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espiral Nº 20 - Julho / Setembro de 2005 boletim da associação FRATERNITAS MOVIMENTO Esperado com uma certa ansiedade por muitos, desejado por todos, nem sempre o sabemos aproveitar em todas as suas potencialidades. Corremos o sério risco de chegar ao fim e nos encontrarmos tanto ou mais vazios do que quando as começámos. E pos-sivelmente nem sequer nos encontraremos mais repousados, mais libertos, mais reforçados, mais disponíveis para um novo ano de trabalho. E porquê? Claro que não há receitas mágicas nem pro-gramas infalíveis. O que nos falta sobretudo é profun-didade naquilo que fazemos, e as férias são um bom teste para a nossa capacidade interior. Senão vejamos. E ou não verdade que durante o ano nos falta tempo pa-ra conviver, para nos extasiarmos com tanta coisa bela que a natureza nos oferece, para termos conversas inte-ressantes com gente interessante, para lermos livros que nos ajudam a reflectir ou simplesmente nos descansam, para fruir da vida familiar e de amizade, e para conversar calmamente com Deus? Então nas férias, porque não nos organizamos um pouco para desfrutar disso tudo com serenidade? Alguém pode estar a ler estas palavras e pensar que não passam de lugares comuns, e que nada têm a ver com a nossa mais profunda realidade de membros da Fraternitas. Se assim for, estamos ambos a perder o nosso tempo: eu a escrever e vós a ler. Não é justo, e por isso gostaria que encarásseis apenas esta minha reflexão como uma partilha fraterna daquilo que a mim próprio me faz pensar neste momento. Claro que não somos diferentes dos outros, quaisquer que eles sejam, mas há na nossa história de vida alguma coisa de específico que não podemos ignorar. Como casais cristãos com um passado muito concreto, há valores de cultura, espiritualidade e visão da vida e do mundo que temos uma obrigação imperiosa de pôr em comum com muitos que nos vão rodear neste período de férias. E seria uma pena que não o fizéssemos, como seria uma pena ainda maior que não nos procurássemos enriquecer com as vivências daqueles com quem tivermos oportunidade de conviver. Quantas e quantas vezes as conversas em que participamos podem ter um rumo TEMPO DE FÉRIAS CURSO FRATERNITAS Fátima, 11 a 13 de Novembro de 2005 Tema: QUE PROCURAMOS EM IGREJA? Orientador: Doutor JOÃO DUQUE (UCP, BRAGA) Inscrições: Secretariado da Fraternitas Sumário: Novos Sócios | Breves... | Quotas 2 Padres casados com fé na abolição do celibato 3 Aquela ponte! | Grito 4 XII Encontro Nacional da Associação Fraternitas 5 Habemus papam? 6 Cartas... | Ecos do Espiral 7 Dentro da Igreja!... E fora da Igreja?!... 8 (continua na pág. 2)

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espiralNº 20 - Julho / Setembro de 2005

boletim da associação FRATERNITAS MOVIMENTO

Esperado com uma certa ansiedade por muitos, desejado portodos, nem sempre o sabemos aproveitar em todas as suaspotencialidades. Corremos o sério risco de chegar ao fim enos encontrarmos tanto ou mais vazios do que quando ascomeçámos. E pos-sivelmente nem sequer nos encontraremosmais repousados, mais libertos, mais reforçados, maisdisponíveis para um novo ano de trabalho.

E porquê? Claro que não há receitas mágicas nem pro-gramasinfalíveis. O que nos falta sobretudo é profun-didade naquiloque fazemos, e as férias são um bom teste para a nossacapacidade interior. Senão vejamos.

E ou não verdade que durante o ano nos falta tempo pa-raconviver, para nos extasiarmos com tanta coisa bela que anatureza nos oferece, para termos conversas inte-ressantescom gente interessante, para lermos livros que nos ajudam areflectir ou simplesmente nos descansam, para fruir da vidafamiliar e de amizade, e para conversar calmamente comDeus? Então nas férias, porque não nos organizamos um poucopara desfrutar disso tudo com serenidade?

Alguém pode estar a ler estas palavras e pensar que não passamde lugares comuns, e que nada têm a ver com a nossa mais

profunda realidade de membros da Fraternitas. Se assim for,estamos ambos a perder o nosso tempo: eu a escrever e vós aler. Não é justo, e por isso gostaria que encarásseis apenasesta minha reflexão como uma partilha fraterna daquilo que amim próprio me faz pensar neste momento.

Claro que não somos diferentes dos outros, quaisquer que elessejam, mas há na nossa história de vida alguma coisa deespecífico que não podemos ignorar. Como casais cristãoscom um passado muito concreto, há valores de cultura,espiritualidade e visão da vida e do mundo que temos umaobrigação imperiosa de pôr em comum com muitos que nosvão rodear neste período de férias. E seria uma pena que nãoo fizéssemos, como seria uma pena ainda maior que não nosprocurássemos enriquecer com as vivências daqueles comquem tivermos oportunidade de conviver. Quantas e quantasvezes as conversas em que participamos podem ter um rumo

TEMPO DE FÉRIAS

CURSO FRATERNITAS

Fátima, 11 a 13 de Novembro de 2005

Tema: QUE PROCURAMOS EM IGREJA?

Orientador: Doutor JOÃO DUQUE (UCP, BRAGA)

Inscrições: Secretariado da Fraternitas

Sumário:

Novos Sócios | Breves... | Quotas 2

Padres casados com fé na abolição do celibato 3

Aquela ponte! | Grito 4

XII Encontro Nacional da Associação Fraternitas 5

Habemus papam? 6

Cartas... | Ecos do Espiral 7

Dentro da Igreja!... E fora da Igreja?!... 8

(continua na pág. 2)

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de seriedade e reflexão que as torne diferentes do mero bate-papo sem interesse. E pode estar nas nossas mãos fazê-lastomar rumos mais positivos, discre-tamente, naturalmente esem qualquer presunção. Aqui-lo que estudámos, reflectimos,lemos, orámos, rejubi-lámos ou sofremos, pode perfeitamentedar aos nossos contactos de férias uma dimensão mais rica epositiva, sem beliscar sequer o ambiente descontraído e serenodeste tempo mais livre de formalidades e normas que o restodo ano. Porque não experimentar?

Metidos na vida profissional “stressante” e citadina, a maiorparte do tempo nem podemos sequer ver a natureza tão diversae bela que nos rodeia. Porque não aproveitar estas semanasespeciais para nos delei-tarmos com ela, para descobrirmosnovas maravilhas, com um olhar e um coração queprovavelmente perdemos desde a nossa extasiada mas jálongínqua infância?

Pressionados por horários, compromissos e afazeres, duranteo ano nem temos tempo para orar com paz e frontalidade faceao nosso Deus, sempre desejoso de conversar connosco. Eagora que estamos menos espartilhados por horários rígidos emassacrantes, porque não entabular um diálogo, olhos nosolhos com Ele, e fazermos em nós aquele tão raro silêncio que

deve dar espaço para O podermos escutar serena-mente?Porque não entrarmos com recolhimento e devo-ção nesteimenso templo Seu, que é a natureza que nos rodeia, espanta,serena ou interpela, de coração aberto e olhos límpidos, e nossentirmos parte integrante deste mundo espantoso em que Elenos faz viver, sentindo que na nossa pequenez somos tambémcom Ele formadores do Reino que há-de vir, mas que já é?

Um livro, uma música, um encontro, uma conversa, um afecto,tudo podem ser momentos de oração e contem-plação quenos deixarão mais cheios e fortes, prontos para enfrentar novastarefas e comprometimentos no ano que depois disto vaicomeçar. Mas procuremos não viver tudo isto sozinhos, talvezcomo em tempos passados da nossa história de solidão. Agoraque somos casal (e neste momento não posso deixar de pensarnaqueles e naquelas que este ano perderam a presença físicado seu cônjuge… mas que o sentirão presente doutra for-ma…),temos a possibilidade e o dever, a alegria e o prazer de viveristo em conjunto, com a Mulher, com o Marido, com os Filhos,uma mais-valia que é um dom inestimável que tantas vezesnão sabemos apreciar devidamente!

Boas Férias para todos e até ao nosso regresso. Deus fiqueconnosco, e nós O saibamos sentir em cada momento!

Vasco Fernandes

Tempo de Férias(continuação da pág. 1)

b r e v e s . . .

l NETOS (a):O Carlos Leonel, da Direcção, e a Ma-ria Guilhermina estão muito gratos aDeus pelo dom de mais uma netinha.Felicidades.

l NETOS (b):Também o Luís e Eduarda Cunha, nos-sa Secretária, estão naturalmente mui-to felizes e babados pelo nascimentoda Mafalda.Vida longa e venturosa .

l PRÉMIOINTERNACIONAL:

O Alberto Videira, autor do nossologótipo, obteve o 2º Prémio Inter-nacional de Arte em Pequim, China.Muitos Parabéns!

Novos Sócios da FRATERNITAS

Nº 104 -ANTÓNIO JÚLIO SAMPAIO VERÍSSIMO e DILCARINA RODRIGUES

VERÍSSIMO

Nº 105 -FERNANDO JORGE FÉLIX FERREIRA e MARIA JOSÉ BIJÓIAS MENDONÇA

QUOTASAgradecemos o favor deserem pagas as quotaspara o nosso Movimento.

A única fonte de receitasão os nossos contributose, quando faltam, otesoureiro vê-se emapertos...

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Religião. O celibato é uma dasprincipais razões que levam os padres apedirem dispensa do exercício doministério. A Fraternitas é umaassociação composta por cerca de cempadres que abandonaram osacerdócio para constituíremfamília.

Vasco Fernandes foi padre jesuítadurante 22 anos. Hoje é presidente daAssociação Fraternitas, uma entidade depadres dispensados do exercício doministério. Depois de ter sido missionárioem África, padre/operário em Paris eprofessor em colégios, sentiunecessidade de mudar o rumo da suavida: a solidão e falta de afectividadeeram difíceis de suportar. Enviou opedido de dispensa para o Vaticanoalegando motivos de ordem pessoal. Aresposta foi rápida. Um ano e meiodepois estava casado. Hoje tem 70 anos,dois filhos e afirma sentir-se realizado.

Como Vasco Fernandes outros padressentiram a necessidade de ponderar asua decisão. Com nove anos deexistência a Fraternitas conta com cemmembros e é reconhecida pelaConferência Episcopal.

O facto de alguns padres abandonaremo sacerdócio para constituírem famíliaestá normalmente associado à ideia dechoque com a Igreja, mas nem sempreé assim. “A Fraternitas não te um papelcontestatário” revela o presidente aoDestak e sublinha “somos Igreja”. Osobjectivos do organismo são ajudarespiritualmente os seus membros,proporcionando-lhes um espaço de

Padres casadoscom fé na abolição do celibato*

encontro, “onde se possam sentircompreendidos e encorajados”, lê-se nosite da associação.Sem ter saudades daquilo que foi, VascoFernandes diz que “desempenhou opapel de padre com toda a sinceridade”.Mudar de vida foi uma tarefa facilitadapelo apoio familiar, todavia não escondeum sorriso perante a perspectiva deexercer novamente o sacerdócio, casofosse possível. A questão do celibato é,sem dúvida, um ponto sensível para ospadres dispensados. Vasco Fernandes

considera o “celibato belo e um óptimotestemunho de Deus”. Para o antigopadre “trata-se de uma questão disci-plinar da Igreja, e não teológica e de fé”e como tal, “a sua obrigatoriedade deviaser repensada”.

Com a mudança na liderança da Igreja,a questão volta a estar na ordem do dia.O Presidente da Fraternitas não temdúvidas de que “é muito cedo para prevercomo vai ser o papado de Bento XVI”,ainda assim mostrou esperança em queas coisas evoluam nesta matéria. “Estouexpectante e não acho impossível umrumo diferente do actual”, disse.

* SANDRA [email protected]

Contra.

“O celibato tem de ser urgentementebanido como lei obrigatória, porque éum atentado aos direitos humanos” Aopinião é do Padre Manuel Vilas Boasque considera que a sua abolição“aumentaria a saúde psicológica dossacerdotes”. O Padre considera aFraternitas “uma associação de boavontade, mas que não resolve osproblemas” e acredita que estes padresvoltariam ao sacerdócio se a Igreja opermitisse. “A Igreja mostra-seprepotente ao não aceitar o trabalho depadres preparados, que se mantêmquietos, mudos e surdos”, acusa.Relativamente à posição do SumoPontífice em relação à questão, VilasBoas diz que “Bento XVI não temcapacidade para fazer uma alteraçãoda lei” e sustenta que “só um Papa do3º Mundo o poderá fazer”.

CELIBATO – A OPINIÃO DA IGREJA

A Favor.

Para o padre José Cardoso “celibato éum dom de Deus, tal como ocasamento”. Encara a sua opção comnaturalidade, visto que foi fruto de umgrande período de reflexão ediscernimento. “Foi uma opçãopessoal, sinto-me feliz, não me imaginocasado”, explica ao Destak. Oeclesiástico não vê o celibato como um“dogma”, explica ao Destak,relembrando que os padres não sãocelibatários desde o início, ainda assimnão acredita numa mudança nalegislação quanto a este ponto. “Trata--se de uma questão mediática, masdentro da Igreja não é um problema”,reflecte e acrescenta que “acabar como celibato não traz mais vocações nemo fim dos escândalos sexuais queenvolvem membros da Igreja porqueessas questões são problemas deformação”.

* (textos retirados do jornal diário de distribuição gratuita Destak)

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E já lá vão quatro anos. Memória?

Saudade? A velha Ponte de Entre-os-

-Rios, Hintze Ribeiro, soçobrou às

cheias, às tormentosas correntes, aos

maus tratos de longos anos… Rebentou

de velhinha! Não aguentou a passagem

de um autocarro…

Era uma vez a Ponte!...

A velha Ponte, já mostrava sinais

de cansaço. Os homens, os responsáveis,

os homens sérios deste país e da nossa

região olhavam e não viam. Não viam

os sinais de fraqueza? Ou não queriam

ver? E quando se associam os “media”

então é que os homens ficam desnor-

teados, cegos… “Os homens só vêem

na medida dos seus interesses…” Este

problema é grave! Os homens impor-

tantes, circunspectos… só olham coisas

importantes. E não olharam a Ponte!

Serviam-se constantemente dela,

argumentavam nas suas vastas e eruditas

A q u e l a P o n t e !(No aniversário da queda da Ponte Hintz Ribeiro, em Entre-os-Rios)

razões, com as suas vastas e profundas

ideias de homens importantes e não viam

os sinais de velhice que a velha e cente-

nária Ponte não escondia: o piso, o supor-

te, os pilares, a ferrugem, os buracos, o

leito do rio, a extracção das areias, a

responsabilidade irresponsável dos que

deviam e tinham responsabilidade pela

conservação e responsavelmente de-

viam zelar pelo seu bom estado de

ponte…

Depois… conclusão douta dos mais

entendidos na matéria: causas naturais.

Pois… porque não? Se a água corre para

níveis mais baixos… se é Inverno… se

a torrente é tumultuosa… se a lei da

gravidade é real… se o poder erosivo

das águas é evidente… se o autocarro

escolhesse outra hora de passagem…

se os interesses fossem outros… se se

cuidasse das coisas públicas com

cuidado e carinho… se quem tem o dever

de zelar, zelasse… se se pudesse mudar

a história… oh! hoje, felizes,

celebraríamos mais um aniversário da

velha Ponte Hintze Ribeiro.

Como o “se” é condição, neste

caso irredutível… não podemos mudar

o curso à história. Lamentar é a solução

dos fracos. E não estamos sós! …

Preferia prevenção, responsabilidade

assumida de quem governa e de quem

julga … e muitas graças daríamos a

Deus que nos tinha enviado homens

sábios, capazes de dar o progresso

merecido a esta tão martirizada terra!

J. Soares

Quantas vezes vou desesperando!...

Lembro então a palavra de Amor

que em minh’alma rebrilha e cintila,

em apelo p’ra Ti, meu Senhor.

Essa estrela é Luz e é Fé

que ao meu peito aquece e se inflama,

em torrentes de Luz e Esp’rança:

quem confia e espera é porque ama.

Quanto mais cintilante essa Luz

no recôndito brilha e aquece,

o meu todo oscila, estremece,

e, na noite, Te grita, Jesus,

bem ardente e sentida esta prece:

“Só o Teu Sol no meu ’scuro reluz!”

A. de Oliveira MarinhoElvas, 03.09.2004

G R I T O

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De 22 a 25 de Abril de 2005 teve lugarem Fátima, na Casa de N.ª Sr.ª do Carmo,o XII Encontro Nacional da AssociaçãoFraternitas Movimento com a presençade oitenta participantes.

Do programa constava uma parteformativa – que tem sido uma constanteem todas as reuniões deste género – e areunião da Assembleia Geral daFraternitas para o cumprimento dasexigências estatutárias e para procederà eleição dos corpos gerentes daassociação para o próximo triénio.

A parte formativa, que percorreu todo oencontro e foi orientada pelo sócio Arturda Cunha Oliveira, tinha como tema “S.Mateus — o Evangelista do Ano A”.Baseado num livro de sua autoria comeste título, o Artur, para além de desen-volver os assuntos a tratar, organizoutópicos específicos para o trabalho degrupos, moderou criticamente as conclu-sões dos grupos, respondeu a questões,esclareceu dúvidas, tirou conclusões.

Na tarde de domingo, dia 24, reuniu aAssembleia Geral para tratar os váriospontos da agenda. Começou pelaapreciação e votação do relatório econtas relativos ao ano de 2004, do planode actividades para 2005 e da corres-pondente previsão orçamental, docu-mentos que foram aprovados por unani-midade. Aprovou também uma propostade aumento da quota anual, bem comoum donativo de •500 à Fundação CónegoFilipe de Figueiredo, de Estarreja, comohomenagem ao nosso fundador eassistente.Por último, procedeu-se à eleição doscorpos gerentes da Fraternitas para opróximo triénio. Como resultado, osnovos titulares são os seguintes:

e c o s d o . . .

Mangas arregaçadas, pose desportiva... Parecem de férias, mas não! Estão aqui é para trabalhar! São o rostoda Fraternitas: a nossa Direcção eleita para este triénio.

. . . xii encontro nacional da associação fraternitas movimento

Logo após a eleição destes titulares, tevelugar a cerimónia da tomada de possedos respectivos cargos, posse que lhesfoi conferida pelo Presidente daAssembleia Geral cessante.No seu conjunto, este encontro foi umajornada de muitas horas, com longos eagradáveis momentos de estudo,

momentos de oração, celebraçãoeucarística pelo P. João Caniço emomento de arte e cultura pelo colegaFrancisco Fanhais. Todo o encontro foium saudável convívio entre todos.Também não foram esquecidos osausentes nem aqueles que Deus jáchamou para Si.

DirecçãoPresidente – Vasco Jorge Santos Fernandes (Porto)Vice-presidente – Carlos Leonel Pereira dos Santos (Lisboa)Secretária – Eduarda Garcia de Oliveira e Cunha (Viseu)Tesoureiro – Serafim Rodrigues (Cinfães)Vogal – Salomão Duarte Morgado (Porto)

Mesa da Assembleia GeralPresidente –Jacinto de Sousa Gil (Leiria)Secretário – Manuel Batista Calçada Pombal (Viana do Castelo)Vogal – Alípio Martins Afonso (Chaves)

Conselho FiscalPresidente –José Serafim Alves de Sousa (Lisboa)Secretária – Cibele da Silva Carvalho Sampaio (Chaves)Relator – Luís da Luz e Cunha (Viseu)

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Não, com Bento XVI, quemassumiu o leme da Igreja não foiseguramente alguém que pudesse ser um“Pai” para os padres casados e suasmulheres. Com maioria de razão sob asua direcção nada mudará no querespeita à obrigatoriedade do celibato.Seria, aliás, ingénuo lamentar, pura esimplesmente por este motivo, a decisãopessoal do conclave: com qualquer outrocandidato seria exactamente a mesmacoisa.

É, no entanto, fundamental ser-secauteloso nos prognósticos sobre asconsequências desta eleição papal.Compreensívelmente os comentadorespartem da actuação de Ratzingerenquanto prefeito da Congregação paraa Doutrina da Fé. Neste cargo era tarefasua intervir contra desvios (factuais ousupostos) da doutrina da fé católica; osistema está totalmente orientado para adefesa.

sabilidades e (talvez ao contrário do seuantecessor) também humilde, ele assu-miu com extrema seriedade este deverde defesa contra desenvolvimentos que,a seu ver, contenham algo de perigoso.Ainda na homilia da eucaristia deabertura do conclave foi central a adver-tência contra o “individualismo” que eleequipara ao egoísmo.

H a b e m u s P a p a m ?docente foi ele. Portanto, é lícita algumaansiedade por saber se e de que modoesta faceta do seu carácter vai sobressairnesta sua nova função.

Neste contexto seria interessante eimportante lançar um olhar rectros-pectivo não só para o Ratzinger prefeitoda Congregação para a Doutrina da Fé,mas também para o anteriormente bispode München und Freising. De qualquermaneira não se conhecem desse temponenhumas medidas restritivas sensacio-nais do género das que, na Alemanha dehoje, são habituais para alguns bispos denomeação de João Paulo II.

Já por força da sua idade, BentoXVI será um papa de transição;provavelmente foi o que pensaram osseus eleitores. Justamente neste últimoquarto de século João Paulo II permitia,se não mesmo forçava, que, napercepção pública, a Igreja se identi-ficasse cada vez mais com a persona-lidade do papa. Disso ela tem de come-çar por se refazer. O que é que está pro-priamente contra a que nesta situação opapa Bento XVI tenha sido a escolhacerta?

Ernst Sillmann,

presidente da VkPF

(associação alemã dos padres

católicos casados e suas esposas).

21 Abril 2005.

[origem: http://www.nwn.de/vkpf/

aktuelles.htm]

Como papa, ele já não se podelimitar a uma atitude de escrupulosa econstante prontidão defensiva. Aliás, elanão corresponde ao seu perfil intelectual.As suas aulas em Tübingen tinham umestilo totalmente diferente. Se houve umdocente de teologia que soubessetransmitir não só conhecimentos sobre afé, mas também alegria na fé, esse

Seria, aliás, ingénuolamentar, pura esimplesmente poreste motivo, adecisão pessoal doconclave: comqualquer outrocandidato seriaexactamente amesma coisa.

Porque Ratzinger é um servidor dasua Igreja consciente das suas respon-

Se houve um docentede teologia quesoubesse transmitirnão sóconhecimentos sobrea fé, mas tambémalegria na fé, essedocente foi ele.Portanto, é lícitaalguma ansiedadepor saber se e de quemodo esta faceta doseu carácter vaisobressair nesta suanova função.

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“Recebi os dois números de Espiral quemuito agradeço. Permite-me contactarcom uma realidade viva da nossa Igrejae acompanhar os caminhos daAssociação com fraterna estima e atentaoração.”

Carlos Azevedo

C a r t a s . . .

Quando recebo o “Espiral” , não otrato como mais uma publicação à esperade tempo para a ler. Leio-o imedia-tamente, como carta de um amigo ouamigos, e logo destes, de vós!... [...]

A escritura diz (mais ou menos) que“o homem de Deus tira, do seu tesouro,coisas novas e velhas...”. Foi o que fez oSimão. [...] Conheço-o bem e sei quenão perde “pitada” para fazer um actode Fé: “Deus anda por aí”! [...]

Algumas das suas afirmações [doJoão Simão] poderão servir para uma

reflexão dialéctica entre o nossoMovimento e a Igreja (nas suasestruturas), sobretudo, no seu caminhar.Entretanto, eu continuo, em acto de Fé,a afirmar: “Creio na Igreja, Una, Santa,Católica, Apostólica e Romana”. [...]

Estas “cartas”/Espiral são semprebem-vindas. Mas, não poderiam ter sidoenviadas mais cedo? Desculpa, Osório!

Parabéns aos irmãos, autores eeditores — e não são poucos —, pelaqualidade e oportunidade dos temas! [...]

Vê-se que o Espírito Santo estáconnosco!

J. Silva Pinto

N. E.: Esta carta, assaz longa, do nossoamigo e companheiro Silva Pinto, jáhá bastante tempo que estava em nossopoder, esperando oportunidade(= espaço) para ser publicada. Comosimpaticamente nos autorizou a fazer“cortes”, partilhamo-la agora comtodos.

e c o s d o . . .

. . . espiral“Venho agradecer-lhe o “Espiral” que lide fio a pavio como sempre. Convenço--me que nada lhe vai faltar paracontinuar no mesmo ritmo. Que o nossoDeus os abençoe e que o vosso e nossodesejo se tornem quanto antes numaatitude da mãe Igreja.”

Manuel Martins

“...a agradecer mais um número deEspiral e a solidarizar-me, na comunhãode Igreja, com o que o Vasco tãorectamente sublinhou no Editorial. Sócom Comunhão e Amor do Evangelho,e com as pessoas concretas do nossodia-a-dia, é possível dar “razões deEsperança” É necessário escrever, com-prometendo-nos com este serviço deHonra! Desejo a todos a prossecuçãofeliz duma caminhada-movimento ondea fraternidade é sinal e fascínio. Não hámelhor carta de apresentação!”

Januário Torgal Ferreira

“Agradeço ao novo presidente deFraternitas o envio do Boletim, com vo-tos de que continue a ser um bominstrumento de ligação e formação.”

Manuel Falcão

“... Agradeço a oferta do Boletim efelicito-o [Vasco] pela confiançadepositada na sua pessoa pelos membrosda Associação, e faço votos para quepossa ajudar todos a encontrar o seulugar na Igreja, como membros de plenodireito, sempre prontos para o serviçoaos irmãos.”

António Vitalino

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ou contar-vos hoje uma pequena história deMaurice Bellet:

Houve uma vez um grandeCongresso de musicólogos. Por isso o tema era a música. Osparticipantes foram tão numerosos quanto eminentes. Houvediscursos até fartar, colóquios subtis, mesas-redondas,conferências de imprensa, resmas de papéis policopiados, eaté textos impressos.

No conjunto o Congresso foi um êxito! Só parece terdestoado um pequeno incidente: No decurso de uma sessãoplenária, alguém começou a tocar flauta! Tentou-se fazê-locompreender que devia acabar imediatamente com esse sominoportuno. Mas, inconsciente ou cínico, ele não entendeu.Foi preciso fazê-lo sair. Porque as coisas são o que são: nãoconvém que a música perturbe algo de tão sério como amusicologia!...

É a história da incoerência e da contradição. Vou aplicá--la à nossa vida concreta.

Imagino-me numa igreja. Ressoa, pelos venerandosespaços, uma límpida cascata de vozes convictas, ritmadas,possuídas da alma das palavras. A oração é simples, como ésimples o diálogo com Deus: É o «Pai Nosso». E o eco dasvozes da assembleia esvoaça, de mansinho, pelo vasto templo:«Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos aquem nos tem ofendido»... Depois vem o abraço da paz, quepretende ser símbolo da nossa união com Deus e com osoutros. Há um misto de silêncio e de festa, em sorrisos, aciciar um desejo: «A paz de Cristo esteja contigo». Tudoparece um claro compromisso!...

Mas chega o momento de sair da igreja e entrar noconcreto da vida. Aí começa a contradição! Agora já o coro édiferente! No congresso de música não se devia tocar flauta,como na vida já parece não se dever ser cristão. Quantos denós teremos a coragem de repetir, em gestos concretos, nonosso dia-a-dia, o que expressamos em palavras, dentro daigreja?!... Será que o cristianismo não passa de palavrasbonitas, entaipadas dentro dos templos?!

Estou a falar do perdão. Entrosados numa cruel «lei deTalião» que nos comanda desde a família até à profissão e àpolítica, falta-nos a coragem de viver uma das evidênciasmais incontestadas do Evangelho, como é o perdão! Podemdizer-me que se insiste exageradamente nesta falta decoerência entre o que se diz e o que se faz. Mas tem mesmoque se insistir. É esta incoerência que provoca as maioresdesilusões na vida de quem procura a felicidade. Quando nãohá um ponto de referência na vida, cai-se na satânica confusãode não se saber já o que se quer. E a infelicidade é isso: nãosabermos o que queremos, e matarmo-nos por o conseguir! Éluta de náufragos!... Ora vejam:

Jesus estava, um dia, em casa do fariseu Simão, que Oconvidara para um jantar. Entrou na sala uma pecadora, quetodos conheciam... Pesado como chumbo, caiu um silêncio,quase tétrico, naquela sala! Era uma mulher e, ainda por cima,pecadora! Para os homens daquele tempo (e para os dehoje?!...) era inadmissível tal atrevimento!... Mas ela avançou,corajosa, sem pedir licença a ninguém! Atravessou a sala efoi cair de joelhos aos pés de Jesus! Não disse nada. Nãopediu nada, porque aquele gesto, na sua mudez, dizia tudo! Osolhares esquivos dos presentes rezaram-lhe a sentençacondenatória! Quantos, que agora a condenavam, a tinhamprocurado, aumentando-lhe o fardo dos seus pecados?!...Sentiam-se incomodados ali!...

O homem nunca é tão grande como quando se ajoelhadiante de Deus! E aquela mulher tornou-se tão grande queesmagou todos os presentes com a sua coragem. Todos não!...Jesus falou e acolheu essa mulher, oferecendo-lhe o perdãoque só ela entendeu. Para os restantes não passou de umexotismo sem sentido nem etiqueta.

Os discursos, as palavras, que hoje pronunciam tantosque não as vivem, também as sabiam os presentes naquelejantar. Mas não haviam descoberto esse fio de música mágica,que era, afinal, o segredo da alegria e de humanidade. Essefio é o perdão.

Vamos a ver se, ao menos nós, que cantamos e rezamosem casa e na igreja, somos capazes deaprender a lição: «...Assim como nósperdoamos a quem nos tem ofendido»...

Vale a pena pensar nisto!... Para nãofazermos de palhaços idiotas!...

Manuel Paiva

DENTRO DA IGREJA !... E FORA DA IGREJA?!...

espiralRua Lourinha, 429 - Hab 2

4435-310 RIO TINTO

e-mail: [email protected]

boletim daassociação fraternitas movimento

Responsável: Alberto Osório de Castro

Nº 20 - Julº/Setº de 2005