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213 v. 3, n. 2, p. 213-228, ago./dez. 2017 Estudo comparativo de viabilidade para grandes vãos de sistema misto aço e concreto: vigas mistas com laje com forma de aço incorporada e vigas mistas com laje treliçada preenchida com bloco de poliestireno expandido Alvaro Ferreira Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Izabela Hendrix (CEUNIH), [email protected] Andreia Venina de Souza Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Izabela Hendrix (CEUNIH), [email protected] Elizeth Rodrigues Machado Mestre em Engenharia de Estruturas pela UFMG, Docente na PUC Minas (PUCMG), [email protected] Resumo O presente artigo teve por objetivo fazer um estudo comparativo entre dois sistemas mistos aço e concreto para vigas aplicadas para vencer grandes vãos: vigas mistas com lajes com forma de aço incorporada e vigas mistas com laje treliçada preenchida com bloco de poliestireno expandido (EPS), destacando a ação mista proporcionada por conectores de cisalhamento do tipo pino com cabeça (stud bolt). A metodologia utilizada consistiu no dimensionamento de vigas mistas simplesmente apoiadas de um pavimento fictício conforme prescrições da norma brasileira NBR8800:2008 e dados de catálogos de fabricantes das lajes em estudo. As vigas foram analisadas em quatro casos: dois casos com lajes com forma de aço incorporada, para construção escorada e não escorada; e outros dois com lajes treliçadas preenchidas com blocos de EPS, para construção escorada e não escorada. A análise dos resultados obtidos possibilitou comparar os dois sistemas mistos, para construção escorada e não escorada, do ponto de vista econômico em sua aplicação para grandes vãos. Foi possível concluir que tanto para construção escorada quanto não escorada, o sistema de viga mista com laje treliçada é mais leve em relação ao sistema de viga mista com forma de aço incorporada, o que pode gerar economia de materiais. Palavras-chave: Estruturas mistas. Vigas mistas. Laje pré-fabricada com viga treliçada. Laje com forma de aço incorporado. Stud bolt.

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Estudo comparativo de viabilidade para grandes vãos de

sistema misto aço e concreto: vigas mistas com laje com

forma de aço incorporada e vigas mistas com laje treliçada

preenchida com bloco de poliestireno expandido

Alvaro Ferreira

Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Izabela Hendrix (CEUNIH),

[email protected]

Andreia Venina de Souza

Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Izabela Hendrix (CEUNIH),

[email protected]

Elizeth Rodrigues Machado

Mestre em Engenharia de Estruturas pela UFMG, Docente na PUC Minas (PUCMG),

[email protected]

Resumo O presente artigo teve por objetivo fazer um estudo comparativo entre dois sistemas mistos

aço e concreto para vigas aplicadas para vencer grandes vãos: vigas mistas com lajes com

forma de aço incorporada e vigas mistas com laje treliçada preenchida com bloco de

poliestireno expandido (EPS), destacando a ação mista proporcionada por conectores de

cisalhamento do tipo pino com cabeça (stud bolt). A metodologia utilizada consistiu no

dimensionamento de vigas mistas simplesmente apoiadas de um pavimento fictício conforme

prescrições da norma brasileira NBR8800:2008 e dados de catálogos de fabricantes das lajes

em estudo. As vigas foram analisadas em quatro casos: dois casos com lajes com forma de

aço incorporada, para construção escorada e não escorada; e outros dois com lajes treliçadas

preenchidas com blocos de EPS, para construção escorada e não escorada. A análise dos

resultados obtidos possibilitou comparar os dois sistemas mistos, para construção escorada e

não escorada, do ponto de vista econômico em sua aplicação para grandes vãos. Foi possível

concluir que tanto para construção escorada quanto não escorada, o sistema de viga mista com

laje treliçada é mais leve em relação ao sistema de viga mista com forma de aço incorporada,

o que pode gerar economia de materiais.

Palavras-chave: Estruturas mistas. Vigas mistas. Laje pré-fabricada com viga treliçada. Laje

com forma de aço incorporado. Stud bolt.

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1 Introdução

Em 1894, surgiram as primeiras estruturas utilizando vigas metálicas revestidas com concreto

nos Estados Unidos. De acordo com Griffis (1994) entre 1920 e 1930 foram construídos os

primeiros edifícios altos como o Empire State Building e o Chrysler Building. Estas

construções evidenciaram vantagens das estruturas mistas como a proteção contra a ação do

fogo e da corrosão (CALDAS, 2004).

Denomina-se sistema misto aço e concreto àquele no qual um perfil de aço laminado, soldado

ou formado a frio, trabalha em conjunto com o concreto geralmente armado, formando um

pilar misto, uma viga mista, uma laje mista ou uma ligação mista. A interação entre o

concreto e o perfil de aço pode se dar por meios mecânicos conectores, mossas, ressaltos etc.,

por atrito, ou, em alguns casos, por simples aderência e repartição de cargas como em pilares

mistos sujeitos apenas a força normal de compressão. Uma estrutura mista é formada por um

conjunto de sistemas mistos. Os sistemas mistos são normalmente empregados na construção

de pontes e edificações (QUEIROZ, et al; 2001).

Originalmente, as vigas mistas eram constituídas com lajes planas moldadas in loco,

utilizando-se formas removíveis. Porém, nos países industrializados da América do Norte, e

da Europa no final dos anos 70, o sistema com forma de aço incorporada, ou laje mista, foi

ganhando popularidade e é hoje o sistema de laje mais difundido naqueles países (QUEIROZ,

et al; 2001).

Ainda segundo Queiroz; et al. (2001), as vigas mistas de aço e concreto, são consideradas o

sistema estrutural mais eficiente para suportar as cargas gravitacionais de pisos de edifícios,

devido, principalmente, à facilidade de construção e à redução de peso da viga de aço.

Reduções de peso da ordem de 20% a 40% podem ser atingidas em sistemas bem

dimensionados, tirando-se partido dos dois materiais básicos componentes, o aço e o

concreto. Uma vez que no limite, o sistema atingirá o ponto de máxima eficiência quando a

linha neutra estiver localizada em uma posição tal que permite que as tensões de compressão

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na flexão sejam resistidas apenas pelo concreto e o perfil de aço seja responsável por resistir

às tensões de tração.

Na comparação com as estruturas puramente metálicas, as estruturas mistas tornam-se

competitivas a partir do momento em que reduzem o consumo de aço estrutural, substituindo-

o em parte pelo concreto armado, que tem menor custo. A construção em sistema misto de

aço e concreto é competitiva para estruturas de vãos médios a elevados, caracterizando pela

rapidez de execução e pela redução do peso total da estrutura, propiciando assim fundações

mais econômicas (QUEIROZ, et al; 2001).

No Brasil, a construção mista limitou-se a alguns edifícios e pequenas pontes, entre 1950 e

1960. A partir da década de 70 e início da década de 80, a utilização de sistemas mistos

praticamente ficou estagnada, dando-se maior preferência pelo uso do concreto armado e do

concreto protendido nas edificações correntes (MALITE, 1993).

No contexto inserido, questiona-se, de forma qualitativa a viabilidade econômica de vigas

mistas em vãos de 15 metros, comparadas em dois diferentes sistemas de laje.

O pressuposto deste trabalho foi um estudo comparativo de dois sistemas de viga mista com

perfil em aço, no qual foi dimensionado e comparado o sistema de viga mista com lajes de

forma em aço incorporada e viga mista com laje treliçada, ambos em construção escorada e

não escorada, levantando os principais aspectos de eficiência estrutural bem como, aspectos

econômicos para utilização em grandes vãos, no qual espera-se que o sistema de laje com

forma em aço incorporada mostre melhor viabilidade gerando uma diferença percentual

próxima a 30% em relação ao peso da estrutura, no qual analisou-se alguns dos sistemas

construtivos existentes aplicados em uma edificação de um pavimento de uso comercial.

Esta análise foi sob a perspectiva do comportamento estrutural, mas também em termos dos

aspectos construtivos.

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2 Teoria de sistemas

Segundo Nardim (1999), em meados de 1930 já havia sido estabelecido métodos de

dimensionamento para vigas mistas que foram, em 1944, introduzidos nas normas

estadunidenses da American Association of State Highway (AASHTO), e em 1952, no

American Institute of Steel Construction (AISC).

Com relação à normatização, as prescrições para dimensionamento de vigas mistas foram

introduzidas no Brasil em 1986, na primeira versão da NBR 8800. Já as prescrições para

pilares e lajes mistas ganharam enfoque normativo a partir da publicação da NBR

14323:1999, que trata do dimensionamento de estruturas de aço em situação de incêndio. A

partir do início da vigência da segunda versão da NBR 8800 em 2008, tanto as

recomendações para vigas mistas, quanto para lajes e pilares mistos, bem como para ligações

mistas foram incorporadas (QUEIROZ, et al; 2001).

O aumento do uso de estruturas mistas pode ser atribuído a vários fatores, sendo um dos

principais a necessidade de grandes áreas livres nos pavimentos. Esta concepção gera

implicações estruturais como maiores vãos para vigas e, consequentemente, maiores

espaçamentos entre pilares e cargas verticais mais elevadas sobre os mesmos (NARDIN,

2005).

O emprego de estruturas mistas explora o melhor desempenho de cada material (aço e

concreto), tanto em elementos de barras, ou seja, vigas e pilares, como em lajes e ligações.

Em situações onde são exigidos grandes vãos, as estruturas mistas proporcionam seções

transversais reduzidas, o que proporciona maior área livre nos pavimentos e redução de

cargas verticais nas fundações (NARDIN, 2005).

Segundo Queiroz; et al. (2012), outra vantagem das estruturas mistas em relação às estruturas

de aço é a redução das proteções contra incêndio necessárias, devido ao fato do concreto

atuar como uma espécie de capa protetora dos perfis de aço.

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Com o aumento da produção de aço no Brasil, visando novas soluções arquitetônicas e

estruturais, houve uma necessidade de uso do sistema misto resultando um crescimento

considerável em construções de edifícios industriais, comerciais e pontes (MALITE, 2005).

No Brasil, o sistema construtivo misto vem ganhando espaço e notoriedade entre os

projetistas. Atualmente, pode-se dizer que em edifícios de múltiplos andares, a grande

maioria das vigas e das lajes são projetadas como vigas mistas e lajes mistas (QUEIROZ, et

al; 2001).

Segundo Nardin (2005), o projeto de edifícios em estruturas mistas também ganhou força

devido aos avanços tecnológicos na produção de aço e concreto, bem como no

desenvolvimento de equipamentos de maior porte que viabilizam a montagem e

posicionamento de estruturas mistas. Além disso, a possibilidade de dispensar formas e

escoramentos neste tipo de sistema e a maior precisão dimensional em relação ao concreto

armado são atrativos consideráveis.

2.1 Vigas mistas

A viga mista aço-concreto é o elemento que associa as vigas de aço com a laje de concreto,

sendo formado por um perfil de aço conectado à laje de concreto através de conectores de

cisalhamento na interface. A Figura 1 a seguir mostra os dois tipos mais usuais, sendo: o

tradicional, que é o perfil I associado com a laje de concreto apoiada na mesa superior do

perfil e ligados por conectores de cisalhamento; e o segundo o perfil I, parcial ou totalmente

preenchido com concreto.

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Figura 1 - Tipos de vigas mistas mais usuais

Fonte: Malite (1993)

As vigas mistas de aço e concreto apresentam diversas vantagens nas regiões de momento

positivo em relação às vigas de aço isoladas, uma vez que, a flambagem local da mesa e da

alma (FLM e FLA), assim como a flambagem lateral com torção (FLT), são impedidas ou

minimizadas. Além disso, a associação dos elementos aço e concreto gera um aumento da

resistência e rigidez fazendo com que diminua a altura dos elementos estruturais,

consequentemente uma redução no consumo de material.

Para obter-se um bom desempenho, a viga mista deve contar ainda com conectores de

cisalhamento, cuja principal função é transferir o fluxo de cisalhamento na interface da viga

mista e impedir a separação vertical entre o perfil de aço e lajes de concreto (QUEIROZ, et

al; 2001).

2.2 Conectores de cisalhamento

Conectores de cisalhamento são elementos metálicos utilizados em vigas mistas para garantir

o trabalho em conjunto entre vigas de aço e laje de concreto. Estes elementos estruturais

cumprem a função de transmitir o fluxo de cisalhamento longitudinal que gerando na

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interface aço e concreto, bem como a de impedir o afastamento vertical entre viga e laje,

fenômeno este conhecido como uplift (TRISTÃO, 2002).

Os conectores de cisalhamento são classificados em flexíveis e rígidos. A flexibilidade dos

conectores depende da relação entre força e deslocamento, a qual surge em resposta ao fluxo

de cisalhamento longitudinal gerado pela transferência de força entre laje de concreto e a viga

de aço. O comportamento flexível é representado pela ductilidade da relação força-

deslocamento no conector (ALVA, 2000).

Segundo Alva (2000), o comportamento dúctil dos conectores flexíveis caracteriza-se pela

redistribuição do fluxo de cisalhamento longitudinal, de modo que, sob carregamento

crescente, o conector continua a se deformar, sem romper, mesmo quando próximo de atingir

sua resistência máxima, permitindo que os demais conectores, pertencentes à mesma viga

mista, atinjam também suas resistências máximas conforme ilustrado na Figura 2.

Figura 2 - Comportamento aço-concreto em vigas mistas convencionais

Fonte: Rocha (2009).

O conector do tipo pino com cabeça também conhecido como stud bolt, é o mais usual em

vigas mistas devido à facilidade de instalação através do processo de soldagem de aplicação

por eletro fusão, conforme a Figura 3.

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Figura 3 - Procedimento de soldagem por eletro fusão em conector Stud Bolt

Fonte: Cruz, et. al, (2006).

3 Metodologia

Este trabalho foi classificado como um estudo de caso de natureza aplicada, cujo intuito é

acrescentar material de pesquisa para trabalhos posteriores. A pesquisa exploratória, teve

como objetivo principal o aprimoramento de ideias, sendo seu planejamento bastante flexível,

de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado

e à análise de exemplos que estimulem a compreensão (SELLTIZ, 1967).

Quanto aos procedimentos para a pesquisa, foi considerado o dimensionamento de estruturas

mistas de aço e concreto para vigas mistas com laje de forma em aço incorporada e vigas

mistas com laje treliçada. Os casos estudados compreendem as vigas em perfis soldados,

conectores de cisalhamento do tipo pino com cabeça, conhecidos como Stud Bolts, que são os

elementos mais utilizados na prática.

Para o dimensionamento foram utilizadas planilhas de cálculo elaboradas no Microsoft Office

Excel pelo Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA) em parceria com a Universidade

Federal de Ouro Preto (UFOP). A planilha apresentou também os parâmetros a serem

adotados para dimensionamentos de lajes treliçadas, lajes em forma de aço incorporada,

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perfis de aço e quantidade de conectores de cisalhamento. O dimensionamento foi

desenvolvido conforme prescrições da NBR 8800 (ABNT, 2008).

O dimensionamento das vigas mistas aço e concreto foi realizado para o sistema estrutural de

um pavimento de uma edificação de uso comercial apresentado na Figura 4, limitando-se

apenas às vigas V1, V2 e V3, considerando as lajes de concreto com resistência característica

à compressão, fck igual a 25 MPa. As alturas das lajes foram dimensionadas em cada sistema

misto. Considerou-se que as lajes são conectadas às vigas mistas por conectores de

cisalhamento flexíveis do tipo pino com cabeça, para construção escorada e não escorada. Foi

utilizada para os perfis metálico das vigas a classe 350 no aço.

Figura 4 - Sistema estrutural do pavimento (dimensões em mm)

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

As condições de carregamento previamente definidas para o dimensionamento da estrutura

foram as seguintes: Revestimento de 1,00 kN/m2, sobrecarga de uso e ocupação de 3,00

kN/m2, carga de alvenaria de 6,92 kN/m sobre as vigas.

Os parâmetros adotados para as lajes e para as vigas foram obtidos em catálogos de

fabricantes. Para o dimensionamento das vigas foram consideradas duas situações:

construção com e sem escoramento.

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Dessa forma, foram dimensionadas quatro soluções para o sistema estrutural mostrado na

figura 4: a primeira, viga mista com perfil de aço com laje de forma em aço incorporada,

construção escorada; a segunda, viga mista com laje de forma em aço incorporada,

construção não escorada; a terceira, viga mista com laje treliçada com enchimento de blocos

de poliestireno expandido, construção escorada; a quarta, viga mista com laje treliçada com

enchimento de blocos de poliestireno expandido, construção não escorada.

Em todos os casos, os parâmetros para cada tipo de laje foram definidos conforme catálogos

do fabricante, posteriormente foi realizada comparação entre as soluções dimensionadas,

visando obter uma estrutura mais leve possível. Portanto, definidas as lajes, na sequência

foram determinados os perfis de aço e a quantidade de conectores de cisalhamento.

Ao desfecho do estudo, os resultados encontrados para ambos sistemas foram tabelados,

analisados e comparados através tabelas e gráficos, de forma a visualizar à solução mais

viável do ponto de vista estrutural para a edificação, tomando como parâmetro decisivo a

comparação do peso da estrutura.

4 Resultados e discussão

Após a definição das lajes, foram dimensionadas vigas para cada sistema de laje, definindo

então as dimensões dos perfis de aço soldado e o número de conectores de cisalhamento. As

vigas de aço soldado utilizados nas vigas não estarão sujeitas ao fenômeno da flambagem

lateral com torção, porque a mesa superior será travada lateralmente pelas lajes, influenciando

diretamente no dimensionamento dos mesmos.

Observa-se que após o dimensionamento, as vigas V1 e V3 apresentaram o mesmo resultado

por serem vigas de borda já a viga V2 que se trata de uma viga intermediária com esforços

atuantes que correspondem ao dobro daqueles apresentados pelas vigas V1 e V3, resultou em

um perfil com maior peso. O dimensionamento das vigas e o consumo de aço para cada

sistema são apresentados na Tabela 1 e Tabela 2 abaixo.

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Tabela 1- Resultados para o dimensionamento das estruturas

Combinações para dimensionamento

Espessura

da laje

(mm)

Seção do perfil

escolhido (mm x

kg/m)

Peso próprio

do perfil

(kN/m)

Quantidade de

conectores (vão)

Laj

e co

m F

orm

a d

e A

ço

Inco

rpo

rad

a

Vigas de Extremidades V1 e V3

escoradas 120 650x66,3 0,66 116

Vigas de Intermediária V2

escorada 120 650x67,0 0,67 86

Vigas de Extremidades V1 e V3

sem escoramento 120 650x72,2 0,72 116

Vigas de Intermediária V2 sem

escoramento 120 650x99,2 0,99 86

Laj

e T

reli

çad

a

(pre

ench

imen

to c

om

EP

S)

Vigas de Extremidades V1 e V3

escoradas 120 650x63,5 0,64 44

Vigas de Intermediária V2

escorada 120 650x66,0 0,66 44

Vigas de Extremidades V1 e V3

sem escoramento 120 650x67,0 0,67 44

Vigas de Intermediária V2 sem

escoramento 120 650x80,9 0,81 44

Fonte: Elaborado pelos autores, (2017).

Tabela 2 - Consumo de aço das estruturas

Combinações para

dimensionamento

Seção do

perfil (mm

x kg/m)

Tamanho

do perfil

(m)

Quant.

de perfil

Consumo de aço (kg)

Total Perfil Conector Total

Laj

e co

m F

orm

a d

e A

ço

Inco

rpo

rad

a

Vigas de Extremidades

V1 e V3 escoradas 650x66,3 15,00 2,00 1.989,00 40,60 2.029,60

3.071,58 Vigas de Intermediária

V2 escorada 650x67,0 15,00 1,00 1.005,00 36,98 1.041,98

Vigas de Extremidades

V1 e V3 sem

escoramento

650x72,2 15,00 2,00 2.166,00 40,60 2.206,60

3.731,58

Vigas de Intermediária

V2 sem escoramento 650x99,2 15,00 1,00 1.488,00 36,98 1.524,98

Laj

e T

reli

çad

a

(pre

ench

imen

to c

om

EP

S)

Vigas de Extremidades

V1 e V3 escoradas 650x63,5 15,00 2,00 1.905,00 15,40 1.920,00

2.925,80 Vigas de Intermediária

V2 escorada 650x66,0 15,00 1,00 990,00 15,40 1.005,40

Vigas de Extremidades

V1 e V3 sem

escoramento

650x67,0 15,00 2,00 2.010,00 15,40 2.040,80

3.269,70

Vigas de Intermediária

V2 sem escoramento 650x80,9 15,00 1,00 1.213,50 15,40 1.228,90

Fonte: Elaborado pelos autores, (2017).

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4.1 Solução com vigas escoradas

Segundo a NBR 8800:2008 são consideradas escoradas as vigas mistas nas quais o

componente de aço permanece praticamente sem solicitação até a retirada do escoramento.

Foi observado que nas vigas mistas V1 e V3 para laje com forma de aço incorporada, utilizou-

se do perfil soldado, da série VS 650 x 66,3, para a V2 utilizou-se o perfil VS 650 x 67,0

considerado o mais leve que atendia as solicitações, com grau de interação total dos

conectores de cisalhamento. E para as vigas mistas V1 e V3 para laje treliçada foi utilizado

perfil soldado da série VS 650 x 63,5 e na V2 o perfil VS 650 x 66,0 também com interação

total dos conectores de cisalhamento.

O consumo de aço total das estruturas apresentou uma diferença de 145,78 kg o que equivale

a 2,2 %, sendo a solução com laje treliçada com preenchimento com EPS, mais leve

utilizando uma quantidade menor de conectores e com mesma altura acabada da laje, em

comparação com a laje de aço incorporada em construção escorada.

Gráfico 1 - Comparativo de peso para construção escorada (kg)

Fonte: Elaborado pelos autores, (2017).

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4.2 Solução com vigas sem escoramento

O dimensionamento das vigas mistas, para construção não escorada, resultou em seções de

perfis em aço mais pesadas que a solução com construção escorada. Segundo a NBR

8800:2008 isso se deve ao fato do componente de aço, por si só, ter que possuir resistência de

cálculo adequada para suportar todas as ações de cálculo aplicadas antes de o concreto atingir

uma resistência igual a 75 % da resistência característica à compressão especificada.

Para as vigas mistas V1 e V3, com forma de aço incorporada foi utilizado o perfil de aço

soldado VS 650 x 72,2 e na V2 o perfil VS 650 x 99,2 com total interação dos conectores de

cisalhamento. Para as vigas mistas V1 e V3, com laje treliçada foi utilizado o perfil de aço

soldado VS 650 x 67,0 e na V2 o perfil VS 650 x 80,9 com total interação dos conectores de

cisalhamento.

Ao considerar as vigas mistas com construção não escorada obteve-se uma diferença no peso

total 461,88 kg o que equivale a 6,6 %, sendo a solução com laje treliçada a que apresentou

menor peso. Pode-se concluir pelos resultados que quanto maior o carregamento das vigas

mais expressiva será a economia no peso do sistema misto com laje treliçada.

Gráfico 2 - Comparativo de peso para construção não escorada (kg)

Fonte: Elaborado pelos autores, (2017).

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5 Considerações finais

Na comparação entre as lajes para construção escorada e não escorada, pode-se observar que a

laje com forma de aço incorporada, apresentou a mesma altura que a laje treliçada que é mais

leve devido ao preenchimento de EPS. Tornando essa uma vantagem, já que a mesma traz

uma economia no volume de concreto.

Em um primeiro momento, foi previsto em nosso pressuposto que teríamos uma economia

maior com a utilização da laje com forma em aço incorporada onde estimamos um diferencial

próximo de 30% relacionado ao peso. Após o dimensionamento, concluímos que para as

vigas mistas com construção escorada e não escorada, o sistema de viga mista de laje treliçada

com preenchimento em bloco EPS, foi a melhor opção de solução estrutural para a edificação

estudada, em oposto ao pressuposto. Vale ressaltar que a comparação foi feita considerando a

utilização de perfil soldado, mesmo assim, em virtude da diferença do peso total ser de 3,5%

para construção não escorada e de 1,0% para construção escorada, observamos que o sistema

de laje treliçada gera maior economia de aço quando exposto a um maior carregamento.

Através desta análise, vimos que para a construção escorada a escolha entre os sistemas de

laje pode ser embasada nas condições de fornecimento dos materiais, uma vez que o ganho

para o uso da laje treliçada não é expressivo.

Gráfico 3 - Comparativo de peso em ambos sistemas (kg)

Fonte: Elaborado pelos autores, (2017).

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Composite steel-concrete beams with formed steel deck and composite beams with

precast lattice-reinforced joist slab filled with expanded polystyrene: comparative

feasibility study for large spans

Abstract

The present paper had the objective to carry out a comparative study between two different

composite steel-concrete beams applied to large spans: composite beams with formed steel

deck and composite beams with precast lattice-reinforced joist slab filled with expanded

polystyrene (EPS). The interaction between steel and concrete is guaranteed by headed stud

shear connectors. The methodology consisted in designing simply supported composite beams

according to prescriptions of the Brazilian code NBR 8800:2008 in four situations, two with

formed steel deck and two with precast lattice-reinforced joist slabs filled with EPS for both

shored and unshored construction. The results of the study made it possible to compare two

types of composite beams applied in large spans for shored and unshored construction. It was

concluded that composite beams with precast lattice-reinforced joist slab filled with EPS was

lighter and its slab had lower thickness than composite beams with formed steel deck in both

shored and unshored construction. This result indicated that composite beams with precast

slab with lattice joist could contribute to material cost saving for composite structure design.

Keywords: Composite steel and concrete structures. Composite steel concrete beams. Precast

slab witch lattice joist. Steel deck floor slab.

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Recebido em: 28/06/2017 - Aprovado em: 14/11/2017 - Disponibilizado em: 19/12/2017