Estimação Animais exóticos e silvestres estão entre os...

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Cidades Domingo, 19 de agosto de 2018 5 portalnews.com.br Animais exóticos e silvestres estão entre os pets preferidos Répteis, cobras e araras estão ganhando novos habitats; legalização e cuidados especiais são necessários ESTIMAÇÃO A procura por pets silvestres e exóticos vem aumentando nos últimos anos. Segundo o médico veterinário Jefferson Leite, que trata desses tipos animais há 25 anos, isso se deve ao fato de a sociedade não se contentar somente com cães e gatos. Com isso buscam outras espécies, desde um porquinho da índia a uma cobra jiboia. O que difere um animal selvagem de um exótico é a sua origem. Se ele pertence à fauna brasileira, é considerado silvestre; se for da fauna de outro país, é exótico. Além dos cães e gatos, os pets mais comuns são os roedores e as aves, que possuem um cuidado específico, quesito importante ao se falar de pets silvestres. “Essas espécies exigem cuidados especiais, que variam conforme a ca- tegoria. Temos dificuldades em identificar, por exemplo, quando estes animais estão doentes”, contou o veterinário. Também há muitas pes- soas que possuem répteis, animais ainda mais difíceis de cuidar, como conta o mogiano e empresário Mu- rilo da Costa Sousa, de 23 anos, que possui seis araras, duas jandaias, 14 pássaros de diversas espécies, oito cachorros, uma cobra jiboia arco-íris, dentre outros. Todos os seus animais silvestres possuem a documentação necessária. Ao adquirir a cobra, ele teve de se adap- tar a diversas coisas, pois ela necessita de uma dieta Leite alerta sobre os cuidados que cada espécie exige carnívora, come com uma frequência diferenciada, fica em um terrário com pedra de aquecimento, onde as temperaturas devem ser ajustadas em determinados períodos do ano, e tem cui- dados especiais em relação à pele. “Cada animal é de um jeito, por isso precisamos pesquisar muito para saber como é a sua rotina e se ela se adapta à nossa”, alertou Sousa. Além dos cuidados especiais, o maior desafio em ter um animal silvestre é adquirir a documentação necessária. Para isso, a compra deve ser feita em lojas ou criadouros especializados e legalizados. O biólogo Diego Sanchez, que trabalha com educação ambiental há 15 anos, aponta que o crescimento de pets silvestres influencia também no mercado ilegal desses animais. “A compra de um animal ilegal, até chegar ao comprador, a cada dez, nove morrem no caminho, pois não são transportados da maneira correta. O tráfico de animais silvestres é cruel e o terceiro maior do mundo”, relatou Sanchez. Para o animal ser reconhe- cido legalmente, ele precisa ser anilhado, no caso das aves; e microchipado, no caso de outras espécies. Além disso, deve ter marcações e a nota fiscal de origem com o selo e registro do Ibama. Esse documento é o que garante que o pet não é ilegal. Ter um silvestre ilegalmente é crime ambiental e está sujeito a apreensão do animal e multa. Geralmente, o custo de um animal silvestre não é baixo, e, para mantê-lo, é necessário ter uma boa condição financeira. Isso porque a despesa é mais alta com relação aos alimentos, medicamentos, acessórios e consultas veterinárias. “São poucos profissionais na área, é bem diferente de cães e gatos, que têm um amplo mercado voltado para eles. O custo varia muito, mas, com um cão, o dono gasta por volta de R$ 200 por mês; com um papagaio, a média é de R$ 300”, contou Leite. Já o empresário Sousa conta que alimenta as suas aves com ração especial e frutas, gerando um custo de mais de R$ 1 mil por mês. Contudo, o biólogo Sanchez acredita que esses animais não devem estar com o público normal “O lugar ideal seria no seu ambiente de origem ou na área educacional”. Já o veterinário Leite acredita que até podem ocupar o ambiente doméstico, no entanto, é preciso ficar atento aos cuidados especiais e à legalização. “As pessoas devem se responsabilizar e cuidar da forma correta”. (Texto supervisionado pelo editor) Vitoria Mikaelli* Arquivo pessoal Exóticos também ajudam em tratamentos de saúde Os cães e gatos são co- nhecidos por amigos e com- panheiros. Quando se fala dos animais silvestres, com algumas espécies como as aves, não é diferente. “Elas têm uma harmonia muito boa entre elas, e comigo são companheiras e ciumentas. Se eu faço carinho em uma, tenho que fazer em todas”, relatou Murilo da Costa Sousa. Já os répteis não costu- mam ser tão expressivos, mas são bem receptivos. “A relação com a cobra é um pouco diferente, ela fica no terrário, e nós a admiramos”, completou Sousa. Alguns animais são inseridos no meio educacional, de en- tretenimento e até mesmo em sessões de terapia. Um exemplo disso é a reptilterapia, um tratamento com répteis usado com pessoas com autismo, esquizofrenia, paralisia, dentre outros tipos de deficiências. O objetivo é melhorar o nível de atenção, autoestima, cognição, fala, disposição e outros benefícios. O biólogo Sanchez trabalha voluntariamente na Walking Equoterapia junto a Andrea Ribeiro, que desenvolve a terapia e é presidente do instituto. Ao todo, 40 crianças, jovens e adultos especiais são tratados com a utilização de répteis todas as terças-feiras. O espaço fica localizado na rua Forte George, 99, Jardim Cruzeiro, em Guarapiranga. (V.M.) Murilo tem seis araras, além de outros animais que o acompanham no dia a dia Arquivo pessoal Matheus contou com ações especiais na sua festa Vitoria Mikaelli A aproximação com os animais silvestres vem ocorrendo de diferentes maneiras, e uma delas por meio de trabalhos voltados à educação ambiental em festas de aniversário. Um evento desse ocorreu no último sábado, na celebração de 5 anos do Matheus Guimarães, filho de Helayne Cortez e Ernani Guimarães. A festividade recebeu como convidados especiais seis animais da fauna brasileira: um lagarto teiú, lagarto iguana, cobra caninana, cobra jiboia, jacaré-de-papo-amarelo, sapo cururu e uma rã. Acompanhados por um biólogo, eles foram pro- tagonistas de atividades lúdicas e interativas que abordaram entre as crian- ças temáticas voltadas ao meio ambiente. Matheus, o pequeno fã de répteis, não foi exigente Teatro ambiental em eventos promove a conscientização com a sua festa, pelo con- trário, ele fez apenas um pedido. “Não precisa ter nada, nenhuma recreação. Mas se você conseguir trazer um ‘tio’ que leve uma cobra da verdade no meu aniversário, vai ser o dia mais feliz da minha vida”, contou a mãe Helayne. Solicitação atendida pelo biólogo Diego Sanchez, responsável pela empresa que leva estas novidades a eventos da região. Ele conta que a demanda para esses trabalhos vem crescendo. Por ser um mercado especializado, as pessoas devem ter cuidado, pois há diferença entre exposição de animais sil- vestres e o teatro ambiental com animais ao vivo. “A exposição é um crime. Já o teatro ambiental traba- lha a parte educacional”, concluiu. (V.M.)

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CidadesDomingo, 19 de agosto de 2018 5portalnews.com.br

Animais exóticos e silvestres estão entre os pets preferidos

Répteis, cobras e araras estão ganhando novos habitats; legalização e cuidados especiais são necessáriosEstimação

A procura por pets silvestres e exóticos vem aumentando nos últimos anos. Segundo o médico veterinário Jefferson Leite, que trata desses tipos animais há 25 anos, isso se deve ao fato de a sociedade não se contentar somente com cães e gatos. Com isso buscam outras espécies, desde um porquinho da índia a uma cobra jiboia.

O que difere um animal selvagem de um exótico é a sua origem. Se ele pertence à fauna brasileira, é considerado silvestre; se for da fauna de outro país, é exótico. Além dos cães e gatos, os pets mais comuns são os roedores e as aves, que possuem um cuidado específico, quesito importante ao se falar de pets silvestres. “Essas espécies exigem cuidados especiais, que variam conforme a ca-tegoria. Temos dificuldades em identificar, por exemplo, quando estes animais estão doentes”, contou o veterinário.

Também há muitas pes-soas que possuem répteis, animais ainda mais difíceis de cuidar, como conta o mogiano e empresário Mu-rilo da Costa Sousa, de 23 anos, que possui seis araras, duas jandaias, 14 pássaros de diversas espécies, oito cachorros, uma cobra jiboia arco-íris, dentre outros. Todos os seus animais silvestres possuem a documentação necessária. Ao adquirir a cobra, ele teve de se adap-tar a diversas coisas, pois ela necessita de uma dieta

Leite alerta sobre os cuidados que cada espécie exige

carnívora, come com uma frequência diferenciada, fica em um terrário com pedra de aquecimento, onde as temperaturas devem ser ajustadas em determinados períodos do ano, e tem cui-dados especiais em relação à pele. “Cada animal é de um jeito, por isso precisamos pesquisar muito para saber como é a sua rotina e se ela se adapta à nossa”, alertou Sousa.

Além dos cuidados especiais, o maior desafio em ter um animal silvestre é adquirir a documentação necessária. Para isso, a compra deve ser feita em lojas ou criadouros especializados e legalizados. O biólogo Diego Sanchez, que trabalha com educação ambiental há 15 anos, aponta que o crescimento de pets silvestres influencia também no mercado ilegal desses animais. “A compra de um animal ilegal, até chegar ao comprador, a cada dez, nove morrem no caminho, pois não são transportados da maneira correta. O tráfico de animais silvestres é cruel e o terceiro maior do mundo”, relatou Sanchez.

Para o animal ser reconhe-cido legalmente, ele precisa ser anilhado, no caso das aves; e microchipado, no caso de outras espécies. Além disso, deve ter marcações e a nota fiscal de origem com o selo e registro do Ibama. Esse documento é o que garante que o pet não é ilegal. Ter um silvestre ilegalmente é crime ambiental e está sujeito a apreensão do animal e multa. 

Geralmente, o custo de um animal silvestre não é baixo, e, para mantê-lo, é necessário ter uma boa condição financeira. Isso porque a despesa é mais alta com relação aos alimentos, medicamentos, acessórios e consultas veterinárias. “São poucos profissionais na área, é bem diferente de cães e gatos, que têm um amplo mercado voltado para eles. O custo varia muito, mas, com um cão, o dono gasta por volta de R$ 200 por mês; com um papagaio, a média é de R$ 300”, contou Leite. Já o empresário Sousa conta

que alimenta as suas aves com ração especial e frutas, gerando um custo de mais de R$ 1 mil por mês.

Contudo, o biólogo Sanchez acredita que esses animais não devem estar com o público normal “O lugar ideal seria no seu ambiente de origem ou na área educacional”. Já o veterinário Leite acredita que até podem ocupar o ambiente doméstico, no entanto, é preciso ficar atento aos cuidados especiais e à legalização. “As pessoas devem se responsabilizar e cuidar da forma correta”. (Texto supervisionado pelo editor)

Vitoria Mikaelli*Arquivo pessoal

Exóticos também ajudam em tratamentos de saúde

Os cães e gatos são co-nhecidos por amigos e com-panheiros. Quando se fala dos animais silvestres, com algumas espécies como as aves, não é diferente. “Elas têm uma harmonia muito boa entre elas, e comigo são companheiras e ciumentas. Se eu faço carinho em uma, tenho que fazer em todas”, relatou Murilo da Costa Sousa.

Já os répteis não costu-mam ser tão expressivos, mas são bem receptivos. “A

relação com a cobra é um pouco diferente, ela fica no terrário, e nós a admiramos”, completou Sousa. Alguns animais são inseridos no meio educacional, de en-tretenimento e até mesmo em sessões de terapia.

Um exemplo disso é a reptilterapia, um tratamento com répteis usado com pessoas com autismo, esquizofrenia, paralisia, dentre outros tipos de deficiências. O objetivo é melhorar o nível de atenção,

autoestima, cognição, fala, disposição e outros benefícios. O biólogo Sanchez trabalha voluntariamente na Walking Equoterapia junto a Andrea Ribeiro, que desenvolve a terapia e é presidente do instituto. Ao todo, 40 crianças, jovens e adultos especiais são tratados com a utilização de répteis todas as terças-feiras. O espaço fica localizado na rua Forte George, 99, Jardim Cruzeiro, em Guarapiranga. (V.M.)Murilo tem seis araras, além de outros animais que o acompanham no dia a dia

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Matheus contou com ações especiais na sua festa

Vitoria Mikaelli

A aproximação com os animais silvestres vem ocorrendo de diferentes maneiras, e uma delas por meio de trabalhos voltados à educação ambiental em festas de aniversário. Um evento desse ocorreu no último sábado, na celebração de 5 anos do Matheus Guimarães, filho de Helayne Cortez e Ernani Guimarães. A festividade recebeu como convidados especiais seis animais da fauna brasileira: um lagarto teiú, lagarto iguana, cobra caninana, cobra jiboia, jacaré-de-papo-amarelo, sapo cururu e uma rã. Acompanhados por um biólogo, eles foram pro-tagonistas de atividades lúdicas e interativas que abordaram entre as crian-ças temáticas voltadas ao meio ambiente.

Matheus, o pequeno fã de répteis, não foi exigente

Teatro ambiental em eventos promove a conscientização

com a sua festa, pelo con-trário, ele fez apenas um pedido. “Não precisa ter nada, nenhuma recreação. Mas se você conseguir trazer um ‘tio’ que leve uma cobra da verdade no meu aniversário, vai ser o dia mais feliz da minha vida”, contou a mãe Helayne.

Solicitação atendida pelo biólogo Diego Sanchez,  responsável pela empresa que leva estas novidades a eventos da região. Ele conta que a demanda para esses trabalhos vem crescendo. Por ser um mercado especializado, as pessoas devem ter cuidado, pois há diferença entre exposição de animais sil-vestres e o teatro ambiental com animais ao vivo. “A exposição é um crime. Já o teatro ambiental traba-lha a parte educacional”, concluiu. (V.M.)