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Castelo Branco Científica - Ano III - Nº 06 - julho/dezembro de 2014 - www.castelobrancocientifica.com.br 1 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO OPERANTE ESTEVÃO, Cristiana Alice Pontes, e-mail: [email protected]* MACHADO, Janice e-mail: [email protected]** MILLI, Dorotéa, e-mail: [email protected]*** RESUMO A base da corrente skinneriana está na formulação do comportamento operante. A Análise do Comportamento é uma área de investigação conceitual, empírica e aplicada ao comportamento. Buscando compreendê-lo melhor, bem como os seus determinantes, ela procura entender o ser humano em sua interação com o meio. Ao falar de Análise do Comportamento, deve-se falar também de B. F. Skinner (1904-1990), este acreditava que o comportamento humano, por mais complexo que fosse, poderia sim ser estudado cientificamente, e mostrou em seus estudos que é possível, e plausível, a união de uma ciência do comportamento com fenômenos complexos e subjetivos ao ser humano, como a emoção. Em função da importância da investigação das emoções dentro de uma ciência psicológica, pretende-se discutir questões referentes aos estados emocionais, bem como sobre o caráter evolutivo biológico das emoções, o reflexo condicionado e o conceito de comportamento operante. A partir dessa concepção, a análise das emoções deve ser realizada por meio da identificação das consequências que mantêm os estados emocionais e de suas funções para o indivíduo, já que os estados emocionais exercem função importante na manutenção de vários transtornos comportamentais. Palavras-chave: Comportamento; Emoções; Inter-relação respondente e operante. ABSTRACT The base of the chain's formulation of skinneriana operant behavior. Is the behavior analysis is an area *Graduada em História pela USC-São Camilo e Artes visuais pela UFES, Especialista em História Moderna e Contemporânea USC- São Camilo, Especialista em Gestão Pública Municipal-IFES, Especialista em Gestão Escolar-UFES, Especialista em Ensino Médio Integrado ao Técnico Profissionalizante e Mestranda em Educação Holística. . ** Graduada em Letras FAFIC- Faculdade Castelo Branco, Especialista em Educação Ambiental- FINOM, Especialista em Educação Profissional de Jovens e Adultos- IFES e Mestranda em Educação Holística. ***Graduada em História pela FAFIC- Faculdade Castelo Branco, Especialista em Planejamento educacional pela ASOEC,

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Castelo Branco Científi ca - Ano III - Nº 06 - julho/dezembro de 2014 - www.castelobrancocientifi ca.com.br 1

Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO OPERANTE

ESTEVÃO, Cristiana Alice Pontes, e-mail: [email protected]*

MACHADO, Janice e-mail: [email protected]**

MILLI, Dorotéa, e-mail: [email protected]***

RESUMO

A base da corrente skinneriana está na formulação do comportamento operante. A Análise do

Comportamento é uma área de investigação conceitual, empírica e aplicada ao comportamento.

Buscando compreendê-lo melhor, bem como os seus determinantes, ela procura entender o ser humano

em sua interação com o meio. Ao falar de Análise do Comportamento, deve-se falar também de B. F.

Skinner (1904-1990), este acreditava que o comportamento humano, por mais complexo que fosse,

poderia sim ser estudado cientificamente, e mostrou em seus estudos que é possível, e plausível, a união

de uma ciência do comportamento com fenômenos complexos e subjetivos ao ser humano, como a

emoção. Em função da importância da investigação das emoções dentro de uma ciência psicológica,

pretende-se discutir questões referentes aos estados emocionais, bem como sobre o caráter evolutivo

biológico das emoções, o reflexo condicionado e o conceito de comportamento operante. A partir dessa

concepção, a análise das emoções deve ser realizada por meio da identificação das consequências que

mantêm os estados emocionais e de suas funções para o indivíduo, já que os estados emocionais

exercem função importante na manutenção de vários transtornos comportamentais.Palavras-chave: Comportamento; Emoções; Inter-relação respondente e operante.

ABSTRACT

The base of the chain's formulation of skinneriana operant behavior. Is the behavior analysis is an area

*Graduada em História pela USC-São Camilo e Artes visuais pela UFES, Especialista em História Moderna e Contemporânea USC-

São Camilo, Especialista em Gestão Pública Municipal-IFES, Especialista em Gestão Escolar-UFES, Especialista em Ensino Médio

Integrado ao Técnico Profissionalizante e Mestranda em Educação Holística. .

** Graduada em Letras FAFIC- Faculdade Castelo Branco, Especialista em Educação Ambiental- FINOM, Especialista em Educação

Profissional de Jovens e Adultos- IFES e Mestranda em Educação Holística.

***Graduada em História pela FAFIC- Faculdade Castelo Branco, Especialista em Planejamento educacional pela ASOEC,

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of empirical and conceptual research applied to behavior. Seeking to understand him better, as well as

their determinants. She seeks to understand the human being in its interaction with the environment.

Speaking of behavior analysis, one must speak also of b. f. Skinner (1904-1990), Skinner believed that

human behavior, no matter how complex it was, can be studied scientifically, and showed in his studies

that is possible, and plausible, the Union of a behavioral science with complex and subjective

phenomena to human beings, as the emotion. Depending on the importance of research of emotions

within a psychological science, aims to discuss issues relating to emotional States, as well as about the

biological evolutionary character of emotions, the conditioned reflex, the concept of operating

behavior. From this design, the analysis of emotions should be accomplished through the identification

of consequences that maintain the emotional States and their functions to the individual, since the

emotional States exert important function in maintaining several behavioral disorders.

Keywords: behavior; Emotions; Interrelation and responder.

INTRODUÇÃO

 A ciência chamada Análise Comportametal é uma ciência natural formulada pelo psicólogo

estadunidense B. F. Skinner, que estudou o comportamento humano a partir da interação entre

organismo/ambiente. A atenção do pesquisador dirigiu-se para as condições ambientais em que

determinado organismo se encontra, para a reação desse indivíduo a essas condições, para as

consequências que essa reação lhe traz e para os efeitos que essas consequências produzem - processo

denominado "tríplice contingência", unidade funcional dessa ciência. Para Skinner apud Epstein

(1980, p.25):

as pessoas discriminam estados corporais (produzidos pela sua interação com

eventos ambientais), nomeiam esses estados corporais de acordo com nomes

de sentimentos aprendidos com sua comunidade verbal e, finalmente, atribuem

. às pa lavras ass im aprendidas a função de causar comportamentos .

A palavra análise talvez não guarde muitos segredos para a maioria das pessoas que a ouvem e seu

significado em português não difere do significado em inglês. Análise, de acordo com o Aurélio, é a

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Especialista em Inspeção pela Faculdade Tecnologia São Francisco, Especialista em Gestão Integrada e Mestranda em Educação

Holística.

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decomposição de um todo em suas partes constituintes ou o exame de cada parte de um todo, para

conhecer a sua natureza, ou ainda a determinação dos elementos que se organizam em uma totalidade,

dada ou a construir, material ou ideal.

Para Skinner apud Epstein:

.

o comportamento é entendido como uma relação interativa de transformação mútua

entre o organismo e o ambiente que o cerca, na qual os padrões de conduta são

naturalmente selecionados em função de seu valor adaptativo. Trata-se de uma

aplicação do modelo evolucionista de Charles Darwin ao estudo do comportamento

que reconhece três níveis de seleção - o filogenético (que abrange comportamentos

adquiridos hereditariamente pela história de seleção da espécie), o ontogenético (que

abrange comportamentos adquiridos pela história vivencial do indivíduo) e o cultural

(restrito à espécie humana, abrange os comportamentos controlados por regras,

estímulos verbais ou simbólicos, transmitidos e acumulados ao longo de gerações por

meio da linguagem).( Epstein, 1980, p.25).

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.2. A ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO

Análise Experimental do Comportamento, ou Análise Comportamental, é um modo de trabalhar em

ciências que se originou na década de 1940, a partir de uma postura denominada Behaviorismo Radical

(Skinner, 1974 apud Mattos, 2001). A base da corrente skinneriana está na formulação do

comportamento operante.

A análise científica do comportamento começa pelo isolamento das partes (variáveis) simples de um

evento complexo de modo que esta parte possa ser melhor compreendida. A pesquisa experimental de

Skinner seguiu tal procedimento analítico, restringindo-se a situações suscetíveis de uma análise

científica rigorosa. Os resultados de seus experimentos podem ser verificados independentemente e

suas conclusões podem ser confrontadas com os dados registrados.

Assim, fazer análise do comportamento é determinar as características e dimensões da ocasião em que

o comportamento ocorre, identificar as propriedades públicas e privadas da ação e definir as mudanças

produzidas pela emissão das respostas (no ambiente, no organismo).

Na década de 30 do século XX, Skinner disse que um evento comportamental é o produto conjunto da

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história de aprendizagem do sujeito. Assim, pode-se dizer que o ambiente (externo - físico, social,

interno - biológico, histórico) seleciona grandes classes de comportamento.

A explicação selecionista do comportamento é eminentemente histórica, e abre mão de argumentos

semelhantes àqueles do paradigma da mecânica clássica. Em relação a esse ponto, um erro frequente

nas críticas à análise do comportamento é acreditar que, dentro do behaviorismo, a causa de um

comportamento deve ser necessariamente imediata. Pelo contrário, a causa de um comportamento não

precisa estar próxima e imediata, já que a causação imediata opõe-se à explicação histórica, que por sua

vez, incorpora a história da espécie, a história do indivíduo e a história da cultura, considerando-se estas

como três processos de seleção do comportamento. A análise recai sobre o produto integrado desses

processos históricos, e sua separação ou análise é um artifício meramente didático ou metodológico.

“O comportamento humano é o produto da ação integrada e contínua de contingências filogenéticas,

ontogenéticas e culturais”. (Skinner, 1981p.31).

Isso evidentemente ainda passa pelo crivo de uma análise funcional de cada elemento desses

circunstancialmente, o que faz da Análise do Comportamento uma ciência preocupada com a "prática"

e a "função das coisas" na vida do sujeito. Não se trata, portanto, de "aniquilar" um dado

comportamento disfuncional, mas avaliar as razões pelas quais ocorre e como implementar novos

comportamentos, e de que maneira isto poderia ser útil na real vivência do indivíduo. Esse método é

muito utilizado pelas grandes organizações no mundo competitivo.

1.3 COMPORTAMENTO OPERANTE

O comportamento operante abrange um leque amplo da atividade humana, dos comportamentos do

bebê ao balbuciar, agarrar as coisas, os enfeites do berço aos mais sofisticados objetos apresentados

pelo adulto. Segundo Keller (p.10), o comportamento operante

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inclui todos os movimentos de um organismo dos quais se pode dizer que, em algum

momento têm efeito sobre ou fazem algo ao mundo em redor. O comportamento

operante opera sobre o mundo, por assim dizer, quer direta, quer indiretamente.

A maior parte do comportamento humano provoca consequências no ambiente. Essas consequências

são denominadas mudanças no ambiente. Matos (apud Alencar 2001, p. 143) salienta que Skinner ao

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estudar “o comportamento operante considera aquele que afeta (atua sobre) o ambiente e, mais

importante, que é afetado pelas consequências desta atuação sobre o ambiente.” Ressalta o seguinte

exemplo:

uma criança brinca enfiando encaixes nos orifícios irregulares de uma caixa. Ela muda

o ambiente, mudando a localização dos encaixes e o conteúdo da caixa. Com isso

afeta seu comportamento futuro de manipular esses encaixes? E ainda: sua mãe

comenta sobre suas manipulações. Com isso também afeta o comportamento da

criança?(Matos, apud Alencar 2001, p. 143).

Desta forma, o conceito fundamental em Análise Comportamental é o de consequenciação (grifo

nosso); operante é o comportamento sensível as suas consequências. O objetivo da Análise

comportamental é descobrir as leis que descrevem essa sensibilidade.

1.4 O PAPEL DO ANALISTA COMPORTAMENTAL

O analista do comportamento não está interessado em investigar o que o comportamento significa, ou

o que ele simboliza. Está interessado em estudar as variáveis que afetam esse comportamento, e de que

maneira. Destas, as que mais interessam ao analista são aquelas que se originam no ambiente. A

interação comportamento-ambiente mais eficaz é aquela em que a consequência é contingente (grifo

nosso) a uma resposta do organismo; é incidental e não acidental.

1.5 CONTINGÊNCIAS

Ao examinar as contingências das quais os comportamentos são função, a Análise do Comportamento

oferece alternativa promissora para a explicação dos fenômenos psicológicos, bem como melhores

alternativas de intervenção sobre esses.

O tipo de contingência de reforço que mantém o comportamento e o esquema de reforçamento em que

é mantido é o principal determinante do tipo e intensidade de emoção que um indivíduo sente.

Aprender a identificar e distinguir essas contingências de reforço, bem como os diferentes esquemas

de consequenciação é condição mínima para realizar análise comportamental.

Uma perspectiva mais promissora é mudar as contingências das quais um comportamento é função,

do que propriamente os sentimentos ou estados da mente envolvidos em um comportamento. Não são

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os eventos internos que causam o comportamento. Tanto o evento interno quanto o comportamento são

determinados por algum acontecimento ambiental (Skinner, 1974 e 1989). Um exemplo claro dessa

relação é que “não choramos porque estamos tristes ou sentimos tristeza porque choramos, nós

choramos e sentimos tristeza porque aconteceu algo” (Skinner, 1989, p.103).

1.6 REFORÇO

O reforço é um tipo de consequência do comportamento que aumenta a probabilidade dele voltar a

ocorrer, como quando fazemos um pedido ou damos ordens, por exemplo, e somos atendidos, as

chances de pedirmos ou ordenarmos algo novamente aumenta, ou o reforço diferencial que consiste

em reforçar algumas respostas que obedecem a algum critério e em não reforçar outras respostas

similares.

Segundo Moreira e Medeiros,

O comportamento foi reforçado até começar o processo de extinção, pois quanto mais o

comportamento foi reforçado mais difícil será para ele ser extinto. Uma pessoa que

desde criança foi reforçada pelos pais, familiares a nunca se abater diante de uma

dificuldade, mesmo em ocasiões em que esteja sozinha, foi reforçado então a ter um

comportamento independente, portanto ao se deparar sozinha em momentos de

dificuldade continuará tendo comportamentos que busquem pelo seu bem estar mesmo

que não tenha nenhum reforçador; (b) O custo da resposta diante de um

comportamento que é preciso muito esforço para se obter reforço, pode-se diminuir a

resistência a extinção, por exemplo, um candidato teimoso que tenta uma entrevista de

emprego num único lugar, mas dia após dia ele não consegue contanto com seu futuro

empregador, ele parará de insistir em procurar emprego neste determinado local; (c) O

esquema de reforçamento na vida de um indivíduo também torna-se um fator na

resistência a extinção, alguém que foi reforçado intermitentemente, ora reforçado, ora

não, ao invés de um reforço contínuo, pode apresentar essa resistência. É até mais fácil

extinguir o comportamento de namorado que sempre teve fins de namoros definitivos

sem chance de retorno, do que de um que sempre que terminava um relacionamento

por insistência acaba voltando com a namorada, ou seja, suas futuras parceiras ao

tentar terminar o namoro encontrarão alguém mais resistente à extinção. Mesmo após a

extinção não significa que o comportamento não possa retornar, existe a probabilidade

que ele ressurja no que se chama recuperação espontânea, mas se não existirem

reforçadores quando esse comportamento surgir é provável que uma

nova recuperação espontânea diminua muito a chance de acontecer

novamente. (MOREIRA e MEDEIROS p. 58)

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Portanto, basicamente usamos na modelagem o reforço diferencial (reforçar algumas respostas e

extinguir outras similares) e aproximações sucessivas (exigir gradualmente comportamentos mais

próximos do comportamento-alvo) a fim de ensinar um novo comportamento, sendo uma característica

fundamental da modelagem a imediaticidade do reforço, ou seja, quanto mais próximo temporalmente

da resposta o reforço estiver, mais eficaz ele será. No exemplo do bebê imagine se a mãe reforçasse o

comportamento de dizer "mã" de seu bebê apenas alguns minutos após ele ter emitido esse som.

Provavelmente a palavra "mamãe" demoraria bem mais para ser aprendida. (MOREIRA e

MEDEIROS p. 58)

1.7 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NA PSICOLOGIA.

A ideia de que sentimentos e pensamentos causam comportamentos já foi superada na Psicologia do

século XX. Mas, agora, vertentes como alguns tipos de cognitivismo atribuem a explicação do

comportamento ao sistema nervoso, insistindo no equívoco de buscar explicações para fenômenos

comportamentais em outros níveis de análise.

Uma análise comportamental não para na descrição das atividades de um organismo ou de seus estados

internos, como as emoções; é necessário também descrever os eventos ambientais relacionados à

ocorrência dessas atividades e aos estados internos.

Nas linguagens cotidianas diversas expressões ocultam partes importantes de processos

comportamentais, fazendo parecer que estados mentais determinam comportamentos. Intenções e

expectativas, por exemplo, são examinadas por Skinner (1989, p.174) que demonstra que esses termos

não se referem a estados mentais sobre o futuro determinando o que a pessoa fará, mas termos que

remetem a experiências passadas em que possivelmente um evento foi seguido de outro com certa

frequência e faz com que o indivíduo tenha expectativa de que isso ocorra novamente. A forma como

nos referimos a processos psicológicos na linguagem cotidiana é mentalista e dificulta a

perceptibilidade sobre seus determinantes. Fenômenos psicológicos são explicados pela história

genética e ambiental na qual os organismos se desenvolvem. Examinar os eventos relacionados a essas

histórias é o que permite explicar comportamentos. A história de interação do organismo com o mundo

a sua volta, e não seus estados mentais, é o que explica a ocorrência de comportamentos, pensamentos e

sentimentos.

A premissa básica de uma terapia comportamental é que algum grau de controle sobre as variáveis

ambientais nas quais um indivíduo vive podem ser controladas por ele próprio, seja no lar, na escola, no

local de trabalho, etc. A terapia, como qualquer agência de controle de comportamento (Escola,

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Família, Governo, Economia, entre outros), modifica comportamentos das pessoas que a buscam.

Skinner (1989) considera que as críticas sobre “controle comportamental” costumam recair mais sobre

terapeutas comportamentais porque esses falam claramente sobre as contingências com as quais

trabalham e porque a terapia comportamental funciona. As mudanças comportamentais produzidas são

significativas e explícitas, o que provavelmente permite que mais pessoas avaliem ou critiquem o que é

realizado.

De um lado, temos profissionais da Psicologia que não identificam os controles sociais e ambientais

que determinam comportamentos. Esses profissionais simplesmente não têm condições de exercer

mudanças significativas em fenômenos psicológicos com eficácia melhor do que um efeito placebo ou

a possibilidade de mudanças aleatórias. Por outro lado, Rorbacher (2009) relata a afirmação de Sidman

de que os psicólogos que identificam os determinantes dos fenômenos psicológicos, mas que se

recusam a “controlar” comportamentos deixam de fazer aquilo de mais importante que há em sua

profissão. Saber da existência de controles comportamentais e não fazer nada em relação a isso é deixá-

los a cargo do acaso ou de pessoas com interesses exclusos.

Não usar controle comportamental não quer dizer que o controle do comportamento não exista. Ele

simplesmente está sob controle de outras variáveis. A questão importante para o psicólogo não é

“controlar” ou “não controlar”. Qualquer intervenção psicológica implica em algum grau de controle.

A questão é que tipo de controle se faz. Skinner (1989) relata que “controle é ético se exercido para o

bem do controlado”. Aquilo que o psicólogo faz melhora as condições de vida de seu cliente? Aumenta

sua autonomia e satisfação em seu dia-a-dia?

Atualmente, os terapeutas comportamentais discutem longamente em seus encontros de área a

necessidade de realizarem um bom diagnóstico comportamental antes de qualquer intervenção

planejada propriamente dita. O instrumento privilegiado a ser usado nessa tarefa seria a identificação

de relações funcionais entre padrões de resposta e certos aspectos ambientais identificáveis e,

preferencialmente, manipuláveis.

Skinner (1953/1965) identificou várias dessas alternativas, inclusive pesquisas de campo nas quais a

manipulação precisa de variáveis selecionadas previamente não seria possível. A experimentação aqui

ganharia um papel de “método ideal” em uma Ciência do Comportamento, mas não teria a ambição de

ser o único modo de apreender as regras de funcionamento da ação dos organismos.

Note-se, assim, que há amplas possibilidades de pesquisa empírica fora dos limites do laboratório,

desde observações sistemáticas do comportamento em ambiente natural na busca de regularidades

(mas sem a manipulação de variáveis) até procedimentos de coleta em contextos semiexperimentais,

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como em certas instituições educacionais e terapêuticas.

2. CONCLUSÃO

A experimentação aqui ganharia um papel de “método ideal” em uma Ciência do Comportamento,

mas não teria a ambição de ser o único modo de apreender as regras de funcionamento da ação dos

organismos. Note-se, assim, que há amplas possibilidades de pesquisa empírica fora dos limites do

laboratório, desde observações sistemáticas do comportamento em ambiente natural na busca de

regularidades (mas sem a manipulação de variáveis) até procedimentos de coleta em contextos semi-

experimentais, como em certas instituições educacionais e terapêuticas.

A última fração seria “do Comportamento”. Aqui fica explicitado qual o objeto de estudo a ser alvo da

“Análise Experimental”. O comportamento em si mesmo seria o legítimo objeto a ser examinado e

desvendado. Comportamento, por sua vez, seria a interação entre um organismo, fisiologicamente

constituído como um equipamento anatomofisiológico, e o seu mundo, histórico e imediato. Os

diversos intercâmbios entre o organismo e o seu mundo seriam tratados aqui por “comportamento” ou

“ação”.

Na Análise Aplicada do Comportamento estaria o campo de intervenção planejada dos analistas do

comportamento. Nela, estariam assentadas as práticas profissionais mais tradicionalmente

identificadas como psicológicas, como o trabalho na clínica, escola, saúde pública, organização e onde

mais houver comportamento a ser explicado e mudado. Nessas áreas há uma exigência por resultados e

uma relação diferente da acadêmica que, por vezes, torna as produções de conhecimentos

metodológica e eticamente delicadas (Luna, p. 229 1999).

Ainda assim, é possível pensar em gerar problemas de pesquisa (inclusive para as demais subáreas,

como a conceitual e a experimental), e, dentro de certos limites, implementar a construção do corpo

explicativo de princípios comportamentais pela Análise do Comportamento buscada (Kerbauy, p. 10

1999).

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