatro Estações eu sou

Eu sou como o trem Eu sou como folhas secas

Eu sou como o vento Eu sou como o sangue

Eu vou e vou e vôo e vou... Eu vivo Eu amo

Eu vôo Sempre

De mim para o mundo Sem fim...

Eu sou como o zinco Eu sou como a água Volta ao mundo

Vienense temporada Eu sou como o vento

Eu sou todas as horas Eu sou como o tempo

Eu vou em ziguezague Eu sou um vulto ...e eu vôo e vou e vôo e vou sempre

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ad.vertência:

Poemas

Soltos

Para

Guardar.

Atente...

Esguarde

-os

Enlace

-os

No tato

Na visão

No faro

No palato

Na audição

Ou seja:

Na alma

Na mente

No coração.

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"Muitas palavras que já morreram terão um

segundo nascimento, e cairão muitas das que agora gozam das honras, se assim o quiser o uso, em cujas mãos está o arbítrio, o direito e a lei da fala."

— Horácio, Ars Poetica

Tão à Toa ando tão à flor das folhas

que outonal já estou a cair dos galhos...

ando tão à toa que esvoaço-me folha

pelas ruas, links, bosques, sites, praças, atalhos...

ando tão virtual e sinto simultaneamente

as européias quatro intensas estações...

converso mouse-a-mouse, poeto em html

consulto minha bússola pessoal...

ando tão on-line que até me esqueço de almoçar

lembro de beijar minha filha amada

rabisco meus web-passos

e e-mails de saudade quase me fazem chorar...

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Geração Dinamite sou estrela

sou forte sou rocas

sou reis sou beco

sou quintas sou meio sou ribeira

sou mito sou verdade

sou a bola "da vez"

do Norte o rio grande Rio Grande sem limite apesar do elefante sem memória

sou pólvora sou atrito

sou explosão sou dinamite

sou a tal fatal

Natal Poetiguar

sou a Natal dos artistas sou a morte do limite

da geração sou dinamite

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Carta à minha Amada Querida, Quanta saudade de tua luz à minha volta. Da sensação única de teu entorno, de teu

calor em minha tez e alma, tuas curvas e quinas, teus lábios multicor, teu dialeto em meus ouvidos, teu brilho em minha retina, teu sorriso de criança, de apenas quatro séculos, tão menina... Ah, como amo teu amor! É uma saudade danada. Diluída em lágrimas. Ah, como você me faz falta! Vivo mutilada sem te ter. Você dentro de mim. Eu dentro de

você. Sabe? Sinto teu olor em minhas narinas, a tua brisa. Sonho com você a cada noite-dia...

Minha musa, minha diva. Você meu ar, você meu fogo, você minha água, você minha terra, você meu amor. À você minha amada Natal, todo meu ardor, todo meu amor. Tua amante, ternamente sempre, Civone.

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Epigrama #2

BADALADEIRA Da Baladeira

Atiro Estrelas

Na Ribeira

Badaladeira

Puxo a Toada

Canto Natal

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Epigrama #3

NASCIMENTO Assim nasceu a Vênus de Natal: Com o coração exposto...

Imenso... E já mulher adulta...

Das espumas atlânticas abaixo do cálido equador... Na esquina do Brasil... Nasceu uma das Vênus de Natal...

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Epigrama #4

>DE VIDA<

A poética inspira

A poeta aspira

A poética transpira

A poeta pira!

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Epigrama #5

AVENTURA

de Ser...

Demasiada

Humana...

Mundanazinha

e de ser uma...

Extasiada

Onda... entre tantas...

Pedras!

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Canto Viscerais Entranhas

De mente e coração Sem canto neste mundo

Me canto imunda Sideral

Pólibo sem rumo Pensante nessa terra Mal-passada

Revelo-me Desencanto

Desenovelo-me Por pântanos e Edens

E raro me encontro Século vinte passantes

Sinto-me sem era e sem surpresas com o devir... Que venham passadas vidas outras

E m’atentem à incógnita filosofia Amoral que de mim brota – e que nem tenho ainda!

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Caliente I

Ao pó o que foi pó

À ética o que é étnico

À poética o que é cético e lépido E, à chuva meu menstruo cálido

II Ao sol o que é nós

À étnica o que é ético À poética o que é lépido e trépido

E, à vida meu riso cálido...

III

Aos nós o que foi só Ao amor o que é ardor

À poética o que é etílico e lépido E, às noites meus beijos ávidos e cálidos

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InfoMAR Ah, Professor Bolshaw!

e n t r [ans] e o c e a n o s

que nos separam és um infoMar

[& Céus]

eu, um peixinho

saltitante - navegante

e n t r e c o r r e n t e s &

cabosóticos

por teu Mar

a me esbaldar...

ciclone - ciborgue - civone

[sua aluna à revelia]

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Epigrama #6

GRAXA

A chave achava que acharia a chuva pouco encharcada

A chave estava engraxada

A chuva estava mesmo encharcada e ainda achou graxa

A chuva ficou engraxada

A chave engraxada tinha razão do que achava

Era tudo graxa

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Epigrama #7

LEVEZA

Quando em sono profundo

Sinto a imensa paz de não ter corpo

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ATIÇADA A lua frecha a janela

A cancela está aberta

A gazela sai e salta brasas

A clareira é que delata

A lua é uma escancarada

[mas a gazela não está mais em casa]

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"Avec mes souvenirs J´ai allumé le feu

Mes chagrins, mes plaisirs Je n´ai plus besoin d´eux!

Balayés les amours Et tous/avec leus trémolos

Balayés pour toujours Je repars à zéro..."

—Edith Piaf, Non, je ne regrette rien

Essa. A noite. Uma mulher. É uma mulher. Essa. Que deixa d'outro lado o

dia'mante dormente a'cor'dado na cama menino. Tão lindo. E sai por aí. E cai em si. A noite. Sai pelos bailes, botecos, galerias, bares. Faz alardes.

Sedenta se embriaga de olhares. De olhares e focos disformes. E copos

tragados como corpos. Beija os amigos na boca. A noite. Essa louca. Abraça

como quem parte. Como quem morre. Morde a rosa e o nome das horas.

Presenteadas. Deixa as bagas, as taças rasas, os pratos mornos, os risos

fátuos para a madrugada irmã. Essa. Qual Piaf. Cadela em cio latente. A pele frisante e os passos rotos em zigue-zague. É a festa. Ou tempestade.

Gozo. Ou lamúria. A noite é ela. Fêmea andrógina. De pêlos nas axilas e

salto encarnado alto. Como não lembrar da Ribeira à beira dessa noite tanta... Essa que sonha estar nela. E é no remoto aqui que está. Tão longe do

mar. Oceano potiguar. Chuvosa em lépido lamento azul marinho essa noite

hoje chora. Ora ora. Mais que nove horas. Mulher chorosa. Que este choro

tal qual o de Alice se arvore em mar e a trague de volta às margens de casa,

bem na beira. A qual nem disse quando vai tornar. Outra noite será. Mais

alegre, assim contente... E sempre outra é. É uma mulher. Noite qualquer. Essa.

Page 31: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Indecisão de Cemitério Não sei se por fim

Vou ao Bom Pastor Ou à tal Morada da Paz

Ou fico aos pés do Tirol

Ou se vou pro da Saudade

Gostaria mesmo é de arder

Em chamas

E célere tornar ao pó

Poeirar-me

Entre as margens do Potengi

Meu berço etéreo...

...Enquanto vida:

Mistério.

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Epigrama #8

LIQUIDEZ

Por vezes olho "as coisas" como se fossem tudo

Virtual e imaginário E felizmente me sinto líquida e fluídica nestes momentos

Vários

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Epigrama #9

A VIDA É UMA FESTA

Quem nem liga é quem curte

Quem se importa

é quem entorta

Page 34: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Para tanto... Para... Para olheiras:

Brilho.

Para olhos secos:

Lágrimas.

Para alegria:

Sorriso.

Para o frio:

Agasalhos.

Para dor ou euforia:

Grito.

Para distâncias:

Notícias.

Para desejos:

Encontros.

Para saudade:

Abraços.

Para boca sedenta:

Saliva.

Para seres soltos:

Laços.

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Epigrama #10

HUMANA AMBIÇÃO

Não quero uma obra que tenha valor

de mercado. Quero que tenha valor

de expressão.

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Epigrama #11

ARREDIA

A rede

Arredia

Que arremedo

Me arrima

À riba!

Page 37: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Remoto controle remoto

Morangos mofados.

Na corzinha da cozinha.

Cinza inverno jan'ela.

Inventos.

Palavras-frases na mente.

Sementes.

Gotas serenas.

Matar a sede com lágrimas.

Tomar o pulso.

Engolir sal.

Subir pressão.

Escrever por impulso.

À dista o lusco-fusco.

O que não tem luz também ofusca.

À dista o quintal.

O galo.

O povoado.

O mar à vista.

Não-vista.

Maremoto.

Remoto controle remoto.

Page 38: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

"Os limites da minha linguagem

denotam os limites do meu mundo"

— Ludwig Wittgenstein

Mix

SAUDA DÁDIVA DOCH DOR DISTANZ ESPELHO SPIEGEL OUTRO

ANGST ASTUTA ANGÚSTIA TREMOR DE TEZ, ERSATZ

GUTE GOTA SERENA ACALENTA LUST

MEU PRANTO BLUT & ESTA MISCHUNG DE LÍNGUAS

NADA APACENTA NICHTS.

Page 39: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Cantilena ao Sereno Sereno me acalenta

apascenta o meu pranto

nesta cantilena

serena a saudade do meu canto

Sereno me serena

seiva meu amor e com teu sumo

me apascenta

Sereno em cantilena

como à flor me acalenta

mesmo ardente de amor me faz serena...

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alívio: pro funda tris \ teza Tesa / impotência humana à tona in- feliz de ser /tão sub e urbana / tão subterrânea entre excepcional /medíocre banal ...estou abaixo /destes muros nem meio / nem mensagem nem eco / nem trunfo / nem nada página /em branco câmera /sem filme pincel /sem tinta pedra /sem mãos música / sem acordes / sem som escrito sem título crônica sem estória e-mail sem texto ensaio sem tesão prosa sem conversa história sem função pessoa sem visão nem tato / nem faro sem fato / sem tratos sem margens / nem imagens sem sangue / sem transfusão coração sem convulsão sem brios / nem ebriedade sem coro / sem conclusão demasiada mundana / vadia/ vazia sem traços / nem passos / nem expansão.

<Ufa! Ah!! Que alívio poder escrever isso!!!>

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“Não sabe ninguém que rio, que rio de luto circunda a terra profunda que piso e que sou"

— Cecília Meireles, Viagem

17.01.2002 (LUTO)

Ao telefone, minha mãe me chama de casa no longe e, ofegante e espaçada fala:

- E-u--p-r-e-c-i-s-o--d-i-z-e-r--a-l-g-u-m-a--c-o-i-s-a-?

Atônita e só, sem chão nem pai nem mãe, respondo em pranto e horror e grito:

- N-Ã-O-!

Quebro na parede o telefone, a ligação. Reluto! Luto enérgica contra a voz que ecoa sem cessação.

As paredes e elos da casa inteira comprimem-me, me desterram, moem-me como rolo-compressor e eu asfalto sem vão... Luto e reluto contra a constatação inexata da má comunicação.

A destempo. Desterrada. Estilhaça em mim metade de minha imagem e semelhança...

Oh! Patri-amado!

"Devo-te o modelo justo: sonho, dor, vitória e graça."

Passamento, Passamento... Pensamento vai e não.

Ele não sai nem em passamento do meu coração. E eu luto desterrada e revolta luto sem findação.

De súbito e mais ávida vêm-me a filopatridomania - que fui entender no Houaiss -, mais abrupta inda. Inicio meu retorno e revolta aos poucos ao meu entorno Natal, meu chão. Revolta. Reluto.

"São dois rios os meus olhos”

)LUTO(

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Ave!

Avia!

Havia

Arriba

Sã...

Abatida

Na bacia

Agonia

Caça insana

Predatória

Nos açudes de Açu, cercanias Seridó e alhures...

Pena nada

D e p e n a d a

À venda

Em cada esquina

Entre vermelho-roxo

Salgada como o mar

Como banhada em lágrimas

Cessado voar

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...E, inspirada em Frida Khalo:

Nunca escrevi meus sonhos. Escrevo minha própria realidade!

Construção (des-troços) Ress_urgir

Re_lançar-se

De_senlaçar-se nó

Dançar-se tonta pronta na afronta

De_cantar-se em catarse

Jogar-se ao terreiro mundano

Se re-fazer do tombo

Re_criar-se das cinzas

Dos restos que simulei

não me pertencer/nem me ser

Adornar-me de meus sonhos e visões

Desembaçar as lentes, meus olhos e os desejos

Re_maquiar minha face e meu corpo

Re_textar meu contexto

E me desfazer de pretextos de escape

Encarar minhas vísceras

E jorrar-me em gozos por todas as angulações

e formas

De expressões que se dá como arte.

(...minha pretensão = meu alívio!)

Page 44: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Epigrama #12

[CONFISSÃO]

C o n f e s s o

q u e

r e n a s c i !

Page 45: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Cantiga Breviária I

Pétala cai Açucena acena

Urge outono

II Brota do cacto Equinócio tal qual cio

Lilácea flor

III Grão qual lágrima

O sêmem que orvalha Aí cai êxtase

Page 46: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Carta ao amado Faltam palavras / Sobram para criar. O que existe, o que há. O olhar sobre a tez.

O ocre que mancha cores. Agridoce suave abrupto sabor saliva a boca. Fel

lágrimas / Secreção vulvar. Nuvem esparsa sobre denso mar. Verde íris me faz

saudade toda. Relva orvalhada, travesseiro d'alma. Lusco-fusco o piscar do tempo

moroso avançado. O extremo espaço sideral quilométrico mundano, geográfico

gráfico que ilha terras nem tão próximas, nem tão distas tanto... Ósculos

escaldantes apimentados. Ardor em entranhas e aura. Latina crueza escaldada

romanesca. Essa minha linguagem parda. Quente verve de escavar, cavucar,

rasgar e abrir o quase sempre ou por vezes mesmo árido coração maroto, fértil,

absorto... A busca do possível impossível possível de ser perpétuo, terno e eterno

esse milenar, extemporâneo amor. Amor d'almas par? Destino esse que revolve,

espinha, envolve, afaga, ata e separa? E ata, afaga, envolve, espinha, revolve qual

esse destino? Que esse desígnio desejo destino destile em desvelo certo encontro,

cerrado, concreto, corpóreo, etéreo, emancipado, aventurado, unido, aprazível,

inteiro, luminar...

Ah! Amor, incondicional amor! Tudo conspira a favor. A barrancos e trancos não

estanco nem me estilhaço... Este destino sim, já disse a que veio... Me faz amar.

Page 47: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Arte da Esquina do Brasil De quina

No Brasil

A esquina ferve

Ninho tórrido do sol

Manto noturno ao léu da brisa, ah! Mar...

O sangue dos artistas

Da esquina ardem

Os nervos dos artistas na esquina

Queimam

Os artistas explodem

Da esquina

Naturalmente

Viram luz!

Iluminam

E ampliam horizontes

Jamais serão artistas apenas

Da esquina.

Raios de farol

De alcance longo

Terras tantas

Vastos palcos

Galerias dos humanos

O destino

É

O mundo!

Page 48: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

“como poderei dizer senão timidam ente assim: a vida se me é . A vida se me é , e eu não entendo

o que digo. E então adoro. - - - - - - -“

—Clarice Lispector

<ESPREITA> poética a gosto se arrasta embora

embora

o verão que já ensaia o adeus

o até nem tão logo

meses a fio / cio da terra / ciclos a fio

setembrios

inda é encanto

outubroutono

frutos colho

invernal

hiberno ao frio

espreito mesmo é a bela e lépida primavera

floresço

Page 49: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

…Toutes les Femmes, c'est moi!

FEMINA Fé menina

Menina fel

Céu menina

Menina véu

Femina Humana Germina

Menina mama

Mina menina

Menina sol

Sal menina

Humana Germina Femina

Mar menina

Menina amor

Lida menina

Menina sina

Germina Femina Humana

Menina dádiva

Dor menina

Menina cálida

Lépida menina

Page 50: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Ecce Femme Tecer com as veias

Pintar com sangue e saliva Lavar com lágrimas e seivas orgásmicas

Traçar as trilhas com olhos e língua Volver as vísceras artísticas

E ser-me outra a cada dia Fragmentária Contínua

¿ Pronta jamais

¿ Satisfeita nunca ¿ Realizada jamais

¿ Terminada nunca Incontida poesia

Tecer com sangue e saliva

Pintar com lágrimas e seivas orgásmicas Lavar com olhos e língua

Traçar as trilhas com as veias Volver outra a cada dia E ser-me Contínua

Fragmentária as vísceras artísticas

Pronta quem ¿ Satisfeita quando ¿

Realizada onde ¿ Terminada porquê ¿

Poesia incontida

Page 51: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Kilogramas Sento com meu caderno de poemas

nas ruas, nas praças, nas gramas...

E me vêm quilos de palavras!

Page 52: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

IVONE, Fêmea que me deu nome

Parceria com Cícero, meu pai querido Mãe amada gentil

Traços étnicos ricos Beleza em templo nobre

Em Picuí nasceu Cresceu entre Parelhas e Caicó

Entre o oriente e o ocidente Seridó E em Natal deu à luz

Genitora de crias ramas imãs Sertaneja O bordado nas veias

Acordes no sangue E a poética nas letras

Materno e fraterno amor transbordante...

Tu sim és mãe gentil! Com imenso amor, tua filha... cIVONE...

Page 53: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Palimpsestos ...d’Asas de Papillon

Casulo Cedo

Cede Ao Mundo Seco

E Umedece a Sede

Sátiras Bóreas

Trama Cetim Seda Tez Drama Carmim

Cedo o Vôo Tarde o Fim

Page 54: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Epigrama #13 UMA’EU

PRAXDA A_RAINHA É GUE(IXA)RRE.IRA

PER SPELHO D’oUTR ‘EU IN REMOTEMPO ei

CarNA_DA Spiral al PerpéTUo Fátuo D ser

Uma eU (que) EnTE Q nem sEI DE OnDe sai

Page 55: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

extrogênia Nas Escrituras, a minha poesia

Não é / nem é só feminina

Nós temos muita testosterona

Ilimitada de gêneros

Temos muitos hormônios

Somos um píton no corpo d'uma pomba

Somos um pavão no corpo d’uma fêmea dragão

Page 56: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

que Mera Nesta vida mera de escrivã... Meses Vem. Meses Vãos. A Gosto para

tanto. Pulsiva criatura. Impulsiva escritura. Pura escrição. Janeiros sins e

nãos. Fevereiros bissextos. Bissextos sentidos. Signos repetidos. Arvora

reticente palarva. Ciclos em aberto e outros sãos. Quimera sim. Lume

clarão. Julho féria à fera ócio. À vera. Úmidos cílios e cios dóceis. À feira

fraseia pela esquerda mão. Essa besta bela escriva verve. Por Pulsão

</in/> Trans Fusão. Dias sins. Anos sóis. Luas cheias e as nada novas...

Nova que oculta face. Minha-Nossa. Silentes em transparente caos-lual.

Meses sins menstruação. Vis papéis vãos. Esboço d'esforço creação. Na

boca do poço vão. Povo vão. Imprópria Orígenes. Idioleto em dilatação.

Passa o Hades e torna-viagem... Hipocampo. Transborda à bombordo a

saudade. Minha Ítaca-Natal. Esse imenso amor tão. Vis à Vis. Reflexo

chão. E mares e olhos e poros. Espalho-me espantalha desta plantação.

Frangalho sensação. Sentição faisão. Estilhaços e desvãos di visão -

devisão. Misteria caminhos rotos e quimeras. Desta mera escrivã. Escrivã

de novidade nada. Nem alguma nem dua. Agulha afiada da vontade de

não ser sã. Neste mundo tão. Enfiada na cor coração. Encarnada. Sagra de

cor e salteado. Zambê Reisado. Mulher maracatu. Mulher bailado. Essa

ruma de rima que arriba cerebral. Por esta mão esquiva a risca arisca.

Cerebelo bélico. Esquerda esquina. Esquema tece no terreiro e cisca.

Terreiro de palimpsestos. Incesto d'amor próprio. Esborra do cesto

esbórnea. O celeiro transborda culturação. No terreiro de palimpsestos

toscos que suportam impressões-inscrições... Tão tão tão desta Civone

escrivã.

Page 57: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Arremedo de Mundo A rede é minha teia

Minha ilha, minha vida

Arremedo de Mundo

A poesia é a minha linha

Minha veia, minha trilha

Minha língua, meus punhos

Varando noites, varando dias, varandas vias...

Dessa rede não arredo

Armador que se agüente

Na rede da poética

Desnudo inventos pessoais

Devaneios e planos e utopias

Balanços d'um lado ao outro

ziguezague

Sementes à mente

Calma à alma

Porto ao corpo

Sono e sonhos e sons de balanços

A poesia é a minha rede

Até titubeio sobre muros retos

Sigo imaginadas vias

Num grão de areia tropeço

Me agarro em minha língua

A poesia

E dessa rede não arredo

É minha!

Page 58: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

“Recomendações à posteridade ou a simples ausência; à imortalidade”

...Que a morte ou minha ausência sirva para bá-fá-fás picantes,

controvérsias estéticas, étnicas, éticas...

Que deflagre conspirações...

No caso d'um funeral, que estimule a dança, o sexo e a bebedeira...

[como gosto disso tudo!]

Que apareçam as dívidas e se escancarem as dúvidas

Que faça rir em vez de lamúria

E que sejam enumerados:

- meus delitos e escritos

- meus porres e vôos rasantes

- meus amantes e minhas fomes

- meus escândalos

- meus cactos e os abortos

- meus cabelos e as máscaras

- meus portos, selos e sufocos

- minhas menstruações e as secas flores

- meus esmaltes e saltos

- minhas echarpes e beijos dados

- meus cigarros e baseados

- meus gritos e os sussurros

- meus gestos e trejeitos

- minhas carreiras, trajetos e projéteis

- meus anéis

- meus anelos e os desafetos

- meus tambores e mulheres

- meus filhos, filhas e ilhas

- minhas cicatrizes e tatuagens

- meus diamantes e homens

- minhas nuvens e sonhos

- minha arte, arteirices e artimanhas

E finalmente, que enumerem minhas últimas mortes.

Page 59: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

A N Ú N C I O Estou grávida.

Chego a pensar que tenho vários úteros...

Com a barriga pela boca...

E a alma fluída entre meu coração e meu ventre. A mente solta pelo mundo...

A luz é para várias crias... Umas quadrigêmeas ou mais...

De sexos vários e cheias de dedos, poros, olhos...

Os escritos são outras crias. São hinos que me embalam... Enquanto estou prenhe d'outras crias.

Chego a sentir que tenho vários úteros...

Estou grávida.

Page 60: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

V E N D A V A L Não tenho palavras Apenas para dizer Que não as tenho E quem as tem? Palavras encharcadas Levas de lavas Me escapam tal qual lágrima tal qual rio tal qual parto tal qual volta tal qual vinho tal qual cio Tenho palavras para dizer não tenho E quem? Palavreia pulsa im/pulsa Latejante saudade Lajedo Soledade Hipocampo avança Atiça a teia e tece Palavravulsa veia a veia Amor qual vendaval Meu amor Vênus, Natal Amor, me aquece!

Page 61: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

“Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor."

—Manoel de Barros

Volatile <Ser/Estar> Pouso No casulo No ninho De meu eu mais claro'bscuro Tendo pensamentos por muros } Obscuridade > Potencializa < Luz { E sensações de futuro - espelho Meus olhos nos olhos a luz Esmerilhando-me Depenando-me Desmembrando-me Descabelando-me Desmanchando-me Inteira E renova Pronta para {+} um emergir {+1} Evoé Voar Resguardada {&} Recreada Forças Para o suporte Quando Novamente estiver {Quando} Fora de mim Mundana como {1} qualquer uma E tão frágil E tão volátil E tão arisca E tão alheia E tão Phoenix Neste mundo sem fronteiras De dentro {&} De fora De mim

Fiat Lux!

Page 62: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Vuco-Vuco ...Luiz tinha uma banca no Vuco-Vuco. Vendia de um tudo e simpatia era

de graça.

Eu tinha quatorze anos; estudava lá perto e o visitava toda tarde em mil

novecentos e oitenta e seis no Grande Ponto. A praça Gentil, a Ferreira era

um labirinto estimulante no Alecrim. Um grande bazar de tudo-tudo sem

fim.

– A diversidade diverte –

Luiz é sorridente, um brejeiro urbano com a eterna alma do campo. Assim

como Cícero.

O Vuco-Vuco mudou de canto; foi lá para a Avenida Quatro e sem

encantos Luiz o largou.

– O movimento é fraco!

Dizia Luiz sem ânimo. O lusco-fusco do Alecrim dia-e-noite lhe era

melhor. Ele, Luiz. O irmão de Cícero, meu pai. Meu tio Luiz tinha uma

banca no Vuco-Vuco...

Page 63: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Zeitgeist Oh, espírito do tempo

Que fazes ao me dar como vista um vale de nuvens e picos e rochas Dolomíticas?

Oh, espírito do tempo

Que fazes de mim Outsider Contra-Mola Biela

Acelerador Embreagem

Madeira Torta Vias Curvas

Contra-Corrente Arame Farpado ...de Porcelana só alguns Dentes

Oh, espírito do tempo

Que me fazes tão ninguém como tão bem sou! Que faço-me ícone do meu signo peixes para eu própria não me esquecer

contigo Oh, afã...

Oh, espírito do tempo Que me venta alhures e fazes de mim forasteira em minha própria

morada Que me fazes alheia ao pouco que quase me pertence

Que me fazes ranger com tu mesmo que passa e sempre e sempre Oh, tempo que passa...

Oh, café frio que embebo, com sua "ína" que me atina a sair... Em carreira, a ser beijada pela chuva choro celeste que escorre do

despenhadeiro saudade De Tu... Do que passa...

Saudade essa dos minutos de bem poucos segundos atrás Oh, tempo!

Oh, Zeitgeist!

Page 64: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Mulher-Peixe Quartos

Salas Solos

Batentes Soleiras

Saladas Embriões Taperas

Palacetes

Sozinha Cozinha

Placentas Sopa de Veias e Vísceras

Baleia / Gréia Arraia / Cerra / Enguia

Atum / Tubarão

Guelras Antenas Mulher peixe de Atlan

Atenta

Por oceanos Rios

Contracorrente Mediterrâneos Opostos pólos

Oriente e tal Glacial

Equador Eco d'amor

Dessa mulher peixe Salmão e avoador

Page 65: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

A Tal É S Q U I N A T A L

Que me fascina

És a tal!

Natal

Cidade menina.

Page 66: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

SI NAL. Amar Elo. Amare lo d’Es pera. A mar e lo Lou ro. Louc o. Amar elo Am bar. Pês sego. Amarel o So l. Am ar elo Gir as so l. Ama re l o d’Ate n ç ão. A ma relo d’Ou ro. A m are l o Gem a. Ma nga. Caj ú. Ca já. A mar el o Out ro. Ou so. A m ar e lo Lin guaj ar. Ama r elo Sol uçã o. A marel o Lar anjal. Citro n al. Amare lo Ser tã o. So lid ão. Am arel o Saud ade. A sina la. Car t ã o A mar elo Nó/s. A nel o/s. Amar e l o Só/s. Elo Ama relo. Am ar el o So rris o. A m a r e l o Pis ca. SIN AL.

Page 67: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Amai-Ame-Amem Amemo-nos

Umas aos Outros Outros aos Outros

Umas as Umas Outros as Umas

Umas às Outras Amemo-nos

Uns às Outras

Outras as Outras Uns aos Uns Outras aos Uns

Uns aos Outros

Amem!

Page 68: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

<cicuta> Minha saliva

É minha cicuta...

Minha língua

Meus gens

Meu veneno

...Não mata

A mim

Mesma

Page 69: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

EXTEMPORÂNEA Não tenho compromisso com o tempo

Nem suas marcações

Principalmente religiosas e artísticas

Meu compromisso é com a vida

Precisamente a fluência da minha e meus envoltos entes

Reais e imaginários...

Futuro-Presente-Passado

Page 70: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Epigrama #14 IDADE da POETA

Sou uma velha de mais de trinta e tantos anos.

E uma criança de milhões de eras.

Page 71: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Epigrama #15 D'EU

Escrevo torto por linhas certas

Escrevo aberto por linhas rotas

Escrevo roto por linhas abertas

Escrevo certo por linhas tortas

Page 72: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Delírios Afins Sexo verbal faz meu estilo

Lírico e erótico

Como um lírio

Destilo

Todo meu Text-Appel

Orgasmo e salivo

Delírio

Page 73: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

À RISCA ...Quando eu era pequena

ouvia de minha avó e minha mãe uma imperiosa recomendação

Elas diziam assim: "menina, tenha estilos!"

[Fui ao dicionário descobrir o que enfim elas queriam dizer, e gostei!] Aí, o tempo passou

e ao poucos cresci Hoje sou uma mulher assim

à risca, cheia de estilos

Page 74: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

IMPAR ...sou esta

mulher par

tida ao meio

ex

/

es

face.

.

.lada

ladra ~ lava ~ larva ~ lavra

mil faces

e

nós

...é nos olhos

que guardo os ases

os laços...

e é nós!

Page 75: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

BATE BEAT BATICUM "As vezes parece um tambor mas não é tambor nem nada, é o coração"

—Djavan

TRUE REAL WIRKLICH

TRAUM SONHO DREAM

SÓ ALONE ALEIN

BATIDA SCHLAG DRUMM

HERZ CORAÇÃO HEART

BATE BEAT BATICUM

PALAVRAS SOLTAS NUM CADERNO

REPETECOS, TELECOS-TECOS...

À TONA NA TÔNICA ATÔNITA

D'UMA NOITE TAMANHA

COMO TODAS AS EMOÇÕES IN/

POSSÍVEIS TONS SONS CORES

CARAS PERSONAS SERES PESSOAS

AMORES LIEBE LOVE

DONS...

E APÔIS?

SER DOIS É DOM!

MEIN HERZ SÓ BATE EM MIM! BATICUM!

BATICUM!

BATICUM!

Page 76: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

N a t a l d ' I [n] s t a n t e escuras-noites-em-claro

olhos-ilhas-pares ilhas de lágrimas

desejo dispara

olhos d'água salgada

saudade não pára olhos em chamas

fogo-fátuo-farto

ventania de pestanas

areias-meteoros-ciscos

na apara das sobrancelhas

desarmadas

mentar amada cidade

ama mentar crias d'amor e lacrimar de ardente saudade

feito orvalho em flor

em f lor de ar dor

de am or de ar do r

t or p or

de so l am or s em dor

or va lh o em f lor

Page 77: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Epigrama #16

OCEANOS FLUÍDOS

Rios afluentes em

Veias fluentes de

Mares influentes

Fruições...

Page 78: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Afeita... Tenho

Afeição

Pela

Beleza

da

Imperfeição

Page 79: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Quem? Quando estava germinando

Saí do chão

E fui-me

Me replantei em terra alheia E tão distante do solo

Potiguar

Estou brotando...

Não são maduros nem tão doces

Mas quem quer provar Meus frutos?

Minhas flores?

Page 80: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

s E M A N A Sexta-Feira da Paixão

Sábado d'Aleluia

Domingo de Ramos

Segunda de Graças

Terça de Carnaval

Quarta-Feira de Cinzas

Quinta-Feira de Fênix

Vendaval da carne

Carnação com aval

Amém

Arre!

Page 81: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

SER Não sou uma artista especialista

Sou uma mulher par

Não sou uma artista impar

Não sou uma mulher singular

Quer saber?

Sou um ser assim: plural!

Page 82: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

desagostos I

desenho do desejo do desgosto. desdesenho des-desdenho. desgostar a desdizer o

amor. dissimular o gosto e o prazer de se ser. desamor mor. decifrar a alma de me

ser assim. despertar a ser-me mim sem ninguém. nem você. agosto triste. alegre e

feliz pode ser. mas cadê eu mesma? cadê minha vida? cadê a música? cadê a luz?

cadê o gosto do mar? cadê meu rosto? o teu? cadê você? ah! esse desagosto.

desassossego. desassossego do meu coração. sei que é lá. lá onde não está você.

onde não está teu rosto. onde está o gosto do mar. onde está a luz. onde a música

está. onde está minha vida. mas onde? será mesmo que tão longe? será que não

aqui? bem perto e dentro de mim? onde está eu mesma. onde?

II

um gosto assim / sem sal / sem sol / sem luz / sem lua / sem pimenta / nem

azedo / sem açúcar / sem tempero /

foge de mim / escapa-me sem triz / desassossega-me / desacelera-me / dilacera-

me / destempera-me / esfacela-me / assim... assim.

III

acabou. é o fim. acabou de mesmo. sei que é o fim. o fim ao fim. enfim? sei que não é

isso que quero escrever. nem dizer. nem viver. mas é assim. e que de nada adianta

desgastar palavras tantas. sei que sou uma anta. sei que quero ser santa. meu

coração é só dor. e que eu nem devia escrever uma carta assim querendo que seja de

amor. e escrever carta assim, sei que não sei. perdi você e assim mesmo, me perdi

um pouco de mim. isso está errado. não posso me perder de mim assim. repercebi

que o amor é que é maior e, quando ele existe é maior sim. eu me desapercebi no

erro em errar com tal amor de mim à fora. sei também que sequer vai ler ou ouvir

isso aqui. e se acaso ler ou ouvir, nada compreenderia. afinal nunca falamos a

mesma língua, não é? e que nada nem apascenta nem suplanta. não é hora essa

hora. a esboçar uma carta de amor. ora, ora. não traz nem leva a nada a essa hora.

nonada, no tempo em que o amor é desamor e não ardor. não mais temos tempo.

nosso tempo já era. nem há mais fulgor. d’amor. pois é... acabou.

Page 83: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Sem Saída

Não

Não há Não há luz

Não há luz no Não há luz no fim

Não há luz no fim do

Não há luz no fim do túnel

Sim há luz no fim do túnel Sim há luz no fim do

Sim há luz no fim Sim há luz no Sim há luz

Sim há Sim

Fosfórea... Fiat Lux!

Page 84: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Veneno da Nata O soro

A santa

Qualhada

O azedo

A doce

Picada

O soro

O amargo

A cura

Poros envenenados

contém a cura também

Se já não és puro

- Que tal inalar meus poros?

É da nata

É picante

É salgado

Trago na boca, nos dentes, na língua e nos grandes lábios

a saliva e a seiva com veneno e soro

- O que queres?

- A cura?

Page 85: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

E C O S do B E C O ...Pelo curto tempo em que você sumiu...

Tenho meia hora, meio agora, meio fio, meio rio

Tenho meia vida, meia linha, meio segundo, meio mundo

Pra pegar o beco, pra re’voltar estar em Natal, a minha cidade–sina, essa

dos meus olhos, menina

Ouço ecos do Beco e da Ribeira e é bem isso qu’almejo, esse balacobeco

Baco, bacante potyguara qual soul, bacanas ribeirinhas bacantes que somos Quero o sentimento vivo, semente vida, de re-conhecimento. Do mundo?

Não! Dele quase nada sei! Mas do uni’verso que é Natal, meu berço

Canto em terços essa ladainha, d’amor e acalanto, e em imagens fantásticas,

no tapete da minha vida, a teço e canto

E insisto: não careço ser conhecida, não quero fama, me basta a lama e a boniteza de quem ama, e o que eu quero é fazer versos e estar, por dentro e por perto... De Natal, da Ribeira e do Beco da Lama

Page 86: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

B a m b a Q ue b a m b a, m e u c or a ç ão n a c or d a b am b a. . .

A lua e o asfalto e as nuvens passantes no alto, cheia lua maré cheia e cá

em baixo os fios e os fios e os rios, fio do asfalto e eu no meio fio

Tudo minha alma nada, qual bamba, que bamba, meu coração na corda

bamba... Bem bam-bam-bam faz meu coração quando te sente, quando

você passa, quando eu chego e você chega e me abraça, bem assim meu

bem: sem bamba e bambo você me encontra no bambo...

Você assim sem mango nem samba, no mangueiral, solto as mangas, sou

tua, sou tua manga, sei que somos bambas, que bamba, meu coração só

quer saber de samba... Meu coração na corda bamba... Quando você

samba, quando você aponta, na rua na minha direção do seu coração, na

minha onda...

Ah, quando você apronta, eu fico é tonta e pronto, também apronto!

Quando o que eu quero mesmo é que você se deixe, cale a boca e me

beije... E faça nosso chão rodar... E que o sol, as estrelas e a lua se deleitem

e me faça brilhar, feito um feixe e tu a brilhar como um feixe...

Ah! Esse nosso coração radar... Seres bamba, se você não está pronto eu

fico na corda bamba, vem cá benzinho, vem cá pro meu samba!

Meio fio de razão pro nosso rio d’emoção... Fios tantos que se ligam... Se

liga! Vamos fazer uma liga? Deixa a lua beijar o mar, o asfalto, o mato, o

que há... O devir. Que virá...

Que bamba, meu coração na corda bamba... Vem cá com seu bamba All

Star e eu de chinelas Havanas, vem cá meu bamba, vêm! Vamos fazer uns

sambas!

Page 87: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

CAÇA-PALAVRAS

ESTOU DE SACO CHEIO / DESSAS PALAVRAS / QUE NÃO AS TENHO / E

QUE SÃO MINHAS / E À VERA / SÃO SÓ PALAVRAS / EMPRESTADAS /

IMPRESTÁVEIS PALAVRAS / USADAS // TOU ME LIXANDO PRA SER BOAZINHA / SER AGRADÁVEL OU SER AGRADADA // JÁ ATIREI NO

ESMERIL / A MINHA ALMA // SOU CAÇADORA / E A MINHA CAÇA /

DILETA / É A PALAVRA // LEVANTE / PALAVRAS EM LETRAS DE OURO

OU DE FOGO / EM LETRAS DE SANGUE // LEVADA PALAVRA LAVADA

/ LEVADIÇA / LEVIDADE / LEVITADA / PERVERSA / LEVE E DENSA /

EMPENADA E TENSA / PERDIDA / DESMANTELADA / INDECISA // EM

BUSCA DA PALAVRA LEVIANA / EXCESSIVA / HONESTA / DESLAVADA // PALAVRA LUXÚRIA / DILETANTE / CANALHA // LETAL / INJÚRIA /

FATAL / AMBÍGUA / CAOS / DESFOCADA / ESCASSA / ESCROTA /

PIEGAS - UM DITO LIBELO // PALAVRA MALANDRA / ARDIL /

PEDREGULHO / SABOTAGEM / LIBIDINAGEM / SUFOCO / ANCORAGEM // PALAVRA COVARDIA // CAVIDADE DA PALAVRA / ILÍCITA / CÍNICA

/ SÓRDIDA / POSSESSA // LIGA / LIGEIRA / FAJUTA / LUZIDIA //

PALAVRA LIMA / AZEDA E CERTEIRA / CORROSIVA E ESMERADA //

FULEIRA // PALAVRA DE PALAVRA // PALAVRA VADIA /PROVOCAÇÃO / ABUSADA // PALAVRA VAZIA // MASSA-BRUTA /

AMÁLGAMA // BUSCO UMA ESCRITA QUE SEJA INSCRITÍVEL / E SEU

CONDÃO // SANTAS PALAVRAS / ENTRECRUZADAS // EMPENHADA

PALAVRA / PEDIDA / PEGADA / GRITANTE / CALADA / PENSADA / GALANTE / MOLHADA / CORTADA // TRAUMA // LUTO // PALAVRA-

CHAVE / DE CADEIA // CADELA / ZUADA / TOANTE / ENRASCADA –

UM "MOTE JUSTE" / PR'ESSAS ESCRITAS SACRADAS // PROCURO LETRAS / FONEMAS / VOCÁBULOS / MIGALHAS DE RADICAIS / LIVRES / NAS

METRALHAS / NA LAMA / NAS CALÇADAS / NAS ALMAS / BUEIROS /

ESCAPES / RUAS / JANELAS / OLHARES / BURACOS / BECOS / BARES /

LARES / PARABÉM // PALAVRA SUOR / LEXEMA / TININDO / TOCANDO EM CARBURETO // CONTA-GOTAS / DE LETRAS /

DILACERADAS / A GOTA SERENA / ENVENENADA / REMEDIADA /

NONADA // BARRA PESADA / LIMÍTROFE E SÔFREGA / ZONZA /

EMBRIONÁRIA E ESTÉRIL / FOSCA / ESTETA / EXÍGUA / BÊ-A-BÁ / BEAT E BEATA / GONZA / BÊBEDAAA / DE SENTIDOS: QUE NÃO HÁ

PALAVRA / QUE MANIFESTE / EXPRIMA / SIGNIFIQUE.

Page 88: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

ODE às XANANAS Xananas são exóticas, xananas são albinas, xananas são comuns. Xananas

são radiantes, são lenhosas, são bacanas. Xananas são belas e são banais.

Xananas são singelas, são sugestas, são factuais. Xananas são fuleiras, são

lascivas, são esplêndidas, são substantivas e são substanciais. Xananas são xamãs, xananas são alheias, xananas são danadas, são estóicas, são

turneráceas. Xananas são ulmifolias, são estanques, são sacanas, são solares. Xananas são daninhas, são suntuosas, são extemporâneas, são

bucólicas, são vulgares. Xananas são tinhosas, são luzentes, são

capsulares. Xananas são sagradas, são urbanas, são extáticas, são solitárias. Xananas são pentâmeras, são reiêiras, são rebeldes. Xananas são

poéticas, são ornamentais, são descuidadas, são malditas, são tribais. Xananas são emocionais, são malandras, são selvagens, são medicinais.

Xananas são Chananas e mais que tais.

Page 89: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Ascensão pro nosso Amor Ao ascender

Me apago

Pra te acender

Incendeio Ao ver você brilhar

A trilhar o caminho do amor Até a mim

E de nós dois, sermos um,

Um sentimento raro e comum E nosso desejo incendiar

Pro nosso amor crescer E ascendermos juntos

E sermos uns...

Page 90: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

PASSADA ...nasci atrasada Sou para esquecer Sou pra não ter Nasci para não ser Não miro nada Tudo me acerta Não vejo além Do umbigo Da minh'alma Desdentada Da minha venta Desgrenhada Não tenho nada Não sou nada Pr'além disso: Sonho em ter Uma boa alma Dormir calada E em outra era Ter sido uma bruxa E não uma fada Eu não digo: nada Tudo me cala Tudo me fala Quando meu grito É faca Não cheguei a tempo Sou atrasada Nessas aulas / Levei falta Eu nasci pra ontem E / Para / Cada / Hoje... Cheguei... P-A-S-S-A-D-A!

Page 91: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

"Por onde anda? No abismo. Dada ao vento..."

—Cecília Meireles, Viagem

h a j a m a r Dentro de mim a terra acaba

E o mar me começa sem fim

Em mim o mar deságua

Arde dentro de mim o fogo das torrentes

Maré cheia, cheia lua

Mulher cheia de ondas, marolas, água-com-areia...

Praia passeia Mulher praieira, os meus amores...

Encandeia o farol do de-dentro de mim, a fora, à forra

O mar começa em mim e me descerra

E o que te peço é que não me meça

Vê se não tropeça

mar-a-mar

Eu não tenho fim M'entreteço em teus veios

Me começa mares sem-fins

Mar-de-dentro

Ondulações, sacramentos, alusões

mar-em-moto-contínuo

mente-corpo-coração

Mulher forjada nas espumas d'águas do mar e areias salgadas

O mar me arrebenta

Benze-me mar

Alma sagrada

Em sacrofício de pertencer a seres marinhos

Mergulhos, nadadas...

Mulher-peixe-sereia-golfinho

Page 92: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Vou-me V ou me desf a zer de mim A os p eda ços P r a r ecr ia r - me in t e ir a A os laç os V ou me desp e dir d e m im A os p er ca lç os P r a r een co nt r ar - me in t e ir a A os p as sos E s p e l h o C o m p a s s o V ou me desl u mbr a r de mi m Eu vou Eu p as so ] t em p o [ esp a ço Eu vou me de slu mb ra r Eu bu sc o Eu ac h o Esp a ç o ] te mp o [ A d e u s à m i m A b r a ç o s V ou me desp r ov i de mim A os est i lh a ços P r a esb ar r ar - me in t e ir a A os t ra ço s V ou me desc r iar de mim A os laç os P r a r e f az er -m e in te i ra A os p eda ços

Page 93: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Aquela... A qu e gos t a D e b ebida s For t es Ex ta s ia n te s

D e em oç ões A r re bat a das En t r egu es En c an ta da s

D e ca fé a ma r go Mem ór ia qu e é A cr e e doc e E t en ra

D e pens a me nt os

Ex t át ic os Co mp lex os En lev ado s

D o d evi r Ex t ra or din á ri o I n esp er a ve l men t e A p r az ív e l

D e des ej a da Ten t aç ão O u o v ic e - ver sa

D a poe si a V iv ida A r den te C om en ca n to s

D e ví vi da P r áx is Ma r av i lh ada Des lu mb ra n te

D os s ent i m ent os Ma is f or t es Ené rg ico s Tor p es

D e ca l or A p t o a i nt en sa r I n t ent os t an t os A mor oso s

Po is é S ou Ci von e E d esde ser A qu ela .. .

So u e st a Êx t ase I n t ens a Ex tr a

Eu s ou só V eem ent e Men t e O rd iná r ia

S ó , só

Ex t ra , ex t ra ! Em beve cid a

Eu só . . . So u a que la .

Page 94: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

É dando que se recebe... eu dou

su b síd io

p r a voc ê

sa ber

de mi m

eu dou

p ist a

p r a voc ê c or re r

p r a mim

eu dou ba nd eir a

p r a voc ê

f la na r

p or mim

eu dou

as a

p r a voc ê vo ar

p r a mim

eu dou l in h a

p r a voc ê vo l t ar

p r a mim

Page 95: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

"Eu te esperei todos os séculos, sem desespêro e sem desgôsto, e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto."

—Cecília Meireles, Viagem

ESBOÇO D'UM POEMA ~ ÉBAUCHE D'UN POÈME

pour Goulven

j'imagine... TEU SORRISO, MÁGICO

QUAL PARAÍSO

la lumière de tes yeux... QUE ME INCENDEIAM

COMO SILÊNCIOS QUE FALAM

quando estamos juntos

quando não estamos

quando você está comigo

apenas no pensamento

quando você está por perto

bem dentro A TODA HORA

você entra e sai e entra nos meus pensamentos

sentimentos de nós

je sens... MIL EMOÇÕES, SENSAÇÕES

e sorrio sozinha, à flor da pele

a qualquer hora, lembro, sinto, vejo

PAISAGENS DO TEU BELO

joli coeur... BRUMAS, MAR, LUAS, SÓIS

Encontrar você, "chéri"...

É tão bom, me faz tão bem

Sinto-me leve como pluma, como pétala

como sementes ou flor ao vento

planando sobre mapas de desejos, emoções, enchantement...

Ah! Mon Coeur! Como é doce quando eu lembro, de você, de nós DOS LAÇOS FEITOS DE NÓS...

d'encontros, encantos, quantos...

Page 96: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

A felicidade não me inspira confiança de faiança

forte feito pomba-gira

erma feito pedestal

de estrada torta, reta, rota

andeirices duma escrota

cidade sina em cio

Page 97: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

UMA'ZINHA (DeCORAÇÃOdeLATÃO) Eu sou uma Porca

Com um coração

De Humana

Ou inversa

E

Vice-versa

Eu sou uma Forca

Com coração

De Leão

Eu sou uma Horta

Com coração

De Melão

Eu sou um Pavão

Com coração

De Galinha

Eu sou uma ‘zinha’

Com coração

De Latão

Page 98: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

(minha) Língua Filha da Mátria...

Da rua, da Bandalheira

Flor do Ócio e da Labuta Da Lama e do Sacrilégio

Ser Lótus e Lilith Escrota, Inteira...

Devassa e Banguela Bêbeda...

Passageira...

Filha do Trapo Linguaruda Sibila...

Estricnina Destrato...

Non-Grata

Nitrato Venérea...

Ácido Feérico... Muriático

Gástrico Orgasmal...

Cicuta Simulacro

Ferina Faceira

Venéfica

Filha da Juta... Tola... Rota... Fuleira... Fajuta...

Rêieira...

Page 99: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Inferno Astral VOU PERVERTER

O INFERNO

EM PARAÍSO

VOU DESCER AO INFERNO

E re'VOLTO

EM CHAMAS

SEM JUÍZ

NEM JUÍZO VOU FAZER SOL

NO INVERNO

E CHOVER

NO INFERNO

VOU FAZER DO MEU INFERNO

UM PARAÍSO!

Page 100: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Epigrama #17

DADO BIOGRÁFICO CONFESSO (E NÃO-CONFESSÁVEL)!

o Te n

ho PAC

Iên

cia pAr

a Nã

o Se r E U!

Page 101: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Epigrama #18 SACADA SACANA... Não tenho um pau pra matar um gato! Mas tenho uma buceta!

Page 102: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Epigrama #19 BELA ESTRANHÊZ

Vi

uma Nuvem

...Estranha

&

Bela! E quem disse? Que nuvem?

É ela?

Page 103: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

EX'POSTA Sou esta...

mulher posta partilha de peixe

em posta

E–X-P-O-S-T-A com um coração que por pouco

é só uma hóstia profana

prolixa profusa

sou esta mulher: posta vivo fluente de torpor

com um coração à porta

um coração impostor

Page 104: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Entre-Tempo Entre Profeta

e Tradutora de meu Tempo

Sou só Poeta

Entre Profetizar o Presente

e Traduzir

o Passante

Nosso

Tempo É só o agora E não chega a vir

e nem chega a ir Embora…

Page 105: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

"Ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça." —Provérbio chinês

Aliciamento Sou sofrível

Qual minha escrita

E também sou

Feliciável

Page 106: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

"Há dois modos de escrever. Um, é escrever com a idéia de não desagradar ou chocarninguém. Outro modo é dizer desassombradamente o quepensa, dê onde der, haja o que houver - cadeia, forca, exílio"

— Monteiro Lobato

“Ich bin sicher eine Flamme!”

—F. Nietzsche

A’Crítica Minha escrita é sofrível Maliça, m’atiça

M’alicia, alicia e vicia Lamentável, dilacerante

Meleagro e maleante Malhada, melindrável

Manjável, maloqueira

Mancomunada, maltrapilha, mulamba

Malandra, muamba,

Malcriada, despudorada, malcozida, mal-dotada Mambembe, malsoante, manifesta

Mamãe-e-papai, manhosa, meia-nove, mantença Malouvida, malsinada, manda-chuva

Mamária, metamorfose

Metida, macrobiótica, metralha Malafamada, maldosa, factóide

Daninha, chanana, chumbrega Morfêmica, metropólita, sinonímica

Bucólica, urbanóide Malbarata e mercável

Então? O que fazes com tudo isso sob teu julgo? Larga-me!

Page 107: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

“É possível que eu te sirva. Gostaria de saber como te servir.

Eu só quero te servir. Talvez com a minha ausência...”

—Paulo César Peréio,

ENTERRA/da

Esse chão está e é enraizado em mim

Em terra... Da minha Paixão

Nasci para cantar Natal

Quem sabe, um dia, madrugada, noite, manhã Ela ceda aos meus cantos

E ceda à minha paixão Ao meu vexame, a minha sedução

Eu a pertenço

Quer ela saiba, queira, deseje ou não!

Porque, se isso nunca acontecer, Já que sou dada à ela

Certeza é, que eu vou penetrar no seu chão.

Page 108: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

GÊNESIS

Eu também tive a sorte, de não ter nascido máquina.

A minha arte é minha

imagem e semelhança

Amor-Mundi

Que "da costela" que nada!

Eu sou é de sangue Éter e sopro vital

Sou só de coração Alma pulsante

Meu ser é integral.

Page 109: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

AMO E SOU AMADA Por Tudo

Por Mim

Com Tudo

Amo e Sei Amar

Aprendo, Apreendo, Liberto

Amores Presentes, Passados, Futuros

Os Sem-Passados e os Sem-Futuros

Amores Presenciais, Passantes e Futurados...

Sou Amada e Amo

Amada por Meus Amos, Amas e Bem-Quereres

Meus Bens-Amados

Meus Ex-Amados

Amo e vou Sempre Assim – Voando, à Pé, aos Nados: Amando e Sendo

Amada!

Page 110: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

Sina de Zila

“Pudessem meus olhos vagos ser ostras, rocha, luar

ficariam como as algas morando sempre no

fundo do mar”

— Zila Mamede

...E na vida, essa mina. Essa sina. Zila é mar. Que permaneço e passo. E repito com gosto: Zila além de sina é meu asilo e compasso. Alfa-Ômega minha. M’acolhimento, vento, leito, ninho. Alento, contra-veneno, encontro e contraste.

Mama Mamede m’aninha em teu leito, teus veios, braçadas, abraços. Dá-me de mamar de teus dons, teu néctar. M’embala em teus navegos, verve, trilhas, traços, ecos. Desregra-me, desgarra. Com teu EXERCÍCIO DA PALAVRA... Brota em mim tua ROSA DE PEDRA; hoje tu és mais ostra, rocha, coral. SALINAS minh’alma; tu és mais algas. Cultiva O ARADO em nós; tu, oh, arad’alma. Minha-Nossa... Em exercícios – infindos – da palavra, não-nadas? Teu CORPO A CORPO, alma a alma... Entregue ao mar, absoluto porto... Qual lual... Sina c’alma; e também fez-se um silêncio tão grande...

“que se ouviam nascer açucenas” Ser’tão Deusa que virou mar. Será Sereia? Yemanjaz? M’amor, o mar ficou mais musa depois que você se entregou em seu mergulho de virar Algas. És a primeira poeta-ponte entre Forte e Redinha... Ironia? Nadadora exímia? Paisagem, inspiração, luar, miragem, jangada, entrega, baldeação... A ponte ficou mais poema depois do teu onde, teu quando, não-nado. Trilha do sertão bruto – ardume, fértil, fonte – da Nova Palmeira pro Forte e então Redinha imensa d’embalos... Teu canto?

A sina de Zila é a travessia, a ponte é o Potengi, qual nosso destino é a barra, a beira, o fundo, o denso, a brisa. A sina de Zila é o mar. Mar-a-mar... O mar é Zila. É mar...

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O POTENGI ME TANGE

Os barcos do Potengi navegam meu olhar. Quando embarcam, em barco com eles. Quando tu embarcas, meus olhos marulham. M’embaçam. Molham-me de água de rio. Ou é por esses olhos que o rio corre, decorre. M’esqueço que outras, tantas vezes, sou eu quem vai. Vôos, passeios. Navegos e voltas. Avenidas dos contornos. Você sempre torna, me volta. Retornos. Qual abelha, eu também, estou sempre no entorno. Corre-corre. Pra boca da barra, que sou. Corre da boca do rio de você. E m’atiça, desperta os cios. Beija-me, me descerra. E me descobre. Revê-lo, desanuvia, me revela. Descubro teus véus, talos e flores. Afloro. Xananas, Acácias, Buganvílias, Mangabeiras. Flor de Jambo no chão, qual tapete róseo. Vem-me tudo à mente. As imagens mais belas. Minhas carícias sem defesas. Amo como quem não teme. Rósea a flor desperta, entre pernas que te beija. A espada de santo é tua. E vem ao templo, intensa, com leveza. Teus em mim, semens sementes. Protege-te Potengi, em meu rio ventre. Aflui fluente e me molho de teus molhos e manhãs. Lambuzo-me desse rio. Banho-me e m’esbaldo. Te como a tarde, de noite, na madrugada, na manha. Nem sei onde me ser, ou me estar. Como te ser Star. Me ser-estar. Qual não me ser, qual estar. Quero você, meu anelo de strass. Rio sozinha, a nós – Potiguar, atlante – ou rio-me com tua presença; e mesmo quando ausente... Saudade é isso, que não se explica. Então é sodade. Sodade, sodade... E banzo não se benze. Só bate. E que às vezes nem existe, se inventa. Ou é verdade, ou é um intento de ausência. Pra sentir mais, o que se sente. E escrever quiçá, um poema. Me pressa o rio sem presas. Preza-me o rio sem pressa. Potengi não é Danúbio, Sena. Ganges, Guaíras nem Tejo. É o meu leste-oeste-sul e norte. É do Norte, o Grande. E é o rio que amo e prezo. Desrepresa-se um rio inteiro. De amar, d’ardor. Fitar você é transe. Trance de olhares em flamas. É transa, corpos em trança. Beija-me, a cidade, correnteza. E esse amor de mililitros, m’embriaga, me néctar. Navego com ele. O crepúsculo me leva longe. Fico sem saber onde é onde. O não-sei-onde. Onde eu te encontre, encante você me cante. No quando, num quarto, de horas, num canto. Às vezes a dista é dentro. Nem é nos longes. Onde encerro meus pés, o agora e os ontens. Onde o finito me horizontes. Infindos. Na terceira margem, do rio, das visagens. Todos amanhãs, que me encontrem. Até nas tangentes, nos passos, esparsos. Onde minhas mãos, me escorrem, m’escapam. Artimanhas sensações. O Potengi me é porto e ponte. Aporte dos sentires e quereres. É da vida, cenário, inventário, roteiro, mirante. Alma cheia de braços e mangues. Navega-me pros teus ondes. Flagrantes, vazantes. O Potengi, amor... Pois é, ele me tange.

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Ela, a Praça D’alma

...Penso numa praça, ou melhor, começar assim: lembro de uma praça. Na

praça que intervém com freqüência entre os olhos da minha memória.

Imagética. Visional. Sei que é só lembrança, semi-desconexa, déjà vu. Mas,

a sinto tanto... Sei de seus cheiros, cores e vazios explícitos. Sei que essa praça arquivada quiçá aleatoriamente na memória, vivencialmente não a

conheço; nem sei em que lugar pode ser que esteja. Especulo sua locação.

Imagino-a aqui perto de casa, mas não há praças por perto. Pode ser no

limite de um precipício ou a beira-mar. Pode ser aos pés de uma montanha ou serra, mas não posso precisar onde e, pode ser nas cercanias

da província onde nasci, mas lá não tenho certeza que haja praças como

essa; a que vejo dos olhos da memória. Pode ser que a criei com traços e

linhas de praças outras por onde passei. Gosto de praças assim como de

oásis e ilhas. É agradável essa praça; agradável ao olhar transeunte e

aquietado por entre ela. Praça que tem um “quê” de aprazível, algo de

turbulência de tufão, algo de abandonada, como um quintal de casa e

também calmaria solene e silente de cemitério; tem um toque de bosque

virgem, daqueles que se penetra apenas com os olhos e a alma e jamais

com pés e mãos. Está claro! Essa praça é só imaginação. Nessa imaginação

tem árvores tantas inclusive Baobás; trilhas ariscas, bancos alheios e

mesas de madeira; tem fontes e canteiros muitas vezes floridos, um ambiente que atiça lúdicos espíritos; tem capins selvagens e espalhadas

pedras tão mais velhas que a memória humana; quando chove em choro o

céu formam-se poças-espelhos; tem muitas sombras e muita sombra e

também clareiras e cantões; pássaros vários passam por ela, a praça, a

imaginação. É ordenada e naturalmente caótica; verde bucólica; ventos

ventam entre suas árvores frondosas; é tão ampla como um coração

amoroso e, à guisa de passos, vasta como a palma de um pé. Essa praça é

e está sitiada pela urbe. É poética e boa para prosa. Telúrica. Praça que

tem alma própria. Ela é só imaginação. Ela é uma praça.

Page 113: Escrituras Sangradas de Civone Medeiros, Livro2 - Ave de Arribaçã ou a propósito de Viena e outros Ondes

E... Ela chorava compulsiva. Quando ele tocava-lhe, tocava-lhe o corpo. Inteiro. O amor era de longos e longos dias. Centenas e centenas deles. Há dias estava propensa a lacrimar. Estava tocada. A saudade não era dele corpo presente, tão somente. Ele sempre tão presente. Opção mútua. Amor de ambos. A saudade era dos sentidos ativos, atiçados e era seu motivo de chorar. Dias foi bem preso o choro, pois sabia ela que eram cachoeiras que se armavam no curso de seus olhos. Quando não pudesse sustentá-las sabia que assim seria. Compulsiva. Foram horas ininterruptas de choro na madrugada de tempestade sob cobertores mornos. Trovões que apavoram. Relâmpagos que encantam tanto. Ele com sua tendência fácil para compreensão, dizia impulsivo: chore. Chore querida. Alivia. Alivie-se. Eu te amo, já sabia? Eu te amo, repetia. Cada palavra que carinho envolvia, a cada a’morosidade mais ela chorava e chorava e chorava. Ela imaginava por imaginar que ele fazia outra idéia do que ela por ele sentia. No quarto não havia luz elétrica acesa. Apenas a grande janela de vidro transparente com lágrimas externas do tempo e esporádicos clarões que lembravam a todo seu tempo que tempestades estavam às voltas. Está claro. Seu obstáculo em compartilhar sentimentos naquele momento a levou a demonstrá-lo d'outro modo que não a fala clara e franca. Chorava cada vez mais manso. Já estava amenizando a compulsão até que ela decidiu desligar a televisão antes de assistir o contínuo disso. Foi à cozinha preparar um café e em seguida folhear um livro no banheiro, enquanto sentava-se confortavelmente no vaso. Passa tempo. Passa. A planta do lado estava com poeira e a pequena estante estava abarrotada a ponto de despencar tudo. Isso só porque recentemente ela está levando quase sempre mais um livro a cada ida ao banheiro. Quando não tem necessidades e lhe sobra vontade de continuar um capítulo iniciado, corre novamente ao banheiro para mais uma sentada nas folhas do livro anterior. Ah! Que prazer reservado! Imenso! O sino da catedral sete horas anunciou e naquela estação e hemisfério, era bem a hora para suceder o pôr-do-sol. Ela foi sem pressa passear após o café passado. Queria mesmo era ver a lâmina fina do astro já rotando pr'outra face da terra e com calma e tempo que lhe sobrava nas segundas-feiras, deliciar olhos e alma com o crepúsculo âmbar e seus matizes. Tem esse fascínio e bem estar nestas horas. Foi num crepúsculo que nasceu. E gosta por demais disso. De ter nascido. A foto saiu desfocada. Pudera! O bonde estava em movimento. A ansiedade tanta para captar aquele gosto, aquele roxo, aquele rosto foi o bastante para nem cuidar do desempenho ótimo da máquina. Lembrou que já há dias pensa em escrever aquela carta que pensa e que bem podia ser agora, embora breve, pois os pensamentos estavam como nunca multiplicados em diversas ordens e direções. Não seria agora extensa como pensa. O pão em casa estava pouco. Era hora de variar. Aproveitar a passagem para comprar roscas doces, mangas verdes e pão mais integral. As flores frescas a sacar ficariam para o fim do caminhar. Quando secas tão bem belas são. Fazia tempo que não desejava um banho quente assim e, que acima, nas montanhas sempre lhe dava a imprópria vontade de voar. Voa pensamento e a montanha é agora por milhas só memórias assim com a praia. Outro dia que virá é que por uma delas vai tornar. O brinco na orelha é só em uma e à esquerda; a barba por fazer enquadrava o estereótipo de menino marginal, bandido. Os lábios límpidos é que contradiziam. Não fosse a tarja nos olhos alguém diria que era o Jim Morrison passeando em Paris. Em verdade é bem mais belo ao todo que o morto. A tarja nos olhos fui eu que pus. Aquele deus transeunte era demais para que pudesse assim simplesmente fitá-lo nos olhos naquele momento. Passa, e é isso que nem queria com ele ao lado. O tempo. A foto é em frente da porta do quarto. O bonde chamado passa. Segue mulher! Vai-te! Vem! Chego cheia de flores, balangandãs e comida. Como. Chá-lá-lá... Chá-lá-lá-lá-lá... Lá-lá-lá... Chá-lá-lá... Lá-lá... Eita! O rádio ficou ligado. Aquela estação. O céu é bem estrelado e o noticiário avisa que à direção do ponto cardeal sul vai ter chuva de meteoro. De vez em quando, de tempos em tempos estrelas trocam de lugar. Os olhos extáticos em brilhos ao lembrar a vez anterior que viu este lindo espetáculo. Há tempos! Foi numa aldeia alheia sem luz de artifícios. Na cidade vai ser difícil enxergar. Luminosidade em excesso ofusca o lustre de estrelas distantes. Em movimento então, tão mais. Tão distante estava então o lápis e o moleskine de sempre para inscrever os afazeres e prazeres de amanhã. Os escritos dos ontens e os desejos do agora até o porvir. Deitada, não queria agora desgrudar o corpo da cama. Do cheiro duo da cama. Ele telefonou. Disse que volta. E... Logo! Quiçá depois de amanhã. Tempos idos sem ouvir de verdade de perto, bem ao labirinto e a tez, palavras simples assim: amor, tesouro, deusa, querida... Antes estava contente. Agora estava feliz. Lembrou de antes. De como tudo começou. Ela chorava compulsiva.

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Vulv’ars poética. Sacra. Sacra é a sua. Sacra é a Mãe. Sacra Vulva da Vovó.

Matri, Mundi, Female, Mutter. Sacra Nana, Yoni, Oyá, Yansã. Mamã. Sacra

é d’Início, Cio e o Feminino Princípio e o fim em Si. Sacrae. Sacra é a Prenhe que te Pariu. Sacra Vulva a Sua, a Minha e a da nossa vizinha. É Sacra a da

sua Irmã, sua Tia e sua Filha. Sacra a Vulva das fêmeas donde todos os Seres se Geram-Germinam. Sagrado o Eterno Feminino sim. Ser Sacral.

Sangue Semente. Sem fim. Sacra é a Mulher. Minha. Sua Mulher. Namorada, Amante, Esposa. Cria, Neta, Enteada, Sobrinha. Fêmea Sacra Sim Senhor. Vênus Mamilo de Milo Potengi. Sacra Matri, Mama Mia. Sacra

é a Mãe! Minha. Sacre Coeur Vulvae Mon’Amour. Sacra Vulva Sim. M’amor! Sacra Vulva Nêga, Bia, Bianca. Mana, Mãinha. Liberta, Sacra

Deva. Dinvindade. Divina Diva. Sacra em Culto. Sacra Ísis. Maria, Lilith Baubô. Tonatian, Ruth, Adonia. Ci, Diana, Rea. Kundalini, Suna, Athena.

Iara, Demeter, Mistérios de Ci. Oxum e a Árvore da Vida. Viva Vulva / Vulva Viva. Nanã, Nefertiti, Phoenix. Femina Ave, Mãe Terra. Amaterasu, Madonas Neras. Flôr de Lótus e Mãe do Céu. Sacra Sangra Sangue Azul.

Sacra Poiésis, Cuore Hard – Suave. Sangue de Vulva tem Poder. Hosansa! Oh, Anas. Sacra Origem do Mundo. Sacras Deusas Vulvares. Sacra Brigid,

Kali, Ixtel, Durga. Sacra Maeve, Pele, Sekmet. Shakti, Tara, Yemanjá. Sacra Vulvae. Rama Raiz. Nu Kua. Afrodite, Rhianon, Nut, Gyhldeptis. Sacra

Freya, Hekate, Maya. Sacra Haltor, Sedna, Coatlicue, Pachamama Mãezinha. Sacra Vulva Arte Arde. Aleluia Oxalá Mulher. Mujer, Frau, Woman, Donna. Sacra Civ Atlan One. Tulipa Vulva Negra Pérola. Lírio,

Lábia Sacra. Vulva, Sacred Woman. Heilige Frau Vulva. Mamiferantropofágica Eu-Mãe. Gema d’Ovo Sacra Deusa Criação. Sacra

Eva, Vulva Veia. Sacra Pura Inspiração. Artéria, Artemis, Cibele, Sereia. Sacr’Amor Mundi, Around The World. Sacra Ômega Alfa Vulva. Amem.

Amem. Eis a Mulher: Ecce Femme. Sacra Vulva: Amém. Amem. Amém.

Vulv’ars poética.

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>>> Febril/Cantos Undécimos <<<

I. Virtus / É a lembrança potencial que arde como imagem / Prolongamentos à beira dos olhos da praia - perfeito pretérito - à qual me espreitei por tantos dias: II. E Rita, dos possíveis <...> raios reflectos / Tem nome a praia, de Santa: III. À vera é bela esta imagem / No plural é apropriado prostrar - - - / Lançar por mares e terras / Lembrar. Trilhas. Esta e aquela. Redes. Redinhas. Movediças dunas. Inundam vistas. Sem queda... O trem carrilha: IV. Cartilha / Sigo tão só... / Abandonei-a na oitava sinfonia=série. / Alfa - ßeta não batizada / Sigo tão só<...>mente meu bissexto sentido / Que me releguem à escanteio ou reserva / Ou vinagre ou Minerva: V. Arco / Aponto e no cuore acerto / O próprio dardo do infarto / Afiado no/do meu cardio / Hardcuore / Isto é tudo Kunst & Wahn / Isto é tudo ou grande parte / Do que ateia arte / Q u a l q u e r a r... / Ah! Artaud sabe: VI. Max / Imã / Arriba / Sã / In / Sana / Manu - Scriptus quaisquer / Diwam der Welt / Um título é rótulo / É prato e fratura / Im posta ex postora / Minha poética à mesa [su]posta / E Leila Míccolis diz: "poeta! porque poetisa todo mundo pisa" / Eu com corda e com ela: VII. Vira / Lata - Vira Mesa - Vira Copo / Vira Loba - Vira Vírus - Vira Olhos / Vira Vidro - Vira Mexe / Vira Feto - Vira Lama - Vira Canto / Vira Benção - Vira Cobre / Vira Trema - Vira Chama / Vira Ósculo - Vira Sobe / Vira - Víbora: VIII. Sobre / O fogo / Meu reflexo de Luz del Fuego / Sobre-fogo, panelas de inox / Oxidável a cebola, a maçã e meus olhos / Lacrima tempo inteiro / espaçoesfacelado /Unhas prateadas d’artifícios / Olho é porta d'alma - alguém já disse / Alma é imortal e reencarnatória - alguém também já o disse / Como ave migratória... / Creio nestes ditos... / Profundamente: IX. Navego / Balançando de um lado para o outro... / Navegos de Zila / N\o Forte ou n\a barra / A saudade seria do mar? / Onde [não] permaneço / Passo/s: X. [algo - criptográficos¿] ?daria poema que inversa ordem na escrever que tivéssemos se: XI. Em febre sou / Ich Bin da, e daí?! / E mãos suam / Dedos, calos, canetas, dígitos / Era isso que'u queria / Frio ardente. Frescor abafado. Latejantes olhos. / Tremor de veias - nervos. Até a vulva. / Suor fadado. Calmaria inquieta. / É como orgasmo / É bem isso que preciso / É febre no templo / É febre de tempo / Em tempos. Febrespaço. / Febre de dente / E ranger de entes / De grandes lábios e línguas fluentes / É febre, é febre / É preciso ser – não carece estar! / "é preciso ser absolutamente..." febril / Rimbaud é preciso mais amar. / Febre, que me impele / E precipita / Sem jamais ser concisa / Prolixo – cantus pro lixo (!?!) / Neste longo canto / Cadente como um martelo a malhar / Por onde apronto, passeio, leio, liquido, reluzo, passo – sem mais passos, braso, cinjo, grunho e rascunho fragmentos tantos, sem encantos / Imagens dizíveis & in<...> / D'um único canto / Que intento e danço / Feito onda ao léu do véu vento / [quanto] Uma vida em canto / Poético? / Nem um tanto - nenhum tanto! / Era isso e é isso / Essa febre. Os dês delírios, os escritos. Um só canto:

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Enfant terrible Ela não é

Enfant gaté

Ela não é

Enfant prodige

Ela é terrible

Ela é enfant

Ela é Civone

E pronto!

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Fragmento do Livro de Theta #1 AL MARE!

Parto-Porto... De Trieste triste e carbonada rumo à Igoumenitsa, quente e luminar...

Adriático mar-tapete

Calmo em tarde

Que o sol se cinza

Sob úmidas nuvens

Tantas

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Fragmento do Livro de Theta #2 ANDARILHA

A Grécia às minhas costas

e eu nas dela.

Nada de mitos

nem Filosofia

nem História.

Apenas o mar

e meus olhos d'água.

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Fragmento do Livro de Theta #3 PARADOXO

Foi-se da antiga Grécia o encanto do mito

e de tudo que foi [-se] fica o paradoxo

do domínio ortodoxo na cultura local

Amém!

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Fragmento do Livro de Theta #4 ...ESCRITOS PÉTREOS...

Praia de pedra, Finikounda...

Pedras das Margens

Dos Rios e Mares

Pedregulhos

Dos Caminhos & Mergulhos

...Cato Pedras

Como quem enlaça olhares.

Como quem coleciona farpas.

Como quem guarda áses.

Como quem lambe orvalhos.

Como quem rega lágrimas.

Como quem colhe abraços.

Como quem livra laços.

Como quem abisma além penhascos.

Como quem pega nuvens. Como quem toca estrelas.

Como quem conta pérolas.

Como quem se assemelha ao chão.

Como quem rola em pedaços.

Como quem é só...

É só...

Bruto, Roto, Tosco, Frouxo, Fosco,

Lusco, Fusco, Brusco, Árido, Cinza,

Cálido, Alvo, Doce, Nero, Ocre, Azedo,

Amaro Coração.

Salgado.

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Fragmento do Livro de Theta #5 FIXAÇÃO

A retina retilínea

Entorta ventos

E

Brados marítimos

Cruza

Terras, ilhas, do Mediterrâneo ao Atlântico

E

Te enxerga

Meu ninho

Natal

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Fragmento do Livro de Theta #6 A CALHAR

Sementes de nada não vingam. Muitas no munturo a germinar. Conchas

finas não suportam atritos; as espessas suportam até contínuos... Colchas

mal costuradas rasgam-se em detalhes. Alheios retalhos de vivências formam personas. Gravetos postos ao mar sempre tornam à beira da

praia. Navios também encalham nos olhos. Estar a haver nas vias mais vida... Quando o caos parece estático está apenas silente. Desolado,

oxidado, incendiado no paradoxo de estar sobre águas; no não meu mar.

Eu que não possuo nenhum... Nem nada. Bela caótica visão que quase nada. Que nem balança com as ondas do mar/rítmo grego. Que faz do

arrecife submerso sua cama e da praia sua morada. Eu à toa espreito na areia cálida o navio Dimitrio a me dar um poema de sua imagem... A

CALHAR!

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Fragmento do Livro de Theta #7 TENTÁCULOS

outrosportos

outrosolhos outrospolvos

outrospovos

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Fragmento do Livro de Theta #8 TORNA-VIAGEM

[Lembrando que esta palavra - entre tant’outras e termos,

aprendi com Haroldo Sopa d'Osso...]

E

Adiante

A melodia célere

Do pulsar

E do vento

Sobre minha’lma de maresia

E passado vário

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Fragmento do Livro de Theta #9 IDA

Nas paragens. De passagem. Passar ela e aquela. Vista. Vida. Galeria.

Ruela. Viaduto. Via vulto. Beco. Arco. A poesia [nada] fácil de palavras

que dizem nada. E a rima que acomete o descompasso do que degluto. É

meu arrítmo... Mecânica de combustão. E jogada e partida e inversão.

Invenção vazia. Passar aquela e ela. V i v i d a.

Imersão de sândalo, estramônio, ópio, canabis, papoula, peiote... Gralha a

gaia e grea. Grau de águia. Mais além vê ela. Mentar flâmulas. É a chama

que vela. Um'eu flâneur. Vem sem ter linguagem que transmitir. Ser e ter

que ser criptografado até o sentir. Ida. É de amor à sabedoria. Escrevinho

minhas trilhas. Nos escaninhos dessa sina. É de sabedoria. A que nem

tenho inda. É que estou na ida. É que sou uma ilha. É que sou dela uma

ínfima linha.

E nessa costura toda sou um ponto apenas. E falar mais claro não me é

possível. Não está ao m'eu alcance. Os semelhantes me confundem.

Confundem-se comigo os semelhantes. Se fundem. Não devo utilizar do

código-chave. Não é agora o tempo do tempo. Ele que não existe. Esse

compasso-artifício. Que dilata a vida. Que a vida delata. Arbítrio.

Esse-sempre-contínuo-mutante-oruboros-iniciado-infindo. ...Seguindo. É

que estou na Ida. De passagem. Instantâneas paragens. É que sou morte-

vida. Movediça. Volátil. É que sou bruta inda. E essa alm'aqui deve ser

polida.

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Epílogo »

Escrituras Sangradas... Livro I e II

A obra de Civone Medeiros inquieta por se lê numa livre desordem e

rizomática transgressão. Pois, há um único mandamento das Escrituras Sangradas: todas as formas de leituras possíveis. A fluidez de seu

itinerário poético - sem o engessamento de sumários, com começo e fim - permite uma viagem singular de cada ser único. De súbito, o leitor vê-se um camaleão, criador de suas próprias zonas de intimidade e de desejo.

Navegar “entre a poesia” de Civone provoca uma espécie de experimentação estética de êxtase e redenção, designações peculiares ao

novo e antigo testamento. A Sangria dos versos é um fluxo, um orgasmo, um grito, um rapto, um espasmo do seu “devir mulher”, sempre no

movimento da contra-corrente, do contra-sentido, e da contra-cultura maçante e massificadora. Libertina ou libertária? Con-sagrada ou profana? Tanto faz... Civone liberta para o acesso à subjetividade e à

transcendência de uma poética de embriaguez e lucidez. E assim faz-se o belo e a dimensão artística da vida, conforme os dizeres nietzscheanos:

“os contrastes mais perfeitos produzem uma existência mais fecunda”. Da amiga, Camila Loureiro Marinho Barbosa.

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Minha Mãe – Maria Ivone de Medeiros, Porfíria Aureliana do Nascimento (Vovó), Tia Maria, Tio Luiz... Laércio Bezerra de Melo, João Batista de Morais Neto, Simona Talma, Jota Mombaça, Wescley Cunha, Janaina Spineli, Helder Gomes, Zé Dias, Marcelo Bolshaw, Rodrigo Bico, Ilton Fonseca, Khrystal, Sidney Cavalcanti, Luiz Peres, Fábio Henrique Lima, Ivan Júnior, Fátima Bezerra, Fernando Mineiro, Flávio Rezende, Rubens Lemos, Jeferson Martins, Bárbara Nunes, J. Pinheiro, Ana Tinoco, Sandro Fortunato, João Alexandre, Taly Essi, George Câmara, Silvia Yared, Ramon Leite, Allyne Macedo, Dani Maria, Civonaldo Medeiros e Daniela Santos, Juliana Alves, Josean Rodrigues, Maryse Jagot et Famille, Leonardo Sodré, Alex Gurgel, Thayná Almeida, Vitória, Leandro Garcia, Cláudia Maldonado, Helena Nakamura, Cecília Oliveira, Gleydson Almeida, Jorge Negão, Manoel de Barros, Walt Wittman, Artur Bispo do Rosário, Cátia Canton, Nise da Silveira, Cícero Cunha, Ayres Marques, André Trindade, Sayonara Pinheiro, Jorge Fernandes, Beth Venturini, Fabão, Nestor Mádenes, Nivaldete Ferreira, Úrsula Damásio, Adriana Sena, Marcelo Fernandes, Ronne Grey, Carlão de Souza, Leão Som, Márcia Pinheiro, Efigênia Oliveira, Alex de Souza, Renata Marques, João Gualberto, Moacy Cirne, Rita Machado, Diego Andrade, Hilca Honorato, Jeovania P., Antonius Manso, Aina Guimarães, Lula Belmont, Madê Weiner, Bianor Paulino, Jailton Torres, Bruno Monteiro, Synara Klyni, Mieli Titan, Sônia Godeiro, Bosco Lopes, Ricardo Nelson, Juruna, Gabriel Dusolto, Juca Santos, EIA, Pachamama Junqueira, Ricardo Cerqueira, Patrícia Reis, Hermano Viana, Bardallos, Adriana Amorim, Horácio, L. Wittgenstein, Goethe, Vlamir Cruz, Paulo César Peréio, Tácito Costa, Renata Silveira, Jeferson Miranda, Bruno Alexandre, Bar Clube, Antoniel Campos, Fran Trindade, Juju Dourado, Sylvia Galvão, Sandra Shirley, Concita Alves, Tiquinha Rodrigues, Angela Castro, Daguia Dantas, Titina Medeiros, Mara Duarte Maia, Gianni Allan, Ricardo Veriano, Roberto Medeiros, Vicente Vitoriano, Rosa Maciel, Ked Mendes, Grace Kelly, Patrícia Jaya, Lorinha, Paulo Ricardo, Maria di Lia, Bule Café Atelier, Flávio Aquino, Rodrigo Silbat, Tropa Trupe, O TROCO pela PAZ, Crew Tattoo, Bruno Lira, Sebo Lisboa, Hunter S. Thompson, Guimarães Rosa, Mirabô, Gilvan Fernandes, Cristina Oliveira, Tertuliano Aires, Ana Potiguar, Graciliano Ramos, Assis Marinho, Allen Ginsberg, Renato de Melo Medeiros, Milan Kundera, Revista Catorze, Lena, Sopa d'Osso, Vital, Carlos Tourinho, Pedro Almodovar, Andy Wahrol, Sandra Vila e Serrão, Leninha Bezerra, Charles Bukowski, Valéria Torrezani, Valderedo, Gilson Nascimento, Hélio Oiticica, Nôra Aires, Diniz Grilo, Aslan Cabral, Lourival Kukinha, Manu Albuquerque, Woody Allen, Bosco Lopes, Manoel Bomfim, Clenor Jr, Blecaute Borges, Iracema Macedo, NeguEdmundo, Madalena (Pousada Cabo Verde/Pipa), João Antônio, Geraldo Cavalvanti, Betel Figueiroa, Antonio Ronaldo, Octavio Paz, Silvana Sitonio, Tiago Vicente, Eliade Pimentel, Jack d’Emília, Selma Bezerra, Moema Ungarelli, Roland Bartes, M. Focault, Glauber Rocha, Costinha Júnior, Michele Régis, Franklin Jorge, Rodrigo de Sousa Leão, Raquel Sales, Caio Fernando Abreu, Plínio Sanderson, Nikos Kazantsakis, Nietzsche, Martin Molinaro, Wilson Torres Nanini, Henry D. Thoreau, Conceição Almeida, Ali Jantsh, Dani Jantsh, Allan El Din, David Müller-Abt, Denise Narick, Eric Friedman, Gustav Klimt, Egon Schiller, Kokoschka, Verena Idl, Lydia e Claudia Tönig, Alex Tönig, Irene Strobl, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Janis Joplin, Helena Kolody, Edith Piaf, Palmira Wanderley, Zila Mamede, Elisa Lucinda, Nice Fernandes, Clara Camarão, Marcélia Cartaxo, Frida Khalo, Patrícia Galvão - Pagú, Luz Del Fuego, Dercy Gonçalves, Leila Diniz, Maria do Santíssimo, Ademilde Fonseca, Cida Lobo, Elis Regina, Flávia Vivácqua, Maysa Matarazzo, Pina Bausch, Núbia Lafayete, Nina Simone, Odaíres, Ana Floriano, Militana do Nascimento, Cássia Eller, Nina Raggen, Sylvia Plath, Yoko Ono, Lucy Garcia, Terezinha de Jesus, Valie Export, Benazir, Tarsila do Amaral, Louise Bourgoise, Rê Bordosa, Jenny Holzer, Peggy Guggenheim, Hilda Hilst, Marina Abramovic, Glorinha Oliveira, Anais Nïn, Rosangela Rennó, Violeta Parra, May East, Daniela Thomas, Lauren Anderson, Madonna, Violeta Porra, Nan Goldin, Patti Smith, Adriana Varejão, Adélia Prado, Auta de Souza, Regina Silveira, Gabriela Leite, Maria Boa, Líria Porto, Joan Baez, Myriam Coeli, Giullieta Masini, Radical Chic, Ana Mendieta, Merce Cunningham, Preta Gil, Orlan, Nico, Florbela Espanca, Lou Salomé, Carolee Schneeman, Celina Guimarães, Coco Chanel, Nara Leão, Niki de Saint Phalles, Lygia Clark, Bessie Smith, Vandana Shiva, Márcia X, RosLee Goldberg, Mata Hari, Regina Casé, Angela Davis, Hannah Arendt, Simone de Beauvoir, Clara Averbuck: "Não cabe mais ninguém aqui, mas vocês sabem quem são."

Agradeço à...

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