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Economia Criativa de modismo a estratégia de desenvolvimento Ana Carla Fonseca Reis

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 Economia  Criativa  de modismo a estratégia de desenvolvimento

 Ana  Carla  Fonseca  Reis  

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Objetivos    

• Favorecer   a   compreensão   do   contexto   que   levou   à   eclosão   da   economia  criativa  no  mundo.  

• Esclarecer   as   diferenças   conceituais   entre   economia   da   cultura,   indústrias  criativas  e  economia  criativa.  

• Situar  o  aluno  quanto  ao  estado  da  arte  da  economia  criativa  no  Brasil.  • Apresentar  estudos  e  dados  estatísticos  que  substanciem  a  economia  criativa  

no  Brasil  e  no  mundo.  • Analisar  os  desafios  e  as  potencialidades  da  economia  criativa.  • Propor  exemplos,  casos  e  ilustrações  de  empreendimentos  criativos.  

 

 

CONTEUDISTA  

Ana   Carla   Fonseca   Reis   -­‐   Administradora   Pública   (FGV);   Economista,   Mestre   em  Administração  e  Doutora  em  Urbanismo  (USP),  gerenciou  projetos  de  inovação  na  América  Latina,   em   Londres   e   Milão.   É   diretora   da   Garimpo   de   Soluções,   empresa   pioneira   em  economia  criativa  e  cidades  criativas.  Conferencista  em  cinco  línguas  e  25  países,  é  assessora  para  a  ONU,  curadora  de  congressos,  consultora   internacional  e  autora  de   livros  pioneiros,  como  Marketing   Cultural   e   Financiamento   da   Cultura,   Economia   da   Cultura   e  Desenvolvimento   Sustentável   (Prêmio   Jabuti   2007)   e  Cidades  Criativas.   Editou   vários   livros  digitais,   como   Economia   Criativa   como   Estratégia   de   Desenvolvimento,   Creative   City  Perspectives   e  Cidades  Criativas,   Soluções   Inventivas   e   foi   consultora  do   Creative  Economy  Report  da  ONU.  É  professora  da  FGV  e  das  Universidades  Nacional  de  Córdoba  (Argentina)  e  Rey   Juan  Carlos   (Espanha),  Diretora  de  Conteúdo  da  ExpoGestão  e  membro  da  Associação  Internacional  de  Economia  da  Cultura,  do  Corpo  Mundial  de  Peritos  em  Políticas  Públicas,  da  rede  de  Repensadores,  do  Conselho  Editorial  da  Página  22  e  dos  Conselhos  Consultivos  da  Virada   Sustentável,   da   New   Ventures   Brasil,   da   Minha   Sampa,   da   Creative   Industries  Development   Agency   (Inglaterra)   e   da   Creative   Business   Cup   (Dinamarca).   É   finalista   do  Prêmio  Claudia,  na  categoria  Negócios  e  do  Prêmio  Jabuti,  em  Arquitetura  e  Urbanismo.  

 

   

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Conceitos-­‐chave  da  disciplina    

Commodities   -­‐  mercadorias  com  características  uniformes,  não  diferenciais,  produzidas  em  larga  escala  e  negociadas  no  mercado  global  (e.g.  minérios,  gêneros  agrícolas,  carne).  

Desenvolvimento   -­‐   expansão   de   liberdade   de   escolhas   (conforme   o   economista   Amartya  Sen).  

Propriedade  Intelectual  -­‐  segundo  definição  da  Biblioteca  Nacional,  "Propriedade  Intelectual  protege  as  criações   intelectuais,   facultando  aos  seus  titulares  direitos  econômicos  os  quais  ditam  a  forma  de  comercialização,  circulação,  utilização  e  produção  dos  bens  intelectuais  ou  dos  produtos  e  serviços  que  incorporam  tais  criações  intelectuais.  A  Propriedade  Intelectual  lida  com  os  direitos  de  propriedade  das  coisas  intangíveis  oriundas  das  inovações  e  criações  da  mente   humana.   Ela   engloba   os   Direitos   Autorais   os   Cultivares   (obtenções   vegetais   ou  variedades  vegetais)  e  a  Propriedade   Industrial   (patentes,  desenhos  e  modelos   industriais,  marcas,   nomes   e   designações   empresarias,   indicações   geográficas,   proteção   contra   a  concorrência  desleal)."  (www.bn.br)    

Economia  -­‐  ciência  que  estuda  os  processos  de  produção,  distribuição  e  consumo  de  bens  e  serviços,  com  vistas  à  qualidade  de  vida  da  sociedade.  

Economia  da  cultura  -­‐  disciplina  da  economia  voltada  às  relações  de  produção,  distribuição  e  consumo  de  bens  e  serviços  culturais.  

Estudo  de   cadeia   -­‐   estudo  que   relaciona   (ou   seja,   encadeia)   o  produto  ou   serviço   final   às  várias   etapas   de   sua   produção,   incluindo   as   diretamente   relacionadas   e   as   de   apoio  (indiretamente  relacionadas).    

Indústrias  criativas  -­‐  setores  da  economia  que  mais  se  distinguem  pela  carga  de  criatividade.  

Inovação  -­‐  criatividade  posta  em  prática,  gerando  produtos,  serviços  e  propostas  entendidas  como  de  valor.  

Valor   agregado   -­‐   diferença   entre   o   valor   do   produto   ou   serviço   final   e   o   valor   de   seus  insumos  utilizados  para  sua  produção.  

 

   

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Contexto  de  eclosão  da  economia  criativa  no  mundo  

A  economia   criativa   está  na  moda,   tendo  ganho  a  mídia   e  um   sem-­‐fim  de   referências   em  políticas,   artigos   e   conferências.   É  no  entendimento  desse   conceito  em   sua  profundidade,  bem  como  de   seu  potencial   como  alavanca  de  desenvolvimento,   que   repousa   a   diferença  entre   tornar   a   economia   criativa   um   modismo   ou,   ao   contrário,   reconhecer   nela   uma  abordagem  transformadora  das  relações  sociais,  culturais  e  econômicas.    

Para  abordar  o  assunto  em  sua  complexidade,  propõe-­‐se  neste  bloco  uma  sequência  de  três  seções:   primeiramente,   o   esclarecimento   do   que   é   economia,   tendo   em   vista   que   a  economia  criativa  traz  um  olhar  da  economia  sobre  a  criatividade;  a  seguir,  será  apresentado  um   breve   fio   histórico   das   relações   entre   cultura,   economia,   tecnologia   e   sociedade,   de  modo   a   favorecer   a   percepção  de  que   essas   dimensões   sempre   estiveram  entremeadas   e  reforçar   a  necessidade  de   considerar   a   economia   criativa  de  maneira   transversal;   por   fim,  será  delineado  o  quadro  de   fundo  que  permitiu  a  eclosão  da  economia   criativa,   com  seus  elementos  mais  salientes,  no  local  e  no  momento  em  que  ocorreu.  

Para  países  de  passado  inflacionário  e  de  grandes  instabilidades  econômicas,  como  é  o  caso  do  nosso,  a  "economia"  é  tida  por  muitos  como  sinônimo  de  investimentos  financeiros,  de  taxa   de   inflação   ou   de   desigualdades   sociais.   Atribuir   à   economia   a   culpa   pelas   mazelas  sociais   e  pelas   injustiças   com  as  quais   nos  deparamos  no  país   transformou-­‐se  em  esporte  nacional.  Para  surpresa  de  muitos,  porém,  a  economia  é  uma  ciência  humana,  que  nasce  da  filosofia  -­‐  e,  como  se  não  bastasse,  da  filosofia  moral,  que  abarca  questões  ligadas  ao  que  é  justo  em  e  por  uma  sociedade.  Sob  esse  ângulo,  a  economia  surge  com  uma  preocupação  de  fundo:   a   busca   da   felicidade   e   do   bem-­‐estar.   Para   entender   essa   abordagem,   basta  considerar   a   seguinte   situação:   dados   recursos   limitados   (terra,   dinheiro,   trabalhadores)   e  necessidades  e  desejos  ilimitados  da  sociedade,  qual  seria  o  modo  mais  justo  de  alocar  esses  recursos?  Seria  mais  justo  dividir  o  resultado  entre  todos,  de  modo  igualitário,  uma  vez  que  todos   são   filhos  de  uma  mesma   comunidade  e   teriam  direitos   iguais?  Ou   seria  mais   justo  recompensar  quem  mais  se  aplica  e  trabalha,  como  no  célebre  dilema  da  fábula  da  cigarra  e  da  formiga?    

Via  de   regra,  um  modelo  econômico  pautado  por  políticas  definidas  por  uma   ideologia  de  direita   favorece   o   empreendedorismo,   desonera   investimentos,   estimula   o   risco   e   a  inovação;  um  modelo  econômico  associado  a  uma   ideologia  de  esquerda  defende  a  maior  presença  do  Estado  da  economia  e  prioriza  investimentos  coletivos,  ainda  que  sobretaxando  o  empreendedorismo  individual.  O  que  se  nota,  portanto,  é  que  a  economia  não  é  "boa"  ou  "ruim";   a   economia   simplesmente   oferece   o   corpo   de   instrumentos   mais   adequado   para  atingir   determinada   diretriz,   como   no   caso   das   políticas   públicas.   Nos   dizeres   do   célebre  economista   Lionel   Robbins   (1932),   "Economia   é   a   ciência   que   estuda   o   comportamento  humano   como   uma   relação   entre   objetivos   definidos   e   recursos   escassos,   com   usos  alternativos".   Nesse   sentido,   todos   nós   somos   um   pouco   economistas   no   dia   a   dia.   Em  função  do  que  definimos  como  importante,  como  dividimos  os  dois  recursos  mais  escassos  do   ser   humano:   tempo  e  dinheiro?  Portanto,   para   sermos   felizes   com  os   recursos  de  que  dispomos,  precisamos  ser  capazes  de  definir  o  que  consideramos  mais  importante  na  vida.    

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É   assim   que   funciona   a   economia.   Imaginem   um   barco   no  meio   do   oceano.   A   economia  (mais  especificamente,  no  nosso  caso,  a  macroeconomia)  não  define  para  onde  o  barco  irá,  esse  é  o  papel  dos  dirigentes  públicos;  a  partir  do  momento  porém  em  que  o  governo  define  a  que  porto  quer   chegar,   a   economia  poderá  apresentar  opções  de   rotas,  mais  ou  menos  seguras,   longas  ou  caras.  A  economia  não  se  dedica  ao  "que"  se  pretende  atingir;  e  sim  ao  "como"  atingi-­‐lo.  Por  decorrência  e  parafraseando  o  poeta  Sêneca:  "Se  o  homem  não  souber  a  que  porto  se  dirige,  nenhum  vento  lhe  será  favorável".  Discutir  economia  da  cultura  sem  haver  uma  política  cultural  clara  é   inútil;  defender  a  economia  criativa  como  se   fosse  uma  panaceia,   tampouco   é   real.   Para   a   economia   criativa   se   concretizar   como   base   de  desenvolvimento,  devem  ser  criadas  condições  muito  claras,  a  exemplo  de  ser   integrada  à  pauta  das  várias  pastas  públicas,  em  uma  estratégia  transversal.  

Tendo  isso  em  mente,  cabe  entender  o  contexto  no  qual  surgiu  a  economia  criativa.  Afinal,  a  criatividade  sempre  foi   importante  -­‐  graças  a  ela  descobrimos  o  fogo,   inventamos  a  roda  e  chegamos,  como  espécie  humana,  a  um  nível  de  conforto  e  possibilidades  muito  maior  do  que   tínhamos   há   1.000   ou   há   100   anos.   Como   porém   dividimos   ou   compartilhamos   esse  conforto   e   essas   possibilidades   é   outra   história...   Parte   dessa   falta   de   nexo   entre   o   que  produzimos,  distribuímos  e  consumimos  enquanto  sociedade  tem  raízes  fincadas  e  traz  ecos  profundos  da  Revolução  Industrial.  Em  meados  do  século  XVIII,  uma  convergência  de  fatores  levou  à  eclosão  do  que  viria  a  ser  a  ruptura  mais  drástica  que  vivemos  nos  últimos  séculos,  tendo   resultado   na   fragmentação   de   processos   de   produção   e,   mais   profundamente,   da  cisão  entre  o  pensar,  o  agir  e  o  sentir.  

Dentre  esses   fatores,   temos  as  descobertas   tecnológicas   (mecanização  da  produção   têxtil,  máquinas  a  vapor,   locomotivas,   fragmentação  da  produção),  a  concentração  de  capital  em  busca   de   novos   investimentos,   a   abundância   de   matérias-­‐primas   (ferro,   carvão   etc.),   a  existência  de  mercados  (na  Europa,  nas  colônias  e  ex-­‐colônias)  e  o  cercamento  dos  campos  na  Inglaterra.  O  cercamento  dos  campos  provocou  um  forte  êxodo  da  população  rural  para  as   cidades,   em   levas   de   centenas   de   milhares   de   pessoas,   que   passaram   a   formar   um  exército  industrial  de  reserva  de  mão  de  obra.  O  termo  "mão  de  obra",  em  si,  já  é  flagrante:  o  ser  humano  deixa  de  valer  pelo  que  sabe,  cria  e  sente  e  passa  a  contar  simplesmente  pelo  que  é  capaz  de  produzir;  pelo  que  seu  corpo  pode  oferecer  de  trabalho;  pelo  que  sua  mão  consegue  trabalhar,   "obrar".  O  ser  humano  passa  a  ser   reduzido  a  mão  de  obra.  É  curioso  observar  que  esse  período  ainda  é  tão  flagrantemente  presente,  que  ainda  hoje  muitos  se  referem   ao   trabalhador   como   "mão   de   obra".   E   não   é   raro   ouvir   o   que   à   época   era  corriqueiro:  "Você  é  pago  para  fazer,  não  para  pensar".  Quando  pedimos  a  uma  pessoa  que  se   atenha   ao   tamanho   de   sua   caixinha,   que   as   fronteiras   de   suas   funções   limitem   seus  pensamentos   e   ações,   que   seu   horizonte   de   visão   se   atenha   a   seu   cargo   ou   a   seu  departamento,   estamos   reproduzindo   essa   lógica   aniquiladora   da   expansão   das  possibilidades  humanas.  

Nesse  momento  tão  crítico  da  humanidade,  como  foi  a  Revolução  Industrial,  o  que  se  pedia  ao   trabalhador   era,   de   fato,   que   pensasse   o   menos   possível.   O   senso   comum   em   vigor  pressupunha   que   o   pensar   demandava   tempo   e   energia,   que   seriam   desviados   da   tarefa  produtiva.  Eram  usuais  as  jornadas  de  16  ou  18  horas,  sem  nenhum  benefício  trabalhista,  em  condições  de  higiene  de  extrema  precariedade  e  nas  quais  a  lógica  era  pagar  o  mínimo  por    

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peça   produzida,   de  modo   que   a   quantidade   fosse   a  maior   possível,   o   produto   resultante  tivesse  preços   tão  baixos  quanto  viável,   com   isso,  mesmo  um   trabalhador  em  situação  de  penúria   conseguisse   comprar   o   indispensável   para   a   sua   sobrevivência   naquele   dia.   Os  insatisfeitos,   sem   ter   opção  de   trabalho   e   diante   do   excesso  de  pessoas   em  busca   de  um  emprego   qualquer,   faziam   melhor   em   se   calar,   até   que   o   contexto   no   qual   sobreviviam  ceifassem  suas  vidas,  aos  25  ou  30  anos  de  idade.  

Esse   foi   o   pedágio   que   a   humanidade   pagou   (e,   em   algumas   circunstâncias   e   lugares   do  mundo,  ainda  paga)  para  que  o  conforto  que  temos  hoje  fosse  atingido.  Ao  longo  do  século  seguinte  as   condições   trabalhistas,   sociais  e  urbanas   foram  paulatinamente   suavizando-­‐se,  em   parte   devido   à   concorrência   gerada   pelo   fato   de   outros   países   passarem   a   adotar   as  tecnologias   da   industrialização   em   suas   próprias   economias   -­‐   incluindo   nesse   leque   os  Estados  Unidos,  independentes  desde  1776  e,  entre  1808  e  1829,  os  latino-­‐americanos.  Com  essa   redução   do   gap   tecnológico1,   a   competitividade   entre   os   países   que   disputavam  mercados   de   bens   e   serviços  massificados   foi   acirrada   e   o   trabalhador   passou   a   ter  mais  opções.    

Ocorreu   então   o   que   normalmente   acontece   quando   tecnologia   e   acesso   a   capital   (ou  dinheiro)   não   são   mais   diferenciais   na   concorrência:   a   criação   humana   voltou   a   ser  valorizada  por   sua  capacidade  de  diferenciar  bens  e   serviços,  agregando-­‐lhes  valor.  Afinal,  quando  a  concorrência  é  muito  acirrada  e  outros  fatores  (como  dinheiro  e  tecnologia)  estão  disponíveis,   há   duas   formas   de   competir:   por   preço   ou   por   diferenciação.   Concorrer   por  preço,   porém,   nem   sempre   é   uma   opção   viável,   como   bem   sabe   quem   trabalha   com  projetos   esporádicos,   especialmente   como   free   lance.   Quando   o   projeto   é   muito   mal  remunerado,  assumi-­‐lo  pode  simplesmente  não  compensar.  Em  termos  macroeconômicos,  como  bem  percebemos  no  mundo  contemporâneo,  a  concorrência  da  China,  cujo  trabalho  é  desenvolvido  em  condições  sub-­‐humanas,  faz  com  que  para  a  indústria  nacional  seja  muito  difícil   concorrer   por   preço   com   os   produtos   por   ela   fabricados   (em   especial   quando   se  somam  a   isso  os  altos   impostos  pagos  no  Brasil  e  as  péssimas  condições  de   infraestrutura  que   temos,   elevando   o   chamado   "custo   Brasil")2.   A   situação   deve   se   tornar   ainda   mais  periclitante  até  2016,  na  probabilidade  de  a  China   ser   reconhecido   como  de  economia  de  mercado   (ou   seja,   onde   produtores   e   consumidores   são   livres   para   tomar   suas   decisões  econômicas)   -­‐   ou   antes   disso,   se   o   Brasil   honrar   o  Memorando   de   Entendimento   firmado  com  o  país  em  2004.  Na  prática,  isso  significará  a  virtual  impossibilidade  de  os  demais  países    

                                                                                                                         1   Ao   assumir   a   dianteira   dos   processos   de   inovação   tecnológica,   a   Grã-­‐Bretanha   gozou   durante   décadas   de  vantagem   competitiva   na   produção   e   na   exportação   de   produtos   e   serviços.   A   adoção   das   tecnologias  industriais  por  outros  países  possibilitou  a  concorrência  por  preço  e  desempenho,  reduzindo  assim  o  gap   (ou  distância)  entre  suas  economias.  2  A  rigor,  o  Protocolo  de  Acessão  da  China  à  Organização  Mundial  do  Comércio  faculta  aos  demais  membros  da  OMC  não  a  tratarem  como  tal,  até  2016.  O  Brasil,  porém,  firmou  um    Memorando  de  Entendimento  bilateral  com  o  país,  em  2004,  concedendo  à  China  status  de  economia  de  mercado.  Veja  mais  em  http://ictsd.org/i/news/4416/  

 

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aplicarem  medidas  antidumping   (ou  seja,   rechaço  à  produção  em  condições  não  validadas  pela  Organização  Mundial  de  Comércio)  contra  a  China.  

A  história  sempre  segue  em  ciclos.  A  necessidade  de  diferenciação  de  bens  e  serviços,   tão  patente  hoje  no  Brasil,  ocorria  também  na  Europa  de  fins  do  século  XIX.  Começaram  a  surgir  então  reações  emblemáticas  à  produção  em  massa,  demandando  que  o  trabalhador  voltasse  a   ter   visão  do  processo  de  produção,   a   exemplo  do  movimento   "Arts   and  Crafts"   (artes   e  ofícios).  Este  defendia  a  reunião  entre  artistas  e  artesãos,  na  fusão  do  trabalho  que  viria  a  ser  conhecido  como  "design".  A  iniciativa  teve  grande  influência  sobre  o  movimento  francês  da  Art  Nouveau  e,  posteriormente,  da  alemã  Bauhaus.    

Formada  em  1919,  a  Bauhaus  foi  a  primeira  escola  de  design  do  mundo,  resultado  da  fusão  de  artes  e  ofícios,  a  exemplo  da  arquitetura  de  vanguarda.  Ela  defendia  que  o  artista-­‐artesão  voltasse  a  ter  consciência  social,  criando  objetos  que  conciliassem  funcionalidade  e  estética.  Rompendo   com  os   cânones  da   época,   trabalhando   com   formas   simples   e   cores   básicas,   a  Bauhaus  promovia  a  criação  de  produtos  com  diferencial  e  valor  agregado,  ao  mesmo  tempo  em   que   exercia   forte   influência   sobre   questionamentos   sociais.   Não   é   de   surpreender,  portanto,   que   tenha   sido   perseguida   pelo   governo   alemão   nazista,   que   inicialmente   o  apoiara,   e   fechada  em  1933.  A  maioria  de   seus   grandes  expoentes   exilaram-­‐se  na   Suíça  e  especialmente  nos  Estados  Unidos,  dois  países  que  já  à  época  investiam  em  inovação  como  forma  de  impulsionar  a  vantagem  competitiva  de  seus  produtos  e  serviços.  

A  partir  da  década  de  1930,  de   fato,   cultura  e   tecnologia   -­‐   visceralmente  dependentes  da  criatividade   -­‐   passaram   a   restabelecer   com   nova   ênfase   a   união   que   havia   sido   cindida  durante   a   Revolução   Industrial.   Duas   facetas   da   mesma   moeda,   ambas   objetos   que   dão  origem  aos  Direitos  de  Propriedade  Intelectual,  como  veremos  adiante.  Datam  desses  anos  os  primeiros  registros  de  patente  de  sonorização,  realizados  por  Alemanha  e  Estados  Unidos,  duas  potências  em  disputa  geoeconômica  já  à  época.  Não  por  coincidência,  esses  dois  países  abrigaram  o  nascedouro  de  duas  escolas  que  se  dedicariam  ao  estudo  e  à  crítica  das  novas  relações  estabelecidas  entre  cultura,  tecnologia,  sociedade  e  economia.  A  Escola  de  Chicago,  que   iniciou   na   década   de   1920   e   tomou   corpo   especialmente   na   de   1930,   analisava   a  interação   e   o   impacto   das  mídias   de   comunicação   de  massa   com  o   comportamento   e   no  pensamento  humanos,  em  seus  aspectos  técnicos  e  físicos.  Já  na  década  de  1940  a  Escola  de  Frankfurt,   com   expoentes   como  Horkheimer,   Adorno   e   Benjamin   dedicava-­‐se   a   analisar   o  impacto  sobre  o  conteúdo  do  que  viria  a  cunhar  "indústrias  culturais",   tecendo-­‐lhes  ácidas  críticas3.    

Ao   apagar   das   luzes   da   Segunda   Guerra   Mundial,   a   humanidade   entrou   em   um   período  acelerado  de  consumo  de  massa,  com  todas  as  consequências  econômicas,  sociais,  culturais    

                                                                                                                         3   Dois   textos   são   fundamentais   para   os   que   buscam  melhor   compreender   as   relações   entre   cultura,  mídias,  controle   social   e   expansão   econômica.   No   primeiro   deles,   "Dialética   do   Iluminismo",   de   1947,   Adorno   e  Horkheimer   abordam   os   modos   como   as   indústrias   culturais   constituíam   um   sistema   político   e   social,  engendrando   a  manipulação   do   consumo   e   o   controle   social,   a   partir   da   conversão   das   indústrias   culturais  (filmes,   livros,   músicas   gravadas)   em   mercadorias.   Em   "A   Obra   de   arte   na   época   de   sua   reprodutibilidade  técnica"  (1955),  Benjamin  questionava  e  a  extirpação  da  aura  artística,  da  autenticidade  e  da  unicidade  da  obra  de  arte  transformada  em  mercadoria  serializada.  

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e  ambientais  geradas,  especialmente  as  que  hoje  se  revelam  a  antítese  da  sustentabilidade4.  Na   esfera   econômica,   o   período   também   foi   marcado   pela   criação   do   cálculo   do   PIB   -­‐  Produto  Interno  Bruto,  em  1948.  Embora  tenha  sido  adaptado  ao  longo  das  décadas  (alguns  setores  foram  incorporados  nos  cálculos,  outros  tiveram  seu  peso  expandido  -­‐  a  exemplo  de  consultoria  de  software,  rádio  e  TV,  atividades  de  cinema  ou  serviços  financeiros)5,  a  lógica  que  o  embasa  é  reflexo  de  sua  época  e  vem  sendo  alvo  de  várias  críticas.  Dentre  outras,  sua  metodologia  não  analisa  como  a  riqueza  é  gerada  (e.g.  o  PIB  da  Amazônia  pode  crescer  por  desmatamento   ou   por   manejo   sustentável   e   resultar   na   mesma   conta)   e   não   permite  computar  trabalhos  voluntários  (dado  que  estes  não  envolvem  transações  monetárias).  

Para  complementar  a  análise  do  PIB  com  um  índice  capaz  de  lançar  olhares  mais  sensíveis  ao  desenvolvimento   e   não   somente   ao   crescimento   econômico,   foi   criado   em   1990   o   IDH   -­‐  Índice   de   Desenvolvimento   Humano.   O   IDH   revela   as   condições   que   determinam  possibilidades  básicas  das  pessoas,  tais  como  saúde,  padrão  de  vida  e  educação.  Ele  dialoga  com  a  noção  de  desenvolvimento  cunhada  por  um  de  seus  criadores,  o  economista  indiano  Amartya  Sen.  Para  ele,  desenvolvimento  é  a  ampliação  das   liberdades  de  escolha6   -­‐  o  que  significa  que,  para  ser  desenvolvida,  uma  nação  deve  ser   formada  por  pessoas  autônomas  em  seu  modo  de  pensar  e  com  acesso  a  informações  que  lhes  permitam  tomar  decisões  por  conta  própria.  Prenuncia-­‐se  aqui,  portanto,  uma  questão  básica  da  economia   criativa,  que  será  abordada  na  última  seção  desta  disciplina:  a  criatividade  é  condição  necessária  mas  não  suficiente   para   garantir   o   desenvolvimento   da   economia   criativa   como   estratégia   de  desenvolvimento.  

Ainda  na  década  de  1990,  outras  mudanças  de  grande  envergadura  ganharam  o  mundo  e  enredaram   os   fios   que   levariam   à   eclosão   da   economia   criativa.   Em   primeiro   lugar,   a  globalização  favoreceu  uma  padronização  acelerada  de  produtos  e  serviços.  As  tecnologias  passaram  a  ser  muito  mais  facilmente  transferíveis  no  mundo,  reduzindo  o  gap  tecnológico  apontado   anteriormente,   entre   países   de   um   mesmo   nível   de   desenvolvimento.   Essa  padronização  é  facilmente  notada  em  nosso  dia  a  dia.  Quem  de  nós  não  recebeu  proposta  de   banco,   empresa   de   telefonia   celular   ou   de   cartão   de   crédito,   concorrente   aos   serviços  que   já   temos,  oferecendo  exatamente  a  mesma  coisa?  Sendo  propostas   tão  parecidas   (ou  com   pouca   diferenciação),   a   alternativa,   como   já  mencionado,   é   disputar   os   clientes   com  base  no  preço.  E,  de  fato,  somos  levados  a  mudar  de  provedor  de  qualquer  desses  serviços  apenas  quando  nos  é  oferecida  uma  redução  de  preços  ou  promoção  afim.  Reiterando  o  já  apresentado:   quando   a   concorrência   é   acirrada,   ou   se   disputa   o   cliente   com   base   em  produtos  e   serviços  diferenciais,   ou   com  base  no  preço.  Com  a   globalização   reforçou-­‐se  o  grau  de  concorrência  no  mundo.  

Por   outro   lado,   a   globalização   gerou   a   valorização   flagrante   de   produtos,   serviços   e  propostas  consideradas  únicas  (o  que  se  convencionou  chamar  de  "paradoxo  da    

                                                                                                                         4   Aos   interessados   no   tema   recomenda-­‐se   que   assistam   ao   vídeo   "A   História   das   Coisas",   nesta   versão  legendado  em  português:  http://youtu.be/3c88_Z0FF4k  5  O  PIB  contempla  a  produção  na  indústria,  na  agropecuária,  no  setor  de  serviços,  o  consumo  das  famílias,  os  gastos  do  governo,  o  investimento  das  empresas  e  a  balança  comercial  (ou  seja,  exportação  e  importação).  6  Professor  em  Harvard,  foi  com  essa  tese  que  Amartya  Sen  ganhou,  em  1988,  o  Prêmio  Nobel  da  Economia.    

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globalização").  O  valor  agregado  daquilo  que  é  vivencial,  que  oferece  uma  experiência,  que  não   pode   ser   copiado,   passou   a   ser   catapultado.   Exemplos   disso   são   o   ressurgimento   de  dialetos   que   estavam   em   vias   de   extinção   ou   o   resgate   de   receitas   e   demais   pérolas   da  gastronomia   e   da   produção   artesanal   locais.   Em   um  mundo   onde   tudo   é  muito   parecido,  buscam-­‐se   crescentemente   alternativas   ao   lugar   comum;   procuram-­‐se   cada   vez   bens   e  serviços   que   permitam   ao   consumidor   não   se   sentir   um   número,   uma   estatística,   uma  pessoa  sem  identidade,  perdida  em  uma  massa  global.  Haja  vista  o  aumento  impressionante  de  praticantes  de  esportes  radicais,  de  turistas  voltados  à  experiência,  de  frequentadores  de  cursos  de  degustação  os  mais  diversos.  Com  isso,  abriu-­‐se  também  a  possibilidade  para  que  as  culturas  associadas  a  contextos  locais  passassem  a  ter  maior  nível  de  consideração.  

Outro  fenômeno  interessante,  que  se  soma  e  alavanca  o  impacto  da  globalização  em  escala  planetária,  são  as  mídias  digitais.  Se  até  seu  advento  e  sua  difusão  para  a  grande  massa  a  busca  de  produtos  ou  serviços  exigia  um  longo  trabalho  de  levantamento  de  mercado,  hoje  uma   rápida  pesquisa  pelo  Google   e   a   disponibilidade  de   imagens   e   vídeos   em   tempo   real  possibilitam  que  um  produto  ou   serviço   lançado  em  um  canto  do  mundo  apareça  em  um  lado  oposto,  poucos  meses  após  sua  estreia  no  mercado.  

O  recrudescimento  da  concorrência  mundial,  favorecido  pelo  binômio  globalização  &  mídias  digitais,   promoveu   também  a   fragmentação  das   cadeias   de  produção.   Há   20   ou   15   anos,  uma  roupa  "Made  in  Brazil"  significava  que  era  de  fato  feita  no  Brasil  -­‐  de  sua  criação  à  sua  finalização.   Um   sapato   italiano   era   italiano,   um   pulôver   inglês   era   inglês.   Hoje,   não   nos  surpreende   encontrar   roupas   cujo   forro   é   feito   na   Indonésia,   o   exterior   na   Turquia,   com  desenho  francês,  montada  em  Honduras,  distribuída  por  uma  empresa  espanhola,  de  marca  estadunidense  e  comprada  no  Brasil.  Da  mesma  forma  como,  ao  abrirmos  um  computador  ou   telefone   celular,   percebemos  que  a   soma  das   várias  nacionalidades   responsáveis  pelos  seus  componentes  seria  digna  de  um  encontro  das  Nações  Unidas.    

O  que   isso   significa  é  que  com  o  acirramento  da  concorrência,   concretizar  a  venda  de  um  produto   ou   serviço   -­‐   inclusive   os   culturais   ou   criativos   de   modo   geral   -­‐   exige   muita  diferenciação  e  singularidade,  se  não  quiser  ser  condenado  a  disputar  espaço  por  preço7.    

Foi   esse   o   contexto   que,   em   1994,   levou   o   então   Primeiro-­‐Ministro   da   Austrália,   Paul  Keating,   a   realizar   um   discurso   referencial,   intitulado   "Creative   Nation"   (Nação   Criativa).  Neste,   que   talvez   tenha   sido   a   certidão  de  nascimento  da   economia   criativa  no  mundo,   a  tônica   recaía   sobre   os   riscos   que   a   aliança   entre   globalização   e   mídias   digitais   poderiam  representar   à   identidade   australiana   e   à   capacidade   de   expressão   e   de   crescimento  intelectual  e  artístico  de  seus  cidadãos.  Por  outro  lado,  defendia  Keating,  haveria  uma  forma  de   utilizar   a   globalização   e   as   mídias   digitais   a   favor   justamente   da   ampliação   de  possibilidades   das   quais   dispunham   os   australianos.   Em   um   breve   extrato   desse   longo  discurso,  o  Primeiro-­‐Ministro  também  salientava  a  importância  econômica  da  cultura:    

                                                                                                                         7  Para  uma  abordagem  colorida  do   tema,  a   série  de  documentários  Criaticidades,  produzida  por  Garimpo  de  Soluções  e  Umana  e  veiculada  oito  vezes  no  Canal  Futura,  desenha  esse  pano  de  fundo  por  meio  de  entrevistas  com  profissionais  de  vários  países.  De  especial   interesse  para  esta   sessão   são  O  Que  É  Economia  Criativa?  e  Economia  Criativa  e  Empreendedorismo  

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Esta  política  cultural  também  é  uma  política  econômica.  A  cultura  cria  riqueza.  Definidas  de  forma  ampla,  as  indústrias  culturais  geram  13  bilhões  de  dólares  por   ano.   A   cultura   gera   empregos.   Cerca   de   336.000   australianos   são  empregados  em   indústrias   relacionadas   com  cultura.  A   cultura  agrega  valor,  ela  dá  uma  contribuição  à  inovação,  ao  marketing  e  ao  design.  É  um  crachá  da  nossa   indústria.   O   nível   de   nossa   criatividade   determina   substancialmente  nossa   habilidade   de   adaptação   aos   novos   imperativos   econômicos.   É   uma  exportação   cheia   de   valor   por   si   e   uma   complementação   essencial   à  exportação  de  outras  commodities.  Ela  atrai  turistas  e  estudantes.  É  essencial  para  nosso  sucesso  econômico.  (Keating,  2004)  

Quem  porém  ouviu  essa  mensagem  de  modo  muito  claro  e  a  colheu  no  ar  foi  o  Reino  Unido,  país   também   membro   da   Commonwealth8,   que   passaria   em   1997   por   eleições   para  Primeiro-­‐Ministro.   Esse   momento   histórico   marcou   a   adoção   da   economia   criativa   como  base  de  política  de  Estado,  por  um  país  de  economia  forte9,  padrão  desenvolvido  e  onde  a  cultura  e  a  criatividade  têm  papel  de  destaque,  conforme  veremos  a  seguir.  

 

   

                                                                                                                         8  Grupo  de  países  que  reúne  o  Reino  Unido  e  as  ex-­‐colônias  do  país.  9  Em  2012  o  Reino  Unido  encerrou  o  ano  como  sexta  maior  economia  do  mundo  (o  Brasil   figurou  em  sétimo  lugar,  em  termos  absolutos.  Já  em  termos  relativos,  nosso  PIB  per  capita  foi  de  US$11.395,  o  do  Reino  Unido  de  US$38.514  e  o  mundial  de  US$10.170.  

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Características  essenciais  e  diferenciações  conceituais    frente  a  outras  propostas.  

Após  18  anos  no  poder,  o  Partido  Conservador  do  Reino  Unido  enfrentou  em  1997  acirrada  disputa  com  o  Partido  Trabalhista,  para  as  eleições  do  novo  Primeiro-­‐Ministro  do  país.  Como  vimos,   as   circunstâncias   econômicas   que   marcavam   o   mundo   estavam   em   plena  efervescência.  A  concorrência  se  fazia  sentir  em  intensa  profundidade.  A  economia  britânica  temia   pela   concorrência   dos   produtos   e   serviços   chineses,   cujos   preços   baixos   eram  virtualmente  imbatíveis;  pela  expatriação  dos  serviços  de  software,  mídias  digitais  e  mesmo  de  serviços  de  atendimento  ao  consumidor  para  países  como  a  Índia  (onde  o  trabalhador,  de  fala   inglesa,   recebia   uma   fração   do   salário   do   trabalhador   britânico);   pela   mudança   de  parques  industriais  para  países  da  Europa  Oriental  e  outros,  onde  os  custos  trabalhistas  são  mais  baixos;  pela  unificação  europeia,  que  proporcionaria  a  um  trabalhador  grego,  espanhol  e  dos  demais  países-­‐membros  os  mesmos  direitos  gozados  por  um  trabalhador  britânico.    

Como  candidato  do  Partido  Trabalhista,  de  oposição,  Tony  Blair   trazia  em  si  um  frescor  de  forma  (tinha  44  anos  à  época)  e  também  de  conteúdo,  desfraldado  sob  a  bandeira  de  uma  "Creative  Britain"   (Grã-­‐Bretanha  criativa).  A  plataforma  política  de  seu  partido  preconizava  que  a  estratégia  do  país  deveria   se  pautar  por   sua   criatividade,   tendo  em  vista  o  nível  de  concorrência  estabelecido  no  mundo  e  a  capacidade  do  país  de  inventar  e  inovar,  desde  os  tempos  das  grandes  navegações  e  então  da  Revolução  Industrial,  até  os  efervescentes  anos  1960   (com   os   Beatles,   o   pop,   o   design,   a   minissaia,   a   modelo   Twiggy   e   tantos   outros  símbolos  de  arrojo  que  tornaram  o  país  um  dos  maiores  epicentros  da  criatividade  mundial).  

Foi  com  essa  proposta  que  Blair  se  tornou  Primeiro-­‐Ministro.  Fazendo  jus  a  essa  promessa,  uma  de  suas  primeiras  ações   foi  a   formação  de  uma  força-­‐tarefa,  com  duas  características  principais.   A   primeira   era   reunir   os   dirigentes   das   mais   variadas   pastas   públicas,   que  deveriam   adotar   a   promoção   da   criatividade   como  base   de   suas   políticas.   Afinal,   como   já  defendido,  a  criatividade  não  se  atém  a  um  setor,  mas  deve  integrar  todos  -­‐  da  educação  ao  turismo,   da   cultura   à   ciência   e   tecnologia.   A   segunda   era   a   participação   de   expoentes   do  setor   privado   nessa   força-­‐tarefa,   tendo   em   vista   o   reconhecimento   de   que   quem   gera  inovação   e   riqueza   na   sociedade   é   o   setor   privado   -­‐   o   governo,   na  melhor   das   hipóteses,  gerencia  essa  riqueza  de  uma  forma  tida  como  justa  e  prioritária  pela  sociedade.  E,  de  fato,  a  formação   de   uma   parceria   realmente   público-­‐privado,   com   objetivos   convergentes   e  benefícios  complementares,  é  considerada  crucial  para  a  formulação  de  uma  nova  estratégia  para  o  país  e  foi  nesse  momento  um  dos  pontos  considerados  mais  relevantes  na  condução  de  uma  política  de  Estado.    

Outro   aspecto   fundamental   na   condução   do   primeiro   processo   de   adoção   da   economia  criativa  como  pauta  estratégica  do  país  foi  a  realização  de  um  mapeamento,  publicado  em  1998,  contemplando  as  chamadas  "indústrias  criativas".  Considerando-­‐se  que  "indústria",  no  jargão   econômico,   significa   um   setor   econômico   específico   (daí   os   termos   "indústria  financeira",   "indústria   do   turismo"   ou   "indústria   do   entretenimento"),   as   "indústrias  criativas"  seriam  conformadas  pelos  setores  econômicos  que  se  caracterizam,  diferenciam-­‐se  e  sobrevivem  graças  à  carga  de  criatividade  que  trazem  embutida.  Nesse  leque  e    

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conforme  alinhavado  na  primeira  seção  desta  disciplina,  dois  eixos  de  setores  se  destacam:  os  baseados  em  cultura  e  os  pautados  por  ciência  e  tecnologia.    

Originalmente,   portanto,   as   indústrias   criativas   britânicas   (e   que   vieram   a   direcionar   os  olhares  lançados  por  outros  países  entusiasmados  com  o  tema  -­‐  do  Líbano  a  Cingapura,  do  Canadá   à   Colômbia)   compreendiam   propaganda,   arquitetura,   artes,   artesanato,   design,  audiovisual,   música,   artes   do   espetáculo,   edição,   pesquisa   e   desenvolvimento,   jogos,  brinquedos,  rádio  e  televisão.  Como  se  vê,  as  indústrias  criativas  abrangem  as  relacionadas  à  cultura,  mas  não  se  restringem  a  elas,  de  modo  que  a  economia  criativa  abrange  a  economia  da  cultura,  mas  também  setores  ligados  a  comunicação,  ciência  e  tecnologia.  

O  próprio  exercício  de  definição  das  indústrias  criativas  engendrou  uma  reflexão  relevante,  que  deixou  um  marco  e  inspirou  o  desenvolvimento  do  conceito  e  de  sua  adoção  em  várias  partes  do  mundo.  Como  lembra  Reis  (2008):  

O  exemplo  do  Reino  Unido  tornou-­‐se  paradigmático  por  quatro  razões:  

1)   contextualizar   o   programa   de   indústrias   criativas   como   resposta   a   um  quadro  socioeconômico  global  em  transformação;  

 2)   privilegiar   os   setores   de   maior   vantagem   competitiva   para   o   país   e  reordenar  as  prioridades  públicas  para  fomentá-­‐los;  

3)   divulgar   estatísticas   reveladoras   da   representatividade   das   indústrias  criativas   na   riqueza   nacional   (7,3%   do   PIB,   em   2005)   e   com   crescimento  recorrentemente  significativo  (6%  ao  ano,  no  período  1997-­‐2005,  frente  a  3%  do  total);    

4)   reconhecer   o   potencial   da   produção   criativa   para   projetar   uma   nova  imagem  do  país,   interna  e  externamente,  sob  os  slogans  “Creative  Britain”  e  “Cool   Brittania”,   com   a   decorrente   atratividade   de   turismo,   investimentos  externos  e  talentos  que  sustentassem  um  programa  de  ações  complexo.  

Inicialmente   baseada   portanto   em   uma   lógica   setorial   (a   das   indústrias   criativas),   a  abordagem   evoluiu   ao   longo   dos   anos   seguintes   para   uma   abordagem   mais   sistêmica,  analisando   as   relações   entre   as   indústrias   criativas,   os   encadeamentos   dos   elos   de   uma  mesma  indústria  criativa  (da  capacitação  ao  desenho  da  ideia,  do  acesso  ao  financiamento,  à  distribuição   ou   ao   consumo),   bem   como   o   potencial   impacto   das   indústrias   criativas   na  dinamização   e   na   competitividade   de   setores   tradicionais   (basta   pensar   na   alavancada   de  inovação  que  a  indústria  criativa  da  moda  suscita  no  setor  têxtil  ou  que  a  indústria  criativa  da  arquitetura  tem  sobre  a  construção  civil).  A  economia  criativa  tem  portanto  as  indústrias  criativas  em  seu  cerne,  mas  vai  muito  além  destas.  Ela  contribui  para  a  dinamização  também  dos   setores   tradicionais   de   uma   economia   -­‐   uma   excelente   notícia   para   um   país   como   o  Brasil,  que   tem  o  privilégio  de  possuir   recursos  naturais  em  abundância  e   setores  de  base  muito  competitivos  (como  o  agronegócio),  mas  no  qual  os  setores  de  maior  valor  agregado  vêm  perdendo  espaço  nos  últimos  anos.  

A   escolha   dos   setores   que   são   considerados   por   um   país   ou   região   os   mais   criativos   e  capazes  de  impulsionar  uma  política  socioeconômica  estruturante  levou  à  necessidade  de    

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criar  um  marco  divisor  de  águas  que  definisse  e  priorizasse  as   indústrias  criativas.  Na  Grã-­‐Bretanha  de  fins  da  década  de  1990  o  critério  em  questão  foi  a  potencial  geração  de  direitos  de   propriedade   intelectual,   que   abrange   tanto   os   direitos   autorais   quanto   os   industriais  (patentes,   marcas   registradas,   indicações   de   origem,   desenho   industrial).   A   lógica   desse  critério  é  que  ideias  e  criações  devem  ser  protegidas,  para  reconhecer  e  remunerar  quem  as  teve   ou   fez.   Afinal,   se   o   criador   não   tiver   a   retribuição   financeira   que   lhe   caberia,  eventualmente  terá  de  se  dedicar  a  outra  profissão,  que  lhe  remunere  condignamente.  

Embora  o  raciocínio  seja  coerente,  a  inadequação  da  atual  legislação  mundial  de  Direitos  de  Propriedade   Intelectual   é   alvo   de   inúmeras   críticas,   a   exemplo   de   desfavorecer   registros  coletivos  e  de  comunidades  tradicionais.  

 

   

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Estudos  e  estatísticas  das  indústrias  e  da  economia  criativa,    no  Brasil  e  no  mundo  

Um  salto  qualitativo  no  entendimento  da  economia   criativa  no  mundo   foi   dado  em  2008,  com  a  publicação  do  "Creative  Economy  Report"  (Relatório  de  Economia  Criativa).  O  estudo  foi  fruto  de  um  trabalho  integrado  por  cinco  instituições  da  Organização  das  Nações  Unidas,  que  aportaram  olhares  e  experiências  complementares  -­‐  UNCTAD  (Conferência  das  Nações  Unidas  para  o  Comércio  e  o  Desenvolvimento),  ILO  (Organização  Internacional  do  Trabalho),  OMPI   (Organização   Mundial   de   Propriedade   Intelectual),   PNUD   (Cooperação   Sul-­‐Sul   do  Programa  das  Nações  Unidas  para  o  Desenvolvimento)  e  UNESCO  (Organização  das  Nações  Unidas  para  a  Educação,  a  Ciência  e  a  Cultura)  -­‐,  capitaneadas  pela  UNCTAD  (Conferência  das  Nações  Unidas  sobre  Comércio  e  Desenvolvimento),  tendo  à  sua  frente  a  brasileira  Edna  dos  Santos-­‐Duisenberg   e   contando   com   Ana   Carla   Fonseca   como   consultora   para   a   América  Latina  e  o  Caribe.    

O  relatório  contempla  um  aprofundamento  do  conceito  de  economia  criativa,  os  diferentes  modelos  de  economia  criativa  desenhados  por  uma  miríade  de  instituições  (Figura  1),  casos  práticos,  recomendações  para  formuladores  de  políticas  e  as  estatísticas  então  disponíveis.  Reeditado   em   201010,   com   atualização   de   números   e   complementação   de   casos,   uma  terceira  edição  deverá  ser  publicada  em  fins  de  2013  ou  início  de  2014.  Tendo  em  vista  ser  um  estudo  referencial,  vale  atentar  à  definição  que  faz  de  indústrias  criativas:  

As  indústrias  criativas  são  definidas  pela  Conferência  das  Nações  Unidas  para  o   Comércio   e   o   Desenvolvimento   (UNCTAD)   como   os   ciclos   de   criação,  produção  e  distribuição  de  bens  e  serviços  que  usam  a  criatividade  e  o  capital  intelectual   como   principais   insumos.   Elas   compreendem   um   conjunto   de  atividades   baseadas   no   conhecimento   que   produzem   bens   tangíveis   e  intangíveis,  intelectuais  e  artísticos,  com  conteúdo  criativo  e  valor  econômico.  

 

   

                                                                                                                         10  O  relatório  foi   traduzido  para  o  português  em  2013,  pela  Secretaria  de  Economia  Criativa  do  Ministério  da  Cultura,  em  parceria  com  o  Itaú  Cultural.  

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Figura   1   -­‐   Comparativo   de   modelos   de   economia   criativa   adotados   por   distintas  organizações.  Fonte:  Relatório  de  Economia  Criativa.  Fonte:  UNCTAD,  2010  

 

No  âmbito  nacional,  há  uma  enorme  carência  de  estudos  aprofundados  sobre  a  economia  criativa.  "A  Cadeia  da  indústria  criativa  no  Brasil",  editado  pela  Federação  das  Indústrias  do  Estado   do   Rio   de   Janeiro   (FIRJAN)   em   2008,   lançou   luz   sobre   o   impacto   econômico   das  indústrias  criativas  no  país  e  em  um  conjunto  de  estados  brasileiros.  Na  ausência  de  dados  oficiais  do  Governo  Federal  e  de  uma  definição  do  mesmo  quanto  às  indústrias  criativas  mais  pertinentes  ao  contexto  nacional,  a  FIRJAN  tomou  por  base  o  conjunto  de  indústrias  criativas  definidas  pelo  Reino  Unido  (em  seu  exercício  inicial  de  1998)  e  construiu  o  que  se  consolidou  como   o   principal   estudo   de   referência   sobre   o   tema   no   Brasil.   Complementarmente,   a  publicação   apresenta   o   encadeamento   das   indústrias   criativas   às   atividades   relacionadas  (produtos   e   serviços   diretamente   provedores   das   indústrias   criativas,   a   exemplo   de  cosméticos,   instrumentos   musicais,   serviços   de   impressão   de   livros   e   periódicos)   e   às  atividades   de   apoio   (produtos   e   serviços   indiretamente   utilizados   nas   indústrias   criativas,  como  limpeza  pública,  gestão  de  espaços,  serviços  de  contabilidade  ou  de  advocacia).  

A   necessidade   de   dar   maior   reconhecimento   à   participação   da   ciência   e   da   tecnologia,  enfatizando,  como  já  estudado  na  seção  1,  que  as   indústrias  criativas  não  se  restringem  às  que   integram   o   universo   da   cultura,   levou   a   FIRJAN   a   incorporar   dois   novos   setores   na  reedição  de  seu  estudo.  Assim,  o  "Mapeamento  da  Indústria  Criativa  2012"  (ano-­‐base  2011)  elenca   as   indústrias   contempladas   na   publicação   anterior   e   a   elas   acrescenta   "pesquisa   e  desenvolvimento"  (desenvolvimento  experimental  e  pesquisa  em  geral,  exceto  em  biologia)  e  "biotecnologia"  (bioengenharia,  pesquisa  em  biologia,  atividades  laboratoriais).  (Figura  2)  

 

 

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Figura  2  -­‐  Fluxograma  do  mapeamento  da  cadeia  das  indústrias  criativas  no  Brasil.  Fonte:  Mapeamento  da  Indústria  Criativa.  Fonte:  FIRJAN,  2012  

A  segunda  edição  do  estudo  da  FIRJAN  também  adotou  uma  mudança  metodológica  relevante,  como  descrito  no  próprio  mapeamento.    

Em  sintonia   com  a   literatura   internacional,   esta  edição   inova  ao   somar  uma  nova   abordagem   ao   método   das   edições   anteriores.   Além   da   visão   sobre  cadeia  produtiva,  cujo  foco  são  as  empresas  e  o  valor  de  produção  gerado  por  elas,   foi   construída   uma   análise   sobre   os   profissionais   criativos.   Isso   é  fundamental  uma  vez  que  estes  não  trabalham  exclusivamente  nas  empresas  que  produzem  bens  e  serviços  criativos.  Por  exemplo,  um  designer  não  está  empregado   apenas   nas   empresas   criativas,   ele   pode   trabalhar   na   indústria  automotiva,  siderúrgica  ou  de  máquinas  e  equipamentos.  Em  outras  palavras,  enquanto   as   edições   anteriores   se   restringiam   à   análise   dos   dados   da  Classificação   Nacional   das   Atividades   Econômicas   (CNAE),   a   atual   também  utiliza  a  Classificação  Brasileira  de  Ocupações  (CBO).  

Como  resultados  gerais  relativos  ao  Brasil,  constatou-­‐se  que  243  mil  empresas  constituíam  o  núcleo  das  indústrias  criativas  no  país11,  respondendo  por  2,7%  do  Produto  Interno  Bruto    

 

                                                                                                                           11   Atenção   seja   dada   ao   fato   de   que,   salvo   menção   em   contrário,   os   estudos   oficiais   referem-­‐se   apenas   à  economia  formal.  Embora  não  haja  como  precisar  o  grau  de  informalidade  dos  setores,  é  admissível  que  haja  grande  variabilidade  do  nível  de  formalização  entre  esses  setores.  Estudo  realizado  pela  FUNDAP  (detalhado  a  seguir)  estima  que  a  economia  informal  represente  60%  do  total  da  economia  criativa  no  Brasil.  Ser  criativo  é  requisito   necessário   mas   não   suficiente   para   garantir   a   inclusão   do   trabalhador   no   mercado   movido   pela  economia  criativa.  

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brasileiro.   O   mercado   formal   de   trabalho   do   núcleo   criativo   (ou   seja,   da   riqueza   gerada  diretamente   pelas   indústria   criativas,   excluindo-­‐se   aqui   as   atividades   relacionadas   e   as   de  apoio)   representou   1,7%   dos   trabalhadores   brasileiros.   Mereceram   destaque,   segundo   o  estudo,   os   setores   de   arquitetura   e   engenharia;   publicidade;   e   design,   que   em   conjunto  abrangiam  metade  dos  trabalhadores  criativos  brasileiros.  

O  estudo  também  divulgou  que  a  remuneração  mensal  média  do  trabalhador  de  profissões  inseridas  nas  indústrias  criativas  era  quase  três  vezes  superior  ao  salário  médio  da  economia  formal   (R$4.693   contra   R$1.733).   No   caso   do   Estado   do   Rio   de   Janeiro,   a   remuneração  média  mensal  dos  trabalhadores  formais  do  núcleo  criativo  é  de  R$7.275  (ante  R$4.693).  

Cabe  porém  considerar  este  tópico  com  a  devida  cautela.  Tendo  em  vista  que  a  economia  criativa  compreende  um  vasto  leque  de  setores  e  profissões,  das  mais  qualificadas  às  menos,  o  fato  de  a  remuneração  média  nos  setores  criativos  ser  superior  à  da  média  dos  salários  da  economia   não   significa   que   os   trabalhadores   com   baixa   qualificação   sejam   bem  remunerados.   Afinal,   também   na   economia   criativa   quão   maior   for   a   qualificação   do  trabalhador,  mais  bem  remunerado  ele  tenderá  a  ser.  De  fato,  estudos  empíricos  realizados  em  especial  no  Reino  Unido  revelam  que  uma  estratégia  de  economia  criativa  desenvolvida  sem  a  devida  consideração  à  qualificação  pode  sobrevalorizar  o  trabalhador  especialmente  qualificado  (que  já  teria  maiores  chances  de  inserção  no  mercado)  -­‐  e  pode  não  beneficiar  o  trabalhador  sem  qualificação.  

Outro  indicador  importante  a  ser  considerado  é  a  geração  de  postos  de  trabalho,  sobretudo  em   um   país,   como   o   nosso,   no   qual   a   população   continua   crescendo.   As   indústrias   que  compõem   o   núcleo   criativo   absorvem   1,7%   do   total   do   mercado   de   trabalho   nacional,  percentual  este  apenas  superado  pelos  Estados  de  São  Paulo  (2,3%),  Rio  de  Janeiro  (2,2%)  e  Santa  Catarina  (1,9%).  Rio  Grande  do  Sul,  Paraná  e  Distrito  Federal  apresentam  percentual  igual   ao   da   média   nacional,   enquanto   em   Alagoas   a   participação   dos   trabalhadores   do  núcleo  criativo  atinge  apenas  0,7%  e,  no  Amapá,  0,8%.  (Figura  3)  

 

 

   

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Figura   3   -­‐   Participação   dos   empregados   no   núcleo   criativo,   como   percentual   do   total   de  empregados  do  Estado  (2011).  Fonte:  FIRJAN,  2012  

Um   segundo   estudo   digno   de   nota   foi   realizado   pela   Fundação   do   Desenvolvimento  Administrativo  (FUNDAP),  por  encomenda  da  Prefeitura  de  São  Paulo.  Intitulado  "Economia  Criativa   no   Município   de   São   Paulo   -­‐   diagnóstico   e   potencialidade",   o   trabalho   seguiu  metodologia   distinta   da   adotada   pela   FIRJAN   (apresentando   portanto   dados   não  comparáveis),   tendo   se   valido   de   dados   do   Ministério   do   Trabalho   e   Emprego   (relativos  apenas  ao  mercado  formal)  e  da  Pesquisa  Nacional  por  Amostragem  de  Domicílio  (PNAD  -­‐  o  que  lhe  permitiu  estimar  também  o  mercado  informal  da  economia  criativa).  

Publicado   em   2011   (tomando   2009   por   ano   base   de   dados),   o   trabalho   abrange   dez  indústrias   criativas12   e   apresenta   alguns   dados   especialmente   didáticos.   Dentre   eles,   uma  tabela   de   grande   utilidade   aos   pesquisadores   e   interessados   no   tema,   ao   comparar   as  indústrias   criativas   (e   suas   categorias)   contempladas   tanto   no   conceito   como  nos   estudos  desenvolvidos  por  um  leque  de  fontes  (UNESCO,  UNCTAD,  IBGE,  DMCS,  FIRJAN,  e  OIC).  

Além  de  apresentar  dados  acerca  da  ocupação  formal  e  informal  nos  setores  criativos,  nível  de   rendimento,   taxa   de   crescimento   de   postos   de   trabalho   e   a   distribuição   espacial   das  indústrias  criativas  (por  emprego  e  por  unidade  econômica),  tendo  por  foco  o  Município  de  São  Paulo,  sua  região  metropolitana  e  o  estado  paulista,  o  estudo  da  FUNDAP  oferece  dados  da   distribuição   do   emprego   formal   e/ou   informal   nos   setores   criativos   também   para   o  contexto  brasileiro.  Como  se  observa  na  Figura  4,  nota-­‐se  uma  concentração  significativa  de  empregos  nas  capitais  e  nos  estados  de  maior  pujança  econômica,   tendo  à  sua   frente  São  Paulo  e,  em  um  segundo  bloco,  Rio  de   Janeiro,  Minas  Gerais,  Rio  Grande  do  Sul,  Paraná  e  Bahia.    

                                                                                                                           12   Arquitetura   e   design;   artes   performáticas;   artes   visuais,   plásticas   e   escrita;   audiovisual;  edição  e  impressão;  ensino  e  cultura;  informática;  patrimônio;  pesquisa  e  desenvolvimento;  publicidade  e  propaganda.  

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Esse  mapa  nos  traz  alguns  alertas.  O  primeiro  deles  é  que  se  não  forem  criadas  as  condições  para   que   os   trabalhadores   das   indústrias   criativas   possam   atuar   em   pequenos   e   médios  centros  urbanos,  tenderemos  a  manter  e  lógica  de  migração  interna,  esvaziando  as  áreas  de  menor   porte   dos   talentos   que   poderiam   justamente   ajudar   suas   pequenas   cidades   a   se  desenvolverem.    

Figura  4  -­‐  Distribuição  do  emprego  formal  em  atividades  da  economia  criativa  (2009).  Fonte:    FUNDAP,  2011  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 O  segundo  ponto,  correlacionado  ao  primeiro,  é  que  a  economia  criativa  formal,  ao  se  valer  de   profissionais   com   maior   qualificação   e   possibilidades   de   inserção   no   mercado   de  trabalho,  tende  a  reproduzir  a   lógica  de  concentração  da  economia  tradicional.  Para  que  a  economia   criativa   possa   de   fato   ser   utilizada   como   alavanca   estratégica   de   inclusão   e  desenvolvimento  de  regiões  menos  favorecidas  -­‐  de  nossas  cidades,  de  nossos  estados  e  do  país  como  um  todo  -­‐,  é  preciso  que  sejam  criadas  condições  para  que  o  ativo  econômico  que  é   a   criatividade   se   converta   em   inovação.  Mais   uma   vez,   explicita-­‐se   que   a   criatividade   é  condição   fundamental  mas   não   suficiente   para   que   a   economia   criativa   se   consolide.   É   a  discutir   os   desafios   que   devem   ser   vencidos   nessa   pauta   e   o   estágio   em   que   o   Brasil   se  encontra  hoje,  que  se  dedica  a  próxima  sessão.  

 

   

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Surgimento,  estado  da  arte  e  desafios  da  economia  criativa  em  nosso  país  

O  embrião  das  discussões  acerca  da  economia  criativa  no  Brasil   foi  gerado  em  2004   (REIS,  2008),  com  a  realização,  durante  o  encontro  quadrienal  da  Conferência  das  Nações  Unidas  para  o  Comércio  e  o  Desenvolvimento   -­‐  UNCTAD,  em  São  Paulo,  da  sessão  temática  “High  Level   Panel   on   Creative   Industries   and   Development”   (Painel   de   Alto   Nível   das   Indústrias  Criativas   e   do   Desenvolvimento).   Ao   analisar   os   desdobramentos   desse   evento,   o   então  Ministro   da   Cultura,   Gilberto   Gil,   fez   uma   defesa   entusiasmada   da   diversidade   brasileira  como  substrato  da  criatividade  no  país:  

Estamos   conscientes   de   que   a   maior   garantia   das   vantagens   mútuas   que  possamos   ter   advém   da   natureza   da   matéria-­‐prima   que   está   em   jogo:   a  criatividade   das   pessoas,   comunidades   e   povos   do   mundo,   a   essência   do  nosso   patrimônio   imaterial,   expressando-­‐se   a   partir   do   precioso   lastro   da  nossa  diversidade  cultural.  

Como  resultado  concreto  das  ações  seguintes,   foi  organizado  em  2005,  sob  a   liderança  do  Embaixador   Rubens   Ricupero   (então   Secretário-­‐Geral   da   UNCTAD)   e   do   Ministro   Gil,   o  Fórum   Internacional   de   Indústrias   Criativas,   em   Salvador.   Durante   o   evento   o   ministro  ratificou  a  proposta  de  criação  do  Centro  Internacional  das  Indústrias  Criativas,  cuja  missão  seria  constituir  um  banco  de  conhecimento  e  espaço  para  as  atividades  e  programas  sobre  o  tema.  

Embora   o   centro   não   tenha   se   concretizado,   o   debate   acerca   da   economia   criativa   teve  algum   prosseguimento   no   país,   sobretudo   movido   por   instituições   e   pesquisadores   que  buscavam  difundir  o  conceito.  Assim,  em  2006,  o  Fórum  Cultural  Mundial,  que  se  desenrolou  no  Rio  de  Janeiro,  inseriu  um  módulo  paralelo  de  três  dias  sobre  o  tema.  O  ano  de  2007  viu  o  desabrochar   de   iniciativas   estaduais,   com   a   organização   de   eventos   específicos   no   Ceará  (por   iniciativa   privada),   em   São   Paulo   (liderada   pelas   Secretarias   de   Cultura   e  Desenvolvimento)  e  no  Espírito  Santo  (realizada  por  aliança  entre  o  SEBRAE  e  a  Secretaria  da  Cultura).   Outros   encontros   e   conferências   específicas   surgiram,   congregando   as   maiores  referências  nacionais  em  internacionais  no  conceito  e  na  prática  da  economia  criativa.  

Em   termos   institucionais,   o   Governo   Federal   optou,   após   a   gestão   do   Ministro   Gil,   por  privilegiar   as   discussões   sobre   economia  da   cultura   (embora  pouco   tenha   avançado  nessa  área),  em  detrimento  da  economia  criativa.  Essa  situação  perdurou  até  2011,  com  a  criação  da  Secretaria  de  Economia  Criativa,  no  âmbito  do  Ministério  da  Cultura.  A  Secretaria  surgiu  em  um  momento  no  qual  o  Ministério  não  contava  com  o  capital  simbólico  ou  político  que  tivera   sob   a   gestão   do   Ministro   Gil   e   trazia   em   si   a   missão   ambiciosa   de   articular   um  programa  transversal  à  política  dos  outros  Ministérios.    

O   "Plano   da   Secretaria   da   Economia   Criativa   -­‐   Políticas,   diretrizes   e   ações   2011-­‐2014",  publicado   em   2011,   sob   a   gestão   da   então   Secretária   Cláudia   Leitão,   apresentava   e  priorizava   cinco   desafios   para   a   propulsão   da   economia   criativa   como   estratégia   de  desenvolvimento  no  país:  1)  levantamento  de  informações  e  dados  da  economia  criativa;  2)  articulação  e  estímulo  ao  fomento  de  empreendimentos  criativos;  3)  educação  para    

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competências   criativas;   4)   infraestrutura   de   criação,   produção,   distribuição/circulação   e  consumo/fruição  de  bens  e   serviços   criativos;   e,   por   fim,  5)   criação/adequação  de  marcos  legais  para  os  setores  criativos.  

Em  setembro  de  2013  a  gestão  da  Secretaria  foi  assumida  por  Marcos  André  Carvalho,  que  havia   liderado  em  2009  a  Coordenadoria  de  Economia  Criativa  da  Secretaria  de  Cultura  do  Estado   do   Rio   de   Janeiro.   A   escolha   foi   sensata,   dado   que   o   programa   desenvolvido   pela  secretaria   consolidou-­‐se   nos   últimos   anos   como   o   mais   consistente   em   nosso   país   -­‐   não  apenas   pelo   trabalho   da   Secretaria   em   si,   mas   pela   articulação   com   instituições  governamentais,  empresariais  e  acadêmicas,  no  chamado  programa  Rio  Criativo.    

Talvez  o  maior  desafio  que  enfrentaremos  no  âmbito  nacional   será  o  de  desenvolver  uma  estratégia   de   economia   criativa   e   implementá-­‐la   com   marcos   de   curto,   médio   e   longo  prazos,  antes  que  o  conceito  se  esvazie  no  modismo  que  vem  assumindo,  no  qual  tudo  (e,  portanto,  nada)  passa  a  ser  entendido  como  economia  criativa.  

Em   termos   concretos,   é   possível   elencar   seis   desafios   primordiais   que   a   Secretaria   de  Economia  Criativa  terá  pela  frente:  

1)  Definição  e   lógica   -­‐  como  visto  nas  primeiras  seções,  é   importante  definir  não  apenas  o  leque   das   indústrias   criativas   prioritárias   para   o   Brasil   e   para   suas   várias   regiões,   como  também  enfatizar  que  a  economia  criativa  abrange  mais  do  que  cultura,  não  obstante  o  fato  de  a  Secretaria  de  Economia  Criativa  integrar  a  estrutura  do  Ministério  da  Cultura.  

2)   Estudos   e   estatísticas   -­‐   levantar   dados   e   estudos   é   fundamental   para   desenvolver  diagnósticos,  embasar  o  delineamento  de  uma  estratégia,  monitorar  o  sucesso  de  políticas  e  ações  e  constituir  uma  série  histórica  que  permita  estabelecer  novas  conexões  entre  fatos.  

3)  Educação  -­‐  conforme  enfatizado  nas  seções  precedentes,  para  converter  criatividade  em  inovação  e  embasar  de  fato  uma  estratégia  de  desenvolvimento  socioeconômico  e  inclusão,  é  fundamental  investir  em  educação.  Essa  não  se  restringe  à  formação  ou  à  capacitação  para  as  profissões  criativas,  mas  abrange  desde  a  pré-­‐escola  à  pós-­‐graduação.  Como  a  economia  criativa   não   é   constituída   apenas   pelos   trabalhadores   das   indústrias   criativas,   é   preciso  fortalecer   a   capacidade   criativa,   de   análise   crítica   e   de   implementação   de   inovações   em  brasileiros   de   todas   as   profissões.   Investir   em   nossos   estudantes,   indepedentemente   do  caminho   que   vierem   a   seguir,   é   a   única   forma   de   formar   trabalhadores   inclusive   para  indústrias  criativas  que  estão  surgindo  agora  e  nem  possuem  nome  ainda  (basta  pensar  que,  há  vinte  anos,  não  existia  a  indústria  criativa  dos  games  como  a  entendemos  hoje).  

4)   Ciência   e   tecnologia   -­‐   da   mesma   forma,   em   um   mundo   globalizado   é   fundamental  expandir  o  acesso  a   informações  acerca  do  que  ocorre  em  todos  os  países  e  dentro  deles.  Informação,  em  uma  economia  baseada  na  criatividade,  é  ingrediente,  é  repertório  para  que  cada   pessoa   possa   criar   conexões   improváveis,   ver   o   que   outros   não   enxergam,   superar  barreiras  antes  vistas  como  intransponíveis.  Além  disso,  dado  que  um  dos  grandes  entraves    

 

 

 

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à  concretização  da  economia  criativa  é  a  distribuição  dos  bens  e  serviços  criativos,  os  meios  digitais  constituem  um  canal  privilegiado  para  sua  difusão.  Investir  em  alfabetização  digital  e  ampliar  o  acesso  a  equipamentos  e  banda  larga  são  questões  cruciais.  

5)  Empreendedorismo  -­‐  assim  como  em  todos  os  demais  setores  da  economia,  estimular  o  empreendedorismo  é  essencial  para   impulsionar  a   inovação.  Empreender   implica   inclusive  reconhecer   que   uma   boa   ideia   deve   ser   complementada   com   boa   gestão   de   negócios;  aceitar  que  toda  inovação  encerra  em  si  o  risco  do  fracasso;  e  que  fracassar  é  um  modo  de  aprender  com  os  erros  para,  a  partir  deles,  fortalecer  a  concretização  de  uma  ideia.  

6)  Articulação  de  políticas  entre  os  ministérios;  entre  o  governo  federal  e  as  demais  esferas  de   governo;   e   entre   governo   e   o   setor   privado   -­‐   como   vimos,   a   economia   criativa   não   é  atribuição  exclusiva  de  uma  pasta  pública  e  sim  transversal  a   todas  elas.  É   fato  que  em  se  tratando   de   um   leque   de   39   ministérios,   como   o   que   temos   hoje   no   Brasil,   qualquer  articulação   entre   políticas   assume   complexidade   majorada.   Entretanto,   caso   a   economia  criativa  seja  reconhecida  de  fato  como  alavanca  de  desenvolvimento  socioeconômico,  é  de  se   esperar   que   ela   seja   respaldada   por   vontade   política   e   orçamento   suficientes   para   ser  levada  a  termo.  

Em  síntese:  a  economia  criativa  é  um  tema  contemporâneo,  urgente  e  repleto  de  desafios  -­‐  mas   com   oportunidades   em   magnitude   ainda   maior.   Cabe   a   nós   aproveitar   essa   nova  abordagem  a  nosso  favor  ou  encará-­‐la  como  panaceia  e  relegá-­‐la  a  um  modismo  transitório.    

 

 

 

 

   

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