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Numa dada paróquia da arquidiocese de Vie- na, o pároco, muito considerado e estimado pelos paro- quianos, foi afastado porque manifestou a intenção de casar. Quando o ordinário do lugar anunciou o propósi- to de enviar um padre casado da Igreja greco-católica para o substituir, desencadeou-se uma autêntica tem- pestade, não contra o padre greco-católico, mas por cau- sa do contra-senso que é mandar embora um padre por- que se vai casar e substituí-lo por um padre casado! Os paroquianos preferiam manter o seu pároco actual com mulher e filhos. A celeuma foi tal que o arcebispo de Viena decidiu comparecer no local para discutir o as- sunto. Dum relatório dessa discussão consta que o car- deal justificou a posição intransigente da Igreja relati- vamente aos padres católicos romanos casados dizendo que eles faltaram a uma promessa “livremente” assu- mida. E comparou essa atitude à daqueles que rompem o compromisso matrimonial — são uns “falhados” — pelo que já não podem ser postos à frente duma comuni- dade ou da juventude. Julgamos que estas duas situações não são com- paráveis (a indissolubilidade do matrimónio é de direi- to divino e a obrigatoriedade do celibato para os padres é de direito eclesiástico). Mais comparáveis são, isso sim, as uniões de facto, tanto nos leigos como nos pa- dres. Uniões de facto a Igreja não as aprova, pois, para os católicos, a actividade sexual só é lícita no âmbito dum casamento canónico. Fora dele a situação é eclesialmente irregular, os intervenientes estão impedi- dos de receber os sacramentos, não são considerados membros da Igreja de pleno direito. São, deste modo, incentivados a regularizar a situação canónica. No entanto, não é raro acontecer que vários ca- sais, que se davam bem na união de facto ou em casa- mento civil, após casarem pela Igreja, logo se divorci- espiral Nº 13/4 - Outubro de 2003 / Março de 2004 boletim da associação FRATERNITAS FRATERNITAS FRATERNITAS FRATERNITAS FRATERNITAS MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO Faleceu o Senhor Padre Filipe, nosso assistente (continua na pág. 2) CONTRADIÇÕES Sumário: Nota do responsável / XI Encontro Nacional 3 Formação e Evangelização 4 A Apostasia 5 Casamento, os prós e os contras 6 O P. Filipe de Figueiredo – esboço biográfico 8/9 Que vivas, Padre Filipe! 11 Rumo à Eternidade / Breves 12 Bodas de Ouro Sacerdotais 13 O P. Filipe recordado na imprensa 14 Faleceu o P. Filipe, homem de Deus 16

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Numa dada paróquia da arquidiocese de Vie-na, o pároco, muito considerado e estimado pelos paro-quianos, foi afastado porque manifestou a intenção decasar. Quando o ordinário do lugar anunciou o propósi-to de enviar um padre casado da Igreja greco-católicapara o substituir, desencadeou-se uma autêntica tem-pestade, não contra o padre greco-católico, mas por cau-sa do contra-senso que é mandar embora um padre por-que se vai casar e substituí-lo por um padre casado! Osparoquianos preferiam manter o seu pároco actual commulher e filhos. A celeuma foi tal que o arcebispo deViena decidiu comparecer no local para discutir o as-sunto.

Dum relatório dessa discussão consta que o car-deal justificou a posição intransigente da Igreja relati-vamente aos padres católicos romanos casados dizendoque eles faltaram a uma promessa “livremente” assu-mida. E comparou essa atitude à daqueles que rompemo compromisso matrimonial — são uns “falhados” —pelo que já não podem ser postos à frente duma comuni-dade ou da juventude.

Julgamos que estas duas situações não são com-paráveis (a indissolubilidade do matrimónio é de direi-to divino e a obrigatoriedade do celibato para os padresé de direito eclesiástico). Mais comparáveis são, issosim, as uniões de facto, tanto nos leigos como nos pa-dres.

Uniões de facto a Igreja não as aprova, pois, paraos católicos, a actividade sexual só é lícita no âmbitodum casamento canónico. Fora dele a situação éeclesialmente irregular, os intervenientes estão impedi-dos de receber os sacramentos, não são consideradosmembros da Igreja de pleno direito. São, deste modo,incentivados a regularizar a situação canónica.

No entanto, não é raro acontecer que vários ca-sais, que se davam bem na união de facto ou em casa-mento civil, após casarem pela Igreja, logo se divorci-

espiralNº 13/4 - Outubro de 2003 / Março de 2004

boletim da associação F R A T E R N I T A SF R A T E R N I T A SF R A T E R N I T A SF R A T E R N I T A SF R A T E R N I T A S M O V I M E N T OM O V I M E N T OM O V I M E N T OM O V I M E N T OM O V I M E N T O

Faleceu o Senhor Padre Fil ipe, nosso assistente

(continua na pág. 2)

C O N T R A D I Ç Õ E S

Sumário:Nota do responsável / XI Encontro Nacional 3Formação e Evangelização 4A Apostasia 5Casamento, os prós e os contras 6O P. Filipe de Figueiredo – esboço biográfico 8/9Que vivas, Padre Filipe! 11Rumo à Eternidade / Breves 12Bodas de Ouro Sacerdotais 13O P. Filipe recordado na imprensa 14

Faleceu o P. Filipe, homem de Deus 16

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am. Porquê? Talvez porque, nas uniões de facto, as pes-soas, tendo consciência da precariedade da ligação, per-manecem juntas porque assim o desejam, ao passo que,no casamento, os cônjuges, porque “pertencem” um aooutro, já não precisam de exercitar a conquista mútua e,às vezes, exercem esse direito de pertença para se “con-trolarem” um ao outro. Não aguentando esse controloinusitado, o casamento soçobra.

Que padres celibatários cultivam ligações, oca-sionais e/ou permanentes, com mulheres, toda a genteadmite. Para quem tenha uma formação como a do pa-dre, tais ‘uniões de facto’ criam, forçosamente, proble-mas de consciência e originam responsabilidades paracom a outra parte e os eventuais filhos. Efectivamente,se o padre for coerente com os ensinamentos que elepróprio tem de transmitir aos fiéis a respeito destas ma-térias, deve ele mesmo viver angustiado, ou, então,nortear-se por uma qualquer epiqueia adequada, tam-bém frequentemente utilizada na gestão dos dinheirosda sua paróquia. Mas se a consciência do padre não forcapaz de pactuar com situações de mentira, ele só temum caminho — pedir a dispensa do voto de castidade.Então poderá casar canonicamente, ficará numa situa-ção eclesialmente legal, que lhe restitui a paz de cons-ciência. Só que, fazendo-o, passa a ser um “falhado” ejá não pode ser posto à frente duma comunidade ou dajuventude!

Se ele tivesse enveredado pelo caminho das rela-ções ocultas, bastar-lhe-ia confessar-se.

Se tivesse ido mais além, até ao casamento civil, ocódigo do direito canónico (CDC) tê-lo-ia afastado doexercício do ministério. No entanto, deixando a mulhere “arrumando” os filhos, poderia ser reintegrado e colo-cado à frente duma comunidade.

Não estou a falar de casos hipotéticos, mas desituações vividas. A título de exemplo vou citar daInternet um caso ocorrido numa diocese de língua ale-mã.

Trata-se de um padre que, ao fim dalguns anos deexercício do ministério, se enamorou duma paroquiana,casou civilmente, teve filhos. Como o tempo faz arrefe-cer as paixões, ele divorciou-se e deixou os filhos. Tem-pos depois, a solidão falou mais alto e ele voltou a ca-sar, havendo prole novamente. Já na casa dos sessentaeste homem resolve deixar também esta mulher e re-querer o regresso ao exercício do ministério, o que lhefoi concedido sem grandes dificuldades. Recebido festi-vamente, foi colocado à frente duma comunidade.

Se, ao invés, ele tivesse cumprido as leis e tivessecasado canonicamente, então já não podia presidir a umacomunidade porque era um “falhado”. Que estranhamensagem a destes factos!

Como aceitaria a comunidade eclesial a presen-ça de padres casados?

Uma sondagem de 1997, feita numa região daÁustria, na província da Estíria, pelo Instituto de Son-dagens “Fessel + GfK”, deu o seguinte resultado: 80%dos Estírios são a favor do casamento dos padres, 6%são contra, 13% dizem que lhes é indiferente e apenas1% não sabem/não respondem. [Fonte: Fessel + GfK,731 entrevistas pessoais na Estíria].

Doutra sondagem, esta do Instituto “Gallup”, feitana Áustria em 1998, resultou que 82% dos que frequen-tam a Igreja desejam padres casados. Entre as pessoascom menos de 30 anos a percentagem é de 98%. [Fon-te: Jornal “Presse” de 30/31-01-1998].

Também num estudo recentemente publicado,“Priester 2000”, o professor de Teologia Pastoral daUniversidade Viena, Paul M. Zulehner, mostra que aforma de vida celibatária do padre não encontra apoionos fiéis. [Fonte: Jornal da diocese de Linz, de 9 deAgosto de 2001, p. 17].

Se é certo que o problema da falta de padres nãose resolve só pela abolição do celibato, não se escondeque ele é um dos principais óbices.

“Cerca de 98% dos padres que resolveram casarfizeram-no, não porque não quisessem continuar a serpadres, nem por falta de fé, como muitas vezes se querfazer crer, mas porque viram nessa atitude um grito con-tra uma injustiça de séculos que as chefias da Igrejaimpuseram aos padres, suas mulheres e filhos”.(www.priester-ohne-amt.org)

Na verdade, a lei do celibato criou um estilo devida, aliás não necessário para o exercício do ministé-rio, no qual o mundo de hoje não acredita. Segundo oestudo de Zulehner, para os padres o problema centralnão é o celibato em si, mas a falta de apoio e de compre-ensão da sociedade e das comunidades por esta formade vida.

De acordo com o questionário, o que os padresapreciam no celibato (números da diocese de Linz) é a“liberdade para uma realização pessoal” (64%); poroutro lado, 62% concordam com a afirmação de que ocelibato “torna os padres muito solitários”; e 44% ad-

(continuação da pág. 1)

(conclui na pág. 3)

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mitem “sentir a falta duma companhia”.Os bispos, que justamente nas perguntas sobre o

celibato tinham contado com os piores (não publicáveis)resultados, podem estar descansados. Está tudo bem:há “culpados” para os problemas — a sociedade e ascomunidades paroquiais. São estas que têm de mudar, a“Igreja”, não.

Mas há neste “estudo” alguns pormenores, queZulehner não gosta de reportar nas comunicações: maisde metade (56%) dos padres admitiu que “teve de assu-mir” o celibato para poder ordenar-se, 24% dizem que“provavelmente” ou “de certeza” casariam, se pudes-sem continuar no exercício do ministério. Do estudotambém se pode concluir que 24% dos padres “mantêmuma ligação”! À pergunta sobre a “intimidade” 35%respondem assim: “junto duma pessoa de confiança” emuitos definem a sua forma de vida desta maneira: “en-contrei um caminho próprio pelo qual posso responder”.Perguntas herméticas têm mesmo respostas herméticas.

Os esforços do cardeal arcebispo de Viena paracolmatar a falta de padres na sua diocese também pelanomeação de padres greco-católicos casados, vão cer-tamente ser contrariados. É que há uma ordem de Romaa proibir a colocação de novos clérigos casados, e, quan-do caducarem as licenças dos cinco que actualmenteestão ao serviço, não deverão ser feitas novas nomea-ções. Assim, aquele projecto, invulgar e corajoso, deutilizar padres greco-católicos casados para as paróquiascatólicas romanas órfãs, verá em breve o seu fim. (KI,11/2003, p. 39).

Aveiro, 13-12-2003João Simão

(conclusão da pág. 2)

Nota do Responsável:Este é um número especial, um número duplo,correspondendo a dois trimestres (o último de2003 e o primeiro de 2004).Tal prende-se directamente com o inesperadopassamento do nosso querido Padre Filipe.É que, estando quasi pronto o nº 13, fomossurpreendidos com a infausta notícia que(pessoalmente o confessamos), nos deixouaturdidos, paralizados até. Que fazer? Sair oespiral, com uma breve nota, e destaque devidono número seguinte? Esperar algum tempo e,desenvolvendo minimamente, apresentar umtrabalho mais perfeito, interrompendo, embora aregularidade do boletim?Foi esta segunda via a que escolhemos, e que é danossa inteira e única responsabilidade.Julgamos prestar, assim, uma justa homenagem aoHomem de Deus que visionariamente, entre nós,também se lançou na “recuperação” dosqualificados mas ostracizados baptizados que,tendo recebido da Igreja, Mãe e Mestra, oSacramento da Ordem, mas que, por razõesdiversas, tendo constituído família, ou não, haviamoptado pelo seu não exercício directo e efectivo, aíestavam... na praça e sem contrato (Mt 20,3),alheios uns dos outros, que não do mundo nem daIgreja a quem amam.Não teremos nem a última, nem a melhor palavra,pois esta, certamente, já lha deu o Senhor a Quemele, como bom servidor (Lc 17,10), devotada edenodadamente serviu: “Entra no gozo do teusenhor” (Mt 25,21).

Alberto Osório

X I E N C O N T R O N A C I O N A L23,24,25 de Abril de 2004

Local:Casa de Nossa Senhora das Dores

FátimaOrientadores:

- Dr. Marinho AntunesTema:

Motivação da frequência na Missa Dominicale Leitura sociológica da frequência da Missa

Dominical

- Dra. Manuela SilvaTema:

O papel da mulher na Igreja

Importante: Inscrições até 10 de Abril de 2004

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página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento ! [email protected] página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento ! fraterni

Os homens e mulheres do “FRA-TERNITAS MOVIMENTO” — homensque se desligaram do sacerdócioministerial, mas que nunca se desli-garam do sacerdócio baptismal, re-únem-se, pelo menos uma vez porano, para um Curso de Actualiza-ção Teológica — este ano foi o V.Na realidade, estes homens e suasesposas nunca esquecem que pelobaptismo são sacerdotes, profetas ereis. Deixaram de exercer numa

igreja comercializadora, mas não naIgreja de Cristo, no dizer de um bis-po. Este sacerdócio baptismal exer-cem-no e querem continuar sempre,mais e melhor. Daí, estes cursos deactualização. Têm consciência queninguém pode dar o que não temeque todo o baptizado em Cristo deveevangelizar. Cristo continua o mes-mo de ontem e de hoje; o Seu Evan-gelho é o mesmo; porém, os méto-dos de evangelizar, a linguagem,conceitos, têm de ser adaptados àsmentalidades, às carências e exigên-cias de hoje.

Mas é ao evangelizador, queconhece o Evangelho, que competeencontrar estratégias adequadas,para que Cristo seja conhecido, se-guido e vivido. Não basta aprenderumas coisas e ficar a orientar umaparóquia. Esse tempo já lá vai. Es-ses métodos não produzem efeitospositivos. A Igreja de Cristo não éde “folclore”, de pompas. Não esta-mos na Idade Média. Oevangelizador de hoje tem de saberorar sem cessar. Antes de falar de

Cristo aos outros, deverá falar mui-to dos outros a Cristo. O segredo estána oração, na identificação comCristo. Esta é grande causa de tan-tas comunidades baptizadaspaganizadas. Nunca saíram do pa-ganismo porque nenhumevangelizador os ajudou a encontra-rem-se com Cristo.

Conscientes destas e de outrasconsiderações, esse grupo do FRA-TERNITAS, embora muitos outros qui-

sesseme s t a rpresen-

tes, não fossem o seus afazeres, es-tiveram, participaram e actuaramneste Curso de Actualização Teoló-gica, que teve lugar em Fátima, naCasa de Nossa Senhora do Carmo,de 28 de Novembro a 1 de Dezem-bro.

Foi seu orientador o Pe. Dr.José Nunes, OP, professor na Uni-versidade Católica.

O orador, pegando no tema —que lhe foi pedido a seu tempo, pelaDirecção do “FRATERNITAS” — “AIGREJA NO MUNDO DESTETEMPO” — uma reflexão sobre aGaudium et spes, tratou-o em qua-tro encontros:1º encontro: A Igreja no mundo (os

modelos anteriores ao ConcílioVaticano II e a opção deste);

2º encontro: A Igreja, a cultura e asculturas (GS 57-62 e AG);

3º encontro: A Igreja, o homem e al-guns problemas mais urgentes(antropologia, família, realidadeseconómicas, política, paz);

4º encontro: A Igreja no Mundo des-te tempo: HOJE (o imperioso da

evangelização e os seus acentostónicos mais fundamentais).

Os quatro encontros foramsempre seguidos de trocas de opini-ões sobre os assuntos tratados e al-gumas leituras pessoais. O orienta-dor foi citando diversos números daGS e também alusão à Ad Gentes.

No sábado, todos recebemos atriste notícia do falecimento do nos-so tão querido Amigo e “pai”, Có-nego Filipe. Achou-se por bem ir sóuma representação ao funeral.

No domingo, tivemos a visitado Sr. D. Serafim, bispo de Leiria-Fátima. Entrou na sala, cumprimen-tou, falou da “partida” do Sr. Cóne-go Filipe e disse: «Vim aqui a umareunião, soube que estais aqui e nãopoderia passar sem vir cumprimen-tar as minhas “cunhadas”. Sei queestais debruçados sobre a Gaudiumet spes; continuai com Cristo».

No último dia, o grupo teveuma reflexão sobre o curso. No ge-ral, gostaram bastante do orador,competente e dialogante. Quanto aotema todos acharam que é alturapara ler, reflectir e aplicar na medi-da do possível e das actividades. Osimples facto de o documento (GS)só ter sido aprovado, pelo Concílio,na sua décima terceira versão, mos-tra como é controverso para toda aIgreja. Mas foi aprovado.

Todos agradeceram à Direcçãoo esforço e dedicação para que anossa formação esteja sempre maisactualizada.

Abílioe Maria Odete Antunes

FORMAÇÃO

E EVANGELIZAÇÃO

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[email protected] página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento ! [email protected] página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento

Este último curso em Fátima,supostamente concebido para nosactualizarmos teologicamente, dei-xou-me, como todos os anteriores,muito apreensivo. Igual coisa possodizer das meditações dos outros en-contros, ou retiros, sempre orienta-das por pessoas “de peso” no mun-do da instituição e da ciência teoló-gica: temo que as nossas reuniõesnos vão progressivamenteanestesiando, até adormecermoscomo uns abades ou abadessas, debarriga cheia de análises e ritos.

“Vamos daqui mais ricos” —é a afirmação estafada que tambémnós estafamos ainda mais, regular-mente, no final dos nossos encontros.Ou então esta, mais coitadinha ain-da: “Sempre se aprende algumacoisa”. Às vezes lá nos atrevemosa dizer: “Foi uma seca”. A únicaluz que vejo brilhar, viva e límpida,mesmo que algo frágil, é aquela quecapto, invariavelmente, em gestos eolhares e palavras, nos intervalos, àsrefeições, nos encontros pessoais,nos testemunhos individuais, e tam-bém um pouco em reuniões de gru-po.

Ora nós somos gente que já pre-gou muito, que já ouviu pregar mui-to, que já catequizou muito, que jáfoi milimetricamente catequizada,que já ganhou o vício das reuniõese dos encontros e das análises. Pre-cisamos desesperadamente de umaSeiva nova: mais do mesmo só ser-ve para criar banhas.

Na introdução a este curso ouvidizer uma coisa que me fez afitar asorelhas: o mundo de hoje está dis-pensando Deus de forma alarmante.Porque é exactamente isso que eusinto no ar, no chão, à minha volta,entrando-me por todos os poros,

como uma peçonha. De facto, hojetudo esperamos dos milagres da Ci-vilização, que tem conseguido, par-ticularmente nos tempos mais recen-tes, um poder avassalador e um es-trondoso êxito. Ultrapassando omundo físico, está já invadindo omundo psíquico e espiritual, contro-lando, aí, todo o movimento, atra-vés de largas fornadas de psicólo-gos saindo das universidades, ape-trechados sempre com as últimaspesquisas e soluções da ciência, eatravés de doses industriais de de-bates de ideias, de informações fil-tradas pelos poderes constituídos, dabanalização e canonização do Mal,da imensa cataplasma de diversõespara calar problemas e dores. Dorese problemas que surdamente, sub-tilmente, a mesma Civilização poroutro lado multiplica, em avalanche,enquanto, como gigantesca empre-sa a caminho da falência, na mesmaproporção do avanço vertiginosopara a queda, se esparranha toda empromessas de solução e de cura paratodas as chagas. A confirmar estavisão, vede, por exemplo, como o PaiNatal cilindrou literalmente o Mis-tério de Jesus que esta época deve-ria revelar.

E as igrejas? Todas elas sãoinstituições, isto é, edifícios pirami-dais talhados à imagem de todas aoutras instituições deste mundo.Distinguem-se destas apenas porusarem o Nome de Jesus como ban-deira. Mas de Jesus fizeram umaDoutrina, de que se apropriaram,

cada uma do seu pedaço, definindo-O e protegendo-O com ritos e leis enormas levadas até ao dogma. Oratoda esta tralha normativa éretintamente “mundana”, isto é, pró-pria do mundo que Jesus afirmou terpor príncipe Satanás e portanto, ob-viamente, nada ter a ver com o SeuReino, onde tudo é comandado peloAmor que, como nós bem sabemos,tudo harmoniza sem precisar de leis,e nada define, porque tudo peranteele é Mistério aberto fascinandosempre, sem nenhum limite.

É esta apetência para se apro-priar dos Carismas, esterilizando-osaté os poder controlar segundo a suavisão e a sua medida, que caracteri-za todas as instituições. Foi isto jus-tamente que fizeram todas as igre-jas, subtilmente, mal Jesus Se ocul-tou aos nossos olhos carnais. Comque culpa? Não pertence a ninguémjulgá-lo. Pertence-me apenas a mime a todos nós termos consciência deque somos carne deste corpo, soli-dariamente obrigando Deus a viverassim retalhado e resfriado nos nos-sos mecânicos esquemas mentais.Porque a Igreja é Jesus permanen-temente incarnado e não temos ou-tra Igreja senão esta. Mas vede: quefaz a Igreja que as outras institui-ções não façam? Não está ela hojena mesa da presidência, em cadainauguração de um novo milagre daCivilização, abençoando-o e confe-rindo-lhe assim a respeitabilidade deque ele necessita para se tornar um

A A P O S TA S I ADa II Carta de Paulo aos Tessalonicenses, cap. 2:“No que respeita à vinda do Senhor e à nossa união com Ele, pedimo-vos,irmãos, que não vos deixeis tão depressa e inconsideradamente abalar, nemalarmar (vs. 1-2). Que ninguém, de modo algum, vos engane, porque, antes,há-de vir a apostasia e há-de manifestar-se o homem da iniquidade (v. 3). Avinda do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda asorte de milagres, de sinais e de prodígios enganadores (v. 9)”.

(continua na pág. 7)

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A celebração eucarística na pa-róquia de Stammersdorf mal se di-ferencia das celebrações nas outrasaldeias em redor. À primeira vistanota-se, quando muito, um grandenúmero de crianças. Mas uma ob-servação mais atenta permite desco-brir algo de interessante no sacer-dote: ele usa uma aliança no dedo.O que não é permitido no mundocatólico romano, acontece publica-mente no 21º bairro de Viena. O car-deal Schönborn nomeou o padreGeorg Papp, sacerdote greco-cató-lico casado, para a paróquia deStammersdorf.

Ao princípio o padre Georg Pappdeveria ir para a vizinha paróquiade S. Cirilo e S. Metódio, para subs-tituir o padre Marcus Piringer, for-çado a abandonar a paróquia por terdecidido casar.

Segundo as palavras do párocoHarald Mally, responsável pelas pa-róquias de Stammersdorf e de S.Cirilo e S. Metódio, “Piringer nãose considerou vítima do sistema,apresentou a sua saída como umadecisão pessoal e as pessoas apreci-aram a sua honestidade”. Todavia,os paroquianos de S. Cirilo e S.Metódio preferiam manter o seu“Piri”, como afectuosamente lhechamavam, com mulher e filhos,acentua energicamente HerminePelikan. Mas o padre Piringer co-nhecia as consequências do seuamor e, porque não queria viver emmentira, teve de se despedir da co-munidade.Problemas

Saindo, “Piri” deixou um vazioque tinha de ser preenchido. “Porescassez de pessoal não era nada

fácil encontrar alguém”, concluía opadre Harald Mally, já que das 660paróquias da arquidiocese de Vienaapenas 480 têm pároco próprio, es-tando as restantes anexadas. Entãoo cardeal Schönborn decidiu nome-ar para a paróquia de S. Cirilo e S.Metódio o padre casado Georg Papp.Para o jovem paroquiano KlausUmschaden isso era “uma soluçãomá. Então obrigam um padre a dei-xar o ministério por causa da rela-ção com uma mulher e o sucessor éum homem casado!”. Por sua vez,Hermine Pelikan diz: “Temos mui-ta dificuldade em entender porque éque “Piri” tem de ir embora pelo fac-to de querer casar e, para o substi-tuir, vem um outro com a família. Opadre Mally terá sentido bem a enor-me necessidade de esclarecer toda aquestão”. Consciente do ridículoduma tal situação, o padre Mallypressionou o cardeal Schönborn acolocar o padre Papp exclusivamen-te na paróquia de Stammersdorf. Elepróprio assumiria também aparoquialidade de S. Cirilo e S.Metódio, para o que contava com aajuda dum padre aposentado.

Padre, marido, paiOs paroquianos de Stam-

mersdorf estão muito satisfeitos como pároco casado. “O primeiro encon-tro com a paróquia de Stammersdorffoi para mim singular”, diz com ale-gria o padre Papp, “senti-me com-preendido”.

Com base no trabalho de seu pai,que foi padre em várias comunida-des rurais da Hungria oriental, eleconhece muito bem o trabalho nasregiões rurais. A circunstância de opadre Papp ser também marido e painão perturba ninguém em Stam-mersdorf. A primeira provaconfirmativa passou-a ele muito bempela maneira como assistiu na do-ença e na morte uma mulher impor-tante para a comunidade. Diz RobertNebel: “Nestas situações a famíliadeve ficar em segundo plano, ele en-tendeu isso”.

Que a comunidade está primei-ro, já ele aprendera de seu pai. Temconsciência da sua dupla responsa-bilidade e conhece também a impor-tância da esposa: “No casamento dopadre também a esposa se deve sen-

CASAMENTO, OS PRÓS E OS CONTRAS

O que é impossível segundo a lei católica romana do celibato, é realidadena paróquia de Stammersdorf em Viena: desde Setembro de 2002é um sacerdote greco-católico casado, o padre Georg Papp, que tema seu cargo a pastoral da comunidade de Stammersdorf. Na realidade,este padre, que não está sujeito à lei do celibato obrigatório, esteveindicado para a vizinha paróquia de S. Cirilo e S. Metódio, cujo párocoteve de deixar o ministério por causa duma relação com uma mulher.Foi graças à diplomacia do padre Harald Mally, encarregado das duasparóquias, que se evitou o escândalo total duma freguesia.

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tir vocacionada para a sua função deesposa do padre”. Os candidatosgreco-católicos ao sacerdócio sópodem casar antes da ordenação. Seum potencial candidato não quiserviver celibatário, tem de adiar a or-denação até encontrar a esposa cer-ta. O casamento dos padres greco-católicos foi aprovado por Roma nosfinais do séc. XVI. “A vida em fa-mília sacerdotal tem assim uma lon-ga tradição”, diz Georg Papp, “éuma outra vida. Muitos dos filhosdestas famílias irão ser padres ouesposas de padres”.A falta de padres possibilitaisso

A prática do rito greco-católicoem Viena tem uma tradição de cer-ca de 200 anos. Já no séc. XVIII aimperatriz Maria Teresa, ao instituira Fundação de St.ª Bárbara no pri-meiro bairro comunal de Viena,criou um centro para fieis greco-ca-tólicos. Embora não seja habitual acolocação de padres da Igreja ori-ental em paróquias católicas, GeorgPapp não foi o primeiro.

O cardeal Schönborn, que é tam-

bém o ordinário para a comunidadedos fieis greco-católicos na Áustria,colocou ao todo cinco padres casa-dos na arquidiocese de Viena. Dadoque a diferença entre os dois ritos éapenas de natureza formal, bastauma autorização da Congregaçãopara a Igreja Oriental para eles po-derem exercer uma actividade bi-ri-tual. Consequentemente, o arcebis-po de Viena tem, com a aquiescên-cia de Roma, a possibilidade nome-ar sacerdotes greco-católicos paracomunidades católicas romanas.

O casamento oficial dos padres,que continua vedado aos fieis cató-licos romanos, é, assim, possível aosfiéis do rito greco-católico tambémna Áustria. No entanto, fica emsuspenso se a colocação de padrescasados é no sentido da manutençãodo celibato. Se uma lei aparentemen-te se degrada, há que ter em contaque uma moral dúplice pode criarperturbação e revolta: “Porque é quepode vir um padre casado e um qua-se casado tem de ir embora? É umadiscussão sem fim. Como é que tudoisto se conjuga?”, considera Paul

Lachnit, traduzindo também o quesentem muitos daqueles que, mes-mo hoje, ainda preferiam o padrePiringer. Também o seu vizinho demesa, Robert Pelikan, está seguro deque a autorização para casar impe-diria a perda de padres tão bonscomo Piringer – que era padre decorpo e alma.

Por detrás da estratégia de colo-car padres casados da Igreja orien-tal em comunidades católicas roma-nas, Paul Lachnit vislumbra aí adesorganização do celibato. “Não sepode fazer isso directamente, poisseria o caos perfeito em toda a par-te. É preciso primeiro infiltrar-selentamente, a fim de criar a sensibi-lidade para tais situações”. Enquan-to a Igreja latina estiver agarrada aocelibato, temos de pensar que ela nãoterá interesse em deixá-lo dissolver.

O cardeal Schönborn não sedisponibilizou para falar à Kirche Insobre esta questão.

Verena Brandtnerin Kirche In (04/2003),

pp. 12,13.

verdadeiro Ídolo de espectacular efi-cácia justamente na sua função daafastar de Deus até O fazer esque-cer por completo? Vede se não é des-te modo a nossa Igreja a responsá-vel pela galopante Apostasia queestá tomando conta dos corações, nonosso tempo!

Do que precisamos, pois, nãoé de mais cursos e análises, coisasque nos entretêm a cabeça, mas quenão nos atingem o coração, aquelenosso núcleo íntimo onde o Espírito

concepção e fosse agora o tempo deela verdadeiramente nascer.

Pelo caminho específico que se-guimos, já todos nós, os membrosda “Fraternitas”, homens e mulhe-res, tivemos a oportunidade de sen-tir o peso da Instituição que ajudá-mos a erguer. Estamos, por isso, emsituação privilegiada para entender-mos os sinais deste nosso tempo.Estou pedindo ao Espírito que noscoloque em estado de alerta e nosconceda o dom do Discernimento,com a coragem parar agir em con-formidade.

Leça do Balio,em 8 de Dezembro de 2003.

Salomão Morgado

habita, à espera de que O deixemoscomandar este nosso processo demorte. Sim, de morte, condição ab-solutamente necessária para a nos-sa Ressurreição, já que ela não acon-teceu ainda e terá que acontecer,conforme Jesus nos quis mostrarcom a Sua própria Ressurreição, queEle chamou também Renascimento.

Sinto este tempo muito próxi-mo. Justamente por causa destaindesmentível globalização daApostasia que, segundo a Escritu-ra, deverá preceder o regresso deJesus. Não, não é o Juízo final; é sóo nascimento da Igreja com que sem-pre sonhámos. Como se a Igreja pri-mitiva não fosse mais do que a sua

(continuação da pág. 5)A Apostasia

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Filipe Marques de Figueiredo, filho de DomingosMarques de Figueiredo e de Rosa Marques da Silva,nasceu no dia 24 de Agosto de 1926, em Beduído, con-celho de Estarreja.

Aluno sempre exemplar, fez os estudos de Humani-dades nos Seminários do Porto (no Colégio dos Carva-lhos 1937-38 e seminário de Trancoso, Vila Nova deGaia 1937-39), e de Aveiro (1939-42) e Filosofia e Te-ologia no Seminário Maior de Évora, terminando em1949, com 14 valores.

Foi ordenado sacerdote a 26 de Junho de 1949 peloArcebispo D. Manuel Mendes da Conceição Santos, emVendas Novas, num barracão de cortiça, celebrandoMissa Nova em Estarreja, a 24 de Julho.

Sendo um Homem, com uma larguíssima experiên-cia, vivência e dinamismo, tem um vastíssimo e admi-rável curriculum.

Foi fundador do jornal Promoção; foi Pároco deCabeção (Mora) entre Agosto e Setembro de 1949. Nes-se mesmo ano começou a leccionar no Seminário Mai-or, cargo que só deixaria em 1990. Foi também directorespiritual no Seminário Maior. Foi fundador e directorde inúmeros movimentos como os Cursos de Cristanda-de, que fundou na Arquidiocese com o padre Dr. AcácioMarques; da Obra das Vocações Sacerdotais daArquidiocese de Évora, da qua1 foi director até 1963;da Pastoral e Promoção dos Ciganos, desde 1968 e daqual, desde 1970, foi Director Nacional. Dentro daO.N.P.P.C. fundou em 1970 o jornal CARAVANA e doqual foi seu director; Director Diocesano do Apostola-do da Oração, desde 1972; foi Director Diocesano dasMigrações entre 1973 e 1997; fundou o Igreja Eborenseem 1983; em 1987 funda o Jornal de S. Brás; recente-mente havia igualmente fundado a Fundação Dom Ma-nuel Mendes da Conceição Santos.

Para exercer no ensino oficial fez o Estágio Pedagó-gico do grupo 8A, na Escola Secundária AfonsoDomingues em Lisboa, que terminou em 1977, com aexcelente classificação de 16 valores. No ano de 1979completou duas licenciaturas, uma em História pela Fa-culdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa,com a classificação de 15 valores, e outra em CiênciasLiterárias, pela Universidade Nova de Lisboa, com aclassificação de 16 valores. Sempre com uma filosofiade vida em que “aprender não ocupa lugar”, para umaformação complementar frequentou um Curso intensi-vo de Linguística e um Curso de iniciação à EtnografiaPortuguesa, promovido pelo Centro de Estudos dos Po-vos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universida-de Católica, em 1984.

Leccionou em vários estabelecimentos de ensino emÉvora, na Escola de Regentes Agrícolas foi professorde Religião e Moral, na Escola do Magistério Primárioonde foi professor vários anos, na Escola Preparatóriada Santa Clara deu aulas de Religião e Moral e Portu-guês de 1972 a 1976, na Escola Secundária Gabriel Pe-reira em 1974 e 1975. Leccionou no Instituto Superiorde Teologia em Évora de 1990 a 95. Foi ainda professorde Português na Escola Preparatória da Portela deSacavém de 1977 a 79.

Foi Capelão da Casa Pia de Évora nos anos de 1956e 57, Capelão do Lar Ramalho Barahona, em Évora,desde 1990. Pároco de S. Brás, Évora, de 1984 a 1999,aí fundou o Centro Social e Paroquial de S. Brás. Porduas vezes foi Delegado Diocesano nos CongressosEucarísticos Internacionais, 1990 e 1991. Foi nomeadoCónego da Sé de Évora em 1989.

Trabalhador incansável, publicou várias obras: "CIGANOS: I Jogos Florais Luso-Espanhóis, Évora, 1971;Almanaque Cigano, Évora, 1972; Filhos da Estrada edo Vento, Évora, 1973; " da COLECÇÃO “CRISTO NA TUA

VIDA”: Curso “A Igreja no Mundo de Hoje”, 1972; OsSantos não Morrem: D. Manuel Mendes da Concei-ção Santos, 1981; " primeiro autor da COLECÇÃO “FI-LHOS DO CONCELHO DE ESTARREJA”: A Professora deSanto Amaro: D. Maria Valente de Almeida, Estarreja,1982; D. Francisco Nunes Teixeira: Bodas de OuroSacerdotais (testemunhos e escritos), Estarreja, 1983;Manuel Pedro Calado e sua Família: Alfobre de Ar-

O PO PO PO PO P a d ra d ra d ra d ra d r e F I L I P E d e F I G Ue F I L I P E d e F I G Ue F I L I P E d e F I G Ue F I L I P E d e F I G Ue F I L I P E d e F I G U– b r e v e e s b o ç o b i o g r á f i c

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tistas, Estarreja, 1984; A Obra Literária do PadreDonaciano de Abreu Freire: I O ESCRITOR, Estarreja,1985; A Obra Literária do Padre Donaciano de AbreuFreire: II O ORADOR SAGRADO, Estarreja, 1988; AObra Literária do Padre Donaciano de Abreu Freire:III O ORADOR SAGRADO, Estarreja, 1989; O PadreDonaciano de Abreu Freire, o Homem e o Padre doseu Tempo: IV BIOGRAFIA, Estarreja, 1989; D. Ma-nuel Mendes da Conceição Santos, Fundador das Ser-vas da Santa Igreja, 1986; A Universidade de Évora eas Alterações de 1637, Évora, 1988; Religiosidade Po-pular, Évora, 1990; Os Padres de Estarreja, Estarreja,s.d..

Trabalhava ainda noutras obras para edição: D. Ma-nuel Ferreira da Silva: O Bispo Missionário; PadreDonaciano de Abreu Freire: Conferencista; Subsídiospara a História de Estarreja.

É autor de várias traduções, das quais se destacam,na colecção “Cristo na Tua Vida”, Nós, Os Ciganos, deJuan de Dios Herédia, Vocação Sacerdotal, deBaldomero Jimenez, e A Paróquia, ComunidadeEvangelizadora, de Miguel Andres.

Através do Centro Social de S. Brás, promoveu a pu-blicação de livros de sonetos do vice-presidente da As-sembleia Geral da LASE, Dr. José Augusto Pinho Neno,Drª Fernanda Seno e do filho.

Participou em inúmeros congressos, normalmente ver-sando sobre Ciganos.

Em 1988 foi merecidamente homenageado com otroféu “Jornal de Estarreja”, considerando-o a persona-lidade que mais se distinguiu no campo das letras, pelapublicação da Vida e Obra Literária do Padre Donacianode Abreu Freire, em quatro volumes.

É em Estarreja, torrão natal, em tempo de Advento eno seu posto (no final de mais um dia de trabalho inten-so que culminou numa longa reunião na Câmara Muni-cipal, em que acabara de assinar um acordo para a cons-trução de mais um Lar Familiar da 3ª Idade – Casa deOração que terá precisamente a designação de Lar deS. Filipe e Centro de Convívio, indo iniciar também,nesse dia, a direcção de mais um retiro para jovens),que o P. Filipe foi vítima de doença súbita e fatal. Era odia 28 de Novembro de 2003.

U E I R E D OU E I R E D OU E I R E D OU E I R E D OU E I R E D Oc o –

Subscritora:Deputada Municipal Luísa Baião (PS)

Deixou-nos sós o Padre Filipe deFigueiredo. Aos 77 anos, apesar da obrameritória na Paróquia de S. Brás, que erasua, que era nossa, nunca tendoconsiderado acabadas todas assuperiores exigências do seu ministérioem prol do “Homem”.

Emérito o seu trabalho enquantoSecretário Diocesano da Emigração,com especial relevo para a acçãodesenvolvida em defesa das minoriasétnicas.

Como Sacerdote, dedicado à acçãode Deus na Terra, como homem, comoprofessor, como missionário e comopessoa, fez sempre suas as justas emais nobres causas, e o exemplo que foia sua vida, deverá guiar-nos a todos.

Pela perda deste homem, exemplode fraternidade, disponibilidade ededicação, de que é exemplo a suaparticipação no Conselho Municipal deSegurança, a Assembleia Municipal deÉvora apresenta publicamente à famíliao seu sentido voto de pesar.

Aprovado por Unanimidade.

A Assembleia Municipalde Évora publicou oseguinte Voto de Pesarpelo falecimento doCónego Filipe deFigueiredo

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por uma sobrevivência que só a fépode alimentar e fecundar até paralá do tempo da nossa peregrinação.Para Unamuno, como já o fora paraCésar Cantú: “Os poetas são filhosdos deuses”.

E enviaste-me um exemplar dovolume, e precisamente ao começaro ano de 1997 — fez agora 7 anos— mas com uma dedicatória exten-sa da melhor amizade e apreço quenunca se pode esquecer.

do conhecimento de mais de 40anos que teve deste sacerdote dequem aprendeu “bastante davivência que se deve ter com aetnia cigana”. E refere como, há40 anos, o P. Filipe se meteu acaminho de Fátima com uma gran-de caravana de Ciganos. “Por ondeandei com a Irmã Zulmira e o Dr.Monteiro, Equipa Nacional daPastoral dos Ciganos, recebi teste-munhos que me falam, a cada mo-mento, que os ciganos são PESSO-AS e, como tal, devem ser trata-dos”. “Recentemente, na Hungria,pude constatar o grande amor (doP. Filipe) a Nossa Senhora, aosciganos. Apesar da sua débil saú-de, parecia que as energias lhevinham à tona quando se diziamcoisas lindas de ciganos e sentia-setriste quando lhe apregoavam coi-sas menos boas dos seus irmãosciganos”. E define o Director da

Nesta hora em que, para dialo-gar contigo, só com antenas sintoni-zadas para o sagrado “Além”, man-da-me a alma que recorde tudo isto,e o reviva, como quando, discreta-mente, me telefonavas a pedir cola-boração ou opinião e parecer fossesobre o que fosse, e não importa aque hora, a tua ausência sinto-a sau-davelmente cheia das melhoresvivências em que ambos discreta ecom muito e mútuo apreço de almapartilhávamos.

E para terminar, meu caro P. Fi-lipe, resta-me apenas recordar o que,e como, e quando, tudo começou; eacrescentarem comentário o expres-sivo verso de Fernando Pessoa em“Mensagem”: “Todo o começo éinvoluntário — Deus é o Agente”.

Ainda um abraço, meu caro Fi-lipe.

Manuel Ferreira da Silvain Voz das Misericórdias,

Janeiro de 2004, pg. 14.

Que vivas, PQue vivas, PQue vivas, PQue vivas, PQue vivas, Padre Fadre Fadre Fadre Fadre Filipe!ilipe!ilipe!ilipe!ilipe!

ONPC como um exemplo de dis-ponibilidade que procurou sempreincutir nos ciganos o amor à Se-nhora da Nazaré.Na missa de sufrágio na IgrejaMatriz de Beduído, presidida peloBispo Auxiliar de Évora, D.Amândio Tomás, ficou bem patenteo quanto este sacerdote fez de bempelos mais carenciados. TambémMonsenhor João Gaspar, VigárioGeral de Aveiro, que representouD. António Marcelino, ainda inter-nado no Hospital de Aveiro, ratifi-cou este carisma. “O Cón. Filipeestará junto do cigano Zeferino ainterceder ao Pai por aqueles quenão têm eira nem beira. ...O Se-nhor da Messe mandará outrosoperários para esta seara imensa”.

Ecclesia – internet (2 Dez)Faleceu o P. Filipe deFigueiredo, homem de DeusNoticia a morte do P. Filipe deFigueiredo.

A Defesa (2 Dez)Morreu o Padre Filipe deFigueiredoNoticia a morte do Cónego Filipede Figueiredo, que durante 54 anosexerceu o ministério sacerdotal naArquidiocese de Évora. Apresentaa sua biografia destacando o factode o Pe. Filipe ter criado a Funda-ção D. Manuel Mendes da Concei-ção Santos e os Missionários deCristo Sacerdote, além das obrassociais que ajudou a levantar,como é o caso do Lar de São Pau-lo.

Adeus Pe. FilipeJosé de Vasconcellos e Sá dá umtestemunho sobre o Padre Filipedizendo: “foste para a Família deuma utilidade e franqueza a roçaro divino, foste um irmão, foste,principalmente, um excelente ami-go”.

in A CARAVANA (28/01/2004)

O P. FILIPE recordado na imprensa

(continuação da pág. 15)

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Quem, como tu, morre sem pre-venir, e parte para outro lado da vida,que é o mesmo que não morrer —valha bem o paradoxo — fica sem-pre vivo:- na vocação que viveste;- na missão que cumpriste;- nas largas caminhadas que empre-

endeste;- nas boas obras que espalhaste a

mãos cheias;- nas mensagens que subscreveste;- nas causas pelas quais tão genero-

samente te bateste.E sem fazer barulho, nem preci-

sares de recorrer às trombetas deuma propaganda alienante.

O que fizeste fala por si:- os seminaristas que ajudaste a de-

cidirem-se;- os cursos de Cristandade que ani-

maste;- os ciganos a quem te deste como

um profeta da promoção em cida-dãos de direito pleno;

- os retiros em que meditaste comquem neles participou as mais vá-lidas verdades e mensagens;

- as peregrinações que empreendes-te, mostrando que pelos caminhosda terra se pode e deve chegar aocéu;

- na paroquialidade que exercesteem que ninguém ficou de fora doalcance da virtude missionária queem ti sempre transpareceu;

- nas páginas que escreveste no teu“Jornal de S. Brás”, e nos livroscuja edição apoiaste com a melhortécnica do centro Social e Culturalque criaste em S. Brás, e para aqual me pediste conselho;

- nos escritos de que outros foramautores, e cuja edição tu apadri-nhaste e estimulaste, e que foramdeleite para o público leitor;

- nas iniciativas que estimulaste, enas quais, sendo o interveniente demais validade, sempre optaste porficar discretamente na sombra;

- e muito especialmente na “FRA-TERNITAS” que com tão genero-sa alma levaste por diante, esten-dendo a mão de salvador de voca-ções que nunca fracassou nos em-preendimentos em que te envolves-te.

Aprendeste e herdaste, assim,uma alma sacerdotalmente aberta enum genuíno ecumenismo de acolhi-mento, do teu e meu grande Amigo— que tão generosamente me trata-va por Irmão — o Senhor D. Manu-el Maria Ferreira da Silva, Arcebis-po de Cízico, e que foi um salvadorde vocações e sobre o qual me pe-diste um dia um testemunho que es-crevi longo e denso como mo exigiaa alma.

E dentre todos os que salvou epromoveu, lembro outro grandeAmigo, o 1º Bispo de Tete(Moçambique), D. Félix Niza Ri-beiro, a quem, ainda aluno diocesa-no de Portalegre, mas no semináriodos Olivais, o seu Prelado de entãoordenou que saísse do seminário.

Sei, entretanto, que também tuestiveste à beira de ser mandadoembora do seminário por “falta debitola para o ofício de padre”, comode ti disseram.

Deitou-lhe a mão o nosso amigo— irmão D. Manuel que lhe meteuna alma — como a mim o havia defazer — um sonho de missão.

E foi — como eu iria mais tarde— para Moçambique, onde foi se-cretário do cardeal D. Teodósio, eveio a ser o 1º bispo de Tete, e paracuja tomada de posse partiu confi-ante, pedindo-me informações e es-

critas — crónica que, nas minhasandanças por lá com D. Sebastiãode Resende, tinha publicado, e fo-ram o seu “vade-mecum” na suapastoralidade generosa e muito pes-soal, como tão de perto vi, vivi,apoiei e testemunhei.

Mestre de ambos nós, o SenhorArcebispo de Cízico deixou em ti umvirtuoso “fac-símile”, o que permi-tiu que muitas vezes confidenciassescomigo os teus sonhos, os teus pro-blemas, os teus projectos, o teu pro-jecto em prol de uma causa que so-nhavas: a recuperação eclesial de“Padres Casados”.

Mobilizaste-me um dia para ir aÉvora apresentar o maravilhoso li-vro de poemas “Cântico vertical” datua grande colaboradora e escritorada melhor pena e transparente ins-piração e virtude, Drª FernandaSeno, e de que foi testemunha o nos-so comum grande Amigo, GeneralThemudo Barata, no nobre PalácioD. Manuel, em Évora, em 1993.

Mais tarde, quando a Fernandapartiu em 1996, subindo a sua cruzna verticalidade, para ir descansarantes de ti nos braços de quem a es-perava no céu, coligiste, e com todaa enérgica devoção da tua alma —feita então de saudade e gratidão —testemunhos vários sobre a Poetisa.E não me dispensaste de um comen-tário a um pensamento de Unamuno:“Quando alguém reaparece e mere-ce ser lembrado, é porque não mor-reu inteiramente”.

Sublinho, agora e a teu respeito,este mesmo pensamento do grandepensador e mestre que em “Agoniado Cristianismo” e “Sentimento Trá-gico da Vida”, sublinha a “agonia”não como uma extinção, mas luta

Que vivas, PQue vivas, PQue vivas, PQue vivas, PQue vivas, Padre Fadre Fadre Fadre Fadre Filipe!ilipe!ilipe!ilipe!ilipe!

(continua na pág. anterior)

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Rumo à eternidadeAo AMIGO DE DEUS, Pe. Filipe de Figueiredo

com um “Até breve!” da Teodolinda

Deus deu-te um coração à dimensão do Mundo:Cordilheiras de Fé!... Himalaias de Amor!...E a Esperança era, em ti, jardim fecundo,Onde desabrochava uma Alegria em flor.

Amavas o Senhor, apaixonadamente,E, por amor de Deus, amavas cada irmão!...A todos ajudavas... desinteressadamente,Desde os grandes do mundo, ao párias de exclusão.

Surpreendeu-te a morte em plena actividade,Trabalhando na Vinha do SenhorServindo jovens, anciãos, a Santa Igreja.

Voou tua Alma, rumo à Eternidade!E, p’ra recebê-la, com hinos de louvor,Cantam Anjos no Céu, “Bendita seja!...”

Évora, Festa da Imaculada Conceição do ano 2003.

Teodolinda Perdigão

! Novo “filho”: O nosso Artur Oliveira continua o seu trabalho de lançamentoda semente, de evangelização. E no gosto (e profundo saber e habilidade) de lançarpara os baptizados instrumentos de reflexão, simples mas seguros, lançou há pou-co um novo livro: Lucas, o Evangelista do Ano C. A sua modéstia leva-o a subtitulá-lo com “algumas notas de introdução”. A clareza e segurança doutrinal são jásobejamente nossas conhecidas.Integra-se na sequência dos anteriores, sobre Mateus e Marcos. Possa ter a divul-gação que verdadeiramente merece. Também está lá a “mãozinha” da Antonieta.Parabéns!

b rb rb rb rb r eeeee vvvvv e se se se se s . . .. . .. . .. . .. . .

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Senhor Bispo.Irmãos, Senhor Cónego Filipe, querido irmão e amigo.

Como diria o Pe. António Vieira, o Sr. Cónego “é ho-mem de mais passos do que paço”.Amigo de tudo o que é plano, nasceu e cresceu numaplanura à beira-mar plantada — a ria de Aveiro.Como a Pedro e a André, o Mestre impôs-lhe o abando-no dos barcos, que trocou pelos tractores alentejanos.

Nesta longa e generosa caminhada foi ao encontro detodos, os que todos farisaicamente abandonaram e con-denaram.Ao lado dos passos deste nosso irmão sem paço, há pe-gadas de ciganos, de presos, de pobres, de padres quecasaram, de todos osirmãos da mulheradúltera, que as pe-dras farisaicas ame-açavam de morte econdenaram àmarginalização e aoostracismo. Como oMestre da Galileia, onosso mestre deAveiro desarma osacusadores, convi-dando os sem peca-do a atirarem a pri-

meira pedra.Hoje, como então, os acusadores retiram e em cena ficasó o irmão Filipe e os irmãos ciganos, presos, pobres epadres casados.Os companheiros de Filipe, despronunciados pelosfariseus, também não são pronunciados pelo Filipe.A nós, padres casados, também ele pergunta: “irmãos,ninguém vos condenou?”Nós respondemos, irmão, junto de ti e contigo, ninguémnos condena; repreende-nos tu, corrige-nos tu, mas leva-nos no teu tractor, porque a via é longa, a noite é fria, esó não vacilarão os nossos passos junto aos teus passosmesmo que não tenham o perfume e o requinte do paço.

José Alves Carneiro

Comemoração das Bodas de Ouro Sacerdotaisdo Padre Filipe de Figueiredo,durante o 6º Encontro Nacional do FRATERNITAS,no dia 30 de Julho de 1999, em Fátima

Celebrava-se o 6º Encontro/Retiro Nacional doFRATERNITAS. Na Eucaristia de encerramento,presidida pelo Senhor D. Serafim, bispo de Leiria--Fátima, louvávamos igualmente o Senhor pelasBodas de Ouro Sacerdotais do Irmão Padre Filipe.Interpretando os sentimentos de todos, ergueu a vozo José Alves Carneiro e deixou falar o coração. Como seu texto, apresentamos também duas imagens: adessa Eucaristia, e a “foto de família”, no final daAssembleia Geral, ocupando o Pe. Filipe o centro,como que acolhendo e protegendo a todos...

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A Defesa (14 Jan)Que vivas Padre Filipe!Publica o testemunho do Dr. Ma-nuel Ferreira da Silva, publicadona ‘Voz das Misericórdias’ (textoincluído no nosso boletim).

Voz das Misericórdias (Jan)Que vivas Padre Filipe!(texto incluído no nosso boletim).

Nevi Yag (Dez) (Fogo Novo, ór-gão do CCIT (Comité CatólicoInternacional para os Ciganos)IN MEMORIAMNoticia o falecimento do CónegoFilipe de Figueiredo, um grandeamigo dos Ciganos e do CCIT.“Tinha assistido , pela primeiravez, ao Encontro internacional doCCIT em Anvers, em 1983. ...”“Nós guardamos, deste homembom, a lembrança de um rosto comum sorriso discreto, com uma Féserena e inquebrantável e com umaimensa vontade de serviço. ... Oque irradiava, porque era sereno,era profundo.”O CCIT apresenta as suas condo-lências comovidas à ONPC e aosseus amigos. “O Pe. Filipe estáagora na plenitude da Fé de queenriqueceu a sua vida e também ade muitos!”

Jornal de S. Brás (Dez)Páscoa do Cónego Filipe deFigueiredoNoticia o falecimento inesperadodo Padre Filipe de Figueiredo,dando especial destaque à fé in-quebrantável e à vasta experiênciadeste sacerdote da Arquidiocese deÉvora. O Jornal de S. Brás, dequem o Padre Filipe foi fundador e

O P. FILIPE recordado na imprensadirector desde o início, refere que“o seu exemplo de incansávelobreiro da messe do Senhor é umpoema doce atirado à memória dotempo e da história”.

Um coração de Apóstolo“O Senhor acaba de chamar a Simais um querido membro do nossopresbitério, cónego desta Sé e ge-neroso pastor da nossaArquidiocese: o Cónego FilipeMarques de Figueiredo.” Estasforam palavras de D. Maurílio deGouveia, Arcebispo de Évora,quando presidia à Missa de Sufrá-gio pelo Cónego Filipe deFigueiredo. O Cónego Filipe, fri-sou, deixou-nos “um exemplo ad-mirável de padre diocesano, umministério da maior importância,embora nem sempre compreendidonão só por parte da sociedade,mas, às vezes, até em sectores daprópria comunidade eclesial”.D. Maurílio destacou algumas dasmúltiplas iniciativas e actividadesexercidas pelo Cónego Filipe, no-meadamente, como “educador nosseminários, promotor do apostola-do dos leigos, animador da pasto-ral das vocações. Fundou institui-ções de carácter social, apostólicoe espiritual; foi jornalista e escri-tor.”Definiu-o como um “padre profun-damente apostólico. Sentia-se neleum forte apelo interior a responderà urgência da evangelização e adar um testemunho efectivo deamor e serviço aos homens, emparticular, aos mais carenciados”.E acrescenta que o Cónego Filipeficará conhecido como o “Padredos Ciganos”, campo onde foi pio-

neiro. D. Maurílio agradeceu aDeus Pai o dom da vida e do mi-nistério presbiteral do CónegoFilipe.

“— Ainda não sabes? Morreuo nosso amigo!?!”O Dr. João Canha dá o seu teste-munho sobre como acompanhou anotícia do falecimento do Pe. Fili-pe nos “locais do teu universo. Foiuma peregrinação de afectos”...que testemunhou “que deixaste afé na ressurreição como herançamaior, consolidada.”O autor narra alguns dos muitosmomentos que viveu com o Pe.Filipe e refere: “outras vezes cho-rámos juntos a alegria do perdão.”Relata o testemunho da ciganaVera que “disse que enquanto pu-deram contar contigo podiam con-tar com um pai, defensordevotadamente dedicado.” “Recor-do as preocupações que partilhastecomigo, nos nossos dois últimosencontros.” “Deus em ti manifesta-rá, uma vez mais, a sua santidade....Obrigado Filipe!”

“Beati mortui qui in Dominomoriuntur: Opera enimillorum sequuntur illos!” (Ap.14, 13)O Pe. José Augusto Pedroza daSilva recorda “muitas páginas daminha vida onde o seu nome estágravado para sempre.” “Amigodos pobres, dos ciganos, dos sacer-dotes em dificuldades, dos padresque deixaram o exercício do minis-tério, das crianças desfavorecidas,dos jovens, nomeadamente doJAAI 2000, dos idosos mais aban-

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Instituto Superior de Teologia deÉvora. O P. Filipe foi ainda Profes-sor do Magistério Primário, Prefei-to e Professor da Escola de Regen-tes Agrícolas. Director de “IgrejaEborense, Boletim de Cultura eVida da Arquidiocese de Évora”, oP. Filipe era autor de uma extensabibliografia de que se destaca a co-lecção “Filhos do Concelho deEstarreja” e a obra sobre o Pe.Donaciano de Abreu Freire.

donados.” “Amante da Eucaristia”e “devoto insigne da Virgem Ma-ria”, refere o autor sobre o Pe.Filipe e nomeia as comunidadesparoquiais alentejanas em que oPe. Filipe é lembrado com sauda-de. “Certamente, o Céu do Sr. Có-nego Filipe não será um “eternodescanso”... O seu dinamismo eempenho... há-de avançar naquelesque aprenderam com ele tantaslições de ardor apostólico”... “Elepróprio, do Céu, vai, seguramente,insistir na inspiração das obrasque aqui deixou”. “Tenho-te sem-pre muito presente no altar e nocoração!” dizia o Pe. Filipe. “Quemais podemos esperar?”

A CaravanaFaleceu o P. Filipe deFigueiredo, homem de DeusTexto do Francisco SousaMonteiro (em substância o da últi-ma página deste número).

Folha de São Paulo - Suplemen-to do Jornal de S. Brás (Dez)Finou-se rapidamenteApresenta o testemunho do CentroSocial de São Paulo, fundado e

dirigido pelo Cónego Filipe deFigueiredo, referindo que este sa-cerdote era “uma pessoa com idei-as bem delineadas, valores bemdefinidos e, acima de tudo, com umgrande coração e um profundosentido de solidariedade”.

Missionários de Cristo Sacerdo-te - Suplemento especial do Jornalde S. Brás (Dez)É um número especial todo dedica-do ao Cónego Filipe onde são apre-sentados alguns testemunhos de pes-soas que conviveram com ele e tre-chos de uma rubrica que escrevia noJornal de S. Brás, intitulada “CartaAberta – Mensagem de Esperança”.O Suplemento acentua que “a sere-nidade e o bom acolhimento que,para com todos manifestava eramsinal de que Cristo estava nele”.“Obrigado Senhor Cónego Filipepelo muito que tivemos a graça deaprender, pelo testemunho de vidaque nos deu... Eternamente agrade-cidos ao SENHOR por o ter coloca-do como Pastor das nossas almas”,escreve M. F. F. A..

Ecclesia (9 Dez)O homem que amou os ciga-

nos“Um homem que esteve sempre nocurso do sentido da Igreja “. Commodéstia, o Cónego Filipe deFigueiredo vivia atrás do palco.“Escrevia e ensaiava as peças ...depois retirava-se”. “Amou mui-tos... aqueles que publicamentenão dava jeito amar”. Foi destemodo que D. Januário Torgal Fer-reira se referiu ao Cónego Filipede Figueiredo quando presidia àcelebração da Eucaristia de 7º dia,nas instalações da ConferênciaEpiscopal Portuguesa. Ao referir-se ao Director da Obra Nacionalda Pastoral dos Ciganos (ONPC),o Prelado enalteceu o trabalho querealizou junto dos ciganos e tam-bém na Associação Fraternitas,onde revelou sempre proximidadedos padres dispensados do exercí-cio do seu ministério e suas espo-sas.

Correio do Vouga (3 Dez)Morreu o Cónego Filipe,apóstolo dos ciganos hámeio séculoDaniel Rodrigues noticia a mortedo Cón. Filipe de Figueiredo e fala

Amândio e na Igreja Paroquial deS. Tiago de Beduído (Estarreja). Nodia 5 de Dezembro foi celebradaMissa pelo P. Filipe na ConferênciaEpiscopal Portuguesa (CEP), tendopresidido o Sr. D. Januário TorgalFerreira, Presidente da ComissãoEpiscopal das Migrações e Turismoe concelebrado o Sr. D. Tomás daSilva Nunes, Secretário da CEP.

Francisco Sousa Monteiro

O P. Filipe tinha 77 anos quan-do o Senhor, no seu Amor infinito,decidiu fazê-lo participante da suaglória.

As Exéquias foram presididaspelo Sr. D. Amândio José Tomás,Bispo Auxiliar de Évora. No dia 4de Dezembro foram celebradas Mis-sas do 7º Dia, na Sé Catedral deÉvora, tendo presidido o Sr. D.Maurílio de Gouveia, Arcebispo deÉvora e concelebrado o Sr. D.

Faleceu o P. Filipe de Figueiredo, homem de Deus

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boletim daassociação fraternitas movimento fraternitas movimento fraternitas movimento fraternitas movimento fraternitas movimento

Responsável: Alberto Osório de Castro

Nº 13/4 - Outº.2003 a Março.2004

Ao princípio da noite de 28 deNovembro de 2003 faleceu o Cóne-go Dr. Filipe Marques deFigueiredo, homem de Deus. No iní-cio do Advento, o Senhor que sem-pre esteve no coração do P. Filipe,quis chamá-lo a entrar “no gozo doseu senhor” (Mt 25,21). Agora, nocoração de Deus, a partilhar a suaglória para sempre, a grande obrado P. Filipe passou a ser intercederpor nós para que o imitemos a viverde tal forma que, tal como ele, ter-minemos os nossos dias “de pé di-ante do Filho do Homem” (Lc 21,36;Evangelho da Missa do 1º Domin-go do Advento que foi rezado naMissa das Exéquias do P. Filipe, naIgreja de S. Tiago de Beduído ondefora baptizado e paróquia onde nas-cera).

O P. Filipe foi vítima de doençasúbita, no final de mais um dia detrabalho intenso que culminou numalonga reunião na Câmara Municipalde Estarreja, sua terra natal, em queacabara de assinar um acordo paraa construção de mais um Lar Fami-liar da 3ª Idade — Casa de Oraçãoque terá precisamente a designaçãode Lar de S. Filipe e Centro de Con-vívio. Iria iniciar também, nesse dia,a direcção de mais um retiro parajovens, em Estarreja. Deixou duasirmãs e outros familiares, entre osquais as sobrinhas Sofia e Rossanaque já colaboravam com ele nasmúltiplas obras que criou, na suatotal dedicação à Igreja. Deixouigualmente numerosos amigos queo reconhecem como homem bom,

Faleceu o P. Filipe de Figueiredo, homem de Deus

amigo, profundamente humano e deuma espiritualidade genuína que secomunicava naturalmente.

Desde 1994 o P. Filipe era oDirector da Obra Nacional da Pas-toral dos Ciganos, instituição daConferência Episcopal Portuguesa,de que fora o primeiro Director des-de 1972 até 1978. Nesta qualidadee na de Responsável pelo Secretari-ado Diocesano da Pastoral dos Ci-ganos de Évora, o P. Filipe dedicou--se de alma e coração à evangeliza-ção e ao desenvolvimento social dapopulação de etnia cigana, merecen-do referência especial as peregrina-ções nacionais e internacionais deciganos aos Santuários de NossaSenhora em Fátima e em Vila Viço-sa e também a Roma em 1997, porocasião da Beatificação do Beato(cigano) Zeferino Giménez (ElPelé) e do Jubileu do ano 2000 e aconhecida Exposição Internacionalde Cultura Cigana (EXPOCIG), emLisboa, em 1998. O P. Filipe era oDirector do jornal A CARAVANA.

O P. Filipe que há quatro anoscompletara 50 anos de sacerdócio,era o Fundador e Presidente da Fun-dação D. Manuel Mendes da

Conceição Santos (santo Arcebis-po de Évora que o havia ordenado)e da Liga dos Amigos da mesmaFundação. A Fundação dispõe ac-tualmente de dois Lares e um Cen-tro Infantil em Évora, de um Centropara Acolhimento de Mulheres Mal-tratadas e Mães Solteiras e de umCentro para formação de jovens,ambos em fase de projecto, emElvas, de uma Residência Familiare de um Lar (este projectado) emFátima e de um Lar Familiar —Casa de Oração em Reguengos deMonsaraz.

O P. Filipe foi o Fundador e erao Assistente espiritual: dos Missio-nários de Cristo Sacerdote, Asso-ciação dedicada à espiritualidade eà oração pelas vocações sacerdotaise pelos sacerdotes; dos Missioná-rios de Cristo Bom Pastor, Asso-ciação com a mesma finalidade daanterior, composta por sacerdotes edos Jovens em Acção Apostólicada Imaculada em Ordem ao Ano2000 (JAAI 2000).

O P. Filipe foi o Fundador e erao Assistente espiritual da Associa-ção FRATERNITAS Movimento,constituída por Padres dispensadosdo exercício do Ministério e pelassuas esposas.

Além de Membro do Cabido daArquidiocese de Évora, o P. Filipefoi Pároco de São Brás, em Évora eera o Director do Centro Social deS. Paulo e do Jornal de S. Brás.

Na Arquidiocese de Évora, o P.Filipe tinha sido Fundador e Direc-tor da Obra das Vocações Sacerdo-tais, Director dos Cursos de Cristan-dade, Director espiritual do Semi-nário Maior, Professor de Antropo-logia Cultural e Evangelização no

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