Esporte e Sociedade Uma Relacao Pautada Pela Midia

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    INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXVI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao BH/MG 2 a 6 Set 2003

    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Mdia Esportiva, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao,Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    ESPORTE E SOCIEDADE: UMA RELAO PAUTADA PELA MDIA

    Marli Hatje

    Universidade Federal de Santa Maria RS

    1 CONSIDERAES INICIAIS

    Refletir sobre as relaes da Educao Fsica/Esporte com Mdia e a repercusso desta

    relao na sociedade atual fundamental para aprofundar as discusses atuais, tanto na rea

    da Educao Fsica, quanto na rea da Comunicao Social. Os estudos iniciados no incio da

    dcada de 90, no Programa de Ps-Graduao em Cincia do Movimento Humano, do Centro

    de Educao Fsica e Desportos, da Universidade Federal de Santa Maria sustentam boa parte

    das discusses em evidncia, principalmente, no momento em que se discute a

    (re)estruturao do prprio Programa. O Laboratrio de Comunicao, Movimento e Mdia na

    Educao Fsica (LCMMEF), atuou, sempre, sob a premissa de que sua (grande) rea de

    atuao a Educao Fsica/Esporte e nela est inserida a comunicao, enquanto processo,seja como um fenmeno social ou como um instrumento de interveno social.

    Diante deste contexto, o processo comunicativo, seja ele verbal ou e no-verbal,

    objeto de estudo, de grande importncia, para a rea da Educao Fsica/Esporte,

    principalmente se compreendermos que o objeto de estudo da Educao Fsica o Movimento

    Humano, aspecto que, inclusive, diferencia essa disciplina das demais disciplinas de um

    currculo escolar.

    A comunicao pode ser um processo por meio do qual o indivduo transmiteestmulos para modificar o comportamento de outros indivduos (HOVLAND), ou ento

    como uma transmisso de informaes, idias, emoes e habilidades, por meio do uso de

    smbolos, palavras, imagens, figuras, grficos, gestos e expresses (BERELSON E

    STEINER). As definies, associadas a outras (BERLO, BORDENAVE, por exemplo),

    conduzem as discusses sobre a importncia do processo comunicativo na formao de

    profissionais de Educao Fsica, que tm no Movimento Humano sua base de atuao.

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Mdia Esportiva, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao,Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    O esporte discutido sob o vis da mdia, a partir de definies clssicas, como a da

    Sociologia, por exemplo, porque a Mdia tem modificado questes conceituais no esporte, que

    repercutem na sociedade atual. Discutir o que esporte para a mdia, como ela o tem tratado

    e o uso que as pessoas fazem dele parecem questes fundamentais. Aos debates, a sociedade

    miditica considerada sob dois aspectos: enquanto pblico e enquanto massa.

    Pblico homogneo, constitudo de indivduos que tm algo em comum, afetados

    pelo mesmo assunto. Para Blumer (apud DUARTE, 2002) um grupo que est enfrentando

    um mesmo problema e se engaja na discusso desse problema. J massa heterognea,

    composta por indivduos que no se conhecem, que esto espacialmente separados e que no

    podem interagir.Duas questes so pertinentes neste momento: Como a Mdia afeta esses dois grupos,

    e como estes absorvem o contedo veiculado pela a Mdia. Trs paradigmas contextualizam

    esta reflexo no LCMMEF. O primeira traz a diferena que pauta os estudos no LCMMEF,

    em relao s reas da Educao Fsica e da Comunicao Social; busca esclarecer o por que

    e a importncia do processo comunicativo na Educao Fsica (HATJE, 2002). O segundo

    refere-se aos esquemas de Comunicao que permeiam as discusses interdisciplinares do

    Laboratrio (ARISTTELES e LASSWEL). O terceiro paradigma retrata a percepo social,a partir de repertrios individuais (BORDENAVE).

    Muitas questes levantadas neste ensaio continuam objeto de discusso no LCMMED.

    Os ajustes e a (re)estruturao do Programa de Ps-Graduao sustentam a continuidade e

    exigem aprofundamentos. Quer-se, na INTERCOM, muito mais explicitar e dividir reflexes

    em andamento, do que propriamente veicular e defender posies. Muitas vezes so lanadas

    questes que ainda no tm resposta ou respostas parciais. Pretende-se, antes de tudo, ampliar

    as discusses e fornecer elementos, no apenas para as discusses no LCMMEF, mas doprprio GT Mdia e Esporte, da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da

    Comunicao, criado em 1996, em Londrina/PR.

    2 MDIA, ESPORTE E SOCIEDADE

    A mdia motiva, estimula ou incentiva a prtica da atividade fsica? Segundo estudo do

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) apenas 1,2% da populao brasileira

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Mdia Esportiva, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao,Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    pratica atividades fsicas com regularidade. Qual a razo deste baixo ndice se a prtica de

    exerccios fsicos previne doenas e auxilia no tratamento de outros males? Pode-se justificar

    o percentual na falta de hbito de praticar exerccios?, na falta de disciplina?, na falta de

    informao sobre a importncia de praticar atividade fsica para ter ou melhorar qualidade de

    vida?

    Muitas respostas ainda precisam de estudos cientficos. Em outubro de 2002, na

    palestra de abertura do CELAFISC, em So Paulo, os participantes ouviram que o cachorro ,

    na sociedade atual, mais eficiente no estmulo prtica da atividade fsica do que a mdia. O

    professor australiano, que realizou a palestra disse que os donos de cachorro, so 15% mais

    ativos do que aqueles que no tm o animal de estimao, porque o cachorro obriga que seuamigo homem, diariamente, o acompanhe numa caminhada.

    Com certeza, desde o evento, muitas questes j foram discutidas considerando a

    informao do professor australiano. Outras esto em discusso diante da relevncia desta

    revelao. A mdia, nos ltimos anos, avanou significativamente em termos tecnolgicos. A

    cada edio dos Jogos Olmpicos, da Copa do Mundo de Futebol ou de qualquer outro evento,

    em nvel nacional, os Meios de Comunicao divulgam e enfatizam o investimento realizado

    em termos tecnolgicos para a cobertura do evento. Neste ensaio, no pretende-se avanarnesta discusso, embora se reconhea a importncia da tecnologia no contexto atual.

    Pretende-se, sim, avanar, um pouco mais, na questo do contedo veiculado e como este

    influencia ou afeta o comportamento da sociedade, ou de parte dela.

    A mdia tem, em sua pauta diria, a preocupao ou a inteno de estimular a prtica

    de atividades fsicas? Os contedos veiculados revelam o qu? Ela se interessa em assuntos

    como o Mexa-se So Paulo ou por contedos como este veiculado pelo Jornal Zero Hora

    (Porto Alegre) em 16 de novembro de 2002 intitulado Mexa-se para evitar doenas. Quantoespao a Mdia reserva para temas como estes? Respostas para essas perguntas so

    praticamente inexistentes, mas cada vez mais necessrios. No LCMMEF h pesquisas,

    quantitativas e qualitativas. em andamento. As de carter quantitativo, em sua maioria,

    buscam averiguar o espao que a mdia d ao esporte no-profissional, as outras buscam

    resposta importncia do contedo esportivo veiculado para a mudana de comportamento do

    publico, quanto a prtica de exerccios fsicos. Discute-se, inclusive, a diferena entre

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Mdia Esportiva, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao,Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    importante (interesse pblico) x interessante (interesse do pblico), baseado em CORREA

    (1998).

    Tony Schwartz em sua obraMdia, o segundo Deus destaca a importncia da Mdia na

    sociedade e do espao que ela ocupa. leitura obrigatria para os pesquisadores da rea,

    porque a mdia est em toda parte, assim como o esporte est em toda mdia: nas novelas, nos

    seriados, nos programas de auditrio. O esporte o alvo da mdia, que transmite informaes,

    alimenta nosso imaginrio e fornece elementos interpretao do mundo.

    NO LCMMED, so consideradas as duas vises, que segundo ECO (1970), pairam

    sobre a Mdia: a) a dos apocalpticos que atribuem mdia uma funo conservadora, que

    aliena; b) a dos integrados, que operam, produzem e emitem suas mensagens em todos osnveis da mdia. Vem na mdia a possibilidade de acesso a todos os bens culturais.

    Quando discutem-se as Cincias do Movimento Humano, voltadas ao campo da

    cultura corporal do movimento; a atuao (importncia/influncia) da mdia crescente, alm

    de decisiva, na construo de novos significados e novas modalidades de entretenimento e

    consumo. A sociedade consumidora do esporte (espetculo), seja como torcedora nos

    estdios e nas quadras ou como espectadora, ouvinte ou leitora de Meios de Comunicao. O

    nvel de consumo e de investimento, inclusive financeiro, depende de cada indivduo e/ou decada grupo. Quanto mais envolvido e apaixonado por esporte, maior seu envolvimento e seu

    investimento.

    H muitas informaes de interesse da rea da Educao Fsica/Esporte veiculadas

    pela mdia. Nem todas so corretas e confiveis, mas que, no entanto, se sobrepem pela

    baixa capacidade crtica1 de espectadores e leitores. Outras estimulam a atividade fsica sob o

    pretexto de resultados mirabolantes, desejados por todos. A revista Corpo Fitness (especial n

    18, ano IV, 2003) veiculou na capa Corpo novo em 3 meses ou Bumbum definido ebarriga lisa. Anlise mais detalhada d conta que esse corpo requer hbito e disciplina. E,

    quantas pessoas tm hbito e disciplina, dirios, para realizar atividades fsicas que garantem

    esse resultado em 90 dias?

    1 Ampliar e aperfeioar esta capacidade crtica o que se pretende quando se defende a Mdia nas aulas deEducao Fsica. atravs da anlise de material veiculado pela Mdia, nas aulas de Educao Fsica, que

    podemos tornar o aluno mais reflexivo.

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    Livrarias e bancas de revistas revelam que, nos ltimos anos, houve elevao na

    quantidade de informaes veiculada e publicamente partilhada que interessa rea da

    Educao Fsica. No entanto, diante dos poucos estudos conhecidos ou existentes, infere-se

    que seus profissionais, ainda no assumiram a tarefa de chamar a si essas informaes para

    avaliar, discutir e intervir na qualidade da informao veiculada, em nome dos objetivos da

    Educao Fsica.

    Atualizar propostas pedaggicas da Educao Fsica, no sentido de tambm avaliar e

    discutir os sentidos e as repercusses da Mdia na Educao Fsica Escolar, fundamental na

    sociedade atual, sobretudo a influncia da TV. Os questionamentos perpassam aspectos desde

    o(s) conceito(s) de esporte veiculado pela Mdia e a(s) forma(s) utilizada(s) para represent-lo(s). Outra questo refere-se s implicaes, do(s) conceito(s) e da(s) forma(s), para a

    Educao Fsica enquanto prtica pedaggica

    Conforme pesquisa realizada no LCMMEF em 2001, referente a prtica de atividades

    de lazer em 31 municpios do RS, assistir televiso, foi apontada, pelos entrevistados, como a

    principal forma de lazer, para ocupar tempo livre. O resultado tornou-se importante s

    pesquisas do Laboratrio, na medida que entende-se que a TV pode espetacularizar qualquer

    coisa frente aos crescentes e sofisticados recursos tcnicos. Ela cria emoes, utilizamecanismos que espetacularizam a violncia e a morte. Na transmisso de corridas de

    Frmula 1, por exemplo, constantemente, o telespectador assiste acidentes espetaculares.

    Alm dos recursos tcnicos, a utilizao da linguagem blica, emotiva e de rivalidade 2so

    mecanismos para criar e/ou veicular o espetculo esportivo.

    Para falar de esporte e, principalmente para discutir suas relaes com a mdia, no

    mbito escolar, necessrio considerar a classificao realizada pela Sociologia do Lazer.

    Segundo ela, h o praticante ativo do esporte (o atleta) e o consumido passivo (o espectador).O profissional atuante da rea da Educao Fsica, diariamente, tem contato com pessoas de

    ambos os grupos, seja na escola, na academia, no clube, em hospitais ou hotis. Parte do

    desafio e do sucesso que almeja como profissional est ligado conquista de pessoas sua

    proposta. Influenciar praticantes, ativos ou passivos no sentido de orient-los a absorver da

    mdia aquilo que deve serabsorvido e, principalmente, como deve ser absorvido, uma meta

    2

    Ver mais em HATJE (2000).

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    que requer pacincia, tempo e, sobretudo, muito conhecimento do processo comunicativo,

    desde a coleta at a produo e a veiculao das informaes.

    Para discutir as relaes entre a mdia e o esporte, necessrio tambm considerar o

    que ECO (1984) chama de Falao, que atribui um enfoque hegemnico ao discurso. Neste

    caso, quando se fala em esporte, se fala em vitria, em resultado, em esforo intenso, em

    medalhas e em dinheiro. As anlises dos comentaristas esportivos (em sua maioria

    comentaristas de futebol), giram em torno da tcnica e da ttica empregada pelos treinadores

    das equipes, e do desempenho do atleta na partida, diante do esquema utilizado. nesse

    contexto, que muitos profissionais da Educao Fsica buscam argumentos para sustentar que

    Mdia e Esporte no tem relao e que a Comunicao no faz parte da rea.AFalao geralmente parcial, porque fruto de opinies pessoais, de comentaristas

    ligados modalidade esportiva em evidncia e veiculada, muitas vezes, sem o contedo

    necessrio para que, as informaes, sejam absorvidas pela sociedade como algo que possa

    contribuir formao social e cultural. Os contedos veiculados so resultado de diversos

    aspectos, entre eles: a) de formao inadequada dos profissionais da Mdia que atuam no

    esporte, e b) muitos profissionais, quando nasceram, j nasceram com seu time de futebol ou

    seu partido poltico definido, pela famlia. Exemplos so publicados nas pginas sociais dosjornais. Assim, quando se tornam jornalistas, por exemplo, carregam o amor pelo time ou pelo

    partido polticopara a profisso, no conseguindo, portanto, excluir a subjetividade naquilo

    que veiculam pela mdia.

    A Mdia e, sobretudo a TV, para conquistar audincia e espetacularizar seus produtos

    denomina tudoEsporte (diversidade de prtica), seja ele ligado melhoria da condio fsica,

    como caminhar, correr, fazer ginstica; superao de desafios, como o alpinismo e a asa

    delta; ou atividades ligadas natureza, como as trilhas e o turismo ecolgico. Nessecontexto, segundo, BETTI3, os critrios clssicos da sociologia que definem esporte foram

    subvertidos. No mais necessrio competio, desempenho, vitria ou recorde. O esporte

    espetculo requer ampliao do seu conceito.

    Os profissionais da Educao Fsica devem aprofundar seus conhecimentos e apontar

    as possibilidades dos diversos nveis e tipos de prticas que compem a cultura corporal

    3 Mdia e Educao: anlise da relao dos meios de comunicao de massa com a educao fsica e os esportes.

    Seminrio Brasileiro em Pedagogia do Esporte. Santa Maria-RS, s/d..

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Mdia Esportiva, XXVI Congresso Anual em Cincia da Comunicao,Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    esportiva. Devem considerar que a Mdia e, principalmente a TV, rivaliza com a escola e

    com a famlia enquanto fonte de formao de valores e atitudes. A famlia, a TV e a escola

    constituem o tripe bsico formao (cultural, social....) de qualquer pessoa na sociedade

    contempornea. Para BETTI, a TV um problema educacional que deve merecer ateno.

    Destaca, no entanto, o descompasso entre o nvel tcnico do esporte difundido pelo esporte

    espetculo da TV e as reais possibilidades de alunos, escolas e professores.

    O descompasso existente entre a realidade de alunos, escolas e professores e as

    informaes veiculadas pela TV, tambm existe em outros extratos da Mdia. As informaes

    em revistas especializadas em divulgar formas de como emagrecer, como tonificar barriga

    e bumbum,por exemplo, geralmente so ineficientes. As dicas e as orientaes no atingem ogrande pblico, seja por falta de hbito, de disciplina ou vontade de praticar atividade fsica.

    Ou ainda, pelo fato de no haver um profissional qualificado para orientar a execuo correta

    e adequada de atividades propostas nas revistas, o resultado alm de insatisfatrio pode

    acarretar prejuzo sade dos consumidores da informao.

    A Mdia o universo cultural em que as novas geraes socializam-se no esporte. A

    TV o veculo que mais influencia a cultura, por ser ainda o meio que agrega, em torno dele,

    o maior nmero de pessoas. A natureza e as conseqncias desta influncia so polmicas erequerem discusses mais amplas de todos os setores da sociedade. As produes esportivas

    da mdia devem ser associadas s aulas de Educao Fsica. Analisar e discutir programas de

    TV, matrias veiculadas em jornais e revistas e transmisses pelo rdio (porque estas ampliam

    a imaginao e a criatividade dos alunos), quando esto em evidncia eventos nacionais e

    internacionais ampliam o repertrio individual dos alunos e a possibilidade deles se tornarem

    pessoas mais crticas e reflexivas diante da realidade.

    Assuntos como Doping, Violncia, Sade e Beleza, quando esto em evidnciagrandes eventos, na Mdia, podem sustentar e motivar discusses interessantes, mas

    sobretudo, importantes nas aulas de Educao Fsica. Embora a TV tente veicular um modelo

    hegemnico de esporte, ela apresenta contradies. O verdadeiro professor capaz de

    perceber e selecionar matrias para promover assuntos emergentes, atuais, que dizem respeito

    aos alunos, como realizao pessoal; sociabilizao e auto-conhecimento. Discutir o modelo

    de corpo exigido pela sociedade, por exemplo, implica em abordar a sade, o preo para se

    manter em forma; a importncia dele para a realizao pessoal. O problema do uso de drogas

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    (causas e conseqncias), especialmente por crianas e adolescentes, seria oportuno a partir

    de reportagens que tratam do Doping em atletas, quanto aos prejuzos pessoais e profissionais

    causados.

    No contexto do LCMMEF, em que se discutem as relaes entre o Esporte e a

    Sociedade, pautadas pela Mdia, o educador pea fundamental. Pairam sobre ele

    caractersticas como um dos principais mediadores entre a sociedade (especificamente os

    alunos) e a Mdia. Como profissionais inseridos neste contexto interdisciplinar,

    imprescindvel amplo conhecimento para conduzir estudos e pesquisas, formativas e

    informativas, sobre o esporte (espetculo) e suas implicaes na sociedade. Usufruir do

    esporte desta maneira exige alm de conhecimento, instrumentos voltados aos diversossignificados e modelos de prtica que o esporte possui na sociedade contempornea, visto que

    a a Educao Fsica Escolar pode propiciar aos alunos a oportunidade de contrastar a vivncia

    de praticar esporte, enquanto experincia vivida, com a experincia de apenas assistir esporte.

    Por fim, entende-se a mdia como ferramenta pedaggica que a Educao Fsica

    (pode) mobiliza (r ) para intervir na sociedade e no apenas como instrumento de percepo

    do mundo. neste aspecto que reside a diferena, mas sobretudo, a importncia de levar a

    Mdia (meios) para a Escola. As teses (3), as dissertaes (10) e as monografias (9) jrealizadas no Laboratrio de Comunicao, Movimento e Mdia na Educao Fsica do

    Programa de Ps-Graduao em Cincia do Movimento Humano abordam, justamente, esta

    questo a partir de vrias premissas e entendimentos. So estes estudos que fundamentam a

    nova proposta denominada Fundamentos Expressivos e Comunicativos do Movimento

    Humano.

    3 CONSIDERAES FINAIS

    Ao concluir este ensaio, fica a certeza de que muitas questes requerem discusso

    mais aprofundada. necessrio ampliar e intensificar o leque de conhecimento

    interdisciplinar, diante da certeza de que, assim como os profissionais da Educao

    Fsica/Esporte, o pblico-alvo tambm influenciado pela mdia, seja ele o praticante ativo

    ou o consumidor passivo do esporte (o espectador).

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    O desafio est em descobrir, a partir de pesquisas e discusses, como os

    profissionais da Educao Fsica/Esporte podem melhorar aperformance fsica do praticante

    ativo (no sentido de estimul-lo aos exerccios fsicos) e aperformance intelectualdo segundo

    (no sentido de torn-lo mais crtico e reflexivo diante do que veiculado pela Mdia).

    A reestruturao do Programa de Ps-Graduao em Cincia do Movimento Humano,

    especialmente dos objetivos do Laboratrio de Comunicao, Movimento e Mdia na

    Educao Fsica, do CEFD/UFSM, permite inferir que a relao interdisciplinar entre as rea

    da Educao Fsica/Esporte e Comunicao Social, bem como as discusses para

    compreender e interferir no contexto Mdia, Esporte e Sociedade, desde o incio de 90,

    ampliaram-se, conforme revelam os estudos realizados at 2003. A incluso de (novas)questes voltadas a Cincias do Movimento Humano, em nvel de Ps-Graduao, e a

    prpria reestruturao curricular da Educao Fsica, em nvel de Graduao, faz-se

    necessria, principalmente no sentido de ampliar o prprio conceito de comunicao

    (enquanto processo) e da importncia deste na formao dos novos profissionais no Brasil, a

    partir das novas Diretrizes Curriculares.

    A mdia no contexto da Educao Fsica/Esporte conquistou definitivamente seu

    espao. A importncia, no entanto, para os diversos profissionais, depende do conceito e dosobjetivos que cada um ostenta ou defende, considerando o processo ensino-aprendizagem na

    formao de uma sociedade, de seres humanos mais crticos e reflexivos.

    Para concluir, ficam duas questes para reflexo, que atualmente, sustentam algumas

    discusses no LCMMEF: a) a imprensa brasileira, sobretudo a esportiva, tem se

    caracterizado como formativa ou informativa em suas coberturas?; b) a imprensa brasileira

    contribui com o desenvolvimento do esporte ou o esporte com o desenvolvimento da

    imprensa? Qual o papel de cada um deles no contexto esportivo atual?

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    Endereo: Rua Dr. Pantaleo, 214/403 Santa Maria RS. CEP: 97010-180 Telefone:(55) 222 8988 E-mail: [email protected]