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Estratégias de competitividadeeresistência às crises

Paulo Matos

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Copyright © 2005 by Paulo Matos

Todos os direitos reservados

CapaTúlio de Oliveira

RevisãoAna Emília de Carvalho

Composição eletrônicaPablo Guimarães

Produção gráfico-editorialMazza Edições Ltda.

Rua Bragança, 101 – Bairro Pompéia – Telefax: (31) 3481-059130280-410 Belo Horizonte – MG

www.mazzaedicoes.com.bre-mail: [email protected]

M433c Matos, Paulo.Construção pesada : estratégias de

competitividade e resistência às crises / PauloMatos.– Belo Horizonte : Mazza Edições, 2005.

320 p.

1. Gestão empresarial. I. Título.

CDD: 658CDU: 658

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Dedico este livro aos empresários e executivos do Setor deConstrução Pesada, em especial àqueles que me deram a honrade tê-los como clientes ao longo dos dezessete anos de minhacarreira como consultor empresarial.

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AGRADECIMENTOS

Este livro não teria sido possível sem a contribuição decisiva devárias pessoas. Para não ter de enfrentar a impossível missão de classificá-las por ordem de importância e, assim, correr o risco de cometer injustiças,optei por citá-las em ordem alfabética:

- Carlos Alberto Cavalcante,- Carlos Pacheco,- Eduardo Backheuser,- Eduardo Borges de Andrade,- Equipe de consultores da Laviola & Matos,- Felisberto Jahuar Fonseca,- Fernando Cavendish Soares,- Gervásio Magno,- Gustavo Souza,- Ildefonso Colares Filho,- J. Murillo Valle Mendes,- Jamil Habib Curi,- João Antônio de Queiroz Galvão,- José Alberto Pereira Ribeiro,- José Élcio Santos Monteze,- José Jorge Araújo,- Joseli Laviola,- Léo Pinheiro,- Luiz Augusto de Barros,- Malthus Soares,- Marcelo Curi,- Marcos de Queiroz Galvão,- Maurílio Fiúza,- Renato José Baiardi,- Ricardo da Boa Viagem Parahyba,- Ricardo de Queiroz Galvão,- Ricardo Pernambuco Backheuser Jr.,

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- Ricardo Pernambuco Backheuser,- Roberto Dias,- Roberto Moscou,- Tibério César Gadelha, e- Victório Duque Semionato.

A todos agradeço a honra que me proporcionaram ao aceitaremenvolver-se neste projeto de tão grande significado em minha vida.

Minha homenagem especial a dois amigos que se foram e que tive-ram enriquecedora participação na consolidação de minha carreira de con-sultor: Inaldo Soares e Carlos Pittella.

À Berta, Paula e Bárbara, minha recorrente manifestação de grati-dão pela compreensão do sacrifício que lhes impus ao reduzir, ainda mais,o já pouco tempo disponível para desfrutar de suas queridas companhias,por conta das noites dedicadas a este livro.

Apoio institucional:

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SUMÁRIO

Opiniões sobre o livro ..........................................................................................11

Apresentação ..........................................................................................................13

Prefácio ....................................................................................................................17

Depoimento especial ............................................................................................21

PARTE IO MERCADO BRASILEIRO DE CONSTRUÇÃO PESADA ....................................23

Capítulo 1 – Considerações preliminares ........................................................27

Capítulo 2 – O ambiente brasileiro de negócios:uma visão geral das últimas décadas .........................................34

Capítulo 3 – O mercado da construção pesada à luz davisão geral das últimas décadas ..................................................41

PARTE IIAS BASES CONCEITUAIS DA COMPETITIVIDADE E DARESISTÊNCIA ÀS CRISES .......................................................................................47

Capítulo 4 – Algumas premissas relevantes .....................................................51

Capítulo 5 – Bases conceituais da competitividade ........................................57

Capítulo 6 – Bases conceituais da resistência às crises ..................................65

Capítulo 7 – A matriz de opções estratégicas ..................................................72

PARTE IIIESTRATÉGIAS .........................................................................................................77

Capítulo 8 – Uma rápida introdução ao tema .................................................81

Capítulo 9 – Um sumário das principais abordagens .....................................83

Capítulo 10 – Três aspectos críticos ...................................................................90

Capítulo 11 – O “Triplo C”: Consistência, Complementaridadee Congruência ..............................................................................95

PARTE IVO DIFERENCIAL COMERCIAL ............................................................................. 105

Capítulo 12 – Diferencial comercial: uma visão geral .................................... 109

Capítulo 13 – Diferencial político-institucional ............................................... 120

Capítulo 14 – Diferencial por associação com outras empresas .................... 126

Capítulo 15 – Contratos de empreitadas globais ............................................ 138

Capítulo 16 – Sucessão ..................................................................................... 145

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PARTE VO DIFERENCIAL DE CUSTOS ............................................................................. 153

Capítulo 17 – Diferencial de custo – visão geral ............................................ 157

Capítulo 18 – Overhead .................................................................................... 164

Capítulo 19 – Sinergia com outras empresas ................................................... 174

Capítulo 20 – Logística ...................................................................................... 178

Capítulo 21 – Produtividade do patrimônio humano ..................................... 185

PARTE VIDETALHANDO AS BASES DA RESISTÊNCIA ÀS CRISES .................................. 195

Capítulo 22 – Lastro acumulado de liquidez ................................................... 199

Capítulo 23 – Diversificação ............................................................................. 205

PARTE VIIBASES PARA A REESTRUTURAÇÃO ORGANIZACIONAL ................................. 213

Capítulo 24 – Uma introdução ao tema ........................................................... 217

Capítulo 25 – O ecossistema institucional ....................................................... 221

Capítulo 26 – A identidade estratégica ............................................................ 226

Capítulo 27 – Garantia da efetividade do patrimônio humano ..................... 233

Capítulo 28 – Caracterização de processos integrados e

abordagem integrada da arquitetura organizacional ............... 241

Capítulo 29 – Considerações finais .................................................................. 248

PARTE VIIIENTREVISTAS ....................................................................................................... 251

GRUPAMENTO A .............................................................................................. 255Eduardo Borges de Andrade, da Andrade Gutierrez ...................................... 258J. Murillo Valle Mendes, da Mendes Júnior ..................................................... 266Léo Pinheiro, da OAS........................................................................................ 270Renato José Baiardi, da Odebrecht .................................................................. 278João Antônio de Queiroz Galvão, da Queiroz Galvão ................................... 284Ricardo Pernambuco Backheuser, da Carioca Christiani Nielsen Engenharia ... 289Fernando Cavendish Soares, da Delta Construções ....................................... 294Jamil Habib Curi, da Pavisan ............................................................................ 299

GRUPAMENTO B: Sucessores .......................................................................... 303Ricardo de Queiroz Galvão, da Queiroz Galvão ............................................ 305Ricardo P. Backheuser Júnior, da Carioca Christiani Nielsen Engenharia .... 309Marcelo Curi, da Pavisan .................................................................................. 313

Referências bibliográficas .................................................................................. 317

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OPINIÕES SOBRE O LIVRO

A experiência do economista Paulo Matos possui um diferencialimportante que o destaca dos demais consultores da área de gestão em-presarial. Ele alia os conhecimentos acadêmicos com a prática de quemefetua os trabalhos em campo. Seu novo livro aborda as complexidades domanagement das empresas de construção pesada. Mostra todos os percal-ços que esse setor teve que enfrentar no Brasil, como as constantes insta-bilidades nos planos político e econômico-financeiro. Apesar do lado ne-gativo – crises, histórias de quebras de contrato, concordatas e falências –há uma mensagem otimista com os exemplos de sucesso de empresas quenão só sobreviveram, mas que continuam prosperando.

Marcos Queiroz GalvãoDiretor do Grupo Queiroz Galvão

Este livro, do consultor Paulo Matos, sobre a Construção Pesadano Brasil, é um trabalho de fôlego, sério e sobremaneira educativo paraas novas gerações de executivos brasileiros. É muito importante que osdirigentes e autoridades tomem conhecimento dessa história de êxitosque marcaram a engenharia nacional, inclusive destacada internacional-mente em décadas passadas e que, infelizmente, vem se deteriorandopelo descaso com os investimentos na infra-estrutura de nosso país, cau-sa principal do desaparecimento e/ou desativação de tantas empresasgrandes, médias e pequenas desse setor. Como sempre, a história nosensina muito mais pelas dificuldades e pelos insucessos, o que tão bemressalta Paulo Matos.

Tibério César GadelhaDiretor da Empresa Industrial Técnica S/A (EIT)

Presidente do Sindicato Nacional da Construção Pesada (SINICON)por 3 períodos, de 86 a 94.

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Este é um livro inédito que trata de forma simples, e ao mesmotempo profunda, da construção pesada, nunca antes desvendada dessaforma. É imperdível para quem quiser conhecer um pouco mais de umsetor tão sofrido e cheio de problemas mas com muitas oportunidadespara os competentes. Representa, também, uma excelente ferramenta paraos executivos experientes que queiram mudar o encaminhamento de seusnegócios.

Roberto MoscouDiretor Superintendente da Carioca Christiani-Nielsen Engenharia

Paulo Matos conseguiu traduzir de uma forma competente e bemestruturada a história do mercado de construção pesada no Brasil, desta-cando o ambiente, a cultura e os conceitos que regeram e ainda regem acondução dos negócios neste importante segmento da economia brasilei-ra. E, concomitantemente, soube de forma inteligente e acadêmica exporconceitos e diretrizes para se avaliar os riscos inerentes a este ramo deatividade, tendo como objetivo principal fundamentar a capacitação dasempresas para sobreviver e se perpetuar.

Victório Duque SemionatoDiretor da Mendes Júnior Trading e Engenharia S/A

O enfoque apresentado neste livro de Paulo Matos sobre o merca-do brasileiro de construção pesada é muito feliz, não somente pela clarezada análise histórica, mas também pela forma didática como são expostastodas as situações por que passaram ou, ainda (infelizmente), passam asempresas desse setor em nosso país.

O livro contribuirá, de forma inequívoca, para que uma empresapossa se auto-analisar e encontrar novos caminhos para se manter ouprogredir, posicionando-se melhor dentro da Matriz de Opções Estratégi-cas, tão bem demonstrada de forma acadêmica, mas com um cunho depraticidade incomum.

Espero que nossas empresas saibam aproveitar tais ensinamentos.

José Élcio Santos MontezeDiretor Geral do Departamento de Estradas de Rodagem de

Minas Gerais (DER-MG)

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APRESENTAÇÃO

A publicação deste livro concretiza um sonho antigo de apresentar,de forma sistematizada, minha experiência profissional – sobretudo comoconsultor de desenvolvimento empresarial – aplicada à realidade do mer-cado brasileiro de Construção Pesada.

Apesar de nesses dezessete anos dedicados à atividade de consultoriater tido a oportunidade e a honra de trabalhar, com muito entusiasmo ecomprometimento, com os mais variados segmentos – industria têxtil, ener-gia, comércio varejista, entidades públicas e privadas, terceiro setor, cons-trução civil, previdência privada, óleo e gás, autarquias, entre outros – dosmais diversos portes e complexidades, tenho com o setor de ConstruçãoPesada uma relação emocional de diferente natureza, seja pelarepresentatividade em minha formação, seja pelo significativo número declientes – e, sobretudo, amigos – acumulados ao longo de todos esses anosde trabalho.

O início dessa relação remonta ao período de 1981-1987, quandotrabalhei no Grupo Mendes Júnior, inicialmente na área de negócios inter-nacionais e, mais tarde, na Construtora Mendes Júnior. A importância queessa empresa teve para a minha formação foi definitiva, da mesma formaque para toda uma geração de profissionais do setor de Construção Pesadabrasileiro. Esse impacto pode ser avaliado, hoje em dia, pela significativaquantidade de executivos dela oriundos, ocupando posições de alta rele-vância em outras empresas, inclusive de outros setores.

Como consultor, a partir de 1987, tenho atuado em muitas empre-sas de Construção Pesada, de todos os portes: Queiroz Galvão (Brasil,Bolívia e Peru), Carioca Engenharia, EIT, Andrade Gutierrez, DELTA Cons-truções, Mendes Júnior Trading e Engenharia, Mendes Júnior e Associados(Chile), Construtora Oriente, COJAN, EMPA, ATERPA, A. Madeira e IBIÁ.Além disso, participei como consultor da reestruturação de duas entidadesaltamente representativas deste setor, que são: o Sindicato das Empresasde Construção Pesada de Minas Gerais (SICEPOT-MG) e a Associação Na-cional das Empresas de Obras Rodoviárias (ANEOR).

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Ao longo desses trabalhos, acumulei grandes aprendizados e gran-des amigos, que muito me orgulham e envaidecem. Pude, também, perce-ber que, se não existem receitas prontas para o sucesso, podem existirreceitas infalíveis para o fracasso.

Pela relação complexa e visceral que o setor tem tido, historica-mente, com o Poder Púbico, pensei em dar ao livro o título: Mercadobrasileiro de obras públicas – Desafios e oportunidades. Meu propósito erachamar a atenção para os riscos de uma empresa continuar dependentedas incontroláveis crises, desmandos e riscos desse mercado, tido e havidocomo imprevisível e repleto de ameaças à sobrevivência de qualquer ne-gócio exclusivamente dependente da sua variação ciclotímica deconfiabilidade e questionável seriedade no cumprimento de seus contra-tos.

Entretanto, por sugestão de Eduardo Andrade, da Andrade Gutierrez,troquei o nome para “Construção Pesada”, acrescentando o complementoque dá sentido ao conteúdo que pretendi desenvolver: “estratégias decompetitividade e resistência às crises”.

A idéia essencial gravita em torno da “Matriz de Opções Estratégi-cas”, a partir da qual vislumbrei a oportunidade de desenvolver todo olivro. A primeira vez que apresentei essa Matriz, ainda embrionária no quese refere a seus desdobramentos, foi em julho de 2004, para os executivosda Carioca Engenharia, no Rio de Janeiro. A partir da receptividade e doincentivo que recebi naquela oportunidade, foi que a intenção de fazerdas idéias um livro se tornou compromisso efetivo com a ação.

É, portanto, com imenso prazer e grande sentimento de realização,que vejo concretizado mais um projeto em que posso compartilhar minhasidéias e minha experiência com um potencial de pessoas bem maior doque aquele restrito aos meus clientes e aos congressos e seminários de quetenho participado.

Mais que uma fonte de respostas, gostaria de que este meu trabalhofosse considerado como um provocador de perguntas e um questionamentoaos modelos pré-moldados que prometem soluções prontas e acabadaspara o grande desafio de construir e consolidar uma empresa de Constru-ção Pesada neste cenário conturbado e, por que não dizer, caótico, doambiente brasileiro de negócios.

É importante ressaltar, também, que minha pretensão é que ele sejapercebido e tratado como um livro inacabado, em termos da consecuçãode seu propósito essencial: ajudar as empresas de Construção Pesada a

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entenderem melhor seu negócio e se posicionarem com mais competênciano mercado.

O último capítulo deve ser escrito em cada empresa que se dispo-nha a discutir com profundidade seu posicionamento estratégico e, a partirdaí, decidir sobre seu destino com consciência de que a melhor receitasempre será aquela manipulada artesanalmente, tal qual um bom remédiohomeopático, com os componentes específicos mais adequados à sua rea-lidade e à sua identidade empresarial.

De antemão, meus sinceros agradecimentos a todo aquele que mehonrar com sua leitura.

Paulo MatosVille de Montagne, Nova Lima (MG), 26 de dezembro de 2004.

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PREFÁCIO

O novo livro de Paulo Matos, Construção pesada – Estratégias decompetitividade e resistência às crises, analisa pouco mais de três décadasde história do setor e mostra com muita clareza, devido ao seu profundoconhecimento, por que várias empresas de grande porte ficaram no cami-nho abaladas pelas várias crises da economia brasileira e como muitascresceram em ambiente adverso e se transformaram em “cases” de sucessoe de modelo de gestão. As de grande sucesso são conhecidas por todos esão citadas como um grande orgulho de todos os brasileiros. Elas despon-tam em concorrências no Brasil e no exterior. Mas não podemos esquecerque muitas das empresas que, em passado recente, também foram afetadaspelas muitas crises da economia brasileira conseguiram sobreviver apesar detodas as adversidades. Qual foi o segredo destas empresas? O que as dife-renciou? A análise desses fatos é um dos pontos altos da observação criteriosae estratégica do Paulo Matos neste livro.

Na realidade, o livro é quase um manual de sucesso para as empre-sas que já estão no mercado há muitos anos ou mesmo para aquelas quevão iniciar ou que estão dando os primeiros passos na construção pesadabrasileira, que envolve obras em rodovias, ferrovias, portos, barragens emetrôs. O negócio da construção pesada no Brasil é bom, mas, diga-se ealerte a sociedade, é de altíssimo risco, envolvendo um grande volume derecursos dentro de um cenário de muitas incertezas. Qualquer erro deavaliação ou na execução de uma obra pode ser fatal para uma empresa.É um negócio feito com órgãos de Governo, na maioria dos casos, e envol-ve uma grande complexidade e experiência na sua condução. Apesar des-ta atipicidade do nosso setor, ele não é devidamente compreendido. Ele éum setor diferente porque só ele pode realizar as obras de que o Estadoprecisa, definidos em seu planejamento. Por isso ele é tão próximo dosGovernos e serve até de avaliação da administração deles. Se não há obrase as construtoras passam por dificuldades, costuma-se dizer que o Gover-no não vai bem. Ele é um indicador importante da pujança da economialocal ou regional.

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Voltando ao livro, somente alguém como Paulo Matos, profundoconhecedor de nosso setor, pode falar com clareza e objetividade sobre oque foram os últimos trinta anos da Construção Pesada brasileira e traçartrilhas e caminhos para o sucesso no futuro, a partir da experiência dasempresas que deram certo e conseguiram bons resultados em três déca-das. São estratégias, são sutilezas e ações determinadas que podem levarao êxito uma empresa construtora. O livro mostra que as empresas deConstrução Pesada que quiserem ter sucesso precisam atuar com agilidadeadministrativa e com grande sincronia entre os seus departamentos degestão ou administração. Isto significa que os departamentos comercial eoperacional (administração, financeiro, controle de custos e logística) têmde atuar rigorosamente juntos para garantir o sucesso de empreendimen-tos de construção. No Brasil de hoje, não basta às empresas ganharemobras de alto valor em concorrências para chegarem ao final do projetocom bons resultados em seus balanços.

Se não souber controlar os custos operacionais, financeiros e delogística, a empresa pode sofrer grandes abalos, apesar de estar com acarteira cheia de pedidos. Tão importante quanto ganhar uma obra é ad-ministrar a empresa vinte e quatro horas por dia. É uma lição fundamentalque se aprende neste livro. E mais: é importante administrar a empresacom um olho na obra e com o outro na política, porque as crises no Brasilsão cíclicas e sucessivas. Não é só no Brasil. No mundo moderno, existeuma crise a cada momento e uma surpresa em cada esquina. As empresasprecisam ter estratégias para vencer as crises, para vender e para superaras adversidades que surgem a todo o momento.

Nas décadas de 1970 e 80, tivemos uma fase de muitos serviços. Nadécada de 1990, tivemos serviços muito fracionados, não levando em con-sideração a experiência operacional das empresas.

Cada década é uma realidade diferente. Hoje, no século XXI, temoseditais aceitando tudo e empresas sem a mínima qualificação influencian-do nos resultados das licitações, levando com isto a resultados negativosquanto a muitas obras inacabadas e não satisfatórias quanto à sua qualida-de. Há também o surgimento de exigências não compatíveis quanto aofaturamento e acervos técnicos temporais devido ao tempo que o Brasildeixou de investir adequadamente nos últimos anos. Nossa entidade, aAssociação Nacional de Empresas de Obras Rodoviárias (ANEOR), sempreteve uma grande preocupação com o comportamento do mercado de opor-

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tunidades de suas associadas, alertando-as para que evitem ou mesmo seexponham a preços irreais. Temos mostrado aos empresários da constru-ção que não existe mágica. É melhor não ter serviços do que tê-los compreços irreais e inexeqüíveis. Na Construção Pesada, os valores e os riscossão elevados. Qualquer obra com preços irreais pode abalar definitiva-mente uma empresa por melhor situação que ela se encontre.

A ANEOR sempre teve uma ação intransigente quase que obsessivana defesa do mercado e de suas associadas, lutando pela existência deprogramas de obras que atendessem a todas as empresas, independente-mente de seus portes. Lutamos também com muito ardor contra serviçoscom preços irreais. Muitas vezes os órgãos do Governo e até as empresasficam irritadas com as nossas persistentes advertências sobre a adoçãodeste procedimento. Temos a nosso favor a experiência de muitos anosassistindo aos cenários diferentes da economia brasileira e a luta de nossasempresas para alcançarem o sucesso.

Lemos com muito entusiasmo este novo livro de Paulo Matos. É,com certeza, mais um instrumento para auxiliar as empresas brasileirasprestadoras de serviços de engenharia, delineando um mercado salutarpara a construção pesada, apresentando com muita felicidade e clareza asestratégias de competitividade e resistência às crises.

Só mesmo alguém como o Paulo Matos nos poderia trazer, maisuma vez, esta brilhante contribuição para fortalecer o setor da ConstruçãoPesada, mostrando a sua importância como ferramenta realizadora dentrodo contexto geral da sociedade, ajudando na evolução tecnológica dasempresas desse setor para que sejam mais eficientes e competitivas para oengrandecimento da engenharia de nosso país.

Eng. José Alberto Pereira RibeiroPresidente da ANEOR

Brasília, 23 de dezembro de 2004.

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No presente livro, Paulo Matos, através de uma abordagem organi-zada, direta, transparente e corajosa – como é de seu feitio -, transmite aoleitor, mesmo o neófito, o conhecimento seguro da formação, da evolu-ção, do ambiente, das incertezas e dificuldades históricas, do mercadobrasileiro da Construção Pesada. Mostra com precisa análise o ambientecomportamental do empresário do setor no passado, suas dificuldades deadaptação às mudanças e os desafios organizacionais do presente comopreparação para enfrentar o futuro. O lançamento das bases conceituaisde competitividade e as opções estratégicas de resistências às crises, de-monstram o profundo conhecimento do autor das fragilidadesorganizacionais e comportamentais das empresas do mercado e o caráterinovador que caracteriza a sua atuação como consultor.

Mais não é preciso dizer.Gostamos muito do livro e temos absoluta certeza de seu sucesso,

como diferencial que faltava para reflexão, análise e orientação doempresariado brasileiro da Construção Pesada, diante dos grandes desafi-os para sua inserção no novo cenário de desenvolvimento de nosso país.

Com grande satisfação nós, do SICEPOT-MG, dispusemo-nos a apoiarinstitucionalmente esta publicação.

Luiz Augusto de BarrosPresidente do SICEPOT-MG

Belo Horizonte, 21 de dezembro de 2004

DEPOIMENTO ESPECIAL

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Parte I

O mercado brasileirode construção pesada

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Sumário da Parte I

Esta parte consta de três capítulos que estabelecem o cenário daConstrução Pesada nas três últimas décadas, com as suas crises e perspec-tivas.

Capítulo 1 – Considerações preliminares

O mercado de Construção Pesada conheceu os seus tempos áureos duran-te a década de 1970, conhecida como a do “milagre brasileiro”. O panora-ma que se estende desde então revela um mercado cada vez mais turbu-lento e imprevisível, no qual muitas empresas desapareceram, ao lado deoutras que não só têm conseguido sobreviver, mas cresceram e se conso-lidaram como grupos de grande porte. As lições de competitividade eresistência às crises deixadas por essas últimas constituem a matéria-primado livro.

Capítulo 2 – O Ambiente brasileiro de negócios: uma visão geral dasúltimas décadas, e capítulo 3 – O mercado de Construção Pesada à luzda visão geral das últimas décadas

Os conteúdos destes dois capítulos se entrelaçam. Por isso, pareceu-memais didático resumi-los conjuntamente:• 1974-1979 – O governo Geisel e a crise do petróleo, dando início ao

processo recessivo da economia, mas com o segmento da ConstruçãoPesada ainda conseguindo se equilibrar às custas do lastro adquiridodurante os anos do “milagre econômico”;

• 1979-1985 – O governo Figueiredo e o início da crise do setor de Cons-trução Pesada, com várias empresas bem-sucedidas em anos anterioresficando pelo caminho;

• 1985-1989 – O governo Sarney: agravamento da crise, e mais empresaspelo caminho;

• 1990-1995 – O governo Collor, a fantasia do retorno às “vacas gordas”,a crise do esquema PC Farias e a “Era Itamar”, responsáveis pelo de-saparecimento de mais empresas da construção, mas, ao mesmo tempo,gerando oportunidades para aqueles que souberam se adequar à novarealidade;

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• 1995-2003 – Os dois governos FHC, ainda que afetados por diversas cri-ses externas e por desajustes internos, implementaram programas deprivatização que geraram oportunidades para o setor da construção emmatéria de rodovia, energia e telecomunicações;

• De 2003 aos dias atuais – O governo Lula não trouxe perspectivas melho-res para o segmento de construção pesada, que apresentou, em 2003,uma retração de atividades que o remeteu a patamares de performanceglobal inferiores aos de trinta anos atrás.

Entretanto, apesar do panorama negativo – com crises sucessivas,histórias de quebras de contratos, concordatas e falências –, há um outrolado de aprendizagem positiva, haja vista as empresas que não só sobrevi-veram, mas continuam prosperando.

Como conclusão destes dois capítulos, fica lançada a questão alta-mente desafiadora de ser tratada: “Qual o segredo do sucesso dessasempresas?”

Como primeiro passo para responder a esta pergunta, o livro come-ça por explicar as bases da competitividade e da resistência às crises, apartir da Parte II.

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CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

“Se eu conseguisse um bom contrato, duvido que existisse um in-competente que me fizesse perder dinheiro!”

Ouvi esta frase de um empresário do segmento de ConstruçãoPesada há alguns anos, em uma conversa em que ele me explicavasobre as grandes oportunidades do mercado, no tempo das “vacasgordas”.

Tenho a certeza de que observações de natureza similar poderiamser citadas pela grande maioria de empresários e executivos da constru-ção pesada, sobretudo no que se relaciona às obras públicas dos temposdo “milagre brasileiro”.

São ilustrativas de uma época em que contratos, envolvendo muitasvezes bilhões de dólares, eram decididos com base em critérios outros quenão os puramente técnicos, e os parâmetros mais decisivos dacompetitividade não passavam, necessariamente, pela competência de ofe-recer a melhor solução de engenharia pelo menor preço.

A propósito, vem-me também à lembrança um relato – já transfor-mado em folclórico “causo” – cuja veracidade é impossível de ser confir-mada, uma vez que alguns dos principais personagens já morreram.

Por ocasião da comunicação ao general-presidente do país parceirodo Brasil do resultado da concorrência das obras civis de um grande proje-to binacional que envolveu vários bilhões de dólares, Sua Excelência, ana-lisando as empresas participantes do consórcio vencedor, teria dito algocomo: “¿Dónde está la empresa de mi amigo…? No es posible firmar elcontracto sin ella!”

Numa tradução livre, expressando as reais intenções envolvidas:“Cadê a parte prometida ao meu amigo? Ou ele ganha um pedaço do con-trato, ou vamos melar a concorrência”.

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E, ainda, segundo diz o folclore, o contrato foi assinado com todasas retificações necessárias, de forma a não criar nenhum problema com oestratégico parceiro daquele estratégico projeto.

Bons tempos aqueles, em que as grandes empresas do setor sepodiam dar ao luxo de ignorar, solenemente, oportunidades de negóciosabaixo de, por exemplo, 50 milhões de dólares, como era comum.

Dando um salto para os dias de hoje, o que vemos é um cenáriobem diferente. No primeiro semestre de 2004, uma licitação feita no Riode Janeiro, pelo Governo do Estado, para uma obra em torno de 20milhões de reais – algo como 6,5 milhões de dólares, a valores desetembro de 2004 – foi disputada por vinte e oito pretendentes, incluin-do as maiores empresas do setor que, sintomaticamente, não vencerama concorrência.

O panorama que se estende entre esses dois momentos, o dos bonstempos e o dos dias atuais, revela com muita nitidez as peculiaridades dosegmento da construção pesada do Brasil. E qualquer análise um poucomais atenta do perfil evolutivo desse mercado é suficiente para se concluirsobre a sua profunda instabilidade e absoluta imprevisibilidade.

Quando perguntei a João Antônio de Queiroz Galvão, do GrupoQueiroz Galvão, sobre as características determinantes deste setor, na en-trevista que me concedeu para este livro (ver Parte VIII), ele usou uma ima-gem simples e muito representativa: “O comportamento de nosso setor separece com o resultado de um eletrocardiograma”.

Não que possamos afirmar que, no Brasil, outros segmentos empre-sariais sejam imunes à instabilidade sociopolítica e econômica. Muito pelocontrário!

Basta analisar a pesquisa realizada pelo SEBRAE, no primeiro tri-mestre de 2004, que demonstrou que metade das empresas criadas, anual-mente, no país fecha as portas nos dois primeiros anos de funcionamento.A pesquisa analisou dados referentes a um universo de quase 6 mil empre-sários, de todas as unidades da Federação, e constatou que uma das causasprincipais dessa morte prematura se deve a falhas na gestão e à perversida-de do famoso “custo Brasil”. Essa alta taxa de mortalidade, constatada pelopróprio SEBRAE como uma das maiores do mundo, explica-se, também,pelo grande número de casos envolvendo setores de fácil entrada no mer-cado. Onde há facilidade para a entrada existe, naturalmente, grande con-corrência e maiores riscos à sobrevivência.

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O segmento da construção pesada não se enquadra nesse caso,pois não poderia ser considerado como um segmento de fácil entradano mercado. No entanto, apresenta, também, alto índice de extinção deempresas.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou,em 2004, a Pesquisa Anual da Indústria da Construção para o ano de2002 (PAIC 2002) na qual faz uma retrospectiva do setor no período1996-2002. A seguir, destaco alguns pontos deste importante registroestatístico:

O segmento da Construção Pesada é definido pelas seguintes clas-ses da Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE7:Grandes movimentações de terra (45.13-6); Obras viárias (45.22-5); Grandes estruturas e obras de arte (45.23-3); Obras de urbani-zação e paisagismo (45.24-1); Obras de outros tipos (45.29-2);Construção de barragens e represas para geração de energia elé-trica (45.31-4); e Construção de estações e redes de distribuiçãode energia elétrica (45.32-2).

A Construção Pesada responde por 30,0% do total de emprega-dos nas empresas de construção com mais de 5 pessoas empre-gadas, cerca de 389 mil trabalhadores e detém 39,2% do valordas construções executadas, o equivalente a R$28 bilhões.

Esses números evidenciam a relevância deste segmento no con-junto das empresas de construção.

A atividade das empresas de construção, em especial das queatuam no segmento da Construção Pesada, é fortemente in-fluenciada pelas perspectivas econômicas de médio e longoprazo, uma vez que as decisões de produção são tomadascom base numa expectativa de retorno do investimento emprazos mais amplos. Outra característica marcante é a impor-tância do investimento público no faturamento total da Cons-trução Pesada.

Os números apresentados mostram que a Construção Pesada pas-sou por alterações significativas no seu perfil entre 1996 e 2002.Em linhas gerais, na configuração deste segmento, as empresasde mais de 500 empregados perdem importância relativa no valortotal das obras executadas, ao mesmo tempo em que o “cliente

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entidades públicas” também reduz sua participação no total dasobras executadas.

As médias e pequenas empresas ampliam sua participação noemprego e no valor das obras executadas.

A desconcentração que o perfil do setor de Construção Pesadaapresenta entre 1996 e 2002, com a grande empresa cedendoespaço para a média e pequena, e o cliente entidade públicareduzindo também sua participação no valor das obras, guardarelação com a redução do gasto público com investimento emgrandes obras de infra-estrutura e com a entrada de empresasprivadas no setor de infra-estrutura.

Os resultados da PAIC demonstram, também, que as empresas daConstrução Pesada continuam a ter na demanda das entidadespúblicas seu principal mercado, embora essa importância tenhase reduzido em 2002.

Em 2002, o cenário macroeconômico foi marcado pela combinaçãode um conjunto de fatores – racionamento de energia elétrica em2001, crise da Argentina, recuperação muito lenta da economia nor-te-americana e eleições – tendo como principais reflexos no ambien-te econômico a volatilidade na taxa de câmbio, o aumento doendividamento público e a elevação da inflação.

Nesse contexto, a atividade do setor de construção apresentoudesempenho negativo. Segundo resultados das Contas NacionaisTrimestrais, a atividade de construção, que já vinha acumulandoperdas desde o terceiro trimestre de 2001, apresentou durantetodo o ano de 2002 taxas trimestrais negativas, encerrando o anocom queda de 2,5%.

Uma visão panorâmica ao longo da história deste segmento noBrasil é suficiente para constatar o significativo número de empresas, in-clusive líderes do mercado no seu tempo, que não mais existem.

Ricardo Pernambuco Backheuser, da Carioca Engenharia, contou-me que, ao tomar posse como presidente da AERJ, no início da década de1980, deu a seu discurso o título: “Um passeio pela Cidade Maravilhosa”,no qual falou sobre as grandes obras da cidade do Rio de Janeiro (saindodo Aeroporto Santos Dumont e voltando a ele, naquele “passeio”): o próprioAeroporto; o Aterro do Flamengo; a Avenida Rio Branco; a Avenida Presi-dente Vargas, etc.

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Sua constatação, ao listar as empresas que haviam executado aque-las obras, foi chocante: nenhuma delas havia sobrevivido.

Um fator que aparece como grande complicador para o segmentode Construção Pesada tem que ver com a crítica questão das quebras decontrato no caso do mercado de obras públicas. Os governos brasileirostêm sido useiros e vezeiros dessa prática perniciosa.

O assunto esteve presente na unanimidade das conversas que tivecom os empresários e executivos que me honraram com seus depoimen-tos neste livro, conforme pode ser constatado no teor das entrevistas colo-cadas na Parte VIII.

Ainda nesse particular, uma manifestação de alta relevância, tendoem vista o papel preponderante que o seu autor tem no cenário da enge-nharia brasileira, é a que foi dada por Murillo Mendes, do Grupo MendesJúnior (também por mim entrevistado), na apresentação do livro Quebrade Contratos:

O Estado brasileiro e as entidades que se encontram sob a suaadministração, direta ou indireta, têm sido transgressores contu-mazes ao longo dos anos. Ignoram os compromissos que assu-mem, rasgam os próprios contratos, mudam as regras do jogo aosabor das conveniências, confiscam a propriedade alheia e, quan-do condenados a indenizar as vítimas de seus erros, protelam, aomáximo, o cumprimento das determinações judiciais. Por maisque as autoridades insistam em que ‘nada será como antes’ erepitam o discurso de que ‘o Brasil agora respeita seus contratos’,ainda assim soarão como pregadores no deserto. O passado noscondena. E, como ensina a sabedoria popular, gato escaldadotem medo de água fria. Não investe.

Juntando todas as peças desse intrincado tabuleiro de xadrez em-presarial, resulta num cenário evolutivo dos mais complexos, em termosdas citadas instabilidade e imprevisibilidade que incorpora em intensidadereconhecidamente mais forte que a grande maioria dos demais setores daeconomia.

Os gráficos a seguir foram construídos a partir dos dados disponí-veis nas séries históricas “Melhores e Maiores” da Revista Exame. Falampor si só, pois, como dizem os chineses, “uma imagem vale mais que milpalavras”.

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Construção – Índices evolutivosFonte: Exame – “Melhores e Maiores – 1973/2003”

Neste cenário tão conturbado, os bons tempos do “¿Dónde está miamigo …?” não mais existem.

Quem só aprendeu a trabalhar nessas circunstâncias já está, prova-velmente, fora do mercado. Há, contudo, um outro lado muito mais relevan-te para os propósitos deste livro: neste mesmo cenário, muitas empresascresceram, desenvolveram-se e consolidaram-se como grupos empresariaisde grande porte, demonstrando que é possível obter-se um grande sucesso,apesar das crises, da instabilidade e da imprevisibilidade do ambiente.

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RENTABILIDADE DO PATRIMÔNIO1973/2003

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As lições de competitividade e de resistência às crises que deram, econtinuam dando, constituem a principal matéria-prima deste livro.

Antes de detalhar os temas mais representativos dos propósitos destetrabalho, julguei importante fazer uma retrospectiva mais abrangente doambiente brasileiro de negócios nas últimas décadas e de suas implicaçõespara o mercado de Construção Pesada. Essa análise compõe os demaiscapítulos desta Parte I.

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AMBIENTE BRASILEIRO DE NEGÓCIOS:UMA VISÃO GERAL DAS ÚLTIMAS DÉCADAS

Alguns fatores que emergem de uma análise geral mostram que oambiente sociopolítico e econômico do Brasil se caracterizou pela mes-ma instabilidade e imprevisibilidade do ambiente de negócios em quenascem, crescem, se desenvolvem e morrem empresas de ConstruçãoPesada.

O Brasil é o quinto maior país do mundo. Entre os vários fatoresque identificam sua importância no cenário internacional, podem serdestacados:

a) na América do Sul: o principal mercado, correspondendo a 60%do PIB da região;

b) população: uma das cinco maiores do mundo;c) PIB: décimo quinto do mundo;d) economia globalizada: indiscutível integração em larga escala;e) poder de compra: a nona economia mundial;f) tabaco, açúcar e suco de laranja concentrado: o maior exporta-

dor mundial; eg) soja, carne bovina, frango, ferro e estanho: um dos três maiores

exportadores mundiais.

Apesar disso:a) nos vinte anos decorridos entre as décadas de 1980 e 2000, o

crescimento médio do PIB não passou de 2,5%, contra, porexemplo, 10,2% da China e 7,8% da Coréia do Sul, sendo queem 2003 apresentou crescimento negativo de 0,2%;

b) em 2000, contava com apenas quatro empresas entre as qui-nhentas maiores do mundo (Petrobrás, Bradesco, Itaú e Bancodo Brasil) contra onze da China e doze da Coréia do Sul; e

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c) sua história econômica tem sido extremamente pródiga em al-ternar surtos de crescimento geradores de grandes euforias co-letivas, com crises sérias causadoras de sérias seqüelas emocio-nais no moral do povo.

Uma retrospectiva cobrindo o período de 1974 até o momento atu-al – segundo semestre de 2004 – ajuda-nos a caracterizar melhor a ciclotimiaque tem sido a tônica da história do Brasil neste período mais próximo denós. Eis uma síntese desses principais momentos:

2.1 De 1974-1979 – O governo Geisel e a crise do petróleo

O general Ernesto Geisel, sucessor do general Médici, assumiu opoder empunhando a bandeira da “distensão” política, o que significouabandonar, “de forma lenta, gradual e segura”, os instrumentos de exce-ção, até que se chegasse à tão esperada revogação do AI-5.

O Brasil vinha do período dourado do “milagre econômico” e co-meçava, ainda que lentamente, a perceber que a conta do milagre teria deser paga. E não seria barata!!!

No plano econômico, o governo Geisel foi marcado pelo início deum processo recessivo agravado, sobremaneira, pela segunda Crise doPetróleo, com o aumento drástico do preço do óleo, que quadruplicou.Como o Brasil importava 80% do seu consumo, reduziram-se as reservas, adívida externa cresceu assustadoramente e a inflação disparou.

2.2 De 1979-1985 – O governo Figueiredo e a crise do início dos anos 80

Escolhido para suceder o general Geisel, o general João BatistaFigueiredo deu seqüência ao projeto de “distensão” iniciado no governo ante-rior, agora rebatizado com o nome de “abertura”. Foi aprovada a anistia aospresos políticos, fundou-se o Partido dos Trabalhadores (PT), criado pelossindicalistas do ABC, que se destacavam pelas corajosas confrontações sindi-cais, sob a liderança de um nome emergente: Luís Inácio da Silva, o Lula.

No plano econômico, o governo Figueiredo foi marcado por pro-blemas extremamente graves. A inflação continuou sua espiral e ultrapas-sou a temida faixa dos três dígitos, com mais de 100% ano, enquanto adívida externa chegava perto de 80 bilhões de dólares. As dificuldades daBalança de Pagamentos levaram o governo a recorrer ao FMI e a curvar-sediante das normas por ele impostas, o que agravou o quadro recessivo danossa, já combalida, economia.

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2.3 De 1985-1989 – O governo Sarney e o agravamento da crise

O processo de redemocratização culminou com a eleição deTancredo Neves, que veio a falecer em abril de 1985, antes de tomarposse. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente José Sarney.

Os problemas da inflação e da dívida externa eram as grandes preocu-pações do momento. A nomeação de Dilson Funaro para o Ministério daFazenda e sua tentativa de choque – o Plano Cruzado – trouxeram algu-mas esperanças, desfeitas em novembro de 1986, logo após as eleições,que deram uma ampla vitória à oposição em todo o Brasil.

Novos planos foram lançados – o Plano Bresser (do novo ministroda Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira) e o Plano Verão (do ministroMailson da Nóbrega) –, mas faltou-lhes a credibilidade indispensável paraassegurar-lhes a sustentação. Uma onda de descrédito inundou o país.

Escândalos financeiros, denúncias de corrupção envolvendo os al-tos escalões, desabastecimentos, cobrança de ágio, congelamento de salá-rios, protestos e greves de trabalhadores foram a constante desse período.

Com tal nível de deterioração político-institucional, o governo nãoteve como conter a maré inflacionária. Houve quem assegurasse, em 1989,estar o país à beira de uma hiperinflação.

2.4 De 1990-1994 – O governo Collor, a fantasia do retorno às “vacasgordas”, a crise do esquema PC Farias e a “Era Itamar”

Fernando Collor de Mello, ex-governador de Alagoas, conseguiueleger-se Presidente com um discurso de alto apelo popular (caça aosmarajás, combate à corrupção, moralização das instituições, compromissocom os “descamisados”) e com o apoio maciço do empresariado, decisivopara a vitória no segundo turno das eleições, contra Lula.

Sob enorme expectativa, começou seu governo lançando, já noprimeiro dia do ano e de seu mandato, um novo plano econômico – oPlano Brasil Novo – para, segundo suas próprias palavras: “Abater com umsó tiro a inflação”. Esse plano se caracterizou pelo congelamento de todosos ativos financeiros por dezoito meses, o que causou uma das mais gravescrises de liquidez da história brasileira. O consumo de manufaturados e omovimento do varejo caíram pela metade.

Simultaneamente, a decisão de eliminação das tarifas de importa-ção, abrindo a economia ao mercado mundial já globalizado, expôs oBrasil à competição internacional, da noite para o dia. Em Americana (SP),

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o maior parque têxtil do País, trezentas empresas faliram no espaço de trêsanos. Dos vinte maiores fabricantes brasileiros de autopeças, dezenovefaliram, ou foram compradas por grupos estrangeiros.

O congelamento de preços, reedição daquilo que fora um padrãodos planos econômicos do governo Sarney, não foi, mais uma vez, eficazpara segurar a inflação, que logo recomeçou sua escalada ascendente,trazendo consigo o fantasma da hiperinflação em seu bojo.

Os esperados efeitos benéficos do Plano, como se veria pouco tem-po depois, não foram duradouros. Os escândalos do “Esquema PC Farias”levaram ao impeachment, o qual, por sua vez, gerou a “Era Itamar”, com arestauração da moralidade político-institucional e o processo que culmi-nou com o Plano Real, primeira iniciativa competentemente planejada eimplementada no que se refere ao fim do círculo vicioso da inflação, quehá tanto tempo assombrava nossa economia.

2.5 De 1995-2002 – Os dois governos FHC e as crises dos ataques aoReal

Fernando Henrique Cardoso (FHC), lastreado no sucesso do PlanoReal, elegeu-se, com uma vitória esmagadora, novo presidente da Repúbli-ca, tomando posse em 1º de janeiro de 1995, mesma data em que passoua vigorar o Tratado de Assunção, assinado pelo governo Collor, que im-plantou o Mercosul.

A grande marca do governo FHC foi a consolidação do fim daciranda inflacionária, herança perversa dos períodos anteriores. De 916,4%,o índice anual de inflação caiu para 22,4%.

Foi dada continuidade ao Plano Real promovendo-se ajustes adicio-nais na economia, como o aumento da taxa de juros – para desaquecer ademanda interna – e a desvalorização do câmbio – para estimular as ex-portações e equilibrar a balança comercial. Aprofundaram-se a aberturaeconômica e as privatizações.

Com essas medidas, o governo manteve a inflação em níveis bai-xos. Em contrapartida, começaram a surgir sinais de recessão econômica jáno segundo semestre de 2001. O desaquecimento da economia provocoua queda no consumo, o aumento da inadimplência e o desemprego emmassa.

Uma agravante séria desse cenário foram as repercussões na econo-mia brasileira das crises internacionais, com as conseqüências típicas danova e avassaladora ambiência mercadológica globalizada.

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Os eventos mais representativos, em termos do impacto negativona nossa economia, foram os seguintes:

a) Crise do México (janeiro de 1995): provocou a desvaloriza-ção do Real em 50% em dez dias, levando o governo a queimar4 bilhões de dólares de reservas e a duplicar a taxa de juros,como forma de evitar a fuga de capital estrangeiro;

b) Crise Asiática (meados de 1997): o ataque especulativo aoBaht (moeda tailandesa, seguramente desconhecida para a es-magadora maioria do país) repercutiu no Brasil imediatamente,revelando a face perversa da globalização econômica, que temnos “capitais sem pátria” um de seus principais símbolos. Paradefender o Brasil, o Banco Central aumentou a taxa de juros de19% para 47%, em outubro, e queimou mais 10 bilhões de dóla-res das reservas;

c) Crise Russa (abril de 1998): a suspensão do pagamento dadívida externa russa gerou novo ataque ao Real, com nova du-plicação da taxa de juros e menos 20 bilhões de dólares nasreservas nacionais;

d) em janeiro de 1999, como conseqüência da insistência na ma-nutenção da política cambial, foram-se mais 10 bilhões de dóla-res de reservas, talvez um dos principais itens da “planilha decustos da reeleição de FHC”. Depois de garantida a reeleição,veio a adoção do câmbio flutuante e o Real desvalorizou-se 64%em dezessete dias;

e) Crise Argentina (2001): o congelamento parcial dos ativos fi-nanceiros (corralito) com o agravamento do quadro recessivoargentino, em combinação com a crise de energia brasileira,provocou a desvalorização do Real em 44%, entre janeiro eoutubro.

2.6 De 2003 aos dias atuais – O governo Lula, suas crises e seus desafios

A queda da popularidade de FHC ao final de seu segundo mandatofoi notória. A eleição de Lula foi a expressão do desejo por mudanças doeleitorado, que viu em José Serra uma opção continuísta, indesejável na-quele momento. Lula venceu prometendo criar 10 milhões de empregoscom o chamado “espetáculo do crescimento” e eliminar toda a fome dopaís.

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O antigo fantasma da radicalização da esquerda ao chegar ao po-der, tantas vezes usado contra Lula e o PT, voltou a mostrar sinais derecrudescimento. E o país presenciou uma nova crise no período pós-eleitoral, com o Risco-Brasil atingindo picos recordes de elevação, provo-cados pela desconfiança do mercado internacional nas intenções do novogoverno.

Felizmente, as decisões anunciadas pela nova equipe logo revelari-am que os receios eram infundados. Já no início do governo, Lula conquis-tou a confiança da banca internacional e restabeleceu a serenidade noambiente econômico.

Os cenários negros previstos não se concretizaram. A nação viu-seenvolvida numa política monetarista ortodoxa, de rigoroso controle dosgastos públicos, retração violenta dos investimentos em infra-estrutura eelevadas taxas de juros, que acabaram gerando o inusitado, em termos dasexpectativas do povo: uma taxa de crescimento negativo do PIB.

O Governo Federal, agora sob o comando do PT, viu-se compelidoa repetir o mesmo comportamento que criticara nos seus antecessores,priorizando o cumprimento das metas impostas pelo acordo com o FMI,em detrimento da opção pelo crescimento às custas do risco de maiorinflação.

Para maior constrangimento, ainda, Lula e sua equipe viram-se obri-gados a assistir, impotentes, à divulgação de lucros exorbitantes do sistemafinanceiro.

No momento em que este capítulo foi escrito – terceiro trimestre de2004 –, ventos favoráveis sopravam no cenário político-econômico do país.A economia brasileira havia tido um crescimento de 4,2% nos primeirosseis meses do ano, segundo o IBGE. Essa seria a maior taxa de crescimentodo PIB desde o primeiro semestre de 2000.

Comparando-se o segundo com o primeiro trimestre de 2004, ocrescimento havia sido de 1,5%. O resultado refletia um bom momento daeconomia brasileira, com recordes nas exportações, retomada do consu-mo, da renda e do mercado de trabalho. Em relação ao segundo trimestrede 2003, o crescimento era ainda maior: 5,7%. Tratava-se do maior cresci-mento desde o terceiro trimestre de 1996.

No entanto, o risco de se cair na armadilha de mais uma euforiainconsistente continuava marcando presença. A fraca base de comparação,resultante do desempenho pífio visto no ano de 2003 (de crescimento

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negativo do PIB), dos juros altos e grande redução na renda do trabalha-dor, recomendava cautela na análise.

Além disso, a recuperação da economia poderia trazer dificuldadesao país se, por exemplo, estimulasse muito a inflação. O IGP-M de agostoficara em 1,22%, revelando, pela primeira vez no período, que oreaquecimento da economia estaria permitindo o aumento de preços, se-gundo a Fundação Getúlio Vargas.

Simultaneamente, persistiam os sérios gargalos estruturais: falta deinfra-estrutura de energia, saneamento e transportes; alta carga tributária ea necessidade de ampliação do parque industrial, pobre de novos investi-mentos desde as crises internacionais citadas anteriormente e da desconfi-ança à época da eleição de Lula.

A esse respeito, a edição 825 da Revista Exame publicou uma gran-de matéria sobre o colapso da infra-estrutura de transportes, que denomi-nou de “o grande gargalo nacional”, revelando a preocupação doempresariado brasileiro de que, se o PIB voltasse a crescer 4,5% ao ano atéo final da década, o país pararia por falta de infra-estrutura que sustentassetal arrancada.

Ruim para o país, mas, quem sabe, será um indicador importantede que finalmente, após tantos anos de crise, estará a caminho uma granderecuperação do mercado de Construção Pesada? Quem sabe!?!?

E assim estamos, mais uma vez, indo em frente, até a próxima crise,sobrevivendo neste pais que deixa claro todo dia para quem quer apren-der que o sucesso precisa ser alcançado apesar das crises; jamais com ailusão de que seja possível evitá-las.

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O MERCADO DE CONSTRUÇÃO PESADA

À LUZ DA VISÃO GERAL DAS ÚLTIMAS DÉCADAS

Colocado na perspectiva histórica das três últimas décadas descritasno capítulo anterior, o setor de Construção Pesada apresenta um perfilmuito rico em termos das oportunidades de aprendizagem que agrega.

3.1 O governo Geisel

Nesse momento, o segmento da Construção Pesada conseguiu, atécerto ponto, equilibrar-se nos alicerces construídos durante o “milagre eco-nômico”, ainda hoje reverenciado como a fase dourada do segmento.

3.2 O governo Figueiredo

O início dos anos 80 trouxe consigo uma grande crise para o setor:redução brusca do volume de obras, alta inadimplência, necessidade de opaís começar a pagar as contas do “milagre”. As empresas se viram, então,diante de dois desafios novos e angustiantes:

a) continuar garantindo a excelência de suas obras e serviços paraatender clientes que se revelavam, cada vez, mais exigentes;

b) reduzir drasticamente seus custos indiretos, sem perder a eficiên-cia técnico-administrativa conquistada.

Nessa fase, incapazes de fazer frente às novas exigênciasmercadológicas, várias empresas reconhecidas por bons resultados nosanos anteriores ficaram pelo caminho.

3.3 O governo Sarney

As dificuldades, já significativas, instaladas no ultimo governo mili-tar continuaram se agravando. E mais empresas ficaram pelo caminho!

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Acomodadas com a histórica capacidade de obter nas excelentesmargens dos contratos os recursos para bancar os altos custos gerados poráreas corporativas inchadas (planejamento, O&M, recursos humanos,informática, manutenção central de equipamentos, etc. – altamente efici-entes, mas pouco eficazes) e dominadas pelo corporativismo das elitestécnicas instaladas nas administrações centrais, muitas organizações, antesadmiradas pela força e competência de influenciar os rumos do mercado,não foram capazes de realizar os ajustes indispensáveis à sua sobrevivên-cia naquele novo e desconhecido cenário.

3.4 O governo Collor

Os primeiros momentos do governo Collor criaram no país umclima de euforia que chegou a levar muita gente a imaginar um retornoaos bons e saudosos tempos do milagre brasileiro. Chegou-se a acreditarque as vacas gordas haviam voltado.

Mas a alegria durou pouco! As denúncias de corrupção, a CPI e,finalmente, o impeachment rapidamente revelaram uma realidade que atro-pelou o pseudocenário favorável instalado. Os que se deixaram levar pelailusão do retorno aos tempos das “vacas gordas” ficaram com um chequesem fundo nas mãos.

É fácil identificar, hoje, os que ficaram pelo caminho, surpreendi-dos pelo excesso de otimismo míope: continuam explicando que forampostos para fora do mercado por culpa do governo corrupto e poucoconfiável, comandado pela famosa, e de triste memória, “República dasAlagoas”.

De positivo, para quem sempre se preocupou em acompanhar ademanda da nova ambiência, investindo na qualidade da gestão empresa-rial, houve o reconhecimento de ter valido a pena apostar na pró-atividadepara enfrentar desafios.

A velocidade com que a participação no programa de concessõesde rodovias foi desenvolvida e implementada por algumas empresas – umexemplo de diversificação com foco – é um dos melhores atestados disso.

3.5 O governo FHC

A Era Fernando Henrique Cardoso, ainda que marcada por baixosníveis de investimentos diretos em infra-estrutura, implementou um pro-grama de privatizações, também seguido por vários Estados, que gerou

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oportunidades de trabalho para o setor em matéria de rodovias, energia etelecomunicações. Ressaltam-se, nesse particular, dois pontos de granderelevância: um positivo e outro negativo.

O positivo refere-se ao sucesso do programa de concessões doEstado de São Paulo, que se consolidou como exemplo importante deiniciativa bem-sucedida.

O negativo: os sérios entraves e desmandos ocorridos com os pro-gramas de concessões dos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul,exemplos tristes da péssima influência que o populismo barato e a falta decompromisso com o cumprimento de contratos pode gerar na credibilidadenão de um estado, mas de todo um país.

Ainda na era FHC, vários estados e grandes municípios – em parce-ria com o Governo Federal – foram fontes de muitos projetos importantes:anéis viários, portos, aeroportos, rodovias interestaduais, petroquímica,gasodutos, grandes montagens industriais, etc.

O nível significativo de atividade veio, no entanto, incorporado deexigências que, seguramente, seriam classificadas de inusitadas há vinteanos: perfil agressivo da concorrência, cobrança real de qualidade, preçosmuito baixos, etc.

3.6 O governo Lula e o futuro

Os primeiros anos do governo Lula foram suficientes para deixarclaro que a questão da escassez crônica de recursos, associada a novosparâmetros negociais, geraria um acirramento ainda maior nacompetitividade. Ratificam essa conclusão, entre outros fatores:

a) a Lei de Responsabilidade Fiscal em pleno vigor;b) a realidade institucional em que a sociedade, incentivada prin-

cipalmente por ações do Ministério Público, vem cobrando pos-turas empresariais mais éticas e pressionando por punições doscasos trazidos a público;

c) os preços, continuando sua escalada descendente, fomentandouma concorrência que vem assumindo níveis preocupantes decomportamentos predatórios;

d) a exigência dos clientes pelo cumprimento das bases contratuais,sobretudo de qualidade e custo, impondo-se em um crescenteimpossível de ser revertido;

e) a capacidade de atender o cliente no seu foco e, ao mesmotempo, gerar resultados compensadores para os acionistas;

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f) a competência para trabalhar em consórcios e em contratos turnkey, aparecendo como definitiva para a viabilização das opor-tunidades de se continuar trabalhando;

g) a atualização tecnológica assumindo um papel de commodity,ao invés de vantagem diferencial consistente no tempo; e

h) a consolidação definitiva dos rígidos critérios de cronologia paradefinição de pagamentos.

O ano de 2003, conforme colocado no Relatório Anual da Associa-ção Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (ANEOR), foi “um ano desurpresas”, marcado por muitas discussões políticas.

Para o setor da construção, mormente para as empresas que per-maneceram vendo-se, exclusivamente, como “empreiteiros de obras públi-cas”, restaram poucos espaços para o crescimento, devido à falta de opor-tunidades de novos contratos e à dificuldade para receber as faturas atrasa-das, não honradas, adequadamente, pelo governo FHC. O governo Lula,que se mostrou muito preciso no pagamento das dívidas internacionais eno cumprimento das metas acertadas com o FMI, revelou muita dureza nasnegociações dos débitos herdados do governo anterior e, mesmo, no cum-primento de alguns de seus próprios débitos.

Alguma luz no fim desse túnel começou a ser vista no final doterceiro trimestre de 2004, acenando com uma perspectiva mais favorávelde mudança.

É difícil, entretanto, fazer uma previsão quanto à confiabilidade e àconsistência dessa tendência, pois, como bem lembrou Murillo Mendes:“Gato escaldado tem medo de água fria”.

De verdadeiro, e incontestável, só a conclusão alicerçada nos fatosque os gráficos demonstram: o segmento de Construção Pesada apresen-tou, em 2003, uma retração de atividades que o remeteu a patamares deperformance global inferiores àqueles de trinta anos atrás, praticamente,em todos os indicadores de desempenho.

Todos se ressentem da ausência de um plano governamentalconfiável de retomada de investimentos em infra-estrutura que resgate asbases essenciais de crescimento do país.

Seja por meio de recursos da CIDE, de financiamentos internacio-nais, de novas concessões, de parcerias público-privadas, ou de opçõesmais corajosas de mudança das prioridades de política econômica, algoprecisará ser feito, e com urgência, pois, conforme já citado, o país foicolocado à beira de um colapso em sua infra-estrutura de transportes.

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O grau de precariedade chegou a tal ordem que o próprio FMI semanifestou quanto à necessidade de redirecionamento dos investimentospúblicos, por meio de seu diretor-gerente Rodrigo Rato, no início de se-tembro de 2004, quando de sua visita ao país.

Quem diria, há poucos anos, que o “famigerado” FMI cobraria, umdia, de um governo do PT mais investimentos em infra-estrutura!

Coisas do Brasil!!!O Anuário Exame – 2004/2005 sobre infra-estrutura destaca:

Infelizmente, o poder público discute a divisão do bolo orçamen-tário sob uma óptica basicamente político-partidária, associada aum jogo de forças geográfico. É o que se vê há anos na Comissãode Orçamento do Congresso. O resultado final é uma pulveriza-ção de recursos que atrasa a conclusão das principais obras naci-onais. Pela lógica de Brasília, é melhor dar um pouco de dinheiroa um monte de obras que um monte de dinheiro a poucas obras.À felicidade imediata dos políticos segue-se o atraso nacional.

Léo Pinheiro, diretor-presidente da Construtora OAS, faz coro comessa opinião em sua entrevista a este livro (ver Parte VIII):

Falta, sem dúvida, uma visão mais realista de prioridades para ainfra-estrutura.O país precisa de um “Sistema Financeiro de Desenvolvimento”que assegure foco e priorização nos seus investimentos públicos.Defendo essa tese com muita fé e segurança.Mais importante que as ideologias e os programas dos partidospolíticos, precisa ser a responsabilidade do administrador públicopara com os destinos do país.

Por essas e por outras, a impressão final que pode ficar é que oquadro aqui apresentado não deixa margem para qualquer otimismo.

É como se estivesse sendo relatada uma história que, no seu final,levasse à constatação de que, “entre mortos e feridos, ninguém escapará!”.Mas, felizmente, não é esta a impostação certa.

Pois é, exatamente, neste mesmo contexto turbulento de mudançasestruturais profundas em curtos espaços de tempo, pródigo em históriasde quebras de contratos, concordatas e falências, que muitas empresas nãosó sobreviveram, mas continuaram “prosperando no caos”, como diriaTom Peters.

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Tiveram a capacidade de obter bons resultados no mercado alta-mente restritivo e, adicionalmente, ampliar a visão, concretizando estraté-gias de posicionamento mercadológico que direcionaram sua atuação paraalém da miopia de confundir o mercado de construção pesada com con-tratos de obras públicas, exclusivamente.

Na condição de quem vivenciou muitas dessas experiências bem-sucedidas – inserido, há mais de vinte anos, no dia-a-dia do setor de Cons-trução Pesada, como gestor profissional e, sobretudo, como consultor –,senti-me seguro, confiante e muito à vontade para assumir, e defender,uma posição de otimismo maduro, desprovida das perigosas armadilhasdo ufanismo barato e demagógico.

A questão que julguei interessante de ser tratada é: o que precisariaser feito para uma empresa descobrir o mesmo caminho daquelas que cres-ceram e se consolidaram em um ambiente tão turbulento e imprevisível?

Em outras palavras, o que incorporar ao modelo de gestão paraque sejam criadas perspectivas favoráveis de se trilhar o mesmo caminhodaquelas organizações que se tornaram benchmarking indiscutível de su-cesso no ambiente brasileiro de negócios da construção pesada?

Responder a essa pergunta significa detalhar AS BASES DACOMPETIVIDADE E DA RESISTÊNCIA ÀS CRISES que balizaram as trajetó-rias bem-sucedidas.

O tema principal deste livro tem este propósito que, reconheço, éaltamente desafiador. Nos capítulos seguintes, estão sistematizados os pontosque considero mais importantes para a compreensão dos principais aspec-tos envolvidos nessa complexa questão.