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ESTILOS COGNITIVOS DE GESTORES PARTICIPANTES DO PROGRAMA ALI – SEBRAE Radeo Sousa SILVA, Mariana Rodrigues PARDO, Osmar SIENA, Carlos André da Silva MULLER (UNIR) Resumo: As Micro e Pequenas Empresas (MPEs) representam significativa parcela das organizações formais no Brasil, sendo uma característica singular delas a atuação direta do proprietário na gestão. Dentre outros elementos, a inovação também pode se caracterizar como um dos vários aspectos impactados diretamente pela influência e decisão dos gestores- proprietários. Inserido nessa discussão, o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) possui um programa específico que focaliza a inovação dentro das MPEs, chamado Agentes Locais de Inovação - ALI. A ideia principal do programa é a sensibilização dos empreendedores sobre a importância de inovar rotineiramente, como uma estratégia para crescer. Assim sendo, se buscou nesta pesquisa compreender as relações existentes entre inovação e estilos cognitivos em MPEs, como meio de estabelecer relações preliminares entre grau de inovação e estilos cognitivos dos gestores-proprietários. No que tange aos procedimentos metodológicos, esta pesquisa se utilizou da abordagem quanti-quali, sendo caracterizada também como uma pesquisa documental e um estudo de campo. Foram selecionadas intencionalmente três empresas representativas, de acordo com as pontuações do Grau de Inovação Global. Após a classificação das empresas foi aplicado o questionário Kirton Adaption Inventory (KAI), a fim de identificar os estilos cognitivos dos gestores das organizações. Complementado a investigação, se procedeu à entrevista dos participantes. Apesar de todos os participantes serem classificados como mais tendenciosos ao estilo cognitivo inovador, quando observados em detalhe, por meio dos gráficos, se verificou a existência de certas distinções. A percepção dos gestores entrevistados em relação à inovação foi considerada discordante em relação à classificação destes no estilo inovador. O tema inovação tem feito parte do cotidiano dos gestores, porém se constata, também, a dificuldade de aplicação desse conceito nas diversas dimensões analisadas pela ferramenta Radar de Inovação. Palavras-chaves: Estilo cognitivo; Inovação; Pequenas empresas. ISSN 1984-9354

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ESTILOS COGNITIVOS DE GESTORES PARTICIPANTES DO PROGRAMA ALI – SEBRAE

Radeo Sousa SILVA, Mariana Rodrigues PARDO, Osmar SIENA, Carlos André da

Silva MULLER (UNIR)

Resumo: As Micro e Pequenas Empresas (MPEs) representam significativa parcela das organizações formais no Brasil, sendo uma característica singular delas a atuação direta do proprietário na gestão. Dentre outros elementos, a inovação também pode se caracterizar como um dos vários aspectos impactados diretamente pela influência e decisão dos gestores-proprietários. Inserido nessa discussão, o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) possui um programa específico que focaliza a inovação dentro das MPEs, chamado Agentes Locais de Inovação - ALI. A ideia principal do programa é a sensibilização dos empreendedores sobre a importância de inovar rotineiramente, como uma estratégia para crescer. Assim sendo, se buscou nesta pesquisa compreender as relações existentes entre inovação e estilos cognitivos em MPEs, como meio de estabelecer relações preliminares entre grau de inovação e estilos cognitivos dos gestores-proprietários. No que tange aos procedimentos metodológicos, esta pesquisa se utilizou da abordagem quanti-quali, sendo caracterizada também como uma pesquisa documental e um estudo de campo. Foram selecionadas intencionalmente três empresas representativas, de acordo com as pontuações do Grau de Inovação Global. Após a classificação das empresas foi aplicado o questionário Kirton Adaption Inventory (KAI), a fim de identificar os estilos cognitivos dos gestores das organizações. Complementado a investigação, se procedeu à entrevista dos participantes. Apesar de todos os participantes serem classificados como mais tendenciosos ao estilo cognitivo inovador, quando observados em detalhe, por meio dos gráficos, se verificou a existência de certas distinções. A percepção dos gestores entrevistados em relação à inovação foi considerada discordante em relação à classificação destes no estilo inovador. O tema inovação tem feito parte do cotidiano dos gestores, porém se constata, também, a dificuldade de aplicação desse conceito nas diversas dimensões analisadas pela ferramenta Radar de Inovação.

Palavras-chaves: Estilo cognitivo; Inovação; Pequenas empresas.

ISSN 1984-9354

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1 INTRODUÇÃO

As Micro e Pequenas Empresas (MPEs) possuem características peculiares que as tornam

objeto frequente de estudos no mundo acadêmico. Nos países em desenvolvimento, como o caso

do Brasil, as MPEs representam significativa parcela, em torno de 90% a 99%, das organizações

formais, oportunizando desenvolvimento da economia e evolução da sociedade (LIMA et al.,

2013; SEBRAE/PR, 2012).

Uma característica singular dessas pequenas empresas é a atuação do proprietário na gestão

da organização. Dado o nível de influência direta no desempenho do negócio, o gestor-

proprietário possui um papel centralizador na tomada de decisão e, em muitos casos, a própria

organização se torna reflexo do perfil do gestor (GIMENEZ, 1998). Essa constatação mostra o

quão importante se tornam os estudos sobre características individuais, cognição, perfil,

comportamento e formas de pensar das pessoas e, em específico, daquelas que gerem MPEs.

Nesse sentido, a Teoria da Adaptação-Inovação de estilos cognitivos, elaborada por

Michael Kirton (1976), representa uma possibilidade de compreensão de como a solução de

problemas podem interferir no processo de decisão empresarial, posto que parte do pressuposto

que cada indivíduo possui um estilo criativo preferencial para tomada de decisão e resolução de

problemas. Estes estilos estão inseridos em um continnum, podendo localizar-se entre dois polos

extremos, definidos pelo autor como mais adaptador ou mais inovador.

Como suporte para o estudo de estilos cognitivos de gestores de MPEs, se sugere que o

estilo preferencial de tomada de decisão possa ser medido e então analisado com outros elementos

tais como escolhas estratégicas, iniciativas para práticas de inovação e implementação de novas

ideias nas organizações, conforme estudos anteriores (FERREIRA; RAMOS, 2004; GIMENEZ et

al, 1999; GIMENEZ, 1998; SADLER-SMITHA; BADGERA, 1998;).

Entre as discussões recentes acerca de inovação estão aquelas que questionam em qual

nível ou em que momento o processo inovativo ocorre, os efeitos psicológicos dos colaboradores

envolvidos no desempenho e resultados de novos produtos ou processos, além dos meios de

manter ou elevar a competitividade, tendo a inovação como fator de desempenho organizacional.

Por outro lado, Schumpeter (1982) avalia os impactos deste processo como endógeno, afetando

toda a economia. Nesse contexto, dada à abrangência e o reconhecimento das possibilidades de

inovação em MPEs, tem-se buscado meios de transmitir a cultura que represente ações

sistemáticas em direção a inovações entre grupos de empresas, uma vez que se compreende a

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inovação como forma de qualidade atribuída por clientes sendo igualmente elemento condutor do

desenvolvimento econômico (SAWHNEY; WOLCOTT; ARRONIZ, 2006).

No Brasil, o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)

possui um programa específico que focaliza a inovação dentro das MPEs chamado Agentes Locais

de Inovação - ALI. O Programa ALI é uma proposta que tem como objetivo levar, de forma

continuada, a inovação à gestão das pequenas empresas. A ideia principal do programa é a

sensibilização dos empreendedores sobre a importância de inovar rotineiramente, como uma

estratégia para crescer, e para tanto se utiliza da ferramenta Radar de Inovação para avaliar o grau

de inovação de uma organização (SEBRAE/PR, 2012; BACHMANN & ASSOCIADOS, 2008).

Nesse sentido, inovação também pode caracterizar-se como um dos vários aspectos

impactados diretamente pela influência e decisão dos gestores-proprietários nas MPEs delineando,

dessa maneira, um estudo acerca dos fenômenos organizacionais sob a perspectiva de estilos

cognitivos (HAYES; ALLINSON, 1994). Assim sendo, buscou-se, nesta pesquisa, compreender

as relações existentes entre inovação e estilos cognitivos em MPEs, como meio de estabelecer

relações preliminares entre grau de inovação e estilos cognitivos dos gestores-empreendedores.

A estrutura deste artigo é composta por 5 (cinco) seções, sendo a primeira esta

introdução. Na segunda seção, os pesquisadores discorrem sobre os embasamentos acerca dos

estudos sobre estilos cognitivos, além de descreverem o Programa ALI e sua aplicação. Na seção

seguinte são tratadas as etapas da investigação. A discussão sobre os dados coletados e suas

significações é apresentada na quarta seção. Por fim, os pesquisadores encerram esta pesquisa

relatando, na quinta seção, a síntese das reflexões e interpretações atingidas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Estilos Cognitivos

A cognição está relacionada com o processo de aquisição e utilização de conhecimento.

Segundo Gimenez (2000), cada indivíduo possui diferenças no modo de obter e utilizar

informações sugerindo assim um estilo individual cognitivo. Os autores Hayes e Allinson (1994)

analisaram a relação de fenômenos organizacionais sob o ponto de vista de estilos cognitivos. Os

autores listaram 22 dimensões onde é possível a observação desses estilos individuais. Dentre

essas dimensões, Kirton (1976) propôs um modelo chamado de Teoria da Adaptação-Inovação, o

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qual expõe que as pessoas adotam estilos de criatividade e preferência na tomada de decisão e

solução de problemas.

A Teoria da Adaptação-Inovação parte do pressuposto de que a forma de pensar do

indivíduo, no que diz respeito à criatividade para a resolução de problemas, faz parte do cotidiano

de cada ser humano. Através de seus estudos, Kirton (2003; 1984; 1976) pôde demonstrar que

estilos de criatividade produzem diferentes padrões de comportamento, sendo esses essenciais

para o sucesso e para resolução de problemas ao longo do tempo.

Por essa teoria é possível, ainda, analisar essencialmente o estilo criativo de como as

pessoas resolvem problemas e tomam decisões, enfatizando que a avaliação do nível cognitivo

definido pelo autor como potencial capacidade (inteligência ou talento) e níveis de aprendizagem

(competências) são características independentes e avaliadas por outras medidas.

O Inventary Kirton Inovation Adpatation – KAI (questionário elaborado pelo autor) mede

o estilo de pensamento do indivíduo, o qual, segundo ele, se localiza em um continnuum

normalmente distribuído que varia desde alta adaptação à alta inovação, representado na figura 1.

Figura 1 – Continuum dos estilos cognitivos de Kirton.

Fonte: De Vasconcelos, Guedes e Cândido, 2007, p.128.

Algumas implicações e características foram identificadas dos extremos inovadores e

adaptadores, conforme exposto no quadro 1.

Quadro 1 – Principais características de perfis adaptadores e inovadores.

IMPLICAÇÕES EXTREMOS ADAPTADORES EXTREMO INOVADORES

Na definição de problemas

Tendem a aceitar os problemas e restrições como definidos. Buscam solução rápida que limite descontinuidades e aumente imediatamente a eficiência.

Tendem a rejeitar a percepção geralmente aceita dos problemas e tentam redefini-los. Parecem menos preocupados com eficiência imediata, buscando ganhos a longo prazo.

Na geração de soluções

Em geral buscam poucas soluções que são novas, criativas, relevantes e aceitáveis, buscando “fazer as coisas melhor”.

Produzem numerosas ideias que podem não parecer relevantes ou aceitáveis para outros. Em geral as ideias podem resultar em “fazer as coisas diferentemente”.

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Para políticas Preferem situações bem estruturadas e estabelecidas.

Preferem situações não estruturadas.

Para ajuste organizacional

Essenciais para as atividades em andamento, mas em tempo de mudanças inesperadas podem ter dificuldades em deixar seus papéis prévios.

Essenciais em tempos de mudança ou crise, mas podem ter dificuldades em aplicar-se às demandas organizacionais de rotina.

Para comportamento percebido

Visto pelos inovadores: como confiáveis, conformados, previsíveis, inflexíveis, atados ao sistema, intolerantes de ambiguidade.

Visto pelos adaptadores: como não confiáveis, não práticos, ameaçadores ao sistema estabelecido e criadores de dificuldades.

Fonte: Adaptado de Kirton (1976).

Esses dois pólos distintos de tomada de decisão demonstram a preferência do indivíduo por

“fazer as coisas melhor” ou “fazer as coisas diferentemente” (STUM, 2009). O extremo do pólo

“fazer as coisas melhor” foi caracterizado como estilo adaptativo. O estilo adaptativo é atribuído

às pessoas que, para resolução de problemas, carregam internamente termos de referência, teorias,

precedentes políticos e paradigmas resultando em esforços para oferecer a “melhor solução” para

o problema (KIRTON, 1978).

O estilo cognitivo adaptativo tem como natureza, um perfil disciplinador, que cumpre com

as regras, que é preciso e objetivo quando se pensa em resolver problemas. Este tipo adaptador

sempre buscará soluções já conhecidas e testadas por outros.

Por outro lado, o extremo polo “fazer as coisas diferentemente” foi denominado como

estilo inovador. As pessoas de traço mais inovador tendem a destacar o problema da forma como

ele é percebido, sendo suscetíveis a produzir soluções menos esperadas e vistas como “diferentes”

pelas outras pessoas.

O perfil inovador possui um gênero desafiador, que arrisca e busca novas maneiras de

resolver problemas e tomar decisões.

A teoria da Adaptação-Inovação enfatiza que a abordagem adaptadora ou inovadora, não

deve ser confundida com nível ou capacidade de solução de problemas de forma criativa. Não

existe certo ou errado, bom ou ruim nas preferências dos estilos, trata-se apenas de dois tipos

distintos para tomada de decisão.

Em cada caso é possível visualizar seus pontos fortes assim como suas potenciais

fraquezas, mostrando que ambos os estilos são capazes de gerar soluções criativas, mas que

refletem suas diferentes abordagens.

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O entendimento das preferências individuais, conduz então a uma sucessão de

possibilidades de aplicação do conceito de estilo cognitivo em decisões administrativas,

estratégicas e organizacionais.

2.2 Inovação e o Radar de Inovação

A inovação tornou-se ao longo do tempo um tema relevante de pesquisas acadêmicas e

empresariais pela sua importância e por não possuir uma definição precisa. Schumpeter (1982)

analisou a inovação como o elemento condutor do desenvolvimento econômico, seja ela na forma

de introdução de novos bens e técnicas de produção ou surgimento de novos mercados.

Desde a década de 1980 a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico –

OCDE objetivando promover a interação entre o setor produtivo e áreas de pesquisa cunhou o

termo inovação em sua agenda. Parte de suas publicações como, por exemplo, o Manual de Oslo

tem o objetivo de padronizar e orientar os conceitos, metodologias e indicadores de pesquisa e

desenvolvimento relacionados à inovação e tecnologia em países industrializados.

De acordo com o Manual de Oslo (OCDE, p.55, 2005),

[...] a inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.

Esse mesmo documento trata da divisão da inovação em quatro áreas: i) Inovação em

produto: significa a introdução de um bem ou serviço novo ou melhorado; ii) Inovação em

processo: constitui-se na implementação de um método de produção novo ou significativamente

melhorado; iii) Inovação em marketing: constitui-se na implementação de um novo método de

marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou no posicionamento do

produto em sua promoção; e iv) Inovação organizacional: significa introduzir um novo método

organizacional nas práticas de negócios da empresa ou na organização de seu local de trabalho. 

Desta forma, uma organização inovadora é aquela que “é capaz de introduzir novidades de

qualquer tipo em bases sistemáticas e colher os resultados esperados.” (BARBIERI, 2007, p. 88).

Neste sentido, a inovação passou a ser considerada questão essencial para a

competitividade das organizações, tornando-se o caminho seguro para que as organizações

obtenham vantagem competitiva sustentável em relação à concorrência.

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A inovação, enquanto processo estratégico, engloba muito mais do que o desenvolvimento

de inovações tecnológicas de produtos ou processos, envolve a criação de novos modelos de

negócios e novos modelos organizacionais que satisfaçam as expectativas do ambiente

competitivo das organizações no mercado (FRANCO, 1998).

Leifer, O’Connor e Rice (2002) buscaram analisar as inovações através dos efeitos que

causam, classificando-as, assim, por inovações incrementais ou radicais.

A inovação incremental consiste no aproveitamento de uma tecnologia existente, buscando

a melhoria dos produtos e serviços, já a inovação radical tem como característica a ruptura intensa,

a qual pode criar até mesmo novos mercados.

Entretanto neste trabalho, busca-se compreender a inovação conforme a obra de Sawhney,

Wolcott e Arroniz (2006), a qual sugere que a inovação deve estar ancorada no valor atribuído

pelos clientes, enfatizando que os gestores devem pensar de forma holística em todas as

dimensões possíveis que a organização possa inovar. No intuito de facilitar esse raciocínio os

autores elaboraram a ferramenta Radar de Inovação, apresentada na figura 2.

Figura 2 – Representação gráfica da Ferramenta Radar de Inovação.

Fonte: Sawhney, Wolcott e Arroniz, 2006.

Em termos práticos, essa ferramenta consiste na percepção de doze dimensões inovadoras

apresentadas no quadro 2 e tem como base de composição quatro eixos principais: i) cliente; ii)

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oferta; iii) processos e iv) localização da empresa. A partir da aplicação do Radar de Inovação se

torna possível analisar uma organização de acordo com o seu grau de inovação ora identificado.

Quadro 2 – As 12 dimensões de abordadas pelo Radar de Inovação.

DIMENSÃO DEFINIÇÃO

Oferta Desenvolvimento de produtos com características inovadoras.

Processos Redesenho dos processos, onde se permitem incrementos para a eficiência operacional.

Clientes Identificação de novos nichos de mercado e necessidades dos clientes.

Praça Identificação de novas formas de comercialização ou distribuição.

Plataforma Relacionamento do sistema de produção e a diversidade de produtos demandados.

Marca Relacionada à forma como a empresa transmite ao consumidor os valores da empresa.

Soluções Mecanismos para simplificar as dificuldades com o cliente.

Relacionamento Relacionamento do cliente com a empresa.

Agregação de valor

Relacionado a como captar valor dos produtos percebido pelos clientes.

Organização da Cadeia de

Fornecimento

Melhorar a estrutura da empresa em toda cadeia, relacionamento logístico com fornecedores e clientes.

Rede Relacionada à comunicação que a empresa tem com os elos da cadeia e com os clientes.

Fonte: adaptado de Sawhney, Wolcott e Arroniz, 2006.

No Brasil, o SEBRAE, através do Programa ALI, baseia-se na ferramenta desenvolvida

por Sawhey, Wolcott e Arroniz (2006) como metodologia de diagnóstico de grau de inovação em

MPEs.

O Programa ALI é uma proposta que tem como objetivo levar, de forma continuada, a

inovação na gestão das pequenas empresas (SEBRAE/PR, 2012). A ideia principal é a

sensibilização dos empreendedores sobre a importância de inovar rotineiramente, como uma

estratégia para crescer.

Complementado as dimensões abordadas pelo Radar de Inovação, o SEBRAE adicionou a

dimensão “Ambiência Inovadora”, a qual consiste na avaliação da existência de um clima

organizacional propício à inovação (BACHMANN & ASSOCIADOS, 2008). Por conseguinte, as

13 dimensões são mensuradas, assim como a média entre elas, resultando no valor do grau de

inovação global da organização.

Como forma de proporcionar melhor compreensão dos resultados aferidos por meio do

Radar de Inovação, o SEBRAE também utiliza de escala de classificação das organizações em três

níveis de grau de inovação exibidos no quadro 3.

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Quadro 3 – Grau de Inovação

ESCORE SITUAÇÃO 5 Organização inovadora sistêmica

3 Organização inovadora ocasional

1 Organização pouco ou nada inovadora

Fonte: Bachmann & Associados (2008).

De acordo com o SEBRAE (2012), a pontuação 5 foi definida como “organização

inovadora sistêmica”, a qual indica que a prática de inovação está presente na empresa. A

pontuação 3, situada por “organização inovadora ocasional” ocorre quando a inovação é incipiente

e busca por melhorias. Em terceiro caso, quando a pontuação encontrada é de valor 1, a empresa é

identificada como “organização pouco ou nada inovadora”, indicando que a inovação não está

presente na organização.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo tem por objetivo analisar o estilo cognitivo de três gestores de MPEs sob o

ponto de vista do diagnóstico do grau de inovação proporcionado pelo Programa ALI do

SEBRAE, no município de Porto Velho, para tanto, utilizou-se como procedimento geral a

abordagem quanti-quali (CRESWELL, 2010).

Em um primeiro momento, a partir de análise documental (FLICK, 2009), os

pesquisadores examinaram e classificaram 437 devolutivas, ou seja, 437 documentos que

descreviam e relatavam diagnósticos e levantamentos realizados em MPEs atendidas no Estado de

Rondônia pelos agentes do Programa ALI. Como consequência dessa etapa se pôde verificar as

descrições dos agentes quanto aos empreendimentos e gestores e, ainda, aferir o Grau de Inovação

das organizações citadas nos documentos.

Com base na classificação fundamentada no Grau de Inovação constatado nas devolutivas,

os pesquisadores procederam à seleção intencional (CRESWELL, 2010) de três organizações

representativas dos diferentes níveis de práticas de inovação, resultando no grupo de empresas

expostas no quadro 4.

Quadro 4 – Empresas representativas do Grau de Inovação.

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ORGANIZAÇÃO GRAU DE INOVAÇÃO

Empresa A - Instituto de Beleza 5

Empresa B - Cabelereiros e Instituto de Beleza 3

Empresa C - Escola de Música 1 Fonte: Elaborado pelos autores.

Em etapa seguinte ao exame documental, a pesquisa se caracterizou como um estudo de

campo (GIL, 2011), tendo em vista que os pesquisadores buscaram aproximação e interação com

os gestores das empresas descritas no quadro 4, com o objetivo de investigar as realidades dos

participantes e aplicar a coleta de dados em dois momentos.

Na primeira fase da coleta se procedeu à aplicação do questionário KAI (KIRTON, 1976)

aos respectivos gestores, a fim de identificar os estilos cognitivos destes.

O questionário KAI possui 32 itens que verificam o estilo adaptador ou inovador do

indivíduo analisado, sendo que cada item possui 5 opções de respostas distribuídas em uma escala

Likert de pontuação entre 1 a 5, variando entre “discordo totalmente” até “concordo totalmente”.

Nesse questionário o resultado final pode variar entre 32 e 160 pontos, sendo considerados 96

pontos como a média a qual indica que uma pontuação inferior denota indivíduos com estilos mais

adaptadores, enquanto que uma pontuação superior a 96 denotará indivíduos com estilos mais

inovadores.

Complementado a investigação, os pesquisadores procederam à entrevista

semipadronizada (FLICK, 2009; GIL, 2011), no intuito captar dados verbais dos participantes em

relação aos perfis cognitivos; ao estilo do empreendimento e às expectativas quanto ao resultado

final da assessoria do Programa ALI do SEBRAE.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Empresa A - Instituto de Beleza

De acordo com a investigação documental das devolutivas do Programa ALI, a Empresa A

atua há mais de 15 anos no segmento de beleza, estética e perfumaria e sua missão é a promoção

da máxima satisfação dos clientes através do atendimento personalizado e da qualidade nos

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serviços prestados, buscando sempre a criatividade e inovação de acordo com as tendências de

mercado nacionais e internacionais.

Segundo relato da agente do SEBRAE, descrito na devolutiva, “[...] a ação empreendedora

da empresária permitiu o investimento na região norte para realizar o seu sonho, buscando novos

conhecimentos para iniciar uma empresa de sucesso, com isso a empresária participa de feiras e

congressos nacionais e internacionais para inovar e se manter competitiva no mercado.”.

Ainda com base na investigação documental é apresentado no gráfico 1 o diagnóstico da

Empresa A em relação à ferramenta Radar de Inovação.

Gráfico 1 – Radar de inovação da Empresa A.

Fonte: elaborado pelos autores.

Das treze dimensões investigadas pelos agentes do Programa ALI na organização ressalta-

se que seis delas foram pontuadas com a nota máxima (cinco pontos) e somente uma dimensão

obteve pontuação baixa (dois pontos), segundo a escala adotada (1 a 5). Ainda, de acordo com o

gráfico 1, cinco dimensões ficaram próximas da classificação máxima, perfazendo cada uma delas

quatro pontos e indicando que o tema inovação é presente e significativo em quase todas as áreas

investigadas, segundo consta nas devolutivas do SEBRAE.

Ademais, a avaliação dos agentes também proporcionou verificar que, conforme a

constatação de adoção de práticas de inovação habituais traduzidas pelas pontuações aferidas, a

Empresa A se revelou como uma organização com tendência à inovação de forma sistêmica.

Ainda, nesse mesmo empreendimento se procedeu à aplicação do questionário KAI, para

identificação do estilo cognitivo da gestora principal, sendo o resultado da pontuação exibido no

gráfico 2.

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Gráfico 2 – Distribuição das repostas ao questionário KAI aplicado a gestora da Empresa A.

Fonte: elaborado pelos autores.

De acordo com o gráfico 2, a distribuição das respostas da gestora da Empresa A teve

maior concentração nas opções que resultam maior pontuação e expressam tendência ao estilo

cognitivo inovador. Em detalhe, somente seis itens respondidos caracterizam perfis ou estilos mais

adaptadores, em contraposição aos 26 itens escolhidos pela participante e que esboçam perfis de

cognição classificada como inovador.

Ressalta-se, ainda, que a opção “indiferente” não foi escolhida dentre os 32 itens

respondidos pela participante resultando, desta forma, em um total de 127 pontos apurados no

resultado final do questionário KAI, confirmando, deste modo, a identificação clara do estilo

cognitivo inovador por parte da gestora.

A compreensão mais apurada obtida por meio de sessão de entrevista não foi possível, uma

vez que por manifestação da própria gestora não houve participação nesse tipo de coleta de dados,

remanescendo os levantamentos realizados nas pesquisas documental e de campo.

Isto posto, se pôde depreender com base nas análises expostas que tanto o grau de inovação

da Empresa A, quanto o perfil cognitivo da gestora convergem, de forma significativa, para

práticas que expressam evidências de atitudes e comportamentos inovadores ou para fazer as

coisas diferentemente.

4.2 Empresa B – Cabelereiros e Instituto de Beleza

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Conforme a compreensão da documentação obtida pelo Programa ALI, a Empresa B (cuja

atividade principal consiste em oferecer serviço de qualidade de vida aos clientes) engloba

atividades de beleza, higiene pessoal, estética e bem-estar, buscando satisfazer as necessidades dos

consumidores ofertando produtos e serviços que excedam as suas expectativas. Para isto, a

empresa se preocupa constantemente com a qualidade do ambiente de trabalho e busca inovações,

a fim de melhorar suas instalações, processos, utilização de tecnologia e novas matérias-primas,

priorizando o aperfeiçoamento técnico de seus serviços, treinando periodicamente seus

colaboradores para que possam oferecer um serviço de excelência na região.

Na devolutiva do Programa ALI foi utilizado como fonte de dados o Diagnóstico

Empresarial, Diagnóstico Grau de Inovação e Comportamento do Empreendedor. É importante

destacar no diagnóstico empresarial a avaliação da empresa nas dimensões de liderança,

estratégias, clientes, sociedade, conhecimento, pessoas, processos e resultados, a qual aponta

resultados satisfatórios na maior parte dos critérios avaliados na Empresa B. Essa interpretação

demonstra que a empresa busca por melhorias contínuas com intuito de se consolidar no mercado.

Consta, ainda, na devolutiva os seguintes resultados, expostos no gráfico 3, quanto à

aplicação da ferramenta Radar de Inovação:

Gráfico 3 – Radar de inovação da Empresa B.

Fonte: elaborado pelos autores.

Dentre as treze dimensões investigadas pelos agentes do Programa ALI se percebeu que

nenhum item foi classificado com a maior pontuação (cinco pontos). As dimensões que obtiveram

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os maiores valores foram cinco critérios: plataforma, marca, relacionamentos, cadeia de

fornecimento e rede, todos recebendo três pontos.

A dimensão ambiência inovadora, responsável por avaliar a existência de mecanismos que

incentivem os colaboradores a apresentarem ideias e soluções possui peso 2 na metodologia do

diagnóstico de Grau de Inovação. Nesse caso, a Empresa B expressou como nota 1,5 pontos. Em

vista da escala adotada (1 a 5) esta dimensão se mostrou com um valor baixo e sugerindo

melhorias neste quesito.

Ainda de acordo com o gráfico 3, se pode observar a pontuação mínima (um ponto) na

dimensão presença e pontuação dois nas dimensões clientes, soluções, agregação de valor e

processos.

A partir da somatória e média das pontuações das treze dimensões o resultado do Grau de

Inovação Global da organização foi de 2,5. Esta pontuação se enquadra em “Organização

Inovadora Ocasional”, ou seja, existe a adoção de práticas e atividades inovadoras na empresa,

mas não são rotineiras e sistemáticas.

Em relação ao Comportamento Empreendedor, a percepção do agente ALI sobre a

empresária indica um perfil proativo diante de questões que precisam ser resolvidas, enfatizando

critérios relacionados à busca de informações; oportunidades e iniciativas; exigência de qualidade

e eficiência; e persistência.

Ainda em relação à Empresa B, se procedeu a aplicação do questionário KAI, para a

identificação do estilo cognitivo da gestora, sendo o resultado apresentado no gráfico 4.

Gráfico 4 – Distribuição das repostas ao questionário KAI aplicado a gestora da Empresa B.

Fonte: elaborado pelos autores.

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De acordo com o gráfico 4, a distribuição das respostas da gestora da Empresa B compôs

maior concentração em dois tipos opostos de respostas. Em detalhe, 16 questões foram

respondidas assinalando “concordo totalmente”, nas quais a somatória resulta em uma maior

pontuação, assim, expressando tendência ao estilo cognitivo inovador, em contraponto, 12

questões foram assinaladas como “discordo totalmente”, o que significa uma somatória menor de

pontuações, salientando a tendência de cognição adaptadora nessas respostas.

Em um total de 102 pontos apurados no resultado final do questionário KAI, a gestora foi

classificada como estilo cognitivo inovador.

Sucedendo à análise documental e aplicação de questionário KAI, em entrevista realizada

com a gestora os pesquisadores puderam identificar que a participante nota-se como uma “pessoa

inovadora”, além de considerar seu empreendimento como uma “empresa inovadora no mercado”.

A participante da pesquisa manifestou, ainda, a expectativa de sua empresa “fazer as coisas

melhor”, como resultado ao final da participação no Programa ALI.

Assim sendo, se constata, com base na exposição de análises, que a gestora adota um perfil

de estilo cognitivo inovador, corroborando com os dados verbais da entrevista. Além disso, a

organização planeja e implementa atividades de inovação ocasionalmente, de forma não rotineira.

4.3 Empresa C – Escola de Música

O exame da devolutiva trouxe melhor compreensão acerca da Empresa C, a qual atua no

segmento educacional voltado para o ensino de música.

A devolutiva não traz maiores detalhes sobre as características da organização, entretanto,

inclui citação do próprio gestor que, acerca do ramo de negócio, menciona ser “[...] o tipo de coisa

que, para ser bem feita, precisa de turmas muito pequenas. De preferência, aulas individuais. Só

que isso requer um grande número de professores. E, além dos custos, é muito difícil conseguir

bons professores em quantidade.”.

O diagnóstico do Radar de Inovação, incluso no documento do SEBRAE e analisado pelos

pesquisadores, é exposto no gráfico 5.

Gráfico 5 – Radar de inovação da Empresa C.

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Fonte: elaborado pelos autores.

De forma destacada, a dimensão plataforma se sobressai das demais apresentadas no

gráfico 5, obtendo 4 pontos, tornando-se item eminente pelo diagnóstico dos agentes do Programa

ALI. O conceito dessa dimensão significa a capacidade da organização em utilizar a mesma

tecnologia, componentes ou métodos de montagem com o objetivo de ofertar um número maior de

produtos e serviços demonstrando, dessa forma, uma tendência inovadora.

Semelhante situação ocorre com a dimensão marca que, em detalhe, também se destacou

de maneira isolada, com três pontos, logo abaixo da dimensão plataforma.

Já todas as demais dimensões obtiveram pontuações menor que três na escala. Dentre as

dimensões abaixo de três pontos vale destacar que soluções, agregação de valor, processos,

organização, cadeia de fornecimento, presença e rede foram classificadas com valor mínimo da

escala, ou seja, um ponto.

No cálculo geral das pontuações, a Empresa C foi classificada com Grau de Inovação

Global de 1,7 pontos, se inserindo como uma organização pouco ou nada inovadora, segundo

avaliação do SEBRAE.

No tocante a apuração dos resultados quanto ao questionário KAI, é exibida, no gráfico 6,

a distribuição das respostas do gestor principal da organização.

Gráfico 6 – Distribuição das respostas ao questionário KAI aplicado ao gestor da Empresa C.

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Fonte: elaborado pelos autores.

Ao se observar, em detalhe, o gráfico 6 depreende-se que o gestor da Empresa C manteve

uma frequência próxima de uma distribuição uniforme em todas as alternativas. Em destaque, se

mostram, ao total, 19 itens relativos às respostas do participante que denotam características do

estilo inovador. De forma abrangente, depreendeu-se, com o exame dessas respostas, que o perfil

cognitivo do gestor, tanto indica preferências cognitivas adaptadoras como preferências cognitivas

inovadoras.

Dessa maneira, em um total de 112 pontos apurados no resultado final do questionário

KAI, testifica-se a classificação do estilo cognitivo inovador por parte do gestor.

Complementando a investigação, em sessão para aplicação de entrevista, se pode

constatar que o participante considerou-se ser uma “pessoa adaptadora” e, ainda, no segmento

empresarial em que atua, classificou sua organização como uma “empresa inovadora no mercado”.

Ademais, com relação ao Programa ALI e ao acompanhamento dos agentes, o participante

manifestou a expectativa de sua empresa “fazer as coisas melhor” como resultado final do

programa.

Fundamentando-se nas análises apresentadas, os resultados do grau de inovação e do perfil

cognitivo foram divergentes, pois revelaram uma organização pouco inovadora, porém com um

gestor identificado com estilo cognitivo inovador, em contraponto aos dados verbais constatados

na entrevista.

5 CONCLUSÕES

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Após a classificação, com base no grau de inovação, das organizações abordadas nesta

pesquisa e, ainda, baseado nas análises expostas, se conclui que, quanto ao perfil de estilos

cognitivos, todos os gestores participantes foram identificados com tendência ao estilo cognitivo

inovador, no entanto, apesar dos participantes serem assim classificados, quando observados em

detalhe os gráficos de distribuição das respostas ao questionário KAI, se verifica a existência de

certas distinções, provavelmente, indicadoras de estilos criativos e de tomada de decisão mais

acentuados que outros.

Ainda dentre os participantes, a gestora da Empresa A - Instituto de Beleza foi a que mais

se aproximou do polo extremo inovador, coadunando com a alta pontuação obtida na classificação

do grau de inovação, segundo a ferramenta Radar de Inovação aplicada pelo Programa ALI.

Tal constatação não significa afirmar que há uma relação direta entre estilos cognitivos e

graus de inovação, mesmo porque ao se observar os gráficos representativos das Empresas B e C

se constatam divergências quanto a essa interpretação.

Ademais, no que se refere às entrevistas, a percepção dos entrevistados sobre inovação,

bem como em relação ao trabalho de assessoria do SEBRAE, foi considerada discordante com a

classificação destes no estilo inovador, tendo em vista que “fazer as coisas melhor” é o que

almejam para suas empresas, como resultado esperado da assessoria do Programa ALI. Ao

contrário, e conforme descrição das características dos perfis, a expectativa adequada seria por

“fazer as coisas diferentemente”. Dessas reflexões, quanto aos entrevistados, se pode indicar

equívocos de interpretação de conceitos, uma vez que inovação pode estar sendo confundido,

pelos participantes, com otimização de recursos nas organizações.

Os pesquisadores depreenderam, ainda, que o tema inovação tem feito parte do cotidiano

dos gestores, tendo em vista a identificação destes no estilo inovador e baseado na análise das

entrevistas, porém se constata, também, a dificuldade de aplicação de práticas inovadoras nas

diversas dimensões analisadas pelo Radar de Inovação.

Ressalta-se que o estudo, ora em tema, foi limitado aos participantes aqui descritos e

ademais, esta pesquisa não é conclusiva, pois convém realizar investigações mais aprofundadas.

Como sugestão, se recomendam pesquisas sobre a evolução das classificações das

empresas analisadas quanto ao grau de inovação, dificuldades e obstáculos de implementação de

práticas inovadoras nas organizações e a influência dos estilos cognitivos na tomada de decisões

dos gestores-proprietários.

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