estudo da incorporação de boro em diamante micro-e nano ...

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sid.inpe.br/mtc-m21b/2016/02.11.12.22-TDI ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE BORO EM DIAMANTE MICRO-E NANO-CRISTALINO POR ESPECTROSCOPIA DE FOTOELÉTRONS EXCITADOS POR RAIOS-X (XPS) Rosana Alves Gonçalves Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores, orientada pelo Dr. Maurício Ribeiro Baldan, aprovada em 26 de fevereiro de 2016. URL do documento original: <http://urlib.net/8JMKD3MGP3W34P/3L68LDS> INPE São José dos Campos 2016

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    ESTUDO DA INCORPORAO DE BORO EMDIAMANTE MICRO-E NANO-CRISTALINO POR

    ESPECTROSCOPIA DE FOTOELTRONS EXCITADOSPOR RAIOS-X (XPS)

    Rosana Alves Gonalves

    Dissertao de Mestrado do Cursode Ps-Graduao em Engenhariae Tecnologia Espaciais/Cincia eTecnologia de Materiais e Sensores,orientada pelo Dr. MaurcioRibeiro Baldan, aprovada em 26de fevereiro de 2016.

    URL do documento original:

    INPESo Jos dos Campos

    2016

    http://urlib.net/8JMKD3MGP3W34P/3L68LDS

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    Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPEGabinete do Diretor (GB)Servio de Informao e Documentao (SID)Caixa Postal 515 - CEP 12.245-970So Jos dos Campos - SP - BrasilTel.:(012) 3208-6923/6921Fax: (012) 3208-6919E-mail: [email protected]

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    ESTUDO DA INCORPORAO DE BORO EMDIAMANTE MICRO-E NANO-CRISTALINO POR

    ESPECTROSCOPIA DE FOTOELTRONS EXCITADOSPOR RAIOS-X (XPS)

    Rosana Alves Gonalves

    Dissertao de Mestrado do Cursode Ps-Graduao em Engenhariae Tecnologia Espaciais/Cincia eTecnologia de Materiais e Sensores,orientada pelo Dr. MaurcioRibeiro Baldan, aprovada em 26de fevereiro de 2016.

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    2016

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  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Gonalves, Rosana Alves.G586e Estudo da incorporao de boro em diamante micro-e nano-

    cristalino por espectroscopia de fotoeltrons excitados por raios-x(XPS) / Rosana Alves Gonalves. So Jos dos Campos : INPE,2016.

    xxii + 121 p. ; (sid.inpe.br/mtc-m21b/2016/02.11.12.22-TDI)

    Dissertao (Mestrado em Engenharia e TecnologiaEspaciais/Cincia e Tecnologia de Materiais e Sensores) Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, So Jos dos Campos,2016.

    Orientador : Dr. Maurcio Ribeiro Baldan.

    1. Diamante. 2. Boro. 3. XPS. I.Ttulo.

    CDU 666.233:544.6.076

    Esta obra foi licenciada sob uma Licena Creative Commons Atribuio-NoComercial 3.0 NoAdaptada.

    This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0 UnportedLicense.

    ii

    http://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/http://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/deed.pt_BRhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/deed.pt_BRhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/

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    A persistncia o caminho do xito.

    Charles Chaplin

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    AGRADECIMENTOS

    Ao meu orientador pela oportunidade, pelo aprendizado, pela pacincia e pela ateno

    dedicada a mim nesse perodo.

    Aos colegas Neidenei Ferreira e Andr Sardinha pelas amostras cedidas para realizao

    deste trabalho.

    Aos colegas do grupo LABEMAC pela recepo e por todo o auxlio prestado a mim.

    Aos meus ex-professores Joaquim Pinto Gomes e Edinei Canuto Paiva pelo incentivo e

    suporte no incio dessa jornada e, pelo exemplo de profissionalismo e comprometimento

    com a formao dos seus alunos.

    Aos colegas de sala, em especial, as minhas queridas amigas Andrea e Lnia pelo apoio

    e pela disposio em ouvir minhas lamrias nos dias mais difceis.

    Aos amigos de repblica Guilherme e Alice pelo companheirismo e pelas sees de

    psicanlise dos sbados noite.

    Aos velhos amigos Romrio, Jady e Jully pelo incentivo e pela f em mim.

    Aos meus queridos Pedro e Lurdinha pelo carinho e cuidado dispensado a mim.

    A minha famlia e ao meu marido Mrcio pelo apoio incondicional.

    A Deus por estar sempre presente na minha vida e por concretizar mais esse sonho.

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    RESUMO

    Neste trabalho foram estudados os efeitos da incorporao de CH4 e Ar na incorporao

    de boro em filmes de diamante micro e nano-cristalino. Neste estudo foram analisadas

    dois diferentes lotes de filmes de diamante, ambos crescidos sob substratos de silcio em

    reator de filamento quente atravs do mtodo de deposio de vapor qumico (do ingls,

    Chemical Vapour Deposition - CVD). O lote A constitudo por amostras com

    diferentes concentraes de CH4 (1, 3, 5 e 7%) enquanto o lote B constitudo por

    amostras com diferentes concentraes de Ar (0, 50, 60, 70 e 80%). A caracterizao

    morfolgica e estrutural foi realizada a partir de Microscopia Eletrnica de Varredura

    (MEV), Espectroscopia Raman e Difrao de Raios X. A concentrao de boro foi

    estudada detalhadamente a partir de medidas de Mott Schottky Plot nos filmes. A

    incorporao de boro foi estimada a partir de Espectroscopia de Fotoeltrons Excitados

    por Raios X (XPS). Medidas de XPS foram feitas nos modos azimutal e angle resolved

    (ARXPS). Os resultados mostram uma dependncia da concentrao de boro com a

    variao angular nas medidas, indicando que o boro se encontra em regies mais

    superficiais das amostras. Os dados obtidos atravs dessa tcnica indicam a reduo da

    quantidade de boro em filmes com alta concentrao de carbono sp e pequeno tamanho

    de gro. Estes resultados no est/o de acordo com a literatura. A incorporao de boro

    tem efeito mais pronunciado nas amostras com variao da concentrao de CH4. As

    mudanas morfolgicas e estruturais dos filmes causadas pela variao de CH4 e Ar

    corroboram os resultados apresentados na literatura.

    Palavras-chave: Diamante. Boro. XPS.

  • x

  • xi

    STUDY OF THE INCORPORATION OF BORON IN DIAMOND MICRO- AND

    NANO-CRYSTALLINE BY X-RAY PHOTOELECTRON SPECTROSCOPY

    (XPS)

    ABSTRACT

    In this work were studied the effects of the concentration of CH4 and Ar in the boron

    incorporation into micro- and nano-crystalline diamond films. In this study were

    analyzed two different lots of diamond films, both grown on silicon substrates in hot

    filament reactor by the method of Chemical Vapour Deposition (CVD). Lot A was

    composed of samples with different concentrations of CH4 (1, 3, 5 and 7%) while the

    lot B was constituted by samples with different concentrations Ar (0, 50, 60, 70 and

    80%). The morphological and structural characterization was performed from

    Scanning Electron Microscopy (SEM), Raman spectroscopy and X-ray Diffraction.

    The boron concentration was studied in detail from of measures of Mott Schottky Plot

    on the films. The boron incorporation was estimated from X-ray Photoelectron

    Spectroscopy. XPS measurements we are carried out in azimutal and angle resolved

    (ARXPS) mode. The results shown a dependency of boron concentration with

    variation angular in the measurements, indicating that boron is in the more superficial

    regions of the samples. The data obtained using this technique indicate the reduction

    of the amount of boron in films with high concentration of sp carbon and small grain

    size. This results are not in agreement with the literature. The incorporation of boron

    has more pronounced effect for the samples with variation of concentration of CH4.

    The morphological and structural changes in the film caused by the variation of CH4

    and Ar were corroborated by the results presented in the literature.

    Keywords: Diamond. Boron. XPS.

  • xii

  • xiii

    LISTA DE FIGURAS

    Pg.

    Figura 2.1 Diagrama de fase do carbono. ...................................................................... 6

    Figura 2.2 - Etapas do processo de crescimento de diamante CVD. ................................ 9

    Figura 2.3 - Processos de (a) nucleao, (b) crescimento e (c) coalescncia dos gros de

    filme microcristalino de diamante CVD. .................................................. 11

    Figura 2.4 Diagrama de energia para diamante dopado com o boro. .......................... 14

    Figura 2.5 - Efeitos causados na estrutura do diamante devido incorporao de boro

    intersticial. ................................................................................................. 19

    Figura 2.6 - Incorporao de boro substitucional a rede cristalina do diamante. ........... 19

    Figura 2.7 - Representao esquemtica de trs estados de densidade possveis para o

    diamante fortemente dopado. .................................................................... 20

    Figura 2.8 - Configurao de dmero ao longo da direo no diamante. ............ 22

    Figura 2.9 - Incorporao de par de boro substitucional em rede cbica do diamante. . 22

    Figura 2.10 - Complexos boro-lacuna com (a) um, (b) dois, (c) trs e (d) quatro tomos

    de boro, respectivamente. .......................................................................... 24

    Figura 2.11 - Clula cbica do diamante. ....................................................................... 24

    Figura 2.12 - Principais planos cristalogrficos do diamante. ........................................ 25

    Figura 2.13 - Modelo para formao de dmeros em diamante (111). ........................... 26

    Figura 4.1 - Dependncia da forma do volume de interao com o nmero atmico da

    amostra e a tenso de acelerao do feixe de eltrons. ............................. 32

    Figura 4.2 - Sinais resultantes do feixe de eltrons com a amostra e sua localizao

    dentro do volume de interao da forma do volume de interao. ........... 33

    Figura 4.3 - Sistema de deteco de eltrons secundrios no MEV. .............................. 35

    Figura 4.4 - Detector de eltrons retroespalhados do tipo estado slido (juno P-N). . 36

    Figura 4.5 - Experimento concebido por Laue para provar a difrao dos Raios X e

    padro de difrao produzido. ................................................................... 38

    Figura 4.6 - Difrao de um feixe de Raios X em planos de tomos paralelos. ............. 39

    Figura 4.7 - Esquema simplificado do funcionamento de um tubo de raios X. ............. 40

    Figura 4.8 - Produo de Raios X por frenamento. ........................................................ 41

  • xiv

    Figura 4.9 - Produo de radiao caracterstica por meio da ionizao de um tomo.. 42

    Figura 4.10 - Espectro de Raios X emitido por um alvo de tungstnio com tenso de

    acelerao de 87 kV. ................................................................................. 42

    Figura 4.11 ngulo de incidncia rasante. .................................................................. 44

    Figura 4.12 - Diagrama esquemtico dos processos de espalhamento Rayleigh, Raman

    Stokes e Raman Anti-Stokes. .................................................................... 47

    Figura 4.13 Espectro Raman de diamante CVD. ........................................................ 49

    Figura 4.14 Exemplo de espectro do tipo survey obtido para uma amostra de diamante

    CVD dopado com boro. ............................................................................ 53

    Figura 4.15 Anlise de angle-resolved para perfil de profundidade. .......................... 55

    Figura 4.16 Distribuio de energia na interface semicondutor/eletrlito em equilbrio

    para um semicondutor tipo p no regime de depleo. ............................... 59

    Figura 4.17 Semicondutor tipo p no regime de acumulao. ...................................... 60

    Figura 5.1 Imagens MEV das amostras com (a)1%, (b) 3%, (c) 5% e (d) 7% de CH4

    com ampliao de 10 000 X. ..................................................................... 66

    Figura 5.2 Imagens das amostras com (a) 0, (b)50, (c) 60, (d) 70 e (e) 80% de Ar com

    ampliao de 5000 X. ................................................................................ 68

    Figura 5.3 Difratogramas das amostras com diferentes concentraes de CH4 em (a) 1,

    (b) 5 e (c) 30. ........................................................................................... 71

    Figura 5.4 Razo entre as intensidades do pico (220) e (111) em funo do ngulo

    rasante para as amostras com diferentes concentraes de metano. ......... 72

    Figura 5.5 Razo entre as intensidades do pico (311) e (111) em funo do ngulo

    rasante para as amostras com diferentes concentraes de metano. ......... 73

    Figura 5.6 Difratograma das amostras com diferentes concentraes de Ar para os

    ngulos rasantes de (a) 1, (b) 5 e (c) 30. .................................................. 76

    Figura 5.7 Razo entre as intensidades do pico (220) e (111) em funo do ngulo

    rasante para as amostras com diferentes concentraes de Argnio. ........ 77

    Figura 5.8 Razo entre as intensidades do pico (311) e (111) em funo do ngulo

    rasante para as amostras com diferentes concentraes de Argnio. ........ 77

    Figura 5.9 Espectro Raman das amostras com diferentes concentraes de CH4. ...... 80

    Figura 5.10 Espectro Raman das amostras com diferentes concentraes de Ar. ...... 80

  • xv

    Figura 5.11 Espectro B 1s das amostras com diferentes concentraes de CH4 nos

    ngulos azimutal de (a) 0, (b) 60, (c) 120, (d) 180, (e) 240 e (f) 300. .... 84

    Figura 5.12 Espectro B1s para as amostras com diferentes concentraes de CH4 com

    inclinaes de (a) 10 (b) 0, (c) -10 e (d) -20. ........................................... 86

    Figura 5.13 Espectro B1s para as amostras com diferentes concentraes de Ar nos

    ngulos azimutal de (a) 0, (b) 60, (c) 120, (d) 180, (e) 240 e (f) 300. .... 87

    Figura 5.14 Espectro B1s para as amostras com diferentes concentraes de Ar com

    inclinaes de (a) 10 (b) 0, (c) -10 e (d) -20. ........................................... 89

    Figura 5.15 Grfico de Mott Schottky Plot para a amostra com 3% de CH4 na

    frequncia de 100 kHz. .............................................................................. 94

    Figura 5.16 Grfico de Mott Schottky Plot das amostras com (a) 1 (b) 3, (c) 5 e (d) 7%

    de CH4. ...................................................................................................... 95

    Figura 5.17 Regresso linear utilizada para calcular o potencial de banda plana (fb)

    para a amostra com 7% de CH4. ................................................................ 96

    Figura 5.18 Grfico do potencial de banda plana fb em funo da concentrao de

    CH4 das amostras para as frequncias de 1 e 10 kHz com amplitudes de

    10 e 20 mV. ............................................................................................... 97

    Figura 5.19 Grfico do nmero de portadores D em funo da concentrao de CH4

    das amostras para as frequncias de 1 e 10 kHz com amplitudes de 10 e 20

    mV. ............................................................................................................ 98

    Figura 5.20 Grfico de Mott Schottky Plot das amostras com (a) 0, (b) 50, (c) 60, (d)

    70 e (e) 80% de Ar. ................................................................................. 100

    Figura 5.21 Grfico do potencial de banda plana fbem funo da concentrao de Ar

    das amostras para as frequncias de 1 e 10 kHz com amplitudes de 10 e 20

    mV. .......................................................................................................... 101

    Figura 5.22 Grfico da concentrao de portadores em funo da concentrao de

    Ar das amostras para as frequncias de 1 e 10 kHz com amplitudes de 10

    e 20 mV. .................................................................................................. 103

  • xvi

  • xvii

    LISTA DE TABELAS

    Pg.

    Tabela 3.1 Composio gasosa utilizada no crescimento das amostras do lote 1. ...... 27

    Tabela 3.2 Composio gasosa utilizada no crescimento das amostras do lote 2. ...... 27

    Tabela 4.1 - Espessura da amostra atingida pelo feixe de Raios X, considerando /0 =

    1/2. ........................................................................................................... 45

    Tabela 5.1 Energia de ligao para algumas espcies contendo boro. ........................ 83

    Tabela 5.2 Parmetros de crescimento utilizados para sntese de diamante

    nanocristalino. ........................................................................................... 92

    Tabela 5.3 Resumo esquemtico dos resultados obtidos atravs da tcnica de XPS. . 92

    Tabela 5.4 Potencial de banda plana fb para as amostras com variao de CH4. ...... 96

    Tabela 5.5 Nmero de portadores (D) para as amostras com variao de CH4. ....... 98

    Tabela 5.6 Potencial de banda plana fb para as amostras com variao de Ar. ...... 101

    Tabela 5.7 Nmero de portadores D para as amostras com variao de Ar. ........... 102

  • xviii

  • xix

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    CVD Chemical Vapor Deposition

    HPHT High-Pressure/High-Temperature

    HFCVD (Hot Filament assisted Chemical Vapor Deposition)

    BDD Boron doped Diamond

    CH4 Metano

    H2 Gs hidrognio

    Ar Argnio

    XPS Espectroscopia de Fotoeltrons Excitados por Raios X

    B2O3 Trixido de boro/cido brico

    B2H6 Diborano

    (CH3O3)B Trimetilborato

    CH3OH Metanol

    H2O2 Perxido de hidrognio

    H2SO4 cido sulfrico

    HF cido fluordrico

    H2O DI gua deionizada

    MEV Microscpio Eletrnico de Varredura

    FEG Field emission gun

    EDS Espectroscopia de Energia Dispersiva

    CHA Concentric hemispherical analyzer

    Capacitncia do eletrlito

    Capacitncia da dupla camada de Helmholtz

    Capacitncia da camada difusa

    Capacitncia equivalente

    Capacitncia do semicondutor

    BV Banda de valncia

    BC Banda de conduo

    ND Nmero de portadores

    fb Potencial de banda plana

  • xx

    LAS Laboratrio Associado de Sensores e Materiais

    OCP Open circuit potential

  • xxi

    SUMRIO

    Pg.

    1 INTRODUO .......................................................................................... 1

    2 REVISO BIBLIOGRFICA .................................................................... 5

    2.1. Sntese de diamante ..................................................................................... 5

    2.2. Diamante CVD ............................................................................................ 7

    2.3. Modelos de crescimento de diamante CVD em escala atmica ................ 12

    2.4. Dopagem ................................................................................................... 13

    2.5. Incorporao do boro na rede do diamante ............................................... 18

    2.6. Direes de crescimento X incorporao do boro .................................... 24

    3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS ................................................. 27

    3.1. Parmetros de crescimento dos filmes de diamante .................................. 27

    4 TCNICAS DE CARACTERIZAO.................................................... 31

    4.1. Microscopia Eletrnica de Varredura ....................................................... 31

    4.2. Difrao de Raios X .................................................................................. 37

    4.3. Espectroscopia Raman .............................................................................. 45

    4.4. Espectroscopia de fotoeltrons excitados por Raios X ............................. 50

    4.5. Mott Schottky Plot .................................................................................... 56

    5 RESULTADOS E DISCUSSO .............................................................. 65

    5.1. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV) ........................................... 65

    5.2. Difrao de Raios X .................................................................................. 70

    5.3. Espectroscopia Raman .............................................................................. 79

    5.4. Espectroscopia de fotoeltrons excitados por Raios X (XPS) .................. 83

    5.5. Mott Schottky Plot .................................................................................... 93

    6 CONCLUSO ........................................................................................ 105

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 107

    ANEXO A PARTICIPAES EM CONGRESSO .................................................. 121

  • xxii

  • 1

    1 INTRODUO

    A produo de diamante sinttico surgiu na dcada de 1950. Surgiram

    simultaneamente dois mtodos diferentes: o mtodo de deposio de vapor qumico (do

    ingls, Chemical Vapor Deposition - CVD) e o mtodo de deposio alta-presso/alta-

    temperatura (do ingls, High-Pressure/High-Temperature - HPHT).

    O mtodo HPHT o que mais se assemelha a produo de diamante natural, no

    entanto, o diamante produzido por este mtodo no tem valor como pedra preciosa,

    sendo utilizado, principalmente, em aplicaes industriais [1]. Os custos de produo

    so elevados devido ao uso de altas temperaturas e presses durante o processo. O

    mtodo CVD, por sua vez, emprega presses sub-atmosfricas e temperaturas mais

    baixas que as utilizadas no mtodo HPHT, o que possibilita o uso de reatores simples e

    reduz os custos de produo. Alm disso, esse mtodo verstil e permite o crescimento

    de filmes de diamante em substratos de materiais, reas e formatos variados. [2]

    O diamante CVD pode ser produzido por diferentes meios de ativao, dentre

    elas destaca-se a tcnica assistida por filamento quente, conhecida como HFCVD (Hot

    Filament assisted Chemical Vapor Deposition), na qual o calor liberado pelos

    filamentos promove a ativao dos gases. Filmes micro- e nano-cristalinos podem ser

    produzidos atravs dessa tcnica por meio da ativao de uma mistura gasosa composta

    de hidrocarbonetos, geralmente metano (CH4), altamente diludos em hidrognio (H2). O

    processo de crescimento de filmes nanocristalinos, normalmente, emprega o uso de

    hidrocarbonetos altamente diludos em argnio (Ar). Outros gases halogenetos e/ou

    nitrognio podem ser acrescentados mistura gasosa para a melhoria da qualidade e/ou

    da taxa de crescimento dos filmes [3].

    Assim, como o diamante natural, o diamante sinttico um isolante eltrico. No

    entanto, este material pode se tornar um semicondutor a partir da insero de dopantes

    (impurezas) em sua estrutura. O mtodo mais utilizado a dopagem in situ, no qual a

    impureza agregada durante o crescimento. Pode-se produzir diamante com

    caractersticas tipo p ou tipo n de acordo com o dopante utilizado.

  • 2

    O boro o elemento mais utilizado para dopagem do diamante devido alta

    reprodutibilidade e a alta probabilidade de incorporao em sua estrutura, o que

    possibilita o seu uso em aplicaes eletrnicas [4]. O boro atua como um aceitador na

    rede do diamante, tornando o material um semicondutor do tipo-p e introduzindo uma

    um nvel aceitador 0,37 eV acima do topo da banda de valncia [5]. A probabilidade de

    incorporao do boro na estrutura do diamante pode ser superior a 101 [6]. A

    concentrao de boro na fase gasosa altera as propriedades do filme. Em baixos nveis

    de dopagem o material se comporta como um semicondutor e em altos nveis de

    dopagem como um metal. A transio de semicondutor para metal observada quando a

    concentrao de boro no material superior a 1020 B cm3 [7].

    O diamante dopado com boro (BDD, boron doped diamond) pode ter aplicaes

    na mecnica, na eletrnica, na eletroqumica, na medicina, entre outras reas. As

    aplicaes de maior interesse, atualmente, esto relacionadas confeco de

    dispositivos semicondutores para a indstria eletrnica e sensores de deteco e

    remoo de poluentes em meios contaminados atravs de tcnicas eletroqumicas.

    Em 2008, May et al [8] realizaram um minucioso estudo com filmes BDD

    micro- e nano-cristalino empregando espectroscopia Raman (em diferentes

    comprimentos de onda) e medidas de condutividade eltrica com sondas de 2 e 4

    pontas. Neste estudo, verificou-se que a condutividade eltrica dos filmes micro-

    cristalinos muito maior que em filmes nano-cristalinos, com o mesmo nvel de

    dopagem. De acordo com os pesquisadores isto sugere que a eficincia de dopagem para

    filmes nanocristalinos reduzida, pois uma quantidade significativa (80% em alguns

    casos) de boro incorporada na estrutura em posies que no contribuem para a

    condutividade eltrica, tais como, interstcios, superfcie dos cristalitos ou dentro das

    impurezas de carbono sp presentes nos contornos de gro; ou seja, a reduo na

    incorporao de boro na rede cristalina do diamante seria causada pela incorporao do

    dopante nesses stios no ativos [8]. Desde ento essa tem sido uma teoria amplamente

    aceita e divulgada mesmo sem novas investigaes ou o uso de outras tcnicas.

  • 3

    Dessa forma, nesse trabalho o objetivo analisar a influncia da concentrao de

    CH4 em filmes microcristalinos e, da concentrao de Ar em filmes nanocristalinos,

    sobre a incorporao de boro no diamante. Em ambos os casos, a literatura prev

    variaes significativas no tamanho de gro e na quantidade de carbono sp dos filmes

    com a variao desses elementos na fase gasosa. A partir desse estudo espera-se obter

    uma resposta mais conclusiva acerca da incorporao de boro no diamante visto que

    sero utilizados lotes de amostras representativos e sero empregadas tcnicas de

    caracterizao diferentes das utilizadas em estudos anteriores.

    O estudo foi realizado a partir da caracterizao feita pelas tcnicas de

    espectroscopia Raman, Microscopia Eletrnica de Varredura, Mott-Schottky Plot,

    Difrao de Raios X e Espectroscopia de Fotoeltrons Excitados por Raios X (XPS). A

    Microscopia Eletrnica de Varredura foi utilizada para investigar a morfologia dos

    filmes. A espectroscopia Raman foi utilizada para caracterizar o material por meio dos

    picos e bandas caractersticos de BDD e para monitorar as mudanas estruturais

    causadas pela variao da concentrao de Ar e CH4. As medidas de Mott-Schottky

    foram utilizadas para estimar a quantidade de boro presente nos filmes.

    As medidas de Difrao de Raios X foram realizadas em um equipamento de

    alta resoluo com varreduras de ngulo rasante no intuito de investigar a intensidade da

    face (111) do diamante em diferentes profundidades das amostras e a sua relao com as

    variaes de Ar e CH4.

    A tcnica de XPS fornece informaes relacionadas ao estado de oxidao

    qumica, estrutura eletrnica e composio atmica da amostra e, permite ainda fazer

    anlises quantitativas sobre a composio do material. Essa tcnica foi utilizada em dois

    modos distintos de varredura. No primeiro modo, foram feitas varreduras girando a

    amostra em relao ao feixe de Raios X, ou seja, variando-se o ngulo azimutal e no

    segundo modo, foram feitas varreduras inclinando-se a amostra em relao ao feixe de

    Raios X, ou seja, modificando a profundidade de anlise da amostra. Em ambos os

    casos, a nfase foi dada a localizao, intensidade e mudanas do pico de boro.

  • 4

    O estudo realizado apresentado nessa dissertao que se encontra dividida em

    6 captulos. O captulo 2 apresenta uma reviso bibliogrfica sobre a sntese de

    diamante especialmente sobre o desenvolvimento da tcnica CVD e do processo de

    dopagem do diamante com boro por meio de uma abordagem cronolgica dos eventos.

    A partir dessa apresentao so discutidos os meios de incorporao do boro na

    estrutura do diamante e as alteraes causadas na sua estrutura eletrnica bem como a

    relao entre as direes de crescimento do diamante e a incorporao do boro.

    O captulo 3 traz informaes sobre os procedimentos experimentais utilizados

    na produo dos filmes: o equipamento utilizado, as condies de crescimento e os

    parmetros de controle empregados, etc. No captulo 4 so apresentadas descries

    detalhadas de cada uma das tcnicas de caracterizao utilizadas na anlise dos filmes.

    As discusses acerca dos resultados obtidos atravs das tcnicas de caracterizao so

    apresentadas no captulo 5, enfatizando especialmente a incorporao do boro nos

    filmes de diamante. As concluses desse estudo so apresentadas no captulo 6 dessa

    dissertao.

  • 5

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1. Sntese de diamante

    O diamante natural sempre foi motivo de interesse, seja por sua rara combinao de

    propriedades fsicas, seja por sua beleza e/ou valor comercial. Entre estas propriedades

    destacam-se a transparncia ptica, a dureza, o elevado ponto de fuso, a alta

    resistividade, a condutividade trmica e a inrcia qumica.

    Em 1772, o qumico francs Antonie Laurent de Lavoisier descobriu, por meio de uma

    experincia simples, que o diamante era um composto de carbono. Alguns anos mais

    tarde, o ingls Smithson Tennant determina quantitativamente que o diamante , na

    verdade, uma forma pura de carbono, tal como o grafite [9].

    Como o diamante tem uma densidade maior que a do carvo vegetal e a do grafite, a

    compresso pareceu uma ideia razovel para sntese de diamante. Mas, s foi possvel

    realizar uma sntese sob alta presso aps uma abordagem verdadeiramente cientfica da

    termodinmica qumica envolvida no processo [10].

    Os qumicos americanos G. N. Lewis e M. Randall foram os primeiros a determinar que

    o diamante era instvel em relao ao grafite, segundo eles o diamante e o grafite

    estavam em equilbrio, em temperatura ambiente, em uma presso de aproximadamente

    10 000 atm ( 109 ). Simon, entre outros, estudou o equilbrio da curva

    diamante/grafite at aproximadamente 2000 K [11]. A partir desses estudos foi possvel

    construir diagramas de fase para o carbono.

    As primeiras tentativas de produzir diamante, sinteticamente, surgiram ainda no sculo

    XIX. Em 1880, J. B. Hannay aqueceu uma mistura de hidrocarbonetos, ltio e leo em

    tubos de ferro at que estes explodissem. O produto da sntese era quase igual ao

    diamante, o qual apresentava uma densidade de 3,5 g/cm e era composto de 97% de

    carbono [3]. Mas, os dois principais mtodos de crescimento de diamante surgiram

    apenas na dcada de 1950: o mtodo de deposio de vapor qumico (do ingls,

  • 6

    chemical vapor deposition - CVD) e o mtodo de deposio alta-presso/alta-

    temperatura (do ingls, high-pressure/high-temperature - HPHT) [12, 13].

    Figura 2.1 Diagrama de fase do carbono.

    Fonte: adaptado de [14].

    Atribui-se a William Eversole da Union Carbide Corporation o fato de ser o primeiro,

    em 1952, a ter produzido diamante sinttico em baixa presso [2]. Em 1954, a General

    Eletric (GE) anunciou e patenteou um mtodo HPHT de produo e, em 1956 iniciou a

    produo e comercializao de diamante sinttico, que se estende at os dias atuais.

    O mtodo HPHT o que melhor imita a produo natural de diamante embora, seja

    mais caro, devido s exigncias de alta temperatura e alta presso. Os cristais de

    diamante, obtidos nesse processo, so produzidos a partir de solues ricas em carbono

    e metal (o metal funciona como catalisador de transio) submetidas a presses que

    variam de 50 a 100 kbar e temperaturas de 1800 a 2300 K. O diamante produzido por

    este mtodo no tem valor com pedra preciosa e utilizado, principalmente, em

    aplicaes industriais [1]. O mtodo CVD, por sua vez, necessita de presses sub-

    atmosfricas e temperaturas menores, em torno de 1270 K, tornando-se um mtodo

    mais verstil e econmico. Este mtodo possibilita o crescimento de filmes de diamante

    sobre diferentes substratos com reas e formatos variados em reatores de sntese simples

    [2].

  • 7

    2.2. Diamante CVD

    O nosso interesse est no mtodo CVD, em especial na tcnica assistida por filamento

    quente, conhecida como HFCVD, em que a ativao dos gases ocorre por meio do calor

    liberado pelos filamentos. Esta tcnica possibilita a produo de filmes de diamante

    microcristalino a partir da ativao de uma mistura gasosa contendo pequenas

    quantidades de hidrocarboneto, normalmente CH4, diludas em H2. Para produo de

    filmes nanocristalinos o hidrocarboneto altamente diludo em Ar. Tambm podem ser

    adicionados outros halogenetos e/ou nitrognio mistura gasosa, com o propsito de

    melhorar a qualidade e/ou a taxa de crescimento do filme produzido [2,3].

    Filmes do diamante microcristalinos so produzidos, normalmente, utilizando baixas

    concentraes de CH4 (normalmente, entre 0,5 e 3% [15]) diludas em H2. O H2

    convertido em hidrognio atmico durante a passagem pela regio de ativao. O

    hidrognio atmico desempenha papel fundamental no crescimento do filme, sendo o

    responsvel pela formao das ligaes sp e pelo ataque s fases grafticas. A

    morfologia dos filmes fortemente afetada pela concentrao de CH4, uma vez que a

    utilizao de concentraes elevadas de CH4 implica na reduo de hidrognio atmico

    disponvel para o crescimento. Em baixas concentraes de CH4, os filmes de diamante

    apresentam-se uniformes com gros bem facetados. Com o aumento da concentrao de

    CH4, os gros comeam a se aglomerar e tornam-se menos facetados, em altas

    concentraes, o filme adquire o aspecto ballaslike, tpico de diamante nanocristalino.

    Nos trabalhos de Taher et al [16], Ali e rgen [17] e Barbosa et al [18] possvel

    encontrar mais discusses sobre as mudanas de morfologia e caractersticas de filmes

    de diamante produzidos com diferentes concentraes de CH4.

    No trabalho de Taher et al [16] foram analisadas ferramentas de carbeto de tungstnio

    revestidas com diamante crescido com diferentes concentraes de CH4 (0-9%). Os

    efeitos da variao da concentrao de metano na morfologia superficial foram

    estudados na estrutura cristalina, na qualidade qumica, na rugosidade superficial e na

    tenso residual. Ali e rgen [17] investigaram as propriedades de filmes de diamante

    depositados em substratos de silcio com concentraes de CH4 variando de 0,5 a 3,5 %.

  • 8

    Neste estudo, analisada a morfologia superficial, a taxa de crescimento e qualidade

    dos filmes com a variao da concentrao de CH4 nos filmes. Barbosa et al [18], por

    sua vez, analisou o efeito da temperatura do substrato sobre a taxa de crescimento e as

    propriedades de filmes finos de diamante crescidos com diferentes tamanhos de gro.

    Um dos lotes analisados neste trabalho constitudo de amostras crescidas com a

    concentrao de CH4 variando entre 1 e 18%. estudada a morfologia, o tamanho do

    cristalito, a quantidade de sp, a espessura, a taxa de renucleao dos filmes dentre

    outros parmetros.

    Filmes de diamante com tamanho de gro entre 10-500 nm so, arbitrariamente,

    denominados nanocristalinos. Os filmes nanocristalinos so produzidos, normalmente,

    utilizando-se pequenas fraes de CH4 diludas em H2 e Ar. O Ar o gs predominante

    na mistura gasosa e, tem papel de destaque no crescimento dos filmes. O acmulo de Ar

    nas proximidades do filamento reduz a dissociao do H2, tendo como consequncia a

    reduo na quantidade de hidrognio atmico disponvel para o crescimento reduzindo

    o tamanho de gro no filme. Filmes nanocristalinos tambm podem ser obtidos

    utilizando-se altas concentraes de CH4 diludas em H2. Os filmes nanocristalinos

    podem apresentar dois tipos de morfologia: facetada e cauliflower. Os filmes

    nanocristalinos facetados apresentam estrutura colunar, porm possuem cristalitos de

    tamanho nanomtrico. Os filmes nanocristalinos do tipo cauliflower ou ballaslike no

    apresentam estrutura colunar e, so assim denominados por serem compostos de um

    emaranhado de formas arredondadas. Uma reviso bibliogrfica completa pode ser

    obtida em Willians [19], nesse trabalho so discutidos os mecanismos de nucleao e

    crescimento, a morfologia e as propriedades de filmes nanocristalinos.

    A figura 2.2 ilustra o processo para crescimento de filmes de diamante CVD.

    Os gases reagentes entram no reator e atingem a regio de ativao. Nesta regio ocorre

    a dissociao do hidrognio molecular em hidrognio atmico e a dissociao dos

    hidrocarbonetos. O crescimento de diamante nestas condies (baixa presso)

    metaestvel, portanto, necessria, uma condio que deixe o sistema fora do equilbrio

  • 9

    termodinmico. Os altos gradientes de temperatura existentes na regio de ativao

    satisfazem essa condio [20].

    Figura 2.2 - Etapas do processo de crescimento de diamante CVD.

    Fonte: [20].

    A mistura gasosa pode ser ativada por energia trmica, plasma, descargas eltricas,

    radiao UV ou laser, combusto e etc.. Embora haja muitos mtodos de ativao

    disponveis e a temperatura da mistura gasosa possa sofrer variaes de acordo com a

    tcnica empregada, essa temperatura normalmente superior a 2000 K [3].

    A mistura gasosa torna-se altamente reativa e contm uma grande quantidade de

    radicais, permanecendo em constante fluxo no reator. Essa mistura chega ao substrato

    atravs da combinao de variados mecanismos: difuso, fluxo laminar, conveco,

    difuso atravs da camada limite, adsoro, desoro e difuso na superfcie [21, 22],

    como pode ser observado na Figura 2.2. A linha pontilhada na figura indica uma

    possvel camada limite para interao da mistura gasosa com o substrato.

    O processo de crescimento inicia-se com a nucleao dos gros seguido do crescimento

    e coalescncia dos gros e formao do filme. A nucleao um passo crtico para o

  • 10

    crescimento de diamante. A investigao dessa etapa permite o crescimento controlado

    de filmes de diamantes adequados para futuras aplicaes e ainda fornece informaes

    sobre o mecanismo de crescimento de diamante [23].

    Inicialmente, o crescimento de diamante CVD utilizava monocristais de diamante como

    substratos, no entanto, diamante natural escasso e caro, enquanto que os cristais de

    diamante sintetizados em alta presso tm tamanhos pequenos (

  • 11

    Durante o processo de nucleao, o p de diamante fragmenta-se em partculas menores

    e penetra na superfcie do substrato. O p de diamante utilizado, normalmente,

    constitudo de partculas micro ou nanomtricas.

    Ambos os mtodos, de riscamento e semeadura, permitem atingir uma densidade de

    nucleao de 108 /cm, trs ordens de grandeza maior que o alcanado em substratos

    sem pr-tratamento [25]. O diamante depositado no substrato durante o pr-tratamento

    atua como ncleos estveis de crescimento favorecendo a deposio de diamante pelo

    mtodo CVD. Esses ncleos so importantes para o crescimento, pois os radicais que

    difundem para a superfcie do substrato reagiro com eles [26].

    A nucleao comea aps o perodo de incubao, estgio em que condies favorveis

    para a deposio so alcanadas no reator e, que pode durar alguns minutos ou mesmo

    horas. A nucleao inicia-se com a formao de pequenos cristais, geralmente esfricos.

    A densidade de ncleos aumenta com o tempo e, de acordo com o material do substrato

    e o pr-tratamento utilizados. Cada pequeno cristal cresce e desenvolve faces devido

    alta incidncia e reatividade de radicais com os ncleos. Um filme contnuo formado

    pelo encontro dos cristais que crescem sobre o substrato. [28]. A Figura 2.3 mostra os

    estgios iniciais do crescimento de um filme de diamante microcristalino.

    Figura 2.3 - Processos de (a) nucleao, (b) crescimento e (c) coalescncia dos gros de filme

    microcristalino de diamante CVD.

    (a)

    (b)

    (c)

    Fonte: [29].

    O processo de nucleao inicia-se a partir de uma fina camada de carbeto na superfcie

    do substrato. Essa camada necessria para minimizar a tenso compressiva na

    interface devido contrao do filme aps o resfriamento do sistema [2,12]. A camada

  • 12

    de carbeto atua aliviando tambm as tenses causadas pela diferena no parmetro de

    rede entre o substrato e o filme de diamante [30].

    Os gros apresentam um crescimento preferencial na direo perpendicular ao substrato

    do que em qualquer outra direo, resultando em um filme com estrutura colunar. No

    entanto, a estrutura colunar no regular devido competio desordenada entre gros

    orientados aleatoriamente no incio da nucleao. [31]

    2.3. Modelos de crescimento de diamante CVD em escala atmica

    Diversos modelos de crescimento, em escala atmica, foram propostos ao longo das

    ltimas dcadas para explicar o crescimento de diamante CVD. Em 1986, Tsuda et al

    [32] apresentou um modelo detalhado de crescimento em que o radical metila era

    considerado o principal precursor no crescimento de diamante mas, este modelo no

    entanto, no podia ser aplicado aos reatores de filamento quente.

    Frenklach e Spear [33] apresentaram dois anos mais tarde, em 1988, um novo modelo

    de crescimento que considerava o acetileno (C2H2) como o principal precursor de

    crescimento. Em 1990, Harris [34] prope um modelo de crescimento baseado em uma

    superfcie (100) onde novamente, o radical metila passa a ser o principal precursor.

    Goodwin [35] foi responsvel por apresentar, em 1993, o quarto modelo de

    crescimento, obtido a partir de tcnicas computacionais; segundo Goodwin o ambiente

    de crescimento do diamante caracterizado por um ambiente rico em radical metila e

    uma supersaturao de hidrognio atmico. No entanto, com a descoberta do diamante

    nanocristalino, em que diamante produzido com altas concentraes de gs argnio,

    comearam a surgir discusses acerca do assunto, pois se acreditava que o principal

    precursor do carbono nesses filmes era o dmero C2; posteriormente foi esclarecido via

    trabalhos experimentais que o dmero C2 no era essencial para o crescimento [36, 37].

    Considerando a ideia de outros radicais participarem ativamente do crescimento de

    diamante May et al apresentaram, em 2007, um novo modelo de crescimento. Neste

  • 13

    modelo, a relao entre a concentrao de espcies reativas e hidrognio atmico na

    superfcie quem determina a contribuio de cada espcie. Este modelo considera a

    participao no gs argnio no ambiente de crescimento, e baseia-se na competio

    entre o hidrognio atmico e as espcies de radicais na superfcie de crescimento. [38]

    O modelo proposto por May et al [38] foi testado por meio de recursos computacionais

    e, comparado com filmes de diamante crescidos experimentalmente. Para filmes

    microcristalinos, os resultados apontaram que a contribuio dos demais radicais pode

    ser desprezada devido maior concentrao de radical metila prxima ao substrato.

    Para os filmes nanocristalinos, em que o ambiente rico em argnio verificou-se um

    aumento na concentrao de outras espcies, tipo CHx (com x

  • 14

    Esta ltima aplicao vivel graas dopagem de filmes de diamante. Os filmes de

    diamante puro so um excelente isolante, mas, podem ser dopados adquirindo

    propriedades de semicondutor com um gap largo. Essa possibilidade foi vislumbrada a

    partir da descoberta do diamante natural IIb, considerado um semicondutor do tipo p,

    que possui pequena quantidade de boro em sua composio [2].

    Filmes de diamante tambm podem ser dopados com outros elementos, entre eles:

    fsforo, boro e enxofre [39]. O boro costuma ser o elemento mais utilizado para

    dopagem do diamante, pois pode ser incorporado com alta reprodutibilidade e em

    concentraes altas o suficiente para que sejam usados em aplicaes eletrnicas [4].

    Quando se incorpora rede do diamante, atua como um aceitador, tornando-o um

    semicondutor do tipo p. O nvel aceitador introduzido pelo boro est localizado 0,37eV

    acima do topo da banda de valncia [5]. A Figura 2.4 mostra esquematicamente o nvel

    de impureza introduzido pelo boro no diamante.

    Figura 2.4 Diagrama de energia para diamante dopado com o boro.

    Fonte: Adaptado de [5].

    Filmes de diamante produzidos pela tcnica CVD podem ser dopados por difuso

    trmica, implantao inica ou durante o processo de deposio do filme, sendo este

    ltimo mtodo capaz de realizar dopagens mais homogneas. Diversas fontes de boro

    podem ser usadas para a dopagem durante o crescimento dos filmes (dopagem in situ),

    mas normalmente as mais utilizadas so trimeltiborato (CH3O)3B, diborano (B2O6) e

    trixido de boro (B2O3) [20]. Embora seja a nica forma gasosa de boro e seja muito

  • 15

    utilizado para dopagem de diamante CVD, B2O6 altamente txico. Por outro lado,

    B2O3 (slido) e o (CH3O)3B (lquido) so de manuseio mais simples [25].

    Normalmente, para serem utilizadas essas fontes de boro no gasosas precisam ser

    aquecidas ou dissolvidas em lquidos de alta presso, onde sistemas borbulhadores so

    usados para controlar a concentrao de boro introduzida na mistura gasosa por essas

    substncias [12].

    As primeiras tentativas de utilizar boro como dopante foram feitas ainda na dcada de

    50 utilizando-se diamante natural IIb e substratos sintticos. Apesar das dificuldades

    encontradas para reproduzir a dopagem, os resultados apontaram a capacidade do boro

    de fornecer condutividade tipo-p em diamante devido proximidade dos raios atmicos

    do boro e do carbono, de forma que este material poderia ser incorporado

    substitucionalmente a rede do diamante. [40, 41]

    A primeira dopagem de diamante com boro bem sucedida foi realizada utilizando-se o

    mtodo HPHT. Em 1963, Bundy realizou experimentos, nas instalaes da General

    Electric, para transformar grafite diretamente em diamante em presses menores que as

    empregadas at ento, atravs de uma cmara com design modificado do tipo Belt.

    Em uma das experincias Bundy inseriu na cmara uma barra de grafite contendo de 0,2

    a 0,3% de boro. A reao ocorreu sob as mesmas condies que aquelas realizadas com

    barras de grafite sem incluso de boro, porm, nesse caso, o diamante obtido era

    eletricamente condutor. Mesmo em temperatura ambiente o diamante dopado com boro

    apresentava uma resistncia de apenas 2,5 . [42]

    O primeiro crescimento de diamante CVD dopado com boro foi realizado dez anos mais

    tarde, em 1973, por Poferl et al [43]. Este filme foi crescido utilizando-se uma mistura

    de diborano (B2H6) e metano (CH4) em substratos de diamante natural. Apesar do feito

    indito, foram obtidas baixas taxas de crescimento (4 x 10-5 m/h) e a qualidade

    cristalina do diamante obtido no foi bem estabelecida. [2, 43]

    Novos avanos foram obtidos alguns mais tarde. Em 1986, Fujimori et al [44]

    conseguiu crescer filmes de diamante policristalino dopados com boro sobre substratos

    de silcio em reatores de plasma de microondas utilizando a tcnica CVD. Neste caso,

  • 16

    fontes de B2H6 e CH4 foram diludas em gs hidrognio (H2) [44]. As taxas de

    crescimento alcanaram 2,5 x 10-4 m/h, aproximadamente seis vezes mais que no

    crescimento realizado por Poferl et al [43]. Outro avano realizado por Fujimori et al

    [44] foi a determinao da resistividade como funo da concentrao do boro usado

    como dopante. Devido baixa resistividade (da ordem de 102 cm) encontrada para

    os filmes de diamante, foi sugerido que a dopagem muito mais efetiva quando boro

    introduzido na fase gasosa do que em processos de implantao inica ou utilizando-se

    a tcnica HPHT.

    Ao longo dos anos surgiram muitos estudos investigando os efeitos da dopagem com

    boro na morfologia e nas propriedades fsicas dos filmes de diamante CVD. Em 1981,

    os estudos feitos por Spytsin et al [45] em filmes de diamante homoepitaxial dopado

    com boro mostraram que houve uma maior incorporao de boro nas faces {111} do

    diamante. Em 1996, Samlenski et al [6] cresceu filmes de diamante homoepitaxial

    dopados com boro em reator de plasma de microondas por meio da tcnica CVD

    utilizando (CH3O)3B. Os resultados obtidos apontaram que a incorporao de boro em

    filmes com orientao {111} uma ordem de grandeza maior do que em filmes com

    orientao {100} e que o boro ocupa preferencialmente stios substitucionais na rede do

    diamante [6]. Locher et al [46] realizou estudos em diamante policristalino com

    diferentes texturas. De acordo com as anlises de espectroscopia de massa de ons

    secundrios, a incorporao de boro em filmes com textura (100) foi de duas ordens de

    grandeza menor do que em filmes com textura (110) / (111). Alm disso, verificou-se

    que o aumento da concentrao de boro deteriora a textura (110) dos filmes enquanto

    filmes com textura (100)/(111) no so afetados, mesmo em concentraes de boro

    muito elevadas [46]. De fato, outros estudos revelaram que o aumento da concentrao

    de boro favorece o crescimento de planos {111} [47,48].

    A concentrao de boro em relao ao carbono na fase gasosa (B/C) tambm afeta a

    estrutura e estabilidade de crescimento dos cristais de diamante. Baixas concentraes

    de boro ( 4000 ppm B/C) resultam na perda da

    cristalinidade e, em concentraes muito elevadas (8000-10000 ppm B/C) h uma

  • 17

    reduo na concentrao de hidrognio atmico na fase gasosa, resultando em menor

    ataque ao grafite e, consequente, perda de estabilidade da fase diamante. [49]

    No entanto, as propriedades de um filme de diamante no variam apenas com o nvel de

    dopagem. Suas caractersticas tambm so afetadas pela quantidade de defeitos

    presentes em sua estrutura cristalina e pela quantidade da fase no diamante presente

    nos contornos de gro [20].

    Em um recente trabalho, Migliorini [50] investigou a morfologia e propriedades

    eletroqumicas de eletrodos de diamante microcristalino dopados com boro com

    diferentes concentraes de CH4 em diferentes nveis de dopagem crescidos em reatores

    de filamento quente o mtodo CVD. O estudo realizado mostra que com o aumento da

    concentrao de CH4 os gros comeam a formar aglomerados, reduzindo a formao

    de cristais bem facetados de forma que os eletrodos apresentam caractersticas tendendo

    as de filmes nanocristalinos. Essa caracterstica foi observada em todos os nveis de

    dopagem, se tornando mais evidente em filmes com maior dopagem devido a maior

    incorporao de boro. O aumento da concentrao de CH4 tambm resultou em aumento

    das ligaes do tipo sp nos filmes, em todos os nveis de dopagem. De acordo com

    Migliorini [50] para concentrao limite de at 3% de CH4 o crescimento de diamante

    favorecido enquanto para valores superiores a esse limite o crescimento de fases no

    diamante privilegiado, independentemente dos nveis de dopagem.

    A probabilidade de incorporao de boro na rede do diamante pode ser maior que 10-1

    [6, 51]. Dessa forma, conforme a concentrao de boro aumenta as propriedades do

    filme tambm so modificadas variando desde as de um isolante s de semicondutor,

    semicondutor degenerado e semimetal. Assim, a resistncia especfica do material varia

    desde 104 cm para concentraes da ordem de 1018/cm at 102 cm para

    concentraes de 1021B cm3 [52].

    Em baixas temperaturas ou em concentraes de boro em torno de 1017 cm-3, a

    conduo ocorre por meio de lacunas na banda de valncia com contribuio de boro

    substitucional ionizado. Em nveis maiores de dopagem a conduo ocorre pelo vizinho

    mais prximo com o eltron saltando entre as lacunas de stios de boro ionizados. Esse

  • 18

    mecanismo de conduo conhecido como hopping transport. A conduo via

    hopping um processo termicamente ativado onde os portadores saltam de stios

    ocupados para aqueles que esto vazios por causa da sobreposio finita das funes de

    onda que caracterizam os portadores em stios adjacentes [53]. Concentraes de boro

    muito altas (acima de 3 1020B cm3) resultam em um sistema de conduo

    semelhante ao dos metais. [4]

    A incorporao do boro na rede do diamante um processo complexo e que envolve

    muitas variveis. Na prxima seo esses aspectos sero discutidos de forma mais

    detalhada.

    2.5. Incorporao do boro na rede do diamante

    O boro pode ser incorporado ao filme de diamante de duas maneiras: intersticial, o

    tomo de boro fica preso na estrutura e, substitucional onde o tomo de boro se combina

    com tomos de carbono fazendo parte da prpria estrutura cristalina do diamante [54].

    A elevada incorporao de boro em filmes de diamante CVD pode resultar em pores

    dessa impureza reunida em aglomerados, se estas forem energeticamente favorveis. A

    banda de espectros Raman em torno de 500 cm-1, provavelmente, surge devido a um par

    de tomos de boro vizinho e pode ser uma evidncia experimental da presena destes

    aglomerados [55].

    A incorporao intersticial no ocorre de forma mais relevante visto que requer mais

    energia. Simulaes computacionais revelam que, para defeitos intersticiais, as ligaes

    entre B-C so alongadas enquanto ligaes C-C so comprimidas, como pode ser visto

    na Figura 2.5. [13]

  • 19

    Figura 2.5 - Efeitos causados na estrutura do diamante devido incorporao de boro

    intersticial.

    Os tomos de carbono e boro esto representados pela cor branca e cinza, respectivamente.

    Fonte: Produo do autor.

    Quando incorporado substitucionalmente rede cristalina do diamante o boro faz

    ligaes com tomos de carbono. Cada eltron de valncia se liga a um tomo de

    carbono e, como o boro um elemento trivalente (com trs eltrons em sua ltima

    camada), no h eltrons para todas as ligaes e uma lacuna gerada. Para ocupar a

    lacuna, um eltron de um carbono vizinho deslocado e, dessa forma, tem-se um on de

    boro ligado estrutura cristalina. A Figura 2.6 ilustra esse processo de incorporao

    substitucional. Essa lacuna se comporta como um portador de carga positiva causando o

    deslocamento de um eltron de um tomo da vizinhana. O eltron deslocado no um

    eltron livre, teoricamente, este eltron como uma carga positiva de mesmo valor que

    a do eltron se deslocando em sentido contrrio ao movimento do eltron, de forma que

    as lacunas livres so os nicos portadores de carga no material. O material dopado

    classificado como tipo p e, a impureza (boro) denominada aceitadora. [56, 57].

    Figura 2.6 - Incorporao de boro substitucional a rede cristalina do diamante.

    A ligao incompleta entre boro e carbono (a) produz uma lacuna e um eltron de um carbono

    (b) deslocado para completar a ligao.

    Fonte: [57].

  • 20

    tomos de boro substitucional, teoricamente, situam-se prximo a ou em um stio

    hospedeiro causando uma pequena dilatao na rede do material [55].

    A energia de ativao para a conduo diminui medida que a concentrao de boro

    substitucional aumenta e, quando essa concentrao atinge ~ 5 1020 B cm3, o

    material sofre uma transio de semicondutor para metal. Segundo Goss et al [55] essa

    transio pode ocorrer de duas maneiras distintas. A primeira delas a possibilidade de

    uma banda de impurezas ser formada no band-gap do diamante, de modo que os estados

    de energia de Fermi tenham uma densidade diferente de zero. A outra maneira

    considerar que os estados relacionados com as lacunas do boro se encontram abaixo do

    topo da banda de valncia, e o caminho de conduo est dentro de uma banda

    hospedeira vazia. Um cenrio intermedirio entre esses limites uma banda de

    impurezas relacionada ao boro, resultante da combinao do topo da banda de valncia

    e estados decorrentes dos aceitadores do boro. [55]

    Figura 2.7 - Representao esquemtica de trs estados de densidade possveis para o diamante

    fortemente dopado.

    Em (a) mostrada a banda de impureza relacionada ao boro dentro do bandgap, em (b) a

    banda de impureza localizada no topo da banda de valncia e em (c) a banda de impureza

    localizada na regio mais profunda da banda de valncia com o topo da banda vazio.

    Fonte: [55].

    O cenrio apresentado na Figura 2.7-b tambm defendido por outros autores. De

    acordo com Ashchelouv et al [4] o aumento da concentrao de boro causa a

  • 21

    sobreposio das funes de onda de estados excitados de boro, formando uma banda de

    impureza. Dessa maneira, o aumento de tomos de boro substitucional determina que os

    estados de defeitos passem para o topo da banda de valncia, conferindo ao material

    condutividade semelhante de metal.

    Ashchelouv et al [4] estudando modelos de superclulas tericas conseguiu descrever a

    formao da banda de impureza relacionada ao boro. Com base nesses estudos

    concluiu-se que em baixas concentraes de boro, a incorporao de boro substitucional

    prevalece e a conduo hopping adquire grande importncia.

    Outros estudos foram realizados utilizando-se mtodos computacionais para investigar a

    incorporao de boro na rede do diamante. Esses estudos sugerem que h uma

    preferncia, favorecida energeticamente, para formao de pares de boro substitucional

    vizinhos (dmeros). A energia de ligao calculada varia de acordo com as condies de

    contorno utilizadas, porm, independe do modelo de superclula/aglomerado adotado.

    Os dmeros resultam em nveis aceitadores mais profundos que os de boro

    substitucional [55, 58, 59]. De acordo com Macleod et al [59] o nvel aceitador (mais

    profundo) encontra-se de 1-2 eV acima da banda de valncia e, produzido em funo

    do esgotamento da densidade de eltrons na regio.

    Segundo Bernard et al [60] a rede do diamante distorcida nas proximidades do dmero,

    uma vez que os dois tomos de boro esto localizados em stios tetradricos distorcidos.

    A Figura 2.8 mostra a configurao de dmero ao longo da direo no diamante.

    Ao longo da direo , a distncia entre dois tomos de boro vizinhos de 0,194

    nm e a distncia entre os tomos de carbono e de boro de 0,154 nm. Cada ligao B-C

    faz 101 com a direo da ligao B-C.

  • 22

    Figura 2.8 - Configurao de dmero ao longo da direo no diamante.

    Os tomos de boro e carbono esto representados em preto e cinza, respectivamente.

    Fonte: [60].

    De acordo com Goss et al [55] a ocupao de stios vizinhos por impurezas

    substitucionais favorecida pela bond-couting: a "ligao" entre os dois centros de boro

    substitucional est livre de cargas, resultando num relaxamento e na formao de um

    estado de defeito no band-gap. tomos de boro esto muito prximos do plano formado

    pelos trs tomos de carbono sua volta. Este valor foi calculado como sendo

    aproximadamente 0,56 em simulaes baseadas em aglomerados e com um valor

    mais baixo de ~0,4 em um estudo independente empregando condies de contorno

    peridicas [61]. A Figura 2.9 mostra a incorporao de um dmero na rede cbica do

    diamante.

    Figura 2.9 - Incorporao de par de boro substitucional em rede cbica do diamante.

    Os tomos de boro esto em cinza e os tomos de carbono e preto.

    Fonte: adaptado de [55].

  • 23

    O fato dos dmeros apresentarem nveis aceitadores mais profundos que tomos de boro

    substitucional, pode ser um indicativo de que materiais contendo apenas pares de boro

    substitucional (dmeros) no seriam to condutores quanto materiais contendo apenas

    boro substitucional. Porm, Cai et al [62] sugere que os dmeros podem levar a

    conduo via banda de impureza. Os dmeros mantm os eltrons em orbitais de raio

    muito grande porque os defeitos no fornecem atrao coulombiana ou emparelhamento

    eletrnico, de forma que a sobreposio de stios destes orbitais possa formar uma

    banda de conduo no meio do gap com boa mobilidade eletrnica. Estimativas indicam

    que, em altas concentraes de boro (~1019), a sobreposio dos orbitais possvel,

    visto que, o raio de Bohr desses defeitos prximo da distncia mdia entre centros

    [62].

    Outros tipos de defeito podem ocorrer durante a incorporao do boro na estrutura do

    diamante. De acordo com Goss et al [55], boro tambm favorece a incorporao em

    conjunto com uma lacuna na rede, como mostrado na Figura 2.10. Embora,

    teoricamente, o defeito formado por uma lacuna na rede cercada de tomos de boro seja

    um aceitador de menor profundidade que o boro substitucional, ele muito menos

    eficiente em termos do nmero de buracos de conduo por tomo de boro incorporado

    na rede. Por exemplo, um complexo formado por trs tomos de boro e um buraco (V-

    B3) contribui com um buraco para cada trs tomos de boro, ou seja, a contribuio

    trs vezes menor do que a obtida atravs de dopagem com boro substitucional. Dessa

    forma, esses complexos podem contribuir para a reduo relatada na eficincia da

    dopagem em diamante fortemente dopado. [55]

    Em diamantes fortemente dopados, prevalecem defeitos mais complexos, especialmente

    dmeros de boro, ocorrendo maior deformao da rede cristalina. Os dmeros de boro

    tm alta energia aceitadora que, praticamente, impossibilita ionizao da banda de

    valncia para o nvel de impureza. Os estados de impureza no se sobrepem a banda de

    valncia e o aumento da concentrao de portadores livres reduzido.

  • 24

    Figura 2.10 - Complexos boro-lacuna com (a) um, (b) dois, (c) trs e (d) quatro tomos de boro,

    respectivamente.

    Os tomos de boro esto representados em cinza e os tomos de carbono em preto.

    Fonte: [58].

    Portanto, de forma geral, os dmeros de boro e os tomos de boro substitucional so as

    configuraes mais provveis para incorporao, sendo os dmeros a configurao mais

    estvel e de menor energia. Dessa forma, o diamante altamente dopado pode ser

    descrito pela distribuio aleatria de tomos de boro substitucional com contribuio

    de dmeros [13].

    2.6. Direes de crescimento X incorporao do boro

    O diamante constitudo, unicamente, de tomos de carbono arranjados em uma

    estrutura cristalina cbica. As ligaes entre os tomos so covalentes do tipo sp3, cada

    tomo de carbono est ligado a outros quatro, formando um tetraedro, como pode ser

    observado na Figura 2.11.

    Figura 2.11 - Clula cbica do diamante.

    Fonte: [63].

  • 25

    O diamante apresenta direes de crescimento preferenciais que esto relacionadas aos

    planos superficiais do diamante e so responsveis por definir sua orientao

    cristalogrfica. Na Figura 2.12 esto ilustrados os trs principais planos de crescimento

    do diamante.

    Figura 2.12 - Principais planos cristalogrficos do diamante.

    Fonte: [59].

    Como vimos na seo anterior, a incorporao de boro substitucional na rede cristalina

    do diamante est diretamente relacionada orientao de crescimento dos gros e a

    textura dos filmes. Segundo Spitsyn et al [45] h uma maior incorporao de boro em

    cristais da famlia de planos (111) que nos planos (100) e (110). Segundo estudos

    realizados por Samlenski et al [6] e Locher et al [46] a probabilidade de incorporao de

    boro uma ordem de grandeza maior em planos da famlia {111} do que nos planos da

    famlia {110}.

    De acordo com estudos realizados por Umezawa et al [65] defeitos do tipo dmeros de

    boro (B-B) tambm so mais facilmente formados em famlias {111} do que em

    famlias {110}. O crescimento de diamante (100) e (111) ocorre de maneiras distintas

    para dopagem com alta concentrao de boro. Durante o crescimento (110), espcies de

    boro-carbono so depositadas para produzir uma superfcie de dmeros que serviro

    como degraus de crescimento. Este modo de crescimento forma dmeros (B-B) com

    igual probabilidade ao longo da direo [111] e amplia a rede homogeneamente. Esta

    expanso requer uma energia potencial total elevada. No crescimento de diamante

    (111), a formao de dmeros (B-B) no permitida ao longo da direo [111], pois o

    boro no stio substitucional 1 no pode formar uma ligao qumica com o boro no stio

  • 26

    2, conforme ilustrado pelo modelo proposto por Umezawa et al [65] na Figura 2.13-a.

    No entanto, quando o boro substitucional est no stio 3, outro tomo de boro pode ser

    depositado no stio 4. Portanto, o dmero (B-B) pode ser formado ao longo da direo

    [111], [111] e [111] com a mesma probabilidade, como pode ser observado nas Figuras

    2.13-b, c e d.[65]

    Figura 2.13 - Modelo para formao de dmeros em diamante (111).

    A ligao entre tomos de boros no permitida na direo [111], mas permitida ao longo da

    direo [ ], [11] e [11] com igual probabilidade.

    Fonte: [65].

    Consequentemente, as expanses da rede ao longo das direes [111], [111] e [111]

    ocorrem devido formao anisotrpica de dmeros (B-B). A energia potencial total de

    diamante (111) com este tipo de tenso anisotrpica pode ser menor do que a de

    diamante (100) com a tenso homognea. De fato, o diamante (111) mais estvel, com

    uma alta densidade de dmeros (B-B). Por conseguinte, uma maior densidade de

    dmeros (B-B) pode ser formada em comparao com filmes de diamante (100), com a

    mesma concentrao de boro. [65]

  • 27

    3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

    3.1. Parmetros de crescimento dos filmes de diamante

    Os filmes de diamante utilizados nesse trabalho foram depositados em substratos de

    silcio monocristalino (100) dopado com boro atravs do mtodo CVD em reatores de

    filamento quente. Dois lotes de amostra distintos foram crescidos para esse trabalho. O

    lote A foi crescido com diferentes concentraes de CH4 diludas em H2, a proporo de

    CH4 e H2 varia para cada conjunto do lote. Essas informaes so detalhadas na Tabela

    3.1. O lote 2 constitudo de 5 amostras, cada amostra foi produzida a partir de uma

    mistura gasosa formada por Ar, CH4 e H2. A proporo de CH4 na mistura gasosa foi

    mantida em 1% durante o crescimento de todas as amostras, apenas as concentraes de

    Ar e H2 sofreram variaes, sendo a variao de Ar na mistura o parmetro de estudo, as

    concentraes de H2 variaram apenas para manter o fluxo total de 200 sccm (standard

    centimeter cubic per second) constante para todos os crescimentos. A composio

    gasosa utilizada para o crescimento das amostras do lote 2 detalhada na Tabela 3.2.

    Tabela 3.1 Composio gasosa utilizada no crescimento das amostras do lote 1.

    Lote 1

    Conjunto CH4 (%) H2 (%)

    I 1 99

    II 3 97

    III 5 95

    IV 7 93

    Fonte: Produo do autor.

    Tabela 3.2 Composio gasosa utilizada no crescimento das amostras do lote 2.

    Lote 2

    Amostra CH4 (%) Ar (%) H2 (%)

    I 1 0 99

    II 1 50 49

    III 1 60 39

    IV 1 70 29

    V 1 80 19

    Fonte: Produo do autor.

  • 28

    As amostras do lote 1 e do lote 2 foram crescidas em reatores diferentes, as amostras do

    lote A foram crescidas no reator 1 onde utiliza-se apenas misturas de CH4/H para

    crescimento dos filmes enquanto as amostras do lote 2 foram crescidas no reator 2 no

    qual normalmente se emprega misturas de H2/Ar/CH4. Ambos os reatores utilizam 5

    filamentos de tungstnio com dimetro de 0,25 m para ativao da mistura gasosa.

    Quando aquecidos esses filamentos podem atingir a temperatura de 2400 K. Os

    filamentos so de mesmo tamanho e so espaados igualmente no interior da cmara do

    reator. A distncia entre a superfcie do substrato e os filamentos, a presso no interior

    da cmara, a temperatura do substrato, o tempo de crescimento e o nvel de dopagem

    foram mantidos constantes para ambos os lotes de amostras. A temperatura do substrato

    foi controlada por meio de um termopar acoplado no centro do porta-substrato e foi

    mantida em torno de 800 C, a presso em 40 torr e o tempo de deposio foi de 24

    horas. A distncia entre a superfcie do substrato e os filamentos foi mantida em 3 mm

    em todos os experimentos.

    A Figura 3.1 mostra um diagrama esquemtico do reator de filamento quente usado nas

    deposies. Os gases reagentes entram no reator e so ativados ao passarem pelos

    filamentos aquecidos. Nesta regio ocorre a dissociao do hidrognio molecular em

    hidrognio atmico e a dissociao do hidrocarboneto (utilizado como precursor) que

    origina as espcies reativas envolvidas no crescimento de diamante. Essas espcies

    sero levadas por meio de difuso trmica at o substrato, no qual o diamante ser

    depositado. O processo de crescimento se inicia com a nucleao com posterior

    coalescncia e crescimento dos gros resultando em um filme contnuo de diamante

    policristalino. Informaes mais detalhadas sobre o processo de crescimento de

    diamante podem ser encontradas nas sees 2.2 e 2.3 do captulo 2.

    A dopagem dos filmes foi realizada pela passagem de uma linha adicional de H2 atravs

    de um borbulhador contendo uma soluo de trixido de boro (B2O3) dissolvido em

    metanol (CH3OH). O fluxo atravs do borbulhador controlado por um rotmero que

    determina a vazo em sccm para a cmara do reator. Esse fluxo foi mantido constante

    para todos os crescimentos e a temperatura no interior do borbulhador foi mantida em

    30 C. A quantidade de boro utilizada na dopagem dos filmes determinada atravs da

  • 29

    razo B/C entre os tomos de boro do B2O3 em relao aos tomos de carbono do

    metanol em partes por milho (ppm). Nesse trabalho, a dopagem foi fixada em 30000

    ppm para o crescimento das amostras de ambos os lotes.

    Figura 3.1 - Representao esquemtica de reator de filamento quente utilizado na

    sntese de diamante CVD.

    Fonte: Adaptado de [24].

    As imagens obtidas atravs da tcnica de Microscopia Eletrnica de Varredura foram

    feitas em um microscpio eletrnico de varredura com canho de emisso de campo

    (FEG) da marca TESCAN modelo MIRA 3, com ampliao mxima de 1000000x.

    A caracterizao das amostras por Difrao de Raios X foi realizada com o difratmetro

    de Raios X de alta resoluo Philips XPert MRD. Este equipamento possui um

    gonimetro de alta resoluo cujos movimentos em e 2 podem ser controlados de

    maneira independente com resoluo de 0,0001, o que lhe confere alta preciso. A

    anlise foi feita utilizando-se a configurao de filmes finos com ngulo rasante.

  • 30

    As medidas de Espectroscopia Raman foram realizadas utilizando equipamento da

    marca Horiba LabRam, instalado no LAS/INPE. Este equipamento utiliza um laser de

    Ar+ cuja energia de excitao e comprimento de onda so 2,41 eV e 514,5 nm,

    respectivamente. A profundidade de penetrao do laser da ordem de 5 m.

    O equipamento utilizado nas medidas de XPS foi da Kratos Axis Ultra XPS, mantido

    em ambiente de ultra-alto vcuo em, aproximadamente, 10-9 Torr. Utilizou-se uma fonte

    de Raios X de Al monocromtica, com energia de 1486,5 eV e potncia de 150 W, dada

    pela voltagem de 15 kV. Os fotoeltrons emitidos foram coletados em um analisador

    hemisfrico e resoluo espacial de 15 m. A resoluo da energia do equipamento de

    0,58 eV. Inicialmente foi feita uma varredura de cada uma das amostras no modo

    survey, seguida de varreduras localizadas nas regies C 1s, O 1s e B 1s, correspondentes

    s localizaes dos picos de carbono, oxignio e boro, respectivamente. Posteriormente

    cada uma das amostras foi analisada variando o ngulo azimutal, ou seja, girando a

    amostra em relao ao feixe de Raios X. Os ngulos variaram de 0 a 360 com

    intervalos de 60. Na sequncia as amostras tambm foram analisadas no modo AR-

    XPS, inclinando-se a amostra em relao ao feixe. Esse modo de varredura foi utilizado

    na tentativa de expor e analisar camadas mais internas da amostra. As varreduras foram

    feitas em 4 ngulos de inclinao: 0,10, -10 e -20.

    As medidas de Mott Schottky Plot foram feitas em uma soluo de 0,5 mol de H2SO4

    nas frequncias de 1, 10 e 100 kHz e nas amplitudes de 10 e 20 mV. O potencial de

    circuito aberto (OCP, open circuit potential) para todas as amostras se manteve em

    torno de 0,1 V. Dessa forma, as varreduras foram feitas considerando-se um

    deslocamento do potencial de 0,7 V tanto no sentido positivo como no sentido negativo,

    resultando em uma varredura entre -0,6 e 0,8 V com um passo de 0,125 V.

  • 31

    4 TCNICAS DE CARACTERIZAO

    4.1. Microscopia Eletrnica de Varredura

    O Microscpio Eletrnico de Varredura (MEV) um tipo de microscpio eletrnico de

    grande versatilidade capaz de produzir imagens de alta ampliao (at 300000 x) e

    resoluo. Ocorre uma diversidade de interaes quando o feixe de eltrons atinge a

    amostra, essas interaes permitem obter informaes sobre a composio, topografia,

    cristalografia, potencial eltrico e campos magnticos locais, dentre outras [66]. Dessa

    forma, o MEV uma importante ferramenta na anlise e caracterizao microestrutural

    de materiais slidos.

    O MEV utiliza um estreito feixe de eltrons como sonda e, lentes eletromagnticas em

    vez de lentes pticas. O feixe de eltrons pode ser produzido tanto por emisso

    terminica quanto por emisso de campo. Em ambos, o emissor age como um catodo e,

    os eltrons so focalizados, por um nodo com potencial negativo, em um ponto

    denominado cruzamento.

    Os canhes de emisso terminica utilizam filamentos de materiais refratrios ou de

    baixa funo trabalho que so aquecidos pela passagem de corrente at que sua energia

    seja suficiente para superar a funo trabalho e emitir eltrons. Os filamentos mais

    utilizados nesses canhes so filamentos de tungstnio e cristais afilados de hexaboreto

    de lantnio [67].

    Os canhes de emisso de campo (field emission gun - FEG) utilizam monocristais de

    tungstnio afilados a um raio < 100 nm. A aplicao de uma tenso de 1 kV resulta em

    um campo eltrico de 106 V/m, capaz de superar a funo trabalho e permitir o

    tunelamento de eltrons para fora do emissor [67]. Normalmente, os microscpios

    eletrnicos de varredura que utilizam esse canho de eltrons so chamados

    simplesmente de FEG.

    O feixe de eltrons produzido no canho, focalizado sobre amostra por uma srie de

    trs lentes eletromagnticas com uma abertura menor que 4 nm [68]. O feixe defletido

  • 32

    sobre a mostra por meio de um par de bobinas eletromagnticas. O sinal detectado

    enviado para um monitor de tubo de raios catdicos, que est sincronizado com as

    bobinas de deflexo de modo que cada ponto no monitor corresponde a um ponto da

    rea varrida na superfcie da amostra [67].

    A razo entre o tamanho da amostra no monitor e o tamanho da rea varrida na amostra

    fornece o aumento da imagem. Assim, uma vez que o tamanho da imagem no monitor

    no se altera, o aumento da imagem produzido pelas bobinas de deflexo. Quanto

    menor o aumento, maior a regio varrida e maior a deflexo do feixe de eltrons. A

    varredura da amostra pode ser feita de diversos modos, sendo a x-y a mais comum. [67]

    O feixe de eltrons interage com a amostra produzindo ftons e eltrons que so

    coletados por detectores adequados e convertidos em um sinal de vdeo. O volume de

    interao entre o feixe incidente e amostra depende principalmente da tenso de

    acelerao usada no canho de eltrons e do nmero atmico (Z) da amostra [66-68],

    conforme mostra a Figura 4.1.

    Figura 4.1 - Dependncia da forma do volume de interao com o nmero atmico da amostra e

    a tenso de acelerao do feixe de eltrons.

    Fonte: [69].

    O volume de interao tambm pode sofrer influncias da estrutura interna do material.

    Se a estrutura do material for cristalina, por exemplo, pode ocorrer um aumento da

  • 33

    profundidade de penetrao do feixe, pois os eltrons do feixe podem se difundir em

    canais preferenciais, o que reduz perda de energia interna.

    Os eltrons e as ondas eletromagnticas produzidas no volume de interao devem

    retornar a superfcie e atingirem o detector adequado para serem detectadas e utilizadas

    na formao de imagens ou em microanlises qumicas. O local onde cada tipo de

    interao produzido, ou seja, sua resoluo espacial depende da energia dessas

    partculas ou ondas atingem o detector [67]. A Figura 4.2 apresenta os principais

    produtos das interaes do feixe de eltrons na amostra e sua localizao dentro do

    volume de interao.

    Figura 4.2 - Sinais resultantes do feixe de eltrons com a amostra e sua localizao dentro do

    volume de interao da forma do volume de interao.

    Fonte: [70].

    Embora a interao entre o feixe de eltrons e a amostra possa resultar em muitos sinais,

    os mais utilizados para obteno de imagens so os eltrons secundrios e os eltrons

    retroespalhados [66-68, 71]. Os Raios X emitidos tambm so muito utilizados para

    realizar microanlises qumicas, atravs da tcnica denominada Espectroscopia de

    Energia Dispersiva.

    Os eltrons secundrios so eltrons que so ejetados da amostra devido a colises

    inelsticas. Arbitrariamente so definidos como eltrons de energia inferior a 50 eV,

    compreendem todos os eltrons da camada de valncia que so ejetados devido a sua

  • 34

    baixa energia. O livre caminho mdio dos eltrons secundrios varia de 2 a 20nm,

    portanto, embora os eltrons secundrios sejam produzidos em todo o volume de

    interao apenas os mais prximos superfcie iro atingir o detector. Fornecem

    imagens topogrficas com elevada profundidade de foco e alta resoluo, nessas

    imagens os picos so brilhantes e os vales mais escuros [70].

    Os eltrons secundrios tambm podem ser produzidos por meio dos eltrons

    retroespalhados, quando ocorre a coliso de eltrons retroespalhados com partes do

    microscpio e partes da cmera ou quando os eltrons retroespalhados esto a uma

    distncia de at 5 da superfcie e escapam da amostra. Nesses casos, os eltrons

    secundrios produzidos so de baixa resoluo e contm informaes dos eltrons

    retroespalhados.

    A emisso de eltrons secundrios sofre influncia da energia e do dimetro do feixe de

    eltrons incidente. Quanto menor a energia do feixe incidente menor o volume de

    interao e, maior a quantidade de eltrons secundrios produzidos. O dimetro do feixe

    altera a resoluo do sinal, por sua vez. Quanto maior o dimetro do feixe menor a

    resoluo do sinal. Outros fatores tambm influenciam a resoluo e a qualidade da

    imagem obtida por deteco de eltrons secundrios, sendo responsveis pelos

    contrastes gerados na imagem: a topografia, a inclinao da superfcie, as arestas

    (bordas) da amostra, contraste de composio, contraste de voltagem e carregamento

    [67].

    O detector de eltrons secundrios constitudo basicamente por um cintilador, um tubo

    de luz e uma fotomultiplicadora. Na parte frontal do cintilador h uma gaiola coletora

    carregada positivamente, que atrai os eltrons secundrios. Os eltrons que atravessam

    a gaiola so acelerados por uma voltagem de 10 kV em direo ao cintilador. Os

    eltrons que colidem com o cintilador emitem ftons que, atravs de um guia de luz

    atingem a fotomultiplicadora e so convertidos em um sinal eltrico. O sinal eltrico

    amplificado gera um ponto na tela de tubos de raios catdicos [68].

    Os eltrons retroespalhados so definidos como eltrons cuja energia varia entre 50 eV

    e a energia do eltron incidente. Esto diretamente relacionados ao nmero atmico e a

  • 35

    energia do feixe incidente. Quanto maior o nmero atmico do elemento, menor o

    volume de interao e, portanto, maior a resoluo. Os eltrons retroespalhados que tem

    energia prxima da energia dos eltrons primrios, so os que representam a maior parte

    do sinal recebido, apresentam alta energia e so provenientes das camadas mais

    superficiais da amostra. Esses eltrons so provenientes de colises elsticas. Os

    eltrons retroespalhados provenientes de regies mais profundas da amostra onde o

    volume de interao tem dimetro maior que do dimetro do feixe incidente so eltrons

    de baixa energia e, apresentam menor resoluo que as imagens geradas por eltrons

    secundrios [68].

    Figura 4.3 - Sistema de deteco de eltrons secundrios no MEV.

    Fonte: Adaptado de [72].

    O principal contraste de eltrons retroespalhados o contraste de composio (contraste

    em funo do relevo), o contraste de topografia (contraste em funo do relevo) tambm

    pode ser obtido, mas, no apresenta a mesma resoluo que a de eltrons secundrios

    [66-68]. A partir do contraste de composio possvel identificar diferentes materiais

    em uma amostra, desde que estes materiais apresentem uma diferena entre seus

    nmeros atmicos.

    Os eltrons retroespalhados podem ser detectados por dois diferentes tipos de

    detectores: os de estado slido e os a base de cintilador (como aquele descrito para a

    deteco de eltrons secundrios). Os detectores de estado slido so formados

    basicamente por uma juno P-N localizada entre a amostra e a lente final, ou seja, no

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    caminho dos eltrons retroespalhados. Quando os eltrons chegam ao detector, pares

    eltron-buraco so formados, produzindo um fluxo de corrente que amplificado e

    tratado para formar uma imagem [66]. As imagens produzidas tem aspecto

    tridimensional e so de fcil interpretao.

    Figura 4.4 - Detector de eltrons retroespalhados do tipo estado slido (juno P-N).

    Fonte: [72].

    A microanlise qumica mais utilizada no MEV a Espectroscopia de Energia

    Dispersiva (EDS), essa anlise permite obter informaes sobre a composio qumica

    da amostra. As informaes para essa anlise so obtidas pela deteco dos Raios X

    caractersticos resultantes da interao entre o feixe de eltrons e a amostra. Como a

    energia desses Raios X caracterstica da diferena de energia entre 2 camadas, e da

    estrutura atmica do elemento do qual foi emitido, os elementos que compem a

    amostra podem ser facilmente identificados atravs da identificao e quantificao da

    energia dos Raios X caractersticos emitidos pela amostra [70].

    A tcnica de EDS baseada na interao de um detector semicondutor com os Raios X

    emitidos pela amostra. Os Raios X detectados so levados a um analisador multicanal

    que converte a energia deles em uma contagem eletrnica. A quantificao dessa

    contagem eletrnica , ento, utilizada para formar um espectro da composio qumica

    do material. O detector mais comumente utilizado em EDS o detector de Si (Li),

    refrigerado com nitrognio lquido [70].

  • 37

    Alm da curva espectral produzida na anlise de EDS, conforme a necessidade e/ou

    interesse, a varredura em linha, a varredura por rea ou a varredura ponto a ponto da

    imagem podem ser utilizadas para fazer a anlise [73]. Com o uso de recursos de

    processamento a anlise de EDS tambm pode ser utilizada para produzir mapas

    coloridos da amostra, onde cada elemento representado por uma cor.

    A resoluo espectral do detector de EDS (ou seja, a capacidade de separar dois

    elementos vizinhos na tabela peridica) de 150 eV, por isso essa anlise mais

    indicada para deteco de elementos de maior nmero atmico. A preciso dessa

    tcnica tambm pode ser afetada pela sobreposio de picos de elementos diferentes.

    Alm disso, a anlise em amostras rugosas e no homogneas podem perder preciso

    devido dificuldade dos raios X produzidos em escapar da amostra. [67]

    Medidas de EDS diferem de medidas de Espectroscopia de Fotoeltrons Excitados por

    Raios X (XPS). A tcnica de EDS mede a energia dos Raios X emitidos a partir de uma

    amostra, enquanto a tcnica de XPS mede fotoeltrons emitidos a partir de uma

    amostra. As informaes obtidas atravs do EDS baseiam-se nas propriedades nicas

    dos Raios X caractersticos de cada elemento. Na tcnica de XPS, por sua vez, a

    amostra irradiada com Raios X e, a energia cintica e o nmero de fotoeltrons que

    escapam da amostra durante a interao so medidos para formar um espectro

    caracterstico do material; alm disso, condies de ultra-alto vcuo so necessrias para

    o uso dessa tcnica. Posteriormente, discutiremos em mais detalhes a tcnica de XPS.

    Embora muitos fatores possam interferir na resoluo da anlise de EDS, o custo do

    equipamento, a facilidade de operao e a rapidez na aquisio dos dados, so fatores

    que propiciaram e difundiram seu uso.

    4.2. Difrao de Raios X

    Os Raios X so um tipo de radiao eletromagntica com frequncia superior radiao

    ultravioleta que foi descoberta em 1895 pelo fsico alemo Wilhelm Conrad Rntgen.

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    Como toda onda eletromagntica os Raios X sofrem polarizao, refrao, reflexo,

    interferncia, difrao, entre outros efeitos suscetveis a luz. Porm se passaram 17 anos

    aps a descoberta dos raios X at que este pudesse ser caracterizado como uma onda

    eletromagntica.

    A difrao de Raios X comeou a ser estudada por volta de 1912 com Max Von Laue. A

    partir da ideia de P.P. Ewald de que cristais so pequenos osciladores, espaados

    regularmente no espao tridimensional, separados por uma distncia da ordem de 108

    cm, Max Von Laue concebeu a possibilidade de realizar difrao de Raios X utilizando

    um cristal, este serviria como uma rede de difrao natural ideal por apresentar a mesma

    dimenso do comprimento de onda dos Raios X [74, 75]. Laue incidiu Raios X sob