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ESPIRAL DOS SETE SABERES E EXPERIMENTAÇÕES DO CORPOARTE
Rita Ribeiro Voss
COMPLEXUS - PUCSP
EDUCOM - UBC
Rita de Cássia Franco de Souza Antunes
UNIV ESTADUAL PAULISTA
GPDEE – IA/UNESP
Resumo O trabalho refere-se aos projetos desenvolvidos no estágio pós-doutoral no
departamento de Antropologia da PUC-SP, no grupo COMPLEXUS; e no Departamento
Artes Cênicas, Educação e Fundamentos da Comunicação do Instituto de Artes da
UNESP, no grupo Dança, Estética e Educação. Utilizamos modelos cognitivos das
culturas tradicionais, que recorrem ao círculo, à roda e à espiral para criarmos um
modelo híbrido, a Espiral dos Sete Saberes (ESS) que inspira experimentações do
corpoarte, na dinâmica ordem-desordem-interação-organização, configurando uma
educação complexa. Trata-se da religação de aspectos da condição humana que
possibilitem a construção de um campo ético para uma convivência solidária e feliz no
planeta. Os níveis de complexidade da disposição dos anéis da espiral e os setes saberes
delineiam caminhos, ordenações, mas também abertura cognitiva, bifurcações,
oportunizadas pelo acaso, pelas flutuações, dos quais emerge a criatividade, gerando
sempre mais complexidade, orientada para uma ética do gênero humano.
Palavras-chave: Cognição, Saberes, Corpoarte, Experimentação, Pedagogia complexa.
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ESPIRAL DOS SETE SABERES E EXPERIMENTAÇÕES DO CORPOARTE
Rita Ribeiro Voss
COMPLEXUS - PUCSP
EDUCOM - UBC
Rita de Cássia Franco de Souza Antunes
UNIV ESTADUAL PAULISTA
GPDEE – IA/UNESP
Introdução
Assumir a condição humana é procurar uma sabedoria que assume a nossa natureza de
homo-sapiens-ludens-mitologicus-poeticus. Edgar Morin
O trabalho refere-se aos resultados das pesquisas desenvolvidas estágio pós-
doutoral no departamento de Antropologia da PUC-SP, no grupo COMPLEXUS; e no
Instituto de Artes da UNESP, no grupo Dança, Estética e Educação.
A interlocução se configura na consideração do corpo e da arte como saberes
sensíveis para as necessidades atuais do homem e do planeta na perspectiva de uma
educação complexa, o que chamamos de corpoarte (Antunes, 2010).
Nesta proposição, a cognição é compreendida em sua complexidade, na
multidimensionalidade da condição humana, da vida, do mundo e do conhecimento.
Enfrentamos, então, o desafio de utilizar modelos cognitivos (Voss, 2009) das culturas
tradicionais, que recorrem ao círculo, à roda e à espiral, em experimentações estéticas
do movimento numa dinâmica que se reporta à ordem e ao caos.
Os sete saberes para a educação do futuro (2002) de Edgar Morin e os modelos
cognitivos tradicionais inspiram uma espiral híbrida que chamamos Espiral dos Sete
Saberes (ESS). De um lado, consideramos o que sabe a ciência sobre a cognição
humana e, de outro, o que nos diz a tradição, estabelecendo assim uma intercrítica
(Atlan,2000) para a construção de um espaço ético para a criação de valores humanos
(Makiguti, 2002) para a educação.
Cada saber da ESS incita experimentações do corpoarte, uma vez que é preciso
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compreender os saberes na dinâmica da vida, aqui e agora. Seus níveis de complexidade
constituem caminhos, ordenações, mas também abertura cognitiva, bifurcações,
oportunizados pelo acaso, pelas flutuações (Prigogine, 2001), o que tornam possível a
emergência da criatividade, gerando sempre mais complexidade, orientada para uma
ética do gênero humano.
1. A tecitura da pedagogia complexa Uma das inspirações educacionais para a emergência de uma ética de
convivência no planeta é o que Edgar Morin chama de ensinar a condição humana, a um
só tempo natureza e cultura, propondo uma religação destas dimensões. Trata-se de
assumir, ao se fazer um balanço da civilização ocidental, o apartamento das dimensões
bioculturais do homem e os problemas que isto acarreta para a compreensão humana.
O substrato desta condição está no desenvolvimento do pensamento ocidental,
que separou de forma traumática corpo e espírito, tomando aquele, condição natural,
como expressão menor do humano, apartando o sensível do inteligível, a cidade dos
homens da cidade de Deus. De forma velada ou não, arte e corpo foram deixados na
periferia dos saberes ditos mais elevados, racionalizáveis, com alto nível de abstração
como a matemática ou com a aplicabilidade das engenharias.
No entanto, corpo e arte dialogicamente induzem a uma cognição incorporada,
isto é, são saberes/experimentações do sujeito. Ser um eu e saber um outro, que
constituem o campo ético de uma convivência solidária mais feliz, depende de que
cognição e experimentação estejam conectadas, o que Francisco Varela (1993) chamou
de princípio de enação, isto é, é preciso experimentar o enraizamento no mundo com o
corpo, imerso no centro da manifestação cultural, para que a compreensão de quem eu
sou, o que é o mundo, de onde viemos e para onde vamos, questões antropológicas
fundantes da humanidade, sejam também compreendidas em suas expressões estéticas,
poéticas e míticas. Inscrever a cognição no âmbito da cultura significa reconhecer que
esta não comporta somente uma dimensão cognitiva: é uma máquina cognitiva cuja
práxis é cognitiva. (Morin, 1998, p. 19).
Consideramos a experiência enquanto o sujeito conhece; a inscrição corpórea do
conhecimento e autoconhecimento. Para esta tarefa, nos direcionamos para as tradições
culturais, cujas manifestações simbioticamente associam corpo e arte para uma
compreensão ao mesmo tempo estética, ética do mundo.
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De nossas pesquisas sobre modelos e sistemas cognitivos da tradição
observamos a recorrência do círculo, como movimento centrípeto; da roda, como
construção coletiva do mundo, da comunidade de vida; e da espiral, como abertura
cognitiva para o conhecimento e autoconhecimento. Obedecendo a níveis de
complexidade, dos modelos emerge a ESS híbrida por associar tradição, a cultura, e
ciência, que considera a cognição como organização neuroimaginal (Cyrulnik, 2000).
Com a ESS, concebemos as experimentações do corpoarte e os saberes que o
tangenciam e o transversalizam. As escolas carecem de experiências pedagógicas de
incorporação de saberes, meio eficaz na introjeção de valores assim como, em trazê-los
à reflexão crítica consciente dos erros e das ilusões que parasitam o conhecimento
humano. Mas para conhecer bem, é preciso assumir tal condição desenvolvendo
contatos e sintonias finas, escutas sensíveis do mundo, que possibilitam pensar
eticamente.
2. Da desordem, da ordem, da interação, da organização do mundo
O círculo
O saber tradicional é colocado ao mundo, à natureza, e não separa a dimensão
espiritual da corporal. A cultura, produto dessa relação, emerge da abertura de uma
brecha antropológica (Morin, 1975). A condição do homo sapiens-demens se inscreve
na consciência da morte, na finitude humana e na incerteza, que esta condição encerra.
O círculo sugere um movimento em torno de um eixo, repetitivo, centrípeto, para
restaurar uma ordem imaginária, essencialmente humana, a despeito da desordem
natural, inserindo uma ordem no mundo. A dança Sufi é uma experimentação circular,
em cujos movimentos centrípetos o dançarino entra em transe místico: um sujeito que
girando sobre si mesmo, volta a cabeça para o alto, para o sublime e o sagrado. Seu elo
com o mundo são os pés no chão.
A dança sufi revela um saber unidual: um enraizamento no mundo, o local, o
finito e o transcendente e universal, ligando as dimensões da existência humana numa
experimentação do sagrado e do profano; liga a práxis à noosfera, ao mundo do espírito.
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A roda
Nas rodas tradicionais, as pessoas compõem uma comunidade e possuem uma
afinidade imemorial, que unidas por laços de vida, por experimentações, voltam-se para
um centro. Um indígena, por exemplo, tem um saber encarnado, nas atividades
coletivas, em seus mitos. Para ser índio é preciso viver, se inserir numa cosmogonia
indígena na experimentação das rodas. Com suas fórmulas repetitivas os índios
produzem e reproduzem o mundo indígena que assim se abre a uma compreensão
encarnada da vida. Estes rituais revelam uma unidade contraditória e complementar de
natureza e cultura. Anunciam uma ordem constituída pelo um contido no múltiplo, e o
múltiplo no uno, uma ordem social e cósmica, no seio natureza.
A espiral
Para os budistas, há uma intermitência nos ciclos de existência e não-existência.
Tal como o mar e a onda, quando morremos entramos no indiferenciado, ou vacuidade.
A individuação ocorre no nascimento. No budismo, a vida é eterna mas não é a pessoa,
indivíduo singular, o que que renasce na roda cármica dos renascimentos é a energia
antes latente no cosmo gerando outra pessoa. Por isso os budistas recorrem à espiral,
que compreende a vida e seu desenvolvimento em níveis de complexidade, se
desenvolve de forma recorrente em níveis paralelos, contínuos e abertos.
3. A Espiral dos Sete Saberes (ESS)
A ESS deriva do círculo, da roda e da espiral nela implicados e incita a busca de
significações encarnadas de cada saber. Para compreender o corpoarte recorre-se aos
sons e demais estímulos aos sentidos, ao improviso e à criatividade na dinâmica ordem-
desordem-interação-organização.
Os saberes que constituem o ESS não estão separados, estão ligados pela linha
tênue da espiral e, ao mesmo tempo, guardam a especificidade de suas inspirações para
a série de sete experimentações, que descrevemos a seguir.
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Saberes acionados pelas experimentações do corpoarte
Identificar os erros e as ilusões: Movimentação corporal visando à liberdade da expressão individual em meio ao grupo. Todos atuam separadamente e ao mesmo tempo, como na infância, antes da disponibilidade para o compartilhar. Desinibição, aproximação e conquista com suaves toques com palavras – no ouvir e no olhar: toques corporais, que também podem se iniciar com objetos intermediários (bolas, balões de ar, bastões), mas que no afã da movimentação são inevitáveis.
Conhecimento pertinente: Chão, o local - lugar simples, ancestral, atávico, onde se sente o côncavo e o convexo do corpo, o acomoda e em concha o remete às origens, condição fetal, a mãe (terra), raízes. Finca pé e lança ao espaço. Posições nas movimentações no espaço desenham e abrem olhos a possibilidades do contexto.
Emergência de aspectos ‘mágicos’ da condição humana: Descontração no fazer-saber/saber-fazer corporal exigente de atenção, decodificação, compreensão, organização, raciocínio, tomada de decisão, tempo de reação ou associação a estímulos sonoros, por exemplo. Formações não-lineares do emaranhado, mas coerentes e compreendidas por quem está imerso nele faz emergir o sentido da desordem, na ordem natural.
Identidade terrena: Apoiados no chão, na roda, brincando com o centro de gravidade e sua aproximação/distanciamento do solo, o concêntrico e o contato das mãos, no espaço-tempo recriado pela variação rítmica e de sentido, todos se abrem ao abraço planetário. Todos por um, um por todos e todos no todo.
As incertezas: Possibilidades do presente momento. Pés no chão – movimentos inscrevem e descrevem distintas e infinitas trajetórias, em diferentes níveis, desde a posição deitada a em pé – deslocamentos, giros, rolamentos; experimentação de forças – gravidade, centrífuga, centrípeta. Consciência atenta para identificar emergências de movimentos. A espiral no
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movimento, no gestual, na troca entre todas as presenças, aporta um sem fim de possibilidades de loopings, de acordo com a realidade e criatividade de cada um.
A compreensão: Destaque ao papel de mediação em que as proposições feitas correspondem à intencionalidade de quem as planeja dando margem à livre manifestação de quem as realiza, o que possibilita composições diferentes da planejada. Um processo criativo para todos os participantes. De modo recursivo, a compreensão permeia os demais saberes aqui implicados.
Antropo-ética: Retomada da consciência de si, do outro, do mundo. Presenças compondo um todo inseparável em momento único, irrecuperável. Mandala de saberes aberta em torno do ser em movimento, onde se espiralam no corpoarte criado e criando o individual e o coletivo, pensando o local e o global, em coexistência solidária e pacífica, na existência atual de vida sem início e sem fim.
A abertura espiral A proposição de experimentações visa acionar saberes no e do corpoarte. Estão
abertas à criação de cada educador, uma vez que os saberes se constituem, como na
espiral, em inspirações para uma didática complexa, isto é, de religação do sujeito com
o mundo, com a vida e consigo mesmo.
Referências bibliográficas
ANTUNES, R. C. F. S., Relatório de pós-doutorado. UNESP, Instituto de Artes, São
Paulo, 2010.
ATLAN, H., O Livro do Conhecimento: as centelhas do acaso e a vida. Portugal:
Editora Piaget, 2000.
CHAKRA MEDITATION, disponível do site:
http://www.folknouveau.com/healing/links.htm
CYRULNIK, B., Memória de macaco, palavras de homem. Lisboa: Editora Piaget,
2000.
MAKIGUTI, T., Educação para uma vida criativa. Rio de Janeiro: Record, 2002.
MORIN, E., Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2002.
____ O Enigma do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
____ O método 4. Porto Alegre: Sulina, 1998.
PRIGOGINE, Ilya. Ciência, Razão e Paixão. Belém: Eduepa, 2001.
VARELA, F. J., THOMPSON, E., ROSCH, E. The embodied mind: cognitive science
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and human experience. MIT Press: Cambridge: 1993.
VOSS, R. R. The System of Ichinen Sanzen: A Contribution to a Theory of Cognition
Julho/Agosto de 2009, volume 10 Issue 4 Global Spiral disponível no site:
http://www.metanexus.net/magazine/Authors/tabid/72/Default.aspx
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ESPIRAL DOS SETE SABERES E EXPERIMENTAÇÕES DO CORPOARTE Rita Ribeiro Voss – PUCSP, UBC
Rita de Cássia Franco de Souza Antunes - IA/UNESP Introdução O trabalho ao estágio pós-doutoral das pesquisadoras A interlocução se configura na consideração do corpo e da arte como saberes sensíveis para as necessidades atuais do homem e do planeta na perspectiva de uma educação complexa, o que chamamos de corpoarte (Antunes, 2010). Utilizamos os modelos cognitivos (Voss, 2009) das culturas tradicionais, que recorrem ao círculo, à roda e à espiral, em experimentações estéticas do movimento. Os sete saberes para a educação do futuro (2002) de Edgar Morin e os modelos cognitivos tradicionais inspiram uma espiral híbrida, Espiral dos Sete Saberes (ESS). De um lado, consideramos o que sabe a ciência sobre a cognição humana e de outro o que nos diz a tradição, estabelecendo assim uma intercrítica (Atlan,2000) para a construção de um espaço ético para a criação de valores humanos (Makiguti, 2002) para a educação.
Proposição Nos modelos e sistemas cognitivos da tradição observamos a recorrência do círculo, como movimento centrípeto; da roda, como construção coletiva do mundo, da comunidade de vida; e da espiral, como abertura cognitiva para o conhecimento e autoconhecimento. Obedecendo a níveis de complexidade, dos modelos emerge a ESS híbrida por associar tradição, a cultura, e ciência, que considera a cognição como organização neuroimaginal (Cyrulnik, 2000). Com a ESS, concebemos experimentações do corpoarte e os saberes que o tangenciam e o transversalizam. A proposição de experimentações visa acionar saberes no e do corpoarte. Estão abertas à criação de cada educador, uma vez que os saberes se constituem, como na espiral, em inspirações para uma didática complexa, isto é, de religação do sujeito com o mundo, com a vida e consigo mesmo.
Modelos cognitivo da tradição
Espiral dos Sete Saberes - ESS Saberes acionados pela experimentações do Corpoarte
Identificar os erros e as ilusões: Movimentação corporal visando à
liberdade da expressão individual em meio ao grupo.
Conhecimento pertinente: Chão, o local - lugar simples, ancestral,
atávico, onde se sente o côncavo e o convexo do corpo, o acomoda e
em concha o remete às origens, condição fetal, a mãe (terra), raízes.
Emergência de aspectos ‘mágicos’ da condição humana: Descontração
no fazer-saber/saber-fazer corporal exigente de atenção,
Identidade terrena: Apoiados no chão, na roda, brincando com o centro
de gravidade e sua aproximação/distanciamento do solo, o concêntrico
e o contato das mãos, no espaço-tempo recriado pela variação rítmica e
de sentido, todos se abrem ao abraço planetário.
As incertezas: Possibilidades do presente momento. Consciência atenta
para identificar emergências de movimentos.
A compreensão: Destaque ao papel de mediação em que as proposições
feitas correspondem à intencionalidade de quem as planeja dando
margem à livre manifestação de quem as realiza, o que possibilita
composições diferentes da planejada.
Antropo-ética: Mandala de saberes aberta em torno do ser em
movimento, onde se espiralam no corpoarte criado e criando o
individual e o coletivo, pensando o local e o global, em coexistência
solidária e pacífica, na existência atual de vida sem início e sem fim.
REFERÊNCIAS:ANTUNES, R. C. F. S., Relatório de pós-doutorado. IA-UNESP, São Paulo, 2010. CYRULNIK, B., Memória de macaco, palavras de homem. Lisboa:
Piaget, 2000. MAKIGUTI, T., Educação para uma vida criativa. Rio de Janeiro: Record, 2002. MORIN, E., Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo:
Cortez, 2002. VOSS, R. R. The System of Ichinen Sanzen: A Contribution to a Theory of Cognition Global Spiral Julho/Agosto de 2009, volume 10, issue 4.
Círculo Sufi Espiral da tradição budista Roda indígena