Estrutura do Acto de Conhecer - Resumo

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Jorge Barbosa, 2010 Filosofia 1 Psicologia, JB - 2010 RESUMO

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Jorge Barbosa, 2010

Filosofia

1 Psicologia, JB - 2010

RESUMO

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Saber  se  o  mundo  exterior  é  real    e  qual  a  consciência  e  o  conhecimento  que  temos  dele  é  um  dos  problemas  fundamentais  acerca  do  processo  de  recolha  e  tratamento  de  informação  a  que  chamamos  conhecimento.  

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Que Conhecemos?

A  simulação  tecnológica  de  situações  reais  reforça  as  dúvidas  sobre  a  existência  do  mundo  exterior.  

Nos  jogos  digitais  ou  em  instrução  num  simulador  de  voo,  os  cenários,  os  heróis  e  vilões  são  virtuais  (não  têm  existência  fora  do  software  instalado  e  da  mente  do  jogador  –  um  erro  numa  manobra  de  pilotagem  não  causa  desastres)  e,  no  entanto,  parecem-­‐nos  reais.    

O  mundo  em  que  vivemos  poderá  ser    também  uma  criação  gerada    pela  nossa  mente.  

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Conhecimento, sujeito e objecto

o  objecto  

a  existência  de  algo  (real,  ou  virtual)  que  pode  ser  investigado    

o  objecto  percebido    ou  construído  pela  mente,  isto  é,  aquilo  (coisa,  acção,  evento,  processo  interno  ou  externo  ao  corpo)  que,  sendo  percepcionado  pelo  sujeito,  pode  ser  investigado  e  explicado  (ou  seja,  pode  constituir  o  objecto  de  conhecimento    ou  objecto  de  estudo)  

o  sujeito  

 existência  de  alguém  que  quer  conhecer    

é a entidade humana que, dotada de capacidades receptivas e cognitivas, percepciona a realidade e que se empenha na investigação da parcela da realidade que designa por objecto.

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Conhecimento

Há interpretações do mundo que não são muito fiáveis (crenças em sentido amplo) e outras que merecem a nossa confiança, porque estão justificadas. Por exemplo, não acreditamos que o nosso cérebro esteja fora do nosso corpo, mas há quem acredite que o Sol se move em volta da Terra.

Podemos chamar conhecimento às interpretações não justificadas?

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Epistemologia

É preciso distinguir crença e conhecimento; mas o nosso problema não é discutir se acreditamos ou não, mas como é que justificamos a nossa crença. No domínio da Ciência e da Filosofia não basta acreditar (crer), é preciso justificar as crenças.

É por isso que se pode dizer que a epistemologia é o estudo do conhecimento e a justificação da crença.

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Epistemologia

Platão pergunta «O que é o conhecimento (episteme)?» e procura debater a diferença entre crença, ou opinião (doxa), e conhecimento, definindo crença como um determinado ponto de vista subjectivo e conhecimento como crença verdadeira e justificada. justificação da crença.

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Dúvida hiperbólica

Argumentos que fundam o acto de duvidar

A experiência mostra que:

Os  sentidos  podem  errar  algumas  vezes,  logo,  não  são  dignos  de  crédito  total    

Por  nos  enganarmos    às  vezes,  não  sabemos  se  existe  alguma  certeza  

Há  homens  que  erram  mesmo  ao  raciocinar  

Temos  dificuldade  em  identificar    a  verdade,  pois    às  vezes  não  distinguimos  sonho  e  realidade  

Conclusão  provisória:  todo  o  conhecimento  pode  ser  falso,  por  isso,  vou  duvidar  de  tudo  (dúvida  hiperbólica  –  global).  

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Descoberta da verdade

Ao usar a dúvida metódica, Descartes descobre que ao duvidar está a pensar. E afirma: «Se duvido, penso, e se penso, existo.» Eu penso, logo existo (cogito) é a primeira e irrefutável certeza. A certeza ou a indubitabilidade do cogito resulta do modo como a apreendemos: impõe-se-nos como evidente. E é evidente, porque o percebemos com clareza e distintamente.

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Critério de verdade,

clareza e distinção Descartes generalizou a descoberta: tudo o que é concebido muito claramente e muito distintamente tem a mesma evidência que o cogito, logo, é verdadeiro.

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Da ideia de Deus à existência de Deus

Tenho  em  mim  a  ideia  de  um  ser  perfeito.  

A ideia de um ser perfeito não pode ter origem em mim, porque sou imperfeito.

Dado  que  conheço  perfeições  que  não  possuo,  tenho  de  aceitar  a  existência  de  um  Ser  que  seja  a  causa  de  mim    e  da  ideia  que  tenho  d’Ele.  

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Da existência de Deus à existência do mundo material Uma vez que Deus é bom e perfeito, não nos engana.

O  mundo  material  existe  e  é  de  natureza  diferente  do  pensamento  e  de  Deus.    

As  coisas  materiais  ocupam  espaço,  possuindo  características  quantificáveis.  

Se  não  partirmos  das  informações  sensoriais  (por  vezes  enganadoras)  e  respeitarmos    o  critério  de  evidência  podemos  conhecer.  

Deus  é  a  garantia  de  que  é  verdadeiro  o  conhecimento  apreendido  com  evidência,  isto  é,  com  clareza  e  distinção,  ou  deduzido  dele.  

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Dualismo cartesiano Admitida a existência do pensamento (res cogitans, ou «coisa» que pensa), de Deus e do mundo material (res extensa, ou «coisa» extensa), Descartes considera que:

o  pensamento,  ou  espírito,  ou,  ainda,  alma  (res  cogitans)    é  diferente  e  distinto    do  corpo  (res  extensa)  

o  ser  humano  é  constituído  por  alma  e  corpo  –    o  dualismo  cartesiano  

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A existência de Deus e a verdade racional Uma vez que os sentidos nos enganam (pelo menos, às vezes),

o  conhecimento  não  pode  ter    a  sua  fonte    na  informação  sensorial  

a  fonte  do  conhecimento  é  a  razão,  racionalismo  

a  existência  da  alma  e  de  Deus  é  mais  certa  do  que    a  existência  de  coisas  exteriores  

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Refutação de Descartes

David Hume recusa a dúvida metódica cartesiana por:  a considerar muito radical e inultrapassável  pôr em causa os sentidos

Reconhece que os sentidos podem enganar e que, por isso, a sua informação deve ser apoiada com a razão.

Reconhece que o cepticismo moderado é necessário à filosofia.

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Sensação e razão

Hume argumenta que:

a  confiança  nos  sentidos  é  uma  espécie  de  instinto  natural,    que  nos  leva  a  admitir  a  existência    de  um  mundo  exterior  à  nossa  mente  (caso  das  casas  e  das  árvores)  

as  representações  existentes  na  mente  são  fornecidas  pelas  sensações  obtidas  através  da  experiência,  não  podendo  ser  produzidas  pela  mente  ou  sugeridas  por  outro  espírito  (Deus,  por  exemplo)  

as  nossas  representações  mentais  têm  origem  nas  sensações  

quando  somos  forçados  pelo  raciocínio  a  afastar-­‐nos  dos  instintos  da  natureza,  ficamos  numa  situação  embaraçosa    

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Recusa do racionalismo

Hume argumenta que:

justificar  a  veracidade  dos  sentidos  a  partir    de  Deus  conduziria  a  uma  conclusão  contrária    ao  que  se  queria  demonstrar  

se  adoptarmos  a  opinião  racionalista,  apartamo-­‐nos  das  nossas  inclinações  naturais  e  não  conseguimos  satisfazer    a  nossa  própria  exigência  racional  

a  fonte  das  ideias  reside  nos  

sentidos  

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  todas as nossas ideias provêm dos sentidos  não há impressões acerca de leis universais ou de relações necessárias entre dois fenómenos (relações de causalidade)

não podemos considerar o conhecimento como absolutamente verdadeiro.

Por esta razão, Hume assume uma perspectiva de cepticismo moderado, rejeitando a atitude dogmática (própria do realismo ingénuo do senso comum).

Limites do conhecimento

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Duas Escolas em confronto

No início do século XVIII, há duas grandes correntes filosóficas acerca da origem do conhecimento:

KANT 1724-1804

Kant perguntou: poderão a razão e a experiência, consideradas em conjunto, explicar melhor a complexidade do processo de conhecer?

 o racionalismo (exemplo, Descartes, que fundamenta e valida o conhecimento a partir da evidência racional do «eu penso»)

 o empirismo (exemplo, Hume, que fundamenta o conhecimento na experiência sensorial)

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Pontos de partida de Kant Kant reconhece que o conhecimento implica:

a  existência  de  informações  sensoriais  e  de  uma  capacidade  (do  sujeito)  para  as  captar  

que  só  percepcionamos  e  explicamos  a  informação  sensorial  a  partir    de  uma  «formatação»    

que  a  nossa  mente  não  é  uma  espécie  de  «cera»  passiva  que  se  limite                                          a  gravar  essas  informações  

que  o  sujeito  é  um  conjunto  de  dispositivos  (formas  da  sensibilidade                        e  formas  do  entendimento)  que  funcionam  como  um  programa  onde  as  informações  são  recebidas                                              e  interpretadas,  isto  é,  «formatadas»  

que  os  dispositivos  estruturais  da  razão  condicionam  a  experiência,  influenciando  a  concepção  do  mundo  

que  as  coisas  são  conhecidas  em  função  das  características  da  nossa  estrutura  mental  

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Duas fontes do conhecimento A tese defendida por Kant na Crítica da razão pura é:

 o conhecimento resulta da aplicação de uma forma (conceitos a priori), produzida pelo entendimento, a uma matéria (fenómeno que é a posteriori e resulta do modo como a sensibilidade organiza as sensações)

 o conhecimento tem, portanto, duas fontes independentes, uma racional e outra empírica

KANT, Crítica da razão pura

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Argumentos de Kant Existem duas fontes do conhecimento:

a  fonte  empírica:    recebe  as  representações  sensíveis    (é  nela  que  o  objecto  percebido    ou  construído  pela  mente,  é  dado    ao  sujeito)  

o  conceito  é  o  elemento  puro  do  conhecimento:    é  a  priori  

a  fonte  racional  (ou  pura):    organiza  as  representações                      (é  nela  que  o  objecto  percebido  é  pensado  mediante  os  conceitos)  

a  sensação  é  o  elemento  empírico  do  conhecimento:  é  a  posteriori  

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Argumentos de Kant

Características das faculdades que permitem ao sujeito que o objecto lhe seja dado e o possa pensar:

o  conhecimento  resulta  da  colaboração  entre  a  sensibilidade    e  o  entendimento.  Sem  a  sensibilidade  nenhum  objecto  nos    é  dado;  sem  o  entendimento  nenhum  objecto  é  pensado  

nenhuma  destas  faculdades  (sensibilidade  e  entendimento)  tem  primazia  sobre  a  outra:  o  conhecimento  não  é  possível  nem  válido  sem  a  existência  de  intuições  e  de  conceitos,  interligados:  «Pensamentos  sem  conteúdo  são  vazios;  intuições  sem  conceitos  são  cegas.»  (Kant)  

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Apriorismo

Apriorismo é a concepção segundo a qual o conhecimento resulta da aplicação de uma forma, a priori (conceitos puros, ou categorias do entendimento) a uma matéria, a posteriori (as intuições sensíveis).

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Apriorismo, racionalismo e empirismo

Kant concorda com os:

Kant discorda dos:

racionalistas  a  razão  é  o  elemento  determinante  no  processo  de  conhecer  

empiristas  não  existe  conhecimento  sem    o  contributo  da  experiência  

racionalistas  a  razão,  sem  o  contributo  da  experiência,  não  pode  conhecer  o  mundo  

empiristas  o  conhecimento  exige  que  o  sujeito  possua  formas  a  priori  (da  sensibilidade)  para  receber  os  dados                        da  experiência  e  formas  a  priori  (do  entendimento)  para  organizar  os  dados  sensíveis  e  construir                        o  objecto  do  conhecimento  

O  conhecimento  é  uma  construção  mental  que  exige  dados  (a  posteriori)    e  formas  (a  priori).  

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Descartes -

Kant

Conhecimento

Mente

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