Espiral 24

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espiral espiral espiral espiral espiral N.º 24 - Julho / Setembro de 2006 boletim da associação FRA FRA FRA FRA FRATERNIT TERNIT TERNIT TERNIT TERNITAS AS AS AS AS MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO ACONTECEU HÁ DEZ ANOS CONTECEU HÁ DEZ ANOS CONTECEU HÁ DEZ ANOS CONTECEU HÁ DEZ ANOS CONTECEU HÁ DEZ ANOS N ão me lembro bem... foi aí por Maio ou Junho de 1996. No correio recebido em minha casa, chegou uma carta deveras intrigante. Vinha de Évora, duma pessoa que eu não conhe- cia nem de nome... Cónego Filipe de Figueiredo! Perguntei à Isabel se ela conhecia, mas ela também nunca ouvira falar. Abrimos com curiosidade, e lemos um estranho convite: para um retiro nos fins de Julho, em Fátima, para «padres casados». Que estranho! Nem eu era conhecido em Évora, cidade que admiro desde há muitos anos e onde passámos várias vezes, até porque a Isabel tem lá uma amiga de longa data que de vez em quando visitamos. Mas aquele Cónego, como é que fora desencantar o meu nome e a morada correcta? Surpreendente, não era? E pela primeira vez, casados nós há mais de 20 anos com todas as autorizações de Roma, nunca ninguém nos tinha sequer falado de nenhuma actividade para pessoas nas nossas circunstâncias de vida. Sempre vivemos inseridos em Igreja, em pequenas comunidades cristãs muito vivas, e desde 1981 na Comunidade Cristã da Serra do Pilar (em Vila Nova de Gaia), onde tivemos participação activa e empenhada, mas simplesmente como cristãos conscientes e desejosos de viver o nosso Baptismo em profundidade. PEQUENO P PEQUENO P PEQUENO P PEQUENO P PEQUENO PASSO ASSO ASSO ASSO ASSO: O RETIRO : O RETIRO : O RETIRO : O RETIRO : O RETIRO Francamente, depois de conversarmos sobre aquele insólito convite, resolvemos os dois aceitar, mais por curiosidade até, sou muito franco. Escrevemos nesse sentido ao Cónego Filipe, e de facto no fim de Julho lá estávamos os dois em Fátima para o anunciado retiro. Éramos uma meia centena (não me recordo bem do número exacto). Fomos muito bem recebidos pelo Cónego Filipe. E o retiro foi orientado pelo Senhor Bispo de Leiria- Fátima, D. Serafim Ferreira e Silva. Sumário: Sumário: Sumário: Sumário: Sumário: Aconteceu há dez anos 1 Sinais dos Tempos 3 A pastoral dos Chiapas 4 Breves e correio 6 Casa do gaiato 7 Assim nasceu a democracia 8 Logo no primeiro serão, fomos convidados a apresentar-nos e contar resumidamente a nossa vida. Assim se foi fazendo, mas, como era evidente, logo que se começaram a ouvir os primeiros testemunhos, o tempo de um serão era manifestamente curto, e portanto no dia seguinte continuou-se a ronda de testemunhos de vida. D. Serafim teve uma lucidíssima visão do que de facto aquele grupo esperava deste retiro, e limitou-se a umas intervenções muito curtas, deixando-nos todo o tempo possível para falarmos com liberdade de tudo quanto nos ia na alma. Tudo isto entremeado com muita conversa informal nas refeições e nos tempos livres, e também com oração e Eucaristia, cada dia. No final, o Senhor Bispo convidou-nos a participar no domingo na Missa no Santuário, juntamente com os peregrinos, que são sempre muito numerosos em Julho. Nste retiro – para além de nos descobrirmos mutuamente e, até, reencontrar um antigo colega que não via há muitos anos e conhecer a sua mulher –, foi a oportunidade de descobrir aquele (Continua pág 2)

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espiralespiralespiralespiralespiralN.º 24 - Julho / Setembro de 2006

boletim da associação FRAFRAFRAFRAFRATERNITTERNITTERNITTERNITTERNITASASASASAS MOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTO

AAAAACONTECEU HÁ DEZ ANOSCONTECEU HÁ DEZ ANOSCONTECEU HÁ DEZ ANOSCONTECEU HÁ DEZ ANOSCONTECEU HÁ DEZ ANOS

Não me lembro bem... foi aí por Maio ouJunho de 1996. No correio recebido em

minha casa, chegou uma carta deveras intrigante.Vinha de Évora, duma pessoa que eu não conhe-cia nem de nome... Cónego Filipe de Figueiredo!Perguntei à Isabel se ela conhecia, mas ela tambémnunca ouvira falar. Abrimos com curiosidade, elemos um estranho convite: para um retiro nosfins de Julho, em Fátima, para «padres casados».

Que estranho! Nem eu era conhecido emÉvora, cidade que admiro desde há muitos anos eonde passámos várias vezes, até porque a Isabeltem lá uma amiga de longa data que de vez emquando visitamos. Mas aquele Cónego, como éque fora desencantar o meu nome e a moradacorrecta? Surpreendente, não era? E pela primeiravez, casados nós há mais de 20 anos com todasas autorizações de Roma, nunca ninguém nostinha sequer falado de nenhuma actividade parapessoas nas nossas circunstâncias de vida. Semprevivemos inseridos em Igreja, em pequenascomunidades cristãs muito vivas, e desde 1981na Comunidade Cristã da Serra do Pilar (em VilaNova de Gaia), onde tivemos participação activae empenhada, mas simplesmente como cristãosconscientes e desejosos de viver o nosso Baptismoem profundidade.

PEQUENO PPEQUENO PPEQUENO PPEQUENO PPEQUENO PASSOASSOASSOASSOASSO: O RETIRO: O RETIRO: O RETIRO: O RETIRO: O RETIROFrancamente, depois de conversarmos sobre

aquele insólito convite, resolvemos os dois aceitar,mais por curiosidade até, sou muito franco.Escrevemos nesse sentido ao Cónego Filipe, e defacto no fim de Julho lá estávamos os dois emFátima para o anunciado retiro. Éramos uma meiacentena (não me recordo bem do número exacto).Fomos muito bem recebidos pelo Cónego Filipe.E o retiro foi orientado pelo Senhor Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira e Silva.

Sumár io :Sumár io :Sumár io :Sumár io :Sumár io :

Aconteceu há dez anos 1

Sinais dos Tempos 3

A pastoral dos Chiapas 4

Breves e correio 6

Casa do gaiato 7

Assim nasceu a democracia 8

Logo no primeiro serão, fomos convidados aapresentar-nos e contar resumidamente a nossavida. Assim se foi fazendo, mas, como era evidente,logo que se começaram a ouvir os primeirostestemunhos, o tempo de um serão eramanifestamente curto, e portanto no dia seguintecontinuou-se a ronda de testemunhos de vida.

D. Serafim teve uma lucidíssima visão do quede facto aquele grupo esperava deste retiro, elimitou-se a umas intervenções muito curtas,deixando-nos todo o tempo possível para falarmoscom liberdade de tudo quanto nos ia na alma.Tudo isto entremeado com muita conversa informalnas refeições e nos tempos livres, e também comoração e Eucaristia, cada dia. No final, o SenhorBispo convidou-nos a participar no domingo naMissa no Santuário, juntamente com os peregrinos,que são sempre muito numerosos em Julho.

Nste retiro – para além de nos descobrirmosmutuamente e, até, reencontrar um antigo colegaque não via há muitos anos e conhecer a suamulher –, foi a oportunidade de descobrir aquele

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espantoso Padre, um verdadeiro santo e umhomem com preocupações profundas pelosoutros, uma pessoa duma simpatia e afectividadeenormes, um verdadeiro «Homem de Deus», quenos haveria de marcar profundamente até à suarecente e repentina morte, mas que tivera umaintuição talvez única no mundo: casais como nóspodem sair enriquecidos do contacto mútuo efortalecidos na sua fé e na sua vida eclesial, epodem fazer uma caminhada de mãos dadas quesó poderá ser boa para eles e para a Igreja.

Claro que nos primeiros encontros (retiros, comose intitulou o primeiro, mas em que o contacto e aconversa eram fundamentais), foimuito forte o tempo dado aos«desabafos» – como poderemoschamar aos relatos de cada um doscasais participantes –, uma vez queem cada encontro apareciam carasnovas. Este tempo de partilha foifundamental sobretudo paraaqueles cuja caminhada fora maispenosa, por incompreensão dasociedade, nalguns casos daprópria família, e noutros dasestruturas eclesiais em que seprocuravam inserir, para se sentiremmenos sós, verem quantos tinham passado porvivências muito semelhantes e, sobretudo, paraencontrarem força para caminhar em frente comrenovado ânimo e coragem.

GRANDE PGRANDE PGRANDE PGRANDE PGRANDE PASSOASSOASSOASSOASSO: MO: MO: MO: MO: MOVIMENTVIMENTVIMENTVIMENTVIMENTOOOOOA partir do 3º encontro, que por circunstâncias

de data (semana da Páscoa) foi menosparticipado, e sob a orientação do então Bispo deBeja, D. Manuel Falcão, pareceu-nos, ao grupode 30 que lá nos encontrávamos, que chegara ahora de pensar em nos constituirmos comoMovimento. Logo à partida, excluímos a hipótesede sermos apenas uma «pia» associação, porquenão queríamos ficar parados, apenas com aconsolação de estarmos juntos. Quisemos serMovimento, precisamente para fazer umacaminhada de mãos dadas, fraternalmente.Apenas por uma questão meramente legal deregisto de pessoa colectiva, foi necessário queficasse «Associação Fraternitas Movimento». E foino amadurecimento desta ideia que o nosso colegaAlberto Videira d’Assumpção, pintor de renomenacional e internacional, se ofereceu para fazer ologotipo, tendo nós chegado a um acordo de que

o nome que escolheríamos seria FRATERNITAS,significando o espírito de fraternidade que nos uniae que seria a nossa grande força: fraternidade entrenós e com todos os cristãos nosso irmãos.

SINAIS IDENTIFICASINAIS IDENTIFICASINAIS IDENTIFICASINAIS IDENTIFICASINAIS IDENTIFICATIVTIVTIVTIVTIVOSOSOSOSOSIsso mesmo conseguiu o Alberto estilizar no

nosso logotipo, em espiral de pessoas que se dãoas mãos e caminham para Deus. Daí veio tambémo título do nosso Boletim, «Espiral», que outroAlberto, o Osório de Castro, começou a editaralgum tempo depois. Ficou também assente quese dariam os passos necessários para constituir

os Órgãos dirigentes doMovimento, primeiro umaComissão Instaladora, presididapelo Prof. Dr. João Simão, edepois de existirem os Estatutosdevidamente aprovados pelaAssembleia Geral, uma Direcçãoefectiva sob a mesma Presidênciaaté ao ano passado.

É da mais elementar justiçaque se diga que essas foram asduas grandes colunas do nossoMovimento, o Cónego Filipe deFigueiredo e o Prof. Dr. João

Simão! Sem eles, não seríamos o que somos nemteríamos começado a caminhada que agoraprosseguimos sem paragens. Aliás, essa tem sidouma das nossa grandes preocupações: a de andarsempre para a frente, com grande sentido deIgreja, e com constante preocupação de viver esteprograma de fraternidade entre todos,principalmente nos momentos mais críticos da vidade cada um: nas crises de saúde, de desemprego,de falecimentos, de desânimos, numa palavra, dedores e também de alegrias.

APROVAÇÃO ECLESIALAPROVAÇÃO ECLESIALAPROVAÇÃO ECLESIALAPROVAÇÃO ECLESIALAPROVAÇÃO ECLESIALEm Maio de 2000, a Conferência Episcopal

Portuguesa aprovou o nosso Movimento. Sentimo-nos extremamente confortados com esse facto,porque sempre foi nossa intenção mantermo-nos«em Igreja», mesmo quando possamos discordarou criticar alguma atitude que se nos afiguramenos evangélica da instituição à qualpertencemos e que dá sentido ao nosso ser cristão.

Muitos foram os Bispos, os Teólogos e osespecialistas que nos acompanharam e continuama acompanhar nesta nossa caminhada, e semprecom enorme compreensão e sintonia. Muitos

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Sinais dos tempos

Vasco FernandesVasco FernandesVasco FernandesVasco FernandesVasco Fernandes JosÉ silva pintoJosÉ silva pintoJosÉ silva pintoJosÉ silva pintoJosÉ silva pinto

foram os testemunhos quepudemos dar desta nossavivência, até nos meios decomunicação social, embora porvezes eles não tenham trans-mitido com fidelidade aquilo quesentimos e vivemos. Inúmeras asmanifestações de apoio, rece-bidas de todos os quadrantesdentro e fora do nosso país.Claro que também nos che-garam algumas vozes dis-cordantes, o que em nada nosassusta nem desanima. Sãoapenas sinal que estamos vivos,e é assim que queremoscontinuar, até quando e ondeDeus nos conduzir. É n’Ele queestá a nossa Força e a nossaEsperança. E confiamos que oCónego Filipe está a intercederpor nós junto do Pai e não nosdeixará nunca desanimar.

É justo salientar que este 10.ºaniversário que festejamos nãoé o da Fraternitas, mas sim doprimeiro e fundamental encontrode Julho de 1996, e foi aí quetudo começou. Não fora asolicitude e a lúcida visão doCónego Filipe, e este caminhonão houvera começado!

E como diz o poeta espanhol:“Caminhante, não há caminho!Faz-se caminho ao andar!”

E se, perto de Outubro,dedicássemos esta refle-

xão ao Papa João Paulo II – estemês era-lhe era tão querido, poisnele foi eleito e coroado Papa, há28 anos –, e, no seguimento, aBento XVI? Vamos relembraralgumas curiosidades, plenas dedoutrina actual.

Na festividade da ImaculadaConceição de 2005, o jornal«Abba» homenagiou o PapaJoão Paulo II, inaugurando umconjunto escultórico no coraçãode Madrid. Nele, aparece JoãoPaulo II junto a um pedestal, noqual está, de pé, a Virgem Maria.O local foi escolhido porque alio Papa reuniu-se com milharesde peregrinos e canonizou cincoespanhóis, em 03.05.2002. Éuma lição de fé e gratidão!...

Bento XVI, atento aos sinaisdos tempos e com o pensamentodo seu antecessor de que «oHomem é o caminho da Igreja»,e com a máxima de que «énecessário tornar divino o que éhumano e bom», abençoou, nodia acima indicado, a chama dosJogos Olímpicos de Inverno de2006, que se celebraram emTurim. O Papa afirmou, na Praçade S. Pedro: «Abençoo a tochaolímpica; que esta chamarecorde os valores da paz e dafraternidade, que constituem ofundamento verdadeiro dasolimpíadas».

Dando continuidade à tradi-ção dos seus antecessores,Bento XVI visitou, na véspera de«Reis» (05.01.06), o «Presépio»montado pelos varredores dacidade de Roma. Paulo VIinaugurou as visitas em 1974.João Paulo II venerou-o 24 vezes.

No Dia Mundial do Doente(12.02), Bento XVI afirmou nasua mensagem: «Asseguro-vosque cada prova acolhida com

resignação tem mérito e atrai abenevolência divina sobre toda aHumanidade»! Assim, relembrouo testemunho de João Paulo II.É a continuidade renovada…

APELAPELAPELAPELAPELOS DO MUNDOOS DO MUNDOOS DO MUNDOOS DO MUNDOOS DO MUNDOE se, com o aproximar do Dia

Mundial das Missões, ouvísse-mos os apelos que nos chegamdas terras de Missão?

Em Angola, médicos católi-cos e a associação «ÁfricaCuamm» desenvolvem grandesesforços, em colaboração como Governo, de apoio aos maispobres e no desenvolvimento –novo nome da paz (Paulo VI) –,do sistema de saúde. Há imensosriscos para a saúde e muitosmilhares de vítimas, provocadaspela cólera, tuberculose e sida.

Desde 2000, «ÁfricaCuamm» luta contra a tuberculo-se, nomeadamente nas provín-cias de Uíge e Luanda. Nacapital, há 26 centros detratamento e 14 laboratórios deanálises. Em 2005, houve16.026 casos positivos dos 35mil denunciados só naquelasduas províncias!

Em Moçambique, a cidade deMoma, a terceira do país, situa-se na costa. É uma das cidadesmais pobres, de um dos paísesmais indigentes do mundo! Osmédicos católicos reabilitaraminteiramente um hospital.Todavia, os medicamentos e osmédicos são poucos, e osfuncionários estão malpreparados…

Há tempos, constou-me queum dos Bispos Eméritosportugueses iria partir, comomissionário, para um país demissão… Que grande Fé! Esseouviu o Senhor: «Vinde para aMinha Messe»!

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A PASTORAL DOS CHIAPAS

página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento * [email protected] * página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento *

Na diocese indígena deNa diocese indígena deNa diocese indígena deNa diocese indígena deNa diocese indígena de

San Cristóbal de las Ca-San Cristóbal de las Ca-San Cristóbal de las Ca-San Cristóbal de las Ca-San Cristóbal de las Ca-

sas, província dossas, província dossas, província dossas, província dossas, província dos

Chiapas, no México, hou-Chiapas, no México, hou-Chiapas, no México, hou-Chiapas, no México, hou-Chiapas, no México, hou-

ve apenas oito ordena-ve apenas oito ordena-ve apenas oito ordena-ve apenas oito ordena-ve apenas oito ordena-

ções de sacerdotes nosções de sacerdotes nosções de sacerdotes nosções de sacerdotes nosções de sacerdotes nos

últimos quarenta anos.últimos quarenta anos.últimos quarenta anos.últimos quarenta anos.últimos quarenta anos.

Em contrapartida, noEm contrapartida, noEm contrapartida, noEm contrapartida, noEm contrapartida, no

mesmo espaço de tempomesmo espaço de tempomesmo espaço de tempomesmo espaço de tempomesmo espaço de tempo

entraram ao serviço 400entraram ao serviço 400entraram ao serviço 400entraram ao serviço 400entraram ao serviço 400

diáconos permanentesdiáconos permanentesdiáconos permanentesdiáconos permanentesdiáconos permanentes

casados. Roma teme quecasados. Roma teme quecasados. Roma teme quecasados. Roma teme quecasados. Roma teme que

uma tal situação tenhauma tal situação tenhauma tal situação tenhauma tal situação tenhauma tal situação tenha

como objectivo final acomo objectivo final acomo objectivo final acomo objectivo final acomo objectivo final a

entrada ao serviço deentrada ao serviço deentrada ao serviço deentrada ao serviço deentrada ao serviço de

padres casados. A fim depadres casados. A fim depadres casados. A fim depadres casados. A fim depadres casados. A fim de

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Roma decretou tambémRoma decretou tambémRoma decretou tambémRoma decretou tambémRoma decretou também

uma paragem na orde-uma paragem na orde-uma paragem na orde-uma paragem na orde-uma paragem na orde-

nação de diáconos. Pornação de diáconos. Pornação de diáconos. Pornação de diáconos. Pornação de diáconos. Por

tempo indeterminadotempo indeterminadotempo indeterminadotempo indeterminadotempo indeterminado.....

Por: Walter AxtmannPor: Walter AxtmannPor: Walter AxtmannPor: Walter AxtmannPor: Walter Axtmann(De Kirche In)(De Kirche In)(De Kirche In)(De Kirche In)(De Kirche In)

Tradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João Simão

Sob o título «O Vaticanonão confia nos indígenas»,

o diário mexicano liberal deesquerda «La Jornada» escreviaem 19 de Abril de 2006:«Enquanto a máquina mediáticaromana noticia em grandedestaque o primeiro ano do

papado de Bento XVI, apresen-tando um papa amável, mode-rado e discreto, a região indígenados Chiapas é vítima dumadecisão arbitrária do Vaticano acortar a possibilidade de ordenardiáconos permanentes, frustran-do, assim, um pedido do arcebis-po de San Cristóbal de lasCasas, Felipe Arizmendi».

O conflito entre o Vaticano ea diocese de San Cristóbal, naprovíncia sul-mexicana deChiapas, já fora notícia em1993, quando a cúria romanaforçou a resignação – ditavoluntária –, do bispo de entãoSamuel Ruiz. Dotado de umapersonalidade forte, Ruiz, bem nosentido da mensagem de Cristo,colocara-se ao lado dapopulação indígena, extrema-mente pobre, da diocese.

RAZÕES DA POBREZARAZÕES DA POBREZARAZÕES DA POBREZARAZÕES DA POBREZARAZÕES DA POBREZAO substrato para esta

pobreza é a gorada reforma dasterras, impedida pela acção declãs familiares poderosos e degrandes latifundiários, pelacorrupção generalizada e porlutas políticas.

Realmente estava na lei queos gigantescos latifúndios teriamde diminuir, mas nada mudou.Mediante tácticas hábeis e oconluio de grupos de interesses,os agentes da autoridade locaisconseguiram torpedear areforma. Os índios, que trabalha-vam por um salário de fome,foram dominados por políciasprivados armados, os chamados«Guardias Blancas», ao serviçodos grandes latifundiários.

Agricultores incómodos eramsimplesmente abatidos por estesdesordeiros e grupos de assas-sinos, os responsáveis nuncaforam conhecidos. Os trabalha-

dores, quase só indígenas quenão sabiam falar espanhol nemler nem escrever, foram sempremantidos como escravos porestes «rancheros». Raramenteeram pagos em dinheiro. Umaparte do parco salário era-lhesretida como renda das barracasonde eram instalados, o restanteera pago em senhas parafazerem as compras nas lojascaras dos latifundiários.

Por força destas circuns-tâncias, da corrupção generali-zada e das promessas vãs dossucessivos governos, a provínciados Chiapas é a região maispobre do México.

Enquanto turistas de todo omundo se espreguiçam naspraias de Acapulco e Cancun,em Chiapas morre gente dedoenças banais como gripes ediarreias. A mortalidade infantilestá acima da média nacional,dois terços da população sofrede subnutrição. Tais condiçõeslevaram ao surgimento dochamado Movimento Zapatista,do «subcomandante Marcos»,que se apresenta sempre de caratapada e cachimbo.

AMIGOS E INIMIGOSAMIGOS E INIMIGOSAMIGOS E INIMIGOSAMIGOS E INIMIGOSAMIGOS E INIMIGOSDeve-se ao bispo Samuel Ruiz

o facto de os Zapatistas, quegozam de grande simpatia entreo povo – as suas fotos amare-lecidas encontram-se à venda

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www.geocities.com/fraternitasmovimento * [email protected] * página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento * [email protected]

em quase todos os quiosques –,terem sempre procurado não seenvolverem em conflitos arma-dos, mas conseguir mudançaspor meios políticos.

Naturalmente o governoobservava, com má disposiçãocrescente, as actividades dobispo e da sua equipa.Começou por denunciá-lo aoVaticano, mas o efeito foi ocontrário do que se pretendia: anotícia sobre a manipulaçãoromana desencadeou uma largaonda de solidariedade com Ruiz.Face ao levantamento zapatistade 1 de Janeiro de 1994, onome do bispo Ruiz foi mesmosugerido por ambas as partescomo mediador para a paz.

Com o objectivo de, pelomenos, enfraquecer a posiçãodo bispo, Roma colocou-lhe nadiocese um bispo auxiliar comdireito de sucessão, o domi-nicano Raul Vera. Mas este foipara o Vaticano «uma bombaque não deflagrou», pois acaboupor seguir as pegadas de Ruiz.Uma vez que a transmissão depoderes deveria ter lugar no ano2000, os dois bispos prepara-ram cuidadosamente a suces-são. Desde 1995 até 1999reuniu o sínodo diocesano sobo tema «Do Vaticano II aoTerceiro Milénio», cujasdeliberações pastorais foramglobalmente levadas muito sério.Como coroação deste trabalho,103 indígenas foram ordenadosdiácono no ano 2000.

ORDENS DE ROMAORDENS DE ROMAORDENS DE ROMAORDENS DE ROMAORDENS DE ROMATinha de haver um castigo: o

«ingrato» bispo auxiliar RaulVera, em vez de suceder aSamuel Ruiz como estavaprevisto, foi transferido paraSaltilho, no Norte do México.

Para sucessor de Samuel Ruizera agora nomeado o bispo deTapachula, Felipe Arizmendi.

Mas também Arizmendi nãopôde ou não quis afastar-se daatmosfera da diocese de SanCristóbal tão fortemente marca-da pela personalidade de Ruiz.

Numa carta de 20 de Julhode 2000 dirigida ao novo bispo,a Congregação para o CultoDivino tornava bem claro queconsidera indesejável a conti-nuação da «linha Ruiz», vistacomo uma via especial dema-siado independente. Tambémnão deviam ser ordenados maisdiáconos, pois o número de 400relativamente aos cerca de 40padres em actividade na diocese,parte deles estrangeiros, era bemdesproporcionado.

Quando, apesar disso,Arizmendi ordenou em 2002alguns diáconos, recebeu novoaviso da Congregação para oCulto Divino: Se o número dediáconos permanentes conti-nuasse a aumentar, poder-se-iacriar a impressão de que estavaa ser prosseguido o caminho dobispo Ruiz. Daí a directiva deRoma: Durante cinco anos nãopoderão ser ordenados maisdiáconos na diocese.

O bispo não ficou satisfeito.Em 2005, por ocasião dumavisita a Roma, pediu o levanta-mento da proibição. Mas o queafinal conseguiu foi o endureci-mento da posição: a proibiçãoserá por tempo indeterminado.Este tom redondo da proibiçãoromana mostra claramente que,para o Vaticano, não são osaspectos pastorais, mesmo«humanos», que são determi-nantes, mas a sacrossanta lei docelibato, hiperestilizada a dogmaao longo da história.

Não se pode deixar de ver –diz a carta de Roma – que «cincoanos após a retirada do bispoSamuel Ruiz do governo dadiocese de San Cristóval de lasCasas, ainda predomina aquela

ideologia que deseja ainstauração duma igrejaautóctone. Por essa razão, aassembleia das várias Congre-gações pronunciou-se a favorduma suspensão da ordenaçãode diáconos permanentes avigorar enquanto não foreliminado o problema ideológicosubjacente. Além disso, énecessário reforçar a pastoralvocacional para um sacerdóciocelibatário (…) e, simulta-neamente, desistir da formaçãode mais candidatos ao diaco-nado permanente». A ordenaçãode diáconos permanentes tendepara o padre casado. Com issoestar-se-ia a despertar nos fiéisuma esperança «sem que esta sepossa tornar realidade».

APELAPELAPELAPELAPELO A BENTO A BENTO A BENTO A BENTO A BENTO XVIO XVIO XVIO XVIO XVISegundo o «Orientierung»,

publicação dos jesuítas suíços,em 24 de Março de 2006, porocasião duma procissão decerca de dez mil indígenasatravés da cidade de SanCristóbal de las Casas, foitambém lida uma carta ao PapaBento XVI, na qual é solicitado olevantamento da dita proibiçãoda ordenação de diáconos. Osautores da carta salientavamquão importante é para acompreensão da sua fé apastoral de clérigos indígenasnas suas comunidades e que,nos últimos cinco anos, foramformados 200 diáconos, cujoserviço às populações, com aprorrogação da proibição deordenação, se desmoronará.

De Valência, Espanha, ondeparticipava no 5.º Encontro deFamílias, o papa Bento XVIanunciou que visitaria o Méxicoem 2009. Deus queira que oscristãos de Chiapas não tenhamde esperar tanto tempo por uma– oxalá condescendente –,resposta do Vaticano.

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B r e v e s . . .

Falecimento:O António Almeida Duarte, sócio n.º 18, residente em Lisboa

e natural de Castro Daire, está de luto pelo falecimento da mâeno passado dia 14 de Junho.

Foi sepultada no dia seguinte na referida Vila de Castro Daire,estando presentes alguns elementos da Fraternitas nascerimónias fúnebres.

Nascimento:O Luís e a Eduarda Cunha foram bafejados, no passado

dia 27 de Agosto, com o nascimento do seu 3.º neto, no caso,a neta Sara (linda, como não podia deixar de ser!), da filhaMaria Ângela e do Filipe, residentes em Aveiro.

Ecos do Simpósio do CleroRealizou-se em Fátima, de 5 a 8 de Setembro, o V Simpósio

do Clero de Portugal. Teve como tema «O Presbitério emcomunhão ao serviço da comunhão eclesial». Como mote,afirmou que os presbíteros são homens dados ao povo de Deuspara viver a comunhão e construir em Igreja a comunidade.

As conclusões afirmam que o sacerdote enfrenta novosdesafios: «A interpretação da nova situação religiosa e culturalem que o sacerdote é chamado a realizar o seu ministério evocação, caracterizada pelo individualismo pós moderno de umhomem dilacerado pela ruptura entre a cultura e a fé econfundido pela mudança de alguns paradigmas depensamento, desafiou os presentes a viver o contraponto dacomunhão, anunciando aos filhos da modernidade a referênciacentral da verdade do homem, Jesus Cristo. Destacou-se anecessidade de redefinir e reafirmar uma identidade presbiteraleucarística, aquela que resulta da intimidade com Jesus Cristoe da solidariedade com os irmãos.

Foi solicitada uma maior visibilidade pública do presbíterono meio do mundo, onde leve a cabo a missão da profecia e dasimpatia por esse mundo. Urge, ainda, rever a própria pregaçãopara que esta seja significativa e verdadeira proposta de sentido.

Ressaltou-se, também, que muitas das solicitações pastoraisdirigidas aos presbíteros resultam da inoperância de muitosintervenientes ou agentes eclesiais com os quais o presbíterodeve construir a comunhão eclesial e a corresponsabilidadepastoral.»

Olhou-se para a Trindade como modelo decorresponsabilidade. «O conceito de sinodalidade permitiupensar a Igreja como caminho conjunto onde todos são um sócorpo em Cristo.»

Por fim, «olhando Cristo que dá a Vida, “que nos amou e Seentregou por nós como oferta”, e aprendendo com Ele comoBom Pastor, o presbítero é um homem dado ao povo, porque éum homem totalmente entregue a Deus por amor do povo.»

CORREIO

De D. Manuel Martins, BispoEmérito de Setúbal, recebemos umasimpática carta em que comosempre se refere ao boletim«Espiral» e envia para a «Partilhafraterna» do nosso Movimento 100preciosos euros.

A nossa sentida gratidão aoSenhor D. Manuel por este gesto tãosignificativo.

Recebi também o boletimFraternitas que li com interesse.

Um recomeço com muito vigorespiritual.

Abraço-vos fraternalmente.D. Carlos Azevedo (BispoD. Carlos Azevedo (BispoD. Carlos Azevedo (BispoD. Carlos Azevedo (BispoD. Carlos Azevedo (Bispo

Auxiliar de Lisboa)Auxiliar de Lisboa)Auxiliar de Lisboa)Auxiliar de Lisboa)Auxiliar de Lisboa)

D. Serafim de SousaD. Serafim de SousaD. Serafim de SousaD. Serafim de SousaD. Serafim de SousaFerreira e SilvaFerreira e SilvaFerreira e SilvaFerreira e SilvaFerreira e Silva

(Bispo Emérito de Leiria-(Bispo Emérito de Leiria-(Bispo Emérito de Leiria-(Bispo Emérito de Leiria-(Bispo Emérito de Leiria-Fátima)Fátima)Fátima)Fátima)Fátima)

Caríssimo.Bem haja por me ter enviado o

n.º 23 de «Espiral».Gostei de saber que já há mais

de 100 sócios.Saudações às «cunhadas».Um abraço sincero.

Um abraço muito amigo,agradecendo mais um número de«Espiral», com votos de queprossigam, convictos e fraternos, nainter-ajuda e na sensibilidadeevangélica a tantos sofredores!Não podemos abandonar ninguém.Sobretudo, não permitir queninguém se sinta abandonado! Ealguém que serviu - tendo aconfiança da Igreja! - na primeiralinha!

Um abraço muito amigo.D. Januário TorgalD. Januário TorgalD. Januário TorgalD. Januário TorgalD. Januário Torgal

Ferreira (Bispo das ForçasFerreira (Bispo das ForçasFerreira (Bispo das ForçasFerreira (Bispo das ForçasFerreira (Bispo das ForçasArmadas)Armadas)Armadas)Armadas)Armadas)

D. António Montes (BispoD. António Montes (BispoD. António Montes (BispoD. António Montes (BispoD. António Montes (Bispode Bragança-Miranda)de Bragança-Miranda)de Bragança-Miranda)de Bragança-Miranda)de Bragança-Miranda)

Cumprimenta e agradece oenvio do último número de Espiral.

Cordialmente.

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espiral 7

CASA DO GAIATO

O sonho começou hábastantes anos. O

Padre Américo visitava os bairrospobres da cidade do Porto,situados ali pela Sé e Miragaia.É o Barredo. Ainda hoje, apesardos programas de recuperaçãosocial, esta zona é difícil. Hácinquenta anos, a gente bemnão se arriscava por aquelasbandas. Tinha má fama. Eraantro de miséria e de doenças.A tuberculose assentava ar-raiais... A fome, o desemprego,a marginalidade aliavam-se. OPadre Américo era visita assíduaaos doentes. A sua presença erauma bênção: uma palavra, umconselho, um pouco de pão…

A miséria imerecida daquelagente afrontava-o. Os rostosmacilentos e enfezados dascrianças tiravam-lhe o sono.Vidas sem futuro! Portasfechadas! A exploração humanadesta gente tornava o ambienteirrespirável. Que fazer?

Havia outras certezas que osolhos negavam. «Não hárapazes maus!» – dizia-se muitasvezes para se convencer. Assituações, acumuladas, de

injustiça criam toda a espécie decrueldade e marginalização.

CASA-MÃECASA-MÃECASA-MÃECASA-MÃECASA-MÃEA Casa de Paço de Sousa

aparece depois doutras expe-riências. Primeiramente, ascolónias de férias. Um espaçonovo! É possível durante uns diasuma experiência de vida a sério...É uma gota no oceano. Não secura o mal: acende-se uma luzno horizonte.

Paço de Sousa concretiza osonho. A primeira casa recebe osseus hóspedes. Outras lheseguirão. A aldeia ganha formas.O projecto inicial é ambici-oso.Os rapazes avessos à escola, àdisciplina, rebeldes, vãodescobrir uma nova forma devida. Pelo trabalho diário,constroem o homem novo,descobrem poten-cialidadesignoradas. Uma nova pedagogiatrará frutos. E os rebeldes deoutrora são obreiros honestosnuma sociedade nova.

Ventos novos sopram nasCasas do Gaiato. Hoje novastécnicas repudiam os velhosmétodos. Nós aceitamos aevolução. Sabemos que a ciênciatem os seus caminhos. Mas aexperiência também nos diz quenem sempre a evidência segueos melhores caminhos. A Casado Gaiato é uma realidadecomplexa. As crianças e os

jovens são retirados demeios sociais e humanosonde a força domina, aviolência é raínha, amentira moeda corrente,a explo-ração mais atrozcomummente aceite.Estas crianças sãoprodu-to desta sociedadede consumo. Sempreabandonadas, entregues

a si próprias, degeneraram emhábitos de vida, que as degra-dam sempre mais.

As Casas do Gaiato sãooásis. O trabalho simples,acessível, é pedagogia acertada.Trabalham como quem brinca?Todos sabemos que o trabalho éexigente, condição de progressoe felicidade. Quem estavaabandonado, sem controlo, àmíngua de todos os valores,encontra no trabalho uma formade valoração pessoal e respostaadequada para se integrar nasociedade. O trabalho simples,à medida das nossas forças, écontributo para o bem-estarcolectivo e a autoestima.

TESTEMUNHO VIVOTESTEMUNHO VIVOTESTEMUNHO VIVOTESTEMUNHO VIVOTESTEMUNHO VIVOPadre Américo morreu há

cinquenta anos. A sua memóriacontinua viva. São Nicolau, naRibeira, lembrou a sua figura, asua palavra, os seus compromis-sos, a sua vida. Velhinhos teste-munharam. Recordaram a figu-ra simples do padre, quedistribuía sorrisos, esperança.

Padre Américo é figuraactual: pedagogo, homem deDeus. Tem fama de Santo. Nocoração do povo, não há dúvida.A sua obra testemunha que só oamor é forte para conseguir astransformações necessárias, quedão sentido à vida. Só o amorsalvará o mundo! Não faltammeios para vencer a fome, osubdesenvolvimento, a miséria, aexploração… O Padre Américoentendia-se com a Providência,que nunca lhe faltava. Só o amoraproximará as pessoas e venceráas burocracias. Só o amorencontrará as respostas quedarão a paz verdadeira a todosos homens.

Joaquim SoaresJoaquim SoaresJoaquim SoaresJoaquim SoaresJoaquim Soares

A «Obra da Rua» acolheA «Obra da Rua» acolheA «Obra da Rua» acolheA «Obra da Rua» acolheA «Obra da Rua» acolhe

crianças e jovens, semcrianças e jovens, semcrianças e jovens, semcrianças e jovens, semcrianças e jovens, sem

família ou com uma fa-família ou com uma fa-família ou com uma fa-família ou com uma fa-família ou com uma fa-

mília que não lhes dámília que não lhes dámília que não lhes dámília que não lhes dámília que não lhes dá

apoio nem preparaçãoapoio nem preparaçãoapoio nem preparaçãoapoio nem preparaçãoapoio nem preparação

para a vida.para a vida.para a vida.para a vida.para a vida.

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Kirche: Iniciou há dezKirche: Iniciou há dezKirche: Iniciou há dezKirche: Iniciou há dezKirche: Iniciou há dezanos o trabalho da Comis-anos o trabalho da Comis-anos o trabalho da Comis-anos o trabalho da Comis-anos o trabalho da Comis-são. Que balanço faz?são. Que balanço faz?são. Que balanço faz?são. Que balanço faz?são. Que balanço faz?

- Tutu: O facto de o mundoainda hoje se admirar com o altonível da estabilidade política daÁfrica do Sul deve-se à existênciada Comissão para a Verdade ea Reconciliação. Quando o«apartheid» acabou, muitos

pensavam que, de imediato, os negros cairiamsobre os brancos para vingarem as injustiçassofridas. Isso não aconteceu. É um considerávelmérito da Comissão.

KKKKK: F: F: F: F: Foi esse o seu maior êxito?oi esse o seu maior êxito?oi esse o seu maior êxito?oi esse o seu maior êxito?oi esse o seu maior êxito?T: Eu diria sim. Procurámos, por todas as formas

possíveis, instituir reconciliação e não escondernem calar nada. Procurámos lançar luz sobre opassado sem esconder que praticámos coisashorríveis uns contra os outros.

K: O que não correu bem?K: O que não correu bem?K: O que não correu bem?K: O que não correu bem?K: O que não correu bem?T: A nossa maior falha foi não termos

conseguido ganhar a colaboração dos brancos,na medida que gostaríamos que tivesse sido. Masuma grande dose de responsabilidade deveu-setambém aos líderes brancos de outrora, que nãoesclareceram convenientemente a sua gente sobreas oportunidades que se lhes abriam: que osnegros ofereciam a reconciliação em vez deprocurarem a vingança. Os brancos podiamultrapassar o passado, deitá-lo para trás, masmuitos viram nisso apenas uma humilhação.

KKKKK: F: F: F: F: Foi essa a razão porque os «grandesoi essa a razão porque os «grandesoi essa a razão porque os «grandesoi essa a razão porque os «grandesoi essa a razão porque os «grandesnomes», os políticos do «apartheid», nãonomes», os políticos do «apartheid», nãonomes», os políticos do «apartheid», nãonomes», os políticos do «apartheid», nãonomes», os políticos do «apartheid», nãocompareceram na Comissão?compareceram na Comissão?compareceram na Comissão?compareceram na Comissão?compareceram na Comissão?

T: Sim. Para obter amnistia apareceu muitopeixe miúdo, mas apenas alguns grandes. Essefoi um dos pontos fracos. Outro foi o facto de nãoestarmos em condições de dar às vítimas do«apartheid» uma reparação imediata. Não houvepara isso uma autorização do Governo, comoaconteceu relativamente à amnistia. A questãoeconómica permaneceu nas mãos do Governo,

que aí não agiu bem. Parecia que a Comissãoestava do lado dos criminosos e não das vítimas.

K: A reparação às vítimas continua?K: A reparação às vítimas continua?K: A reparação às vítimas continua?K: A reparação às vítimas continua?K: A reparação às vítimas continua?T: Infelizmente. Os muitos que sofreram nestes

anos não foram tratados de forma generosa. Hávítimas que sofreram horrores indescritíveis e aindaestamos em grande falta para com elas. OGoverno tem tentado esboçar alguns gestos,como o de dar o nome dalgumas dessas vítimas alugares públicos, escolas e ruas. Mas penso queainda não fizemos o suficiente.

Assim nasceu a democraciaAssim nasceu a democraciaAssim nasceu a democraciaAssim nasceu a democraciaAssim nasceu a democraciaO cristianismo tem uma força capaz de restabelecer a paz, provou-o o arcebis-O cristianismo tem uma força capaz de restabelecer a paz, provou-o o arcebis-O cristianismo tem uma força capaz de restabelecer a paz, provou-o o arcebis-O cristianismo tem uma força capaz de restabelecer a paz, provou-o o arcebis-O cristianismo tem uma força capaz de restabelecer a paz, provou-o o arcebis-

po anglicano Desmond Tpo anglicano Desmond Tpo anglicano Desmond Tpo anglicano Desmond Tpo anglicano Desmond Tutu, Nobel da Paz em 1984, com a «Comissão parutu, Nobel da Paz em 1984, com a «Comissão parutu, Nobel da Paz em 1984, com a «Comissão parutu, Nobel da Paz em 1984, com a «Comissão parutu, Nobel da Paz em 1984, com a «Comissão para aa aa aa aa a

Verdade e a Reconciliação». Centenas de assassinos do regime do «apartheid»Verdade e a Reconciliação». Centenas de assassinos do regime do «apartheid»Verdade e a Reconciliação». Centenas de assassinos do regime do «apartheid»Verdade e a Reconciliação». Centenas de assassinos do regime do «apartheid»Verdade e a Reconciliação». Centenas de assassinos do regime do «apartheid»

foram depor e milhares de vítimas optaram pela reconciliação em vez da vin-foram depor e milhares de vítimas optaram pela reconciliação em vez da vin-foram depor e milhares de vítimas optaram pela reconciliação em vez da vin-foram depor e milhares de vítimas optaram pela reconciliação em vez da vin-foram depor e milhares de vítimas optaram pela reconciliação em vez da vin-

gança. A «De Kirche In» cgança. A «De Kirche In» cgança. A «De Kirche In» cgança. A «De Kirche In» cgança. A «De Kirche In» conversou com ele.onversou com ele.onversou com ele.onversou com ele.onversou com ele.

K:Como está a África do Sul 12 anosK:Como está a África do Sul 12 anosK:Como está a África do Sul 12 anosK:Como está a África do Sul 12 anosK:Como está a África do Sul 12 anosapós o fim do regime do «apartheid»?após o fim do regime do «apartheid»?após o fim do regime do «apartheid»?após o fim do regime do «apartheid»?após o fim do regime do «apartheid»?

T: Temos muitos problemas. Faltam casas, hámuito desemprego, violência, a população édizimada pela sida. Mas o povo esquecefrequentemente que só desde há poucos anossomos um país democrático.

Quando se vê como o furacão Kathrinadesmascarou uma nação como os EstadosUnidos, talvez se compreenda quanto há a fazerem prol duma ordem democrática estável.Quando se considera o ponto de que a África doSul partiu, o país sabe que pode atingir resultadosmaravilhosos: mesmo aqueles que vivem situaçõesdramáticas, não optaram por vingar-se dosbrancos, mas esperam que o governo faça algumacoisa por eles. Porém o governo tem de agirenergicamente – e para toda a nação.

espiralespiralespiralespiralespiral Responsável: Fernando FélixPraceta dos Malmequeres, 4 - 3º Esq.Massamá / 2745-816 Queluze-mail: [email protected]

Boletimda Associação Fraternitas Movimento

Nº 24 - Julho/Setembro de 2006Nº 24 - Julho/Setembro de 2006Nº 24 - Julho/Setembro de 2006Nº 24 - Julho/Setembro de 2006Nº 24 - Julho/Setembro de 2006

1910 – Após duas guerras contra os ingleses, ascolónias de então uniram-se num Estado: nascia aÁfrica do Sul.

1913 – 1948 - Conflitos entre os partidos dosnegros e dos brancos. Em 1913, uma lei que proíbea aquisição de terras pelos negros.

1948 – O «apartheid» é aprovado como lei: oscidadãos são classificados segundo a raça. NelsonMandela apela à desobediência civil.

1990-1994 – Fim do «apartheid». Mandela deixaa prisão e torna-se o primeiro Chefe de Estadomultiracial do país.

OITENTA ANOS DE SEGREGAÇÃO