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    Deixem-me falar um pouco sobre o que eu consi-

    dero, o que ns na Amana consideramos a essncia da

    gesto. Talvez sejam poucas coisas e, certamente, pou-

    cas coisas nucleares, ou seja, coisas de essncia. Se elas

    estiverem muito bem resolvidas, provavelmente todas

    as outras, que so mais perifricas, sero resolvidas

    tambm de uma forma muito mais fcil e melhor. Ento,

    quais so essas coisas que ns consideramos como

    sendo parte da essncia da gesto?

    A primeira que me vem cabea, rapidamente,

    propsito. Se a empresa no sabe para que existe, qual

    a sua razo de ser, ns temos um problema muito

    srio, um problema nuclear. Na verdade, propsito

    define a identidade da organizao: quem somos e

    quem queremos ser no futuro. Esta uma questo que

    vocs, tenho certeza, tm debatido neste programa,

    mas eu considero que este , talvez, o ponto mais

    importante a ser trabalhado pelos gestores de todos os

    nveis e, principalmente vocs, que so da gesto

    intermediria, estarem extremamente atentos at a par-

    tir das confuses e dvidas que existem na base, vocs

    estarem continuamente em dilogo com a cpula das

    organizaes, visando assegurar que esta identidade

    esteja sempre muito clara.

    Ento, na medida em que esta razo de ser, este

    propsito esteja muito claro, ns, obviamente, temos

    condies de assegurar um nvel de motivao muito

    alto na organizao.

    Motivao o segundo ponto que eu destacaria

    como sendo da essncia da gesto. Sem motivao, no

    h energia. Eu costumo dizer at que a energia, a alma

    da organizao no est nas pessoas, est na motivao

    das pessoas. Motivao, mais uma vez, ns temos que

    conversar muito nas organizaes porque ainda existe

    uma convico de que motivao vem simplesmente

    do dinheiro. Mas dinheiro uma coisa muito passagei-

    ra. Talvez no momento do aumento, no ms seguinte

    ao aumento, a gente tenha uma energia, uma animao

    maior, mas no algo que puxa a motivao para cima.

    E uma das coisas mais importantes para assegurar

    motivao sustentvel um propsito nobre, que a

    ESSNCIA DA GESTOOscar Motomura

    pessoa veja significncia naquilo que faz e veja que,

    atravs do seu trabalho, est contribuindo para a socie-

    dade como um todo. Esta uma sensao extremamen-

    te importante. Mas uma observao, tambm importan-

    te em relao motivao, que as pessoas, muitas

    vezes, tm condies de contribuir para a sociedade de

    vrias formas, atravs de vrias especialidades, de v-

    rias reas de conhecimento e de vrios trabalhos. s

    vezes, a pessoa tem esta inteno de contribuir para a

    sociedade, mas no se sente bem naquele ramo de

    negcio, naquele tipo de empresa. Talvez ela tenha

    vocao para outros trabalhos, outras reas profissio-

    nais e nesse ponto muito importante a gente assegu-

    rar a pessoa certa no lugar certo e com a motivao

    certa. E, nesse sentido, eu sempre costumo dizer que

    seleo algo de extrema importncia nas organiza-

    es. Ns temos que ter um cuidado muito grande ao

    selecionar quem a gente traz para as organizaes, e

    toda a cpula, todas as pessoas de maior responsabili-

    dade, que so os verdadeiros lderes, devem participar

    desse processo de seleo, no delegar isso, porque

    uma das horas em que a intuio, a sabedoria desses

    lderes se faz extremamente importante para que ns

    no erremos na seleo. E muitas pessoas fazem este

    trabalho de seleo de uma forma no muito boa e

    acabam trazendo pessoas que precisam ser corrigidas,

    melhoradas, ajustadas e eu costumo dizer que treina-

    mento no corrige erro de seleo. muito importante

    a gente pensar nisso e vale a pena capricharmos muito

    na seleo, porque se a gente fizer isso, at se preocu-

    pando com a integridade das pessoas, a tica, a capa-

    cidade de relacionamento de trabalhar em equipe ,

    cuidar dessas coisas que so mais difceis de mensurar

    num processo de seleo, ns estaremos assegurando

    cada vez melhores condies para que a motivao

    esteja muito bem o tempo todo; portanto, de forma

    sustentvel, e isso que gera efetivos resultados.

    Propsito, ento, algo extremamente importan-

    te. Motivao extremamente importante. Outro pon-

    to que eu destacaria integrao. Na essncia da gesto

    est este trabalho de os gestores todos estarem traba-

    lhando para integrar tudo o que existe na organizao.

    Muitas vezes nas organizaes ns temos um parado-

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    xo, ns falamos muito sobre a importncia de ter um

    organismo integrado, mas a empresa foi desenhada

    muitas vezes de forma fragmentria: departamento A,

    departamento B, departamento C, e o mais impressio-

    nante que os departamentos no se conversam e s

    vezes at competem entre si. Ento ns temos hoje, num

    momento em que a cultura das organizaes ainda est

    neste nvel de fragmentao, uma das grandes priorida-

    des da gesto assegurar cada vez melhor e maior

    integrao nas organizaes. Ento, se o executivo fizer

    s uma coisa, trabalhar para que haja integrao de tudo

    o que est fragmentado, o seu impacto pode ser muito

    significativo.

    Ento, mais uma vez, propsito, a questo da

    motivao, da integrao, ns todos estarmos muito

    atentos a estes fatores. E a quarta coisa que eu destaca-

    ria ligada cultura da organizao. Uma cultura

    organizacional, um ambiente onde as pessoas estejam

    sempre servindo umas s outras. Cultura do servir, de

    ser til ao outro, til aos clientes, aos colegas. A noo

    de ser til, de ajudar as pessoas, de servir s pessoas

    como algo que est inerente a qualquer organizao e

    que extremamente importante para seus resultados.

    Muitas vezes ns temos o contrrio: pessoas que dri-

    blam o servir, at o cliente, o que um grande

    paradoxo. Ns estamos numa era em que est se

    aproximando a era de servios. Mas o que a era de

    servios? Estar no ramo de servios, a isso que se

    refere estar nessa era de servios? No. Fundamental-

    mente, ns estamos dizendo que, no momento em que

    no precisarmos investir tantas horas do nosso traba-

    lho para gerar bens que ns precisamos consumir

    alimentos etc. , ns estaremos com mais tempo; alis,

    podemos at dizer tempo de cio. Mas, no momento

    em que estivermos com mais tempo, que poderemos

    usar do jeito que quisermos, o que vai acontecer na

    verdade? Pessoas ajudando outras, pessoas servindo

    aos seus semelhantes. Este o verdadeiro conceito de

    servio e mais e mais isto est cada vez mais presente

    nas organizaes como um fator de sucesso, que defi-

    ne inclusive a qualidade de tudo o que a gente faz. No

    adianta ter um produto bom se isso levado ao cliente

    final de um jeito que no de alta qualidade. Ento, o

    quarto fator, o quarto ponto essencial de estratgia

    esta cultura de servir.

    Outro fator superimportante em gesto dentro

    deste contexto todo, eu costumo dizer que gesto, se

    eu fosse definir da forma mais simples, a arte de fazer

    acontecer. As coisas esto acontecendo? Ento, prova-

    velmente, ns temos uma gesto muito boa por trs.

    Podemos pecar em algumas coisas, mas se os resulta-

    dos esto efetivamente aparecendo, e as pessoas esto

    satisfeitas, ento ns podemos presumir que a gesto

    est andando. Isso eu enfatizo, porque tem muitas

    organizaes que dizem, ns temos isso aqui muito

    bem, temos o sistema x, temos uma poltica de Recur-

    sos Humanos, temos estratgias bem definidas, e os

    resultados no esto bons. Ou seja, no obstante todas

    estas coisas que eu poderia chamar de coisas-meio,

    os resultados finais no esto aparecendo. A a gente

    faz o mesmo raciocnio e, se os resultados no esto

    bons, a gente pode presumir que muitas coisas que

    deveriam estar sendo muito bem feitas voltadas ao

    fazer acontecer , no esto acontecendo. Diramos, a

    gesto no est boa. Ento, um ponto essencial da

    gesto essa arte de fazer acontecer. Planos fantsti-

    cos, diagnsticos excepcionais, anlises muito bem

    feitas, mas isso tudo no gera resultados. O que gera

    resultados so as aes, o efetivo fazer acontecer,

    outro ponto que est na essncia da gesto.

    Uma outra coisa que eu considero extremamente

    importante evoluo contnua. Um chavo que a

    gente ouve nas empresas hoje precisamos aprender

    de nossos erros. claro que a ao pode levar a erros,

    mas primeiro ns temos que cuidar para que esses

    erros sejam nobres. E erros levam aprendizagem se a

    gente refletir sobre os erros que comete. Se a gente

    erra, fala errar humano, passa batido e vai fazer

    outra coisa, obviamente, ns no estamos extraindo

    sequer 1% dos benefcios que podemos extrair em

    termos de aprendizagem a partir dos erros nobres que

    cometemos em nossas organizaes. Erros podem ser

    extremamente teis para nossa evoluo e aprendiza-

    gem? Com certeza. Se a gente, coletivamente, refletir

    sobre os erros e encontrar a causa das causas desses

    erros e tomar a deciso de fazer os movimentos corre-

    tivos, inclusive treinando e desenvolvendo posturas

    adequadas para que esses erros nunca mais aconte-

    am. s vezes precisamos at polir a cultura organiza-

    cional para que esses erros no venham a acontecer

    novamente. A ns estamos evoluindo a partir dos

    erros que a gente vai cometendo.

    E o ltimo item que eu queria mencionar nesta

    primeira passada de sntese da gesto esta idia de

    que ns precisamos estar sempre em nosso melhor

    estado. Ou seja, se temos 500, 1000, ou 10000 pessoas,

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    essas pessoas precisam estar bem. Agora, bem como?

    Esto satisfeitas... No. Muito mais do que isso. Primei-

    ro ns temos que assegurar que as pessoas estejam o

    tempo todo bem, no seu melhor estado fsico, emoci-

    onal, mental e espiritual. Por exemplo, tem pessoas

    que so brilhantes, esto estressadas, cansadas, fisica-

    mente exauridas. A pergunta como que essa pessoa

    consegue gerar resultados? Vai ser muito difcil. Tem

    pessoas tambm brilhantes, com uma formao ex-

    cepcional, que esto mentalmente perturbadas, psico-

    logicamente desequilibradas, e at fazendo uso de

    drogas para se manterem ativas. claro que isso uma

    fonte impressionante de problemas nas organizaes.

    Ento precisamos assegurar que as pessoas estejam

    emocionalmente bem, psicologicamente bem, fisica-

    mente bem e espiritualmente bem. Que as pessoas

    estejam conscientes do seu papel na vida, bem equili-

    bradas. As pessoas precisam ter objetivos na vida

    muito claros, a sua identidade muito clara. Ento, na

    medida em que ns tivermos todas as pessoas serenas,

    no Vzero, pessoas no melhor estado, ns estaremos

    conseguindo resultados excepcionais. Agora, vejam

    que um grande desafio: como ns, lderes, gestores

    intermedirios, podemos contribuir para que todas as

    pessoas que trabalham na organizao da cpula

    base , estejam em seu melhor estado. Um grande

    desafio. A esta altura, vocs devem estar pensando,

    Puxa, mas isso responsabilidade da cpula. Na

    nossa filosofia, os melhores resultados da organizao

    no so resultado simplesmente da ao da cpula.

    claro que a responsabilidade grande na cpula,

    principalmente em termos de condies, definies

    estratgicas e tudo o mais, mas isto por causa da

    responsabilidade e autoridade que muitas organiza-

    es tm at estatutariamente, quando as pessoas so

    responsabilizadas legalmente pelos resultados que

    aparecem. Porm, quando a gente fala de quem que

    mais influencia a excelncia dos resultados, a gente

    nunca pode dizer que a cpula, porque a dinmica

    que existe nas organizaes pressupe que as melho-

    res idias que fazem as empresas estarem em contnua

    evoluo podem vir de qualquer lugar. Hoje ns esta-

    mos falando muito que as pessoas mais prximas do

    futuro so as mais jovens, as que esto chegando, as

    que tm uma familiaridade maior com a tecnologia

    inovadora que est invadindo todos os cantos da orga-

    nizao. Claro. Ento, ns podemos imaginar que os

    jovens at em posies ainda de incio de carreira

    tenham uma contribuio tremenda a dar, mais uma

    vez, se souberem para que a empresa existe, qual o

    propsito, e consigam ter um entendimento muito

    grande de quais so esses pontos essenciais da gesto

    e tenham uma noo muito clara da anatomia de

    resultados como a empresa funciona, como ela deixa

    de gerar resultados ou como que ela pode gerar

    resultados excepcionais. Na medida em que esses

    jovens tenham esta noo, tm condies de contri-

    buir cada vez mais para os resultados da organizao.

    Mas este melhor estado precisa estar em todos os

    nveis, dos mais jovens at a cpula, e nesse sentido

    que fundamental que todos estejam com esta respon-

    sabilidade internalizada e comecem a trabalhar em

    tudo que d para melhorar, influenciando todos os

    nveis, vendendo para o chefe idias que possam,

    inclusive, alavancar os resultados da organizao.

    Ento, se a gente pudesse fazer uma pequena

    sntese de quais so os pontos essenciais da gesto, eu

    separaria estes como sendo os mais relevantes. claro

    que existem vrias outras coisas que esto emaranha-

    das, ou esto dentro destes fatores e, principalmente,

    o que eu mais chamaria a ateno para esta idia de

    dar ateno no s aos aspectos mais objetivos, tang-

    veis, mensurveis (que recebem ateno excessiva nas

    organizaes, na minha opinio), mas tambm que

    dem muita ateno aos dados intangveis, subjetivos,

    difceis de medir, invisveis, que fazem parte da vida

    organizacional. Na medida em que todos esses dados,

    no s os tangveis, mas os intangveis, no s os

    visveis, mas os invisveis, no s os mensurveis,

    como aqueles que so mais subjetivos e de difcil

    mensurao recebam a ateno devida, ns estaremos

    criando as melhores condies para otimizar os resul-

    tados no s no curto prazo, como no mdio e no

    longo prazos. A gesto tem que ser sistmica no s

    num plano, mas tambm no tempo, ou seja, conseguir

    ver as conexes que existem entre as decises que ns

    tomamos agora e a conseqncia de nossas decises

    em todas as reas da organizao e todas as reas que

    a nossa organizao impacta na sociedade. Um convite

    que eu tambm faria a vocs a esta viso sistmica,

    ver este conjunto todo o tempo todo quando ns

    fazemos gesto, algo de excepcional importncia quan-

    do a gente fala da gesto para esses novos tempos.

    Viso sistmica no plano lateral, considerando todas

    as reas, as implicaes todas, mas tambm viso

    sistmica no tempo. E, assim, talvez, a gente consiga

    rapidamente no s assegurar excelncia de resulta-

    dos mas, atravs da ateno a esses pontos, termos a

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    excepcional capacidade de reinventar as organiza-

    es, tornando-as mais produtivas e, principalmente,

    em melhores condies de chegar ao futuro.

    Quanto ao propsito, algumas organizaes pen-

    sam simplesmente ns existimos para satisfazer s

    necessidades dos nossos acionistas. Hoje ns estamos

    pensando muito mais na organizao como um orga-

    nismo vivo, que tem um papel e um impacto muito

    grande no contexto maior, e no s os acionistas tm

    interesse em que a organizao v bem, existem outros

    stakeholders. Ou seja, quem que tem interesse em

    fazer com que a empresa esteja sempre muito bem? Ou

    que a empresa esteja sempre sadia? Funcionrios, o

    governo, fornecedores, clientes. Ento ns estamos

    falando de muitos outros agentes a sociedade como

    um todo est interessada em que a organizao no s

    contribua muito bem, mas esteja bem e seja uma

    organizao sustentvel, porque nada maior desper-

    dcio para a sociedade do que as empresas que vo

    falindo, tendo problemas... Isso na verdade representa

    um desperdcio grande quando a gente comea a

    pensar na sociedade como um todo.

    Agora, neste contexto, quando esses agentes to-

    dos, todos os stakeholders devem ser levados em

    considerao pelo que a empresa faz, ns temos que

    pensar muito bem nesta idia de propsito, que esteja

    honrando a contribuio da organizao para todos

    esses stakeholders. Principalmente quando a gente

    fala de significado, razo de ser da organizao, eu

    chamaria muito a ateno de que qualquer propsito

    tem que estar contribuindo para o bem-estar de todos,

    ou o bem-estar da sociedade como um todo. Este o

    verdadeiro sentido da tica: a busca do bem comum.

    Na medida em que ns estejamos pensando na

    essncia da gesto e em propsito, um guia que nos

    mantm extremamente honestos neste trabalho de

    definir com grande clareza o tempo todo, e assegurar

    que todos na organizao tenham este propsito nos

    ossos, internalizados para que isto se manifeste de

    uma forma muito natural em tudo que a empresa faz,

    em tudo que a pessoa faz, ento ns temos que pensar

    muito no ltimo degrau deste processo de fazer as

    coisas acontecerem. Ns fazemos isto para qu? Por

    que a gente faz tudo isso? E temos que chegar muito

    bem a um encadeamento que desage no bem comum,

    e tudo que ns fizermos deve levar a organizao para

    um lugar melhor, para uma situao melhor para to-

    dos, inclusive deixando legados extremamente positi-

    vos para as futuras geraes.