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O JORNAL DA MEDICINA PORTUGUESA Director|Fundador: Dr. José Reis Jr. Director|Editor: Rafael Reis DESTACÁVEL ACES Médio Tejo II ZÊZERE SUPLEMENTO QUINZENAL AGRUPAMENTOS DE CENTROS DE SAÚDE Fazer um bom trabalho, mesmo com poucos recursos Número 3146 Quarta-feira, 1 Fevereiro de 2012 SEMANÁRIO Preço: 0,01 [email protected] ANO XLI FAÇA JÁ A SUA ASSINATURA DE APOIO PÁG. 8 PÁGINA 3 PÁGINA 16 PÁGINA 13 PÁGINAS 9/12 PÁGINAS 4/8 VER PÁGINAS 11/13 Dados do último Estudo de “Audiência da Imprensa Médica” CSDCegedim Strategic Data. Estudo independente. Não encomendado por nenhum título. DESDE 1971. LÍDER DE AUDIÊNCIA DA IMPRENSA MÉDICA Debate e polémica na OM Diabetes e Cuidados de Saúde Primários Jornadas Diabetologia Prática em Medicina Familiar O papel da Metformina Pé diabético Alimentação e Diabetes Glicemia capilar Rastreio da Retinopatia Diabética 6.º CONGRESSO PORTUGUÊS DO AVC Prof. Castro Lopes AVC atinge pessoas de todas as idades Prof. José Ferro Faltam Centros de Reabilitação Prof. Manuel Correia apresenta Estudo ACIN 2 Incidência do AVC está a baixar Resultados do IST-3 podem mudar a forma de olhar a Trombólise Prevenção Secundária do Tromboembolismo Venoso A Profª Sylvia Haas, Professora Emérita de Medicina e ex-Directora do Grupo de Investigação de Hemostase e Trombose do Institute for Experimental Oncology and Therapy Research da Universidade Técnica de Munique, apresentou o tema da Prevenção Secundária do Tromboembolismo Venoso no 2º Simpósio de Tromboembolismo: Da Profilaxia ao Tratamento, organizado pela Comissão de Vigilância e Profilaxia do Tromboembolismo Venoso do CHLO Presidente do IPO do Porto defende fusão num único Instituto Novos anticoagulantes orais em foco

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O JORNAL DA MEDICINA PORTUGUESA

Director|Fundador: Dr. José Reis Jr. Director|Editor: Rafael Reis

DESTACÁVEL

ACESMédio Tejo II

ZÊZERE

SUPLEMENTO QUINZENAL AGRUPAMENTOS DE CENTROS DE SAÚDE

Fazer um bom trabalho, mesmo

com poucos recursos

Número 3146 Quarta-feira, 1 Fevereiro de 2012SEMANÁRIO Preço: 0,01 € [email protected] ANO XLI

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Dados do último Estudo de “Audiência da Imprensa Médica” CSDCegedim Strategic Data. Estudo independente. Não encomendado por nenhum título.DESDE 1971. LÍDER DE AUDIÊNCIA DA IMPRENSA MÉDICA

Debate e polémica na OM

Diabetes e Cuidados de Saúde Primários

Jornadas Diabetologia Prática em Medicina Familiar

O papel da MetforminaPé diabético

Alimentação e DiabetesGlicemia capilar

Rastreio da Retinopatia Diabética

6.º CONGRESSO PORTUGUÊS DO AVC

Prof. Castro Lopes

AVC atinge pessoas de todas as idades

Prof. José Ferro

Faltam Centros de Reabilitação

Prof. Manuel Correia apresenta Estudo ACIN 2

Incidência do AVC está a baixar

Resultados do IST-3 podem mudar a forma de olhar a Trombólise

Prevenção Secundária do Tromboembolismo

Venoso

A Profª Sylvia Haas, Professora Emérita de Medicina e ex-Directora do Grupo de Investigação de Hemostase e

Trombose do Institute for Experimental Oncology and Therapy Research da Universidade Técnica de Munique,

apresentou o tema da Prevenção Secundária do Tromboembolismo Venoso no 2º Simpósio de Tromboembolismo: Da Profilaxia ao Tratamento, organizado pela

Comissão de Vigilância e Profilaxia do Tromboembolismo Venoso do CHLO

Presidente do IPO do Porto defende fusão

num único Instituto

Novos anticoagulantes

orais em foco

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DESTAQUE 1 FEVEREIRO 20124

Pelo sexto ano consecutivo, a SPAVC junta, num mesmo espaço, centenas dos mais reputados espe-cialistas nacionais e estrangeiros

no que se refere ao acidente vascular cere-bral, num esforço contínuo de actualização de conhecimentos e partilha de experiên-cias.

Como afirma o Presidente da SPAVC e do Congresso, Prof. Castro Lopes, em entrevista ao NOTÍCIAS MÉDICAS, “o Congresso Português do AVC afirmou-se como uma referência incontornável no panorama dos eventos científicos realiza-dos no nosso país”, atribuindo “à impor-tância do tema e ao modelo organizativo do congresso tal circunstância”.

Os números não deixam margem para dú-vidas. Este ano, “o Congresso Português do AVC, a avaliar pela grande afluência de inscrições verificadas neste momento, atingirá ou mesmo ultrapassará o nú-mero de presenças nos últimos Congres-sos, da ordem das oito centenas”.

Além disso, e apesar da crise, a indús-tria farmacêutica estará presente em força, “ultrapassando já o elevado número do último Congresso”.

Segundo o neurologista, o Congresso, enquanto “momento alto da vida da So-ciedade Portuguesa do AVC”, visa, nesta como noutras edições, alertar todos os pro-fissionais de saúde para a urgência do com-bate à doença.

Nesse sentido, sublinha, a organização teve o cuidado de não sobrepor sessões, para que “todos aprendam com tudo”.

“Será que estamos a dar a devida atenção

ao adulto jovem?”

A edição deste ano começa com uma questão pertinente: “Será que estamos a dar a devida atenção à doença vascular cerebral no adulto jovem?”.

A propósito, recorda o Prof. Castro Lo-pes, “a SPAVC comemorou o Dia Mun-dial do AVC, que se assinalou a 29 de Outubro de 2011, com uma sessão de esclarecimento dirigida a jovens alunos da Escola Secundária Garcia de Orta”.

O slogan utilizado foi “O AVC não é uma doença de velhos”. Com uma linguagem assertiva, a Sociedade quis transmitir aos adolescentes que “o AVC atinge pessoas de todas as idades”.

Prof. Castro Lopes, presidente

“O AVC atinge pessoas de todas as idades”

A Sociedade Portuguesa do AVC realiza o 6º Congresso Português do AVC já nos dias 2, 3 e 4 de Fevereiro, no Porto

Media Partner “Quantos anos queres viver?” Escolhe agora!” ou “Nunca é cedo de mais para pre-venir o AVC”: eis algumas das palavras de ordem utilizadas pelo Prof. Castro Lopes, com a ajuda da nutricionista Sandra Alves e doentes vítimas de AVC em idades jovens.

“AVC: um fardo global”

O peso do AVC a nível global será o tema da conferência proferida pelo Prof. Charles D. A. Wolfe, que será comentada pelo Prof. José Ferro, Presidente da Comissão Cientí-fica deste 6º Congresso.

Conforme sublinha o Presidente da SPAVC, o acidente vascular cerebral con-tinua a ser a primeira causa de morte e de incapacidade em Portugal. A cada dois mi-nutos acontece um AVC. Uma em cada seis pessoas terá um AVC ao longo da vida. Cerca de 30% das pessoas que têm um AVC morrem ao fim de um ano e metade dos sobreviventes ficam com algum tipo de deficiência.

Há, porém, dados que apontam para uma diminuição da incidência do acidente vas-cular no nosso país. O Prof. Castro Lopes chama a atenção para uma sessão onde o Prof. Manuel Correia, neurologista do Cen-tro Hospitalar do Porto, irá apresentar os resultados provisórios de um estudo que demonstra claramente uma tendência para a redução da incidência do AVC na última década. A comparação é feita com o pri-meiro estudo epidemiológico realizado em Portugal.

Para o Presidente da SPAVC, “esta re-dução poderá ter várias explicações, a primeira das quais a atenção que esta patologia tem merecido por parte dos profissionais de saúde, bem como o apa-recimento de novas terapêuticas de com-bate aos factores de risco vascular e, o que é muito importante, o conhecimento por parte da população geral do que é um AVC, de quais os seus sinais quando se instala e da progressiva, embora lenta, mudança do estilo de vida, em que o co-nhecimento dos factores de risco tem um papel fundamental. Em todos estes fac-tos, a dinâmica da SPAVC tem, certa-mente, grande influência”.

Doença Vascular e demência: “uma relação

cada vez mais evidente”

A relação entre a doença vascular e a cognição, designadamente a doença de Al-zheimer, é outro dos temas em destaque no primeiro dia do Congresso.

A este respeito, o Prof. Castro Lopes recorda que há muito vem defendendo uma relação entre a doença vascular e a demência, preconizando que a prevenção dos factores de risco vascular conhecidos, como a hipertensão arterial, o tabagismo, a diabetes, o colesterol e o sedentarismo, poderão ter um papel na prevenção de do-enças tão incapacitantes como é a doença de Alzheimer.

Lembra, a este propósito, que o Prof. Vladimir Hachinski, professor de Neuro-logia na Universidade Western Ontario, no Canadá, e editor da revista médica Stroke, venceu o Grande Prémio Bial de Medicina 2010, entregue no ano passado, “pelo seu trabalho em que defende esta teoria”.

Após uma sessão conjunta com a Socie-dade Portuguesa de Hematologia, na qual o foco incide sobre os aspectos actuais do tromboembolismo arterial, realizar-se-á a Sessão de Abertura, com uma intervenção do Prof. Levi Guerra subordinada ao tema “A Consciência de Si e a Arte”.

Critérios ESO para Unidades de AVC

No segundo dia de trabalhos, o destaque vai para a conferência do Prof. José Ferro sobre “Critérios ESO para Unidades de AVC”, cujo comentário estará a cargo do Prof. Manuel Correia. Será logo a seguir à sessão do interno de Medicina Geral e Familiar, em que serão apresentados casos clínicos.

Neurorradiologia e fase aguda do AVC, fibrilhação auricular, complicações cardía-cas do AVC e estatinas são outros dos temas que preenchem o segundo dia.

No dia 4 de Fevereiro, o destaque vai para uma conferência da Profa. Patrícia Ca-nhão intitulada “AIT – estratificar o risco, melhorar o prognóstico”.

Segue-se, no programa, uma sessão sobre “Reabilitação no AVC: experiências actuais e perspectivas futuras”, com a participação de um especialista da The Mayo Clinic, entre outros.

Também em evidência estará a conferên-cia “Unidades de AVC – uma visão actual da realidade portuguesa”, a ser proferida pelo Dr. Vitor Tedim Cruz, com o comentá-rio do Dr. Miguel Rodrigues.

A propósito, recorde-se que a Sociedade Portuguesa do AVC lançou, na 2ª Reunião das Unidades de AVC, que se realizou em Novembro de 2011, em Fátima, a primeira edição do “Guia das Unidades de AVC”, onde está concentrada toda a informação considerada mais relevante sobre as várias

unidades espalhadas pelo país. “O facto de integrarem o programa

científico duas sessões dedicadas às Uni-dades de AVC deve ser salientado pela importância que estas desempenham na abordagem da fase aguda do AVC”, observa o Presidente da Sociedade.

Com efeito, “a evidência científica de-monstrou a vantagem do tratamento em Unidades de AVC em comparação com o tratamento em enfermaria indiferen-ciada, nos aspectos da diminuição da mortalidade e da recuperação, que, além de poder ser completa, contribui para uma franca diminuição dos défices.

Tal facto merece particular atenção para que eventuais medidas restritivas de ordem económica não possam, de modo algum, pôr em causa o seu funcio-namento e desenvolvimento”, continua.

O Prof. Castro Lopes chama ainda a aten-ção para a distribuição de prémios à melhor Comunicação Oral e ao Melhor Poster e para a realização de três Cursos para profis-sionais de saúde.

Esclarecer a população

“Como nos Congressos anteriores, este terminará na tarde de Sábado, igual-mente no Centro de Congressos onde decorreram os trabalhos, com uma peça da maior importância: a sessão de in-formação à população geral. Para tal, a colaboração dos órgãos de informação é muito importante, no sentido de alertar a população para o interesse da sua parti-cipação”, realça.

Para além do próprio Prof. Castro Lo-pes, que abordará os aspectos essenciais do AVC, “em termos que prendam a aten-ção dos presentes e que se tornem com-preensíveis”, intervirá a Dra. Sandra Al-ves, nutricionista, “que exemplificará, em termos da melhor compreensão, o que é uma alimentação saudável”, e serão apre-sentados testemunhos de vítimas de AVC.

A finalizar, o Prof. Castro Lopes está “muito optimista com os diversos objec-tivos que visa um Congresso desta natu-reza” e “ciente da sua responsabilidade na escolha dos Elementos essenciais, como os Presidentes da Comissão Cien-tífica e da Comissão Organizadora”. ■

6.º CONGRESSO PORTUGUÊS DO AVC

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O essencial dos Congressos,

Cursos e Reuniões, mas também

os eventos culturais em que o Médico

é protagonista

Suplemento Trimestral

Para o ajudar

a escolher.

DESTAQUE1 FEVEREIRO 2012 5

A incidência do AVC regista uma diminui-ção na última década, como apontam os re-

sultados preliminares do estudo ACIN 2, realizado por investi-gadores do Centro Hospitalar do Porto (CHP) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Sa-lazar (ICBAS), financiado pela Fundação para a Ciência e Tec-nologia (FCT).

O objectivo do ACIN 2 era determinar a incidência dos aci-dentes neurológicos, designa-damente do acidente vascular cerebral, do acidente isquémico transitório e de todos os sinto-mas neurológicos focais tran-sitórios, em comparação com a incidência encontrada no pri-meiro estudo epidemiológico, realizado em 1998-2000, além de confirmar dados desse pri-meiro estudo, nomeadamente a relação entre a incidência de AVC e factores meteorológicos.

De acordo com o Prof. Ma-nuel Correia, neurologista do CHP e líder do estudo, a inci-dência do AVC situa-se nos 1,81 por mil habitantes, contra os 2,79 por mil habitantes regista-dos no primeiro estudo. A taxa padronizada aponta igualmente para uma descida, de 1,81 para 1,12 por mil.

O especialista frisa, porém, que estes são dados preliminares e que os resultados finais pode-rão apontar para uma incidência mais elevada.

A explicação para esta dimi-nuição pode estar nas melhorias registadas no Serviço Nacional de Saúde nos últimos anos, de-signadamente com a introdução de unidades especializadas no tratamento do doente com AVC e o enfoque na prevenção.

“A medicina evoluiu. Ape-sar de tudo, o SNS vai me-lhorando. Há a Via Verde do AVC, há Unidades de AVC, previne-se e controla-se muito mais a hipertensão arterial e o colesterol e as pessoas fazem mais exercício físico”, afirma o responsável ao NOTÍCIAS MÉ-

Prof. Manuel Correia apresenta Estudo ACIN 2

Incidência do AVC está a baixar

O estudo ACIN 2, liderado pelo Prof. Manuel Correia, aponta para uma diminuição da incidência do AVC na última década. Os resultados preliminares deste estudo serão apresentados

durante esta edição do Congresso Português do AVC

DICAS.Por outro lado, “também en-

contrámos uma diferença no padrão da incidência a nível de grupos etários, relativa-mente ao primeiro estudo. É como se a ocorrência de AVC fosse atrasada 10 anos. Há agora mais doentes mais ido-sos a terem acidente vascular cerebral e menos doentes me-nos idosos a sofrerem acidente vascular cerebral”.

Mais uma vez, esta divergên-cia decorrerá do controlo dos factores de risco. “Se contro-larmos a hipertensão, o coles-terol, a diabetes e se incenti-varmos as pessoas a fazerem exercício físico, vamos atrasar o aparecimento da doença em alguns e evitar em muitos ou-tros”, salienta.

O ACIN 2 aponta também para um padrão similar na des-cida da incidência de AVC nas

populações rurais e urbanas, mas mais marcadamente nas populações rurais com idades compreendidas entre os 75 e os 84 anos.

A letalidade aos 28 dias tam-bém desceu de 16,1% para 10,6%, na globalidade. Regista-se uma descida significativa de 16,9% para 8,7% na área ur-bana, mas assiste-se a um au-mento de 14,6% para 16,8% na área rural.

Os dados definitivos deste segundo estudo de incidência poderão ser apresentados já na European Stroke Conference, agendada para Maio deste ano, em Lisboa.

Doentes com sintomas mistos ou com vertigens

inespecíficascorrem mais riscos

O primeiro estudo epidemio-

lógico (de incidência), inédito em Portugal, havia sido feito em 1998-2000, no Porto e em Trás-os-Montes, tendo incidido so-bre acidentes neurológicos, que incluíam acidentes ocorridos de forma aguda ou súbita em resultado de uma perturbação numa zona de funcionamento do cérebro (AVC, AIT ou ou-tro fenómeno com perturbações neurológicas transitórias).

Os resultados principais desse estudo, financiado pela Funda-ção Merck e patrocinado pela Administração Regional de Saúde do Norte, foram publi-cados na revista Stroke. Mas a investigação não ficou por aí. Os dados continuaram a ser ana-lisados.

“Quisemos perceber o que tinha acontecido a estes do-entes sete anos depois. Este estudo (de seguimento dos doentes) foi realizado com o financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Alguns desses dados ainda estão a ser analisados”, nota, mas já deu origem a várias teses de mestrado e ao primeiro Prémio de Epidemiologia Clí-nica da Fundação Merck Sharp & Dohme e do Ministério da Saúde.

Como explica, “nos doentes com sintomas transitórios, nós conseguimos, ao longo de sete anos, determinar grupos diferentes consoante o risco. Medimos o risco de morte, o risco de morte vascular (en-farte do miocárdio, outra do-ença cardíaca isquémica, ou-tra arteriopatia, morte súbita e AVC), o risco de enfarte do miocárdio e o risco de AVC e verificámos que os doentes com sintomas mistos, isto é, simultaneamente sintomas fo-cais e sintomas globais, têm um prognóstico aos sete anos muito semelhante ao dos doen-tes que têm um AIT do territó-rio da artéria carótida”.

continua na pág. 6

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Isto significa que “os doen-tes idosos com sintomas mis-tos têm um risco de morte, de morte vascular ou de AVC aos sete anos idêntico ao dos do-entes com acidentes isquémi-cos transitórios”, apesar de, no primeiro mês, os doentes com AIT carotídeos terem um risco

maior. Esta informação “leva a ter uma atitude perante estes doentes igual à que temos pe-rante um doente com AIT”.

De referir que os sintomas po-dem ser focais (os que derivam da perturbação do funciona-mento de uma zona do cérebro, por exemplo, não conseguir fa-lar, menos força num braço ou perturbações da visão) e podem

não ser focais (por exemplo, uma tontura ou perda de cons-ciência em que não se consegue localizar a zona do cérebro).

Outro dado deste estudo tem a ver com a caracterização da ver-tigem, que levanta muitas dúvi-das aos médicos porque, sendo transitória, depende muito da descrição do doente. “Quando não é claramente uma verti-

gem periférica (provocada por uma alteração no ouvido) ou uma vertigem de causa cen-tral (perturbação do cérebro), denominamos, neste estudo, vertigem inespecífica”, indica.

Ora, “os doentes com ver-tigens inespecíficas têm o mesmo prognóstico aos sete anos que os doentes que têm acidentes isquémicos transi-

tórios no território vertebro-basilar”.

Ou seja, e concluindo, “do-entes idosos com factores de risco vascular que tenham estas vertigens que não con-seguimos caracterizar clara-mente têm um grande risco vascular aos sete anos”. ■

DESTAQUE 1 FEVEREIRO 20126

Prof. Manuel Correia, investigador e neurologista do Centro Hospitalar do Porto

“Os resultados do IST-3 po-dem mudar a nossa prá-tica. Os médicos podem passar a olhar para a trom-

bólise de uma forma diferente”, afirma o Prof. Manuel Correia, que participa neste estudo, cujos resultados finais deverão ser divulgados ainda este ano.

O IST-3 é um ensaio em que se tenta per-ceber o benefício da trombólise em doentes que não preenchem os critérios aprovados na Europa para a realização deste trata-mento, considerado como “uma revolução no tratamento do enfarte cerebral”.

Este ensaio clínico tem como investiga-dores principais Peter Sandercock e Richard Lindley; trata-se de um estudo académico cujo centro coordenador mundial se encon-tra na Universidade de Edimburgo, tendo-se prolongado durante dez anos. Nele partici-pam vários centros portugueses. Dos 3.035 doentes incluídos, 82 são portugueses.

“Maioria dos doentes com enfarte cerebral não preenche os critérios para trombólise”

Dos 3035 doentes incluídos no IST-3 en-tre 2000 e 2011 (datas do início e do fim do recrutamento), apenas 2% deles preenchiam os critérios europeus da aprovação da trom-bólise em 2003. À data da entrada no ensaio, 1.617 doentes tinham mais de 80 anos.

“A maioria dos doentes com enfarte cerebral está fora destes critérios especí-ficos: têm mais de 80 anos, o enfarte ce-rebral é muito grande ou muito pequeno e/ou chegam ao hospital depois das três horas”, sublinha.

De acordo com o Prof. Manuel Correia, “os mais velhos chegam mais tarde ao hospital. Como nós sabemos que o be-nefício da trombólise vai diminuindo à medida que o intervalo entre o início dos sintomas e o início do tratamento vai au-mentando, pode acontecer que o facto de a trombólise parecer ter menos benefícios nos doentes com mais de 80 anos seja,

6.º CONGRESSO PORTUGUÊS DO AVC

Incidência do AVC está a baixarcontinuação da pág. 5

Cláudia Azevedo

Prof. Manuel Correia

Resultados do IST-3 podem mudar a forma de olhar a Trombólise

Parece existir uma associação positiva entre a diferença de

temperatura entre dias para alguns tipos de acidente vascular cerebral.

Os investigadores do ACIN 2, li-derados pelo Prof. Manuel Correia, analisaram dados meteorológicos como a temperatura média, má-xima, mínima, pluviosidade e pres-são atmosférica e cruzaram com a data e local onde ocorreu o AVC, procurando perceber se havia uma relação entre a meteorologia e a incidência (ocorrência) do AVC.

“Não quer dizer que as alte-rações meteorológicas sejam a causa do AVC, mas podem ser um gatilho”, diz o investigador e especialista do Centro Hospitalar do Porto.

De facto, “para um tipo de en-fartes cerebrais, existe uma re-lação, não com a temperatura máxima e mínima, mas com a amplitude térmica. O que pa-rece determinar o desencadear do AVC não é ser um dia muito quente ou muito frio, mas a di-ferença entre as temperaturas médias nos dias prévios”.

Como sublinhou, “quando há diferenças de temperatura, o nosso corpo procura adaptar-se a essas diferenças, por exemplo, ao nível da tensão arterial e da viscosidade sanguínea, etc. Essa adaptação não é imediata”.

Os investigadores vão, agora, procurar confirmar e validar estes dados. ■

AVC parece estar associadoàs diferenças de temperatura

pelo menos em parte, porque eles chegam mais tarde”.

Por outras palavras, o benefício da trom-bólise diminui com o tempo e os riscos au-mentam, havendo uma altura em que o risco é superior ao benefício. O IST-3 quer saber exactamente quando é que se deve parar.

A decisão, actualmente, não é simples. Mesmo em casos em que a trombólise é feita, por exemplo, em doentes com mais de 80 anos, com consentimento, os bons re-sultados podem não ser generalizáveis. Por outro lado, um mau resultado pode condi-cionar a prática, se a atitude não estiver nor-malizada e devidamente balizada do ponto de vista científico.

Isto explicará os números adiantados pelo Prof. Manuel Correia. Em Portugal, 10% de trombólise aos doentes com enfarte cerebral que chegam à Urgência é considerada uma boa taxa. Na Finlândia, ela elevar-se-á a 40% dos doentes.

IST-3: “uma nova maneira de fazer ensaios clínicos”

Embora os resultados finais do IST-3 só devam ser conhecidos em Maio de 2012, o Prof. Manuel Correia irá salientar, no 6º Congresso Português do AVC, que se trata de “uma nova maneira de se apresenta-rem os ensaios clínicos”.

Este novo modelo inclui a publicação do protocolo e das mudanças do protocolo, para que os peritos possam revê-los, e a re-alização de uma análise global básica sobre os próprios doentes, antes da descodificação e da apresentação dos dados. Muitos são pu-blicados na revista Trial, com livre acesso.

Isto implica “olhar para os doentes que temos antes de sabermos os resultados para não sermos influenciados ou adap-tarmos os métodos de análise estatística aos resultados que conhecemos ou aos resultados que queremos; o plano da aná-lise estatística deve ser publicado pre-viamente à data de descodificação dos tratamentos”. ■

Embora os resultados finais do IST-3 só devam ser conhecidos em Maio de 2012, o Prof. Manuel Correia irá salientar, no 6º Congresso Português do AVC, que se trata de “uma nova maneira de se apresentarem os ensaios clínicos”

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Qual é a situação do AVC no nosso país, em termos de incidência /prevalência e esquema

assistencial?— Posso dizer que a situação é boa, em resultado de uma evolu-ção conjunta bastante favorável. Tem - se registado uma dimi-nuição da incidência, embora relacionada ao longo do tempo com um factor que é o envelhe-cimento da população, o qual determina o ataque do AVC em idades cada vez mais avançadas. É portanto essa a situação que hoje em dia se verifica.Por outro lado tem – se concre-tizado realizações muito benéfi-cas, tais como o estabelecimento das Unidades do AVC e a Via Verde do AVC, que acorrem es-pecialmente às situações agu-das.Claro que faltam ainda os Cen-tros de Reabilitação Pós – AVC.No entanto, volto a dizer, o pa-norama em geral é favorável.

E a população já se encontra devidamente esclarecida, em termos de sinais de alarme do AVC, importância de uma as-sistência com a máxima ra-pidez e entidades a que deve pedir auxílio?— Penso que a situação é me-lhor, dado terem sido feitas duas campanhas de esclarecimento, das quais resultou o maior co-nhecimento dos factores de alerta do AVC, bem como dos factores de risco, embora estes não sejam específicos deste, mas também comuns a outras patologias, no intuito de uma prevenção global e igualmente quanto à chamada imediata do 112.Também as pessoas são mais cuidadosas em termos de con-trolo da Pressão Arterial e do seu peso, através de um regime alimentar saudável.

Mas no caso concreto da Pres-são Arterial, não se verifica ainda um elevado número de pessoas que não se submetem à medição, bem como não me-

Prof. José Ferro, presidente da Comissão Científica

Faltam Centros de Reabilitação

Ao NOTÍCIAS MÉDICAS, o presidente da Comissão Científica do congresso, Prof. José Ferro prestou esclarecimentos

sobre o encontro e descreveu a situação de Portugal em termos de AVC

dicadas ou mal medicadas?— Essa situação reflecte um problema que existe a nível dos Cuidados Primários de Saúde.É preciso ver que uma grande parte dos portugueses não tem Médico de Família. E sem essa lacuna ser preenchida, é muito difícil um controlo da Pressão Arterial na generalidade da po-pulação.

Na qualidade de presidente da Comissão Científica, pode es-clarecer -nos quanto à orien-tação e aos objectivos deste encontro? — Na sequência dos anteriores, este Congresso tem como objec-tivo proporcionar uma actualiza-ção sobre os diversos temas da problemática do AVC nas várias especialidades com ele mais re-lacionadas, a exemplo da Neu-rologia, da Medicina Interna , da Hematologia e da Fisiatria.É dada oportunidade para apre-sentação de alguns trabalhos, em especial dedicada aos médicos mais jovens e são ministrados cursos anexos sobre AVC na Criança, pouco frequente e se-melhante ao do adulto jovem, Ensaios Clínicos sobre a preven-ção e a fase aguda e Decisões difíceis e tratamento de compli-cações da fase aguda do AVC.Haverá como sempre uma parte de Informação e Comunicação à

População, no intuito de propi-ciar elementos sobre os aspectos fundamentais do AVC e , como há pouco referi, quanto à im-portância de uma alimentação saudável.

Acha de interesse dar relevo a alguns temas da reunião?— Posso salientar, por exemplo, as novas estratégias na anticoa-gulação oral, como grande ino-vação terapêutica.Estou particularmente satisfeito com a participação de vários convidados estrangeiros que vão apresentar as inovações em termos de guidelines, como é o caso do Prof. Charles Wolfe, professor de Epidemiologia e Saúde Pública em Londres, que nos falará da importância do AVC, tanto nos países desen-volvidos como nos países em desenvolvimento, dado que nes-tes ocorre o maior número de casos de Acidentes Vasculares Cerebrais.

Pela leitura do programa, ve-rificamos que fazem parte do congresso simpósios patroci-nados pela Indústria Farma-cêutica. Como encara a acção deste sector nos progressos de combate ao ACV, tanto na pre-venção como na terapia?— A actividade da Indústria Far-macêutica é essencial para que haja inovação e progresso na Medicina.No entanto, é desejável que haja uma colaboração bastante trans-parente entre ambas, visto que actualmente a inovação com qualidade tem de ser apoiada pela investigação básica, no contexto de uma cooperação en-tre a Indústria e a Medicina.Também é essencial que nos con-gressos deve ficar muito claro aquilo que é o programa da reu-nião em si, da responsabilidade da respectiva comissão cientí-fica e os simpósios satélites, cuja organização é da competência da Indústria Farmacêutica.E devo reconhecer que no nosso congresso os simpósios satélites são de excelente qualidade. ■ L.S.

8 DESTAQUE 1 FEVEREIRO 2012

6.º CONGRESSO PORTUGUÊS DO AVC