ESPAÇO PÚBLICO E LAZER EM DELMIRO GOUVEIA-AL: UM … · Geografia Licenciatura da UFAL SERTÃO,...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CAMPUS DO SERTÃO – DELMIRO GOUVEIA
GEOGRAFIA LICENCIATURA
REGÍS LIMA DA SILVA
ESPAÇO PÚBLICO E LAZER EM DELMIRO GOUVEIA-AL:
UM OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA
Delmiro Gouveia/ AL
2014
REGÍS LIMA DA SILVA
ESPAÇO PÚBLICO E LAZER EM DELMIRO GOUVEIA-AL:
UM OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como requisito parcial da Universidade
Federal de Alagoas para obtenção do grau de
Licenciado em Geografia.
Orientador: Kleber Costa da Silva
Delmiro Gouveia/ AL
2014
FOLHA DE AVALIAÇÃO
AUTOR: REGÍS LIMA DA SILVA
ESPAÇO PÚBLICO E LAZER EM DELMIRO GOUVEIA-AL: UM
OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao curso de Geografia da Universidade Federal
de Alagoas – Campus do Sertão, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Licenciado em Geografia. Aprovado em ___
de ____________________de ____________.
____________________________________________________________________
Profº Msc. Kleber Costa da Silva, Universidade Federal de Alagoas - Orientador
Banca Examinadora:
____________________________________________________________________
Profª Dr. Angela Fagna Gomes de Souza, Universidade Federal de Alagoas - Examinador
Interno.
____________________________________________________________________
Profª Msc. Viviane Regina Costa, Universidade Federal de Alagoas - Examinador Externo.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois
nele tive coragem e seguir em frente, aos meus pais,
Cícero Guilherme da Silva e Maria Miriam Lima, e
aos demais familiares que me deram suporte sem
medir esforços. Aos professores do curso de
Geografia Licenciatura da UFAL SERTÃO, minha
instituição de ensino, aos colegas de classe e
extraclasse, a PROEST - Pro Reitoria Estudantil da
Universidade Federal de Alagoas que me assistiu
com a Bolsa Permanência durante a graduação. A
todos, dedico este trabalho como forma de
agradecimento por tudo que vivemos durante toda
essa caminhada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelo dom da vida e a força que só nele encontrei para seguir em
frente nos momentos mais difíceis.
Aos meus familiares que acreditaram no meu potencial e entenderam os motivos de
minha ausência, em especial a minha irmã Armanda Lima da Silva que é responsável por essa
conquista, jamais teria seguido, se não fosse os seus esforços.
Aos meus irmãos: Paula, Ricardo, Aline, Armanda, Rivaldo, Rodolfo, e Rogério que
sempre “trabalharam duro”, inclusive na roça, e permitiram que eu pudesse seguir estudando.
Aos “agregados” da família: Beto, Sônia, Irisnaldo, Reginho, Marcia e Mazé que
sempre me acompanharam e me deram apoio.
Ao amigo Claudio Gomes que aguentou, todos esses anos, meus “desabafos”, me
ajudou, aconselhou e apoiou-me sempre da melhor maneira possível.
Aos Professores: Cleonice, Amparo, Lígia Cibele, Rute, Madalena, Francisca (jamais
esquecerei as caronas que me deu), Robérison e Diogo, foram responsáveis pelos meus
maiores aprendizados, além do incentivo e motivação para seguir em frente.
Aos meus amigos-irmãos que tanto me deram forças no periodo que estudei na
UFAL - Campus Arapiraca: Cleide, Cristiane, Rideique, Daniel, e Leide Daiane;
Aos familiares Aline, Irisnaldo, Vó Lica, “Madrinha” Valta, tio Guilherme e tia Dai,
que me acolheram em Delmiro Gouveia/AL. Foi fundamental ter sido recebido por vocês.
As colegas de turma, Nazaret (Naim) e Rogéria (As duas fiéis parceiras dos trabalhos
de classe e das aulas de campo) que estiveram sempre ao meu lado, nos momentos de alegria
e também nos momentos de desafios no cotidiano acadêmica.
Aos amigos Wanderley, Baresi, Weverton, Aline, Fábio, Aldemir, Ane, Elen, Erica
Patrícia e toda família TLC,... obrigado por terem estado presente durante essa caminhada, foi
muito bom tê-los conhecido.
Aos colegas de curso, Felipe Santos, Tayana Vidal, Flávio, Gutemberg que me
auxiliaram nas atividades de campo com os alunos da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo
de Menezes. Em especial, agradeço a Mayara Gomes, Professora de Geografia e supervisora
das aulas sobre a pesquisa e a atividade de campo. A mesma não mediu esforços, mesmo
passando por um difícil problema pessoal no momento do planejamento e execussão das
atividades, esteve sempre atenta e solícita para eventuais emprevistos.
A Eduardo Menezes que não mediu esforços ao ceder seu acervo fotográfico para
uso de fonte bibliográfica, bem como, demonstrou-se solícito em repassar informações do
vivido por ele quando residente em Delmiro Gouveia/AL.
Ao colega Erinaldo Gomes (Ninho), pela contribuição na tradução do resumo para a
língua inglesa.
Aos servidores técnicos responsáveis pela limpeza e segurança do campus pela
atenção prestada, organização do ambinte, proprício a realização das atividades acadêmicas.
Aos servidores técnicos administrativos, em especial, Lidiane, Rogério e Aloísio,
eles que além de serem prestativos e atenciosos, estiveram presente e prontos a ajudar,
aconcelhar, inclusive no momento mais difícil, por mim vivenciado, nos primeiros períodos,
quando ocorreram as mobilizações a favor e contra a paralização das aulas no campus.
Aos Servidores tecnicos responsáveis pela Biblioteca Central, da Universidade
Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão, pela atenção a mim foi conferida durante
esses quatro anos.
A Direção Geral, Professor Agnaldo e a Direção Acadêmica, Professor Ivamilson
pela dedicação e desempenho na administração do Campus.
Por fim, não menos importante, ao amigo, Professor e Orientador, Kleber Costa da
Silva pelos diversos momentos de ensino, dedicação e motivação. Absorvi o máximo que
pude de seus ensinamentos nessa caminhada e, aonde eu estiver, sempre os levarei comigo.
À todos, meu muito obrigado!
A condição humana compreende algo mais que as
condições nas quais a vida foi dada ao homem. Os
homens são seres condicionados: tudo aquilo com o
qual eles entram em contato torna-se imediatamente
uma condição de sua existência. O mundo no qual
transcorre a vita activa consiste em coisas
produzidas pelas atividades humanas; mas,
constantemente, as coisas que devem sua existência
exclusivamente aos homens também condicionam os
seus autores humanos. Além das condições nas quais
a vida é dada ao homem na Terra e, até certo ponto,
a partir delas, os homens constantemente criam as
suas próprias condições que, a despeito de sua
variabilidade e sua origem humana, possuem a
mesma força condicionante das coisas naturais [...]
ARENDT, Hannah (2007).
SILVA, Regís Lima. Espaço Público e Lazer em Delmiro Gouveia AL: um olhar
geográfico para o ensino de Geografia. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação –
Geografia Licenciatura) – Universidade Federal de Alagoas – Campus do Sertão – Delmiro
Gouveia/Alagoas/Brasil, 2014.
RESUMO
Este trabalho resulta de pesquisas sobre a dinâmica do espaço público e a prática de lazer no
Centro da cidade de Delmiro Gouveia/AL. Objetivou-se compreender como se organizam os
espaços destinados ao uso coletivo no espaço urbano, as diferentes formas de uso, os aspectos
do presente e do passado (relação espaço-tempo), bem como a criação de vínculos sócio-
espaciais e territoriais, ora considerados, a título de aproximação teórico-conceitual, conforme
Haesbaert e Limonad (2007), não somente ligados às relações de poder, mas também como
relacionados à vivência e à participação social nos espaços das praças por vários grupos
sociais. Assim, escolheu-se organizar este trabalho em três capítulos e mais as considerações
finais. No primeiro capítulo, escolheu-se o tratamento teórico-conceitual ligado à noção de
espaço geográfico em Corrêa (2011), Santos (2009), Rodrigues (2008), Godoy (2004), Oliva
(2001) e Dollfus (1982). A cidade e o urbano em Cavalcanti (2012), Matos (2010), Corrêa
(1995). Espaço público nos escritos de Laurentino (2006), Sobarzo (2006) e Resende (2005).
Lugar, a partir das considerações feitas por Santos (2009), Leite (1998) e, espaços destinados
ao lazer, nos escritos de Ferreira (2010), Maya (2008), Gomes (2007), Gomes et Melo (2003),
Mota (2001). No segundo capítulo centrou-se na investigação propriamente dita sobre
espaços, territórios e lugares públicos delmirenses. Ou seja, realizou-se uma análise dos
espaços públicos e da prática do lazer a partir dos registros fotográficos datados desde 1920
até a atualidade. O terceiro capítulo apresentou-se um olhar geográfico para o ensino de
geografia a partir das representações do “público urbano” e do “lazer” trabalhados com
estudantes do 2º ano do Ensino Médio de uma Escola Pública Estadual. Tal experiência com a
prática docente possibilitou uma reflexão sobre a condição do ser e do estar no espaço público
enquanto educador e educando em Geografia.
Palavras-chave: Espaço Público, Lugar, Territorialidades, Lazer, Delmiro Gouveia/AL.
ABSTRACT
This work results from researches about the dynamics of public space and leisure practice in
Delmiro Gouveia Center city. This study aimed to understand how to organize the spaces
intended for collective use in the urban space, the different forms of use, aspects of the
present and the past (relative space -time) as well as the creation of socio- spatial and
territorial, now considered of theoretical- conceptual approach as Haesbsert and Limonad
(2007), not only linked to power relations, but also as related to experiences and participation
in social spaces for the various social groups. Chose to organize this work in three chapters
and more final considerations. In the first chapter, it was chosen the conceptual theoretical
treatment linked to the notion of geographic space in Corêa (2011), Santos (2009), Rodrigues
(2008), Godoy (2004), Oliva (2001) and Dollfus (1982). The city and district in Cavalcanti
(2012), Matos (2010), Corêa (1995). Public space in the writings of Laurentino (2006),
Sobarzo (2006), and Resende (2005). Place, from the statements made by Santos (2009), Leite
(1998) and spaces for leisure, in the writings of Ferreira (2010) , Maya (2008), Gomes (2007),
Gomes et Melo (2003), Mota (2001). In the second chapter focused on the research itself on
spaces, territories and delmirenses public places. Conducted an analysis of public spaces and
the leisure practice from photographic records dating from 1920 to the present. The third
chapter presented a geographical look for teaching geography from the representations of the
“urban public” and “leisure” works with students the 2nd year of high school in a public
school statewide. This experience with the teaching practice enabled a reflection on the
condition of being in the public space as educator and student of geography.
Keywords: Public Space, Place. Territorialities. Leisure. Delmiro Gouveia.
LISTA DE ILUSTRAÇÃO
Figura 1 - Localização do Município de Delmiro Gouveia/AL 38
Figura 2 - Início da Vila de Pedra (chegando de Água Branca) por volta de 1915 -
Sequência com duas fotos
39
Figura 3 - Vila de Pedra por volta de 1915 – (ao fundo, à esquerda, atual Av.
Presidente Castelo Branco)
40
Figura 4 - Vista superior da Fábrica da Pedra – Anos 20 41
Figura 5 - Prédio onde funcionou o primeiro escritório de peles 42
Figura 6 - Rua 13 de maio 45
Figura 7 - Desenho da cerca de arame no entorno da Vila da Pedra 48
Figura 8 - Documento de criação do Município de Delmiro Gouveia 51
Figura 9 - Praça Delmiro Gouveia - Atual Praça Dr. Ulisses Luna - meados dos
anos 60
52
Figura 10 - Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna – 1969 53
Figura 11 - Desfile cívico do dia 7 de Setembro de 1965. Antiga Rua Progresso 54
Figura 12 - A Fonte, Atrativo da Praça Delmiro Gouveia - atual Praça Dr. Ulisses
Luna – 1971
55
Figura 13 - Praça Delmiro Gouveia - atual Praça Ulisses Luna – 1973 56
Figura 14 - Bar “Abrigo do Ciço Gobeu” e o lazer da garotada – 1974 57
Figura 15 - Vista aérea do Centro de Delmiro Gouveia/AL - 1976 58
Figura 16 - Delmiro Gouveia: Operários da Fábrica saindo em horário de almoço –
1978
59
Figura 17 - Centro, atual calçadão e lojinha da Fábrica. Delmiro Gouveia/AL –
1978
60
Figura 18 - Centro de Delmiro Gouveia/AL - 1978 61
Figura 19 - Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna – Final dos anos
70
62
Figura 20 - Pátio da Igreja Matriz – Final dos anos 70 63
Figura 21 - Pátio da Igreja Matriz – Fevereiro de 2014 64
Figura 22 - Desfile cívico passando pelo inicio da Rua ABC, atua Rua da
Independência - Anos 70
65
Figura 23 - Início da antiga Rua ABC, atual Rua da Independência - anos 80 65
Figura 24 - O Centro de Delmiro Gouveia/AL. Visão a partir da Praça Dr. Ulisses
Luna, Antiga Praça Delmiro Gouveia – 1983
67
Figura 25 - O Centro de Delmiro Gouveia/AL. Visão a partir da Praça Dr. Ulisses
Luna, Antiga Praça Delmiro Gouveia – 2014
67
Figura 26 - Vista lateral (fundo) da Igreja Nossa Senhora do Rosário e da praça
que leva o mesmo nome - anos 90
68
Figura 27 - Vista lateral (frente) da Igreja Nossa Senhora do Rosário e da praça
que leva o mesmo nome - anos 90
69
Figura 28 - Vista parcial aérea de parte do Centro de Delmiro Gouveia/AL – 1997 70
Figura 29 - Festa junina na Praça Nossa Senhora do Rosário - Delmiro
Gouveia/AL. Junho de 2013
72
Figura 30 - Início da Av. Antônio José da Costa. Carnaval de 2013 73
Figura 31 - Início da Av. Antônio José da Costa. Abril de 2012 74
Figura 32 - Praça Vicente de Menezes, sentido coreto, Centro de Delmiro
Gouveia/AL - Julho de 2013
75
Figura 33 - Praça Vicente de Menezes, sentido contrário ao coreto, Centro de
Delmiro Gouveia/AL - Julho de 2013
76
Figura 34 - Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL e seus
diversos usos durante a tarde. Junho de 2013
77
Figura 35 - Praça Vicente de Menezes, período da noite. Centro, Delmiro
Gouveia/AL
78
Figura 36 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL -
Ponto de encontro da aula-atividade de campo
84
Figura 37 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL
– Abordagem conceitual sobre o uso das praças e espaços de lazer
85
Figura 38 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL
– Orientação para aplicação dos questionários
86
Figura 39 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL
– Distribuição dos questionários
87
Figura 40 - Calçadão, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários sendo
aplicados pelas alunas do Ensino Médio
87
Figura 41 - Calçadão, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários sendo
aplicados por aluno do Ensino Médio
88
Figura 42 - Praça Nossa Senhora do Rosário, Centro de Delmiro Gouveia/AL –
questionários sendo aplicados por aluna do Ensino Médio
88
Figura 43 - Avaliação dos conceitos apreendidos pelos alunos do 2º ano “C” da
Escola Estadual Luis Augusto Azevedo de Menezes
90
Figura 44 - Interpretação e organização de gráficos com os resultados obtidos nos
questionários aplicados na aula-pesquisa de campo
90
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Atividades das horas vagas apontadas por alguns frequentadores dos
espaços de lazer no Centro de Delmiro Gouveia/AL
91
GRÁFICO 2 - Lugares públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados
durante a semana
92
GRÁFICO 3 - Lugares públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados
nos finais de semana e feriados
92
GRÁFICO 4 - Principais atividades de Lazer exercidas nos espaços de lazer do
Centro de Delmiro Gouveia/AL
94
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 13
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: ESPAÇO, TERRITÓRIO E LUGARES
PÚBLICOS URBANOS 16
1.1 Das Concepções de Espaço, Espaço Urbano e Espaço da Cidade 16
1.2 A Cidade e o Urbano 22
1.3 O Simbólico-cultural e a Apropriação nos Espaços-territórios-
públicos
25
1.4 Lugar, Lazer e seus Conceitos 31
1.5 Tempo de Diversão, da Folga e do Ócio: a Tentativa de Conceituar
o Lazer
32
1.6 O Lazer no Cotidiano Urbano 34
2 ESPAÇOS, TERRITÓRIOS E LUGARES PÚBLICOS EM DELMIRO
GOUVEIA/AL 38
2.1 O desenvolvimento histórica dos espaços, territórios e lugares
públicos de Delmiro Gouveia-AL
38
2.2 O lazer e a vivência espacial como atributos para a compreensão
atual dos territórios e lugares públicos em Delmiro Gouveia-AL
71
3 OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA:
REPRESENTAÇÃO DO “PÚBLICO URBANO” E DO “LAZER” 79
3.1 Uso, apropriação e vivência: os espaços, territorialidades e lugares
no Centro de Delmiro Gouveia-AL
79
3.2 Ferramentas pedagógicas como alternativas a uma reflexão teórica
e conceitual e como subsídio para pensar o ensino de Geografia
82
3.3 O registro de algumas experiências com a comunidade escolar 82
Considerações finais
Referências
Apêndice
INTRODUÇÃO
A vivência espacial pressupõe identificação dos seres humanos com os lugares, um
valor e um processo de apropriação relativa que conduz a modos de organização e de
transformações sócio-espaciais. Assim ocorre com os espaços públicos urbanos onde os
elementos neles presentes, ao menos teoricamente destinados ao uso coletivo, atraem
indivíduos ou grupos sociais que podem vir a vivenciá-los.
Partindo desse pressuposto, este trabalho, intitulado “Espaço Público e Lazer em
Delmiro Gouveia-AL: um olhar geográfico para o ensino de Geografia”, foi desenvolvido no
intuito de compreender como ocorre à organização dos espaços destinados ao uso coletivo e
quais suas atividades voltadas para o lazer, levando-se em consideração as transformações ao
longo do tempo, no intuito de refletir sobre a contemporaneidade, especialmente no caso da
cidade de Delmiro Gouveia, Sertão de Alagoas.
A formação do espaço público urbano destinado ao lazer na cidade de Delmiro
Gouveia/AL é diretamente ligado aos processos de transformações iniciadas pelas ações do
homem Delmiro Augusto da Cruz Gouveia que chegou à região, segundo nos escreveu
Sant’ana (1996, p.17), em 1903, provindo do Recife - PE. Embora a importância histórica do
tratamento inicial dos espaços públicos produzidos na antiga Vila de Pedra – atual cidade de
Delmiro Gouveia/AL –, esteja ligado à pessoa do Delmiro Gouveia em Sant’Ana (1996),
Correia (1998), Maynard (2008), Gonçalves (2010), a abordagem dessa temática será, neste
trabalho, um aspecto secundário que eleva o valor do empreendedor e criador dos alicerces de
organização urbana locais, porém cuja intenção fundamentalmente é de ajudar na
compreensão de como os eventos do passado moldaram o urbano atual.
O exercício de aproximação teórica para este Trabalho de Conclusão de Curso de
graduação foi estruturada em quatro partes: a) A primeira aponta abordagens teórico-
conceituais e discussões referentes ao espaço geográfico, principalmente nos textos de Godoy
(2004), Rodrigues (2008), Santos (2009), Corrêa (2011); b) Considerações sobre a cidade e o
urbano em Cavalcanti (2012), Matos (2010), Corrêa (1995); c) Análise dos textos de
Haesbaert e Limonad (2007), Haesbaert (2007), Saquet et Briskievicz (2009), entre outros,
dedicando-se a leitura ao simbólico-cultural, somado à apropriação, na formação do que
14
podemos chamar de “territórios-públicos”; d) A abordagem sobre espaço público nos escritos
de Laurentino (2006), Sobarzo (2006) e Resende (2005); e, e) O lugar, entendido com base
nos escritos de Santos (2009), Leite (1998), e, espaços destinados ao lazer, nos estudos feitos
por Ferreira (2010), Maya (2008), Gomes (2007), Gomes et Melo (2003), Mota (2001).
Em um segundo momento, foi realizado um recorte histórico dos espaços produzidos
para o lazer na antiga Vila da Pedra, atual cidade de Delmiro Gouveia/AL, como norte à
condução a respeito da produção da cidade. Os registros fotográficos, que se referem a
paisagens desde 1920 até a atualidade, mostram aspectos que auxiliam a compreensão dos
“eventos”, visto em Santos (2009), como ação ocorrida em um determinado tempo e espaço e
que proporcionam as configurações desses espaços na atualidade. As análises das
transformações ao longo do tempo mostram os espaços, territórios e lugares públicos em
Delmiro Gouveia – AL.
O lugar, considerado enquanto vivência, identidade e sentimento de pertencimento,
ou ainda, como “um centro de significados construído pela experiência” em Tuan (1975)
apud Leite (1998; p.10) e, por outro, o território enquanto delimitação ocasionada pelas
relações de poder, não somente político, mais também de apropriação, conforme nos escreve
Haesbaert (2007). Há de considerar que os indivíduos e/ou grupos sociais se identificam com
os elementos concretos do espaço, por exemplo, da Praça Vicente de Menezes, criando
vínculos e, com a experiência (vivência), atribuem significados, configurando tal praça como
um lugar. Ao mesmo tempo há uma aproximação das parcelas desses espaços, o que os
configura como pequenos territórios do uso cotidiano, expondo o caráter de encontro e de
conflito caro à definição da esfera pública.
Em um terceiro momento é abordado um olhar geográfico para o ensino de
geografia, cujos conteúdos ligados à noção de “público urbano” e de “lazer”, se tornam
centrais através de atividades de ensino e de pesquisa-ação junto aos alunos do 2º ano “C”, do
Ensino Médio, da Escola Estadual Luis Augusto Azevedo de Menezes.
A proposta pedagógica mirou na possibilidade de serem trabalhadas tais temáticas,
num sentido amplo de aprofundar elementos de docência e de experiência junto ao ambiente
da escola. Escolheu-se empreender uma prática de ensino que levasse em conta ferramentas
pedagógicas alternativas a oferecer protagonismo aos estudantes do processo de entender para
ser e estar no espaço público da cidade. Ou seja, a experiência pedagógica foi organizada com
15
atenção para o planejamento das atividades, levantamento bibliográfico, adequação da
pesquisa à modalidade do ensino, elaboração das aulas expositivas (slides), atividades da
“aula-pesquisa de campo” até a “aula-retorno” (realizada após as atividades de campo) para
avaliação dos conhecimentos adquiridos (exposição oral dos alunos).
E, por fim, foram construídas algumas considerações a respeito da nossa atuação no
processo amplo de investigação (exercitando métodos de análise e de pesquisa), de vivência
do espaço público urbano delmirense, de relação com o ambiente da sala de aula e de
pesquisa-ação junto com os alunos da escola. Os conceitos de espaço público e de lazer,
especialmente, permitiram um olhar mais detido para a compreensão da geografia urbana da
cidade e ao mesmo tempo um encontro com a temática do ensino na medida em que ajudou a
reflexão sobre produção do conhecimento e o processo de ensino-aprendizado.
Não consiste este trabalho, uma pesquisa acabada, trata-se, pois, da intenção do
exercício de pesquisa e ensino em Geografia junto ao Curso de Geografia do Campus do
Sertão da UFAL, a partir do qual se buscam bases para enriquecimento e diálogo em relação à
extensão dessa temática e à ampliação da formação acadêmica do autor. Assim construído, é
pretendido ofertá-lo à comunidade acadêmica como um trabalho de iniciação à geografia e ao
ensino.
16
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: ESPAÇO, TERRITÓRIO E LUGARES PÚBLICOS
URBANOS
1.1 Das concepções de espaço, espaço urbano e espaço da cidade
Na tentativa de compreendermos o espaço público, em específico, aquele voltado as
praças e espaços de lazer, foi feita a seguinte ordem de abordagem: considerações acerca da
definição do conceito de espaço, se é que, caiba uma definição para uma metamorfose
constante que é o espaço. Em seguida, abordar as discussões sobre cidade e urbano, seguida
da apreciação quanto à apropriação simbólico-cultural dos espaços-territórios-públicos.
A história da humanidade é repleta de transformações e adequações ao meio. Ao
passo que foi se relacionando com outros seres humanos, e, passou a conhecer outros lugares,
o homem, foi transformando seu espaço (construção de moradia, desenvolvimento de técnicas
para produção agrícola, construções de vias de acesso (estradas), proporcionando acesso a
lugares, até então inexplorados).
O homem, segundo Rodrigues (2008), passou a modificar a natureza e a produzir o
espaço geográfico. Em suas palavras nos fala o seguinte:
“Esse espaço se apresenta como uma segunda natureza, uma natureza social,
humanizada. Assim, há a primeira natureza, aquela que foi e é criada sem a ação
humana (rios, florestas, montanhas etc.), e a segunda natureza, aquela produzida
pela ação do homem (cidade, agricultura, estradas, instrumentos de trabalho etc.)”
RODRIGUES (2008, p. 37)
A respeito dessas duas naturezas podemos verificar o seguinte:
O espaço passa a ser visto como uma criação humana que se realiza através
do movimento da sociedade sobre a natureza. A natureza apresenta-se, neste
caso, separada da sociedade, constituindo a base física sobre a qual o homem atua e produz o espaço geográfico ou, em outras palavras, a “segunda
natureza”. A “primeira natureza” é concebida como algo que não pode ser
produzido, é a antítese da atividade humana. SMITH (1988) apud GODOY
(2004, p.2)
Podemos verificar ainda:
O espaço passa a ser visto como uma criação humana que se realiza através
do movimento da sociedade sobre a natureza. A natureza apresenta-se, neste
caso, separada da sociedade, constituindo a base física sobre a qual o homem
17
atua e produz o espaço geográfico ou, em outras palavras, a “segunda
natureza”. A “primeira natureza” é concebida como algo que não pode ser
produzido, é a antítese da atividade humana. Smith (1988) apud Godoy
(2004, p.2)
Ao analisarmos tais abordagens trazidas por Smith (1988) apud Godoy (2004, p.2) e
Rodrigues (2008), compreendemos que a primeira natureza trata-se, pois, da configuração
existente na paisagem independente da ação humana, enquanto a segunda natureza expressa
as modificações, formas e conteúdos instalados no meio a partir da materialidade produzida
pelas relações de produção do trabalho humano.
Ao abordar “As armadilhas semânticas da expressão espaço social”, ou seja, a
diversidade de significação no termo espaço social, presente nas discussões geográficas, Oliva
(2001, p.27) prefere tratar por “componente social” ao invés de “espaço social”. Não é, pois,
uma negação a existência do espaço social, mas sim, uma preocupação com entendimentos
distintos do pretendido.
Tal mudança de termologia acontece pelo seguinte:
[...] afirmar que o espaço é produzido pela sociedade não garante que se
esteja compreendendo o espaço como parte da sociedade. Pode ser que se
esteja entendendo assim ou, então, ao contrário, como uma externalidade. Há
quem entenda que o espaço geográfico, embora possa ser preenchido a partir
da intervenção humana, é preexistente à sociedade, ele é “o outro da
sociedade”. Concepções assim, radicalmente distintas, costumam estar sob as asas da mesma expressão: espaço social. Oliva (2001, p.27)
Com base na abordagem de Oliva (2001, p.27) “espaço como produção da
sociedade mais não como parte da sociedade, como uma externalidade” nos faz pensar que a
discussão que permeia as análises em torno da Geografia é, pois, a definição do espaço nele
próprio. Para tanto, duas são as abordagens: de um lado, o espaço externo, como anterior à
sociedade, do outro, o espaço enquanto produto da sociedade na sua relação com o meio. Para
Oliva (2001, p.29), “O estranhamento vem dos próprios geógrafos habituados a missões mais
modestas, como a descrição e o entendimento do espaço”.
O espaço geográfico abrange ampla abordagem com diversas contribuições e
significados. Temos, na abordagem de Corrêa (2011), o espaço sendo abordado da seguinte
maneira: [...] uma porção específica da superfície da terra identificada seja pela natureza [...]
18
como o homem ali imprimiu as suas marcas, seja com referência à simples localização.
Corrêa (2011; p.15)
Nesse enfoque, o espaço leva em conta a configuração existente na superfície
terrestre, forma física presente no meio, e também, o espaço de uso, de trabalho e vivência
humana, onde são expressos formas e símbolos da organização humana: espaço da cidade, do
bairro, da rua, da praça etc.
Compactuamos da afirmação de que “o que não está em nenhum lugar não existe”
Aristóteles apud Santos (1977, p.81), ou seja, todos os elementos existentes nos lugares os
configuram de alguma forma. Assim, se não existisse nenhum elemento, inclusive o homem,
para a esses dar significado, então nem mesmo a noção de lugar existiria. O espaço em tal
acepção remete à existência de elementos, seja de ordem natural ou produzidos pela ação do
homem (levado em consideração as relações sócio-espaciais) que caracteriza o lugar, e de
forma geral, compreende o global. Logo, o que existe, está em um lugar e, consequentemente,
configura o espaço.
Milton Santos, em sua abordagem “sociedade e espaço: formação espacial como
teoria e como método”, feita em Junho de 1977, no boletim paulista de Geografia, disse o
seguinte:
Pode-se dizer que a Geografia se interessou mais pela forma das coisas do que pela sua formação. Seu domínio não era o das dinâmicas sociais que criam e transformam
as formas, mas o das coisas já cristalizadas, imagem invertida que impede de
apreender a realidade se não se faz intervir a História. Se a Geografia deseja
interpretar o espaço humano como o fato histórico que ele é, somente a história da
sociedade mundial, aliada à da sociedade local, pode servir como fundamento à
compreensão da realidade espacial e permitir a sua transformação a serviço do
homem. Pois a História não se escreve fora do espaço e não há sociedade a-espacial.
O espaço, ele mesmo, é social. Santos (1977; p.81)
Podemos, a partir de tal abordagem, entender que o espaço humano deve ser levado
em consideração tanto as dinâmicas locais, como as globais, conforme afirmou Santos (1977,
p.81), “somente a história da sociedade mundial, aliada à da sociedade local, pode servir
como fundamento a compreensão da realidade espacial”. Podemos ainda, levar em
consideração “o espaço humano como o fato histórico que ele é”, Santos (1977, p.81), ou
seja, assim como o tempo depende de espaço para acontecer, o espaço humano, para ser
compreendido suas transformações, necessita levar em consideração o contexto histórico, o
passado das coisas, os eventos ocorridos ao longo do tempo e que são parte do processo que
19
resulta na realidade vivenciada pelo ser humano. Como diz o próprio Santos (1977, p.81), “a
História não se escreve fora do espaço e não há sociedade a-espacial”.
Na sua obra intitulada “Espaço e método”, Milton Santos (1997, p.1) nos sugere que
o espaço seja definido não como mera condição da evolução das relações humanas, mas
também, seria ele, “fator [determinante] da evolução social”. Entendendo dessa forma, a sua
existência seria tida anteriormente a ação do homem. Para tanto, somente quando possui
atuação humana é que o espaço ganha significado e descrição.
Enquanto fundamento da evolução, o espaço não é apenas uma condição, ou seja, “a
essência do espaço é social”, uma vez que o próprio “espaço não pode ser apenas formado
pelos objetos geográficos, naturais e artificiais” [rios, florestas, serras, praças, ruas, pontes,
etc.]. “O espaço é tudo isso, mais a sociedade”, Santos (1977; p.1).
Para o Francês Oliver Dollfus (1982, p.9) “sendo um espaço localizável, o espaço
geográfico é susceptível de ser cartografado”. Assim, abordou o espaço geográfico dotado de
caracteres, a exemplo, o espaço localizável e diferenciado em que, cada um dos pontos do
espaço geográfico, estando localizado na superfície terrestre, seria passível de atuação da
cartografia.
Este espaço é também um espaço diferenciado. Por sua localização e pelo jogo de combinações que preside a sua evolução, todo elemento do espaço e toda forma de
paisagem constituem fenômenos únicos que jamais podem ser encontrados
exatamente iguais em outros locais ou em outros momentos”. DOLLFUS (1982, p.9)
Por não existir duplicidade dos elementos presentes no espaço geográfico, ou seja,
pelo fato de que, apesar de existirem elementos parecidos, da mesma espécie, estrutura física,
comportamento e/ou aparência, nenhuma paisagem possuirá outra igual, nos levando a
entender que, o espaço é diferenciado.
Em espaços com elementos naturais, aqueles sem atuação humana (Ex: rios,
florestas, montanhas) ou em espaços dotados de elementos culturais, produzidos por alguma
modificação do homem (Ex: lugares onde a cobertura natural é substituída por estruturas de
metal e concreto), todos eles existirão por toda superfície terrestre, entretanto, todos terão suas
peculiaridades distintas. Não existirão duas montanhas idênticas, como também, as
construções de metal e concreto que, por mais que sejam pensados, planejados e criados sobre
medidas, serão sempre diversos.
20
Outra característica presente na definição de espaço geográfico, trazida por Dollfus
(1982, p.11), é a possível característica mutável que se descreve. Embora a superfície terrestre
modifique-se constantemente, isso não é impedimento para que ela seja descrita, pois, toda
paisagem só existe na atualidade por causa dos acontecidos, e, mesmo se estas forem poucas,
não será impedimento para serem descritas e investigadas sobre como se deu seu processo de
desenvolvimento ao longo do tempo e no espaço.
O espaço geográfico é um espaço mutável e diferenciado cuja aparência
visível é a paisagem. É um espaço recortado, subdividido, mas sempre em
função do ponto de vista segundo o qual o consideramos. DOLLFUS (1982,
p. 8).
Milton Santos (2009) expõe a necessidade de a Geografia considerar “o espaço como
conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações”. Os objetos não teriam
sentido nem nos permitiriam o conhecimento, caso não estivessem ligados aos sistemas de
ações, da mesma forma que as ações obrigatoriamente necessitam estar ligadas diretamente
aos sistemas de objetos.
Ao analisar o sistema de objetos é necessária a distinção entre objetos
artificializados, como produto de elaboração social, onde, primeiramente associamos com
aquilo que é artificial, resultado da ação humana (computadores, postes, casas, calçadas,
automóveis), e objetos naturais, elaborados naturalmente, produzidos pela natureza sem
interferência do homem (florestas, rochas, montanhas, rios etc.).
O espaço, apontado por Lefebvre (1974) apud Godoy (2004, p.3), trata-se do “lugar
onde as relações capitalistas se reproduzem e se localizam com todas as suas manifestações
de conflitos e contradições”, ou seja, o espaço resulta da apropriação e modificação do meio
motivada principalmente pela lógica capitalista da troca.
...o espaço revelava no conteúdo de suas formas as mesmas contradições que o
produziram. Essas, por sua vez, geravam também as condições de reprodução das
relações sociais. Nesse sentido, o espaço é resultado e, ao mesmo tempo, condição
da reprodução social. Em outras palavras, o espaço consiste em um “efeito” que se
transforma em “causa”, ou, um resultado que se transforma em processo. Godoy
(2004, p.3).
Se for o espaço, “lugar das contradições, lutas e relação capitalistas”, conforme
aborda Lefebvre (1974) apud Godoy (2004, p.3), então a mesma dinâmica que resulta,
21
também é responsável pela produção do espaço, ou seja, as formas constituídas no espaço são
resultados, mas também serão produtores de novos espaços, segundo a lógica de Godoy
(2004, p.3) de que “o espaço consiste em um “efeito” que se transforma em “causa”, ou, um
resultado que se transforma em processo”.
É na perspectiva de espaço geográfico como produção da sociedade em que as
relações sociais possibilitam a produção de novos espaços e, na reconfiguração dos já
existentes, a partir de certa intencionalidade (necessidade do indivíduo) que, ao longo do
tempo, foram desenvolvidas determinadas técnicas, essas são repensadas juntamente com
conhecimentos herdados por costumes, crenças, culturas, tradições de povos ancestrais, e
formuladas com auxílio de novas técnicas.
Diante do já abordado podemos compreender o espaço geográfico composto por duas
naturezas; a primeira formada pelos elementos naturais e a segunda como aquilo que é criado
pelo homem conforme nos apontou Rodrigues (2008, p. 37). Também vimos o espaço
enquanto “conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações”, (Santos, 2009;
p. 63). O espaço é tudo isso; a soma dos elementos dotados de funcionalidades presentes no
meio, onde as transformações sócio-espaciais e naturais acontecem e, de algum modo,
relacionam-se com o cotidiano do ser humano.
Não avançaríamos a análise sobre o espaço público e a dinâmica dos espaços de
lazer, se não tivéssemos chegado à compreensão do espaço, conceito base da Geografia que
antecede e fundamenta nossas abordagens quanto aos espaços, pensados para o lazer em
público, das praças, calçadas, ruas e vielas.
Somente a partir da existência de um ser racional é que foram atribuídos significados
as coisas: elementos naturais e culturais presente na superfície. Para tanto, ao tratar de
“espaço geográfico” e sua produção, remetemo-nos a construção existente a partir de uma
lógica sociocultural, um espaço sendo reproduzido a cada instante. Assim, o espaço
geográfico pode ser visto como parte de um todo, onde as relações sociais são responsáveis
pelo construto de novos elementos no espaço natural.
Os espaços, antes tidos como natural cada vez mais recebem a ação do homem
(homem x meio), responsável, junto à relação social (homem x sociedade), pela produção e
22
desenvolvimento das cidades. Essas, por sua vez, devem ser compreendidas em sua essência,
distintamente do urbano.
1.2 A cidade e o urbano
Segundo Cavalcanti (2012 p.63) “existe uma forte conexão entre a produção desse
lugar [a cidade] e a cultura das pessoas que neles vivem”. A cidade não pode, pois, ser
considerada apenas como um local produzido para acolher os indivíduos sociais, é, na
verdade, a realidade social vivenciada por esses indivíduos, expresso na configuração da
cidade. Logo, o modo de vida das pessoas definirá o urbano.
A cidade, ainda segundo Cavalcanti (2012 p.63 e 64), é “local de encontro social
que perpassa o simples abrigo da população urbana, consiste na produção do modo de vida
que se generaliza”.
Na abordagem de Matos (2010):
A cidade é um espaço construído constituído por espaços públicos, abertos a todos
e espaços privados, de acessibilidade limitada. Na maioria das cidades os espaços
privados ocupam uma parte significativa do seu território, contudo, aquilo que
melhor as caracteriza são os seus espaços públicos. (p.18, grifo nosso)
Em suas colocações, a autora frisa a cidade como um espaço que é construído -
atuação das relações humanas (a cidade enquanto produto da ação social) - e constitui-se de
espaços públicos abertos a todos (a cidade enquanto produtora das relações entre os
indivíduos). Também é a cidade, dotada de espaços privados, aqueles delimitados por alguns
indivíduos que, ao apoderarem-se desses espaços, exercem poder de uso sobre os mesmos,
limitando acesso aos demais.
De certo, é notória a aproximação dos significados entre cidade e urbano. A cidade
remete ao espaço físico (casas, ruas, bairros), enquanto o urbano necessita de uma análise
mais ampla. Implica no modo de vida que o indivíduo possua, vivendo no espaço físico da
cidade (acesso a serviços de bancos, supermercados, farmácias, educação, saúde, lazer,
previdência social, transportes etc.).
É na cidade onde são (re) criados os espaços de convívio urbano, aqueles destinados
ao uso em comum pela sociedade, espaços do encontro e do convívio social, que na maioria
23
das vezes atrai indivíduos ou grupos a partir de uma identificação com o lugar, formando
assim, territorialidades.
O espaço urbano é tido, nos escritos de Corrêa (1995), como “espaço fragmentado e
articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas que, em
termos gerais, formam um conjunto de diferentes usos da terra juntos entre si”.
É fragmentado porque agrega diversos setores para poder configurar a cidade. A
administração pública não consegue sozinha produzir o espaço urbano, assim como também
não conseguiriam os empresários, moradores, diversas classes sociais, dentre outros, caso
todos esses não possuam de certa forma um contato direto ou indireto que os interliguem (seja
uma relação de troca comercial, serviços ou contatos diversos no dia a dia).
Corrêa (1995) completa a definição de espaço urbano como:
conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas,
como: o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviço
e de gestão; áreas industriais e áreas residenciais, distintas em termos de forma e
conteúdo social; áreas de lazer; e, entre outras, aquelas de reserva para futura
expansão. Corrêa (1995, p.1)
Identifica-se o espaço urbano como a parcela resultante das utilizações do ser
humano e produções advindas do convívio social, ou seja, aqueles espaços onde o homem
expressa suas vivências e experiências, produzindo ao seu redor, estruturas físicas para o
convívio sócio-espacial que levam em consideração as correlações “homem x sociedade” e
“sociedade x natureza”.
A seguir abordaremos os agentes produtores do espaço urbano na concepção de
Corrêa (1995, p.1). São eles:
Os proprietários dos meios de produção (grandes industriais)
Proprietários fundiários
Promotores imobiliários
O estado
Os grupos sociais excluídos
Os proprietários dos meios de produção (grandes industriais) são aqueles que
possuem elevado poder econômico, ou seja, detém porções do espaço geográfico demarcado e
em diversos casos, dotados de construções diversas.
24
Para Corrêa (1995, p.1) “são, em razão da dimensão de suas atividades, grandes
consumidores de espaço. Necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos
locacionais pertinentes às atividades de suas empresas”. A atuação dos grandes produtores
industriais depende, por exemplo, de uma logística territorial (construção de novas vias de
acesso para escoamento da produção, emprego, atração de novas atividades econômicas –
comércio e serviços, entre outros).
Os proprietários de terras trabalham com a especulação e valorização dos terrenos
em pontos estratégicos (localização, proximidades com vias de acesso, saneamento,
iluminação, calçamento, dentre outros) com intenção de maior lucratividade com relação à
venda ou troca de terrenos. Segundo Corrêa (1995, p.2), “alguns dos proprietários fundiários,
os mais poderosos, poderão até mesmo ter suas terras valorizadas através do investimento
público em infraestrutura, especialmente viária”.
Esses proprietários fundiários que trabalham com a valorização do espaço, são
aqueles possuidores de lotes de terras com algumas individualidades e atrativos como: boa
localização, paisagens naturais atraentes, proximidades com rios, cachoeiras ou espaços
verdes – serras, resquícios de mata atlântica, nascentes etc. Em casos de lotes no perímetro
urbano, os terrenos possuem disponibilidade de iluminação pública, vias de acesso. Muitos
terrenos baldios pertencem a esses proprietários fundiários que mesmo sem uso só são
vendidos por um alto valor de mercado.
Para Corrêa (1995), entende-se por promotores imobiliários:
conjunto de agentes que realizam, parcialmente ou totalmente, as seguintes
operações: incorporação; financiamento; estudo técnico; construção ou produção
física do imóvel; e comercialização ou transformação do capital-mercadoria em
capital-dinheiro, agora acrescido de lucro. Corrêa (1995, p.3)
O que diferencia os produtores fundiários dos produtores imobiliários é que,
enquanto os fundiários articulam-se em torno do lucro com o mercado dos lotes de terras, os
imobiliários trabalham com os imóveis já prontos para venda, ou aluguel, e a construção de
novos (compra, venda e financiamento).
Também o estado atua na organização espacial da cidade, segundo colocações de
Corrêa (1995, p.3). Em sua descrição, “o estado tem atuação complexa e variável tanto no
tempo como no espaço, refletindo a dinâmica da sociedade da qual é parte constituinte”, ou
25
seja, tem o poder de, por exemplo, agir diretamente no espaço urbano a partir das cobranças
de impostos, desapropriações, construção de vias de acessos; estradas, ruas, vielas, viadutos e
pontes, além da construção de escolas, hospitais, praças, calçadas etc.
Finalizando os cinco maiores agentes produtores do espaço urbano, temos os grupos
socialmente excluídos; que não possuem moradia nem condições dignas de sobrevivência
(moradia, saneamento básico, acesso a serviço de saúde etc.). Segundo Corrêa (1995), são
grupos excluídos aqueles que:
não possuem renda para pagar o aluguel de uma habitação digna e muito menos para
comprar um imóvel. Este é um dos fatores, que ao lado do desemprego, doenças,
subnutrição, delineiam a situação social dos grupos excluídos. A estas pessoas
restam como moradia: cortiços, sistemas de autoconstrução, conjuntos habitacionais
fornecidos pelo agente estatal e as degradantes favelas. Corrêa (1995, p.3)
A leitura trazida por Corrêa (1995) se faz necessário para compreensão de como o
espaço é constantemente transformado a partir dos proprietários dos meios de produção,
proprietários fundiários, promotores imobiliários, o estado e os grupos socialmente excluídos,
já que levamos em consideração as influências tidas no cotidiano do ser humano e na
dinâmica da cidade, a exemplo, as territorialidades que surgem, motivadas por uma
apropriação por identidade e pertencimento do indivíduo nos espaços públicos (praças e
espaços de lazer).
1.3 O simbólico-cultural e a apropriação nos espaços-territórios-públicos
Devemos deixar claro que, o intuito de abordar a formação de territorialidades nos
espaços urbanos, trata-se apenas de um viés secundário (plano de fundo), para entendermos a
existência de uma “apropriação” dos lugares por parte dos indivíduos e/ou grupos sociais no
cotidiano de uma sociedade. Sendo assim, uma apropriação por sentir-se pertencente, por
manter vínculo de identidade com os elementos de tal lugar, e não pela relação de poder,
central na discussão de território.
O homem nasce com o território, e vice-versa, o território nasce com a civilização.
Os homens, ao tomarem consciência do espaço em que se inserem (visão mais
subjetiva) e ao se apropriarem ou, em outras palavras, cercarem este espaço (visão
mais objetiva), constroem e, de alguma forma, passam a ser construídos pelo
território. Haesbaert et Limonad (2007, p.42)
26
A abordagem em Haesbaert e Limonad (2007) de que o “homem nasce como o
território e o território nasce da civilização” nos aponta que há uma relação direta entre
convivência social e o território. Essa ligação está na necessidade de o homem ser capaz de
pensar racionalmente. Logo, dotam-se de capacidades, interesses e saberes que o possibilitam
domínio e conquista de espaços. Como os próprios autores colocam (p.42) “os homens
constroem e passam a ser construídos pelo território, ou seja, o território influencia no modo
de vida que o indivíduo leva na sociedade da mesma forma que esse mesmo território também
depende do indivíduo – de seus interesses, buscas e conquistas - para ser construído.
Segundo Saquet et Briskievicz (2009, p.8) “Os homens, através de seus gestos,
necessidades e aprendizagens produzem e renovam suas identidades”. A cada dia, novos
atrativos podem surgir na sociedade, novos elementos físicos podem ser produzidos pelo
homem, modificando a rotina de um indivíduo ou grudo social. A criação de uma nova praça,
por exemplo, pode atrair um novo público para o lugar, novas dinâmicas (territorialidades)
são criadas atraindo novos atores que, ao identificarem-se, atuarão nesse espaço onde antes
não havia tal movimentação.
Essa relação identidade-território toma forma de um processo em movimento, que se
constitui ao longo do tempo tendo como principal elemento, o sentido de
pertencimento do indivíduo ou grupo com o seu espaço de vivência. Esse sentimento
de pertencer ao espaço em que se vive, de conceber o espaço como locus das
práticas, onde se tem o enraizamento de uma complexa trama de sociabilidade é que
dá a esse espaço o caráter de território. SOUZA e PENON (2007, p. 127 e 128)
O individuo cria laços de identidade e se territorializa ao utilizar os elementos do
espaço que frequenta, dotando-se de certa apropriação. Seu convívio com as demais pessoas e
o entorno, de forma geral, cria um sentimento que faz o indivíduo pertencente a esse espaço
por ele habitado.
Embora alguns autores abordem o território enquanto apropriação pela força e poder,
em muitos casos, com finalidades voltadas a reprodução capitalista do espaço, pretende-se
ainda trazer para a discussão, o dialeto das constantes territorialidades formadas a partir da
apropriação do espaço por meio de identificação com o meio, não carecendo de força nem
intimidação do uso. Logo, outros indivíduos que também se sintam bem ao usar tal espaço,
atraídos pela dinâmica em seu entorno, adequação de convivência, adaptam-se a esses espaços
e apropriam-se de tais “territórios públicos”.
27
Os “territórios públicos” correspondem aos espaços de convívio dos indivíduos
(grupos sociais) de uma sociedade. Diferenciam dos espaços públicos pela criação de vínculos
com esses lugares. Identificamos os espaços públicos, de forma geral, pela facilidade de
acesso, aqueles abertos ao público mesmo que não possuam participação ativa de grupos
sociais (praças, calçadas, ruas, dentre outros). Esses mesmos espaços podem ser considerados
“territórios públicos” ao passo que se cria uma identidade, vínculo abstrato que denota
apropriação, afinidade, identidade, pertencimento sem necessariamente forma de intimidação
de uso desses espaços.
Para Saquet et Briskieviez (2009), uma importante abordagem de território feita por
Raffestin é bem adaptada ainda na atualidade, uma vez que, compreende a noção de
territorialidade enquanto atuação do estado, mas também, da apropriação simbólica dos
elementos presente no cotidiano das pessoas.
Na Suíça, Claude Raffestin, desde os anos 1970, constrói uma argumentação em
favor de uma concepção multidimensional de território e da noção de
territorialidade[...] o território e a territorialidade ocorrem através da atuação do
Estado, porém, acontecem também através de outras ações sociais, efetivadas por
empresários, organizações políticas e indivíduos. É uma concepção que
consideramos renovada, histórica, crítica e eminentemente reticular, inspirando
compreensões que podem orientar o redimensionamento de relações de poder e a
elaboração de projetos de desenvolvimento que valorizem as identidades simbólico-
culturais”. Saquet et Briskieviez (2009, p.5)
O território, na abordagem de Saquet et Briskieviez (2009, p.5), é movido por uma
relação de poder político-administrativo (o estado) e econômico (relação de troca movida pelo
capital), o que independe que aconteçam as territorialidades a partir do poder contido na
relação identitária dos indivíduos com elemento simbólico-cultural presente nos espaços
acessíveis a sociedade.
Território, assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao
tradicional "poder político". Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais
explícito, de dominação, quanto ao poder no sentido mais implícito ou simbólico, de
apropriação. Lefebvre distingue apropriação de dominação ("possessão",
"propriedade"), o primeiro sendo um processo muito mais simbólico, carregado das
marcas do "vivido", do valor de uso, o segundo mais concreto funcional e vinculado ao valor de troca. Haesbaert (2007; p. 20 e 21)
O que Haesbaert (2007, p. 20 e 21) aponta como “poder no sentido mais explícito, de
dominação” “sendo mais simbólico, carregado de marcas do “vivido”, do valor de uso”, é,
28
pois, a formação de territorialidade a partir da identificação tida pelo indivíduo com os
elementos que configuram o espaço público que, ao tornar permanente o uso de tal espaço, o
torna um território-público.
Tratar de território-público implica na funcionalidade provocada e percebida pelos
indivíduos através dos elementos (re) criados em determinado espaço, configurando-o e
dotando-o de significado para aquele (es) que o frequentam.
As territorialidades que aqui abordamos enquanto territórios-públicos se dão no
espaço público urbano. Para Laurentino (2006, p.307) são duas formas de uso desse espaço
público, “uma com restrição de uso e a outra com acesso sem restrições”. Vejamos:
Espaço público é entendido como áreas de apropriação pública. São espaços públicos aqueles com certa restrição de uso, muitas vezes funcionalizados ou que se
destinam a um determinado grupo social, como escolas, hospitais, creches,
instituições etc. Há ainda aqueles de acesso sem restrições à população e de livre
circulação, como são os espaços de lazer, recreação (parques, ginásios
poliesportivos, etc.) ou aqueles destinados aos movimentos de veículos e pessoas,
como os logradouros públicos (ruas, praças, etc.). Laurentino (2006, p.307)
Laurentino (2006) aborda ainda que:
[...] todos esses espaços possuem em comum o fato de serem áreas do poder público
geridas pelo Estado. Pertencentes, enfim, à coletividade e com valor de uso. E, como
valor de uso, o espaço público tem também a importância de ser o espaço criativo,
da espontaneidade, da beleza das obras e das festas etc. p (307 e 308)
Tal citação feita por Laurentino (2006) nos aponta tais espaços geridos pelo estado
com o intuito de serem destinados à sociedade, aberto aos cidadãos e, por isso, dotados de
elementos que os embelezam, os tornam atraentes e preenchidos de funcionalidades para seus
frequentadores. Logo, estão disponíveis para uso (tráfego livre de pessoas, caminhada com os
amigos, atividade física, paqueras, e diversas outras práticas de lazer).
Segundo Hannah Arendt (2007, p.15), “são três as atividades humanas
fundamentais: labor, trabalho e ação”. A primeira trata-se do “processo biológico do corpo
humano” e não é de interesse, nesse trabalho, de aprofundarmos em tal discussão. Entretanto
interessa-nos tratar das duas outras atividades humanas fundamentais, o “trabalho” e a
“ação”.
29
O trabalho é a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana,
existência esta não necessariamente contida no eterno ciclo vital da espécie... produz
um mundo “artificial” de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural.
ARENDT (2007, p.15)
Ao abordar trabalho, Arendt (2007, p.15), expõe a característica “artificial” presente
na “existência humana”. A produção dessa artificialidade é responsável pelo surgimento e
crescimento das cidades, local do habitar em sociedade, que expressa a lógica trabalhista, a
produção de novos elementos a fim de aprimorar a vida em sociedade (moradia, vias de
acesso – pontes, estradas – praças, prédios públicos etc.), em linhas gerais, atender aos
interesses da produção artificial humana.
A ação, única atividade que exerce diretamente entre os homens sem a mediação das
coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que
homens, e não homem, vivem na terra e habitam o mundo. ARENDT (2007, p.15)
Conforme aborda Arendt (2007, p.15), a ação independe a artificialidade ou a
matéria que está no entorno. Embora sejamos todos humanos, somos diferentes entre todos, e
isso caracteriza a condição da ação humana. A ação em Arendt (2007) é aqui compreendida
como a condição humana de relacionar-se com seus semelhantes.
Em Serpa (2004) temos abordagens sobre acessibilidade aos espaços públicos
enquanto espaços de cidadania, da ação política, onde as formas físicas não dispõem de suas
existências por mero acaso. Pelo contrário, tratar de acessibilidade requer levar em
consideração os elementos concretos e os significados por esses expressos. Não se trata de
uma visão simplista - aspectos concretos - dos elementos presentes no meio (ruas, calçadas,
residências, praças e outros), requer ainda, compreendermos o simbolismo presente.
Se é certo que o adjetivo “público” diz respeito a uma acessibilidade generalizada e
irrestrita, um espaço acessível a todos deve significar, por outro lado, algo mais do
que o simples acesso físico a espaços “abertos” de uso coletivo”. Serpa (2004, p.22)
A citação acima aponta para um espaço que, de fato, deveria voltar-se para o uso dos
espaços públicos pela sociedade, não como mero meio de idas e vindas ou apenas um “espaço
aberto ao coletivo”, Serpa (2004, p.22). A essência do espaço público está no significado
30
criado entre o indivíduo e o meio, um elo que faz sentir-se pertencente; sem medo ou
restrição, sem represália nem algum outro tipo de desconforto.
É, pois, no acesso diferenciado aos espaços públicos de acordo com a classe social
do indivíduo que, segundo Serpa (2004; p 26) “a acessibilidade e a alteridade [relação com o
externo] apresentam uma dimensão de classe evidente, que atua na territorialização (e, na
maior parte dos casos, na privatização) dos espaços públicos urbanos”.
Esclarece ainda que:
A identidade social se define e se afirma a partir de uma alteridade que expressa
também uma dimensão de classe, uma alteridade ao mesmo tempo “desigual” e
“diferente”. Desse modo, a acessibilidade ao espaço público da/na cidade
contemporânea é, em última instância, “hierárquica”. Serpa (2004, p.26)
O que Serpa (2004, p.26) nos passa é que a relação com o externo implica no
conhecimento de realidades distintas, ou seja, ficar diante do novo, do economicamente,
socialmente e/ou culturalmente diferente. Logo, diferenciadas classes sociais relacionando-se,
provocarão “desconforto” e modos diferentes de acesso aos espaços urbanos. Há, portanto,
uma hierarquização por parte das classes sociais economicamente influentes em relação às
demais. Assim, acontece a acessibilidade, ou a ausência dela.
Há que se fazer uma abordagem de espaço público e privado para compreendermos a
lógica de ambos. De certo, num primeiro momento, espaços públicos e privados possuem
respectivamente a conotação de espaços de livre acesso e espaços de acesso limitado. Porém,
ao aprofundarmos essa discussão, o que podemos questionar em tal análise é se, seria o
espaço público mero contrário do espaço privado e vice-versa? ou se existem aspectos que
vão além de espaços de acesso e acessibilidade limitada?
Matos (2010) esclarece que:
A distinção público/privado, em termos jurídicos, por exemplo, não é senão
parcialmente pertinente, porque os espaços públicos não são redutíveis àqueles que
pertencem à comunidade, ao "domínio público". Certos espaços com um estatuto
jurídico ou gestão privada são, de facto, espaços públicos, entradas de edifícios,
cafés, centros comerciais[...] etc., no sentido de que o seu uso é praticamente livre
para todos, mas, reciprocamente, muitos destes domínios públicos não são acessíveis
a todos, porque o seu direito de uso é condicionado pelo pagamento de entradas, por
exemplo, ou reservado aos seus residentes. (p.19)
31
A abordagem trazida por Matos (2010, p.19) nos faz pensar que lugares públicos, a
exemplo de Hospitais, Universidades, escolas e outros, possuem seus espaços com acesso
limitado, ou seja, para entrar nesses locais, o indivíduo carece de autorização da
administração ou responsáveis legais. Assim, o prédio de uma escola, mesmo sendo público
não pode ser acessado por qualquer indivíduo e a qualquer horário.
Algumas praças em que são instaladas algumas lanchonetes, churrasquinhos e
barezinhos, ou ainda, calçadas de pousadas e hotéis que ofertam serviços e comércios, mesmo
estando dentro de um espaço entendido como público possui intimidação daqueles que não os
frequentam com, por exemplo, o intuito de consumir.
Portanto, para Matos (2010):
[...] de qualquer forma, um espaço público é por natureza mais aberto e a primeira
função que o distingue do espaço privado é a facilidade de acesso. O espaço público
é de todos e de ninguém em particular, em princípio, todos o podem usar com os
mesmos direitos. (p. 20)
É nos espaços públicos das praças que mais ocorrem os vínculos que definem um
lugar destinado à prática do lazer, tal uso torna-se frequente quando os elementos que
configuram tal espaço (iluminação, segurança, acessibilidade, bancos/acentos, arborização e
outros) permitam uma ligação com o indivíduo. Há uma aproximação entre indivíduo, os
grupos sociais e espaço criado (a cidade) para a vida em sociedade, onde ocorrem os
encontros e conflitos, características da esfera pública.
1.4 Lugar, lazer e seus conceitos
O lugar, na abordagem de Z. Mlinar (1990, p.57) apud por Santos (2009, p.314) é
tido como “um intermédio entre o Mundo e o indivíduo”. A interpretação de Santos (2009)
associa o lugar com a globalização, onde “a alusão a lugares e a coisas distantes, revelam, por
contraste, no ser humano, o corpo como uma certeza materialmente sensível, diante de um
universo difícil de apreender”, Santos (2009, p. 313 e 314). Os lugares possuem suas
peculiaridades locais, porém comunica-se com outros lugares, seja numa esfera política,
econômica ou histórico-cultural. Dessa forma há uma relação local-global e global-local.
32
[...] o lugar é principalmente um produto da experiência humana: “(...) lugar
significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere a objetos
e atributos das localizações, mas à tipos de experiência e envolvimento com o
mundo, a necessidade de raízes e segurança” (Relph, 1979). Ou ainda, “lugar é um
centro de significados construído pela experiência” (Tuan, 1975). LEITE (1998;
p.10)
O lazer na discussão de Leite (1998, p.10) nos é compreendido como local em que o
indivíduo possui ligações e proximidades, onde há um contato e uma intimidade de uso gerará
um sentimento de pertencimento. Não é possível se considerar um lugar, aquele espaço nunca
frequentado, mesmo que visto por fotos e vídeos. O vínculo que determina laços,
identificação e uso, é, pois, a experiência, o contato com os elementos presentes no espaço.
Quando vivenciado e criado laços, o lugar ganha funcionalidade. O indivíduo passa
usá-lo para suas necessidades, inclusive para prática do lazer, como acontece nas praças e
espaços de lazer em que o indivíduo passa a frequentar, seja no passeio para aproveitar o
tempo livre do trabalho, encontrar com os amigos, sair com a família, entre outros.
1.5 Tempo de diversão, da folga e do ócio: a tentativa de conceituar o lazer
A partir da leitura de lazer e atividade física, Mota (2001, p.125) aponta três formas
de caracterização: “tempo livre”, “atividade recreativa”, e “lazer como atitude”. Faz um
recorte acerca das atividades lúdicas enquanto parte integrante da vida do ser humano.
Na Grécia, sociedade em que o trabalho era garantido pelos escravos, o estilo de
vida permitido e dedicado à classe privilegiada (os cidadãos) estava concentrada no
cultivo do espírito, na contemplação, sendo esta liberdade total de obrigações,
condição fundamental para a natureza do Homem Livre. MOTA (2001, p.125)
[...] na idade média, as comunidades rurais possuíam um elevado espírito de
convivência comunitária muito pela influência da Igreja. A nobreza encontrava na
caça, na equitação e nos jogos de combate (justas e os torneios) a sua forma privilegiada de ocupação, a qual definia também a sua condição social. MOTA
(2001, p.125)
As abordagens feitas por Mota (2001) nos fazem compreender a atividade lúdica
como fundamental no cotidiano da sociedade, desde tempos remotos. Seja como na Grécia
antiga em que o lazer, mesmo ainda não discutido como tal, remetia ao “cultivo do espírito”
33
ou, na Idade Média, tido como atividades de caça, equitação e jogos de combate, Mota (2001,
p.125), nos indica a intenção do indivíduo possuir momentos de “bem-estar próprio”, ou seja,
independente das formas de uso, tempo e espaço, o indivíduo sempre buscou momentos de
descanso (não apenas do trabalho), mas que proporcionasse paz, liberdade, tranquilidade,
aventura, o próprio lazer.
Ainda:
[...] as formas de ocupação dos tempos livres nas sociedades industriais e pós-industriais acompanham a expansão econômica, resultado da revolução empreendida
pelo processo de industrialização. O lazer cria também postos de trabalho[s]
emergindo[s] como uma estrutura economicamente rentável com enormes
potencialidades de desenvolvimento e exploração. O lazer transformou-se numa
indústria. Vive como muitas outras componentes da vida e estrutura social a era da
globalização; desde os parques temáticos, às cadeias de restaurantes, passando pelos
cinemas multiplex. MOTA (2001, p.125 e 126)
A discussão do lazer é, aparentemente, distorcida quando levado em consideração
apenas influências pós-revolução industrial para analisar a dinâmica do ser humano no tempo
e espaço destinado ao seu bem-estar. A luta pela redução da carga horária e outros direitos
trabalhistas, fizeram impulsionar no intelecto social que o lazer remetia ao tempo contrário de
obrigações trabalhistas.
Em sua dissertação, titulada “Trabalho, tempo livre e lazer: uma reflexão sobre o uso
do tempo da população brasileira”, Ferreira (2010) afirma o seguinte:
[...] o lazer é a satisfação de uma necessidade de emoções fortes, podendo ser visto
como o complemento das atividades formalmente impessoais, oriundas do mundo
do trabalho. Quando se avalia o lazer no espectro do tempo livre, percebe-se que as
atividades voltadas ao lazer não estão em primeiro plano na vida da maioria das
pessoas, muito pelo contrário, só aparecem depois das obrigações trabalhistas, das
familiares, das necessidades básicas, entre outras. (p. 37 e 38)
A abordagem feita pela autora, do lazer, “como complemento das atividades
formalmente impessoais, oriundas do mundo trabalho” é influenciada segundo abordagem de
três conceitos por ela investigado: (i) trabalho como obrigações profissionais contrário ao
tempo livre, (ii) tempo livre como disponível do trabalho e (iii) lazer como atividades de
recreação e divertimento, Ferreira (2010, p .36).
Maya (2008) ao escrever sobre “Trabalho e tempo livre” afirma que:
34
[...] tem havido um crescente interesse pela questão do tempo livre, especialmente
nas Ciências Sociais. Embora não muito numerosos, alguns estudos tem sido publicados sobre o assunto, enfocando-o desde diversos pontos de vista.
Consideramos especialmente produtivos aqueles que abordam o tema em conexão
com a questão do trabalho, pois afinal, tempo de trabalho e tempo de não trabalho é
exatamente do que se compõe a vida dos indivíduos. (p. 31)
A afirmação de Maya (2008, p.31) de que “tempo de trabalho e tempo de não
trabalho é exatamente do que se compõe a vida dos indivíduos” soa de forma refutável. O
cotidiano do indivíduo que não trabalha por invalidez ou por aposentadoria, por exemplo, já
negaria tal consideração, afinal, esses também possuem tempo destinado ao lazer.
A definição de trabalho em Maya (2008, p.33), significa “objetivação do homem no
mundo, a exteriorização de sua personalidade,... maneira como sustenta sua existência... uma
atividade precipuamente social”. O trabalho é tido como atuação do homem para sua
subsistência, requer habilidade, força e tempo. Muitos indivíduos possuem uma enorme carga
horária diária no trabalho, disponibilizando de pouco tempo a ser usado para outras
finalidades, inclusive o lazer.
Por outro lado
[...] o tempo livre, expressão à qual nos filiamos em nosso estudo, não há uma
concordância geral dos autores em relação ao seu significado. Muitos entendem que
tempo livre confunde-se com todo o tempo de não trabalho que inclui, por exemplo,
as horas dedicadas ao sono, à alimentação e à higiene pessoal. MAYA (2008, p.34)
Para o autor, o “tempo livre confunde-se com o tempo do não trabalho (tempo do
sono, da alimentação, da higiene etc.)” Maya (2008, p.34). O autor usa o termo “tempo livre”
para expressar a não imposição na decisão do indivíduo, ou seja, o tempo da não
obrigatoriedade do indivíduo, dando-lhe autonomia para decidir o que melhor agrada fazer
naquele momento.
1.6 O lazer no cotidiano urbano
O lazer, é visto na abordagem de Orth et Cunha (2000, p.2), como “uma necessidade
na vida urbana para reabilitação da saúde física, mental e moral humana”. É o lazer,
35
entendido segundo esses autores como parte fundamental para vida urbana que muitas vezes
sobrecarrega o indivíduo com a rotina do dia a dia (casa – trabalho – estudos – vida social). O
lazer é compreendido enquanto necessidade de desprendimento do cotidiano para cuidados
com a saúde, para o descanso físico e mental do indivíduo.
Considerado o lazer como importante para vida saudável do indivíduo, nos é
apontado a necessidade de investir em espaços propícios a tal prática, segundo nos escreve
Orth et Cunha (2000).
Os espaços de lazer constituídos por praças, parques, largos e outros destinados ao
encontro, convívio, descanso e ou recreio da população possuem uma importância
acentuada em áreas onde a densidade predial (manifestação do crescimento urbano)
alcança limites máximos de ocupação do solo, sendo a alternativa para agregar
qualidade ao ambiente construído e qualidade a vida das pessoas que nele habitam.
(p.2)
A abordagem trazida por Orth et Cunha (2000, p.2) nos faz enxergar os espaços
urbanos das cidades, cada vez mais dotados de edifícios e carência de espaços destinados ao
lazer. A expansão urbana é, pois, responsável pela ocupação do solo. Em contrapartida,
espaços como praças, parques, lagos e outros, devem ser pensados e criados para atender o
lazer da sociedade contemporânea.
O lazer, por muitos autores é abordado apenas como mera contrariedade do tempo de
trabalho. Afirma-nos Gomes et Melo (2003) que:
[...]o desenvolvimento das primeiras investigações sistematizadas sobre o assunto
têm origem na segunda metade do século XIX. Àquela época, o lazer foi entendido
apenas como um tempo disponível depois das ocupações, como pode ser constatado no Dictionnaire de la langue Française, elaborado por Maximilien Littré no
decorrer dos anos de 1860. Segundo o sociólogo francês Joffre Dumazedier (1973),
esta definição foi reproduzida por vários autores, e somente em 1930 o Dictionnaire,
de Claude Augé, acrescentou um novo significado a este verbete: o lazer passou a
ser concebido como distrações, ocupações às quais o indivíduo poderia se entregar
de espontânea vontade, durante o tempo não ocupado pelo trabalho. (p.25)
Ao discutir “ócio”, nos aponta Gomes (2007):
Os significados atribuídos ao ocio podem, em geral, nos remeter a expressões que
indicam determinadas ações apreciadas por quem a vivencia (como dançar, praticar
ou assistir a esportes, passear, viajar, ler, ir a festas, etc.). Porém, associar o ocio
com as nossas experiências pessoais representa um entendimento limitado sobre a
questão, uma vez que o restringe aos conteúdos de determinadas vivências. O ocio
não pode ser compreendido somente pelo conteúdo da ação, ou seja, não é a
atividade em si que o caracteriza[...] na realidade ocidental o ocio adquire
conotações diversas, tais como descanso, folga, férias, repouso, desocupação,
distração, passatempo, hobby, diversão, entretenimento. Verifica-se, portanto, a
36
―polissemia‖ (característica dada a uma palavra que tem várias significações) do
termo ocio na nossa sociedade atual, o que é um reflexo da sua presença na vida
cotidiana. GOMES (2007, p.1)
A autora, ao nos escrever que “o ócio não pode ser compreendido somente pelo
conteúdo da ação” Gomes (2007, p.1), nos faz entender que seu significado vai além do
conteúdo de nossas vivências: do sorvete, do livro, do exercício físico, da bola, do lanche, das
conversas... implica em algo maior, “conforme tido na discussão ocidental de ócio”, permite
“descanso, folga, férias, repouso, desocupação, distração, passatempo, hobby, diversão,
entretenimento” Gomes (2007, p.1). Acrescentaria que o ócio se dá pela energia conquistada
pela ação do jogo de futebol com os amigos, pela impressão de conforto e satisfação ao tomar
um delicioso sorvete numa tarde de calor, ou ainda, pela sensação de realização, por participar
de momentos (sair para conversar, ir numa festa, fazer um lanche com amigos) e sentir-se
pertencente a um grupo social.
O ócio compreende, desta maneira, a vivência de inúmeras manifestações da cultura,
tais como o jogo, a brincadeira, a festa, o passeio, a viagem, o esporte e também as
diversas formas de artes (pintura, escultura, literatura, dança, teatro, música,
cinema), entre várias outras possibilidades. Inclui, ainda, a contemplação e o
descanso como opções, uma vez que estas e outras manifestações culturais podem
constituir, em nosso meio social, notáveis experiências de ócio. GOMES (2007, p.4)
Os escritos de Gomes (2007, p. 1 e 4) nos faz compreender que o tratamento do
“ócio” deve ser levado em consideração à variação de significado nas pessoas. Assim, passear
com amigos, tomar sorvete, pintar um quadro, jogar bola etc., pode se compreender por parte
de alguns indivíduos como um tempo de ócio e, para outros não, porque sensações são
sentidas distintamente pelos indivíduos, as formas de gosto variam.
Embora existam diversos autores que discutam o lazer como resultante do tempo
livre, da folga do trabalho, entendemos que sua definição vai além do mero uso a que se
destinam casos específicos.
Como já foi abordado, o que pode ser considerado lazer para um, pode não ser para
os demais. Dessa forma, o lazer não remete ao tempo livre, da simples folga do trabalho. Esse
seria um caso específico que, por si só, não consegue definir todo o contexto a que se confere
o lazer.
37
O lazer perpassa o tempo de folga, do descanso pós-horário de trabalho, mais que
isso, o lazer requer relaxamento, liberdade, sentimento de bem-estar, diversão,
entretenimento, repouso, entre outros.
O lazer acontece nos momentos agradáveis ao indivíduo e, dessa forma, é anterior a
lógica do lazer pensada pós-revolução industrial, de um lazer para “recarregar as energias” do
físico e do intelecto, para poder retornar ao trabalho. Questionaríamos se, por exemplo, o
indivíduo não poderia ter alguns momentos no seu trabalho que os considerassem divertido,
empolgante, que proporcionasse o próprio lazer? ou ainda se só existe o lazer para aqueles
que trabalham, haja vista, crianças, jovens e idosos que não trabalham, por acaso esses, não
usufruem tempos de lazer?
Um agente ou guia turístico (quando do acompanhamento de viagens guiadas), um
geógrafo em suas aulas de campo (nos momentos de investigações científicas – trilhas e
excursões em serras, chapadas, morros, metrópoles e etc.), um analista de sistema (criando
programas digitais, fazendo o que gosta de fazer), por exemplo, não poderiam sentir-se bem,
divertidos, prazerosos, empolgados e até mesmo relaxados. O intuito não é generalizar com
exemplos, pelo contrário, a tentativa é de negar a generalização utilizada para conceituar lazer
como mero tempo livre, da folga do trabalho.
Sobre o segundo questionamento “se só existe o lazer para aqueles que trabalham?
Não. O lazer é tido por todos, inclusive crianças, jovens e idosos. O lazer independe do tempo
de folga daqueles que trabalham. Caso questionado, o que seria considerado o tempo de
descanso do trabalho, a resposta dada estaria na própria pergunta, ou seja, tempo de descanso,
de folga, e ponto. O indivíduo, entretanto, poderia usar o tempo de sua folga para o “lazer”
(“ócio”, termo em espanhol mais aproximada do lazer no Brasil), ou para outros fins -
compromissos adversos: afazeres domésticos, compromissos bancários, saúde, compras etc.
38
2 ESPAÇOS, TERRITÓRIOS E LUGARES PÚBLICOS EM DELMIRO
GOUVEIA/AL
Pensar nas transformações ocorridas ao longo do tempo e em um determinado espaço
do Centro de Delmiro Gouveia/AL nos remete a análise do espaço público, aquele dotado de
significado, acessível e convidativo, propício ao lazer da sociedade, ou seja, espaços de lazer,
suas transformações e a configuração da realidade atual. Para isso, entendemos como
fundamental tecer algumas considerações sobre os espaços produzidos expressos nos escritos
de Correia (1998), Gonçalves (2010), Sant’ Ana (1996) e Mainard (2006).
2.1 O desenvolvimento histórico dos espaços, territórios e lugares públicos de Delmiro
Gouveia/AL
Figura 1 - Localização do Município de Delmiro Gouveia/AL
Org.: SOUZA, Rogéria Vieira. Mar. 2014.
39
A cidade de Delmiro Gouveia, antigo “lugarejo” chamado de Pedra, situado no Alto
Sertão Alagoano à aproximadamente 300 km de distância de Maceió, localiza-se numa região
de divisas estaduais, a saber: Pernambuco, Bahia e Sergipe. No estado, faz limites com os
municípios de Pariconha, Água Branca, Olho D’água do Casado e Piranhas.
Figura 2 - Início da Vila de Pedra (chegando de Água Branca) por volta de 1915 - Sequência
com duas fotos
Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.
Contextualizar o desenvolvimento da cidade de Delmiro Gouveia requer,
anteriormente, compreender os diversos eventos, no sentido proposto por Santos (2009) que
possibilitaram o desenvolvimento histórico da antiga Vila da Pedra, dentre os quais: chegada
de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia a região, construção da Usina Angiquinho, instalação
de uma indústria de linhas, atual Fábrica da Pedra, desenvolvimento da cidade com o advento
da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, dentre outros.
Até então, não se sabe da existência de registros fotográficos da Vila da Pedra,
anteriores “a chegada de Delmiro, vindo de mudança definitiva do Recife para Alagoas em
1902”, conforme afirma Correia (1998, p 202), quanto à data de sua chegada. Entretanto, as
figuras 1 e 2, pertencente ao acervo de Cesar Tavares, datadas por volta de 1915, nos
apresentam traços importantes que nos ajudam compreender a realidade local vivenciada
pelos habitantes desse lugar, ainda no início do século XX.
40
Figura 3 - Vila de Pedra por volta de 1915 – (ao fundo, à esquerda, atual Av. Presidente
Castelo Branco)
Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.
Pelas formações de nuvens espaças, céu claro e, ao fundo, aparentemente uma
vegetação predominante arbustiva e solo exposto (figura 1), nos indicam a realidade difícil,
causada principalmente pela seca, chuvas sazonais e realidade hídrica com predominância de
rios intermitentes (rios que secam em determinados períodos do ano), apesar da presença do
Rio São Francisco (rio perene que possui correnteza durante o ano inteiro) típico do domínio
da Caatinga a que abordou AB’Saber (2003, p. 83-101).
A antiga Vila de Pedra, com apenas alguns poucos habitantes, ganhou novo cenário a
partir dos elementos instalados naquele pequeno vilarejo, a exemplo, uma indústria de linhas e
casas para seus operários, segundo os escritos de Correia (1998), Gonçalves (2010), Sant’
Ana (1996) e também nos espaços (figuras 1 e 2) com bela arquitetura e aparente organização.
Anterior a tal organização e construção desses novos elementos no espaço, a
literatura nos proporciona interpretar como era a realidade daqueles poucos habitantes de
Pedra:
... o sanitário era uma moita qualquer no mato; não existiam sapatos; o banho era
tomado somente em datas especiais e, mesmo assim, quando sobrava água; as moradias eram cobertas com folhas duras de sapé, tinham paredes de pau a pique e
chão de terra batida; as pessoas viviam descalças, comiam com as mãos, como
bichos do mato e, ainda pior, esses conceitos bárbaros eram transmitidos, uma
geração após a outra, sem qualquer perspectiva de melhora. GONÇALVES (2010,
p.263)
41
Tal cenário, possivelmente era visto por Delmiro nas suas viagens feita pelos
interiores, em busca de fornecedores das peles de animais. Dos diversos lugares, esse foi, por
ele escolhido para ser sua moradia e suporte no soerguimento econômico e social, após vim
“fugido” do Recife. Lugar que foi transformado com sua chegada.
Podemos pontuar a partir da figura seguinte, datada de 1920, conforme aponta Cesar
Tavares, em seu blog intitulado “Amigos de Delmiro” que, pelo ângulo da foto, supõe-se que
a mesma tenha sido tirada a partir de um voo de balão, uma vez que, não há relatos, nesse
período, de voo nessa região, possível de se fazer tal registro. Foi, pois nesse local de
vegetação predominantemente arbustiva e seca, de vida sofrida que ousadas transformações
ocorreram ao longo do tempo e como consequência das ações de Delmiro Gouveia. Talvez
não tenha escolhido o Sertão Alagoano não apenas pela distância e geografia de clima
castigante e pouco habitado, opção pra quem precisava se esconder.
Figura 4 - Vista superior da Fábrica da Pedra – Anos 20
Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.
42
Aquele pequeno vilarejo foi desenvolvido mesmo com as dificuldades da época; do
autoritarismo de coronéis locais, da luta contra seca, falta de investimento e infraestrutura em
moradia, saneamento básico, estradas, implantação de uma rede de ensino, saúde, emprego,
promoção da diversão e do lazer, ou seja, faltava quase tudo.
A oportunidade de se restabelecer era ideal diante da realidade encontrada em Pedra.
Conforme abordou Sant’Ana (1996), Delmiro voltou a negociar com peles de animais,
inclusive com um pequeno escritório instalado em Pedra, depois de ser acolhido pelas
famílias Torres e Luna, quando vindo fugido do Recife.
Ainda existe, embora esteja em estado de abandono o prédio (figura 4), onde
funcionava o escritório de Delmiro, armazém de courinhos, por ele aberto, logo após sua
chegada do Recife, em 1903, conforme nos escreve Sant’ana (1996, p.17). Os traços, linhas,
ângulos e formas da arquitetura do prédio, denunciam, em meio às construções
contemporâneas, o bom gosto das formas produzidas, de forma requintada, em meio à
realidade sofrida de uma antiga vila onde os casebres apresentavam uma arquitetura rústica.
Figura 5 - Prédio onde funcionou o primeiro escritório de peles
Fonte: Acervo do próprio autor, janeiro de 2014.
43
Mas foi em 1903, presumidamente em março, que Delmiro Gouveia viria a fixar-se
definitivamente na Pedra,... Abriu em seguida um armazém de courinhos e entrou de
rijo nesse ramo de negócio, que iria dentro de curto prazo refazer sua fortuna,
exaurida no Recife. E as estatísticas oficiais comprovam esta assertiva, haja vista
que em Alagoas, no exercício de 1903/4, a exportação de peles foi de apenas 3.278
unidade, mas com a entrada do arrojado cearense no mercado, disparou para
665.446, no de 1904/5, alcançando o expressivo número de 1.152.846 unidade em
1915/16. SANT’ANA (1996, p.17)
Delmiro certamente já havia planejado algumas transformações para aquele lugar,
possuía autoridades locais que pretendiam há muito tempo, ter sua parceria, conforme
expressa Gonçalves (2010, p.187) ao escrever que, Delmiro, “nos bons tempos, colecionou
nessa região amigos, contatos e fornecedores que lhe enviavam, com regularidade, courinhos
através de Penedo”.
Não poderia existir nada mais apropriado. Esse ermo lugar aguardava por um
empreendedor de visão, disposto a trabalhar e progredir. Sem alarde, para não
aumentar os preços e despertar interesses estranhos, não sossegou até comprar todas
as terras no contorno da estação ferroviária ao rio São Francisco. Ainda no início de
1903, adquiriu... uma casa de tijolos tipo meia-água, com alguns barracos e terrenos
adjacentes. Em seguida, valendo-se das promessas feitas, influenciou o genro do
coronel Luna, José Correia de Figueiredo, o conhecido Zé da Pedra, para comprar as
terras vizinhas da estação... GONÇALVES (2010, p.193).
A abordagem feita por Gonçalves (2010, p.193) nos faz pensar que o fato de comprar
as terras próximas à estação da Pedra, sem alarde, para continuar adquirindo aos poucos, e por
preços baixos, mostra que já possuía interesse na transformação do lugar e, assim o fez.
“Estação ferroviária, água encanada, casa de alvenaria, luz elétrica, indústria, operários,
cinema, futebol, automóvel” foi à definição do núcleo fabril instalado na Vila da Pedra “entre
o ano de 1914 e 1917”, Correia (2013, p. 1).
Os planos de transformação daquele lugar podem ser percebidos na organização das
ações de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia que visualizou o enorme potencial existente
naquele lugar, como bem descreveu Gonçalves (2010), passou a comprar as terras nos
arredores da estação, terras essas onde foi instalada Antiga Fabrica de linhas, atual Fábrica e
de tecidos, vista como principal motivadora pra crescimento e desenvolvimento econômico da
antiga Vila da Pedra, hoje cidade de Delmiro Gouveia.
Poderiam ser acrescidos diversos outros feitos: feira livre, 13º salário, construção de
escolas, educação para jovens e adultos, construção de estradas, equipamentos de lazer, dentre
44
outros, conforme nos aponta Alberto Gonçalves, ao longo de sua obra “Delmiro Gouveia, era
uma vez no sertão”, publicada em 2010. Todas suas conquistas só foram possíveis por causa
do seu retorno ao domínio do mercado de peles de animais.
Instalado na sua Pedra, novamente rico, voltou aos hábitos refinados do passado que,
apesar de estar nas proximidades do fim do mundo, proporcionava-lhe bem estar,
fartura e conforto. Com a experiência que acumulou, muito trabalho e honestidade,
mesmo convivendo com dificuldades indescritíveis, superou a grandiosidade
anterior. Voltou a ser o respeitado rei das peles. GONÇALVES (2010, p.220).
Os lucros, certamente vindos do comércio de peles, possibilitaram a execução de
outros planos transformadores da realidade local. Possuía a intenção de criar uma fazenda-
modelo onde pudesse produzir em grande escala. Seus planos não deram certo, pois a cada dia
se agravavam os problemas agrários em sua propriedade conforme apontou Gonçalves (2010).
Logo cuidou de mudar seus planos.
Foram ousados os planos para Pedra. “O interesse de lucro e o desejo de produzir
industrialmente, utilizando-se da matéria-prima daquele lugar”, Gonçalves (2010, p.237), fez
com que novos eventos moldassem a história e a dinâmica da região a partir dos elementos ali
inseridos. A Hidrelétrica de Angiquinho, por exemplo, como nos escreve Gonçalves (2010,
p.237), “não foi uma quimera precipitada, uma utopia que nasceu ao sabor da derrota. Desde
a década anterior já havia pensado na possibilidade, após vivências no exterior”, de que
poderia dar certo, tão grandioso investimento na cachoeira localizada entre os estado de
Alagoas e Bahia.
A construção da Usina Angiquinho, em 1913, Correia (2013, p. 3), proporcionou
uma nova organização do espaço vivenciado pela população de Pedra. A iluminação de forma
gratuita mudou os hábitos e costumes e diversificadas formas de lazer. A escuridão das noites
passou a ter a luz elétrica e a população local passou a ser auxiliada pela eletricidade.
Encontros familiares, festejos de aniversário, casamentos e outros, realizados com iluminação
durante a noite, não mais sobre luminárias da época, movida a gás e fogo, como nas chamadas
lamparinas e lampiões.
Após conquista da concessão de terras restituídas para construção da Usina
Angiquinho foi à vez do incentivo por parte do governo para instalação da Fabrica de linhas.
Conforme apontou Sant’Ana (1996, p.18), foi concedido “dispensa por dez anos, de impostos
45
estaduais, para a importação dos maquinismos para a instalação de uma fábrica destinada à
confecção de redes, linhas simples, em carretéis ou novelos”
A amizade com a elite política alagoana possibilitava, a Delmiro, maior agilidade nos
processos de solicitação dos investimentos e até mesmo decisão final a favor do comerciante
de peles do Sertão. Isso facilitava a construção dos espaços destinados ao uso coletivo,
primeiras construções de praças e espaços de lazer para a pequena, porém crescente,
população de Pedra.
Figura 6 - Rua 13 de maio
Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.
Segundo Gonçalves (2010, p.267), “para alojar a legião de operários e familiares
que se instalavam no complexo, foi preciso construir uma vila operária inteira..., com toda a
infraestrutura básica... indispensável para uma vida digna”. A instalação da Indústria de
Linha, atual Fábrica da Pedra (figura3, pelas características semelhante com as imagens 1 e 2,
supõe-se que também date dos anos 20), careceu pensar em condições dignas de moradia,
educação, trabalho, proteção, lazer e outros.
Com bases nas leituras de Sant’Ana (1996), Mainard (2006) e Correia (1998),
podemos compreender As transformações que ocorria naquele lugar. Famílias inteiras já
habitavam Pedra, de forma a seguir as regras de higiene, boa conduta e educação determinada.
46
Podemos pensar que a partir desse momento, novos espaços foram sendo criados, como no
caso, os primeiros armazéns e bodegas, as primeiras costureiras, enfim, os primeiros pequenos
comércios nas próprias casas.
No entanto pode-se ressaltar que:
Ao mesmo tempo em que as obras iam adiantadas, Delmiro reuniu, em torno de uma
sociedade anônima, que denominou Companhia Agro Fabril Mercantil, seus sócios,
amigos, tradicionais e novos, do complexo industrial, para facilitar a administração
de courinhos, algodão, indústria de linhas, exploração agrícola e produção de
energia elétrica. GONÇALVES (2010; p.253)
Estava, pois, lançada à tentativa, que deu certo, para implantação de um complexo
industrial no Alto Sertão Alagoano. As condições eram favoráveis, havia propriedades de
terras suficientes, conforme nos apontou Gonçalves (2010; p.193), - terras que foram
compradas desde sua chegada à região, com preços abaixo do valor de mercado -, já havia se
estabelecido financeiramente, embora algumas perdas nos primeiros investimentos, na
tentativa de criação da fazenda-modelo conforme escreveu Gonçalves (2010; p. 237).
Ainda Sobre os espaços criados em Pedra, nos afirma Sant’Ana (1996; p.28) que “em
1915, funda-se a feira da Pedra e se instalam os primeiros estabelecimentos comerciais da
localidade. Ainda nesse ano Delmiro Gouveia ordenou a construção de um cassino para
diversão do operariado local, de um rinque de patinação e bailes ao ar livre”. A feira-livre,
criada dentro da cerca, possibilitou melhorias diversas, as pessoas podiam ter acesso à
diversidade de alimentos, acessórios, roupas e diversos outros produtos. Conforme escreveu
Gonçalves (2010):
Como a feira era dentro-do-arame, possibilitava um controle absoluto. Não era autorizada a presença de pessoas consideradas indesejáveis: jogadores, pedintes,
prostitutas, trapaceiros... Também não se aceitava, em hipótese alguma, a venda de
itens considerados perniciosos, do tipo cachimbo, fumo e bebida alcoólica.
Seguranças armados eram chamados para destruir esses produtos ou retirar quem
ousasse desfiar o código de conduta. (p. 277)
As constantes transformações e melhoria de vida na vila operária (Indústria, moradia,
feira livre etc.), instalada em pleno Sertão, logo foram sendo divulgadas, não demorou muito
para autoridades, políticos e curiosos manifestarem interesse em conhecer a nova realidade de
Pedra.
A Fábrica da Pedra, assim como o núcleo fabril logo se tornaram objeto do interesse de várias pessoas “importantes”. Muitas expedições foram realizadas para a Vila da
47
Pedra, as pessoas queriam testemunhar o que era aquela experiência, cuja,
historiografia tradicional atribui ao fundador e sócio majoritário, o coronel,
comerciante e industrial Delmiro Gouveia. CORREIA (2013, p.1)
Somado tudo, Delmiro contou ainda com o interesse de amigos próximos que se
impressionavam com os feitos, afinal, esses envolvia tudo que a população daquela localidade
precisava - lazer, educação, saúde, trabalho, entre outros. Era no mínimo inovador, com
“máquina de gelo, telégrafo, cinema (o boletim escolar, com boas notas, era o ingresso para
as crianças), carrossel, jornada de trabalho de oito horas e folgas aos domingos”, Mainard
(2006, p. 25).
Também foi pensado para Pedra, o lazer do tempo de folga, aquele abordado por
Maya (2008, p.34) enquanto “tempo livre” que o indivíduo possui, para realização de
obrigações pessoais, descanso físico e mental, em horário em que não está trabalhando.
Certamente os operários após as horas de descanso com a família rendia ainda mais na
produção. Com isso, foram criados os espaços destinados ao uso da população, os espaços
públicos de lazer. “De frente à entrada monumental da indústria, demarcou uma grande
área, na realidade um descampado, batizado de Praça Joaquim Nabuco, onde passaram a
ocorrer os eventos comunitários” Gonçalves (2010, p.267).
Nesses espaços destinados ao uso público é que foram surgindo às territorialidades.
Para compreendermos território, remetemo-nos a Saquet et Briskieviez (2009, p.5), quando
escrevem sobre o campo da atuação político-administrativa, do poder e apropriação a partir da
intimidação. Assim ocorreram as primeiras territorialidades em Pedra. Era ministrado dessa
forma, o controle da pequena comunidade.
Os espaços de uso coletivo, acessados pela população de Pedra ocorriam dentro de
um espaço fechado, um território delimitado inclusive com arame farpado. Na figura seguinte,
o desenho da Professora Telma de Barros Correia (USP), mostra o núcleo fabril, em todas as
extremidades, demonstrando a delimitação feita pela cerca de arame (apontada pelas setas).
Conforme ainda nos escreve Saquet et Briskievicz (2009, p.8), sobre a produção da
identidade humana a partir dos gestos, necessidades e aprendizados, pudemos compreender
que os novos elementos criados modificam a rotina de um indivíduo ou grupo social. Assim
aconteceu com a instalação da atual Fábrica da Pedra, Usina Angiquinho, Vila operária, feira
48
livre, entre outros. Essas novas produções e transformações no espaço atraiu um novo público
para o lugar, novas territorialidades passaram a existir.
Figura 7 - Desenho da cerca de arame no entorno da Vila da Pedra
Fonte: reprodução do livro “Pedra: plano e cotidiano operário no sertão.” Correia (1998, p.204) – setas
acrescidas pelo próprio autor.
Pensar o território gerido como espaço de força e campo de lutas, interesses e relação
de poder (força ou influência) nos dar margem para pensarmos que toda territorialidade
possuirá entorno, e que essa, poderá sofrer alguma influência ou influenciar. Assim foram
pensados os espaços criados e delimitados na Vila da Pedra. As regras eram voltadas para
aqueles que habitavam dentro da área cercada pelo arame. Aquele que não respeitasse as
rígidas regras era punido, Correia (1998). A organização de Pedra se deu também nos espaços
criados para uso coletivo.
49
Conforme podemos identificar no desenho de Correia (1998), a vila da Pedra possuía
seus espaços muito bem divididos. Delmiro ao possuir duas casas, Gonçalves (2010; p. 268 a
270), conseguia ter uma visão geral de tudo. As casas foram construídas no entorno da
Fábrica, possibilitando assim, o surgimento do núcleo fabril. Os espaços destinados ao uso
coletivos e de atividades de lazer foram construídos em locais estratégicos, esses passaram a
ser o local onde se encontravam com mais frequência nos finais de semana.
As leis para usos dos espaços públicos não eram ditadas pelo estado, tal função era
desempenhada por Delmiro, rígido nas regras a que propunha e não facilitava todo tipo de uso
dos espaços e contato com as pessoas “fora da cerca” com receio de má influência com os
seus operários, familiares e visitantes “protegidos dentro da cerca”, conforme citação a seguir.
Dentro-do-arame, o complexo foi guarnecido com toda a infraestrutura
indispensável, capaz de proporcionar uma condição de vida inigualável. Além das
casas, foi disponibilizado padaria, duas mercearias, açougue, loja de fazendas e
armarinhos, farmácias, oito salas de aula, centro médico e odontológico, além de um completo e divertido sistema de lazer. GONÇALVES (2010, p.270)
Os espaços destinados ao lazer era fator primordial. Assim, foram criados no intuito
de suprir tal necessidade e provocar o sentimento de pertencimento e satisfação ao morar e
trabalhar naquele lugar.
Foram construídos: campo de “foot-ball”, carrossel e uma grande quadra cimentada
para patinação, lisa e escorregadia, Praça Joaquim Nabuco, onde todos se divertiam, com as bolas e patins fornecidos gratuitamente pela companhia. Somente podiam
frequentar as festas e as demais atividades de lazer, pessoas decentemente trajadas,
limpas com sapatos, os homens adultos precisavam de colarinho e gravata e as
mulheres de vestidos longos. Com as crianças o rigor era ainda maior, pois além de
roupas e sapatos convenientes,... A programação seguia animada e festiva até chegar
à noitinha, quando se iniciava o ponto alto, ansiosamente aguardado por todos: a
sessão semanal gratuita de cinema. GONÇALVES (2010, p.278).
Os momentos destinados ao lazer eram garantidos em Pedra, de forma organizada
para não atrapalhar o tempo da folga, ou seja, o tempo do não trabalho era dividido entre o
tempo da diversão, da utilização de espaços públicos, das relações sociais entre as famílias
dos operários e o tempo do descanso que deveria ser respeitado por todos que ao toque de
recolher, deveriam retornar as suas casas “impreterivelmente às 21 horas, a sirene tocava e
encerrava as atividades”, Gonçalves (2010, p. 279).
Na rotina dos moradores de Pedra, as horas de trabalho e de descanso eram
rigidamente preservados. Tal postura reflete uma recusa da estratégia comum à fase
50
inicial da industrialização, de elevação da produtividade por um alongamento da
jornada de trabalho, com consequências muitas vezes brutais sobre a saúde do
trabalhador. Se a idéia de valor inteiramente a existência do operário à atividade do
trabalho permanece, muda a estratégia utilizada para retirar de seu trabalho o maior
rendimento possível. Em Pedra, a jornada diária de trabalho de oito horas ia da
segunda-feira ao sábado. Os momentos de não-trabalho eram controlados pela
fábrica de modo a ser utilizados efetivamente na reposição das forças para o
trabalho, pelo repouso e por formas julgadas saudáveis de lazer. O tempo do lazer,
por sua vez, era limitado rigidamente, de modo a não comprometer o do repouso.
CORREIA (2010, pp. 242 e 243)
O desenvolvimento e a consolidação histórica dos espaços, territórios e lugares
públicos da Vila de Pedra foram cada vez mais dotando-se de novos acontecimento - eventos -
que promovem a produção constante de novos elementos no espaço, bem com a
transformação desses, fazendo que novas dinâmicas surjam no cotidiano.
A partir das obras da CHESF, uma nova dinâmica pairou sobre a região.
Trabalhadores de todas as regiões do país e também estrangeiros mudaram para Paulo Afonso
ou para suas redondezas. Segundo Antônio Galdino (2011), “em 15 de Janeiro de 1955 o
Presidente João Café Filho inaugurou oficialmente esta Usina que desde dezembro de 1954
já fornecia energia elétrica para o Recife”. A economia local teve, a partir da construção da
CHESF, uma nova dinâmica motivada pelos empregos gerados de então.
Alguns anos antes da inauguração oficial da CHESF, em 1953, a até Vila da Pedra
deixa de ser parte integrante de Água Branca e é emancipada cidade de Delmiro Gouveia,
nome do responsável pelo desenvolvimento que foi assassinado ainda cedo, em 1917,
Maynard (2008, p. 93).
Diante de uma nova realidade, não mais vila, agora município independente, os
constantes eventos proporcionaram, a cidade de Delmiro Gouveia, espaços que modificaram o
cotidiano da sociedade.
51
Figura 8 - Documento de criação do Município de Delmiro Gouveia
Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)>
Acesso em 21 de Julho de 2013.
Após, aproximadamente 50 anos de Vila da Pedra, também conhecida como Vila de
Delmiro, em 1952 o Governador do Estado de Alagoas, Arnon de Mello sanciona a lei
Nº1628 que cria o município de Delmiro Gouveia. Os anos que seguiram a emancipação
municipal da cidade foram repletos de modificações que podem ser analisadas nos registros
fotográficos e relatos de pessoas que vivenciaram ou tiveram contato com aqueles que
viveram em épocas passadas.
52
Dessa forma, faremos, a partir dessas análises de registros fotográficos, um recorte
no tempo e espaço na tentativa de compreensão dos espaços destinados ao uso coletivo da
população delmirense, bem como fazer uma leitura dos usos desses espaços de lazer em
épocas distintas.
Figura 9 - Praça Delmiro Gouveia - Atual Praça Dr. Ulisses Luna - meados dos anos 60
Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 8 de Setembro de
2013.
O registro fotográfico da antiga Praça Delmiro, hoje, Praça Dr. Ulisses Luna, mostra
a forma pacata com que as crianças utilizavam desses espaços de uso coletivo. A leitura que a
imagem nos transmite é de um “espaço acessível a todos, não como simples acesso físico a
espaços abertos de uso coletivo” conforme trata definição de acessibilidade dos espaços em
Serpa (2004, p.22), mas como espaço aberto e que os frequentadores sintam-se pertencentes
ao usar tal espaço, como nesse caso, nos aparenta ser o uso da Praça Delmiro Gouveia nos
anos 60.
A arborização ainda em crescimento, a grama do canteiro ainda não preenchida, a
calçada sem rachaduras, a pedra do busto/mastro em perfeito estado de conservação, embora
53
exposto as fortes temperaturas vivenciadas pela região, nos faz pensar que a Praça Delmiro
Gouveia, quando feito esse registro, tinha pouco tempo de sua construção. As casas ao fundo
mostram o crescimento urbano em torno da fábrica, uma vez que essa praça já localiza-se fora
da antiga cerca que separava fábrica e vila operária do seu entorno. A existência da própria
praça em meados dos anos 60 nos aponta o crescimento da cidade e a necessidade de espaços
coletivos.
As praças eram compostas de espaços verdes, possuía uma intensa arborização com
espécies nativas que serviam além de beleza paisagística como também ajudava na
amenização do clima sempre quente na região. Certamente facilitavam as brincadeiras da
garotada nos horários oposto aos estudos.
Figura 10 - Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna – 1969
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes.
O registro fotográfico das crianças sentadas no banco diz muito sobre o uso acessível
dos espaços aberto ao público. A sobra das arvores ao fundo, sugere que algumas pessoas no
seu tempo livre, de descanso ou mesmo do lazer cotidiano utilizaram esses espaços. A praça
apresenta mais elementos naturais, ou seja, é predominante a arborização (o espaço verde) em
54
relação aos elementos culturais, aqueles que, em sua maioria, são feitos de concreto (bancos,
poste, calçadas).
Ainda nos anos 60, as ruas delmirenses se transformavam em espaços de distração e
lazer coletivo em datas comemorativas. Crianças, jovens e adultos saiam as ruas em datas
como 7 de setembro.
Figura 11 - Desfile cívico do dia 7 de Setembro de 1965. Antiga Rua Progresso
Foto: Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em
21 de Julho de 2013.
As datas comemorativas são sempre propícias às comemorações e uso coletivo dos
espaços públicos, assim, já aconteciam na cidade de Delmiro nos anos 60, no tradicional
desfile cívico do dia 7 de Setembro. As famílias se reuniam nas ruas e calçadas para prestigiar
seus filhos, amigos ou simples conhecidos, nos desfiles organizados pelas escolas públicas. O
momento era aproveitado por todos os presentes. A rotina do dia a dia é interrompida para
convivência do coletivo, os moradores se transformavam em espectadores, acomodavam-se
em cadeiras nas portas de suas casas, encontrava-se com amigos, parentes e outros, saiam
pelas ruas, conversavam e se distraiam num dia voltado a comemoração e o lazer, segundo
55
nos abordou Eduardo Menezes. Essa prática é percebida até nos dias atuais onde há
concentração das pessoas nas ruas e calçadas para prestigiar o desfile cívico das escolas, bem
como pelo lazer que tal evento proporciona.
Figura 12 – A Fonte, Atrativo da Praça Delmiro Gouveia - atual Praça Dr. Ulisses Luna –
1971
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, o garoto Ricardo.
Tendo como base a abordagem Dollfus (1982, p.8) de que espaço geográfico é um
espaço mutável e diferenciado cuja aparência visível é a paisagem, temos, percebemos as
constantes transformações ocorridas no meio. As imagens a seguir, mostram como o espaço
geográfico, nesse caso, o espaço de lazer da praça, é modificado ao longo do tempo.
Percebemos tanto as mudanças de ordem natural, aquelas causadas por fatores climáticos e
56
biológicos que agem nos elementos da própria natureza e as transformações do próprio
homem, modificações que atendem fatores culturais, econômicas e políticos. Primeira e
segunda natureza, conforme abordou Rodrigues (2008, p. 37) e Godoy (2004, p.2).
Figura 13 - Praça Delmiro Gouveia - atual Praça Ulisses Luna – 1973
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, Eduardo, Macarrão e Ricardo.
O registro fotográfico de 1973 nos mostra alguns garotos na fonte que ficava bem no
centro da Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna. Se observarmos ao fundo da
imagem veremos o terreno de fronte da Fábrica da Pedra, delimitado com estacas e arame
farpado, diferentemente de quando observamos a figura 11, que data de 1971, em que, o
espaço é aberto literalmente. A figura 12 nos mostra ainda, uma praça aparentemente dotada
de aspectos verde, com arborização de espécies nativa e de tamanho médio em sua maioria.
Podemos perceber ainda, o desenho da Praça a partir das linhas de concreto delineadas por
toda a praça e a fonte.
A figura seguinte, onde alguns jovens se encontram sentados na calçada do próprio
bar, é possível verificar com maior nitidez o muro da fábrica, separado apenas pela estrada –
via de acesso (entrada e saída) para o Agreste e Litoral Alagoano.
57
Figura 14 - Bar “Abrigo do Ciço Gobeu” e o lazer da garotada – 1974
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, _, _, Eduardo, Edmo, Nivaldo, _.
O Bar “Abrigo do Ciço Gobeu” era o ponto de encontro da garotada jovem da época.
Ficou conhecido com esse nome por causa do uso a que acabou destinando-se esse lugar.
Segundo relatos de Eduardo Menezes (garoto sentado entre os outros dois com copo na mão,
o mais próximo da parede do abrigo e vestindo a calça de cor mais clara), costumava ser
abrigo daqueles que estavam na rua e buscavam o bar como abrigo para se proteger do sol e
da chuva, além daqueles que se deslocavam de outras cidades circunvizinhas, geralmente
esperavam os transportes “abrigados” naquele local.
Conforme mostram os registros fotográficos, e relata-nos Eduardo Menezes, a busca
pelo lazer se dava em sua grande maioria, na antiga Praça Delmiro Gouveia, onde fica
localizado o Bar Abrigo do “Ciço Gobeu”. O local era muito frequentado, juntamente a Praça
do cruzeiro, atual Praça Delmiro Gouveia. Não existiam outras praças e espaços de lazer,
apenas descampados, não tão atraentes como essa que foi a primeira praça.
Nessa época não existia, principalmente nas pequenas cidades do interior, proibição e
fiscalização das vendas de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes. Dessa forma,
muitos garotos consumiam escondido de seus pais. Assim, os bares da época acabaram sendo
também, lugares de distração, das interações sociais.
58
Alguns espaços descampados podem ser percebidos na figura seguinte. Ela nos
mostra os espaços abertos que ainda possuíam poucos elementos atrativos a prática do lazer.
Figura 15 - Vista aérea do Centro de Delmiro Gouveia/AL - 1976
Fonte: acervo Fábrica da Pedra. Setas numeradas feitas pelo próprio autor.
O registro aéreo do Centro de Delmiro no ano de 1976 nos possibilita identificação
alguns espaços públicos de lazer em constante transformação. Nos anos seguintes sofreram
ações que modificaram a estrutura e a dinâmica do uso dos espaços destinados ao lazer.
Podemos destacar alguns pontos marcados com as setas numeradas.
Seta 01 – A atual Praça Nossa Senhora do Rosário, na época era apenas um enorme
espaço descampado, no entorno da Igreja que leva o mesmo nome da praça.
Seta 02 – O motivo pelo qual os registros fotográficos, até meados de 1980, ocorrerem
geralmente nas Praças Dr. Ulisses Luna, antiga Praça Delmiro Gouveia e, Praça do
Cruzeiro, atual Praça Delmiro Gouveia, é o fato de que, onde hoje é considerado ponto
de encontros, na busca do lazer da população delmirense no Centro da cidade, a Praça
Vicente de Menezes, até então era um espaço aberto (como mostra a seta 02) onde
acontecia a feira de animais. Essa feira foi inaugurada por Delmiro Augusto da Cruz
59
Gouveia em 1915, conforme abordou Sant’Ana (1996; p.28). O Mercado Público era o
prédio de esquina ao lado, atualmente funcionam os prédios da “Honda” e “Galeria e
Hotel Bezerra”. Nos anos 80 quando um novo prédio do Mercado Público de Carnes
foi instalado no Bairro Eldorado, a feira livre também foi transferida pra lá, instalada
na frente desse mercado público de carnes.
Seta 03 – O espaço apontado por essa seta compreende atualmente parte inicial da Av.
Presidente Castelo Branco, mais conhecida como calçadão. Na época do registro,
possuía poucos comércios e não existiam ainda nem asfalto nem calçadas. Havia
apenas um grande canteiro de algarobas, espécie típica da região.
Seta 04 – É atualmente a Praça Inocêncio Exalto, mas conhecida como Praça da
Tamarineira.
Seta 05 – A antiga Praça Delmiro Gouveia atualmente possui o nome de Praça Dr.
Ulisses Luna. Era a Praça mais frequentada antes da construção da Praça Vicente de
Menezes, calçadão com quiosques e Praça Nossa Senhora do Rosário.
Seta 06 - Antiga Praça do Cruzeiro, hoje chamada de Praça Delmiro Gouveia.
Figura 16 - Delmiro Gouveia: Operários da Fábrica saindo em horário de almoço – 1978
Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de
Julho de 2013.
60
O registro da saída dos trabalhadores da Fábrica da Pedra, registrada em 1978, nos
mostra como era o centro da cidade quando possuía uma praça de fronte a loja da Fábrica. No
horário do almoço, esse espaço provavelmente não era usado por esses funcionários que
estavam com pressa para cumprir o horário de almoço e retornar para segunda jornada de
trabalho do dia.
Nos dias de folga possivelmente essa praça era mais bem aproveitada, pois havia
tempo para descanso, diversão e lazer. Esse último compreendido enquanto necessidade de
desprendimento do cotidiano para cuidados com a saúde do físico e intelecto humano,
conforme abordagem de Orth et Cunha (2000, p.2), “uma necessidade na vida urbana para
reabilitação da saúde física, mental e moral humana”, parte fundamental para vida
sobrecarregada do indivíduo que convive na rotina do dia a dia urbano – casa, trabalho,
estudos, entre outros.
Figura 17 - Centro, atual calçadão e lojinha da Fábrica. Delmiro Gouveia/AL – 1978
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, Milton Orelha, _.
61
Figura 18 - Centro de Delmiro Gouveia/AL - 1978
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, Samuel, Geraldo.
As duas imagens anteriores, ambas no Centro de Delmiro Gouveia/AL, datadas de
1978, mostram um espaço totalmente diferente da realidade na atualidade, afinal, assim é
entendido o espaço, “a soma de tudo [objetos geográficos naturais e culturais], mais a
sociedade, [onde] cada fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual” Santos
(1977, p.1). Nessas imagens, percebemos a antiga Praça do Centro. Poucos eram os elementos
de sua composição: bancos, calçadas no entorno, poste, arborização e uma área maior
descampada. Sua extensão se dava desde o atual semáforo, existente na divisa entre o prédio
da Câmara de Vereadores de Delmiro Gouveia e a atual Praça Vicente de Menezes. Sua
extensão, ainda hoje, vai até pouco depois da guarita da Fábrica da Pedra.
As reformas, ao longo dos anos, transformaram essa antiga Praça em um
estacionamento e canteiro central. Separam as duas principais vias de acesso e levam a
entrada e saída da cidade. As calçadas (das lojas) foram ampliadas dos dois lados, fazendo
com que a rua com predominância de comércios e serviços, localizada no centro da cidade,
ficasse conhecida como “calçadão”.
A antiga praça foi, pois, transformada em estacionamento e calçadas largas. Em
épocas dísticas possuíram configurações diferentes, permaneceu a sua finalidade, espaço
62
aberto de uso coletivo destinado ao uso coletivo da sociedade, ou seja, um espaço público
que, segundo abordou Matos (2010, p. 20) “é de todos e de ninguém em particular, [que], em
princípio, todos o podem usar com os mesmos direitos”.
Para situarmos a imagem a realidade atual, basta atentarmos para algumas
informações repassadas por Eduardo Menezes, autor desses registros fotográficos. No canto
esquerdo (figura 20), onde dois homens seguem andando com suas bicicletas, encontra-se
atualmente a entrada (guarita) da Fábrica da Pedra. Do lado oposto, a casa no final da rua,
atualmente, encontra-se a loja Mineirão Calçados. Tais registros foram feitos do canteiro de
fronte a atual escola Delmiro Gouveia, no Centro da cidade.
Nas imagens, é possível identificar o uso deste espaço para a conversa entre os
moradores, o encontro de amigos, o passeio de bicicletas, dentre outros. Percebe-se ainda que,
os bancos estão todos ocupados por duas ou mais pessoas o que sinaliza um busca coletiva
pelo local que possibilita a sociabilidade. As calçadas também são utilizadas pelas pessoas.
Todas as formas de uso desse espaço, identificamos a busca do lazer, nas suas mais diversas
formas e compreensão a que cada indivíduo possua.
Figura 19 - Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna – Final dos anos 70
Fonte: acervo Eduardo Menezes. Na foto, o próprio.
63
O registro fotográfico do final dos anos 70 nos mostram as transformações que
aconteceram no espaço geográfico da cidade de Delmiro Gouveia e, consequentemente, no
entorno da Praça. A arborização já se encontra num tamanho avançado, impossibilitando
inclusive a visualização parcial dos canteiros de concretos desenhados ao longo da praça.
As transformações no espaço delmirense segue ano após ano. Tal registro nos mostra
também, o muro construído para separar o pátio da Fábrica da Pedra e os demais espaços da
cidade. O muro feito de concreto delimitava todo o pátio da fábrica passando, na época, ao
lado da Praça Delmiro Gouveia, conforme pode ser verificado na figura 19.
O antigo pátio da Igreja Matriz era espaço aberto, sem os elementos percebidos na
maioria das praças (bancos, calçadas, canteiro com gramas, etc.). Ainda assim, era um espaço
de uso destinado ao lazer pela garotada da época. As crianças e adolescentes aparentemente
utilizam tal espaço para as brincadeiras da época, andar de bicicleta certamente era uma festa
entre a garotada e esses espaços aberto era fundamental. Conforme expressa Mota (2001),
desde muito tempo atrás as atividades lúdicas são usadas como fundamental no cotidiano da
sociedade. As obrigações do dia a dia só são bem executadas se houver o tempo do lazer, do
descanso físico e mental das práticas de lazer e do convívio sócio-espacial.
Figura 20 - Pátio da Igreja Matriz – Final dos anos 70
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Não identificado às pessoas na foto
64
Figura 21 - Pátio da Igreja Matriz – Fevereiro de 2014
Fonte: acervo do próprio autor.
As setas (figuras 20 e 21) servem para nos orientarmos quanto à localização e
transformações ocorridas no espaço de fronte a Igreja Matriz. Ambos os prédios apontados
com as setas possuem a mesma localização em épocas distintas. Nos anos 70 o prédio
apontado era uma residência. Em 2014, o antigo prédio da residência foi transformado em
uma pousada. O antigo pátio da Igreja Matriz é atualmente uma praça, equipada com bancos,
calçadas, canteiro, postes entre outros.
Ainda nos anos 70, as festas em datas comemorativas eram acompanhadas pela
população delmirense. Os carros enfeitados e com bandeira chamavam atenção dos civis
espectadores. As pessoas se aglomeravam nas calçadas para prestigiar o desfile. As enormes
árvores seguiam até o final da rua, num canteiro que existia e a dividia em duas mãos. Alias,
era frequente a existência desses canteiros nas ruas da cidade. Todos esses canteiros serviam
como ponto de encontro ou de descanso na sobra das árvores.
Não foram muitas as modificações em torno dos espaços de uso coletivo destinado
ao lazer em comparação aos relados e registro fotográficos referente à década anterior, que se
tenha acesso. Os registros fotográficos da época nos apontam para existência de espaços
verdes com predominância de espécies típicas da região. É, portanto, possível identificar a
presença das duas naturezas, abordada por Rodrigues (2008, p. 37) e Smith (1988) apud
65
Godoy (2004, p.2), como sendo a primeira dotada dos elementos criados pela própria natureza
e a segunda criada pelo homem.
Figura 22 - Desfile cívico passando pelo inicio da Rua ABC, atua Rua da Independência -
Anos 70
Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.
Figura 23 - Início da antiga Rua ABC, atual Rua da Independência - anos 80
Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de
Julho de 2013.
66
A Rua ABC, atual Rua da Independência (figura 22), apresentava nos anos 70, um
canteiro que dividia a rua, era intensa a arborização e suas sombras, bastante utilizadas para as
conversas entre vizinhos que ficavam sentados por algumas horas em tamboretes (banquinhos
de madeira muito utilizados na época), geralmente nos finais das tardes.
No registro fotográfico (figura 23) dos anos 80, percebemos a mudança dos prédios
residenciais sendo transformas em comércios e o canteiro não oferece mais a sobra que
abrigada os moradores nos finais das tardes. Registra ainda, o exato momento em que as
arvores estavam sendo cortadas, as suas galhas podem ser percebidas ainda no chão. Em
pouco tempo todo canteiro, espaços utilizado para o lazer, fora extinto.
Ao analisarmos o espaço urbano de Delmiro Gouveia nos anos 80, tendo como base
os “usos da terra justapostos entre si... o centro da cidade, local de concentração de
atividades comerciais, de serviço e de gestão; áreas industriais e áreas residenciais,... áreas
de lazer; e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão” Corrêa (1995, p.1),
poderemos identificar alguns destes elementos no registro fotográfico de 1983. Nele podemos
verificar o cotidiano urbano, aquele proposto para aqueles que vivem no perímetro urbano e
que possuem acesso ao modo de vida que a cidade possibilita.
Na imagem (centro da cidade) alguns automóveis trafegam pelas ruas e outros se
encontram estacionados, nos fazendo compreender que na década de 80 a dinâmica do
município havia mudado. A rede de transporte ligando os povoados à sede do município e, a
sede as cidades circunvizinhas, nos denuncia aspectos principalmente econômicos da época.
A calçada da Praça Dr. Ulisses Luna (figura25) mostra uma nova configuração
resultante de reformas que, inclusive afastou o antigo “Abrigo do Ciço Gobeu” bem como
retirou o antigo muro da fábrica que foi recuado para instalação de uma segunda via de acesso
(somente chegada para aqueles vindos do Sertão, Agreste e Litoral Alagoano). O limite da
Fábrica da Pedra, ao invés de muro, passou a ser uma cerca instalada junto a uma calçada que
facilita a mobilidade entre o Bairro Pedra Velha e Centro de Delmiro. Canteiros e semáforos
também foram instalados.
67
Figura 24 - O Centro de Delmiro Gouveia/AL. Visão a partir da Praça Dr. Ulisses Luna,
Antiga Praça Delmiro Gouveia – 1983
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes.
Figura 25 - O Centro de Delmiro Gouveia/AL. Visão a partir da Praça Dr. Ulisses Luna,
Antiga Praça Delmiro Gouveia – 2014
Fonte: acervo do próprio autor.
68
As imagens anteriores mostram parte da calçada da Praça Dr. Ulisses Luna, antiga
Praça Delmiro Gouveia e, ao fundo, o centro comercial de Delmiro Gouveia. Nas imagens,
podemos perceber diversas transformações inclusive implantação de novos elementos e as
transformações de outros já existentes que influenciam diretamente o uso desses espaços pela
população, na busca pelo lazer.
As residências da antiga Rua do Progresso, atual calçadão da Av. Presidente Castelo
Branco foram transformadas em prédios comerciais. A busca por produtos e serviços aumenta
e a lógica dos espaços do entorno tende a ser modificada cada vez mais. Foi o que aconteceu
com a implantação do alargamento das calçadas, na década de 90.
Esse alargamento das calçadas de fronte as lojas e a criação dos quiosques nas
calçadas, do lado da Fábrica da Pedra, proporcionou um espaço que é usado durante o dia
para o tráfego de pessoas (clientes, funcionários e pedestres). A noite o mesmo espaço criado
na intenção de organização do espaço comercial do centro, possibilitou uma nova dinâmica na
busca pelo lazer. A população delmirense passou a utilizar-se desse espaço como “point” de
encontro entre familiares, amigos, casais e estudantes que se dirigiam ao calçadão ao saírem
das escolas.
Figura 26 - Vista lateral (fundo) da Igreja Nossa Senhora do Rosário e da praça que leva o
mesmo nome - anos 90
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes
69
Figura 27 - Vista lateral (frente) da Igreja Nossa Senhora do Rosário e da praça que leva o
mesmo nome - anos 90
Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes
Nos anos 90, organização da cidade de Delmiro Gouveia (comércio, serviços,
moradia, política, etc.), já havia mudado completamente em relação às décadas anteriores.
Assim também se dera o uso dos espaços para o lazer. A antiga Praça do Cruzeiro, atual Praça
Delmiro Gouveia e antiga Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna foram
modificadas. Novas finalidades passaram a fazer parte de sua configuração. A atual Praça
Delmiro Gouveia foi reformada, assim como também a Praça Dr. Ulisses Luna. Nessas
reformas, diversos elementos do passado foram retirados (fonte e, busto de Delmiro Gouveia
e paisagismo da antiga Praça Delmiro Gouveia e paisagismo e antiga cabana que foi morada
do fundador da cidade, na antiga Praça do Cruzeiro), assim como, novos elementos foram
instalados nesses espaços com a finalidade de atender fins políticos administrativos e atender
ao novo público existente (pontos de ônibus, modernização das estruturas físicas – elementos
de concretos: bancos, divisórias, placas e muretas)
As duas figuras anteriores mostram o espaço no entorno da Igreja Nossa Senhora do
Rosário em ângulos opostos. Na época, era apenas um espaço aberto (descampado). Não
possuía calçamento nem bancos ou algo do tipo. Apesar da Igreja no centro, o espaço em
aberto servia de estacionamento para a frota de transportes (vans e caminhonetes)
70
intermunicipais para Paulo Afonso/BA, Água Branca/AL, Santana do Ipanema/AL,
Arapiraca/AL, Maceió/AL, entre outras cidades. Em épocas de festas, servia (e ainda serve)
de local para instalação dos parques de diversão e barracas de jogos e de alimentação.
Figura 28 - Vista parcial aérea de parte do Centro de Delmiro Gouveia/AL – 1997
Fonte: acervo Fábrica da Pedra. Setas numeradas feitas pelo próprio autor
No final dos anos 90 a configuração dos espaços destinados à prática do lazer
apresentavam diversas singularidades. O registro fotográfico aéreo nos permite identificarmos
algumas delas.
Seta 01 – O descampado no entorno da Igreja Nossa Senhora do Rosário ainda
permanece no final dos anos 90.
Seta 02 – Antiga Praça do Cruzeiro, atual Praça Delmiro Gouveia.
Seta 03 – Antiga Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna.
Seta 04 – Antigo espaço que fazia parte da Praça Vicente de Menezes, atualmente
posto de gasolina desativado.
A análise do desenvolvimento e a consolidação histórica dos espaços, territórios e
lugares públicos de Delmiro Gouveia ao longo século XX nos ajudam a entender uma das
características presente na definição de espaço geográfico, apontada por Dollfus (1982, p.11),
71
que é a possibilidade de característica mutável que se descreve, onde, todo espaço social de
uso público é possível de se analisar, levando-se em consideração os acontecimentos
anteriores, ou seja, os espaços são configurados a partir dos fatos e processos históricos que
possibilitam criação de elementos no espaço natural e modificação dos já existentes. Dessa
forma, podemos compreender os territórios-públicos e lugares destinados ao lazer vivenciados
pela sociedade delmirense.
2.2 O lazer e a vivência espacial como atributos para a compreensão atual dos territórios
e lugares públicos em Delmiro Gouveia-AL
Pensar o tempo livre como promoção do descanso e, consequentemente, maior
produtividade por parte do trabalhador descansado, Mendo et Sânchez (2005, p .8),
“necessidade na vida urbana para reabilitação da saúde física, mental e moral humana”
Orth et Cunha (2000, p.2), dispor do ócio “não compreendido somente pelo conteúdo da
ação” mas levado em consideração o “descanso, folga, férias, repouso, desocupação,
distração, passatempo, hobby, diversão, entretenimento” Gomes (2007, p.1), são algumas das
considerações que nos proporcionam conceituar a prática do lazer, principal motivador da
vivência nos espaços, formação de territorialidade e criação de vínculos com os lugares
públicos em Delmiro Gouveia/AL.
Sejam as festas em datas comemorativas de escala nacional ou local, a exemplo do
carnaval, emancipação política, festejos juninos, natal, virada de ano, entre outros, geralmente
proporcionam os festejos de rua, a fim de atender o uso coletivo, diversão e lazer da sociedade
delmirense e circunvizinha.
Os festejos de rua sempre foram bem aceitos pela população delmirense.
Manifestações culturais, datas comemorativas, desfiles cívicos, blocos carnavalescos, entre
outros, são formas de uso do espaço para o lazer, ou seja, alem do descanso do dia a dia, da
folga do trabalho, da diversão em família, o lazer também pode ser assemelhado nas festas
anuais onde determinados espaços do cotidiano (ruas, praças, avenidas), se transformam em
grandes pátios para festas, desfiles, arrastões e outros. Assim acontece com os espaços da
Praça Nossa Senhora do Rosário, Av. Presidente Castelo Branco e início da Av. Antônio José
72
da Costa, entre outros espaços usados para uso coletivo da sociedade em festejos e
comemorações menores.
A figura a seguir, mostra a Praça Nossa Senhora do Rosário sendo utilizada pela
sociedade para os festejos juninos no ano de 2013. A praça por ser um espaço aberto possui
capacidade para comportar um grande número de pessoas. Normalmente a praça é utilizada
por alguns grupos sociais: Skatista, adeptos de atividades físicas, casais, grupo de amigos e
outros.
Figura 29 - Festa junina na Praça Nossa Senhora do Rosário - Delmiro Gouveia/AL. Junho de
2013
Disponível em: <(http://www.tribunadoagreste.com.br/)> Acesso em 12 de Fevereiro de 2014.
As festas desse tipo proporcionam novas características, pois novos elementos são
instalados propositalmente para esses eventos, a exemplo dos parques de diversão, barracas de
jogos, praça de alimentação e outros vendedores ambulantes, aumento ainda mais a
probabilidade de diversão e lazer.
Também o espaço entre o Bairro Novo e Eldorado - Início da Av. Antônio José da
Costa (figuras 29 e 30) é utilizado para concentração de foliões em festas carnavalescas. O
73
espaço que no dia a dia funciona como parte da avenida e estacionamento, em períodos de
esta, ganha novo uso com a instalação do palco, camarotes, barracas de bebidas e de
alimentação.
Conforme abordou Matos (2010, p.18), “na maioria das cidades os espaços privados
ocupam uma parte significativa do seu território, contudo, aquilo que melhor as caracteriza
são os seus espaços públicos”. Assim, podemos concluir que uma cidade necessariamente
possuirá praças, ruas e avenidas, prédios públicos como quadras e clubes ou qualquer outro
espaço aberto para as grandes manifestações (culturais, sociais, políticas, etc.) destinadas a
realizações dessas festividades. Caso não possua ou haja algum imprevisto de uso, novos
espaços deveram ser criados ou adaptados - como no caso da Av. Antônio José da Costa
(figuras 29 e 30) - para a promoção da diversão e lazer a que proporcionam essas festas de
rua.
Figura 30 - Início da Av. Antônio José da Costa. Carnaval de 2013
Disponível em: <(http://www.chicosabetudo.com.br/)> Acesso em 12 de Fevereiro de 2014.
74
Figura 31 - Início da Av. Antônio José da Costa. Abril de 2012
Fonte: Acervo do próprio autor.
Pensar os espaços de vivências significa adentrar nas questões que permeiam a
dinâmica dos espaços de uso público, esses, conforme nos coloca Serpa (2004; p.22), tendem
a proporcionar acessibilidade generalizada e irrestrita, ou seja, ser a todos, um local de acesso,
das vivências coletivas, da produção de significados, um espaço de passagem - do ir e vir.
Atualmente podemos conferir no Centro de Delmiro Gouveia diversas peculiaridades relativas
a diversos usos.
A Praça Vicente de Menezes, local frequentado pela população delmirense para a
prática do lazer, dentre outras finalidades pelos elementos nela presentes (estacionamento,
praça de alimentação, coreto propício a manifestações, dentre outros), nos faz compreender o
“público” não somente como parte da estrutura materializada das coisas (casas, carro, praças,
calçamento, ruas, etc.), trata-se de um espaço de identificação e de criação de vínculos sócio-
espaciais.
75
Figura 32 - Praça Vicente de Menezes, sentido coreto, Centro de Delmiro Gouveia/AL - Julho
de 2013
Fonte: acervo do próprio autor.
O registro fotográfico da Praça Vicente de Menezes nos possibilita perceber alguns
aspectos dos espaços de uso público. Nessa praça uma das peculiaridades encontrada é a via
de acesso – BR 423 e AL 220 - que liga o Sertão ao Agreste alagoano, e, pela localização de
fronteiras estaduais, ao Norte, com estado de Pernambuco, e, ao Sul, com o estado da Bahia,
se encontra na condição de “porta de entrada e saída” de fluxo de produtos e pessoas.
Tal via de acesso localizada ao lado da praça proporciona uma maior dinâmica do
tráfego intermunicipal (carros, vans, ônibus, caminhões de mercadorias, dentre outros.). O
ponto de ônibus instalado nessa praça, além de “ponto de mototaxistas”, funciona como
parada final para aqueles vindo de Água Branca/AL, Pariconha/AL e Paulo Afonso/BA.
Para aqueles que, por exemplo, buscam o lazer nas atividades físicas – caminhada,
ginástica, corrida, e etc. – certamente não encontrará, no espaço da Praça Vicente de Menezes,
o local ideal para tal prática. Embora seja um espaço público, a presença e/ou ausência de
alguns objetos fará com que alguns indivíduos, mesmo tendo acesso, prefiram não usar esse
espaço.
76
Figura 33 - Praça Vicente de Menezes, sentido contrário ao coreto, Centro de Delmiro
Gouveia/AL - Julho de 2013
Fonte: acervo do próprio autor.
É possível identificar na Praça Vicente de Menezes diversos elementos que nos faz
pensá-la como um espaço de territórios-públicos (mototaxistas, taxistas, motoristas
alternativos intermunicipais, comerciantes autônomos fixados nesse local – sorveteria,
lanchonetes, banca de revista e comerciantes ambulantes não fixados – barraca de
churrasquinho, batata frita, carrinhos de CDs e DVDs, entre outros.). O mesmo espaço que
são territorializados por esses agentes passam a ser usados por outros agentes em turnos
diferentes.
Essas territorialidades possibilitam-nos enxergar o território como mutável, passível
de transformação, em outras palavras, a parte do espaço pela qual a mesma área se
reconfigura em um curto espaço de tempo num processo chamado por Haesbaert (2007 p.15)
de multiterritorialidade em que, o processo de territorialização remete, a princípio, a
intensificação da ação, do mudar, do (re) territorializar.
77
Figura 34 - Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL e seus diversos usos
durante a tarde. Junho de 2013
Fonte: acervo do próprio autor.
São muitos os usos da Praça Vicente de Menezes e de seus arredores. Um dos
elementos presente na configuração dessa praça é o prédio que funciona uma loja de roupas
com preço acessível, ou seja, conforme constante movimentação de pessoas atraída pelo
comercio que fica no entorno da praça, o prédio que antes funcionava a casa da cultura foi
transformada em loja popular.
Observado a praça Vicente de Menezes é possível identificar diversos usos. As
pessoas que esperam transporte no banquinho ao lado da loja popular. Certamente as pessoas
que utilizam esse banquinho para passar o tempo, descanso e na espera por transportes,
acabam passando na loja e consumindo seus produtos.
Algumas das lanchonetes só abrem à noite. Assim, algumas barracas ambulantes são
montadas para comercialização de bolos, salgados e café durante os períodos da tarde e da
manhã. A passagem de pedestre é frequente, o lugar fica repleto de grupos de amigos, alguns
se reúnem para jogar dominó, outros ficam em volta da comercialização e troca de bicicletas
que acontece de fronte a loja de roupas populares.
No canto inferior direito de quem observa a figura 34, o vendedor de milho
cozinhado e assado, ocupa “seu território-público” praticamente todos os dias (mesa com
78
panelas, barraca para proteção do sol, material para preparo e cozimento do milho - água e sal,
fogão e carvão) tudo organizado na própria calçada que deixa de ter somente a função de
deslocamento (ida e vinda) de pessoas.
Alguns dos agentes territorializadores dessa praça durante o dia não atuam durante a
noite, uma vez que, além dos frequentadores serem outros (estudantes, casais e outros),
também há a territorialização de novos agentes, já frequente nesse espaço.
Figura 35 - Praça Vicente de Menezes, período da noite. Centro, Delmiro Gouveia/AL
Fonte: acervo do próprio autor.
Durante a noite, o espaço da Praça Vicente de Menezes recebe novas territorialidades
são formadas. Já não existe a grande quantidade de mototaxis e, o espaço onde, durante o dia
é ocupado pelos veículos dos trabalhadores de deslocamento de pessoas, é substituído por
motos e carros dos frequentadores da praça, aqueles que geralmente ficam em uma das
lanchonetes fixas na praça ou nos banquinhos dos comerciantes ambulantes (churrasquinho,
batata frita, cachorro quente entre outros). As lanchonetes expandem os seus espaços de uso
ainda mais no turno da noite, as mesas e cadeira são espalhadas em seus arredores. Os
brinquedos infantis (cama elásticas, pula-pula e escorregador de ar) são instalados ao longo da
praça, na área onde, durante o dia, outros agentes ocupam esse mesmo espaço.
79
3 OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: REPRESENTAÇÃO
DO “PÚBLICO URBANO” E DO “LAZER”
Apresenta-se como grande desafio a leitura geográfica do mundo a partir da leitura
dos lugares. Estes integram relações com a escala do mundial e do social, compreendendo
complexidades que precisam ser notadas na esfera da cultura e do conhecimento.
E é nessa perspectiva que fundamentamos a busca pela compreensão das dinâmicas
que permeiam a representação do lazer e dos espaços criados para tal uso no Centro de
Delmiro Gouveia/AL, tido como fundamental, desde épocas remotas, conforme
compreendemos os escritos de Mota (2001), onde o homem já imprimia seu modo de vida
destinando parte do tempo para atividades lúdicas, na caça e nas apresentações culturais,
lutas, jogos, atividades circenses, e outros, em locais públicos; praças e arenas.
Este trabalho foi motivado, principalmente pela necessidade de exercitar a pesquisa
participativa, principalmente ligada ao cotidiano da cidade de Delmiro Gouveia/AL e
especificamente o das praças e espaços de lazer no Centro da cidade, transformando-os, em
seguida, em conteúdos interessantes ao ensino de geografia na escola. Tal experiência será
objeto de análise no decorrer deste capítulo.
3.1 Uso, apropriação e vivência: os espaços, territorialidades e lugares no Centro de
Delmiro Gouveia-AL
O ensino de Geografia deve propor ao aluno uma aproximação entre teoria, vista em
sala de aula, e as vivências do ser humano enquanto pertencentes a uma sociedade, enquanto
agente de atuação (ação) no meio em que vive e criador de vínculos (convívio sócio-espacial).
Pensando nisso, o espaço geográfico, compreendido como conjunto de objetos e de suas
respectivas ações, Santos (2009), mutável e diferenciado, conforme nos escreveu Dollfus
(1982), deve ser apresentado com uma forma de entender a realidade dos fenômenos
ocorridos no dia-a-dia do homem.
De certo, o desafio de ensinar Geografia nunca foi fácil. A situação se agrava na
atualidade pela utilização de métodos tradicionais que distanciam e desmotivam os alunos. A
busca pelo conhecimento geográfico ultrapassa a mera descrição e observação dos elementos
80
presentes no espaço, incidem em ver o mundo organizado econômico, cultural e socialmente.
Leitura fundamental ao indivíduo, afinal é preciso dotar o aluno da capacidade de dominar o
seu próprio desenvolvimento e aprendizado para a vida, Pires (2012).
O estudo sobre o espaço público urbano no Centro de Delmiro Gouveia/AL
possibilitou experiências com o ensino e aprendizado. Sobre as experiências ligadas ao ensino
será abordado o subtítulo 3.2, deste capítulo.
Foi possível o aprendizado a partir dos momentos de pesquisas e observação do
espaço público delmirense, a partir das análises, estudos e investigações propostos pelas
atividades realizadas pelo grupo de Estudos Sociedade e Natureza – GESN e colaboração em
projetos de pesquisa e extensão, tais como, “História da Gente dos Lugares da Gente: mapas
temáticos e imagens mentais sobre o espaço urbano de Delmiro Gouveia-AL”, “Identidade e
permanência em um espaço de fronteiras: uma leitura geográfica do Povoado Jardim
Cordeiro, Delmiro Gouveia-AL”, “Paisagens culturais e (re) produção do espaço urbano: uma
leitura geográfica sobre uso e ocupação do solo na cidade de Delmiro Gouveia-AL”. 1
Em um primeiro momento buscou-se uma breve análise teórico-conceitual, o que
permitiu aproximação com definições e abordagens realizadas por autores que discutem a
temática.
1 O projeto de pesquisa “Identidade e permanência em um espaço de fronteiras: uma leitura geográfica do
Povoado Jardim Cordeiro, Delmiro Gouveia-AL” partiu do questionamento a respeito do processo de
construção da identidade e da ligação geográfica relativa ao Povoado Jardim Cordeiro, dentro do contexto de
suas relações com o entorno. Teve pois, como base as leituras teórico-conceituais e questionários aplicados na
comunidade, possibilitando a identificação do vínculo da comunidade com a região, a permanência e o seu
deslocamento para as cidades de Delmiro Gouveia/AL e Paulo Afonso/BA (2012 - 2013).O projeto de extensão
“História da Gente dos Lugares da Gente: mapas temáticos e imagens mentais sobre o espaço urbano de
Delmiro Gouveia-AL” proporcionou a identificação dos elementos importantes da história e da geografia do município de Delmiro Gouveia-AL, auxiliando a produção do conhecimento e o ensino de Geografia e História
bem como o exercício de confecção de mapas temáticos e a reflexão de mapas-imagens mentais sobre o espaço
urbano e suas diferenciações sócio-espaciais. Nesse sentido foi inserido estudantes de licenciatura em Geografia
e História do Campus Sertão (UFAL) em atividades de pesquisa, ensino e extensão realizadas através de um
processo de pesquisa-ação que permitiu a reflexão/construção de ferramentas pedagógicas alternativas (mapas
temáticos) às aulas sobre a região e os lugares diversos do Sertão alagoano (2011-2012). O projeto de pesquisa
“Paisagens culturais e (re) produção do espaço urbano: uma leitura geográfica sobre uso e ocupação do
solo na cidade de Delmiro Gouveia-AL” buscou analisar os usos e ocupação do espaço na cidade de Delmiro
Gouveia-AL como estratégia à compreensão da (re)produção do espaço urbano e das paisagens. Foi possível
mapear a cidade de Delmiro Gouveia através de metodologias de trabalho de campo (registro e acompanhamento
in loco) do uso e da ocupação do espaço urbano, atentos principalmente aos espaços e prédios públicos, aos
prédios voltados à indústria, ao comércio e aos serviços (2011 - 2012).
81
A ação em Arendt (2007) pode ser compreendida como a condição humana de
relacionarem-se com os outros seres humanos. Assim, compreendemos que as relações sociais
no espaço urbano delmirense, seja por uma interação histórico-cultural, política ou
econômica. Ocorre somente na ação que permite a interação homem x homem, afinal nenhum
outro ser (espécie) possui esse tipo de interação.
Ainda a acessibilidade, tida nos escritos de Serpa (2004), enquanto espaços de
cidadania e da ação política, onde as formas físicas não dispõem de suas existências por mero
acaso, ou seja, os espaços das praças e espaços de lazer delmirense, construídos e modificados
ao longo do tempo por causa da necessidade do individuo, sua criação de vínculos e
apropriação desses espaços, em alguns casos podem ser vistos como “territórios-públicos”.
Matos (2010, p.19) nos faz pensar que lugares, mesmo abertos e destinados ao
público em geral, possui limitação de acesso, seja por controle administrativo ou por mera
intimidação dos grupos sociais que, por exemplo, territorializam os espaços de uso público da
cidade, a saber, os skatistas da Praça Nossa Senhora do Rosário, no Centro de Delmiro
Gouveia/AL podem proporcionar certa intimidação, no uso deste espaço, a aqueles que não
curtem o skate. Da mesma forma, os skatistas podem sentissem não pertencentes e/ou não
enxergar finalidade de uso na para Vicente de Menezes, já que o espaço não dispõe de
espaços adequados para skatista (espaço aberto e calçado ou rampa específica para o skate).
A relação direta entre convivência social e o território em Haesbaert e Limonad
(2007) implica na capacidade, nos interesses e saberes que o possibilitam domínio e a
conquista de espaços. Não tratamos, pois, da discussão do território enquanto campo de luta,
delimitação e força física, conforme caberia ser aprofundado caso fosse o foco principal, a
discussão de território em sua análise mais aprofundada. Trata-se apenas do entendimento da
existência de uma “apropriação” por intimidação nos espaços de uso coletivo no Centro de
Delmiro Gouveia/AL (mototaxista, comércio formal e informal, ginástica na praça, jogadores
de dominó, prostituição, entre outros).
É importante frisar que o uso e apropriação por intimidação dos espaços públicos,
praças e espaços destinados ao lazer não é uma realidade presente somente na cidade de
Delmiro Gouveia/AL, a ocorrência da apropriação desses espaços, conforme percebido na
Praça Vicente de Menezes, Calçadão, Praça nossa Senhora do Rosário, entre outros espaços
no Centro da cidade, podem servir de base para estudos de ocorrência semelhante, em outros
82
espaços urbanos. Dessa forma, reafirmamos não ser uma peculiaridade do espaço urbano
delmirense, e sim, a ocorrência da apropriação pelo sentimento de pertencimento, vínculo e
identidade, comum a qualquer organização social.
Enfim, as praças e espaços de lazer em Delmiro Gouveia/AL são vistos como lugares
de convivência, levando em consideração as abordagens de Leite (1998) de que o lugar é tido
enquanto “produto da experiência humana”, onde, os vínculos criados pelos elementos
presentes, seja no calçadão, na Praça Delmiro Gouveia, Praça Nossa Senhora do Rosário,
Praça Vicente de Menezes ou em qualquer outro espaço que proporcione intimidade para o
indivíduo, possibilitará o sentimento de pertencimento e consequentemente o uso constante
desses espaços.
3.2 Ferramentas pedagógicas como alternativas a uma reflexão teórica e conceitual e
como subsídio para pensar o ensino de Geografia
Ao longo da graduação fomos orientados sobre do papel do profissional licenciado
em geografia. As discussões em torno de metodologia, prática de ensino, material e método de
uso para o ensino de Geografia, dentre outras questões relacionadas à prática docente, foram
discutidas ao longo dos períodos, em diversas disciplinas ofertadas pelo curso de Geografia da
Universidade Federal de Alagoa – UFAL, Campus do Sertão. Essas foram: Profissão Docente
(2010.2), Projeto Pedagógico, Organização e Gestão do Trabalho Escolar (2010.2),
Planejamento, Currículo e Avaliação da Aprendizagem (2011.2), Pesquisa Educacional
(2012.1), Metodologia do Ensino de Geografia (2012.2), entre outras. Foram disciplinas que
proporcionaram proximidade com a prática de ensino e que proporcionaram preparo para a
realização deste trabalho.
3.3 O registro de algumas experiências com a comunidade escolar
Tendo como base as pesquisas realizadas sobre as praças e espaços de lazer no
Centro de Delmiro Gouveia/AL, foi pensada a ultima parte desse trabalho como uma
orientação da investigação de um caso concreto à prática efetiva do ensino com uma turma de
alunos de uma escola pública local.
83
Essa última parte foi organizada da seguinte forma: planejamento de aulas
expositivas (teoria) e aula-pesquisa de campo (prática), com o intuito de maior aproximação à
prática do ensino em Geografia, escolha da turma em que essas atividades foram realizadas e
levantamento bibliográfico.
O planejamento contou com levantamento bibliográfico, adequação a modalidade do
Ensino Médio, elaboração das aulas expositivas (slides) e plano de atividades da aula-
pesquisa de campo. A turma do 2º ano “C” da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de
Menezes foi à escolhida para realização das atividades pedagógicas (aula expositiva antes e
depois da aula-pesquisa de campo ocorrida nas praças do Centro de Delmiro Gouveia/AL),
supervisionadas pela Professora de Geografia, Mayara Gomes.
O levantamento bibliográfico consistiu na busca dos conceitos abordados nos livros
didáticos de Geografia do Ensino Médio: espaço, lugar, identidade e pertencimentos,
territorialidades, espaços públicos, e usos desses espaços com finalidade a prática do lazer.
As abordagens foram adaptadas mediante exposição dos conceitos associados aos
exemplos do dia a dia do indivíduo (do aluno). Os “slides” foram organizados de forma a
expor os conceitos centrais da pesquisa – Espaço geográfico nos escritos de Corrêa (2011),
Santos (2009), Rodrigues (2008), Godoy (2004), entre outros. Espaço urbano em Cavalcanti
(2012), Matos (2010), Corrêa (1995). Espaço público nos escritos de Laurentino (2006),
Sobarzo (2006) e Resende (2005). Lugar, a partir das considerações feitas por Santos (2009),
Leite (1998) e, espaços destinados ao lazer nos escritos de Ferreira (2010), Maya (2008),
Gomes (2007), Gomes et Melo (2003), Mota (2001), entre outros.
No dia 14 de Março de 2014 realizou-se a primeira aula expositiva (duração de 45
min.), com a turma do 2º ano “C”, na Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes. A
aula, apresentada em “PowerPoint”, consistiu numa abordagem teórico-conceitual. Deu-se de
forma participativa e, conforme iam sendo mostrados os conceitos centrais deste trabalho,
seguidos das imagens dos espaços das praças e espaços de lazer no centro de Delmiro
Gouveia/AL, algumas considerações foram sendo feitas pelos alunos que se identificavam
com os registros fotográficos dos espaços mostrados ao longo da aula.
Além dos registros fotográficos, na atualidade, das praças e espaços de lazer no
Centro de Delmiro Gouveia/AL foi também mostrado algumas imagens desses espaços em
84
décadas passadas (década de 20 até a atualidade). As imagens antigas possibilitaram
questionamentos referentes à transformação do espaço público urbano da cidade ao longo do
tempo. Nesse momento, houve intensa manifestação dos alunos que passaram a discutir as
modificações e o próprio homem, responsável por tal modificação. Ainda nessa data foi
marcada a próxima atividade que consistia na aula-pesquisa de campo.
A aula-pesquisa de campo foi realizada no dia 17 de Março de 2014, a partir das
14h00min na Praça Vicente de Menezes (Praça do Coreto). Além da Supervisão da Professora
Mayara Gomes, as atividades realizadas tiveram a colaboração de quatro discentes do curso
de Geografia da Universidade Federal de Alagoas - UFAL Campus do Sertão.
Figura 36 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL - Ponto de
encontro da aula-atividade de campo
Fonte: Felipe Santos. Março de 2014
A aula-pesquisa de campo teve o seguinte propósito: (i) proporcionar um contato
entre os alunos do 2º ano “C” da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes e a
sociedade, afim de que os alunos percebessem como esses espaços são vistos segundo a
própria sociedade (suas diversas formas de uso do espaço público urbano, sentimento de
pertencimento da sociedade, identidade, apropriação e formação de territorialidades). Contou,
portanto, com a aplicação que questionários pelos alunos que foram encaminhados aos
seguintes espaços: Praça Delmiro Gouveia, Praça Dr. Ulisses Luna, Calçadão, Praça Vicente
85
de Menezes e Praça Nossa Senhora do Rosário, todos esses espaços, localizados no Centro da
cidade, (ii) Provocar uma visão crítica nos alunos, sobre as dinâmicas que permeiam os
espaços públicos urbanos destinados ao lazer.
Figura 37 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL –
Abordagem conceitual sobre o uso das praças e espaços de lazer
Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.
86
Figura 38 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL –
Orientação para aplicação dos questionários
Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.
Os alunos do 2º ano “C” da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes
puderam observar as praças e espaços de lazer do Centro da cidade de uma forma diferente da
realizada cotidianamente, pois, estavam munidos dos conceitos fundamentais, a luz da
Geografia, (espaço geográfico, espaço público urbano e espaços de uso para o lazer), o que
fundamentou a observação das dinâmicas desses espaços de forma crítica e reflexiva.
Em seguida, cada aluno recebeu seis questionários e foram orientados sobre como
abordar aquelas pessoas que estavam, naquele momento, frequentando os espaços de públicos
destinados ao lazer no Centro de Delmiro Gouveia/AL. As entrevistas foram realizadas até as
17h00min, quando todos retornaram para Praça Vicente de Menezes e foram recolhidos os
questionários.
87
Figura 39 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL –
Distribuição dos questionários
Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.
Figura 40 - Calçadão, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários sendo aplicados pelas
alunas do Ensino Médio
Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.
88
Figura 41 - Calçadão, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários sendo aplicados por
aluno do Ensino Médio
Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.
Figura 42 - Praça Nossa Senhora do Rosário, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários
sendo aplicados por aluna do Ensino Médio
Fonte: acervo do próprio autor. Março de 2014.
89
Nos questionários foram elaboradas 10 perguntas (7 abertas e 3 fechadas)
abrangendo perguntas sobre atividades realizadas nas horas de folga dos estudos e do
trabalho, vivência dos espaços públicos, elementos/objetos indispensáveis nos espaços
destinados ao lazer, locais frequentados durante a semana, finais de semanas e feriados,
principais atividade voltada ao lazer nos espaços do Centro de Delmiro Gouveia/AL,
definição do lazer, motivação na hora de escolher o espaço público urbano para prática do
lazer, quanto tempo em média costuma permanecer nesses espaços.
Por fim, foi questionado se os equipamentos das praças e espaços de lazer delmirense
são equipados e propícios ao lazer, quais equipamentos estavam adequados e o que ainda não
existe ou precisa melhorar.
Em 18 de Março de 2014, foi marcada a segunda aula com a turma do 2º ano “C” da
Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes. O local para realização desse momento
foi o Campus da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, em Delmiro Gouveia/AL.
Esse momento com os alunos, pós-aula-pesquisa de campo, é entendido como
fundamental para que pudessem serem discutidas as experiências vivenciadas pelos alunos,
assim como, questionamento sobre os conceitos abordado na aula inicial, realizada no dia 14
de Março de 2014, a vivência percebida pelos próprios em campo e, ainda, as considerações
feitas pelos usuários (sociedade em geral), desses espaços quando aplicados os questionários.
No antigo auditório da Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão
foi realizada uma aula para considerações das atividades de campo e avaliação da
compreensão dos conceitos abordados junto à turma do 2º ano “C” da Escola Estadual Luis
Augusto Azevedo de Menezes. Na ocasião, os alunos puderam montar uma definição,
abordando oralmente, descrevendo no quadro e nas anotações individuais, os conceitos
abordados nas atividades anteriores. Em seguida, foi possível analisar as respostas obtidas nos
questionários e a elaboração de gráficos referente ao uso desses espaços pela população
delmirense.
90
Figura 43 - Avaliação dos conceitos apreendidos pelos alunos do 2º ano “C” da Escola
Estadual Luis Augusto Azevedo de Menezes
Fonte: acervo do próprio autor. Março de 2014.
Figura 44 - Interpretação e organização de gráficos com os resultados obtidos nos
questionários aplicados na aula-pesquisa de campo
Fonte: Maíla Santos. Março de 2014.
91
No total, foram aplicados 55 questionários pelos alunos do 2ª ano “C” da Escola
Estadual Luis Augusto Azevedo de Menezes. Esses questionários serviram de amostra para a
compreensão dos usos dos espaços públicos destinados ao lazer pelos delmirenses. Cabe
ressaltar que o intuito da aplicação dos questionários não remete a comprovação científica,
mas sim, a aproximação entre docentes e a sociedade em geral frente a questionamentos dos
usos e apropriação desses espaços.
O contato com a população nos espaços de lazer no centro da cidade possibilitou
algumas abordagens, a exemplo, as atividades realizadas pela população nas horas vagas. O
gráfico a seguir mostra que, para a maioria dos entrevistados, o passeio com a família e
amigos é principal atividade realizada pelos entrevistados.
Questionado a turma do 2º ano “C” da Escola Estadual Luis Augusto Azevedo de
Menezes sobre as respostas dos questionários, organizadas nos gráficos, afirmaram que os
resultados refletem, de fato, os usos, também feitos por eles, nesses espaços.
Fonte: Questionários aplicados aos frequentadores dos espaços de lazer no Centro de Delmiro
Gouveia/AL, pelos alunos do 2º ano “C” da E. E. Luis Augusto A. de Menezes. Março de 2013
4 2
7
19
1
5
2 1
4 3
6 7
1
6
3 3 3
0 2 4 6 8
10 12 14 16 18 20
Atividades das horas vagas
Gráfico 1 - Atividades das horas vagas apontadas por alguns frequentadores dos
espaços de lazer no Centro de Delmiro Gouveia/AL
92
Fonte: Questionários aplicados aos frequentadores dos espaços de lazer no Centro de Delmiro
Gouveia/AL, pelos alunos do 2º ano “C” da E. E. Luis Augusto A. de Menezes. Março de 2013
Fonte: Questionários aplicados aos frequentadores dos espaços de lazer no Centro de Delmiro
Gouveia/AL, pelos alunos do 2º ano “C” da E. E. Luis Augusto A. de Menezes. Março de 2013.
35
8
15
2 0
39
2
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Praça Nossa Senhora do
Rosário
Praça Vicente de Menezes
Praça da Matriz
Praça Delmiro Gouveia
Praça Dr. Ulisses Luna
Calçadão Outros
Lugares frequentados
31
7
17
3 1
40
5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Praça Nossa Senhora do
Rosário
Praça Vicente de Menezes
Praça da Matriz
Praça Delmiro Gouveia
Praça Dr. Ulisses Luna
Calçadão Outros
Lugares frequentados
Gráfico 3 - Lugares públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados nos
finais de semana e feriados
Gráfico 2 - Lugares públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados
durante a semana
93
Apontadas nos questionários aplicados pelos alunos do 2º ano “C” da Escola
Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes, temos o gráfico 2, onde mostra os lugares
públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados durante a semana. Nele,
verificamos que, entre os entrevistados, a preferência do uso do calçadão é a opção mais
escolhida, seguida da Praça Nossa Senhora do Rosário e Praça da Matriz.
Sobre a terceira opção de lugar mais frequentado, apontado pelos questionários
aplicados (gráfico 2), a Praça da Matriz, na opinião dos alunos do 2º ano “C” não seria a
terceira maior opção, como afirmado nos questionário. Seria, pois, a Praça Vicente de
Menezes uma das três mais frequentadas.
Nesse momento foi possível trazer à tona a discussão conceitual sobre o lazer em
Leite (1998, p.10), expressado como o indivíduo possui ligações e proximidades com
determinados lugares, onde há um contato e uma intimidade de uso, capaz de
proporcionar um sentimento de pertencimento.
Partido desse pressuposto foi considerado junto aos alunos que, embora
perceptível o frequente uso da Praça Vicente de Menezes, motivado pelas opções de
lanches (churrasquinhos, cachorro quente, batatinha frita, entre outros), os questionários
aplicados mostraram que, entre as pessoas que responderam, essa praça ocupa somente a
quarta posição dos espaços mais utilizados para a prática do lazer.
Tal impasse foi apontado justamente orientado no lazer enquanto intimidade de
uso, ligações de proximidades, porem, é sentido distintamente pelos indivíduos, ou seja, o
lazer tido por alguns indivíduos pode não ser, assim considerado, para os demais.
Entretanto, para aqueles que frequentam a Praça Vicente de Menezes para alimentação
pode não considerar, tal prática, um lazer.
O gráfico 3 aponta que nos finais de semana e feriados a Praça da Matriz
também é uma das três mais usadas, segundo opinião dos entrevistados. Possui menor uso
apenas em relação à Praça Nossa Senhora do Rosário e o Calçadão que é o mais apontado
tanto paro uso durante a semana quanto nos finais de semana e feriados.
94
Fonte: Questionários aplicados aos frequentadores dos espaços de lazer no Centro de Delmiro
Gouveia/AL, pelos alunos do 2º ano “C” da E. E. Luis Augusto A. de Menezes. Março de 2013.
O gráfico 4 mostra as atividades destinadas ao lazer segundo a pesquisa de campo
(questionários realizados pelos alunos do 2º ano “C” da escola Estadual Luiz Augusto
Azevedo de Menezes). Nele é possível perceber que, entre os pesquisados, a vivência dos
espaços destinados ao lazer no Centro de Delmiro Gouveia/AL, consiste em tomar sorvete
como opção mais considerada, seguida da participação em eventos culturais e de atividades
religiosas bastante presente no cotidiano delmirense.
As atividades teóricas somadas a aula-pesquisa de campo possibilitou nos alunos um
olhar diferenciado do acostumado no dia a dia. Ficaram diante de espaços vivenciados por
eles mesmos, porém, estavam naquele momento não somente para vivenciar tais espaços, mas
sim atendo para como ele é organizado e apropriado de diversas formas.
Dessa forma, é louvável o protagonismo dos alunos pelas ruas do Centro de Delmiro
Gouveia em atividade de campo que ao mesmo tempo que buscavam a opinião podiam está
também refletindo sobre o objeto estudado. Afirmou a aluna Maria Roseane que a única praça
que ela não usava era a Praça Dr. Ulisses Luna, pois não sabia nem mesmo onde ela se
localizava. Em campo a aluna percebeu que, na verdade ela não conhecia o nome oficial da
dessa praça que popularmente é chamada de “Praça do fica”. Ainda sobre a atividade de
30
15
3
29
21
14 16
9
38
3
8
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Atividades
Gráfico 4 – Principais atividades de Lazer exercidas nos espaços de lazer do
Centro de Delmiro Gouveia/AL
95
campo, as alunas Danila, Larissa e Bianca colocaram que as pessoas abordadas sabiam bem o
que fazem no espaço destinado ao lazer no Centro delmirense, porém não souberam responder
como vivenciam esses espaços públicos
Tais processos de investigação, de coleta e de produção de informações, bem como
de ensino, representaram bem a intenção deste trabalho de congregar a iniciação à pesquisa
com a iniciação ao ensino de geografia. Torna-se necessário afirmar, no entanto, que a
diversidade e o tamanho da temática e dos questionamentos orientadores deste trabalho
deixaram espaços e oportunidades a novos estudos futuros. As lacunas e questões
eventualmente não respondidas por completo significam o ponto de partida deste processo de
iniciação em direção ao amadurecimento acadêmico-científico.
96
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das interpretaçãoes exercitadas nos capítulos anteriores, considera-se esse
trabalho como a finalização de uma etapa acadêmica que significa verdadeiramente um
primeiro passo para a construção de novos olhares a respeito da produção do conhecimento e
do ensino de geografia.
A aproximação relativa ao tratamento teórico conceitual possibilitou a iniciação às
questões teóricas fundamentais para o fazer geográfico e o amadurecimento da análise do
lazer no espaço público da cidade de Delmiro Gouveia-AL. Propiciou, ainda, o
desenvolvimento de um olhar crítico-reflexivo para a realidade urbana sertaneja em Alagoas,
carente de interpretações geográficas focadas no modo de organização e de dinâmica sócio-
espaciais. E, por fim, deu oportunidade para o esboço de um exercício acadêmico de reflexão
e prática do ensino de geografia.
A discussão sobre o espaço público urbano destinado ao lazer em Delmiro Gouveia,
especificamente, permitiu uma aproximação às realidades geográficas presentes no cotidiano
da coletividade social (o espaço público enquanto lugar de encontro e de confito social), bem
como um olhar mais detido sobre o processo de desenvolvimento histórico do fenômeno
urbano delmirense à luz de geografia voltada para a compreensão das práticas sociais de lazer
ou de uso inerentes ao espaço público (especialmente as praças).
Os escritos de Sant’Ana (1996; p.28), Correia (1998),Gonçalves (2010), entre outros,
foram fundamentais na compreenção dos espaços de lazer no Centro de Delmiro Gouveia,
seus usos, finalidades diversas e transformações ao longo do tempo, a exemplo da Praça
Vicente de Menezes que antes era um espaço aberto onde ocorria a feira de animais e
atualmente possui configuração totalmente diferente (coreto local de encontro para festas
carnavalescas, apresentações culturais, manifestações cívico-religiosas, concentração de
lachonetes, sorveteria, churrasquinhos, entre outros).
A pesquisa sobre os espaços públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL permitiu
também o conhecimento, de forma mais detida, das vivências e identidades produzidas
através da relação entre sociedade e espaço. Em Cavalcanti (2012), a cidade é entendida para
além da soma de indivíduos, levando-se em consideração o modo de vida, o convívio que
97
proporciona o sentir-se parte de um grupo social. A partir dos escritos de Matos (2010),
levou-se em consideração também a cidade de Delmiro Gouveia/AL como conjunto de
símbolos e de significados que interagem com os espaços públicos formando um todo social.
No entanto, tais temas, quando trabalhados no contexto do ensino de geografia,
legaram a face de uma realidade que necessita de continuidade de outros e mais estudos e
experimentações (tanto de cunho geográfico quanto pedagógico) no sentido da apreensão da
maneira como o próprio sertanejo, sobretudo os alunos da escola, podem ser ensinados a
compreenderem a sua realidade local.
O contato com a prática pedagógica, através de atividades teóricas e práticas com os
alunos do 2º ano “C” da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes, possibilitou
uma experiência rica de ensino de geografia que, através dos conteúdos de “lazer” e de
“espaço público” se revelaram numa metodologia que situou a produção do conhecimento e a
prática dialógica como importantes ao processo de aprendizado de todos envolvidos.
Complemento ao livro didático e aos recursos tradicionais ao ensino de geografia, a proposta
metodológica foi aqui pensada como destinada à abertura do ensino para outros ambientes que
oportunizassem o contato com esferas mais próximas da realidade delmirense.
O sentido do ser e estar no espaço apareceu ainda mais nítido quando o confronto dos
conceitos com a realidade se fez presente enquanto ferramenta pedagógica alternativa de
pesquisa-ação neste plano de Trabalho de Conclusao de Curso.
Espera-se, pois, com o registro deste trabalho, que os esforços aqui expostos possam
vir a subsidiar a reflexão sobre a produção do conhecimento em geografia e a colaboração
junto à academia no tocante à compreensão ainda mais aprofundada do espaço público; local
de uso, de criação de vínculos sociais, da apropriação territorial e usos específicos dos
espaços pela prática do lazer.
Se este trabalho significar sinceramente aprendizado a todos os envolvidos,
principalmente em relação ao conhecimento dos conceitos e das realidades concretas, desde a
autoria, os colegas colaboradores do Campus do Sertão, os professores e técnicos que
participaram da construção dos enfoques e análises, então será considerado o objetivo como
alcançado.
98
Somando-se a isso, se este trabalho oferecer ainda mais outros leques de questões
relativas ao tema para estudos mais aprofundados no futuro, então o caminho da iniciação à
pesquisa e ao ensino de geografia estará montado. Com sinceridade e humildade, este é o
registro de boas intenções e esforços de um simples trabalho na área de geografia.
99
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102
APÊNDICE A – Questionários aplicados aos frequentadores das Praças e espaços de lazer no
Centro de Delmiro Gouveia/AL pelos alunos do 2º ano “C” da Escola Luiz Augusto Azevedo
de Menezes
UFAL - Campus do Sertão – Delmiro Gouveia/AL - Geografia Licenciatura
QUESTIONÁRIO DE ATIVIDADE DE PESQUISA-ENSINO – TCC
Nome:_______________________________________________Idade: ______________________
Mora em que bairro?_____________________________há quanto tempo?__________________
Você trabalha? ( ) Não ( ) Sim. Se trabalha, quantas horas por dia?__________________
1 - O que costuma fazer nas horas de folga do trabalho e/ou dos estudos?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
2 - Como você vivencia o espaço público?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3 - Quais elementos ou objetos você considera indispensáveis existir em uma praça pública?
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4 - Quais os lugares públicos, do Centro de Delmiro Gouveia/AL, que você costuma frequentar DURANTE A SEMANA?
( ) Prç. Nª Senhora do Rosário ( ) Prç. Vicente de Menezes ( ) Prç.da Matriz ( ) Prç. Delmiro Gouveia ( ) Prç. Dr. Ulisses Luna
( ) Calçadão ( ) Outros. Quais? _______________________________________________________________________________________________________________
5 - Quais os lugares públicos, do Centro de Delmiro Gouveia/AL, que você costuma frequentar NOS FINAIS DE SEMANA E FERIADOS? ( ) Prç. Nª Senhora do Rosário ( ) Prç. Vicente de Menezes ( ) Prç.da Matriz ( ) Prç. Delmiro Gouveia ( ) Prç. Dr. Ulisses Luna
( ) Calçadão ( ) Outros. Quais? ______________________________________________________________________________________________________________
103
6 - Qual a atividade de lazer principal que você exerce no espaço público do Centro de Delmiro Gouveia? ( ) Participação de eventos culturais (som na praça, Festa da Padroeira, bloco de carnaval, etc.) ( ) Esportes (caminhada, ginástica na praça, basquete, futebol, etc.) ( ) Em busca de atividades lúdicas (brinquedos instalados nas praças) ( ) Artes ( ) Religião (cultos, procissões, missas, etc.) ( ) Encontrar amigos/parentes ( ) Namorar/Paquerar ( ) Praça de alimentação ( ) Quiosques ( ) Sorveteria ( ) Rampa de skate ( ) Prática da leitura ( ) Outros:____________________________________________________________
7 - Pensando no que faz durante o tempo de folga e em outros momentos do dia a dia, o que você considera como lazer? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8 – o que leva você a escolher o espaço público para o lazer? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9 – Quanto tempo, média, costuma permanecer nos espaços de lazer do Centro de Delmiro? _________________________________________________________________________________ 10 – Você considera os espaços de lazer da cidade completos, adequados, propícios ao lazer? ( ) Sim ( ) Não: Se não, o que falta para serem espaços mais adequados ao lazer? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Obrigado!