Esofagoscopia

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V e t e r i n a r i a n D o c s www.veterinariandocs.com.br 1 www.veterinariandocs.com.br Endoscopia Digestiva Definição Refere-se ao exame do lúmen e da mucosa do esôfago com o equipamento de endoscopia. A esofagoscopia é mais confiável para diagnóstico de desordens que cursam com o rompimento da mucosa, obstrução do lúmen como: esofagites, constrições, corpos estranhos e neoplasias. Indicações A esofagoscopia é indicada para animais que apresentam sinais de enfermidade esofágica como: regurgitação, disfagia, odinofagia e ptialismo. Também é indicado para avaliação de animais que possam ter corpos estranhos esofágicos. A esofagoscopia é geralmente indicada para avaliação diagnóstica de pacientes com regurgitação. A regurgitação é a expulsão retrógrada passiva de conteúdo sólido ou fluido do esôfago e deve ser diferenciada de vômito o qual é um reflexo central caracterizado por ejeção explosiva de conteúdo gastroduodenal precedida de hipersalivação, esforços e mímicas de vômito e contrações abdominais. Instrumentação A esofagoscopia pode ser realizada com endoscópio rígido ou flexível. Os endoscópios flexíveis são mais versáteis por causa de suas ópticas, iluminação, insuflação, modos de gravação e manuseio superiores. O endoscópio deve ter no mínimo 110 cm e abaixo de 9,8mm de diâmetro, capacidade de sucção e insuflação, canal de 2mm para instrumentos (Ex.: fórceps de biópsia) e angulação de 180º. Preparação do Paciente A esofagoscopia requer anestesia geral e jejum alimentar de 12 horas prévias ao procedimento. O paciente é posicionado em decúbito lateral esquerdo. ESOFAGOSCOPIA

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Endoscopia Digestiva

Definição

Refere-se ao exame do lúmen e da mucosa do esôfago com o equipamento de

endoscopia. A esofagoscopia é mais confiável para diagnóstico de desordens que cursam com

o rompimento da mucosa, obstrução do lúmen como: esofagites, constrições, corpos estranhos

e neoplasias.

Indicações

A esofagoscopia é indicada para animais que apresentam sinais de enfermidade

esofágica como: regurgitação, disfagia, odinofagia e ptialismo. Também é indicado para

avaliação de animais que possam ter corpos estranhos esofágicos.

A esofagoscopia é geralmente indicada para avaliação diagnóstica de pacientes com

regurgitação. A regurgitação é a expulsão retrógrada passiva de conteúdo sólido ou fluido do

esôfago e deve ser diferenciada de vômito o qual é um reflexo central caracterizado por ejeção

explosiva de conteúdo gastroduodenal precedida de hipersalivação, esforços e mímicas de

vômito e contrações abdominais.

Instrumentação

A esofagoscopia pode ser realizada com endoscópio rígido ou flexível. Os endoscópios

flexíveis são mais versáteis por causa de suas ópticas, iluminação, insuflação, modos de

gravação e manuseio superiores. O endoscópio deve ter no mínimo 110 cm e abaixo de

9,8mm de diâmetro, capacidade de sucção e insuflação, canal de 2mm para instrumentos (Ex.:

fórceps de biópsia) e angulação de 180º.

Preparação do Paciente

A esofagoscopia requer anestesia geral e jejum alimentar de 12 horas prévias ao

procedimento. O paciente é posicionado em decúbito lateral esquerdo.

ESOFAGOSCOPIA

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A inserção do tubo do endoscópio deve ser posteriormente a lubrificação com

lubrificante solúvel em água para facilitar a passagem.

Procedimento e Anatomia

Com o animal com a cabeça e pescoço estendidos o endoscópio é direcionado à

orofaringe (dorsal ao traqueotubo) e então o esfíncter esofagiano cranial é visualizado.

Geralmente este esfíncter está contraído com aparência de estrela. Com a insuflação e

mínima pressão o endoscópio consegue avançar através do esfíncter. Resistência pode ser

sentida quando o endoscópio é posicionado equivocadamente no recesso piriforme localizado

em cada lado da laringe.

O esôfago cervical é normalmente colapsado, assim com a passagem do endoscópio

uma imagem vermelha é vista, obscurecendo a visibilidade. A insuflação de ar deve começar

imediatamente até que o lúmen do esôfago seja visibilizada com clareza.

O esôfago é um tubo reto com exceção de uma flexão na entrada da cavidade torácica.

O endoscópio deve ter pouca ou quase nenhuma resistência na progressão. Na introdução a

angulação do endoscópio deve ser de 0º ou mínima e sempre deve-se manter a insuflação

assim que necessária. O lúmen do esôfago torácico é insuflado facilmente e o pulso da artéria

aorta contra a parede esofágica é visibilizada no nível da base do coração.

Ao nível da junção gastroesofágica o esôfago passa obliquamente através do diafragma

e abre-se internamente no estômago. O esfíncter gastroesofágico não é um esfíncter

anatomicamente dito, mas sim uma zona de alta pressão que mantém o esôfago fechado entre

as deglutidas. Para a introdução do endoscópio nessa região o endoscopista deve angular a

ponta do endoscópio em 30º à esquerda e ligeiramente para cima.

Aquisição de Amostra (Biopsia)

Biopsia esofágica geralmente não é requerida para diagnóstico da maioria das

enfermidades esofágicas. As indicações primárias para biopsia esofágica incluem: presença de

massa ou anormalidades na mucosa indicativas de esofagite. É difícil de obter boa amostra da

mucosa esofagiana quando ela esta aparentemente normal.

Deve-se recolher de seis a dez fragmentos, geralmente esse número é suficiente para se

fechar o diagnóstico histopatológico. As biopsia devem ser retiradas de áreas viáveis do tumor

de das bordas deste.

Cuidados e Complicações Pós-Procedimento

Geralmente os pacientes se recuperam da anestesia e são liberados no mesmo dia do

procedimento. Comida e água podem ser oferecidos horas após o término do procedimento

quando o paciente está totalmente recuperado da anestesia.

Complicações relacionadas com a esofagoscopia são raras e primariamente limitadas a

aspirações inadvertidas de secreções orofaríngeas ou refluxo gastroesofágico.

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Muitos pacientes não requerem medicação pós esofagoscopia. Medicações pós são

recomendadas para controle da dor e da esofagite em animais que cursaram com presença de

corpos estranhos.

Esofagite é tratada com inibidores da bomba de prótons (Ex.: omeprazol), sucralfato

como protetor de mucosa e metoclopramida ou cisaprida como procinéticos para aumentar o

tono do esfíncter gastroesofágico para prevenir o refluxo ácido.

Figura 1. A – Esfíncter esofágico cranial fechado. B. Esfíncter esofágico cranial aberto.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

Figura 2. A e B – Esfíncter esofágico cervical normal em um cão.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

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Figura 3. C e D – Esôfago de um felino o qual apresenta anéis (padrão em espinha de peixe).

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

Figura 4. Esôfago de cães da raça Chow-Chow e Shar Pei, as quais apresentam-se pigmentadas

normalmente.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

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Figura 5. Esfíncter gastroesofágico em um cão normal. Geralmente o esfíncter está contraído

(fechado), porém pode estar aberto/relaxado dependendo do protocolo anestésico. Verifica-se pregas

mucosas radiais nessa porção.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

Figura 6. Junção gastroesofágica interna (cárdia) normal vista por retroflexão do endoscópio em um

canino (A) e em um felino (B).

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

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Enfermidades Esofágicas

Megaesôfago é um termo que refere-se ao esôfago flácido e dilatado resultado

de uma hipomotilidade difusa. A regurgitação associada com o transporte de alimentos

deficiente pelo esôfago é o principal sinal clínico. Perda de peso ou pobre ganho de peso

e broncoaspiração levando a pneumonia podem ser complicações.

O exame radiográfico simples ou contrastado confirma o diagnóstico na maioria

dos casos e é mais confiável que o exame endoscópico. O exame endoscópico não é

rotineiramente necessário para a confirmação do megaesôfago e raramente é benéfico

para determinar a causa base, entretanto, a esofagoscopia pode auxiliar a descartar

causas obstrutivas como: anormalidades vasculares, constrições e tumores.

Aparência na Esofagoscopia

O esôfago está marcadamente dilatado, flácido, estendendo-se desde região

cervical até a região do esfíncter gastroesofágico contendo líquido ou alimento não

digerido. A dilatação de todo esôfago distingui megoesôfago de dilatações segmentares

ou saculações. A mucosa geralmente está aparentemente normal no megaesôfago mas

pode-se verificar esofagite secundária demonstrando eritema, erosões e mucosa friável.

Figura 7. Megaesôfago demonstrando aparência ‘cavernosa’.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

MEGAESÔFAGO

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Divertículos são grandes saculações da parede esofágica que interferem com o

movimento ordenado da ingesta através do esôfago. O divertículo é incomum e pode ser

congênito ou adquirido. Quando ocorre geralmente está localizado no mediastino

cranial.

O divertículo pode ser diagnosticado com radiografias ou endoscopias.

Radiografia demonstra ar, fluido e alimento preenchendo o local e pode ser melhor

visualizado com a adição de contraste. Esofagoscopia revela uma saculação na parede

esofágica e frequentemente pode-se verificar esofagite erosiva na borda da saculação.

Devido a parede do divertículo ser fina e frágil, deve-se ter cuidado extremo para não

ocasionar perfuração.

Figura 8. Divertículo esofágico. (A) antes da remoção do tricobezoar e (B) após a remoção do

concremento.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

Anormalidades vasculares são malformações congênitas dos grandes vasos ou de

suas ramificações e causam sinais clínicos de obstrução esofágica. A persistência do

arco aórtico direito corresponde a 95% das anormalidades vasculares.

São reportadas em várias raças, mas raças como: Pastor Alemão, Setter Irlandês

e Labrador são predispostas.

Pode ser diagnosticada com o exame radiográfico simples e contrastado e

esofagoscopia. A esofagoscopia distingui compressão extraluminal causada por

anormalidades vasculares de contrições e outras causas de obstrução esofágicas.

Pulsações podem ser visibilizadas na região de constrição pelo anel vascular.

DIVERTÍCULO

ANORMALIDADES VASCULARES (ANÉIS VASCULARES)

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A constrição se dá ao nível da base do coração e pode levar a uma dilatação do

esôfago cranial com acúmulo de ingesta nesse local e até putrefação do conteúdo.

Figura 9. Ilustração demonstrando a constrição ocasionada por

anormalidade vascular.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

Figura 10. Constrição esofágica por anormalidade vascular.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

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A esofagite é caracterizada por inflamação aguda ou crônica do esôfago,

geralmente resultado de injúria mecânica, química ou por refluxo gástrico. Esofagite

moderada pode ser autolimitante ou tratada com medicamentos, entretanto, esofagite

severa pode ter complicações como: necrose, perfuração e constrições.

Figura 11. Esofagite caracterizada por grave eritema da mucosa esofágica.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

Figura 12. Esofagite erosiva caracterizada por grave erosão da mucosa esofágica.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

ESOFAGITE

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Figura 13. Esofagite eosinofílica em um felino. Verifica-se esôfago espessado, irregularidade difusa

da mucosa e granularidade.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

Constrições esofágicas são causadas por inflamação e injúria severa que se

estende para camadas da submucosa e muscular do esôfago, resultando em cicatrização

intramural e fibrose.

Aproximadamente 65% das constrições esofágicas são atribuídas ao refluxo

gastroesofágico associado com a anestesia. Em felinos a administração de doxiciclina e

clindamicina é um importante fator. Outras causas incluem: vômito, trauma por corpos

estranhos, tricobezoar esofágico em felinos e refluxo gastroesofágico associado a hérnia

hiatal.

A esofagoscopia é o método diagnóstico mais confiável para esta enfermidade.

Aproximadamente 80 a 90% das constrições em caninos e felinos são localizadas no

esôfago intratorácico, caudalmente à base do coração.

CONSTRIÇÕES ESOFÁGICAS

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Figura 14. Constrição esofágica, notar tecido esbranquiçado ao redor da constrição demonstrando

fibrose regional.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

A intussuscepção gastroesofágica é uma invaginação do estômago para dentro

do lúmen esofágico. Como na hérnia hiatal pode ser causada pelo relaxamento do hiato

esofágico.

Na esofagoscopia verifica-se as pregas da mucosa do estômago protruída no

esôfago. O endoscopista deve usar insuflação máxima e ocluir a região cranial do

esôfago, e com a ponta do endoscópio empurrar a parte estomacal protruída, assim

pode-se reposicionar o estômago normalmente.

Figura 15. Intussuscepção gastroesofágica demonstrados pregas estomacais protruídas.

Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.

INTUSSUSCEPÇÃO GASTROESOFÁGICA

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Referências Bibliográficas

SCHERDING R.G. JOHNSON S.E. Esophagoscopy. In; TAMS T.R. RAWLINGS

C.A. Smal Animal Endoscopy. 3 ed. Mosby: United States, 2011.