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GUSTAVO VIEIRA SETLIK
ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC): UM ESTUDO DE CASO.
BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC) 2016
1
2
RESUMO A cidade de Balneário Camboriú é considerada um dos destinos turísticos de Sol e Mar mais importantes do país. Atualmente é perceptível a importância do espaço urbano e seus elementos, tanto para os moradores quanto para os turistas. Diversos elementos compõem uma cidade, porém esta pesquisa irá tratar especialmente dos espaços públicos de lazer. Considerando a oferta de espaços públicos de lazer existente em Balneário Camboriú, enquanto destino turístico, até que ponto esta oferta atende as expectativas e necessidades de lazer da população local? O objetivo geral deste trabalho é analisar a oferta dos espaços públicos de lazer da cidade de Balneário Camboriú e suas possíveis implicações no bem-estar da população local e na atratividade do destino turístico. Propõe para isso uma pesquisa documental seguida da utilização de dois métodos de pesquisa qualitativos, o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) e o Mapa Mental. Através do uso destes dois métodos foi possível reconhecer a opinião/percepção dos moradores com relação às expectativas e necessidade de lazer dentro da cidade. Os resultados apresentaram diversos aspectos interessantes, como algumas diferenças entre os espaços de lazer dos bairros mais afastados da Praia Central e os localizados no Centro, a apropriação de alguns espaços e não tão notável da Praia Central, principal espaço público de lazer da cidade. Palavras-chave: Turismo e lazer; Espaço público de lazer; Balneário Camboriú.
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ABSTRACT The town of Balneário Camboriú is considered one of the most important Sun and Beach tourist destinations in Brazil. Nowadays, the importance of the urban space and its elements is significant, both for the local residents and for tourists. Several elements make up a town. This research will deal specially with public spaces for leisure. Considering the existing offer of public leisure spaces in Balneário Camboriú as a tourist destination, it analyzes the extent to which the offer meets the leisure expectations and the needs of local population? The general objective of this research is to analyze the offer of public leisure spaces in the town, and their possible implications for the well-being of the local population and for the attractiveness of the town as a tourist destination. It then proposes a documentary research, followed by two qualitative research methods: Collective Subject Discourse, and a Mental Map. Using these two methods, it was possible to gather residents‟ opinions in relation to their expectations and leisure needs in the town. The results present many interesting aspects, such as some differences between leisure spaces in the neighborhoods further away from the Praia Central (central beach) and those located closer to the center. It was also observed that the use of some spaces is not as noticeable as in the area around the Praia Central, the main public leisure space in the town. Keywords: Tourism and leisure; Public leisure spaces; Balneário Camboriú.
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LISTA DE QUADROS Quadro 01 - Rede recreativa do homem urbano................................... 39
Quadro 02 - Síntese da fundamentação teórica.................................... 43
Quadro 03 - Amostra da pesquisa por bairros/áreas............................. 51
Quadro 04 - Praças de Balneário Camboriú (SC)................................. 67
Quadro 05 - Academias públicas em Balneário Camboriú (SC)............ 67
Quadro 06 - Quadro-síntese questão 3: Acredita que os espaços
públicos de lazer de toda a cidade atendem às suas
necessidades de lazer?.....................................................
81
Quadro 07 - IC: Atendem as expectativas e a cidade está melhorando
cada vez mais....................................................................
81
Quadro 08 - IC: Não atendem, ainda falta muita coisa, fica a desejar,
e os que existem deveriam ser melhor cuidados e
aproveitados......................................................................
82
Quadro 09 - AC: A estrutura é melhor em bairros nobres..................... 83
Quadro 10 - AC: O poder público pensa mais nos turistas.................... 83
Quadro 11 - AC: Os maiores frequentadores dos espaços são as
crianças..............................................................................
83
Quadro 12 - AC: Cidades turísticas tem bastante espaços de lazer..... 83
Quadro 13 - Quadro-síntese questão 4: E suas expectativas em
relação aos espaços de lazer da cidade, elas são
atendidas? O que o(a) Sr.(a) espera para o futuro?..........
84
Quadro 14 - IC: As expectativas são atendidas porém precisa
melhorar algo.....................................................................
84
Quadro 15 - IC: Espera mudança pois a oferta está defasada.............. 85
Quadro 16 - IC: Espera que o poder público melhore........................... 86
Quadro 17 - IC: Espera melhorias pois os espaços existentes não
são bem cuidados..............................................................
86
Quadro 18 - AC: Se existissem mais espaços de lazer diminuiriam a
criminalidade e o uso de drogas........................................
87
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Delimitação dos bairros com diferenciação dos índices de
espaços públicos de lazer por habitante.............................
30
Figura 02 - Divisão por bairros de Balneário Camboriú (SC) 49
Figura 03 - Figura do Mapa turístico de Balneário Camboriú
(SC).....................................................................................
50
Figura 04 - Tipologia e estratégia da pesquisa...................................... 52
Figura 05 - Mapa de localização de Balneário Camboriú dentro do
estado de Santa Catarina....................................................
54
Figura 06 - Avenida Atlântica, cidade de Camboriú (SC) em 1950....... 55
Figura 07 - Vista Geral da Praia de Camboriú (SC) – Década de
1950.....................................................................................
56
Figura 08 - Vista da praia central de Balneário Camboriú (SC)............ 57
Figura 09 - Atrativos Turísticos de Balneário Camboriú (SC),
apresentados pela Secretaria de Turismo da cidade..........
60
Figura 10 - Vista aérea da Praia Central de Balneário Camboriú (SC). 62
Figura 11 - Espaços públicos de lazer apresentados como atrativo
turístico pela Secretaria de Turismo....................................
64
Figura 12 - Molhe da Barra Sul em Balneário Camboriú (SC).............. 65
Figura 13 - Academia Municipal Pontal Norte....................................... 68
Figura 14 - Praias Agrestes em Balneário Camboriú (SC).................... 70
Figura 15 - Mapa das vias ciclísticas implantadas................................ 71
Figura 16 - Morro do Careca em Balneário Camboriú (SC).................. 72
Figura 17 - Espaços públicos de lazer reconhecidos pelos
moradores, por bairro..........................................................
74
Figura 18 - Espaços públicos de lazer de outros bairros reconhecidos
pelos moradores..................................................................
76
Figura 19 - Espaços públicos de lazer frequentados pelos turistas, na
visão dos moradores...........................................................
78
Figura 20 - Escala de quantidade de pessoas nas praças.................... 80
Figura 21 - Mapas Mentais representando legibilidade......................... 89
Figura 22 - Mapas Mentais com predominância de vias....................... 91
6
Figura 23 - Marcos da cidade reconhecidos nos mapas mentais......... 93
7
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 - Evolução do IDHM - Balneário Camboriú – SC................. 58
Gráfico 02 - Percentual de domicílios urbanos por classe econômica,
em Balneário Camboriú e Santa Catarina, em 2011.........
59
Gráfico 03 - Espaços públicos de lazer frequentados pelos turistas,
os mais citados pelos moradores......................................
79
8
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................... 2
LISTA DE QUADROS ................................................................................................. 4
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... 5
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1.1 A problemática, os objetivos e a escolha do objeto de estudo ................. 14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 18
2.1 Discussão dos conceitos de lazer ................................................................ 18
2.2 A importância dos espaços públicos de lazer para o residente e o turista . 23
2.2.1 O desenvolvimento do lazer no Brasil: um breve histórico ........................ 24
2.2.2 O lazer em espaços públicos e sua importância para a população ........... 28
2.2.3 Espaços de lazer e sua relação com o turismo ......................................... 33
2.3 Abordagens em espaços de lazer ................................................................ 36
2.3.1 O Mapa Mental e o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) ............................ 40
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 46
3.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................ 46
3.2 Procedimentos de coleta de dados .............................................................. 47
3.3 Procedimentos para análise dos dados ....................................................... 52
4 O OBJETO DE ESTUDO, BALNEÁRIO CAMBORÍU – SC .................................. 54
5 RESULTADOS ....................................................................................................... 63
5.1 Identificação da oferta de espaços públicos de lazer em Balneário Camboriú (SC) ...................................................................................................... 64
5.2 Reconhecendo a opinião/percepção dos moradores ................................. 73
5.2.1 Os discursos sobre os espaços de lazer. .................................................. 81
5.3 Interpretando o significado dos espaços públicos de lazer para a população ............................................................................................................. 88
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 94
9
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 97
APÊNDICE A – Termo de consentimento e roteiro de pesquisa ....................... 102
APÊNDICE B – Quadros descritivos dos espaços de lazer de Balneário Camboriú SC.......................................................................................................... 105
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1 INTRODUÇÃO
Os investimentos em melhorias do lazer público fazem parte da qualidade de vida de
uma população. Porém, em cidades que são destinos turísticos, onde a economia
gira em torno desta atividade, observa-se muitas vezes que os investimentos em
lazer e recreação são pensados para atender o perfil do público visitante, deixando
de lado as necessidades dos habitantes. A população local, além de não usufruir
destes equipamentos ou ações, acaba sendo procurada apenas como mão de obra
para atender a demanda de turistas.
O lazer no dia-a-dia vem sendo abordado, principalmente a partir do século XX, por
autores da área, destaque para Krippendorf, De Masi, Dumazedier, Boullon e
Ruschmann, que vem discutindo a importância dele para a qualidade de vida do ser
humano nas cidades modernas. Mais especialmente Krippendorf (2001) pode ser
considerado o autor que mais ressalta a qualidade de vida de uma comunidade
como importante fator integrante de um planejamento turístico de sucesso, devido
ao fato de sua publicação focar na área do turismo. O autor também trata do assunto
não só com este objetivo turístico, mas também para que a qualidade de vida de
uma comunidade compense a ideia de que as férias e as viagens sejam sempre um
contrapeso do nosso cotidiano, para que possamos encontrar “férias em nosso dia-
a-dia”.
Esses pensamentos de Krippendorf (2001) compõem os dois pontos que serão
trabalhados nesta pesquisa:
O lazer no cotidiano de uma população afim de trazer o universo das férias
para o dia-a-dia;
O lazer do dia-a-dia como propulsor de uma qualidade de vida local, que
inserida no planejamento turístico, pode alavancar a atratividade e a
qualidade de um destino.
Atualmente, supõe-se que, se todas as cidades tivessem opções de lazer inseridas
no cotidiano de seus os moradores seriam um meio ambiente urbano agradável, e
com isso, as expectativas de lazer seriam distribuídas num maior período de tempo,
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e não somente nas férias, pois teriam prazer em permanecer em suas residências.
Segundo Krippendorf (2001), temos a necessidade, no período de férias, de
satisfazer nossos desejos e vontades que não conseguimos no nosso dia-a-dia.
Parece implícito nas pessoas que para satisfazer essas necessidades precisamos
sair do nosso entorno habitual, e nunca encontraremos essa satisfação em nossa
“casa”. Existem algumas raras exceções, pessoas que exercem um trabalho com
horário mais flexível, que são mais livres, e que podem realmente usufruir o seu
jardim durante as férias. Segundo o autor, projetamos para fora as necessidades de
repouso, criando uma polarização “trabalhar e morar aqui – descansar além”.
Este ponto de vista é compartilhado por De Masi (2000), que faz críticas ao modelo
social de extrema valorização do trabalho e desvalorização do ócio, sugerindo que
este último seja valorizado por cada ser humano. Segundo o autor, teremos uma
sociedade mais saudável e sustentável no momento em que equilibramos a divisão
do nosso tempo entre trabalho, estudo e lazer. E para isso, uma estrutura urbana de
lazer planejada para atender ás necessidades da comunidade se torna essencial.
Em qualquer região considerada turística, ou até mesmo que tem a atividade
turística em pequena escala, os moradores devem ter o direito de usufruir desta
estrutura e de serem consultados, tendo voz e participando das decisões sobre as
políticas públicas e privadas que decidem as diretrizes do turismo naquele local.
Por conseguinte, uma destinação turística deve se preocupar em fortalecer não
somente atrativos de paisagem, áreas privadas de lazer e compras, equipamentos
de lazer, monumentos e prédios históricos, etc., mas deve desenvolver a
compreensão e valorização da cultura em si, incluindo o modo de viver das pessoas
de um local. Se pensarmos nas despesas gigantescas geradas pelo movimento das
viagens de férias, e revertêssemos todo esse investimento nas cidades de origem
dos turistas, consequentemente teríamos as sensações das férias mais presentes
em nosso dia-a-dia.
Existem casos de sucesso onde destinos turísticos são procurados por possuírem
um cotidiano e um ambiente tão agradável para a sua população local, que acaba
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tornando-se interessante e atrativo para pessoas de outros lugares. Um exemplo
são os Estados Unidos da América, país que atrai turistas não somente pelos
equipamentos turísticos modernos e conhecidos mundialmente, como a Disney
World, mas também pela sua qualidade de vida e cultura, altamente reconhecidos
ao redor do mundo.
O lazer urbano, especificamente em Balneário Camboriú, pode influenciar na
tomada de decisão de turistas reais e potenciais. Segundo CHIAS (2007, p.20),
autor especializado em marketing de destinos: “[...] outro aspecto que caracteriza
fortemente o turismo: o conhecimento, a compreensão e o contato com recursos
naturais e culturais diferentes do nosso”. Valorizando a cultura local e a explorando
turisticamente, teremos em todos os destinos peculiaridades diferentes do entorno
habitual de cada viajante.
Além da preocupação em proporcionar lazer às pessoas que não tem acesso a
viagens, o lazer urbano usufruído com sucesso pela sua comunidade, pode ser um
atrativo de enorme força na tomada de decisão por um destino. Krippendorf (2001,
p.7) defende que os objetivos de um planejamento turístico devem sempre ser:
Maior geração possível de recursos econômicos;
Um bem-estar subjetivo da população, nas áreas de destino e nas regiões
pelas quais se viaja;
Maior satisfação possível das necessidades dos visitantes;
Conservação da paisagem e naturezas intactas, nas áreas de destino e nas
regiões pelas quais se viaja.
Destacaremos aqui o segundo objetivo apresentado, que trata do bem-estar
subjetivo da população onde se viaja. A pesquisadora em turismo, Dóris
Ruschmann, que dedicou grande parte de sua vida a consultorias em planejamentos
de destinos turísticos também defende a ideia de Krippendorf, levando a
preocupação em oferecer condições de lazer a quem não pode viajar. Segundo
Ruschmann (1997), o poder público deve ter a preocupação em disponibilizar
equipamentos e espaços para atividades recreativas adequadas e que produzam
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satisfação àqueles que não tem acesso às viagens turísticas.
Comparando as colocações dos dois autores podemos dizer que o “direito ao bem-
estar e ao lazer” apresentado por Ruschmann (1997) como uma ação direcionada as
pessoas que não tem condições, ou apresentam limitações para viajar, pode, e
deve, ser utilizado como fator de atratividade turística de um destino, como apontado
por Krippendorf nos objetivos de um planejamento turístico.
Neste ponto vale destacar a ideia aqui levantada pelos autores até aqui, de que os
espaços de lazer de qualidade para o morador podem tornar-se atrativos para os
turistas.
Como já apontado anteriormente, o tema focal será o lazer. Para isso se faz
necessário um aprofundamento no tema. Nesta parte, os outros dois autores
fundamentais desta pesquisa, Dumazedier e De Masi, abordam o tema.
De Masi apresenta em 2001 o termo “ócio criativo”. Segundo ele o ócio pode ser
tornar em uma coisa negativa para uma pessoa, transformando-se em violência, em
vício, em preguiça, porém, a partir deste termo, o autor sugere uma nova forma de
levar a vida, dividindo o tempo entre trabalho, lazer e estudo. Segundo o autor
devemos concentrar nossas potencialidades em nosso tempo livre, pois é nele
(atualmente), que passamos a maior parte de nossos dias. O autor vem de uma
linha de pensamento Marxista e de Max Weber. Linha essa que repensa a divisão
do trabalho, o uso do tempo livre, e demais questões que marcaram as discussões
neste último século.
Fruto também desta discussão, Dumazedier é considerado por muitos, de acordo
com resultados do levantamento do estado da arte feito para esta pesquisa, o “pai”
do lazer no Brasil. Este autor traz, na década de 1970, para o Brasil uma
colaboração importante para o início dos estudos sobre o tema. Segundo ele, o lazer
não é apenas o que se faz no tempo liberado do trabalho, mas sim uma criação do
ser humano, que nos últimos anos, principalmente após a revolução industrial, deu
origem a um movimento social que vem modificando nossas definições de estruturas
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sociais e da própria vida de cada um de nós.
O tema lazer em si é muito amplo, podendo ser discutido sobre várias perspectivas e
diferentes setores. Sendo assim, aqui serão utilizadas as produções teóricas
voltadas à discussão o lazer urbano, principalmente em cidades turísticas.
Alguns autores, Kevin Lynch (2011), Boullón (2002) e Kohlsdorf (1996), trabalham
com a questão da imagem e da estrutura das cidades. Essa temática vem ao total
encontro com os objetivos de estudo desta pesquisa. Lynch (2011) discursa em seu
livro sobre a imagem da cidade, segundo ele, “cada cidadão tem vastas associações
com alguma parte de sua cidade, e a imagem de cada um está impregnada de
lembranças e significados”. Ele aborda o fato de que não somos apenas
observadores, mas sim agentes participantes do contexto e, portanto, tão
importantes quanto os elementos físicos. Segundo o autor, podemos observar em
uma cidade a sua legibilidade, a construção da imagem, a estrutura e identidade e a
imaginabilidade.
Sendo assim, é válida uma análise unindo a teoria do urbanismo às teorias do lazer
provindas do turismo e da sociologia, o que resultará numa maior possibilidade de
entendimento das necessidades e expectativas de lazer e recreação da população
local.
1.1 A problemática, os objetivos e a escolha do objeto de estudo
Dentre os destinos turísticos mais procurados do Brasil, os destinos de Sol e Mar
tem destaque. Apesar de todo o processo de colonização do Brasil ter sido iniciado
pelo litoral do país, foi somente após a revolução industrial, e a crescente
preocupação com o lazer no tempo livre, que se começou a utilizar as praias como
espaços de lazer. Seguindo essa tendência, as cidades litorâneas foram sendo
ocupadas com o objetivo de usufruir do lazer, principalmente nas férias.
No Brasil temos um extenso litoral, com diversas localidades litorâneas que tem
explorado o turismo de Sol e Mar. Dentre estas localidades podemos citar a cidade
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de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Segundo o Ministério do Turismo
(2015), a cidade lidera o ranking das 65 cidades indutoras do turismo no quesito
aspectos sociais, onde são avaliados: acesso à educação; empregos gerados pelo
turismo; uso de atrativos e equipamentos turísticos pela população; cidadania,
sensibilização e participação na atividade turística; e política de enfrentamento e
prevenção à exploração de crianças e adolescentes.
Segundo o Relatório 2014 do Índice de Competitividade do Turismo Nacional (2014)
a existência em Balneário Camboriú de incentivo ao uso dos equipamentos turísticos
pela população local, por parte do poder público através de ações, e o reforço à
população sobre a importância da atividade turística para o destino, foram os fatores
que mais contribuíram para este índice. A cidade também possui, dentre os 65
municípios indutores, a menor taxa de analfabetismo e o maior Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal - Longevidade (IDHM-L).
A cidade se emancipou em 1964, e neste período de 52 anos cresceu e se
desenvolveu de forma rápida, baseada, no início de sua história como município, na
atividade turística, como uma cidade de veraneio. Atualmente é perceptível a
importância do espaço urbano e seus elementos, tanto para os moradores quanto
para os turistas. Será que este espaço urbano é de qualidade? Será que atende às
necessidades e expectativas dos moradores? Isso pode implicar na atividade
turística?
Traçando esta linha de pensamento teórico dos autores apresentados (Krippendorf,
De Masi, Dumazedier, Ruschmann), no que se refere as dimensões de lazer
abordadas, se pensou na necessidade de se pesquisar um destino turístico através
deste olhar, afim de contribuir com a discussão teórica do assunto, classificar a
oferta de espaços públicos de lazer e levantar a opinião/percepção apontada pelos
residentes.
Partindo do problema de pesquisa exposto, apresenta-se a seguinte pergunta de
pesquisa: considerando a oferta de espaços públicos de lazer existente em
Balneário Camboriú, enquanto destino turístico, até que ponto esta oferta atende as
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expectativas e necessidades de lazer da população local? Tal questionamento
conduz ao objetivo geral, que será analisar a oferta dos espaços públicos de lazer
da cidade de Balneário Camboriú e suas possíveis implicações no bem-estar da
população local e na atratividade do destino turístico.
Os objetivos específicos são:
Identificar a oferta de espaços públicos de lazer da cidade;
Reconhecer a opinião/percepção da comunidade local sobre as expectativas
e necessidades de lazer na cidade;
Identificar por bairro os espaços públicos de lazer utilizados pela população;
Interpretar o significado destes espaços públicos de lazer pela população.
A razão da escolha da cidade Balneário Camboriú como objeto de estudo se dá pela
cidade estar entre as cidades brasileiras com melhor índice de desenvolvimento
humano. Segundo o Atlas Brasil (PNUD, 2013), a cidade está com um Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal situado na faixa de Desenvolvimento Humano
Muito Alto (IDHM entre 0,8 e 1).
A divulgação destes dados em mídia nacional tem atraído, além de turistas, pessoas
interessadas em adquirir suas segundas residências, ou até mesmo para residir
durante a sua aposentadoria. Atualmente a cidade é considerada um dos polos
turísticos mais importantes e visitados do Brasil. Carrega há um tempo o título de
Capital Catarinense do Turismo, e é um dos 65 municípios indutores do turismo,
destacados pelo Plano de Regionalização do Turismo (Ministério do Turismo). Vale
ressaltar também que a cidade possui apenas 52 anos, período curto se comparado
ao tamanho do crescimento urbano dela. Como as grandes transformações,
principalmente no que se refere ao turismo, acontecerão após sua emancipação,
este será o recorte temporal da pesquisa.
A partir disto se identificou a cidade como um local adequado para a aplicação da
pesquisa, ou seja, um destino turístico reconhecido nacionalmente e com uma
população local com excelente índice de IDH e qualidade de vida.
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Além disso, de acordo com as pesquisas iniciais em bases documentais e
bibliográficas, identificou-se que não existem muitas pesquisas, com estes mesmos
objetivos e métodos, realizadas no país. Pode-se também posteriormente, utilizar-se
esta dissertação como base para pesquisas em outros destinos turísticos.
Nesta pesquisa serão utilizados dois métodos de coleta e análise de dados, o DSC
(Discurso do Sujeito Coletivo), e o Mapa Mental. Ambos são métodos qualitativos e
espera-se que com eles seja possível descrever, analisar e interpretar a
opinião/percepção dos moradores sobre os espaços públicos de lazer da cidade.
Além deles, uma etapa de pesquisa documental pretende descrever os espaços
públicos de lazer espalhados por Balneário Camboriú. A metodologia será melhor
detalhada no decorrer do trabalho.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Discussão dos conceitos de lazer
Como base para conceituação do termo Lazer, na sua forma mais aplicada ao
turismo e ao lazer urbano, serão utilizadas as produções de Dumazedier
(1976,1980, 1994, 2008), considerado por muitos um dos precursores da discussão
sobre o lazer moderno. A partir destes conceitos iniciais, serão agregados autores
que discutem o lazer no Brasil, como Marcellino (2000), e autores que abordam o
lazer voltado às viagens e a humanização do cotidiano nas cidades, procurando
sustentar teoricamente os resultados coletados na pesquisa (Krippendorf, 2001;
Ruschmann, 1997; De Masi, 2000, Boullón, 2004).
Dumazedier cita em algumas partes de suas obras o trabalho de Karl Marx, sendo
assim, considera também que o lazer e a redução da jornada de trabalho
contribuíram para o crescimento pessoal de cada um de nós. Em meados dos anos
de 1883, registra-se o primeiro texto que fala sobre o lazer dos operários, na Europa.
Texto esse de autoria de Paul Lafargue, onde ele questiona se o trabalho seria um
fim ou um meio (DUMAZEDIER, 2008). Para fins desta pesquisa não se pretende
aprofundar esses dois autores supra citados. Portanto, o foco da fundamentação
terá início nas falas de Dumazedier, seus contemporâneos e os autores dos dias
atuais, principalmente provindos de produções de artigos científicos (vide capítulos
3.1 e 3.2). Dumazedier cita que somente entre 1920 e 1930 percebe-se o início das
discussões obre a sociologia empírica do lazer, nos Estados Unidos.
O início destas discussões ocorre automaticamente em resposta as mudanças
sociais ocorridas, principalmente aquelas relacionadas aos direitos trabalhistas.
Refletimos que, ao passo em que se diminuem as horas trabalhadas, aumenta o
tempo livre, por conseguinte, surge a questão: o que fazer com esse tempo livre do
trabalho? “A instauração da jornada de oito horas provoca a esperança e também a
inquietude dos reformadores sociais: o tempo liberado será utilizado para o
florescimento ou para a degradação da personalidade?” (DUMAZEDIER, 2008, p.21)
Talvez, apesar de terem passados praticamente 100 anos desde as primeiras
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discussões sobre o tempo livre, nos dias de hoje ainda se ouvem vestígios desse
pensamento. É comum, pelo menos ao que parece numa visão empírica, encontrar
pessoas as quais, tempo livre ou ócio, significam cabeça vazia, vadiagem, onde não
se enxerga, além do trabalho e das obrigações, a opção de crescimento pessoal e
produção positiva.
A origem do lazer é tema de algumas teorias diferentes. Não simplesmente o lazer
existe ao mesmo tempo em que se existe trabalho, o que remontaria a tempos muito
antigos. Mas, Dumazedier (2008), explica que o lazer que entendemos e estudamos
hoje possui características específicas da sociedade provinda da Revolução
Industrial. Aqui nesse ponto está um fator muito importante no que se refere à
definição do termo “lazer”. Apesar de, em épocas muito antigas, onde o trabalho já
existia, as pessoas terem o seu “tempo livre”, que se traduzia no tempo além do
trabalho, o que era feito com ele não caracteriza o lazer abordado a partir do século
XX e considerado até hoje.
Essa ideia é apresentada também por Marcellino (2000) dentro do cenário brasileiro,
onde cita que o lazer toma uma significação própria quando se inicia a transição, no
Brasil, do estágio tradicional (sociedade rural e pré-industrial) para o moderno
(industrial e pós-industrial).
Para Dumazedier (2008), existem dois fatores chaves que determinam essa
diferenciação da abordagem ao tema lazer, identificados apenas na sociedade
industrial e pós-industrial. Segundo ele, o primeiro é que a população obteve mais
liberdade para tomar decisão sobre o que fazer no seu tempo livre, o que antes era,
geralmente, regrado por obrigações rituais impostas. O segundo diz respeito a
definição da jornada de trabalho. Se antes, no ambiente rural, as famílias
trabalhavam durante todo o dia, dependendo de condições climáticas, ou do período
das plantações, por exemplo, agora o trabalho tinha hora definida para começar e
para acabar, o que acabou separando o tempo de trabalho do tempo de lazer, com
horários bem definidos.
Com o surgimento do tempo livre definido, separado do trabalho, significa que as
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pessoas desenvolveram rapidamente suas habilidades para o lazer? Não
necessariamente. As horas não dedicadas ao trabalho, em muitos lares, se
transformaram em horas dedicadas ao trabalho doméstico e às obrigações
familiares, cita Dumazedier (2008). Além disso, notou-se um aumento considerável
na dedicação das pessoas, principalmente jovens, à religião, à política e aos
movimentos sociais.
Isso também se deu pois nós, segundo De Masi (2000), fomos preparados para o
trabalho. Na escola, dentro de casa, na universidade, nunca nos ensinaram como
aproveitar o tempo livre. Temos dificuldade de administrar nosso tempo livre pois
ainda não existe nenhum modelo de vida e sociedade baseado nele, mas sim no
trabalho.
A procura pela redução na jornada de trabalho acabou afetando também este
trabalho doméstico, ao qual se dedicavam boa parte do tempo livre. O
desenvolvimento da tecnologia, citam-se aqui principalmente os eletrodomésticos,
permitiu, e esse era o intuito, que se desprendesse menos tempo a essas tarefas.
Porém, só isso não justificaria a transformação do tempo livre em atividades de
lazer. Dumazedier (2008, p,55) diz que
é preciso fazer intervir uma componente ético-social. Com efeito, nossa hipótese é que a produção do lazer é o resultado de dois movimentos simultâneos: a) o progresso científico-técnico apoiado pelos movimentos sociais libera uma parcela do tempo de trabalho profissional e doméstico; b) a regressão do controle social pelas instituições básicas da sociedade (famílias, sócio espirituais e sócio políticas) permite ocupar o tempo liberado principalmente com atividades de lazer.
A partir deste ponto se faz necessário aqui o diálogo sobre o que significa o lazer.
Porque, ao passar dos anos, principalmente após a revolução industrial, após o
surgimento das leis trabalhistas, existe um movimento social em busca da prática de
diversos tipos de atividades que se encaixam dentro do lazer? Uma das principais
definições vem justamente de Dumazedier (2008), que trata o lazer como uma nova
necessidade social, assim como o trabalho. Para ele a busca pelo lazer (entende-se
por diversas atividades que se encaixam nesse termo, como teatro, música,
televisão, bares, recreação, entretenimento, viagens, entre outras) é uma
necessidade social do indivíduo dedicada a si próprio, e não mais por instituições
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como família, sócio espirituais e sócio políticas.
Na década de 1960 surgem então novas atualizações sobre o tempo livre, onde
esse tempo seria o que sobrasse descontando o trabalho, o deslocamento até ele,
obrigações domésticas e arranjo de atividades de manutenção vital: sono, refeições,
higiene pessoal. E essas atualizações são utilizadas atualmente. A seguir serão
apresentadas algumas definições de lazer citadas por Dumazedier (2008):
- Através de um olhar mais psicológico, o lazer é um comportamento e não uma
categoria. O lazer pode ser mútuo com outras categorias, como trabalho e estudo.
Pode-se ter lazer ao trabalhar escutando música, estudar de forma lúdica e lavar
louça ouvindo rádio, por exemplo;
- Visão com base economista: o lazer é o oposto ao trabalho profissional, é o não-
trabalho;
- Uma terceira definição aborda o lazer como o tempo livre, além do trabalho e exclui
do mesmo as obrigações doméstico-familiares;
- A quarta definição seria um complemento da terceira. Porém essa define lazer
como tempo subtraído do trabalho, das obrigações domésticas, das obrigações
sócio espirituais e sócio políticas. Seria como um “direito” social adquirido para a
“autossatisfação”. Segundo pesquisas apresentadas pelo autor, o trabalhador teria
em média 4 a 5 horas por dia, incluindo sábados e domingos, livres para o lazer;
- Para completar a conceituação de lazer o autor (2008; 1980) apresenta quatro
propriedades do lazer, as quais são: caráter liberatório (livre escolha), caráter
desinteressado (não é pragmático), caráter hedonístico (procura por satisfação) e
caráter pessoal (envolve toda a personalidade).
Boullón (2004, p.61) também apresenta uma definição de lazer nessa mesma linha
teórica. Segundo ele:
TEMPO LIVRE = ÓCIO CRIATIVO OU LAZER + TEMPO DISPERDIÇADO
Apesar da evolução do conceito de lazer, atualmente não existe um acordo entre
especialistas do tema. Marcellino (2000) sugere que os estudos atuais se baseiam
22
em duas correntes de pensamento. Uma delas seria a linha que considera o lazer
como estilo de vida, independentemente do tempo determinado. A segunda corrente
trata justamente, e apenas, do tempo, sugerindo que lazer seria o “tempo livre”. O
autor cita, portanto, que a melhor forma de conceituar, e tendência dominante na
área, é a junção das duas correntes, assim como faz Dumazedier.
Em 1976, Dumazedier complementa a definição de lazer, e cita as três funções que
o caracterizam, são elas: descanso; divertimento, recreação e entretenimento; e,
por último, desenvolvimento da personalidade. O descanso seria basicamente a
recuperação física e mental das obrigações diárias, do trabalho em si e das demais
tarefas, como as domésticas por exemplo.
A recreação, diversão, entretenimento, correspondem as atividades que realizamos
para se desprender um pouco da realidade, para divertir-se pura e simplesmente,
sem, necessariamente, ganhar algo após isso. Dumazedier (1976) apresenta essa
função como a mais assinalada em pesquisas sobre o lazer, ou seja, a função mais
exercida. A terceira função, a de desenvolvimento da personalidade, segundo o
autor, permite uma maior participação social, a prática de uma cultura
desinteressada do corpo, da razão, da sensibilidade. Permite o desenvolvimento de
atitudes que aprendemos na escola.
Com base no texto citado anteriormente, apresenta-se aqui uma definição do termo
lazer, defendida por Dumazedier (1976, p.34) a qual norteou esta pesquisa.
O lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.
A partir desta definição estabeleceu-se um parâmetro para abordar as expectativas
e necessidade de lazer dos residentes no objeto de estudo. Porém, antes se faz
necessária uma abordagem sobre o lazer em espaços públicos e a importância
desses espaços para os residentes e turistas.
23
Para isso, serão abordadas no próximo item as contribuições de autores, dos
clássicos aos mais recentes, para a discussão do tema.
2.2 A importância dos espaços públicos de lazer para o residente e o turista
Ao pensarmos em uma cidade, inevitavelmente incluem-se os espaços públicos de
lazer, os quais exercem importante influência na vida da população local. Alguns
autores (ALMEIDA & GUTIERREZ, 2011; BOULLÓN, 2002; GOMES, 2008;
GRINOVER, 2007; JOHNSON, GLOVER & STEWART, 2014; KRIPPENDORF,
2001; OLIVEIRA & MASCARÓ, 2007; RIBEIRO, 2014; RODRIGUES, 2014;
RUSCHMANN, 1997; SANTANA & ALVES, 2014; SILVA, 2012 e 2013), tratam deste
assunto e abordam aspectos relacionados com os espaços de lazer e seus
residentes.
Segundo Coelho (2000), o lazer é uma necessidade para o desenvolvimento tanto
pessoal quanto para a convivência humana nas cidades, ou seja, para a política.
Através dele a construção de cada indivíduo colabora para a construção da
comunidade.
A oferta de espaços de lazer para os moradores possui também o objetivo de
oferecer opções de lazer a quem não tem poder aquisitivo para o lazer pago, como
clubes, passeios e viagens. Autores como Krippendorf (2001) e Ruschmann (1997),
além de outros que abordam este tema, defendem a ideia de que os governantes
devem oferecer as pessoas que não tem condições de viajar nas férias, opções de
lazer dentro das suas cidades. Seria algo como trazer as férias para dentro de casa,
e não depender exclusivamente das viagens.
Os argumentos aparentemente são demolidores: para que as pessoas se divirtam precisam ter com que pagar. Para isso, têm de trabalhar, para que possam trabalhar têm de comer e dormir, ter água, luz e meios de transporte que as levem ao trabalho. Depois vêm os luxos, entre eles a satisfação da necessidade de lazer. Um círculo vicioso perfeito! (BOULLÓN, 2004, p.76)
Além disso, uma localidade com bons índices de qualidade de vida tem nesse
aspecto um fator atrativo para ser utilizado na atividade turística. Krippendorf (2001)
24
apresenta a qualidade de vida relativa de uma comunidade como fator integrante do
planejamento turístico de um destino.
2.2.1 O desenvolvimento do lazer no Brasil: um breve histórico
O lazer nos dias atuais foi moldado pelos acontecimentos ao longo da nossa
história, com destaque para o período após a revolução industrial. Temos
aprimorado nossa administração sobre as horas do dia, que se dividem entre
necessidades (obrigações), trabalho, estudo e lazer. Somado a isso, com o
surgimento das cidades, e das metrópoles, novas formas de lazer apareceram, e
outras se adaptaram a esse novo estilo de vida.
Durante este desenvolvimento, Oliveira e Mascaró (2007), em artigo que analisa a
qualidade de vida urbana sob a ótica dos espaços públicos de lazer, citam três
pilares do lazer, Estado, o Mercado, e a Sociedade. Cada um desses pilares, com
suas diferenciadas capacidades de influência, dependendo da região e sua cultura,
costumam defender seus próprios objetivos, o que cria conflito, ao invés de
cooperação.
Esse contexto urbano em transformação, de incertezas motivadas por interesses de classes individuais, por tendências socioeconômicas e por questionamentos da relação da cidade com o meio ambiente natural, reflete-se na caracterização dos espaços públicos abertos. Sendo assim, a inserção ou otimização desses espaços na malha urbana torna-se um desafio para os planejadores urbanos. (OLIVEIRA & MASCARÓ. 2007, p.60)
Em artigo publicado recentemente, Almeida e Gutierrez (2011) fazem uma análise
do desenvolvimento das práticas urbanas de lazer e sua relação com a cultura
brasileira produzida no período nacional-desenvolvimentista à globalização
(entende-se aqui o período entre o governo de Getúlio Vargas, na década de 30, até
o atual). Nesta pesquisa os autores concluíram que o lazer se complexificou a partir
da racionalização das formas de vida, sistematização dos tempos e
desencantamento do mundo. Através de uma teoria, chamada teoria habermasiana,
fizeram uma síntese entre as esferas de influência do lazer, que são: o Estado, o
Mercado e a Cultura.
25
Pode-se afirmar que o lazer surge no mundo da vida por meio da integração entre as pessoas, da busca do divertimento e da vontade de sentir prazer. A complexificação do lazer dá-se nas sociedades modernas com: a) sistematização dos tempos (separação do mundo das obrigações e do divertimento); e b) desencantamento do mundo (racionalização das formas de vida). (ALMEIDA & GUTIERREZ, 2011, p.139)
Seguindo essa linha de raciocínio, os autores trazem uma contribuição importante à
definição do tema, considerando que identifica-se o lazer quando:
o indivíduo esteja se relacionando com seus pares (cultura),
buscando prazer (personalidade),
e se a atividade é considerada lazer pelo grupo (sociedade).
As transformações do Estado Novo e sua influência na estruturação do lazer iniciam-
se segundo os autores (op cit) no governo de Getúlio Vargas, no populismo, período
onde os eventos, comícios, festas, enfim, ocorriam no tempo livre dos trabalhadores.
Segundo Almeida e Gutierrez (2011), isso ocorria por duas razões: a primeira seria
para a construção da imagem do presidente e a segunda a realização de atividades
para afastar a ociosidade dos operários. “As ações do governo objetivavam a ordem
por meio de atividades que mantivessem ativos os trabalhadores para não se
envolverem com qualquer tipo de ação ilícita”. (ALMEIDA & GUTIERREZ, 2011,
p.140)
Nesse período houve, no entanto, um crescimento da produção cultural brasileira e,
atrelado a todos estes fatores citados, neste mesmo período Getúlio Vargas
implantou no país a CLT, o que garantiu aos trabalhadores direitos e,
principalmente, a redução da jornada de trabalho. Com isso se tinha, a partir de
então, mais claro às pessoas, o tempo livre, e dentro dele, o tempo dedicado ao
lazer, no qual os trabalhadores agora se dedicavam a atividades como teatro,
cinema, música, entre outras.
Outro fator histórico importantíssimo citado por Almeida e Gutierrez (2011) foi o uso
do rádio, do cinema e de outros meios pelo Estado, com o objetivo de realizar
propaganda do seu governo, como uma forma de alcançar grande camada da
população. Com o desenvolvimento do rádio e o surgimento de grandes emissoras,
altos investimentos do governo em cinema e produções nacionais, fortalecimento do
26
teatro, foi disseminada a cultura de lazer no Brasil. Esses meios de comunicação e
lazer funcionavam tanto como opções de lazer, como divulgadores e propulsores de
festas, eventos, competições esportivas, atividades culturais, e muito mais. Segundo
os autores, durante todo o período getulista ocorreu grande desenvolvimento
artístico, no lazer e nas atividades urbanas do tempo livre. A comunicação aparece
como importante peça para o desenvolvimento do lazer em outras publicações.
Oliveira e Mascaró (2007, p.60) citam que “o modo de vida da sociedade e a
funcionalidade das cidades têm sofrido profundas transformações devido à
globalização da economia e da comunicação, gerando reflexos na estrutura física e
na ambiência urbana”.
Após esse período durante o governo Getúlio veio o governo de Juscelino
Kubitschek, na década de 50. Período esse marcado por um grande e acelerado
crescimento econômico do país.
A ênfase no desenvolvimento econômico e industrial impulsionou transformações que possibilitaram um maior acesso ao lazer, por meio do desenvolvimento das artes e espetáculos. Foi o momento de valorização do lazer do trabalhador com a construção dos clubes operários, principalmente com a chegada de empresas estrangeiras que já estruturavam em suas sedes as atividades operárias, construindo espaços de lazer para seus funcionários. (ALMEIDA & GUTIERREZ, 2011, p.141)
Um fator importante a considerar neste momento, e compartilhado por Almeida e
Gutierrez, é a importância do crescimento urbano e dos moradores das cidades,
superando nesse período a população rural. Com o surgimento dos centros urbanos
e industriais os trabalhadores enfrentavam uma nova configuração de cidade, muito
diferente do ambiente rural. As pessoas começaram a exigir opções de lazer para
usufruir durante seu tempo livre, aqui traduzido como o tempo não dedicado ao
trabalho.
Foram surgindo nas cidades equipamentos e espaços de lazer para atender esta
demanda, revolucionado as atividades de lazer no Brasil, as quais se modernizaram,
dentre elas destacam-se o cinema, teatro, passeios e viagens. No ambiente urbano
começam a surgir investimentos em atividades esportivas e espaços para a
realização dos mesmos.
27
Todo esse período de crescimento, segundo Almeida e Gutierrez (2011) foi
interrompido em um momento crucial da história brasileira, o golpe militar de 1964.
Durante a ditadura ouve um retrocesso no crescimento do lazer, devido, segundo os
autores, baseados na teoria habermasiana, poder do Estado por meio dos atos
institucionais, ele se sobrepõe às outras esferas que compõem as sociedades
complexas, o Sistema Dinheiro e o Mundo da Vida.
Outro aspecto importante das práticas de lazer naquele momento é a perda do
espaço coletivo para encontro. “A rua como local de lazer já havia cedido espaço
devido a urbanização, a exploração imobiliária e o aumento da frota de veículos.”
(ALMEIDA & GUTIERREZ, 2011, p.144). Nessa fase, as opções de lazer migraram
para a televisão e o cinema. As pessoas de menor renda tiveram suas opções de
lazer restringidas, pois dependiam muito do governo para tê-las, e do outro lado, as
classes mais ricas elitizaram a cultura de viagens, principalmente ao exterior.
Uma das análises que se pode fazer acerca das contribuições é que estas “duas
faces” do lazer perduram até hoje, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Em
alguns lugares uma diferença mais acentuada do que em outros, mas o fato é que o
lazer e as viagens se tornaram uma indústria poderosa e lucrativa, enquanto quem
não pode pagar por isso, carece de investimentos do Estado nas cidades,
principalmente nos bairros mais pobres.
Outra leitura que pode ser feita sobre o processo histórico é que, atualmente, já
considerando o período moderno e contemporâneo do Brasil, as empresas privadas
que oferecem estruturas e serviços de lazer deslancharam, aproveitando o bom
momento do turismo, do lazer e do entretenimento. Ao contrário do regime militar,
temos nesse momento a predominância do capital na influência sobre as atividades
do lazer, diminuindo o poder do Estado e o poder da população sobre a
caracterização do tempo de lazer.
Fatores importantes que contribuem para o desenvolvimento do lazer nos dias de
hoje são as relações sociais, a televisão, e talvez o principal, a internet. Este último
vem, de forma democrática, servir como ferramenta de interação, estudo, trabalho,
de lazer, e de valorização e facilitação das viagens.
28
2.2.2 O lazer em espaços públicos e sua importância para a população
Os espaços, equipamentos e os serviços de lazer, sejam público ou privados, tem
ligação direta com a qualidade de vida de uma população, e influenciam na
valoração de um destino turístico. Algumas publicações abordam este tema. São
olhares sob diversas linhas de pensamento, passando por arquitetura e urbanismo,
turismo, entre outros. Apesar dessa diversidade, a maioria converge para a ideia de
que os espaços, equipamentos e serviços de lazer de uma cidade impactam
diretamente na sua qualidade de vida.
Dumazedier (2008) aborda a necessidade de uma política de desenvolvimento
cultural no urbanismo. Segundo ele, hoje (lê-se 1974 quando publicou sua obra
Sociologia Empírica do Lazer) as pessoas que vivem nas cidades estão valorizando
a demanda cultural que a cidade oferece. As cidades que quiserem se destacar no
seu desenvolvimento devem, cada vez mais, se preocupar em oferecer opções de
lazer à população, como centros de lazer, praças, atividades de recreação,
entretenimento, teatro, museu, entre outras.
Temos uma boa explanação desta abordagem no artigo de Oliveira e Mascaró
(2007, p.60), conforme texto abaixo
Os espaços públicos abertos de lazer trazem inúmeros benefícios para a melhoria da habitabilidade do ambiente urbano, entre eles a possibilidade do acontecimento de práticas sociais, momentos de lazer, encontros ao ar livre e manifestações de vida urbana e comunitária, que favorecem o desenvolvimento humano e o relacionamento entre as pessoas. Além disso, a vegetação que geralmente está presente nesses espaços favorece psicologicamente o bem-estar do homem, além de influenciar no microclima mediante a amenização da temperatura, o aumento da umidade relativa do ar e a absorção de poluentes, além de incrementar a biodiversidade.
Podemos aqui fazer uma relação da importância dos espaços públicos de lazer com
o momento histórico apresentado anteriormente, do artigo de Almeida e Gutierrez
(2011). Ao passo em que os centros urbanos foram se desenvolvendo e ficando
maiores e mais importantes que o espaço rural, aliado ao aumento da frota de
veículos e ao rápido crescimento imobiliário, os espaços livres utilizados para a
pratica de lazer foram reduzidos. Este cenário deu origem ao panorama atual em
que as pessoas de baixa renda acabam dependendo do governo para ter opções de
29
lazer gratuitas, enquanto as classes mais ricas usufruem de passeios e viagens
locais, nacionais e para o exterior.
Rolnik (2000) contribui para este pensamento quando diz que as cidades ao se
tornarem locais inóspitos, no sentido de não oferecerem espaços e equipamentos,
deixam o lazer restrito a espaços e templos determinados. Ou seja, é de extrema
importância que as cidades sejam locais onde as pessoas se sintam em harmonia
com o ambiente urbano.
Por conseguinte, uma comunidade que não tem opções gratuitas de lazer, que
geralmente dependem dos espaços públicos, acaba partindo para formas de lazer
como televisão e internet, ainda mais nos tempos atuais, ondem o acesso a essas
tecnologias cresce de forma rápida e cada vez mais barata.
Boullón (2004) cita que ao compararmos a capacidade dos espaços livres de lazer e
recreação das grandes cidades, que parecem à primeira vista perfeitamente
equipadas, constata-se que isso não supera 15% das necessidades. “A falta de
oferta e equipamento recreativo ao ar livre aumenta durante os meses de verão
devido ao aumento da demanda, porque naturalmente nessas temporadas as
pessoas procuram mais sair de casa.” (BOULLÓN, 2004, p.73).
Oliveira e Mascaró (2007) realizaram uma pesquisa na cidade de Passo Fundo, RS,
onde analisaram os espaços públicos de lazer. Foram analisados parques, praças,
largos e terreiros, suas estruturas de lazer, o estado de conservação e manutenção
da estrutura destes espaços, e a relação na metragem com a população atendida.
Esta pesquisa trouxe como resultado a constatação de que os espaços públicos de
lazer disponíveis a população possuem diferenças entre as localidades. Foi
identificado que estes espaços eram melhor planejados, estruturados, e
conservados na área central da cidade, e conforme afastam-se do centro, estes
espaços diminuem em quantidade e em qualidade. Ou seja, foi constatada uma
grande diferença entre o centro e as periferias no que se refere a espaços públicos
de lazer. É possível observar este resultado na figura 1.
30
Figura 1: Delimitação dos bairros com diferenciação dos índices de espaços públicos de lazer por habitante.
Fonte: Oliveira e Mascaró, 2007.
Se fizermos um comparativo deste resultado com o fato, citado anteriormente, de
que pessoas mais ricas tem maiores condições de usufruir do lazer do que as
pessoas mais pobres, isto se agrava ao ponto em que se percebe que, a fatia da
população de uma cidade que não tem condições de viajar frequentemente, e não
dispõe de dinheiro para gastar com lazer, sofre ainda com a ausência ou
precariedade de espaços públicos de lazer, os quais são oferecidos pelo governo.
Marcellino (2002) também comenta sobre esse fato, e lembra que, justamente as
pessoas com mínimas condições para a prática do lazer em suas casas, são cada
vez mais afastadas dos centros urbano, o que só agrava a situação.
Rolnik (2000) e Dumazedier (2001) ainda sugerem que o urbanismo modernista foi
quem desagregou as funções das cidades, separando-as em locais específicos para
cada uma, o que, segundo a autora, diminuiu a possibilidade de contatos e misturas
que permitiam a multifuncionalidade. O urbanismo considerou que o planejamento
das cidades respeitaria as quatro funções: morar, trabalhar, descontrair-se e
31
deslocar-se. Como resultado veio a agravação da desigualdade social, econômica e
política.
Silva et al. (2013), identificaram em uma análise de 11 produções sobre os espaços
públicos de lazer, que as características físicas, localização espacial e opções que o
espaço público oferece são aspectos influenciadores na utilização dos parques. Se
bem estruturados e cuidados, os espaços podem atender às necessidades físicas,
psicológicas e sociais dos indivíduos. Silva et al. (2012), reforçam estes fatores em
outro artigo. Segundo os autores, a relação da população com o espaço é facilitada
pelo que ele oferece, ou seja, localização, equipamentos, estrutura, acessibilidade,
segurança e serviços e programas de lazer oferecidos no local.
Essa visão pode ser ampliada por Dumazedier (2008) onde diz que em cooperação
com arquitetos e urbanistas observou-se que o espaço de lazer deve ser funcional
acima de tudo, pensado numa visão e conjunto. Seria algo como juntar em um
mesmo espaço diversas funções de lazer, que geralmente são tratadas em
separados nos centros urbanos. Com isso diminuiria o desfavorecimento de algumas
localidades que não são atendidas em suas necessidades de lazer, ou que podem
optar por somente um tipo de atividade oferecida.
A aparente ineficácia do poder público em gerir e proporcionar espaços públicos
destinados ao lazer é aproveitada pelo poder privado. Este por sua vez oferece a
comunidade opções de lazer variadas, com excelente estrutura e qualidade nos
serviços. Rodrigues et al. (2014) realizaram uma análise qualitativa de dois espaços
de lazer na mesma cidade, um público e outro privado, e chegaram à conclusão de
que existe uma
[...] falta de investimento do poder público em relação aos espaços e equipamentos de lazer, desprivilegiando: centros comunitários, centros esportivos, parques, praças e ruas. Nesse contexto, os clubes privados surgem como possibilidade diferenciada para vivências no âmbito do lazer apenas para um segmento da sociedade que podem pagar por tais serviços. (RODRIGUES et al., 2014, p.181)
A segregação dos espaços de lazer, se é que podemos utilizar esta palavra, é
também abordada por Gomes (2008). Para a autora, isso é reflexo do processo
32
histórico, ou seja, naturalmente o processo de crescimento das cidades construiu o
cenário atual das mesmas.
A compreensão do espaço urbano e rural também contribuiu ao longo dos anos para
o cenário atual, segundo Gomes (2008), junto com o surgimento dos espaços
urbanos, surgiu a ideia de que se deve separar ambiente urbano de ambiente rural,
e, consequentemente, os estilos de vida de cada um. Porém, segundo a autora, é
fundamental que consideremos a área urbana como ambiente para atender a
totalidade do ser humano, ou seja, trabalho, lazer e estudo.
Percebe-se por conseguinte, que talvez seja essa uma das principais justificativas
para a defasagem atual de espaços de lazer nos centros urbanos. Entende-se
portanto que, na construção das cidades durante o processo de explosão
demográfica urbana e o êxodo rural no Brasil, foi sendo alimentada a separação dos
espaços dentro das cidades, constituídas com um centro urbano comercial e bairros
residenciais ao redor, aumentando em direção as periferias. Nesse meio tempo as
praças, os parques, e outros espaços de lazer, eram projetados no centro, ficando
as periferias apenas com a função de residência. E isto não tem sido saudável para
a população (Gomes, 2008; Marcellino, 2002; Rolnik, 2000).
Relevante considerar a necessidade de que o urbano seja, sim, espaço de poder e de trabalho, mas, que seja também oportunidade de troca, de interação democrática entre o público e o privado, de convívio social com dignidade e de festividade lúcida. Afinal, diversos estudos já indicaram que a fragmentação do espaço e do tempo tem consequências drásticas para o lazer, cujas possibilidades acabam não sendo acessadas por aqueles que, ao longo da história, acabaram acumulando uma série de exclusões. (GOMES, 2008, p.11)
O panorama que pode ser traçado para cada cidade também se aplica ao
analisarmos o Brasil como um todo. Ribeiro et al (2014) realizaram uma pesquisa
quantitativa com o objetivo de investigar a distribuição espacial da indústria do lazer
no Brasil e relacionar os resultados com um índice de desenvolvimento municipal
referente ao ano de 2010. Obtiveram como resultado a constatação de que os
melhores complexos de lazer, ou seja, com melhor estrutura, se concentram
espacialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, além de alguns outros municípios
das regiões Sudeste e Sul.
33
Essa constatação é reforçada por Santana e Alves (2014), que cita a distribuição
desigual como realidade principalmente em cidades do interior, que tem como
característica os espaços de lazer focados no centro, em detrimento dos bairros. “A
necessidade do lazer é tão grande que em alguns bairros periféricos, a população
cria lugares improvisados para sua recreação e lazer, como os bares e botequins
nas esquinas dos bairros carentes”. (SANTANA & ALVES, 2014, p.192).
Segundo Marcellino (2002) esse “improviso” com relação aos espaços de lazer não
específicos traz à tona duas questões: a necessidade de uma política habitacional
que considere também o espaço para o lazer, e quando difícil chegar a esse ponto,
oferecer pelo menos condições criativas para o lazer em áreas coletivas; e a
necessidade de se utilizar de forma inteligente os equipamentos já existentes,
através de uma política de animação.
Por conseguinte, se na perspectiva local as melhores ofertas de lazer estão no
centro das cidades, na perspectiva nacional estão nos maiores e mais desenvolvidos
centros urbanos, São Paulo e Rio de Janeiro.
2.2.3 Espaços de lazer e sua relação com o turismo
Nos capítulos anteriores já foi possível verificar a história do lazer no Brasil, a
importância do lazer urbano, e o seu panorama atual. Porém qual relação tem os
benefícios do lazer urbano com a atividade turística, ou melhor pontuando, com a
valoração de um destino? Tal questionamento direciona este capítulo, onde são
apresentados alguns indícios com base em publicações, procurando reforçar a ideia
de humanização das viagens proposta por Krippendorf (2001, p.7). O autor defende
que os objetivos de um planejamento turístico devem sempre ser:
Maior geração possível de recursos econômicos;
Um bem-estar subjetivo da população, nas áreas de destino e nas
regiões pelas quais se viaja;
Maior satisfação possível das necessidades dos visitantes;
Conservação da paisagem e naturezas intactas, nas áreas de destino e nas
34
regiões pelas quais se viaja.
Ressaltaremos aqui o segundo objetivo apresentado, que trata do bem-estar
subjetivo da população onde se viaja. Doris Ruschmann, autora que dedicou grande
parte de sua vida a consultorias em planejamentos de destinos turísticos também
defende a ideia de Krippendorf, levando a preocupação em oferecer condições de
lazer a quem não pode viajar. Segundo Ruschmann (1997, p. 18)
Os governos devem preocupar-se em proporcionar à população que não tem acesso às viagens turísticas, os equipamentos e espaços recreativos adequados para produzir satisfação individual, em família e na sua comunidade.
Comparando as colocações dos dois autores podemos dizer que o “direito ao bem-
estar e ao lazer” apresentado por Ruschmann como uma ação direcionada as
pessoas que não tem condições de viajar, pode, e deve, ser utilizado como fator de
atratividade turística de um destino, como apontado por Krippendorf nos objetivos de
um planejamento turístico.
Gomes (2008) utiliza o turismo como exemplo para uma nova compreensão do lazer
nas cidades. Questiona a definição de turismo da OMT (Organização Mundial do
Turismo), que limita o turista aquele que sai do entorno habitual, e propõe um novo
entendimento do turista, considerando englobar também os moradores que
usufruem de suas férias, ou do seu tempo diário de lazer, para descobrir sua própria
cidade, novos atrativos, novas relações com outros moradores, praticando
exercícios físicos, atividades recreativas, descansando, enfim, considera que seria
fundamental os recursos destinados a atender aos turistas, atendessem também à
população local.
Colaborando com esse pensamento, Johnson, Glover e Stewart (2008), apresentam
como resultado de uma pesquisa a importância do envolvimento da comunidade no
ambiente urbano, como ferramenta para a reurbanização de locais abandonados ou
mal conservados. Para os autores, locais, principalmente estruturas de lazer
acessíveis, atraem a população local, e a mesma, ao usufruir destes espaços, acaba
criando o que eles chamam de ambiente vibrante, com vida. Segundo o mesmo
artigo, as pessoas procuram mais locais em que a população é vibrante, em lugares
35
onde existe arte, música, lojas, cafés, atividades ao ar livre, opções de lazer e
interação social, do que lugares com megaestruturas, como shoppings, estádios
esportivos e grandes equipamentos turísticos, ou seja, valoriza-se mais as
experiências vividas do que equipamentos grandes e espetaculares.
Partindo desse pressuposto podemos considerar, pensando no turismo, que
megaestruturas e equipamentos turísticos por si só não são tão atraentes quanto
uma localidade vibrante, a qual Johnson, Glover e Stewart (2008) identificaram em
sua pesquisa. Nesse ponto, Grinover (2007) aborda o tema utilizando-se da relação
entre a hospitalidade, a cidade e o turismo. “A praça clássica era um vazio urbano
organizado que tomava a forma e o caráter de tudo o que se fazia conforme as
horas do dia e estações do ano”. (GRINOVER, 2007, p.82).
Ao pensarmos que o lazer deve ser mais democrático, Marcellino (2002) defende
que essa democratização do lazer implica em democratizar o espaço. Segundo o
autor, é inevitável o fato de que o espaço para o lazer é o espaço urbano.
O processo histórico do Brasil, no que se refere ao êxodo rural e ao surgimento e
crescimento dos centros urbanos, tem total influencia e justifica o panorama atual do
lazer no Brasil. Para analisar a oferta de espaços de lazer e seus impactos nas
pessoas é sempre importante considerar, primeiro, estes dois aspectos, história e
teoria.
Identificou-se nas publicações alguns discursos chave. O primeiro deles trata da
diferença entre a oferta de espaços e equipamentos de lazer presente no centro das
cidades e na periferia. Aspecto esse que espelha o panorama nacional, onde as
cidades com melhor oferta de lazer são Rio de Janeiro e São Paulo.
Outro discurso reforçado por diferentes autores é o que fala do descaso do poder
público na gestão destes espaços e equipamentos, geralmente abandonados ou
insuficientes para atender as necessidades da população. Necessidades estas que
influenciam totalmente na qualidade de vida destas pessoas. A oferta de lazer em
espaços públicos possibilita relacionamento entre as pessoas, prática de atividades
36
esportivas, interatividade social, entre outros fatores que contribuem para o
desenvolvimento humano.
Ao relacionarmos este tema com o turismo, podemos utilizar como base a colocação
teórica de Krippendorf (2001) que identifica a qualidade de vida da comunidade local
como parte integrante do planejamento turístico de um destino. Os governantes tem
investido em ofertas de lazer destinadas aos turistas e tem deixado de lado as
expectativas e necessidades dos moradores. Porém isso é visível aos olhos de
quem visita um destino, tornando a qualidade de vida local essencial para a
valoração turística.
Além da qualidade de vida local, o espaço urbano de uma cidade por si só pode ser
considerado uma facilidade à atividade turística quando, na visão do autor
(GRINOVER, 2007) possuir três dimensões: a acessibilidade, a legibilidade e a
identidade. Quando um turista percorre as ruas da cidade que visita, ele passa a ter
uma série de percepções sobre o ambiente, ele recebe muitas informações e as
processa no mesmo momento.
Nas cidades adequadamente identificadas o estrangeiro sente-se acolhido, bem recebido, sabe onde tem de ir, encontra o que procura sem perda de tempo, passeia descompromissado e pode se dedicar a contemplação sem risco de se perder. A informação, nesse caso, assemelha-se ao dom. Oferecer e receber informação é um mecanismo de hospitalidade. (GRINOVER, 2007, p.126).
Além disso, é papel dos governantes, propiciar opções de lazer àqueles que não tem
condições de viajar, de passear, de pagar por lazer privado, enfim, garantir que
estas pessoas usufruam de férias dentro do seu entorno habitual.
2.3 Abordagens em espaços de lazer
Neste capitulo pretende-se abordar uma fundamentação teórica a fim de dar suporte
ao primeiro objetivo especifico desta pesquisa, identificar a oferta de espaços
públicos de lazer da cidade.
Já dizia Lynch (2011, p.123) “A cidade não é constituída para uma pessoa, mas para
37
um grande número delas, todas com grande diversidade de formação,
temperamento, ocupação e classe social”. Imaginemos então como atender a todas
as expectativas da comunidade com relação a cidade em que vivem, se não todas,
como agradar a maioria.
O primeiro passo desta pesquisa portanto é identificar o que já existe na cidade,
relacionado com a oferta de espaços públicos de lazer. Para isso se faz necessário
conhecer parâmetros de classificação e categorização já existentes, pesquisas já
realizadas, para, posteriormente, elaborar um método de coleta de dados, que será
apresentado no capítulo da metodologia.
Um dos autores mais renomados sobre o assunto é Kevin Lynch, principalmente no
seu livro “A Imagem da Cidade” (2011). Porém, nesta pesquisa serão utilizados
referencias mais recentes como Kohlsdorf (1996), destinado à área do Turismo,
Roberto C. Boullón, mais especificadamente três publicações suas (2002; 2004;
2005), e Grinover (2007). Todos os autores seguem a linha teórica de Kevin Lynch.
Uma das primeiras contribuições de Boullón (2002) que pode ser utilizada neste
trabalho é a sua colocação sobre a oferta turística. Segundo ele a oferta turística de
um destino é composta por serviços oferecidos tanto por elementos de
empreendimentos turísticos quanto por não-turísticos. Segundo o autor o que
classifica algum bem é para que se destina, e não por quem o consome.
Verifica-se que alguns casos temos elementos da cidade que não são turísticos,
mas que são destinados a atender esta demanda, e, por outro lado, temos bens
utilizados pelos turistas que não são destinados a eles, portanto, não são elementos
turísticos de uma cidade. Essa discussão é importante quando se precisa analisar
um destino turístico, pois atualmente se torna difícil a tarefa de categorizar os
empreendimentos destinados ao turismo dos destinados à população local. Apesar
de se defender aqui neste trabalho que o bem-estar subjetivo de uma população
local é fundamental para o planejamento turístico, e que as pessoas com poucas
condições de viajar usufruam igualmente dos espaços de lazer e recreação, esta
classificação se faz necessária, e por si só não anula nenhum dos temas abordados,
38
apenas ajuda a entende-los.
Voltemos aqui ao que citamos de Grinover (2007) anteriormente, quando fala de
elementos essenciais para uma cidade hospitaleira, a acessibilidade, a legibilidade e
a identidade, segundo o autor, eis as definições.
Acessibilidade: resumidamente pode-se considerar que a cidade é um direito de
todos, ou seja, considera-se como uma cidade acessível aquela que tem
disponibilidade de instalações, acessos físicos e a igualdade social, que podemos
considerar como acessibilidade socioeconômica.
Legibilidade: entende-se como a qualidade visual de uma cidade ou território.
Lynch (2011) define com legível quando a cidade tivessem bairros, marcos ou
caminhos facilmente reconhecíveis e agrupados.
Identidade: a identidade de uma cidade é algo formado ao longo do tempo. Ela é
uma relação diversos bens culturais ao longo da história.
A percepção de um espaço urbano, da paisagem de uma cidade, não se dá somente
com uma impressão instantânea de quem a observa, mas sim com uma “visão em
série”, ou seja, ela se forma com a soma de várias imagens parciais, individuais, e
do significado que cada ser humano agrega a elas (BOULLÓN 2002; LYNCH, 2011).
Em cidades que carecem de espaços, edifícios, monumentos e áreas naturais
singulares, ou notórios, não existe uma visão serial, pois todos os espaços se
assemelham, tornando assim o espaço sem muito interesse turístico.
Ao contrário deste exemplo, temos as cidades que possuem elementos notórios e
singulares, e que são evidentes aos olhos de quem reside ou de quem visita. “A
cidade – como qualquer obra do homem – tem seus limites, é possível sintetizar sua
estrutura visual em uma série de formas que a representam com maior clareza.”
(BOULLÓN, 2002, p.195). O autor divide a cidade em espaços abertos e edifícios, e
subdivide ainda em: Logradouros, Marcos, Bairros, Setores, Bordas e Roteiros.
39
Será utilizado aqui o conceito de Logradouro apresentado por Boullón (2002, p.196),
que define como “espaços abertos ou cobertos de uso público, em que o turista
pode entrar e que pode percorrer livremente”. Como por exemplo: parques,
zoológicos, feiras, mercados, etc. Neste caso, as praças e espaços de lazer urbano
podem ser chamados de Logradouros. O autor (op cit) ainda cita que as praças são
áreas pequenas dentro de uma cidade, mas muito importantes para ela, para a sua
imagem, para os turistas e para os moradores.
Dentre todos os logradouros de uma cidade, temos aqueles utilizados para
satisfazer as necessidades de lazer e, além deles, somam-se os espaços privados,
que são os equipamentos e serviços oferecidos à população pela iniciativa privada,
que cobra por isso.
As atividades de recreação são geralmente urbanas e não ultrapassam um raio de
duas horas de distância-tempo, ida e volta, segundo Boullón (2004). Mas são
essencialmente urbanas e locais. Dentre a variada gama de serviços e
equipamentos recreativos, públicos e privados, Boullón (2004) nos apresenta-os
divididos entre espaços cobertos e ao ar livre (quadro 1).
Quadro 1 – Rede recreativa do homem urbano.
Espaços cobertos Lugares ao ar livre cinemas; teatros; museus; bibliotecas; bares; sorveterias; restaurantes; discotecas; shows (centros noturnos); jogos mecânicos.
praças; jogos infantis; centros esportivos; campos de futebol e outros esportes; sedes de clubes; piscinas; áreas arborizadas para passear, montar a cavalo ou andar de bicicleta.
Fonte: Boullón, 2004.
Ainda segundo o mesmo autor (op cit), as áreas naturais das cidades também fazem
parte da oferta recreativa, como praias, lagos, entre outras. Porém, em países como
os da América Latina por exemplo, estas áreas geralmente são cercadas ou
loteadas por casas de veraneio, o que dificulta o uso público.
40
Neste ponto se faz uma ligação com a importância dos espaços públicos de lazer
para a população local e os turistas (vide item 2.2) pois as necessidades de lazer e
recreação surgem no dia-a-dia, não são programadas, e os centros urbanos não
acompanharam o aumento desta demanda, são em maioria defasados no que se
refere ao lazer e às necessidades da população. Como este assunto já foi
apresentado, não será aprofundado nesse capítulo.
2.3.1 O Mapa Mental e o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)
A análise de um lugar, seja um espaço de lazer ou uma cidade, pode oferecer
diversas informações, as quais irão atender a variadas expectativas. Segundo
Kohlsdorf (1996, p.27) as informações podem tratar de “aspectos funcionais,
estéticas, de conforto térmico, acústico ou luminoso, de apropriação social, de
orientação, etc.”. Para isso cada aspecto deve ser analisado conforme uma
categoria de análise específica, para atender especialmente o objetivo esperado.
Quando se trata de planejamento urbano destaca-se a importância de se trabalhar
com a apreensão dos lugares. Kohlsdorf (1996) comenta a necessidade de
pesquisadores do espaço urbano de analisarem o local juntando a teoria e o
conhecimento empírico da população envolvida. Os locais planejados sob a visão
restrita de teorias e representações profissionais serão, afinal de contas,
interpretados e apropriados pelo senso comum dos seus usuários, provindo do
conhecimento de cada um. Para isso é necessário entender as características dos
diversos níveis cognitivos, em especial os contidos na apreensão dos espaços. A
autora considera esses níveis sendo: a sensação, a percepção, a imaginação e a
intuição.
Nesta pesquisa será trabalhada a percepção e a imaginação, através da imagem
mental, afim de utilizar um método de coleta e análise de dados em concordância
com o DSC (Discurso do Sujeito Coletivo), que será abordado mais à frente.
A peculiaridade do processo perceptivo pode ser definida por sua ligação estrutural à consciência e à memória mas, principalmente, ao grau de desenvolvimento da inteligência dos indivíduos. Esse fato configura a ação perceptiva como uma síntese entre sensações e o complexo inteligente, conferindo-lhe caráter de globalidade. (KOHLSDORF, 1996, p.57).
41
Ainda segundo a autora (op cit) a percepção é: sinais (emissão de luzes pelos
elementos constituintes dos espaços) transformados em signos (representações
segundo as estruturas perceptivas). A formação da imagem mental diferencia-se da
percepção em um ponto. Na percepção a pessoa deve estar visualizando o objeto,
enquanto que na imagem espacial a presença não é necessária, usa-se apenas a
imaginação.
Uma das técnicas mais tradicionais para análise de imagens de cidades ou outros
locais é o Mapa Mental. Kohlsdorf (1996) cita esta como a mais conhecida técnica
desde que foi apresentada por Lynch em 1970. Segundo a autora (KOHLSDORF,
1996, p.117) nada mais são do que “„cartas subjetivas‟ nas quais se expressam os
valores visuais da cidade, conforme concebe quem desenha o mapa”. Através de
entrevistas, as pessoas desenham conforme sua memória, sem consultar outro
material, a sua representação da cidade, bairro, ou outro local conforme objetivo da
pesquisa. Os entrevistados podem utilizar perspectivas, elevações, símbolos e
anotações verbais, afim de representar o mundo visual presente na cabeça de cada
indivíduo.
Após a coleta individual de mapas mentais, essa técnica permite a junção de vários
mapas para gerar uma representação pública, ou de um grupo específico. Essa
junção, segundo a autora, pode ser feita com uma superposição de mapas mentais
ou por meio de procedimentos de estatística identificando as incidências de
elementos.
Uma técnica parecida ao mapa mental exposto acima é o Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC). A técnica do DSC foi desenvolvida para descobrir o que um conjunto
de pessoas pensam, através da análise de discursos individuais. Segundo Lefèvre e
Lefèvre (2003), essa técnica apresentada “busca justamente dar conta da
discursividade, característica própria e indissociável do pensamento coletivo,
buscando preservá-la em todos os momentos da pesquisa.”
O DSC é uma técnica de pesquisa qualitativa, que, segundo os autores, Lefèvre e
Lefèvre (2003), é a tipologia de pesquisa correta quando se quer conhecer o
pensamento de uma comunidade sobre um dado tema. Eles completam dizendo que
42
“para serem acessados, os pensamentos, na qualidade de expressão da
subjetividade humana, precisam passar, previamente, pela consciência humana”.
No DSC a coleta de dados deve ser realizada através de perguntas abertas “para
um conjunto de indivíduos de alguma forma representativos dessa coletividade e
deixar que esses indivíduos se expressem mais ou menos livremente, ou seja, que
produzam discursos.” (LEFEVRE e LEFEVRE, 2003, p.15). Segundo os autores,
uma questão fechada na entrevista expressaria uma adesão forcada a um
pensamento já existente. Após coletadas estas informações individualmente, junta-
se os discursos individuais e identifica-se o pensamento coletivo. Os dados podem
ser coletados de outras maneiras além de entrevistas, como jornais, revistas, cartas,
papers, entre outras, porem nesta pesquisa optou-se somente pelos depoimentos,
visto que não foram encontrados indícios de outras publicações a respeito desse
tema com o público alvo, e no local do estudo.
O Sujeito Coletivo se expressa, então, através de um discurso emitido no que se poderia chamar de primeira pessoa (coletiva) do singular [...]. Trata-se de um eu sintático que, ao mesmo tempo em que sinaliza a presença de um sujeito individual do discurso, expressa uma referência coletiva na medida em que esse eu fala pela ou em nome de uma coletividade. [...] Adota-se aqui, como se percebe facilmente, um pressuposto socioantropologico de base na medida em que se entende que o pensamento de uma coletividade sobre um dado tema pode ser visto como o conjunto dos discursos, ou formações discursivas, ou representações sociais existentes na sociedade e na cultura sobre esse tema, do qual, segundo a ciência social, os sujeitos lançam mão para se comunicar, interagir, pensar. (LEFEVRE e LEFEVRE, 2003, p.16)
Para poder subtrair o discurso coletivo, a técnica do DSC utiliza de três figuras
metodológicas: expressões-chave, ideias centrais e ancoragem.
Expressões-chave (ECH): são trechos, transcrições literais do discurso,
identificados pelo entrevistador como relevantes para se demonstrar a
essência do conteúdo.
Ideais centrais (IC): descreve, de maneira precisa, resumida e fiel o sentido
das expressões-chave agrupadas em um discurso.
Ancoragem (AC): e a manifestação de uma certa teoria, crença, ideologia
utilizada pelo entrevistado para manifestar-se a respeito de tal
questionamento.
43
O DSC é um discurso-síntese apresentado na primeira pessoa do singular e
composto pelas expressões-chave que tem a mesma ideia central ou ancoragem.
Para escolher os sujeitos a serem entrevistados não existe uma amostra percentual
definida pelos autores do DSC. Segundo eles, em casos como o desta pesquisa,
quando o universo pesquisado e muito extenso, e o pesquisador pouco conhece a
respeito dos entrevistados, não há como proceder com uma escolha intencional.
Deve ser determinada uma amostra representativa da população a ser estudada.
Dentre as técnicas pesquisadas, o DSC e os Mapas Mentais se encaixam nos
objetivos deste trabalho e observou-se uma possibilidade de trabalhar os
perfeitamente em conjunto para obter os resultados aguardados.
Finalizando a fundamentação teórica que norteou esta pesquisa se torna pertinente
uma síntese das principais teorias citadas, a qual é apresentada no quadro 2. Dentre
todos os autores aqui citados, como Krippendorf, De Masi, Dumazedier, Lynch,
Boullón, Kohlsdorf, e demais autores ao decorrer deste capítulo, serão ressaltados
os autores a seguir e suas respectivas contribuições.
Quadro 2 – Síntese da fundamentação teórica
Tema Contribuições teóricas Autor(es)
Conceitos de
Lazer
- Conjunto de ocupações;
- Livre vontade;
- Repouso, diversão, recreação,
entretenimento, desenvolvimento da
informação, formação desinteressada,
participação social voluntária.
Dumazedier (1976);
Marcellino (2000).
- Tempo após desembaraçar-se das
obrigações profissionais, familiares e sociais.
- Tempo subtraído do trabalho, das
obrigações domésticas, das obrigações sócio
espirituais e sócio políticas. Seria como um
“direito” social adquirido para a
“autossatisfação”.
Boullon (2004);
Dumazedier (2008).
44
- Tempo livre = ócio criativo ou lazer + tempo
desperdiçado.
Importância do
lazer urbano
para moradores
e turistas.
- Os espaços públicos de lazer exercem
importante influência na vida da população
local;
Almeida & Gutierrez
(2011);
Boullon (2002);
Gomes (2008);
Johnson, Glover &
Stewart (2014);
Krippendorf (2001);
Oliveira & Mascaro
(2007);
Ribeiro (2014);
Rodrigues (2014);
Ruschmann (1997);
Santana & Alves
(2014);
Silva (2012 e 2013).
- A oferta de espaços de lazer para os
moradores possui também o objetivo de
oferecer opções de lazer a quem não tem
poder aquisitivo para o lazer pago, como
clubes, passeios e viagens.
Boullon (2004);
Krippendorf (2001);
Ruschmann (1997).
- O crescimento desordenado e a formatação
urbanística das cidades contribuíram
negativamente para a atual oferta de lazer em
espaços públicos.
- Os espaços de lazer se concentram nas
áreas centrais das cidades.
Dumazedier (2001);
Gomes (2008);
Marcelino (2002);
Rolnik (2000).
Espaços de
lazer e sua
relação com o
turismo.
- o bem-estar subjetivo da população deve
fazer parte de um planejamento turístico.
- Um ambiente com vida faz parte da
hospitalidade de uma cidade.
Grinover (2007).
Krippendorf (2001);
A análise da(s)
imagem(s) da
cidade.
- Cada pessoa interpreta e agrega
significados na imagem de uma cidade
conforme sua cultura, suas informações, sua
memória, seus laços afetivos com o local, etc.
Boullon (2002);
Grinover (2007);
Lynch (2011);
Kohlsdorf (1996).
45
- Acessibilidade, legibilidade e identidade.
- Apreensão dos lugares.
Mapas Mentais - Técnica de pesquisa para caracterização da
imagem das cidades.
Lynch (2011);
Kohlsdorf (1996).
Discurso do
Sujeito Coletivo
(DSC)
- Técnica de pesquisa qualitativa para
reconhecer o discurso coletivo sobre
determinado tema.
Lefevre & Lefevre
(2003).
Fonte: Autor, 2015.
46
3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de pesquisa
Esta pesquisa é um estudo de caso, tendo a cidade de Balneário Camboriú como
objeto de estudo. Ela utiliza o método indutivo e abordagem qualitativa. Indutiva,
afinal, através da descrição de experiências particulares e fatos isolados, se
conceberá uma conclusão genérica para este estudo de caso.
Essa classificação é baseada em Creswell (2010), segundo ele, na pesquisa
qualitativa, a base é indutiva, ocorre no ambiente natural, tem o pesquisador como
instrumento para coleta de dados, se utiliza de diversas técnicas de coleta de dados,
tem como base os significados dos participantes da pesquisa, envolve uma
discussão teórica para analisar os resultados, é interpretativa e holística. A pesquisa
qualitativa “é um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos
ou grupos atribuem a um problema social ou humano” (CRESWELL, 2010, p.26).
De acordo com o objetivo, esta pesquisa se encaixa como exploratória e descritiva.
Exploratória por ser pioneira no levantamento da opinião dos habitantes de
Balneário Camboriú sobre o suas expectativas e necessidades de lazer, e descritiva
pois, ao final, o resultado irá descrever, com base nos resultados obtidos, as
características da oferta de lazer da cidade.
Segundo Leal (2011) pesquisa exploratória é a “realizada em áreas (de
conhecimento) ou focada em problemas a respeito dos quais há escasso ou nenhum
conhecimento acumulado e sistematizado”. É uma pesquisa que tem foco aberto
para investigação de fenômenos pouco sistematizados e/ou passíveis de várias
perspectivas de interpretação. A pesquisa descritiva complementa a exploratória,
pois, segundo o mesmo autor (op cit), ela descreve as informações obtidas e
descreve as características das mesmas.
A primeira etapa da pesquisa foi o levantamento de dados, com a elaboração de um
estado da arte, para identificar produções científicas publicadas sobre este tema,
lazer, focando em autores que discutem o lazer no cotidiano e sua relação com o
47
turismo. A segunda etapa, a descrição, iniciou com uma identificação dos espaços
públicos de lazer da cidade, junto com uma pesquisa bibliográfica, afim de traçar os
parâmetros para esse levantamento.
Após essa parte, foi feita uma pesquisa documental para descrever a história da
cidade e suas características. Estas estratégias são chamadas por Leal (2011) de
pesquisa com dados existente e utiliza dados fornecidos fontes de papel (livros e
documentos) e por pessoas através do estudo de caso.
3.2 Procedimentos de coleta de dados
O primeiro objetivo específico desta pesquisa é Identificar a oferta de espaços
públicos de lazer da cidade. Para tanto se faz necessária um método de coleta de
dados específico que traga estas informações.
Os espaços e equipamentos públicos da cidade serão considerados como
Logradouros (BOULLÓN, 2002), que segundo definição do autor são “espaços
abertos ou cobertos de uso público, em que se pode percorrer livremente”. Além
deles serão considerados outros espaços públicos como parques, áreas naturais e
equipamentos esportivos.
Na primeira etapa serão identificados todos os espaços através de pesquisa
documental e em publicações oficiais, afim de levantar todas as opções públicas de
lazer de livre acesso.
Posterior a isso serão utilizadas as técnicas do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) e
de Mapas Mentais, ambas as técnicas foram abordadas na fundamentação teórica.
Com dados coletados através de 30 (trinta) entrevistas estruturadas será possível
obter, com o mesmo entrevistado, as informações necessárias para interpretar os
Mapas Mentais e identificar os DSCs.
Com essas técnicas pretende-se coletar informações para identificar os espaços de
lazer da cidade, mapeá-los, e além disso, ao mesmo tempo reconhecer a
opinião/percepção da população com relação ao lazer dentro da cidade.
48
O processo de coleta de dados se dará da seguinte forma. A cidade está dividida,
segundo a lei nº1840/99 (Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú, 2015) em 14
áreas, as quais são o Centro, a área da Região das Praias e 12 bairros: Bairro da
Praia dos Amores, Bairro dos Pioneiros, Bairro Ariribá, Bairro das Nações, Bairro
Várzea do Ranchinho, Bairro dos Estados, Bairro dos Municípios, Bairro Vila Real,
Bairro Jardim Iate Clube, Bairro Nova Esperança, Bairro São Judas Tadeu e Bairro
da Barra, conforme Figura 3. A Região das Praias é composta pelas praias de
Laranjeiras, Taquarinhas, Taquaras, Pinho, Estaleiro e Estaleirinho.
Com base nessa referida lei foram consideradas as 14 áreas da cidade apenas para
identificar as suas divisões. Serão pesquisados somente os bairros contidos na
planície central que acompanha a faixa litorânea. Esta filtragem se justifica pela
formação do relevo que acaba concentrando a cidade em uma pequena faixa as
margens da praia central (ver figura 3). A área das praias agrestes por exemplo,
como o próprio nome indica, são pouco povoadas por moradores fixos, e fortemente
utilizadas como destinos dos turistas que procuram algo mais afastado e tranquilo,
sendo assim não teria uma contribuição muito considerável no reconhecimento da
percepção dos moradores da cidade e até, ao contrário, poderia ir contra boa parte
do discurso de que reside na área urbana.
Portanto os bairros e áreas pesquisados são: Centro (subdividido em Barra Sul e
Barra Norte), Bairro dos Pioneiros, Bairro Ariribá, Bairro das Nações, Bairro dos
Estados, Bairro dos Municípios, Bairro Vila Real, Bairro Jardim Iate Clube, e Bairro
da Barra, totalizando 10 (dez) áreas. Em cada área foram feitas 03 (três) entrevistas,
o que gerou um total de 30 (trinta) entrevistados.
Ficam de fora da pesquisa as Praias Agrestes, Bairro da Praia dos Amores, Bairro
Várzea do Ranchinho, Bairro Nova Esperança e Bairro São Judas Tadeu. Os bairros
são divididos conforme a figura a seguir (figura 2). A planície central pode ser
identificada na figura 3.
49
Figura 2: Divisão por bairros de Balneário Camboriú (SC).
Fonte: Autor (adaptado de Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú, 2016).
50
Figura 3: Figura do Mapa turístico de Balneário Camboriú (SC).
Fonte: Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú, Secretaria de Turismo, 2016.
51
As entrevistas estruturadas a partir das indicações de Lefevre e Lefevre (2003) para
a coleta do DSC foram aplicadas nos bairros participantes da pesquisa. A primeira
pergunta do questionário fará a filtragem da amostra. A amostra será composta
considerando três fatores, o gênero, a faixa etária do entrevistado e o tempo que o
mesmo reside na cidade.
Em cada bairro serão entrevistados moradores conforme quadro abaixo.
Quadro 3 – Amostra da pesquisa por bairros/áreas.
Sexo Faixa etária Tempo que reside
- 01 homem. - com idade entre 18 e 59 anos; Mais de 10 anos
- 01 mulher - com idade entre 18 e 59 anos;
- 01 idoso - com idade a partir de 60 anos.
Fonte: Autor, 2016.
A definição do gênero dos entrevistados tem como objetivo coletar informações de
possíveis visões diferentes entre eles. A questão da faixa etária pretende coletar
possíveis diferenças entre as informações de adultos e de idosos, estes últimos por
serem uma categoria com tempo livre diferenciado dos adultos, e talvez possam
usufruir de espaços diferentes. No que ser refere ao tempo que reside na cidade,
optou-se por uma amostra que resida há mais de dez anos, levando em
consideração a metodologia do Censo do IBGE, realizado a cada década. Segundo
o IBGE (2016) esse é um período aceito e inquestionável para os especialistas no
assunto. Pretende-se com este período determinar uma amostra que tenha o
mesmo tempo de residência na cidade e o mesmo tempo percepção da imagem da
mesma.
Por investigar uma questão dos habitantes da cidade, esta pesquisa utiliza como
estratégia o estudo de caso. Segundo Creswell (2010), na estratégia qualitativa de
estudo de caso, o pesquisador explora um programa, um evento, uma atividade, um
processo ou um ou mais indivíduos, ficando esta pesquisa encaixada neste último
objeto. A figura abaixo resume a tipologia da pesquisa.
52
Figura 4 – Tipologia e estratégia da pesquisa
Fonte: Autor, 2016.
Com a coleta do DSC e dos Mapas Mentais da comunidade de Balneário Camboriú
se pretende reconhecer as necessidades e expectativas de lazer da comunidade,
afim de mapear as características apresentadas nos discursos de cada bairro, e
posteriormente o de toda a cidade, e assim, junto com a análise da oferta de
espaços e equipamentos existentes, apresentar uma descrição do lazer urbano pelo
ponto de vista do morador, e não do que é apresentado aos turistas.
3.3 Procedimentos para análise dos dados
Considerando elementos apontados por Lynch (2011), Boullón (2002) e as teorias
de De Masi (2000), Kohlsdorf (1996), Krippendorf (2001), Dumazedier (2008), entre
outros autores, é possível se analisar os resultados objetivados nesta pesquisa, e
chegar a uma descrição dos espaços e equipamentos da cidade. A etapa de
53
levantamento bibliográfico e documental sobre o lazer, e o resultado do DSC e dos
Mapas Mentais, terá seus resultados analisados à luz da teoria, debatendo a
importância do lazer no dia-a-dia, na qualidade de vida da população, e na
caracterização de um destino turístico.
Portanto serão utilizados os procedimentos apontados por Lefevre e Lefevre (2003)
através do DSC, e os Mapas Mentais comparando-os com os DSCs levantados e
com mapas da cidade, tanto turísticos quanto políticos.
Por conseguinte, dependendo dos resultados apresentados, se fará necessária a
inclusão de outros autores que possam contribuir com o entendimento do que for
coletado.
54
4 O OBJETO DE ESTUDO, BALNEÁRIO CAMBORÍU – SC
A cidade de Balneário Camboriú está localizada no litoral norte do estado de Santa
Catarina, na região sul do Brasil. Possui pouco mais de 100.000 habitantes
(SEBRAE, 2013) e recebe milhares de turistas durante todo o ano, sendo o 11º
município mais populoso do estado e o 2º menor em área total. Destaca-se como o
município com maior densidade demográfica de Santa Catarina, com mais de 2.300
habitantes por quilômetro quadrado, segundo dados do SEBRAE (2013).
Figura 5: Mapa de localização de Balneário Camboriú dentro do estado de Santa
Catarina.
Fonte: Adaptado de Wikipédia, 2014.
Segundo a Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú (2013), como diversas
localidades no Brasil, os primeiros habitantes da região foram os índios. Em 1826,
Baltazar Pinto Corrêa recebeu da Província de Santa Catarina uma área onde hoje é
o Bairro Pioneiros e em 1884 criou-se o município de Camboriú, do qual viria a se
emancipar em 1964 a atual cidade de Balneário Camboriú.
55
A cidade foi colonizada por portugueses, no período colonial brasileiro. Como em
grande parte do litoral, sofreu influencias europeias em seus costumes, e aqui na
região, principalmente de Açorianos, que sucederam os Vicentistas. “Portugal
determinará o deslocamento de paulistas, que, partindo de São Vicente, organizam-
se em correntes de povoamento que atingem o planalto e o litoral catarinense...”
(VIANA, 1938, apud CARMO; GADOTTI; BÓIA, 1999, p.28).
O processo de ocupação da praia, por ser comum em praticamente todo o litoral do
estado, e até do Brasil, faz com que a cidade de Balneário Camboriú tenha
características paisagísticas, urbanas, e sociais parecidas com outras cidades
litorâneas.
Segundo a Secretaria de Turismo (2013) os alemães do Vale de Itajaí trouxeram, os
quais iniciaram a ocupação da cidade para a cidade o hábito de ir à praia como lazer
pois, até então, o banho de mar só era conhecido como tratamento medicinal ou
pesca (os colonos achavam que "mandar alguém para a praia" era uma ofensa). A
praia não oferecia estrutura de lazer voltada ao seu uso para o lazer, ver figura 6 e
7.
Figura 6: Avenida Atlântica, cidade de Camboriú (SC) em 1950.
Fonte: História de Balneário Camboriú, 2014.
Em meados de 1950 devem ser considerados fatores importantes para a construção
da cidade. Nessa época, e depois gradativamente, ocorreram grandes mudanças no
56
país. Além dos descendentes de alemães que iniciaram a ocupação, a construção
da BR-101 facilitou o acesso à praia, portanto, possibilitou a visita e a vinda de mais
pessoas. Além disso, todas estas pessoas passavam neste período por
transformações sociais inerentes a todas as cidades, uma delas era a modificação
nas leis trabalhistas, que trouxe direitos, divisão do tempo de trabalho e tempo livre
(férias), o que acarretou num incremento do movimento turístico no litoral, em busca
do “Sol e Mar”.
A cidade se emancipou de Camboriú em 1964. Consta em entrevista com o Sr.
Álvaro Silva, na edição especial de BC 50 anos, o Jornal Página 3, jornal de
circulação local, o seguinte depoimento: “em 1964 a praia era maior que a „sede‟,
tanto em importância econômica, arrecadação como em projeção para o futuro, lá
eles não tinham espírito progressista. Começamos a fomentar a emancipação” diz o
Sr. Alvaro” (PAGINA 3, 2014). A „sede‟ mencionada seria a cidade de Camboriú, do
qual Balneário Camboriú fazia parte. Segundo o mesmo entrevistado, o primeiro
mapa da divisa dos municípios não foi aceito, pois agregava a Balneário toda a parte
da nascente até a foz do Rio Camboriú.
Figura 7: Vista Geral da Praia de Camboriú (SC) – Década de 1950.
Fonte: História de Balneário Camboriú, 2016. A cidade se desenvolveu graças ao investimento em segundas residências de
57
industriais, comerciantes, políticos, dentre outros, que residiam nas cidades do Vale
do Itajaí. Uma das figuras mais famosas a frequentar a cidade no seu início era o
presidente Joao Goulart. A praia já chegou a ser chamada de “praia dos
presidentes”, devido a visita de diversos políticos, entre governadores e presidentes.
O bancário aposentado Fridolino Probst (PAGINA 3, 2014), destaca que os primeiros
comerciantes da praia, dentre eles os hoteleiros (nove citados), eram luteranos, e
vinham justamente da região do Vale do Itajaí.
Figura 8: Vista da praia central de Balneário Camboriú (SC).
Fonte: Schaefer, 2016.
Segundo o SEBRAE (2013), a população de Balneário Camboriú apresentou no ano
de 2010, crescimento de 47,15% desde o Censo Demográfico realizado em 2000.
Foi de 21.854 habitantes em 1980 a 108.089 em 2010. Isso representa em números
a rapidez do crescimento. Estes números geram uma taxa de crescimento anual de
4,71%, alta se comparada com a taxa estadual e nacional, 1,66% e 1,23%
respectivamente. É interessante observar também os números sobre o IDH da
cidade, pois é um dos atrativos a novos moradores e veranistas.
58
Gráfico 1 – Evolução do IDHM - Balneário Camboriú - SC
Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013.
Segundo o Atlas Brasil (PNUD, 2013):
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Balneário Camboriú é 0,845, em 2010. O município está situado na faixa de Desenvolvimento Humano Muito Alto (IDHM entre 0,8 e 1). Entre 2000 e 2010, a dimensão que mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,121), seguida por Longevidade e por Renda. Entre 1991 e 2000, a dimensão que mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,216), seguida por Renda e por Longevidade.
Outro dado relevante é que Balneário Camboriú possui uma maior concentração de
pessoas com renda mais alta, quando comparada com o restante do estado de
Santa Catarina.
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Gráfico 2 - Percentual de domicílios urbanos por classe econômica, em Balneário
Camboriú e Santa Catarina, em 2011.
Fonte: SEBRAE, 2013.
A cidade conta atualmente com equipamentos turísticos modernos, em sua maioria
privados, e vem apresentando uma melhora continua na sua infraestrutura urbana.
Podemos citar como exemplo a revitalização de todas as calçadas da cidade (em
andamento), a instalação de cliclofaixas e ciclovias nas principais ruas, o
alargamento de avenidas importantes, a construção de pontes e passarelas, a
reforma do sistema de escoamento da água pluvial, a construção do molhe da Barra
Sul, a iluminação pública da orla, propiciando o uso mais intenso da faixa de areia
durante a noite, enfim, diversas melhorias que atendem tanto aos moradores quanto
aos visitantes.
Balneário é conhecida como a Capital Catarinense do Turismo, possui cerca de 7 mil
unidades habitacionais e 18 mil leitos, espalhados em aproximadamente 120
empreendimentos de hospedagem (Secretaria de Turismo, 2013). Segundo o
Ministério do Turismo (2015), a cidade lidera o ranking das 65 cidades indutoras do
turismo no quesito aspectos sociais onde são avaliados: acesso à educação;
empregos gerados pelo turismo; uso de atrativos e equipamentos turísticos pela
população; cidadania, sensibilização e participação na atividade turística; e política
de enfrentamento e prevenção à exploração de crianças e adolescentes.
Segundo o Relatório 2014 do Índice de Competitividade do Turismo Nacional, Brasil
60
(2014), a existência em Balneário Camboriú de incentivo ao uso dos equipamentos
turísticos pela população local, por parte do poder público através de ações, e o
reforço à população sobre a importância da atividade turística para o destino, foram
os fatores que mais contribuíram para este índice. A cidade também possui, dentre
os 65 municípios indutores, a menor taxa de analfabetismo e o maior Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal - Longevidade (IDHM-L).
São 12 tipos de atrativos turísticos apresentados pela secretaria de turismo da
cidade (Secretaria de Turismo de Balneário Camboriú, 2013). Dentre eles existem
atrativos da iniciativa privada e atrativos públicos. Conforme a figura 9.
Figura 9: Atrativos Turísticos de Balneário Camboriú (SC), apresentados
pela Secretaria de Turismo da cidade.
Fonte: Secretaria de Turismo de Balneário Camboriú, 2013
As casas noturnas tem grande expressão nacional e internacional. Além delas, o
complexo Cristo Luz e os Parques (em especial o Unipraias), são atrativos privados.
61
Chama a atenção para o fato da secretaria divulgar os itens “praias de naturismo”,
“ilhas”, “molhes” e “zoológicos”, no plural, porém são todos atrativos únicos, o que
pode gerar uma interpretação errônea do turista. De todos eles, a Praia Central
(figura 8) é o local mais frequentado. Além de ser o maior espaço público aberto e
equipado, é o atrativo mais conhecido da cidade.
O principal atrativo, e também razão pelo surgimento e crescimento da cidade como
citou-se anteriormente, é a praia, com destaque para a Praia Central. Porém, pode-
se constatar que o ambiente urbano construído e o seu uso pela população tem
modificado a imagem da cidade ao passar dos anos. De Oliveira, Tricárico e Pereira
(2008) analisaram a imagem urbana da orla de Balneário Camboriú, representada
em mídias de informação (folders, postais, vídeos, mapas mentais). Os resultados
apontaram que a imagem urbana da cidade é em sua maioria a partir de visais de
“sobrevoo” e, apesar dos moradores não conseguirem visualizar deste ângulo, eles
sentem orgulho da chamada monumentalização. “Com isso, a verticalidade
excessivamente ressaltada na paisagem edificada, resultante de uma “estratégia
urbana” apoiada na lógica da especulação imobiliária, tem operado também como a
identidade do lugar”. (DE OLIVEIRA; TRICÁRICO; PEREIRA, 2008, p.95). Podemos
ter uma ideia dessa visão de “sobrevoo” na figura a seguir, onde o paredão de
prédios na orla sugere essa monumentalização.
62
Figura 10: Vista aérea da Praia Central de Balneário Camboriú (SC).
Fonte: Schaefer, 2016.
A razão da escolha da cidade Balneário Camboriú como objeto de estudo se dá por
a cidade estar entre as cidades brasileiras com melhor IDH e por ser destaque
dentre os destinos turísticos de Sol e Mar de todo o Brasil, conforme abordado
anteriormente.
A divulgação destes dados em mídia nacional tem atraído, além de turistas, pessoas
interessadas em adquirir suas segundas residências, ou até mesmo para residir
durante a sua aposentadoria. Atualmente a cidade é considerada um dos polos
turísticos mais importantes e visitados do Brasil. A partir disto se identificou a cidade
como um local adequado para a aplicação da pesquisa, ou seja, um destino turístico
reconhecido nacionalmente e com uma população local com excelente índice de IDH
e qualidade de vida.
Além disso, de acordo com as pesquisas iniciais em bases documentais e
bibliográficas, identificou-se que não existem muitas pesquisas, com estes mesmos
objetivos e métodos, realizadas no país.
63
5 RESULTADOS
A etapa inicial desta pesquisa procurou realizar um levantamento do estado da arte
sobre o tema proposto, através de uma pesquisa bibliográfica. Esta etapa foi
fundamental para o suporte desta pesquisa. O estudo do estado da arte permitiu o
conhecimento sobre as publicações que abordam o tema central, os espaços
públicos de lazer e sua importância para residentes e turistas. Foram pesquisadas
publicações em todo o mundo, e algumas delas foram utilizadas na fundamentação
teórica, porém foi inevitável a predominância de publicações nacionais. Isso se deve
ao fato da pesquisa ser fundamentalmente baseada em um estudo de caso que
reflete o processo histórico do lazer e das cidades na cultura brasileira.
O primeiro quadro de estado da arte utilizou as palavras-chave “lazer urbano”,
“paisagem turística” e “atrativo turístico”, focado em artigos das seguintes bases de
dados: Scielo, EBSCO, CAPES, BDTD, Science Direct, e nas revistas “Turismo –
Visão e Ação” e “RBTur”. Nesta etapa as palavras-chave eram diferentes das atuais,
as quais foram modificadas conforme o levantamento teórico e empírico foi sendo
lapidado, para melhor se adaptar ao objetivo geral. O recorte temporal foi de 06
anos, e 25 produções foram localizadas (pesquisa feita em 2014). Porém muitas
delas abordavam outros temas, longe do foco deste trabalho. Foram feitas buscas
em português, inglês e espanhol.
Em um segundo momento, foi elaborado outro quadro de estado da arte, resultado
de uma filtragem do primeiro quadro, utilizando apenas os artigos localizados com a
palavra-chave “lazer urbano”, destes foram selecionados 08 artigos. Outra pesquisa
em artigos científicos, nas mesmas base de dados foi feita, porém agora com as
palavras-chave: lazer urbano; espaços de lazer; comunidade de destinos turísticos.
Por conseguinte foram acrescentadas as produções bibliográficas, buscando as
principais teorias e principais nomes que tratam do lazer urbano em todo o mundo.
Após essa etapa inicial, foram então seguidos os procedimentos de coleta de dados
propostos na metodologia: pesquisa documental, DSC e Mapa Mental. Os quais são
apresentados a seguir.
64
5.1 Identificação da oferta de espaços públicos de lazer em Balneário
Camboriú (SC)
A identificação dos espaços públicos de lazer de Balneário Camboriú foi realizada,
conforme descrito no caminho metodológico, através de pesquisa documental.
Foram considerados espaços públicos de lazer aqueles espaços que tenham livre
acesso à população, sejam abertos ou cobertos, conceituados por Boullón (2002)
como logradouros e também demais espaços considerados públicos, como parques,
áreas naturais e espaços esportivos.
Um primeiro levantamento foi feito através dos dados divulgados online pela
prefeitura de Balneário Camboriú, mas especificadamente na página da Secretaria
de Turismo. Esse levantamento descreve quais espaços públicos de lazer são
oferecidos como atrativos turísticos da cidade. Na figura a seguir fica ilustrada a
filtragem dos espaços dentro dos atrativos.
Figura 11: Espaços públicos de lazer apresentados como atrativo turístico pela
Secretaria de Turismo.
Fonte: Autor, 2016.
O formato da divulgação, em forma de ícones, permite à prefeitura a atualização
constante dos atrativos sem alterá-los, apenas modificando o conteúdo pertencente
a cada ícone, o que torna positiva a forma apresentada. Dentro do próprio site da
65
Secretaria de Turismo existe uma categoria chamada de “dicas” aos turistas. Nessa
categoria aparecem algumas praças não citadas na categoria “atrativos”, porém as
mesmas foram anexadas no levantamento. Seguem abaixo listados os espaços
apresentados pela Secretaria de Turismo.
Praças (20): Praça Almirante Tamandaré, Praça Bruno Correia Pereira, Praça da
Integração Ver. Wilson P. Achutti, Praça das Bandeiras, Praça do Chafariz - Praia de
Laranjeiras, Praça Fonte das Sereias, Praça General de San Martin, Praça Higino
João Pio, Praça Kurt Amann, Praça Mario Covas, Praça Mussolini Cechinel, Praça
Papa João Paulo I, Praça República Oriental do Uruguai, Praça Silveira Junior -
Norberto Cândido Silveira, Praça Urbano Mafra Vieira, Praça Bruno Nitz, Praça das
Figueiras, Praça do Pescador, Praça da Bíblia, Praça Ambrósio Eble.
Molhes (01): Molhe da Barra Sul (figura 12).
Figura 12: Molhe da Barra Sul em Balneário Camboriú (SC).
Fonte: Schaefer, 2016.
Praias (08): Praia Central, Praia de Laranjeiras, Praia de Taquaras, Praia de
Taquarinhas, Praia do Buraco, Praia do Canto, Praia do Estaleirinho, Praia do
Estaleiro.
66
Praias de Naturismo (01): Praia do Pinho.
Passarelas/Deck (01): Deck do Pontal Norte.
Morros (04): Morro da Aguada, Morro da Cruz, Morro do Careca, Morro do Gavião.
Parques (apenas os de livre acesso - 01): Parque Natural Raimundo Gonzalez
Malta.
Somados a estes espaços apresentados acima, serão considerados também os
espaços a seguir, coletados em outras fontes de dados como documentos da
Prefeitura Municipal, notícias de jornais da região e do estado, entre outros.
Academias(20): Academia Municipal Pontal Norte; “Academias ao Ar Livre”
espalhadas pela cidade (19).
Ciclovias e Ciclo faixas: 24 vias somando 30.155 metros, segundo a Associação
de Ciclismo de Balneário Camboriú e Camboriú - ACBC (2015).
Campos de Areia (09): Campos de areia espalhados pela cidade, fora das praias, e
de livre acesso. CA 01- Campo de Areia dos Municípios. CA 02- Campo de Areia do
Estaleirinho. CA 03- Campo de Areia da Praia dos Amores. CA 04- Campo de Areia
de Taquaras. CA 05- Campo de Areia do Estaleiro. CA 06- Campo de Areia da
Barra. CA 07- Campo de Areia do Bairro São Judas. CA 08- Campo de Areia do
Ariribá. CA 09- Campo de Areia do Bairro das Nações. (FMEBC, 2016)
Para descrever os espaços de lazer da cidade foi utilizado um quadro descritivo,
identificando cada um desses espaços, de acordo com a fundamentação teórica
apresentada anteriormente. Serão apresentados nestes quadros as praças, o molhe,
o parque, as academias, as passarelas/decks e os campos de areia, ver quadro
completo no apêndice B. Os demais serão descritos em forma textual. A seguir
serão apresentados alguns espaços dentre todos dos quadros do apêndice B
67
Quadro 4 – Praças de Balneário Camboriú (SC)
Espaço Praça Almirante Tamandaré Oferta Turística (Boullón, 2002)
(X) Turístico ( ) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Av. Atlântica, no centro da Praia Central. Estrutura Espaço aberto com cabina para a Guarda Municipal, bancos e
bicicletário. Espaço destinado a eventos como shows, eventos culturais, religiosos e beneficentes.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça da Bíblia Oferta Turística (Boullón, 2002)
(X) Turístico ( ) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Entre as ruas 1001 e a Avenida Alvin Bauer. Ao lado do Shopping.
Estrutura Comércio dos artesãos com pequenas construções que lembram casas açorianas, dois coretos para apresentações culturais, bancos, duas academias ao ar livre, árvores, espaço aberto para lazer, bicicletário coberto e ajardinamento.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Fonte: Autor, 2016.
Quadro 5 – Academias públicas em Balneário Camboriú (SC)
Espaço Academias ao ar livre (19) Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização - R. Dom Daniel – bairro Vila Real; - R. Dom Afonso / Via Gastronômica - bairro Vila Real; - R. Edgar Linhares - bairro Nova Esperança; - R. Antônio Joaquim Vitorino/ Loteamento Schultz - bairro Nova Esperança; - R. Júlio Graciliano/ frente ao Centro Comunitário - bairro São Judas; - R. Hermógenes Assis Feijó/ Praça da Figueira – bairro da Barra; - R. Jardim da Saudade/ frente ao Ginásio – bairro da Barra; - R. L.A.P Rodesindo Pavan – Praia do Estaleirinho; - R. Vereador Dominguo Fonseca - Praia do Estaleiro; - R. L.A.P Rodesindo Pavan – Praia de Taquaras; - R. 6º Avenida esq. Rua Campo Ere - bairro dos Municípios; - Av. Brasil esq. Rua Justiniano Neves – bairro dos Pioneiros; - Av. Martin Luther esq. Rua Israel - bairro das Nações;
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- Av. Martin Luther esq. Rua Paraguai - bairro das Nações; - Av. da Lagoa esq. Rua 100/ Praça da Bíblia – Centro; - Av. da Lagoa esq. Alvin Bauer/ Praça da Bíblia – Centro; - Av. Santa Catarina esq. Rua Bahia/ Praça - bairro dos Estados; - Av. Carlos Drummond de Andrade/ ETA (Emasa) - Praia dos Amores; - Av. Palestina esq. Rua Paraguai - bairro das Nações.
Estrutura 10 aparelhos em cada academia: um multiexercitador (seis funções), simulador de cavalgada, alongador, surfe, pressão de pernas, remada sentada, simulador de caminhada, esqui, rotação diagonal e rotação vertical.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Academia Municipal Pontal Norte Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Pontal Norte da Praia Central. Estrutura Aparelhos de musculação em aço inoxidável em uma área de
aproximadamente 250m². Auxílio de profissionais de educação física.
Funcionamento Funciona com sistema de horários livres e senhas, em que os frequentadores podem treinar até três vezes na semana, durante uma hora. É necessário um cadastro prévio. Capacidade para 20 pessoas por hora, obedecendo a ordem de chegada. Tem horário de funcionamento que varia na alta e na baixa temporadas.
Fonte: Autor, 2016.
Figura 13: Academia Municipal Pontal Norte.
Fonte: Schaefer, 2016.
Apresentados os espaços acima em quadros e no apêndice B, por conseguinte
serão identificadas as principais características dos demais, são eles: praias,
morros, ciclovias e ciclo faixas.
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Dentre todos os espaços de lazer da cidade, os de maior destaque são as praias.
Das oito praias da cidade, o maior destaque é a Praia Central. Além de ser a maior
praia, foi em seu entorno que ocorreu o crescimento da cidade, partindo do litoral em
direção ao encontro com a sua antiga sede, Camboriú. Na praia Central está
concentrada a grande maioria da rede hoteleira, comércio, espaços públicos,
residências, órgãos públicos, enfim o perímetro urbano desenhou-se ao longo da
faixa dessa praia. Tem também predomínio nos materiais de divulgação turística,
conforme abordado De Oliveira, Tricárico e Pereira (2008). Os autores identificaram
que a imagem aérea da cidade, a qual agrega a praia central e o conjunto de prédios
do centro, são o maior motivo de orgulho entre os moradores.
A Praia Central possui 6,8km de extensão, sendo a mais equipada e urbanizada da
cidade. Na faixa de areia é possível encontrar aluguel de cadeiras e guarda-sóis,
postos de salva-vidas, aluguel de equipamentos de lazer como prancha de surf,
stand up paddle, caiaques entre outros, e quadras para prática esportiva como vôlei,
futebol, futevôlei, tênis de praia, basquete de praia e slackline. Alguns equipamentos
privados também estão à disposição no mar como passeio de Banana Boat, Fly,
Aqua Disco, Barco Pirata, Jet Ski, e um parque aquático com brinquedos infláveis.
Estes equipamentos funcionam, em sua maioria, somente na alta temporada, entre
dezembro e março. Um destaque da praia é a iluminação da orla. Reformulada em
2012, a nova iluminação proporcionou a utilização da faixa de areia à noite,
possibilitando inclusive a prática noturna de esportes.
Um calçadão acompanha toda a orla da Praia Central. Nele é possível encontrar
quiosques que comercializam comidas e bebidas, banheiros (nos quiosques),
barracas de milho e churros, as quais alugam também as cadeiras e guarda-sóis,
canchas de bocha (cada cancha é administrada por um grupo de moradores),
bancos, árvores e ajardinamento.
As demais praias se caracterizam como sendo menores em dimensão e importância.
As praias do Buraco e do Canto ficam no pontal norte, sendo praias sem estrutura e
sem equipamentos, apenas com postos salva-vidas, e com vegetação preservada.
As praias de Laranjeiras, Taquaras, Taquarinhas, Pinho Estaleirinho, e Estaleiro
70
fazem parte da área denominada “Praias Agrestes”, e tem acesso através da
Rodovia Interpraias. Elas ficam ao sul da cidade e também se caracterizam por
pouca estrutura e poucos equipamentos, porém, são mais estruturadas e
frequentadas do que as praias do Buraco e do Canto. As Praias Agrestes possuem
vegetação preservada e contam com bares, restaurantes, hotéis e pousadas.
Dentre elas destaca-se a Praia de Laranjeiras, sendo a mais frequentada e com
maior estrutura. Isso se deve por ser a mais próxima do Centro e por ser o ponto
final do Parque Unipraias, um parque privado que é um dos principais atrativos
turísticos da cidade. Além de Laranjeiras vale aqui lembrar da Praia do Pinho, uma
das principais praias de Naturismo do Brasil. Ela possui camping, bares e
restaurantes, e seu acesso é restrito e administrado pela associação local, a qual
determina as normas de postura da praia.
Figura 14: Praias Agrestes em Balneário Camboriú (SC).
Fonte: Schaefer, 2016.
Um espaço ligado à Praia Central compõe outro grupo de espaços de lazer da
cidade que vem ganhando tamanho e importância, tanto para moradores quanto
turistas. Trata-se da Ciclo Faixa compartilhada (figura 15), que acompanha toda a
orla central, entre o calçadão e a Avenida Atlântica. Inaugurada na temporada de
verão 2013/2014, este espaço ocupou o lugar das vagas de estacionamento da orla.
São quase 6km de extensão, da Barra Sul ao Pontal Norte. As modalidades
permitidas na área são corrida, rollers, patins, patinetes, bicicletas, skate e os
71
demais veículos alternativos como bicicletas e patinetes elétricos (não motorizados),
ambos com velocidade máxima de até 20km/h, segundo a Prefeitura Municipal de
Balneário Camboriú (2014). Em toda a cidade são 24 vias somando 30.155 metros,
segundo a Associação de Ciclismo de Balneário Camboriú e Camboriú - ACBC
(2015). Na figura 15 as cores das vias ciclísticas são apenas para diferencia umas
das outras, não havendo legenda de cores.
Figura15: Vias ciclísticas implantadas.
Fonte: Associação de Ciclismo de Balneário Camboriú e Camboriú (ACBC), 2015.
Aproveitando estes espaços surgiram na cidade diversas empresas de aluguel de
bicicletas, procuradas principalmente por turistas. Em 2016, durante este pesquisa
está em discussão na Câmera de Vereadores a implantação de bicicletas
compartilhadas, porém o projeto ainda não foi aprovado.
Apesar dos espaços de lazer ligados à praia terem destaque na cidade, Balneário
Camboriú conta com áreas naturais que podem ser utilizadas para o lazer. Além do
72
Parque Natural Raimundo Malta, existem quatro morros, Morro da Aguada, Morro da
Cruz, Morro do Careca e Morro do Gavião.
O Morro da Aguada é onde está localizado o Parque Unipraias, o acesso e o uso do
mesmo é feito pela estrutura do parque, com cobrança de ingresso. Do mesmo
modo é possível subir no Morro da Cruz, através do ingresso no Complexo do Cristo
Luz, também equipamento privado. Apenas o Morro do Careca e do Gavião tem livre
acesso. O do Gavião é menos frequentado, não possui estrutura além de uma trilha
até o topo. Já o do Careca tem grande fluxo de moradores e turistas. Ele fica no final
do Deck do Pontal Norte, tem acesso para pedestres pelo deck e para automóveis
pela Estrada da Rainha.
Figura 16: Morro do Careca em Balneário Camboriú (SC).
Fonte: Schaefer, 2016.
O Morro do Careca possui estacionamento, trilha, parquinho infantil, quiosque, loja
de souvenir, banheiros, e local para voo livre. Aliás, o voo de parapente é a principal
atração desse morro, sendo considerado atualmente um complexo turístico.
O Complexo Turístico Morro do Careca - CTMC engloba uma elevação montanhosa
com cerca de 158.000 m2, sendo composto por áreas públicas e privadas, tendo seu
cume, uma altitude de 104 m acima do nível do mar, dados da Associação de Vôo
Livre do Morro do Careca – AMCA (2016). O local é também frequentado por turistas
e moradores que buscam a vista de Balneário Camboriú e da Praia Brava de Itajaí.
73
Identificada a oferta de espaços públicos de lazer da cidade, o próximo objetivo
desta pesquisa foi reconhecer a opinião/percepção da comunidade local sobre as
expectativas e necessidades de lazer na cidade.
5.2 Reconhecendo a opinião/percepção dos moradores
Como já apresentado no caminho metodológico desta pesquisa, foram feitas
entrevistas estruturadas com perguntas abertas, a fim de reconhecer a
opinião/percepção dos moradores sobre os espaços de lazer da cidade. Três
questões desta entrevista resultaram no levantamento dos espaços citados pelos
entrevistados, o qual será apresentado ainda sem o uso do DSC e do Mapa Mental.
A caracterização da amostra não foi utilizada para análise dos resultados, apenas
para definição da mesma, pois não geraram resultados diferenciados.
A primeira questão indagava o entrevistado se ele conhecia os espaços públicos de
lazer do seu bairro, e, caso sim, o que fazia neles. As respostas demonstraram, em
sua maioria, o reconhecimento de praças, parques (principalmente os infantis),
academias ao ar livre, praia central, e alguns espaços para a prática de esportes,
como ginásios, campo de futebol. Chamou atenção a citação de centros
comunitários e colégios como espaços de lazer, pois apesar de terem acesso restrito
e horário controlado, são espaços reconhecidos como públicos e destinados ao lazer
dos moradores.
Para descrever melhor os resultados dessa primeira questão foi elaborada uma
figura identificando os espaços reconhecidos dentro de cada bairro, levando em
consideração apenas aqueles reconhecidos pelos moradores. Para constar, em
todos os mapas a seguir foram considerados também os espaços privados de lazer
citados pelos moradores, porém os mesmos foram sinalizados a fim de diferenciar
dos públicos.
74
Figura 17: Espaços públicos de lazer reconhecidos pelos moradores, por bairro.
Fonte: Autor (adaptado de Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú), 2016.
75
Essa figura permite descrever uma comparação entre os bairros pesquisados no que
se refere aos espaços de lazer reconhecidos pelos entrevistados. Em concordância
com outras pesquisas aqui já apresentadas na fundamentação teórica (SANTANA &
ALVES, 2014; OLIVEIRA & MASCARÓ, 2007; GOMES, 2008, MARCELLINO, 2002,
ROLNIK, 2000), as quais apontaram os centros das cidades com maior quantidade e
qualidade de espaços públicos do que as periferias, os moradores da área central de
Balneário Camboriú reconhecem um número maior de espaços de lazer do que os
moradores dos demais bairros.
Neste estudo de caso, por se tratar de uma cidade turística, vale ressaltar também
que o centro da cidade, além de atrair os turistas pelo conjunto do espaço urbano e
suas facilidades, também é a região ligada diretamente à Praia Central, principal
atrativo da cidade, esses dois fatores contribuem muito para que a oferta de espaços
de lazer seja diferenciada nessa área.
A segunda questão buscava saber quais os espaços públicos de lazer os
entrevistados conheciam em outros bairros, e o que faziam neles. Com base nas
respostas foi elaborada outra figura descrevendo os espaços reconhecidos pelos
moradores de cada bairro.
O Centro, principalmente Barra Sul, teve destaque de reconhecimento, sendo o mais
citado pelos moradores de outros bairros. Porém notou-se que as principais e
maiores praças da cidade foram pouco citadas, são elas a Praça Tamandaré, Praça
Higino Pio e Praça da Bíblia. Pelo contrário, os espaços de lazer mais lembrados
fora as pracinhas (sem distinção de nome), parquinhos infantis e academias ao ar
livre, espalhadas por toda a cidade. Nenhuma destas pracinhas foram citadas pelos
seus respectivos nomes, o que pode sugerir uma falta de apropriação dos
moradores com relação aos espaços públicos da cidade, tanto para o uso quanto
para o reconhecimento destes locais.
76
Figura 18: Espaços públicos de lazer de outros bairros reconhecidos pelos
moradores.
Fonte: Autor (adaptado de Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú), 2016.
77
As duas figuras anteriores complementam o levantamento dos espaços de lazer e
procuram atender ao terceiro objetivo específico: identificar, por bairro, os
espaços públicos de lazer utilizados pela população. Observando estas figuras,
resultantes das duas primeiras questões, e feitas as observações anteriores a
respeito, existe uma análise, talvez a mais importante no contexto de Balneário
Camboriú, a falta de reconhecimento das praias como espaços públicos de lazer. A
Praia Central que, além de todos os equipamentos de lazer instalados na sua orla,
possui uma enorme extensão de faixa de areia e pode ser considerada o maior
espaço de lazer da cidade, não tem destaque nas respostas dos moradores, a não
ser quando ligada, em alguns casos, às academias ao ar livre, à Praça Tamandaré e
ao Molhe da Barra Sul.
Relembrando o conceito de lazer de Dumazedier (1976), o lazer seriam as
ocupações, por livre vontade, buscadas para repouso, diversão, recreação,
entretenimento, desenvolvimento pessoal e trabalho voluntário. As duas últimas
ocupações geralmente desprendem-se de um espaço público de lazer, porém as
demais são todas realizáveis em espaços abertos, principalmente a praia.
Essa falta de reconhecimento da praia como espaço público de lazer para os
moradores é evidenciada ainda mais quando comparados os resultados deste
segundo mapa com os resultados da quinta questão da entrevista, a qual questionou
quais os espaços públicos de lazer mais frequentados pelos turistas que visitam a
cidade, na visão dos moradores. As praias foram os espaços de lazer mais
reconhecidos, com uma diferença bem grande para os demais espaços da cidade.
Além disto, apenas três espaços citados localizam-se fora da área central, ficando a
grande maioria localizada no Centro e na região das Praias Agrestes, conforme
figura a seguir, acompanhada por um gráfico que mostra a quantidade de citações
de cada espaço, considerando apenas os com duas ou mais citações.
78
Figura 19: Espaços públicos de lazer frequentados pelos turistas, na visão dos
moradores.
Fonte: Autor (adaptado de Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú), 2016.
79
Gráfico 3 – Espaços públicos de lazer frequentados pelos turistas, os mais citados
pelos moradores.
Fonte: Autor, 2016.
Observa-se na comparação entre espaços de lazer utilizados pelos moradores e
espaços utilizados por turistas que, a grosso modo, o corredor turístico está presente
também na percepção dos moradores. As pracinhas, parquinhos infantis e
academias ao ar livre são espaços espalhados por todos os bairros e fortemente
reconhecidos pelos moradores da cidade. Alguns espaços privados de lazer também
se destacam por figurar entre as respostas. Mesmo sendo de ciência dos
entrevistados que estes eram locais não públicos isso pode descrever de certa
forma uma grande importância desses espaços e equipamentos na visão da
comunidade, principalmente no que se refere aos Shoppings e ao Parque Unipraias.
Ao modo que, ao verificarmos os espaços frequentados pelos turistas, na visão dos
moradores, nota-se que as praias, especialmente a Praia Central e o Centro da
cidade, considerando o conjunto urbano com comércio, praças, shopping e
restaurantes, são quase unanimidade. Além destes locais são citados dois espaços
que são atrativos turísticos também divulgados pelo município, o Cristo Luz e o
Balneário Camboriú Shopping, ambos privados.
80
Outro dado pesquisado pode ajudar a descrever o uso maior de alguns espaços
pelos turistas. A figura abaixo descreve os resultados apresentados em uma
pesquisa sobre as praças centrais de Balneário Camboriú, segundo o autor nas
quatro praças centrais da cidade, Praça Almirante Tamandaré, Praça Higino João
Pio, Praça da Bíblia e Praça Kurt Amann possuem períodos de apropriação,
conforme cita a seguir
A apropriação acontece no período de temporada de verão, atingindo patamares altos e constantes. Porém, nos meses restantes do ano, a frequência é muito baixa, revelando o pouco interesse da população local pelas praças, na forma em que estão atualmente (ARRUDA, 2016, p.70).
Figura 20: Escala de quantidade de pessoas nas praças.
Fonte: Arruda, 2016.
Vale ressaltar que a figura 19 descreve uma percepção dos moradores que não
81
reconhecem que os espaços públicos de lazer dos seus bairros são frequentados
pelos turistas. Muitos acham que os turistas nem sabem da existência destes outros
bairros, e que também não teriam muitos motivos para visita-los. Podemos ligar essa
ideia a uma insatisfação dos moradores em relação a oferta de espaços públicos
que utilizam, o que será apresentado nos DSCs a seguir.
Por conseguinte, as duas questões restantes, de um total de cinco, serão
apresentadas através do DSC. Além destas perguntas, foi solicitado aos moradores
que fizessem um mapa mental da cidade destacando os espaços públicos de lazer,
e este resultado também será apresentado na sequência.
5.2.1 Os discursos sobre os espaços de lazer.
Duas questões das entrevistas serão apresentadas aqui como Discurso do Sujeito
Coletivo, de Lefèvre e Lefèvre (2003). A primeira questão questionava se as
necessidades de lazer dos moradores eram atendidas pelos espaços públicos de
lazer da cidade, e os motivos para isso.
Quadro 06 - Quadro-síntese questão 3: Acredita que os espaços públicos de lazer
de toda a cidade atendem às suas necessidades de lazer?
Ideias centrais (IC) / Ancoragens (AC)
Atendem as expectativas e a cidade está melhorando
cada vez mais (IC)
Não atendem, ainda falta muita coisa, fica a desejar, e os que existem deveriam
ser melhor cuidados e aproveitados
(IC)
A estrutura é melhor em bairros nobres
(AC)
O poder público pensa mais nos turistas
(AC)
Os maiores frequentadores dos espaços são as
crianças (AC)
Cidades turísticas tem bastante espaços de lazer
(AC)
Fonte: Autor, 2016.
Quadro 07 – IC: Atendem as expectativas e a cidade está melhorando cada vez
mais.
DSC
Eu acho que atende, tem um monte de centros comunitários, campo, academias ao ar livre. Já cresceu muito e já tem os seus espaços de lazer para passear. Acredito que
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Balneário está buscando melhorar cada vez mais, então eu acho que para mim está bom aonde eu vou, onde eu frequento, até porque parei de fazer esportes né. Fonte: Autor, 2016.
Essa ideia central liga a oferta dos espaços de lazer ao crescimento da cidade de
Balneário Camboriú. Principalmente para pessoas que residem há mais de dez anos
na cidade, como é o caso dessa amostra, o crescimento nesse período foi muito
grande, como destacado anteriormente na descrição do objeto de estudo. Para elas,
os espaços de lazer acompanharam esse crescimento e atendem às suas
expectativas.
Quadro 08 – IC: Não atendem, ainda falta muita coisa, fica a desejar, e os que
existem deveriam ser melhor cuidados e aproveitados.
DSC
Acho que não, uns deixam um pouco a desejar. Eu teria a solicitar que as autoridades façam melhorias. O que oferecem ao público de forma gratuita tem muito pouca coisa, ou se tem está pouco divulgado. Acredito que falta bastante coisa né, falta mais bancos, árvores, como era antigamente praças né. Aqui no meu bairro tem espaço que é perto de rio, tem mangue, não tem condições ali, vive tudo destruído ali. Acho que deveriam ser mais cuidadas assim, e melhor aproveitadas em si, tipo a Tamandaré, é um espaço vazio pra mim. Muita gente não vai as vezes, mas as minhas necessidades não atendem. Não tem pra todo mundo né, não tem um espaço para o lazer dos idosos, tem que pensar em cada pessoa. Eu acho que falta muita segurança. Aqui nós só temos uma praça né. Faz anos que nós estamos pedindo uma pracinha aqui e nada, eu acho assim que eles só prometem, prometem e não cumprem. Mas precisa ter porque para o idoso não tem, para a criança não tem, só praia, então se esfriou a praia não presta. Eu particularmente não tomo banho nas praias aqui. Fonte: Autor, 2016.
Neste discurso o principal ponto abordado pelos moradores foi a manutenção dos
espaços existentes, que, na visão deles, já são poucos e não atendem a população.
Cita as praças de antigamente com árvores, ajardinamento, bancos, o que talvez
seja interessante a se considerar na principal praça, a Praça Tamandaré, a qual
após reforma praticamente extinguiu estes itens. Fica destacado também o discurso
de que os espaços de lazer devem atender as diferentes características de cada
faixa etária, como crianças e idosos por exemplo, os quais possuem diferentes
demandas de lazer.
A sequência de DSCs a seguir representam uma quantidade menor de discursos,
83
mas são ancorados em teorias a serem destacadas.
Quadro 09 – AC: A estrutura é melhor em bairros nobres.
DSC
Uns são diferenciados dos outros né. Nos bairros mais nobres eles tem os aparelhos, brinquedos, uma estrutura melhor né, e nos outros bairros é bem fraquinho na verdade. Fonte: Autor, 2016.
Quadro 10 – AC: O poder público pensa mais nos turistas.
DSC
Eu acho que não, porque eles pensam mais nos turistas, não tem um lazer focado pros moradores. A maioria é para o pessoal de fora né. Fonte: Autor, 2016.
Quadro 11 – AC: Os maiores frequentadores dos espaços são as crianças.
DSC
Acredito que sim, principalmente pra quem tem criança e que gosta muito de sair. Como é só criança pequena tem tudo que ele gosta né. Atende as dele porque ele vai, não atende as minhas porque eu não vou. Quando eu tenho um tempo livre levo minha filha pra andar de bicicleta ali na Tamandaré, ou num parquinho para brincar. Tomo um mate com a minha esposa na praia também. Fonte: Autor, 2016.
Quadro 12 – AC: Cidades turísticas tem bastante espaços de lazer.
DSC
Sim, Balneário está bem, como é uma cidade turística então tem bastante áreas assim. Pra mim sim, a cidade é turística então o mínimo que se espera é ter um espaço de lazer pra quem mora também, eu só ando de patins á noite aqui na Atlântica, pra mim esse espaço ali atende meu lazer. Fonte: Autor, 2016.
Como o próprio método do DSC apresenta como característica dos discursos, as
ancoragens nem sempre estão presentes. Porém, nessa questão foram identificadas
ancoragens interessantes à análise dos espaços de lazer. A ancoragem é como se
fosse alguma teoria ou crença por traz do discurso, não apresentada claramente
pelo entrevistado, mas perceptível ao olhar do pesquisador. Duas ancoragens são
mais amplas, aplicadas também a cidades não turísticas, uma delas é a percepção
de que bairros nobres tem melhor oferta de espaços do que bairros mais pobres, e a
outra é sobre a ligação dos espaços de lazer à figura das crianças, como se os
84
espaços fossem, de preferência, voltados ao uso delas.
Os outros dois discursos estão ligados ao turismo. Estão ancorados no pensamento
de que cidades turísticas possuem sempre uma boa oferta de espaços de lazer, e
que o poder público sempre busca atender aos turistas no que se refere às opções
de lazer.
Quadro 13 - Quadro-síntese questão 4: E suas expectativas em relação aos espaços
de lazer da cidade, elas são atendidas? O que o(a) Sr.(a) espera para o futuro?
Ideias centrais (IC) / Ancoragens (AC)
As expectativas são atendidas porém precisa
melhorar algo (IC)
Espera mudança pois a oferta está defasada
(IC)
Espera que o poder público melhore
(IC)
Espera melhorias pois os espaços existentes não são
bem cuidados (IC)
Se existissem mais espaços de lazer
diminuiriam a criminalidade e o uso de drogas
(AC)
Fonte: Autor, 2016.
Quadro 14 – IC: As expectativas são atendidas porém precisa melhorar algo.
DSC
São atendidas né, esperamos não acabar esses daí, mas o que tem já tá bom. Eu acho que é bem bom né, elas estão bem boas, perto das outras cidades está bem bom. Espero que melhore mais né, bem mais. Mas já está melhorando um pouco. Acho que tem que ter mais divulgação com certeza, tem que ter mais investimento em cima disso, algum tipo de informação né, que muitas vezes tem, mas não tem informação. Eu acho que Balneário caminha pra um futuro muito bom em relação aos outros países onde eu andei e vi, eu acho que Balneário está dentro dessas expectativas, só que precisa, além disso tudo, melhorar a questão de educação mesmo, questão de orientar as pessoas, dizer como utilizar a pista de skate, utilizar a pista de parques, de ginastica, conservação, limpeza, já que ninguém usa lugar sujo. Orientação nos bairros também. O que eu espero pro futuro? Eu espero mais uma conscientização assim mais do lado ambiental, que as pessoas cuidem mais e depredem menos pra que durem mais tempo. A prefeitura vai fazer no Bairro das Nações um centro de lazer, onde vai ter academia, quadra de tênis, quadra de basquete, é um projeto pra nova administração, não sei quando é que vai sair. Se for é bom. Mas assim ó, eu gostaria muito que tivesse mais coisas para idosos. Fonte: Autor, 2016.
A primeira ideai central sobre as expectativas está na mesma linha de discurso das
necessidades. Nesse discurso os moradores ressaltam que a oferta deve melhorar,
85
que, apesar de atender às expectativas, precisa melhorar em aspectos como
informação, conservação ambiental, e educação dos usuários. Estes aspectos são
interessantes neste discurso, pois demonstram a percepção dos moradores de que
eles também são responsáveis por manter a qualidade dos espaços de lazer e
cultivarem a sua utilização pela comunidade.
Quadro 15 – IC: Espera mudança pois a oferta está defasada.
DSC
Tinha que melhorar 100% na verdade, deixa a desejar bastante. Espero que busquem fazer um lugar pra nós, com tanto dinheiro que o governo embolsa, até me sinto mal pensando nisso, porque nunca parei pra pensar e realmente não tem um lugar tranquilo assim, com coisa útil pra se fazer, e já que não tem a gente pega esses lugares vazios e tenta transformar num lugar pra ficar. Espero que tenha um negócio que venha a mudar isso né, porque está bem defasado. Tem que crescer mais né, precisa porque está crescendo a população, a cidade está crescendo muito e tem que ter mais, como a gente não é de balada, essas coisas. Balada tem né. Eu acho que para o futuro deveriam ser mais revitalizados, ter mais espaços públicos, principalmente paras as crianças, mais parquinhos até mesmo didáticos. Um campinho de futebol de areia, um horário reservado especialmente para as crianças, entende? Uma coisa assim, uma quadra de vôlei já que tem espaço na areia, em um bairro que tem espaço, área territorial, Nova Esperança e Bairro das Nações tem. Que eles possam botar mais uns campos de futebol, mais para crianças que estão nascendo agora né, que é bem pouco. Espero que cuidem, façam melhorias para os turistas, para nós. Porque a cidade tem que agradar quem vive e também que traz o dinheiro e investe aqui né, temos mais é que ter espaços bons para atender. Que fique cada vez melhor, mais acessível para o pessoal. Modernizar um pouco né. Aquelas academias que colocaram ali são umas academias meio esquisitinhas, aqueles aparelhos deles lá são meio ultrapassados. Até os espaços eu acho bem legais, coloridos, bem bonitos, mas falta manutenção mesmo dos brinquedos. Aquela praça ali não tem um banco para sentar, tem um poste cheio de lama e fica aquilo ali. Se quiserem sentar á tem que sentar na grama. É um espaço inútil. Fonte: Autor, 2016.
Mais uma vez o discurso reforça o apresentado na pergunta sobre as necessidades.
Aqui os moradores reclamam da oferta defasada, tendo em vista o valor de
arrecadação do município. Criticam a utilidade de alguns espaços existentes sobre o
seu uso, e sugerem revitalização de algumas áreas.
Uma comunidade com este discurso merece uma atenção do poder público local.
Oliveira e Mascaró (2007), citam que os espaços públicos abertos trazem muitos
benefícios para o ambiente urbano. Destacam entre esses benefícios as práticas
sociais, de atividades de lazer, encontros entre moradores ao ar livre, manifestações
86
de vida urbana e de comunidade, e todas acabam favorecendo o desenvolvimento
humano e o relacionamento entre moradores, ou até moradores e turistas. Além
deles, outros autores abordam a importância e a influência dos espaços de lazer no
cotidiano dos moradores (ALMEIDA & GUTIERREZ, 2011; BOULLÓN, 2002;
GOMES, 2008; GRINOVER, 2007; JOHNSON, GLOVER & STEWART, 2014;
KRIPPENDORF, 2001; RIBEIRO, 2014; RODRIGUES, 2014; RUSCHMANN, 1997;
SANTANA & ALVES, 2014; SILVA, 2012 e 2013).
Quadro 16 – IC: Espera que o poder público melhore.
DSC
Quem tem que responder é o prefeito né, ele que tem que dar um futuro bom pra gente, pois da prefeitura não se espera muita coisa, com um governo desse. Depende muito da parte administrativa do município né, vamos ver, esperamos que os próximos que vão vir por ai. Eu espero que entre algum administrador que tenha consciência do que ele ai deixar para os descendentes dele que são os filhos e os netos. Fonte: Autor, 2016.
Quadro 17 – IC: Espera melhorias pois os espaços existentes não são bem
cuidados.
DSC
Acho que tem que cuidar do meio ambiente dos lugares, a limpeza desses lugares, para que sejam bem frequentados, e quem vá também tenha consciência de cuidar do lugar, porque não adianta poder morar num lugar tão bonito que é essa cidade e não preservar o mais bonito que ela oferece que é a natureza né. Espero que melhore né, que seja menos poluído, que as coisas sejam mais bem cuidadas tanto pelos moradores quando pelo governo. Que conservem mais, tanto os lugares, e os aparelhos que já tem, para que a gente possa estar usando e ter algo de diferente às vezes. Melhoras né, tudo enferrujado, tudo acabado. A maioria dos equipamentos estão quebrados né, na maioria dos pontos estão quebrados, pintura nova. Fonte: Autor, 2016.
O discurso aqui volta a ressaltar a importância da participação da comunidade na
manutenção dos espaços públicos de lazer. Cita um certo descaso tanto da
população quanto do governo com a manutenção dos equipamentos e espaços.
Esse discurso é a base também para a ancoragem apresentada a seguir. Espaços
de lazer, principalmente praças, mal cuidadas e defasadas tendem a afastar os
moradores que procuraram lazer e, em contrapartida, colaboram para que aumente
o uso de drogas e a criminalidade. Dois pontos a serem observados, pela
87
interpretação do pesquisador. Os espaços de lazer mal cuidados e/ou abandonados
(falta de iluminação e segurança principalmente) tornam-se propícios à
concentração naquele local de usuários de drogas e criminosos e, em complemento
a isso, o discurso se ancora na ideia de que a oferta de lazer na cidade pode manter
as pessoas, principalmente crianças e jovens, ocupados, evitando que os mesmos
fiquem a mercê de más ações.
Quadro 18 – AC: Se existissem mais espaços de lazer diminuiriam a criminalidade e
o uso de drogas.
DSC
Acho que tem que ter mais segurança né, teria que complementar. Se tivesse mais lazer em Balneário talvez não tivesse tanta bandidagem e gente perdida na droga. Talvez fazer tipo uma casa de jogos pra eles se distraírem. Fonte: Autor, 2016.
Estes Discursos do Sujeito Coletivo, além de reconhecerem a percepção dos
moradores da cidade sobre os espaços públicos de lazer, permite claramente ajudar
na interpretação das figuras apresentadas anteriormente, as quais descrevem os
resultados das questões 1,2 e 5. Ao externarem que os espaços de lazer
frequentados por eles, moradores, são em maioria diferentes dos espaços utilizados
pelos turistas, salvo algumas exceções, principalmente em localização na cidade,
nos discursos (DSC) eles apresentam as suas opiniões sobre estes espaços.
Levando em consideração que temos, apesar de várias ideias centrais e
ancoragens, dois extremos, ou seja, alguns moradores estão satisfeitos e sugerem
melhorias, e outros não estão satisfeitos com oferta de espaços de lazer, observa-se
que os espaços citados como defasados são quase que exclusivamente os espaços
utilizados pelos moradores. Em raros momentos registraram-se reclamações sobre
os espaços utilizados também pelos turistas. Em contrapartida, ao citarem estar
satisfeitos com a oferta, os moradores apresentam um discurso mais ligado ao
crescimento de cidade e ao fato dela ser um destino turístico.
Resgatando ideias defendidas por autores como Krippendorf (2001) e Ruschmann
(1997), os governantes devem preocupar-se em oferecer espaços públicos de lazer
as parcelas mais pobres da população, àqueles que não tem condições de viajar ou
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de usufruiu de opções privadas de lazer. Por conseguinte ganham força nesse
momento as ancoragens que falam sobre o poder público pensar mais em atender
aos turistas, e por isso possuir uma boa oferta em algumas áreas, e também a
ancoragem que fala sobre a oferta de espaços ser sempre melhor em bairros mais
nobres.
5.3 Interpretando o significado dos espaços públicos de lazer para a
população
Para complementar todas as percepções reconhecidas, os Discursos do Sujeito
Coletivo (DSC) e o levantamento dos espaços públicos de lazer, foram interpretados
os mapas mentais coletados, a fim de captar mais informações sobre a percepção
dos residentes.
Foi solicitado aos entrevistados que desenhassem em uma folha em branco, ao
modo deles, o mapa da cidade identificando os espaços públicos de lazer. Os
pesquisadores pediram que não se preocupassem com a exatidão das ruas e das
escalas, mas sim os espaços em suas localizações aproximadas.
A análise dos mapas permitiu algumas considerações sobre Balneário Camboriú. A
qualidade visual mais perceptível nos mapas foi a legibilidade. Segundo Lynch
(2011), trata-se da facilidade de uma cidade em ter suas partes reconhecidas,
principalmente pelos seus moradores, que participam diretamente na formação
dessa imagem.
Legibilidade: Pelo desenho dos mapas mentais, Balneário Camboriú possui bairros,
marcos e vias facilmente reconhecidos na maioria dos desenhos. Nos mapas
selecionados a seguir, é possível verificar o destaque para a posição e o formato da
cidade ao redor da Praia Central, e a indicação do formato das ruas em paralelo à
praia. Quando coincidiram os espaços de lazer, a localização dos mesmos também
foi parecida na imagem de praticamente todos os moradores.
89
Figura 21: Mapas Mentais representando legibilidade.
Fonte: Autor, 2016.
90
Os mapas destacam sempre a Praia Central e, a partir dela, localizam os bairros,
marcos, vias e, nesse caso, os espaços de lazer da cidade. Esse formato mostrou-
se característico e legível a maioria dos entrevistados.
Identidade: levando em consideração as respostas dos DSCs e os mapas mentais,
Balneário Camboriú possui marcos que acabam formando uma identidade da
cidade, por mais que ela tenha uma história recente, apenas 62 anos. A Ilha das
Cabras como ponto central no mar em frente à Praia Central, a Praça Tamandaré
reconhecida como marco central da orla e como orientação na cidade, o Cristo Luz,
visto à distância e no topo de um dos morros, e o Parque Unipraias formam o grupo
de marcos reconhecidos pelos moradores que formam a identidade da cidade.
Segundo Lynch (2011) o conteúdo das imagens das cidades podem ser classificado
em cinco elementos: vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos. Podemos
identificar os seguintes elementos nos mapas mentais de Balneário Camboriú.
Vias: alguns mapas demonstraram a predominância das vias mais importantes da
cidade, a Av. Atlântica (Beira-mar), Av. Brasil (Na quadra do mar, onde está
localizado o comércio) e a Av. do Estado, todas praticamente paralelas umas às
outras e ao mar. Os mapas abaixo representam essa predominância para algumas
pessoas.
91
Figura 22: Mapas Mentais com predominância de vias.
Fonte: Autor, 2016.
92
Limites: Lynch (2011) diz que os limites são fronteiras, elementos lineares que não
são entendidos como vias pelos observadores, geralmente praias, lagos, rios e
outras quebras de continuidade. Em Balneário Camboriú a Praia Central representa
um limite, o mais destacado entre todos. Outros dois limites consideráveis Pontal Sul
e o Pontal Norte, sendo respectivamente o Morro da Aguda (parque Unipraias) e o
morro pertencente ao Resort Infinity Blue, o qual divide a Praia Central da Praia do
Buraco. Esses dois morros formam um limite entre sul e norte do centro, apesar da
cidade continuar mais além para sul com as Praias Agrestes e para norte com o
Bairro Praia dos Amores.
Marcos: os marcos são referências externas, onde o observador não pode entrar, e
geralmente são um objeto como um edifício, um sinal, uma montanha, um comércio
(Lynch, 2011). Alguns marcos são distantes, podendo ficar até fora da cidade, e
outros locais, vistos em locais próximos. Um dos mais importantes marcos de
Balneário Camboriú é a Ilha das Cabras. Essa ilha ainda não foi citada neste
trabalho pois não influencia na oferta dos espaços públicos de lazer, porém é uma
imagem recorrente e conhecida por moradores e turistas. A Ilha das Cabras localiza-
se em frente à Praia Central, bem ao meio e da praia e, por conseguinte, do centro
da cidade. É um marco que praticamente permite o observador se orientar entre
Barra Sul e Barra Norte, por mais que essa divisão não seja exata à divisão das
ruas. Além disso é um marco presente na grande maioria das imagens e mapas da
cidade.
93
Figura 23: Marcos da cidade reconhecidos nos mapas mentais.
Fonte: Autor, 2016.
94
Outros três marcos podem ser observados na cidade. A Praça Tamandaré,
localizada bem ao centro e na orla do mar é quase sempre usada como ponto de
referência quando se trata de espaço de lazer e atrativo turístico. É notável também
a sua colocação como ponto de referência para a localização de outros espaços. O
Complexo Cristo Luz, apesar de ser privado foi identificado nos mapas mentais e
também muito citado dos DSCs. Por fim o Parque Unipraias, outro espaço privado
de lazer foi muito reconhecido nos DSCs e nos mapas, sendo identificado também
com outros nomes como: teleférico, parque, bondinho, tirolesa.
Outras análises podem ser feitas sobre os espaços de lazer da cidade à luz das
teorias de Lynch, porém os métodos de pesquisa objetivaram nesta pesquisa
interpretar os significados dos espaços públicos de lazer citados pela população no
reconhecimento do Discurso do Sujeito coletivo.
Como proposto no início da pesquisa, os objetivos específicos buscavam responder
ao final das análises a pergunta de pesquisa, que era: considerando a oferta de
espaços públicos de lazer existente em Balneário Camboriú, enquanto destino
turístico, até que ponto esta oferta atende as expectativas e necessidades de lazer
da população local? Expostos os resultados, será discutida a resposta a essa
pergunta nas considerações finais a seguir.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A oferta de espaços públicos de lazer de Balneário Camboriú possui duas vertentes,
os espaços utilizados pelos moradores e os espaços visualizados pelos mesmos
como destinados aos turistas. Vale ressaltar aqui que essas duas vertentes não
significam que existe necessariamente uma segregação de espaços, pois para
afirmar isso seria necessário um maior aprofundamento na pesquisa.
O uso do método do DCS juntamente com o Mapa Mental permitiu a essa pesquisa
coletar a opinião/percepção dos moradores da cidade de duas maneiras, verbal e
por imagem. Ambos os métodos qualitativos permitiram a análise de uma amostra
95
dos moradores afim de identificar aspectos em comum nas respostas, as quais
apresentaram aspectos que responderam ao objetivo geral da pesquisa.
O que foi observado foi uma possível falta de apropriação, por parte da comunidade,
dos espaços apontados por eles como turísticos, e uma maior apropriação dos
espaços de lazer dos bairros além do centro. Como indicado nos resultados das
primeiras questões, a maior insatisfação quanto a qualidade da oferta recai sobre os
espaços mais utilizados pelos moradores. Enquanto que os aspectos satisfatórios
apontam mais para os espaços de lazer utilizados por moradores e turistas.
A localização dos espaços de lazer descreve uma outra situação. Como
apresentado na fundamentação teórica por autores (SANTANA & ALVES, 2014;
OLIVEIRA & MASCARÓ, 2007; GOMES, 2008, MARCELLINO, 2002, ROLNIK,
2000), os centros das cidades com maior quantidade e qualidade de espaços
públicos do que as periferias. Segundo a pesquisa os moradores da área central de
Balneário Camboriú reconhecem um número maior de espaços de lazer do que os
moradores dos demais bairros. Algumas ideias centrais (IC) e ancoragens (AC)
também comentam essa diferença.
Os discursos revelaram também que um dos maiores espaços públicos de lazer da
cidade, a Praia Central e o conjunto da sua orla, não é muito frequentado por
moradores de outros bairros além do centro. Apesar do tamanho reduzido da cidade
não dificultar o acesso à praia, parece existir uma cultura urbana de lazer à parte da
cultura de lazer de sol e mar. Praças, parquinhos infantis e academias ao ar livre
tiveram destaque entre os respondentes de todos os bairros.
Quanto aos mapas mentais, trouxeram enorme contribuição para o reconhecimento
da opinião dos habitantes da cidade. A percepção da legibilidade, da identidade e
dos elementos da cidade foi de encontro com a análise dos DSCs. Marcos como a
Praia, a Praça Tamandaré, o Cristo Luz e o Parque Unipraias, são espaços de lazer,
públicos e privados, que fazem parte da imagem e identidade da cidade, o que
demonstra enorme importância desses espaços dentro da imagem de uma cidade
turística.
96
Por conseguinte, fazendo uma ligação dos resultados com a influência deles e do
seu uso na atratividade do destino turístico, notou-se que, no caso de Balneário
Camboriú, os moradores que residem mais próximos aos espaços considerados
atrativos costumam utilizá-los e avaliam melhor os mesmos, se comparados aos
espaços dos bairros mais distantes. Se considerarmos que os turistas visitam a
cidade e circulam por um “corredor turístico”, composto pela maioria dos espaços de
lazer disponíveis, essa oferta tem impacto direto na atividade. Porém, se levarmos
em consideração as citações de autores como Ruschmann (1997) e Krippendorf
(2001), onde indicam que os governos devem preocupar-se em oferecer opções
públicas de lazer para as pessoas que não tem condições de viajar, principalmente
nos bairros mais pobres, cabe neste momento indicar futuras pesquisas para
comparar a cidade estudada com outros destinos turísticos brasileiros.
Além dessa comparação, sugere-se aqui a pesquisa com os mesmos métodos (DSC
+ Mapa Mental) tendo como amostra os turistas. Seria interessante reconhecer a
percepção/opinião dos visitantes e compara-la com a dos moradores.
Por fim, esta pesquisa pode trazer como contribuição o uso do DSC com o mapa
mental como contribuição para o turismo e a análise urbana. A junção dos dois
métodos deve, é claro, ser aprimorada e testada diversas vezes afim de encontrar
os melhores resultados possíveis.
97
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98
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APÊNDICE A – Termo de consentimento e roteiro de pesquisa
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Centro de Educação Superior de Balneário Camboriú
Mestrado em Turismo e Hotelaria Você está sendo convidado(a) para participar como voluntário(a) de uma pesquisa proposta pelo mestrando Gustavo Vieira Setlik, da Universidade do Vale do Itajaí que está descrita em detalhes abaixo. TÍTULO DA PESQUISA: > Os espaços públicos de lazer de Balneário Camboriú (SC): um estudo de caso. OBJETIVO DA PESQUISA: > Reconhecer a opinião/percepção da comunidade local sobre a expectativa e necessidade de lazer na cidade de Balneário Camboriú; JUSTIFICATIVA DA PESQUISA: > Escassez de pesquisas no Brasil sobre a opinião/percepção de uma população sobre a oferta de lazer utilizando o método do DSC (Discurso do Sujeito Coletivo), e a necessidade de se obter esses dados para possíveis pesquisas futuras ou para servir como base para ações nessa área, seja quem for o interessado. Para decidir se você deve concordar ou não em participar desta pesquisa, leia atentamente todos os itens a seguir que irão informá-lo e esclarecê-lo de todos os procedimentos, riscos e benefícios pelos quais você passará. DIREITO DE CONFIDENCIALIDADE: > Você tem assegurado que todas as suas informações pessoais obtidas durante a pesquisa serão consideradas estritamente confidenciais e os registros estarão disponíveis apenas para os pesquisadores envolvidos no estudo. > Os resultados obtidos nessa pesquisa poderão ser publicados com fins científicos, mas sua identidade será mantida em sigilo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, assim como as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que a minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso ao tratamento, aos pesquisadores e a instituição de ensino. Tive tempo suficiente para decidir sobre minha participação e concordo voluntariamente em participar desta pesquisa e poderei retirar o meu consentimento a qualquer hora, antes ou durante a mesma, sem penalidades, prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.
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A minha assinatura neste documento dará autorização aos pesquisadores e ao patrocinador do estudo, de utilizarem os dados obtidos quando se fizer necessário, incluindo a divulgação dos mesmos, sempre preservando minha identidade.
Assino o presente documento assinalando em CONCORDO ou NÃO CONCORDO, assumindo minhas respostas como fidedigna a esta pesquisa. ( ) CONCORDO ( ) NÃO CONCORDO
Roteiro de perguntas para entrevista
Dados de Identificação a) Reside na cidade há mais de 10 anos? b) Bairro onde reside: c) Idade: d) Gênero ( )M ( )F e) Profissão: __________________ d) está trabalhando? ( ) sim ( ) não Questionário Objetivo 1: Identificar a oferta de espaços públicos de lazer da cidade. Objetivo 2: Reconhecer a opinião/percepção da comunidade local sobre a expectativa e necessidade de lazer na cidade. 1) O(a) Sr.(a) conhece os espaços públicos de lazer do seu bairro? (quais?) O que costuma fazer neles? 2) Conhece os espaços públicos de lazer de outros bairros? (quais?) O que costuma fazer neles? 3) Acredita que os espaços públicos de lazer de toda a cidade atendem às suas necessidades de lazer? (algo mais a dizer?) 4) E suas expectativas em relação aos espaços de lazer da cidade, elas são atendidas? O que a Sr.(a) espera para o futuro? (algo mais a dizer?) 5) Na sua visão, quais os espaços públicos de lazer mais frequentados pelos turistas que visitam a cidade, porque? (algo mais?) Mapa Mental Por gentileza, desenhe na folha a seguir, do seu modo, o mapa da cidade identificando os espaços públicos de lazer, com desenhos que os identifiquem. Não se preocupe com a exatidão das ruas e das escalas, apenas sua localização aproximada. Depois identifique com um X ao lado dos que frequenta.
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APÊNDICE B – Quadros descritivos dos espaços de lazer de Balneário Camboriú SC.
Quadro 1 – Praças de Balneário Camboriú (SC)
Espaço Praça Almirante Tamandaré Oferta Turística (Boullón, 2002)
(X) Turístico ( ) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Av. Atlântica, no centro da Praia Central. Estrutura Espaço aberto com cabina para a Guarda Municipal, bancos e
bicicletário. Espaço destinado a eventos como shows, eventos culturais, religiosos e beneficentes.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Bruno Correia Pereira Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Av. Interpraias Estrutura Espaço aberto com mirante para a cidade de Balneário
Camboriú. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça da Integração Ver. Wilson P. Achutti Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Marginal Oeste, próxima ao Ribeirão Peroba e a Quinta Avenida. Estrutura Área de 5.600 m2, conta com parquinhos infantis, bancos, quadra
esportiva e ajardinamento. Funcionamento 24 horas. Espaço Praça das Bandeiras Oferta Turística (Boullón, 2002)
(X) Turístico ( ) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Avenida do Estado, próxima ao Portal de Informações Turísticas, em uma das entradas da cidade.
Estrutura Faz parte de uma rótula, que mantém hasteadas as bandeiras dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça do Chafariz - Praia de Laranjeiras Oferta Turística (Boullón, 2002)
(X) Turístico ( ) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre
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( ) Área natural Localização Rótula de acesso à Praia de Laranjeiras Estrutura Possui um monumento em homenagem aos homens do mar. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Fonte das Sereias Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Avenida do Estado, no início da Quarta Avenida. Estrutura Um chafariz e um banco. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça General de San Martin Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Entre a Avenida do Estado e a Rua 10. Estrutura Busto em homenagem ao libertador argentino José San Martin,
bancos, arvores e ajardinamento. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Higino João Pio Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Avenida Alvin Bauer, na quadra do mar. Estrutura Espaço aberto para Feira de artesanato, apresentação de peças
teatrais, shows e outros eventos. Bancos, árvores, ajardinamento e parquinho infantil.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Kurt Amann Oferta Turística (Boullón, 2002)
(X) Turístico ( ) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Avenida Atlântica, no calçadão da orla, próxima à Rua 1101. Estrutura Espaço inserido no calçadão da orla da Praia Central. Possui um
monumento chamado "A Mão do Trabalhador que sustenta o Mundo", bancos, árvores e ajardinamento.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Mario Covas Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Rodovia Interpraias Estrutura Busto do ex-governador de São Paulo, Mario Covas, parquinho
infantil, bancos e espaço aberto para lazer.
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Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Mussolini Cechinel Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Início da Avenida Atlântica, Pontal Norte. Estrutura Cancha de bocha, parquinho infantil, bancos, árvores e
ajardinamento. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Papa João Paulo I Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Fim da Rua Dinamarca, em frente à Prefeitura Municipal. Estrutura Parquinho infantil, bancos e árvores. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça República Oriental do Uruguai Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Na confluência da Terceira Avenida com a Rua 3610. Estrutura Busto do Presidente do Uruguai e ajardinamento. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Silveira Junior - Norberto Cândido Silveira Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Na confluência da Rua Miguel Matte com a Avenida do Estado. Estrutura Parquinho infantil, bancos e ajardinamento. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Urbano Mafra Vieira Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Avenida Santa Catarina, entre as Ruas Amazonas e Bahia. Estrutura Parquinho infantil, academia ao ar livre, espaço aberto para lazer,
bancos, árvores e ajardinamento. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Bruno Nitz Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
(X) Espaço coberto* (X) Lugar ao ar livre
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( ) Área natural Localização Entre as ruas 200 e 300 – Centro. Estrutura Nessa praça foi instalado o Teatro Municipal*, que ocupa todo o
terreno, com uma pequena área aberta na frente do prédio. Funcionamento 24 horas, livre acesso (a parte ao ar livre).
Teatro com acesso restrito*. Espaço Praça das Figueiras Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Avenida do Estado, no início da Quarta Avenida, próxima à praça Fonte das Sereias.
Estrutura Árvore (Figueira), bancos e ajardinamento. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça do Pescador Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Bairro da Barra, em frente à Capela de Santo Amaro. Estrutura Bancos, mesas com tabuleiros, árvores, espaço aberto para lazer
e ajardinamento. Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça da Bíblia Oferta Turística (Boullón, 2002)
(X) Turístico ( ) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Entre as ruas 1001 e a Avenida Alvin Bauer. Ao lado do Shopping.
Estrutura Comércio dos artesãos com pequenas construções que lembram casas açorianas, dois coretos para apresentações culturais, bancos, duas academias ao ar livre, árvores, espaço aberto para lazer, bicicletário coberto e ajardinamento.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Praça Ambrósio Eble Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Avenida Martin Luther, confluente com as Ruas Israel e Itália, no Bairro das Nações.
Estrutura Bancos, academia ao ar livre e ajardinamento. Funcionamento 24 horas, livre acesso.
Fonte: Autor, 2016.
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Quadro 5 – Molhe de Balneário Camboriú (SC)
Espaço Molhe da Barra Sul Oferta Turística (Boullón, 2002)
(X) Turístico ( ) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Barra Sul, no encontro da Praia Central com o Rio Camboriú. Estrutura Tem 452m de comprimento avançando ao mar.
Iluminação, bancos, paisagismo, parquinho infantil, espaço aberto para lazer, loja de artesanato, restaurante flutuante, cabina para guarda municipal e marina (em construção). Ao longo do molhe é praticada a pesca.
Funcionamento 24 horas, livre acesso (com exceção da loja de artesanato e do restaurante flutuante).
Fonte: Autor, 2016.
Quadro 6 – Parques em Balneário Camboriú (SC)
Espaço Parque Natural Raimundo Gonzalez Malta Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre (X) Área natural
Localização Rua Angelina, s/nº, Bairro dos Municípios. Próximo à Univali. Estrutura Possui 172.625m². Trilhas, horto, complexo de plantas
medicinais, Viveiro Mata Atlântica - onde são cultivadas árvores e espécies da flora da Mata Atlântica, parquinho infantil, espaço aberto para lazer e sanitários. O Parque é uma Unidade de Conservação Ambiental, existem restrições.
Funcionamento Diariamente das 13h às 17h. Entrada gratuita. Fonte: Autor, 2016.
Quadro 7 – Academias públicas em Balneário Camboriú (SC)
Espaço Academias ao ar livre (19) Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização - R. Dom Daniel – bairro Vila Real; - R. Dom Afonso / Via Gastronômica - bairro Vila Real; - R. Edgar Linhares - bairro Nova Esperança; - R. Antônio Joaquim Vitorino/ Loteamento Schultz - bairro Nova Esperança; - R. Júlio Graciliano/ frente ao Centro Comunitário - bairro São Judas; - R. Hermógenes Assis Feijó/ Praça da Figueira – bairro da Barra; - R. Jardim da Saudade/ frente ao Ginásio – bairro da Barra; - R. L.A.P Rodesindo Pavan – Praia do Estaleirinho;
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- R. Vereador Dominguo Fonseca - Praia do Estaleiro; - R. L.A.P Rodesindo Pavan – Praia de Taquaras; - R. 6º Avenida esq. Rua Campo Ere - bairro dos Municípios; - Av. Brasil esq. Rua Justiniano Neves – bairro dos Pioneiros; - Av. Martin Luther esq. Rua Israel - bairro das Nações; - Av. Martin Luther esq. Rua Paraguai - bairro das Nações; - Av. da Lagoa esq. Rua 100/ Praça da Bíblia – Centro; - Av. da Lagoa esq. Alvin Bauer/ Praça da Bíblia – Centro; - Av. Santa Catarina esq. Rua Bahia/ Praça - bairro dos Estados; - Av. Carlos Drummond de Andrade/ ETA (Emasa) - Praia dos Amores; - Av. Palestina esq. Rua Paraguai - bairro das Nações.
Estrutura 10 aparelhos em cada academia: um multiexercitador (seis funções), simulador de cavalgada, alongador, surfe, pressão de pernas, remada sentada, simulador de caminhada, esqui, rotação diagonal e rotação vertical.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Espaço Academia Municipal Pontal Norte Oferta Turística (Boullón, 2002)
( ) Turístico (X) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização Pontal Norte da Praia Central. Estrutura Aparelhos de musculação em aço inoxidável em uma área de
aproximadamente 250m². Auxílio de profissionais de educação física.
Funcionamento Funciona com sistema de horários livres e senhas, em que os frequentadores podem treinar até três vezes na semana, durante uma hora. É necessário um cadastro prévio. Capacidade para 20 pessoas por hora, obedecendo a ordem de chegada. Tem horário de funcionamento que varia na alta e na baixa temporadas.
Fonte: Autor, 2016.
Quadro 8 – Passarelas/Deck em Balneário Camboriú (SC)
Espaço Deck do Pontal Norte Oferta Turística (Boullón, 2002)
(X) Turístico ( ) Não turístico
Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre (X) Área natural
Localização Barra Norte, ligando a Praia Central, a Praia do Canto, a Praia do Buraco e o Morro do Careca.
Estrutura Mais de 500m de comprimento. Passa pela costa do mar em meio à Mata Atlântica. Bancos e iluminação.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Fonte: Autor, 2016.
Quadro 9 – Campos de Areia em Balneário Camboriú (SC)
Espaço Deck do Pontal Norte Oferta Turística ( ) Turístico
110
(Boullón, 2002) (X) Não turístico Logradouro (Boullón, 2004)
( ) Espaço coberto (X) Lugar ao ar livre ( ) Área natural
Localização CA 01- Campo de Areia dos Municípios. CA 02- Campo de Areia do Estaleirinho. CA 03- Campo de Areia da Praia dos Amores. CA 04- Campo de Areia de Taquaras. CA 05- Campo de Areia do Estaleiro. CA 06- Campo de Areia da Barra. CA 07- Campo de Areia do Bairro São Judas. CA 08- Campo de Areia do Ariribá. CA 09- Campo de Areia do Bairro das Nações. (FMEBC, 2016)
Estrutura Campos de areia espalhados pela cidade, fora das praias, e de livre acesso.
Funcionamento 24 horas, livre acesso. Alguns com horários administrados pela Fundação Municipal de Esportes.
Fonte: Autor, 2016.