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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO DELMIRO GOUVEIA GEOGRAFIA LICENCIATURA REGÍS LIMA DA SILVA ESPAÇO PÚBLICO E LAZER EM DELMIRO GOUVEIA-AL: UM OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA Delmiro Gouveia/ AL 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS DO SERTÃO – DELMIRO GOUVEIA

GEOGRAFIA LICENCIATURA

REGÍS LIMA DA SILVA

ESPAÇO PÚBLICO E LAZER EM DELMIRO GOUVEIA-AL:

UM OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA

Delmiro Gouveia/ AL

2014

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REGÍS LIMA DA SILVA

ESPAÇO PÚBLICO E LAZER EM DELMIRO GOUVEIA-AL:

UM OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito parcial da Universidade

Federal de Alagoas para obtenção do grau de

Licenciado em Geografia.

Orientador: Kleber Costa da Silva

Delmiro Gouveia/ AL

2014

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

AUTOR: REGÍS LIMA DA SILVA

ESPAÇO PÚBLICO E LAZER EM DELMIRO GOUVEIA-AL: UM

OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Geografia da Universidade Federal

de Alagoas – Campus do Sertão, como

requisito parcial para obtenção do grau de

Licenciado em Geografia. Aprovado em ___

de ____________________de ____________.

____________________________________________________________________

Profº Msc. Kleber Costa da Silva, Universidade Federal de Alagoas - Orientador

Banca Examinadora:

____________________________________________________________________

Profª Dr. Angela Fagna Gomes de Souza, Universidade Federal de Alagoas - Examinador

Interno.

____________________________________________________________________

Profª Msc. Viviane Regina Costa, Universidade Federal de Alagoas - Examinador Externo.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois

nele tive coragem e seguir em frente, aos meus pais,

Cícero Guilherme da Silva e Maria Miriam Lima, e

aos demais familiares que me deram suporte sem

medir esforços. Aos professores do curso de

Geografia Licenciatura da UFAL SERTÃO, minha

instituição de ensino, aos colegas de classe e

extraclasse, a PROEST - Pro Reitoria Estudantil da

Universidade Federal de Alagoas que me assistiu

com a Bolsa Permanência durante a graduação. A

todos, dedico este trabalho como forma de

agradecimento por tudo que vivemos durante toda

essa caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida e a força que só nele encontrei para seguir em

frente nos momentos mais difíceis.

Aos meus familiares que acreditaram no meu potencial e entenderam os motivos de

minha ausência, em especial a minha irmã Armanda Lima da Silva que é responsável por essa

conquista, jamais teria seguido, se não fosse os seus esforços.

Aos meus irmãos: Paula, Ricardo, Aline, Armanda, Rivaldo, Rodolfo, e Rogério que

sempre “trabalharam duro”, inclusive na roça, e permitiram que eu pudesse seguir estudando.

Aos “agregados” da família: Beto, Sônia, Irisnaldo, Reginho, Marcia e Mazé que

sempre me acompanharam e me deram apoio.

Ao amigo Claudio Gomes que aguentou, todos esses anos, meus “desabafos”, me

ajudou, aconselhou e apoiou-me sempre da melhor maneira possível.

Aos Professores: Cleonice, Amparo, Lígia Cibele, Rute, Madalena, Francisca (jamais

esquecerei as caronas que me deu), Robérison e Diogo, foram responsáveis pelos meus

maiores aprendizados, além do incentivo e motivação para seguir em frente.

Aos meus amigos-irmãos que tanto me deram forças no periodo que estudei na

UFAL - Campus Arapiraca: Cleide, Cristiane, Rideique, Daniel, e Leide Daiane;

Aos familiares Aline, Irisnaldo, Vó Lica, “Madrinha” Valta, tio Guilherme e tia Dai,

que me acolheram em Delmiro Gouveia/AL. Foi fundamental ter sido recebido por vocês.

As colegas de turma, Nazaret (Naim) e Rogéria (As duas fiéis parceiras dos trabalhos

de classe e das aulas de campo) que estiveram sempre ao meu lado, nos momentos de alegria

e também nos momentos de desafios no cotidiano acadêmica.

Aos amigos Wanderley, Baresi, Weverton, Aline, Fábio, Aldemir, Ane, Elen, Erica

Patrícia e toda família TLC,... obrigado por terem estado presente durante essa caminhada, foi

muito bom tê-los conhecido.

Aos colegas de curso, Felipe Santos, Tayana Vidal, Flávio, Gutemberg que me

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auxiliaram nas atividades de campo com os alunos da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo

de Menezes. Em especial, agradeço a Mayara Gomes, Professora de Geografia e supervisora

das aulas sobre a pesquisa e a atividade de campo. A mesma não mediu esforços, mesmo

passando por um difícil problema pessoal no momento do planejamento e execussão das

atividades, esteve sempre atenta e solícita para eventuais emprevistos.

A Eduardo Menezes que não mediu esforços ao ceder seu acervo fotográfico para

uso de fonte bibliográfica, bem como, demonstrou-se solícito em repassar informações do

vivido por ele quando residente em Delmiro Gouveia/AL.

Ao colega Erinaldo Gomes (Ninho), pela contribuição na tradução do resumo para a

língua inglesa.

Aos servidores técnicos responsáveis pela limpeza e segurança do campus pela

atenção prestada, organização do ambinte, proprício a realização das atividades acadêmicas.

Aos servidores técnicos administrativos, em especial, Lidiane, Rogério e Aloísio,

eles que além de serem prestativos e atenciosos, estiveram presente e prontos a ajudar,

aconcelhar, inclusive no momento mais difícil, por mim vivenciado, nos primeiros períodos,

quando ocorreram as mobilizações a favor e contra a paralização das aulas no campus.

Aos Servidores tecnicos responsáveis pela Biblioteca Central, da Universidade

Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão, pela atenção a mim foi conferida durante

esses quatro anos.

A Direção Geral, Professor Agnaldo e a Direção Acadêmica, Professor Ivamilson

pela dedicação e desempenho na administração do Campus.

Por fim, não menos importante, ao amigo, Professor e Orientador, Kleber Costa da

Silva pelos diversos momentos de ensino, dedicação e motivação. Absorvi o máximo que

pude de seus ensinamentos nessa caminhada e, aonde eu estiver, sempre os levarei comigo.

À todos, meu muito obrigado!

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A condição humana compreende algo mais que as

condições nas quais a vida foi dada ao homem. Os

homens são seres condicionados: tudo aquilo com o

qual eles entram em contato torna-se imediatamente

uma condição de sua existência. O mundo no qual

transcorre a vita activa consiste em coisas

produzidas pelas atividades humanas; mas,

constantemente, as coisas que devem sua existência

exclusivamente aos homens também condicionam os

seus autores humanos. Além das condições nas quais

a vida é dada ao homem na Terra e, até certo ponto,

a partir delas, os homens constantemente criam as

suas próprias condições que, a despeito de sua

variabilidade e sua origem humana, possuem a

mesma força condicionante das coisas naturais [...]

ARENDT, Hannah (2007).

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SILVA, Regís Lima. Espaço Público e Lazer em Delmiro Gouveia AL: um olhar

geográfico para o ensino de Geografia. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação –

Geografia Licenciatura) – Universidade Federal de Alagoas – Campus do Sertão – Delmiro

Gouveia/Alagoas/Brasil, 2014.

RESUMO

Este trabalho resulta de pesquisas sobre a dinâmica do espaço público e a prática de lazer no

Centro da cidade de Delmiro Gouveia/AL. Objetivou-se compreender como se organizam os

espaços destinados ao uso coletivo no espaço urbano, as diferentes formas de uso, os aspectos

do presente e do passado (relação espaço-tempo), bem como a criação de vínculos sócio-

espaciais e territoriais, ora considerados, a título de aproximação teórico-conceitual, conforme

Haesbaert e Limonad (2007), não somente ligados às relações de poder, mas também como

relacionados à vivência e à participação social nos espaços das praças por vários grupos

sociais. Assim, escolheu-se organizar este trabalho em três capítulos e mais as considerações

finais. No primeiro capítulo, escolheu-se o tratamento teórico-conceitual ligado à noção de

espaço geográfico em Corrêa (2011), Santos (2009), Rodrigues (2008), Godoy (2004), Oliva

(2001) e Dollfus (1982). A cidade e o urbano em Cavalcanti (2012), Matos (2010), Corrêa

(1995). Espaço público nos escritos de Laurentino (2006), Sobarzo (2006) e Resende (2005).

Lugar, a partir das considerações feitas por Santos (2009), Leite (1998) e, espaços destinados

ao lazer, nos escritos de Ferreira (2010), Maya (2008), Gomes (2007), Gomes et Melo (2003),

Mota (2001). No segundo capítulo centrou-se na investigação propriamente dita sobre

espaços, territórios e lugares públicos delmirenses. Ou seja, realizou-se uma análise dos

espaços públicos e da prática do lazer a partir dos registros fotográficos datados desde 1920

até a atualidade. O terceiro capítulo apresentou-se um olhar geográfico para o ensino de

geografia a partir das representações do “público urbano” e do “lazer” trabalhados com

estudantes do 2º ano do Ensino Médio de uma Escola Pública Estadual. Tal experiência com a

prática docente possibilitou uma reflexão sobre a condição do ser e do estar no espaço público

enquanto educador e educando em Geografia.

Palavras-chave: Espaço Público, Lugar, Territorialidades, Lazer, Delmiro Gouveia/AL.

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ABSTRACT

This work results from researches about the dynamics of public space and leisure practice in

Delmiro Gouveia Center city. This study aimed to understand how to organize the spaces

intended for collective use in the urban space, the different forms of use, aspects of the

present and the past (relative space -time) as well as the creation of socio- spatial and

territorial, now considered of theoretical- conceptual approach as Haesbsert and Limonad

(2007), not only linked to power relations, but also as related to experiences and participation

in social spaces for the various social groups. Chose to organize this work in three chapters

and more final considerations. In the first chapter, it was chosen the conceptual theoretical

treatment linked to the notion of geographic space in Corêa (2011), Santos (2009), Rodrigues

(2008), Godoy (2004), Oliva (2001) and Dollfus (1982). The city and district in Cavalcanti

(2012), Matos (2010), Corêa (1995). Public space in the writings of Laurentino (2006),

Sobarzo (2006), and Resende (2005). Place, from the statements made by Santos (2009), Leite

(1998) and spaces for leisure, in the writings of Ferreira (2010) , Maya (2008), Gomes (2007),

Gomes et Melo (2003), Mota (2001). In the second chapter focused on the research itself on

spaces, territories and delmirenses public places. Conducted an analysis of public spaces and

the leisure practice from photographic records dating from 1920 to the present. The third

chapter presented a geographical look for teaching geography from the representations of the

“urban public” and “leisure” works with students the 2nd year of high school in a public

school statewide. This experience with the teaching practice enabled a reflection on the

condition of being in the public space as educator and student of geography.

Keywords: Public Space, Place. Territorialities. Leisure. Delmiro Gouveia.

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LISTA DE ILUSTRAÇÃO

Figura 1 - Localização do Município de Delmiro Gouveia/AL 38

Figura 2 - Início da Vila de Pedra (chegando de Água Branca) por volta de 1915 -

Sequência com duas fotos

39

Figura 3 - Vila de Pedra por volta de 1915 – (ao fundo, à esquerda, atual Av.

Presidente Castelo Branco)

40

Figura 4 - Vista superior da Fábrica da Pedra – Anos 20 41

Figura 5 - Prédio onde funcionou o primeiro escritório de peles 42

Figura 6 - Rua 13 de maio 45

Figura 7 - Desenho da cerca de arame no entorno da Vila da Pedra 48

Figura 8 - Documento de criação do Município de Delmiro Gouveia 51

Figura 9 - Praça Delmiro Gouveia - Atual Praça Dr. Ulisses Luna - meados dos

anos 60

52

Figura 10 - Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna – 1969 53

Figura 11 - Desfile cívico do dia 7 de Setembro de 1965. Antiga Rua Progresso 54

Figura 12 - A Fonte, Atrativo da Praça Delmiro Gouveia - atual Praça Dr. Ulisses

Luna – 1971

55

Figura 13 - Praça Delmiro Gouveia - atual Praça Ulisses Luna – 1973 56

Figura 14 - Bar “Abrigo do Ciço Gobeu” e o lazer da garotada – 1974 57

Figura 15 - Vista aérea do Centro de Delmiro Gouveia/AL - 1976 58

Figura 16 - Delmiro Gouveia: Operários da Fábrica saindo em horário de almoço –

1978

59

Figura 17 - Centro, atual calçadão e lojinha da Fábrica. Delmiro Gouveia/AL –

1978

60

Figura 18 - Centro de Delmiro Gouveia/AL - 1978 61

Figura 19 - Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna – Final dos anos

70

62

Figura 20 - Pátio da Igreja Matriz – Final dos anos 70 63

Figura 21 - Pátio da Igreja Matriz – Fevereiro de 2014 64

Figura 22 - Desfile cívico passando pelo inicio da Rua ABC, atua Rua da

Independência - Anos 70

65

Figura 23 - Início da antiga Rua ABC, atual Rua da Independência - anos 80 65

Figura 24 - O Centro de Delmiro Gouveia/AL. Visão a partir da Praça Dr. Ulisses

Luna, Antiga Praça Delmiro Gouveia – 1983

67

Figura 25 - O Centro de Delmiro Gouveia/AL. Visão a partir da Praça Dr. Ulisses

Luna, Antiga Praça Delmiro Gouveia – 2014

67

Figura 26 - Vista lateral (fundo) da Igreja Nossa Senhora do Rosário e da praça

que leva o mesmo nome - anos 90

68

Figura 27 - Vista lateral (frente) da Igreja Nossa Senhora do Rosário e da praça

que leva o mesmo nome - anos 90

69

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Figura 28 - Vista parcial aérea de parte do Centro de Delmiro Gouveia/AL – 1997 70

Figura 29 - Festa junina na Praça Nossa Senhora do Rosário - Delmiro

Gouveia/AL. Junho de 2013

72

Figura 30 - Início da Av. Antônio José da Costa. Carnaval de 2013 73

Figura 31 - Início da Av. Antônio José da Costa. Abril de 2012 74

Figura 32 - Praça Vicente de Menezes, sentido coreto, Centro de Delmiro

Gouveia/AL - Julho de 2013

75

Figura 33 - Praça Vicente de Menezes, sentido contrário ao coreto, Centro de

Delmiro Gouveia/AL - Julho de 2013

76

Figura 34 - Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL e seus

diversos usos durante a tarde. Junho de 2013

77

Figura 35 - Praça Vicente de Menezes, período da noite. Centro, Delmiro

Gouveia/AL

78

Figura 36 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL -

Ponto de encontro da aula-atividade de campo

84

Figura 37 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL

– Abordagem conceitual sobre o uso das praças e espaços de lazer

85

Figura 38 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL

– Orientação para aplicação dos questionários

86

Figura 39 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL

– Distribuição dos questionários

87

Figura 40 - Calçadão, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários sendo

aplicados pelas alunas do Ensino Médio

87

Figura 41 - Calçadão, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários sendo

aplicados por aluno do Ensino Médio

88

Figura 42 - Praça Nossa Senhora do Rosário, Centro de Delmiro Gouveia/AL –

questionários sendo aplicados por aluna do Ensino Médio

88

Figura 43 - Avaliação dos conceitos apreendidos pelos alunos do 2º ano “C” da

Escola Estadual Luis Augusto Azevedo de Menezes

90

Figura 44 - Interpretação e organização de gráficos com os resultados obtidos nos

questionários aplicados na aula-pesquisa de campo

90

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Atividades das horas vagas apontadas por alguns frequentadores dos

espaços de lazer no Centro de Delmiro Gouveia/AL

91

GRÁFICO 2 - Lugares públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados

durante a semana

92

GRÁFICO 3 - Lugares públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados

nos finais de semana e feriados

92

GRÁFICO 4 - Principais atividades de Lazer exercidas nos espaços de lazer do

Centro de Delmiro Gouveia/AL

94

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 13

1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: ESPAÇO, TERRITÓRIO E LUGARES

PÚBLICOS URBANOS 16

1.1 Das Concepções de Espaço, Espaço Urbano e Espaço da Cidade 16

1.2 A Cidade e o Urbano 22

1.3 O Simbólico-cultural e a Apropriação nos Espaços-territórios-

públicos

25

1.4 Lugar, Lazer e seus Conceitos 31

1.5 Tempo de Diversão, da Folga e do Ócio: a Tentativa de Conceituar

o Lazer

32

1.6 O Lazer no Cotidiano Urbano 34

2 ESPAÇOS, TERRITÓRIOS E LUGARES PÚBLICOS EM DELMIRO

GOUVEIA/AL 38

2.1 O desenvolvimento histórica dos espaços, territórios e lugares

públicos de Delmiro Gouveia-AL

38

2.2 O lazer e a vivência espacial como atributos para a compreensão

atual dos territórios e lugares públicos em Delmiro Gouveia-AL

71

3 OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA:

REPRESENTAÇÃO DO “PÚBLICO URBANO” E DO “LAZER” 79

3.1 Uso, apropriação e vivência: os espaços, territorialidades e lugares

no Centro de Delmiro Gouveia-AL

79

3.2 Ferramentas pedagógicas como alternativas a uma reflexão teórica

e conceitual e como subsídio para pensar o ensino de Geografia

82

3.3 O registro de algumas experiências com a comunidade escolar 82

Considerações finais

Referências

Apêndice

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INTRODUÇÃO

A vivência espacial pressupõe identificação dos seres humanos com os lugares, um

valor e um processo de apropriação relativa que conduz a modos de organização e de

transformações sócio-espaciais. Assim ocorre com os espaços públicos urbanos onde os

elementos neles presentes, ao menos teoricamente destinados ao uso coletivo, atraem

indivíduos ou grupos sociais que podem vir a vivenciá-los.

Partindo desse pressuposto, este trabalho, intitulado “Espaço Público e Lazer em

Delmiro Gouveia-AL: um olhar geográfico para o ensino de Geografia”, foi desenvolvido no

intuito de compreender como ocorre à organização dos espaços destinados ao uso coletivo e

quais suas atividades voltadas para o lazer, levando-se em consideração as transformações ao

longo do tempo, no intuito de refletir sobre a contemporaneidade, especialmente no caso da

cidade de Delmiro Gouveia, Sertão de Alagoas.

A formação do espaço público urbano destinado ao lazer na cidade de Delmiro

Gouveia/AL é diretamente ligado aos processos de transformações iniciadas pelas ações do

homem Delmiro Augusto da Cruz Gouveia que chegou à região, segundo nos escreveu

Sant’ana (1996, p.17), em 1903, provindo do Recife - PE. Embora a importância histórica do

tratamento inicial dos espaços públicos produzidos na antiga Vila de Pedra – atual cidade de

Delmiro Gouveia/AL –, esteja ligado à pessoa do Delmiro Gouveia em Sant’Ana (1996),

Correia (1998), Maynard (2008), Gonçalves (2010), a abordagem dessa temática será, neste

trabalho, um aspecto secundário que eleva o valor do empreendedor e criador dos alicerces de

organização urbana locais, porém cuja intenção fundamentalmente é de ajudar na

compreensão de como os eventos do passado moldaram o urbano atual.

O exercício de aproximação teórica para este Trabalho de Conclusão de Curso de

graduação foi estruturada em quatro partes: a) A primeira aponta abordagens teórico-

conceituais e discussões referentes ao espaço geográfico, principalmente nos textos de Godoy

(2004), Rodrigues (2008), Santos (2009), Corrêa (2011); b) Considerações sobre a cidade e o

urbano em Cavalcanti (2012), Matos (2010), Corrêa (1995); c) Análise dos textos de

Haesbaert e Limonad (2007), Haesbaert (2007), Saquet et Briskievicz (2009), entre outros,

dedicando-se a leitura ao simbólico-cultural, somado à apropriação, na formação do que

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podemos chamar de “territórios-públicos”; d) A abordagem sobre espaço público nos escritos

de Laurentino (2006), Sobarzo (2006) e Resende (2005); e, e) O lugar, entendido com base

nos escritos de Santos (2009), Leite (1998), e, espaços destinados ao lazer, nos estudos feitos

por Ferreira (2010), Maya (2008), Gomes (2007), Gomes et Melo (2003), Mota (2001).

Em um segundo momento, foi realizado um recorte histórico dos espaços produzidos

para o lazer na antiga Vila da Pedra, atual cidade de Delmiro Gouveia/AL, como norte à

condução a respeito da produção da cidade. Os registros fotográficos, que se referem a

paisagens desde 1920 até a atualidade, mostram aspectos que auxiliam a compreensão dos

“eventos”, visto em Santos (2009), como ação ocorrida em um determinado tempo e espaço e

que proporcionam as configurações desses espaços na atualidade. As análises das

transformações ao longo do tempo mostram os espaços, territórios e lugares públicos em

Delmiro Gouveia – AL.

O lugar, considerado enquanto vivência, identidade e sentimento de pertencimento,

ou ainda, como “um centro de significados construído pela experiência” em Tuan (1975)

apud Leite (1998; p.10) e, por outro, o território enquanto delimitação ocasionada pelas

relações de poder, não somente político, mais também de apropriação, conforme nos escreve

Haesbaert (2007). Há de considerar que os indivíduos e/ou grupos sociais se identificam com

os elementos concretos do espaço, por exemplo, da Praça Vicente de Menezes, criando

vínculos e, com a experiência (vivência), atribuem significados, configurando tal praça como

um lugar. Ao mesmo tempo há uma aproximação das parcelas desses espaços, o que os

configura como pequenos territórios do uso cotidiano, expondo o caráter de encontro e de

conflito caro à definição da esfera pública.

Em um terceiro momento é abordado um olhar geográfico para o ensino de

geografia, cujos conteúdos ligados à noção de “público urbano” e de “lazer”, se tornam

centrais através de atividades de ensino e de pesquisa-ação junto aos alunos do 2º ano “C”, do

Ensino Médio, da Escola Estadual Luis Augusto Azevedo de Menezes.

A proposta pedagógica mirou na possibilidade de serem trabalhadas tais temáticas,

num sentido amplo de aprofundar elementos de docência e de experiência junto ao ambiente

da escola. Escolheu-se empreender uma prática de ensino que levasse em conta ferramentas

pedagógicas alternativas a oferecer protagonismo aos estudantes do processo de entender para

ser e estar no espaço público da cidade. Ou seja, a experiência pedagógica foi organizada com

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atenção para o planejamento das atividades, levantamento bibliográfico, adequação da

pesquisa à modalidade do ensino, elaboração das aulas expositivas (slides), atividades da

“aula-pesquisa de campo” até a “aula-retorno” (realizada após as atividades de campo) para

avaliação dos conhecimentos adquiridos (exposição oral dos alunos).

E, por fim, foram construídas algumas considerações a respeito da nossa atuação no

processo amplo de investigação (exercitando métodos de análise e de pesquisa), de vivência

do espaço público urbano delmirense, de relação com o ambiente da sala de aula e de

pesquisa-ação junto com os alunos da escola. Os conceitos de espaço público e de lazer,

especialmente, permitiram um olhar mais detido para a compreensão da geografia urbana da

cidade e ao mesmo tempo um encontro com a temática do ensino na medida em que ajudou a

reflexão sobre produção do conhecimento e o processo de ensino-aprendizado.

Não consiste este trabalho, uma pesquisa acabada, trata-se, pois, da intenção do

exercício de pesquisa e ensino em Geografia junto ao Curso de Geografia do Campus do

Sertão da UFAL, a partir do qual se buscam bases para enriquecimento e diálogo em relação à

extensão dessa temática e à ampliação da formação acadêmica do autor. Assim construído, é

pretendido ofertá-lo à comunidade acadêmica como um trabalho de iniciação à geografia e ao

ensino.

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1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: ESPAÇO, TERRITÓRIO E LUGARES PÚBLICOS

URBANOS

1.1 Das concepções de espaço, espaço urbano e espaço da cidade

Na tentativa de compreendermos o espaço público, em específico, aquele voltado as

praças e espaços de lazer, foi feita a seguinte ordem de abordagem: considerações acerca da

definição do conceito de espaço, se é que, caiba uma definição para uma metamorfose

constante que é o espaço. Em seguida, abordar as discussões sobre cidade e urbano, seguida

da apreciação quanto à apropriação simbólico-cultural dos espaços-territórios-públicos.

A história da humanidade é repleta de transformações e adequações ao meio. Ao

passo que foi se relacionando com outros seres humanos, e, passou a conhecer outros lugares,

o homem, foi transformando seu espaço (construção de moradia, desenvolvimento de técnicas

para produção agrícola, construções de vias de acesso (estradas), proporcionando acesso a

lugares, até então inexplorados).

O homem, segundo Rodrigues (2008), passou a modificar a natureza e a produzir o

espaço geográfico. Em suas palavras nos fala o seguinte:

“Esse espaço se apresenta como uma segunda natureza, uma natureza social,

humanizada. Assim, há a primeira natureza, aquela que foi e é criada sem a ação

humana (rios, florestas, montanhas etc.), e a segunda natureza, aquela produzida

pela ação do homem (cidade, agricultura, estradas, instrumentos de trabalho etc.)”

RODRIGUES (2008, p. 37)

A respeito dessas duas naturezas podemos verificar o seguinte:

O espaço passa a ser visto como uma criação humana que se realiza através

do movimento da sociedade sobre a natureza. A natureza apresenta-se, neste

caso, separada da sociedade, constituindo a base física sobre a qual o homem atua e produz o espaço geográfico ou, em outras palavras, a “segunda

natureza”. A “primeira natureza” é concebida como algo que não pode ser

produzido, é a antítese da atividade humana. SMITH (1988) apud GODOY

(2004, p.2)

Podemos verificar ainda:

O espaço passa a ser visto como uma criação humana que se realiza através

do movimento da sociedade sobre a natureza. A natureza apresenta-se, neste

caso, separada da sociedade, constituindo a base física sobre a qual o homem

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atua e produz o espaço geográfico ou, em outras palavras, a “segunda

natureza”. A “primeira natureza” é concebida como algo que não pode ser

produzido, é a antítese da atividade humana. Smith (1988) apud Godoy

(2004, p.2)

Ao analisarmos tais abordagens trazidas por Smith (1988) apud Godoy (2004, p.2) e

Rodrigues (2008), compreendemos que a primeira natureza trata-se, pois, da configuração

existente na paisagem independente da ação humana, enquanto a segunda natureza expressa

as modificações, formas e conteúdos instalados no meio a partir da materialidade produzida

pelas relações de produção do trabalho humano.

Ao abordar “As armadilhas semânticas da expressão espaço social”, ou seja, a

diversidade de significação no termo espaço social, presente nas discussões geográficas, Oliva

(2001, p.27) prefere tratar por “componente social” ao invés de “espaço social”. Não é, pois,

uma negação a existência do espaço social, mas sim, uma preocupação com entendimentos

distintos do pretendido.

Tal mudança de termologia acontece pelo seguinte:

[...] afirmar que o espaço é produzido pela sociedade não garante que se

esteja compreendendo o espaço como parte da sociedade. Pode ser que se

esteja entendendo assim ou, então, ao contrário, como uma externalidade. Há

quem entenda que o espaço geográfico, embora possa ser preenchido a partir

da intervenção humana, é preexistente à sociedade, ele é “o outro da

sociedade”. Concepções assim, radicalmente distintas, costumam estar sob as asas da mesma expressão: espaço social. Oliva (2001, p.27)

Com base na abordagem de Oliva (2001, p.27) “espaço como produção da

sociedade mais não como parte da sociedade, como uma externalidade” nos faz pensar que a

discussão que permeia as análises em torno da Geografia é, pois, a definição do espaço nele

próprio. Para tanto, duas são as abordagens: de um lado, o espaço externo, como anterior à

sociedade, do outro, o espaço enquanto produto da sociedade na sua relação com o meio. Para

Oliva (2001, p.29), “O estranhamento vem dos próprios geógrafos habituados a missões mais

modestas, como a descrição e o entendimento do espaço”.

O espaço geográfico abrange ampla abordagem com diversas contribuições e

significados. Temos, na abordagem de Corrêa (2011), o espaço sendo abordado da seguinte

maneira: [...] uma porção específica da superfície da terra identificada seja pela natureza [...]

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como o homem ali imprimiu as suas marcas, seja com referência à simples localização.

Corrêa (2011; p.15)

Nesse enfoque, o espaço leva em conta a configuração existente na superfície

terrestre, forma física presente no meio, e também, o espaço de uso, de trabalho e vivência

humana, onde são expressos formas e símbolos da organização humana: espaço da cidade, do

bairro, da rua, da praça etc.

Compactuamos da afirmação de que “o que não está em nenhum lugar não existe”

Aristóteles apud Santos (1977, p.81), ou seja, todos os elementos existentes nos lugares os

configuram de alguma forma. Assim, se não existisse nenhum elemento, inclusive o homem,

para a esses dar significado, então nem mesmo a noção de lugar existiria. O espaço em tal

acepção remete à existência de elementos, seja de ordem natural ou produzidos pela ação do

homem (levado em consideração as relações sócio-espaciais) que caracteriza o lugar, e de

forma geral, compreende o global. Logo, o que existe, está em um lugar e, consequentemente,

configura o espaço.

Milton Santos, em sua abordagem “sociedade e espaço: formação espacial como

teoria e como método”, feita em Junho de 1977, no boletim paulista de Geografia, disse o

seguinte:

Pode-se dizer que a Geografia se interessou mais pela forma das coisas do que pela sua formação. Seu domínio não era o das dinâmicas sociais que criam e transformam

as formas, mas o das coisas já cristalizadas, imagem invertida que impede de

apreender a realidade se não se faz intervir a História. Se a Geografia deseja

interpretar o espaço humano como o fato histórico que ele é, somente a história da

sociedade mundial, aliada à da sociedade local, pode servir como fundamento à

compreensão da realidade espacial e permitir a sua transformação a serviço do

homem. Pois a História não se escreve fora do espaço e não há sociedade a-espacial.

O espaço, ele mesmo, é social. Santos (1977; p.81)

Podemos, a partir de tal abordagem, entender que o espaço humano deve ser levado

em consideração tanto as dinâmicas locais, como as globais, conforme afirmou Santos (1977,

p.81), “somente a história da sociedade mundial, aliada à da sociedade local, pode servir

como fundamento a compreensão da realidade espacial”. Podemos ainda, levar em

consideração “o espaço humano como o fato histórico que ele é”, Santos (1977, p.81), ou

seja, assim como o tempo depende de espaço para acontecer, o espaço humano, para ser

compreendido suas transformações, necessita levar em consideração o contexto histórico, o

passado das coisas, os eventos ocorridos ao longo do tempo e que são parte do processo que

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resulta na realidade vivenciada pelo ser humano. Como diz o próprio Santos (1977, p.81), “a

História não se escreve fora do espaço e não há sociedade a-espacial”.

Na sua obra intitulada “Espaço e método”, Milton Santos (1997, p.1) nos sugere que

o espaço seja definido não como mera condição da evolução das relações humanas, mas

também, seria ele, “fator [determinante] da evolução social”. Entendendo dessa forma, a sua

existência seria tida anteriormente a ação do homem. Para tanto, somente quando possui

atuação humana é que o espaço ganha significado e descrição.

Enquanto fundamento da evolução, o espaço não é apenas uma condição, ou seja, “a

essência do espaço é social”, uma vez que o próprio “espaço não pode ser apenas formado

pelos objetos geográficos, naturais e artificiais” [rios, florestas, serras, praças, ruas, pontes,

etc.]. “O espaço é tudo isso, mais a sociedade”, Santos (1977; p.1).

Para o Francês Oliver Dollfus (1982, p.9) “sendo um espaço localizável, o espaço

geográfico é susceptível de ser cartografado”. Assim, abordou o espaço geográfico dotado de

caracteres, a exemplo, o espaço localizável e diferenciado em que, cada um dos pontos do

espaço geográfico, estando localizado na superfície terrestre, seria passível de atuação da

cartografia.

Este espaço é também um espaço diferenciado. Por sua localização e pelo jogo de combinações que preside a sua evolução, todo elemento do espaço e toda forma de

paisagem constituem fenômenos únicos que jamais podem ser encontrados

exatamente iguais em outros locais ou em outros momentos”. DOLLFUS (1982, p.9)

Por não existir duplicidade dos elementos presentes no espaço geográfico, ou seja,

pelo fato de que, apesar de existirem elementos parecidos, da mesma espécie, estrutura física,

comportamento e/ou aparência, nenhuma paisagem possuirá outra igual, nos levando a

entender que, o espaço é diferenciado.

Em espaços com elementos naturais, aqueles sem atuação humana (Ex: rios,

florestas, montanhas) ou em espaços dotados de elementos culturais, produzidos por alguma

modificação do homem (Ex: lugares onde a cobertura natural é substituída por estruturas de

metal e concreto), todos eles existirão por toda superfície terrestre, entretanto, todos terão suas

peculiaridades distintas. Não existirão duas montanhas idênticas, como também, as

construções de metal e concreto que, por mais que sejam pensados, planejados e criados sobre

medidas, serão sempre diversos.

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Outra característica presente na definição de espaço geográfico, trazida por Dollfus

(1982, p.11), é a possível característica mutável que se descreve. Embora a superfície terrestre

modifique-se constantemente, isso não é impedimento para que ela seja descrita, pois, toda

paisagem só existe na atualidade por causa dos acontecidos, e, mesmo se estas forem poucas,

não será impedimento para serem descritas e investigadas sobre como se deu seu processo de

desenvolvimento ao longo do tempo e no espaço.

O espaço geográfico é um espaço mutável e diferenciado cuja aparência

visível é a paisagem. É um espaço recortado, subdividido, mas sempre em

função do ponto de vista segundo o qual o consideramos. DOLLFUS (1982,

p. 8).

Milton Santos (2009) expõe a necessidade de a Geografia considerar “o espaço como

conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações”. Os objetos não teriam

sentido nem nos permitiriam o conhecimento, caso não estivessem ligados aos sistemas de

ações, da mesma forma que as ações obrigatoriamente necessitam estar ligadas diretamente

aos sistemas de objetos.

Ao analisar o sistema de objetos é necessária a distinção entre objetos

artificializados, como produto de elaboração social, onde, primeiramente associamos com

aquilo que é artificial, resultado da ação humana (computadores, postes, casas, calçadas,

automóveis), e objetos naturais, elaborados naturalmente, produzidos pela natureza sem

interferência do homem (florestas, rochas, montanhas, rios etc.).

O espaço, apontado por Lefebvre (1974) apud Godoy (2004, p.3), trata-se do “lugar

onde as relações capitalistas se reproduzem e se localizam com todas as suas manifestações

de conflitos e contradições”, ou seja, o espaço resulta da apropriação e modificação do meio

motivada principalmente pela lógica capitalista da troca.

...o espaço revelava no conteúdo de suas formas as mesmas contradições que o

produziram. Essas, por sua vez, geravam também as condições de reprodução das

relações sociais. Nesse sentido, o espaço é resultado e, ao mesmo tempo, condição

da reprodução social. Em outras palavras, o espaço consiste em um “efeito” que se

transforma em “causa”, ou, um resultado que se transforma em processo. Godoy

(2004, p.3).

Se for o espaço, “lugar das contradições, lutas e relação capitalistas”, conforme

aborda Lefebvre (1974) apud Godoy (2004, p.3), então a mesma dinâmica que resulta,

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também é responsável pela produção do espaço, ou seja, as formas constituídas no espaço são

resultados, mas também serão produtores de novos espaços, segundo a lógica de Godoy

(2004, p.3) de que “o espaço consiste em um “efeito” que se transforma em “causa”, ou, um

resultado que se transforma em processo”.

É na perspectiva de espaço geográfico como produção da sociedade em que as

relações sociais possibilitam a produção de novos espaços e, na reconfiguração dos já

existentes, a partir de certa intencionalidade (necessidade do indivíduo) que, ao longo do

tempo, foram desenvolvidas determinadas técnicas, essas são repensadas juntamente com

conhecimentos herdados por costumes, crenças, culturas, tradições de povos ancestrais, e

formuladas com auxílio de novas técnicas.

Diante do já abordado podemos compreender o espaço geográfico composto por duas

naturezas; a primeira formada pelos elementos naturais e a segunda como aquilo que é criado

pelo homem conforme nos apontou Rodrigues (2008, p. 37). Também vimos o espaço

enquanto “conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações”, (Santos, 2009;

p. 63). O espaço é tudo isso; a soma dos elementos dotados de funcionalidades presentes no

meio, onde as transformações sócio-espaciais e naturais acontecem e, de algum modo,

relacionam-se com o cotidiano do ser humano.

Não avançaríamos a análise sobre o espaço público e a dinâmica dos espaços de

lazer, se não tivéssemos chegado à compreensão do espaço, conceito base da Geografia que

antecede e fundamenta nossas abordagens quanto aos espaços, pensados para o lazer em

público, das praças, calçadas, ruas e vielas.

Somente a partir da existência de um ser racional é que foram atribuídos significados

as coisas: elementos naturais e culturais presente na superfície. Para tanto, ao tratar de

“espaço geográfico” e sua produção, remetemo-nos a construção existente a partir de uma

lógica sociocultural, um espaço sendo reproduzido a cada instante. Assim, o espaço

geográfico pode ser visto como parte de um todo, onde as relações sociais são responsáveis

pelo construto de novos elementos no espaço natural.

Os espaços, antes tidos como natural cada vez mais recebem a ação do homem

(homem x meio), responsável, junto à relação social (homem x sociedade), pela produção e

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desenvolvimento das cidades. Essas, por sua vez, devem ser compreendidas em sua essência,

distintamente do urbano.

1.2 A cidade e o urbano

Segundo Cavalcanti (2012 p.63) “existe uma forte conexão entre a produção desse

lugar [a cidade] e a cultura das pessoas que neles vivem”. A cidade não pode, pois, ser

considerada apenas como um local produzido para acolher os indivíduos sociais, é, na

verdade, a realidade social vivenciada por esses indivíduos, expresso na configuração da

cidade. Logo, o modo de vida das pessoas definirá o urbano.

A cidade, ainda segundo Cavalcanti (2012 p.63 e 64), é “local de encontro social

que perpassa o simples abrigo da população urbana, consiste na produção do modo de vida

que se generaliza”.

Na abordagem de Matos (2010):

A cidade é um espaço construído constituído por espaços públicos, abertos a todos

e espaços privados, de acessibilidade limitada. Na maioria das cidades os espaços

privados ocupam uma parte significativa do seu território, contudo, aquilo que

melhor as caracteriza são os seus espaços públicos. (p.18, grifo nosso)

Em suas colocações, a autora frisa a cidade como um espaço que é construído -

atuação das relações humanas (a cidade enquanto produto da ação social) - e constitui-se de

espaços públicos abertos a todos (a cidade enquanto produtora das relações entre os

indivíduos). Também é a cidade, dotada de espaços privados, aqueles delimitados por alguns

indivíduos que, ao apoderarem-se desses espaços, exercem poder de uso sobre os mesmos,

limitando acesso aos demais.

De certo, é notória a aproximação dos significados entre cidade e urbano. A cidade

remete ao espaço físico (casas, ruas, bairros), enquanto o urbano necessita de uma análise

mais ampla. Implica no modo de vida que o indivíduo possua, vivendo no espaço físico da

cidade (acesso a serviços de bancos, supermercados, farmácias, educação, saúde, lazer,

previdência social, transportes etc.).

É na cidade onde são (re) criados os espaços de convívio urbano, aqueles destinados

ao uso em comum pela sociedade, espaços do encontro e do convívio social, que na maioria

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das vezes atrai indivíduos ou grupos a partir de uma identificação com o lugar, formando

assim, territorialidades.

O espaço urbano é tido, nos escritos de Corrêa (1995), como “espaço fragmentado e

articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas que, em

termos gerais, formam um conjunto de diferentes usos da terra juntos entre si”.

É fragmentado porque agrega diversos setores para poder configurar a cidade. A

administração pública não consegue sozinha produzir o espaço urbano, assim como também

não conseguiriam os empresários, moradores, diversas classes sociais, dentre outros, caso

todos esses não possuam de certa forma um contato direto ou indireto que os interliguem (seja

uma relação de troca comercial, serviços ou contatos diversos no dia a dia).

Corrêa (1995) completa a definição de espaço urbano como:

conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas,

como: o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviço

e de gestão; áreas industriais e áreas residenciais, distintas em termos de forma e

conteúdo social; áreas de lazer; e, entre outras, aquelas de reserva para futura

expansão. Corrêa (1995, p.1)

Identifica-se o espaço urbano como a parcela resultante das utilizações do ser

humano e produções advindas do convívio social, ou seja, aqueles espaços onde o homem

expressa suas vivências e experiências, produzindo ao seu redor, estruturas físicas para o

convívio sócio-espacial que levam em consideração as correlações “homem x sociedade” e

“sociedade x natureza”.

A seguir abordaremos os agentes produtores do espaço urbano na concepção de

Corrêa (1995, p.1). São eles:

Os proprietários dos meios de produção (grandes industriais)

Proprietários fundiários

Promotores imobiliários

O estado

Os grupos sociais excluídos

Os proprietários dos meios de produção (grandes industriais) são aqueles que

possuem elevado poder econômico, ou seja, detém porções do espaço geográfico demarcado e

em diversos casos, dotados de construções diversas.

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Para Corrêa (1995, p.1) “são, em razão da dimensão de suas atividades, grandes

consumidores de espaço. Necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos

locacionais pertinentes às atividades de suas empresas”. A atuação dos grandes produtores

industriais depende, por exemplo, de uma logística territorial (construção de novas vias de

acesso para escoamento da produção, emprego, atração de novas atividades econômicas –

comércio e serviços, entre outros).

Os proprietários de terras trabalham com a especulação e valorização dos terrenos

em pontos estratégicos (localização, proximidades com vias de acesso, saneamento,

iluminação, calçamento, dentre outros) com intenção de maior lucratividade com relação à

venda ou troca de terrenos. Segundo Corrêa (1995, p.2), “alguns dos proprietários fundiários,

os mais poderosos, poderão até mesmo ter suas terras valorizadas através do investimento

público em infraestrutura, especialmente viária”.

Esses proprietários fundiários que trabalham com a valorização do espaço, são

aqueles possuidores de lotes de terras com algumas individualidades e atrativos como: boa

localização, paisagens naturais atraentes, proximidades com rios, cachoeiras ou espaços

verdes – serras, resquícios de mata atlântica, nascentes etc. Em casos de lotes no perímetro

urbano, os terrenos possuem disponibilidade de iluminação pública, vias de acesso. Muitos

terrenos baldios pertencem a esses proprietários fundiários que mesmo sem uso só são

vendidos por um alto valor de mercado.

Para Corrêa (1995), entende-se por promotores imobiliários:

conjunto de agentes que realizam, parcialmente ou totalmente, as seguintes

operações: incorporação; financiamento; estudo técnico; construção ou produção

física do imóvel; e comercialização ou transformação do capital-mercadoria em

capital-dinheiro, agora acrescido de lucro. Corrêa (1995, p.3)

O que diferencia os produtores fundiários dos produtores imobiliários é que,

enquanto os fundiários articulam-se em torno do lucro com o mercado dos lotes de terras, os

imobiliários trabalham com os imóveis já prontos para venda, ou aluguel, e a construção de

novos (compra, venda e financiamento).

Também o estado atua na organização espacial da cidade, segundo colocações de

Corrêa (1995, p.3). Em sua descrição, “o estado tem atuação complexa e variável tanto no

tempo como no espaço, refletindo a dinâmica da sociedade da qual é parte constituinte”, ou

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seja, tem o poder de, por exemplo, agir diretamente no espaço urbano a partir das cobranças

de impostos, desapropriações, construção de vias de acessos; estradas, ruas, vielas, viadutos e

pontes, além da construção de escolas, hospitais, praças, calçadas etc.

Finalizando os cinco maiores agentes produtores do espaço urbano, temos os grupos

socialmente excluídos; que não possuem moradia nem condições dignas de sobrevivência

(moradia, saneamento básico, acesso a serviço de saúde etc.). Segundo Corrêa (1995), são

grupos excluídos aqueles que:

não possuem renda para pagar o aluguel de uma habitação digna e muito menos para

comprar um imóvel. Este é um dos fatores, que ao lado do desemprego, doenças,

subnutrição, delineiam a situação social dos grupos excluídos. A estas pessoas

restam como moradia: cortiços, sistemas de autoconstrução, conjuntos habitacionais

fornecidos pelo agente estatal e as degradantes favelas. Corrêa (1995, p.3)

A leitura trazida por Corrêa (1995) se faz necessário para compreensão de como o

espaço é constantemente transformado a partir dos proprietários dos meios de produção,

proprietários fundiários, promotores imobiliários, o estado e os grupos socialmente excluídos,

já que levamos em consideração as influências tidas no cotidiano do ser humano e na

dinâmica da cidade, a exemplo, as territorialidades que surgem, motivadas por uma

apropriação por identidade e pertencimento do indivíduo nos espaços públicos (praças e

espaços de lazer).

1.3 O simbólico-cultural e a apropriação nos espaços-territórios-públicos

Devemos deixar claro que, o intuito de abordar a formação de territorialidades nos

espaços urbanos, trata-se apenas de um viés secundário (plano de fundo), para entendermos a

existência de uma “apropriação” dos lugares por parte dos indivíduos e/ou grupos sociais no

cotidiano de uma sociedade. Sendo assim, uma apropriação por sentir-se pertencente, por

manter vínculo de identidade com os elementos de tal lugar, e não pela relação de poder,

central na discussão de território.

O homem nasce com o território, e vice-versa, o território nasce com a civilização.

Os homens, ao tomarem consciência do espaço em que se inserem (visão mais

subjetiva) e ao se apropriarem ou, em outras palavras, cercarem este espaço (visão

mais objetiva), constroem e, de alguma forma, passam a ser construídos pelo

território. Haesbaert et Limonad (2007, p.42)

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A abordagem em Haesbaert e Limonad (2007) de que o “homem nasce como o

território e o território nasce da civilização” nos aponta que há uma relação direta entre

convivência social e o território. Essa ligação está na necessidade de o homem ser capaz de

pensar racionalmente. Logo, dotam-se de capacidades, interesses e saberes que o possibilitam

domínio e conquista de espaços. Como os próprios autores colocam (p.42) “os homens

constroem e passam a ser construídos pelo território, ou seja, o território influencia no modo

de vida que o indivíduo leva na sociedade da mesma forma que esse mesmo território também

depende do indivíduo – de seus interesses, buscas e conquistas - para ser construído.

Segundo Saquet et Briskievicz (2009, p.8) “Os homens, através de seus gestos,

necessidades e aprendizagens produzem e renovam suas identidades”. A cada dia, novos

atrativos podem surgir na sociedade, novos elementos físicos podem ser produzidos pelo

homem, modificando a rotina de um indivíduo ou grudo social. A criação de uma nova praça,

por exemplo, pode atrair um novo público para o lugar, novas dinâmicas (territorialidades)

são criadas atraindo novos atores que, ao identificarem-se, atuarão nesse espaço onde antes

não havia tal movimentação.

Essa relação identidade-território toma forma de um processo em movimento, que se

constitui ao longo do tempo tendo como principal elemento, o sentido de

pertencimento do indivíduo ou grupo com o seu espaço de vivência. Esse sentimento

de pertencer ao espaço em que se vive, de conceber o espaço como locus das

práticas, onde se tem o enraizamento de uma complexa trama de sociabilidade é que

dá a esse espaço o caráter de território. SOUZA e PENON (2007, p. 127 e 128)

O individuo cria laços de identidade e se territorializa ao utilizar os elementos do

espaço que frequenta, dotando-se de certa apropriação. Seu convívio com as demais pessoas e

o entorno, de forma geral, cria um sentimento que faz o indivíduo pertencente a esse espaço

por ele habitado.

Embora alguns autores abordem o território enquanto apropriação pela força e poder,

em muitos casos, com finalidades voltadas a reprodução capitalista do espaço, pretende-se

ainda trazer para a discussão, o dialeto das constantes territorialidades formadas a partir da

apropriação do espaço por meio de identificação com o meio, não carecendo de força nem

intimidação do uso. Logo, outros indivíduos que também se sintam bem ao usar tal espaço,

atraídos pela dinâmica em seu entorno, adequação de convivência, adaptam-se a esses espaços

e apropriam-se de tais “territórios públicos”.

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Os “territórios públicos” correspondem aos espaços de convívio dos indivíduos

(grupos sociais) de uma sociedade. Diferenciam dos espaços públicos pela criação de vínculos

com esses lugares. Identificamos os espaços públicos, de forma geral, pela facilidade de

acesso, aqueles abertos ao público mesmo que não possuam participação ativa de grupos

sociais (praças, calçadas, ruas, dentre outros). Esses mesmos espaços podem ser considerados

“territórios públicos” ao passo que se cria uma identidade, vínculo abstrato que denota

apropriação, afinidade, identidade, pertencimento sem necessariamente forma de intimidação

de uso desses espaços.

Para Saquet et Briskieviez (2009), uma importante abordagem de território feita por

Raffestin é bem adaptada ainda na atualidade, uma vez que, compreende a noção de

territorialidade enquanto atuação do estado, mas também, da apropriação simbólica dos

elementos presente no cotidiano das pessoas.

Na Suíça, Claude Raffestin, desde os anos 1970, constrói uma argumentação em

favor de uma concepção multidimensional de território e da noção de

territorialidade[...] o território e a territorialidade ocorrem através da atuação do

Estado, porém, acontecem também através de outras ações sociais, efetivadas por

empresários, organizações políticas e indivíduos. É uma concepção que

consideramos renovada, histórica, crítica e eminentemente reticular, inspirando

compreensões que podem orientar o redimensionamento de relações de poder e a

elaboração de projetos de desenvolvimento que valorizem as identidades simbólico-

culturais”. Saquet et Briskieviez (2009, p.5)

O território, na abordagem de Saquet et Briskieviez (2009, p.5), é movido por uma

relação de poder político-administrativo (o estado) e econômico (relação de troca movida pelo

capital), o que independe que aconteçam as territorialidades a partir do poder contido na

relação identitária dos indivíduos com elemento simbólico-cultural presente nos espaços

acessíveis a sociedade.

Território, assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao

tradicional "poder político". Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais

explícito, de dominação, quanto ao poder no sentido mais implícito ou simbólico, de

apropriação. Lefebvre distingue apropriação de dominação ("possessão",

"propriedade"), o primeiro sendo um processo muito mais simbólico, carregado das

marcas do "vivido", do valor de uso, o segundo mais concreto funcional e vinculado ao valor de troca. Haesbaert (2007; p. 20 e 21)

O que Haesbaert (2007, p. 20 e 21) aponta como “poder no sentido mais explícito, de

dominação” “sendo mais simbólico, carregado de marcas do “vivido”, do valor de uso”, é,

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pois, a formação de territorialidade a partir da identificação tida pelo indivíduo com os

elementos que configuram o espaço público que, ao tornar permanente o uso de tal espaço, o

torna um território-público.

Tratar de território-público implica na funcionalidade provocada e percebida pelos

indivíduos através dos elementos (re) criados em determinado espaço, configurando-o e

dotando-o de significado para aquele (es) que o frequentam.

As territorialidades que aqui abordamos enquanto territórios-públicos se dão no

espaço público urbano. Para Laurentino (2006, p.307) são duas formas de uso desse espaço

público, “uma com restrição de uso e a outra com acesso sem restrições”. Vejamos:

Espaço público é entendido como áreas de apropriação pública. São espaços públicos aqueles com certa restrição de uso, muitas vezes funcionalizados ou que se

destinam a um determinado grupo social, como escolas, hospitais, creches,

instituições etc. Há ainda aqueles de acesso sem restrições à população e de livre

circulação, como são os espaços de lazer, recreação (parques, ginásios

poliesportivos, etc.) ou aqueles destinados aos movimentos de veículos e pessoas,

como os logradouros públicos (ruas, praças, etc.). Laurentino (2006, p.307)

Laurentino (2006) aborda ainda que:

[...] todos esses espaços possuem em comum o fato de serem áreas do poder público

geridas pelo Estado. Pertencentes, enfim, à coletividade e com valor de uso. E, como

valor de uso, o espaço público tem também a importância de ser o espaço criativo,

da espontaneidade, da beleza das obras e das festas etc. p (307 e 308)

Tal citação feita por Laurentino (2006) nos aponta tais espaços geridos pelo estado

com o intuito de serem destinados à sociedade, aberto aos cidadãos e, por isso, dotados de

elementos que os embelezam, os tornam atraentes e preenchidos de funcionalidades para seus

frequentadores. Logo, estão disponíveis para uso (tráfego livre de pessoas, caminhada com os

amigos, atividade física, paqueras, e diversas outras práticas de lazer).

Segundo Hannah Arendt (2007, p.15), “são três as atividades humanas

fundamentais: labor, trabalho e ação”. A primeira trata-se do “processo biológico do corpo

humano” e não é de interesse, nesse trabalho, de aprofundarmos em tal discussão. Entretanto

interessa-nos tratar das duas outras atividades humanas fundamentais, o “trabalho” e a

“ação”.

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O trabalho é a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana,

existência esta não necessariamente contida no eterno ciclo vital da espécie... produz

um mundo “artificial” de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural.

ARENDT (2007, p.15)

Ao abordar trabalho, Arendt (2007, p.15), expõe a característica “artificial” presente

na “existência humana”. A produção dessa artificialidade é responsável pelo surgimento e

crescimento das cidades, local do habitar em sociedade, que expressa a lógica trabalhista, a

produção de novos elementos a fim de aprimorar a vida em sociedade (moradia, vias de

acesso – pontes, estradas – praças, prédios públicos etc.), em linhas gerais, atender aos

interesses da produção artificial humana.

A ação, única atividade que exerce diretamente entre os homens sem a mediação das

coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que

homens, e não homem, vivem na terra e habitam o mundo. ARENDT (2007, p.15)

Conforme aborda Arendt (2007, p.15), a ação independe a artificialidade ou a

matéria que está no entorno. Embora sejamos todos humanos, somos diferentes entre todos, e

isso caracteriza a condição da ação humana. A ação em Arendt (2007) é aqui compreendida

como a condição humana de relacionar-se com seus semelhantes.

Em Serpa (2004) temos abordagens sobre acessibilidade aos espaços públicos

enquanto espaços de cidadania, da ação política, onde as formas físicas não dispõem de suas

existências por mero acaso. Pelo contrário, tratar de acessibilidade requer levar em

consideração os elementos concretos e os significados por esses expressos. Não se trata de

uma visão simplista - aspectos concretos - dos elementos presentes no meio (ruas, calçadas,

residências, praças e outros), requer ainda, compreendermos o simbolismo presente.

Se é certo que o adjetivo “público” diz respeito a uma acessibilidade generalizada e

irrestrita, um espaço acessível a todos deve significar, por outro lado, algo mais do

que o simples acesso físico a espaços “abertos” de uso coletivo”. Serpa (2004, p.22)

A citação acima aponta para um espaço que, de fato, deveria voltar-se para o uso dos

espaços públicos pela sociedade, não como mero meio de idas e vindas ou apenas um “espaço

aberto ao coletivo”, Serpa (2004, p.22). A essência do espaço público está no significado

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criado entre o indivíduo e o meio, um elo que faz sentir-se pertencente; sem medo ou

restrição, sem represália nem algum outro tipo de desconforto.

É, pois, no acesso diferenciado aos espaços públicos de acordo com a classe social

do indivíduo que, segundo Serpa (2004; p 26) “a acessibilidade e a alteridade [relação com o

externo] apresentam uma dimensão de classe evidente, que atua na territorialização (e, na

maior parte dos casos, na privatização) dos espaços públicos urbanos”.

Esclarece ainda que:

A identidade social se define e se afirma a partir de uma alteridade que expressa

também uma dimensão de classe, uma alteridade ao mesmo tempo “desigual” e

“diferente”. Desse modo, a acessibilidade ao espaço público da/na cidade

contemporânea é, em última instância, “hierárquica”. Serpa (2004, p.26)

O que Serpa (2004, p.26) nos passa é que a relação com o externo implica no

conhecimento de realidades distintas, ou seja, ficar diante do novo, do economicamente,

socialmente e/ou culturalmente diferente. Logo, diferenciadas classes sociais relacionando-se,

provocarão “desconforto” e modos diferentes de acesso aos espaços urbanos. Há, portanto,

uma hierarquização por parte das classes sociais economicamente influentes em relação às

demais. Assim, acontece a acessibilidade, ou a ausência dela.

Há que se fazer uma abordagem de espaço público e privado para compreendermos a

lógica de ambos. De certo, num primeiro momento, espaços públicos e privados possuem

respectivamente a conotação de espaços de livre acesso e espaços de acesso limitado. Porém,

ao aprofundarmos essa discussão, o que podemos questionar em tal análise é se, seria o

espaço público mero contrário do espaço privado e vice-versa? ou se existem aspectos que

vão além de espaços de acesso e acessibilidade limitada?

Matos (2010) esclarece que:

A distinção público/privado, em termos jurídicos, por exemplo, não é senão

parcialmente pertinente, porque os espaços públicos não são redutíveis àqueles que

pertencem à comunidade, ao "domínio público". Certos espaços com um estatuto

jurídico ou gestão privada são, de facto, espaços públicos, entradas de edifícios,

cafés, centros comerciais[...] etc., no sentido de que o seu uso é praticamente livre

para todos, mas, reciprocamente, muitos destes domínios públicos não são acessíveis

a todos, porque o seu direito de uso é condicionado pelo pagamento de entradas, por

exemplo, ou reservado aos seus residentes. (p.19)

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A abordagem trazida por Matos (2010, p.19) nos faz pensar que lugares públicos, a

exemplo de Hospitais, Universidades, escolas e outros, possuem seus espaços com acesso

limitado, ou seja, para entrar nesses locais, o indivíduo carece de autorização da

administração ou responsáveis legais. Assim, o prédio de uma escola, mesmo sendo público

não pode ser acessado por qualquer indivíduo e a qualquer horário.

Algumas praças em que são instaladas algumas lanchonetes, churrasquinhos e

barezinhos, ou ainda, calçadas de pousadas e hotéis que ofertam serviços e comércios, mesmo

estando dentro de um espaço entendido como público possui intimidação daqueles que não os

frequentam com, por exemplo, o intuito de consumir.

Portanto, para Matos (2010):

[...] de qualquer forma, um espaço público é por natureza mais aberto e a primeira

função que o distingue do espaço privado é a facilidade de acesso. O espaço público

é de todos e de ninguém em particular, em princípio, todos o podem usar com os

mesmos direitos. (p. 20)

É nos espaços públicos das praças que mais ocorrem os vínculos que definem um

lugar destinado à prática do lazer, tal uso torna-se frequente quando os elementos que

configuram tal espaço (iluminação, segurança, acessibilidade, bancos/acentos, arborização e

outros) permitam uma ligação com o indivíduo. Há uma aproximação entre indivíduo, os

grupos sociais e espaço criado (a cidade) para a vida em sociedade, onde ocorrem os

encontros e conflitos, características da esfera pública.

1.4 Lugar, lazer e seus conceitos

O lugar, na abordagem de Z. Mlinar (1990, p.57) apud por Santos (2009, p.314) é

tido como “um intermédio entre o Mundo e o indivíduo”. A interpretação de Santos (2009)

associa o lugar com a globalização, onde “a alusão a lugares e a coisas distantes, revelam, por

contraste, no ser humano, o corpo como uma certeza materialmente sensível, diante de um

universo difícil de apreender”, Santos (2009, p. 313 e 314). Os lugares possuem suas

peculiaridades locais, porém comunica-se com outros lugares, seja numa esfera política,

econômica ou histórico-cultural. Dessa forma há uma relação local-global e global-local.

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[...] o lugar é principalmente um produto da experiência humana: “(...) lugar

significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere a objetos

e atributos das localizações, mas à tipos de experiência e envolvimento com o

mundo, a necessidade de raízes e segurança” (Relph, 1979). Ou ainda, “lugar é um

centro de significados construído pela experiência” (Tuan, 1975). LEITE (1998;

p.10)

O lazer na discussão de Leite (1998, p.10) nos é compreendido como local em que o

indivíduo possui ligações e proximidades, onde há um contato e uma intimidade de uso gerará

um sentimento de pertencimento. Não é possível se considerar um lugar, aquele espaço nunca

frequentado, mesmo que visto por fotos e vídeos. O vínculo que determina laços,

identificação e uso, é, pois, a experiência, o contato com os elementos presentes no espaço.

Quando vivenciado e criado laços, o lugar ganha funcionalidade. O indivíduo passa

usá-lo para suas necessidades, inclusive para prática do lazer, como acontece nas praças e

espaços de lazer em que o indivíduo passa a frequentar, seja no passeio para aproveitar o

tempo livre do trabalho, encontrar com os amigos, sair com a família, entre outros.

1.5 Tempo de diversão, da folga e do ócio: a tentativa de conceituar o lazer

A partir da leitura de lazer e atividade física, Mota (2001, p.125) aponta três formas

de caracterização: “tempo livre”, “atividade recreativa”, e “lazer como atitude”. Faz um

recorte acerca das atividades lúdicas enquanto parte integrante da vida do ser humano.

Na Grécia, sociedade em que o trabalho era garantido pelos escravos, o estilo de

vida permitido e dedicado à classe privilegiada (os cidadãos) estava concentrada no

cultivo do espírito, na contemplação, sendo esta liberdade total de obrigações,

condição fundamental para a natureza do Homem Livre. MOTA (2001, p.125)

[...] na idade média, as comunidades rurais possuíam um elevado espírito de

convivência comunitária muito pela influência da Igreja. A nobreza encontrava na

caça, na equitação e nos jogos de combate (justas e os torneios) a sua forma privilegiada de ocupação, a qual definia também a sua condição social. MOTA

(2001, p.125)

As abordagens feitas por Mota (2001) nos fazem compreender a atividade lúdica

como fundamental no cotidiano da sociedade, desde tempos remotos. Seja como na Grécia

antiga em que o lazer, mesmo ainda não discutido como tal, remetia ao “cultivo do espírito”

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ou, na Idade Média, tido como atividades de caça, equitação e jogos de combate, Mota (2001,

p.125), nos indica a intenção do indivíduo possuir momentos de “bem-estar próprio”, ou seja,

independente das formas de uso, tempo e espaço, o indivíduo sempre buscou momentos de

descanso (não apenas do trabalho), mas que proporcionasse paz, liberdade, tranquilidade,

aventura, o próprio lazer.

Ainda:

[...] as formas de ocupação dos tempos livres nas sociedades industriais e pós-industriais acompanham a expansão econômica, resultado da revolução empreendida

pelo processo de industrialização. O lazer cria também postos de trabalho[s]

emergindo[s] como uma estrutura economicamente rentável com enormes

potencialidades de desenvolvimento e exploração. O lazer transformou-se numa

indústria. Vive como muitas outras componentes da vida e estrutura social a era da

globalização; desde os parques temáticos, às cadeias de restaurantes, passando pelos

cinemas multiplex. MOTA (2001, p.125 e 126)

A discussão do lazer é, aparentemente, distorcida quando levado em consideração

apenas influências pós-revolução industrial para analisar a dinâmica do ser humano no tempo

e espaço destinado ao seu bem-estar. A luta pela redução da carga horária e outros direitos

trabalhistas, fizeram impulsionar no intelecto social que o lazer remetia ao tempo contrário de

obrigações trabalhistas.

Em sua dissertação, titulada “Trabalho, tempo livre e lazer: uma reflexão sobre o uso

do tempo da população brasileira”, Ferreira (2010) afirma o seguinte:

[...] o lazer é a satisfação de uma necessidade de emoções fortes, podendo ser visto

como o complemento das atividades formalmente impessoais, oriundas do mundo

do trabalho. Quando se avalia o lazer no espectro do tempo livre, percebe-se que as

atividades voltadas ao lazer não estão em primeiro plano na vida da maioria das

pessoas, muito pelo contrário, só aparecem depois das obrigações trabalhistas, das

familiares, das necessidades básicas, entre outras. (p. 37 e 38)

A abordagem feita pela autora, do lazer, “como complemento das atividades

formalmente impessoais, oriundas do mundo trabalho” é influenciada segundo abordagem de

três conceitos por ela investigado: (i) trabalho como obrigações profissionais contrário ao

tempo livre, (ii) tempo livre como disponível do trabalho e (iii) lazer como atividades de

recreação e divertimento, Ferreira (2010, p .36).

Maya (2008) ao escrever sobre “Trabalho e tempo livre” afirma que:

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[...] tem havido um crescente interesse pela questão do tempo livre, especialmente

nas Ciências Sociais. Embora não muito numerosos, alguns estudos tem sido publicados sobre o assunto, enfocando-o desde diversos pontos de vista.

Consideramos especialmente produtivos aqueles que abordam o tema em conexão

com a questão do trabalho, pois afinal, tempo de trabalho e tempo de não trabalho é

exatamente do que se compõe a vida dos indivíduos. (p. 31)

A afirmação de Maya (2008, p.31) de que “tempo de trabalho e tempo de não

trabalho é exatamente do que se compõe a vida dos indivíduos” soa de forma refutável. O

cotidiano do indivíduo que não trabalha por invalidez ou por aposentadoria, por exemplo, já

negaria tal consideração, afinal, esses também possuem tempo destinado ao lazer.

A definição de trabalho em Maya (2008, p.33), significa “objetivação do homem no

mundo, a exteriorização de sua personalidade,... maneira como sustenta sua existência... uma

atividade precipuamente social”. O trabalho é tido como atuação do homem para sua

subsistência, requer habilidade, força e tempo. Muitos indivíduos possuem uma enorme carga

horária diária no trabalho, disponibilizando de pouco tempo a ser usado para outras

finalidades, inclusive o lazer.

Por outro lado

[...] o tempo livre, expressão à qual nos filiamos em nosso estudo, não há uma

concordância geral dos autores em relação ao seu significado. Muitos entendem que

tempo livre confunde-se com todo o tempo de não trabalho que inclui, por exemplo,

as horas dedicadas ao sono, à alimentação e à higiene pessoal. MAYA (2008, p.34)

Para o autor, o “tempo livre confunde-se com o tempo do não trabalho (tempo do

sono, da alimentação, da higiene etc.)” Maya (2008, p.34). O autor usa o termo “tempo livre”

para expressar a não imposição na decisão do indivíduo, ou seja, o tempo da não

obrigatoriedade do indivíduo, dando-lhe autonomia para decidir o que melhor agrada fazer

naquele momento.

1.6 O lazer no cotidiano urbano

O lazer, é visto na abordagem de Orth et Cunha (2000, p.2), como “uma necessidade

na vida urbana para reabilitação da saúde física, mental e moral humana”. É o lazer,

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entendido segundo esses autores como parte fundamental para vida urbana que muitas vezes

sobrecarrega o indivíduo com a rotina do dia a dia (casa – trabalho – estudos – vida social). O

lazer é compreendido enquanto necessidade de desprendimento do cotidiano para cuidados

com a saúde, para o descanso físico e mental do indivíduo.

Considerado o lazer como importante para vida saudável do indivíduo, nos é

apontado a necessidade de investir em espaços propícios a tal prática, segundo nos escreve

Orth et Cunha (2000).

Os espaços de lazer constituídos por praças, parques, largos e outros destinados ao

encontro, convívio, descanso e ou recreio da população possuem uma importância

acentuada em áreas onde a densidade predial (manifestação do crescimento urbano)

alcança limites máximos de ocupação do solo, sendo a alternativa para agregar

qualidade ao ambiente construído e qualidade a vida das pessoas que nele habitam.

(p.2)

A abordagem trazida por Orth et Cunha (2000, p.2) nos faz enxergar os espaços

urbanos das cidades, cada vez mais dotados de edifícios e carência de espaços destinados ao

lazer. A expansão urbana é, pois, responsável pela ocupação do solo. Em contrapartida,

espaços como praças, parques, lagos e outros, devem ser pensados e criados para atender o

lazer da sociedade contemporânea.

O lazer, por muitos autores é abordado apenas como mera contrariedade do tempo de

trabalho. Afirma-nos Gomes et Melo (2003) que:

[...]o desenvolvimento das primeiras investigações sistematizadas sobre o assunto

têm origem na segunda metade do século XIX. Àquela época, o lazer foi entendido

apenas como um tempo disponível depois das ocupações, como pode ser constatado no Dictionnaire de la langue Française, elaborado por Maximilien Littré no

decorrer dos anos de 1860. Segundo o sociólogo francês Joffre Dumazedier (1973),

esta definição foi reproduzida por vários autores, e somente em 1930 o Dictionnaire,

de Claude Augé, acrescentou um novo significado a este verbete: o lazer passou a

ser concebido como distrações, ocupações às quais o indivíduo poderia se entregar

de espontânea vontade, durante o tempo não ocupado pelo trabalho. (p.25)

Ao discutir “ócio”, nos aponta Gomes (2007):

Os significados atribuídos ao ocio podem, em geral, nos remeter a expressões que

indicam determinadas ações apreciadas por quem a vivencia (como dançar, praticar

ou assistir a esportes, passear, viajar, ler, ir a festas, etc.). Porém, associar o ocio

com as nossas experiências pessoais representa um entendimento limitado sobre a

questão, uma vez que o restringe aos conteúdos de determinadas vivências. O ocio

não pode ser compreendido somente pelo conteúdo da ação, ou seja, não é a

atividade em si que o caracteriza[...] na realidade ocidental o ocio adquire

conotações diversas, tais como descanso, folga, férias, repouso, desocupação,

distração, passatempo, hobby, diversão, entretenimento. Verifica-se, portanto, a

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―polissemia‖ (característica dada a uma palavra que tem várias significações) do

termo ocio na nossa sociedade atual, o que é um reflexo da sua presença na vida

cotidiana. GOMES (2007, p.1)

A autora, ao nos escrever que “o ócio não pode ser compreendido somente pelo

conteúdo da ação” Gomes (2007, p.1), nos faz entender que seu significado vai além do

conteúdo de nossas vivências: do sorvete, do livro, do exercício físico, da bola, do lanche, das

conversas... implica em algo maior, “conforme tido na discussão ocidental de ócio”, permite

“descanso, folga, férias, repouso, desocupação, distração, passatempo, hobby, diversão,

entretenimento” Gomes (2007, p.1). Acrescentaria que o ócio se dá pela energia conquistada

pela ação do jogo de futebol com os amigos, pela impressão de conforto e satisfação ao tomar

um delicioso sorvete numa tarde de calor, ou ainda, pela sensação de realização, por participar

de momentos (sair para conversar, ir numa festa, fazer um lanche com amigos) e sentir-se

pertencente a um grupo social.

O ócio compreende, desta maneira, a vivência de inúmeras manifestações da cultura,

tais como o jogo, a brincadeira, a festa, o passeio, a viagem, o esporte e também as

diversas formas de artes (pintura, escultura, literatura, dança, teatro, música,

cinema), entre várias outras possibilidades. Inclui, ainda, a contemplação e o

descanso como opções, uma vez que estas e outras manifestações culturais podem

constituir, em nosso meio social, notáveis experiências de ócio. GOMES (2007, p.4)

Os escritos de Gomes (2007, p. 1 e 4) nos faz compreender que o tratamento do

“ócio” deve ser levado em consideração à variação de significado nas pessoas. Assim, passear

com amigos, tomar sorvete, pintar um quadro, jogar bola etc., pode se compreender por parte

de alguns indivíduos como um tempo de ócio e, para outros não, porque sensações são

sentidas distintamente pelos indivíduos, as formas de gosto variam.

Embora existam diversos autores que discutam o lazer como resultante do tempo

livre, da folga do trabalho, entendemos que sua definição vai além do mero uso a que se

destinam casos específicos.

Como já foi abordado, o que pode ser considerado lazer para um, pode não ser para

os demais. Dessa forma, o lazer não remete ao tempo livre, da simples folga do trabalho. Esse

seria um caso específico que, por si só, não consegue definir todo o contexto a que se confere

o lazer.

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O lazer perpassa o tempo de folga, do descanso pós-horário de trabalho, mais que

isso, o lazer requer relaxamento, liberdade, sentimento de bem-estar, diversão,

entretenimento, repouso, entre outros.

O lazer acontece nos momentos agradáveis ao indivíduo e, dessa forma, é anterior a

lógica do lazer pensada pós-revolução industrial, de um lazer para “recarregar as energias” do

físico e do intelecto, para poder retornar ao trabalho. Questionaríamos se, por exemplo, o

indivíduo não poderia ter alguns momentos no seu trabalho que os considerassem divertido,

empolgante, que proporcionasse o próprio lazer? ou ainda se só existe o lazer para aqueles

que trabalham, haja vista, crianças, jovens e idosos que não trabalham, por acaso esses, não

usufruem tempos de lazer?

Um agente ou guia turístico (quando do acompanhamento de viagens guiadas), um

geógrafo em suas aulas de campo (nos momentos de investigações científicas – trilhas e

excursões em serras, chapadas, morros, metrópoles e etc.), um analista de sistema (criando

programas digitais, fazendo o que gosta de fazer), por exemplo, não poderiam sentir-se bem,

divertidos, prazerosos, empolgados e até mesmo relaxados. O intuito não é generalizar com

exemplos, pelo contrário, a tentativa é de negar a generalização utilizada para conceituar lazer

como mero tempo livre, da folga do trabalho.

Sobre o segundo questionamento “se só existe o lazer para aqueles que trabalham?

Não. O lazer é tido por todos, inclusive crianças, jovens e idosos. O lazer independe do tempo

de folga daqueles que trabalham. Caso questionado, o que seria considerado o tempo de

descanso do trabalho, a resposta dada estaria na própria pergunta, ou seja, tempo de descanso,

de folga, e ponto. O indivíduo, entretanto, poderia usar o tempo de sua folga para o “lazer”

(“ócio”, termo em espanhol mais aproximada do lazer no Brasil), ou para outros fins -

compromissos adversos: afazeres domésticos, compromissos bancários, saúde, compras etc.

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2 ESPAÇOS, TERRITÓRIOS E LUGARES PÚBLICOS EM DELMIRO

GOUVEIA/AL

Pensar nas transformações ocorridas ao longo do tempo e em um determinado espaço

do Centro de Delmiro Gouveia/AL nos remete a análise do espaço público, aquele dotado de

significado, acessível e convidativo, propício ao lazer da sociedade, ou seja, espaços de lazer,

suas transformações e a configuração da realidade atual. Para isso, entendemos como

fundamental tecer algumas considerações sobre os espaços produzidos expressos nos escritos

de Correia (1998), Gonçalves (2010), Sant’ Ana (1996) e Mainard (2006).

2.1 O desenvolvimento histórico dos espaços, territórios e lugares públicos de Delmiro

Gouveia/AL

Figura 1 - Localização do Município de Delmiro Gouveia/AL

Org.: SOUZA, Rogéria Vieira. Mar. 2014.

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A cidade de Delmiro Gouveia, antigo “lugarejo” chamado de Pedra, situado no Alto

Sertão Alagoano à aproximadamente 300 km de distância de Maceió, localiza-se numa região

de divisas estaduais, a saber: Pernambuco, Bahia e Sergipe. No estado, faz limites com os

municípios de Pariconha, Água Branca, Olho D’água do Casado e Piranhas.

Figura 2 - Início da Vila de Pedra (chegando de Água Branca) por volta de 1915 - Sequência

com duas fotos

Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.

Contextualizar o desenvolvimento da cidade de Delmiro Gouveia requer,

anteriormente, compreender os diversos eventos, no sentido proposto por Santos (2009) que

possibilitaram o desenvolvimento histórico da antiga Vila da Pedra, dentre os quais: chegada

de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia a região, construção da Usina Angiquinho, instalação

de uma indústria de linhas, atual Fábrica da Pedra, desenvolvimento da cidade com o advento

da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, dentre outros.

Até então, não se sabe da existência de registros fotográficos da Vila da Pedra,

anteriores “a chegada de Delmiro, vindo de mudança definitiva do Recife para Alagoas em

1902”, conforme afirma Correia (1998, p 202), quanto à data de sua chegada. Entretanto, as

figuras 1 e 2, pertencente ao acervo de Cesar Tavares, datadas por volta de 1915, nos

apresentam traços importantes que nos ajudam compreender a realidade local vivenciada

pelos habitantes desse lugar, ainda no início do século XX.

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Figura 3 - Vila de Pedra por volta de 1915 – (ao fundo, à esquerda, atual Av. Presidente

Castelo Branco)

Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.

Pelas formações de nuvens espaças, céu claro e, ao fundo, aparentemente uma

vegetação predominante arbustiva e solo exposto (figura 1), nos indicam a realidade difícil,

causada principalmente pela seca, chuvas sazonais e realidade hídrica com predominância de

rios intermitentes (rios que secam em determinados períodos do ano), apesar da presença do

Rio São Francisco (rio perene que possui correnteza durante o ano inteiro) típico do domínio

da Caatinga a que abordou AB’Saber (2003, p. 83-101).

A antiga Vila de Pedra, com apenas alguns poucos habitantes, ganhou novo cenário a

partir dos elementos instalados naquele pequeno vilarejo, a exemplo, uma indústria de linhas e

casas para seus operários, segundo os escritos de Correia (1998), Gonçalves (2010), Sant’

Ana (1996) e também nos espaços (figuras 1 e 2) com bela arquitetura e aparente organização.

Anterior a tal organização e construção desses novos elementos no espaço, a

literatura nos proporciona interpretar como era a realidade daqueles poucos habitantes de

Pedra:

... o sanitário era uma moita qualquer no mato; não existiam sapatos; o banho era

tomado somente em datas especiais e, mesmo assim, quando sobrava água; as moradias eram cobertas com folhas duras de sapé, tinham paredes de pau a pique e

chão de terra batida; as pessoas viviam descalças, comiam com as mãos, como

bichos do mato e, ainda pior, esses conceitos bárbaros eram transmitidos, uma

geração após a outra, sem qualquer perspectiva de melhora. GONÇALVES (2010,

p.263)

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Tal cenário, possivelmente era visto por Delmiro nas suas viagens feita pelos

interiores, em busca de fornecedores das peles de animais. Dos diversos lugares, esse foi, por

ele escolhido para ser sua moradia e suporte no soerguimento econômico e social, após vim

“fugido” do Recife. Lugar que foi transformado com sua chegada.

Podemos pontuar a partir da figura seguinte, datada de 1920, conforme aponta Cesar

Tavares, em seu blog intitulado “Amigos de Delmiro” que, pelo ângulo da foto, supõe-se que

a mesma tenha sido tirada a partir de um voo de balão, uma vez que, não há relatos, nesse

período, de voo nessa região, possível de se fazer tal registro. Foi, pois nesse local de

vegetação predominantemente arbustiva e seca, de vida sofrida que ousadas transformações

ocorreram ao longo do tempo e como consequência das ações de Delmiro Gouveia. Talvez

não tenha escolhido o Sertão Alagoano não apenas pela distância e geografia de clima

castigante e pouco habitado, opção pra quem precisava se esconder.

Figura 4 - Vista superior da Fábrica da Pedra – Anos 20

Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.

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Aquele pequeno vilarejo foi desenvolvido mesmo com as dificuldades da época; do

autoritarismo de coronéis locais, da luta contra seca, falta de investimento e infraestrutura em

moradia, saneamento básico, estradas, implantação de uma rede de ensino, saúde, emprego,

promoção da diversão e do lazer, ou seja, faltava quase tudo.

A oportunidade de se restabelecer era ideal diante da realidade encontrada em Pedra.

Conforme abordou Sant’Ana (1996), Delmiro voltou a negociar com peles de animais,

inclusive com um pequeno escritório instalado em Pedra, depois de ser acolhido pelas

famílias Torres e Luna, quando vindo fugido do Recife.

Ainda existe, embora esteja em estado de abandono o prédio (figura 4), onde

funcionava o escritório de Delmiro, armazém de courinhos, por ele aberto, logo após sua

chegada do Recife, em 1903, conforme nos escreve Sant’ana (1996, p.17). Os traços, linhas,

ângulos e formas da arquitetura do prédio, denunciam, em meio às construções

contemporâneas, o bom gosto das formas produzidas, de forma requintada, em meio à

realidade sofrida de uma antiga vila onde os casebres apresentavam uma arquitetura rústica.

Figura 5 - Prédio onde funcionou o primeiro escritório de peles

Fonte: Acervo do próprio autor, janeiro de 2014.

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Mas foi em 1903, presumidamente em março, que Delmiro Gouveia viria a fixar-se

definitivamente na Pedra,... Abriu em seguida um armazém de courinhos e entrou de

rijo nesse ramo de negócio, que iria dentro de curto prazo refazer sua fortuna,

exaurida no Recife. E as estatísticas oficiais comprovam esta assertiva, haja vista

que em Alagoas, no exercício de 1903/4, a exportação de peles foi de apenas 3.278

unidade, mas com a entrada do arrojado cearense no mercado, disparou para

665.446, no de 1904/5, alcançando o expressivo número de 1.152.846 unidade em

1915/16. SANT’ANA (1996, p.17)

Delmiro certamente já havia planejado algumas transformações para aquele lugar,

possuía autoridades locais que pretendiam há muito tempo, ter sua parceria, conforme

expressa Gonçalves (2010, p.187) ao escrever que, Delmiro, “nos bons tempos, colecionou

nessa região amigos, contatos e fornecedores que lhe enviavam, com regularidade, courinhos

através de Penedo”.

Não poderia existir nada mais apropriado. Esse ermo lugar aguardava por um

empreendedor de visão, disposto a trabalhar e progredir. Sem alarde, para não

aumentar os preços e despertar interesses estranhos, não sossegou até comprar todas

as terras no contorno da estação ferroviária ao rio São Francisco. Ainda no início de

1903, adquiriu... uma casa de tijolos tipo meia-água, com alguns barracos e terrenos

adjacentes. Em seguida, valendo-se das promessas feitas, influenciou o genro do

coronel Luna, José Correia de Figueiredo, o conhecido Zé da Pedra, para comprar as

terras vizinhas da estação... GONÇALVES (2010, p.193).

A abordagem feita por Gonçalves (2010, p.193) nos faz pensar que o fato de comprar

as terras próximas à estação da Pedra, sem alarde, para continuar adquirindo aos poucos, e por

preços baixos, mostra que já possuía interesse na transformação do lugar e, assim o fez.

“Estação ferroviária, água encanada, casa de alvenaria, luz elétrica, indústria, operários,

cinema, futebol, automóvel” foi à definição do núcleo fabril instalado na Vila da Pedra “entre

o ano de 1914 e 1917”, Correia (2013, p. 1).

Os planos de transformação daquele lugar podem ser percebidos na organização das

ações de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia que visualizou o enorme potencial existente

naquele lugar, como bem descreveu Gonçalves (2010), passou a comprar as terras nos

arredores da estação, terras essas onde foi instalada Antiga Fabrica de linhas, atual Fábrica e

de tecidos, vista como principal motivadora pra crescimento e desenvolvimento econômico da

antiga Vila da Pedra, hoje cidade de Delmiro Gouveia.

Poderiam ser acrescidos diversos outros feitos: feira livre, 13º salário, construção de

escolas, educação para jovens e adultos, construção de estradas, equipamentos de lazer, dentre

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outros, conforme nos aponta Alberto Gonçalves, ao longo de sua obra “Delmiro Gouveia, era

uma vez no sertão”, publicada em 2010. Todas suas conquistas só foram possíveis por causa

do seu retorno ao domínio do mercado de peles de animais.

Instalado na sua Pedra, novamente rico, voltou aos hábitos refinados do passado que,

apesar de estar nas proximidades do fim do mundo, proporcionava-lhe bem estar,

fartura e conforto. Com a experiência que acumulou, muito trabalho e honestidade,

mesmo convivendo com dificuldades indescritíveis, superou a grandiosidade

anterior. Voltou a ser o respeitado rei das peles. GONÇALVES (2010, p.220).

Os lucros, certamente vindos do comércio de peles, possibilitaram a execução de

outros planos transformadores da realidade local. Possuía a intenção de criar uma fazenda-

modelo onde pudesse produzir em grande escala. Seus planos não deram certo, pois a cada dia

se agravavam os problemas agrários em sua propriedade conforme apontou Gonçalves (2010).

Logo cuidou de mudar seus planos.

Foram ousados os planos para Pedra. “O interesse de lucro e o desejo de produzir

industrialmente, utilizando-se da matéria-prima daquele lugar”, Gonçalves (2010, p.237), fez

com que novos eventos moldassem a história e a dinâmica da região a partir dos elementos ali

inseridos. A Hidrelétrica de Angiquinho, por exemplo, como nos escreve Gonçalves (2010,

p.237), “não foi uma quimera precipitada, uma utopia que nasceu ao sabor da derrota. Desde

a década anterior já havia pensado na possibilidade, após vivências no exterior”, de que

poderia dar certo, tão grandioso investimento na cachoeira localizada entre os estado de

Alagoas e Bahia.

A construção da Usina Angiquinho, em 1913, Correia (2013, p. 3), proporcionou

uma nova organização do espaço vivenciado pela população de Pedra. A iluminação de forma

gratuita mudou os hábitos e costumes e diversificadas formas de lazer. A escuridão das noites

passou a ter a luz elétrica e a população local passou a ser auxiliada pela eletricidade.

Encontros familiares, festejos de aniversário, casamentos e outros, realizados com iluminação

durante a noite, não mais sobre luminárias da época, movida a gás e fogo, como nas chamadas

lamparinas e lampiões.

Após conquista da concessão de terras restituídas para construção da Usina

Angiquinho foi à vez do incentivo por parte do governo para instalação da Fabrica de linhas.

Conforme apontou Sant’Ana (1996, p.18), foi concedido “dispensa por dez anos, de impostos

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estaduais, para a importação dos maquinismos para a instalação de uma fábrica destinada à

confecção de redes, linhas simples, em carretéis ou novelos”

A amizade com a elite política alagoana possibilitava, a Delmiro, maior agilidade nos

processos de solicitação dos investimentos e até mesmo decisão final a favor do comerciante

de peles do Sertão. Isso facilitava a construção dos espaços destinados ao uso coletivo,

primeiras construções de praças e espaços de lazer para a pequena, porém crescente,

população de Pedra.

Figura 6 - Rua 13 de maio

Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.

Segundo Gonçalves (2010, p.267), “para alojar a legião de operários e familiares

que se instalavam no complexo, foi preciso construir uma vila operária inteira..., com toda a

infraestrutura básica... indispensável para uma vida digna”. A instalação da Indústria de

Linha, atual Fábrica da Pedra (figura3, pelas características semelhante com as imagens 1 e 2,

supõe-se que também date dos anos 20), careceu pensar em condições dignas de moradia,

educação, trabalho, proteção, lazer e outros.

Com bases nas leituras de Sant’Ana (1996), Mainard (2006) e Correia (1998),

podemos compreender As transformações que ocorria naquele lugar. Famílias inteiras já

habitavam Pedra, de forma a seguir as regras de higiene, boa conduta e educação determinada.

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Podemos pensar que a partir desse momento, novos espaços foram sendo criados, como no

caso, os primeiros armazéns e bodegas, as primeiras costureiras, enfim, os primeiros pequenos

comércios nas próprias casas.

No entanto pode-se ressaltar que:

Ao mesmo tempo em que as obras iam adiantadas, Delmiro reuniu, em torno de uma

sociedade anônima, que denominou Companhia Agro Fabril Mercantil, seus sócios,

amigos, tradicionais e novos, do complexo industrial, para facilitar a administração

de courinhos, algodão, indústria de linhas, exploração agrícola e produção de

energia elétrica. GONÇALVES (2010; p.253)

Estava, pois, lançada à tentativa, que deu certo, para implantação de um complexo

industrial no Alto Sertão Alagoano. As condições eram favoráveis, havia propriedades de

terras suficientes, conforme nos apontou Gonçalves (2010; p.193), - terras que foram

compradas desde sua chegada à região, com preços abaixo do valor de mercado -, já havia se

estabelecido financeiramente, embora algumas perdas nos primeiros investimentos, na

tentativa de criação da fazenda-modelo conforme escreveu Gonçalves (2010; p. 237).

Ainda Sobre os espaços criados em Pedra, nos afirma Sant’Ana (1996; p.28) que “em

1915, funda-se a feira da Pedra e se instalam os primeiros estabelecimentos comerciais da

localidade. Ainda nesse ano Delmiro Gouveia ordenou a construção de um cassino para

diversão do operariado local, de um rinque de patinação e bailes ao ar livre”. A feira-livre,

criada dentro da cerca, possibilitou melhorias diversas, as pessoas podiam ter acesso à

diversidade de alimentos, acessórios, roupas e diversos outros produtos. Conforme escreveu

Gonçalves (2010):

Como a feira era dentro-do-arame, possibilitava um controle absoluto. Não era autorizada a presença de pessoas consideradas indesejáveis: jogadores, pedintes,

prostitutas, trapaceiros... Também não se aceitava, em hipótese alguma, a venda de

itens considerados perniciosos, do tipo cachimbo, fumo e bebida alcoólica.

Seguranças armados eram chamados para destruir esses produtos ou retirar quem

ousasse desfiar o código de conduta. (p. 277)

As constantes transformações e melhoria de vida na vila operária (Indústria, moradia,

feira livre etc.), instalada em pleno Sertão, logo foram sendo divulgadas, não demorou muito

para autoridades, políticos e curiosos manifestarem interesse em conhecer a nova realidade de

Pedra.

A Fábrica da Pedra, assim como o núcleo fabril logo se tornaram objeto do interesse de várias pessoas “importantes”. Muitas expedições foram realizadas para a Vila da

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Pedra, as pessoas queriam testemunhar o que era aquela experiência, cuja,

historiografia tradicional atribui ao fundador e sócio majoritário, o coronel,

comerciante e industrial Delmiro Gouveia. CORREIA (2013, p.1)

Somado tudo, Delmiro contou ainda com o interesse de amigos próximos que se

impressionavam com os feitos, afinal, esses envolvia tudo que a população daquela localidade

precisava - lazer, educação, saúde, trabalho, entre outros. Era no mínimo inovador, com

“máquina de gelo, telégrafo, cinema (o boletim escolar, com boas notas, era o ingresso para

as crianças), carrossel, jornada de trabalho de oito horas e folgas aos domingos”, Mainard

(2006, p. 25).

Também foi pensado para Pedra, o lazer do tempo de folga, aquele abordado por

Maya (2008, p.34) enquanto “tempo livre” que o indivíduo possui, para realização de

obrigações pessoais, descanso físico e mental, em horário em que não está trabalhando.

Certamente os operários após as horas de descanso com a família rendia ainda mais na

produção. Com isso, foram criados os espaços destinados ao uso da população, os espaços

públicos de lazer. “De frente à entrada monumental da indústria, demarcou uma grande

área, na realidade um descampado, batizado de Praça Joaquim Nabuco, onde passaram a

ocorrer os eventos comunitários” Gonçalves (2010, p.267).

Nesses espaços destinados ao uso público é que foram surgindo às territorialidades.

Para compreendermos território, remetemo-nos a Saquet et Briskieviez (2009, p.5), quando

escrevem sobre o campo da atuação político-administrativa, do poder e apropriação a partir da

intimidação. Assim ocorreram as primeiras territorialidades em Pedra. Era ministrado dessa

forma, o controle da pequena comunidade.

Os espaços de uso coletivo, acessados pela população de Pedra ocorriam dentro de

um espaço fechado, um território delimitado inclusive com arame farpado. Na figura seguinte,

o desenho da Professora Telma de Barros Correia (USP), mostra o núcleo fabril, em todas as

extremidades, demonstrando a delimitação feita pela cerca de arame (apontada pelas setas).

Conforme ainda nos escreve Saquet et Briskievicz (2009, p.8), sobre a produção da

identidade humana a partir dos gestos, necessidades e aprendizados, pudemos compreender

que os novos elementos criados modificam a rotina de um indivíduo ou grupo social. Assim

aconteceu com a instalação da atual Fábrica da Pedra, Usina Angiquinho, Vila operária, feira

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livre, entre outros. Essas novas produções e transformações no espaço atraiu um novo público

para o lugar, novas territorialidades passaram a existir.

Figura 7 - Desenho da cerca de arame no entorno da Vila da Pedra

Fonte: reprodução do livro “Pedra: plano e cotidiano operário no sertão.” Correia (1998, p.204) – setas

acrescidas pelo próprio autor.

Pensar o território gerido como espaço de força e campo de lutas, interesses e relação

de poder (força ou influência) nos dar margem para pensarmos que toda territorialidade

possuirá entorno, e que essa, poderá sofrer alguma influência ou influenciar. Assim foram

pensados os espaços criados e delimitados na Vila da Pedra. As regras eram voltadas para

aqueles que habitavam dentro da área cercada pelo arame. Aquele que não respeitasse as

rígidas regras era punido, Correia (1998). A organização de Pedra se deu também nos espaços

criados para uso coletivo.

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Conforme podemos identificar no desenho de Correia (1998), a vila da Pedra possuía

seus espaços muito bem divididos. Delmiro ao possuir duas casas, Gonçalves (2010; p. 268 a

270), conseguia ter uma visão geral de tudo. As casas foram construídas no entorno da

Fábrica, possibilitando assim, o surgimento do núcleo fabril. Os espaços destinados ao uso

coletivos e de atividades de lazer foram construídos em locais estratégicos, esses passaram a

ser o local onde se encontravam com mais frequência nos finais de semana.

As leis para usos dos espaços públicos não eram ditadas pelo estado, tal função era

desempenhada por Delmiro, rígido nas regras a que propunha e não facilitava todo tipo de uso

dos espaços e contato com as pessoas “fora da cerca” com receio de má influência com os

seus operários, familiares e visitantes “protegidos dentro da cerca”, conforme citação a seguir.

Dentro-do-arame, o complexo foi guarnecido com toda a infraestrutura

indispensável, capaz de proporcionar uma condição de vida inigualável. Além das

casas, foi disponibilizado padaria, duas mercearias, açougue, loja de fazendas e

armarinhos, farmácias, oito salas de aula, centro médico e odontológico, além de um completo e divertido sistema de lazer. GONÇALVES (2010, p.270)

Os espaços destinados ao lazer era fator primordial. Assim, foram criados no intuito

de suprir tal necessidade e provocar o sentimento de pertencimento e satisfação ao morar e

trabalhar naquele lugar.

Foram construídos: campo de “foot-ball”, carrossel e uma grande quadra cimentada

para patinação, lisa e escorregadia, Praça Joaquim Nabuco, onde todos se divertiam, com as bolas e patins fornecidos gratuitamente pela companhia. Somente podiam

frequentar as festas e as demais atividades de lazer, pessoas decentemente trajadas,

limpas com sapatos, os homens adultos precisavam de colarinho e gravata e as

mulheres de vestidos longos. Com as crianças o rigor era ainda maior, pois além de

roupas e sapatos convenientes,... A programação seguia animada e festiva até chegar

à noitinha, quando se iniciava o ponto alto, ansiosamente aguardado por todos: a

sessão semanal gratuita de cinema. GONÇALVES (2010, p.278).

Os momentos destinados ao lazer eram garantidos em Pedra, de forma organizada

para não atrapalhar o tempo da folga, ou seja, o tempo do não trabalho era dividido entre o

tempo da diversão, da utilização de espaços públicos, das relações sociais entre as famílias

dos operários e o tempo do descanso que deveria ser respeitado por todos que ao toque de

recolher, deveriam retornar as suas casas “impreterivelmente às 21 horas, a sirene tocava e

encerrava as atividades”, Gonçalves (2010, p. 279).

Na rotina dos moradores de Pedra, as horas de trabalho e de descanso eram

rigidamente preservados. Tal postura reflete uma recusa da estratégia comum à fase

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inicial da industrialização, de elevação da produtividade por um alongamento da

jornada de trabalho, com consequências muitas vezes brutais sobre a saúde do

trabalhador. Se a idéia de valor inteiramente a existência do operário à atividade do

trabalho permanece, muda a estratégia utilizada para retirar de seu trabalho o maior

rendimento possível. Em Pedra, a jornada diária de trabalho de oito horas ia da

segunda-feira ao sábado. Os momentos de não-trabalho eram controlados pela

fábrica de modo a ser utilizados efetivamente na reposição das forças para o

trabalho, pelo repouso e por formas julgadas saudáveis de lazer. O tempo do lazer,

por sua vez, era limitado rigidamente, de modo a não comprometer o do repouso.

CORREIA (2010, pp. 242 e 243)

O desenvolvimento e a consolidação histórica dos espaços, territórios e lugares

públicos da Vila de Pedra foram cada vez mais dotando-se de novos acontecimento - eventos -

que promovem a produção constante de novos elementos no espaço, bem com a

transformação desses, fazendo que novas dinâmicas surjam no cotidiano.

A partir das obras da CHESF, uma nova dinâmica pairou sobre a região.

Trabalhadores de todas as regiões do país e também estrangeiros mudaram para Paulo Afonso

ou para suas redondezas. Segundo Antônio Galdino (2011), “em 15 de Janeiro de 1955 o

Presidente João Café Filho inaugurou oficialmente esta Usina que desde dezembro de 1954

já fornecia energia elétrica para o Recife”. A economia local teve, a partir da construção da

CHESF, uma nova dinâmica motivada pelos empregos gerados de então.

Alguns anos antes da inauguração oficial da CHESF, em 1953, a até Vila da Pedra

deixa de ser parte integrante de Água Branca e é emancipada cidade de Delmiro Gouveia,

nome do responsável pelo desenvolvimento que foi assassinado ainda cedo, em 1917,

Maynard (2008, p. 93).

Diante de uma nova realidade, não mais vila, agora município independente, os

constantes eventos proporcionaram, a cidade de Delmiro Gouveia, espaços que modificaram o

cotidiano da sociedade.

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Figura 8 - Documento de criação do Município de Delmiro Gouveia

Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)>

Acesso em 21 de Julho de 2013.

Após, aproximadamente 50 anos de Vila da Pedra, também conhecida como Vila de

Delmiro, em 1952 o Governador do Estado de Alagoas, Arnon de Mello sanciona a lei

Nº1628 que cria o município de Delmiro Gouveia. Os anos que seguiram a emancipação

municipal da cidade foram repletos de modificações que podem ser analisadas nos registros

fotográficos e relatos de pessoas que vivenciaram ou tiveram contato com aqueles que

viveram em épocas passadas.

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Dessa forma, faremos, a partir dessas análises de registros fotográficos, um recorte

no tempo e espaço na tentativa de compreensão dos espaços destinados ao uso coletivo da

população delmirense, bem como fazer uma leitura dos usos desses espaços de lazer em

épocas distintas.

Figura 9 - Praça Delmiro Gouveia - Atual Praça Dr. Ulisses Luna - meados dos anos 60

Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 8 de Setembro de

2013.

O registro fotográfico da antiga Praça Delmiro, hoje, Praça Dr. Ulisses Luna, mostra

a forma pacata com que as crianças utilizavam desses espaços de uso coletivo. A leitura que a

imagem nos transmite é de um “espaço acessível a todos, não como simples acesso físico a

espaços abertos de uso coletivo” conforme trata definição de acessibilidade dos espaços em

Serpa (2004, p.22), mas como espaço aberto e que os frequentadores sintam-se pertencentes

ao usar tal espaço, como nesse caso, nos aparenta ser o uso da Praça Delmiro Gouveia nos

anos 60.

A arborização ainda em crescimento, a grama do canteiro ainda não preenchida, a

calçada sem rachaduras, a pedra do busto/mastro em perfeito estado de conservação, embora

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exposto as fortes temperaturas vivenciadas pela região, nos faz pensar que a Praça Delmiro

Gouveia, quando feito esse registro, tinha pouco tempo de sua construção. As casas ao fundo

mostram o crescimento urbano em torno da fábrica, uma vez que essa praça já localiza-se fora

da antiga cerca que separava fábrica e vila operária do seu entorno. A existência da própria

praça em meados dos anos 60 nos aponta o crescimento da cidade e a necessidade de espaços

coletivos.

As praças eram compostas de espaços verdes, possuía uma intensa arborização com

espécies nativas que serviam além de beleza paisagística como também ajudava na

amenização do clima sempre quente na região. Certamente facilitavam as brincadeiras da

garotada nos horários oposto aos estudos.

Figura 10 - Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna – 1969

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes.

O registro fotográfico das crianças sentadas no banco diz muito sobre o uso acessível

dos espaços aberto ao público. A sobra das arvores ao fundo, sugere que algumas pessoas no

seu tempo livre, de descanso ou mesmo do lazer cotidiano utilizaram esses espaços. A praça

apresenta mais elementos naturais, ou seja, é predominante a arborização (o espaço verde) em

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relação aos elementos culturais, aqueles que, em sua maioria, são feitos de concreto (bancos,

poste, calçadas).

Ainda nos anos 60, as ruas delmirenses se transformavam em espaços de distração e

lazer coletivo em datas comemorativas. Crianças, jovens e adultos saiam as ruas em datas

como 7 de setembro.

Figura 11 - Desfile cívico do dia 7 de Setembro de 1965. Antiga Rua Progresso

Foto: Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em

21 de Julho de 2013.

As datas comemorativas são sempre propícias às comemorações e uso coletivo dos

espaços públicos, assim, já aconteciam na cidade de Delmiro nos anos 60, no tradicional

desfile cívico do dia 7 de Setembro. As famílias se reuniam nas ruas e calçadas para prestigiar

seus filhos, amigos ou simples conhecidos, nos desfiles organizados pelas escolas públicas. O

momento era aproveitado por todos os presentes. A rotina do dia a dia é interrompida para

convivência do coletivo, os moradores se transformavam em espectadores, acomodavam-se

em cadeiras nas portas de suas casas, encontrava-se com amigos, parentes e outros, saiam

pelas ruas, conversavam e se distraiam num dia voltado a comemoração e o lazer, segundo

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nos abordou Eduardo Menezes. Essa prática é percebida até nos dias atuais onde há

concentração das pessoas nas ruas e calçadas para prestigiar o desfile cívico das escolas, bem

como pelo lazer que tal evento proporciona.

Figura 12 – A Fonte, Atrativo da Praça Delmiro Gouveia - atual Praça Dr. Ulisses Luna –

1971

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, o garoto Ricardo.

Tendo como base a abordagem Dollfus (1982, p.8) de que espaço geográfico é um

espaço mutável e diferenciado cuja aparência visível é a paisagem, temos, percebemos as

constantes transformações ocorridas no meio. As imagens a seguir, mostram como o espaço

geográfico, nesse caso, o espaço de lazer da praça, é modificado ao longo do tempo.

Percebemos tanto as mudanças de ordem natural, aquelas causadas por fatores climáticos e

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biológicos que agem nos elementos da própria natureza e as transformações do próprio

homem, modificações que atendem fatores culturais, econômicas e políticos. Primeira e

segunda natureza, conforme abordou Rodrigues (2008, p. 37) e Godoy (2004, p.2).

Figura 13 - Praça Delmiro Gouveia - atual Praça Ulisses Luna – 1973

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, Eduardo, Macarrão e Ricardo.

O registro fotográfico de 1973 nos mostra alguns garotos na fonte que ficava bem no

centro da Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna. Se observarmos ao fundo da

imagem veremos o terreno de fronte da Fábrica da Pedra, delimitado com estacas e arame

farpado, diferentemente de quando observamos a figura 11, que data de 1971, em que, o

espaço é aberto literalmente. A figura 12 nos mostra ainda, uma praça aparentemente dotada

de aspectos verde, com arborização de espécies nativa e de tamanho médio em sua maioria.

Podemos perceber ainda, o desenho da Praça a partir das linhas de concreto delineadas por

toda a praça e a fonte.

A figura seguinte, onde alguns jovens se encontram sentados na calçada do próprio

bar, é possível verificar com maior nitidez o muro da fábrica, separado apenas pela estrada –

via de acesso (entrada e saída) para o Agreste e Litoral Alagoano.

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Figura 14 - Bar “Abrigo do Ciço Gobeu” e o lazer da garotada – 1974

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, _, _, Eduardo, Edmo, Nivaldo, _.

O Bar “Abrigo do Ciço Gobeu” era o ponto de encontro da garotada jovem da época.

Ficou conhecido com esse nome por causa do uso a que acabou destinando-se esse lugar.

Segundo relatos de Eduardo Menezes (garoto sentado entre os outros dois com copo na mão,

o mais próximo da parede do abrigo e vestindo a calça de cor mais clara), costumava ser

abrigo daqueles que estavam na rua e buscavam o bar como abrigo para se proteger do sol e

da chuva, além daqueles que se deslocavam de outras cidades circunvizinhas, geralmente

esperavam os transportes “abrigados” naquele local.

Conforme mostram os registros fotográficos, e relata-nos Eduardo Menezes, a busca

pelo lazer se dava em sua grande maioria, na antiga Praça Delmiro Gouveia, onde fica

localizado o Bar Abrigo do “Ciço Gobeu”. O local era muito frequentado, juntamente a Praça

do cruzeiro, atual Praça Delmiro Gouveia. Não existiam outras praças e espaços de lazer,

apenas descampados, não tão atraentes como essa que foi a primeira praça.

Nessa época não existia, principalmente nas pequenas cidades do interior, proibição e

fiscalização das vendas de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes. Dessa forma,

muitos garotos consumiam escondido de seus pais. Assim, os bares da época acabaram sendo

também, lugares de distração, das interações sociais.

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Alguns espaços descampados podem ser percebidos na figura seguinte. Ela nos

mostra os espaços abertos que ainda possuíam poucos elementos atrativos a prática do lazer.

Figura 15 - Vista aérea do Centro de Delmiro Gouveia/AL - 1976

Fonte: acervo Fábrica da Pedra. Setas numeradas feitas pelo próprio autor.

O registro aéreo do Centro de Delmiro no ano de 1976 nos possibilita identificação

alguns espaços públicos de lazer em constante transformação. Nos anos seguintes sofreram

ações que modificaram a estrutura e a dinâmica do uso dos espaços destinados ao lazer.

Podemos destacar alguns pontos marcados com as setas numeradas.

Seta 01 – A atual Praça Nossa Senhora do Rosário, na época era apenas um enorme

espaço descampado, no entorno da Igreja que leva o mesmo nome da praça.

Seta 02 – O motivo pelo qual os registros fotográficos, até meados de 1980, ocorrerem

geralmente nas Praças Dr. Ulisses Luna, antiga Praça Delmiro Gouveia e, Praça do

Cruzeiro, atual Praça Delmiro Gouveia, é o fato de que, onde hoje é considerado ponto

de encontros, na busca do lazer da população delmirense no Centro da cidade, a Praça

Vicente de Menezes, até então era um espaço aberto (como mostra a seta 02) onde

acontecia a feira de animais. Essa feira foi inaugurada por Delmiro Augusto da Cruz

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Gouveia em 1915, conforme abordou Sant’Ana (1996; p.28). O Mercado Público era o

prédio de esquina ao lado, atualmente funcionam os prédios da “Honda” e “Galeria e

Hotel Bezerra”. Nos anos 80 quando um novo prédio do Mercado Público de Carnes

foi instalado no Bairro Eldorado, a feira livre também foi transferida pra lá, instalada

na frente desse mercado público de carnes.

Seta 03 – O espaço apontado por essa seta compreende atualmente parte inicial da Av.

Presidente Castelo Branco, mais conhecida como calçadão. Na época do registro,

possuía poucos comércios e não existiam ainda nem asfalto nem calçadas. Havia

apenas um grande canteiro de algarobas, espécie típica da região.

Seta 04 – É atualmente a Praça Inocêncio Exalto, mas conhecida como Praça da

Tamarineira.

Seta 05 – A antiga Praça Delmiro Gouveia atualmente possui o nome de Praça Dr.

Ulisses Luna. Era a Praça mais frequentada antes da construção da Praça Vicente de

Menezes, calçadão com quiosques e Praça Nossa Senhora do Rosário.

Seta 06 - Antiga Praça do Cruzeiro, hoje chamada de Praça Delmiro Gouveia.

Figura 16 - Delmiro Gouveia: Operários da Fábrica saindo em horário de almoço – 1978

Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de

Julho de 2013.

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O registro da saída dos trabalhadores da Fábrica da Pedra, registrada em 1978, nos

mostra como era o centro da cidade quando possuía uma praça de fronte a loja da Fábrica. No

horário do almoço, esse espaço provavelmente não era usado por esses funcionários que

estavam com pressa para cumprir o horário de almoço e retornar para segunda jornada de

trabalho do dia.

Nos dias de folga possivelmente essa praça era mais bem aproveitada, pois havia

tempo para descanso, diversão e lazer. Esse último compreendido enquanto necessidade de

desprendimento do cotidiano para cuidados com a saúde do físico e intelecto humano,

conforme abordagem de Orth et Cunha (2000, p.2), “uma necessidade na vida urbana para

reabilitação da saúde física, mental e moral humana”, parte fundamental para vida

sobrecarregada do indivíduo que convive na rotina do dia a dia urbano – casa, trabalho,

estudos, entre outros.

Figura 17 - Centro, atual calçadão e lojinha da Fábrica. Delmiro Gouveia/AL – 1978

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, Milton Orelha, _.

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Figura 18 - Centro de Delmiro Gouveia/AL - 1978

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Na foto, Samuel, Geraldo.

As duas imagens anteriores, ambas no Centro de Delmiro Gouveia/AL, datadas de

1978, mostram um espaço totalmente diferente da realidade na atualidade, afinal, assim é

entendido o espaço, “a soma de tudo [objetos geográficos naturais e culturais], mais a

sociedade, [onde] cada fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual” Santos

(1977, p.1). Nessas imagens, percebemos a antiga Praça do Centro. Poucos eram os elementos

de sua composição: bancos, calçadas no entorno, poste, arborização e uma área maior

descampada. Sua extensão se dava desde o atual semáforo, existente na divisa entre o prédio

da Câmara de Vereadores de Delmiro Gouveia e a atual Praça Vicente de Menezes. Sua

extensão, ainda hoje, vai até pouco depois da guarita da Fábrica da Pedra.

As reformas, ao longo dos anos, transformaram essa antiga Praça em um

estacionamento e canteiro central. Separam as duas principais vias de acesso e levam a

entrada e saída da cidade. As calçadas (das lojas) foram ampliadas dos dois lados, fazendo

com que a rua com predominância de comércios e serviços, localizada no centro da cidade,

ficasse conhecida como “calçadão”.

A antiga praça foi, pois, transformada em estacionamento e calçadas largas. Em

épocas dísticas possuíram configurações diferentes, permaneceu a sua finalidade, espaço

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aberto de uso coletivo destinado ao uso coletivo da sociedade, ou seja, um espaço público

que, segundo abordou Matos (2010, p. 20) “é de todos e de ninguém em particular, [que], em

princípio, todos o podem usar com os mesmos direitos”.

Para situarmos a imagem a realidade atual, basta atentarmos para algumas

informações repassadas por Eduardo Menezes, autor desses registros fotográficos. No canto

esquerdo (figura 20), onde dois homens seguem andando com suas bicicletas, encontra-se

atualmente a entrada (guarita) da Fábrica da Pedra. Do lado oposto, a casa no final da rua,

atualmente, encontra-se a loja Mineirão Calçados. Tais registros foram feitos do canteiro de

fronte a atual escola Delmiro Gouveia, no Centro da cidade.

Nas imagens, é possível identificar o uso deste espaço para a conversa entre os

moradores, o encontro de amigos, o passeio de bicicletas, dentre outros. Percebe-se ainda que,

os bancos estão todos ocupados por duas ou mais pessoas o que sinaliza um busca coletiva

pelo local que possibilita a sociabilidade. As calçadas também são utilizadas pelas pessoas.

Todas as formas de uso desse espaço, identificamos a busca do lazer, nas suas mais diversas

formas e compreensão a que cada indivíduo possua.

Figura 19 - Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna – Final dos anos 70

Fonte: acervo Eduardo Menezes. Na foto, o próprio.

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O registro fotográfico do final dos anos 70 nos mostram as transformações que

aconteceram no espaço geográfico da cidade de Delmiro Gouveia e, consequentemente, no

entorno da Praça. A arborização já se encontra num tamanho avançado, impossibilitando

inclusive a visualização parcial dos canteiros de concretos desenhados ao longo da praça.

As transformações no espaço delmirense segue ano após ano. Tal registro nos mostra

também, o muro construído para separar o pátio da Fábrica da Pedra e os demais espaços da

cidade. O muro feito de concreto delimitava todo o pátio da fábrica passando, na época, ao

lado da Praça Delmiro Gouveia, conforme pode ser verificado na figura 19.

O antigo pátio da Igreja Matriz era espaço aberto, sem os elementos percebidos na

maioria das praças (bancos, calçadas, canteiro com gramas, etc.). Ainda assim, era um espaço

de uso destinado ao lazer pela garotada da época. As crianças e adolescentes aparentemente

utilizam tal espaço para as brincadeiras da época, andar de bicicleta certamente era uma festa

entre a garotada e esses espaços aberto era fundamental. Conforme expressa Mota (2001),

desde muito tempo atrás as atividades lúdicas são usadas como fundamental no cotidiano da

sociedade. As obrigações do dia a dia só são bem executadas se houver o tempo do lazer, do

descanso físico e mental das práticas de lazer e do convívio sócio-espacial.

Figura 20 - Pátio da Igreja Matriz – Final dos anos 70

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes. Não identificado às pessoas na foto

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Figura 21 - Pátio da Igreja Matriz – Fevereiro de 2014

Fonte: acervo do próprio autor.

As setas (figuras 20 e 21) servem para nos orientarmos quanto à localização e

transformações ocorridas no espaço de fronte a Igreja Matriz. Ambos os prédios apontados

com as setas possuem a mesma localização em épocas distintas. Nos anos 70 o prédio

apontado era uma residência. Em 2014, o antigo prédio da residência foi transformado em

uma pousada. O antigo pátio da Igreja Matriz é atualmente uma praça, equipada com bancos,

calçadas, canteiro, postes entre outros.

Ainda nos anos 70, as festas em datas comemorativas eram acompanhadas pela

população delmirense. Os carros enfeitados e com bandeira chamavam atenção dos civis

espectadores. As pessoas se aglomeravam nas calçadas para prestigiar o desfile. As enormes

árvores seguiam até o final da rua, num canteiro que existia e a dividia em duas mãos. Alias,

era frequente a existência desses canteiros nas ruas da cidade. Todos esses canteiros serviam

como ponto de encontro ou de descanso na sobra das árvores.

Não foram muitas as modificações em torno dos espaços de uso coletivo destinado

ao lazer em comparação aos relados e registro fotográficos referente à década anterior, que se

tenha acesso. Os registros fotográficos da época nos apontam para existência de espaços

verdes com predominância de espécies típicas da região. É, portanto, possível identificar a

presença das duas naturezas, abordada por Rodrigues (2008, p. 37) e Smith (1988) apud

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Godoy (2004, p.2), como sendo a primeira dotada dos elementos criados pela própria natureza

e a segunda criada pelo homem.

Figura 22 - Desfile cívico passando pelo inicio da Rua ABC, atua Rua da Independência -

Anos 70

Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de Julho de 2013.

Figura 23 - Início da antiga Rua ABC, atual Rua da Independência - anos 80

Disponível em: <( http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br)> Acesso em 21 de

Julho de 2013.

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A Rua ABC, atual Rua da Independência (figura 22), apresentava nos anos 70, um

canteiro que dividia a rua, era intensa a arborização e suas sombras, bastante utilizadas para as

conversas entre vizinhos que ficavam sentados por algumas horas em tamboretes (banquinhos

de madeira muito utilizados na época), geralmente nos finais das tardes.

No registro fotográfico (figura 23) dos anos 80, percebemos a mudança dos prédios

residenciais sendo transformas em comércios e o canteiro não oferece mais a sobra que

abrigada os moradores nos finais das tardes. Registra ainda, o exato momento em que as

arvores estavam sendo cortadas, as suas galhas podem ser percebidas ainda no chão. Em

pouco tempo todo canteiro, espaços utilizado para o lazer, fora extinto.

Ao analisarmos o espaço urbano de Delmiro Gouveia nos anos 80, tendo como base

os “usos da terra justapostos entre si... o centro da cidade, local de concentração de

atividades comerciais, de serviço e de gestão; áreas industriais e áreas residenciais,... áreas

de lazer; e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão” Corrêa (1995, p.1),

poderemos identificar alguns destes elementos no registro fotográfico de 1983. Nele podemos

verificar o cotidiano urbano, aquele proposto para aqueles que vivem no perímetro urbano e

que possuem acesso ao modo de vida que a cidade possibilita.

Na imagem (centro da cidade) alguns automóveis trafegam pelas ruas e outros se

encontram estacionados, nos fazendo compreender que na década de 80 a dinâmica do

município havia mudado. A rede de transporte ligando os povoados à sede do município e, a

sede as cidades circunvizinhas, nos denuncia aspectos principalmente econômicos da época.

A calçada da Praça Dr. Ulisses Luna (figura25) mostra uma nova configuração

resultante de reformas que, inclusive afastou o antigo “Abrigo do Ciço Gobeu” bem como

retirou o antigo muro da fábrica que foi recuado para instalação de uma segunda via de acesso

(somente chegada para aqueles vindos do Sertão, Agreste e Litoral Alagoano). O limite da

Fábrica da Pedra, ao invés de muro, passou a ser uma cerca instalada junto a uma calçada que

facilita a mobilidade entre o Bairro Pedra Velha e Centro de Delmiro. Canteiros e semáforos

também foram instalados.

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Figura 24 - O Centro de Delmiro Gouveia/AL. Visão a partir da Praça Dr. Ulisses Luna,

Antiga Praça Delmiro Gouveia – 1983

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes.

Figura 25 - O Centro de Delmiro Gouveia/AL. Visão a partir da Praça Dr. Ulisses Luna,

Antiga Praça Delmiro Gouveia – 2014

Fonte: acervo do próprio autor.

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As imagens anteriores mostram parte da calçada da Praça Dr. Ulisses Luna, antiga

Praça Delmiro Gouveia e, ao fundo, o centro comercial de Delmiro Gouveia. Nas imagens,

podemos perceber diversas transformações inclusive implantação de novos elementos e as

transformações de outros já existentes que influenciam diretamente o uso desses espaços pela

população, na busca pelo lazer.

As residências da antiga Rua do Progresso, atual calçadão da Av. Presidente Castelo

Branco foram transformadas em prédios comerciais. A busca por produtos e serviços aumenta

e a lógica dos espaços do entorno tende a ser modificada cada vez mais. Foi o que aconteceu

com a implantação do alargamento das calçadas, na década de 90.

Esse alargamento das calçadas de fronte as lojas e a criação dos quiosques nas

calçadas, do lado da Fábrica da Pedra, proporcionou um espaço que é usado durante o dia

para o tráfego de pessoas (clientes, funcionários e pedestres). A noite o mesmo espaço criado

na intenção de organização do espaço comercial do centro, possibilitou uma nova dinâmica na

busca pelo lazer. A população delmirense passou a utilizar-se desse espaço como “point” de

encontro entre familiares, amigos, casais e estudantes que se dirigiam ao calçadão ao saírem

das escolas.

Figura 26 - Vista lateral (fundo) da Igreja Nossa Senhora do Rosário e da praça que leva o

mesmo nome - anos 90

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes

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Figura 27 - Vista lateral (frente) da Igreja Nossa Senhora do Rosário e da praça que leva o

mesmo nome - anos 90

Fonte: acervo pessoal de Eduardo Menezes

Nos anos 90, organização da cidade de Delmiro Gouveia (comércio, serviços,

moradia, política, etc.), já havia mudado completamente em relação às décadas anteriores.

Assim também se dera o uso dos espaços para o lazer. A antiga Praça do Cruzeiro, atual Praça

Delmiro Gouveia e antiga Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna foram

modificadas. Novas finalidades passaram a fazer parte de sua configuração. A atual Praça

Delmiro Gouveia foi reformada, assim como também a Praça Dr. Ulisses Luna. Nessas

reformas, diversos elementos do passado foram retirados (fonte e, busto de Delmiro Gouveia

e paisagismo da antiga Praça Delmiro Gouveia e paisagismo e antiga cabana que foi morada

do fundador da cidade, na antiga Praça do Cruzeiro), assim como, novos elementos foram

instalados nesses espaços com a finalidade de atender fins políticos administrativos e atender

ao novo público existente (pontos de ônibus, modernização das estruturas físicas – elementos

de concretos: bancos, divisórias, placas e muretas)

As duas figuras anteriores mostram o espaço no entorno da Igreja Nossa Senhora do

Rosário em ângulos opostos. Na época, era apenas um espaço aberto (descampado). Não

possuía calçamento nem bancos ou algo do tipo. Apesar da Igreja no centro, o espaço em

aberto servia de estacionamento para a frota de transportes (vans e caminhonetes)

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intermunicipais para Paulo Afonso/BA, Água Branca/AL, Santana do Ipanema/AL,

Arapiraca/AL, Maceió/AL, entre outras cidades. Em épocas de festas, servia (e ainda serve)

de local para instalação dos parques de diversão e barracas de jogos e de alimentação.

Figura 28 - Vista parcial aérea de parte do Centro de Delmiro Gouveia/AL – 1997

Fonte: acervo Fábrica da Pedra. Setas numeradas feitas pelo próprio autor

No final dos anos 90 a configuração dos espaços destinados à prática do lazer

apresentavam diversas singularidades. O registro fotográfico aéreo nos permite identificarmos

algumas delas.

Seta 01 – O descampado no entorno da Igreja Nossa Senhora do Rosário ainda

permanece no final dos anos 90.

Seta 02 – Antiga Praça do Cruzeiro, atual Praça Delmiro Gouveia.

Seta 03 – Antiga Praça Delmiro Gouveia, atual Praça Dr. Ulisses Luna.

Seta 04 – Antigo espaço que fazia parte da Praça Vicente de Menezes, atualmente

posto de gasolina desativado.

A análise do desenvolvimento e a consolidação histórica dos espaços, territórios e

lugares públicos de Delmiro Gouveia ao longo século XX nos ajudam a entender uma das

características presente na definição de espaço geográfico, apontada por Dollfus (1982, p.11),

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que é a possibilidade de característica mutável que se descreve, onde, todo espaço social de

uso público é possível de se analisar, levando-se em consideração os acontecimentos

anteriores, ou seja, os espaços são configurados a partir dos fatos e processos históricos que

possibilitam criação de elementos no espaço natural e modificação dos já existentes. Dessa

forma, podemos compreender os territórios-públicos e lugares destinados ao lazer vivenciados

pela sociedade delmirense.

2.2 O lazer e a vivência espacial como atributos para a compreensão atual dos territórios

e lugares públicos em Delmiro Gouveia-AL

Pensar o tempo livre como promoção do descanso e, consequentemente, maior

produtividade por parte do trabalhador descansado, Mendo et Sânchez (2005, p .8),

“necessidade na vida urbana para reabilitação da saúde física, mental e moral humana”

Orth et Cunha (2000, p.2), dispor do ócio “não compreendido somente pelo conteúdo da

ação” mas levado em consideração o “descanso, folga, férias, repouso, desocupação,

distração, passatempo, hobby, diversão, entretenimento” Gomes (2007, p.1), são algumas das

considerações que nos proporcionam conceituar a prática do lazer, principal motivador da

vivência nos espaços, formação de territorialidade e criação de vínculos com os lugares

públicos em Delmiro Gouveia/AL.

Sejam as festas em datas comemorativas de escala nacional ou local, a exemplo do

carnaval, emancipação política, festejos juninos, natal, virada de ano, entre outros, geralmente

proporcionam os festejos de rua, a fim de atender o uso coletivo, diversão e lazer da sociedade

delmirense e circunvizinha.

Os festejos de rua sempre foram bem aceitos pela população delmirense.

Manifestações culturais, datas comemorativas, desfiles cívicos, blocos carnavalescos, entre

outros, são formas de uso do espaço para o lazer, ou seja, alem do descanso do dia a dia, da

folga do trabalho, da diversão em família, o lazer também pode ser assemelhado nas festas

anuais onde determinados espaços do cotidiano (ruas, praças, avenidas), se transformam em

grandes pátios para festas, desfiles, arrastões e outros. Assim acontece com os espaços da

Praça Nossa Senhora do Rosário, Av. Presidente Castelo Branco e início da Av. Antônio José

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da Costa, entre outros espaços usados para uso coletivo da sociedade em festejos e

comemorações menores.

A figura a seguir, mostra a Praça Nossa Senhora do Rosário sendo utilizada pela

sociedade para os festejos juninos no ano de 2013. A praça por ser um espaço aberto possui

capacidade para comportar um grande número de pessoas. Normalmente a praça é utilizada

por alguns grupos sociais: Skatista, adeptos de atividades físicas, casais, grupo de amigos e

outros.

Figura 29 - Festa junina na Praça Nossa Senhora do Rosário - Delmiro Gouveia/AL. Junho de

2013

Disponível em: <(http://www.tribunadoagreste.com.br/)> Acesso em 12 de Fevereiro de 2014.

As festas desse tipo proporcionam novas características, pois novos elementos são

instalados propositalmente para esses eventos, a exemplo dos parques de diversão, barracas de

jogos, praça de alimentação e outros vendedores ambulantes, aumento ainda mais a

probabilidade de diversão e lazer.

Também o espaço entre o Bairro Novo e Eldorado - Início da Av. Antônio José da

Costa (figuras 29 e 30) é utilizado para concentração de foliões em festas carnavalescas. O

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espaço que no dia a dia funciona como parte da avenida e estacionamento, em períodos de

esta, ganha novo uso com a instalação do palco, camarotes, barracas de bebidas e de

alimentação.

Conforme abordou Matos (2010, p.18), “na maioria das cidades os espaços privados

ocupam uma parte significativa do seu território, contudo, aquilo que melhor as caracteriza

são os seus espaços públicos”. Assim, podemos concluir que uma cidade necessariamente

possuirá praças, ruas e avenidas, prédios públicos como quadras e clubes ou qualquer outro

espaço aberto para as grandes manifestações (culturais, sociais, políticas, etc.) destinadas a

realizações dessas festividades. Caso não possua ou haja algum imprevisto de uso, novos

espaços deveram ser criados ou adaptados - como no caso da Av. Antônio José da Costa

(figuras 29 e 30) - para a promoção da diversão e lazer a que proporcionam essas festas de

rua.

Figura 30 - Início da Av. Antônio José da Costa. Carnaval de 2013

Disponível em: <(http://www.chicosabetudo.com.br/)> Acesso em 12 de Fevereiro de 2014.

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Figura 31 - Início da Av. Antônio José da Costa. Abril de 2012

Fonte: Acervo do próprio autor.

Pensar os espaços de vivências significa adentrar nas questões que permeiam a

dinâmica dos espaços de uso público, esses, conforme nos coloca Serpa (2004; p.22), tendem

a proporcionar acessibilidade generalizada e irrestrita, ou seja, ser a todos, um local de acesso,

das vivências coletivas, da produção de significados, um espaço de passagem - do ir e vir.

Atualmente podemos conferir no Centro de Delmiro Gouveia diversas peculiaridades relativas

a diversos usos.

A Praça Vicente de Menezes, local frequentado pela população delmirense para a

prática do lazer, dentre outras finalidades pelos elementos nela presentes (estacionamento,

praça de alimentação, coreto propício a manifestações, dentre outros), nos faz compreender o

“público” não somente como parte da estrutura materializada das coisas (casas, carro, praças,

calçamento, ruas, etc.), trata-se de um espaço de identificação e de criação de vínculos sócio-

espaciais.

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Figura 32 - Praça Vicente de Menezes, sentido coreto, Centro de Delmiro Gouveia/AL - Julho

de 2013

Fonte: acervo do próprio autor.

O registro fotográfico da Praça Vicente de Menezes nos possibilita perceber alguns

aspectos dos espaços de uso público. Nessa praça uma das peculiaridades encontrada é a via

de acesso – BR 423 e AL 220 - que liga o Sertão ao Agreste alagoano, e, pela localização de

fronteiras estaduais, ao Norte, com estado de Pernambuco, e, ao Sul, com o estado da Bahia,

se encontra na condição de “porta de entrada e saída” de fluxo de produtos e pessoas.

Tal via de acesso localizada ao lado da praça proporciona uma maior dinâmica do

tráfego intermunicipal (carros, vans, ônibus, caminhões de mercadorias, dentre outros.). O

ponto de ônibus instalado nessa praça, além de “ponto de mototaxistas”, funciona como

parada final para aqueles vindo de Água Branca/AL, Pariconha/AL e Paulo Afonso/BA.

Para aqueles que, por exemplo, buscam o lazer nas atividades físicas – caminhada,

ginástica, corrida, e etc. – certamente não encontrará, no espaço da Praça Vicente de Menezes,

o local ideal para tal prática. Embora seja um espaço público, a presença e/ou ausência de

alguns objetos fará com que alguns indivíduos, mesmo tendo acesso, prefiram não usar esse

espaço.

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Figura 33 - Praça Vicente de Menezes, sentido contrário ao coreto, Centro de Delmiro

Gouveia/AL - Julho de 2013

Fonte: acervo do próprio autor.

É possível identificar na Praça Vicente de Menezes diversos elementos que nos faz

pensá-la como um espaço de territórios-públicos (mototaxistas, taxistas, motoristas

alternativos intermunicipais, comerciantes autônomos fixados nesse local – sorveteria,

lanchonetes, banca de revista e comerciantes ambulantes não fixados – barraca de

churrasquinho, batata frita, carrinhos de CDs e DVDs, entre outros.). O mesmo espaço que

são territorializados por esses agentes passam a ser usados por outros agentes em turnos

diferentes.

Essas territorialidades possibilitam-nos enxergar o território como mutável, passível

de transformação, em outras palavras, a parte do espaço pela qual a mesma área se

reconfigura em um curto espaço de tempo num processo chamado por Haesbaert (2007 p.15)

de multiterritorialidade em que, o processo de territorialização remete, a princípio, a

intensificação da ação, do mudar, do (re) territorializar.

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Figura 34 - Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL e seus diversos usos

durante a tarde. Junho de 2013

Fonte: acervo do próprio autor.

São muitos os usos da Praça Vicente de Menezes e de seus arredores. Um dos

elementos presente na configuração dessa praça é o prédio que funciona uma loja de roupas

com preço acessível, ou seja, conforme constante movimentação de pessoas atraída pelo

comercio que fica no entorno da praça, o prédio que antes funcionava a casa da cultura foi

transformada em loja popular.

Observado a praça Vicente de Menezes é possível identificar diversos usos. As

pessoas que esperam transporte no banquinho ao lado da loja popular. Certamente as pessoas

que utilizam esse banquinho para passar o tempo, descanso e na espera por transportes,

acabam passando na loja e consumindo seus produtos.

Algumas das lanchonetes só abrem à noite. Assim, algumas barracas ambulantes são

montadas para comercialização de bolos, salgados e café durante os períodos da tarde e da

manhã. A passagem de pedestre é frequente, o lugar fica repleto de grupos de amigos, alguns

se reúnem para jogar dominó, outros ficam em volta da comercialização e troca de bicicletas

que acontece de fronte a loja de roupas populares.

No canto inferior direito de quem observa a figura 34, o vendedor de milho

cozinhado e assado, ocupa “seu território-público” praticamente todos os dias (mesa com

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panelas, barraca para proteção do sol, material para preparo e cozimento do milho - água e sal,

fogão e carvão) tudo organizado na própria calçada que deixa de ter somente a função de

deslocamento (ida e vinda) de pessoas.

Alguns dos agentes territorializadores dessa praça durante o dia não atuam durante a

noite, uma vez que, além dos frequentadores serem outros (estudantes, casais e outros),

também há a territorialização de novos agentes, já frequente nesse espaço.

Figura 35 - Praça Vicente de Menezes, período da noite. Centro, Delmiro Gouveia/AL

Fonte: acervo do próprio autor.

Durante a noite, o espaço da Praça Vicente de Menezes recebe novas territorialidades

são formadas. Já não existe a grande quantidade de mototaxis e, o espaço onde, durante o dia

é ocupado pelos veículos dos trabalhadores de deslocamento de pessoas, é substituído por

motos e carros dos frequentadores da praça, aqueles que geralmente ficam em uma das

lanchonetes fixas na praça ou nos banquinhos dos comerciantes ambulantes (churrasquinho,

batata frita, cachorro quente entre outros). As lanchonetes expandem os seus espaços de uso

ainda mais no turno da noite, as mesas e cadeira são espalhadas em seus arredores. Os

brinquedos infantis (cama elásticas, pula-pula e escorregador de ar) são instalados ao longo da

praça, na área onde, durante o dia, outros agentes ocupam esse mesmo espaço.

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3 OLHAR GEOGRÁFICO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: REPRESENTAÇÃO

DO “PÚBLICO URBANO” E DO “LAZER”

Apresenta-se como grande desafio a leitura geográfica do mundo a partir da leitura

dos lugares. Estes integram relações com a escala do mundial e do social, compreendendo

complexidades que precisam ser notadas na esfera da cultura e do conhecimento.

E é nessa perspectiva que fundamentamos a busca pela compreensão das dinâmicas

que permeiam a representação do lazer e dos espaços criados para tal uso no Centro de

Delmiro Gouveia/AL, tido como fundamental, desde épocas remotas, conforme

compreendemos os escritos de Mota (2001), onde o homem já imprimia seu modo de vida

destinando parte do tempo para atividades lúdicas, na caça e nas apresentações culturais,

lutas, jogos, atividades circenses, e outros, em locais públicos; praças e arenas.

Este trabalho foi motivado, principalmente pela necessidade de exercitar a pesquisa

participativa, principalmente ligada ao cotidiano da cidade de Delmiro Gouveia/AL e

especificamente o das praças e espaços de lazer no Centro da cidade, transformando-os, em

seguida, em conteúdos interessantes ao ensino de geografia na escola. Tal experiência será

objeto de análise no decorrer deste capítulo.

3.1 Uso, apropriação e vivência: os espaços, territorialidades e lugares no Centro de

Delmiro Gouveia-AL

O ensino de Geografia deve propor ao aluno uma aproximação entre teoria, vista em

sala de aula, e as vivências do ser humano enquanto pertencentes a uma sociedade, enquanto

agente de atuação (ação) no meio em que vive e criador de vínculos (convívio sócio-espacial).

Pensando nisso, o espaço geográfico, compreendido como conjunto de objetos e de suas

respectivas ações, Santos (2009), mutável e diferenciado, conforme nos escreveu Dollfus

(1982), deve ser apresentado com uma forma de entender a realidade dos fenômenos

ocorridos no dia-a-dia do homem.

De certo, o desafio de ensinar Geografia nunca foi fácil. A situação se agrava na

atualidade pela utilização de métodos tradicionais que distanciam e desmotivam os alunos. A

busca pelo conhecimento geográfico ultrapassa a mera descrição e observação dos elementos

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presentes no espaço, incidem em ver o mundo organizado econômico, cultural e socialmente.

Leitura fundamental ao indivíduo, afinal é preciso dotar o aluno da capacidade de dominar o

seu próprio desenvolvimento e aprendizado para a vida, Pires (2012).

O estudo sobre o espaço público urbano no Centro de Delmiro Gouveia/AL

possibilitou experiências com o ensino e aprendizado. Sobre as experiências ligadas ao ensino

será abordado o subtítulo 3.2, deste capítulo.

Foi possível o aprendizado a partir dos momentos de pesquisas e observação do

espaço público delmirense, a partir das análises, estudos e investigações propostos pelas

atividades realizadas pelo grupo de Estudos Sociedade e Natureza – GESN e colaboração em

projetos de pesquisa e extensão, tais como, “História da Gente dos Lugares da Gente: mapas

temáticos e imagens mentais sobre o espaço urbano de Delmiro Gouveia-AL”, “Identidade e

permanência em um espaço de fronteiras: uma leitura geográfica do Povoado Jardim

Cordeiro, Delmiro Gouveia-AL”, “Paisagens culturais e (re) produção do espaço urbano: uma

leitura geográfica sobre uso e ocupação do solo na cidade de Delmiro Gouveia-AL”. 1

Em um primeiro momento buscou-se uma breve análise teórico-conceitual, o que

permitiu aproximação com definições e abordagens realizadas por autores que discutem a

temática.

1 O projeto de pesquisa “Identidade e permanência em um espaço de fronteiras: uma leitura geográfica do

Povoado Jardim Cordeiro, Delmiro Gouveia-AL” partiu do questionamento a respeito do processo de

construção da identidade e da ligação geográfica relativa ao Povoado Jardim Cordeiro, dentro do contexto de

suas relações com o entorno. Teve pois, como base as leituras teórico-conceituais e questionários aplicados na

comunidade, possibilitando a identificação do vínculo da comunidade com a região, a permanência e o seu

deslocamento para as cidades de Delmiro Gouveia/AL e Paulo Afonso/BA (2012 - 2013).O projeto de extensão

“História da Gente dos Lugares da Gente: mapas temáticos e imagens mentais sobre o espaço urbano de

Delmiro Gouveia-AL” proporcionou a identificação dos elementos importantes da história e da geografia do município de Delmiro Gouveia-AL, auxiliando a produção do conhecimento e o ensino de Geografia e História

bem como o exercício de confecção de mapas temáticos e a reflexão de mapas-imagens mentais sobre o espaço

urbano e suas diferenciações sócio-espaciais. Nesse sentido foi inserido estudantes de licenciatura em Geografia

e História do Campus Sertão (UFAL) em atividades de pesquisa, ensino e extensão realizadas através de um

processo de pesquisa-ação que permitiu a reflexão/construção de ferramentas pedagógicas alternativas (mapas

temáticos) às aulas sobre a região e os lugares diversos do Sertão alagoano (2011-2012). O projeto de pesquisa

“Paisagens culturais e (re) produção do espaço urbano: uma leitura geográfica sobre uso e ocupação do

solo na cidade de Delmiro Gouveia-AL” buscou analisar os usos e ocupação do espaço na cidade de Delmiro

Gouveia-AL como estratégia à compreensão da (re)produção do espaço urbano e das paisagens. Foi possível

mapear a cidade de Delmiro Gouveia através de metodologias de trabalho de campo (registro e acompanhamento

in loco) do uso e da ocupação do espaço urbano, atentos principalmente aos espaços e prédios públicos, aos

prédios voltados à indústria, ao comércio e aos serviços (2011 - 2012).

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A ação em Arendt (2007) pode ser compreendida como a condição humana de

relacionarem-se com os outros seres humanos. Assim, compreendemos que as relações sociais

no espaço urbano delmirense, seja por uma interação histórico-cultural, política ou

econômica. Ocorre somente na ação que permite a interação homem x homem, afinal nenhum

outro ser (espécie) possui esse tipo de interação.

Ainda a acessibilidade, tida nos escritos de Serpa (2004), enquanto espaços de

cidadania e da ação política, onde as formas físicas não dispõem de suas existências por mero

acaso, ou seja, os espaços das praças e espaços de lazer delmirense, construídos e modificados

ao longo do tempo por causa da necessidade do individuo, sua criação de vínculos e

apropriação desses espaços, em alguns casos podem ser vistos como “territórios-públicos”.

Matos (2010, p.19) nos faz pensar que lugares, mesmo abertos e destinados ao

público em geral, possui limitação de acesso, seja por controle administrativo ou por mera

intimidação dos grupos sociais que, por exemplo, territorializam os espaços de uso público da

cidade, a saber, os skatistas da Praça Nossa Senhora do Rosário, no Centro de Delmiro

Gouveia/AL podem proporcionar certa intimidação, no uso deste espaço, a aqueles que não

curtem o skate. Da mesma forma, os skatistas podem sentissem não pertencentes e/ou não

enxergar finalidade de uso na para Vicente de Menezes, já que o espaço não dispõe de

espaços adequados para skatista (espaço aberto e calçado ou rampa específica para o skate).

A relação direta entre convivência social e o território em Haesbaert e Limonad

(2007) implica na capacidade, nos interesses e saberes que o possibilitam domínio e a

conquista de espaços. Não tratamos, pois, da discussão do território enquanto campo de luta,

delimitação e força física, conforme caberia ser aprofundado caso fosse o foco principal, a

discussão de território em sua análise mais aprofundada. Trata-se apenas do entendimento da

existência de uma “apropriação” por intimidação nos espaços de uso coletivo no Centro de

Delmiro Gouveia/AL (mototaxista, comércio formal e informal, ginástica na praça, jogadores

de dominó, prostituição, entre outros).

É importante frisar que o uso e apropriação por intimidação dos espaços públicos,

praças e espaços destinados ao lazer não é uma realidade presente somente na cidade de

Delmiro Gouveia/AL, a ocorrência da apropriação desses espaços, conforme percebido na

Praça Vicente de Menezes, Calçadão, Praça nossa Senhora do Rosário, entre outros espaços

no Centro da cidade, podem servir de base para estudos de ocorrência semelhante, em outros

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espaços urbanos. Dessa forma, reafirmamos não ser uma peculiaridade do espaço urbano

delmirense, e sim, a ocorrência da apropriação pelo sentimento de pertencimento, vínculo e

identidade, comum a qualquer organização social.

Enfim, as praças e espaços de lazer em Delmiro Gouveia/AL são vistos como lugares

de convivência, levando em consideração as abordagens de Leite (1998) de que o lugar é tido

enquanto “produto da experiência humana”, onde, os vínculos criados pelos elementos

presentes, seja no calçadão, na Praça Delmiro Gouveia, Praça Nossa Senhora do Rosário,

Praça Vicente de Menezes ou em qualquer outro espaço que proporcione intimidade para o

indivíduo, possibilitará o sentimento de pertencimento e consequentemente o uso constante

desses espaços.

3.2 Ferramentas pedagógicas como alternativas a uma reflexão teórica e conceitual e

como subsídio para pensar o ensino de Geografia

Ao longo da graduação fomos orientados sobre do papel do profissional licenciado

em geografia. As discussões em torno de metodologia, prática de ensino, material e método de

uso para o ensino de Geografia, dentre outras questões relacionadas à prática docente, foram

discutidas ao longo dos períodos, em diversas disciplinas ofertadas pelo curso de Geografia da

Universidade Federal de Alagoa – UFAL, Campus do Sertão. Essas foram: Profissão Docente

(2010.2), Projeto Pedagógico, Organização e Gestão do Trabalho Escolar (2010.2),

Planejamento, Currículo e Avaliação da Aprendizagem (2011.2), Pesquisa Educacional

(2012.1), Metodologia do Ensino de Geografia (2012.2), entre outras. Foram disciplinas que

proporcionaram proximidade com a prática de ensino e que proporcionaram preparo para a

realização deste trabalho.

3.3 O registro de algumas experiências com a comunidade escolar

Tendo como base as pesquisas realizadas sobre as praças e espaços de lazer no

Centro de Delmiro Gouveia/AL, foi pensada a ultima parte desse trabalho como uma

orientação da investigação de um caso concreto à prática efetiva do ensino com uma turma de

alunos de uma escola pública local.

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Essa última parte foi organizada da seguinte forma: planejamento de aulas

expositivas (teoria) e aula-pesquisa de campo (prática), com o intuito de maior aproximação à

prática do ensino em Geografia, escolha da turma em que essas atividades foram realizadas e

levantamento bibliográfico.

O planejamento contou com levantamento bibliográfico, adequação a modalidade do

Ensino Médio, elaboração das aulas expositivas (slides) e plano de atividades da aula-

pesquisa de campo. A turma do 2º ano “C” da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de

Menezes foi à escolhida para realização das atividades pedagógicas (aula expositiva antes e

depois da aula-pesquisa de campo ocorrida nas praças do Centro de Delmiro Gouveia/AL),

supervisionadas pela Professora de Geografia, Mayara Gomes.

O levantamento bibliográfico consistiu na busca dos conceitos abordados nos livros

didáticos de Geografia do Ensino Médio: espaço, lugar, identidade e pertencimentos,

territorialidades, espaços públicos, e usos desses espaços com finalidade a prática do lazer.

As abordagens foram adaptadas mediante exposição dos conceitos associados aos

exemplos do dia a dia do indivíduo (do aluno). Os “slides” foram organizados de forma a

expor os conceitos centrais da pesquisa – Espaço geográfico nos escritos de Corrêa (2011),

Santos (2009), Rodrigues (2008), Godoy (2004), entre outros. Espaço urbano em Cavalcanti

(2012), Matos (2010), Corrêa (1995). Espaço público nos escritos de Laurentino (2006),

Sobarzo (2006) e Resende (2005). Lugar, a partir das considerações feitas por Santos (2009),

Leite (1998) e, espaços destinados ao lazer nos escritos de Ferreira (2010), Maya (2008),

Gomes (2007), Gomes et Melo (2003), Mota (2001), entre outros.

No dia 14 de Março de 2014 realizou-se a primeira aula expositiva (duração de 45

min.), com a turma do 2º ano “C”, na Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes. A

aula, apresentada em “PowerPoint”, consistiu numa abordagem teórico-conceitual. Deu-se de

forma participativa e, conforme iam sendo mostrados os conceitos centrais deste trabalho,

seguidos das imagens dos espaços das praças e espaços de lazer no centro de Delmiro

Gouveia/AL, algumas considerações foram sendo feitas pelos alunos que se identificavam

com os registros fotográficos dos espaços mostrados ao longo da aula.

Além dos registros fotográficos, na atualidade, das praças e espaços de lazer no

Centro de Delmiro Gouveia/AL foi também mostrado algumas imagens desses espaços em

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décadas passadas (década de 20 até a atualidade). As imagens antigas possibilitaram

questionamentos referentes à transformação do espaço público urbano da cidade ao longo do

tempo. Nesse momento, houve intensa manifestação dos alunos que passaram a discutir as

modificações e o próprio homem, responsável por tal modificação. Ainda nessa data foi

marcada a próxima atividade que consistia na aula-pesquisa de campo.

A aula-pesquisa de campo foi realizada no dia 17 de Março de 2014, a partir das

14h00min na Praça Vicente de Menezes (Praça do Coreto). Além da Supervisão da Professora

Mayara Gomes, as atividades realizadas tiveram a colaboração de quatro discentes do curso

de Geografia da Universidade Federal de Alagoas - UFAL Campus do Sertão.

Figura 36 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL - Ponto de

encontro da aula-atividade de campo

Fonte: Felipe Santos. Março de 2014

A aula-pesquisa de campo teve o seguinte propósito: (i) proporcionar um contato

entre os alunos do 2º ano “C” da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes e a

sociedade, afim de que os alunos percebessem como esses espaços são vistos segundo a

própria sociedade (suas diversas formas de uso do espaço público urbano, sentimento de

pertencimento da sociedade, identidade, apropriação e formação de territorialidades). Contou,

portanto, com a aplicação que questionários pelos alunos que foram encaminhados aos

seguintes espaços: Praça Delmiro Gouveia, Praça Dr. Ulisses Luna, Calçadão, Praça Vicente

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de Menezes e Praça Nossa Senhora do Rosário, todos esses espaços, localizados no Centro da

cidade, (ii) Provocar uma visão crítica nos alunos, sobre as dinâmicas que permeiam os

espaços públicos urbanos destinados ao lazer.

Figura 37 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL –

Abordagem conceitual sobre o uso das praças e espaços de lazer

Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.

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Figura 38 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL –

Orientação para aplicação dos questionários

Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.

Os alunos do 2º ano “C” da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes

puderam observar as praças e espaços de lazer do Centro da cidade de uma forma diferente da

realizada cotidianamente, pois, estavam munidos dos conceitos fundamentais, a luz da

Geografia, (espaço geográfico, espaço público urbano e espaços de uso para o lazer), o que

fundamentou a observação das dinâmicas desses espaços de forma crítica e reflexiva.

Em seguida, cada aluno recebeu seis questionários e foram orientados sobre como

abordar aquelas pessoas que estavam, naquele momento, frequentando os espaços de públicos

destinados ao lazer no Centro de Delmiro Gouveia/AL. As entrevistas foram realizadas até as

17h00min, quando todos retornaram para Praça Vicente de Menezes e foram recolhidos os

questionários.

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Figura 39 - Coreto da Praça Vicente de Menezes, Centro de Delmiro Gouveia/AL –

Distribuição dos questionários

Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.

Figura 40 - Calçadão, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários sendo aplicados pelas

alunas do Ensino Médio

Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.

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Figura 41 - Calçadão, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários sendo aplicados por

aluno do Ensino Médio

Fonte: Felipe Santos. Março de 2014.

Figura 42 - Praça Nossa Senhora do Rosário, Centro de Delmiro Gouveia/AL – questionários

sendo aplicados por aluna do Ensino Médio

Fonte: acervo do próprio autor. Março de 2014.

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Nos questionários foram elaboradas 10 perguntas (7 abertas e 3 fechadas)

abrangendo perguntas sobre atividades realizadas nas horas de folga dos estudos e do

trabalho, vivência dos espaços públicos, elementos/objetos indispensáveis nos espaços

destinados ao lazer, locais frequentados durante a semana, finais de semanas e feriados,

principais atividade voltada ao lazer nos espaços do Centro de Delmiro Gouveia/AL,

definição do lazer, motivação na hora de escolher o espaço público urbano para prática do

lazer, quanto tempo em média costuma permanecer nesses espaços.

Por fim, foi questionado se os equipamentos das praças e espaços de lazer delmirense

são equipados e propícios ao lazer, quais equipamentos estavam adequados e o que ainda não

existe ou precisa melhorar.

Em 18 de Março de 2014, foi marcada a segunda aula com a turma do 2º ano “C” da

Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes. O local para realização desse momento

foi o Campus da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, em Delmiro Gouveia/AL.

Esse momento com os alunos, pós-aula-pesquisa de campo, é entendido como

fundamental para que pudessem serem discutidas as experiências vivenciadas pelos alunos,

assim como, questionamento sobre os conceitos abordado na aula inicial, realizada no dia 14

de Março de 2014, a vivência percebida pelos próprios em campo e, ainda, as considerações

feitas pelos usuários (sociedade em geral), desses espaços quando aplicados os questionários.

No antigo auditório da Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão

foi realizada uma aula para considerações das atividades de campo e avaliação da

compreensão dos conceitos abordados junto à turma do 2º ano “C” da Escola Estadual Luis

Augusto Azevedo de Menezes. Na ocasião, os alunos puderam montar uma definição,

abordando oralmente, descrevendo no quadro e nas anotações individuais, os conceitos

abordados nas atividades anteriores. Em seguida, foi possível analisar as respostas obtidas nos

questionários e a elaboração de gráficos referente ao uso desses espaços pela população

delmirense.

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Figura 43 - Avaliação dos conceitos apreendidos pelos alunos do 2º ano “C” da Escola

Estadual Luis Augusto Azevedo de Menezes

Fonte: acervo do próprio autor. Março de 2014.

Figura 44 - Interpretação e organização de gráficos com os resultados obtidos nos

questionários aplicados na aula-pesquisa de campo

Fonte: Maíla Santos. Março de 2014.

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No total, foram aplicados 55 questionários pelos alunos do 2ª ano “C” da Escola

Estadual Luis Augusto Azevedo de Menezes. Esses questionários serviram de amostra para a

compreensão dos usos dos espaços públicos destinados ao lazer pelos delmirenses. Cabe

ressaltar que o intuito da aplicação dos questionários não remete a comprovação científica,

mas sim, a aproximação entre docentes e a sociedade em geral frente a questionamentos dos

usos e apropriação desses espaços.

O contato com a população nos espaços de lazer no centro da cidade possibilitou

algumas abordagens, a exemplo, as atividades realizadas pela população nas horas vagas. O

gráfico a seguir mostra que, para a maioria dos entrevistados, o passeio com a família e

amigos é principal atividade realizada pelos entrevistados.

Questionado a turma do 2º ano “C” da Escola Estadual Luis Augusto Azevedo de

Menezes sobre as respostas dos questionários, organizadas nos gráficos, afirmaram que os

resultados refletem, de fato, os usos, também feitos por eles, nesses espaços.

Fonte: Questionários aplicados aos frequentadores dos espaços de lazer no Centro de Delmiro

Gouveia/AL, pelos alunos do 2º ano “C” da E. E. Luis Augusto A. de Menezes. Março de 2013

4 2

7

19

1

5

2 1

4 3

6 7

1

6

3 3 3

0 2 4 6 8

10 12 14 16 18 20

Atividades das horas vagas

Gráfico 1 - Atividades das horas vagas apontadas por alguns frequentadores dos

espaços de lazer no Centro de Delmiro Gouveia/AL

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Fonte: Questionários aplicados aos frequentadores dos espaços de lazer no Centro de Delmiro

Gouveia/AL, pelos alunos do 2º ano “C” da E. E. Luis Augusto A. de Menezes. Março de 2013

Fonte: Questionários aplicados aos frequentadores dos espaços de lazer no Centro de Delmiro

Gouveia/AL, pelos alunos do 2º ano “C” da E. E. Luis Augusto A. de Menezes. Março de 2013.

35

8

15

2 0

39

2

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Praça Nossa Senhora do

Rosário

Praça Vicente de Menezes

Praça da Matriz

Praça Delmiro Gouveia

Praça Dr. Ulisses Luna

Calçadão Outros

Lugares frequentados

31

7

17

3 1

40

5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Praça Nossa Senhora do

Rosário

Praça Vicente de Menezes

Praça da Matriz

Praça Delmiro Gouveia

Praça Dr. Ulisses Luna

Calçadão Outros

Lugares frequentados

Gráfico 3 - Lugares públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados nos

finais de semana e feriados

Gráfico 2 - Lugares públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados

durante a semana

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Apontadas nos questionários aplicados pelos alunos do 2º ano “C” da Escola

Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes, temos o gráfico 2, onde mostra os lugares

públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL, frequentados durante a semana. Nele,

verificamos que, entre os entrevistados, a preferência do uso do calçadão é a opção mais

escolhida, seguida da Praça Nossa Senhora do Rosário e Praça da Matriz.

Sobre a terceira opção de lugar mais frequentado, apontado pelos questionários

aplicados (gráfico 2), a Praça da Matriz, na opinião dos alunos do 2º ano “C” não seria a

terceira maior opção, como afirmado nos questionário. Seria, pois, a Praça Vicente de

Menezes uma das três mais frequentadas.

Nesse momento foi possível trazer à tona a discussão conceitual sobre o lazer em

Leite (1998, p.10), expressado como o indivíduo possui ligações e proximidades com

determinados lugares, onde há um contato e uma intimidade de uso, capaz de

proporcionar um sentimento de pertencimento.

Partido desse pressuposto foi considerado junto aos alunos que, embora

perceptível o frequente uso da Praça Vicente de Menezes, motivado pelas opções de

lanches (churrasquinhos, cachorro quente, batatinha frita, entre outros), os questionários

aplicados mostraram que, entre as pessoas que responderam, essa praça ocupa somente a

quarta posição dos espaços mais utilizados para a prática do lazer.

Tal impasse foi apontado justamente orientado no lazer enquanto intimidade de

uso, ligações de proximidades, porem, é sentido distintamente pelos indivíduos, ou seja, o

lazer tido por alguns indivíduos pode não ser, assim considerado, para os demais.

Entretanto, para aqueles que frequentam a Praça Vicente de Menezes para alimentação

pode não considerar, tal prática, um lazer.

O gráfico 3 aponta que nos finais de semana e feriados a Praça da Matriz

também é uma das três mais usadas, segundo opinião dos entrevistados. Possui menor uso

apenas em relação à Praça Nossa Senhora do Rosário e o Calçadão que é o mais apontado

tanto paro uso durante a semana quanto nos finais de semana e feriados.

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Fonte: Questionários aplicados aos frequentadores dos espaços de lazer no Centro de Delmiro

Gouveia/AL, pelos alunos do 2º ano “C” da E. E. Luis Augusto A. de Menezes. Março de 2013.

O gráfico 4 mostra as atividades destinadas ao lazer segundo a pesquisa de campo

(questionários realizados pelos alunos do 2º ano “C” da escola Estadual Luiz Augusto

Azevedo de Menezes). Nele é possível perceber que, entre os pesquisados, a vivência dos

espaços destinados ao lazer no Centro de Delmiro Gouveia/AL, consiste em tomar sorvete

como opção mais considerada, seguida da participação em eventos culturais e de atividades

religiosas bastante presente no cotidiano delmirense.

As atividades teóricas somadas a aula-pesquisa de campo possibilitou nos alunos um

olhar diferenciado do acostumado no dia a dia. Ficaram diante de espaços vivenciados por

eles mesmos, porém, estavam naquele momento não somente para vivenciar tais espaços, mas

sim atendo para como ele é organizado e apropriado de diversas formas.

Dessa forma, é louvável o protagonismo dos alunos pelas ruas do Centro de Delmiro

Gouveia em atividade de campo que ao mesmo tempo que buscavam a opinião podiam está

também refletindo sobre o objeto estudado. Afirmou a aluna Maria Roseane que a única praça

que ela não usava era a Praça Dr. Ulisses Luna, pois não sabia nem mesmo onde ela se

localizava. Em campo a aluna percebeu que, na verdade ela não conhecia o nome oficial da

dessa praça que popularmente é chamada de “Praça do fica”. Ainda sobre a atividade de

30

15

3

29

21

14 16

9

38

3

8

0

5

10

15

20

25

30

35

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Atividades

Gráfico 4 – Principais atividades de Lazer exercidas nos espaços de lazer do

Centro de Delmiro Gouveia/AL

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campo, as alunas Danila, Larissa e Bianca colocaram que as pessoas abordadas sabiam bem o

que fazem no espaço destinado ao lazer no Centro delmirense, porém não souberam responder

como vivenciam esses espaços públicos

Tais processos de investigação, de coleta e de produção de informações, bem como

de ensino, representaram bem a intenção deste trabalho de congregar a iniciação à pesquisa

com a iniciação ao ensino de geografia. Torna-se necessário afirmar, no entanto, que a

diversidade e o tamanho da temática e dos questionamentos orientadores deste trabalho

deixaram espaços e oportunidades a novos estudos futuros. As lacunas e questões

eventualmente não respondidas por completo significam o ponto de partida deste processo de

iniciação em direção ao amadurecimento acadêmico-científico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das interpretaçãoes exercitadas nos capítulos anteriores, considera-se esse

trabalho como a finalização de uma etapa acadêmica que significa verdadeiramente um

primeiro passo para a construção de novos olhares a respeito da produção do conhecimento e

do ensino de geografia.

A aproximação relativa ao tratamento teórico conceitual possibilitou a iniciação às

questões teóricas fundamentais para o fazer geográfico e o amadurecimento da análise do

lazer no espaço público da cidade de Delmiro Gouveia-AL. Propiciou, ainda, o

desenvolvimento de um olhar crítico-reflexivo para a realidade urbana sertaneja em Alagoas,

carente de interpretações geográficas focadas no modo de organização e de dinâmica sócio-

espaciais. E, por fim, deu oportunidade para o esboço de um exercício acadêmico de reflexão

e prática do ensino de geografia.

A discussão sobre o espaço público urbano destinado ao lazer em Delmiro Gouveia,

especificamente, permitiu uma aproximação às realidades geográficas presentes no cotidiano

da coletividade social (o espaço público enquanto lugar de encontro e de confito social), bem

como um olhar mais detido sobre o processo de desenvolvimento histórico do fenômeno

urbano delmirense à luz de geografia voltada para a compreensão das práticas sociais de lazer

ou de uso inerentes ao espaço público (especialmente as praças).

Os escritos de Sant’Ana (1996; p.28), Correia (1998),Gonçalves (2010), entre outros,

foram fundamentais na compreenção dos espaços de lazer no Centro de Delmiro Gouveia,

seus usos, finalidades diversas e transformações ao longo do tempo, a exemplo da Praça

Vicente de Menezes que antes era um espaço aberto onde ocorria a feira de animais e

atualmente possui configuração totalmente diferente (coreto local de encontro para festas

carnavalescas, apresentações culturais, manifestações cívico-religiosas, concentração de

lachonetes, sorveteria, churrasquinhos, entre outros).

A pesquisa sobre os espaços públicos no Centro de Delmiro Gouveia/AL permitiu

também o conhecimento, de forma mais detida, das vivências e identidades produzidas

através da relação entre sociedade e espaço. Em Cavalcanti (2012), a cidade é entendida para

além da soma de indivíduos, levando-se em consideração o modo de vida, o convívio que

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proporciona o sentir-se parte de um grupo social. A partir dos escritos de Matos (2010),

levou-se em consideração também a cidade de Delmiro Gouveia/AL como conjunto de

símbolos e de significados que interagem com os espaços públicos formando um todo social.

No entanto, tais temas, quando trabalhados no contexto do ensino de geografia,

legaram a face de uma realidade que necessita de continuidade de outros e mais estudos e

experimentações (tanto de cunho geográfico quanto pedagógico) no sentido da apreensão da

maneira como o próprio sertanejo, sobretudo os alunos da escola, podem ser ensinados a

compreenderem a sua realidade local.

O contato com a prática pedagógica, através de atividades teóricas e práticas com os

alunos do 2º ano “C” da Escola Estadual Luiz Augusto Azevedo de Menezes, possibilitou

uma experiência rica de ensino de geografia que, através dos conteúdos de “lazer” e de

“espaço público” se revelaram numa metodologia que situou a produção do conhecimento e a

prática dialógica como importantes ao processo de aprendizado de todos envolvidos.

Complemento ao livro didático e aos recursos tradicionais ao ensino de geografia, a proposta

metodológica foi aqui pensada como destinada à abertura do ensino para outros ambientes que

oportunizassem o contato com esferas mais próximas da realidade delmirense.

O sentido do ser e estar no espaço apareceu ainda mais nítido quando o confronto dos

conceitos com a realidade se fez presente enquanto ferramenta pedagógica alternativa de

pesquisa-ação neste plano de Trabalho de Conclusao de Curso.

Espera-se, pois, com o registro deste trabalho, que os esforços aqui expostos possam

vir a subsidiar a reflexão sobre a produção do conhecimento em geografia e a colaboração

junto à academia no tocante à compreensão ainda mais aprofundada do espaço público; local

de uso, de criação de vínculos sociais, da apropriação territorial e usos específicos dos

espaços pela prática do lazer.

Se este trabalho significar sinceramente aprendizado a todos os envolvidos,

principalmente em relação ao conhecimento dos conceitos e das realidades concretas, desde a

autoria, os colegas colaboradores do Campus do Sertão, os professores e técnicos que

participaram da construção dos enfoques e análises, então será considerado o objetivo como

alcançado.

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Somando-se a isso, se este trabalho oferecer ainda mais outros leques de questões

relativas ao tema para estudos mais aprofundados no futuro, então o caminho da iniciação à

pesquisa e ao ensino de geografia estará montado. Com sinceridade e humildade, este é o

registro de boas intenções e esforços de um simples trabalho na área de geografia.

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APÊNDICE A – Questionários aplicados aos frequentadores das Praças e espaços de lazer no

Centro de Delmiro Gouveia/AL pelos alunos do 2º ano “C” da Escola Luiz Augusto Azevedo

de Menezes

UFAL - Campus do Sertão – Delmiro Gouveia/AL - Geografia Licenciatura

QUESTIONÁRIO DE ATIVIDADE DE PESQUISA-ENSINO – TCC

Nome:_______________________________________________Idade: ______________________

Mora em que bairro?_____________________________há quanto tempo?__________________

Você trabalha? ( ) Não ( ) Sim. Se trabalha, quantas horas por dia?__________________

1 - O que costuma fazer nas horas de folga do trabalho e/ou dos estudos?

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

2 - Como você vivencia o espaço público?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3 - Quais elementos ou objetos você considera indispensáveis existir em uma praça pública?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4 - Quais os lugares públicos, do Centro de Delmiro Gouveia/AL, que você costuma frequentar DURANTE A SEMANA?

( ) Prç. Nª Senhora do Rosário ( ) Prç. Vicente de Menezes ( ) Prç.da Matriz ( ) Prç. Delmiro Gouveia ( ) Prç. Dr. Ulisses Luna

( ) Calçadão ( ) Outros. Quais? _______________________________________________________________________________________________________________

5 - Quais os lugares públicos, do Centro de Delmiro Gouveia/AL, que você costuma frequentar NOS FINAIS DE SEMANA E FERIADOS? ( ) Prç. Nª Senhora do Rosário ( ) Prç. Vicente de Menezes ( ) Prç.da Matriz ( ) Prç. Delmiro Gouveia ( ) Prç. Dr. Ulisses Luna

( ) Calçadão ( ) Outros. Quais? ______________________________________________________________________________________________________________

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6 - Qual a atividade de lazer principal que você exerce no espaço público do Centro de Delmiro Gouveia? ( ) Participação de eventos culturais (som na praça, Festa da Padroeira, bloco de carnaval, etc.) ( ) Esportes (caminhada, ginástica na praça, basquete, futebol, etc.) ( ) Em busca de atividades lúdicas (brinquedos instalados nas praças) ( ) Artes ( ) Religião (cultos, procissões, missas, etc.) ( ) Encontrar amigos/parentes ( ) Namorar/Paquerar ( ) Praça de alimentação ( ) Quiosques ( ) Sorveteria ( ) Rampa de skate ( ) Prática da leitura ( ) Outros:____________________________________________________________

7 - Pensando no que faz durante o tempo de folga e em outros momentos do dia a dia, o que você considera como lazer? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8 – o que leva você a escolher o espaço público para o lazer? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9 – Quanto tempo, média, costuma permanecer nos espaços de lazer do Centro de Delmiro? _________________________________________________________________________________ 10 – Você considera os espaços de lazer da cidade completos, adequados, propícios ao lazer? ( ) Sim ( ) Não: Se não, o que falta para serem espaços mais adequados ao lazer? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Obrigado!

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