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    OSCAMINHOSDETHELEMANO BRASILUma entrevista exclusiva com Soror Babalon sobre a trajetria de Thelema e da O.T.O. no Brasil. pg. 8

    Revista da Loja Quetzalcoatl, Ordo Templi Orientis

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    NDICEEditorial

    pg. 3

    Notciaspg. 3

    O Lugar e o Eupg. 4

    ESCREVAPARANS!

    Alm de ajudar a melhorar nosso

    trabalho com sua opinio, apro-

    veite nosso espao de comunica-

    o para tirar dvidas, dar ideias e

    manter contato com os membrosda O.T.O. no Brasil.

    E-mails para:

    [email protected]

    Matria de CapaOs Caminhos de

    Thelema no Brasil6

    EstudosThelema e o Taosmo

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    Biblioteca ThelmicaLiber Cheth vel Abiegni

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    Estrela

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    EDITORIAL

    Avida um entrecruzar contnuo de mltiplas vias que nos

    levam a uma escolha eterna onde o ltimo passo deter-

    mina o prximo cruzamento onde deverei fazer a minha

    prxima escolha. E assim vivemos a vida de escolha em escolha.

    Me pergunto se no seria possvel apenas ficar parado no ponto

    central do cruzamento. Nos pouparia angstia. Mas claro que

    aquela que pergunta j sabe antecipadamente que a resposta

    no. Sendo a vida movimento, ficar parado seria uma grave contra-

    veno, ou no?

    Minha mente voa ao passado e me traz as lembranas do momento

    em que optei pela liderana da O.T.O. Um bom amigo me alertava

    contra o sacrilgio que estava prestes a fazer com a minha prpria

    vida. Mas meu corao alava voo em ventos idealistas e a audio

    se ensurdeceu diante do sonho.

    Aps todos estes anos e j bem mais madura, quando olho para

    o percurso percorrido at aqui, meu corao se contrai diante da

    viso da dor. Sou obrigada a concordar com aquele meu amigo.

    Um gosto amargo me sobe do corao boca quando me lembro

    do que poderia ter sido a minha vida se tivesse feito outras escolhas.

    No fiz.

    A amargura provm da lembrana do que no foi e do futuro que

    jamais chegar a ser, uma frustrao proveniente de uma impossibi-

    lidade sob Vontade. O ser ou no ser um dilema injustificvel, uma

    nostalgia imprpria ao esprito, embora ntima da persona.

    A Revista Estrela Rubi um fruto maduro originado em verdejantes

    colheitas, optamos pelo devorar do fruto proibido. Ousamos alcan-

    ar sabedoria e abandonar a tenra ignorncia que nos mantinha

    protegidos em nossa prpria inocncia.

    De Acampamento nos tornamos Osis e agora Loja Quetzalcoatl,

    estamos agora aptos a divulgar nossa palavra.

    Que assim seja!

    Sucesso a nossa prova!

    Soror Babalon, Mestra da Loja Quetzalcoatl e

    Representante do Frater Superior para o Brasil

    NOTCIASInaugurao do Acampamento Opus Solis

    Nos dias 16 e 17 de janeiro de 2010 e.v. foi realizada a abertu-

    ra oficial do Acampamento Opus Solis, primeiro Corpo Local

    da O.T.O. em Belo Horizonte, Minas Gerais. Foram dias e noites

    de muito trabalho comunitrio, confraternizao, ansiedade,

    emoo e espiritualidade.

    A Missa Gnstica que celebrou a inaugurao tambm a

    primeira j feita em territrio mineiro foi realizada pelo Sa-

    cerdote Frater Achad ZAA Ayin, tendo Soror Atalanta exercido

    a funo de Sacerdotisa e Frater Pan Ain Soph a de Dicono. O

    ritual foi assistido por Irmos, Hspedes e um grande nmero

    de convidados.

    O esprito fraterno e a devoo Grande Obra foram, nestes

    dois dias, revitalizados pelo nascimento de uma nova estrela

    na constelao da O.T.O.: boas vindas ao Acampamento Opus

    Solis.

    Feliz Anno Novo!

    O Equincio de Outono, no dia 20 de maro de 2010 e.v., mar-

    ca a chegada do Anno Novo Thelmico IV:xviii, ou o Ciclo do

    Imperador e o Ano da Lua. Que o Imperador inspire vitria econquista, e que nos seus braos queimem a fora de Ra-Ho-

    or-Khuit. E que dentro de cada um Kephra conduza seu barco

    atravs da imensido da Meia-Noite, trazendo certeza de que

    o Sol nunca se ps de verdade, mas brilha mesmo nas profun-

    dezas da madrugada.

    Aniversrio da Lder da O.T.O. no Brasil

    No dia 21 de fevereiro comemorou-se o aniversrio de Soror

    Babalon, lder da O.T.O. no Brasil e Mestre da Loja Quetzalcoatl.

    A Missa, que tambm reabriu os trabalhos da Loja para o ano,

    ainda fez lembrar a todos que, no ano de 2010 e.v, comemo-

    ram-se os 15 anos da chegada da O.T.O. no Brasil: anos de tra-

    balho duro e sangramento de Soror Babalon. Que seu esforo,

    resistncia, dedicao e garra sejam o prenncio de muitos

    ciclos de 15 anos. Parabns Babalon e a O.T.O. no Brasil!

    Trs dias da escrita do Livro da Lei

    Nos dias 8, 9 e 10 de abril estar ocorrendo a festa dos trs dias

    da escrita do Livro da Lei e, para celebr-la, no ltimo dia serrealizada uma Missa Gnstica experimental.

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    OrdoTempliOrientis

    LojaQuetzalcoatl

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    O LUGAREOEUNOVCUODEIXADOPELOFIASCODADCIMAQUINTACONFERNCIADASPARTES(COP15) DAONU...

    Artigo

    Lendo o ensaio Re-habitar (contido no livro homnimo) do

    poeta, ex-beatnik, Zenbudista e antroplogo americano

    Gary Snyder, tive vontade de comentlo. Creio que os hori-

    zontes abertos pela discusso de Snyder sejam essenciais para qual-

    quer um que se interesse ou se preocupe por questes que dizem

    respeito, grosso modo, ao futuro da humanidade. Mais especifica-

    mente: o sentido da globalizao, poltica e economia, ecologia e

    novas tica, moral e espiritualidade.

    Snyder convida reflexo sobre a ideia de lugar: a importncia do lu-

    garno apenas geogrfico, mas como continuidade cultural e ances-

    tral onde o indivduo est inserido. Onde ele nasceu, o que o nutriu,

    aquilo que sua me. E de como a era contempornea mata o lugar.

    Resultado: hoje h bilhes de pessoas no planeta que no so ha-

    bitantes dele. Apinham cidades grandes, que engordam em frenesi

    de consumo. A suposta conscincia do mundo globalizado na

    verdade alienao, inconscincia do que se passa ao redor. Tais pes-

    soas vivem sem saber ondeesto, que papel desempenham no seu

    habitat, o impacto que produzem na terra e na sociedade (tampou-

    co o impacto que sofrem), sem nem saber o que as compele a estetranse. Esto perdidas e sem um lar.

    O preo disso: pessoas outrora enraizadas terra, camponeses,

    sociedades primitivas que estiveram acostumadas a um modo

    de habitar no seu espao especfico, foram cercadas por indstrias

    e sufocadas por taxas impostas por elites urbanas. Lhes foi dito

    que tudo que eles eram e sabiam no mais importava. Despreza-

    do pelas elites intelectuais, o trabalho braal, campesino, foi rotu-

    lado como bruto, rudimentar. Ignorouse a sutileza, criatividade

    e sabedoria que existe no cultivo de alimentos, para transformar

    essa prtica elementar da vida numa mquina que trata a agricul-

    tura como minerao: explorando, drenando e consumindo at

    a exausto.

    H milnios, desde o fim da Era Glacial e do perodo das grandes

    caas, as sociedades nmades se estabeleceram em ecossistemas

    locais. Isso significa que aprenderam a integrar espaos especficos,

    entendendo que tipo de plantas aquele solo suportava, construin-

    do habitaes condizentes com o clima e vestindo-se de modo

    compatvel, conhecendo e respeitando a importncia do rio local,

    da montanha e da floresta, desde a Copaba gigante at o menordos fungos. Alimentava-se, assim, o elo mgico com todas as coi-

    sas que o etnlogo LvyBruhl cunhou como participao mstica:

    o homem se via parte da Natureza, associado vida da grama, dos

    bichos e de tudo que o cercava, vendo nessas coisas entidades, sa-

    cralidade e uma ponte mgica para as dimenses mais ocultas do

    prprio homem. A Natureza era manifestao do homem e vice

    versa: o modo de se conhecer a si mesmo era viver alinhado com as

    leis dela, com o jeito prprio de experimentla que cada ser tem.

    Consequentemente, isto viver pela sua prpria Lei.

    Mas o homem ainda e sempre ser parte da Natureza. O

    divrcio entre Me e filhos s aconteceu pretensamente, e muito

    recentemente, se considerarmos a imensido da histria da huma-

    nidade. E nesse curto perodo de milnios a frmula da participao

    converteuse na ignorncia da alienao, em nome do suposto

    progresso da razo e da conscincia.

    No fascinante livro Ismael, Daniel Quinn compara a civilizao mo-

    derna com um avio que se atirou de um precipcio. A princpio, os

    passageiros acham que esto voando, que a mquina est funcio-

    nando, que eles esto planando no cu. S com a viso do cho

    do abismo a se aproximar que se do conta que o avio sempre

    esteve em queda livre.

    Argumentando sobre tal viso, poderiam dizer que, se esse modelode civilizao dominante no o nico que existe, sua proporo

    planetria e prosperidade o elegem como melhor representante

    da natureza humana. Sem exatamente discordar, eu diria que essa

    prosperidade deixa a todos fragilizados: o Terceiro Mundo explora-

    do e os supostos senhores do mundo confinados atrs das grades

    de seus condomnios, mimados e dependentes da imensa maioria

    como fornecedora de servios bsicos. Este , portanto, um sistema

    de escravos, ao longo de toda sua linha de montagem.

    Ainda assim, diriam que este o homem: violento, competitivo, des-

    truidor. Portanto, talvez seja natural que ele se cause sofrimento, se

    extinga, ou que poucos acabem sobrevivendo. E que esta seria a

    aplicao da lei dos fortes. Talvez. Mas este apenas um lado da

    moeda. A Natureza tambm um tecido de organismos realizando

    conjuntamente funes microscpicas que resultam na fartura da

    vida. Ento, a Natureza tambm cooperativa. Logo, o homem no

    naturalmente competitivo nem cooperativo. Ele ambos. Se cul-

    tuamos simplesmente Marte, adoeceremos, como um organismo

    tendo overdose de uma substncia que, em equilbrio com Vnus,

    seria o elixir da vida. O culto da competio trar consequncias

    humanas e ambientais na mesma intensidade que o dano infligidopor sua prtica.

    Disse o ndio Seattle, em seu clssico discurso de 1855: Vocs, ho-

    mens brancos, tambm passaro. Talvez antes que outras tribos.

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    Tde

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    Estrela

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    Soror Babalon foi uma das principais responsveis por trazer

    a Ordo Templi Orientis ao Brasil, em 1995 e.v. Desde ento,

    investe seu tempo e energia na superao de percalos e

    na continuidade de um trabalho pioneiro: foi escritora e editora da

    consagrada revista thelmica Safira Estrela, viu Corpos Locais da

    Ordem nascerem e morrerem, amizades e grupos se formarem e

    se dissolverem. Hoje ela a FSR, isto , Representante brasileira do

    Frater Superior da O.T.O., Hymenaeus Beta, alm de Mestre da Loja

    Quetzalcoatl, que opera na cidade do Rio de Janeiro desde o ano

    de 2000 e.v.

    com essa bagagem que Soror Babalon conta um pouco de sua

    histria e da histria de Thelema no Brasil. Explica, tambm, a filoso-

    fia que a O.T.O. vem consolidando ao longo desse tempo.

    Trabalhando h mais de quinze anos, o panorama que ela tem da

    divulgao de Thelema em terras brasileiras no exatamente oti-

    mista. Ao seu ver, guerras de ego e incapacidade de organizao

    foram os principais ingredientes de um cenrio pouco frutfero para

    um trabalho srio. O choque da Lei de Thelema com a cultura brasi-

    leira outra questo que revela no uma realidade doce, mas dura

    como a iniciao.

    ESTRELARUBI: Como voc chegou a Thelema? E como voc encon-

    trou a O.T.O.?

    SORORBABALON: No meio thelmico eu estou desde 1992. Na verdade

    o primeiro nome que me chegou foi do livro Chamando os Filhos

    do Sol de Marcelo Motta, e fui at a Biblioteca Nacional procur-lo,

    pois aps ouvir uma referncia a esta obra foi impossvel tir-la da

    minha cabea. Chegando l, havia milhares de gavetinhas reche-

    adas de milhares de fichas, no havia computador e eu tambm

    no sabia o nome do autor. Abri por acaso uma delas para verificar

    o nmero de referncias bibliogrficas ali contidas, xinguei e bati

    nas fichas por puro desespero e, para minha sorte, elas se abriram

    exatamente naquela que continha o ttulo Chamando os Filhos do

    Sol, onde o Motta divulga Thelema, o Livro da Lei...

    Depois disso, sa da Biblioteca com a firme determinao de encon-

    trar a O.T.O., mas no havia como contat-la. O endereo no livro do

    Motta era muito antigo, no havia Internet... ento a pessoa mais

    prxima naquela ocasio era o Euclydes Lacerda de Almeida, disc-

    pulo do Marcelo Motta, que falava de Thelema, do Livro da Lei, de

    Crowley, e que quis me conhecer e me abriu as portas da sua A...A.

    ..

    e da Sociedade Novo Aeon, da qual era lder.

    Em outubro de 1992 eu iniciei meus primeiros exerccios na A. ..A...

    sob tutela do Euclydes, mas infelizmente acabou no dando certo.

    ENTREVISTACOMSORORBABALONSOBREOPANORAMADADIVULGAODETHELEMAEMTERRASBRASILEIRASESOBREOTRABALHODAO.T.O.EMSEUS15 ANOSDEEXISTNCIANOBRASIL

    MatriadeCapa

    O Euclydes era uma excelente pessoa para se tomar um choppe,

    para se bater um papo, mas como lder ele era inexistente. Ele no

    tinha tino para organizao. Ento acabei ficando bastante frustra-

    da com a liderana dele na A...A... e com a organizao thelmica no

    Brasil. Fiz os meus dirios corretamente, entreguei, e at hoje estou

    esperando... Nunca tive resposta. Eu senti que havia necessidade de

    partir para a fonte. Se eu no puxasse essa fonte para o Brasil, senti

    que no haveria um caminho srio em Thelema neste pas.

    Foi a que eu procurei, na poca junto com o Carlos Raposo, o en-

    dereo da O.T.O. nos Estados Unidos, e quem veio a me dar esse

    endereo foi o prprio Euclydes. Escrevemos para a O.T.O., entramos

    em negociao com eles e em 14 de dezembro de 1995 eles vieram

    fazer as primeiras iniciaes no Brasil.

    ER: J que voc fez parte ativamente da histria de Thelema no pas,

    que panorama voc tem da divulgao da Lei ao longo desses anos?

    SB: Um movimento brasileiro thelmico no chegou a ocorrer. Exis-

    tem alguns grupos, mas a maioria deles no absolutamente sria.

    Os grupos thelmicos so vergonhosos. No h Thelema, mas uma

    briga de egos fantstica, um desrespeito pessoa do outro, vida

    ntima, a tudo. No se ouve discutir algo de foro realmente inicitico,algo realmente espiritual, que seja uma luta consciente, organizada

    e sria em busca da instalao do Novo Aeon em terras brasileiras.

    No vivi essa poca, mas acredito que tivemos um perodo com o

    Marcelo Motta em que talvez tivssemos pessoas com uma proposta

    sria. Mas, no meu entender, Marcelo Motta chegou num ponto da

    vida dele em que simplesmente enlouqueceu. E quando enlouque-

    ceu, enlouqueceu Thelema no Brasil junto com ele. Saiu espalhando

    os discpulos para tudo que canto, e a baguna se formou.

    Se voc for falar em Thelema no Brasil hoje em dia, em termos de

    um ramo srio, eu diria que s existe um, e a O.T.O. Brasil. O pessoal

    chama de Califado, de O.T.O. americana, chama de uma srie de

    O.T.O.(s), mas a O.T.O.. Por qu? Porque a nica que faz um traba-

    lho srio. a nica que tem uma linhagem sria a partir do Crowley,

    a nica com um trabalho inicitico organizado e com a proposta de

    uma transformao social e espiritual de seus membros. E a nica

    que voc no v envolvida em fofocas por a.

    ER: H quem diga que a O.T.O. uma ordem externa por ser

    social. Como voc defenderia a importncia do trabalho iniciticoem grupo?

    SB: Primeiramente, essa definio de A...A... como trabalho interno

    e O.T.O. como trabalho externo pueril, um conceito extremamen-

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    te imaturo sobre as duas Ordens. Na O.T.O.,

    o indivduo iniciado, suas energias so

    alteradas, seus Chakras so ativados, ele

    estimulado sempre a descobrir a si mesmo.

    Voc no pode dizer que um trabalho que

    leve o indivduo ao conhece-te a ti mes-

    mo seja externo.

    O que acontece que alm da proposta de

    trabalho individual, a O.T.O. tambm tem a

    proposta de mudana social. Ento, fazendo

    com que o indivduo floresa, a O.T.O. pro-

    move as suas transformaes sociais. A van-

    tagem de se trabalhar em grupo que as

    pessoas podem trocar experincia, conhe-

    cimento, desenvolver afinidades. E nessas

    afinidades, uma ajudar a outra em momen-

    tos difceis, fortalecer um ao outro, criar uma

    fraternidade. E, mais do que isso, aprender

    a viver sua prpria individualidade com res-

    peito Vontade do outro. o prprio pano-

    rama estelar. Cada estrela possui sua prpria

    rbita, mas so todas elas que em conjunto

    fazem com que o cu estrelado se revele

    diante de nossos olhos maravilhados.

    ER: O trabalho em grupo mais difcil quando

    se trata de um grupo de thelemitas?

    SB: Sim. muito mais difcil. Em Thelema

    voc vai estimular a pessoa a seguir sua Ver-

    dadeira Vontade, a defender sua prpria indi-

    vidualidade. No h como voc ter cordeiri-

    nhos simplesmente obedecendo, baixando

    a cabea. Voc tem que estimular a rebelio

    nessas pessoas. Elas tm que se rebelar con-

    tra a educao social, contra tudo aquilo que

    no so eles. E mesmo Thelema pode no

    ser eles! Mas isso no nos interessa. Thelema

    tem um sentido maior, que a descoberta da

    Verdadeira Vontade. Ento a O.T.O. tem essa

    proposta: fazer o indivduo concluir qual e

    agir em sintonia com a sua Verdadeira Von-

    tade. E se sua Vontade no estiver no sistema

    de Thelema, pois ento que seja o Budismo,

    Cristianismo, qualquer coisa. Isso importan-

    te, porque isso liberdade. Voc no cria um

    grupo para dogmatizar. Voc cria um grupo

    para libertar esse grupo e para que cada pes-

    soa se fortalea individualmente para mani-

    festar sua Vontade.

    Evidente que os conflitos so inevitveis.

    Eles so esperados, inclusive so deseja-

    dos. Ento liderar um grupo thelmico que

    trabalhe seriamente um trabalho muito,

    muuuuuito difcil!

    ER: O que voc espera, como FSR e Mestre

    de Loja, do thelemita que est iniciando?

    Alguma sugesto para o aspirante?

    SB: Eu no espero absolutamente nada.

    Se eu esperasse algo eu j estaria determi-

    nando o caminho dessa pessoa, dizendo o

    que ela deveria fazer ou no. Na verdade,

    se eu tivesse que dar um conselho e se

    conselho fosse bom, se vendia , eu diria

    que olhe para si mesmo sem preconceito.

    Veja o seu lado negro, os seus vcios, com

    tanto carinho como voc v suas virtudes.Porque na verdade os vcios so virtudes

    em desequilbrio, foras da natureza fora

    de controle. Quando equilibradas, elas se

    tornam grandes virtudes e conquistam

    grandes batalhas. Aprenda a beijar sua face

    negra com a mesma paixo com que beija

    sua face de luz. Ponto.

    ER: O que voc acha que a O.T.O. tem a

    oferecer para a sociedade brasileira?

    SB: Muita coisa. Eu acho que precisamos

    de thelemitas para mudar este pas. O the-

    lemita aquele que olha seus problemas e

    os problemas sociais de frente. Ele no vai

    disfarar, ele no vai pintar de corderosa,

    ele no vai criar iluses. Ele vai rasgar os

    vus da iluso, achar a fonte do problema

    e mexer nela. Eu acho que este pas precisa

    de pessoas com mais vontade, conscientes

    da sua trajetria espiritual e principalmente

    conscientes da realidade social, dispostos a

    lutar por mudanas.

    Thelema o fim do jeitinho brasileiro.

    Seria a grande conquista de Thelema no

    Brasil! o fim do escorrega por aqui, escor-

    rega por ali. cara a cara, olho no olho e

    vamos luta. Isso Thelema. Por que no

    Brasil isso seria importante? importante

    para o indivduo construir uma conscincia

    em que ele no precise mais do jeitinho

    brasileiro para escamotear, em que ele se

    torne um indivduo srio, que luta direta-

    mente por melhorias no seu pas.

    ER: E para os trabalhos da Loja Quetzalcoatl

    no ano de 2010, qual sua previso?

    SB: Ns temos vivido um crescimento bas-

    tante promissor do nmero de membros,

    mas eu ainda espero mais comprometi-mento das pessoas da Loja e espero que

    a gente possa realizar mais trabalhos. Mais

    Missas Gnsticas, mais ritos. Pr o pesso-

    al para trabalhar com diversas energias,

    ver que resultado isso produz e pesquisar

    cientificamente. Eu realmente espero que

    esse ano seja marcado por uma progresso

    mgicka, tanto terica quanto prtica. Eu

    espero que at o final do ano a gente possa

    ter... no grandes Magistas, porque Magis-

    tas levam muitas vidas para se formarem,

    mas eu diria que grandes promessas mgi-

    ckas para o futuro.

    Foto: Frater Heru Behdet

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    Apesar de nascido no Velho on, remontando at a antigui-

    dade da era matrifocal, o Taosmo filosfico tem conceitos

    estritamente prximos a Thelema. Suas vises de mundo

    e da dinmica do Tao (o Caminho, o fluxo e modo do Universo ser),

    conforme apresentada no clssico Tao Te Ching, atribudo a Lao Tse,

    enriquecem a percepo do que nos realmente natural e do con-

    ceito de Verdadeira Vontade.

    Diferentemente do intelecto ocidental, o Taosmo exige um grau de

    apreciao da realidade relacionado ao sentimento de unio e inte-

    rao entre todas as coisas que existem. A Conscincia do Ego (Eu),

    que cumpre sua funo de analisar isto , separar as coisas

    para conheclas, no raro se vicia em seu prprio modus operandi

    e passa a entender que a realidade um amontoado de coisas di-

    vididas, desarmoniosas entre si. Quase sempre, tambm se obceca

    com os mapas tericos sistemas que criou para organizar a

    realidade em categorias compreensveis para si, passando, no fim

    das contas, a confundir o terreno que explorado com o mapa que

    feito dele, cultuando o modelo e a cincia antes da prpria coisa

    concreta e objetiva.

    Allan Watts, renomado estudioso de filosofias orientais como o

    Taosmo e o ZenBudismo, explica que essa percepo viciada da

    realidade baseada na separao entre as coisas cria um estilo de

    perceber o que se , a prpria identidade e a individualidade

    como algo que est separado de todo o resto, como ele deta-

    lha: Isso consiste simplesmente em separlos de tudo o mais, em

    destacar suas caractersticas diferentes como o mais importante.

    Chegase assim concluso de que a identidade uma questo

    de separao. A consequncia dessa percepo a ignorncia de

    como tudo se influencia constantemente, e como o Universo, rela-

    cionando suas diversas partes, opera um bloco integrado.

    A NATUREZANARELAO

    Para o Taosmo, o Tao que pode ser descrito no o verdadeiro Tao, que

    incognoscvel. Seu modo de agir baseiase na mutao constante de

    todas as coisas, tal como o rio de Herclito, que no pode ser definido,

    porque no instante em que se o faa, ele j passou. Do mesmo modo,

    o ideograma I, contido no milenar I Ching, denota um sentido camale-

    nico a cada um dos ideogramas, que esto em constante metamorfo-se, transformandose uns nos outros. Mas esta mutao mudana do

    qu? Existe algo fixo para ser mutado? A realidade est no movimento

    e no na coisa movida: at porque nada existe ou conceituado fixa-

    mente, dependendo sempre de uma relao com outra coisa.

    Aquilo que conhecemos e definimos depende sempre de compa-

    rao, que um jogo de relaes: o rio depende de suas margens

    para ser conceituado. Se tirarmos as margens do rio, ele deixa de

    slo, do mesmo modo que se retirarmos o observador de uma ex-

    perincia, aquilo que era observado perde sua definio. Portanto,

    tudo que conhecido feito atravs de um sistema dividido, dual.

    A natureza das coisas determinada por uma relao entre tais coi-

    sas: do mesmo modo, Hrus contm em si seus gmeos opostos,

    RaHoorKhuit e Hoorpaarkraat. Ser e NoSer se definem um ao

    outro, e convivem um no outro.

    E THELEMA?

    Conflumos, finalmente, na cosmogonia thelmica e na frmula 0 =

    2, que expressa numericamente os versculos do Livro da Lei:

    Pois eu estou dividida por causa do amor, pela chance

    de unio.

    (Liber AL I:29)

    Esta a criao do mundo, que a dor da diviso como nada, e a alegria da dissoluo tudo.

    (Liber AL I:30)

    A diviso na verdade um jogo de imagens, uma iluso de tica a

    fim de que o Universo veja e conhea a si mesmo. Opostos como

    NuitHadit, TherionBabalon, Fogogua, BemMal so miragens

    polarizadas para vermos e vivermos o modo de ser das coisas o

    Tao. E entendermos que, no fim das contas, o Nada o que muda, e

    nada muda substancialmente, uma vez que toda dualidade Yin

    e Yang so apenas fases da manifestao. Tudo como sempre

    foi (Liber AL II:58). E, diante do 0 da dissoluo, os opostos comun-

    gam e excedem aquilo que eram antes: observador e objeto ob-

    servado tornam-se uma coisa s, no havendo por fim separao

    entre agente e fenmeno. No fim, o iluminado o prprio Universo

    simplesmente acontecendo espontaneamente, sem restrio.

    Para maior aprofundamento, recomendamos a leitura do Liber CL-

    VII. Relaes entre conceitos taostas e thelmicos so tecidos por

    Crowley, como a comparao de Hadit, o doador de vida, mas cujo

    conhecimento o conhecimento da morte, com o Wu Wei (ao

    sem ao), o estado de esprito taosta onde se est perfeitamentevazio e, neste vcuo, Tudo isto , o modo espontneo do Univer-

    so o que o preenche. Recomendamos tambm o livro A Alqui-

    mia Interior Taosta, de Mantak Chia, referente parte alqumica do

    taosmo, muito til para entendimento de Tantra e Magia Sexual.

    EstudosTHELEMAEOTAOSMO

    A LOJAQUETZALCOATLOFERECEMENSALMENTEASEUSMEMBROSUMASRIEDEINSTRUESEMDIVERSOSTEMASRELACIONADOSATHELEMA, AFIMDEAJUD-LOSAENTENDEREMELHORAPLICARASUAFILOSOFIA.

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    OrdoTempliOrientis

    LojaQuetzalcoatl

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    LIBERCHETHVELABIEGNISUBFIGURACLVI

    PUBLICAOEMCLASSEADAASTRUMARGENTUM

    Este o segredo do Santo Graal, que o vaso sagrado de Nossa1.

    Senhora, a Mulher Escarlate, Babalon, a Me das Abominaes,

    a noiva do Caos, que cavalga sobre Nosso Senhor, a Besta.

    Tu escoars o teu sangue, que a tua vida, para dentro da taa2.

    sagrada da fornicao dela.

    Tu misturars tua vida com a vida universal. Tu no reters uma3.

    s gota.

    Ento, o teu crebro ser mudo, e teu corao no mais4.

    bater, e toda a tua vida se ir de ti; e tu sers banido sobre a

    estrumeira, e os pssaros do ar festejaro sobre a tua carne, e

    teus ossos branquearo no sol.

    Ento, os ventos reunirseo e carregarteo como a um5.

    amontoado de p numa folha que tem quatro cantos, e elesdaro isto aos guardies do abismo.

    E, porque no h vida ali, os guardies do abismo ordenaro6.

    aos anjos do vento que passem. E os anjos deitaro teu p na

    Cidade das Pirmides, e o nome disso no mais haver.

    Agora, portanto, para que tu possas realizar este ritual do Santo7.

    Graal, livrate de todos os teus bens.

    Tu tens riqueza; dla queles que tm necessidade dela,8.

    porm no a desejam.

    Tu tens sade; sacrificate no fervor do teu abandono a Nossa9.

    Senhora. Que a tua carne penda frouxa sobre os teus ossos, e

    que os teus olhos penetrem com tua volpia inapagvel no

    Infinito, com tua paixo pelo Desconhecido, por Ela, que est

    alm do Conhecimento, o maldito.

    Tu tens amor; arranca tua me do teu corao e cospe na face10.

    de teu pai. Que teu p pisoteie a barriga de tua mulher, e que o

    beb no seio dela seja a presa de cachorros e abutres.

    Pois se tu no fizeres isto com tua vontade, ento Ns o11.

    faremos, a despeito da tua vontade. Assim, que tu consigas o

    Sacramento do Graal na Capela das Abominaes.

    E v! Se em segredo tu guardas para ti mesmo um pensamento12.

    de ti, ento tu sers banido para dentro do abismo para sempre;

    e tu sers o solitrio, o comedor de estrume, o aflito no dia do

    SConosco.

    Sim, realmente, esta a Verdade, esta a Verdade, esta 13.

    a Verdade. A ti ser garantida alegria, e sade, e riqueza, e

    sabedoria, quando tu no fores mais tu.

    Ento cada ganho ser um novo sacramento, e no te14.

    corromper; tu festejars com o libertino na praa de mercado,

    e virgens atiraro rosas sobre ti, e mercadores curvaro seus

    joelhos e te traro ouro e especiarias. Tambm jovens meninos

    derramaro vinhos maravilhosos para ti, e os cantores e

    danarinos cantaro e danaro para ti.

    Porm, no deves tu estar ali, pois tu deves ser esquecido, p15.

    perdido no p.

    Nem o prprio aeon te ser proveitoso nisto; pois, do p, uma16.

    cinza branca ser preparada por Hermes, o Invisvel.

    E esta a ira de Deus, que estas coisas devam ser assim.17.

    E esta a graa de Deus, que estas coisas devam ser assim.18.

    Portanto, eu vos ordeno que venhais a mim no Comeo,19.

    pois, se vs dais sequer um passo neste Caminho, vs deveis

    inevitavelmente chegar ao final dele.

    Este Caminho est alm da Vida e da Morte; ele tambm est20.

    alm do Amor; mas isso vs no sabeis, pois vs no conheceis

    o Amor.

    E o final dele nem mesmo conhecido por Nossa Senhora21.

    ou pela Besta sobre a qual Ela cavalga; nem pela Virgem,

    sua filha, ou por Chaos, seu Senhor legtimo; mas, pela

    Criana Coroada, ele conhecido? Ele no conhecido se

    ele for conhecido.

    Portanto, a Hadit e a Nuit seja a Glria no Fim e no Incio; sim,22.

    no Fim e no Incio.

    BibliotecaTelmica

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