Estadão 140 anos - A história do jornal

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A história do jornal A história no jornal Especial H1 Uma das dez empresas mais antigas do Brasil, o Estado completa 140 anos. Desde a primeira edição, impressa ainda à luz de velas, sua história é parte da história do País. Republicano na monarquia, abolicionista na escravidão, rebelde nas ditaduras, invadido, censurado, ele tem sido, em grandes momentos, testemunha e protagonista. Nessa missão, jamais se afastou de suas causas originais – a independência editorial e a defesa da democracia, da livre iniciativa e da liberdade de expressão. Da Província de São Paulo de 1875 ao Estadão multiplataforma de 2015, essa trajetória, que aqui se conta, é também a da construção de uma sociedade ativa e bem informada. Com quatro páginas e tiragem de 2.025 exemplares – número significativo para a então população de 31 mil paulistanos –, A Província de São Paulo começa a circular em 4 de janeiro. Fundada por republicanos liderados por Campos Sales e Américo Brasiliense, combatia a monarquia e a escravidão e tinha como lema “fazer da sua independência o apanágio de sua força”. Redação, administração e oficinas foram instaladas na Rua do Palácio, 14, atual Rua do Tesouro, esquina com a Rua do Comércio (atual Álvares Penteado), no centro velho de São Paulo. Entre os donos estavam Américo de Campos e Francisco Rangel Pestana. O administrador era José Maria Lisboa, que morava com a família nos fundos do imóvel. Destaque desta edição cópia do primeiro número da 'Província'. 1875 DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015

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Jornal O Estado de São Paulo faz uma edição histórica em comemoração aos seus 140 anos

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A história do jornalA história no jornal

Especial H1

Uma das dez empresas mais antigas do Brasil, o Estado completa 140 anos. Desde aprimeira edição, impressa ainda à luz de velas, sua história é parte da história do País.

Republicano na monarquia, abolicionista na escravidão, rebelde nas ditaduras, invadido,censurado, ele tem sido, em grandes momentos, testemunha e protagonista.

Nessa missão, jamais se afastou de suas causas originais – a independência editorial e adefesa da democracia, da livre iniciativa e da liberdade de expressão. Da Província de

São Paulo de 1875 ao Estadão multiplataforma de 2015, essa trajetória, que aqui seconta, é também a da construção de uma sociedade ativa e bem informada.

Com quatro páginas e tiragem de 2.025 exemplares – número significativo para a então população de 31 mil paulistanos –, A Província de São Paulo começa a circular em 4 de janeiro. Fundada por republicanos liderados por Campos Sales e Américo Brasiliense, combatia a monarquia e a escravidão e tinha como lema “fazer da sua independência o apanágio de sua força”.

Redação, administração e oficinas foram instaladas na Rua do Palácio, 14, atual Rua do Tesouro, esquina com a Rua do Comércio (atual Álvares Penteado), no centro velho de São Paulo. Entre os donos estavam Américo de Campos e Francisco Rangel Pestana. O administrador era José Maria Lisboa, que morava com a família nos fundos do imóvel. Destaque desta edição cópia do primeiro número da 'Província'.

1875

DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015

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A Província se diferencia no mercado. Bernard Gregoire sai a cavalo pelas ruas de SP vendendo o jornal. Concorrentes o ridicularizam, mas ele é um sucesso. Mais tarde, o jornaleiro é incorporado ao ex-líbris do Estado.

Thomas Edison recebe patente da lâmpada elétrica.

Expansão das lavouras de café no Oeste Paulista intensifica a imigração.

Fundado em São Paulo o Hospital de Isolamento Emílio Ribas.

Oficinas do jornal mudam em 2 de setembro da então Rua da Imperatriz (hoje 15 de Novembro) para o Largo do Rosário, 53.

Entre 1881 e 1890, chegam 530 mil imigrantes europeus – a maior parte se estabelece no Estado de SP.

O telefone chega a São Paulo. Dois anos antes, havia sido fundada no Rio a primeira companhia telefônica nacional, a Telephone Company of Brazil.

Convidado por Alberto Salles, o jornalista campineiro Julio Mesquita se torna redator aos 23 anos. O antilusitanismo de Salles faz anunciantes portugueses boicotarem a empresa. O jornal é salvo por Mesquita: filho de portugueses, ele habilmente traz de volta os clientes.

A tiragem do jornal sobe para 3.300 exemplares. Em 1888, atinge 4 mil assinantes. Em 1896, a tiragem não consegue ultrapassar os 10 mil exemplares pelas limitações do equipamento gráfico. Nova máquina é adquirida.

O Estado se muda para a Rua da Imperatriz, 44, atual Rua 15 de Novembro.

A impressora era uma máquina Alauzet, manuseada por negros libertos contratados.

Em 19 de outubro, é publicado na página 4 o primeiro anúncio colorido.

1876 1877 1879 1882 1885 188618831881

A cidade vê luz elétrica pela primeira vez no Jardim da Luz. Quase 3 mil pessoas prestigiam as alamedas iluminadas por dez focos elétricos e a festa com bandas de música e fogos de artifício.

LIGADOS AO JORNAL

POLÍTICA

INTERNACIONAL

ECONOMIA

CIDADES

CULTURA

ESPORTES

ANO VARIAÇÃO DE TEMAS NO ANO

LEGENDA

18801880

ACERVO/ESTADÃO

José Alfredo Vidigal Pontes ✽

Uma supersti-ção rondavao jornalismonas últimasdécadas doséculo 19: ade que publi-cações com

problemas na primeira tiragem te-riam vida longa. A Província de SãoPaulo, em 4 de janeiro de 1875, ser-viu para confirmar a crença.

Programado para circular em 1.ºde janeiro, uma sexta-feira, o jornalmais antigo de São Paulo hoje emcirculação só conseguiu tirar sua pri-meira edição três dias depois porproblemas na impressora, compra-da de segunda mão no Rio de Janei-ro e manuseada por negros libertosassalariados.

De oposição ao regime imperial,foi fundado por 21 republicanos con-vencidos da necessidade de umavoz na imprensa para difundirideias de emancipação política. Mui-tos eram também abolicionistas.

D. Pedro II reinava autocratica-mente à época, assistido por um par-lamento dividido entre conservado-res e liberais de mínimas diferençasideológicas. Mas cresciam as pres-sões na sociedade por um regime re-publicano e pela abolição da escrava-tura, base do poder imperial.

Por essaépoca também seintensifi-cou em São Paulo o cultivo do café.Introduzidonasegundametadedosé-culo 18, inicialmente em quintais paraconsumo doméstico, começou a sercultivado em larga escala no Vale doParaíbapaulista,emdecorrênciadaex-pansão da produção iniciada no Rio.

Estimulado pelo alto preço do es-cravo a partir de 1850, o aumento defugas e rebeliões e a maior produtivi-dade do sistema de colonato, difun-dido pela província com a contrata-ção de imigrantes, sobretudo italia-nos, aos poucos começou-se a sealastrar o emprego de parcerias e tra-balho assalariado.

A abertura de frentes de plantiono Oeste Paulista não poderia maisser atendida por uma mão de obracada vez mais escassa, obtida noNordeste ou por contrabando. As-sim, segundo Raymundo Faoro,prosperaria em São Paulo uma fra-ção de cafeicultores que “aceitavainovações, abandonava velhas técni-

cas e normas, alijava o trabalho escra-vo, esposava relações capitalistas deprodução e ansiava por reformas”.

Antes mesmo da proibição inglesado tráfico negreiro, organizava-se nointerior paulista a primeira experiên-cia de trabalho livre em um grande cafe-zal. Em 1847, em sua fazenda de Ibica-ba, Nicolau de Campos Vergueiro im-plantou um sistema de parceria comportugueses, suíços e alemães.

Em 1873, na Convenção Republica-na de Itu, congresso que deu origemao Partido Republicano Paulista(PRP), dos 133 participantes, 78 eramfazendeiros. Uma das propostas daconvenção foi fundar um jornal depropaganda republicana. Coube aManoel Ferraz de Campos Salles –que seria presidente da República em1898 – e Américo Brasiliense de Al-meida Mello, advogado de São Paulo,arregimentarem cotistas para viabili-zar o projeto. Conseguiram 19 ade-sões. Na capa da primeira edição de AProvíncia de São Paulo, aparecemos nomes dos 21 fundadores. Deles,dez se declararam fazendeiros, cinco

advogados, quatro “capitalistas”, umnegociante e um jornalista. Dois co-tistas tinham participação maior eeram os “redactores”: Américo deCampos e Francisco Rangel Pestana.O responsável pela administração,José Maria Lisboa, não era cotista.

Os primeiros anos do jornal tam-bém seriam acidentados. Os dois pri-meiros deram prejuízo e no terceiroreceitas e despesas empataram. Parapiorar, parte de seu dinheiro estavana Casa Bancária Mauá & Cia., que foià falência. Mesmo assim, o diário pros-seguiu. Em 1876, já havia mudado daRua do Palácio (hoje Rua do Tesouro)para a Rua da Imperatriz (15 de No-vembro).

Em 1879, 1882 e 1884, o jornal pas-sou por três alterações no controlesocietário. Em 1885, enfrentou gravecrise. Alberto Salles, irmão de Cam-pos Salles, havia entrado na socieda-de no ano anterior, quando saíramAmérico de Campos e José Maria Lis-boa. Ao deflagrar campanha antilusi-tana, Salles desagradou profunda-mente aos influentes comerciantes

portugueses de SãoPaulo, que retiraramseus anúncios. A crisesó foi superada com asaída de Salles e a cres-cente atuação de um ta-lentoso redator vindo

de Campinas.

Progresso. Filho de portugueses,Julio Mesquita trouxe a comunida-de comercial portuguesa de volta. Epassou a se destacar tanto como re-dator quanto como gestor. Iniciava-se uma das mais brilhantes carreirasdo jornalismo brasileiro. Em 1888,Rangel Pestana confiou a ele a gerên-cia. Nesse momento, o jornal já ti-nha a maior tiragem da capital, com4 mil exemplares – 3.210 deles deassinantes. Em 1890, já com o nomeO Estado de S. Paulo, alcançou 7mil exemplares. Em 1902, Julio Mes-quita tornou-se o único dono.

HISTORIADOR E AUTOR DE ‘A POLÍTICA

DO CAFÉ COM LEITE: MITO OU HISTÓRIA?’

Arte.Quadro dos

fundadores do‘Estado’

pintado nosanos 1950

por CandidoPortinari

FUNDAÇÃO

Idealizado na Convençãode Itu, deu prejuízo por doisanos, mas já tinha em 1888a maior tiragem da cidade

168 9101112

131415

17 18 19 20 21

6715 4 3 2

Um jornal para defender a República

● Os fundadores1. Manoel Ferraz de Campos Sales2. José Alves de Cerqueira César3. João Tobias de Aguiar4. João Tibiriçá Piratininga5. Américo Brasiliense de Almeida Melo6. Francisco Rangel Pestana7. João Manoel de Almeida Barbosa8. Américo de Campos9. Bento Augusto de Almeida Bicudo10. Antonio Carlos de Morais Sales11. Francisco Glicério12. José Vasconcelos de Almeida Prado13. Antonio Pompeu de Camargo14. Candido Vale15. Martinho Prado Junior16. João Francisco de Paula Souza17. Francisco de Paula Sales18. José Pedro de Morais Sales19. Diogo Antonio de Barros20. Manuel Elpídio Pereira de Queiroz21. Rafael de Aguiar Paes de Barros

%HermesFileInfo:H-2:20150118:H2 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

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Quando Julio Mesquita aparece na primeira página como diretor-gerente, o jornal comemora a abolição da escravatura, pela qual vinha lutando desde a fundação.

Antigo local de touradas, a Praça da República recebe o nome atual, após se chamar Largo da Palha, Praça dos Milicianos e Largo dos Curros.

Avenida Paulista é inaugurada em 8 de dezembro.

Em 6 de dezembro, d. Pedro II morre no exílio.

Em 1º de janeiro, nome de A Província de São Paulo muda para O Estado de S. Paulo.

Com a saída de Rangel Pestana para trabalhar no projeto da Constituição em Petrópolis, Julio Mesquita assume a direção do Estado e inova ao contratar a agência Havas, atual France- Presse, para ter maior agilidade no noticiário internacional.

É concluído o primeiro Viaduto do Chá, com estrutura de madeira e pedágio de três vinténs para pedestres.

Henrique Santos-Dumont, irmão do pai da aviação, causa furor ao transitar pela Rua Direita e imediações, no centro de São Paulo, em um automóvel a vapor, Daimler inglês de patente alemã, com fornalha, caldeirão e chaminé.

É fundada a Escola Politécnica de São Paulo.

Em 1º de março, brasileiros vão às urnas pela 1.ª vez. Eleitores são convocados a participar da primeira eleição presidencial direta do País. O pleito marca o fim da República da Espada e, com a eleição de Prudente de Morais, o início dos governos civis.

Charles Miller volta da Inglaterra com duas bolas usadas, um par de chuteiras e um livro com as regras do futebol na bagagem.

Em 7 de setembro, o Museu Paulista é inaugurado às margens do Riacho do Ipiranga.

A propriedade do jornal passa da Cia. Impressora Paulista para J. Filinto & Cia.. José Filinto da Silva é o gerente e Julio Mesquita, o redator.

1888 1889 1892 1893 1894 18951891

Viva a República é a manchete de 16 de novembro de 1889, em comemoração de página inteira, cuja única ilustração era um gorro frígio, alegoria da liberdade conquistada. No dia 18, o jornal noticia com detalhes o embarque da família imperial para o exílio.

1890

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Roberto Pompeu de Toledo ✽

ESPECIAL PARA O ESTADO

Oendereço de A Provín-cia de São Paulo, aoser lançada, era Rua doPalácio, 14. Por que Ruado Palácio? A que palá-cio se refere tal nome?Tratava-se do Paláciodo Governo. Desde

cem anos antes, quando o morgado de Mateusassumiu o comando da então Capitania de SãoPaulo, a sede do governo instalara-se no quefora o colégio dos jesuítas. Largo do Palácio écomo era conhecido, ao surgimento do jornal,o local que décadas depois recuperaria o anti-go nome de Pátio do Colégio. A pequena Ruado Palácio assim se chamava porque conduziaao Largo do Palácio. Naqueles mesmos anos1870 se instalou num prédio dessa rua a Repar-tição do Tesouro. Nos anos seguintes a Rua doPalácio seria transmudada, na boca do povo,em Rua do Tesouro – nome que, oficializado,chegaria aos nossos dias.

O primitivo endereço de A Província nosserve de ponto de partida para um percursopela cidade daquele tempo. O jornal abrigavaredação e oficinas numa das extremidades darua, no ponto em que fazia esquina com a Ruado Comércio. “Do Comércio” porque num cer-to período hospedara as quitandeiras da cida-de. No começo do século 20 essa rua mudaria onome para Álvares Penteado, homenagem aoconde Antônio Álvares Penteado, grande cafei-cultor e pioneiro da indústria. A esquina daRua do Comércio com a do Palácio ficava nocentro nervoso da urbe, bem no miolo do triân-gulo formado pelas Ruas de São Bento, Direitae da Imperatriz (a futura 15 de Novembro), láonde tudo pulsava e tudo acontecia.

Pulsava e acontecia pouco, porém. O recen-seamento de 1872, o primeiro de âmbito nacio-nal, atribuiu à cidade a população de 31.385habitantes. São Paulo não era apenas muitomenor do que o Rio de Janeiro, a capital impe-rial (275 mil habitantes), Salvador (129 mil) eRecife (116 mil), cidades já nascidas como cen-tros administrativos ou comerciais importan-tes. Era menor também do que Belém (62 milhabitantes), Niterói (47 mil), Porto Alegre (44mil), Fortaleza (42 mil) e Cuiabá (36 mil). SãoPaulo mal saíra do ovo de origem, representa-do pela histórica colina entre os vales do RioTamanduateí e do Riacho Anhangabaú. Ummapa de 1881 mostra:– um lado mais edificado, a oeste, na área deSanta Ifigênia;– nada a leste senão umas poucas casas ao lon-go das Ruas do Gasômetro e do Brás (futuraAvenida Rangel Pestana);– ao norte uma ocupação que mal ultrapassava

o Jardim Público (Jardim da Luz);– ao sul esparsas edificações ao longo das Ruasda Liberdade, dos Estudantes e Conselheiro Fur-tado.

O denso núcleo central era constituído porruas estreitas e tortuosas. Em abril de 1877 AProvíncia de São Paulo mudou para o número44 da Rua da Imperatriz. Era a rua que reunia omelhor comércio da cidade. No entanto, apre-sentava-se desalinhada a ponto de um prédionão acertar o passo com o próximo, salpican-do-a de dentes que avançavam ou recuavam so-bre seu leito. O único cruzamento com ângulosretos na colina histórica era o da Rua de SãoBento com a Rua Direita, por isso chamado de“Quatro Cantos”. Não existia a Praça do Patriar-ca a espraiar-se na mesma área; as duas ruascruzavam-se num espaço apertado, com casariocerrado de todos os lados. O Largo da Sé ocupa-va modesto recanto ao início da Rua Direita e aum passo do Largo do Palácio. Entre ele e o largoentão chamado de Municipal, ou de São Gonçalo(a futura Praça João Mendes), mediavam doisextensos quarteirões. No início do século 20 es-ses quarteirões seriam arrasados para dar lugar àPraça da Sé, quase dez vezes maior que o largoseu antecessor.

Esse núcleo era encapsulado pelos vazios doAnhangabaú, de um lado, e da Várzea do Carmo,do outro – a área que, cortada pelo Tamanduateí,daria lugar ao Parque D. Pedro II, meio séculodepois. O Viaduto do Chá só seria inauguradoem 1892. Para atravessar o Vale do Anhangabaúantes disso, era preciso descer o barranco de umlado, caminhar pelo mato lá embaixo, vencer ocórrego por uma das pontes que o atravessavame galgar o barranco do outro lado. Desnecessáriodizer que, sendo assim, a cidade avançava lenta-mente nas bandas entre o Teatro Municipal e aPraça da República dos dias de hoje. Na Várzeado Carmo, toda alagadiça, historicamente sujei-ta aos humores do Tamanduateí, era pior. O Ta-manduateí passava rente à colina central; seuleito, antes das retificações que o empurrariampara mais adiante, corria junto à Rua 25 de Mar-ço. Às suas margens deixava vastas áreas enchar-cadas, a ponto de em certas épocas do ano a tra-vessia ser impossível.

E no entanto, naqueles mesmos anos, apesar desua modéstia e de seu atraso, São Paulo estava noponto de largada para a corrida que a levaria darabeira a uma posição de preeminência entre ascapitais. O recenseamento de 1890 deu-lhe 64.934habitantes e promoveu-a ao quarto lugar, atrás deRio de Janeiro, Salvador e Recife. E no de 1900aparece com 239.820, atrás apenas do Rio. O nomedo milagre é café, o “ouro verde” que ia transfor-mando a província na mais rica do País.

Melhorias. Os anos 1870 trouxeram melhora-mentos de monta à cidade. No começo da décadaa São Paulo Gaz Company, companhia inglesaque construíra um gasômetro na antiga Chácarada Figueira, no Brás, inaugurou o serviço de ilumi-nação pública a gás. Em 1872 iniciou-se o serviçode bondes de burros, ou melhor, “diligências so-bre trilhos”. Naquele mesmo ano de 1872 entravaem funcionamento na Rua da Constituição (a fu-tura Florêncio de Abreu) a pioneira fábrica de

tecidos de Diogo Antônio de Barros, o major Dio-go. Anúncio da fábrica aparecia na quarta e últi-ma página do n.º 1 de A Província de São Paulo.Tratava-se de uma fábrica modesta, movida a va-por, mas que, nas palavras de um profético entu-siasta, prenunciava “o desenvolvimento fabrilnesta cidade, a única em que poderá primar, ecom a qual atingirá alto grau de prosperidade”.

O profeta em questão era João Teodoro Xavierde Matos, um promotor público e professor daFaculdade de Direito do Largo de São Franciscoque entre dezembro de 1872 e março de 1875 go-vernou a Província de São Paulo. João Teodorodevotou a maior parte de sua atenção à própriacidade de São Paulo e promoveu reformas queforam do calçamento de paralelepípedos em ruase praças centrais – considerável progresso numacidade em que, quando havia calçamento, eracom pedras irregulares – à abertura de ruas.

Outras de suas obras foram encetadas na Vár-zea do Carmo, procurando torná-la menos hostilao trato humano. Com vistas à drenagem e sanea-mento da área, João Teodoro promoveu corre-ções no curso do rio e construiu terraços paraconter os frequentes desmoronamentos nos bar-rancos que desciam da colina central. Para melho-rar a comunicação com o Brás, reforçou o “aterra-do” existente (via construída acima do nível doterreno, na trilha em que viria a correr a AvenidaRangel Pestana) e construiu um novo, na direçãodo Gasômetro. E até com vistas ao prazer da po-pulação interveio na área, implantando um par-que na ilha que, graças a um canal aberto pararegularizar o curso do rio, formara-se no Taman-duateí. Para surpresa dos atuais habitantes, SãoPaulo teve sim uma ilha, com jardins, bancos ecaramanchão, bem junto ao centro, ali onde de-semboca a rua que viria a ser chamada de GeneralCarneiro (por sinal, outra obra de João Teodo-ro). Infelizmente, durou pouco. Mal frequenta-da, abandonada ao lixo e ao lodo, acabou retoma-da pelo charco.

Avanços. Em 1875, mesmo ano do surgimentode A Província, São Paulo ganhou melhoramen-to de fundamental importância a quem se propu-nha a publicar um jornal – as linhas de telégrafoschegaram à cidade, conectando-a a uma rede doRio Grande do Sul a Pernambuco. Outro avanço

notável ocorreria em 1881 com a entrada emoperação da caixa d’água que a recém-consti-tuída Companhia Cantareira das Águas cons-truíra nos “altos da Consolação” – área quehoje não parece assim tão alta, junto ao cruza-mento da atual Rua Piauí, onde uma caixad’água continua a existir. A obra permitiria queaos poucos a água encanada chegasse aos domi-cílios. Com isso se condenava ao declínio oschafarizes nos quais até então a população seabastecera, entre os quais o mais conhecidoera o chafariz do Largo da Misericórdia, cons-truído nos tempos coloniais pelo reputado es-cravo Tebas. (Um anúncio da Loja do Barato,também na quarta página do primeiro númerode A Província dava como endereço do estabe-lecimento o “Largo do Chafariz, em frente àIgreja da Misericórdia”. O chafariz era célebrea ponto de ter desbancado o nome oficial dologradouro.)

O Teatro São José, situado na praça que viria ase chamar João Mendes e no lugar em que ficamascostasdacatedral,eraa principalcasadeespe-táculos de São Paulo. Em junho daquele ano de1875 lotou para a apresentação de um violinistacarioca de dez anos, Eugênio Maurício Dengre-mont. E quais eram os principais personagensda cidade? No Largo de São Francisco reinava,como favorito dos estudantes, o professor JoséBonifácio de Andrada e Silva, conhecido comoJosé Bonifácio, o Moço. Grande orador, tinham-no como ídolo os estudantes Rui Barbosa, Joa-quim Nabuco e Castro Alves, que pouco anteshaviam passado pelos bancos da Academia.

Personagens. Era um tempo em que a campa-nha abolicionista fervia e o principal abolicio-nista em São Paulo era o notável Luís Gama,nascido na Bahia filho de escrava. Também poe-ta e jornalista, Gama pintava e bordava em jor-nais satíricos como O Diabo Coxo e Cabrião.Morava numa casa modesta no longínquo Bráse era ídolo de outra geração de estudantes deDireito, a de Raul Pompeia e Lúcio de Mendon-ça. Por fim, a própria A Província daria suacontribuição ao elenco de tipos da cidade comum personagem que se tornaria popular – ofrancês Bernard Gregoire, que em 1876 inaugu-rou a novidade de sair pelas ruas montado numcavalo (ou burro, segundo certas versões) apre-goando e vendendo o jornal. Gregoire acaboueternizado na história de A Província, depoisO Estado de S. Paulo, ao inspirar a figura queilustra o ex-líbris do jornal.

É COLUNISTA DA REVISTA ‘VEJA’ E AUTOR DE

‘A CAPITAL DA SOLIDÃO – UMA HISTÓRIA DE SÃO

PAULO DAS ORIGENS A 1900’ E DE ‘A CAPITAL DA

VERTIGEM – UMA HISTÓRIA DE SÃO PAULO DE 1900

A 1954’, QUE DEVE SER PUBLICADO EM BREVE.

SP DA ÉPOCATINHA 31 MILHABITANTESCidade que começava a recebermelhoramentos e reformas seriatransformada nas décadasseguintes pela riqueza do café

REPRODUÇÃO

Traçadourbano.Imagens daSão Paulo doséculo 19feitas porMilitãoAugusto deAzevedo. Aolado, o Largodo Palácio em1862; abaixo,as Ruas daImperatriz ede São Bentoem 1887

A CIDADE EM 1875

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Credibilidade e sucesso só se constroem

através dos anos...

A Kalunga parabeniza o Estadão por seus 140 anos.

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Laurentino Gomes ✽

ESPECIAL PARA O ESTADO

Há uma iro-niaestatísti-ca no nasci-mento domaisimpor-tante jor-nalda histó-ria republi-

cana brasileira. Em 1875, ano da fun-dação de A Província de São Paulo,o Brasil era campeão mundial deanalfabetismo. Três anos antes, oprimeiro censo demográfico do Im-pério apontava que só 17% da popu-lação de cerca de dez milhões de ha-bitantes sabia ler e escrever o pró-prio nome. Entre negros e escravos,o analfabetismo passava de 99%. As7,5 mil escolas primárias do País ti-nham apenas 300 mil alunos matri-culados. Nas secundárias, havia 12mil estudantes. Oito mil pessoas ti-nham educação superior. A agricul-tura respondia por 70% da riquezanacional e oito entre dez brasileirosmoravam na zona rural. Que chan-ces de sucesso haveria para o novojornal em um país sem leitores?

Seusfundadores,noentanto,pare-ciam vislumbrar razões de otimis-mo. São Paulo era a cidade que maiscrescianoPaís.Suapopulaçãosemul-tiplicariaporseteem30anos,chegan-do a 239.820 habitantes no censo se-guinte, de 1891, já sob regime republi-cano. O crescimento era impulsiona-do em grande parte pelos estrangei-ros que chegavam para substituir naslavouras de café a mão de obra escra-va, em vias de ser abolida em 1888pelaLeiÁurea. Principalriquezapau-lista, a cafeicultura dominava a pautade exportação. Sozinho, o Brasil for-necia 60% da produção mundial.

Impulsionada pelo café, a paisa-gem urbana de São Paulo se transfor-mava rapidamente. Ruas centraiseram iluminadas por lampiões agás, mais eficientes do que as lanter-nas a óleo de baleia. O telégrafo con-tribuía para a circulação mais rápidade notícias. Graças a isso, em 1876 jáse publicavam 40 jornais na provín-cia. Mais recente, o telefone logochegaria a São Paulo, Campinas eSantos. Outra novidade eram os ser-viços de locomoção. Em 1887, setelinhas de bondes transportavam 1,5milhão de passageiros por ano.

O café produzira uma drástica al-teração no eixo econômico do País.Nos 200 primeiros anos da coloniza-ção, a riqueza se concentrara noNordeste, no chamado ciclo do açú-car. Depois, migrara para Minas Ge-rais na corrida do ouro e diamanteque marcou a primeira metade doséculo 18. Nessa época, o paraenseFrancisco de Melo Palheta rouboude um viveiro da Guiana Francesaas primeiras mudas de café, plantada Etiópia até então cultivada emsegredo pelos franceses. Levadas aBelém, as mudas logo chegariam aoVale do Paraíba, entre o Rio e SãoPaulo. Começava a febre do “ouroverde”. O produto, que na Indepen-dência representava 18% das expor-tações brasileiras, em 1889 já alcan-çava 68%. O total de sacas exporta-das saltou de 129 mil em 1820 a 5,5milhões em 1889.

Duas grandes mudanças demográ-ficas marcaram o ciclo do café. A pri-meira foi a transferência maciça deescravos do Nordeste para o Sul eSudeste. Essa migração forçada co-meçou por volta de 1850, após aaprovação da Lei Eusébio de Quei-roz, que proibiu definitivamente otráfico de escravos da África ao Bra-sil. Como a lavoura canavieira esta-va em crise no Nordeste, senhoresde engenho passaram a vender amão de obra cativa ociosa.

O segundo fenômeno foi a chega-da dos europeus, um projeto aindada época de dom João que tinha sidoadiado por causa da abundância demão de obra escrava. Entre 1886 e1900, São Paulo receberia 1 milhãode europeus – quase o dobro da po-pulação escrava no País no ano daabolição.

Foi nesse ambiente que nasceu omais bem organizado movimento re-publicano brasileiro, que, por sua vez,estaria na raiz da criação de A Provín-cia de São Paulo. A Convenção deItu, de 1873, marcou a fundação do Par-tido Republicano Paulista (PRP), cujaatuação seria decisiva na queda do Im-pério e consolidação do novo regime.

A convenção foi realizada na casa dofazendeiro Carlos de Vasconcelos deAlmeida Prado, onde hoje funciona oMuseu Republicano. Presidida pelo fa-zendeiro João Tibiriçá Piratininga, reu-niu a fina-flor da agricultura cafeeira naregião. Dos 133 participantes, 78 se de-claravam agricultores. Entre os outros55, havia de tudo um pouco, incluindodez advogados, oito médicos, cinco jor-nalistas, farmacêuticos, dentistas e al-guns comerciantes de escravos. Umadas presenças de maior destaque foi ade Campos Salles, futuro presidente.Outro futuro presidente, Prudente deMorais, teve seu nome incluído maistarde, embora não tenha comparecidonem fosse republicano à época.

A cerca de 100quilômetros da capital,Itu foi escolhida porque refletia as mu-danças ocorridas na economia nos anosanteriores. O eixo da produção do caféhaviase deslocado rapidamentedo ValedoParaíbaàsterrasférteisdoOestePau-lista, dominadas pelos republicanos.

Contraste. O cultivo no Vale do Paraí-ba pautava-se por técnicas rudimenta-res. A produtividade era baixíssima. Aabundância de terra e mão de obra es-crava desobrigava os barões de inves-tir na melhoria de técnicas de produ-ção. Situação bem diferente do OestePaulista, onde cafeicultores foram pio-neiros na substituição de escravos poreuropeus. Outras mudanças ocorre-ram no beneficiamento do café. Máqui-nas como despolpadores faziam a tare-fa de até 90 escravos. Além de aumen-tar a produtividade das fazendas, eleva-

vam a qualidade do produto, que pas-sou a ter preços melhores.

A forma como fazendeiros do OestePaulista viam o Brasil e seu futuro tam-bém era bem diferente da dos barõesdo Vale do Paraíba. Para eles, a monar-quia já não se encaixava no modelo depaís que almejavam.

Em 1874, participantes da Conven-ção de Itu se reuniram em Campinaspara angariar fundos e criar um jornalque ecoasse as propostas do novo PRP.Seu “plano de ação”, redigido por Amé-rico Brasiliense e datado de 2 de outu-bro de 1874, defendia a “descentraliza-ção completa” do Estado brasileiro, li-berdade de ensino e aprendizagemobrigatória, separação entre Igreja eEstado, casamento e registro civil denascimento e mortes, secularizaçãodos cemitérios, Senado temporário eeletivo, “eleição direta sob bases demo-cráticas’ e, como meta particularmen-te desejada pelos paulistas, “presiden-tes de províncias eleitos por estas”.Embora o novo jornal evitasse, ao me-nos no início, declarar-se confessa-mente favorável à queda da monar-quia, seus 17 donos eram conhecidoschefes republicanos, incluindo os só-cios principais, Francisco Rangel Pes-tana e Américo de Campos.

Nos anos seguintes à Convenção deItu, republicanos enfrentaram um dile-ma que se revelaria insuperável: a es-cassez de votos. A campanha republica-na não encontrava ressonância nas ur-nas. Nas eleições de maio de 1889, anoda proclamação da República, a somados votos republicanos em todo o Paísnão chegou a 15% do total.

Os republicanos também estavam di-vididos. Sobretudo quanto à fórmulade república a ser implantada no Brasil.Cafeicultores do Oeste Paulista e partedos jornalistas, professores, advoga-dos e intelectuais do Rio autores do Ma-nifesto Republicano de 1870 sonhavamcomuma democracia liberale federalis-ta, semelhante à dos Estados Unidos,com sufrágio universal e liberdade deexpressão, que resguardasse, porém,

osdireitosde propriedade e olivre-co-mércio. Na ala mais radical, estavam

os jacobinos, defensores da instala-çãoda república mediante insurrei-

ção popular. Um terceiro grupo eraformado pelos positivistas, que pre-gavam uma ditadura republicana.

Os republicanos divergiam atésobre o tratamento que deveria ser

dado à família imperial. Os mais radi-cais, como Silva Jardim, prega-

vam fuzilamento. Os maismoderados, como

Quintino Bocaiuva, preferiam até es-perar a morte de Pedro II para trocarde regime. Benjamin Constant acha-va que a revolução teria de ocorrer omais rapidamente possível, mas a fa-mília imperial deveria ser tratadacom todo o respeito.

Outro foco de divergências era aescravidão. No Manifesto Republica-no de 1870 e no documento aprovadona Convenção de Itu, defensores donovo regime passaram ao largo do te-ma. A abolição, diziam fazendeirospaulistas, deveria ser tratada “maisou menos lentamente”, segundo aspossibilidades de substituição do es-cravo pela mão de obra livre e levan-do em conta o “respeito aos direitosadquiridos”. A resolução de Itu foiaprovada contra o único voto do abo-licionista Luís Gama.

O motivo da omissão era óbvio: mui-tos signatários, incluindo Campos Sal-les, eram senhores de escravos. Com10.821 habitantes, Itu tinha na época4.425 escravos – de cada dez ituanos,quatro eram cativos.

Mudança. Como resultado dessas di-vergências, até 1889 os diferentes gru-pos republicanos agiam de forma isola-da. Todos, porém, adeririam rapida-mente na madrugada de 15 de novem-bro ao golpe do marechal alagoano Ma-nuel Deodoro da Fonseca que derru-bou a monarquia. Deodoro até entãonão se identificava com nenhuma dasfacções republicanas. Segundo evidên-cias, nem republicano era. “Repúblicano Brasil é coisa impossível porque se-rá uma verdadeira desgraça”, escreveuao sobrinho Clodoaldo Fonseca umano antes. “O único sustentáculo donosso Brasil é a monarquia. Se malcom ela, pior sem ela.”

Aparentemente, Deodoro ergueu-secontra a monarquia mais por ressenti-mentos pessoais que por convicçõesideológicas. Por força das circunstân-cias, coube a ele assumir a liderança dachamada “Questão Militar”, série deconflitos entre as Forças Armadas e ogoverno imperial surgida após a Guer-ra do Paraguai. E foi em nome dela queliderou o golpe republicano de 1889.

Sem ressonância nas urnas, o Parti-do Republicano passou a enxergar noExército um instrumento para acelerara mudança de regime. Cabia-lhes fo-mentar ao máximo as divergências en-tre militares e autoridades imperiais.Em razão disso, a troca de regime, emvez de percorrer um caminho mais sua-ve e institucional, veio por um golpeexecutado na calada da noite.

A facilidade com que se derruboua monarquia e se proclamou a Repú-blica, sem reação popular, troca detiros ou protestos, parecia confir-mar o mito de que transformaçõespolíticas brasileiras se processamde forma pacífica. Essa imagem, po-rém, desfoca-se por completoquando se avança um pouco no ca-lendário. Derrubada a monarquia,o sonho de liberdade e ampliaçãode direitos rapidamente se dissi-pou. Em alguns anos, o país estavamergulhado na ditadura de Floria-no Peixoto, o “Marechal de Ferro”.

Conflitos. O sangue que deixou decorrer em 1889 verteu em profusãonos dez anos seguintes, resultado dochoque entre as expectativas e a rea-lidade do novo regime. Duas guerrascivis, somadas à Revolta da Armada,deixariam marcas profundas. NoSul, os três anos da Revolução Fede-ralista custaram a vida de 12 mil pica-paus e maragatos. No sertão da Ba-hia, o sacrifício épicode Canudos tes-temunhado por Euclides da Cunha,repórter do Estado, resultou em 25mil mortes.

As feridas desses conflitos marca-ram profundamente a primeira faserepublicana, na qual militares tenta-ram organizar o novo regime me-diante censura à imprensa, parla-mento fechado mais de uma vez, pri-são e deportação de opositores.

Assim a República permaneceriano século seguinte, definido porgolpes e rupturas entremeados porbreves e instáveis períodos de de-mocracia. Forte, autoritária e cen-tralizada, seria muito diferente dasonhada pelos fazendeiros do Oes-te Paulista na Convenção de Itu. Eesta seria outra grande ironia na his-tória do jornal improvável de 140anos atrás, nascido num país deanalfabetos. Fundado com a mis-são de defender princípios liberaisnum ambiente de democracia e li-berdade de expressão, o Estado pas-saria a maior parte de sua existên-cia se batendo contra a censura etentativas, à esquerda e à direita, decontrole da informação. Mesmo ho-je, seus princípios fundadores semantêm como direitos que a Repú-blica ainda não conseguiu assegu-rar plenamente.

SEIS VEZES GANHADOR DO PRÊMIO JABU-

TI DE LITERATURA, É AUTOR DE ‘1808’,

‘1822’ e ‘1889’

Café, abolição, queda do Império: fimdo século 19 começa a mudar o País

REPRODUÇÃO

Sessão histórica. Antes de ser assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, Lei Áurea foi aprovada pela Câmara Geral

Deodoro.Golpe contramonarquiamais porressentimentoque porconvicção

REPÚBLICA

‘Ouro verde’ deslocou eixoeconômico, abriu caminho àimigração e reforçoumovimento republicano

%HermesFileInfo:H-6:20150118:H6 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 7: Estadão 140 anos - A história do jornal

ACERVO/ESTADÃO

Apoiada pelo ‘Estado’, CampanhaCivilista é marco de mobilização

Wilson Tosta ✽ / RIO

Odiretor doCentro deP e s q u i s a sda Funda-ção Casa deRui Barbo-sa, sociólo-go José Al-

mino de Alencar, aponta a Campa-nha Civilista, apoiada em 1910 por OEstado de S. Paulo, como ponto demudançana política brasileira. Parti-cipação popular até então inédita,emergência da classe média urbanacomo ator político e protestos pós-eleitorais contra fraudes marcarama tentativa de Rui Barbosa de chegarà Presidência. Do outro lado, estavao candidato oficial, marechal Her-mes da Fonseca, ex-ministro daGuerra. Daí o caráter antimilitar as-sumido pela tentativa do jurista dechegar ao Palácio do Catete.

“A República foi proclamada pormeio de um golpe militar. Os dois pri-meiros presidentes eram militares. Elogo depois se estabeleceu uma Presi-dência civil, em torno do acordo pro-porcionado e conduzido pelas banca-das dos grandes Estados, Minas e SãoPaulo”, diz Alencar. “Então se formou apolítica dos governadores, um acordooligárquico que dividia a Presidência eas sucessões à Presidência. Com a as-censão da candidatura de Hermes daFonseca, surgiu o espectro de um retor-no ao militarismo. Isso não foi conduzi-do prioritariamente por Rui nem porseus aliados. Mas surgiu da campanhapopular, que teve uma repercussãobem maior do que as anteriores.”

Alencar lembra que, após os gover-n o s d e D e o d o r o d a F o n s e c a(1889-1891) e Floriano Peixoto(1891-1894), houve uma sucessão depresidentes paulistas. Foram Pruden-te de Moraes (1894-1898), Campos Sa-les (1898-1902) e Rodrigues Alves(1902-1906). Este, contudo, não con-seguiu fazer um sucessor de São Pau-lo. O posto foi para o mineiro AffonsoPenna, que morreria em 1909. Seu vi-ce, Nilo Peçanha, assumiu. Hermes foilançado, o que desagradou a São Pauloe à Bahia. A elite paulista sustentou a

candidatura de Rui à Presidência, as-sim como a baiana.

A oposição do Estado às articula-ções sucessórias do Catete se revelaraantes. Seu diretor, Julio Mesquita, assi-nalou que “candidaturas oficiais e prin-cípios democráticos são duas coisasque uma à outra se repelem”. A crise seinstalara quando a República ainda eracomandada por Penna. Um virtual can-didato,o mineiro João Pinheiro, morre-ra em 1908. Penna tentou emplacar co-

mo candidato oficial seu ministro daFazenda, David Campista. Rui, assimcomo Mesquita, repeliu-o. A morte dePenna ocorreu em meio às articula-ções. O lançamento de Hermes fez acrise se agravar. A proximidade comRui Barbosa aumentou.

“Com São Paulo, O Estado de S.Paulo apoia a candidatura de Rui”, con-ta Alencar. “Em São Paulo, há uma tra-dição republicana paulista, específica.Em segundo lugar, Rui foi uma tentati-

va de criação de uma posição liberalno Brasil, que não vingou e coincidiacom a linha e os editoriais de O Esta-do de S. Paulo. Rui, de certa manei-ra, funda uma perspectiva liberal noBrasil. A Campanha Civilista fundaalgumas linhas ideológicas, inclusi-ve o udenismo. Uma contribuiçãoimportante foi a ampliação do públi-co político. É uma campanha emque o candidato da oposição teve pe-la primeira vez mais de 10% dos vo-tos, teve 35%.”

Derrotado numa eleição marca-da pela fraude, como era costume,Rui teve suas denúncias contra asirregularidades publicadas no Esta-do. “Começavam a aparecer os jor-nais de massa no Brasil”, explicaAlencar. “O que eram os jornais atéentão? Eram de grupos políticos, fi-nanciados por personagens. Quan-do o jornal começa a se tornar demassas, inclusive incorporando no-tícias populares, começa a adquirircerta autonomia como veículo dereferência.” Para Alencar, essa mu-dança ajudou a reforçar a Campa-nha Civilista.

O pesquisador destaca que o elei-torado, na época, era perto de 2,7%da população. Isso não diferia de ou-tros países. Apesar do reduzido nú-mero de votantes, foi a primeira cam-panha do País mais parecida às queviriam depois, com comícios cheiose declarações de voto.

É JORNALISTA DA SUCURSAL DO RIO

DO ‘ESTADO’

Candidatura. Rui Barbosa visita a cidade de Campinas em 1909

Batalha de Rui Barbosa parachegar à Presidência mostrouinsatisfação da classe médiaurbana com a antiga política

CIDADANIA

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Page 8: Estadão 140 anos - A história do jornal

1900

A tiragem do Estado, que girava em torno de 10 mil exemplares, salta para mais de 18 mil em 1897 com as notícias da Guerra de Canudos. Euclides da Cunha, enviado especial ao sertão da Bahia, manda 48 telegramas e 48 cartas relatando os acontecimentos. As reportagens seriam o embrião do clássico Os Sertões. Euclides começou a escrever no Estado em 1888 sob o pseudônimo Proudhon.

92% dos trabalhadores da indústria de SP são estrangeiros – 81% italianos.

Primeiro bonde elétrico, da Cia. Light and Power, começa a circular em São Paulo, ligando o Largo São Bento à Alameda Barão de Limeira.

Instalado na Fazenda Butantan um laboratório de produção de soro para combater um surto de peste bubônica no Porto de Santos. Chamado de Instituto Serumtherápico e dirigido pelo médico Vital Brazil, vira dois anos depois o Instituto Butantã.

Julio Mesquita, José Alves de Cerqueira César e Prudente de Morais rompem com o presidente Campos Sales. É a primeira dissidência republicana.

Em 1º de janeiro, é publicado na primeira página um editorial sobre o novo século.

Inaugurada a Estação da Luz.

Brasil detém monopólio mundial da produção de café.

Ó Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga, faz grande sucesso.

Publicado o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Inaugurada a primeira usina hidrelétrica para fornecimento regular de luz e força para a cidade de São Paulo.

Em 7 de agosto, o cinematógrafo estreia em São Paulo. A sessão tem a presença de Campos Sales, presidente do Estado, autoridades e jornalistas e apresenta, entre suas fitas, o clássico Chegada do Trem na Gare. No mesmo dia, o Estado explica funcionamento da invenção capaz de criar 'ilusão da própria realidade'.

Jornal lança o Almanaque Estado, com serviços e comércio da capital, do litoral e interior, além de informações sobre política, propaganda, calendário, tábua de marés, agricultura, horóscopo, curiosidades. Em 1916 e 1940, são lançadas mais duas edições.

1896 1897 1899 1901

‘Os Sertões’nasce comoreportagem

ACERVO/ESTADÃO

Fé cega. Seguidores de AntônioConselheiro detidos peloExército no sertão da Bahia

Lourival Sant’Anna ✽

Assim Euclidesda Cunha co-meçou sua co-bertura daGuerra de Ca-nudos, em te-legrama en-viado de Mon-

te Santo, na Bahia, no dia 6 de setem-bro de 1897, e publicado na ediçãodo dia seguinte do Estado: “Chega-mos hoje bem a esta cidade. Encon-tramos os batalhões 4.º, 29.º, 38.º e39.º e os batalhões de polícia do Paráe do Amazonas, que seguirão breve-mente para Canudos. A artilheiraCanet chegará amanhã ou depois”.Nem ele sabia que tinha início ali acriação de um dos maiores clássicos

da literatura brasileira, Os Sertões.Mas Canudos reservava mais impre-

visibilidades para esse engenheiro mili-tar convertido em repórter. Nascidoem Cantagalo, no Estado do Rio, Eucli-des, então com 31 anos, chegou à Bahiatrazendo consigo os esquemas mentaisde um homem urbano do Centro-SuldoBrasil,e ainda porcimaardenterepu-blicano, acerca do sertanejo nordesti-no e daquele exército de maltrapilhosseguindocegamente um líder messiâni-co, alucinado e monarquista. Ao longodacobertura, suavisão sobreosrevolto-sos de Canudos e sobre a geografia hu-manaqueosemoldurava foisetransmu-dando à medida que o repórter se expu-nha àquela guerra, àquele povo e lugar.

“O sertanejo é, antes de tudo, um for-te”, elogiaria mais tarde em seu livro.“Não tem o raquitismo exaustivo dosmestiços neurastênicos do litoral. Asua aparência, entretanto, ao primeirolance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno,a estrutura corretíssima das organiza-çõesatléticas. Édesgracioso, desengon-çado, torto. Entretanto, toda esta apa-

rência de cansaço ilude. Nada é maissurpreendedor do que vê-lo desapare-cer de improviso. Naquela organizaçãocombalida operam-se, em segundos,transmutações completas. Basta o apa-recimentodequalquerincidenteexigin-do-lheo desencadeardasenergias ador-mecidas. O homem transfigura-se. Em-pertiga-se, estadeando novos relevos,novas linhas na estatura e no gesto; e acabeça firma-se-lhe, alta, sobre os om-bros possantes, aclarada pelo olhar de-sassombrado e forte (...). Como que é ocavaleiro robusto que empresta vigorao cavalo pequenino e frágil.”

Depois de observar o arraial revolto-so, Euclides o descreve, em carta ao jor-nal: “Canudos está militarmente cons-truído e uma estampa que por aí andanada traduz, absolutamente, da sua fei-ção característica. As casas, aparente-mente em desordem, dispõem-seumas relativamente às outras, de modotal que de qualquer das quatro esqui-nas, o inimigo, sem mudar de lugar, ro-dando apenas sobre os calcanhares, ati-ra para os quatro pontos do horizonte”.

O espanto diante da condição huma-na e do engajamento daqueles civis nolevante de Antônio Conselheiro é mani-festo em outra carta, enviada de MonteSanto: “Acabam de chegar, há meia ho-ra, nove prisioneiras; duas trazem aoseiocriançasdepoucosmeses,mirradascomo fetos; acompanham-nas quatropequenos de três a cinco anos. O menorde todos chama-se José. Assombra: trazà cabeça, descendo-lhe até os ombros,um boné de soldado... A boca é uma cha-ga. Foi atravessada por uma bala”.

Em sua investigação exaustiva da-quele espaço, Euclides se dedica a es-quadrinhar a vegetação e a topografia:“Encontrei na volta um novo espéci-me desta flora agressiva – a favela, cuja

folha sobre a pele, ao mínimo contato,é um cáustico infernal, dolorosíssimoe de efeitos prolongados”. A planta em-prestou seu nome ao morro ao lado deCanudos. Mais tarde, se incorporariaao vocabulário nacional, designandoas ocupações irregulares nas cidades.

Em sua cobertura da guerra, de 6 desetembro a 1.º de outubro, Euclides en-vioutelegramase cartas. Ostelegramas,publicados no dia seguinte, eram curtose noticiosos. As cartas, que vinham comemissários a cavalo e de trem, levavamuma semana ou mais para chegar e serpublicadas. O jornal ia publicando tudo,naprimeirapágina,àmedidaqueiarece-bendo,detalmaneiraqueascartas,mui-tasdelasfazendopartedeumasériecha-mada Diário de uma Expedição, narra-vam momentos anteriores aos telegra-mas. O primeiro diário acabou publica-do depois do segundo, tal a dificuldadelogística. Os diários seriam o embrião

de Os Sertões, publicado em 1902, cin-co anos depois da guerra.

Arte. No livro, toma corpo aquiloque já aflorava em alguns textos en-viados por Euclides ao jornal: sua ca-pacidade de dar qualidade poética edramática até mesmo à descrição dageografiafísica: “As forças que traba-lham a terra atacam-na na contextu-raíntima e na superfície,sem interva-los na ação demolidora, substituin-do-se, com intercadência invariável,nas duas estações únicas da região.Dissociam-na nos verões queimo-sos, degradam-na nos invernos tor-renciais. Vão do desequilíbrio mole-cular, agindo surdamente, à dinâmi-ca portentosa das tormentas”.

Sua descrição de Antônio Conse-lheiro, a partir do relato de padresque o haviam visitado, equivale aum retrato minucioso e denso: “Ves-tia túnica de azulão, tinha a cabeçadescoberta e empunhava um bor-dão. Os cabelos crescidos sem ne-nhum trato, a caírem sobre os om-bros; as longas barbas grisalhasmais para brancas; os olhos fundosraramente levantados para fitar al-guém; o rosto comprido de uma pali-dez quase cadavérica; o porte gravee ar penitente impressionaram gran-demente os recém-vindos”.

Em seu mergulho nos sertões, queEuclides apresentou ao restante doPaís, o leitor é levado a fazer o per-curso do repórter: o de se livrar dosestereótipos e fantasias e colocar noseu lugar a realidade, com tudo oque ela tem de tosco e admirável, deespantoso e de deslumbrante.

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’

Enviado do ‘Estado’ paracobrir a Guerra de Canudos,Euclides da Cunha escreveuclássico da literatura

COBERTURA DE GUERRA

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Page 9: Estadão 140 anos - A história do jornal

Parabéns Estadão.E muito obrigado!

A Coelho da Fonseca parabeniza o Estadão pelos 140 anos de

excelência editorial, oferecendo informação e opinião de

qualidade a seus leitores, fortalecendo a democracia do país.

Neste ano em que comemora 40 anos, a Coelho da Fonseca

celebra com muito orgulho sua parceria ininterrupta com

o Estadão e agradece à família Mesquita – que sempre

depositou em nossa empresa uma confiança incondicional.

A Coelho da Fonseca agradece também pela eficiência e resultados

atingidos graças às inovadoras ferramentas de comunicação e

marketing do Estadão, que se tornou um ícone no segmento imobiliário.

Parabéns. E muito obrigado!

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www.coelhodafonseca.com.br

Correspondente Bancário

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Page 10: Estadão 140 anos - A história do jornal

REPRODUÇÃO

Marcelo Godoy ✽

Ahistória deum jornal po-de ser conta-da pela histó-ria de suasideias e dom u n d o n oqual elas nas-

ceram e se difundiram. E nada modi-ficou mais o planeta nos 140 anosdo Estado que a 1.ª Guerra Mun-dial. O conflito derrubou monar-quias, viu nascer o comunismo e cei-fou 20 milhões de vida. No Brasil,abriu caminho às revoltas tenentis-tas, à redescoberta da nação e aosurgimento de uma identidade cul-tural, superando modelos que auniam à Europa.

A guerra também trouxe transfor-mação ao prédio da Praça AntônioPrado, que abrigava então a redaçãodo jornal. Criou-se a edição vesper-tina, o Estadinho, e apostou-se queo aumento dos leitores era a únicasaída possível para enfrentar a que-da das receitas publicitárias e o au-mento dos custos do papel provoca-dos pelo conflito.

Com seus boletins de guerra, Ju-lio Mesquita ajudou a criar o jorna-lismo moderno no Brasil. Era 6 deagosto de 1914 quando publicou oprimeiro dos artigos semanais queescreveria quase sem interrupçãoaté 14 de outubro de 1918. Com baseem telegramas e informações – mui-tas das quais contraditórias – vin-dos de países beligerantes, o jorna-lista procurava dar aos leitores umavisão clara e abrangente de um con-flito que mais do que europeu eramundial. Manifestava clara simpa-tia pelos aliados, mas tentou mos-trar que isso não significava antipa-tia pelas potências centrais – Alema-nha, Áustria-Hungria e Turquia.

Julio Mesquita escreveu: “O Esta-do simpatiza com os aliados, nãoporque antipatize com os alemães,mas porque diverge visceralmenteda política autoritária e militaristaque desviou a Alemanha de sua lu-minosa missão e produziu essaguerra odiosa. Contra essa política,sim, temos toda a má vontade, ondequer que ela se implante ou firme,na Alemanha ou em qualquer outropaís, inclusive o nosso.”

A guerra que devia durar semanasse tornou rapidamente um massa-

cre. No dia seguinte ao Natal de 1914,Julio Mesquita escreve sobre a “trági-ca monotonia” das batalhas que tra-ziam “ruína e desgraça”. Oliveira Limaem suas crônicas publicadas no jornalrelatava as condições desumanas doscampos de batalha e as assustadorascifras das mortes nas batalhas. Símbo-lo desse período era a imutável man-chete que havia dois anos o jornal tra-zia: A Conflagração.

A Europa se desfazia em sangue elentamente deixava de ser a principalreferência cultural para o Brasil. A civi-lização que se destruía nas trincheirasdava aos poucos espaço para a redesco-berta da nação. Em seus editoriais, oEstado aliou-se aos defensores damodernização do País e abraçou em1915 a causa do civismo de Olavo Bilac,que, além da defesa do serviço militarobrigatório, enxergava na moderniza-ção do Exército – e, por consequência,de sua indústria – a única garantia paraa independência do Brasil.

O Estadinho publicava grande mate-rial fotográfico sobre a guerra, além derelatos do correspondente em Roma,Ancona López. Com o escritório na ca-pital italiana, o jornal chegava aos com-batentes aliados no front, principal-mente aos milhares de ítalo-brasilei-ros que haviam se alistado para lutarpela Itália. Entre eles estava AmerigoRottelini, filho do jornalista italiano Vi-taliano Rottelini, dono do jornal Fan-fulla, editado em São Paulo. Dois anosmais tarde, o Estadinho publicaria no-tícia da morte do tenente Amerigoquando conduzia suas tropas contraos austríacos.

O historiador francês Olivier Com-pagnon mostra como a guerra influen-ciou outra empreitada de Julio Mesqui-ta: a fundação em 25 de janeiro de 1916

da Revista do Brasil. Para Compagnon,que estudou o impacto da guerra naAmérica Latina em O Adeus à Europa, arevista dirigida pelo jornalista foi ummarco na história intelectual do País.

Ela teria participação de Graça Ara-nha, Monteiro Lobato, Olavo Bilac, Ma-rio de Andrade, Oswald de Andrade,Jackson de Figueiredo. O ambiente daguerra ajudara a criar as bases para omovimento que resultaria na Semanade Arte Moderna de 1922.

Em seu primeiro número, a revistaanunciava que “por trás do título e doshomens que a sustentam há uma ideiasimples e imensa: o desejo, a escolha ea vontade firme de criar um núcleo depropaganda nacionalista”. Ela prosse-guia: “Ainda não somos uma nação quese conhece, que se estima e que se bas-

ta, ou, para ser mais preciso, somosuma nação que ainda não tem coragemde se pensar sozinha, adiante, numaprojeção rigorosa e fulgurante de suapersonalidade”.

Em 1917, a urgência trazida pela guer-ra faria Julio Mesquita participar da Li-ga de Defesa Nacional de São Paulo,que pressionou o governo federal bra-sileiro pela declaração de guerra doPaís contra as Potências Centrais.

Greve geral. Em 1917, trabalhadoresde São Paulo decidiram entrar em gre-ve. O movimento recebeu apoio de umdos principais cronistas do jornal: Ma-rio Pinto Serva. E, a pedido dos operá-rios, Julio de Mesquita Filho foi o me-diador com os patrões para o fim domovimento.

A conduta do jornal no episódioatrairia a fúria de Altino Arantes, go-vernador paulista. Aproveitando-seda declaração de guerra do País, oestado de sítio foi decretado pelopresidente Venceslau Brás em 17 denovembro de 1917. Arantes aprovei-tou o decreto presidencial para ca-lar tudo o que lhe desagradava.

A primeira mordaça da históriado Estado foi de 24 de novembro de1917 a 28 de fevereiro de 1918. O jor-nal enfrentou-a deixando em bran-co os espaços dos artigos e trechosamputados pelo gabinete de polícia.A faca dos censores mutilou oito edi-ções do Estadinho e 14 do Estado.A ação contra o jornal foi suspensapor decisão da Justiça Federal.

Em 14 de outubro, Julio Mesquitaescreveria seu último boletim sobrea guerra. “Esta seção do jornal já nãotem razão de ser. Comentavam-seaqui, semanalmente, os fatos daguerra. Ora, a guerra, a bem dizer,acabou. Armistício não é paz nemao armistício ainda chegamos. Émais provável, porém, que as na-ções aliadas dos Estados Unidos onão neguem e os generais que co-mandam exércitos em luta o não em-baracem. Além disso, em tais condi-ções a Alemanha o pediu, que não háreceio de que, por sua iniciativa, ofogo devastador se reacenda.”

Estava certo. A guerra mudou omundo, levou comunismo à UniãoSoviética e só acabaria de fato com anova derrota alemã, em 1945. E o jor-nal entraria nos turbulentos anos1920 ao lado de setores que busca-vam nova identidade para a Nação.

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’

Na 1.ª Guerra, ‘Estadinho’ faz históriaMUNDO EM CONFLITO

Registros. À esquerda, capa da edição vespertina ‘Estadinho’; à direita,espaço em branco deixado por matéria censurada durante a guerra

Edição vespertina do jornalatualizava notícias do front etrazia análises apuradas deJulio Mesquita sobre conflito

ACERVO/ESTADÃO

Festa. Soldadosbritânicoscomemoram fimdas batalhas

Redação muda para o Palacete Martinico, na Praça Antônio Prado, onde permanece até 1929.

Em outubro, Alberto Santos-Dumont faz o primeiro voo público no 14 Bis, um veículo mais pesado que o ar.

Julio Mesquita se torna único dono do jornal. Na época, São Paulo tinha 250 mil habitantes, metade dos quais italianos, e a modernização do jornal acompanhava o espantoso crescimento da cidade.

A empresa The São Paulo Tramway, Light and Power Company Ltda. instala as primeiras lâmpadas elétricas de São Paulo, na Rua Barão de Itapetininga.

Pinacoteca do Estado é inaugurada numa sala do novo prédio do então Liceu de Artes e Ofícios.

Em março, a atriz Sarah Bernhardt se apresenta no Teatro Polytheama, em São Paulo.

Tratado de Petrópolis é assinado em novembro e o Acre é incorporado ao Brasil.

No Rio, o prefeito Pereira Passos inicia obras de remodelação urbana, com demolição de prédios e cortiços para abertura de avenidas. É o “bota-abaixo”.

Em novembro, explode no Rio revolta contra as medidas sanitárias impostas pelo governo e coordenadas por Osvaldo Cruz. O estopim é a obrigatoriedade da vacinação contra varíola.

Dono da Casa Edison, Frederico Figner introduz o disco no Brasil.

Recenseamento aponta a existência de 108 indústrias em SP: 70 estrangeiras e 38 brasileiras.

Os cordões carnavalescos começam a sair dos bairros para o centro da cidade. Carnaval carioca vai tomando forma.

Em 3 de fevereiro, primeira edição extra da história do jornal fala sobre o assassinato, em Lisboa, do rei D. Carlos e de seu filho D. Luís Felipe.

Aberta sucursal do Estado em Lisboa.

Aprovada em maio a lei do serviço militar obrigatório, que só seria implementada em 1915 após campanha do poeta Olavo Bilac.

1902 1903 1904 1905 1906 1908

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José Alfredo Vidigal Pontes ✽

Em 1924, São Pau-lo tinha cerca de700 mil habitan-tes. De cada três,umdeixouacida-de durante a re-volução que ter-minou com bair-

ros bombardeados, 503 mortos, 5mil feridos e grandes prejuízos emcasas, lojas e fábricas.

Para entendê-la, é preciso voltara 1922, quando estourou no Rio deJaneiro uma rebelião de jovens ofi-ciais do Exército. Sufocada pelo go-verno Epitácio Pessoa, durou ape-nas 40 horas, mas teve grande sig-nificado político. Começou na ma-drugada de 5 de julho em Copaca-bana e terminou com 27 rebeladosdeixando o forte. Dez se embrenha-ram pelos rochedos e matas e 17saíram caminhando armados pelapraia de encontro a uma numerosatropa legalista, bem armada e posi-cionada. Um turista paulista ade-riu ao grupo. O tiroteio foi fatalaos rebeldes, celebrizados comoos “18 do forte”. Apenas dois sobre-viveram: os tenentes Eduardo Go-mes e Siqueira Campos.

O estado de sítio foi mantidoapós a posse do presidente ArturBernardes, em 15 de dezembro de1922. O maior articulador dos opo-sitores era o general gaúcho Isido-ro Dias Lopes, que percorria Sul eSudeste divulgando a ideia de ummovimento revolucionário paraderrubar o governo.

A ocupação de São Paulo come-çou na madrugada de 5 de julho.Comandada pelo general Lopes ecom a presença de destacados te-nentes da revolta de Copacabana,durou 23 dias. A data de início bus-cava homenagear os “18 do forte”e entusiasmar a tropa com a místi-ca dos 16 heróis mortos.

O Estado deu grande espaço à co-bertura do conflito. No domingo,dia 6 de julho, estampou três fotosna capa sob a manchete “Movimen-to militar”. Logo abaixo, destacavaas notícias do ataque ao Palácio dosCampos Elísios, na região central, ea tomada de estações de trem e dotelégrafo nacional pelos revoltosos.

Censura. Após o bombardeio deSão Paulo pelas tropas legalistas e ofim do conflito, Julio Mesquita foipreso apenas por ter dialogado comos revolucionários e mantido neu-tralidade. Enviado ao Rio, foi logoliberado. Mas o jornal chegou a sercensurado.

Enquanto terminava a ocupaçãoem São Paulo, outras insurreiçõesocorriam pelo País. Do Sul vinham

militares rebelados comandados porLuís Carlos Prestes, os quais se junta-riam no Paraná aos revoltosos vin-dos de território paulista, formandoa famosa coluna Miguel Costa-LuísCarlos Prestes. Nos dois anos emque a coluna perambulou pelo Brasil,o governo de Artur Bernardes foi mar-cado por grande oposição. Mesmo as-sim, ele conseguiu passar a Presidên-cia a seu sucessor.

A agitação política permaneceu nogoverno Washington Luís, que, emagosto de 1927, conseguiu aprovar aLei Celerada para restringir a liberda-de de imprensa e o direito de reunião.Em 30 de julho de 1929, foi lançada achapa oposicionista com Getúlio Var-gas e formalizada a Aliança Liberal. Noinício de setembro, o Partido Democrá-tico paulista, apoiado pelo Estado, ade-ria à Aliança.

Em 24 de outubro, ocorreu a gran-de quebra da Bolsa de Nova York,mas seus efeitos mais graves não sefariam perceber de imediato no Bra-sil. Isso deu fôlego para o governoimpor seu candidato na eleição demarço de 1930. Júlio Prestes venceu,mas a situação se reverteria mesesdepois com o assassinato de JoãoPessoa, candidato derrotado à Vice-Presidência pela Aliança Liberal.

Vargas no poder. A opinião públicase agitava e a iminência da revoluçãoera comentário generalizado. Final-mente, em 3 de outubro, ela estourouem Porto Alegre, com Getúlio Vargas

no comando. No Rio, a opinião públicaficou claramente simpática à rebelião,levando o alto oficialato a depor Pres-tes em 24 de outubro. Ao passar porSão Paulo, o trem que conduzia Getú-lio foi entusiasticamente recebido pe-los paulistanos.

Essa simpatia se reduziria drastica-mente meses depois. Como interven-tor em São Paulo, foi indicado João Al-berto Lins de Barros, um tenente per-nambucano sem trânsito no Estado.Em pouco tempo, ele se indispôs comos aliados locais. Outros militares osubstituíram até que se formou a Fren-te Única Paulista, unindo antigos ini-migos, como o Partido Democrático euma parcela do Partido RepublicanoPaulista.

Em novembrode 1931, gaúchos e pau-listas começaram a pressionar pelaconvocação de uma Assembleia Cons-tituinte. Em 7 de maio de 1932, Vargasmarcou as eleições para dali a um ano econseguiu descontentar a todos: paraos constitucionalistas, era muito tar-de; para os tenentes, muito cedo.

Durante o mês de junho, Vargas ini-ciou gestões de aproximação com os“constitucionalistas”. Mas, pressiona-do de outro lado pelos tenentes, aca-bou desistindo da reforma ampla queprometera, causando a retomada daconspiração.

Os gaúchos não estavam mais segu-ros quanto ao posicionamento de Flo-res da Cunha, o interventor no RioGrande do Sul, e em razão disso pe-diam que se adiasse o início da rebe-

lião. Getúlio havia repassado verbas pa-ra gaúchos e mineiros, iniciativa queneutralizou qualquer possibilidade deadesão dos governantes dos dois Esta-dos a uma eventual revolta constitucio-nalista.

Início. Ignorando esses problemas, ogeneral Bertholdo Klinger, coman-dante militar de Mato Grosso, preci-pitou-se ao provocar a insurgênciacontra Vargas na noite de 9 de julho.Pegos de surpresa, os gaúchos não pu-deram se articular convenientemen-te. E, em Minas, onde a articulaçãoprévia era ainda mais frágil, a adesãoarmada foi nula.

Não fosse a enorme mobilização in-dustrial paulista e a grande participa-ção de civis, o conflito teria termina-do bem antes. Eram cerca de 40 milinsurgentes, muitos voluntários, con-tra 300 mil soldados do governo, quese revezavam de modo a manter cons-tantemente nas frentes de combatecerca de 100 mil soldados descansa-dos. Uma rápida adaptação da indús-tria paulista para a guerra chegou aassustar a ditadura em agosto, sur-preendida pela eficiência alcançadana reposição de armas e munições.

No dia 10, o Estado estampava amanchete: “Está victorioso em todoo Estado o movimento revolucioná-rio de carácter constitucionalista”.O jornal e a família Mesquita tiveramparticipação ativa na articulação darevolução e até mesmo na luta arma-da. Os irmãos Julio de Mesquita Fi-

lho, Francisco Mesquita e AlfredoMesquita se alistaram e foram pa-ra a frente de batalha no Vale doParaíba.

Apesar do entusiasmo dos cons-titucionalistas, a disparidade deforças era enorme. Klinger, queprometia uma tropa de 6 mil mato-grossenses, chegou a São Paulocom dez. O apoio gaúcho foi decerca de 300 homens, com açõesrestritas ao interior do Rio Gran-de. No Rio, oficiais aliados espera-ram em vão o avanço de tropas pau-listas. Aí, em Salvador e Belém, es-tudantes promoveram protestosreprimidos pela polícia.

Final. A Revolução Constituciona-lista chegou ao fim em 2 de outubro,85 dias depois de iniciada, com a ren-dição dos rebeldes. Suas liderançascivis e militares foram expatriadas,incluídos Julio de Mesquita Filho eFrancisco Mesquita, embarcados àforça para Portugal.

Mas nas eleições para a Assem-bleia Constituinte os constituciona-listas conseguiram eleger 71% dosrepresentantes paulistas. Essa in-questionável demonstração de po-pularidade acabou forçando Vargasa conceder anistia geral e promul-gar nova Constituição em 1934.

É HISTORIADOR E AUTOR DO LIVRO ‘A

POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE: MITO OU

HISTÓRIA?’

ROTOGRAVURA, O‘INSTAGRAM’ DOS ANOS 30Edmundo Leite ✽

Fotos de família, turma deamigos, bebês fofinhos, ani-mais, astros do cinema, ce-lebridades, retratos, com-

petições esportivas, festas públicase particulares, belas paisagens, gran-des acontecimentos, lugares exóti-cos e pitorescos do Brasil e do mun-do. Tudo em alta resolução, com be-lo acabamento e colaboração de lei-tores enviando imagens. Parece oInstagram, a rede social que faz su-cesso nos smartphones, mas erauma publicação em papel.

De 1928 a 1943, o Suplemento emRotogravura do Estadão foi umagrande janela para o mundo. Ao con-trário das edições diárias do jornal,que por limitações técnicas não po-diam publicar fotos com boa quali-dade, o caderno privilegiava ima-

gens, com alguns textos de apoio. Comformato de revista e circulação sema-nal, dava aos leitores uma experiênciavisual numa época em que as câmarasfotográficas começavam a deixar os tri-pés para se tornar portáteis.

Apresentado inicialmente comoduas páginas encartadas na edição re-gular do Estado no fim dos anos 20, oRotogravura se tornou suplementoavulso na década seguinte. E era frutode um grande investimento do jornalna modernização de seu parque gráfi-co, com a aquisição do mais modernomaquinário disponível na época, im-portado da Europa.

“A illustração em rotogravura so-bre cylindros de cobre, só ella, apre-sentava tais empecilhos que faziamdesconfiar fosse a promessa uma pi-lheria ou uma ingenuidade”, expli-cou Luigi Giusti, chefe da oficina degravura do jornal em 1929, quando

anunciava a chegada de uma “pos-sante machina de rotogravura”, daCasa Marinoni, que aumentaria, umano depois do lançamento da seção,a capacidade para uma edição de oi-to páginas.

As minúcias do equipamento exi-giam uma equipe à parte para a prepa-ração e impressão das páginas. As má-quinas eram tão delicadas que “a sim-ples variação atmospherica da ma-nhan para a tarde” era motivo para

um complicado reajustamento decilindros.

Para além das inovações gráficase tecnológicas, o Suplemento em Roto-gravura também adotava uma mo-derna linguagem editorial. Interati-vo, publicava, além do material pró-prio e de agências internacionais,imagens enviadas pelos leitores,que registravam cenas e lugares devários lugares da cidade, do País edo mundo. Mas não se tratava de ummero álbum aleatório de fotogra-fias. Com edições temáticas, apro-fundava assuntos, mostrando deta-lhes da vida cotidiana, de processosindustriais, do esporte e do lazer.Mesmo com a leveza dos principaistemas, o caderno não deixava o ladoinformativo, dedicando-se a docu-mentar as guerras e revoluções doperíodo.

Mas foi no carnaval que o suple-mento teve seu apogeu. Em seus15 anos de circulação, a época dosbailes, corsos, desfiles, festas declubes e escolhas de rainha ren-deu as melhores capas e páginasda publicação.

É COORDENADOR DO ACERVO ESTADÃO

Em 1924, São Paulo é bombardeada;em 1932, vai às armas pela Constituição

ACERVO/ESTADÃO

ACERVO/ESTADÃO

‘Estado’ se engajou naguerra paulista, movimentoderrotado nas trincheiras,mas vencedor no plano civil

No front.Soldados

posam comexemplar do

jornal naRevolução

de 32

CICLO REVOLUCIONÁRIO

Sociedade. Carnaval, moda, cenas de São Paulo, personalidades e atébebês ilustraram capas: interatividade com leitores marcou suplemento

INOVAÇÃO

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HÁ 140 ANOS O ESTADÃO DESVENDA O BRASIL PARA OS BRASILEIROS.Uma homenagem da Unimed Paulistana

ao aniversário do Jornal Estadão.

(11) 3113-3001www.unimedpaulistana.com.br

Em 1º de março, Rui Barbosa é derrotado em um pleito fraudulento. No dia 27, o jornal publica o manifesto de Rui denunciando as irregularidades.

Julio Mesquita é um dos articuladores da candidatura de Rui Barbosa à Presidência da República, em oposição à candidatura de um militar, o marechal Hermes da Fonseca. Iniciava-se a Campanha Civilista.

Avenida Paulista recebe asfalto trazido da Alemanha. A partir daí, outras ruas da cidade foram ganhando pavimentação.

Carlos Chagas descobre que o micróbio 'Tripanossoma cruzi' é transmitido pela picada do inseto barbeiro.

Euclides da Cunha é assassinado por Dilermando de Assis no Rio por motivo passional.

Em meio à expansão econômica provocada pela exportação do café, o porto e a cidade de Santos, no litoral, desempenham importante papel no desenvolvimento industrial do País. Estado abre sucursal no município.

Fundado no Bom Retiro o Sport Club Corinthians Paulista. Em 12 de

setembro, é inaugurado o Teatro Municipal de São Paulo. A cidade vive seu primeiro congestionamento de carros por causa da festa.

Estado abre sucursal em Roma.

Edu Chaves realiza o primeiro voo de avião em céus brasileiros.

Kasato Maru aporta em Santos com a primeira leva de imigrantes japoneses: 781 pessoas, de 168 famílias.

Lançada a primeira comédia nacional. Com 15 minutos de duração, Nhô Anastácio Chegou de Viagem, do cinematógrafo Pathé, conta aventuras de um matuto no Rio.

Em julho, multidão aguarda no Parque Antártica o vencedor do Circuito de Itapecerica, a primeira corrida automobilística da América do Sul. Sylvio Penteado fez os 70 km em 1 hora, 30 minutos e 5 segundos em seu Fiat 40 cv.

Período áureo da exploração de borracha. Entre 1900 e 1910, o País exporta 345.079 toneladas – 28,2% do total de exportações da década.

Em novembro, marinheiros dos encouraçados Minas Gerais e São Paulo, sob comando de João Cândido, revoltam-se contra o uso da chibata na Marinha.

1909 19111910

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Na Campanha pela Escola Pública, protagonismo

Maior universidadedo Brasil, USP surgena redação do jornal

ANDRÉ DOUEK/ESTADÃO

ACERVO/ESTADÃO

Um dos mais significati-vos episódios do prota-gonismo do jornal O Es-tado de S. Paulo no que

se pode chamar de a questão da edu-cação no Brasil foi o da Campanhaem Defesa da Escola Pública, de1959 e 1960. Questão da educaçãoporque, em função dos embates emtorno do projeto da Lei de Diretri-zes e Bases da Educação, a concep-ção do que deveria ser o cerne daprópria educação pública veio à to-na. E veio porque a tramitação doprojeto deu oportunidade aos detra-tores da escola pública para subli-nhar-lhe as deficiências, comparan-do-a com a escola privada suposta-mente de melhor qualidade e defen-dendo a tese de que o eixo da educa-ção brasileira deveria ser invertido,passando o controle e o favoreci-mento para o ensino privado.

A principal defesa dessa inversãovinha do clero e do episcopado cató-lico, que interferia no projeto na Câ-mara Federal por meio de um padredeputado e no Senado por meio deum padre senador.

Em defesa da escola privada, fora

apresentado um substitutivo desfigu-rante ao projeto de Diretrizes e Basesda Educação Nacional, que era de auto-ria do professor Antonio de AlmeidaJúnior, livre-docente da Faculdade deDireito. Ele fizera parte do grupo deeducadores ligados à redação de O Es-tado de S. Paulo, que fundara a Uni-versidade de São Paulo.

Tiveram os críticos da educação pú-blica a qualificada e veemente contes-tação de extenso grupo de educadores,sobretudo da Universidade de São Pau-lo, no Manifesto dos Educadores: Maisuma vez convocados, escrito pelo profes-sor Fernando de Azevedo e subscritopor educadores renomados.

Inspiração. Começava com uma refe-rência ao Manifesto dos Pioneiros da Edu-cação Nova, de 1932, que reunira gran-des nomes da educação brasileira e pro-pusera o que no fundo deveria ter sidoo projeto de reforma educacional daRevolução de Outubro de 1930.

Fernando de Azevedo e os professo-res que com ele se alinharam faziamparte do chamado grupo de O Estadode S. Paulo, que se reunia em tornode Julio de Mesquita Filho. O manifes-to foi publicado em janeiro de 1959 ereproduzido em vários jornais brasi-leiros, até mesmo no Diário do Con-gresso Nacional.

O Manifesto convocava a sociedade eo governo para uma tomada de posi-ção em defesa “da educação democráti-

ca, da escola democrática e progressis-ta que tem como postulados a liberda-de de pensamento e a igualdade deoportunidades para todos”.

Mais do que uma campanha, tratou-se de um verdadeiro movimento so-cial. O documento não deixava de reco-nhecer a pobreza e o desemparo da es-cola pública. Ela estava sendo consumi-da por concepções quantitativas, de-serdada das qualidades que deveria epoderia ter. “Precisamos convencer-nos, de uma vez por todas, que o futurodo Brasil não está na sobra dos con-luios nem no tumulto das assembleias,mas no milagre eterno da sua juventu-de, nas mãos de nossos filhos.”

Professores, especialmente da USP,saíram a campo para fazer conferên-cias e debates em defesa da es-cola pública em todos oscantos. O envolvimentodojornal deu visibilida-de à ameaça a que es-tava sujeita e esta-vam sujeitos os valo-res republicanosabrigados em sua re-

dação e em sua concepção do que deve-ria ser a educação brasileira.

Professores, alunos e pais de alunosse mobilizaram em todas as partes emdefesa da escola. Não só eles: a campa-nha mobilizou sindicatos operários eestudantes universitários. Conven-ções e congressos de diferentes catego-rias profissionais foram realizados.

Diversidade. A adesão da Maçonaria,dos espíritas e dos protestantes reafir-mou o pluralismo republicano do mo-vimento, indicativo da redação do jor-nal como uma fortaleza do republica-nismo por ele defendido e sempre des-figurado pela insidiosa tendência dapolítica brasileira de mudar o arcaicopara mantê-lo, na célebre afirmação

de Tancredi, em Il Gattopardo,de Lampedusa.

Mesmo em setores mi-noritários da Igreja Cató-

lica houve apoios à de-fesa da escola públi-

ca. O professor Flo-restan Fernandes,provavelmente omais destacado

participante dacampanha, contou-

me, poucos dias antesde falecer, que até mes-

mo recebera um convi-te para conversar do

monsenhor Paulo Florên-cio de Camargo, pároco da Igre-

ja do Divino Espírito Santo, na RuaFrei Caneca. Insistiu com ele o emi-nente historiador da Igreja paulis-ta para que perseverasse na defesada escola pública.

O ataque à escola pública era feitoem nome da defesa da liberdade deensino. Ora, a escola pública em na-da afetava a liberdade de ensino nasescolas católicas e nas escolas priva-das em geral, como demonstrava oenvolvimento protestante na oposi-ção à emenda que alterava o projetoda Lei de Diretrizes e Bases. Outrasquestões estavam em jogo: o pró-prio teor do ensino, a laicidade daeducação, o favorecimento mate-rial da escola privada.

Contradições. A campanha teveseu próprio feixe de contradições,diferentes grupos dela participan-do a partir de diferentes e até opos-tas concepções ideológicas. Na re-dação do jornal, a referência era aideologia liberal e anticlerical. Nossindicatos e na própria Universida-de, de certo modo havia alguma in-fluência comunista, cujos adeptoseram claramente anticlericais. Decerto modo, a Igreja Católica jogavasua última cartada em defesa do seufavorecimento pelo Estado e em de-fesa de seu controle do elenco devalores de orientação da educação,mesmo na escola pública. / JOSÉ DE

SOUZA MARTINS

Mobilização em torno daeducação democrática eprogressista envolveu váriossetores da sociedade

Engajamento.FlorestanFernandes foium dos maisativosparticipantesda campanha

José de Souza Martins ✽

Já preso, em 1932, logoapós vencida a Revolu-ção Constitucionalistapelas tropas federais,Julio de Mesquita Fi-lho escreve a sua espo-sa, Marina, pedindoque na visita do dia se-

guinte lhe levasse exemplar do livrode Émile Durkheim Éducation et So-ciologie e o de seu discípulo, CélestinBouglé, Les Idées Égalitaires – Étudesociologique. Na cadeia e no exílio, ojornalista, formado pela Faculdadede Direito e autodidata em Sociolo-gia, estudava e preparava sua maiorobra – a universidade. Nas leiturassociológicas procurava compreen-der o Brasil e a função social que ne-le teria uma universidade como aque imaginava, projeto intelectual epolítico que expôs em vários discur-sos de paraninfo de turmas forma-das pela USP.

Julio de Mesquita Filho falava poruma geração cujo inconformismo ga-nharia sentido nas Revoluções de 1930e 1932. Na redação de O Estado de S.Paulo reuniam-se à noite intelectuaisque eram colaboradores do jornal, en-tre eles Fernando de Azevedo e PauloDuarte, dois ativos participantes de umprojeto de universidade. Lá se discu-tiam questões como a carência de civili-dade, cujas marcas estavam em todas asnossas insuficiências – do atraso socialao atraso político do voto de cabresto.

Já em 1925 o jornal promovera uminquérito sobre a educação, conduzidopor Fernando de Azevedo, que comMesquita discutia o assunto desde1923.O inquérito gerou umaanálise, pu-blicada em 1926, que mostrava um dosaspectos mais calamitosos do atrasobrasileiro, a pobreza da escola secundá-ria. Foi ele a base das conversas cultasna redação, que culminariam na ideiade Julio de Mesquita Filho e de seu gru-po de criar a Universidade de São Paulo.

Tanto a Revolução de 1930 quanto ade 1932 encerravam contradições. Aderrota na Revolução Constituciona-lista não foi derrota no pleno sentidoda palavra. Mostrou a Getúlio Vargas ocaminho da composição com São Pau-lo e suas forças políticas e sociais emer-gentes, o que se deu, também, do lado

da elite paulista. Já antes, cafeicultorese banqueiros, representados por JoséMaria Whitaker, ministro da Fazendado Governo Provisório, executaram apolítica de queima dos estoques de ca-fé, que manteve o fluxo de renda dacafeicultura e impediu sua ruína com-pleta. Os industriais, na figura emble-mática de Roberto Simonsen, que ha-via apoiado a Revolução Constitucio-

nalista, foram beneficiados pela políti-ca industrialista de Vargas. Por meiodeles, a Revolução de 30 mudava o eixoeconômico do País, deslocando-o daagricultura latifundista de exportaçãopara a moderna economia industrialvoltada para o mercado interno.

É significativo que Armando de Sal-les Oliveira, engenheiro formado pelaEscola Politécnica e um dos sócios e di-retor de O Estado de S. Paulo, tenhasido nomeado interventor, em outubrode 1933, e em seguida eleito governador.Ao retornar do exílio, sendo cunhadodo interventor, Julio de Mesquita Filhoreanimou no grupo do Estadão o deba-te sobre a criação da uma universidade.Que se tratava de projeto amadurecidodesde o inquérito sobre a educação, naredação, na prisão e no exílio, mostra-oa rapidez com que a proposta foi imple-mentada: a Universidade de São Paulofoi criada em 25 de janeiro de 1934, ani-versário da fundação de São Paulo.

A comissão para isso organizada de-signou Teodoro Ramos, professor de

Matemática da Escola Politécnica emembro da Igreja Positivista do Bra-sil, para ir à Europa recrutar docen-tes do que viria a ser a Faculdade deFilosofia, Ciências e Letras, o nú-cleo central da USP e a síntese doseu espírito. Na França, George Du-mas, amigo de Mesquita, que estive-ra no Brasil nos anos 1920 e era pro-testante, já começara a reunir os pro-fessores da nova universidade. Ra-mos levava instruções para evitarclericais, fascistas e nazistas. Tam-bém recrutou docentes na Itália ena Alemanha e alguns na Espanha eem Portugal. A USP deveria ser umauniversidade pública, gratuita e lai-ca, pluralista e democrática no ensi-no e na pesquisa.

Seria uma verdadeira universida-de,pautadapela pesquisa desinteres-sada para diferenciar-se das escolastradicionais a ela agregadas, dedica-das ao conhecimento aplicado. Seusdocentes seriam docentes em tem-po integral, com bons salários, agru-pados numa Cidade Universitária.Uma de suas metas seria a de formarprofessores para o ensino secundá-rio, cujas cadeiras eram ocupadas,até então, por advogados, médicos eengenheiros que faziam bico comodocentes de disciplinas para as quaisnão tinham preparo especializado eatualizado. Professores primáriosda rede pública, se aprovados no ves-tibular da Faculdade de Filosofia, po-deriam solicitar comissionamento,recebendo os vencimentos unica-mente para estudar. Formados,iriam para o ensino secundário.Uma antecipação criativa das políti-cas de bolsas de estudos para forma-ção de pessoal de nível superior.

Ideal. A criação da USP era partede um projeto revolucionário. O fa-to de que Julio de Mesquita Filhoperfilhasse um ideário liberal e an-tioligárquico e reunisse a herançade uma história familiar de vincula-ção aos movimentos insurgentes derepublicanização da República, quese iniciam com a Dissidência Repu-blicana de 1901 e culminam na Revo-lução Constitucionalista de 1932, si-tua a USP no elenco de aconteci-mentos de construção de uma socie-dade moderna e democrática no Bra-sil. A USP seria um dos meios decisi-vos da modernização das mentalida-des pela revolução no ensino, a fun-damentação erudita e científica dospropósitos de transformação sociale de incorporação à condição de ci-dadãos da massa de desvalidos quefizera da sociedade brasileira umasociedade retrógrada e sem futuro.A USP era proposta como o episó-dio conclusivo do nosso republica-nismo e o instrumento decisivo daRevolução Brasileira.

É SOCIÓLOGO E PROFESSOR EMÉRITO DA

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E

CIÊNCIAS HUMANAS DA USP, FELLOW DE

TRINITY HALL E PROFESSOR TITULAR DA

CÁTEDRA SIMÓN BOLÍVAR DA UNIVERSI-

DADE DE CAMBRIDGE (1993-1994)

LUTA PELA EDUCAÇÃO

Início. Aulainaugural docurso deGeografia naFaculdade deFilosofia,Ciências eLetras da USP

Intelectuais se reuniam ànoite no ‘Estado’ para discutirquestões culturais e comomudar o País pelo ensino

Volta a SP. Antropólogo Claude Lévi-Strauss reencontra a USP em 1985

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Page 15: Estadão 140 anos - A história do jornal

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Page 16: Estadão 140 anos - A história do jornal

Na Era Vargas, 5 anos de intervençãoARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO

Lira Neto ✽

ESPECIAL PARA O ESTADO

Um grupo deb r u t a m o n -tes armadosemal-encara-dos,sobasor-dens expres-sas do chefede polícia da

ditadura do Estado Novo, FilintoMüller, invadiu no dia 25 de marçode 1940 a sede do jornal O Estado deS. Paulo – que à época funcionavana Rua Boa Vista, centro da capital.

A batida policial tinha como pre-texto investigar supostas denún-cias de que a diretoria do periódico,mancomunada com “um grupo deperigosos comunistas”, estaria orga-nizando uma conspiração para de-por o então ditador Getúlio Vargas.

Insinuava-se que o jornal da famí-lia Mesquita pretendia reeditar, emversão revista e ampliada, a Revolu-ção Constitucionalista de 1932 – mo-vimento que getulistas sempre pre-feriram chamar de “contrarrevolu-ção”, em contraponto à vitoriosa Re-volução de 1930, movimento civil-militar que levara Getúlio ao poder.

De acordo com os relatórios ofi-ciais, a busca no imóvel resultou naapreensão de um arsenal de armas emunição pesada, incluindo metra-lhadoras, que teriam sido encontra-das escondidas sobre o forro do pré-dio. Foi determinado o fechamentoimediato da gráfica e da redação, en-quanto Francisco Mesquita e ou-tros diretores eram levados presos.

Após dez dias sem circular, o jor-nal reapareceu sob nova administra-ção e alvo de intervenção federal,com o advogado e jornalista AbnerMourão figurando no alto do expe-diente como diretor efetivo.

Processo aberto pelo Tribunal deSegurança Nacional determinaria,contudo, a improcedência das de-núncias, restando a suspeita históri-ca de que o armamento teria sidoplantado pela própria polícia.

Ainda assim, o Estadão só volta-ria ao controle dos Mesquita cincoanos depois, em dezembro de 1945,logo após a queda de Vargas – ironi-camente derrubado por setores dacaserna que haviam dado sustenta-ção militar ao Estado Novo.

No decorrer da extensa Era Var-gas, a relação entre Getúlio e O Esta-

do de S. Paulo foi marcada por incon-táveis sobressaltos. Ainda em 1930, ojornal endossara sua candidatura à Pre-sidência, declarando apoio à AliançaLiberal, coligação que surgia no cená-rio político como o corolário das ban-deiras defendidas pelos Mesquita naPrimeira República.

Quando, em 29 de outubro de 1930,o revolucionário Getúlio DornellesVargas passou de trem por São Paulo acaminho do Rio – onde dali a cinco diastomaria posse no Palácio do Catete –, oEstadão saudou aquele momento deeuforia cívica com uma imensa foto dofuturo chefe de governo no centro daprimeira página. A edição comemorati-va esgotou em poucas horas. Os princi-pais concorrentes, que haviam apoia-do a candidatura de Júlio Prestes, nãopuderam sair às ruas, pois suas ofici-nas e redações tinham sido empastela-das por populares pró-Getúlio.

O apoio do jornal ao novo regimenão resistiu, porém, às primeiras medi-das adotadas pelo autodenominadoGoverno Provisório. O fechamento doCongresso Nacional, a nomeação deinterventores estaduais e a suspensãoda Constituição Federal, consideradaspor Getúlio etapas necessárias à conso-lidação do movimento revolucionário,encontraram forte oposição nosmeios políticos e, sobretudo, em SãoPaulo, onde a efetivação de um inter-ventor militar, o pernambucano JoãoAlberto Lins de Barros – consideradoum corpo estranho às tradições paulis-

tas –, foi encarada como afronta pelasociedade local, que exigia um “paulis-ta e civil”.

Segundo Julio de Mesquita Filho, otenentista João Alberto, um homem“nascido sob o signo do Padre Cícero ecriado na admiração dos cangaceirosAntônio Silvino e Lampião”, militar“cuja infância se passara na contempla-ção dos mocambos de Recife”, não eraadequado para administrar São Paulo.

Getúlio, em nome da centralizaçãopolítica e da ideia de edificar seu proje-to nacionalista, procurava desmontar,nos diferentes Estados, as tradicionaisoligarquias e as respectivas máquinaspartidárias regionais. Não se tratava, éóbvio, de tarefa de simples execução.

Houve reações de toda espécie. Nocaso paulista, Getúlio assistiu com as-sumido temor à aproximação entre osliberais do Partido Democrático (PP)que haviam apoiado a Revolução de 30– entre os quais a família Mesquita – eas velhas lideranças do oligárquico Par-tido Republicano Paulista (PRP) derru-badas do poder pelo movimento.

Na tentativa de contornar o eviden-te mal-estar, Getúlio viu-se obrigado arifar João Alberto. Para ocupar o lugarvago, numa tentativa de conciliar oque logo se mostraria inconciliável,convidou ninguém menos do que Plí-nio Barreto, redator-chefe de O Esta-do de S. Paulo. O fato desgostou o lí-der tenentista Miguel Costa, um doscomandantes da legendária ColunaPrestes e recém-nomeado por Vargas

para o posto de chefe da Força Públicae secretário de Segurança no Estado.

Antevendo os atritos que por certosobreviriam, Barreto declinou do con-vite, o que explicitou a animosidadeentre liberais-democráticos e tenentis-tas, provocando o agravamento da cri-se política e institucional.

Enquanto foi possível, Getúlio Var-gas procurou alternar afagos e benes-ses. “Sempre que alguém rosna maisforte nos calcanhares de Getúlio, eleatira um osso, às vezes sem carne, parao resmungador se aquietar”, chegou adefinir o tenentista Agildo Barata.

Em janeiro de 1932, porém, os libe-rais de São Paulo romperam em defini-tivo com o Catete e, dali a poucos me-ses, pegaram em armas contra o antigoaliado, exigindo a imediata reconstitu-cionalização do País.

A Revolução Constitucionalista – oucontrarrevolução – significou um capí-tulo à parte na história do Estado.Francisco Mesquita foi para a frente debatalha enquanto o irmão, Julio deMesquita Filho, assumiu o papel deconselheiro político do coronel Eu-clydes Figueiredo, comandante dasforças rebeldes no Vale do Paraíba.

Quando, após quatro meses de san-grentos confrontos, as tropas federaisneutralizaram o movimento paulista,Getúlio decretou a cassação dos direi-tos civis, por três anos, de cerca de 200implicados no levante. Na longa listade deportados estavam os irmãos Mes-quita, que mesmo no exílio seguiram

conspirando contra o poder varguis-ta. Retornaram cerca de dois anosdepois, em 1934, já no processo dereconstitucionalização pelo qualtanto haviam militado.

Resistência. O interregno demo-crático foi breve. Quando, em 1937,Getúlio fechou de vez o regime, ins-taurando o Estado Novo, o jornalpermaneceu como uma das únicasfrentes de resistência na imprensa àditadura, o que levaria Julio de Mes-quita Filho a ser preso outras 17 ve-zes e, de novo, conduzido ao exílio.O periódico ficou sob direção do ir-mão Francisco até aquele tumultuo-so 25 de março de 1940, quando asede da Boa Vista foi invadida peloshomens de Filinto Müller.

Em 6 de dezembro de 1945, ao reto-mar enfim o controle do jornal, comGetúlio submetido a retiro compul-sório em São Borja, a família Mesqui-ta se recusou a aceitar a legitimida-de editorial dos exemplares impres-sos ao longo dos cinco anos de inter-venção. Naquele dia, repetiu o nú-mero 21.650 estampado na primeiraedição sob interventoria de AbnerMourão. Até hoje, aliás, o Estadãodesconsidera, em sua contagem ofi-cial, os números editados entre a in-vasão do jornal e a sua volta às mãosdos donos.

Quando Getúlio, sem precisarsair do interior gaúcho e apenas pou-cas semanas após a queda, elegeu-sedeputado por seis unidades da fede-ração e senador por outras duas –incluindo, no dois casos, São Paulo –o jornal deplorou o ocorrido. “Foicometido o erro de se manterem in-tactos os direitos políticos do ex-di-tador”, analisou um dos editoriaisda casa. “Decaído do poder, ele con-tinuou, escandalosamente, a dirigirpartidos políticos e a traçar diretri-zes para a luta eleitoral.”

Por isso, não foi de estranhar queO Estado, cinco anos adiante, em1950, tenha se posicionado frontal-mente contra o retorno de Getúlio,desta vez como presidente constitu-cional e democraticamente eleito,consagrado por uma votação até en-tão recorde na história do País.

Ironicamente, uma vitória eleito-ral cujo caixa de campanha foi finan-ciado, em larga escala, por represen-tantes da emergente burguesia in-dustrial paulista – nova elite empre-sarial surgida no bojo das mudançaseconômicas, políticas e sociais datão controvertida Era Vargas.

É JORNALISTA E AUTOR DA BIOGRAFIA

‘GETÚLIO’, PUBLICADA EM TRÊS VOLUMES

PELA COMPANHIA DAS LETRAS.

Apreensão. Policiais bloqueiam entrada da sede na Rua Boa Vista e funcionários aguardam do lado de fora

Homens de Filinto Müllerinvadiram o jornal em 1940 eforjaram apreensão dearmas no forro do prédio

Em 26 de agosto, é fundado o Palestra Itália, atual Sociedade Esportiva Palmeiras.

Inaugurado o Viaduto Santa Ifigênia.

Até então desconhecido, Monteiro Lobato manda o artigo Uma Velha Praga à seção Queixas e Reclamações do Estado. Com críticas às queimadas, ele é publicado no corpo do jornal e tem grande repercussão. Em 1915, Lobato começa a trabalhar na redação.

Edu Chaves é o primeiro a conseguir voar de São Paulo ao Rio sem escalas.

Em 26 de dezembro, o Congresso aprova novo Código Civil.

Em 28 de junho, o herdeiro do trono austro-húngaro, Francisco Ferdinando, e sua esposa são assassinados em Sarajevo.

Após o Império Austro-Húngaro declarar guerra à Sérvia e começar a 1ª Guerra Mundial, Julio Mesquita passa a escrever artigos semanais sobre o conflito. E toma posição a favor dos aliados. Em represália, indústrias alemãs cortam anúncios. O boicote faz o jornal enfrentar dificuldades. Mesmo assim, o Estado mantém sua posição.

Em outubro, começa a Guerra do Contestado. O conflito na região entre Paraná e Santa Catarina duraria cinco anos e mataria 20 mil pessoas.

Em 14 de abril, o maior e mais luxuoso navio do mundo naufraga após bater num iceberg. Morrem 1.523 pessoas. Estado traz declaração de sobreviventes.

Estado compra terrenos nas Ruas Boa Vista e 25 de Março, onde seria erguida a primeira sede própria do jornal. Rotativas Marinoni são encomendadas na Europa. Os modernos linotipos permitiam uma tiragem de 35 mil exemplares.

É criada a Faculdade de Medicina de São Paulo.

Julio Mesquita embarca para a Europa para tratamento de saúde. Mesmo assim, é escolhido para substituir Cerqueira César no Senado

1912 1913 1914

ESTADO NOVO

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Page 17: Estadão 140 anos - A história do jornal

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Estado lança a Edição da Noite. Conhecida como Estadinho, circulou até 1921.

O jornal apoia a Campanha Nacionalista liderada por Olavo Bilac, que propunha o serviço militar obrigatório.

Derrotada, Alemanha assina armistício com os países da Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia) em 11 de novembro, pondo fim à 1ª Guerra Mundial.

Formado em Botânica na Europa, o jornalista Manequinho Lopes começa a trabalhar no Estado. As matérias se transformariam na coluna Assumptos Agrícolas.

Zequinha de Abreu compõe Tico-tico no Fubá.

Na Rússia, o czar Nicolau II é derrubado em março e o governo provisório de Aleksandr Kerenski é deposto em novembro. Liderada por Lenin e Trotski (foto), tem início a Revolução Socialista.

Bahiano grava o primeiro samba: Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida.

A gripe espanhola faz milhares de vítimas em São Paulo, incluindo dois redatores do Estado. Em nota de primeira página, jornal aconselha a população, na edição de 2 de novembro, a procurar hospitais e postos de saúde.

Aeroporto mais antigo de SP, o Campo de Marte começa a ser usado pela Escola de Pilotos da Força Pública. Antes, o local servia como picadeiro da cavalaria militar.

30 mil pessoas assistem no Rio à vitória da seleção brasileira sobre os uruguaios, que a sagrou campeã sul-americana pela primeira vez.

Alemães afundam os navios brasileiros Paraná e Macau. Brasil declara guerra ao Império Alemão.

Em 1917, Monteiro Lobato publica no Estado artigo criticando a exposição da pintora Anita Malfatti. Reação dos artistas resultaria, cinco anos depois, na Semana de Arte Moderna de 22.

Greve para a cidade de São Paulo e Julio de Mesquita Filho é convidado a mediar reivindicações dos operários com patrões. Entre elas, jornada de oito horas, proibição de trabalho noturno para mulheres e crianças e melhores salários.

Monteiro Lobato publica Urupês e imortaliza a figura do Jeca-Tatu.

Estado apoia novamente a candidatura à Presidência da República de Rui Barbosa, que seria derrotado por Epitácio Pessoa.

1915 1917 1918 1919 1920

Prestígio earte marcamdécada de 50

José Alfredo Vidigal Pontes ✽

Empossado o go-verno provisó-rio logo após asaída de Getú-lio Vargas em1945, coube aoministroda Jus-tiça, o jurista

Sampaio Dória, cuidar da devolu-ção do jornal a Julio de MesquitaFilho e Francisco Mesquita. Empoucos anos, O Estado de S. Paulorecuperava seu largo prestígio mo-ral e comercial. Essa vitalidade re-sultaria na construção de nova sedena Rua Major Quedinho, no centroda cidade, inaugurada no início dosanos 1950, os mais fervilhantes davida do jornal.

Em plena Guerra Fria, a primeirapágina só estampava noticiário in-ternacional. Grandes jornalistas,como Giannino Carta e ClaudioAbramo, davam ao jornal um pa-drão só alcançado por alguns diá-rios americanos e europeus. Sua al-ta credibilidade trouxe grande au-mento de tiragem, propaganda eanúncios classificados.

Em 1951, o Estado instituiu o Prê-mio Saci para destaques do teatro edo cinema. Ganhadores recebiam omais prestigiado troféu do meio ar-tístico brasileiro nos anos 1950 e1960: uma estatueta de bronze deum saci estilizado pelo escultor Vic-tor Brecheret.

Entre smokings e vestidos de ga-la, Cacilda Becker, Tônia Carrero,Maria Della Costa, Eva Wilma, Mari-sa Prado, Walmor Chagas, AlbertoRuschell e Anselmo Duarte foramalguns dos artistas que brilharamnas concorridíssimas e glamouro-sas noites de entrega do prêmio noCine Marrocos.

No final dos anos 1940 e decorrerdos anos 1950, havia uma participa-ção efetiva da elite econômica naprodução cultural. O mecenato flo-rescia na plutocracia paulista. Em

1947, Assis Chateaubriand fundou oMuseu de Arte de São Paulo (Masp),instituição que contava com genero-sas contribuições do empresariado.

Apaixonado por teatro e amigo deinfância de Ciccillo Matarazzo, funda-dor do Museu de Arte Moderna(MAM), Franco Zampari inaugurouem 11 de outubro de 1948 o Teatro Bra-sileiro de Comédia, o legendário TBC,como ficaria conhecido. Excelente pro-motor de cultura e entretenimento,ele contribuiu decisivamente ao apri-moramento técnico da arte não só pe-las produções em si, como pelos profis-sionais de alto nível que trouxe da Eu-ropa. Mas acabou arruinado financeira-mente depois de se envolver com a Ve-ra Cruz, produtora cinematográficaque marcaria época na história do cine-ma brasileiro. Seu grande erro foi finan-ciar as instalações caríssimas com em-préstimos bancários, os quais nuncaconseguiu pagar.

Também em 1948, era inaugurada aEscola de Arte Dramática, instituiçãoque formou uma nova e talentosa gera-ção que se envolveria com o TBC. AEAD, como ficaria conhecida, foi fun-dada por Alfredo Mesquita, um dos fi-lhos do jornalista Julio Mesquita, quetrilhou carreira no teatro, tendo sidoator, diretor, dramaturgo e educador.Hoje integrada à Universidade de SãoPaulo, continua formando grandesprofissionais.

Boemia. Nos áureos tempos do TBCe da Vera Cruz, no início e em meadosdos anos 1950, o centro da capital pau-lista fervilhava. O bar do Hotel Jara-guá, instalado no mesmo prédio ondefuncionava o Estado, na Rua MajorQuedinho, era ponto de encontro deartistas e intelectuais. Outros locais fa-mosos eram o Nick Bar e o Paribar.Neles, reuniam-se não só nomes doTBC e da Vera Cruz como intelectuaisda USP, os primeiros profissionais dasiniciantes TVs Tupi e Record e os jorna-listas do Estado.

Em 1956, o jornal lançava o Suplemen-to Literário, que seria a mais importan-te publicação cultural brasileira porduas décadas. A partir de um projetoeditorial de Antonio Candido, foi mon-tada uma redação dirigida por Déciode Almeida Prado. O projeto gráficocoube a Ítalo Bianchi. Praticamente to-dos os grandes intelectuais brasileiros

da época colaboravam para o cader-no e as ilustrações eram feitas porgrandes artistas.

Além da evidente preocupação li-terária, o Suplemento dava muito es-paço às artes visuais. Não estampa-va fotos, apenas ilustrações – assina-das tanto pelos já consagrados DiCavalcanti, Portinari, Lívio Abra-mo, Clovis Graciano e Flávio de Car-valho como pelos então iniciantesRenina Katz, Maria Bonomi, Marce-lo Grassmann, Fernando Lemos,Antonio Lizarraga e Aldemir Mar-tins. Além de muitos outros: entre1956 e 1967, foram encomendadas966 ilustrações, um rico acervocujos originais estão preservadosno MAM de São Paulo.

Brasília. No plano político, o jor-nal esteve na oposição durante osgovernos de Eurico Gaspar Dutra,iniciado em 1946, e de Getúlio Var-gas, em 1951, embora tenha apoiadoem 1953 a criação por este da Petro-brás. Também continuou na oposi-ção no governo de Juscelino Kubits-chek. Isso não o impediu de apoiarprojetos importantes para o cresci-mento do Brasil, como o plano dedesenvolvimento da indústria auto-mobilística, sempre alertando, noentanto, para o crescente abandonodas ferrovias.

A construção de Brasília mereceugrande espaço no noticiário. Na edi-ção de 21 de abril de 1960, data deinauguração da capital federal, alémdas reportagens, centenas de anún-cios saudavam a cidade planejadapor Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

Mas o material encabeçado por“Iniciadas as solenidades em Brasí-lia”, a manchete do segundo clichê,não abandonou o tom crítico em re-lação ao que batizou de “a mais para-doxal das capitais do mundo”. Umdos trechos do primeiro parágrafodizia: “Noventa por cento da vidaadministrativa do País continuaráse desenrolando no Rio. Noventapor cento da vida política, no Rio,em Belo Horizonte e em São Paulo.Da vida econômica, da vida social,noventa por cento no Rio e em SãoPaulo. Em Brasília, ficarão o pó, asbarracas de campanha, as tábuascom prego, as instalações provisó-rias e precárias, e esse triste e confu-so aspecto de obra em construção,que tem esta imensa área de 5.400quilômetros quadrados”.

No dia seguinte, o jornal destacoua grande repercussão que a inaugu-ração de Brasília havia tido na Euro-pa, além das mensagens de congra-tulações recebidas de todo o mun-do. Na capa, duas fotos: no alto, umado papa João XXIII lendo uma men-sagem aos brasileiros e, abaixo, ou-tra dos dragões da Independênciaperfilados na nova capital.

HISTORIADOR E AUTOR DE ‘A POLÍTICA

DO CAFÉ COM LEITE: MITO OU HISTÓRIA?’

Dois símbolos do período sãoa sede na Rua Major Quedinhoe as notícias internacionaisdominando a primeira página

ACERVO/ESTADÃO

ANOS DOURADOS

De SP à nova capital federal. No alto, sede do jornal na Rua MajorQuedinho, centro paulistano; acima, imagem da construção de Brasília

%HermesFileInfo:H-18:20150118:H18 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

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Estadão, parabéns por esses140 anos de informação.

Um dos mais importantesveículos de mídia para a CVC

e para o desenvolvimentodo turismo no Brasil.

Homenagem CVC a um dosmais respeitados e admirados

veículos de mídia.

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%HermesFileInfo:H-20:20150118:H20 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 21: Estadão 140 anos - A história do jornal

Pilotado por João Ribeiro de Barros e ocupado por mais três tripulantes, o hidroavião Jahú faz a primeira travessia sem escalas do Atlântico Sul.

Fundado o Instituto Biológico de São Paulo.

Revoltosos chefiados por Isidoro Dias Lopes ocupam São Paulo. A cidade é bombardeada e o jornal sofre por sua neutralidade: pela primeira vez, é impedido de circular por 12 dias. Julio Mesquita é preso e libertado pouco depois.

Realizada em 31 de dezembro a primeira Corrida de São Silvestre. Idealizada por Cásper Líbero, tem 60 corredores e é vencida por Alfredo Gomes. Inicialmente restrita a homens brasileiros, se tornaria a mais tradicional de SP.

O Estado apoia a fundação do Partido Democrático, de oposição ao PRP, então detentor dos governos estadual e federal.

O arquiteto russo Gregori Warchavchik constrói em SP a primeira casa modernista do Brasil.

Obras de Candido Portinari são destaque nas artes plásticas.

Com a morte de Julio Mesquita, em 15 de março de 1927, Julio de Mesquita Filho, Francisco Mesquita e Nestor Pestana assumem a direção do Estado.

No dia 12 de julho, o jornal deixa de circular às segundas-feiras – lei municipal proibia trabalho aos domingos.

No Egito, é aberto em fevereiro o túmulo do faraó Tutancâmon, descoberto no ano anterior pelo arqueólogo inglês Howard Carter.

Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, realiza-se em São Paulo a Semana de Arte Moderna.

Em 7 de setembro de 1922, o Estado comemora o centenário da Independência com edição de 64 páginas, um recorde na época. Na capa, imagens de d. Pedro I e do patriarca José Bonifácio.

Militares se rebelam no Rio e em Mato Grosso. Vinte e oito revoltosos saem do Forte de Copacabana em marcha pela Avenida Atlântica. Dez abandonam o grupo durante tiroteio. Dos 18 que continuaram, só sobreviveram Siqueira Campos e Eduardo Gomes.

Além de Euclides da Cunha e Monteiro Lobato, o Estado teve outros colaboradores ilustres, como Olavo Bilac, Guilherme de Almeida, Rui Barbosa, Plínio Barreto e Nestor Pestana.

Governo monta na Praia Vermelha, no Rio, estação de rádio que transmite precariamente programas literários, musicais e informativos. A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, criada por Roquette Pinto e Henrique Morize, influencia a fundação de rádios amadoras em várias partes do País.

É inaugurada em São Paulo a Biblioteca Mário de Andrade.

1922 1923 1924 1925 1926 1927

%HermesFileInfo:H-21:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H21

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Na ditadura militar, versos de Camõesocupam espaço de textos censurados

‘Estado’ apoia golpe de1964, mas rompe com oregime meses depois

José Maria Mayrink ✽

Acensura noEstadocome-çou na manhãde 13 de de-zembro de1968, 15 horasantes de o AtoInstitucional

n.º 5 (AI-5) ser anunciado na televi-são. Agentes do regime militar cerca-ram a sede do jornal, na Rua MajorQuedinho, para impedir a divulga-ção do editorial Instituições em Fran-galhos. Escrito por Julio de Mesqui-ta Filho, ele criticava violentamentea atitude do presidente Arthur daCosta e Silva diante da resistênciados parlamentares, que negaram li-cença para o governo processar o de-putado Márcio Moreira Alves, quehavia feito discursos contra as For-ças Armadas.

Apesar do cerco policial, milharesde cópias do Estado chegaram àsruas. “Improvisamos uma canaletae escoamos mais de 60 mil exempla-res em caminhões-caçamba, quesaíam de trás de um tapume, en-quanto policiais barravam os cami-nhões-baú”, lembra o arquiteto Ha-gop Boyadjian, responsável porobras no prédio. Repórteres e edito-res do Jornal da Tarde, também proi-bido de circular, recorreram a esque-ma semelhante.

Revoltado com a apreensão, Juliode Mesquita Filho mandou avisar aogovernador Roberto de Abreu Sodréque, em nenhuma hipótese, faria au-tocensura. Se o governo quisesse,que pusesse censores no jornal.

Na noite de 13 de dezembro, jorna-listas atônitos assistiram ao anún-cio do AI-5. Nessa hora, os censoresse instalaram na redação e nela per-maneceram até 6 de janeiro de 1969.Depois, voltaram em agosto de 1972.Nesse intervalo, a censura préviaera feita por telefonemas, bilhetes elistas de assuntos proibidos. A or-dem de Julio de Mesquita Neto noEstado e de Ruy Mesquita no Jornalda Tarde era trabalhar como se nãohouvesse restrições. “Façam as re-portagens e escrevam, os censoresque cortem”, era a orientação.

“Acho que o Estado foi o únicojornal diário que sofreu censuraprévia”, disse o jornalista Fernan-do Pedreira. “Os outros não, poisconcordavam em não publicar oque militares diziam que não se de-via publicar.”

Em agosto de 1972, correu boatode que o Estado publicaria manifes-to militar lançando a candidatura

do general Ernesto Geisel para a suces-são do general Emílio Garrastazu Mé-dici. Era só um boato, mas o governomandou agentes ao jornal.

O Estado e o Jornal da Tarde enfren-taram dificuldade para cobrir episó-dios como a morte de Carlos Marighel-la, a guerrilha e morte de Carlos Lamar-ca e os sequestros de diplomatas. Comacesso apenas às versões oficiais, re-pórteres tinham de se arriscar ao recor-rer a outras fontes. Apuravam, mas acensura cortava. No sequestro do côn-sul japonês Nobuo Okushi, em marçode1970, sequestradores deixavam car-tas com exigências e avisavam o Esta-do sobre onde encontrá-las. O jornalentregava cópias a outros jornais eagências internacionais, mas não po-dia publicá-las.

Repórteres e editores receberamcensores com indisfarçável hostilida-de. “Strangers in the night”, cantavaGellulfo Gonçalves, o Gegê, chefe dadiagramação, toda vez que eles entra-vam. Censores só tinham contato dire-to com o secretário gráfico, que, no fimdo expediente, escrevia um pequenorelatório sobre o conteúdo vetado. Ju-lio de Mesquita Neto mandou arquivartodos os relatórios.

Ele e Ruy Mesquita foram intimadosvárias vezes para depor na polícia ouem quartéis. Foi antológico o diálogode Julio de Mesquita Neto com um ma-jor, em inquérito sobre notícia de tor-tura sofrida por um médico.

– O senhor ocupa que cargo? – per-guntou o oficial.

– Eu sou diretor do jornal.– Diretor responsável, não é?– Não, responsável pelo meu jornal é

o professor Alfredo Buzaid, ministroda Justiça. Porque responsável pelojornal decide o que sai e o que não sai.Depois da censura, quem decide o quesai ou deixa de sair no Estado é o pro-fessor Alfredo Buzaid. Portanto, ele é odiretor responsável pelo jornal.

A renúncia do ministro da Agricultu-ra, Cirne Lima, em 1973, por discordarda política do ministro da Fazenda,Delfim Netto, marcou o início de umaresistência ousada e criativa. Na edi-ção de 10 de maio, o Estado publicouum anúncio da Rádio Eldorado – Agoraé samba – no alto da primeira página,no espaço que seria ocupado pela fotode Cirne Lima. No texto, cartas de lei-tores falando de rosas e impostos.Nem todos os leitores entenderam.Muitos cumprimentaram o Estado pe-lo apoio à literatura e ao cultivo de flo-res. Um grupo de senhoras procurou oprefeito Figueiredo Ferraz para suge-rir que apoiasse a suposta campanhado jornal para florir a cidade.

O Estado publicou poemas deGonçalves Dias, Castro Alves, Ma-nuel Bandeira, Cecília Meireles e,principalmente, Luís de Camões nolugar de reportagens vetadas. Segun-do a professora da USP Maria Apare-cida de Aquino, foram cortados 1.136textos de 29 de março de 1973 a 3 de

janeiro de 1975. “Versos de Os Lusía-das foram publicados 655 vezes des-de 2 de agosto de 1973”, informa ocurador do acervo do Estado, JoséAlfredo Vidigal Pontes.

No Jornal da Tarde, Ruy Mesquitamandou publicar pedaços de receitasde bolos e doces. Leitores telefona-vam para reclamar, pois elas não da-vam certo.

A repressão atingiu jornalistas. Re-pórteres e editores do Estado e do Jor-

nal da Tarde foram perseguidos, pre-sos e torturados. Antônio Carlos Fon,mais tarde presidente do Sindicatodos Jornalistas em São Paulo, foi tortu-rado no Departamento de Ordem Polí-tica e Social (Dops) por causa da divul-gação de denúncias sobre crimes doEsquadrão da Morte. No Recife, o en-tão chefe da sucursal, Carlos Garcia,foi torturado em um quartel do Exérci-to. Militares achavam que ele coorde-nava uma célula comunista.

Quando o jornalista VladimirHerzog, que havia trabalhado nojornal, foi assassinado no DOI-Co-di, o correspondente Luiz PauloCosta, de São José dos Campos,também foi detido e torturado. Oeditorialista Marco Antônio Ro-cha se apresentou na Rua Tutoia,onde Herzog foi morto, porqueRuy Mesquita exigiu do ministroda Justiça a garantia de que nadalhe aconteceria.

Testemunhos desses e de outrosfuncionários ressaltam a condutadigna e corajosa dos Mesquita na de-fesa de seus colaboradores. Se diver-giam de suas posições políticas, nãohesitavam em lhes dar proteção. Ju-lio de Mesquita Neto fez ecoar emfóruns do exterior, como as reu-niões da Sociedade Interamericanade Imprensa (SIP), denúncias e pro-testos contra a repressão.

A censura terminou em 3 de ja-neiro de 1975, véspera da comemo-ração do centenário do Estado. Oredator-chefe, Oliveiros Ferreira, re-cebeu um telefonema da Polícia Fe-deral informando que agentes nãoiriam mais à redação. Era uma defe-rência do general Ernesto Geisel,que, ao assumir a Presidência, haviaprometido acabar com a censura.

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’ E AUTOR DE

‘MORDAÇA NO ESTADÃO’

DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO

Ojornal O Estado de S.Paulo apoiou o golpede 1964 para derrubar opresidente João Gou-

lart, mas rompeu definitivamentecom o regime militar após a ediçãodo Ato Institucional n.º 2 (AI-2),que cancelou as eleições previstaspara 1965. O entusiasmo de Julio deMesquita Filho com o governo co-meçou a cair com a constatação deque o presidente, general Humber-to de Alencar Castello Branco, cediaespaço à linha dura do Exército, lide-rada pelo general Arthur da Costa eSilva, ministro da Guerra. O jornalpassou a publicar violentos edito-riais contra a ditadura já antes de1968, quando o presidente Costa e

Silva baixou o Ato Institucional núme-ro 5, que fechou o Congresso, cassoumandatos parlamentares, arrochou acensura à imprensa e prendeu dezenasde opositores.

O Estado pagou caro pela derrota deseus ideais. “Foi em primeiro lugar avida de meu pai: com o AI-5, ele deixoude escrever o principal editorial do jor-nal e caiu doente”, afirmou Ruy Mes-quita em 2004. O último foi justamen-te Instituição em Frangalhos, que cau-sou a apreensão do jornal horas antesdo anúncio do AI-5. Julio de MesquitaFilho morreu seis meses depois, em ju-nho de 1969, após a reativação de umaúlcera de duodeno. “O trauma moralpelo que estava acontecendo no País olevou à morte”, concluiu Ruy na mes-ma entrevista.

A agitação social e política dominavao Brasil desde a renúncia de Jânio Qua-dros, em agosto de 1961. Militares ten-taram impedir a posse de seu vice, JoãoGoulart, que só conseguiu assumircom a instauração do parlamentaris-

mo – em 1963, o regime seria extintoapós plebiscito. Sob a influência de sin-dicatos e políticos de esquerda comoLeonel Brizola e Miguel Arraes, Gou-lart prometia fazer reformas de base,entre elas a agrária.

A crise chegou ao auge em 13 de mar-ço de 1964, quando Goulart fez um in-flamado discurso na Central do Brasil,ao lado do Ministério da Guerra, nocentro do Rio, com apoio do líder co-munista Luís Carlos Prestes e de asso-ciações de sargentos e praças das For-ças Armadas. No mesmo dia, assinouum decreto de desapropriação de ter-ras às margens de rodovias, ferrovias ebarragens e outro transferindo cincorefinarias de petróleo à União. No dia19, a Marcha da Família com Deus pelaDemocracia, organizada pela União Cí-vica Feminina e outros grupos, levou500 mil pessoas às ruas de São Paulo,em reação à “ameaça comunista”.

Julio de Mesquita Filho começou aconspirar com outros líderes civis eum grupo de militares, com patentesde coronel para baixo, antes de os gene-rais, legalistas ou indecisos, se decidi-rem pelo golpe – ou contragolpe pre-ventivo ao golpe que, acreditavam, ogoverno preparava para implantaruma república sindicalista com apoiode comunistas. Oficiais coordenadospelo major Rubens Resstel, do 2.º Exér-cito, atualmente Comando Sudeste doExército, reuniam-se com intelectuais

e empresários para armar a reação.“Em defesa da democracia, eu sou umconspirador”, declarou Julio de Mes-quita Filho, em dezembro de 1963.

O jornalista participava dos en-contros clandestinos, muitas ve-zes em sua casa em São Pauloou sua fazenda em Louveira,quando as Forças Armadas ain-da não pareciam dispostas a in-tervir. Um de seus aliadosera o governador do entãoEstado da Guanabara,Carlos Lacerda, que de-fendia a queda de Gou-lart, mas se opunha aogolpe. Lacerda argu-mentava que, se fos-sem às armas, os mili-tares não deixariamtão cedo o poder, aca-bando com seu proje-to de se candidatar a pre-sidente da República.

Julio de Mesquita Filho admi-tia esse risco, mas preferia acredi-tar que os generais sairiam logode cena, com a convocação de elei-ções para escolha de um civil, apósexecução de um programa de “lim-peza do cenário político”, como re-velou Ruy Mesquita em 2004. “Emnosso caso, não se pretendia fazeruma revolução radical – nem era re-volução na verdadeira acepção dotermo. Era apenas um golpe para de-

ter o golpe que se preparava.”Ele e os irmãos, Julio de Mesquita

Neto e Luiz Carlos Mesquita, comogarantiu o pai a Carlos Lacerda, esta-vam prontos a dar a vida pelo País.

Amigo da família, Lacerdaconversou muito com Julio

de Mesquita Filho. “Umanoite, ele apareceu em Lou-

veira. Meu pai disse a ele queachava que o golpe era

inevitável e deveria viro mais breve possível aintervenção militarpara deter o golpe deJango”, contou Ruy.

Oposição. “Julio deMesquita Filho viucom grande arrepen-dimento a modifica-ção do movimento doqual participou em

1964”, escreveu Ro-berto Salone no li-vro Irredutivelmen-

te Liberal (AlbatrozEditora). “Com essadecepção, começa a

mais desabrida oposiçãodo Estado à ditadura.” /JOSÉ

MARIA MAYRINK

Alto preço. Julio deMesquita Filho: decepçãocom linha dura

‘Agora é samba’. Anúncio da ‘Rádio Eldorado’ publicado em 1973 nolugar da foto de Cirne Lima, ministro da Agricultura que havia renunciado

Mordaça na redação do‘Estado’ começou na noitede anúncio do AI-5, em 1968,e perdurou por sete anos

Jornal passou à oposiçãoquando militares cancelarameleição de 1965 e passaram aceder espaço para a linha dura

Censor.Nilo Ferreira analisareportagens: 1.136textos cortados emmenos de 2 anos

ANOS DE CHUMBO

%HermesFileInfo:H-22:20150118:H22 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 23: Estadão 140 anos - A história do jornal

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Realizamos nosso grande desafio de construir 1750 m de Quebra-Mar Verticalcom Caixões de Concreto armado, no prazo de 1 ano

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%HermesFileInfo:H-23:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H23

Page 24: Estadão 140 anos - A história do jornal

1930

Mário de Andrade lança Macunaíma e Oswald de Andrade, o Manifesto Antropofágico. Tarsila do Amaral termina esboço de O Abaporu.

Na capa da edição do Estado de 25 de janeiro, uma mensagem de Henry Ford anuncia o lançamento do carro Ford, modelo T, no Brasil. Sucesso de vendas há 19 anos, o empresário americano dizia que o Ford T era o carro para as “exigências modernas”.

Na tarde de 22 de maio de 1930, multidão no Recife acompanha de olhos arregalados a passagem do dirigível Graf Zeppelin, em sua primeira viagem à América Latina. Depois, seguiria para o Rio. Em 1933, sobrevoou São Paulo.

Crack na Bolsa de Nova York causa recessão mundial e derruba a cotação do café.

Inaugurado na Avenida São João, no centro de São Paulo, o Edifício Martinelli, então o “maior arranha-céu da América do Sul”.

É fundado o São Paulo Futebol Clube.

Estado atinge tiragem de 100 mil exemplares e lança aos domingos o Suplemento em Rotogravura, que dava amplo espaço às imagens.

Carlos Drummond de Andrade lança Alguma Poesia, em edição de 500 exemplares.

Filmes falados começam a dominar o mercado brasileiro.

Em julho, Noel Rosa compõe Com que Roupa?, que vira um grande sucesso.

Em março, redação e administração são transferidas para a Rua Boa Vista, 32, esquina com a Ladeira Porto Geral. Oficinas passam a operar com novas rotativas na Rua Barão de Duprat.

Estado apoia a Aliança Liberal e a candidatura de Getúlio Vargas à Presidência, em oposição a Júlio Prestes.

Em agosto, gaúcha Yolanda Pereira é eleita Miss Universo.

1928 1929

O SEGUNDO PODERDA REPÚBLICA

DEPOIMENTO: Oliveiros S. FerreiraACERVO/ESTADÃO

Em fins de 1945, não havia ohábito de comprar jornal nabanca. Quem queria estarbem informado assinavaum e o recebia em casa todamanhã com o pãozinho e oleite. Três jornais disputa-vam a preferência da cama-

da ilustrada da população paulista: O Estadode S. Paulo, ou Estadão, assim chamado pelovolume de anúncios e tamanho da página; aFolha de S. Paulo e o Diário de S. Paulo, matuti-no, e seu vespertino, o Diário da Noite.

Nenhum era ponto de referência na cidade eo Estado era o mais distante do centro. Até ofim do Estado Novo, tinha dois endereços: umpara redação e composição (linotipos), outropara impressão (rotativas). Modestos, ambos.

A influência política do Estado era peque-na: afinal, o então interventor federal ocuparamilitarmente o prédio e depois forjara a trans-ferência do jornal a amigos do poder. Era umjornal do governador. Em outubro de 1945,quando Getúlio Vargas foi deposto, tudo mu-dou. Livre para decidir, o Supremo TribunalFederal restabeleceu o direito dos antigos elegítimos donos da sociedade anônima queeditava o Estado. Da noite para o dia, o jornaldo governador passou a ser o da oposição aVargas e aos que o seguiram até 1964. Era “umpartido”. Compreendamos: não o jornal deum partido, mas “um partido” ele próprio, em-penhado na ilustração e educação de seus leito-res. O que o movia era um objetivo nacional,especialmente a educação. Como Getúlio Var-gas era inimigo, o jornal foi apontado comosendo da UDN. E perdeu-se de vista, no estudode sua “ideologia”, que o projeto de construir anação já havia sido aventado desde o Império.

O prédio da Major Quedinho, 28, para ondese mudaram administração, redação e oficinasem 1953, erguia-se como afirmação de vonta-de: saibam que aqui não é o jornal do governa-dor, mas sim o de quem pretende com ele cons-truir uma nação! Por sua majestade e localiza-ção, dava a todos uma ideia de segurança queera reforçada pelo fato de que a carteirinha doEstadão era como um salvo-conduto quandoo policial pedia credenciais... Até a apreensãoda edição de 13 de dezembro de 1968.

Em 1955, a redação fora visitada por um cen-sor no estado de sítio decretado pelo Congres-so na sequência dos golpes desferidos pelo ge-neral Henrique Lott, ministro da Guerra, a pre-texto de garantir a posse do presidente eleito,Juscelino Kubitschek. A passagem do censorfoi tão rápida e sem efeito que será melhorsempre tê-la como “visita”. Em 1968, nenhumcensor visitou o jornal: a edição de 13 de dezem-bro foi simplesmente apreendida.

A apreensão levou à censura. O Estadão rea-

giu publicando poesias e depois Os Lusíadas nolugar da matéria censurada e houve quem louvas-se o empenho do jornal em difundir cultura. OJornal da Tarde decidiu publicar receitas culiná-rias. Muitos leitores protestavam quando a recei-ta não cabia inteira no espaço. Se o Estado difun-dia a cultura, o JT sacrificava a gastronomia... Aomenos duas edições de Os Lusíadas foram publica-das em pequenos trechos, respeitada a sequênciaoriginal. Afinal, quem selecionava os versos sabialer e escrever e orgulhava-se de difundir cultura eenganar o censor...

A crise de 1968 foi longa e grave. O bastantepara que não se estranhasse que a Polícia Federalquisesse saber como seria o jornal do dia seguin-te. O general Sílvio Correa de Andrade, chefe daPolícia Federal em São Paulo, telefonou por voltade meia-noite de 12 de dezembro para conhecer amanchete de primeira página. Ela falava da ten-são política e da prontidão do Exército. Informa-do, despediu-se sem mais. O jornal fechou nor-malmente. Às primeiras horas do dia 13 (o AI-5 sóseria baixado à noite), soubemos da apreensãodeterminada pessoalmente pelo general Sílvio.Estava aberto um longo período de censura.

Os censores, gente que fazia a censura de diver-sões públicas (teatro de revista, inclusive), insta-laram-se na redação na noite de 13 de dezembro.Eram quatro ou cinco, substituídos dias depoispor um só, da PF, que ficou alguns dias e se foi nãosem antes esclarecer que a censura seria feita portelefone (“isso pode”, “isso não pode”) e o secre-tário da redação seria chamado a prestar conta naPF se a ordem não fosse obedecida.

Às vezes, sem aviso prévio, os censores vinhamà redação querendo ver esta ou aquela matéria. Acensura nas oficinas culminou num processoque, segundo o chefe da PF, o secretário de reda-ção foi o elemento principal. Publicamos peque-na notícia sobre a possível candidatura do gene-ral Ernesto Geisel à Presidência. O chefe da PFconvocou a seu gabinete o secretário de redaçãoe transmitiu-lhe um “apelo”: não mais publicarnotícias sobre sucessão. Conhecido o apelo, osecretário disse ao chefe da PF que o transmitiriaa dr. Julio de Mesquita Neto. A versão que o minis-tro da Justiça transmitiu, justificando a presençade censores na tipografia, difere desta.

Versão Alfredo Buzaid: Conhecido o apelo,prof. Oliveiros respondeu dizendo que a apelosnão atendia e ordens não cumpria. O envio docensor, diante dessa resposta, fez-se imperativo.

Aqueles quatro ou cinco agentes vieram todasas noites até a de 3 de janeiro de 1975. Nessa, ochefe da censura telefonou para dizer que nãoviriam. Assim terminou a censura ao Estadão.

Apreensão. Dois episódios merecem ser narra-dos. A cena do primeiro mereceria ser filmada.Estamos em 1969, no salão nobre no 5.º andar doprédio da Major Quedinho, raramente usado.Convencionou-se que a ele têm acesso poucosvisitantes, um reconhecimento de que se trata deassunto relevante. Nessa cena, há duas poltronasocupadas: uma por dr. Julio; a outra pelo chefe daPolícia Federal em São Paulo, à paisana, o generalSílvio que, meses antes, determinara a apreensãoda edição de 13 de dezembro de 1968 e naquele

momento respondia pela censura ao jornal. Vie-ra comunicar que a apreensão fora decisão exclu-sivamente sua, após ler, praticamente na rotati-va, o editorial Instituições em frangalhos. Dr. Juliopõe-se de pé, sinal evidente de que a entrevistaterminara. Formalmente, como era seu estilonessas circunstâncias, diz: “Agradeço sua visita eo que me comunicou. Veja, porém, que o ato(apreensão) era tão grave que só poderia ser prati-cado com autorização superior”.

O general não viera fazer esclarecimentos porinspiração do anjo da guarda. Fora-lhe recomen-dado que assim procedesse, já que sua decisãoestava sendo interpretada como de responsabili-dade do Comando Militar da área e do governofederal, especificamente do presidente Costa eSilva. O oficial de informações que insistira como general Sílvio para que falasse com dr. Juliopretendia restabelecer as relações do jornal coma Presidência. Não lhe poderia ter ocorrido que ogeneral-chefe da Polícia Federal de um governorevolucionário se defrontaria com alguém que seconsiderava, por múltiplas razões, mas sobretu-do mérito próprio, mais importante que o chefeda polícia de um governo que ajudara a compor.

As palavras de dr. Julio ao general indicam cla-ramente que a apreensão da edição de 13 de de-zembro foi recebida como ato de lesa-majestade.É essa impressão que a cena no salão nobre trans-mite: estão dois poderes ali representados e aogeneral à paisana só restou apertar a mão emdespedida, reconhecendo implicitamente quedr. Julio tinha razão ao dizer que só alguém muitobem situado na escala de poder ousaria ofenderO Estado de S. Paulo.

O bom relato obriga que se conte que nãohouve apenas uma apreensão. A cena, porém,não tem a grandeza da primeira: presente nãomais um general, mas um coronel. Um generalestá no outro lado da linha telefônica. É o co-mandante da 2.ª Região Militar e pouco depoisserá ministro. O coronel é chefe de seu Estado-

Maior. Acompanha-o o censor. O coronelquer ler o editorial, outra vez denominadoInstituições em frangalhos. Que alguém comu-nicara ao censor que ofendia o presidente Gei-sel. Lê-o em prova de página e comunica aocomandante que não deve ser impresso. Ogeneral dá a ordem: “Apreenda!”, que me écomunicada, iniciando um diálogo de surdos:“O jornal não pode rodar”. “Tenho ordem derodar.” “Tenho ordem para que não rode.”“Então, o senhor fale com o dr. Julio Neto,que só estará em casa daqui a meia hora” (con-forme antes bem combinado entre Julio emim). “Espero.” Ele espera, transmite a deter-minação do comandante e me entrega o tele-fone. Julio autoriza que a máquina rode exem-plares com o editorial condenado para confi-gurar o ato de força da apreensão e determinaque, em seguida, o jornal rode toda a ediçãocom outro editorial. Há confusão na transmis-são de instruções; rodam-se cerca de 25 milexemplares com o editorial censurado, mui-tos dos quais são apreendidos. Alguns exem-plares saíram normalmente e chegaram a Ri-beirão Preto e ao Comando do 3.º Exército.

O episódio serviu para provar que havia ele-mentos do governo infiltrados no jornal, comquase certeza na tipografia. O censor soubeque havia um editorial, como soubera mesesantes que havia um outro, sobre política do ca-fé, substituído sem alarde. A censura, daquelavez, foi mais delicada, por telefone: “Boa noite.O senhor tem um editorial sobre a política docafé? Não pode sair.” Dr. Julio estranhou: “Co-mo souberam? Substitua pelo Nota 100”, queera sobre problema urbano, menor. Assim foi.

PROFESSOR DA USP E DA PUC-SP, FOI JORNALISTA DO

‘ESTADO’ ENTRE 1953 E 1999. DE 1967 A 1976, OCUPOU

O CARGO DE SECRETÁRIO DE REDAÇÃO. EM SEGUIDA,

FOI REDATOR-CHEFE E, DEPOIS, DIRETOR

Apreensão. Edição confiscada pela Polícia Federal ainda na rotativa em 1968

Detalhes da rotina do jornaldurante a censura militarvividos por um personagemcentral: o secretário de redação

%HermesFileInfo:H-24:20150118:H24 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 25: Estadão 140 anos - A história do jornal

HÁ 140 ANOS O ESTADÃO

ESCREVE A HISTÓRIA DO NOSSO PAÍS.

E O EXTRA, QUE ESTÁ NO MERCADO HÁ 25 ANOS,

TEM ORGULHO DE TANTOS ANOS

DE PARCERIA.

PARABÉNS,

%HermesFileInfo:H-25:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H25

Page 26: Estadão 140 anos - A história do jornal

%HermesFileInfo:H-26:20150118:H26 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

ALGUNS PRÊMIOS RECENTES

● 2014Esso de JornalismoSangue Político, de Leonêncio Nossa

O jornal mais admiradodo País pela 12ª vezSegundo pesquisa do Meio & Mensageme do Grupo Troiano de Branding

‘Oscar’ do design gráficoPrêmios em sete categorias do 35ºBest of Newspaper Design. O jornal jáhavia obtido o mesmo prêmio em outrasedições, como a de 2006

● 2011‘Excelência em Jornalismo’ daSociedade Interamericana deImprensa (SIP) e ‘Vladimir Herzog’As guerras desconhecidas do Brasil,de Leonêncio Nossa

Malofiej – EspanhaSete medalhas em infografia (ouro,prata e cinco de bronze), concorrendocom 151 veículos de 29 países

● 2010Grande Prêmio Ayrton Senna

Prova do Enem vaza e ministériocancela exame, de Renata Cafardoe Sérgio Pompeu

● 2009Esso de ReportagemDos Atos Secretos aos Secretos Atos deJosé Sarney, série de Rosa Costa, Lean-dro Colon e Rodrigo Rangel

● 2007Esso de JornalismoGolpe nas vítimas da Gol, de ChristianeSamarco

● 2002Esso de Primeira PáginaO maior campeão do mundo, de SandroVaia e Alaor Filho

● 1997Esso de Informação EconômicaO escândalo dos Precatórios, deRibamar Oliveira, João Domingos eKássia Caldeira

● 1995Esso de JornalismoViver nas ruas de S. Paulo, reportagem

de Rebeca Kritsch

● 1993Esso de JornalismoOs arquivos secretos de Moscou,revelações sobre a Intentona de1935, de William Waack

● 1989Esso de ReportagemO Caso BR, série de Ricardo Boechat,Aluizio Maranhão, Suely Caldas eLuiz Guilhermino

● 1984Esso de InformaçãoCientífica e TecnológicaBomba brasileira, projeto para 1990,de Roberto Godoy

● 1981Esso de ReportagemO atentado do Riocentro, coberturade Antero Luiz Martins Cunha

● 1991Esso de ReportagemA Guerra do Golfo, cobertura deWilliam Waack e Hélio Campos Melo

Na democracia, a censura sobreviveROLANDO DE FREITAS/ESTADÃO

Gabriel Manzano ✽

Ofim dos 21anosdedita-dura militare o início daredemocra-tização, emmarço de1985,marca-

ram uma virada na vida do País e daimprensa – e o Estado se destacou,desde o início, entre os que aprovei-taram os novos tempos para infor-mar melhor a sociedade.

Não foi uma virada súbita. A passa-gem do autoritarismo à democraciase fez aos poucos, deixando paratrás os anos de chumbo, a censurasistemática, a Lei de Segurança Na-cional. Sem generais à vista, o País járespirava os ares da “Constituiçãocidadã” – que, por fim, foi promulga-da em 1988. Com ela vieram os direi-tos individuais, como os de expres-sar opinião, ser informado, produ-zir e divulgar informação e cultura.

Mas não faltavam desafios aquem tentasse fazer jornalismo sé-rio e independente. A corrupção e aimpunidade continuavam à vonta-de na nova cena política. Denunciá-las e investigar fraudes e abusos sig-nificava, às vezes, expor-se ao riscode retaliações. E elas vieram, deixan-do um saldo, desde os anos 1980, de29 jornalistas mortos e centenas deoutros agredidos. Além disso, a no-va Constituição abriu brechas à cha-mada “censura judicial”, que permi-tia a qualquer autoridade criticadaalegar o direito a privacidade e as-sim obter sentenças judiciais queimpediam a divulgação de denún-cias e processos.

Combatividade. Esses desafios emnada alteraram a disposição e o espí-rito investigativo do jornal. Das frau-des envolvendo as obras da Ferro-via Norte-Sul, já no início do gover-no José Sarney, em 1986, às mais re-centes revelações da Operação LavaJato, o jornal fez da denúncia dessasirregularidades uma rotina.

Crimes de toda ordem – fraudes,superfaturamentos, propinas, este-lionatos, lavagem de dinheiro, caixa2, acertos entre partidos, nepotismoe assemelhados, muitos dos quaistransformados em importantes fu-ros jornalísticos, não saíram do altodas páginas e foram vigorosamente

dissecados em editoriais. Muitos des-ses escândalos continuam na memóriados leitores: anões do Orçamento, ca-so Sivam, Banestado, Encol, Pasta Ro-sa, Dossiê Cayman, CPIs da Corrup-ção, dos Bingos, Precatórios, Bancoop,Cartões Corporativos, Mensalão, casoFrancenildo, Atos Secretos...

A eles se somam algumas célebresoperações da Polícia Federal – Anacon-da, Navalha, Sanguessugas, Satiagrahae Lava Jato, para mencionar só as maisfamosas. O Estado não foi o único nes-se combate, mas se destacou pelo rigorcom que fez, dessa causa, uma priorida-de inegociável.

Muitas dessas reportagens valeramo reconhecimento de prêmios impor-tantes. Um dos mais prestigiados doPaís, o Prêmio Esso, teve o Estado, ouo Jornal da Tarde, seu coirmão de seme-lhantes cruzadas, na lista de premia-dos em 42 dos seus 59 anos de existên-cia. Desde O Problema da Segurança deVoo, Prêmio Esso regional conquista-do em 1958, ao caderno Sangue Político,Prêmio Esso de Jornalismo de 2014, ojornal colecionou reportagens históri-cas, como o furo mundial da localiza-ção do nazista Klaus Barbie na Bolívia(1972), a revelação das mordomias deBrasília (1976), o desmentido aos gene-rais no caso do Riocentro (1981), basti-dores inéditos da Intentona de 1935(1993) e a denúncia dos Atos Secretosdo Senado (2009), para citar só alguns.

Censura. Essa combatividade teveum preço. O jornal está há 1.937 diassubmetido, por decisão judicial, a umacensura ainda não revogada. Ela foi im-posta em 2009 por um juiz do Tribunalde Justiça de Brasília, velho amigo doex-senador José Sarney. Atendendo aofilho deste, o empresário Fernando Sar-ney, o juiz proibiu o jornal de divulgarqualquer informação sobre a OperaçãoFaktor (antiga Boi Barrica) da PolíciaFederal, que investigava irregularida-des que o envolviam.

O Estado recorreu e o caso aguardadecisão – ele está no momento emmãos da ministra Cármen Lúcia, do Su-premo Tribunal Federal. O empresá-rio chegou a desistir da ação, mas ojornal decidiu esperar por uma senten-ça final, para garantir maior segurançajurídica à imprensa em geral, em casossemelhantes.

Um segundo pedido de censura, queatinge vários órgãos de imprensa, par-tiu em 2001 do então governador doRio Anthony Garotinho. Acusado desubornar um auditor fiscal, ele ajuizouno Rio uma ação que impede a divulga-ção das conversas em questão. O casotambém aguarda decisão no STF.

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’

1931 1932 1933 1934

Getúlio Vargas chama Armando de Sales Oliveira para ser interventor em SP. Genro de Julio Mesquita, ele impõe como condições a anistia aos revoltosos de 32 e convocação de uma assembleia constituinte.

Trazido ao País no século 17, o carnaval é oficializado no Rio. Programação inclui batalhas de confetes, desfiles de ranchos e blocos, banhos de mar à fantasia, corsos e bailes. Um ano antes, a Mangueira vencera o 1º concurso de escolas de samba.

Em 25 de janeiro, Armando de Sales Oliveira assina o decreto 6.283, que cria a Universidade de São Paulo. A ideia havia sido lançada por campanha do jornal em 1927. Julio de Mesquita Filho é incumbido de arregimentar estrangeiros para o corpo docente.

Estado é o primeiro jornal do Brasil a ter sistema de anúncios classificados.

Primeira audição das Bachianas Brasileiras nº 1, de Villa-Lobos.

Cientistas descobrem o planeta Plutão.

No dia 12 de outubro, a estátua do Cristo Redentor é inaugurada no Rio.

O laboratório de ensaios de materiais da Escola Politécnica de São Paulo dá origem ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas para apoiar a industrialização paulista.

Jorge Amado estreia carreira literária com o romance político País do Carnaval.

Papa Pio XI declara Nossa Senhora Aparecida padroeira do Brasil.

Discurso fascista de Adolf Hitler consegue catalisar a insatisfação do povo alemão e vence as eleições. O partido nazista cresce.

Inaugurado o Mercado Central, com vitrais trazidos da Alemanha.

Gilberto Freyre publica com grande repercussão a obra Casa-Grande & Senzala.

Em 9 de julho, estoura em São Paulo a Revolução Constitucionalista, em defesa de eleições livres e de uma nova Constituição.

Fim do regime militar abriucaminho para um jornalismoinvestigativo, mas tentativasde controle continuaram

Mobilização. Praça da Sé tomada por milhares de pessoas durante comício pró-diretas em janeiro de 1984

NOVA REPÚBLICA

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www.adelinoalves.com.br - Rua Joaquim Floriano, 888 - 9º andar - Itaim. F: (11) 3165-2700.

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Adelino Alves e Estadão, 112 anos de parceria.

Parabéns Estadão pelos 140 anos de lutas, sempre fiel aos seus ideais de liberdade e justiça.

A imobiliária, Creci nº 1-J, ao lado do Estadão ajudou

a fazer a história de São Paulo.

Réplica de anúncio publicado no Estadão em 14 de setembro de 1947.

Empresa * anos● Diário de Pernambuco 189● Jornal do Commércio 187● Tecelagem Valença 170● Ypióca 168● Cervejaria Bohemia 161● Azevedo Bento 159● Casa Granado 144● O Mossoroense 142● Cedro Têxtil 142● O Estado de S. Paulo 140

* FONTE: LEVANTAMENTO FEITO PELOPROF. GERALDO GONÇALVES JÚNIOR

Uma das dez empresas mais antigas do País

Milton da Rocha Filho ✽

Ojornal O Es-tado de S.Paulo estáentre as deze m p r e s a sp r i v a d a smais anti-gas do Bra-

sil, segundo levantamento feito peloespecialista em História da Adminis-tração de Empresas Geraldo Gonçal-ves Júnior. Também é um dos quatrojornais mais antigos em circulaçãono País. “Empresas com mais de 140anos no Brasil são difíceis de encon-trar”, resume ele.

De acordo com o professor da Fa-culdade de Economia e Administra-ção da Universidade de São Paulo(USP) Jacques Marcovitch, uma dasexplicaçõesparaissoéaproibiçãoim-posta por décadas pelo reino portu-guês de se criar indústrias. “O Paísperdeu séculos de história autônomana economia. Só na transição do Bra-sil monárquico para a 1.ª República

surgem os pioneiros”, afirma.Entre eles estão o barão de Mauá no

Rio de Janeiro, a família Prado – comênfase em Antônio Prado – em São Pau-lo, a Queiroz em Piracicaba e as Lund-gren, em Pernambuco, e Mascarenhas,em Minas Gerais. Mas, mesmo entreas companhias criadas por esses pio-neiros são poucas as que consegui-ram chegar ao século 21.

Fundada por Herman Lundgren em1861, a Pernambuco Powder Factorydeu origem, décadas depois, às CasasPernambucanas. Em Minas, BernardoMascarenhas e seus irmãos Caetano eAntônio Cândido fundaram em 1872 aCompanhia de Fiação e Tecidos Ce-dro Cachoeira – hoje chamada de Ce-dro Têxtil – em Tabuleiro Grande,atual Paraopeba.

Além dos obstáculos históricos, asvárias oscilações da economia e da po-lítica brasileira ao longo dessas 14 dé-cadas ajudam a explicar as dificulda-des para se manter em atividade.“Nos últimos 140 anos, quando de-frontados às oscilações da economiae outras adversidades, os pioneirosempresários, entre os quais o jornalis-ta Julio Mesquita, delinearam novoshorizontes e tomaram decisões paracontinuar a busca de um destino pro-missor”, explica Marcovitch.

Ousadia e apego ao trabalho mes-claram-se no ideário desses pionei-

ros. “Eles ficaram atentos às mudan-ças do entorno para captar sinaisalém das aparências e reconhecer asarmadilhas e os desvios ilusórios co-

mo aqueles acontecidos durante osgovernos autoritários”, finaliza Mar-covitch.

No caso dos veículos de comunica-

ção, o levantamento de GonçalvesJúnior aponta o Diário de Pernambu-co como o mais antigo em circulaçãohoje no País, com 189 anos. Depois,vêm Jornal do Commercio, do Rio,com 187 anos, e O Mossoroense, doRio Grande do Norte, com 142. OEstado ocupa o quarto lugar, segui-do pelo O Fluminense, com 132 anos.“São jornais que descrevem a histó-ria do País”, resume o jornalista eestudioso de jornais brasileiros Ma-tias Molina.

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’

ACERVO/ESTADÃO

Pesquisa aponta ‘Estado’ na10ª posição de ranking delongevidade comercial; entreveículos de comunicação, é 4º

CENTENÁRIOS *

Oficina do jornal em 1930. Funcionários posam ao lado de rotativa

PIONEIRISMO

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ACERVO ESTADO

Coberturaeconômica temamplo espaçodesde o início

ACERVO ESTADO

Rolf Kuntz ✽

Vencer a crisee c o n ô m i c aserá a pri-meira gran-de tarefa dap r e s i d e n t eDilma Rous-seff em seu

segundo mandato, depois de qua-tro anos de baixo crescimento, in-flação elevada e contas públicasem deterioração. Acompanhar ca-da lance desse jogo será uma dasprioridades do mais antigo dosgrandes jornais da capital econô-mica do País, veterano na cobertu-ra tanto de crises quanto de boasfases da economia.

“Inflação é projetada em 300%para 1989”, noticiou o Estado emdezembro de 1988, quando foi lan-çado o Plano Verão. O problemados preços ficaria bem pior nosanos seguintes, até o lançamentodo real, manchete em julho de1994. Em novembro de 2014 a ques-tão fiscal, a corrupção e os proble-mas do crescimento apareceriammisturados na mesma notícia:“Contas públicas e Lava Jato de-vem travar infraestrutura”. Muitoantes de o Brasil ser uma das dezmaiores economias do mundo, pro-dução, comércio exterior e moedajá eram tema de capa, assim comode notícias ou comentários.

Fábricas e greves. Café era a ba-se da economia paulista no come-ço do século 20. Em 1902, São Pau-lo sofreu as consequências do ex-cesso de oferta e da queda de pre-ços. A crise e uma proposta de so-lução foram tema de um longo arti-go na primeira página em 9 demaio. “São Paulo é uma máquinade produzir café, somente café.Tudo foi montado e disposto paraesse fim”, escreveu o autor do tex-to, Augusto Ramos. A melhor saí-da, segundo o autor, seria cessar oplantio e manter os estoques de

11,5 milhões de sacas, à espera da va-lorização.

A produção cafeeira ainda seriauma das principais atividades pormuitos anos, mas a industrialização jáavançava nas duas primeiras décadasdo século 20. Com a multiplicaçãodas fábricas e da população operária,surgiram grandes movimentos de rei-vindicação. Na greve geral de 1917, osprotestos começaram na indústria eespalharam-se por outras atividades.

“Desde há dias a esta parte”, havianoticiado o jornal no dia 10, “algunsestabelecimentos fabris da capital têmparalisado seu movimento porque osoperários, acossados pela carestia davida e pela miséria dos salários, lança-ram-se na greve como recurso que selhe afigurou mais eficaz para o triunfodos seus direitos”. Com a morte de umtrabalhador espanhol, baleado pela po-lícia, os protestos se ampliaram. Segun-do o jornal, “uma grande quantidadede desordeiros” juntou-se aos operá-rios e “a toda parte levou a desorienta-ção e o pânico”.

Nesse episódio, a imprensa foi mui-to além da cobertura e dos comentá-rios. Uma comissão de dez jornalistasassumiu a mediação do conflito. Ofim da greve foi decidido num comí-cio no Brás, em 16 de julho. Foramaceitas as reivindicações de reduçãoda jornada de trabalho e regulamenta-ção do trabalho de mulheres e de me-nores. Foram representados na co-missão o Estado, o Correio Paulista-no, o Jornal do Commércio, o Diário Po-pular, a Gazeta, A Platea, A Capital, IlPiccolo e a Fanfulla.

O Estado só teria uma seção espe-cializada em economia a partir dosanos 1950, mas a cobertura havia cres-cido nas três décadas anteriores. Oinício da crise de 1929 foi uma das notí-cias principais em 25 de outubro. “ABolsa de Nova York registrou ontemum formidável desastre financeiro”,informou o jornal no alto da primeirapágina. Em março do ano seguinte, odado mais importante já seria o impac-to da crise no Brasil, com a queda dopreço internacional do café.

Nos 20 anos seguintes, mudaram ascondições do desenvolvimento. Juliode Mesquita Filho trabalhou pela cria-ção da Universidade de São Paulo einfluenciou na formação inicial deseus quadros. O governo Vargas ino-vou a legislação trabalhista e a admi-

nistração pública. A guerra prejudi-cou a economia, mas, ao mesmo tem-po, motivou a implantação de ativida-des modernas, como a fabricação demotores e a grande siderurgia. Em 30de outubro de 1945, o jornal noticiou arenúncia de Getúlio Vargas e planosde construção de refinarias em SãoPaulo e no Rio de Janeiro.

Novos debates. Surgiram grandes de-bates entre empresários, economis-tas e políticos, com teses sobre a in-dustrialização e o papel do Estado naeconomia. Sem se opor à ação regula-dora e até indutora do setor público, ojornal defendeu soluções mais libe-rais e mais compatíveis com a econo-mia de mercado. A discussão sobre apolítica de petróleo foi tema, entre1946 e 1953, de editoriais e séries dereportagens.

Contrário ao monopólio do setorpúblico, o Estado também se opôs àabertura total do setor a estrangei-ros, por causa do risco de dominaçãodo mercado. Sem capitais, sem tecno-logia e sem capacidade administrati-va, o governo, segundo o jornal, deve-ria abrir espaço à participação do capi-tal privado – nacional e estrangeiro –e impor uma cuidadosa regulação.Prevaleceu o plano monopolista. Nosanos 1970, no entanto, o general Er-nesto Geisel instituiria os contratosde risco para incentivar a atuação pri-vada na pesquisa de petróleo.

A cobertura avançou tecnicamentecom a importação, nos anos 1940, doeconomista austríaco Frederico Hel-ler. Nos anos 1950, chegaria o econo-mista e jornalista francês Robert Appy.Heller foi editor de economia até a me-tade dos anos 1970. Depois, Appy seriaeditor durante alguns anos e continua-ria escrevendo editoriais até os 87 anos,em 2013. Alberto Tamer, recrutado nosanos 1950, chegou ao jornal sem forma-ção específica, mas foi treinado peloschefes e ganhou destaque profissional.

A partir dos anos 1960, a coberturase tornaria muito mais complexa. O

regime militar realizou boa parte dapauta de reformas deixada pelo gover-no anterior. Fundou o Banco Central,reorganizou o sistema financeiro, re-formou os impostos, implantou mini-desvalorizações cambiais e criou acorreção monetária para facilitar aconvivência com a inflação. A corre-ção favoreceu a poupança financeirae possibilitou financiamentos de lon-go prazo para habitação, mas tornou-se um fator de realimentação da altade preços. A maior parte de suas apli-cações foi extinta em 1994, com o Pla-no Real, mas ainda há resíduos da in-dexação – em contratos de aluguéis,por exemplo. De modo geral, o Esta-do apoiou as políticas econômicas doperíodo militar.

Depois de anos de rápida expansão,alimentada por grandes investimen-tos em infraestrutura e estímulos àindústria, a economia foi freada pelacrise da dívida externa. Cerca de 40governos tiveram de renegociar suasdívidas e adotar penosos programasde ajuste orientados pelo Fundo Mo-netário Internacional (FMI). Em 10de dezembro de 1982, a seção econô-mica publicou foto de cinco técnicosdo FMI na sala de espera do ministrodo Planejamento, Antônio DelfimNetto. Essa missão deveria levaradiante a negociação de um créditostand-by de US$ 4,5 bilhões.

Volta à democracia. Entre 1985 e1994, os primeiros governos civis ten-taram domar a inflação e recompor ascondições do crescimento. Os preçosao consumidor, medidos pelo IPCA(Índice Nacional de Preços ao Consu-midor Amplo), subiram 242,23% em1985. Em 1983, pouco antes do PlanoReal, aumentaram 2.477,15%. O jornalofereceu coberturas detalhadas de to-dos os planos de ajuste e foi o primei-ro a anunciar, em dezembro de 1988, aúltima tentativa de estabilização eco-nômica do governo Sarney. O nomePlano Verão foi criação do Estado.

O Plano Real finalmente domaria a

inflação. Apesar de graves tropeços,criaria condições para a disciplinadas contas públicas, restauração dapolítica monetária e a recomposi-ção das bases do crescimento. “Realjá vive desafio dos preços” foi a man-chete do jornal em 1.º de julho de1994, data de lançamento da moeda.

O plano sobreviveu a crises noMéxico, em 1995, e na Ásia, em1997, mas em 1998 a crise russa e odesajuste cambial acumulado emquatro anos puseram a economiabrasileira em xeque e levaram à de-preciação cambial. “Desvaloriza-ção do real estimula a inflação”, pu-blicou o jornal em 18 de janeiro.

Ainflaçãosubiu,masumnovoajus-teresgatou orealempoucosmeses.Aformação do famoso tripé – meta desuperávit fiscal, meta de inflação ecâmbioflutuante–foiumadasconse-quências desse ajuste, comandadopelo ministro da Fazenda, Pedro Ma-lan, e pelo novo presidente do BancoCentral, Armínio Fraga.

Entre 2003 e 2008, o Brasil foifavorecido pela prosperidade glo-bal e pela manutenção do tripé, de-fendida pelo ministro da Fazenda,Antonio Palocci, e pelo presidentedo BC, Henrique Meirelles.

No segundo mandato de Lula, adisciplina foi mais frouxa. Essatendência se acentuou no primei-ro mandato da presidente DilmaRousseff, com deterioração dascontas públicas, das contas exter-nas e inflação sempre longe da me-ta de 4,5%. “Nova equipe indicaajuste fiscal e gradual e rigor coma inflação” informou o Estado namanchete de 28 de novembro de2014. Surgia uma expectativa demudança no segundo mandato dapresidente Dilma Rousseff, cominício marcado para 1.º de janeiro,três dias antes do 140.º aniversá-rio do Estado.

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’

‘Estado’ criou seçãoespecializada nos anos 1950,mas sempre seguiu de pertotanto crises quanto boas fases

Bolsa. Pregão nos anos 1970 em São Paulo

Produção. Lavradores de café no interior paulista; ao longo de 14 décadas, ‘Estado’ acompanhou todos os fatos importantes da economia brasileira e mundial

Nova York. Protesto após quebra da bolsa em 1929

NEGÓCIOS

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Integrantes da Ação Integralista Brasileira tomam Ministério da Marinha. Rebelião é debelada e líderes são presos.

Nasce em 8 de janeiro nos Estados Unidos o cantor Elvis Presley, que se tornaria grande ídolo do rock mundial.

Sob influência comunista e com Luís Carlos Prestes à frente, a Aliança Nacional Libertadora promove levante militar em novembro para derrubar o presidente Vargas. O general Góis Monteiro comanda bombardeio ao quartel e derrota os rebelados.

O urbanista Francisco Prestes Maia é nomeado prefeito de São Paulo e começa a realizar seu plano de avenidas. Obras incluem retificação do Rio Tietê e construção das marginais.

Sérgio Buarque de Holanda publica Raízes do Brasil.

Defensor da educação pública e gratuita, Anísio Teixeira publica Educação para a Democracia.

Inaugurado o atual Viaduto do Chá.

Aeroporto de Congonhas é inaugurado oficialmente no dia 12 de abril.

Cantor e compositor Noel Rosa morre no Rio de tuberculose.

Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros são mortos e degolados em emboscada preparada pela polícia em Sergipe. Tem fim o principal grupo cangaceiro do Nordeste.

Graciliano Ramos publica Vidas Secas.

Ditadura Vargas tenta submeter o Estado a censura prévia. O jornal se mantém independente, mas enfrenta grande repressão. Julio de Mesquita Filho é preso 17 vezes e mandado para o exílio. Francisco Mesquita segue no comando.

Jockey Club da Cidade Jardim começa a ser construído em área doada pela Cia. City. Até sua inauguração, em 1941, páreos eram na Mooca.

1935 1936 1937 1938

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José Goldemberg ✽

Desde a segun-da metadedo século 19,nosso conhe-cimento danaturezapas-sou por umav e r d a d e i r a

revolução. Não só foi formulada ateoria da evolução por Wallace eDarwin como também foi desco-berta a radioatividade e desvenda-da a estrutura do átomo. Esses pro-gressos não poderiam ter sido fei-tos sem as teorias de Einstein so-bre a relatividade do tempo e doespaço. Mais recentemente, aindaem meados do século 20, foi escla-recido por Crick e Watson o códigogenético que comanda o cresci-mento dos seres vivos e sua repro-dução.

Muitos desses desenvolvimen-tos foram a base dos avanços tecno-lógicos que mudaram para melhora vida de bilhões de pessoas. Todoseles, contudo, complexos e objetode minuciosos estudos por cientis-tas de grande criatividade e compe-tência. Como explicá-los aos nãocientistas e ao público em geral éum desafio permanente.

Nos Estados Unidos e na Ingla-terra existem revistas especialmen-te dedicadas a fazer a ponte entreos cientistas e o público leigo maisesclarecido como a Scientific Ameri-can, cujo primeiro número foi pu-blicado em 28 de agosto de 1845. Arevista é mensal e tem sido publica-da ininterruptamente desde entãopor 169 anos.

O que surpreende é verificar queo jornal O Estado de S. Paulo, fun-dado em 1875, sempre deu amplonoticiário às descobertas científi-cas mais importantes, o que só éfeito pelos grandes jornais do mun-do, como The New York Times, nosEstados Unidos, e Le Monde, naFrança.

Essa observação foi feita a umjornalista que o entrevistava pelopróprio Einstein em 21 de marçode 1928, ao chegar ao Rio de Janei-ro para uma visita, onde fez umaconferência na Academia Brasilei-ra de Ciências sobre a teoria darelatividade, visita esta amplamen-te coberta pela imprensa e pelo Es-tadão.

Ao longo dos anos, o jornal não ape-nas noticiou a visita, mas publicou ar-tigos de matemáticos brasileiros ex-plicando as teorias de Einstein e atéum artigo do próprio Einstein intitula-do A unidade da vida, na edição de 11 demarço de 1979, e um artigo de MarioSchenberg intitulado Albert Einstein: ohomem no mesmo dia.

Em 7 de agosto de 1945, o jornal pu-blica na primeira página uma amplanotícia sobre o lançamento da bombaatômica sobre a cidade japonesa deHiroshima, tema que jamais saiu donoticiário desde então. Em 25 de se-tembro de 1956, noticia resultados daConferência de Genebra que deu iní-cio aos trabalhos de utilizaçãode energia nuclear para fins pa-cíficos.

Fórmula da vida. Um ponto al-to do noticiário é o de 19 de outu-bro de 1962 sobre o Prêmio No-bel de Medicina de Crick e Wat-son, poucos anos depois de elesterem descoberto a “dupla héli-ce” descrita como a “fórmula davida”. Em 24 de fevereiro de 1997, énoticiada a clonagem de um mamífe-ro adulto – a ovelha Dolly –, à qual o

jornal dedicou um caderno completo.Antimatéria é discutida com desta-

que em 24 de março de 1975 com arti-gos de pesquisadores da USP.

Muito antes disso, o Estadão, em25 de julho de 1897, publicou uma lon-ga matéria sobre a descoberta dosraios X por Roetgen e o início dessatécnica para a radiografia médica.

As descobertas da radioatividade

por Becquerel e os trabalhos da Mada-me Curie são descritos em detalhesem várias edições no começo do sécu-lo 20, incluindo controvérsias com ou-tros cientistas que são naturais numaárea de vanguarda.

Mais recentemente, em 23 de agos-to de 1954, são publicadas notícias so-bre a descoberta da expansão do uni-verso e também suas consequênciasfilosóficas por Flavio Pereira. Em 23de dezembro de 1973, o Estadão publi-ca uma página inteira chamada Atuali-dade Científica, que tem entre outrosum artigo de Isaac Asimov.

Objetividade. O que é notável em to-das essas matérias publicadas no Es-

tadão – escolhidas por meio deuma pesquisa superficial no seuarquivo – é a clareza e a objetivida-

de das informações. Apesar da lin-guagem jornalística, elas são escri-tas com suficiente cuidado paratransmitir ao público informa-

ções claras e corretas, característi-cas do bom jornalismo!

É PROFESSOR EMÉRITO DA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Do raio X ao DNA, clareza e precisão

● Epidemias, vacinas, remédios, cirur-gias. Temas de medicina e saúdesempre tiveram espaço no ‘Estado’.Assim como feitos e opiniões de no-mes consagrados, como Emílio Ri-bas, Osvaldo Cruz e Albert Sabin.

Em 1918, quando a gripe espanho-la fez milhares de vítimas, incluindodois redatores do ‘Estado’, o jornalchegou a aconselhar a população, naedição de 2 de novembro, a procurarhospitais e postos de saúde.

Em 11 de maio de 1954, o ‘Estado’publicou entrevista com AlexanderFleming (1881-1955), o descobridorda penicilina. Quando Euryclides deJesus Zerbini (1912-1993) fez o pri-meiro transplante de coração do País,em 25 de maio de 1968, no Hospitaldas Clínicas, a manchete foi “S. Paulomuda coração”. Uma epidemia atual,a do Ebola, foi noticiada pela primeiravez em junho de 1977. / EDISON VEIGA

Em Manguinhos. Einstein (à frente à dir.) visita o Instituto Oswaldo Cruz, no Rio, em 1925: Adolfo Lutz e Carlos Chagas ajudaram a recepcioná-lo

REUTERS

Descobertas científicasimportantes sempre tiveramamplo noticiário no ‘Estado’ao longo das últimas décadas

Dolly. O primeiroanimal adultoclonado no mundo

REPRODUÇÃO

CIÊNCIA

Cobertura de saúdevai do alerta da gripeespanhola ao Ebola

1940

Soldados invadem o Estado. Armas são postas no forro do prédio pela polícia para forjar tentativa de derrubar o governo. Francisco Mesquita é preso. Nada provado, ele é solto, mas impedido de reassumir suas funções no jornal, que passou a ser gerido pela ditadura.

O Estado fica até 1945 sob intervenção. O nome do interventor Abner Mourão na primeira página do jornal em 7 de abril de 1940 marca o início da censura.

Inaugurado em 12 de maio o Autódromo de Interlagos.

Em janeiro, o governo funda a Companhia Siderúrgica Nacional e inicia a construção da usina de Volta Redonda.

Vai ao ar na Rádio Nacional a primeira radionovela brasileira: Em Busca da Felicidade.

Inaugurado o Parque da Aclimação, onde funcionou o primeiro zoológico de São Paulo.

Após dois anos e meio de guerra civil espanhola, Francisco Franco toma o poder no país e nele permanece por mais de 30 anos.

Em 1º de setembro, Hitler invade a Polônia. Dois dias depois, Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha. Começa a 2ª Guerra Mundial.

Em setembro, o Estadinho volta a circular para noticiar fatos da 2ª Guerra Mundial.

A nadadora Maria Lenk quebra dois recordes mundiais, nos 400m e 200m estilo peito.

Ari Barroso faz sucesso com Aquarela do Brasil.

Cantora de maior sucesso no Brasil, Carmem Miranda vai para Hollywood.

No dia 27 de abril, o Estádio do Pacaembu é inaugurado.

Fundador da Psicanálise, Sigmund Freud morre em Londres, aos 83 anos de idade.

É criada no Rio a companhia Atlântida Cinematográfica, que produziria 66 filmes até 1962, quando fechou. Oscarito e Grande Otelo foram dois astros da empresa.

1939 1941

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Page 33: Estadão 140 anos - A história do jornal

Em 14 de fevereiro, o navio brasileiro Cabedelo é torpedeado por um submarino alemão, matando 54 tripulantes. É o primeiro de uma série de ataques alemães à Marinha Mercante Brasileira.

Em 5 de julho, é inaugurada Goiânia, nova capital de Goiás.

Em 31 de agosto, Brasil declara guerra à Alemanha e à Itália.

Oscar Niemeyer projeta em Belo Horizonte o conjunto arquitetônico da Pampulha, que compreende Iate Clube, Cassino, Casa de Baile e a Igreja de São Francisco.

Lei altera a ortografia do português do Brasil. Outras duas reformas ocorreriam em 1971 e 2009.

Estados Unidos lançam bomba atômica contra a cidade japonesa de Hiroshima em 6 de agosto. É o primeiro ataque nuclear da história. Dias depois, uma segunda bomba atômica seria lançada contra Nagasaki.

Em 30 de abril, decreto presidencial proíbe o jogo e manda fechar cassinos em todo o País.

Carta de princípios da Organização das Nações Unidas (ONU) é aprovada. Órgão nasce para promover paz e diálogo entre povos e países.

Em 1º de maio, governo reúne resoluções tomadas desde 1930 na área trabalhista e cria a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Estreia no Rio a peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, clássico que movimentou a história do teatro.

Em 6 de dezembro, o Estado é devolvido à família Mesquita, após a queda da ditadura. Ao retomar o controle do jornal, seus proprietários ignoram o registro da primeira página e repetem o número 21.650, que marcara a primeira edição feita sob ocupação da ditadura. Julio de Mesquita Filho aparece no cabeçalho como diretor, ao lado de Plínio Barreto.

1942 1943 1945 1946

Alemanha assina rendição em 8 de maio. Termina a 2ª Guerra Mundial.

Forças Armadas depõem Getúlio Vargas na noite de 29 de outubro.

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%HermesFileInfo:H-33:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H33

Page 34: Estadão 140 anos - A história do jornal

1950

Após a saída das forças britânicas da Palestina, Ben Gurion anuncia criação do Estado de Israel. Na declaração de independência, a promessa de igualdade social e política a cidadãos de todas as religiões e raças.

Criado o mais alto instituto de ensino e experimentação tecnológica: o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

São Paulo abriga mais de 500 mil mineiros e 400 mil nordestinos, quase metade da população paulistana da época, de cerca de 2,2 milhões de pessoas.

Em junho, o Maracanã é inaugurado no Rio para sediar a Copa do Mundo. Seleção estreia com goleada de 4 a 0 sobre o México, mas perde a final para o Uruguai.

Em 18 de setembro, vai ao ar em São Paulo a PRF 3 TV Tupi, primeira emissora de televisão da América Latina, fundada por Assis Chateaubriand.

Herói da independência indiana, Mahatma Gandhi faz greve de fome pela paz. Em 30 de janeiro, ele é assassinado por um fanático hinduísta.

Assis Chateaubriand funda o Museu de Arte de São Paulo (Masp), que se mudaria para a Avenida Paulista em 1968.

Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo, inaugura em São Paulo o Museu de Arte Moderna (MAM).

São Paulo ganha destaque na indústria cinematográfica: em 4 de novembro, Franco Zampari e Ciccillo Matarazzo fundam a Cia. Cinematográfica Vera Cruz em São Bernardo do Campo.

Em fevereiro, o cientista César Lattes isola em laboratório nova partícula do átomo, o méson, e se torna celebridade.

Enquanto se constrói a nova sede na Rua Major Quedinho, jornal funciona até 1951 na Rua Barão de Duprat.

Ao fim de duas décadas de guerra civil, comunistas conquistam Pequim e, sob liderança de Mao Tsé-Tung, proclamam a República Popular da China. Chiang Kai-Shek se refugia em Taiwan, onde organiza a resistência nacionalista.

Apresentações da Orquestra Sinfônica, regidas por Heitor Villa-Lobos e Camargo Guarnieri em 8 e 9 de março, inauguram na Rua Nestor Pestana o Teatro Cultura Artística. Com quase 1,5 mil lugares e afresco de Di Cavalcanti na fachada, seria destruído por incêndio em 2008.

Nasce o Teatro Brasileiro de Comédia, a maior escola dos palcos nacionais, que formou nomes como Paulo Autran, Sérgio Cardoso, Cacilda Becker e Tônia Carrero. Alfredo Mesquita funda a Escola de Arte Dramática, ligada à USP.

1947 1948 1949

%HermesFileInfo:H-34:20150118:H34 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

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Justiça Eleitoral proclama Getúlio Vargas presidente em 18 de janeiro.

Em 20 de outubro, é aberta em São Paulo a 1ª Bienal Internacional de Artes Plásticas.

Em dezembro, vai ao ar Sua Vida me Pertence, primeira telenovela brasileira, com Walter Forster e Vida Alves.

Ademar Ferreira da Silva vence a prova de salto triplo na Olimpíada de Helsinque. Repetiria o feito em 1956, na Olimpíada de Melbourne, na Austrália.

Em fevereiro, Jânio Quadros é eleito prefeito de São Paulo.

Em 27 de setembro, Francisco Alves, o rei da voz do rádio brasileiro, morre em acidente na Dutra e causa comoção nacional.

Fundado o Teatro de Arena e inaugurado o Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret.

Emilinha Borba é eleita rainha do carnaval com mais de um milhão de votos. Em 18 de

agosto, nova sede do Estado é inaugurada na Rua Major Quedinho, 28. Em fase de grande progresso, com aumento de tiragem e prestígio, jornal traz na primeira página quase que exclusivamente noticiário internacional.

Estado cria o prêmio cultural Saci.

Dalva de Oliveira recebe coroa de rainha do rádio.

Em 25 de setembro, é lançado o Suplemento Feminino.

Após dois anos, termina a Guerra da Coreia. País se divide em dois: República da Coreia (Sul) e a República Popular Democrática da Coreia (Norte).

Com quase 2,7 milhões de pessoas, São Paulo se torna a primeira cidade do Brasil em população.

1951 1952 1953

%HermesFileInfo:H-35:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H35

Page 36: Estadão 140 anos - A história do jornal

Do telégrafo àsredes sociais,uma revolução

Renato Cruz ✽

Imagine um mundo emque o mais avançadomeio de comunicaçãoera o telégrafo elétrico.Criado em 1844 peloamericano SamuelMorse, ele permitiutransmitir instantanea-

mente mensagens ao redor do mun-do. Seu impacto na vida do século19 pode ser comparado ao da inter-net no fim do século 20.

A edição de 5 de janeiro de 1875reflete sobre os efeitos da mudançatecnológica: “Como o livro matou omonumento de pedra e o jornal vaimatando o livro, assim o telegramaameaça substituir a correspondên-cia epistolar”.

A transmissão de mensagensusando código Morse foi o primeiropasso da revolução das tecnologiasde informação e comunicação. Em1876, o escocês Alexander GrahamBell recebeu a primeira patente pe-lo aparelho que criou nos EstadosUnidos. Já no ano seguinte, o telefo-ne chegava ao Brasil. Em 21 de de-zembro de 1877, este jornal noti-ciou: “O telefone, recentíssimo e ad-mirável descobrimento americano,foi ensaiado no Rio”.

Eraprecisoexplicaraosleitoresco-mofuncionavamosaparelhostelefô-nicos, “muito mais simples do queos empregados na telegrafia”: “Pormeio de um tubo de madeira, que seaplicaaoouvido,compreende-sedis-tintamente, havendo completo sos-sego, todas as palavras que no outroponto são pronunciadas por qual-quer pessoa junto de idêntico tubo”.

O telefone móvel só chegaria mui-to mais tarde, em 1990, lançado pe-la Telerj, no Rio. Levando em contaos 278 milhões de telefones móveisatualmente no Brasil, os planosanunciados na chegada do serviçoeram bem modestos: “Rauber disseque até novembro os 700 assinan-tes cariocas que compraram essas

modernas linhas telefônicas já pode-rão fazer ligações”.

A linha telefônica móvel custava Cr$700 mil (R$ 37,5 mil em valor corrigi-do), cara mesmo se financiada em seisvezes, como foi oferecida na época.Bem diferente de hoje, em que um chipde celular pré-pago pode ser compra-do por menos de R$ 10. No lançamen-to do serviço, o aparelho portátil (tam-bém existiam as versões fixada no car-ro e transportável) saía por Cr$ 500mil (cerca de R$ 26,7 mil).

O primeiro celular portátil do mun-do foi o Dynatac, da Motorola, que co-meçou a ser vendido nos Estados Uni-dos em 1984. Pesava 790 gramas e ti-nha 25 centímetros, sem contar a ante-na. Era um aparelho que só falava. Aatual era dos smartphones chegou pa-ra valer em 9 de janeiro de 2007, quan-do Steve Jobs, então presidente daApple, anunciou o iPhone. “Apple lan-ça telefone celular que também funcio-na como iPod”, noticiou este jornal nodia seguinte. O tocador de música digi-tal era um grande sucesso da Apple e,no lançamento, o iPhone ainda nãoaceitava aplicativos de terceiros, o queacabou fazendo toda a diferença nomercado de celulares inteligentes.

Computadores. O Eniac foi o primei-ro computador eletrônico de uso ge-ral. Financiado pelo Exército america-no, tinha como principal tarefa calcu-lar tabelas de artilharia. “No dia 14 defevereiro de 1946, o general GladeonBarnes, do Exército dos Estados Uni-dos, apertou um botão e pôs em mar-cha a era dos computadores. O botãopressionado por Barnes em uma salada Universidade da Pensilvânia colo-cou em funcionamento o Eniac (siglaem inglês para Integrador Numérico eComputador Eletrônico), um gigantes-co equipamento de 30 toneladas, tu-bos catódicos e cabos”, descreveu re-portagem sobre os 50 anos da computa-ção, em 1996.

A história da computação no Bra-sil começa em 1957, com a chegadado primeiro “cérebro eletrônico”ao País. “Muitos outros vie-ram, até que em 1961 o ITAconstruiu Zezinho, o pri-meiro computador brasi-leiro. Mais tarde, foi avez do Cisne Bran-co, Unicamp, e

do Patinho Feio, da USP, em 1972. ODepartamento de Águas e Esgotos deSão Paulo foi a primeira empresa nacio-nal a usar um computador”, lembroutexto publicado em 1987.

O nome Patinho Feio foi uma respos-ta bem-humorada ao Cisne Branco, daUnicamp. Os dois projetos disputa-vam concorrência da Marinha e o Pati-

nho Feio venceu. “O grupo da Poli pre-parou o Patinho Feio por três anos. Ocontrato com a Marinha, chamado deG-10 em homenagem ao comandanteGuaranys, ex-aluno da Poli, era a gran-de meta do programa. O governo que-ria um computador feito em solo nacio-nal que pudesse substituir os que equi-pavam fragatas compradas da Inglater-ra”, destacou reportagem sobre os 30anos do Patinho Feio.

O projeto da USP serviu de base paraa criação da Computadores e SistemasBrasileiros S.A. (Cobra), estatal quedeu origem à indústria brasileira de in-formática, em 1974.

Conexão. A chegada da internet ao Bra-sil foi noticiada por este jornal em 24de novembro de 1988, sob o título

“Cientistasvãoentraremredeinterna-cional”: “Nos próximos dias, quando

forligadoumcabosubmarinodaEm-bratel, os pesquisadores das trêsuniversidades paulistas poderão

utilizar o computador para tro-car informações com cientis-tas dos maiores centros do

mundo. Eles estarão integra-dos ao sistema Bitnet, uma

rede internacional de

computadores que permite conver-sar com outros pesquisadores”.

A Bitnet (sigla de Because It’s Ti-me Network) era uma rede precur-sora da internet. A conexão tinha4,8 quilobits por segundo e custavaà Fundação de Amparo à Pesquisado Estado de São Paulo (Fapesp)US$ 150 mil anuais. Para se ter umaideia, uma conexão de 10 megabitspor segundo, comum na banda largaresidencial hoje, tem mais de 2 milvezes a capacidade do link que che-gou ao País em 1988. Naquela época,ainda não existia World Wide Web eas pessoas trocavam pela rede arqui-vos de texto.

A web só foi inventada em 1989, pe-lo físico inglês Tim Berners-Lee. Em16 de maio de 1994, este jornal noti-ciouacriaçãodaMosaicCommunica-tions Corp., posteriormente reno-meada Netscape, empresa responsá-velpelacriaçãodonavegadorquetor-nou a web popular. A Netscape foifundada por Jim Clark, ex-professorda Universidade de Stanford e funda-dor da Silicon Graphics.

“Seu sócio é Marc Andreessen,projetista de computadores de 22anos e membro da equipe de pesqui-sadores de supercomputadores quecolaborou na criação do programaMosaic, usado para recuperar infor-mações da internet – rede global decomputadores usada por cerca de20 milhões de pessoas”, apontou areportagem. Atualmente, são quase3 bilhões de pessoas conectadas emtodo o mundo.

As primeiras referências ao Goo-gle no Estado relacionavam a em-presa ao Yahoo, na época o site maispopular do mundo. Nota de 3 de ju-lho de 2000 informava: “O portalYahoo passa a usar o mecanismo debusca Google para encontrar infor-mações em seu banco de dados eoutros sites. O Google realiza a bus-ca na internet de acordo com a popu-laridade do site”.

Curiosamente, o Facebook tam-bém começou a aparecer no noticiá-rio em conexão como o Yahoo. Em 9de outubro de 2006, o Google com-prou o YouTube por US$ 1,6 bilhão.No dia seguinte, a reportagem anali-sa: “A aquisição pode pressionar oYahoo a fechar a compra do Face-book.com, segundo maior site de re-de social do mundo”.

Na época, a maior rede social domundo era o MySpace. No Brasil, aliderança estava com o Orkut, umaempresa do Google. No final, nin-guém acabou comprando o Face-book, empresa que vale atualmentemais de US$ 200 bilhões, com 1,35bilhão de usuários ativos mensais.Do telégrafo – que inaugurou as co-municações a distância em temporeal – ao WhatsApp, serviço de men-sagens adquirido pelo Facebook em2014, foi um longo caminho.

É COLUNISTA DO ‘ESTADO’

KENJI HONDA/ESTADÃO

TECNOLOGIA

Celulares. O pioneiro MotorolaDynaTAC e um modelo de 2009

Segunda edição da ‘Província’já falava da transformaçãocausada pela transmissãoelétrica de mensagens

Patinho Feio. Primeiro computador feito no Brasil a chegar ao mercado

Circula em 5 de janeiro o primeiro Suplemento Agrícola do Estado. Em formato tabloide e com 16 páginas, destaca a moderna agricultura paulista da época. A preocupação com o setor já estava presente desde 1918, quando foi criada a coluna semanal Assumptos Agrícolas.

Começa a circular nas ruas a Romi-Isetta, primeiro veículo automotor de fabricação nacional.

Em 24 de agosto, a sucursal do Estado no Rio é invadida pela polícia e exemplares do jornal são apreendidos por causa da publicação de um manifesto de Carlos Lacerda. Julio de Mesquita Filho denuncia a arbitrariedade à Associação Interamericana de Imprensa .

Publicado o livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.

Em 6 de outubro, estreia o Suplemento Literário. Ao longo de 11 anos, a publicação se tornaria um marco da imprensa cultural.

Em outubro, Marta Rocha perde a faixa de Miss Universo por duas polegadas a mais nos quadris.

Idealizado por Oscar Niemeyer, o Parque do Ibirapuera é entregue como um presente pelo Quarto Centenário de São Paulo.

Em 19 de abril, o Hospital das Clínicas é inaugurado como homenagem do então interventor Fernando Costa ao aniversário do presidente Getúlio Vargas.

Em 5 de agosto, pistoleiro atira contra o jornalista Carlos Lacerda no Rio e mata seu guarda-costas, o major da Aeronáutica Rubens Vaz.

O arcebispo dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota oficia a missa inaugural da Catedral Metropolitana de São Paulo, na Praça da Sé, ainda sem as torres.

Realizado no Cine Marrocos o I Festival Internacional de Cinema de São Paulo.

Em 24 de agosto, após receber ultimato das Forças Armadas para deixar o poder, Vargas suicida-se com um tiro no coração. A comoção causa grandes manifestações populares pelo País.

Em 31 de janeiro, Juscelino Kubitschek toma posse como presidente, com o slogan "50 anos em 5".

1954 1955 1956

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Page 37: Estadão 140 anos - A história do jornal

Todos juntos fazem um trânsito melhor.

SE�JÁ�EXISTISSE��A�KIA�NAQUELA�ÉPOCA,��

ADIVINHA�EM�QUAL�JORNAL��A�GENTE�IRIA�ANUNCIAR.

Homenagem�da�Kia�pelos�140�anos�do�Estadão,��uma�das�principais�referências�da�imprensa�brasileira.

%HermesFileInfo:H-37:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H37

Page 38: Estadão 140 anos - A história do jornal

O GRANDE PARCEIRODE TODAS AS MANHÃS

ESTÁ FAZENDO 140 ANOS.

PARABÉNS, ESTADÃO.

É uma vida inteira de notícias em tempo real, fatos inesquecíveis, compromisso com a verdade e resultados efetivos para os parceiros do mercado imobiliário.

Foto ilustrativa

%HermesFileInfo:H-38:20150118:H38 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 39: Estadão 140 anos - A história do jornal

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Há 140 anos, o Estadãomostra o mundo para você.

Há 42, a gente levavocê para conhecê-lo.

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Em 1º de janeiro, Fidel Castro derruba Fulgêncio Batista em Cuba.

Sob direção de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, uma multidão de trabalhadores e 200 máquinas começam, em fevereiro, a trabalhar 24 horas por dia na construção de Brasília.

Em 4 de outubro, a União Soviética lança o primeiro satélite artificial do mundo: o Sputnik I.

Em 4 de janeiro, a Rádio Eldorado, AM 700 kHz, é inaugurada. O objetivo era levar ao ouvinte uma programação eclética, de qualidade, com glamour e locutores de "voz de veludo". O auditório, no prédio da Major Quedinho, recebia orquestras, bandas e cantores. Os programas entravam no ar ao vivo e podiam ter plateia.

Aos 19 anos de idade, a tenista brasileira Maria Esther Bueno vence em maio o campeonato de tênis de Wimbledon. Ao derrotar a americana Darlene Hard, torna-se a primeira sul-americana a conquistar o título. Em 1960 e 1964, repetiria o feito.

Em 16 de março, paulistanos veem, pela primeira vez, 482 animais do Jardim Zoológico de São Paulo.

Seleção brasileira de futebol conquista a Taça Jules Rimet, ao derrotar a Suécia por 5 a 2 em 24 de junho. Didi, Garrincha e Pelé viram ídolos.

Aberto o primeiro Salão do Automóvel, no Pavilhão de Exposições do Parque do Ibirapuera.

Inaugurado parcialmente o Estádio do Morumbi.

Em 21 de abril, Juscelino Kubitschek inaugura Brasília, a nova capital federal, construída em três anos e dez meses no Planalto Central.

Os irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari lançam o Manifesto Concretista.

1957

Éder Jofre conquista o título de campeão mundial de boxe na categoria peso galo.

Surge a bossa nova, movimento da música popular liderado por João Gilberto e Roberto Menescal, entre outros artistas.

1958 1959 1960

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Page 40: Estadão 140 anos - A história do jornal

1961 1962 1963 1964

O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, conquista a Palma de Ouro do Festival de Cannes.

Em 22 de novembro, o presidente americano John Kennedy é assassinado em Dallas, no Texas.

A estátua do Borba Gato, símbolo de Santo Amaro feito por Júlio Guerra, é inaugurada em 27 de janeiro de 1963, durante a comemoração do 4º Centenário de Santo Amaro.

Estado apoia o movimento militar que depôs o presidente João Goulart, mas defende uma intervenção militar transitória. Ao perceber que os radicais de extrema direita aumentavam sua influência e queriam a perpetuação dos militares no poder, o jornal retira seu apoio e passa para a oposição.

Adoniran Barbosa cria Trem das Onze, que se tornaria um hino da cidade de São Paulo.

Expoente do Cinema Novo, Glauber Rocha lança um de seus filmes mais aclamados: Deus e o Diabo na Terra do Sol, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes.

Em 31 de janeiro, Jânio Quadros toma posse como presidente da República. João Goulart é o vice.

Em 17 de dezembro, incêndio criminoso no Gran Circo Norte-Americano mata mais de 500 pessoas, 70% crianças, em Niterói.

A banda The Beatles se apresenta no The Cavern Club, em Liverpool. O bar se tornaria o marco do começo do sucesso do quarteto, formado por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr.

Em 25 de agosto, Jânio Quadros renuncia.

Em 7 de setembro, João Goulart toma posse.

Tom Jobim e Vinicius de Moraes lançam Garota de Ipanema, que viraria sucesso internacional.

Em junho, o Brasil conquista o bicampeonato mundial de futebol.

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Page 41: Estadão 140 anos - A história do jornal

Realizado em 21 de janeiro o primeiro transplante renal do País, no Hospital das Clínicas de São Paulo.

Em 22 de abril, uma bomba explode nas oficinas do Estado.

A Jovem Guarda, de Roberto e Erasmo Carlos e sua turma do ie-ie-iê, ganha multidões.

Em 15 de julho, sonda espacial americana Mariner IV transmite as primeiras imagens de Marte, a 10 mil quilômetros de distância da Terra.

Em 4 de janeiro, sob a direção de Ruy Mesquita, começa a circular o Jornal da Tarde, marco de uma revolução gráfica e editorial no jornalismo brasileiro, com reportagens de qualidade e irreverência de estilo.

Em fevereiro, a tiragem do jornal ultrapassa 340 mil exemplares.

Che Guevara é capturado e morto pelas forças armadas bolivianas.

Henrique Costa Mecking, o Mequinho, se torna mestre internacional de xadrez aos 14 anos. Em 1972, ele se tornaria grande mestre.

A Banda, de Chico Buarque, e Disparada, de Theo de Barros e Geraldo Vandré, dividem o primeiro lugar no Festival da TV Record. É a era dos grandes festivais.

Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros artistas lançam o movimento tropicalista.

Presidente Castelo Branco promulga o AI-2, que extingue partidos e cria sistema bipartidário, com Arena e MDB.

1965 1967

Em março, o estudante Edson Luís de Lima Souto é morto pela Polícia Militar quando participava de manifestação no restaurante estudantil Calabouço, no Rio. O caso gera grande repercussão e protestos contra o governo.

Em 24 de junho, começa a circular no Estado o caderno Turismo. Antes de assumir o nome Viagem, em 1991, passa 25 anos como Suplemento de Turismo.

1966 1967 1968

%HermesFileInfo:H-41:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H41

Page 42: Estadão 140 anos - A história do jornal

Em 140 anos, uma SP 400 vezes maiorACERVO/ESTADÃO

ACERVO/ESTADÃO

ACERVO/ESTADÃO

Edison Veiga ✽

Desdeque oEs-tado foi lan-ç a d o , S ã oPaulo ficou400 vezesmaior. Quan-do a primeiraedição de A

Província de São Paulo saiu da grá-fica, em janeiro de 1875, a cidade ti-nha pouco mais de 31 mil habitan-tes. Testemunhar e registrar os fa-tos que aconteceriam na capital pau-lista a partir daí – transformando-ana maior do País, hoje com 11,9 mi-lhões de moradores – passou a ser,mais do que missão, uma das voca-ções do jornal.

Pudera. Naquele tempo, não ha-via nem luz nem bonde elétrico, ne-nhuma rua era asfaltada, a AvenidaPaulista ainda não tinha sido inaugu-rada e o cargo de prefeito nem se-quer existia em São Paulo – o primei-ro foi Antônio da Silva Prado, queficou no poder de 1899 a 1911.

“Realizou-se ontem, depois dasessão solene de posse dos novosvereadores municipais, a primeirasessão ordinária da nova câmara(...). Foi eleito prefeito municipal osr. dr. Antonio Prado (...). O sr. dr.Antonio Prado, prefeito municipal,dará audiências todos os dias úteisdo meio-dia às duas horas da tarde”,noticiou o Estado em 8 de janeirode 1899. Entre ele e o atual chefe doExecutivo municipal, FernandoHaddad, 46 políticos se sentaram naprincipal cadeira da Prefeitura.

Nesses 140 anos, a provinciana ci-dade se tornou uma das mais efer-vescentes metrópoles do mundo.Bondes se tornaram elétricos, fo-ram substituídos por ônibus, trens emetrôs – e agora ganham a compa-nhia quase onipresente das ciclo-vias.

Mobilidade, essa questãocentral em São Paulo, sem-pre foi destaque no Esta-do – do primeiro conges-

tionamento com quase 300 automó-veis na inauguração do Teatro Munici-pal, em 12 de setembro de 1911, aosrecentes engarrafamentos. E se vezpor outra surgem rumores – sempreimpopulares – de que uma possível so-lução para os problemas do trânsitopaulistano seria a criação de pedágiourbano, vale lembrar que isso já ocor-reu. E em pleno século 19.

Inaugurado em 6 de novembro de1892, o primeiro viaduto paulistano, oViaduto do Chá, foi construído paraligar a Rua Direita ao Morro do Chá,ali no Vale do Anhangabaú. Até 1897, aCompanhia Ferrocarril cobrava cercade 60 réis – ou 3 vinténs – dos pedes-tres que quisessem atravessá-lo.Eram principalmente integrantes daelite paulistana, que cruzavam o valepara ir ao Municipal ou aos cinemas daregião. Não por acaso ficou conhecidotambém como Viaduto dos Três Vin-téns.

Alvo de polêmica, acompanhada deperto pelo Estado, o pedágio acabourevogado pela Prefeitura. Em 1938, oantigo viaduto foi demolido porquenão suportava mais o grande fluxo depessoas. No mesmo ano, uma nova es-trutura de concreto armado foi abertaao público.

Já a Paulista, outro cartão-postal, foiinaugurada em dezembro de 1891.

“Vão muito adiantadas as obras dagrande Avenida Paulista, es-

tando já concluídas em umaextensão de dois quilôme-tros (...). Quando há temposdissemos que ela constituiriaum dos mais higiênicos e for-

mosos passeios da nossa capi-tal, bem longe estávamos de

imaginar tudo o que de aprazívele agradável nela existiria depois

de concluídas as obras, o queagora se verifica na par-

te terminada”, pu-blicou o Estadoem 11 de outu-bro de 1891.

Nessa época, as ruas ou eram de ter-ra ou cobertas por paralelepípedos.Em 1909, a Paulista se tornou a primei-ra via asfaltada da capital – com mate-rial importado da Alemanha. Depois,deixaria de ser o endereço dos barõesde café para se tornar um centro finan-ceiro da cidade.

Show de luz. O jornal também acom-panhou a primeira vez em que umalâmpada elétrica foi acesa na cidade.

A exibição ocorreu em 10 de outubrode 1883 no Parque da Luz – com repe-teco dez dias mais tarde. O eventoatraiu tanta gente que a administra-ção do parque pediu reforço policial.Curiosos para conhecer aquela “mara-vilha tecnológica”, paulistanos paga-ram ingresso para ver o “espetáculo”.

“Correu magnificamente a festa danoite de sábado, organizada para exi-bição da luz elétrica, sendo o produ-to das entradas para as obras da Mise-

ricórdia”, noticiou A Provínciade São Paulo. “Foi grande a con-corrência, orçada por perto de 3mil pessoas. À porta foram vendi-das 1.900 entradas, a 1$000 (umreal) cada. As crianças tinham en-trada grátis e houve também mui-ta gente que conseguiu se fazer decriança.”

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’

Cartão-postal. Vista do antigo Viaduto do Chá e do Teatro Municipal na década de 1920: inauguração da casa de espetáculos em 1911 registrou o primeiro congestionamento de SP

Paulista, ainda de terra. Em 1909, via foi a primeira a ser asfaltada na cidade, com material da Alemanha

Viaduto do Chá. Pedestres seguem em direção à Rua Direita no década de 1890: pedágio de três vinténs

VISITAS ILUSTRES

● Realeza: Em 1968, a rainha britânicaElizabeth II e seu marido, o príncipePhillip, participaram da inauguração doMasp na Avenida Paulista. No ano passa-do, foi a vez de o príncipe Harry vir à cida-de e circular até pela cracolândia.

● Papas: São Paulo recebeu dois su-mos pontífices da Igreja Católica: JoãoPaulo II em 1980 e Bento XVI em 2007.

● Pop stars: Ray Charles se apresen-tou em 1963 e 1995. O beatle PaulMcCartney já veio três vezes: em 1993,2010 e no ano passado. São Paulo tam-bém teve shows de Madonna, EltonJohn e Lady Gaga, entre outras estrelas.

‘Estado’ noticiou as grandesmudanças na cidade, dachegada da luz elétrica aoprimeiro congestionamento

REPRODUÇÃO

VIDA COTIDIANA

O primeiroprefeito.ConselheiroAntônioPrado

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Page 43: Estadão 140 anos - A história do jornal

Realiza-se em 26 de junho no Rio a passeata dos cem mil, encabeçada por estudantes, intelectuais e artistas.

Em maio, protestos estudantis se espalham por Paris e outras cidades do mundo.

Em 26 de maio, equipe chefiada por Euryclides de Jesus Zerbini realiza o primeiro transplante brasileiro de coração no Hospital das Clínicas de São Paulo.

Em abril, Martin Luther King, prêmio Nobel da paz e defensor dos direitos civis dos negros americanos, é assassinado nos Estados Unidos.

Julio de Mesquita Filho morre em 12 de julho. Julio de Mesquita Neto assume a direção do Estado e seu irmão, Ruy Mesquita, dirige a redação do Jornal da Tarde.

O Ato Institucional nº 14 prevê pena de morte e prisão perpétua em casos de “guerra revolucionária ou subversiva”.

Em jogo contra o Vasco em novembro, Pelé marca o milésimo gol da carreira cobrando pênalti.

Em 22 de novembro, o líder da Ação Libertadora Nacional (ALN) e ex-deputado Carlos Marighella é morto em SP.

O Masp se muda em 7 de novembro para a atual sede, um edifício projetado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi na Avenida Paulista. Famoso pelo vão livre de mais de 70 metros, o espaço se torna um cartão-postal da cidade.

Em julho, Neil Armstrong pisa pela primeira vez na Lua e resume o feito histórico na frase: “Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade”.

Estudantes de esquerda, da USP, e de direita, do Mackenzie, entram em confronto na Rua Maria Antônia em 2 de outubro. Dias depois, congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna, no interior de SP, termina com 720 presos.

Por causa do editorial Instituições em frangalhos, o Estado é impedido de circular em 13 de dezembro. No mesmo dia, o AI-5 decreta o fechamento do Congresso e dá poderes ao regime. A censura se intensifica.

Ao contrário de outros jornais brasileiros, o Estado não aceita se autocensurar. Censores se instalam na redação até 6/1/1969. A partir daí, a censura é feita a distância.

1969

%HermesFileInfo:H-43:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H43

Page 44: Estadão 140 anos - A história do jornal

Considerado o pai da rede mundial de computadores, Vincent Cerf cria o termo internet. Na época, existiam duas dúzias de junções de redes locais.

O Elevado Costa e Silva, conhecido popularmente como Minhocão, é aberto em janeiro.

Emerson Fittipaldi vence o campeonato mundial de Fórmula 1. Em 1974, seria bicampeão.

Em 24 de fevereiro, incêndio no Edifício Andraus, na Avenida São João, centro de São Paulo, mata 16 pessoas e fere 320.

O Estúdio Eldorado inicia suas atividades.

Em 17 de setembro, é morto na Bahia o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

Escola Politécnica constrói o primeiro computador brasileiro.

Estado e Jornal da Tarde se recusam a substituir matérias censuradas. Até 1974, o Estado publica versos de Os Lusíadas, de Camões, e o JT, receitas.

Brasil é tricampeão mundial de futebol no México.

Inaugurado o Parque do Anhembi.

Em 4 de janeiro, é criada a Agência Estado. No início, vendia notícias e imagens por telex e serviços de rádio e fotos por telefoto.

Inaugurado no Mosteiro da Luz o Museu de Arte Sacra de São Paulo.

1970 1971 1972

No ‘Feminino’,a mudançado papelda mulher

ROLANDO DE FREITAS/ESTADÃO

Mônica Manir ✽

Era 25 de dezem-b r o d e 1 9 5 3quando Capitu,p s e u d ô n i m omachadiano dajornalista Ma-ria do Carmo deAlmeida, anun-

ciava o lançamento do SuplementoFeminino. “Como as mulheres sem-pre se comprazem com mudançaspara melhor, não seremos adivi-nhas afirmando que nossas leitorasreceberão prazerosas este suple-mento, hoje lançado em substitui-ção à antiga página feminina a queelas sempre dedicaram carinho eatenção.”

Dezesseis páginas dominicais,em formato tabloide, ampliavam apágina com dicas de moda, culináriae trabalhos manuais que o jornal pu-blicava às sextas-feiras. O cadernoagora teria literatura infantil e umnoticiário de moda, perfumes e cos-méticos chegado diretamente de Pa-ris. Moldes e receitas de vestidos,assim como trabalhos de agulha, seavolumariam. Colaborações avul-sas atenderiam às necessidades damulher moderna, pois tratariam deeducação, puericultura, psicologia,etc. E a seção de grafologia respon-deria no fino do traço à curiosidadefeminina, que “gosta de conhecer os‘segredos’ revelados pela própria le-tra ou pela de... outrem”, avisava ma-liciosamente Capitu.

Antes de assumir o suplemento,ela já havia passado por outras reda-ções causando, no mínimo, estra-nheza. Mulher trabalhando em jor-nal era ave rara. Nem eram muitasno Feminino: afora Capitu, uma re-pórter, uma cronista social e umafotógrafa. Sob seu comando, o su-plemento deu “furos jornalísticos”,

como o lançamento dos sapatos arre-dondados, e reportagens maiores, en-tre elas A Mulher e o Trabalho. Em 1958Capitu deu lugar a Francisco Lima, nadireção até dezembro de 1959. De janei-ro a 22 de abril do ano seguinte ClycieMendes Carneiro assumiu a função.Repassou-a, no dia 23, a Maria CecíliaVieira de Carvalho Mesquita, que co-mandaria o time até o fim do Suplemen-to Feminino (SF), em 2011.

Ao lado da redatora-chefe Maria Lu-cia Fragata Helena, Maria Cecília fezmexidas paulatinas no produto, comoa extinção das colunas de restaurantese do roteiro cultural, já presentes emoutras páginas do Estado. Tambémdescartou as notas sociais e pescou nomercado editores especializados paraos setores que queria valorizar: moda,culinária, decoração, reportagem.

Dinah Bueno Pezzolo tinha no currí-culo um curso de alta-costura na Fran-ça quando procurou o SF oferecendoseus croquis. Logo foi contratada paracuidar do tripé moda-beleza-traba-lhos manuais. Contou com um recur-so valioso: o estúdio do suplemento.“Se podemos fazer fotografias de altaqualidade, por que comprar de fora?”,perguntava Maria Cecília. Mas Dinahtambém explorava ensaios externos. Aluz natural lhe trazia literalmente ou-tra atmosfera, e muito mais trabalhode produção. “Lembro uma matéria denoivas que fiz na Pinacoteca”, conta.“Fomos com um caminhão-baú, da-queles que entregavam os jornais, for-rado de cima a baixo com papel de bobi-na. A modelo se trocava ali dentro, to-dos preocupados em não sujar os vesti-dos, porque eu tinha de devolvê-los.”

A partir de 1995, Dinah passou a co-brir desfiles internacionais duas vezesporano, em marçoe setembro. Fotogra-fava ela mesma as tendências voltandocom 4 mil fotos por desfile, que usavaem edições especiais e pautas avulsas.As leitoras respondiam com fidelidade.“Elas confiavam muito no que passáva-mos, tanto que algumas me telefona-vam na redação antes de uma festa co-mentando o vestido que usariam e pe-dindo sugestões de acessório, comoprender o cabelo, se maquiar...”

Mais que telefonemas, o suplemen-

to recebia cartas aos borbotões. Eram30 a 40 por dia e em época de concursocaixas de correspondência se empilha-vam na redação. Alguns concursoseram dedicados a crianças e adolescen-tes, como o que propunha a jovensmontar maquetes da Assembleia Legis-lativa, então em construção. Sucessoestrondoso fez o de pano de prato usan-do saco alvejado, de 1983. Mais de 7 miltrabalhos concorreram na categoria.

Dulcília Buitoni, professora da Cás-

per Líbero e autora do livro Mulher dePapel (Summus), aponta como um dosmarcos do suplemento a interaçãocom o público. “Hoje as pessoas dãocurtidas, antigamente tinham de escre-ver a carta, levar ao correio, e esse tan-to de correspondência mostra comose sentiam estimuladas.” Também des-taca o papel de divulgador social do SF:“Ele atravessava diferentes classes”.

Mudanças. Na reformulação do ca-derno, em 1997, pesquisas mostravamque o suplemento era lido por 295 milmulheres entre 25 e 49 anos, nas faixasA, B e C. A repaginada buscava ampliarhorizontes da pauta, com seções queiam da culinária à economia, passandopor direitos da mulher e informática.“A mulher atual precisa de ideias e re-cursos para deixar organizado o am-biente familiar, mas também precisater acesso a mais informações paraatuar profissionalmente”, afirmou Ma-ria Cecília, falecida em setembro.

Novos colunistas foram chamados.Rosiska Darcy de Oliveira, na épocapresidente do Conselho dos Direitosda Mulher, ali encontrou um canal in-clusivo. “Sempre defendi muitíssimo acultura feminina, que passa sim pelaculinária, pela moda, e isso não temnada de discriminatório.” A autora deO Elogio da Diferença lembra que suascrônicas encontraram ressonâncianos homens, vide as várias cartas querecebeu do público masculino. E mui-

tos textos, escritos em 15 anos decolaboração, “alguns dos melhoresque já produzi”, ela reuniu em li-vros, que a levaram à cadeira 10 daAcademia Brasileira de Letras.

Já Nélida Piñon, primeira mulhera se tornar presidente da ABL, entre1996 e 1997, assinava a coluna Cáentre Nós. “O suplemento teve umafunção histórica por seu desempe-nho político”, afirma. “Muitas crôni-cas diziam para a mulher quem elaera e quem ela deixava de ser porcausa do papel tão modesto que asociedade lhe reservava.”

Se a filósofa Simone de Beauvoir,em entrevista ao SF em 1960, enten-dia que a mulher estava longe de dei-xar sua posição de inferioridade,“pelas contradições que restavamna própria mulher”, Nélida diz quetivemos a sabedoria de alterar a con-duta social sem perder a importân-cia do afeto: “A revolução feministafoi a grande revolução do século20”. A partir do afrouxamento dasfronteiras que proibiam a mulher deavançar pelo mundo, os cadernosvoltados a ela sofreram um arrefeci-mento na sua missão. “Mas o Suple-mento Feminino foi uma alavanca for-midável para que a mulher saísse deum caderno específico para o jornalinteiro”, arremata a imortal.

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’

SOCIEDADE

Ao vento. A editora de moda Dinah Pezzolo e o fotógrafo Hiroto Takada num ensaio em Santos, em 1972

Ousadia. Primeiras capas docaderno não traziam chamadas

Por 58 anos, em meio a dicasde moda, beleza e culinária,caderno acompanhouuma revolução no País

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Foto

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Uma parceria vitoriosaDesde sua criação, há 140

anos, O Estado de S. Paulo sempre foi um valioso defen-sor dos interesses da lavoura – como então se dizia –, com visão premonitória da importância que o agronegócio viria a assu-mir na vida do País.

Parceira deste valoroso balu-arte da imprensa brasileira em vários projetos, a FAESP, Fede-ração da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo, tem se mantido, ao longo dos anos, como atuante trincheira na defesa do produtor rural e da agropecuária nacional – desde o surgimento da sua precur-sora, a FARESP, Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo, criada para en-frentar a crise mundial do café em 1929.

Pela sintonia de objetivos e tendo como elo mais forte a meta comum de fortalecer o homem do campo e a própria

economia nacional, a interação entre a FAESP e O Estado de S. Paulo só tem se estreitado, le-vando ao produtor rural a infor-mação confi ável que o ajude na tomada de decisões.

Essa parceria com um jornal como o Estadão, unanimemen-te reconhecido por seus valores éticos e pela qualidade de seu jornalismo, muito nos envaide-ce. Mais do que isso, nos dá a convicção de que estamos tra-balhando e contribuindo para a conquista de um Brasil próspero e desenvolvido, missão em que o homem do campo tem papel fundamental.

Parabéns ao Estadão e a todos os seus leitores.

Fábio de Salles Meirelles Presidente da Federação da

Agricultura e Pecuária

do Estado de São

Paulo

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Em 14 de setembro, o metrô de São Paulo entra em operação. O trajeto de sete quilômetros liga as estações Jabaquara e Vila Mariana.

Os irmãos Cláudio e Orlando Villas-Boas completam a pacificação dos índios caiapós, no Pará.

Em 10 de maio, em protesto pela proibição de noticiar a demissão do ministro da Agricultura, Cirne Lima, o Estado troca a foto censurada pelo anúncio de um programa da Rádio Eldorado chamado Agora é samba.

Em 30 de abril, acaba a Guerra do Vietnã.

Em 4 de janeiro, quando o Estado comemorava o seu centenário de fundação, é suspensa a censura na redação.

Em 3 de setembro, em Copenhague, o jornalista Julio de Mesquita Neto recebe o prêmio Pena de Ouro para a Liberdade, atribuído pela Federação Internacional dos Editores de Jornais a quem se destaca na defesa da liberdade de imprensa.

Rachel de Queiroz é a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras.

Em junho de 1975, Brasil e Alemanha firmam acordo de US$ 10 bilhões de cooperação nuclear. Brasil entra na era atômica.

Metalúrgico Manuel Fiel Filho é morto em 17 de janeiro pela ditadura militar.

Em 12 de junho, a sede do Estado muda para a Avenida Engenheiro Caetano Álvares, no Limão, onde está até hoje.

João do Pulo bate recorde mundial de salto triplo nos Jogos Pan-Americanos.

Em 25 de outubro, o jornalista Wladimir Herzog é encontrado morto no DOI-Codi.

Fogo destrói 14 dos 25 andares do Joelma no dia 1º de fevereiro: 187 pessoas morrem intoxicadas, carbonizadas ou após saltarem das janelas; 300 ficam feridas.

1974 1975 1976 19771973

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Em fevereiro, incêndio provocado pelo rompimento de um oleoduto da Petrobrás destrói a favela Vila Socó. O vazamento do oleoduto começa numa sexta-feira. Sem reparo, explode na madrugada de domingo matando 70 pessoas.

Em abril, mais de 1 milhão de pessoas lotam a Praça da Sé no último comício pelas Diretas-Já nas eleições para presidente.

Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos é inaugurado em 20 de janeiro.

Vírus HIV é isolado pela primeira vez e apontado como o responsável pela aids.

Em 17 de outubro, é enviado ao Congresso Nacional projeto de lei que altera a Lei de Segurança Nacional, eliminando a pena de morte e prisão perpétua.

Promulgada em 28 de agosto a Lei da Anistia, que garantia, entre outros direitos, a volta dos exilados políticos ao País.

Em fevereiro, é descoberta grande jazida de ouro em Serra Pelada, o que atrai dezenas de milhares de garimpeiros ao sul do Pará.

Nelson Piquet conquista o primeiro título mundial na Fórmula 1. Repetiria o feito em 1983 e 1987.

Em 13 de maio, é criada a OESP Gráfica, que, entre outros serviços, fazia as listas telefônicas.

Papa João Paulo II chega ao Brasil em 30 de junho para visita. Em maio do ano seguinte, ele sobreviveria a um atentado.

O ex-Beatle John Lennon é assassinado na noite de 8 de dezembro na frente do Edifício Dakota, em Nova York, aos 40 anos.

Em 25 de julho, nasce na Inglaterra Louise Brown, primeira bebê de proveta, concebida por fertilização in vitro.

19801978 19841979 1981 1983

Em fevereiro, incêndio provocado pelo rompimento de um oleoduto da Petrobrás destrói a favela Vila Socó. O vazamento do oleoduto começa numa sexta-feira. Sem reparo, explode na madrugada de domingo matando 70pessoas

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Ubiratan Brasil ✽

Em 1954, duranteas comemora-ções do 4.º Cen-tenário de SãoPaulo, a direçãodo Estado, inte-ressada em fa-zer um número

festivo, pediu ao crítico AntonioCandido de Mello e Souza que indi-casse artistas para escrever uma sé-rie de artigos sobre a cidade. O queseria uma edição pontual se tornouembrião do Suplemento Literário, ca-derno que se transformou no marcodo jornalismo cultural brasileiro.

No ano seguinte, o Estado convi-dou o professor para editar o ca-derno de ideias que planejavacriar, suprindo a carência de umarevista nacional com especificida-des paulistas. “A Universidade deSão Paulo está ligada diretamenteao jornal O Estado de S. Paulo, por-

que seu idealizador foi o dr. Julio deMesquita Filho. Tudo isso indica queesse suplemento, sendo embora lite-rário, vai refletir um pouco o tom daintelligentsia paulista, que é um tomde estudo, de ensaio, de reflexão”,afirmou Candido à pesquisadora Ma-rilene Weinhardt, autora de uma te-se sobre o Suplemento Literário.

Candido fez os primeiros contatoscom colaboradores, mas não quis acei-tar a direção do caderno, sugerindo onome de Décio de Almeida Prado, aquem, com uma mistura de elegância ejustiça, gosta de dar todo o crédito pe-lo sucesso da empreitada intelectual.

Foi Almeida Prado, portanto, ao es-crever a Apresentação na primeira edi-ção, quem delineou os caminhos pre-tendidos por aqueles jovens críticos:“A nossa ambição mais alta é servir co-mo instrumento de pesquisa aos pro-fissionais da inteligência, exercendouma constante ação de presença e estí-mulo dentro da literatura e pensamen-to brasileiros. Essa é a nossa função deconceber um suplemento literário; es-sa é, acima de tudo, a nossa maneira deexprimir, no setor que nos coube, o es-pírito e a tradição do jornal que repre-sentamos”.

Em outras palavras, o crítico alerta-va os leitores de que o novo caderno

teria uma natureza literária, portanto,artística, e, como não entendia a exis-tência da arte sem plena liberdade deexpressão e criação pessoal, AlmeidaPrado garantia que o suplemento nãosofreria um rebaixamento do discursoque, de tempos em tempos, ameaça aintegridade do pensamento.

Assim, desde a primeira edição, im-pressa em outubro de 1956, até a últi-ma, que circulou em dezembro de1974, o Suplemento Literário firmou-secomo espaço privilegiado para debatede ideias, apresentação de novos auto-res e revisão dos consagrados. Para is-so, contava com as melhores cabeçasda época – além de Décio de AlmeidaPrado e Antonio Candido, o time exi-bia desde o crítico de cinema PauloEmílio Salles Gomes ao crítico de tea-tro Sábato Magaldi, passando por Lou-rival Gomes Machado e muitos outros.A maioria era oriunda da revista Clima,fundada em 1941 por Alfredo Mesquitae Gomes Machado e que reunia jovensde 20 anos com a pretensão de mudaro País recorrendo à reflexão intelec-tual e não ao deboche.

Os princípios lançados no primeironúmero do Suplemento Literário foramdeterminantes para a consolidação daimportância do caderno. Para isso, osredatores contaram com colaborado-

res imprescindíveis, como os críti-cos Anatol Rosenfeld, essencial nadifusão da literatura estrangeira, eLeyla Perrone-Moisés, que publi-cou nas páginas do suplemento osprimeiros textos sobre a vanguardaliterária francesa (Robbe-Grillet,por exemplo).

Quando a maioria ainda desco-nhecia os preceitos do nouveau ro-man, o suplemento comandado porDécio já preparava o caminho paraos novos escritores franceses, discu-tia filosofia e literatura alemã comRosenfeld e dedicava páginas intei-ras a cineastas praticamente ignora-dos pelos jornais. Havia uma predis-posição pela aposta no novo, no des-conhecido, na busca pela ousadiaque poderia modificar a arte. Paraisso, o erro não importava, pois Dé-cio e seus colegas queriam fomen-tar no leitor seu espírito crítico, nãoaceitando passivamente, mas inter-ferindo no processo de criação.

A equipe criativa do Suplemento sa-bia que não há obra sem consciênciada linguagem ou das linguagens queela usará.E tal preocupação era nota-da tanto no texto como na diagrama-ção de cada edição. O visual de cadapágina era limpo e, apesar do neces-sário privilégio do texto, observava-se um equilíbrio e uma leveza nacombinação de fotos e desenhos. As-sim, além de destacar talentos entreescritores, o Suplemento abria espa-ço também para jovens artistas quelogo se consagrariam, como ReninaKatz, Flávio de Carvalho, Lívio Abra-mo, Antonio Bandeira, Maria Bono-mi, Mira Schendel, etc.

Aguardado semanalmente pelosleitores, o Suplemento Literário ga-nhou um prestígio crescente e seusexemplares eram encadernados pe-los mais fanáticos ao final de cadaano – na última edição do ano, erapublicado um índice contendo o ma-terial divulgado no período, com oobjetivo de facilitar a consulta aospesquisadores. O volume traziauma aula de cultura e de jornalismo.

É EDITOR DO CADERNO2

Caderno, que circulou entre1956 e 1974, firmou-se comoo principal divulgador deideias da imprensa nacional

Aula de jornalismo eerudição, a herança do‘Suplemento Literário’

‘Sem Título’.Xilogravurade MarceloGrassmann

A estreia do Chico Buarqueescritor e a briga de Lobato

Ideogramas.Nanquim deFlávio ShiroTanaka

Nanquim. Ilustração SemTítulo feita por Lívio Abramo

Na literatura.Chico Buarque– em caricaturade Carlinhos –estreou com oconto ‘Ulisses’em 1966

Caricatura.Vinicius de Moraesretratado por Baptistãoem especial de 2013

CULTURAPrimeiro grupo.No nascimentodo ‘SuplementoLiterário’, estavamJulio de Mesquita,Sábato Magaldi,Alberto Soares deAlmeida, LourivalGomes Machado,Antonio Candido,Décio de AlmeidaPrado e Paulo EmílioSalles Gomes

As páginas do Estado abri-gam, desde sua fundação,não apenas notícias, mastambém textos críticos e fic-

cionais assinados por autores que, se jánão eram consagrados, logo se torna-riam. É o caso, por exemplo, do jovemChico Buarque, que estreou como escri-tor com o conto Ulisses, publicado em 30dejulhode1966,noSuplementoLiterário.

O caderno, aliás, abria espaço paracontos de Lygia Fagundes Telles, Dal-ton Trevisan e João Antonio; poemasde Carlos Drummond de Andrade, Ma-

nuel Bandeira e João Cabral. Outrasáreas também foram contempladas –com apenas 18 anos, o futuro cineastaRogério Sganzerla escreveu sobre Oitoe Meio, clássico de Federico Fellini; já oeconomista Paul Singer, 27, resenhouFormação do Brasil Econômico, de Cel-so Furtado; e o maestro Julio Meda-glia, 28, foi responsável por um núme-ro sobre Bossa Nova. Não bastasse is-so, o grupo concretista foi convidado adefender sua vanguarda nas páginasdo caderno e seguiu colaborando.

A história das artes plásticas brasilei-

ras, aliás, guarda um importante fato,um marco histórico, iniciado nas pági-nas do jornal. Na edição de 20 de de-zembro de 1917, o Estado publicouuma ácida crítica de Monteiro Lobato,intitulada A Propósito da Exposição Mal-fatti (Paranoia ou Mistificação?), sobreuma mostra do trabalho da jovem pin-tora Anita Malfatti, aberta dias antes,no centro de São Paulo. Lobato trataMalfatti com certa comiseração – suaintenção, na verdade, era atacar o inci-piente movimento de vanguarda.

Naquele artigo de 1917, o escritor(ironicamente descrito pelo colega deletras Menotti Del Picchia como “umgrande contista com fama de mau pin-tor”) reuniria fragmentos de críticasque fizera antes e escreveria texto inci-sivo, em que detalhava sua decisão de

combater a arte que se queria fazer noBrasil. “Estas considerações são provo-cadas pela exposição da sra. Malfatti”,explicava.

Notexto,Lobatorevela-senacionalis-ta e se põe em combate contra o quejulgava não passar de arte importada.Apesar da acidez, ele aliviou os golpesnotrabalho de Malfatti. Mesmo assim, areação de jovens intelectuais (lideradospor Oswald de Andrade) contra Lobatofoi ruidosa a ponto de, a partir de suaunião, surgir a semente do movimentoque originou a Semana de Arte de 1922.

Nosanosseguintes,comamoderniza-çãodaimprensa,oEstado passouaabri-garmais escritoresemsuaspáginas.No-mescomo CarlosDrummonddeAndra-de e Sérgio Buarque de Holanda figura-ram entre os fiéis colaboradores.

Com o nascimento do Caderno2, em abril de 1986, o jornal reafir-mou a missão levantada pelo Su-plemento Literário de abrigar no-mes que surgiam. É o caso deCaio Fernando Abreu e AntonioBivar. E as polêmicas ficaram ain-da mais incendiárias com a chega-da de Paulo Francis e seu Diárioda Corte.

O caderno coleciona entrevistasexclusivas com artistas de todas asáreas, tornando-se referência naimprensa nacional. E hoje mantémescritores consagrados assinandocrônicas, como Milton Hatoum,Luis Fernando Verissimo, Ignáciode Loyola Brandão, Marcelo Ru-bens Paiva, Sergio Augusto e Hum-berto Werneck. / UBIRATAN BRASIL

Equilíbrio.Desenho deFlávio deCarvalhopublicado no‘SuplementoLiterário’

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ADMIRAÇÃOCORAÇÃOEMOÇÃO

INFORMAÇÃOISENÇÃOOPINIÃO

TRADIÇÃO

HOJE, TODAS AS NOSSAS

PALAVRAS PARA PARABENIZAR O ESTADÃO

TERMINAM COM “ÃO”.

HOMENAGEM DA

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‘Estado’ cobrefutebol desdeo século 19

‘O esporte levado asério.’ Mais do que umslogan, uma vocação

ALAOR FILHO/ESTADÃO DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO

DOMÍCIO PINHEIRO/ESTADÃO

JONNE RORIZ

Antero Greco ✽

Desde que asprimeirasbo-las de capo-tão começa-ram a rolarpor campi-nhosbrasilei-ros, na parte

final doséculo 19,o futebol teve espa-ço nas páginas do Estado. À medidaque se tornava popular, o foot-ball,ou esporte bretão, conquistou cadei-ra cativa no jornal. O campeonatolocal e as atividades dos clubes pau-listas, sobretudo, mereceram regis-tros crescentes e metódicos, numatradição que se mantém até hoje.Tentemexer nessa paixão pra ver co-mo os leitores chiam... e com razão.

A seleção também esteve em pri-meiro plano já na origem. Há regis-tros de todos os jogos da amarelinha– que nem sempre usou essa cor –, acomeçar da estreia, em 21 de julho de1914, nas Laranjeiras. Na edição dodia seguinte, na página 9, na seção de“Sports” e logo abaixo das notíciasde Turf, vem o relato dos 2 a 0 dotime nacional sobre os profissionaisdo inglês Exeter, em excursão peloPaís. Para tanto, “o concurso dospaulistas concorre para a victoria”.A referência era a Lagreca, RubensSalles(o capitão), Friedenreich, For-miga, que defendiam equipes de cá ese juntaram aos colegas do Rio.

O cuidado com a seleção dura, por-tanto, mais de um século. O Estadocobriutodos os Mundiais, Sul-Ameri-canos, Copas América e outros tor-neiosemqueestivesseaseleçãobrasi-leira principal. Nos dois primeiros tí-tulos da antiga Jules Rimet, o jornalainda era discreto e não trazia a notí-cia na capa. Com uma ressalva: no do-mingo, 29 de junho de 1958, avisavaaos leitores que rodaria edição extraseoBrasilbatesseaSuécia. Ocadernoteria “a campanha do conjunto brasi-leiro, relato do jogo final, dados técni-cos e amplo serviço fotográfico.” Dito

e feito: depois dos 5 a 2, na tarde de do-mingoiaàs bancasosuplementofestivo.Osucessofoitãograndequevirouencar-te na terça-feira (não circulava às segun-das). O bi, em 1962, foi relatado nas pági-nas internas, também na terça-feira.

Dali em diante, Copa foi assunto deprimeira página e a cobertura contoucomequipesrobustas deenviados espe-ciais. Em 20 de julho de 1966, na capavinha com destaque a derrota para Por-tugal (3 a 1), com a eliminação no Mun-dial da Inglaterra. O tri, em 70 (“A Copachega às 11”), a queda diante da Itáliaem 1982 (“Brasil, fim de um sonho”), otetra em 94 foi manchete (“Brasil é te-tracampeão”), o penta em 2002 tevetratamento exuberante, com foto enor-me de Cafu com a taça (“O maior cam-peão do mundo”, fora outra edição ex-tra). Os 7 a 1 para a Alemanha em 2014...

Aseleção foi moteparaeditorial, maisdeumavez.Em1992,eraeditordeEspor-tes e no meio da tarde de uma terça defevereiro fui chamado à sala do dr. JulioMesquita Neto. Pensei: “Sobrou pramim”.Alarmefalso.OBrasiljogariacon-tra o Uruguai, em Montevidéu, e o chefeda delegação era notório bicheiro e pre-sidente de clube carioca. O diretor doEstado só queria saber se a informa-ção procedia. Ao ouvir o “sim”, agrade-ceu e disse que mandaria fazer “nota” arespeito.Nãoperdoou odeslizeda CBF.

CBF que, anos antes, levara em consi-deração tendência detectada pelo jor-nal. Numa das versões iniciais da hojetradicionalpesquisa com jornalistas so-bre os melhores do ano no esporte, Te-lê Santana havia sido escolhido comotreinador mais eficiente. Na época,transformara a forma de o Palmeirasjogar, ao optar por estilo atrevido, mo-derno, mesmo sem astros. O auge veiocom goleada de 4 a 1 sobre o Flamengo,no Maracanã, no Brasileiro. Aquele ti-me caiu diante do Inter na final.

OresultadodaenquetedoEstado des-pertou o interesse de Giulite Coutinhopor Telê. O dirigente, empossado haviapouconaConfederaçãoBrasileiradeFu-tebol, substituta da finada CBD, viu noMestre mineiro o perfil ideal para resga-tar a seleção. E, em entrevistas, admitiuqueseinfluenciarapelasondagempopu-lar. Telê e rapazes proporcionaram ale-gria, até toparem com a Itália em Vigo.

É COLUNISTA DO ‘ESTADO’

Todas as Copas tiveramespaço no jornal, assimcomo o Brasileiro e outroscampeonatos importantes

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Dribles. No alto, com a camisa 10 do Santos, Pelédomina a bola no Mundial de Clubes de 1962; aolado, Cafu levanta taça da Copa de 2002; acima,Mirandinha quebra a perna em dividida em 1974

Flagrantes.À esq. MaurrenMaggi saltapara conquistaro ouro naOlimpíada dePequim, em2008; ao lado,Ayrton Sennacomemoravitória no GPBrasil em 1993e Bernardinho,técnico de vôlei,desespera-sedurante jogoem 2008

Nas décadas de 1960 e1970, o Estado tinhaum slogan: “O esportelevado a sério”. Mais do

que frase de efeito, era profissão defé. Desde o surgimento, o jornal te-ve vocação para acompanhar mani-festações esportivas nacionais ounas quais houvesse brasileiros.

No início, e por mais de um sécu-lo, o turfe teve presença marcante,com acompanhamento diário dasprovas nos prados de São Paulo eRio, principalmente. Aos cavali-nhos se juntaram, em seguida, tênis,basquete, futebol, remo, vôlei, esgri-ma e uma série de modalidades. Oxadrez marcou época com coluna

bissemanal, na qual, além de noticiário,havia jogadas a ser resolvidas. Pan-Americanos, Jogos Olímpicose Univer-sitários, Jogos Abertos do Interior, Ma-cabíadas, Mac-Med (desafio entre alu-nos da Engenharia do Mackenzie e daMedicina da USP) enriqueceram o car-dápio oferecido aos leitores.

O cuidado com a linguagem justifica-va o lema. Um texto da seção de Espor-tes deveria ter elegância, precisão e cla-reza idênticas às de setores nobres dojornal, como Política, Economia e In-ternacional. Nos primeiros decêniosdo século 20, grafava-se goal, o popula-ríssimo gol de hoje em dia. Com o tem-po, houve virada para “ponto”, que va-rou algumas gerações.

Portanto, os quadros (não os timesnem equipes) oponentes consignavampontos durante as pelejas que galharda-mente disputavam. As bolas eram atira-das em direção ao arco, guarnecidospor goalkeepers garbosos. Iam a está-dios e ginásios aficionados (não torce-dores), que se regalavam com as reu-niões esportivas.

O Estado também se referia ao qua-dro de cestobol, sempre que se referiaa equipe de basquete. Com garbo, noti-ciou o recorde olímpico e mundial nosalto triplo, obtido por Adhemar Fer-reira da Silva, na Olimpíada de Helsin-que, em 1952. O feito foi registrado narubrica “Vida Esportiva”, nas páginasinternas, em 27 de julho daquele ano. Afoto do salto brilhante chegou tarde àredação, porque o avião que a traziaatrasou e pousou fora de São Paulo.Com isso, só pegou parte da edição. Co-mo a proeza era histórica, repetiu-se afoto do “atleta ímpar” no dia seguinte,deferência também para o público.

Os apreciadores de atletismo acom-panharam os saltos de João do Pulo,que no Pan do México, em 1975, estabe-leceu a marca incrível de 17m89 no tri-

plo. E o ouro olímpico de Joaquim Cruznos 800m em LosAngeles/1984. Ou ain-da a conquista de Maurren Maggi nosalto em Pequim.

O Estado apostou no talento de atle-tas e contribuiu para o sucesso deles.Maria Esther Bueno, a maior tenistabrasileira de todos os tempos, tricam-peã em Wimbledon (1959, 1960, 1964),tetra do US Open (1959, 1963, 1964,1966), teve excursões patrocinadas pe-lo jornal. A trajetória de Gustavo Kuer-ten, o fenômeno do tênis masculino,tricampeão de Roland Garros (1997,2000, 2001), foi seguida de perto, comcoberturas in loco.

Da F-1 ao vôlei. O automobilismotambém mereceu olhar diferenciado.A tradição de cobrir GPs de Fórmula 1vem dos anos 1950, com as vitórias doargentino Juan Manoel Fangio e a pre-sença do brasileiro Chico Landi. Ex-pandiu-se nos anos 1970, com os títu-los de Emerson Fittipaldi (1972 e1974). Enviados especiais cobriram osfeitos dos tricampeões Nelson Piquet(1981, 1983, 1987) e Ayrton Senna(1988, 1990, 1991), cuja morte, em 1.º

de maio de 1994, foi manchete.As lutas épicas de Éder Jofre, o Ga-

linho de Ouro, na fervilhante déca-da de 1960, foram narradas em deta-lhes, como tantas noitadas de boxeno Ibirapuera ou no Ginásio BabyBarioni. As cestas certeiras de Vla-mir Marques, Amaury e outros mági-cos bicampeões mundiais de bas-quete, em 1959 e 1963, estão nas pági-nas do Estado. Assim como o ouromasculino no Pan de Indianápolis,em 1987, com vitória na final sobreos Estados Unidos. Ou as diabrurasde Hortência e Paula, no Pan de Ha-vana, em 1991, com vitória sobreCuba na decisão do primeiro lugar.

O jornal viu crescer ovôlei e acom-panhou seleções brasileiras em Jo-gosOlímpicos–com gerações formi-dáveis de craques e técnicos vence-dorescomo Bernardinho (ouromas-culino em 1994) e José Roberto Gui-marães (ouro masculino em 1982 eouro feminino em 2008 e 2012). Fa-tos tão expressivos quanto os ourosde Torben Grael e Robert Scheidt navela. O Estado leva o esporte a sério./ ANTERO GRECO

ESPORTES

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ÃO

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Page 57: Estadão 140 anos - A história do jornal

Em 6 de abril, é lançado o Caderno 2, com 16 páginas sobre artes, variedades, cultura, lazer e comportamento. Com projeto gráfico ousado e equipe de jornalistas e ilustradores de renome, foi o maior sucesso publicitário em um lançamento e teve tiragem de 576 mil exemplares.

Restos do navio Titanic são encontrados por expedições americanas e francesas.

Nova Constituição é promulgada, resguardando direitos e garantias individuais.

Em 8 de novembro, circula o primeiro número do suplemento semanal infantil Estadinho.

No fim de fevereiro, o presidente José Sarney anuncia em rede nacional a adoção de uma nova moeda, o Cruzado (Cz$), o congelamento de preços e salários e o fim da correção monetária. Também convoca os brasileiros a serem “fiscais” de preços.

Manifestações em Pequim são violentamente reprimidas. Na Praça da Paz Celestial, um homem impede a passagem de tanques.

Eleito presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello anuncia em fevereiro pacote com bloqueio de cadernetas de poupança e contas correntes por 18 meses e congelamento de preços e salários. Moeda volta a se chamar Cruzeiro (Cr$).

No pior acidente nuclear da história, explosão destrói reator da usina de Chernobyl. Nuvem radioativa atinge a Europa Oriental, União Soviética e Escandinávia.

Em 14 de março, a um dia da posse, o presidente eleito Tancredo Neves é operado às pressas. Temendo que militares linha-dura impedissem a posse de seu vice, José Sarney, ele manteve sigilo sobre a doença durante a campanha. Morreria uma semana depois, em 21 de março.

Catorze anos depois do início da construção, começa a funcionar comercialmente Angra I, primeira usina nuclear brasileira, na Praia de Itaorna, no Rio de Janeiro.

Terremoto de 8,1 graus na escala Richter destrói um terço dos edifícios da Cidade do México e mata 12 mil pessoas.

Em novembro, alemães começam a derrubar o Muro de Berlim, símbolo da Guerra Fria. Guardas não conseguem barrar a multidão entre os lados oriental e ocidental.

Herói da luta contra o apartheid na África do Sul, Nelson Mandela é libertado depois de 27 anos e meio de prisão.

1985 1986 1989 19901987 1988

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Page 58: Estadão 140 anos - A história do jornal

Atuandonomercado imobiliáriohámaisde30anos,Tamboréparabenizao jornalOEstadode S.Paulopelos 140 anos, celebrando esta brilhante parceria, que resultou no fortalecimento de nossamarca, bemcomona consolidação do

mercado imobiliário nacional, e,mais do que isso, na realização dos sonhos demilhares de pessoas.

Omundo mudou nos últimos 140 anos.Porém, algumas coisas, como a buscapelo conhecimento, a paixão pelo futuroe a crença de que os grandes sonhossempre podem se tornar realidade,

permanecem iguais.

Foto ilustrativa

%HermesFileInfo:H-54:20150118:H54 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 59: Estadão 140 anos - A história do jornal

1997

Plano Real estabiliza a economia. Ministro de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso é eleito presidente da República.

Seleção masculina de vôlei conquista medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona. Seria o primeiro de uma série de títulos importantes da modalidade, incluindo três campeonatos mundiais, nove Ligas Mundiais e outra medalha de ouro na Olimpíada de Atenas de 2004.

Em dezembro, projeto-piloto da Embratel passa a permitir acesso comercial à internet – inicialmente por linhas discadas. Em seguida, o Estadão criaria sua primeira homepage.

Em julho, a seleção brasileira de futebol vence a Itália por 3 a 2 nos pênaltis, quebra jejum de 24 anos e conquista o tetracampeonato mundial na Copa de 1994, nos EUA.

Em 1º de maio, o tricampeão de Fórmula 1 e ídolo nacional Ayrton Senna morre durante corrida na Itália. A morte comove o mundo.

Em 29 de outubro, o Suplemento de Turismo passa a se chamar Viagem, com mais fotos, seções e reportagens de serviço.

Em 28 de outubro, o Estado é editado pela primeira vez totalmente em cores e volta a circular às segundas-feiras.

Inaugurado no Rio o serviço de telefonia celular.

Em dezembro, Rússia, Ucrânia e Bielorrússia declaram independência e União Soviética é extinta.

Grupo Estado adquire oficialmente o Broadcast em 6 de janeiro. Sistema mais ágil passa a entregar informações diretamente no terminal dos executivos.

Em setembro, após denúncias de corrupção e mobilizações dos caras-pintadas, Fernando Collor de Mello é afastado da Presidência pelo Congresso. Dias depois, renuncia para evitar impeachment.

O logotipo do Estado passa a ser azul. A cor foi escolhida por 85% dos leitores ouvidos numa pesquisa.

1992 1993 19941992 Assinado em

Lisboa o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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Page 60: Estadão 140 anos - A história do jornal

Da Proclamação da Repúblicaao 11 de Setembro, da chegadado homem à Lua aos protestos de2013, das guerras mundiais às Copas:tudo o que aconteceu de importantefoi destaque no ‘Estado’ aolongo das últimas 14 décadas

Capas resumem fatos quemoldaram o País e o mundo

Congelamento. PlanoCruzado proíbe aumento depreços em 1986 e convocaconsumidor a ser fiscal

Sob ataque. Na revoluçãotenentista de 1924,paulistanos sofrem combombardeios aéreos

Luto. Morte do diretor JulioMesquita em 1927 marca ofim da primeira fase demodernização do jornal

Estabilidade. Plano Real élançado por Itamar Francoem 1994 com a moedanacional valendo um dólar

Nas ruas. Aumento dastarifas do transporte públicoem 2013 desencadeou ondade protestos pelo País

Quarto centenário. Nos400 anos de São Paulo,em 1954, a maior festa járealizada na cidade

Terror. Aviões são lançadoscontra símbolo de NovaYork e chocam o mundoem 11 de setembro de 2001

Campeão. Edição extrachegou às ruas logo após oBrasil conquistar a primeiraCopa do Mundo, em 1958

PRIMEIRA PÁGINA

1ª Guerra. Inglaterradeclara guerra à Alemanhae conflito de paíseseuropeus se torna mundial

Tragédia. Dirigível alemãoHindenburg explode emNova York, matando cercade 50 pessoas

Renúncia. Escândalo doWatergate derruba opresidente americanoRichard Nixon em 1974

Brasília. Na inauguração dacapital, em 1960, capa traza primeira foto transmitidapor telefone no País

Constituinte. Após 341plenárias e 1.021 votações,País voltou a ter regrasdemocráticas em 1988

Tetra. Após 24 anos dejejum, seleção brasileiravolta a ganhar uma Copa doMundo em 1994

Vietnã. Após 20 anos deconflito, Estados Unidos seretiram de país do SudesteAsiático e guerra acaba

Impeachment. Brasil vêseu primeiro presidenteeleito após a ditadura cairpor corrupção em 1992

Conquista. Astronautasamericanos se tornam osprimeiros homens a pisar naLua em julho de 1969

Julgamento. Nazistas sãocondenados à morte e àprisão perpétua por crimesde guerra em 1946

Revolução de 1932. Movimento que começoucom otimismo terminou com derrota paulista

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Page 61: Estadão 140 anos - A história do jornal

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Page 62: Estadão 140 anos - A história do jornal

Rodrigo Burgarelli ✽

Foram 3 bilhõesde palavras em2,1milhõesde pá-ginas para con-tar a história doBrasil e do mun-do de 1875 atého-je. O Estadão

Dados fez uma varredura nas edi-ções do jornal das últimas 14 déca-das para descobrir as palavras maisusadas em cada período. O resulta-do revela a mudança nas preocupa-ções de homens e mulheres desde oséculo 19 e a evolução do próprioconceito de notícia.

Na década de fundação do jornal,as notícias se equilibravam entre osinteresses público e privado. Nãopor acaso “casa” está entre as dezpalavras mais publicadas de 1875 a1880 – o ranking desconsidera pala-vras conectivas sem significado se-mântico para esse tipo de análise,como artigos e preposições. Foram20 mil menções, o equivalente a qua-se três por página. A Província deSão Paulo tinha forte identidaderegional e as cidades paulistas aindaeram pouco mais que vilas, nasquais os endereços de uns e outroseram conhecidos por quase todos.

Em 17 de junho de 1879, uma notí-cia começa assim: “Anteontem, às10 da noite, alguns sócios do clubeGymnástico Portuguez notaramque em uma casa de miserável apa-rência e que fica fronteira ao edifíciodo clube, à rua do Imperador, dava-sealgumacoisa dedesusado,poisou-viam-se música e ruídos estranhos”.Já nos anos 1870 havia quem recla-masse do barulho dos vizinhos. A di-ferença é que naquela época cada re-clamação era digna de nota.

Mudanças em expressões co-muns se destacam. Um exemplo é apalavra “corrente”. Foi uma das 15

mais usadas na década de 1880 porqueera costume dizer “8 do corrente”, porexemplo, para se referir ao oitavo diado mês. Também era utilizada paraacompanhar ano.

O desenvolvimento econômico pe-lo qual passou o País nos últimos anosdo Império deixou sua marca na déca-da de 1890. Histórias provincianas per-deram espaço para assuntos econômi-cos e várias empresas começaram aanunciar seus produtos e a publicaratas de reuniões no jornal. A palavra“companhia” aparece em destaque en-tre as mais mencionadas.

Nem sempre, porém, os temas maislembrados nos livros de história apare-ceram com frequência – República, porexemplo, foi apenas a 85.ª palavra maiscitada pelo Estado nessa década, ape-sar de a proclamação ter sido em 1889.

Com o aumento vertiginoso da pro-dução e exportação de café, vários ter-mos relativos ao tema ganharam desta-que. Saccas, na época grafada com du-plo “c”, está entre as dez mais escritasdos anos 1910, assim como Santos, ci-dade por onde a maior parte da produ-ção era exportada. É também a décadaque a palavra “telefone” aparece entreas principais pela primeira vez.

Os dez anos seguintes são marcadospelo uso do termo “vapor” para se refe-rir aos navios estrangeiros que atraca-vam no porto santista. Com o cresci-mento das exportações e importações,ela chegou a dispensar acompanha-mento – dizia-se apenas “o vapor in-glez”, por exemplo, para designar umnavio britânico. Em 1920, a ascensãode “nacional” entre as 25 palavras maisfrequentes simboliza a transição do al-cance do jornal, que diminuía paulati-namente seu caráter regional e se tor-nava referência na cobertura dos gran-des temas do Brasil.

Essa mudança se consolidou no de-correr do século. A crise de 1929, quemarcou a diminuição da dependênciada economia brasileira em relação aocafé, teve efeito parecido nas páginasdo jornal – o tema quase não apareceentre as palavras mais repetidas dosanos 1930. O fortalecimento do papeldo Estado na Era Vargas enfatizou te-mas políticos. “Presidente” e “gover-no” passaram a figurar entre as dez

mais citadas.A tendência continuou na década

seguinte, mas a agenda internacio-nal passou a dominar o noticiáriocom a extensa cobertura sobre a 2.ªGuerra, principalmente entre 1940 e1945 – período em que o Estado este-ve sob intervenção da ditadura Var-gas. Nas páginas do jornal, isso ficaclaro na repetição de termos como“guerra”, “forças” e “alemães”. A vol-ta à democracia em 1946 é simboliza-da por uma mudança entre as pala-vras mais citadas: “interventor”, quedesignava os governadores nomea-dos pelo presidente, dá espaço a ter-mos como “assembleia” – referênciaà constituinte de 1946.

Daí em diante, “governo” e “presi-dente” nunca deixaram o topo da listadas palavras mais escritas no Estado,

seguidas de perto por termos que resu-mem acontecimentos importantes decada época. Um exemplo é a alta fre-quência da palavra “capital” nos anos1950, turbinada pelos debates sobre aconstrução de Brasília.

‘General’. Nos anos 1960, o golpe mi-litar levou o noticiário político a domi-nar grande número de páginas. Entreos termos mais citados, aparecem “ge-neral” e “ato”, referência aos 17 atosinstitucionais que criaram a base jurídi-ca para o aprofundamento da ditadurano País.

Na década de 1970, o “milagre econô-mico” multiplicou o uso de palavrascomo “desenvolvimento”, “empresa”e “indústria”, que pela primeira vezaparecia entre as 100 mais citadas.Mas, a partir dessa década, um fenôme-

no interessante surge na análise tex-tual, decorrente do aumento do nú-mero médio de páginas por edição –que passou de 30 em 1950 para maisde 100 na década de 1980. Mais pági-nas significam mais temas aborda-dos, o que aumenta a dispersão daspalavras usadas e diminui a ocorrên-cia de termos historicamente rele-vantes entre os mais citados.

Isso não impediu que, durante ahiperinflação dos anos 1990, a pala-vra “preço” figurasse entre as maisrepetidas. As novas tecnologias tam-bém deixaram sua marca. “Fax”,por exemplo, foi um dos termosmais citados nessa década. Nosanos 2000, é a expressão “www”que chama a atenção – foram maisde 200 mil menções na década, maisque o dobro do que teve o nome doex-presidente Lula, por exemplo.Uma explicação para isso está nosclassificados, que nos anos 2010também alçaram para o topo pala-vras como “shopping”, “dorms”(dormitórios), “vgs” (vagas) e ou-tros termos típicos do boom imobi-liário que transformou as grandescidades brasileiras.

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’

Análise textual mostra comofatos históricos e interessescotidianos mudaramos termos de cada época

● Para fazer esta análise, o EstadãoDados usou toda a base textual depalavras publicadas pelo jornal desdesua fundação compilada pelo AcervoEstadão. Todos os textos antes de1994 foram digitalizados com umsoftware de Reconhecimento Ótico deCaracteres (ou OCR, na sigla eminglês), que leu os microfilmes ejornais antigos e identificou as palavrasescritas. No total, são mais de 21gigabytes de simples arquivos de texto,

que foram tratados para retirarerros de leitura e pontuação, além depalavras com menos de trêscaracteres.

Depois, eles foram separados pordécadas e os termos mais comuns,contabilizados por um algoritmo deanálise textual. O resultado aindapassou por uma análise qualitativaposterior, que exclui dos termos maiscitados palavras que não trazem muitainformação sobre cada período. Aspalavras “Estado” e “Paulo”, porexemplo, sempre estão entre as maiscitadas de cada década e por issoforam retiradas, pois se referem tantoao nome do jornal quanto ao da cidadee do Estado onde ele é publicado. / R.B.

14 décadasde históriapelas palavrasdo jornal

Análise rastreoumais de 21 gigabytesde arquivos de texto

www.estadao.com.br/acervo

LINGUAGEM

Em um clique, 140 anos

De 1875 a 2015. Os termos quemais apareceram no jornalnesses 140 anos: quanto maior otamanho, mais ele foi utilizado

Primeira década. Ainda naépoca da Província, casa ecorrente eram algumas daspalavras mais publicadas

Leia todas as edições desde 1875

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Page 63: Estadão 140 anos - A história do jornal

É por aqui que a gente

chega lá.

O TRABALHO DELE É NOTICIAR O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL. O NOSSO É FAZER ACONTECER.

Há mais de 15 anos, a CCR ajuda o Brasil a crescer e a desenvolver sua infraestrutura, seja pelo ar, mar, estradas ou metrô. E, hoje, quem sempre trabalhou para fazer você chegar lá não poderia deixar de homenagear quem trabalha para que você chegue lá bem informado.

www.ccr.com.br

UMA HOMENAGEM DA CCR AOS 140 ANOS DO JORNAL O ESTADO DE S. PAULO.

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Page 64: Estadão 140 anos - A história do jornal

Inaugurado o Túnel Ayrton Senna.

Em agosto, acidente de carro na França mata a princesa Diana e seu namorado, Dodi Fayed.

Após emenda constitucional liberar reeleição, Fernando Henrique Cardoso se torna o primeiro presidente demo-craticamente eleito a exercer um segundo mandato consecutivo.

Terremoto de 7,3 graus na escala Richter mata cerca de 6,5 mil pessoas na cidade de Kobe, no Japão.

Avião Fokker 100 da TAM explode no solo, a dois quilômetros do Aeroporto de Congonhas, destruindo casas e carros e provocando incêndios. Os 90 passageiros e 6 tripulantes do voo 402, com destino ao Rio de Janeiro, morrem na hora.

Em 5 de junho de 1996, morria Julio de Mesquita Neto, então diretor responsável de O Estado de S. Paulo. Ruy Mesquita assume o cargo de diretor.

Em 29 de setembro, é inaugurada na Marginal do Tietê a Ponte Julio de Mesquita Neto.

O milênio começa sem o temido bug dos computadores.

Em 28 de maio, é lançado oficialmente o portal estadão.com.br, reunindo todo o conteúdo produzido pelo Grupo Estado.

Em 7 de fevereiro, é criada a OESP Mídia S.A., nova editora de listas telefônicas criada pela OESP Gráfica S.A. em parceria com a Bellsouth Advertising & Publishing Corporation.

Estação Espacial Internacional (ISS) recebe seus primeiros moradores: dois russos e um americano.

Cientistas anunciam na Escócia nascimento da ovelha Dolly, o primeiro animal clonado a partir de célula adulta de outro animal.

Em outubro, a última missa celebrada pelo papa João Paulo II no Brasil reúne 2 milhões de pessoas no Rio.

1995 1996 1997 1998 1999 2000

O DUPLO OLHAR DE UM CORRESPONDENTEARQUIVO PESSOAL

OEstado de S. Pau-lo está completan-do 140 anos. Soumuito mais jovem.Escrevi meu primei-ro artigo para o jor-nal em março de1951. Ou seja, acom-

panhei esse “monumento” do jornalismoque é o Estadão durante quase a metade deseu percurso. Nesses 64 anos, não folguei:escrevi aproximadamente 57.600 páginasde 1.500 caracteres, de modo que minhaobra é bem mais vasta que as de Balzac, Char-les Dickens e Jorge Amado juntas, coitados!

Perguntam-me por qual milagre um jovemfrancês então com 25 anos se encontrava dian-te de uma máquina de escrever nesse jornalbrasileiro. E por que, por 64 anos, continuou adatilografar em máquinas cada vez mais mo-dernas, mas no mesmo jornal.

A resposta é: há no Estado um “gênio” raro.O jornal está com certeza atento aos proble-mas, às misérias e às felicidades do Brasil e deSão Paulo. Mas não esquece jamais a dimensãomundial, internacional, de cada acontecimen-to relatado. Toda informação é ao mesmo tem-po local, regional, nacional e internacional.

Eis por que Julio de Mesquita Filho, em1950, teve essa ideia aparentemente barroca:trazer para tocar a editoria econômica um jo-vem francês. Ele pediu a um amigo, o grandehistoriador Fernand Braudel, para achar essefrancês. Por uma série de acasos, fui eu.

Aterrissei no Rio em 20 de março de 1951.Julio de Mesquita Filho me aguardava. Caram-ba! Eu, minúsculo, estrangeiro, tímido e desco-nhecido, era, sem saber, um personagem tãoimportante que o diretor de um grande jornalpercorrera 500 quilômetros de carro para mereceber? Eu estava apavorado. Nós fomos aoCopacabana Palace. “Você está no Rio”, eu medizia, “no Rio”. Era um sonho! Não fechei osolhos à noite. Às 6 horas, já estava admirando omar, a areia vazia. O céu parecia de seda. Eu medisse que, entre aquelas palmeiras-reais e co-res azuis e douradas, meu destino se escondia.Não me enganei: de fato, após 64 anos, escutoo barulho que faz esse destino à medida queele se desenrola.

***Eu me lancei prontamente ao trabalho. O

jornal ocupava um prédio velho e sombrio naRua Barão de Duprat (só mudou para a MajorQuedinho meses mais tarde). O primeiro diame decepcionou um pouco. Esperava locaismodernos, futuristas, luxuosos e claros. Caínum edifício velhusco, obscuro, um pedaçoressecado do século 19.

Uma porção de jornalistas datilografava emsuas Remington ou Burroughs, numa balbúr-dia ensurdecedora. O lugar cheirava a sebo,tinta, papel, suor e tabaco. Pensei estar numdaqueles filmes americanos em que um repór-ter parecido a Humphrey Bogart cruza uma

vasta sala com a capa esvoaçando. Isso me reer-gueu um pouco o ânimo. Escrevi meu primeiroartigo. Hoje continuo a escrever todos os dias. Àsvezes, tenho impressão de que minha vida nadafoi senão uma longa tarde em meio ao ruído dasmáquinas da Rua Barão de Duprat.

Marcelino Ritter traduziu meu primeiro arti-go. Em seguida, dr. Mesquita me recebeu. Pondoos óculos, começou a lê-lo lentamente. Meu cora-ção batia descompassado. O tempo não passava.Por fim, ele tirou os óculos. “Está bom”, disse.

***Não me deixavam folgar. Fazia dois artigos por

dia, um sobre economia mundial, outro sobreproblemas brasileiros. Além disso, para conhe-cer o País, deveria fazer a cada duas semanas umareportagem numa região do Brasil. Formidávelformação! Conheci Porto Alegre, Santa Catarinae a indústria madeireira, as tragédias do Nordes-te, Mato Grosso, São Luís, a Amazônia.

Em 1952, fiz minha reportagem mais extraordi-nária. O Brasil temia o café africano. Enviaram-me à África. Três meses sozinho, de Dacar a Adis-Abeba, de Brazzaville a Johannesburgo. Não dei-xei passar um pé de café. Eu sonhava com camposde arábica, de robusta. Via café por toda parte.Era como aqueles tarados sexuais que veem portrás de qualquer desenho seios ou nádegas femi-ninas. Fiz 60 artigos sobre o café africano.

***Em 1954, como meus pais estavam idosos, me

senti obrigado a voltar à França, com a morte naalma, como de luto. Após as faíscas, cintilações eviolências do Brasil, meu país me pareceu cinzen-to e gasto. Jamais saí de verdade do Brasil. Creioque meu cérebro tem uma linha direta com SãoPaulo porque, quando estou longe, ele me fala,me provoca, me conta histórias. Eu me revejo emMarabá em 1953, em Ipanema em 1952. Em mi-nhas noites, escuto a respiração do país magnífi-co e o convido a se introduzir em meus sonhos.

Aos poucos, o Estado me ensinou o ofício de

correspondente. Compreendi que, se quisesseser o “barqueiro” entre França e Brasil, não deve-ria me contentar em dizer o que ocorria na Euro-pa com olhar de francês, mas fazê-lo com um“duplo olhar”: metade francês, metade brasilei-ro. Um acontecimento não tem a mesma cor outessitura sentido por um brasileiro ou um fran-cês, um camponês ou um filósofo, um soldado ouum enfermeiro. Por isso, o correspondente deveser capaz desse “duplo olhar”.

Um exemplo: em 1914, o Estado publicou arti-gos sobre a Europa em guerra. Eles são magnífi-cos. Por quê? Porque sobre a batalha de Verdunou Dardanelos, sobre o front da Somme, forne-ciam da guerra imagens desconhecidas e muitomais completas e inteligentes que as propostaspelos jornais franceses. Tal é o segredo magnífi-co do que Claude Lévi-Strauss chama de “distan-ciamento do olhar”. Para os franceses, a guerraera travada, antes de tudo, entre Alemanha eFrança. Para um brasileiro, era planetária. Só erapossível compreender o que se passava em Ver-dun sabendo o que se passava no Egito, na Rússia,na Argentina. Eis o que o Estado me ensinou:arrancar o fato de sua solidão regional ou nacio-nal, inseri-lo como a peça de um quebra-cabeçagigante na paisagem infinita do mundo.

***Outra particularidade genética do Estado: é

um jornal que tem uma linha ideológica forte einflexível. Essa linha inspira seus artigos e, sobre-tudo, seus editoriais: democracia, direitos huma-nos, horror aos fascismos, rejeição dos sistemasde esquerda: comunismo, marxismo, castrismo,maoismo e, mais tarde, formas variadas do “es-querdismo”.

Ao mesmo tempo, porém, o Estado jamais te-meu dar a palavra a jornalistas, escritores ou per-sonalidades que têm, da organização das socieda-des, ideias diferentes das suas. Um exemplo éVictor Serge. Esse russo foi um dos revolucioná-rios mais poderosos do século 20. Inicialmente

anarquista, depois comunista fervoroso,expulso mais tarde do Partido Comunistasoviético, Serge se tornou jornalista por vol-ta de 1936. O Estado abriu suas colunas pa-ra ele. Essa é a inteligência e, sobretudo, aforça do Estado: suficientemente segurode seus valores para ter a curiosidade e cora-gem de dar, às vezes, a palavra aos que leal-mente têm outras convicções. É uma manei-ra aristocrática de compreender o mundo.

***Nos anos 50 e 60, houve a guerra da França

contra os independentistas argelinos. Os “re-volucionários” argelinos que queriam pôrfim à colonização francesa eram detestadospela direita burguesa e apoiados pela esquer-da. Eu considerava nobre a causa que elesdefendiam (sua identidade, sua independên-cia, sua honra). Portanto, meus artigos osapoiavam. A colônia francesa em São Pauloficou histérica, desejando-me o inferno e adanação. O Estado não vacilou. Publicou to-dos os meus artigos. Respeito absoluto. Resul-tado: Paris ficou descontente e pediu para oEstado me enquadrar. O jornal, embora co-nhecido por sua ligação afetiva com a França,naturalmente se recusou. A França cassou mi-nha identidade de jornalista. Contra-ataque: oEstado cortou relações com a embaixadafrancesa. Um ano depois, a França concordouem restituir minha identidade de jornalista.

***Em 1964, generais tomaram o poder no Bra-

sil. Acompanhei o drama de Paris. Notei que ojornal não denunciou o golpe. Isso me inquie-tou. Enviei uma carta de demissão. O jornalrecusou minha demissão e disse que publica-ria minha carta e a resposta da direção.

No domingo seguinte, vi minha carta e a res-posta do jornal – longa e num tom nobre. Expli-cava por que, no caos em que o Brasil se encon-trava, o golpe parecia justificado. A carta acres-centava o seguinte, que é fundamental: se ogoverno tocasse nas liberdades públicas e indi-viduais, ofendesse os direitos humanos, o Esta-do se alinharia à oposição. Foi precisamenteo que ocorreu seis meses depois.

***Escrever um artigo por dia por tantos anos é

uma provação: para quem escreve e mais aindapara quem lê. O estilo é sempre o mesmo. Há orisco de aborrecer, de monotonia, de repeti-ção, de enjoo.

Graças ao Estadão, procurei renovar ao lon-go das décadas. No começo, só me ocupei deeconomia. Depois, passei aos acontecimentospolíticos. Progressivamente, alarguei meucampo para não cansar os leitores.

A maior renovação foi no estilo. Com o con-selho de diretores e redatores de São Paulo, eume afastei um pouco do estilo didático e uni-versitário dos primeiros anos. Procurei umtom mais livre, menos pesado, mais alegre. Eume entreguei até ao que me proibia nos primei-ros anos: à literatura, à poesia e ao humor.

Assim, e paradoxalmente, me parece quemeu estilo conseguiu essa proeza “antinatu-ral”: tornar-se mais jovem à medida que euenvelheço. Para essa metamorfose inespera-da, agradeço do fundo do coração a todos que,no Estadão, e durante tantos anos, pilotaramminhas matérias. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Funcionário mais antigo do‘Estado’, o jornalista e escritorfrancês Gilles Lapouge fala deseus 64 anos escrevendo artigos

Em ação. Lapouge, trabalhando naredação da Rua Barão de Duprat

DEPOIMENTO: Gilles Lapouge

%HermesFileInfo:H-60:20150118:H60 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 65: Estadão 140 anos - A história do jornal

Em 30 de janeiro, o portal do Grupo Estado ganha novo visual, melhor organização e navegação simplificada.

Em maio, ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) causam pânico em São Paulo e desencadeiam violenta reação policial. Outras duas ondas de atentados ocorrem em julho e agosto.

Em 29 de setembro, Boeing da Gol é atingido em pleno ar por um jato Legacy quando seguia de Manaus a Brasília: 154 pessoas morrem a bordo do voo 1907.

Após três campanhas frustradas, Luiz Inácio Lula da Silva toma posse como presidente da República.

Em 17 de outubro, o Estado ganha novo visual e novos cadernos, como Aliás e Link.

Forte terremoto, de9 graus na Escala Richter, provoca ondas gigantes em vários países banhados pelo Oceano Índico. Sri Lanka, Índia e Indonésia são os mais atingidos. Mais de 230 mil pessoas morrem em dezembro, na maior tragédia natural do novo milênio.

Após mais de 100 anos de existência, é encerrado em 30 de setembro o último pregão "viva voz" da Bolsa de Valores de São Paulo.

Em 22 de setembro, começa a circular o suplemento Paladar.

Em 11 de setembro, terroristas sequestram aviões para atacar o World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington.

Em dezembro, Estado recebe Prêmio Esso Especial de Primeira Página.

Sob comando de Luiz Felipe Scolari, a seleção conquista o penta na Copa do Japão, ao vencer a Alemanha por 2 a 0. Ronaldo é o artilheiro com 8 gols, 2 na final.

Quase dez meses após o início da Guerra no Iraque, o ex-ditador Saddam Hussein é capturado por militares americanos em dezembro num pequeno buraco subterrâneo camuflado com terra e tijolos.

Gustavo Kuerten, o Guga, é tricampeão em Roland Garros. Ele permaneceria como “top 1” por 44 semanas.

2001 2004 200520032002 2006

%HermesFileInfo:H-61:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H61

Page 66: Estadão 140 anos - A história do jornal

%HermesFileInfo:H-62:20150118:H62 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 67: Estadão 140 anos - A história do jornal

Michael Jackson, o rei do pop, morre de parada cardíaca.

Em 21 de janeiro, os suplementos Casa&, TV&Lazer e Feminino chegam aos leitores de cara nova. Reforma gráfica se estende ao Agrícola e ao Estadinho.

Em 16 de julho, o portal estadão.com.br entra no ar reformulado.

Airbus da TAM não consegue parar ao pousar em Congonhas em julho e explode ao bater num depósito: 199 pessoas morrem.

Petrobrás anuncia a descoberta em novembro da maior jazida de petróleo do País, na Bacia de Santos.

Em 28 de março, edição digital do Estado ganha versão mais moderna.

Em 4 de junho, Estado vence o Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo pelo conjunto de reportagens sobre educação.

Barack Obama se torna o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.

Cesar Cielo ganha medalha de ouro nos 50m livre na Olimpíada de Pequim, bate recorde mundial e conquista o bronze nos 100m livre.

Em 30 de abril, o Grupo Estado lança o .edu, projeto totalmente voltado à educação.

Na noite de 31 de maio para 1º de junho, Airbus da Air France desaparece no Oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo quando ia do Rio a Paris.

Liminar proíbe Estado de noticiar investigação sobre filho de Sarney, conhecida como Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que apura irregularidades, tráfico de influência e corrupção em ministérios e estatais.

Estado ganha Prêmio Esso de Reportagem com a série Dos Atos Secretos aos Secretos Atos de José Sarney, dos repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel.

20082007 2009

%HermesFileInfo:H-63:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H63

Page 68: Estadão 140 anos - A história do jornal

Traço de artistasrevela personagensque marcaram épocaCharges, cartuns e caricaturas sempre estiveram presentes naspáginas do ‘Estado’. Pela precisão e irreverência do trabalho dos ilustradores,foram retratados situações, personalidades e acontecimentos históricos

‘Varre, varre, varre vassourinha’.O ex-presidente Jânio Quadros,por Botino, 2006

Cena de teatro. Fernanda Montenegroe Sérgio Britto na peça Vestir os Nus,por Morales J. Morales, 1958

Diego Maradona. Caricaturade Loredano para a seçãoSinais Particulares, 2005

Hugo Chávez.Caricatura deLeo Martinspublicadaem 2007

Crônicas docotidiano.Seção A Vidacontinua...teve desenhosde AugustoRodrigues.A chargeao ladoé de 1946

‘Meu nome é Enéas’. No traço de Luscar, ocandidato agitou a campanha de 1994 comos seus poucos segundos no horário eleitoral

Morte de Senna. A mão do piloto leva o Brasil.Publicada por Villa em maio de 1994

ILUSTRAÇÕES

Copa de 1958. A trajetória daseleção brasileira em seu 1ºtítulo mundial, por Biganti

Raul Seixas.Baptistão, 2002

Bipartidarismo. Um balanço da relação do presidente Ernesto Geiselcom os partidos. Charge publicada em 14/3/1974 pela cartunista Hilde

%HermesFileInfo:H-64:20150118:H64 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 69: Estadão 140 anos - A história do jornal

!ESTADÃO 140 ANOS • ARCHOTE 70 ANOS

Putz

Como o tempo passa, e como o

mundo está mudado! Inovações,

revoluções, descobertas incríveis,

constantes transformações. Nestes

140 anos, o Estadão presenciou

fatos que mudaram a história do

Brasil e do mundo, e manteve-se

fiel ao seu compromisso com

a liberdade de expressão e a

verdade na informação. Não foi

fácil, colocar o dedo na ferida,

enfrentar desafios, mas valeu a

pena. Ele cresceu, novas tecnolo-

gias surgiram e o Estadão man-

teve-se à frente do seu tempo.

Hoje disponibiliza uma platafor-

ma multimídia eficiente, capaz de

impactar mais de 10 milhões de

pessoas diariamente. A Archote

sente-se orgulhosa em fazer parte

desta história, formando uma

parceria que teve início há

70 anos, mas que para nós,

parece até que começou ontem.

23 Prêmios Master Imobiliário conquistados em parceria com os nossos clientes. Quatro deles, na edição 2014.

%HermesFileInfo:H-65:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H65

Page 70: Estadão 140 anos - A história do jornal

Reclames. Blog reúne2,3 mil anúncios combusca por palavras

estadao.com.br/e/reclames

Nos reclames,uma viagempela história

Todos os prédios importantesde SP anunciaram no jornal

NA WEB

Gelol. 1906Chapéu perdido. 1876

Mercedes 1967

Caiu aficha? 1986

Muita coisa mudou ao lon-go de mais de 50 mildias de veiculação depropaganda imobiliária

em São Paulo. Nas primeiras décadas,há curiosos anúncios de chácarascom cachoeiras disponíveis em locaisonde hoje estão bairros da área cen-tral da cidade.

Em 1929, um deles oferecia “vida decampo” no Jardim América e noAnhangabaú. O Pacaembu era anun-ciado como “a nova maravilha urba-na” de São Paulo. “Inúmeras são asrazões que aconselham a construçãodo lar próprio no Pacaembu”, diziaanúncio da Cia. City em 1938.

Além de mostrar a evolução domercado imobiliário, os anúncioscontam a história da colonização deimportantes regiões do País. “Nãohá saúva nem outros parasitas nasplantações”, garantia publicidade daCompanhia de Terras Norte do Para-ná em 1936.

O primeiro arranha-céu de São Pau-lo começa a aparecer nas páginas dojornal no fim dos anos 1920. Por suaimportância arquitetônica e ineditis-mo de engenharia, o Edifício Martinel-li estrela não só anúncios imobiliários.Propaganda da Antarctica informava,por exemplo, que as garrafas de cerve-ja vendidas em 1935 (101.206.440) for-

mariam, empilhadas, 11 prédiosiguais a ele.

“Um monumento à grandeza daterra paulista. O Rockefeller Cen-ter de São Paulo”, dizia anúncio delançamento do Edifício Copan, pro-jetado por Oscar Niemeyer, publi-cado em maio de 1952 no Estado.Inaugurado em 1957, ele se tornariaum cartão-postal de São Paulo emarco na arquitetura moderna.

Alguns anúncios resgatam a me-mória de prédios que não existemmais, como o Edifício Mendes Cal-deira, que ficava na Praça da Sé e foidemolido para dar lugar à principalestação do metrô paulista.

E há também anúncios que mos-tram como o contexto político in-fluencia a arquitetura. Exempla-res publicados em 1945, últimoano da 2.ª Guerra Mundial, mos-tram edifícios em São Paulo cujomaior atrativo era um abrigo an-tiaéreo. / CLEY SCHOLZ

Cley Scholz ✽

Deleite-se, lei-tor, com asimagens des-ta página.Elas são umconvite parauma viagempela história

dos anúncios impressos desde ostempos em que São Paulo não tinhaluz nem asfalto. São retratos de ca-da época, carregados de informaçãosobre modos de vida e costumes.

Não importa o tamanho, e sim amensagem. Mesmo as pequenas no-tas nas páginas de classificados, no-me que se dava aos espaços para pe-quenos anunciantes, podem trazergrandes histórias. “Pede-se à pessoaque, por engano, levou do salão da Pro-pagadora, na noite da instalação da So-ciedade Typographica, um chapéu no-vo, tendo a copa mole e aba dura, comforro de cetim carmezim e com a mar-ca da fábrica Bierrembach, o obséquiode o mandar entregar nesta typogra-fia, pelo que desde já se confessa gratoo seu proprietário.”

O anúncio de 1876, quando o Esta-dão tinha um ano de história, reve-la não só que o chapéu estava na mo-da, como também que a cidade ti-nha pessoas que confiavam umasnas outras, e que alguém que esque-cia um chapéu podia ter esperançade tê-lo de volta. A cidade não tinhatelefone e encontros podiam sermarcados pelo jornal.

A história da telefonia no Brasil,aliás, está registrada nos espaços co-merciais desde o primeiro telefoneofertado em São Paulo, em 1878, porum representante do inventor Gra-ham Bell. Ele se apresentava aos pau-listas como “grande mágico” e ofere-cia duas inovações revolucionáriasna época: o Telephono e os Tympa-nos elétricos.

Um anúncio de 1899 mostra umamáquina de matar formigas usadana agricultura de então. Funcionava

com arsênico e enxofre. Era importa-da, pois o Brasil praticamente não ti-nha indústria.

Com o avanço das décadas, represen-tantes de marcas internacionais passa-ram a conviver nas páginas comerciaiscom empresas locais. O império co-mercial do conde Francisco Mataraz-zo, que desembarcou no Brasil em1890, tem praticamente todos os seusmais importantes lançamentos ao lon-go de mais de um século de existênciaanunciados no Estadão. Até o editalde falência, nos anos 1990, está nas pá-ginas do jornal.

Os anúncios de espartilhos em 1900e de Gelol em 1906, desenhados compincel e nanquim, ou o do Ford 1924retratado com gravura em metal sãoexemplos da evolução das artes gráfi-cas na história da publicidade.

“O perfumador Vlan é o preferido paraos folguedos carnavalescos. É o lança-per-fume escolhido não só pela sua esmeradaconfecção como, especialmente, pelas suasfinas e inebriantes essências. Não irrita apele e não ofende a vista. Para reveillons,bailes, batalhas etc, somente Vlan, o perfu-mador da elite.”

Assim como o lança-perfume, o gua-raná Tito-tico, “o refresco da petiza-da”, também ficou no passado. O Fus-ca, que ao lado aparece como “o carrovalente capaz de enfrentar as pioresestradas”, também teve todas as suasversões anunciadas, desde as primei-ras unidades importadas na década de1950 até sair definitivamente de linhaem 1996.

Dos fonógrafos aos iPods, passandopelo gravador de fita cassete e pelowalkman, todos os aparelhos sonorosestão representados. Os anúncios con-tam ainda a história da televisão no Bra-sil.“Você já ouviu falar, agora vá ver televi-são. Enfim você terá a oportunidade dever uma TV em funcionamento regular!”

Nos anúncios de cinema, a históriada indústria cinematográfica está re-tratada com exemplares históricos, co-mo os anúncios de estreia de KingKong, em 1933, e ... E o vento levou, em1940. O antigo Cine Rosário, que ficavano térreo do Martinelli, convidava ospaulistanos em 1929 a conhecer “omais luxuoso cinema no mais alto edifí-cio da América do Sul”.

É JORNALISTA DO ‘ESTADO’

Fusca na estrada. 1960 Pelé de terno Ducal. 1970

Walkman. 1982

Máquina de matar formigas. 1899

Espartilhos. Moda em 1900

Chegou atelevisão. 1950

Hollywood. 1953

Dos chapéus à TV, milhõesde anúncios publicados no‘Estado’ revelam a evoluçãoda sociedade e do consumo

Lança-perfumes na capa. 1929

Bisnaga de metal daMatarazzo. 1924

Ford, em ilustraçãoa nanquim. 1924

Estreia de ‘King Kong’. 1933 Edifício Martinelli. 1944

‘...E o vento levou’. 1939

Colírio Moura Brasil. 1932

Tico-Tico.1939

TV colorida.1974

PUBLICIDADE

%HermesFileInfo:H-66:20150118:H66 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 71: Estadão 140 anos - A história do jornal

Em 14 de março, Estado ganha nova tipografia, com fontes que tornam a leitura mais agradável. Fotos e infográficos são valorizados e novos cadernos, lançados. O portal estadão.com.br também é totalmente reformulado.

Dilma Rousseff é a primeira mulher a assumir a Presidência.

Com 106,5 milhões de visitas em dezembro, o estadão.com.br se consolida como um dos três maiores sites de notícias do País.

Brasil vive em março sua pior tragédia natural: enorme tromba d’água causa enxurradas e deslizamentos na região serrana do Rio, deixando 916 mortos e 345 desaparecidos.

Com foco em jornalismo, serviços e esportes, estreia em março a Rádio Estadão ESPN em FM 92,9 ou AM 700.

Em fevereiro, começa a circular o caderno semanal Negócios. Projeto também inclui portal e programa na Rádio Eldorado.

Apple lança o iPad nos Estados Unidos.

Especialistas brasileiros sequenciam pela primeira vez o genoma humano.

Em 11 de julho, Grupo Estado lança aplicativo para iPad.

Em dezembro, forças de segurança ocupam complexos de favelas da Penha e do Alemão, no Rio.

Haiti sofre uma série de terremotos em janeiro. Tragédia mata 316 mil pessoas. Entre elas, a médica brasileira Zilda Arns.

O Japão sofre o maior terremoto de sua história em março. Tremor de 8,9 graus na escala Richter provoca tsunami e desastre nuclear na usina de Fukushima.

2010 2011

%HermesFileInfo:H-67:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H67

Page 72: Estadão 140 anos - A história do jornal

Depois de dar grande contribuição ao ensino superior privado com a

fundação da Universidade Anhembi Morumbi, o Grupo GAMARO iniciou fortes

investimentos no setor imobiliário, sem que seus fundadores abandonassem

suas atividades nos setores de educação, cultura e comunicação.

Por isso, o Grupo GAMARO orgulha-se de acompanhar os principais fatos do

mundo nas páginas do Estadão, e saber que nossa história também é contada

por um dos jornais mais influentes e respeitados do Brasil.

PARABÉNS, ESTADÃO, PELOS 140 ANOS DE HISTÓRIA .

w w w. g a m a ro . c o m . b r

CRIATIVIDADEPIONEIRISMO,

E INOVAÇÃO.VALORES QUE UNEM A HISTÓRIADOS GRUPOS GAMARO E ESTADO.

%HermesFileInfo:H-68:20150118:H68 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 73: Estadão 140 anos - A história do jornal

%HermesFileInfo:H-69:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H69

Estado é o jornal que mais cresce em circulação em 2011 entre os maiores diários nacionais, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC). A circulação do jornal aumenta 7,5%, chegando a uma média diária de 254.214 exemplares, 17.845 mais que em 2010.

Em 17 de fevereiro, Estado é premiado em três categorias na 33ª edição do Best of Newspaper Design, o Oscar do design gráfico.

Em 1º de janeiro, desfaz-se a parceria e a Rádio Estadão/ESPN passa a se chamar Rádio Estadão.

Em 27 de janeiro, incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), mata 242 pessoas, a maioria estudantes.

Em 31 de outubro, Jornal da Tarde sai de circulação.

Em 22 de abril, Estado estreia configuração de cadernos, mais organizados nos dias úteis e ampliados aos domingos, lança o Estadão Móvel e é o primeiro jornal brasileiro nas TVs conectadas.

Em 21 de maio, morre, aos 88 anos, o jornalista Ruy Mesquita, diretor de Opinião do Estado.

Dilma Rousseff é reeleita presidente em 26 de outubro.

Continente africano enfrenta a maior epidemia do vírus Ebola já registrada.

Após quase quatro meses de julgamento e 49 sessões, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) consideram culpados 25 dos 37 réus do processo do mensalão, escândalo de corrupção que envolveu ex-ministro, parlamentares e executivos.

Em 23 de maio, Grupo Estado coloca na internet a íntegra de seu acervo de 2,4 milhões de páginas publicadas desde 1875.

Seleção brasileira de futebol perde por 7 a 1 da Alemanha em Copa do Mundoem casa.

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5E6

Apartirde7/11,ocadernopassaacircularno‘Estadão’

NÃOCIRCULAMPLACASFINAIS

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FotodeAlexSilva feitaontemporvoltadas20horasdo terraçodoEdifício Itália,nocentro: umavidadedicadaàcidade

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SÃOPAULOQUARTA-FEIRA

31DEOUTUBRODE2012ANO47-N˚15409

2012 20142013

Page 74: Estadão 140 anos - A história do jornal

O cotidianopelas lentes dosprofissionais

WILSON PEDROSA/ESTADÃO-12/10/1991

ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO-3/11/2014

A sensibilidade e o talento dos fotógrafos do Estado levaram ao leitorimagens marcantes, que foram reconhecidas com importantes premiações

ANTÔNIO LÚCIO/ESTADÃO-24/2/1972

JF DIORIO-ESTADÃO-30/11/2006

WILTON JUNIOR/ESTADÃO-20/8/2011

Transição.FernandoHenriquepassa faixa aLula, naprimeiratransmissãode poderentrepresidentesem 41 anos

JOEDSON ALVES/ESTADÃO-1/1/2003

Corrida do ouro. Garimpeiros trabalham em Serra Pelada, no Pará, o maior garimpo acéu aberto do mundo; dele foram extraídas oficialmente 30 toneladas de minério

CARLOS CHICARINO/ESTADÃO-26/8/1982

Dança dapizza. AentãodeputadaAngelaGuadagnin(PT-SP)festejaabsolviçãode colegaacusado decorrupção

FOTOS BETO BARATA/ESTADÃO-22/3/2006

Formatura.Dilma Rousseff,em cerimônia naAcademia Militardas AgulhasNegras. Fotorecebeu PrêmiosEsso, Rei JuanCarlos e Estadão

Lenda viva. Astro do blues, BB Kingfaz show em casa noturna de Moema

Tragédia. Bombeiro Geraldo Alves de Andrade socorre criança durante incêndio no EdifícioAndraus, na Avenida São João; helicópteros resgataram várias pessoas, mas 16 morreram

Jornadasde junho.PM reprimeato emBrasília; sériede protestoscomeçou porcausa deaumento doônibus

‘João deDeus’. PapaJoão PauloII beija ochão aochegar parasegundavisita ao País

FOTOJORNALISMO

%HermesFileInfo:H-70:20150118:H70 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

Page 75: Estadão 140 anos - A história do jornal

Provocação. Viola faz gol e imita porco na final contra o Palmeiras no Campeonato Paulista;gesto motivou elenco alviverde, que venceu o Corinthians no jogo seguinte por 4 a 0

Praça de guerra. Professora confronta policiais na Cinelândia, no Rio, em ato contra votaçãode plano de cargos e salários rejeitado por docentes; imagem ganhou Prêmio Líbero Badaró

WILSON PEDROSA/ESTADÃO-2/10/1992

SERGIO NEVES/ESTADÃO-27/2/2011

PAULO LIEBERT/ESTADÃO-17/1/2009

PAULO LIEBERT/ESTADÃO-17/1/2009

EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO-6/8/2003

JF DIORIO/ESTADÃO-30/8/2004

CELSO JUNIOR/ESTADÃO–11/12/2011

FABIO MOTTA/ESTADÃO-1/10/2013

Astro. EltonJohn seapresentana ArenaAnhembi;fila parashow emSP teve 2quilômetros

Impeachment.Fernando Collore Rosane, suamulher na época,deixam o Paláciodo Planalto

Drama.Incêndio naFavela doBuracoQuente, emSP. Foto foipremiadacom o WorldPress Photo

Piscina.Arquibancadaalagada noEstádio doMorumbi;chuva atrasaclássico entreSão Paulo ePalmeiras

Greve.Servidorataca oCongressoduranteprotestocontrareforma daPrevidência

Memória.SebastianaMedeiros, de102 anos,sobreviventeda Guerra doContestado;cadernoespecialganhouPrêmioVladimirHerzog

%HermesFileInfo:H-71:20150118:O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 Especial H71

Page 76: Estadão 140 anos - A história do jornal

NAVEGUE E PARTICIPE

estadao.com.br

Digitalizaçãofaz notíciasterem recordede público

DIRETOR DE CONTEÚDO: RICARDO GANDOUR EDITORA-CHEFE: CIDA DAMASCO EDITORA EXECUTIVA: LUCIANA CONSTANTINO EDITORA: LUCIANA GARBIN DIRETOR DE ARTE: FABIO SALES EDITOR DE FOTOGRAFIA: EDUARDO NICOLAU REDATORES: ÂNGELA PEREZ E ROBERTO BASCCHERAPESQUISA DE IMAGENS: EDMUNDO LEITE, CARLOS EDUARDO ENTINI, LIZBETH BATISTA, ROSE SACONI, ARMANDO FÁVARO, SÉRGIO NEVES E LEANDRO FRUTUOSO DIAGRAMAÇÃO: ADRIANO ARAÚJO, ANDREA PAHIM, VIVIANE JORGE E THIAGO JARDIM REVISÃO: FRANCISCO MARÇAL DOS SANTOS

Nunca uma no-tícia foi tão li-da, por tantagente, comohoje. O queos estudiososchamam de“sociedade

dainformação” –agigantescarevolu-ção dos últimos 30 anos no universodas comunicações – permite queuma novidade qualquer seja buscadaem uma página de jornal ou revista,mas também pela internet, em umcomputador, no tablet, no celular,nas redes sociais. Pode ser lida, vista,ouvida, comentada, debatida em ví-deo, compartilhada em grupos, tor-nar-se viral e criar moda em questãode horas. Links repassam conteúdos,aproximamdiferentespúblicos.Gru-pos virtuais transmitem e comentaminformações interminavelmente.

Rápida e incessante, a informaçãoem tempo real mudou de alto a baixoa antiga relação entre notícia e leitor– e o Estado passou a administrar, aomesmo tempo, a notícia impressa decada dia, uma gigantesca memória –o acervo acumulado desde 1875 – e ainteratividade com os leitores. Talmudança só foi possível graças à im-plantação de um sistema multiplata-forma. Resultado: ele é acessado, ho-je, por uma média mensal de 15 mi-lhões de usuários únicos no portalestadão.com.br. Por mês, as páginasdo Estadão são visitadas mais de 122milhões de vezes.

Dinamismo. Mudar a forma, maspreservar o conteúdo – eis a receitacom a qual o jornal juntou à serieda-de da informação o dinamismo da

cultura digital. Hoje um leitor podepassear pelas páginas de um caderno epode também, em um clique, trocar deuma seção para outra, do jornal de hojepara o da semana passada. Pode curtiruma novidade no portal ou vê-la nocelular. E, dentro do tablet, usufruirserviços de multimídia, áudio, galeriasde fotos, participar de debates.

É um grau de diversificação que, nopassado, editores do impresso jamaisimaginariam: atuar em um mundo emque a informação envolve o leitor odia inteiro e o acompanha por todaparte. Em qualquer lugar ele pode dis-por da edição impressa integral numsmartphone – e nele curtir links quecirculam em redes como Facebook,Twitter, Instagram, YouTube. No Fa-cebook, o jornal tem hoje mais de 2,8milhões de seguidores. No Twitter,outros 2 milhões. Nessa mesma linhacriou-se, no Instagram, uma integra-ção diária: leitores enviam ao portal fo-tos de temas específicos e as melhoresentram no portal. No LinkedIn, circu-lam notícias sobre empresas, marke-ting, empregos. Vídeos do jornal circu-lam no YouTube.

Essa interatividade permite que o lei-tor participe da vida do jornal. Porexemplo informando, pelo celular, co-mo está o trânsito. A novidade se tor-nou possível graças a uma parceriacom o Waze, aplicativo internacionalde trânsito. Completando a estratégia,o Estadão está ao alcance do públicotambém nas TVs conectadas – marcascomo Samsung, Philips e Panasonicabrigam em seus sistemas produtos dojornal que podem ser acessados pelostelespectadores. O Estado oferece es-ses serviços pelos três principais siste-mas operacionais hoje disponíveis –Android, IOS e Windows 8.

Salto. Foi em 2000 que ocorreu, coma implantação do portal, o primeiro sal-to nessa revolução: o sistema multipla-taforma abriu canais com o leitor, comoutras mídias, com o mercado. Tais ini-

ciativas exigem, a todo momento, no-vos conteúdos. Essa multiplicidade foibem acolhida – seu sucesso pode ser de-tectado no intenso uso do Twitter, pe-los leitores, para chegar às notícias dojornal. O caminho são os links de maté-rias, fotos ou vídeos sugeridos de umtuiteiro para outro, nos 140 caracteres.

As eleições presidenciais de 2014 ser-viram como termômetro desse canal:38% dos acessos ao Portal Estadão fo-ram de leitores que entraram seguindolinks distribuídos de um celular paraoutro via Twitter. Essa busca respon-deu por 17,8 % das páginas vistas, numuniverso de 144 milhões de page views(um recorde) registradas naquele mês.

Evolução. Essa nova realidade nãosurgiu de repente. Para atingi-la, o Es-tado teve um bom preparo, graças aopermanente espírito de evolução, que

marcou seus 140 anos de história. Ain-da se chamava A Província de S. Pau-lo, no século 19, quando publicou nacapa a primeira foto em clichê. Novosavanços vieram, depois, com a primei-ra edição extra, a rotogravura, as sucur-sais em Roma e Lisboa, o primeiro cor-respondente de guerra da história daimprensa brasileira.

Em tempos mais recentes, o jornalcriou um Suplemento Agrícola (em1955), o Suplemento Literário (1956),abriu duas emissoras de rádio (a Eldora-do, em 1958, e a Estadão, em 2013), im-plantou a Agência Estado (1970), adqui-riu o Broadcast (1992), criou cadernoscomo Aliás (2004) e Paladar (2005).Em 2012, o Portal Estadão cruzou a fai-xa das 100 milhões de visitas/mês.

Outra iniciativa inédita, tambémem 2012, colocou a serviço dos assi-nantes o acervo digitalizado do jor-

nal. Desde então, com um simplesclique eles podem encontrar tudoo que nele se imprimiu nesses 140anos – 2,4 milhões de páginas publi-cadas.

A partir de 2013, a Rádio Estadãopassou a fazer parte da estratégiamultimídia do Grupo Estado, nãosó com produção própria e reporta-gens exclusivas como também noti-ciando e repercutindo o conteúdodo jornal e do portal.

O conteúdo do Estadão tambémé publicado pelo Broadcast e Broad-cast Político – serviços da Agência Es-tado que, além de produzirem mate-riais exclusivos, publicam notíciasdo jornal e da rádio – e distribuído acerca de 230 veículos de comunica-ção de todo o Brasil, incluindo agên-cias, editoras, portais e canais de rá-dio e televisão.

● Leitores podem participar dacomemoração dos 140 anos doEstadão e falar de sua relação como jornal por meio das redes sociaisTwitter, Facebook e Instagram.Tudo pela hashtag #Estadao140

FM 92.9 – AM 700www.radio.estadao.com.br

● Especial de cinco capítulos resga-tará os principais momentos dos140 anos de história do Estadão.Vai ao ar de amanhã a sexta-feira.

● Políticos, empresários, juristas,cientistas e artistas dão depoimentosem vídeo sobre os 140 anos do Esta-dão e sua relação com o jornal

● Especial multimídia reúne artigos, vídeos, galerias de foto e ferramentasinterativas. Linha do tempo permite ver como o Estadão cobriu os fatos maisimportantes de São Paulo, do Brasil e do mundo nesses 140 anos. Responsivo,todo o conteúdo pode ser acessado também em tablets e smartphones.

Jornalismo multiplataformapermite buscar informaçãono papel, na web, no tablet,no celular e nas redes sociais

EVOLUÇÃO

EXPEDIENTE

Lançados o Estadão Premium (versão para tablet da edição diária do jornal, com recursos interativos e de multimídia), o Estadão Noite (vespertino com análises exclusivas e prévia do dia seguinte), o Olhar Estadão (parceria com o jornal The New York Times dedicada a fotojornalismo) e o Estadão Light (versão para tablet com o resumo da edição diária).

20152014

Estratégia multiplataforma compreende a edição impressa, os canais web e móvel, Rádio Estadão, Agência Estado, Broadcast e Broadcast Político, além de aplicativos como o Estadão Favoritos.

%HermesFileInfo:H-72:20150118:H72 Especial DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO