Especial creche bebeteca

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Page 1: Especial creche bebeteca

Ler para

bebês...

� Estimula as

linguagens

oral e escrita.

� Promove a

capacidade

representativa

e simbólica.

T odo mundo sabe que ler é um

hábito que se adquire ao longo

da vida e que deve começar cedo.

Quantas pessoas não têm gravada na

memória uma bela história dos pri-

meiros contatos com os livros? O es-

critor João Ubaldo Ribeiro conta na

crônica Memórias de Livros que, des-

de muito pequeno, convivia com as

obras espalhadas por sua casa. “A

ponto de passar tempos enormes

Bebeteca: lugar depequenos leitores

LINGUAGUEM

Mesmo antes de saber falar, sentar ou segurar um livro, os bebêspodem e devem ter histórias em sua rotinaFABIANA FARIA [email protected]

ILUSTRAÇÃO RICARDO GIROTTO

com um deles aberto no colo, fingin-

do que estava lendo e, na verdade, se

não me trai a vã memória, de certa

forma lendo, porque quando havia

figuras, eu inventava as histórias que

elas ilustravam e, ao olhar para as le-

tras, tinha a sensação de que enten-

dia nelas o que inventara.” Na auto-

biografia As Palavras, o filósofo fran-

cês Jean Paul Sartre (1905-1980) re-

vela que a hora da leitura tinha o chei-

ro de sua mãe, sabão e água de co-

lônia.Sentado numa pequena cadei-

ra de frente para ela, o garoto entra-

va num universo de fadas, bruxas e

criaturas esquisitas.

Até algum tempo atrás, acredita-

va-se que as crianças só começavam

a desenvolver a capacidade de repre-

sentação do mundo por volta dos 2

anos de idade. Hoje, ninguém mais

duvida de que, quanto mais cedo a

MA

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Hora da leitura: a professora Márcia leva as crianças todos os dias à bebeteca

Page 2: Especial creche bebeteca

leitura for introduzida na vida dos

pequenos, melhor, pois isso faz com

que eles aumentem o vocabulário e

passem a se expressar melhor (leia

mais no quadro ao lado). Por volta

dos 6 meses de idade, textos e ilus-

trações já são compreendidos como

reproduções da realidade e do mun-

do simbólico.“Ler só aumenta o con-

tato com o mundo,com as experiên-

cias de vida possíveis para a faixa etá-

ria. Livro tem de ser considerado

brinquedo”, diz Silvana Augusto, se-

lecionadora do Prêmio Victor Civi-

ta Educador Nota 10. E é fácil perce-

ber o desenvolvimento graças à lei-

tura. Silvana lembra o dia em que

notou o interesse de uma menina de

1 ano por uma ilustração: a imagem

de uma árvore no outono. No pátio,

ao ver folhas secas espalhadas pelo

chão, a garota pegou uma e guardou

dentro do livro.“As crianças estabe-

lecem essas relações muito rapida-

mente. E isso não significa roubar a

infância.Ao contrário, só aumenta a

possibilidade de compreender o que

acontece ao redor com mais proprie-

dade”, explica a consultora.

Quando o bebê ouve uma histó-

ria e tenta repetir as palavras, desen-

volve também as linguagens oral e

escrita, mesmo que ainda não saiba

falar ou ler, como descreve João

Ubaldo Ribeiro.“As noções de cau-

salidade e organização do tempo

também são exploradas nessa situa-

ção.A médio prazo,crianças que ou-

viram histórias desde pequenas ar-

ticulam melhor as palavras e adqui-

rem vocabulário mais extenso”,com-

pleta Daniela Panutti, psicóloga e

orientadora pedagógica do Colégio

Vera Cruz, em São Paulo.

Atividade diáriaLer para as turmas de creche e pré-

escola requer rotina, muitos livros e

um espaço planejado. O ideal é pro-

mover a atividade de leitura diaria-

mente,respeitando os limites de tem-

po do grupo para não cansar nem

Bebês leitores...■ Possuem vocabulário

mais extenso,

■ Têm mais oportunidades

de falar e se expressar,

■ Fazem mais associações,

■ Aprendem as noções de

causalidade e tempo,

■ Desenvolvem a capacidade

representativa e simbólica por

meio da escrita, da ilustração,

da fotografia e da imagem,

■ Adquirem um repertório

maior de histórias,

■ Desenvolvem a capacidade

de concentração,

■ Aprendem a ouvir.

PE

NIN

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CH

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De pano, papel ouplástico: acervo éimportante paraoferecer muitas opções

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LINGUAGEM

dispersar ninguém. No Centro Mu-

nicipal de Educação Infantil Cavali-

nho de Pau, em Castro, a 160 quilô-

metros de Curitiba, há um espaço

especialmente montado para os be-

bês: a bebeteca. O diferencial está no

acervo, voltado para a faixa dos me-

nores de 3 anos, e na disposição de

outros recursos adicionais,como fan-

toches e móbiles.“É uma maratona.

O desafio é dar conta de tanta ener-

gia, interesse, e explorar as possibi-

lidades do trabalho”, explica Márcia

Maria King, coordenadora da bebe-

teca. A atividade não ultrapassa 15

minutos em cada turno.

Mariana Senhorini, bibliotecária

de Londrina, no Paraná, estudou be-

betecas e adverte que o espaço físico

e os outros recursos ajudam o edu-

cador, mas o importante mesmo é o

livro.“Não há fórmula para explorar

o faz-de-conta literário. Conhecer os

limites da turma e auxiliar a repre-

sentação das histórias são as princi-

pais coordenadas”, afirma.

Espaço de conhecimentoPor enquanto, bebetecas são raras no

Brasil. A chave é ampliar o cantinho

de leitura. No Centro de Educação

Infantil Hilca Piazero Schnaider, em

Blumenau, no interior de Santa Ca-

tarina, muitas almofadas e edredons

forram o chão para deixar o ambien-

te aconchegante.As estantes na altu-

ra dos pequenos são um convite ir-

resistível à leitura.

O espaço funciona bem porque a

equipe docente tem um projeto pa-

ra garantir a aprendizagem. “Pode-

ria ser apenas mais um trabalho, mas

virou um dos momentos mais espe-

ciais de convivência e conhecimen-

to”,conta a diretora,Maria Estela Pitz.

Todas semana, ela se reúne com pro-

fessores de Educação Infantil para

discutir os lançamentos, o papel das

imagens e a importância da leitura

no desenvolvimento humano – tu-

do para encontrar títulos instigan-

tes, sem lições de moral nem perso-

nagens estereotipados e com um fi-

nal inusitado. Tanto na escola Hilca

Piazero Schnaider como na Cavali-

nho de Pau, as histórias são compar-

tilhadas com famílias. Pegar livros

emprestados é uma maneira de am-

pliar as oportunidades de leitura e

estabelecer uma convivência saudá-

vel entre pais e filhos. “Quem gosta

de ler vai além dos momentos pla-

nejados. Bom mesmo é ver os cole-

gas com um livro na mão e uma his-

tória na cabeça, pronta para ser con-

tada”, explica Márcia Maria.

Livros para todas as fases Veja como escolher o melhor conforme a idade

ATÉ 2 ANOS

■ Aproveite os títulos feitos

em diferentes materiais: plástico,

figuras em relevo, tecido etc.

■ Ensine a importância de cuidar

bem do material.

■ Ofereça textos de gêneros variados

e histórias apenas com imagens.

■ Músicas, encenações e teatro

de dedos e de sombras são recursos

adicionais para atividades de leitura.

■ Leia e releia cada obra várias vezes.

DE 3 A 6 ANOS

■ Selecione histórias com enredos

e linguagem e mais complexos

a cada sessão de leitura.

■ Apresente histórias mais longas,

em capítulos.

■ Amplie as situações de leitura

para além do prazer literário, mas

também para pesquisar, estudar

e se instruir (receitas e manuais).

■ Promova a leitura em grupo,

em voz alta e silenciosa.

MA

RC

ELO

ALM

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QUERSABER+?CONTATOS� CEI Hilca PiazeroSchnaider, R.Mariana Bronemann,353, 89036-080,Blumenau, SC, tel.(47) 3329-0395� CMEI Cavalinhode Pau, R. AntônioMenarim, s/nº,84172-390, Castro, PR, tel. (42) 3906-2156� MarianaSenhorini,[email protected]

Livre escolha: ter asobras à mão aumentao contato e promove

o interesse